Bos taurus indicus - Berrante Genética

Transcrição

Bos taurus indicus - Berrante Genética
1
FACULDADES ASSOCIADAS DE UBERABA-FAZU
Curso de Pós-graduação “lato sensu” em Julgamento das Raças Zebuínas
RODOLFFO EMÍLIO FONTANA ASSIS
Evolução da espécie Bos taurus e formação das
Raças Zebuínas (Bos taurus indicus)
com ênfase na Raça Nelore
UBERABA
2007
2
RODOLFFO EMÍLIO FONTANA ASSIS
Evolução da espécie Bos taurus e formação das
Raças Zebuínas (Bos taurus indicus)
com ênfase na Raça Nelore
Monografia apresentada às Faculdades Associadas de
Uberaba-FAZU, como requisito parcial para obtenção do
título de especialista em Julgamento das Raças Zebuínas.
Orientadora: M. Sc. Tatiane Almeida Drummond Tetzner
UBERABA
2007
3
Assis, Rodolffo Fontana
R r
Raças Zebuínas / Rodolffo Fontana Assis – Uberaba, 2007.
Orientadora: Tatiane Almeida Drummond Tetzner
Monografia (Especialização) – Faculdades Associadas de Uberaba FAZU, Uberaba, 2007.
1. Exterior. 2. Zebuínos. I. Faculdades Associadas de Uberaba. II.
Raças zebuínas
4
RODOLFFO EMÍLIO FONTANA ASSIS
Evolução da espécie Bos taurus e formação das
Raças Zebuínas (Bos taurus indicus)
com ênfase na Raça Nelore
Monografia apresentada às Faculdades Associadas de
Uberaba-FAZU, no Curso de Pós-graduação em
Julgamento das Raça Zebuínas, aprovada pela banca
examinadora constituída pelos seguintes membros:
____________________________________
Convidado
_____________________________________
Convidado
______________________________________
M. Sc. Tatiane Almeida Drummond Tetzner
Orientadora
Uberaba, ___ de ________________ de _____
5
Dedico este trabalho a Deus, à minha esposa
e à minha família, que sempre me proporcionaram
muito mais dos que eu necessitava para encontrar
a verdadeira felicidade.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, a quem eu devo tudo o que sou e é o
maior responsável pelos sucessos e vitórias da minha vida.
Agradeço a minha esposa, Katiane, pois o amor que nos uni me
estimulou a fazer o melhor trabalho que eu poderia.
Agradeço ao meu pai, Jair, o qual sempre foi um exemplo de
competência para mim e em quem me espelho muito.
Agradeço à minha mãe, Shirley, a quem devo muito, pois me ensinou,
com seu exemplo de perseverança, como, seguindo a vontade de Deus, devemos
agir para atingir nossos objetivos.
Agradeço ao meu irmão, Júnior, pois me apoiou em todos os
momentos, sendo que o considero como um dos meus melhores amigos.
Agradeço a todos os meus amigos, os quais sempre se fizeram
presentes em minha vida, tanto nas horas boas como horas de dificuldade, que
embora não sejam tão freqüentes, seriam difíceis de serem superadas sozinho.
Agradeço aos meus professores, tanto de ensino fundamental, médio,
superior e pós-graduação, pois, alguns deles, além de transmitir conhecimento,
foram responsáveis por moldar pessoas de melhor caráter.
Agradeço a todos os meus companheiros da Berrante Genética: Cida,
Leandro, Leonel, Miguel, Rafael e Reginaldo. São pessoas muito valiosas e que
aprendi a admirar nos últimos anos.
7
“Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de
toda a sua alma e de todo o seu entendimento.”
JESUS
(Mateus 22:37)
8
RESUMO
O bovino é o animal de grande porte mais abundante da Terra. Está presente em praticamente
todos os continentes, sendo responsável pela produção de grande parcela da proteína animal
consumida no mundo, carne e leite. Os bovinos são uma das espécies mais importantes do
mundo, tanto economicamente, quanto socialmente. Esta revisão bibliográfica teve como
objetivo principal estudar a evolução da espécie Bos taurus, explanando algumas espécies
ancestrais que resultaram na formação dos bovinos atuais e a domesticação destes. Foi
demonstrado como as diversas raças bovinas se diferenciaram e como elas são atualmente
classificadas. Para compreender a facilidade adaptativa e a grande variedade de tipos dos
bovinos é necessário que se compreenda a formação da espécie e das diferentes raças. O
conhecimento deste assunto pode auxiliar o trabalho de melhoramento genético dos bovinos,
observando as reais características de cada raça, sempre associadas à sua origem. Foi
evidenciada a formação das raças zebuínas (Bos taurus indicus) com foco na raça Nelore,
detalhando também as outras raças zebuínas existentes no Brasil. Foi abordada a origem da
raça Nelore, comentando-se a influência de várias raças zebuínas em sua composição.
Discutiu-se sobre a facilidade adaptativa do Nelore, a qual pôde ser explicada, pelo menos em
parte, pela diversidade de sua origem. Como bases científicas foram utilizados trabalhos
sustentados em: dados históricos, achados arqueológicos e análises moleculares.
Palavras chave: evolução, Bos taurus, raças zebuínas.
9
ABSTRACT
Bovine is the large animal more abundant in the Earth. It is present in almost all continents
and is responsible for production of great part of the animal protein consumed in the world,
meat and milk. Bovines are one of the most important species in the world, in an economic as
a social way. This bibliographic revision has as main objective to study the evolution of the
Bos taurus species and explain how some ancestral species had resulted in the formation of
the current bovines and their domestication. It was demonstrated how happened the
differentiation between the bovine breeds and how they currently are classified. In order to
understand the adaptive easiness and the great variety of types of bovines is necessary to
understand the formation of the species and breeds. The knoledge of this subject can assist the
work of genetic improvement of the bovines, observing the true characteristics of each breed,
always associated to their origin. The formation of the zebuine (Bos taurus indicus) breeds
had been emphasized with focus in the Nelore breed, also detailing the other existing zebuine
breeds in Brazil. The origin of the Nelore breed was detailed and the influence of some
zebuine breeds in its composition was commented. The adaptive easiness of the Nelore was
discussed and could be explained, at least in part, for the diversity of their origin. The
scientific bases used on articles that support this study are: historical data, archaeological
findings and molecular analyzes.
Keywords: evolution, Bos taurus, zebuine breeds.
10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - Tragulus javanicus...............................................................................................21
FIGURA 2 - Composição da árvore da subfamília Bovinae com todas as espécies que a
integram...............................................................................................................22
FIGURA 3 - Fêmea Bubalus bubalis, Índia..............................................................................23
FIGURA 4 - Macho Bubalus mindorensis, Filipinas................................................................24
FIGURA 5 - Macho Bubalus depressicornis............................................................................24
FIGURA 6 - Bubalus quarlesi, Zoo Krefeld, Alemanha...........................................................25
FIGURA 7 - Fêmea Pseudoryx nghetinhensis..........................................................................26
FIGURA 8 - Macho Syncerus caffer, Quênia...........................................................................27
FIGURA 9 - Macho Bison bison, Badlands National Park, Dakota do Sul.............................28
FIGURA 10 - Macho Bison bonasus, Polônia..........................................................................28
FIGURA 11 - Macho Bos frontalis, Índia................................................................................29
FIGURA 12 - Macho Bos javanicus, Saint Louis Zoo, Missouri.............................................30
FIGURA 13 - Bos sauveli, Vincennes Zoo, Paris....................................................................31
FIGURA 14 - Macho Bos grunniens........................................................................................32
FIGURA 15 - Esqueleto Bos primigenius de 9.500 anos, National Museum of Denmark......33
FIGURA 16 - Prováveis locais primários de domesticação dos taurinos (Bos taurus taurus) e
zebuínos (Bos taurus indicus)............................................................................35
FIGURA 17 - Dividend, touro da raça Aberdeen Angus.........................................................38
FIGURA 18 - Gallus Imp., touro da raça Simental..................................................................39
FIGURA 19 - Gaiato da Guaraúna, touro da raça Caracu........................................................40
FIGURA 20 - Vaca da raça Africânder....................................................................................41
FIGURA 21 - Vaca e bezerra da raça N'Dama.........................................................................42
FIGURA 22 - Touro da raça Boran, Quênia............................................................................42
FIGURA 23 - Migração dos povos arianos e localização das raças bovinas levadas por eles.45
11
FIGURA 24 - JDH Atari Oyo Manso, touro da raça Brahman................................................56
FIGURA 25 - F. B. Nefrita, vaca da raça Gir...........................................................................57
FIGURA 26 - Acaso S, touro da raça Guzerá..........................................................................59
FIGURA 27 - Genérico, touro da raça Indubrasil....................................................................60
FIGURA 28 - Touro da raça Kangaiam...................................................................................62
FIGURA 29 - Inriti da Terley, touro da raça Nelore................................................................63
FIGURA 30 - Suspiro E, touro da raça Sindi...........................................................................65
FIGURA 31 - Popó da Pedra Riscada, touro da raça Tabapuã.................................................66
FIGURA 32 - Garrafa da Cal, vaca mocha da raça Gir............................................................67
FIGURA 33 - Liceu da Boticão, touro mocho da raça Nelore.................................................68
FIGURA 34 - Touro da raça Ongole, Índia..............................................................................71
FIGURA 35 - Vaca da raça Bhagnari.......................................................................................73
FIGURA 36 - Touro da raça Gaolao, Índia..............................................................................75
FIGURA 37 - Vaca da raça Hariana, Índia...............................................................................76
FIGURA 38 - Touro da raça Krishna Valley, Índia.................................................................78
FIGURA 39 - Vaca da raça Nagori, Índia................................................................................80
FIGURA 40 - Touro da raça Rath, Índia..................................................................................81
FIGURA 41 - Touro da raça Amrit-Mahal, Índia.....................................................................84
FIGURA 42 - Vaca da raça Hallikar, Índia..............................................................................85
FIGURA 43 - Touro da raça Kangayam, Índia........................................................................87
FIGURA 44 - Touro da raça Khillari, Índia.............................................................................88
FIGURA 45 - Média pluviométrica da Índia com a localização das raças Branco-Cinza do
Norte, Grupo de Misore, Kankrej e Gir.............................................................91
FIGURA 46 - Temperatura média anual da Índia com a localização das raças Branco-Cinza
do Norte, Grupo de Misore, Kankrej e Gir..........................................................92
12
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Classificação das raças zebuínas.............................................................................
49
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..............................................................................16
2 OBJETIVOS...................................................................................17
2.1 OBJETIVO GERAL...................................................................17
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................17
3 REVISÃO DE LITERATURA.....................................................18
3.1 BASE CIENTÍFICA UTILIZADA PARA O TRABALHO....18
3.1.1 ANÁLISE DE DNA MICROSSATÉLITE............................18
3.1.2 ANÁLISE DE DNA MITOCONDRIAL................................18
3.1.3 ANÁLISE DE CROMOSSOMO Y........................................19
4 CLASSIFICAÇÃO DOS BOVINOS E ANCESTRAIS
COMUNS........................................................................................20
4.1 DIVISÃO DA SUBFAMÍLIA BOVINAE.................................22
4.1.1 GÊNERO Bubalus....................................................................23
4.1.1.1 Bubalus bubalis......................................................................23
4.1.1.2 Bubalus mindorensis..............................................................23
4.1.1.3 Bubalus depressicornis...........................................................24
4.1.1.4 Bubalus quarlesi.....................................................................25
4.1.2 GÊNERO Pseudoryx................................................................25
4.1.3 GÊNERO Syncerus..................................................................26
4.1.4 GÊNERO Bison........................................................................27
4.1.4.1 Bison bison.............................................................................27
4.1.4.2 Bison bonasus.........................................................................28
4.1.5 GÊNERO Bos...........................................................................29
4.1.5.1 Bos frontalis............................................................................29
4.1.5.2 Bos javanicus..........................................................................29
4.1.5.3 Bos sauveli..............................................................................30
4.1.5.4 Bos grunniens.........................................................................31
4.1.5.5 Bos taurus...............................................................................32
5 A ORIGEM DOS BOVINOS........................................................33
5.1 A DOMESTICAÇÃO DOS BOVINOS.....................................34
5.2 MODIFICAÇÕES FENOTÍPICAS DOS BOVINOS..............36
14
6 AS RAÇAS BOVINAS ATUAIS...................................................37
6.1 Bos taurus taurus.........................................................................37
6.1.1 RAÇAS EUROPÉIAS..............................................................37
6.1.1.1 RAÇAS BRITÂNICAS.........................................................37
6.1.1.2 RAÇAS CONTINENTAIS...................................................38
6.1.1.3 RAÇAS CRIOULAS.............................................................39
6.1.2 RAÇAS AFRICANAS..............................................................40
6.1.2.1 RAÇAS DO SANGA.............................................................40
6.1.2.2 RAÇAS DO OESTE AFRICANO.......................................41
6.2 RAÇAS TAURÍNDICAS AFRICANAS...................................42
6.3 Bos taurus indicus........................................................................43
7 ORIGEM DAS RAÇAS ZEBUÍNAS DA ATUALIDADE.........44
7.1 DISTRIBUIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS RAÇAS
ZEBUÍNAS INDIANAS E PAQUISTANESAS.......................46
8 O REBANHO BRASILEIRO.......................................................51
8.1 IMPORTAÇÃO DOS ZEBUÍNOS E ALTERAÇÃO DO
REBANHO NACIONAL............................................................52
8.2 AS RAÇAS ZEBUÍNAS EXISTENTES NO BRASIL.............55
8.2.1 RAÇA BRAHMAN..................................................................55
8.2.2 RAÇA GIR................................................................................56
8.2.3 RAÇA GUZERÁ......................................................................58
8.2.4 RAÇA INDUBRASIL..............................................................60
8.2.5 RAÇA KANGAYAM...............................................................62
8.2.6 RAÇA NELORE......................................................................63
8.2.7 RAÇA SINDI............................................................................65
8.2.8 RAÇA TABAPUÃ....................................................................66
8.2.9 VARIEDADES MOCHAS......................................................67
9 A FORMAÇÃO DA RAÇA NELORE.........................................70
9.1 RAÇAS DO GRUPO BRANCO-CINZA CLARO DE
CHIFRES CURTOS...................................................................70
9.1.1 RAÇA ONGOLE......................................................................71
9.1.2 RAÇA BHAGNARI.................................................................72
9.1.3 RAÇA GAOLAO......................................................................74
15
9.1.4 RAÇA HARIANA....................................................................76
9.1.5 RAÇA KRISHNA VALLEY...................................................78
9.1.6 RAÇA NAGORI.......................................................................79
9.1.7 RAÇA RATH............................................................................81
9.2 GADO DE MISORE...................................................................82
9.2.1 RAÇA AMRIT-MAHAL.........................................................83
9.2.2 RAÇA HALLIKAR..................................................................84
9.2.3 RAÇA KANGAYAM...............................................................86
9.2.4 RAÇA KHILLARI...................................................................88
10 DISCUSSÃO SOBRE A FORMAÇÃO DA RAÇA
NELORE......................................................................................90
11 CONCLUSÕES............................................................................94
REFERÊNCIAS................................................................................95
16
1 INTRODUÇÃO
A classe dos mamíferos reúne mais de 4.000 espécies vivas de vertebrados
agrupados em 135 famílias e 18 ordens. Encontram-se disseminadas por todo o planeta,
incluindo os oceanos e as zonas polares. Ao contrário dos outros vertebrados, os mamíferos
apresentam a mandíbula inferior constituída por um único osso (dentário), que se articula ao
osso escamoso do crânio. O modo de reprodução permite definir os grandes grupos de
mamíferos. Os prototérios ou monotremados, os metatérios ou marsupiais e os eutérios ou
placentários (MORAES, 1998).
O bovino é o animal de grande porte mais abundante da Terra. Está presente em
praticamente todos os continentes, sendo responsável pela produção de grande parcela da
proteína animal consumida no mundo.
No Brasil, a pecuária é uma das cadeias produtivas mais importantes, sustentando
milhões de trabalhadores e gerando alimentos para uma imensa população, não somente de
ordem nacional, como para muitos países importadores de carne e leite.
O sucesso desta espécie demonstra que são animais muito bem adaptados a
diferentes ambientes e, mesmo não possuindo um intervalo de gerações considerado curto,
respondem bem às biotécnicas empregadas para o seu melhoramento genético.
Para compreender tal facilidade adaptativa e tamanha variedade de tipos, é
necessário que se compreenda a formação da espécie e das diferentes raças. O conhecimento
deste assunto pode auxiliar o trabalho de melhoramento genético dos bovinos, observando as
reais características de cada raça, sempre associadas à sua origem.
As raças zebuínas que existem no Brasil foram detalhadas, pois são os animais que
melhor se adaptaram ao ambiente tropical nacional e constituem a maior parcela da população
bovina brasileira (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE ZEBU-ABCZ,
[2007]a).
Dentre elas, a raça Nelore foi abordada especificamente, graças a sua origem
complexa e a sua importância, sendo a raça mais abundante em nosso país, responsável pela
grande maioria da produção industrial de carne do Brasil (ABCZ, [2007]c).
17
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
O objetivo geral deste trabalho é elucidar como ocorreu a formação do bovino
atual, classificando-o cientificamente e relacionando-o com os animais que fazem parte da
mesma ordem, família, tribo e gênero.
2.2 Objetivos específicos
Classificar as diferentes raças bovinas pelas suas diferentes origens, demonstrando
as suas características adaptativas e produtivas.
Estudar a evolução da espécie Bos taurus.
Estudar a formação da subespécie Bos taurus indicus e as diversas raças zebuínas.
Avaliar e elucidar a formação da raça Nelore.
18
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Base científica utilizada para o trabalho
Este trabalho é baseado em informações históricas e estudos realizados com
achados arqueológicos e análises moleculares. Os artigos mais citados contendo análises
moleculares baseavam-se em análise de DNA microssatélite, análise de DNA mitocondrial e
análise de cromossomo Y.
3.1.1 Análise de DNA microssatélite
Os sistemas de microssatélites são composições de partes do DNA (ácido
desoxirribonucléico) que se repetem em seqüência em um determinado lócus. Estas repetições,
geralmente, são de dinucleotídeos (TG, por exemplo), sendo que estes se repetem cerca de dez
vezes (TGTGTGTG...). Dessa forma, existe um alto grau de polimorfismo no número dessas
repetições, permitindo que seja utilizado como um marcador local no mapa genético
(MONTALDO; MEZA-HERRERA, 1998, p. 2).
3.1.2 Análise de DNA mitocondrial
As mitocôndrias são organelas de herança materna das células eucarióticas e muito
importantes para produção de energia celular. Possuem informação genética (DNA)
independente do DNA nuclear. Apesar de ser exclusivamente de herança materna, pode ser
encontrada e analisada tanto em fêmeas quanto em machos (ISSA; JORGE; SERENO, 2006,
p.1609), ou seja, todos os animais possuem DNA mitocondrial, mas só as fêmeas participam
de sua transmissão à progênie. Segundo Brown (1979, citado por HENKES et al., 2005, p. 60),
o DNA mitocondrial possui taxa de substituição de seus nucleotídeos de cinco a dez vezes
maior que o DNA nuclear. Esta alta taxa de mutação permite análises de fenômenos
evolucionários de curto prazo, possibilitando a avaliação de relações evolucionárias entre
linhagens. Além disso, pode ser útil para se investigar estruturas de populações, variabilidades
entre espécies, relações evolucionárias entre populações ou espécies e também para
identificação de linhagens maternas (HENKES et al., 2005, p. 60).
19
3.1.3 Análise de cromossomo Y
Alguns dos trabalhos que serviram de base para este estudo são baseados em
análise do cromossomo Y dos animais.
O cromossomo Y é encontrado exclusivamente nos animais do sexo masculino,
sendo dessa forma transmitido aos descendentes masculinos pelo sêmen (ISSA; JORGE;
SERENO, 2006, p. 1609), não havendo influência materna neste segmento do DNA. É
semelhante à análise do DNA mitocondrial, que possui herança exclusivamente materna,
enquanto a análise do cromossomo Y é de herança exclusivamente paterna. Embora tenha o
inconveniente de poder ser avaliado apenas nos animais do sexo masculino, pode ser utilizado
para se investigar estruturas de populações ou identificação de linhagens paternas.
A análise do cromossomo Y pode ser realizada de duas formas:
Morfologia: No caso dos bovinos há três principais morfologias: submetacêntrico
e metacêntrico no caso dos animais Bos taurus taurus e acrocêntrico no caso dos animais Bos
taurus indicus.
Polimorfismo de seus microssatélites: Idêntico às demais análises de
microssatélites, mas exclui-se a participação feminina. Segundo Liu (2002, 2003 citado por
ISSA; JORGE; SERENO, 2006, p. 1609), esta é uma poderosa ferramenta para estudos de
origem doméstica e evolução da espécie bovina.
20
4 CLASSIFICAÇÃO DOS BOVINOS E ANCESTRAIS COMUNS
Os bovinos modernos têm a seguinte classificação científica (BOVINOS, [2007]):
Reino:
Animalia
Filo:
Chordata
Classe:
Mammalia
Ordem:
Artiodactyla
Subordem:
Ruminantia
Infraordem:
Pecora
Família:
Bovidae
Subfamília:
Bovinae
Tribo:
Bovini
Gênero:
Bos
Espécie:
Bos taurus
Os bovinos estão inclusos na subordem Ruminantia, que contém aproximadamente
200 espécies (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 270) distribuídas em duas infraordens: Pecora
e Tragulina. É o grupo mais importante de grandes mamíferos herbívoros terrestres.
Segundo Webb e Taylor (1980, citado por FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 270),
os ruminantes surgiram no período do Eoceno (55,8 a 33,9 milhões de anos) e são os únicos
desta era que realmente obtiveram sucesso e estão presentes até hoje.
A infraordem Tragulina possui apenas quatro espécies vivas conhecidas, os
trágulos (FIG. 1) ou cervos-ratos, animais encontrados nas florestas tropicais da África, Índia
e Sudeste Asiático. São formas primitivas de ruminantes. A menor espécie possui 45 cm de
comprimento e pesa 2 kg, enquanto que a maior tem 80 cm de comprimento e pesa cerca de
10 kg (TRÁGULO, [2007]).
21
FIGURA 1 – Tragulus javanicus
Fonte: HEJDA, [2007].
A infraordem Pecora é composta de cinco famílias: Moschidae (cervosalmiscarados), Cervidae (veados), Giraffidae (girafas e ocapis), Antilocapridae (antilocapras)
e Bovidae (bovinos, caprinos, ovinos e antílopes) (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 270;
PECORA, [2007]).
Segundo Savage e Russel (1983, citado por FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 274),
a família Bovidae é composta por 137 espécies vivas e mais de 300 espécies identificadas
através de fósseis. O relacionamento filogenético e a taxonomia desta família são discutidos
até hoje. A sua origem e desenvolvimento são pouco compreendidos e gera, com isso, motivo
para discussão entre especialistas (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 274).
A família Bovidae está bem distribuída geograficamente, sendo ausente apenas na
Austrália. Seus ancestrais se originaram no Mioceno (23,03 a 5,3 milhões de anos). Os
animais pertencentes a essas espécies variam de 3 kg a uma tonelada. É dividida em dez
subfamílias: Bovinae (bois, búfalos e antílopes de chifres aspirais), Cephalophinae (duikers),
Hippotraginae (antílopes), Antilopinae (antílopes verdadeiros e gazelas), Caprinae (ovinos e
caprinos), Reduncinae (cobs), Aepycerotynae (impalas), Peleinae (rheboks), Alcelaphinae
(gnus) e Panthalopinae (chirus ou antílope-tibetado) (BOVÍDEOS, [2007]).
A subfamília Bovinae se diferenciou das demais subfamílias há aproximadamente
25 milhões de anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 284). É composta por dez gêneros e 24
espécies (FIG. 2), distribuídas por todos os cinco continentes. São herbívoros ungulados de
tamanho médio a grande com enorme importância econômica como fonte de carne e leite para
o homem.
22
A subfamília Bovinae é dividida em três tribos: Boselaphini (inclui os gêneros
Tetracerus e Boselaphus), Strepsicerotini ou Tragelaphini (inclui os gêneros Tragelaphus e
Taurotragus) e a tribo Bovini (inclui os gêneros Bubalus, Pseudoryx, Syncerus, Bison e Bos).
Há inúmeros trabalhos questionando a classificação de alguns gêneros, como o Bison, o
Taurotragus e o Pseudoryx (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 274; BOVINOS, [2007]).
FIGURA 2 – Composição da árvore da subfamília Bovinae,
com todas as espécies que a integram.
Fonte: FERNÁNDEZ; VRBA, 2005.
4.1 Divisão da subfamília Bovinae
Segundo Fernández (2005, p. 282), a tribo Bovini se diferenciou há 20,5 milhões
de anos da tribo Boselaphini e há 18,3 milhões de anos da tribo Strepsicerotini ou
Tragelaphini.
23
A tribo Bovini é composta por cinco gêneros e 13 espécies (FERNÁNDEZ;
VRBA, 2005, p. 286; BOVINOS, [2007]), conforme descrito a seguir:
4.1.1 Gênero Bubalus
O gênero Bubalus possui uma distância genética do Bos entre 1,85 a 4,93 milhões
de anos (RITZ et al., 2000, p.181). A diferenciação entre estes dois gêneros ocorreu há 16,9
milhões de anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). É composto por quatro espécies:
4.1.1.1 Bubalus bubalis
Conhecido como búfalo aquático (FIG. 3). São animais originários da Ásia.
Espécie domesticada e utilizada em vários países do mundo para produção de carne, leite e
desempenho da função de tração (SANTIAGO, 1986, p. 10). Os verdadeiros búfalos
selvagens podem ser encontrados na Índia, Nepal, Butão e Tailândia. As fêmeas podem
atingir até 800 kg e os machos até 1.200 kg aproximadamente (DOMESTIC BUFFALO,
[2007]).
FIGURA 3 - Fêmea Bubalus bubalis, Índia.
Fonte: RAJPUT, [2007].
4.1.1.2 Bubalus mindorensis
Conhecida como tamaraw (FIG. 4). É uma espécie endêmica na ilha de Mindoro,
nas Filipinas. Habitava toda a ilha, mas, atualmente, está restrito à algumas planícies com
24
pastagens. Possuem de 1,00 a 1,05 m de altura na região da escápula, pesando de 200 a 300
kg aproximadamente (TAMARAW, [2007]).
FIGURA 4 - Macho Bubalus mindorensis, Filipinas.
Fonte: HEUCLIN, [2007].
4.1.1.3 Bubalus depressicornis
Conhecido como anoa das planícies (FIG. 5). São semelhantes a miniaturas de
búfalos, com tamanho semelhante à de veados. Variam de 150 a 300 kg. São encontrados na
ilha de Sulawesi, na Indonésia (ANOA, [2007]).
FIGURA 5 - Macho Bubalus depressicornis.
Fonte: FINK, [2007].
25
4.1.1.4 Bubalus quarlesi
Conhecido como anoa das montanhas (FIG. 6). É muito semelhante ao anoa das
planícies, vivendo na mesma ilha, mas em hábitat diferente, como o próprio nome diz.
FIGURA 6 – Bubalus quarlesi, Zoo
Krefeld, Alemanha.
Fonte: LINDHOLM, 1998.
4.1.2 Gênero Pseudoryx
O gênero Pseudoryx é composto por uma única espécie, o Pseudoryx
nghetinhensis, conhecido como saola (FIG. 7). A diferenciação entre esta espécie e o Bos
ocorreu há 16,9 milhões de anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). Trata-se de um dos
últimos grandes mamíferos adultos a ser descoberto. Sua classificação ainda é controvérsia,
sendo que alguns autores o incluem na tribo Bovini (BOVINOS, [2007]), enquanto outros
autores relatam ser necessário criar uma tribo, a Pseudorygini, para que nesta seja incluída a
nova espécie (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 274). São animais de aproximadamente 100 kg,
1,5 m de comprimento e 80 a 90 cm de altura na região da escápula. É endêmico da reserva
natural de Vu Quang, no Vietnã (HUFFMAN, [2007]).
26
FIGURA 7 – Fêmea Pseudoryx
nghetinhensis.
Fonte: RABINOWITZ, [2007].
4.1.3 Gênero Syncerus
O gênero Syncerus é distanciado geneticamente do Bos entre 0,98 a 2,61 milhões
de anos (RITZ, 2000, p.181). Segundo Fernández e Vrba (2005, p. 282), a diferenciação
genética entre o Syncerus e o gênero Bos ocorreu há 16,9 milhões de anos. É constituído
apenas pela espécie Syncerus caffer, também chamado de búfalo-africano ou búfalo-do-cabo
(FIG. 8). Embora semelhante fenotipicamente ao búfalo comum, o búfalo-africano possui
chifres muito pesados, curvos, se encontrando na linha mediana da fronte, diferente daqueles,
que possuem chifres distantes e recurvados (SANTIAGO, 1986, p. 10). Além disso, tem
maior porte e não é domesticável, sendo classificados por alguns autores como um animal
feroz, cruel e estúpido. Habitam as pradarias e savanas da Etiópia, Somália, Zâmbia,
Zimbábue, Namíbia, Botswana, Moçambique, África do Sul, Quênia e Tanzânia. Estima-se
que havia dez milhões destes animais na África, mas atualmente este número não passa de um
milhão de animais (BÚFALO-AFRICANO, [2007]).
27
FIGURA 8 – Macho Syncerus caffer, Quênia
Fonte: SCOTT; SCOTT, [2007].
4.1.4 Gênero Bison
Segundo Ritz et al. (2000, p. 181), a distância genética de tempo entre o gênero
Bison e o Bos é de 0,46 a 1,23 milhões de anos. Para Fernández e Vrba (2005, p. 282), a
diferenciação entre estes gêneros ocorreu há 5,8 milhões de anos. É constituído por duas
espécies não extintas:
4.1.4.1 Bison bison
Conhecido como bisonte-americano ou bisão-americano (FIG. 9). Algumas
pessoas os denominam erroneamente de búfalos, os quais constituíam no passado o maior
rebanho de animais selvagens do mundo (SANTIAGO, 1986, p. 11). Os machos podem
atingir até 1,8 m de altura na região da escápula e pesar 1.130 kg. São animais longevos, que
podem viver de 30 a 50 anos. Vivem nas pradarias do Canadá e dos Estados Unidos. Já foram
quase exterminados, mas atualmente já há mais de 20 mil animais, graças às leis de proteção
ambiental (BISÃO-AMERICANO, [2007]; BISONTE, [2007]).
28
FIGURA 9 - Macho Bison bison, Badlands
National Park, Dakota do Sul.
Fonte: EBI, [2007].
4.1.4.2 Bison bonasus
Conhecido como bisonte-europeu, bisão-europeu ou wisent (FIG. 10). É o maior
mamífero terrestre da Europa. Os machos podem atingir até 1,9 m de altura na região da
escápula e pesar 920 kg, aproximadamente. Esse é mais corpulento que o bisão-americano
(Bison bison) e os pêlos do pescoço e da cabeça são mais curtos. Na antiguidade habitavam
quase toda a Europa. Por volta da década de 30, restavam menos de 50 animais, todos em
zoológicos. A partir da década de 50 foram reintroduzidos alguns animais criados em
cativeiro e hoje é possível se encontrar manadas livres na Rússia, Polônia, Bielorússia e
Ucrânia (BISONTE-EUROPEU, [2007]).
FIGURA 10 – Macho Bison bonasus, Polônia.
Fonte: KOTOWSKI, [2007].
29
4.1.5 Gênero Bos
O gênero Bos é composto por cinco espécies não extintas:
4.1.5.1 Bos frontalis
Conhecido como gaur, bisonte-indiano ou bisão indiano (FIG. 11). A
diferenciação entre esta espécie e o Bos taurus ocorreu há sete milhões de anos
(FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). É o maior dos bovinos selvagens da atualidade e
habita o sul e o sudeste asiático, principalmente a Índia. A forma doméstica do gaur é
chamada de gayal ou mithan. Alguns autores dividem a forma doméstica (gayal ou mithan) e
a selvagem (gaur) em diferentes espécies, denominando-as de Bos frontalis e Bos gaurus,
respectivamente. Os machos possuem entre 1,7 a 2,2 m de altura na região da escápula e
pesam entre 1.000 a 1.500 kg (GAUR, [2007]). Os touros adultos são quase desprovidos de
pêlos (SANTOS, 1993, p. 40). Os animais domésticos podem fornecer carne e couro, mas não
são utilizados para fornecimento de leite, tampouco para trabalhos de tração (SANTIAGO,
1986, p. 10).
FIGURA 11 – Macho Bos frontalis, Índia
Fonte: HARVEY, [2007].
4.1.5.2 Bos javanicus
Conhecido como banteng (FIG. 12), é encontrado em Mianmar (antiga Birmânia),
Tailândia, Camboja, Laos, Vietnã, Bornéo, Java e Bali. A diferenciação entre esta espécie e o
30
Bos taurus ocorreu há sete milhões de anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). Os
machos medem cerca de 1,6 m de altura na região da escápula e pesam entre 680 a 810 kg,
sendo que alguns espécimes podem atingir 1.000 kg (BANTENG, [2007]). São animais
extremamente rústicos, que podem ingerir água salina e se alimentar de algas marinhas
(SANTOS, 1993, p. 40). São facilmente domesticáveis e vêm sendo criados e selecionados a
mais de 300 anos na ilha de Bali. Cruzados com o bovino doméstico geram híbridos
geralmente férteis e que são bastante utilizados pelos nativos da Indonésia (SANTIAGO,
1986, p. 10). Foi considerado por Keller (1902, citado por SANTOS, 1993, p. 50) como o
antecessor do Bos taurus indicus, mas, atualmente, essa hipótese é quase que unanimemente
rejeitada.
FIGURA 12 – Macho Bos javanicus, Saint
Louis Zoo, Missouri.
Fonte: HUFFMAN, 2005.
4.1.5.3 Bos sauveli
Conhecidos pelo nome de kouprey (FIG. 13). A diferenciação entre esta espécie e
o Bos taurus ocorreu há 600 mil anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). Foi descoberto
em 1937 e habita o sul de Laos, o oeste Vietnã, o leste da Tailândia e principalmente o norte
do Camboja. Os machos podem atingir 2 m de altura na região da escápula e pesar 900 kg.
Recentemente, verificou-se que animais descobertos no Vietnã podem atingir 1.700 kg, de
acordo com zoólogos locais. Estima-se que menos de 250 espécimes existam hoje no mundo
todo (KOUPREY, [2007]). Possuem barbela desenvolvida que, em alguns casos, quase toca o
solo (SANTOS, 1993, p. 40). Recentes pesquisas, baseadas em análise de DNA mitocondrial,
31
consideram o kouprey como um hibrido do Bos javanicus (banteng) e do Bos taurus indicus
(gado zebu) (FELLMAN, 2006). Entretanto, outros pesquisadores como Hassanin e Ropiquet
(2007 citado por KOUPREY, [2007]), consideram o kouprey uma espécie distinta.
FIGURA 13 – Macho Bos sauveli,
Vincennes Zoo, Paris.
Fonte: HO, 1937.
4.1.5.4 Bos grunniens
Conhecido como iaque, boi grunidor ou boi com cauda de cavalo (FIG. 14). A
diferenciação entre esta espécie e o Bos taurus ocorreu há 5,8 milhões de anos
(FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). Habitam o planalto tibetano e o Himalaia, em altitudes
que variam de 4.500 a 6.000 m. Quando domesticado, fornecem lã, carne e leite, além de
serem muito utilizados como animais de tração. Suas fezes são utilizadas em algumas regiões
da China como combustível, principalmente no inverno, quando as temperaturas atingem 40ºC (IAQUE, [2007]). Sua cabeça lembra a de um taurino, mas o andar e o posterior
assemelham-se a cavalos. Cruzado com Bos taurus, produz um hibrido denominado dzo ou
pien niu, muito apreciado por mongóis e tibetanos (SANTIAGO, 1986, p. 10). Sua coloração
de pelagem varia de marrom a preto nos animais selvagens. Já nos domesticados, também
podem ser encontrados animais brancos. Os animais selvagens podem atingir 1.000 kg de
peso e dois metros de altura na região da escápula, enquanto que os domésticos têm
aproximadamente a metade desta altura (YAK, [2007]).
32
FIGURA 14 – Macho Bos grunniens.
Fonte: THE UNIVERSAL PROTEIN RESOURCE, [2007].
4.1.5.5 Bos taurus
É o gado bovino doméstico. Segundo a nomenclatura clássica de Linneu (1758
citado por ISSA; JORGE; SERENO, 2006, p. 1609; SANTIAGO, 1986, p. 14), em sua
célebre obra, Systema Naturae, os taurinos europeus e os zebuínos indianos eram
considerados espécies distintas, denominadas Bos taurus e Bos indicus, respectivamente. Mas
atualmente, o mais aceito é que tanto taurinos quanto zebuínos tenham descendido do mesmo
grupo de animais e por terem fecundidade completa entre si pertençam a uma única espécie
denominada Bos taurus. Pela notável diferença fenotípica e pela distância genética, taurinos
(bovinos sem cupim) e zebuínos (bovinos com cupim) são classificados como subespécies
distintas, denominadas Bos taurus taurus e Bos taurus indicus, respectivamente (ISSA;
JORGE; SERENO, 2006, p. 1609; SANTIAGO, 1986, p. 13). Segundo Ritz et al. (2000, p.
181), a distância genética entre essas duas suas subespécies é de 310 a 820 mil anos. Para
Frisch (2004, p. 6), esta diferenciação iniciou-se há 1,5 milhões de anos.
33
5 A ORIGEM DOS BOVINOS
O Bos taurus, como todos os bovídeos descendem de um único tronco filogenético,
uma espécie de antílope, chamado de antílope de Pikermi, que viveu durante o Mioceno e
Plioceno, ou seja, entre 23,3 a 1,8 milhões de anos (SANTIAGO, 1986, p. 13).
O antílope de Pikermi teria dado origem, entre outros, ao Bos primigenius, do qual
descendem todos os bovinos domésticos atuais (FRISCH, 2004, p. 6; FELIUS, 1985, p. 8;
SANTOS, 1999, p. 264; SANTIAGO, 1986, p. 13). Segundo Lydekker (1898, citado por BOS
ACUTIFRONS, [2007]), o Bos primigenius descendeu do Bos acutifrons, há cerca de 1,5 a 2
milhões de anos, espécie que habitou a Índia até a metade do Pleistoceno, há cerca de 900 mil
anos atrás.
O Bos primigenius (FIG. 15), chamado de Auroque ou Uro, teria se originado na
Índia. Viviam em regiões de clima quente em uma área que compreendia além da Índia, a
Turquia e a Península Arábica. Viveram restritos a essa região até o fim da Grande Era
Glacial (cerca de 250 mil anos atrás). Durante este período houve apenas aumento do número
de animais, mas não havia condições para que estes se espalhassem. Após o início do
aquecimento terrestre, os Auroque se dispersaram da Ásia ocidental para diversas regiões do
planeta, como leste da China, ocidente do Oriente Médio, norte da África e Europa (FELIUS,
1985, p. 8).
FIGURA 15 – Esqueleto Bos primigenius de
9.500 anos, National Museum
of Denmark
Fonte: THYSSEN, 2004.
34
O Bos primigenius era muito maior que os bovinos domésticos atuais. Os machos
possuíam até 1,75 a 2 m de altura da região da escápula e cerca de 3 m de comprimento,
enquanto as fêmeas possuíam entre 1,5 a 1,7 m de altura. Esses possuíam chifres em forma de
lira, que mediam cerca de um metro de comprimento. A pelagem nos machos variava do
marrom escuro ao preto, com uma faixa clara longitudinal ao longo da região dorso-lombar.
Nas fêmeas e nos bezerros a pelagem encontrada era marrom avermelhada. Pinturas rupestres
também relatam a ocorrência de animais malhados e brancos (FELIUS, 1985, p. 8). O quarto
dianteiro era bem maior que o traseiro, conformação que favorecia a velocidade em corridas
(SANTOS, 1999, p. 264).
Esta espécie teria se diferenciado em alguns subtipos após o fim da Grande Era
Glacial. Essa afirmação é baseada em diferenças no tamanho do crânio, formato do chifres e
outras evidências de achados fósseis. Há divergência entre as autoridades no número desses
subtipos, mas pode-se verificar a ocorrência de dois grandes grupos de Bos primigenius, que
muitos consideram subespécies diferentes: o Bos primigenius primigenius, que mantinha as
características do Bos primigenius original e teria dado origem aos bovinos europeus (Bos
taurus taurus), e o Bos primigenius namadicus, que vivia na Índia e teria dado origem aos
zebuínos (Bos taurus indicus) (FELIUS, 1985, p. 8; SANTOS, 1993, p. 50; SANTIAGO,
1986, p. 13). Achados fósseis revelam que o Bos namadicus teria vivido durante o período
Pleistoceno (entre 1,8 milhão a 11,5 mil anos) (SANTOS, 1993, p. 50).
A caça e o desmatamento do hábitat do Bos primigenius fez com que a espécie se
extinguisse no século XVII. Há relatos que em 1476 havia dois grandes rebanhos de Auroque
em terras da família real da Polônia. Em 1564, havia apenas 38 animais, sendo 22 vacas, três
animais jovens, cinco bezerros e oito touros. Dois anos depois restavam 24 animais. Em 1602,
apenas 4, três touros e uma vaca. O último touro morreu em 1620 e a última vaca em 1627,
ano em que a espécie foi considerada extinta (VUURE, 2003 citado por MAAS, 2006).
5.1 A domesticação dos bovinos
Os primeiros centros agrícolas surgiram entre sete a dez mil anos em uma região
que vai da costa mediterrânea de Israel até as montanhas Taurus na Turquia. Além de Israel e
Turquia, os outros pioneiros da agricultura se espalharam pelo Irã, Armênia, Azerbaijão,
Geórgia, Rússia e Iraque. Com o advento da agricultura tornou-se possível iniciar as primeiras
domesticações. Os primeiros animais a serem domesticados foram bovinos, ovinos, caprinos,
suínos e caninos (FELIUS, 1985, p. 9).
35
Há uma grande divergência entre especialistas quanto à data das primeiras
domesticações de Bos primigenius. No entanto a maioria dos trabalhos baseados em achados
arqueológicos sugere que tenha ocorrido em dois centros diferentes, há cerca de cinco a dez
mil anos (FELIUS, 1985, p. 9; SANTIAGO, 1986, p. 13; LOFTUS, 1999, p. 2015). Já outro
trabalho de Loftus et al. (1994, citado por MEIRELLES et al., 1999, p. 543), baseado em
análise de DNA mitocondrial, indica que essas domesticações teriam iniciado a pelo menos
200 mil anos.
Os dois centros primários de domesticação teriam sido:
1 – Oriente Próximo (região que engloba os atuais Iraque, Líbano, Palestina e Síria), onde
teriam sido domesticados os primeiros Bos primigenius primigenius, dando origem ao Bos
taurus taurus (taurino europeu). Esta afirmação é baseada em estudos feitos por Loftus et al.
(1999, p. 2015), utilizando análises de DNA mitocondrial.
2 – Região que corresponde ao sudoeste do Paquistão e do Afeganistão e sudeste do Irã,
onde teriam sido domesticados os primeiros Bos primigenius namadicus, dando origem ao
Bos taurus indicus (zebuíno indiano). Esta afirmação é baseada em análises de achados
arqueológicos feito por Meadow (1993 citado por LOFTUS et al., 1999, p. 2015), mas, como
nunca se encontrou ossos de zebuínos selvagens, esta afirmação é insegura (FELIUS, 1985, p.
93).
FIGURA 16 – Prováveis locais primários de domesticação dos taurinos (Bos taurus taurus) e
zebuínos (Bos taurus indicus).
Fonte: MODIFICADO DE GOOGLE EARTH, 2007; LOFTUS, 1999; MEADOW, 1993
citado por LOFTUS, 1999.
36
O advento da agricultura e a domesticação permitiram ao homem armazenar
reservas nutricionais e abandonar o nomadismo. Esta foi uma grande revolução que gerou um
grande avanço, permitindo a formação de civilizações. No entanto alguns especialistas
afirmam que os primeiros bovinos não foram domesticados visando a produção de carne ou
leite ou realização de trabalhos de tração, mas sim para serem utilizados em rituais e práticas
religiosas (FELIUS, 1985, p. 9).
5.2 Modificações fenotípicas dos bovinos
Com o início da domesticação, houve grandes modificações no fenótipo dos
bovinos. Características que seriam prejudiciais a um animal selvagem passaram a ser
ignoradas ou até mesmo selecionadas artificialmente pelos homens. Por exemplo, espécimes
com chifres curtos e finos, ausência de chifres e pelagem malhada ou coloração diferente do
ambiente, tinham menos chances de sobreviver que os demais, ou seja, estavam sujeitos à
seleção natural (FELIUS, 1985, p. 10). Com isso, iniciou-se uma distinção dentro da espécie.
Tal diferenciação não foi mais drástica no início graças a uma prática comum dos criadores do
período Neolítico (período entre 14 e seis mil anos). Estes soltavam as suas vacas para que
emprenhassem dos touros selvagens (Bos primigenius), visando aumentar o tamanho de suas
crias (SANTOS, 1999, p. 273). Mesmo com esta prática os animais Bos taurus taurus mediam
cerca de 1,15 a 1,38 m de altura na região da escápula.
Durante a Idade Média (de 476 a 1453) os bovinos domésticos chegavam a apenas
1,05 m de altura na região da escápula. Esta diminuição ocorreu pela falta de alimento para os
animais domesticados. Assim, os animais menores tinham mais chances de sobreviver e
acabaram sendo selecionados. Outras mudanças marcantes no fenótipo dos bovinos foi o
aumento da proporcionalidade entre os quartos posterior e o anterior, diminuição dos chifres e
diversificação de pelagem (SANTOS, 1999, p. 273; FELIUS, 1985, p. 10).
Com a Revolução Industrial, iniciada em meados do século XVIII, criou-se a
necessidade de seleção de animais mais produtivos para atender a crescente demanda de
alimento, como carne e leite. Ao mesmo tempo, diminuiu-se a necessidade da utilização dos
bovinos para o trabalho de tração. A partir dessa época pode-se considerar que surgiram as
primeiras raças puras (FELIUS, 1985, p. 11).
37
6 AS RAÇAS BOVINAS ATUAIS
Existem atualmente cerca de 1,3 bilhão de cabeças de gado no mundo, sendo que
Índia, China, Brasil e Estados Unidos são, respectivamente, os países com maior contingente.
(CATTLE, [2007]). Há mais de 600 raças bovinas catalogadas, entre as quais 74 estão
presentes no Brasil (SANTOS, 1999, p. 1).
Como já foi mencionado, a Revolução Industrial foi o marco inicial da real
distinção e seleção das raças puras. A primeira a se destacar foi a raça Durham, criada no
norte da Inglaterra no início do século XIX. Esta raça se espalhou por todo o Reino Unido e
foi exportada para a Europa Ocidental e para os Estados Unidos. Atualmente é conhecida
como Shorthorn e foi a raça mais importante do mundo até aproximadamente 1875. Como o
Shorthorn, a maioria das raças Bos taurus taurus que conhecemos hoje iniciaram sua seleção
no século XIX. Porém, com o aumento da demanda por carne e leite há uma tendência de
ocorrer uma diminuição do número de raças, visto que o interesse se volta cada vez mais para
raças especializadas (FELIUS, 1985, p. 11).
As raças atuais podem ser divididas, como relatado anteriormente, em dois grandes
grupos: Bos taurus taurus e Bos taurus indicus. Segundo Frisch (2004, p. 7), estes grandes
grupos podem ser divididos da seguinte maneira:
6.1 Bos taurus taurus
6.1.1 Raças Européias
Os bovinos taurinos evoluíram em clima temperado e não foram expostos ao
desafio dos estresses presentes nas regiões tropicais, sendo pouco produtivos nestes ambientes,
a menos que estes estresses sejam controlados.
6.1.1.1 Raças Britânicas
São as raças originárias da Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales),
como o Aberdeen Angus (FIG. 16), Galloway, Belted Galloway, Highland, Murray Grey,
British White e White Park. Há muito tempo têm sido selecionadas para produção de carne
para o consumo humano, principalmente a raça Angus. As raças britânicas foram selecionadas
para a habilidade de crescer rapidamente em ambientes favoráveis, para se criar um bezerro
38
por ano e produzir carne macia e saborosa. Segundo Gazzola et al. (1998 citado por FRISH,
2004, p. 8), as raças britânicas possuem carne mais macia que as zebuínas. Este tipo de
seleção gerou animais férteis e de elevada intensidade metabólica, sendo que alguns como os
da raça Angus possuem alta capacidade de depositar gordura intramuscular (marmoreio),
característica correlacionada positivamente com o melhor sabor da carne e maciez.
FIGURA 17 – Dividend, touro da raça
Aberdeen Angus
Fonte: ALTA GENETICS INC., 2002.
6.1.1.2 Raças Continentais
São as raças originárias da Europa continental, como Blonde d‟Aquitaine,
Charolais, Limousin, Salers, Chianina, Marchigiana, Piemontese, Romagnola, Simental (FIG.
17) e Gelbvieh. As raças continentais foram selecionadas inicialmente para tração, o que fez
aumentar a massa muscular e o peso adulto e diminuir a quantidade de gordura. O alto peso
adulto fez com que estas raças possuíssem maior peso ao nascer e elevado metabolismo. A
combinação de peso adulto elevado e alta taxa de metabolismo gerou animais de alta
necessidade nutricional para manutenção. As raças continentais diferenciaram-se das raças
britânicas entre 200 a 500 anos atrás (FRISCH, 2004, p. 7). Segundo Blott; Williams; Haley
(1998, p. 277), que analisou a diferenciação genética entre 37 raças européias através de
polimorfismos de proteínas do soro sanguíneo, as raças originadas do Canal Inglês (Ilha
Guernsey e Ilha Jersey, localizadas entre a Inglaterra e a França), tais como Guernsey e Jersey,
estão mais correlacionadas com as raças continentais do que com as britânicas.
39
FIGURA 18 – Gallus Imp., touro da raça Simental.
Fonte: FAZENDA 3 GALHOS, [198-].
6.1.1.3 Raças Crioulas
Correspondem aos primeiros bovinos a serem introduzidos nas Américas, como as
raças introduzidas no Brasil: Caracu (FIG. 18), Crioulo Lageano, Curraleiro, Junqueira,
Mocho Nacional e Pantaneiro; e a raça presente na Venezuela: Romosinuano. Foram trazidas
pelos colonizadores a partir do século XVI. Diferenciaram-se das demais raças taurinas há
mais de 400 anos (MATEUS et al., 2004, p. 112). Segundo Silva (1947, p. 57), os portugueses
teriam trazidos para o Brasil bons animais. Estes animais enfrentaram grande choque
climático, vindo para um ambiente onde havia mais estresses ambientais que os existentes em
sua origem. Assim, as diferenças que hoje existem entre as raças originárias européias e as
crioulas se devem, principalmente, à adaptação ambiental que estas foram obrigadas a se
submeter. O gado que originou estas raças ainda é motivo de discussão. Segundo Serrano et al.
(2004, p. 543), que analisou a provável origem das raças crioulas nacionais através de DNA
microssatélites, pode-se considerar que estas raças tiveram duas origens distintas. As raças
Crioulo Lageano, Curraleiro, Mocho Nacional e Pantaneiro se originaram de raças ibéricas,
ou seja, raças originárias de Portugal ou Espanha. Já a raça Caracu teria se originado do gado
aquitânico, ou seja, bovinos originários do sudoeste da França. Segundo alguns autores, uma
das raças que mais influenciou as raças crioulas brasileiras foi a Barrosã (SILVA, 1947, p. 57),
que embora seja originária de Portugal, não é ibérica, mas sim batava (SERRANO et al., 2004,
p. 544).
40
FIGURA 19 – Gaiato da Guaraúna, touro da
raça Caracu.
Fonte: ALTA GENETICS DO BRASIL,
2007a.
6.1.2 Raças Africanas
Evoluíram nas regiões tropicais, em condições semelhantes àquelas em que as
raças índicas evoluíram. Possuem maior resistência ao calor, a ectoparasitas, como carrapatos,
e se adaptam melhor a condições nutricionais adversas, quando comparados com as raças
taurinas européias. Foram separadas das raças taurinas européias entre 10 a 20 mil anos
(FRISH, 2004, p. 7). Também possuem menor intensidade metabólica, menor potencial de
crescimento e menor exigência de alimentação para manutenção, quando comparados com as
taurinas britânicas. Segundo Gazzola et al. (1998 citado por FRISCH, 2004, p. 8), a qualidade
de sua carne está mais próxima das britânicas do que das raças índicas.
6.1.2.1 Raças do Sanga
São raças que se originaram na região do Sanga Africano (distrito da República do
Congo), como Africânder (FIG. 19) e Tuli. Possuem cupim cérvico-torácico e evoluíram em
regiões secas do sul da África. Eram tradicionalmente classificadas como Bos taurus indicus,
mas pesquisas realizadas por Frisch (1997, p. 77) baseadas em morfologia do cromossomo Y,
freqüência de marcadores de DNA e polimorfismos de proteínas sanguíneas revelaram que as
raças originárias ao sul do rio Zambezi, como o Africânder e o Tuli seriam mais bem
classificadas como Bos taurus taurus. Já as raças sanga originárias ao norte do rio Zambezi,
41
chamadas de raças do leste africano, se classificariam como tauríndicas, como será abordado
posteriormente. Segundo Frisch e O‟Neill (1998 citado por FRISCH, 2004, p. 13), o fato de
evoluírem em regiões secas fez com que tivessem menor resistência a carrapatos e vermes do
que as raças zebuínas indianas e, provavelmente, menor também do que as raças do oeste
africano e crioulas.
FIGURA 20 – Vaca da raça Africânder
Fonte: THE AFRIKANER CATTLE BREEDERS
SOCIET OF SOUTH AFRICA, [2007].
6.1.2.2 Raças do Oeste Africano
São raças originárias da região ocidental da África, como o N‟Dama (FIG. 20) e o
Muturu. Evoluíram em regiões de clima quente e úmido, altamente infestadas por parasitas.
Sendo assim, é provável que estas raças tenham maior resistência para parasitas internos do
que as raças do Sanga (FRISCH, 2004, p. 8).
42
FIGURA 21 – Vaca e bezerra da raça
N‟Dama
Fonte: VAN LANCKER, [2007]
6.2 Raças Tauríndicas Africanas
São animais que evoluíram na África Oriental. Foram gerados do cruzamento do
gado taurino nativo com o gado zebuíno que chegou à região há aproximadamente três mil
anos. Como exemplo de raça tauríndica africana, podemos citar a Boran (FIG. 21). Segundo
Frisch et al. (1997 citado por ISSA; JORGE; SERENO, 2006, p. 1610), baseado em análise de
morfologia do cromossomo Y, freqüência de marcadores de DNA e polimorfismos de
proteínas sanguíneas, a classificação mais correta destas raças seriam como taurindicas e não
zebuínas, como era aceita anteriormente.
FIGURA 22 – Touro da raça Boran, Quênia.
Fonte: BORAN CATTLE BREEDERS SOCIETY, [2007].
43
6.3 Bos taurus indicus
Os zebuínos evoluíram nos trópicos na presença de elevadas cargas de calor, de
doenças tropicais, de grandes variações na disponibilidade dos nutrientes e de alto desafio de
parasitas internos e externos. Por milhares de gerações, a seleção natural para sobrevivência
na presença destes estresses ambientais resultou em raças que possuem resistência elevada a
ectoparasitas, como carrapatos, e endoparasitas, como diversas espécies tropicais de
nematóides gastrointestinais, além de boa adaptação a altas temperaturas, radiação solar
elevada e muitas doenças tropicais, incluindo doenças oculares. A seleção natural sob
circunstâncias de baixa disponibilidade nutricional e elevadas temperaturas, favoreceram os
animais com uma intensidade metabólica baixa e pequena exigência nutricional para
manutenção. Havia dois tipos de seleções originais destas raças: para tração (por exemplo o
Ongole) e para leite (por exemplo o Gir) (FRISCH, 2004, p. 8).
44
7 ORIGEM DAS RAÇAS ZEBUÍNAS DA ATUALIDADE
Os zebuínos teriam se originado do Bos primigenius namadicus, subespécie do
Bos primigenius (MEADOW 1993, citado por LOFTUS et al., 1999, p. 2015).
O local de origem dos zebuínos é uma questão muito controversa. Segundo alguns
especialistas, os primeiros zebuínos teriam surgido na região do Oriente Próximo (região que
contem Síria, Líbano, Palestina e Iraque). Para outros, a origem teria sido na região que hoje
compreende Índia, Mianmar, Malásia e Tailândia. Há alguns até que acreditam que os
zebuínos tenham se originado na África (SANTIAGO, 1986, p. 14).
Já quanto ao local de domesticação, como já mencionado, é uma questão um
pouco mais unânime entre diversos autores. O sudoeste do Paquistão e do Afeganistão e
sudeste do Irã teriam sido os locais das primeiras domesticações dos zebuínos. (MEADOW
1993 citado por LOFTUS et al., 1999, p. 2015).
O gado zebuíno teria se espalhado por grande parte da Ásia e norte da África.
Das raças zebuínas atualmente conhecidas, a grande maioria é originária da Índia
ou países vizinhos. O gado indiano pode ser dividido em dois grandes grupos: o nativo
indiano e o originário dos animais levados pelos povos invasores (SILVA, 1947, p. 191).
O gado nativo indiano é encontrado por todo território da Índia. Consiste em um
gado de pequeno porte, de cor escura. Quase todos estes animais possuem nimburi (saliência
óssea formada no meio da marrafa) e foram selecionados para tração. Pode ser denominado
gado indígena ou, como citado por Wallace (1887 citado por SILVA, 1947, p. 192), gado das
aldeias. Não foram encontrados estudos mais aprofundados e atuais sobre este gado.
O gado originário dos animais levados pelos povos que invadiram a Índia é o que
gerou grande parte das raças zebuínas que atualmente têm importância econômica mundial.
Este grande grupo é formado por muitas raças, dentre as quais, algumas serão abordadas
posteriormente.
Entre os povos que invadiram a Índia e contribuíram para a formação de muitas
raças, estão os arianos. Este povo se estabeleceu no planalto iraniano, região que compreende
dois terços do Irã, a porção oriental e meridional do Afeganistão e o oeste do Paquistão há
cinco mil anos. Esta região, como já comentado, é a mesma em que ocorreram as primeiras
domesticações de zebuínos. Os arianos há 3,5 mil anos saíram do seu local de origem,
passaram pelo Punbjab (estado ou província que atualmente está dividida entre o Paquistão e
a Índia) e invadiram a Península da Índia, também conhecida como Industão (região que hoje
compreende Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal e Butão) (ARIANOS, [2007]) (FIG. 22).
45
Estudiosos do assunto afirmam que estes povos levaram consigo os seus animais
domésticos, entre os quais estavam os zebuínos, os quais eram mais refinados do que os
previamente existentes na Índia. Estes animais, provavelmente já possuíam diferenças entre si
antes da migração, mas elas ficaram mais evidentes quando se estabeleceram nos territórios
indo-paquistanês. Este grupo de raças que se originou com este povo é conhecido como gado
branco-cinza do norte. Parte do povo ariano teria ido até o sudoeste indiano e o gado que estes
levaram teria originado raças como Kankrej, Nagori e Malvi. Outra parte dos arianos teria se
dirigido mais para a região oriental da Índia e o gado levado por estes teria originado raças
como Hariana e Ongole (SILVA, 1947, p. 199). Para alguns autores o Kankrej não foi
introduzido pelos arianos ou influenciado por estes. Tanto Olver (1938 citado por SANTOS,
2000, p. 444), quanto Joshi e Phillips (1954 citado por SANTOS, 2000, p. 444) crêem que o
Kankrej já habitava o vale do Indo quando as últimas tribos arianas invadiram a Índia há 3,5
mil anos.
FIGURA 23 – Migração dos povos arianos e localização das raça bovinas levadas por eles.
Fonte: MODIFICADO DE GOOGLE EARTH, 2007; SANTOS, 1994; SANTIAGO, 1987.
46
Outros invasores da Índia que podem ter contribuído para formações de raças
zebuínas importantes são os que vieram da Indonésia. Esta tribo teria invadido o sul e o oeste
da Índia levando consigo o seu gado que, segundo alguns estudiosos do assunto, pode ter
originado a raça Gir (SILVA, 1947, p. 237).
7.1 Distribuição e classificação das raças zebuínas indianas e paquistanesas
A distribuição de algumas raças acompanha muito de perto as rotas seguidas pelos
principais invasores da Índia, especialmente pelos arianos. Houve, naturalmente, um
intercâmbio entre o gado desses conquistadores e o nativo da região, embora alguns desses
tipos tenham permanecido puros por tempo relativamente longo. Fatores ambientais também
podem ter influenciado e gerado algumas modificações fenotípicas. A seleção artificial
também fez sentir sua ação no rebanho, em evolução lenta, mas constante. Alguns
grupamentos zebuínos foram objetos de trabalhos seletivos que lhes deram maior
uniformidade de características e funções, cabendo-lhes, então, com mais propriedade a
denominação de raças (SANTIAGO, 1987, p. 111).
Segundo Santiago (1987, p. 111), os diferentes autores, que no passado
descreveram os bovinos indianos, se basearam nos rebanhos encontrados nas províncias e
numerosos distritos do antigo império. Assim, deram às raças e variedades estudadas nomes
correspondentes à região em que elas se haviam formado ou eram encontradas em maior
número, seguindo o antigo costume europeu, pelo qual quase todas as raças bovinas, eqüinas,
ovinas e suínas, tomaram a denominação da área geográfica de origem.
Uma das explicações para o motivo da existência de tantas raças na Índia é a que
este país chegou a ter mais de 500 reinos, comandados por marajás e estes apreciavam
diferenciar até o gado que possuíam daquele dos vizinhos. Por isso existem até hoje muitas
raças e variedades no país (SANTOS, 2000, p. 446).
Olver (1938 citado por SANTIAGO, 1987, p. 111) esclarece preliminarmente que
raças, na verdadeira acepção da palavra, existiriam poucas na Índia. O termo expressa, na
realidade, a ocorrência de agrupamentos com várias características próprias, mas
apresentando acentuada variabilidade. São antes raças naturais ou geográficas, porquanto se
formaram sob a influência de fatores de meio e quase sempre sem a intervenção do homem.
Em sua maior parte, os trabalhos seletivos visando à uniformização a ao melhoramento dos
Zebuínos datam do presente século, principalmente nos últimos quarenta anos. Evidentemente,
a situação zootécnica vigente na Índia era muito diferente da atual. Assim, existiriam na Índia
47
apenas quatro ou cinco tipos básicos ou raças-tronco e que a grande maioria das trinta ou
quarenta sub-raças corresponderia a estes tipos ou era resultante de miscigenação de dois ou
mais troncos. Para provar suas origens, Olver considerou as migrações pré-históricas de povos,
cujo gado deve ter exercido marcada influência no gado nativo. Os tipos importados
permaneceram puros por algum tempo, mas depois houve inevitáveis cruzamentos em
decorrência do deslocamento de pastores nômades, em suas migrações anuais em busca de
alimento, e do comércio de animais por mercadores itinerantes, além da criação descontrolada,
tudo contribuindo para a mistura de tipos.
Baseado no fenótipo dos animais, em testemunhos arqueológicos e também em
dados históricos sobre a introdução dos diferentes tipos de gado no território da Índia e do
Paquistão, Olver (1938, p. 14) classificou assim as raças encontradas neste local:
Tipo 1 – Gado grande e cinzento-branco do norte - Embora seja possível enquadrar as
diversas raças num único tipo básico por terem cor e origem semelhante, o Autor considerou
que possuíam diferenças fenotípicas suficientes para serem classificadas em dois subtipos, a
saber:
a) Subtipo do Norte ou cinza escuro
Kankrej
Malvi
Krishna Valley (tem sangue Misore)
Nagori (tem sangue do gado do Sul)
b) Subtipo do Sul ou cinza claro
Ongole
Bhagnari
Gaolao
Hariana
Rath
Mehwati (tem sangue Hariana e Gir)
Tipo 2 – O bem distinto tipo Misore do Sul
Apresentando conformação característica da cabeça e dos chifres.
Amrit Mahal
Khillari
48
Hallikar
Kangayam (tem sangue do gado braço-cinza)
Nimari (tem sangue Gir)
Tipo 3 – O conhecido gado Gir de Kathiawar e do Oeste da Índia
Gir
Dangi
Deoni
Sahiwal (tem sangue de Afegan)
Sindi (sua base é o gado vermelho e o Afegan)
Tipo 4 – O pequeno gado preto, vermelho ou pardo
Que se encontra em toda a Índia, principalmente nas regiões montanhosas e de
florestas. Têm as mesmas características do gado nativo indiano. Olver não citou raças, mas
outros estudiosos citam pelo menos, três:
Lohani
Siri
Ponwar
Tipo 5 – O gado Dhanni do Pundjab
Diferente principalmente na pelagem, não pode ser incluído em nenhum dos tipos
anteriores, motivo pelo qual é citado à parte.
O zootecnista norte-americano Ralph Phillips realizou novos estudos sobre a
sistemática do gado da Índia. Partindo das bases lançadas por Olver, seu trabalho foi
publicado sob o título The Cattle of Índia, em 1944, trazendo uma interessante modificação: o
desdobramento do primeiro tipo básico de Olver em dois tipos independentes. Mais tarde,
Phillips, com a colaboração do técnico hindu N. R. Joshi, apresentou um estudo mais amplo,
publicado pela FAO em 1953: El Ganado Cebu de la Índia y del Pakistan (SANTIAGO, 1987,
p. 123). Neste estudo as raças zebuínas da Índia e do Paquistão foram classificadas da
seguinte forma:
49
TABELA 1 – Classificação das raças zebuínas
Tipos
Raças
Kankrej
Grupo I
Este grupo inclui o gado cinzento com chifres em forma de lira, Kenwariya
fronte larga, arcadas orbitárias proeminentes, perfil plano ou Malvi
côncavo. O Kankrej é seu representante mais típico.
Kherigarh
Tharparkar
Hissar
Bachaur
Grupo II
Gado grande, branco ou cinza claro, apresenta chifres curtos e Bhagneri
perfil ligeiramente convexo – com arcadas orbitárias não Gaolao
salientes. O Ongole e o Hariana são os mais característicos do Hariana
grupo.
Krishna Valley
Nagori
Mehwati
Ongole
Rath
Dangi
Grupo III
Gado de testa proeminente, de chifres laterais, frequentemente Deoni
retorcidos,
barbela
muito
desenvolvida.
Pelagem
vermelha, ou castanha, uniforme ou geralmente manchada.
branca, Gir
Nimari
Sindi
Sahiwal
Grupo IV
Amrit Mahal
Gado de tamanho médio, compacto, de perfil convexo, com Alambadi
chifres longos, ponteagudos – nascendo bem próximos da cabeça. Bargur
É conhecido como tipo de Misore.
Hallikar
Kangayam
Khillari
50
Grupo V
Lohani
Abrange todo o gado pequeno, heterogêneo de pelagem vermelha Ponwar
ou parda, muitas vezes, malhado de branco. É encontrado em todo Siri
o País, sobretudo nas regiões montanhosas, no norte, no
Beluchistão e no Himalaia.
Grupo VI
Dhanni
O gado do Pundjab, pequeno, de pernas curtas; de pelagem
branca, com pequenas manchas vermelhas, castanhas ou pretas,
diferente da de todas as raças Indianas. Não pode ser classificada
em nenhum dos tipos básicos precedentes, motivo pelo qual é
agrupado a parte.
Fonte: JOSHI e PHILLIPS, 1953 citado por SANTIAGO (1987, p. 123).
51
8 O REBANHO BRASILEIRO
São escassas as informações sobre as primeiras importações e início da pecuária
nacional. Alguns estudiosos crêem que os primeiros bovinos a desembarcar no Brasil foram
trazidos de Portugal, de 1530 a 1554. Os navios que trouxeram as primeiras importações
teriam ancorado e desembarcado os animais na Capitania de São Vicente (SILVA, 1947, p. 45;
SANTOS, 1993, p. 51). Seriam, principalmente, raças ibéricas (SANTOS, 1993, p. 51; ISSA;
JORGE; SERENO, 2006, p. 1610). Estes animais sofreram muito por terem que se adaptar a
um clima muito diferente do qual habitavam, como mencionado no texto a seguir: “...de
Portugal e de suas ilhas, vieram eles em profusão, aqui prosperando, senão em qualidade,
devido à inclemência do clima, ao menos em quantidade.” (SILVA, 1947, p. 45).
A partir de São Vicente este gado foi levado para as outras capitanias (SILVA,
1947, p. 45). Em São Paulo, Rio de Janeiro e Olinda, a pecuária ficou restrita aos canaviais,
enquanto que o gado que chegou à Bahia penetrou pelos sertões e teve papel importante na
expansão do território nacional (SANTOS, 1993, p. 51).
A maioria do gado nacional até princípios do século XX filiava-se ao tronco
ibérico, mesmo que com certa mestiçagem em muitos casos. Alguns autores afirmam que o
fato de Portugal e Espanha terem sido ocupados pelos mouros (povo originário da região
ocidental do Saara), teria permitido a introdução de sangue zebuíno africano nos animais
ibéricos e, consequentemente, o gado brasileiro já teria um grau de sangue zebuíno. Também
há pesquisadores que acreditam que juntamente com a vinda de escravos negros, teria
chegado zebuínos africanos aos nossos portos. Esta sugestão é baseada na histórica entrada de
alguns vegetais e animais africanos pelas mesmas vias, como o coqueiro de dendê, o quiabo, o
maxixe, o guandu, o capim Angola, o capim Elefante, o cavalo berbere, os jumentos
algerianos, tunisianos e egípcios, as cabras da Núbia, os carneiros do Sudão e as galinhas
d‟Angola (SANTOS, 1993, p. 51).
Ao gado nacional originário destes primeiros animais que adentraram o Brasil é
dado o nome de crioulos. Entre as raças crioulas mais conhecidas atualmente estão o Caracu,
o Crioulo Lageano, o Curraleiro, também chamado de Pé-Duro, o Mocho Nacional e
Panteneiro, também conhecido por Tucura (SERRANO et al., 2004, p. 543).
Primo (1993 citado por SERRANO et al., 2004, p. 544), baseado em informações
históricas, considerou que as raças Crioulo Lageano, Curraleiro e Pantaneiro teriam se
originado do gado ibérico, ou seja, do gado nativo de Portugal e Espanha como, por exemplo,
as raças Mirandesa e Brava. Já as raças Caracu e Mocho Nacional teriam se originado do gado
52
aquitânico, ou seja, do gado oriundo do sudoeste da França como, por exemplo, as raças
portuguesas Galega, Arouquesa, Alentejana, Mertolenga, Algarvia e Minhota e a francesa
Blonde d‟Aquitaine.
Segundo Serrano et al. (2004, p. 543), baseado em análise de DNA microssatélites,
a raça Mocho Nacional se enquadra melhor junto às raças de origem ibérica e não como de
origem aquitânica. Este mesmo autor informa que houve contaminação por sangue zebuíno
nas raças crioulas, principalmente o Crioulo Lageano, o Pantaneiro e o Mocho Nacional
(SERRANO et al., 2004, p. 548), sendo que esta última já teria perdido a sua identidade
genética.
Segundo Silva (1947, p. 57), a opinião geral da maioria dos especialistas no
assunto é que a raça Barrosã tenha sido uma das raças que mais influenciaram a formação do
gado crioulo.
Estudos baseados em DNA microssatélite indicam que a raça Junqueira, outra raça
crioula, poderia ter a mesma origem das raças Blode d‟Aquitaine, Holandês e Pardo-Suiço.
Outra suposição é que alguma destas tenha participado da formação da raça Junqueira
(RANGEL; ZUCCHI; FERREIRA, 2004, p. 99).
8.1 Importação dos zebuínos e alteração do rebanho nacional
Como relata Silva (1947, p. 127), já no início do século XIX começou a se
despertar o interesse dos brasileiros por uma modificação do tipo de gado aqui existente. A
degenerescência do crioulo causada principalmente pelos fatores ambientais e a falta, quase
absoluta, de cuidados, mostrava-se incompatível com o cenário mundial de carne, que
começava a se abrir aos olhos dos brasileiros.
Iniciou-se então a busca por animais importados, tanto taurinos, quanto zebuínos.
Em 1813 entraram no Brasil os primeiros zebuínos que se tem notícia
(SANTIAGO, 1993, p. 95). Tratava-se de um casal oriundo da costa de Malabar, na Índia, e
que foi deixado em Salvador. Em 1826 estabeleceu-se o primeiro núcleo de zebuínos puros,
na Fazenda Real de Santa Cruz. Seguiram-se a estas várias importações de animais em
pequenas quantidades (SANTIAGO, 1984, p. 133).
As primeiras importações foram de diferentes raças, conforme a região visitada.
Aos zebus do Nilo, sucederam os da África Ocidental, Senegal, Guiné e Congo. Depois
vieram os do grupo Misore, da Índia (SANTIAGO, 1984, p. 133).
53
Na realidade, muitos dos criadores brasileiros não sabiam distinguir bem as raças,
e talvez os próprios indianos fossem incapazes de fazê-lo, uma vez que seu gado ainda não
tinha sido convenientemente estudado e as descrições das raças indianas eram poucas ou
falhas (SANTIAGO, 1987, p. 153). Até 1938 os brasileiros estavam fazendo um gado sem
qualquer orientação externa, ou seja, da terra mãe do zebu (SANTOS, 1993, p. 91). Segundo
Santos (1993, p. 171) foram importadas as raças Krishna Valley, Gaolao, Ongole, Kangayam,
Nagori, etc, mas a princípio, tudo recebia o único nome de “raça Zebu”.
Durante muito tempo prevaleceu a idéia de que o gado indiano deveria ser sempre
cruzado. Na voragem dos cruzamentos, acidentais ou intencionais, desapareceram os
representantes de certas raças, como a Hissar, a Malvi, a Sindi e as do grupo Misore
(SANTIAGO, 1984, p. 134).
Em 1930 o rebanho nacional era visivelmente mestiçado, onde 80 a 90% do
rebanho era denominado Indubrasil. Neste mesmo ano, graças a uma licença especial do
Ministério da Agricultura, é realizada uma importação de mais 192 animais das raças Gir,
Guzerá, Nelore e Sindi. Em 1952 são importados do Paquistão 31 animais da raça Sindi, os
quais foram destinados para o Instituto Agronômico do Norte e Escola de Piracicaba. Em
1955 entram mais 114 animais da raça Gir, trazidas por contrabando através da Bolívia
(SANTIAGO, 1984, p. 134).
Em 1960 Celso Garcia Cid, consegue liberação do Ministério da Agricultura e
importa mais 102 animais. Em 1962 ocorre a última importação, quando adentraram ao nosso
território mais 297 zebuínos (SANTIAGO, 1984, p. 134).
Segundo Santiago (1987, p. 95), foram importados ao Brasil, no total, 6.262
animais zebuínos. É uma quantidade muito pequena se comparada a de mais de um milhão de
taurinos que adentraram o nosso território (ABCZ, [2007]a).
É impressionante verificar como pouco mais de seis mil animais conseguiram
alterar as características de um rebanho que até o princípio do século XX era basicamente de
taurinos (SANTOS, 1993, p. 51). Atualmente, o rebanho nacional conta com mais de 190
milhões de bovinos, sendo que 80% possuem sangue zebuíno (ABCZ, [2007]a). Estes
números mostram como os zebuínos se adaptaram bem ao clima brasileiro, principalmente no
Brasil Central, onde está a maior parte do rebanho nacional.
É nítido, pela enorme multiplicação da quantidade de animais fenotipicamente
zebuínos, que a grande maioria do atual rebanho zebuíno brasileiro não é descendente
exclusivamente de animais Bos taurus indicus. A maioria dos zebuínos importados era macho,
54
preferidos por terem maior poder de multiplicação, os quais eram cruzados com vacas nativas
Bos taurus taurus (MEIRELLES et al., 1999, p. 543).
Britto e Mello (1999, p. 371), analisou a morfologia do cromossomo Y de 75
machos da raça Pé-Duro do Núcleo de Preservação de Gado Pé-Duro da Embrapa, no Piauí, e
características fenotípicas indicativas de origem zebuína e taurina. Observou que em 68%
deles o cromossomo Y era acrocêntrico, ou seja, tipicamente zebuíno. Associado com
características fenotípicas observadas nos animais, como maior bainha prepucial, chegou-se a
conclusão que o rebanho Pé-Duro estava contaminado por sangue zebuíno, provavelmente
através de touros Bos taurus indicus.
Issa; Jorge; Sereno (2006, p. 1609), analisando a morfologia do cromossomo Y de
12 machos da raça Pantaneiro da Faz. Experimental Nhumirim da Embrapa Pantanal,
observou que em 75% deles o cromossomo Y era acrocêntrico, ou seja, tipicamente zebuíno.
A avaliação dos mesmos animais através de DNA mitocondrial, constatou que 100% deles
descendiam, pela parte materna, de taurinos. Assim conclui-se que, também em animais da
raça Pantaneiro, houve contaminação por zebuínos através de touros.
Inclusive na formação de raças sintética a participação dos zebuínos parece ter
sido maior através de touros do que de vacas. Henkes et al. (2005, p. 63), avaliando o DNA
mitocondrial de animais Brangus-Ibagé (5/8 Bos taurus taurus, 3/8 Bos taurus indicus),
observaram que não houve participação de fêmeas zebuínos na formação desta raça.
Da mesma forma que touros zebuínos deixaram sua participação genética em raças
taurinas no Brasil, vacas taurinas também estão presentes na ascendência de boa parte dos
animais zebuínos brasileiros. Meirelles et al. (1999, p. 545) analisaram o DNA mitocondrial
de 124 animais das raças Nelore, Gir e Brahman. Observou que 79% dos animais puros de
origem (PO) da raça Nelore possuíam DNA mitocondrial característico de Bos taurus taurus.
Quanto aos animais puros de origem (PO) da raça Gir, 73% possuíam DNA mitocondrial
característico de Bos taurus taurus. Todos os animais da raça Brahman apresentaram DNA
mitocondrial característico de Bos taurus taurus. Conclui-se a partir daí que grande parte do
rebanho zebuíno brasileiro, inclusive animais puros, foi formado sobre vacas taurinas.
Neste mesmo estudo foram analisados alguns animais puros de origem importada
(POI), ou seja, animais que, em toda a ascendência de seu pedigree, arremete a animais
importados da Índia. 26% dos animais POI da raça Nelore e 25% dos animais POI da raça Gir
possuía DNA mitocondrial característico de Bos taurus taurus (MEIRELLES et al., 1999, p.
544). Segundo os autores, estes resultados sugerem que há erro de informação em cerca de um
quarto das linhagens maternas dos animais Nelore e Gir considerados POI. Outra teoria que
55
deve ser considerada é que alguns animais zebuínos importados já podem ter vindo
“contaminados” com sangue taurino.
8.2 As raças zebuínas existentes no Brasil
8.2.1 Raça Brahman
Em 1885, Al Mc Faddin, Shanghai Pierce e Tom M. O‟Connor compraram o touro
“Khedive”, puro-sangue Guzerá, na Índia. A seguir, em 1889, J. D. Hudgins também comprou
gado diretamente da Índia. Até 1915, os produtos cruzados recebiam o nome de “big eared
louisiana cattle” (gado de longas orelhas de Louisiana). Em 1915 começou a seleção de
Brahman, quando W. J. Hudgins comprou outras 40 fêmeas aneloradas descendentes de
animais importados em 1906 (SANTOS, 2000, p. 442). O grande impulso, no entanto,
aconteceu quando os Estados Unidos realizaram duas importações de Zebu do Brasil, em
1923 e 1924. Segundo Rhoad ([19--] citado por SANTOS, 2000, p. 442), este gado importado
do Brasil apresentava uma nítida predominância de Guzerá, com alguma evidência de Gir e
Nelore. As linhagens famosas do início lembram o gado brasileiro, até nos nome portugueses...
Sartwelle comprou “Imperador” e, logo a seguir, o legendário “Aristocrata” que, com
“Penélope” (filha de um Guzerá da importação de 1906 e mãe Nelore), iria gerar a linhagem
“Manso”. Os irmãos de “Manso”, “Albacrata” e “Aristarchus” eram notoriamente da raças
Guzerá. Já o próprio “Manso” era um misto de Nelore e Guzerá.
Segundo Rutowitsch ([19--] citado por SANTOS, 2000, p. 442), um grande criador
da raça no Brasil, a raça foi criada utilizando como referencial comparativo as raças inglesas
produtoras de carne, que eram as melhores do mundo à época. O objetivo fundamental de seus
formadores era criar uma raça que pudesse agüentar calor, umidade, insetos, parasitas e
doenças típicas do Golfo do México na penúltima virada do século. Esses pioneiros eram
criadores que gostavam das características das raças inglesas (Angus, Hereford e Shorthorn)
como produtoras de carne, mas não podiam fazer com que elas tivessem sucesso e
prevalecesse na inóspita região semitropical do Sul dos Estados Unidos.
56
FIGURA 24 – JDH Atari Oyo Manso, touro
da raça Brahman.
Fonte: J. D. HUDGINS INC., [2007].
É formada basicamente por quatro raças zebuínas: Gir, Guzerá, Krishna Valley e
Nelore. Em 1993 houve alteração da legislação, a qual facilitou o ingresso de animais desta
raça ao Brasil. Em 1994 ocorreu a primeira importação de animais desta raça. Já foram
importados animais dos Estados Unidos, Argentina, Colômbia e Paraguai (ASSOCIAÇÃO
DOS CRIADORES DE BRAHMAN DO BRASIL-ACBB, [2007]).
8.2.2 Raça Gir
Santos (1990 citado por SANTOS, 2000, p. 443), segundo sugestões da literatura
sagrada hinduísta, acredita que o Gir talvez seja a raça zebuína mais antiga do planeta. É a
raça-tronco do terceiro grupo das raças indianas tanto na classificação de Olver, quanto na de
Joshi e Phillips, como já visto.
Entre as teorias da origem da raça Gir está a de que os ascendentes destes animais
descenderam de um gado deixado na península de Katiawar, no estado de Gujarat. Este gado
teria sido levado a este local por antepassados da tribo ariana, quando migravam do norte
africano para o interior asiático, tendo se fixada neste hábitat a mais 80 mil anos (SANTOS,
2000, p. 443).
Outra teoria é de ter sido levada ao sul e ao oeste indiano por tribos procedentes da
Indonésia (SILVA, 1947, p. 237).
Originário da floresta de Gir, no estado de Gujarat é também encontrado em
grande número em estado de pureza racial nas regiões do atual estado de Rajasthan (ABCZ,
57
[2007]b). A floresta de Gir não é muito densa, possui períodos de seca periódicos, sua
vegetação é rica em arbustos e espinhos. A principal árvore da região é a teca. É o único local
do oeste indiano onde ainda há leões asiáticos (ASIA ROOMS, [2007]).
Entre as particularidades da raça podemos citar a forma do crânio e dos chifres. É
a única raça bovina com chifres voltados para baixo e para trás, e de crânio ultra convexo, do
mundo (SANTOS, 2000, p. 443).
Há algumas especulações que tentam explicar a causa de algumas características
fenotípicas particulares da raça Gir. Para alguns, a forma do crânio e tipo dos chifres são
resultado da seleção natural onde os animais que tivessem maior facilidade de atravessar
matas teriam maior chance de sobreviver e espalhar seus genes. Outra teoria é a que os chifres
eram usados como ferramenta de defesa em caso de serem atacados por leões, espécie que
habita a região até hoje (SANTOS, 2000, p. 443).
O Gir também se distingue pela pelagem, sendo vermelha ou amarela em
combinações típicas da raça (ZEBU ON-LINE, [2007]).
Na Índia, existem rebanhos com história de 300 anos, ou mais, tendo sido uma
raça muito utilizada para melhorar as demais em termos de produtividade leiteira e trabalho
pesado. O Gir, modernamente, goza de grande popularidade na Índia, principalmente pela sua
notável mansidão e aptidão leiteira. Segundo Santos (2000, p. 443), é comum encontrar vacas
Gir produzindo leite nos templos e nos centros de pesquisa, bem como nos asilos e
organismos sociais.
FIGURA 25 – F. B. Nefrita, vaca da raça Gir.
Fonte: CENTRAL NOVA ÍNDIA, [2007].
A chegada do Gir ao Brasil ocorreu entre 1906 a 1911 (SANTIAGO, 1984, p. 174;
SANTOS, 1998 citado por SANTOS, 2000, p. 448), mas foi no final da Primeira Guerra
Mundial que, de fato, tornou-se figura comum. Ao chegar ao Brasil a raça Gir passou por
58
formidável progresso, a ponto de se perceber, hoje, sua influência na grande maioria das
propriedades pecuárias do país. Inicialmente, o sucesso do Gir ficou patenteado pela
consolidação da raça Indubrasil. A seguir, em meados de 1930, os pecuaristas sentiram a
necessidade de retornar às raças puras indianas e o Gir sofreu uma grande ascensão, com
animais atingindo valores astronômicos. Baseado nos registros genealógicos, conclui-se que o
Gir entre 1938 e 1967 era a principal raça do Brasil (SANTOS, 2000, p. 448).
Na década de 1950, os altos preços do Gir já desestimulavam o ingresso de novos
selecionadores. Na década de 1960, para atender o enorme mercado de propriedades leiteiras,
diversos selecionadores passaram a segregar as fêmeas Gir de aptidão leiteira. Dividiu-se,
assim, o horizonte da raça em dois: linhagens para leite e linhagens para corte. Assim, acabou
perdendo o trono da pecuária de corte para o Nelore, mas acabou ganhando um novo trono, o
da pecuária de leite (SANTOS, 2000, p. 448). Esta queda, para muitos, foi causado por uma
excessiva preocupação com características étnicas, principalmente quanto à conformação de
cabeça e questões de pelagem (SANTIAGO, 1984, p. 173).
Na década de 40, atendendo ao mercado, foi produzido o Gir Mocho com
influência original do gado Mocho Nacional e do Red Poll. Esta variedade continua em
expansão, apresentando as mesmas características e funções do gado Gir tradicional
(SANTOS, 2000, p. 448).
Atualmente, para muitos, a raça Gir no Brasil supera o Gir indiano tanto em pureza
racial quanto em produtividade (SANTIAGO, 1984, p. 173).
O Gir teve influência na formação de outras raças indianas, como a Dangi, a Deoni,
a Nimari e até nas raças Sindi e Sahiwal (SANTIAGO, 1984, p. 173).
8.2.3 Raça Guzerá
Na Índia é denominada de Kankrej, pois era encontrada em grande quantidade na
região de Kankej, território ao norte do estado de Gujarat (SANTIAGO, 1984, p. 193). É a
raça-tronco do primeiro subtipo do primeiro grupo das raças indianas na classificação de
Olver e também do primeiro grupo na classificação de Joshi e Phillips, como já visto.
A origem do Kankrej não é unanimidade entre os especialistas. Há autores que
crêem que a raça foi levado ao local que hoje habita pelas tribos arianas que invadiram a Índia
há 3,5 mil anos (SILVA, 1947, p. 199). Para outros autores o Kankrej não foi introduzido
pelos arianos, nem muito influenciado por estes. Tanto Olver (1938, citado por SANTOS,
2000, p. 444) quanto Joshi e Phillips (1954 citado por SANTOS, 2000, p. 444) crêem que o
59
Kankerj já habitava o vale do Indo, no atual Paquistão, quando as últimas tribos arianas
invadiram a Índia. Esta teoria é baseada em achados arqueológicos como o famoso selo
encontrado nas ruínas de Mahenjo-Daro, cidade ao norte da Índia, destruída há cerca de cinco
mil anos. Neste selo é retratado um animal com características extremamente semelhantes aos
da raça Kankrej. Também há achados arqueológicos que revelam que o Kankrej habitou a
região da Mesopotâmia, localizada atualmente no Iraque (SANTIAGO, 1984, p. 193).
O Kankrej habita, principalmente, a região semi-desértica do distrito de Kutch, no
estado de Gujarat (SANTOS, 2000, p. 444; SANTIAGO, 1984, p. 193). Também pode ser
encontrado próximo à cidade de Ahmedabad, também no estado de Gujarat e no distrito de
Tharparkar, no estado de Sindh, no Paquistão. Estas regiões possuem índice pluviométrico
entre 500 e 650 mm por ano e temperaturas entre 5 e 50ºC (SANTIAGO, 1984, p. 193).
FIGURA 26 – Acaso S, touro da raça Guzerá.
Fonte: ASSIS, 2006.
A característica fenotípica mais marcante da raça são os chifres, muito
desenvolvidos e simétricos, possuindo forma de lira ou torquês (SANTIAGO, 1984, p. 194).
Segundo Bitencourt (2002, p. 106), a guzerá tem sido a principal raça bovina da
Índia. Hoje, a maior parte do rebanho indiano é composta pela raça e suas variantes.
Segundo Santos (2000, p. 450), o Kankrej ou Guzerá foi a primeira raça zebuína a
entrar no Brasil, entre as que persistem, sendo trazida da Índia na década de 1870, pelo Barão
de Duas Barras, logo dominando a pecuária nos cafezais fluminenses.
Foi a raça de maior contingente até o início da década de 1920. A partir daí houve
um grande declínio no número de animais desta raça, pois surgiu, nesta época, uma demanda
60
extrema sobre matrizes Guzerá, visando formar a nova raça daquela época, o Indubrasil
(SANTOS, 2000, p. 450).
É uma raça extremamente rústica. Entre 1979 e 1983, por exemplo, houve uma
grande seca no nordeste brasileiro. Após este período só haviam sobrevivido os rebanhos
bovinos compostos por Guzerá (BITENCOURT, 2002, p. 106).
8.2.4 Raça Indubrasil
Segundo Santos (1998 citado por SANTOS, 2000, p. 445), o mestiço de Guzerá
com Nelore dominou os primórdios da criação de Zebu no Brasil, desde 1890 até 1920. Com
a introdução da raça Gir, entre 1911 e 1920, os produtos cruzados (Guzonel x Gir), então
denominados apenas de Zebu, adquiriram seu aspecto definitivo, exibindo um grande porte,
habilidade para longas caminhadas e matrizes eficientes.
Segundo Santiago (1984, p. 219), o Hissar, o Mehwati, a Sindi e as raças do grupo
Misore também participaram da formação da raça Indubrasil.
Entusiasmados com o resultado do Indubrasil, os triangulinos visualizavam o Gir
apenas como um meio para obtenção do novo tipo zebuíno (SANTOS, 1993, p. 84).
A voragem dos cruzamentos entre as raças zebuínas culminou com o
desaparecimento de algumas raças que adentraram o Brasil, como o Hissar e as raças do
grupo Misore. As raças Nelore, Gir e Guzerá só não desapareceram graças a perseverança de
um pequeno grupo de selecionadores (SANTIAGO, 1984, p. 221).
FIGURA 27 – Genérico, touro da raça
Indubrasil.
Fonte: ALTA GENETICS DO BRASIL,
2006.
61
O sucesso desse cruzamento foi tão grande que, além de se espalhar pelo país
inteiro, também incentivou duas exportações entre 1923 e 1924, para os Estados Unidos, com
intenção de consolidar a raça Brahman e em 1946, o próprio Indubrasil foi exportado para
aquele país e influenciando fortemente a raça americana (SANTOS, 2000, p. 445).
A maioria dos fazendeiros do início do século não tinha conhecimento das
características de cada raça e não conseguiam distinguir bem os zebuínos puros dos animais
cruzados com taurinos. Assim, começou-se a dar preferência a exemplares de orelhas longas,
barbela e umbigo avantajados e cupim volumoso, pois eram características particulares das
raças zebuínas. Era a medida de defesa dos compradores que, assim agindo, tinham certeza de
estar escolhendo animais puros e evitando a aquisição de mestiços (SANTIAGO, 1984, p. 219)
Segundo Santos (2000, p. 445), até 1929, quando foi aprovado o nome de
Indubrasil, a raça havia recebido vários nomes, entre eles: Induberaba, Induaraxá, Indubelém,
Indugoiás e Induporã.
Foi a primeira raça zebuína, formada por criadores brasileiros, com base no gado
importado do continente asiático (SANTIAGO, 1984, p. 219).
Lentamente começou-se uma campanha contra a raça. O argumento principal era
que, sem a pureza genética, não se poderia manter um bom mestiço por longo tempo. Dizia-se
que a raça já havia gasto suas virtudes obtidas pela heterose e que, agora, sem se praticar uma
nova re-infusão de sangue zebuíno estaria fadada ao fracasso. Muitos acreditavam nessa
conversa e voltaram a utilizar o Gir que atingia preços absurdos. Assim iniciou-se a grande
queda do gigante Indubrasil (SANTOS, 1993, p. 88).
O Indubrasil dominou a pecuária brasileira, desde 1925 até 1945. Em 1930 já
passava de 15% do total de registros entre as raças zebuínas no Brasil, aumentando para
79,8% em 1940.
Desde 1930, com a chegada de espetaculares produtos da raça Gir, diretamente da
Índia, os criadores vinham praticando algumas re-infusões sobre os mestiços. Os produtos de
primeira geração eram excelentes, mas, a partir daí, decresciam aceleradamente, não
conseguindo fixar nem um tipo guzeratado, nem agirado (SANTOS, 1993, p. 93).
Daí para frente, este índice caiu vertiginosamente, pois todos os bons resultados
divulgados na pecuária mostravam ser a infusão de Gir o motivo principal de progresso
(SANTOS, 1993, p. 93). A participação do Indubrasil no registro genealógico das raças
zebuínas, em 1950, caía para apenas 32,05% (SANTOS, 1993, p. 101). Já em 1980 esta
participação correspondia a apenas 3,7%. Entre as opiniões que tentam explicar tamanha
queda está a que a raça estava restrita a criadores tradicionais, havendo pouca chance para o
62
surgimento de novos criadores, não se adaptando a um mundo cada vez mais dinâmico, que
exige constantes renovações (SANTOS, 2000, p. 445).
Atualmente, o hábitat está restrito ao Nordeste e a Minas Gerais, embora no
restante do Brasil as vacas continuem sendo procuradas para servir como base de cruzamentos
indiscriminados (SANTOS, 2000, p. 445).
8.2.5 Raça Kangayam
É originário do distrito de Coimbatore, estado de Tamil Nadu, o qual fazia parte da
antiga Presidência de Madras, na Índia (SANTOS, 2000, p. 446; SANTIAGO, 1987, p. 148).
O Kangayam se enquadra no grupo de raças Misore, embora seja evidente, pelo
seu maior porte quando comparado com as demais raças da Índia meridional, que possui em
sua composição sangue de gado Ongole (SANTIAGO, 1987, p. 148).
É raça especializada em transportes leves, trabalhando até 10 horas por dia e, como
todas as raças do grupo Misore, é muito rústica e de baixa aptidão leiteira (SANTOS, 2000, p.
446).
Muitos animais Kangayam foram importados no início do século, tendo sido
absorvidos na formação da raça Nelore, contribuindo tanto na caracterização quanto na
conformação da musculosidade (SANTOS, 2000, p. 453).
FIGURA 28 – Touro da raça Kangayam.
Fonte: ABCZ, [2007]d.
Segundo Santos (2000, p. 453), também vieram alguns animais nas importações de
1962/1963 que se mantiveram em puros em propriedade de Sérgio Jacinto Costa, no Mato
63
Grosso do Sul, de João Batista Andrade, na Bahia, e de Rubico Carvalho, em São Paulo. Estes
dois últimos rebanhos foram adquiridos por Benedito e Arlindo Drummond, e após estudos de
DNA mitocondrial estão atualmente no Triângulo Mineiro (CANAL TORTUGA, [2001];
TOLEDO [2006]).
8.2.6 Raça Nelore
A raça Nelore é descendente direta da raça Ongole, embora, para muitos autores
não tenha sido influenciada apenas por esta raça. A formação da raça Nelore será abordada
posteriormente, em capítulo próprio.
Foi dado à raça o nome Nelore, pois era na província de Nelore onde se recolhiam
os animais Ongole escolhidos pelos brasileiros, entre 1900 e 1920 e que posteriormente
seriam importados (SANTOS, 2000, p. 454).
O Ongole é originário da região de mesmo nome, hoje localizada no distrito de
Prakasan, no estado de Andhra Pradesh, na Índia. É também encontrado na região de Madras,
capital do estado de Tamil Nadu, ao sul de Andhra Pradesh (SANTIAGO, 1984, p. 153;
SANTOS, 2000, p. 446).
FIGURA 29 – Inriti da Terley, touro da raça Nelore.
Fonte: ASSIS, 2006.
O Ongole é classificado por Olver como sendo do segundo subtipo do primeiro
grupo de raças zebuínas. Já Joshi e Phillips o classificam como sendo do segundo grupo
64
(SANTIAGO, 1987, p. 124). Nestes grupos, juntamente com a raça Hariana, é a raça de maior
destaque (SANTIAGO, 1984, p. 153).
O Ongole teria sido levado ao sul da Índia pelas tribos arianas, que invadiram a
Índia há cerca de 3,5 mil anos (SILVA, 1947, p. 200).
Atualmente na Índia, o Ongole continua sem grandes melhoramentos, uma vez que
não se pratica seleção para corte naquele país. É, no entanto, um gado de grande porte, muito
utilizado em tração e transportes pesados, além de ser figura constante dos concursos de força.
Apesar disto, alguns autores crêem que a Índia continuará gerando bons espécimes, úteis ao
Brasil (SANTOS, 2000, p. 446).
A primeira entrada de animais Ongole no Brasil ocorreu em 1874, quando o Barão
do Paraná adquiriu um casal desta raça em um zoológico de Londres, repetindo a compra em
1877. Já em 1878, Manoel Ubelhart Lemgruber comprou um lote no jardim zoológico de
Hamburgo. A seguir passou a encomendar animais diretamente da Índia por empresas
especializadas no fornecimento de animais para circos e zoológicos (SANTOS, 2000, p. 454).
Logo no começo da história, o Ongole ou Nelore era cruzado com o Kankrej, aqui
chamado de Guzerá, formando um “Guzonel” portentoso e muito rústico, que incentivou
muita gente a escolher o Zebu (SANTOS, 2000, p. 454). Tamanho foi o sucesso deste
cruzamento que em 1920 reduziu o rebanho nacional a poucos criadores e por pouco não
desapareceu (SANTIAGO, 1984, p. 221).
Em 1930, com a importação realizada por Ravísio Lemos, o Nelore ganhou um
grande impulso, chegando à caracterização racial que seria homologada pelo Registro
Genealógico. A partir de então o Nelore brasileiro consolidou uma fisionomia um pouco
diferente do Ongole indiano, apresentado uma marrafa mais estreita, boa distribuição
muscular, menor aptidão leiteira, chifres mais longos e consolidação de um andamento
peculiar com passos mais curtos (SANTOS, 2000, p. 454).
As importações do início da década de 1960 trouxeram animais exponenciais da
Índia, provocando um acelerado melhoramento genético. Rapidamente, o Nelore chegou a
70% do total de zebuínos registrados no Brasil. A partir de então, a produção de carne deu um
salto, aumentando o consumo per capita nacional e deixando saldo para exportações.
Modernamente, os pecuaristas procuram avidamente mais tecnologias para aumentar o
desfrute e a lucratividade, tendo sempre o Nelore como base (SANTOS, 2000, p. 454).
65
8.2.7 Raça Sindi
É a raça mais popular entre todas as zebuínas leiteiras do mundo (RED SINDHI
CATTLE, [2007]). É criada em 33 países asiáticos, africanos e americanos. É considerada a
raça nacional do Paquistão (SANTOS, 2000, p. 446).
É uma das raças mais importantes do terceiro grupo de raças zebuínos, segundo
Olver e segundo Joshi e Phillips (SANTIAGO, 1987, p. 124).
Alguns autores afirmam que o Sindi é originário da região de Kohistan, no estado
de Sindi, no Paquistão (SANTIAGO, 1984, p. 229; SANTOS, 2000, p. 446). Entretanto,
atualmente, o distrito de Kohistan está situado em North-West Frontier Province, também no
Paquistão, local muito distante do estado de Sindi. Assim acredita-se que a origem do Sindi
não seja na região de Kohistan, mas em algum local do estado de Sindi, o qual deu o nome à
raça.
FIGURA 30 – Suspiro E, touro da raça Sindi.
Fonte: ALTA GENETICS DO BRASIL,
2007b.
Segundo Camargo ([19--] citado por ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS
CRIADORES DE SINDI-ABC SINDI, 2007), importador da raça em 1952, a raça se manteve
em relativo estado de pureza racial, graças aos desertos que rodeiam o hábitat em que a raça
se originou, isolando estas das demais raças.
Segundo Santiago (1984, p. 229) em certas regiões, devido ao nomadismo de
algumas tribos, recebeu influência de Gir em seu sangue.
66
Segundo Santos (2000, p. 446), do cruzamento entre o Sindi e o Gir ocorrida pela
migração deste até a periferia do estado de Sindi, teria surgido o gado Sahiwal, considerado o
mais leiteiro da Índia.
A primeira entrada de gado Sindi no Brasil ocorreu em 1850 (SANTOS, 2000, p.
456), quando foi deixado um reprodutor, provavelmente da raça Sindi, na Bahia, para o
Visconde de Paraguaçu (SANTIAGO, 1984, p. 233).
Segundo Santiago (1984, p. 233) animais Sindi também devem ter chegado entre
1854 e 1856 e no início do século XX. Pela falta de conhecimento para distinguir as diversas
raças zebuínas, o Sindi acabou desaparecendo.
Em 1930, na importação realizada por Ravísio Lemos, aportaram no Brasil
animais da raça Sindi, os quais, também confundidos com a raça Gir, foram vendidos a José
Cesário de Castilho, o qual, mais tarde, reconheceu que este animais eram da raça Sindi
(SANTIAGO, 1984, p. 233).
Felisberto de Camargo, enfrentando forte oposição do Ministério da Agricultura e
das Associações de Criadores, conseguiu trazer do Paquistão 31 animais Sindi, os quais foram
destinados para o Instituto Agronômico do Norte e Escola de Piracicaba (SANTIAGO, 1984,
p. 134).
A raça Sindi se adaptou muito bem ao semi-árido nordestino, onde está sendo cada
vez mais procurada pela sua excelente rusticidade e boa produção leiteira.
8.2.8 Raça Tabapuã
FIGURA 31 – Popó da Pedra Riscada, touro
da raça Tabapuã.
Fonte: ASSIS, 2006.
67
Desde o início do século XX criadores cruzavam animais Guzerá e Nelore com o
gado Mocho Nacional. Mas só na década de 1940 este cruzamento daria origem à raça
Tabapuã (SANTOS, 1999, p. 544).
Segundo Neves (1912 citado por FAUSER AGROFLORESTAL, [2007]), o
Mocho Nacional originou-se do gado taurino mocho introduzido pelos colonizadores e era
criado no Sudeste e em Goiás.
No início da década de 1940, em meio a uma boiada enviada de Goiás para São
Paulo, alguns animais mochos e com fenótipo de zebuíno se destacaram e chamaram a
atenção de seu proprietário, Júlio do Valle. Este, ciente do interesse de Alberto Ortenblad pela
pesquisa científica, deu-lhe de presente um touro zebuíno mocho de ótima conformação para
corte, o qual foi denominado T-0 e foi a base que Alberto Ortenblad usou para formar a nova
raça brasileira. Ortenblad era proprietário da Faz. Água Milagrosa, em Tabapuã, São Paulo e
batizou a raça com o nome da cidade onde se localizava sua propriedade. Outros criadores se
interessaram pelo gado zebuíno mocho, o qual começou a se expandir. A união destes
criadores em um objetivo que idealizava um tipo semelhante homogeneizou o gado e
possibilitou a aprovação do registro junto ao Ministério da Agricultura em 1969 (FAUSER
AGROFLORESTAL, [2007]).
8.2.9 Variedades Mochas
FIGURA 32 – Garrafa da Cal, vaca mocha da
raça Gir.
Fonte: FAZENDA CALCIOLÂNDIA,
[2007].
68
As raças Nelore e Gir possuem variedades mochas. O aparecimento destes
espécimes sem chifres, segundo alguns estudiosos e muitos criadores, apareceu como
resultado de mutações genéticas. Este argumento, apesar de possível, é altamente improvável,
pois uma mutação que resulte em uma mudança tão drástica no fenótipo de um animal é
extremamente rara. Antigamente esta teoria era mais aceita, pois se acreditava que a presença
ou não de chifres fosse de monogênica (controlada por um par de genes), onde a característica
mocha seria a dominante. Entretanto, estudos mais recentes afirmam que esta característica,
em zebuínos, é poligênica (controlada por mais de um par de genes), o que torna a teoria de
mutação ainda mais improvável (SILVA, 2007, p. 94). Além disso, na Índia, local onde os
zebuínos habitam a milhares de anos e que conta com o maior contingente destes animais,
nunca foi relatada a ocorrência de zebuínos mochos (SANTIAGO, 1984, p. 243).
Com isso, podemos supor que as variedades mochas destas raças zebuínas tenham
sido obtidas através de cruzamentos. Alguns autores crêem que os animais utilizados para
conferir esta característica a certos zebuínos tenham sido animais crioulos mochos da raça
conhecida como Mocho Nacional (SANTOS, 1999, p. 451; SANTIAGO, 1986, p. 419). Para
a formação do Gir Mocho, também teriam sido utilizados animais da raça inglesa Red Poll
(SANTOS, 1999, p. 376).
FIGURA 33 – Liceu da Boticão, touro mocho
da raça Nelore.
Fonte: ALTA GENETICS DO BRASIL, 2005.
69
Segundo Santos (1999, p. 376), os primeiros animais mochos da raça Gir surgiram
na década de 40. Os primeiros animais mochos da raça Nelore surgiram em meados da década
de 50 (SANTIAGO, 1986, p. 419).
As variedades Nelore Mocho e Gir Mocho foram aceitas pelo Registro
Genealógico em 1969 e em 1976, respectivamente (SANTIAGO, 1986, p. 419; SANTOS,
1999, p. 376).
70
9 A FORMAÇÃO DA RAÇA NELORE
A raça Nelore é descendente direta da raça Ongole, embora, para muitos autores
não tenha sido influenciada, no Brasil, apenas por esta raça.
O Ongole é classificado por Olver e por Joshi e Phillips juntamente com as demais
raças do Grupo Branco-Cinza do Norte. Estas raças têm em comum a face estreita, pelagem
branca ou cinza claro, chifres curtos, perfil ligeiramente convexo e com arcadas orbitárias não
salientes (SANTIAGO, 1987, p. 126).
O Ongole não é uma raça que permaneceu isolada e se manteve pura. Segundo
alguns autores, as raças que mais influenciaram a formação do Ongole foram as pertencentes
ao Grupo Branco-Cinza do Norte, do qual o próprio Ongole faz parte (JOSHI e PHILLIPS,
1953 citado por SANTOS, 1993, p. 10).
A maioria dos autores crê que o gado Branco-Cinza não seja nativo do
subcontinente indo-paquistanês, tendo sido ali introduzido pelos povos pastores, denominados
arianos, que invadiram a Índia há 3,5 mil anos. Esse argumento fica mais plausível quando se
observa que a distribuição dessas raças coincide com as rotas e o deslocamento das tribos
arianas no território paquistanês e indiano (SANTIAGO, 1987, p. 129).
O gado dos arianos, ao se dispersar por extensas regiões do Paquistão e da Índia,
sob condições diversas de clima, solo e agricultura, foi-se diferenciando, tendo dado origem a
diversos tipos ou raças geográficas, mas apresentando todas elas alguns traços comuns.
Consideram-se, por isso, as raças Ongole, Rath, Bhagnari e Gaolao como simples variedade
da raça-tronco, a Hariana (SANTIAGO, 1987, p. 129).
Além do Ongole, segundo a maioria dos autores, ser descendente da raça Hariana e
de todas as outras raças do Grupo Branco-Cinza, algumas raças do grupo Misore, segundo
muitos especialistas, também participaram de sua formação (SANTOS, 1993, p. 169).
9.1 Raças do grupo branco-cinza claro de chifres curtos
Neste grupo está o gado levado pelos arianos ao Paquistão e à Índia há cerca de 3,5
mil anos. Estes animais têm em comum os chifres curtos, o perfil ligeiramente convexo,
arcadas orbitárias não salientes e pelagem branca ou cinza. As raças Ongole e Hariana são as
mais características do grupo.
71
9.1.1 Raça Ongole
Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173):
Cabeça: Tamanho moderado e estreita;
Fronte: Plana ou semiconvexo, pouca “goteira” e chanfro estreito;
Chifres: Curtos, grossos na base, normalmente saindo dos lados. Podem ser para cima e para
fora e as pontas são rombudas;
Orelhas: Curtas, lanceoladas e não pontiagudas;
Marrafa e Nimburi: Marrafa plana, com pouco ou sem nimburi;
Pele e Pelagem: Pele solta, flexível. Pelagem branca, admitindo manchas semelhantes às
encontradas no gado do grupo Misore;
Cauda: Tamanho moderado, com vassoura a meia distância entre o jarrete e o chão;
Giba: Grande, situada pouca à frente da cernelha;
Barbela: Tamanho moderado;
Bainha: Tamanho moderado;
Corpo: Grande, longo, alto, pescoço curto;
Pureza genética: Faz parte do Grupo Branco-Cinza do Norte. É baseada na raça Hariana, com
influência de outras raças do Grupo Branco-Cinza do Norte e raças do Sul e Sudoeste da Índia
(Grupo Misore).
FIGURA 34 – Touro da raça Ongole, Índia.
Fonte: RAO, [2007].
72
Segundo Santiago (1986, p. 81), não há grandes diferenças entre o padrão racial do
Ongole indiano e do Nelore brasileiro.
O Ongole é originário da região de mesmo nome, hoje localizada no distrito de
Prakasan, no estado de Andhra Pradesh, na Índia. É também encontrado na região de Madras,
capital do estado de Tamil Nadu, Índia (SANTIAGO, 1984, p. 153; SANTOS, 2000, p. 446).
Segundo Silva (1947, p. 225), a razão para que nesta região sejam encontrados os melhores
espécimes da raça não está ligado apenas à qualidade do solo, mas também é resultado do
cuidado com que os criadores da região têm com estes animais, prezando muito pela pureza
racial.
Na opinião de muitos especialistas o Ongole sofreu infusão de sangue, além das
raças do seu próprio grupo, das raças do Grupo Misore e, até, do gado nativo indiano (SILVA,
1947, p. 225). Este, inclusive, poderia ser o responsável pela variação do tom de sua pelagem
e inconstância na coloração dos chifres do Ongole, características estas que até servem para
diferenciar esta raça das outras. Santos (1993, p. 169) considera que o Ongole é “um coquetel
que deu certo, formado por cruzamentos de diversas raças na Índia”.
Uma das características mais marcantes da raça são os chifres. Segundo Silva
(1947, p. 225), as vacas Ongole mais puras são aquelas que possuem chifres em formato de
paus negros, fincados, sem simetria, no ocipital da fêmea, sendo completamente destituído de
nimburi (protuberância óssea no topo e centro da cabeça).
Segundo Santiago (1986, p. 81), são animais muito eficientes tanto para o trabalho,
quanto para a produção leiteira. São animais dóceis, fortes e muito úteis para o trabalho
pesado, como puxar arados e carros.
Apesar dos esforços de alguns criadores, a raça Ongole está se degenerando pela
contínua miscigenação e falta de controle que há em seu hábitat (SILVA, 1947, p. 225;
SANTOS, 1993, p. 169). Além disso, não se pratica seleção para corte naquele país, apesar de
estar figurando constantemente nos concursos de força. Apesar disto, alguns autores crêem
que a Índia continuará gerando bons espécimes, úteis ao Brasil (SANTOS, 2000, p. 446).
9.1.2 Raça Bhagnari
Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173):
Cabeça: Largura média;
Fronte: Plana, sem goteira;
Chifres: Saindo lateralmente, curtos e grossos, para os lados;
73
Orelhas: Pequenas e largas, com extremidades arredondadas e lanceoladas;
Marrafa e Nimburi: Normalmente sem nimburi. Marrafa tendendo à horizontal;
Pele e Pelagem: Pele branca ou cinza. Nos macho a cabeça, giba, pescoço e posterior ficam
escuros;
Cauda: Curta, com vassoura a meia distância entre o jarrete e o chão;
Giba: Tamanho moderado, situada à frente da cernelha;
Barbela: Tamanho mediano;
Bainha: Tamanho mediano;
Corpo: Longo, compacto;
Pureza genética: Faz parte do Grupo Branco-Cinza do Norte.
FIGURA 35 – Vaca da raça Bhagnari.
Fonte: OLVER, 1938.
A raça Bhagnari é originária do território Bhag, no estado de Balochistan e
também habita ao norte de Jacobabad, no estado de Sindh, ambos no Paquistão (SANTIAGO,
1987, p. 132). Foi formado nesta região e se manteve sem grande intromissão de sangue de
outras raças (SILVA, 1947, p. 234).
São animais de pelagem clara, sendo que nos machos adultos o pescoço, as
espáduas e a giba podem ser quase pretas (SANTIAGO, 1987, p. 132). Foi selecionada para
tração, mas, segundo Silva (1947, p. 234), mesmo sendo muito parecidas com a Hariana e o
Ongole, apresenta aptidão leiteira melhor que estas. Mesmo nunca tendo sido selecionada
para produção de carne, Joshi e Phillips (1954 citado por SANTOS, 1993, p. 174) concluem
74
que “a julgar por sua forma, grande peso vivo, e a tendência a engordar mesmo com pouca
alimentação, poderia ser selecionada para esta finalidade”.
A raça Bhagnari, segundo comenta Santos (1993, p. 174), pode ter influenciado na
formação da raça Tharparkar.
A semelhança entre a raça Bhagnari e a Ongole é tanta que Santos (1993, p. 174)
afirma que, ainda hoje, muitos estudiosos confundem animais Bhagnari com legítimos
animais Ongole, embora a distância entre o hábitat dessas duas raças esteja separado por mais
de 2.000 km.
É uma raça de muitas qualidades e que inclusive arrebanhou adeptos que
incentivavam a importação do Bhagnari ao Brasil (SILVA, 1947, p. 234).
9.1.3 Raça Gaolao
Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173):
Cabeça: Comprida;
Fronte: Perfil plano ou ligeiramente convexo (SANTIAGO, 1987, p. 132), com possibilidade
de goteira, chanfro saliente semi-convexo até perto do focinho, abaulado;
Chifres: Fincados ao lado do crânio, curtos, grossos e com pontas rombudas. Dirigem-se para
fora e para trás;
Orelhas: Médias, extremidades arredondadas e lanceoladas;
Marrafa e Nimburi: Marrafa semi-convexa. Sem nimburi;
Pele e Pelagem: Pelagem branca. Os machos são mais escuros na cabeça, pescoço, giba e
posterior;
Cauda: Curta, com vassoura pouco abaixo do jarrete;
Giba: Grande, pouco à frente da cernelha;
Barbela: Volumosa;
Bainha: Tamanho mediano;
Corpo: Longo, estreito e forte;
Pureza genética: Faz parte do Grupo Branco-Cinza do Norte.
É uma raça encontrada por grande parte da Índia, mas se concentra mais na região
central daquele país, principalmente nos estados de Maharashtra e Madhya Pradesh, ambos na
Índia (SANTIAGO, 1987, p. 132).
75
Apesar de apresentar grande semelhança com o Ongole, o Gaolao é muito mais
ativo (SANTIAGO, 1987, p. 132; JOSHI e PHILLIPS, 1954 citado por SANTOS, 1993, p.
176).
Graça a semelhança que há entre as raças Ongole, Gaolao e Bhagnari, estas são
consideradas como parentes na Índia (SANTOS, 1993, p. 212)
São animais de altura média, corpo leve, com tendência a ser estreitos e compridos,
com cabeça estreita e comprida, alargando-se na base dos chifres (SANTIAGO, 1987, p. 132).
Segundo Santos (1993, p. 173), o Gaolao apresentava uma boa produção leiteira,
mas, como a seleção desta raça ultimamente se voltou apenas para a tração, a aptidão leiteira
foi prejudicada.
FIGURA 36 – Touro da raça Gaolao, Índia.
Fonte: OLVER, 1938.
Já para Santiago (1987, p. 132), o Gaolao foi selecionado para tração rápida, mas
nas últimas décadas tem-se dado grande importância para o melhoramento leiteiro da raça.
A opinião de Silva (1947, p. 222) sobre a raça é contundente, considerando o
Gaolao como uma péssima raça com relação a estrutura de carcaça. A única característica que
este autor vê como interessante é a sua pelagem que, segundo ele é “[...] branco-prata, sedosa
e macia como nenhuma outra.”. Para ele, a raça nada tem que a faça recomendável aos
ocidentais e diz: “Nós, criadores do Brasil, deixamos em paz o Gaolao, lá onde ele está, bem
no centro-norte da Índia e onde tanto o estimam, apesar desta estima ser para nós um
enigma.”
Para Santos (1993, p. 171, 1993, p. 212), pode-se considerar que a aparição de
cupins grandes, pregas volumosas sobre os olhos e/ou perfil muito convexo nos animais
76
Ongole ou Nelore seja creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue da raça
Gaolao.
9.1.4 Raça Hariana
Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173):
Cabeça: Longa e estreita;
Fronte: Perfil plano;
Chifres: Normalmente curtos e grossos. Saem lateralmente para fora, para cima, um pouco
para frente e para dentro, com pontas rombudas;
Orelhas: Pequenas ou médias, lanceoladas, nunca pendentes, com extremidades não
pontiagudas;
Marrafa e Nimburi: Marrafa estreita, horizontal. Nimburi bem saliente no centro da marrafa,
entre os chifres;
Pele e Pelagem: Pele macia, flexível. Pelagem branca, ou cinza claro, sendo que nos machos é
cinza escuro na cabeça, pescoço, giba e posterior;
Cauda: Fina, com vassoura a meia distância entre o jarrete e o chão;
Giba: Pequena, um pouco adiante da cernelha;
Barbela: Pequena;
Bainha: Pequena;
Corpo: Medianamente longo e profundo, com pescoço curto e forte;
Pureza genética: Considerado a base do Grupo Branco-Cinza do Norte da Índia.
FIGURA 37 – Vaca da raça Hariana, Índia.
Fonte: OLVER, 1938.
77
A raça Hariana constituiu a raça-tronco do gado branco-cinza (SANTIAGO, 1987,
p. 133). A raça é encontrada em forma mais ou menos pura nos estados de Haryana, Punjab,
Rajasthan e Uttar Pradesh, todos na Índia.
São animais compactos e bem proporcionais. Possuem cabeça comprida e estreita,
mantendo-a elevada ao caminhar. Os chifres são finos e curtos, saindo horizontalmente,
curvando-se para cima e para dentro. No centro da marrafa possuem uma acentuada
proeminência óssea, o nimburi que é praticamente uma característica racial (SANTIAGO,
1987, p. 133; SANTOS, 1993, p. 175). São de pelagem branca ou cinza clara, focinho largo
com espelho nasal preto, olhos grandes e brilhantes. Há relatos de animais com chifres em
“forma de banana”, mas isso não agrada aos criadores (SANTOS, 1993, p. 175). As orelhas
não são muito pequenas, um pouco pendentes e muito móveis (SILVA, 1947, p. 219).
A raça Hariana tem tal soma de caracteres idênticos aos da raça Ongole que só os
conhecedores profundos das duas raças estão aptos a distinguir vacas quando juntas em um
mesmo curral (SILVA, 1947, p. 219). Segundo Silva (1993, p. 175), em termos de aparência,
o Ongole tem entre 50 a 80% de similaridade com a Hariana.
Entretanto há algumas características que podem ajudar nesta diferenciação. A
Hariana tem a cara mais comprida e umbigo e barbela menor que o Ongole. A pelagem da
Hariana é sempre branca ou cinza claro. Já a pelagem mais comum do Ongole é branca com
nuvens escuras. Mas um dos pontos mais importantes para a diferenciação destas raças é, sem
dúvida, o nimburi. Segundo Silva (1947, p. 219), “Hariana sem nimburi não é puro sangue, o
mesmo se dando com o Ongole que tiver nimburi”.
Os bois desta raça são poderosos animais de trabalhos e as vacas produzem boa
qualidade de leite, sendo muitas delas enviadas, principalmente, aos grandes centros do
nordeste indiano. Algumas destas vacas não voltam para seu local de origem, formando bons
núcleos desta raça fora de seu hábitat natural, os quais, muitas vezes são considerados como
sendo da raça Ongole.
Segundo Tibery (1989 citado por SANTOS, 1993, p. 133), a raça Hariana é muito
interessante para o Brasil.
Assim, pode-se considerar que a aparição do nimburi nos animais Ongole ou
Nelore seja creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue da raça Hariana.
78
9.1.5 Raça Krishna Valley
Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173):
Cabeça: Pequena a média;
Fronte: Perfil plano ou semi-convexo;
Chifres: Laterais, curtos e grossos, para fora, para cima e para dentro;
Orelhas: Pequenas, lanceoladas e arredondadas;
Marrafa e Nimburi: Marrafa plana com pouco ou sem nimburi;
Pele e Pelagem: Pelagem entre branco e cinza;
Cauda: Tamanho mediano, com vassoura entre o jarrete e o chão;
Giba: Grande, situado pouco a frente da cernelha;
Barbela: Volumosa;
Bainha: Tamanho médio;
Corpo: Longo, massivo e com peito largo;
Pureza genética: Formado pela raça Hariana com influência do gado Misore.
FIGURA 38 – Touro da raça Krishna Valley,
Índia.
Fonte: NATIONAL DAIRY RESEARCH
INSTITUTE, 2006a.
É originária na região de Bombaim, também conhecido como Mumbai, no estado
de Maharashtra, e na região de Hyderabad, no estado de Andhra Pradesh, Índia (SANTIAGO,
1987, p. 133).
79
Foi formada no fim do século XIX pelos rajás do sul de Maharashtra, que
objetivavam criar um animal de grande porte para os trabalhos agrícolas nos solos negros da
região. Para atingirem este objetivo cruzaram animais das raças Gir e Ongole. Alguns autores
também citam que a raça Kankrej participou de sua formação e a base de gado local utilizada
seria do tipo Misore. Por ser oriundo de cruzamentos recentes, não mantêm um padrão
fenotípico muito constante (JOSHI e PHILLIPS, 1954 citado por SANTOS, 1993, p. 210;
SANTIAGO, 1987, p. 133).
São animais branco ou cinza claro, sendo que os machos adultos apresentam
tonalidades mais escuras nos terços anterior e posterior. Algumas vacas também podem
apresentar pelagem parda e branca ou branca e preta. O perfil da fronte é ligeiramente
convexo e os chifres são pequenos e recurvados. Possuem orelhas de tamanho médio e o
quarto posterior bem mais desenvolvido que o anterior (SANTIAGO, 1987, p. 133). É
considerado por muitos especialistas como a raça de melhor carcaça da Índia(SILVA, 1947, p.
86).
São animais muito úteis para tração pesada, sendo muito utilizados no cultivo de
solos negros e transporte de cargas pesadas. Apesar de nunca ter sido selecionado para
produção leiteira, as vacas têm boa aptidão para esta característica, graças a infusão de sangue
Gir e Ongole (SANTIAGO, 1987, p. 133).
Segundo Tibery (1989 citado por SANTOS, 1993, p. 138), “[...] a raça Krishna
Valley pode ser considerada extinta.”
Para Santos (1993, p. 171), pode-se considerar que a aparição de cupins muito
grandes e orelhas com pontas mais afiladas nos animais Ongole ou Nelore seja creditada, pelo
menos parcialmente, à infusão de sangue da raça Krishna Valley.
9.1.6 Raça Nagori
Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173):
Cabeça: Longa e estreita;
Fronte: Perfil normalmente plano;
Chifres: Médios, para fora, para cima, com curvas nas pontas para dentro. Fincados ao lado do
crânio;
Orelhas: Compridas e estreitas;
Marrafa e Nimburi: Marrafa plana. Pouco ou muito nimburi;
Pele e Pelagem: Pele fina. Pelagem branca;
80
Cauda: Curta, com vassoura pouco abaixo do jarrete;
Giba: Média, situado pouco adiante da cernelha;
Barbela: Pequena;
Bainha: Pequena;
Corpo: Longo, profundo, peito moderado e pescoço curto;
Pureza genética: Faz parte do Grupo Branco-Cinza do Norte, mas houve infusão de sangue de
raças do sul da Índia, de pelagem cinza.
FIGURA 39 – Vaca da raça Nagori, Índia.
Fonte: OLVER, 1938.
O gado Nagori é encontrado no antigo estado de Jodhpur, agora integrado no
estado de Rajasthan, Índia. Apesar de ser classificado como sendo do Grupo Branco-Cinza do
Norte, Olver acentua que a raça Nagori apresenta sangue do gado cinza e chifres em forma de
lira (SANTIAGO, 1987, p. 135). Segundo Silva (1947, p. 212), o Nagori tem muita
semelhança fenotípica com o Kankrej. Como o seu local de origem é muito próximo do
hábitat da raça Hariana e da raça Kankrej, alguns especialistas crêem que o Nagori seja
descendente destas duas raças (SANTOS, 1993, p. 135; SANTIAGO, 1987, p. 135). A
ocorrência de períodos de fome, determinando grandes migrações do rebanho em busca de
alimento, pode ter auxiliado estes cruzamentos.
Santos (1993, p. 175), baseado nas pesquisas de Harbans Singh (citado por
SANTOS, 1993, p. 175) que mostram certo relacionamento entre as raças Ongole e Kankrej,
sugere que esta proximidade tenha sido causada pela infusão de sangue Nagori na formação
do Ongole.
Em geral são animais grandes, altos, ativos e dóceis, com ossatura forte. Possuem
cabeça comprida e estreita, fronte plana e pouco proeminente. As orelhas são grandes e caídas.
81
Os chifres são de tamanho médio e saem dos ângulos externos da marrafa dirigindo-se para
cima e depois para dentro, nas pontas (SANTIAGO, 1987, p. 135).
Segundo Santiago (1987, p. 135), entraram no Brasil uma escala apreciável de
animais Nagori, os quais foram absorvidos pela raça Guzerá.
Para Tybery (1989 citado por SANTOS, 1993, p. 138) a raça Nagori não tem mais
futuro na Índia.
9.1.7 Raça Rath
Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173):
Cabeça: Tamanho mediano;
Fronte: Perfil plana;
Chifres: Laterais, pequenos, um pouco para frente e para dentro nas pontas;
Orelhas: Pequenas, pontas arredondadas e lanceoladas;
Marrafa e Nimburi: Marrafa plana. Nimburi moderado;
Pele e Pelagem: Pelagem branca. Cabeça, pescoço, giba e posterior escuros nos machos
adultos;
Cauda: Curta, com vassoura a meia distância entre o jarrete e o chão;
Giba: Média, pouco à frente da cernelha;
Barbela: Pequena;
Bainha: Pequena;
Corpo: Comprimento moderado e bem arqueado;
Pureza genética: Formado a partir da raça Hariana, com influência do Nagori e Mewati.
FIGURA 40 – Touro da raça Rath, Índia.
Fonte: OLVER, 1938.
82
O Rath é encontrado de forma mais pura na região próxima ao distrito de Alwar,
no estado de Rajasthan, Índia. Fora desta região também podem ser encontrados animais da
raça Rath, mas provavelmente já com influência de outras raças, como Hariana, Nagori e
Mehwati (SANTIAGO, 1987, p. 136; SANTOS, 1993, p. 175).
É muito semelhante à raça Hariana, mas com um porte menor, sendo assim, de
mais fácil manutenção. Os animais jovens apresentam, frequentemente, nimburi, o qual
desaparece quando adultos. São bons animais de tração e muito longevos. Algumas vacas são
boas produtoras de leite, mas raramente o período de lactação ultrapassa 200 dias
(SANTIAGO, 1987, p. 136).
Segundo Santos (1993, p. 175), o Rath, em sua própria região, é considerado
“gado de pobre”, enquanto que o Nagori é considerado “gado de rico”. Este classificação é,
provavelmente, decorrente do porte dos animais, pois apenas criadores com mais condições
poderiam manter animais maiores como os da raça Nagori, enquanto que o Rath pode ser
mantido em condições muito mais adversas.
Para Silva (1947, p. 221) o Rath é considerado o “boi do pobre” graças a sua
sobriedade, comendo tudo o que lhe é oferecido e vivendo sempre em bom estado.
9.2 Gado de Misore
Algumas raças do Grupo Misore também contribuíram com sua genética para a
formação do atual Ongole e Nelore (SANTOS, 1993, p. 169; SILVA, 1947, p. 251;
SANTIAGO, 1986, p. 405).
O tipo Misore forma o segundo grupo de raças indianas na classificação de Olver e
o quarto grupo na classificação de Joshi e Phillips (SANTIAGO, 1987, p. 126).
Este gado tem sua origem no antigo estado de Misore, atual estado de Karnataka,
na Índia meridional, região de altitude variando entre 550 a 1.000 metros e cortada por uma
cadeia de colinas e vales profundos (SANTIAGO, 1987, p. 145).
Segundo Silva (1947, p. 251), o gado tipo Misore não é bom produtor de carne,
nem de leite. Segundo este autor, o Grupo Misore foi selecionado, por diversas gerações de
marajás, única e exclusivamente para tração rápida gerando “o melhor bovino para tração
existente sobre a terra”.
Segundo Santos (1993, p. 124), a própria mãe de Karvadi Imp., um dos mais
famosos touros Ongole importados ao Brasil, possuía traços do tipo Misore em sua
caracterização.
83
Já o Nelore brasileiro, também sofreu influência de raças do tipo Misore, que
entraram em quantidade apreciável durante o primeiro período de importação (SANTIAGO,
1986, p. 405). Assim, podemos considerar que o Nelore brasileiro sofreu infusão de sangue
Misore tanto antes da importação, na formação do Ongole, quanto após chegar ao território
nacional, através dos exemplares que aportaram em nossas terras.
Saber quais as raças do tipo Misore que influenciaram o Nelore no Brasil não é
tarefa fácil, pois elas produzem bezerros muito semelhantes quando cruzados com a raça
Ongole (SANTOS, 1993, p. 211). Mas, provavelmente, as quatro raças do tipo Misore que
mais participaram da formação do Ongole e do Nelore foram o Amrit-Mahal, o Kangayam, o
Hallikar e o Khillari (SANTOS, 1993, p. 173).
Para Santos (1993, p. 253), pode-se considerar que a aparição de marrafas muito
estreitas, carcaças mais magras, goteiras muito pronunciadas e perfis de fronte muito
convexos nos animais Ongole ou Nelore seja creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de
sangue das raças do tipo Misore.
9.2.1 Raça Amrit-Mahal
Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173):
Cabeça: Estreita;
Fronte: Proeminente no perfil e com goteira;
Chifres: Fincados no topo do crânio. Longos, para trás seguindo ao lado do pescoço, para
cima e com pontas finas;
Marrafa e Nimburi: Chifres quase justapostos, sem chance de nimburi;
Pele e Pelagem: Pelagem cinza, manchas claras na face e barbela. Pele sem elasticidade e de
cor escura;
Cauda: Fina, com vassoura pouco abaixo do jarrete;
Giba: Média, pouco a frente da cernelha;
Barbela: Bem desenvolvida;
Bainha: Muito reduzida;
Corpo: Compacto e bem arqueado;
Pureza genética: Pertence ao Grupo Misore.
Segundo Silva (1947, p. 251), o Amrit-Mahal é o expoente máximo do gado de
Misore. Alguns governantes do antigo estado de Misore, atual estado de Karnataka, Índia,
reuniram, entre os anos 1500 e 1600, as melhores vacas leiteiras da região e iniciaram uma
84
seleção que visava a produção de leite e, principalmente, a tração rápida, objetivando o
transporte de equipamento militar (SANTIAGO, 1987, p. 145; SANTOS, 1993, p. 210;
SILVA, 1947, p. 251).
Os machos e as fêmeas chamaram muito a atenção durante o século XIX devido à
resistência e velocidade da marcha, podendo percorrer 160 km em dois dias e meio de marcha
(SANTOS, 1993, p. 210). Por este motivo era comparado, por vários pesquisadores como
sendo o correspondente ao Cavalo Árabe dos bovinos (SILVA, 1947, p. 251).
FIGURA 41 – Touro da raça Amrit-Mahal, Índia.
Fonte: NATIONAL DAIRY RESEARCH INSTITUTE, 1999.
O nome Amrit-Mahal significa “departamento do leite” (SANTOS, 1993, p. 210),
mas, ironicamente, as vacas apresentam muito pouca aptidão leiteira (SANTIAGO, 1987, p.
145; SILVA, 1947, p. 251).
Possui pelagem cinza, variando do quase branco ao quase negro. A cara e a
barbela apresentam manchas de um tom branco. O cupim, as extremidades dos membros e a
cauda são pretos. Não são animais dóceis, podendo tornar-se perigosos quando não
domesticados (SANTIAGO, 1987, p. 145).
9.2.2 Raça Hallikar
Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173):
Cabeça: Longa e estreita;
Fronte: Muito proeminente no perfil. A goteira chega perto do focinho. Chanfro abaulado;
85
Chifres: Longos, emergindo do topo do crânio. Para trás, ligeiramente para cima e sobre o
pescoço;
Orelhas: Curtas, lanceoladas e pontudas;
Marrafa e Nimburi: Chifres quase justapostos. Sem nimburi;
Pele e Pelagem: Coloração cinza, às vezes até preta. Manchas claras na face, barbela e ventre;
Cauda: Fina, com vassoura pouco abaixo do jarrete;
Giba: Tamanho moderado, pouco a frente da cernelha;
Barbela: Tamanho moderado;
Bainha: Muito reduzida;
Corpo: Compacto e bem arqueado;
Pureza genética: É o tipo mais característico do Grupo Misore.
FIGURA 42 – Vaca da raça Hallikar, Índia.
Fonte: NATIONAL DAIRY RESEARCH
INSTITUTE, 2006b.
É originário dos distritos de Tamkur, Hassan e Dharwar, todos no estado de
Karnataka (SANTIAGO, 1987, p. 148). Segundo Silva (1947, p. 258), nesta região está
localizado a sub-tribo de Hallikar, a qual deu origem ao nome da raça. Segundo o mesmo
autor, muitos consideram que o Amrit-Mahal seja o ascendente do Hallikar.
Possui tamanho médio, corpo compacto e musculoso. A fronte é convexa e uma
acentuada goteira. As orelhas são pequenas e pontiagudas, geralmente mantidas firmes em
posição horizontal. É freqüente a aparição de animais com pele rósea. Não há um dimorfismo
sexual muito acentuado na raça (SANTIAGO, 1987, p. 148). Segundo Santos (1993, p. 209),
86
os pontos mais fáceis para solucionar este problema são a giba e os chifres, sendo,
respectivamente, menores e mais finos nas fêmeas.
Segundo Santiago (1987, p. 148), a Hallikar é a mais apreciada raça de tração da
Índia. É um gado forte, inteligente e rápido, mas as vacas não são boas produtoras de leite.
É um gado extremamente apreciado em sua região (SILVA, 1993, p. 209).
Segundo Santos (1993, p. 209), alguns criadores chegam a andar 90 a 160 km, a pé, para levar
suas vacas para serem cobertas por touros famosos.
Teria sido o primeiro gado a ter tido contado com gado do Grupo Branco-Cinza do
Norte, sendo, então, o primeiro a influenciar o Ongole (SANTOS, 1993, p. 209).
Para Santos (1993, p. 171), pode-se considerar que a aparição de orelhas mais
curtas com pontas afiladas e goteiras mais pronunciadas nos animais Ongole ou Nelore seja
creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue da raça Hallikar.
9.2.3 Raça Kangayam
Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173):
Cabeça: Média;
Fronte: Suavemente proeminente no perfil. Fronte plana.
Chifres: Fortes, para cima, para fora e para frente, com pontas finas para dentro. Nos adultos
as pontas chegam a se tocar. Emergem no topo da cabeça;
Orelhas: Pequenas, lanceoladas, pontudas;
Marrafa e Nimburi: Marrafa estreita, plana ou até sub-concava. Sem nimburi;
Pele e Pelagem: Pele fina, coloração cinza;
Cauda: Tamanho moderado, com vassoura pouco abaixo do jarrete;
Giba: Tamanho médio, pouco a frente da cernelha;
Barbela: Pequena;
Bainha: Muito curta;
Corpo: Medianamente longo, focinho grande e amplo posterior;
Pureza genética: Pertence ao Grupo Misore, mas tem leve influência do Grupo Branco-Cinza
do Norte.
É originário da região de Kangayam, localizado no distrito de Coimbatore, no
antigo estado de Madras, atualmente conhecido como Tamil Nadu, Índia (SILVA, 1947, p.
261; SANTOS, 1993, p. 210; SANTIAGO, 1987, p. 148).
87
O Kangayam é classificado junto ao gado do tipo Misore, mas, em sua formação,
também participou o Grupo Branco-Cinza do Norte. A raça deste ramo que, provavelmente,
participou da formação do Kangayam foi o Ongole (PHILLIPS 1944 citado por SANTOS,
1993, p. 210; SILVA, 1947, p. 261). Esta mescla seria a responsável pelo maior porte que o
Kangayam possui comparativamente às demais raças do tipo Misore (SANTIAGO 1987, p.
148).
FIGURA 43 – Touro da raça Kangayam, Índia.
Fonte: NATIONAL DAIRY RESEARCH INSTITUTE, 2006c.
Segundo Santiago (1987, p. 148), há duas variedades dentro da raça, diferenciadas
no porte, mas de ambas ativas, fortes, com corpo curto e compacto. Possui cabeça de tamanho
médio e fronte ligeiramente convexa. As orelhas são pequenas, eretas e pontiagudas. São
animais dóceis e trabalhadores, sendo muito estimados para todo o tipo de tração.
Segundo Silva (1947, p. 261), os animais Kangayam conservam-se em bom estado
sem muita necessidade nutricional e trabalham no campo até os 14 anos.
O Kangayam, segundo Santos (1993, p. 210), teria contribuído na formação do
Ongole. Esta influência teria feito com que os chifres desta raça se voltassem para dentro e, às
vezes, até para frente. Também teria influenciado o Nelore brasileiro, mudando alguns
detalhes no crânio desta raça quando comparada com o Ongole.
Para Santos (1993, p. 171), pode-se considerar que a aparição de orelhas mais
curtas com pontas afiladas e goteiras mais pronunciadas nos animais Ongole ou Nelore seja
creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue da raça Kangayam.
88
9.2.4 Raça Khillari
Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173):
Cabeça: Massiva e estreita;
Fronte: Pouco proeminente e com pouca goteira;
Chifres: Emergem do topo do crânio. São longos, para cima, para trás e com pontas finas;
Orelhas: Pequenas, lanceoladas e pontudas;
Marrafa e Nimburi: Os chifres nascem justapostos. Sem nimburi;
Pele e Pelagem: Coloração do cinza ao branco;
Cauda: Curta, com vassouro pouco abaixo do jarrete;
Giba: Grande, pouco a frente da cernelha;
Barbela: Volumosa;
Bainha: Curta;
Corpo: Longo e com costelas arqueadas;
Pureza genética: Descendente do Amrit-Mahal, com influência do Grupo Branco-Cinza do
Norte.
FIGURA 44 – Touro da raça Khillari, Índia
Fonte: OLVER, 1938.
É criada em uma vasta região, que compreende o estado de Maharashtra,
Karnataka e todo o planalto do Deccan, na região central e sul da Índia (SANTIAGO, 1987, p.
149).
Diferentemente das demais raças, o nome que deu origem à raça não deriva de
uma tribo ou região. Segundo Santos (1993, p. 211), Khillari significa apenas “gado de
vaqueiro”.
89
Para alguns especialistas, o Khillari é descendente do Amrit-Mahal (SANTOS,
1993, p. 173; SILVA, 1947, p. 258). Já segundo Santiago (1987, p. 149) e Joshi e Phillips
(1954 citado por SANTOS, 1993, p. 211), o Khillari seria descendente do Hallikar. Mas todos
estes citam que o Khillari seria formado por uma raça do Grupo Misore e também teria sido
influenciada pelo Grupo Branco-Cinza do Norte.
Segundo Silva (1947, p. 258), o Gir da atualidade teria sido influenciado pelo
Khillari. Esta sugestão é baseada em alguns detalhes fenotípicos que muitos animais da raça
Gir apresentam atualmente, como a cara chuviscada e a barbela muito desenvolvida,
características marcantes da raça Khillari.
Por ser, até hoje, muito utilizado no cruzamento com o Ongole, várias
características do Khillari são encontradas no Ongole moderno indiano (SANTOS, 1993, p.
211).
É um animal compacto e harmonioso, semelhante a um cilindro maciço. A
pelagem predominante é a branco-cinza, sendo que os machos possuem as partes anterior e
posterior mais escuras. Frequentemente surgem animais com manchas brancas ou cinzentadas
na cara (SANTIAGO, 1987, p. 149).
São animais muito apreciados pela sua potência e rapidez na tração, podendo
percorrer grandes distâncias sem apresentar sinais de cansaço (SANTIAGO, 1987, p. 149).
Também podem ser empregados em trabalhos pesados (SILVA, 1947, p. 258).
Quando novo é um dos zebuínos mais rebeldes e difíceis de ser domado (SILVA,
1947, p. 258). As vacas, como as demais do Grupo Misore, não são boas leiteiras
(SANTIAGO, 1987, p. 149).
Tibery (1989 citado por SANTOS, 1993, p. 138) considera o Khillari, juntamente
com o Ongole, Gir, Kankrej, Sindi, Hariana e Kangayam, as únicas raças indianas que
interessam para o Brasil. Diz ainda que “[...] todas as outras podem desaparecer à vontade,
pois não farão falta.”
Para Santos (1993, p. 171 e 253), pode-se considerar que a aparição de cupins
muito grandes, orelhas muito curtas com postas afiladas e goteiras muito pronunciadas nos
animais Ongole ou Nelore seja creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue da
raça Khillari.
90
10 DISCUSSÃO SOBRE A FORMAÇÃO DA RAÇA NELORE
A raça Nelore, como já mencionado, não é uma raça pura, pois participaram de sua
formação muitas outras raças. Porém não se deve encarar isto como um desprestígio à raça.
Entre outros motivos, a participação de outras raças na formação do Nelore se
deve à incapacidade, por parte de brasileiros e indianos, de diferenciar as distintas raças
indianas até a década de 20 (SANTIAGO, 1987, p. 153; SANTOS, 1993, p. 76). Inclusive
especialistas poderiam se confundir ao tentar classificar um animal. Olver (1938 citado por
SANTOS, 1993, p. 169), cita que um animal da raça Bhagnari, do Paquistão, pode ser
confundido com um legítimo Ongole de Andhra Pradhesh. Segundo Silva (1947, p. 219), o
Ongole tem tal soma de caracteres idênticos aos do Hariana que só os maiores conhecedores
poderiam distinguir vacas destas duas raças quando juntas em um mesmo curral. Esta
dificuldade de diferenciação não era exclusiva dos zebuínos, visto que no início do século os
criadores brasileiros preferiam animais de orelhas maiores por ser uma das únicas
características a que podiam se apegar para diferenciar um Bos taurus taurus de um Bos
taurus indicus. Esta preferência, inclusive, fez com que o Nelore fosse deixado em segundo
plano, pois possui orelhas de tamanho semelhante a dos taurinos (SANTIAGO, 1984, p. 405).
A impureza na base de formação da raça não é exclusividade do Nelore. Tanto o
Guzerá quanto o Gir também tiveram uma base de formação no Brasil de animais mestiços,
formados por diversas raças de zebuínos (SANTIAGO, 1984, p. 138) e inclusive com
participação de animais taurinos crioulos, que foram utilizados como base para a
multiplicação do zebu por cruzamentos absorventes (MEIRELLES et al., 1999, p. 543).
Por possuir esta origem impura, o Nelore não apresentava uma padronização muito
evidente, mostrando uma grande diversidade de tipos. Com o estabelecimento do padrão
racial oficial e com a importação de animais puros na década de 60, com intensa utilização
destes animais, a padronização do rebanho melhorou significativamente, uniformizando
bastante o rebanho Nelore nacional. Atualmente, a raça Nelore é uma das mais bem definidas
do país (SANTIAGO, 1986, p. 415).
Segundo brasileiros enviados à Índia no início da década de 90, os próprios
técnicos indianos admitem que o padrão de beleza do Nelore brasileiro é superior ao do
Ongole tradicional (SANTOS, 1993, p. 140).
Apesar de considerado de origem impura, a raça Ongole, na qual é baseada o
Nelore brasileiro, é descendente, principalmente, de raças que tiveram a mesma origem. As
raças do Grupo Branco-Cinza do Norte, do qual faz parte o Ongole e as raças que mais
91
influenciaram a sua formação, foram levadas pelos arianos há 3,5 mil anos do local onde
habitavam (Irã, Afeganistão e Paquistão) para o Paquistão e para a Índia (ARIANOS, [2007]).
Este gado, inclusive, seria mais refinado comparativamente aos que previamente habitavam a
Índia. No novo hábitat, este gado se dispersou por diversas regiões sob condições diversas de
clima, solo e agricultura. Assim, ocorreu maior diferenciação entre os animais, dando origem
a diversos ecotipos ou raças geográficas (SANTIAGO, 1987, p. 129). Estas raças, de igual
origem, foram as principais formadoras do Nelore.
Santos (1993, p. 169), considera esta formação do Nelore um trunfo da raça, que
lhe teria conferido a sua enorme versatilidade. Este argumento é baseado nos diferente
ambientes em que as raças que participaram da formação do Nelore habitavam (FIG. 45 e 46).
FIGURA 45 - Média pluviométrica anual da Índia com a localização das raças Branco-Cinza
do Norte, Grupo de Misore, Kankrej e Gir.
Fonte: MODIFICADO DE WIKIMEDIA COMMONS, [2007]; SANTIAGO, 1987.
92
FIGURA 46 - Temperatura média anual da Índia com a localização das raças Branco-Cinza
do Norte, Grupo de Misore, Kankrej e Gir
Fonte: MODIFICADO DE WIKIMEDIA COMMONS, [2007]; SANTIAGO, 1987.
Da raça Bhagnari teria vindo a capacidade do Nelore enfrentar regiões desérticas e
frias. Da raça Nagori teria vindo a capacidade para enfrentar regiões pedregosas e semi-áridas.
A raça Hariana seria a responsável pela aptidão para grande porte e fixação tipológica. As
raças Gaolao e Rath teriam conferido ao Nelore aptidão para viver em regiões de grande
altitude. A raça Krishna Valley teria dado ao Nelore aptidão para viver em regiões de
agricultura. Já as raças do Grupo Misore teriam conferido ao Nelore aptidão para que este
apresente boa conversão alimentar em ambiente de extrema rusticidade (SANTOS 1993, p.
169).
93
A infusão de sangue de diversas raças, obviamente, não trouxe apenas qualidades
ao Nelore. O gado do Grupo Misore, por exemplo, seria o responsável por alguns animais
Nelore apresentarem porte menor, serem mais bravios e terem menor produção leiteira
(SANTOS, 1993, p. 154).
Estimativas mostram que o Nelore é responsável por cerca de 80% da produção
industrial de carne do Brasil (ABCZ, [2007]c), o qual é o segundo maior produtor e o maior
exportador mundial deste produto. Estes números por si só, são os maiores argumentos que
mostram a incrível capacidade produtiva do Nelore, a enorme importância para a economia
nacional e como o mundo se torna, cada vez mais, dependente deste gado para suprir a
crescente demanda por proteína animal.
94
11 CONCLUSÕES
O trabalho de evolução do Bos taurus demonstrou que a espécie bovina é
altamente diversificada em tipo e em genética. As novas pesquisas utilizando materiais
moleculares estão sendo extremamente úteis para o esclarecimento da origem e formação dos
bovinos e suas diversas raças, embora não se tenha chegado, ainda, a muitas verdades
absolutas sobre o assunto.
A domesticação da espécie iniciou uma grande mudança fenotípica nos animais,
culminando na formação de inúmeras raças, influenciadas pelo ambiente em que foram
criadas e, mais recentemente, pela seleção artificial.
Há, ainda hoje, muitas precipitações com relação à utilização de raças
erroneamente escolhidas para o objetivo traçado pelos criadores, algumas das quais incitadas
por modismos e pela beleza não funcional. Para que isso não ocorra é necessário que os
técnicos estejam capacitados a diferenciar as reais vantagens e limitações de cada raça. O
conhecimento destas características passa, obrigatoriamente, pelo conhecimento do ambiente
em que determinada raça teve origem.
O rebanho bovino brasileiro sofreu grandes mudanças fenotípicas. Iniciou-se com
pequeno número de animais taurinos trazidos da Europa, o qual sofreu grande queda
produtiva para que pudesse se adaptar a novo ambiente. A partir do século XIX, o nosso
rebanho começou ter maior grau de sangue zebuíno, graças às primeiras importações destes
animais. Com a chegada de maior quantidade de zebuínos no século XX, a excelente forma
com que se adaptaram ao clima brasileiro e a impressionante rapidez com que se
multiplicaram, os animais fenotipicamente Bos taurus indicus correspondem, atualmente, à
grande maioria da população bovina brasileira.
A raça Nelore tem uma origem complexa. É formada por diversas raças de origem
indiana. Isto contribuiu para que, no início das grandes importações, a raça fosse deixada em
segundo plano. Atualmente, apresentando uma boa padronização racial, boa produtividade e
uma excelente adaptabilidade, a sua origem, influenciada por várias raças, é vista como uma
das razões para a sua ótima versatilidade.
95
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