Bos taurus indicus - Berrante Genética
Transcrição
Bos taurus indicus - Berrante Genética
1 FACULDADES ASSOCIADAS DE UBERABA-FAZU Curso de Pós-graduação “lato sensu” em Julgamento das Raças Zebuínas RODOLFFO EMÍLIO FONTANA ASSIS Evolução da espécie Bos taurus e formação das Raças Zebuínas (Bos taurus indicus) com ênfase na Raça Nelore UBERABA 2007 2 RODOLFFO EMÍLIO FONTANA ASSIS Evolução da espécie Bos taurus e formação das Raças Zebuínas (Bos taurus indicus) com ênfase na Raça Nelore Monografia apresentada às Faculdades Associadas de Uberaba-FAZU, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Julgamento das Raças Zebuínas. Orientadora: M. Sc. Tatiane Almeida Drummond Tetzner UBERABA 2007 3 Assis, Rodolffo Fontana R r Raças Zebuínas / Rodolffo Fontana Assis – Uberaba, 2007. Orientadora: Tatiane Almeida Drummond Tetzner Monografia (Especialização) – Faculdades Associadas de Uberaba FAZU, Uberaba, 2007. 1. Exterior. 2. Zebuínos. I. Faculdades Associadas de Uberaba. II. Raças zebuínas 4 RODOLFFO EMÍLIO FONTANA ASSIS Evolução da espécie Bos taurus e formação das Raças Zebuínas (Bos taurus indicus) com ênfase na Raça Nelore Monografia apresentada às Faculdades Associadas de Uberaba-FAZU, no Curso de Pós-graduação em Julgamento das Raça Zebuínas, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes membros: ____________________________________ Convidado _____________________________________ Convidado ______________________________________ M. Sc. Tatiane Almeida Drummond Tetzner Orientadora Uberaba, ___ de ________________ de _____ 5 Dedico este trabalho a Deus, à minha esposa e à minha família, que sempre me proporcionaram muito mais dos que eu necessitava para encontrar a verdadeira felicidade. 6 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, a quem eu devo tudo o que sou e é o maior responsável pelos sucessos e vitórias da minha vida. Agradeço a minha esposa, Katiane, pois o amor que nos uni me estimulou a fazer o melhor trabalho que eu poderia. Agradeço ao meu pai, Jair, o qual sempre foi um exemplo de competência para mim e em quem me espelho muito. Agradeço à minha mãe, Shirley, a quem devo muito, pois me ensinou, com seu exemplo de perseverança, como, seguindo a vontade de Deus, devemos agir para atingir nossos objetivos. Agradeço ao meu irmão, Júnior, pois me apoiou em todos os momentos, sendo que o considero como um dos meus melhores amigos. Agradeço a todos os meus amigos, os quais sempre se fizeram presentes em minha vida, tanto nas horas boas como horas de dificuldade, que embora não sejam tão freqüentes, seriam difíceis de serem superadas sozinho. Agradeço aos meus professores, tanto de ensino fundamental, médio, superior e pós-graduação, pois, alguns deles, além de transmitir conhecimento, foram responsáveis por moldar pessoas de melhor caráter. Agradeço a todos os meus companheiros da Berrante Genética: Cida, Leandro, Leonel, Miguel, Rafael e Reginaldo. São pessoas muito valiosas e que aprendi a admirar nos últimos anos. 7 “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento.” JESUS (Mateus 22:37) 8 RESUMO O bovino é o animal de grande porte mais abundante da Terra. Está presente em praticamente todos os continentes, sendo responsável pela produção de grande parcela da proteína animal consumida no mundo, carne e leite. Os bovinos são uma das espécies mais importantes do mundo, tanto economicamente, quanto socialmente. Esta revisão bibliográfica teve como objetivo principal estudar a evolução da espécie Bos taurus, explanando algumas espécies ancestrais que resultaram na formação dos bovinos atuais e a domesticação destes. Foi demonstrado como as diversas raças bovinas se diferenciaram e como elas são atualmente classificadas. Para compreender a facilidade adaptativa e a grande variedade de tipos dos bovinos é necessário que se compreenda a formação da espécie e das diferentes raças. O conhecimento deste assunto pode auxiliar o trabalho de melhoramento genético dos bovinos, observando as reais características de cada raça, sempre associadas à sua origem. Foi evidenciada a formação das raças zebuínas (Bos taurus indicus) com foco na raça Nelore, detalhando também as outras raças zebuínas existentes no Brasil. Foi abordada a origem da raça Nelore, comentando-se a influência de várias raças zebuínas em sua composição. Discutiu-se sobre a facilidade adaptativa do Nelore, a qual pôde ser explicada, pelo menos em parte, pela diversidade de sua origem. Como bases científicas foram utilizados trabalhos sustentados em: dados históricos, achados arqueológicos e análises moleculares. Palavras chave: evolução, Bos taurus, raças zebuínas. 9 ABSTRACT Bovine is the large animal more abundant in the Earth. It is present in almost all continents and is responsible for production of great part of the animal protein consumed in the world, meat and milk. Bovines are one of the most important species in the world, in an economic as a social way. This bibliographic revision has as main objective to study the evolution of the Bos taurus species and explain how some ancestral species had resulted in the formation of the current bovines and their domestication. It was demonstrated how happened the differentiation between the bovine breeds and how they currently are classified. In order to understand the adaptive easiness and the great variety of types of bovines is necessary to understand the formation of the species and breeds. The knoledge of this subject can assist the work of genetic improvement of the bovines, observing the true characteristics of each breed, always associated to their origin. The formation of the zebuine (Bos taurus indicus) breeds had been emphasized with focus in the Nelore breed, also detailing the other existing zebuine breeds in Brazil. The origin of the Nelore breed was detailed and the influence of some zebuine breeds in its composition was commented. The adaptive easiness of the Nelore was discussed and could be explained, at least in part, for the diversity of their origin. The scientific bases used on articles that support this study are: historical data, archaeological findings and molecular analyzes. Keywords: evolution, Bos taurus, zebuine breeds. 10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 - Tragulus javanicus...............................................................................................21 FIGURA 2 - Composição da árvore da subfamília Bovinae com todas as espécies que a integram...............................................................................................................22 FIGURA 3 - Fêmea Bubalus bubalis, Índia..............................................................................23 FIGURA 4 - Macho Bubalus mindorensis, Filipinas................................................................24 FIGURA 5 - Macho Bubalus depressicornis............................................................................24 FIGURA 6 - Bubalus quarlesi, Zoo Krefeld, Alemanha...........................................................25 FIGURA 7 - Fêmea Pseudoryx nghetinhensis..........................................................................26 FIGURA 8 - Macho Syncerus caffer, Quênia...........................................................................27 FIGURA 9 - Macho Bison bison, Badlands National Park, Dakota do Sul.............................28 FIGURA 10 - Macho Bison bonasus, Polônia..........................................................................28 FIGURA 11 - Macho Bos frontalis, Índia................................................................................29 FIGURA 12 - Macho Bos javanicus, Saint Louis Zoo, Missouri.............................................30 FIGURA 13 - Bos sauveli, Vincennes Zoo, Paris....................................................................31 FIGURA 14 - Macho Bos grunniens........................................................................................32 FIGURA 15 - Esqueleto Bos primigenius de 9.500 anos, National Museum of Denmark......33 FIGURA 16 - Prováveis locais primários de domesticação dos taurinos (Bos taurus taurus) e zebuínos (Bos taurus indicus)............................................................................35 FIGURA 17 - Dividend, touro da raça Aberdeen Angus.........................................................38 FIGURA 18 - Gallus Imp., touro da raça Simental..................................................................39 FIGURA 19 - Gaiato da Guaraúna, touro da raça Caracu........................................................40 FIGURA 20 - Vaca da raça Africânder....................................................................................41 FIGURA 21 - Vaca e bezerra da raça N'Dama.........................................................................42 FIGURA 22 - Touro da raça Boran, Quênia............................................................................42 FIGURA 23 - Migração dos povos arianos e localização das raças bovinas levadas por eles.45 11 FIGURA 24 - JDH Atari Oyo Manso, touro da raça Brahman................................................56 FIGURA 25 - F. B. Nefrita, vaca da raça Gir...........................................................................57 FIGURA 26 - Acaso S, touro da raça Guzerá..........................................................................59 FIGURA 27 - Genérico, touro da raça Indubrasil....................................................................60 FIGURA 28 - Touro da raça Kangaiam...................................................................................62 FIGURA 29 - Inriti da Terley, touro da raça Nelore................................................................63 FIGURA 30 - Suspiro E, touro da raça Sindi...........................................................................65 FIGURA 31 - Popó da Pedra Riscada, touro da raça Tabapuã.................................................66 FIGURA 32 - Garrafa da Cal, vaca mocha da raça Gir............................................................67 FIGURA 33 - Liceu da Boticão, touro mocho da raça Nelore.................................................68 FIGURA 34 - Touro da raça Ongole, Índia..............................................................................71 FIGURA 35 - Vaca da raça Bhagnari.......................................................................................73 FIGURA 36 - Touro da raça Gaolao, Índia..............................................................................75 FIGURA 37 - Vaca da raça Hariana, Índia...............................................................................76 FIGURA 38 - Touro da raça Krishna Valley, Índia.................................................................78 FIGURA 39 - Vaca da raça Nagori, Índia................................................................................80 FIGURA 40 - Touro da raça Rath, Índia..................................................................................81 FIGURA 41 - Touro da raça Amrit-Mahal, Índia.....................................................................84 FIGURA 42 - Vaca da raça Hallikar, Índia..............................................................................85 FIGURA 43 - Touro da raça Kangayam, Índia........................................................................87 FIGURA 44 - Touro da raça Khillari, Índia.............................................................................88 FIGURA 45 - Média pluviométrica da Índia com a localização das raças Branco-Cinza do Norte, Grupo de Misore, Kankrej e Gir.............................................................91 FIGURA 46 - Temperatura média anual da Índia com a localização das raças Branco-Cinza do Norte, Grupo de Misore, Kankrej e Gir..........................................................92 12 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Classificação das raças zebuínas............................................................................. 49 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..............................................................................16 2 OBJETIVOS...................................................................................17 2.1 OBJETIVO GERAL...................................................................17 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................17 3 REVISÃO DE LITERATURA.....................................................18 3.1 BASE CIENTÍFICA UTILIZADA PARA O TRABALHO....18 3.1.1 ANÁLISE DE DNA MICROSSATÉLITE............................18 3.1.2 ANÁLISE DE DNA MITOCONDRIAL................................18 3.1.3 ANÁLISE DE CROMOSSOMO Y........................................19 4 CLASSIFICAÇÃO DOS BOVINOS E ANCESTRAIS COMUNS........................................................................................20 4.1 DIVISÃO DA SUBFAMÍLIA BOVINAE.................................22 4.1.1 GÊNERO Bubalus....................................................................23 4.1.1.1 Bubalus bubalis......................................................................23 4.1.1.2 Bubalus mindorensis..............................................................23 4.1.1.3 Bubalus depressicornis...........................................................24 4.1.1.4 Bubalus quarlesi.....................................................................25 4.1.2 GÊNERO Pseudoryx................................................................25 4.1.3 GÊNERO Syncerus..................................................................26 4.1.4 GÊNERO Bison........................................................................27 4.1.4.1 Bison bison.............................................................................27 4.1.4.2 Bison bonasus.........................................................................28 4.1.5 GÊNERO Bos...........................................................................29 4.1.5.1 Bos frontalis............................................................................29 4.1.5.2 Bos javanicus..........................................................................29 4.1.5.3 Bos sauveli..............................................................................30 4.1.5.4 Bos grunniens.........................................................................31 4.1.5.5 Bos taurus...............................................................................32 5 A ORIGEM DOS BOVINOS........................................................33 5.1 A DOMESTICAÇÃO DOS BOVINOS.....................................34 5.2 MODIFICAÇÕES FENOTÍPICAS DOS BOVINOS..............36 14 6 AS RAÇAS BOVINAS ATUAIS...................................................37 6.1 Bos taurus taurus.........................................................................37 6.1.1 RAÇAS EUROPÉIAS..............................................................37 6.1.1.1 RAÇAS BRITÂNICAS.........................................................37 6.1.1.2 RAÇAS CONTINENTAIS...................................................38 6.1.1.3 RAÇAS CRIOULAS.............................................................39 6.1.2 RAÇAS AFRICANAS..............................................................40 6.1.2.1 RAÇAS DO SANGA.............................................................40 6.1.2.2 RAÇAS DO OESTE AFRICANO.......................................41 6.2 RAÇAS TAURÍNDICAS AFRICANAS...................................42 6.3 Bos taurus indicus........................................................................43 7 ORIGEM DAS RAÇAS ZEBUÍNAS DA ATUALIDADE.........44 7.1 DISTRIBUIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS INDIANAS E PAQUISTANESAS.......................46 8 O REBANHO BRASILEIRO.......................................................51 8.1 IMPORTAÇÃO DOS ZEBUÍNOS E ALTERAÇÃO DO REBANHO NACIONAL............................................................52 8.2 AS RAÇAS ZEBUÍNAS EXISTENTES NO BRASIL.............55 8.2.1 RAÇA BRAHMAN..................................................................55 8.2.2 RAÇA GIR................................................................................56 8.2.3 RAÇA GUZERÁ......................................................................58 8.2.4 RAÇA INDUBRASIL..............................................................60 8.2.5 RAÇA KANGAYAM...............................................................62 8.2.6 RAÇA NELORE......................................................................63 8.2.7 RAÇA SINDI............................................................................65 8.2.8 RAÇA TABAPUÃ....................................................................66 8.2.9 VARIEDADES MOCHAS......................................................67 9 A FORMAÇÃO DA RAÇA NELORE.........................................70 9.1 RAÇAS DO GRUPO BRANCO-CINZA CLARO DE CHIFRES CURTOS...................................................................70 9.1.1 RAÇA ONGOLE......................................................................71 9.1.2 RAÇA BHAGNARI.................................................................72 9.1.3 RAÇA GAOLAO......................................................................74 15 9.1.4 RAÇA HARIANA....................................................................76 9.1.5 RAÇA KRISHNA VALLEY...................................................78 9.1.6 RAÇA NAGORI.......................................................................79 9.1.7 RAÇA RATH............................................................................81 9.2 GADO DE MISORE...................................................................82 9.2.1 RAÇA AMRIT-MAHAL.........................................................83 9.2.2 RAÇA HALLIKAR..................................................................84 9.2.3 RAÇA KANGAYAM...............................................................86 9.2.4 RAÇA KHILLARI...................................................................88 10 DISCUSSÃO SOBRE A FORMAÇÃO DA RAÇA NELORE......................................................................................90 11 CONCLUSÕES............................................................................94 REFERÊNCIAS................................................................................95 16 1 INTRODUÇÃO A classe dos mamíferos reúne mais de 4.000 espécies vivas de vertebrados agrupados em 135 famílias e 18 ordens. Encontram-se disseminadas por todo o planeta, incluindo os oceanos e as zonas polares. Ao contrário dos outros vertebrados, os mamíferos apresentam a mandíbula inferior constituída por um único osso (dentário), que se articula ao osso escamoso do crânio. O modo de reprodução permite definir os grandes grupos de mamíferos. Os prototérios ou monotremados, os metatérios ou marsupiais e os eutérios ou placentários (MORAES, 1998). O bovino é o animal de grande porte mais abundante da Terra. Está presente em praticamente todos os continentes, sendo responsável pela produção de grande parcela da proteína animal consumida no mundo. No Brasil, a pecuária é uma das cadeias produtivas mais importantes, sustentando milhões de trabalhadores e gerando alimentos para uma imensa população, não somente de ordem nacional, como para muitos países importadores de carne e leite. O sucesso desta espécie demonstra que são animais muito bem adaptados a diferentes ambientes e, mesmo não possuindo um intervalo de gerações considerado curto, respondem bem às biotécnicas empregadas para o seu melhoramento genético. Para compreender tal facilidade adaptativa e tamanha variedade de tipos, é necessário que se compreenda a formação da espécie e das diferentes raças. O conhecimento deste assunto pode auxiliar o trabalho de melhoramento genético dos bovinos, observando as reais características de cada raça, sempre associadas à sua origem. As raças zebuínas que existem no Brasil foram detalhadas, pois são os animais que melhor se adaptaram ao ambiente tropical nacional e constituem a maior parcela da população bovina brasileira (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE ZEBU-ABCZ, [2007]a). Dentre elas, a raça Nelore foi abordada especificamente, graças a sua origem complexa e a sua importância, sendo a raça mais abundante em nosso país, responsável pela grande maioria da produção industrial de carne do Brasil (ABCZ, [2007]c). 17 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral O objetivo geral deste trabalho é elucidar como ocorreu a formação do bovino atual, classificando-o cientificamente e relacionando-o com os animais que fazem parte da mesma ordem, família, tribo e gênero. 2.2 Objetivos específicos Classificar as diferentes raças bovinas pelas suas diferentes origens, demonstrando as suas características adaptativas e produtivas. Estudar a evolução da espécie Bos taurus. Estudar a formação da subespécie Bos taurus indicus e as diversas raças zebuínas. Avaliar e elucidar a formação da raça Nelore. 18 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Base científica utilizada para o trabalho Este trabalho é baseado em informações históricas e estudos realizados com achados arqueológicos e análises moleculares. Os artigos mais citados contendo análises moleculares baseavam-se em análise de DNA microssatélite, análise de DNA mitocondrial e análise de cromossomo Y. 3.1.1 Análise de DNA microssatélite Os sistemas de microssatélites são composições de partes do DNA (ácido desoxirribonucléico) que se repetem em seqüência em um determinado lócus. Estas repetições, geralmente, são de dinucleotídeos (TG, por exemplo), sendo que estes se repetem cerca de dez vezes (TGTGTGTG...). Dessa forma, existe um alto grau de polimorfismo no número dessas repetições, permitindo que seja utilizado como um marcador local no mapa genético (MONTALDO; MEZA-HERRERA, 1998, p. 2). 3.1.2 Análise de DNA mitocondrial As mitocôndrias são organelas de herança materna das células eucarióticas e muito importantes para produção de energia celular. Possuem informação genética (DNA) independente do DNA nuclear. Apesar de ser exclusivamente de herança materna, pode ser encontrada e analisada tanto em fêmeas quanto em machos (ISSA; JORGE; SERENO, 2006, p.1609), ou seja, todos os animais possuem DNA mitocondrial, mas só as fêmeas participam de sua transmissão à progênie. Segundo Brown (1979, citado por HENKES et al., 2005, p. 60), o DNA mitocondrial possui taxa de substituição de seus nucleotídeos de cinco a dez vezes maior que o DNA nuclear. Esta alta taxa de mutação permite análises de fenômenos evolucionários de curto prazo, possibilitando a avaliação de relações evolucionárias entre linhagens. Além disso, pode ser útil para se investigar estruturas de populações, variabilidades entre espécies, relações evolucionárias entre populações ou espécies e também para identificação de linhagens maternas (HENKES et al., 2005, p. 60). 19 3.1.3 Análise de cromossomo Y Alguns dos trabalhos que serviram de base para este estudo são baseados em análise do cromossomo Y dos animais. O cromossomo Y é encontrado exclusivamente nos animais do sexo masculino, sendo dessa forma transmitido aos descendentes masculinos pelo sêmen (ISSA; JORGE; SERENO, 2006, p. 1609), não havendo influência materna neste segmento do DNA. É semelhante à análise do DNA mitocondrial, que possui herança exclusivamente materna, enquanto a análise do cromossomo Y é de herança exclusivamente paterna. Embora tenha o inconveniente de poder ser avaliado apenas nos animais do sexo masculino, pode ser utilizado para se investigar estruturas de populações ou identificação de linhagens paternas. A análise do cromossomo Y pode ser realizada de duas formas: Morfologia: No caso dos bovinos há três principais morfologias: submetacêntrico e metacêntrico no caso dos animais Bos taurus taurus e acrocêntrico no caso dos animais Bos taurus indicus. Polimorfismo de seus microssatélites: Idêntico às demais análises de microssatélites, mas exclui-se a participação feminina. Segundo Liu (2002, 2003 citado por ISSA; JORGE; SERENO, 2006, p. 1609), esta é uma poderosa ferramenta para estudos de origem doméstica e evolução da espécie bovina. 20 4 CLASSIFICAÇÃO DOS BOVINOS E ANCESTRAIS COMUNS Os bovinos modernos têm a seguinte classificação científica (BOVINOS, [2007]): Reino: Animalia Filo: Chordata Classe: Mammalia Ordem: Artiodactyla Subordem: Ruminantia Infraordem: Pecora Família: Bovidae Subfamília: Bovinae Tribo: Bovini Gênero: Bos Espécie: Bos taurus Os bovinos estão inclusos na subordem Ruminantia, que contém aproximadamente 200 espécies (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 270) distribuídas em duas infraordens: Pecora e Tragulina. É o grupo mais importante de grandes mamíferos herbívoros terrestres. Segundo Webb e Taylor (1980, citado por FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 270), os ruminantes surgiram no período do Eoceno (55,8 a 33,9 milhões de anos) e são os únicos desta era que realmente obtiveram sucesso e estão presentes até hoje. A infraordem Tragulina possui apenas quatro espécies vivas conhecidas, os trágulos (FIG. 1) ou cervos-ratos, animais encontrados nas florestas tropicais da África, Índia e Sudeste Asiático. São formas primitivas de ruminantes. A menor espécie possui 45 cm de comprimento e pesa 2 kg, enquanto que a maior tem 80 cm de comprimento e pesa cerca de 10 kg (TRÁGULO, [2007]). 21 FIGURA 1 – Tragulus javanicus Fonte: HEJDA, [2007]. A infraordem Pecora é composta de cinco famílias: Moschidae (cervosalmiscarados), Cervidae (veados), Giraffidae (girafas e ocapis), Antilocapridae (antilocapras) e Bovidae (bovinos, caprinos, ovinos e antílopes) (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 270; PECORA, [2007]). Segundo Savage e Russel (1983, citado por FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 274), a família Bovidae é composta por 137 espécies vivas e mais de 300 espécies identificadas através de fósseis. O relacionamento filogenético e a taxonomia desta família são discutidos até hoje. A sua origem e desenvolvimento são pouco compreendidos e gera, com isso, motivo para discussão entre especialistas (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 274). A família Bovidae está bem distribuída geograficamente, sendo ausente apenas na Austrália. Seus ancestrais se originaram no Mioceno (23,03 a 5,3 milhões de anos). Os animais pertencentes a essas espécies variam de 3 kg a uma tonelada. É dividida em dez subfamílias: Bovinae (bois, búfalos e antílopes de chifres aspirais), Cephalophinae (duikers), Hippotraginae (antílopes), Antilopinae (antílopes verdadeiros e gazelas), Caprinae (ovinos e caprinos), Reduncinae (cobs), Aepycerotynae (impalas), Peleinae (rheboks), Alcelaphinae (gnus) e Panthalopinae (chirus ou antílope-tibetado) (BOVÍDEOS, [2007]). A subfamília Bovinae se diferenciou das demais subfamílias há aproximadamente 25 milhões de anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 284). É composta por dez gêneros e 24 espécies (FIG. 2), distribuídas por todos os cinco continentes. São herbívoros ungulados de tamanho médio a grande com enorme importância econômica como fonte de carne e leite para o homem. 22 A subfamília Bovinae é dividida em três tribos: Boselaphini (inclui os gêneros Tetracerus e Boselaphus), Strepsicerotini ou Tragelaphini (inclui os gêneros Tragelaphus e Taurotragus) e a tribo Bovini (inclui os gêneros Bubalus, Pseudoryx, Syncerus, Bison e Bos). Há inúmeros trabalhos questionando a classificação de alguns gêneros, como o Bison, o Taurotragus e o Pseudoryx (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 274; BOVINOS, [2007]). FIGURA 2 – Composição da árvore da subfamília Bovinae, com todas as espécies que a integram. Fonte: FERNÁNDEZ; VRBA, 2005. 4.1 Divisão da subfamília Bovinae Segundo Fernández (2005, p. 282), a tribo Bovini se diferenciou há 20,5 milhões de anos da tribo Boselaphini e há 18,3 milhões de anos da tribo Strepsicerotini ou Tragelaphini. 23 A tribo Bovini é composta por cinco gêneros e 13 espécies (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 286; BOVINOS, [2007]), conforme descrito a seguir: 4.1.1 Gênero Bubalus O gênero Bubalus possui uma distância genética do Bos entre 1,85 a 4,93 milhões de anos (RITZ et al., 2000, p.181). A diferenciação entre estes dois gêneros ocorreu há 16,9 milhões de anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). É composto por quatro espécies: 4.1.1.1 Bubalus bubalis Conhecido como búfalo aquático (FIG. 3). São animais originários da Ásia. Espécie domesticada e utilizada em vários países do mundo para produção de carne, leite e desempenho da função de tração (SANTIAGO, 1986, p. 10). Os verdadeiros búfalos selvagens podem ser encontrados na Índia, Nepal, Butão e Tailândia. As fêmeas podem atingir até 800 kg e os machos até 1.200 kg aproximadamente (DOMESTIC BUFFALO, [2007]). FIGURA 3 - Fêmea Bubalus bubalis, Índia. Fonte: RAJPUT, [2007]. 4.1.1.2 Bubalus mindorensis Conhecida como tamaraw (FIG. 4). É uma espécie endêmica na ilha de Mindoro, nas Filipinas. Habitava toda a ilha, mas, atualmente, está restrito à algumas planícies com 24 pastagens. Possuem de 1,00 a 1,05 m de altura na região da escápula, pesando de 200 a 300 kg aproximadamente (TAMARAW, [2007]). FIGURA 4 - Macho Bubalus mindorensis, Filipinas. Fonte: HEUCLIN, [2007]. 4.1.1.3 Bubalus depressicornis Conhecido como anoa das planícies (FIG. 5). São semelhantes a miniaturas de búfalos, com tamanho semelhante à de veados. Variam de 150 a 300 kg. São encontrados na ilha de Sulawesi, na Indonésia (ANOA, [2007]). FIGURA 5 - Macho Bubalus depressicornis. Fonte: FINK, [2007]. 25 4.1.1.4 Bubalus quarlesi Conhecido como anoa das montanhas (FIG. 6). É muito semelhante ao anoa das planícies, vivendo na mesma ilha, mas em hábitat diferente, como o próprio nome diz. FIGURA 6 – Bubalus quarlesi, Zoo Krefeld, Alemanha. Fonte: LINDHOLM, 1998. 4.1.2 Gênero Pseudoryx O gênero Pseudoryx é composto por uma única espécie, o Pseudoryx nghetinhensis, conhecido como saola (FIG. 7). A diferenciação entre esta espécie e o Bos ocorreu há 16,9 milhões de anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). Trata-se de um dos últimos grandes mamíferos adultos a ser descoberto. Sua classificação ainda é controvérsia, sendo que alguns autores o incluem na tribo Bovini (BOVINOS, [2007]), enquanto outros autores relatam ser necessário criar uma tribo, a Pseudorygini, para que nesta seja incluída a nova espécie (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 274). São animais de aproximadamente 100 kg, 1,5 m de comprimento e 80 a 90 cm de altura na região da escápula. É endêmico da reserva natural de Vu Quang, no Vietnã (HUFFMAN, [2007]). 26 FIGURA 7 – Fêmea Pseudoryx nghetinhensis. Fonte: RABINOWITZ, [2007]. 4.1.3 Gênero Syncerus O gênero Syncerus é distanciado geneticamente do Bos entre 0,98 a 2,61 milhões de anos (RITZ, 2000, p.181). Segundo Fernández e Vrba (2005, p. 282), a diferenciação genética entre o Syncerus e o gênero Bos ocorreu há 16,9 milhões de anos. É constituído apenas pela espécie Syncerus caffer, também chamado de búfalo-africano ou búfalo-do-cabo (FIG. 8). Embora semelhante fenotipicamente ao búfalo comum, o búfalo-africano possui chifres muito pesados, curvos, se encontrando na linha mediana da fronte, diferente daqueles, que possuem chifres distantes e recurvados (SANTIAGO, 1986, p. 10). Além disso, tem maior porte e não é domesticável, sendo classificados por alguns autores como um animal feroz, cruel e estúpido. Habitam as pradarias e savanas da Etiópia, Somália, Zâmbia, Zimbábue, Namíbia, Botswana, Moçambique, África do Sul, Quênia e Tanzânia. Estima-se que havia dez milhões destes animais na África, mas atualmente este número não passa de um milhão de animais (BÚFALO-AFRICANO, [2007]). 27 FIGURA 8 – Macho Syncerus caffer, Quênia Fonte: SCOTT; SCOTT, [2007]. 4.1.4 Gênero Bison Segundo Ritz et al. (2000, p. 181), a distância genética de tempo entre o gênero Bison e o Bos é de 0,46 a 1,23 milhões de anos. Para Fernández e Vrba (2005, p. 282), a diferenciação entre estes gêneros ocorreu há 5,8 milhões de anos. É constituído por duas espécies não extintas: 4.1.4.1 Bison bison Conhecido como bisonte-americano ou bisão-americano (FIG. 9). Algumas pessoas os denominam erroneamente de búfalos, os quais constituíam no passado o maior rebanho de animais selvagens do mundo (SANTIAGO, 1986, p. 11). Os machos podem atingir até 1,8 m de altura na região da escápula e pesar 1.130 kg. São animais longevos, que podem viver de 30 a 50 anos. Vivem nas pradarias do Canadá e dos Estados Unidos. Já foram quase exterminados, mas atualmente já há mais de 20 mil animais, graças às leis de proteção ambiental (BISÃO-AMERICANO, [2007]; BISONTE, [2007]). 28 FIGURA 9 - Macho Bison bison, Badlands National Park, Dakota do Sul. Fonte: EBI, [2007]. 4.1.4.2 Bison bonasus Conhecido como bisonte-europeu, bisão-europeu ou wisent (FIG. 10). É o maior mamífero terrestre da Europa. Os machos podem atingir até 1,9 m de altura na região da escápula e pesar 920 kg, aproximadamente. Esse é mais corpulento que o bisão-americano (Bison bison) e os pêlos do pescoço e da cabeça são mais curtos. Na antiguidade habitavam quase toda a Europa. Por volta da década de 30, restavam menos de 50 animais, todos em zoológicos. A partir da década de 50 foram reintroduzidos alguns animais criados em cativeiro e hoje é possível se encontrar manadas livres na Rússia, Polônia, Bielorússia e Ucrânia (BISONTE-EUROPEU, [2007]). FIGURA 10 – Macho Bison bonasus, Polônia. Fonte: KOTOWSKI, [2007]. 29 4.1.5 Gênero Bos O gênero Bos é composto por cinco espécies não extintas: 4.1.5.1 Bos frontalis Conhecido como gaur, bisonte-indiano ou bisão indiano (FIG. 11). A diferenciação entre esta espécie e o Bos taurus ocorreu há sete milhões de anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). É o maior dos bovinos selvagens da atualidade e habita o sul e o sudeste asiático, principalmente a Índia. A forma doméstica do gaur é chamada de gayal ou mithan. Alguns autores dividem a forma doméstica (gayal ou mithan) e a selvagem (gaur) em diferentes espécies, denominando-as de Bos frontalis e Bos gaurus, respectivamente. Os machos possuem entre 1,7 a 2,2 m de altura na região da escápula e pesam entre 1.000 a 1.500 kg (GAUR, [2007]). Os touros adultos são quase desprovidos de pêlos (SANTOS, 1993, p. 40). Os animais domésticos podem fornecer carne e couro, mas não são utilizados para fornecimento de leite, tampouco para trabalhos de tração (SANTIAGO, 1986, p. 10). FIGURA 11 – Macho Bos frontalis, Índia Fonte: HARVEY, [2007]. 4.1.5.2 Bos javanicus Conhecido como banteng (FIG. 12), é encontrado em Mianmar (antiga Birmânia), Tailândia, Camboja, Laos, Vietnã, Bornéo, Java e Bali. A diferenciação entre esta espécie e o 30 Bos taurus ocorreu há sete milhões de anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). Os machos medem cerca de 1,6 m de altura na região da escápula e pesam entre 680 a 810 kg, sendo que alguns espécimes podem atingir 1.000 kg (BANTENG, [2007]). São animais extremamente rústicos, que podem ingerir água salina e se alimentar de algas marinhas (SANTOS, 1993, p. 40). São facilmente domesticáveis e vêm sendo criados e selecionados a mais de 300 anos na ilha de Bali. Cruzados com o bovino doméstico geram híbridos geralmente férteis e que são bastante utilizados pelos nativos da Indonésia (SANTIAGO, 1986, p. 10). Foi considerado por Keller (1902, citado por SANTOS, 1993, p. 50) como o antecessor do Bos taurus indicus, mas, atualmente, essa hipótese é quase que unanimemente rejeitada. FIGURA 12 – Macho Bos javanicus, Saint Louis Zoo, Missouri. Fonte: HUFFMAN, 2005. 4.1.5.3 Bos sauveli Conhecidos pelo nome de kouprey (FIG. 13). A diferenciação entre esta espécie e o Bos taurus ocorreu há 600 mil anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). Foi descoberto em 1937 e habita o sul de Laos, o oeste Vietnã, o leste da Tailândia e principalmente o norte do Camboja. Os machos podem atingir 2 m de altura na região da escápula e pesar 900 kg. Recentemente, verificou-se que animais descobertos no Vietnã podem atingir 1.700 kg, de acordo com zoólogos locais. Estima-se que menos de 250 espécimes existam hoje no mundo todo (KOUPREY, [2007]). Possuem barbela desenvolvida que, em alguns casos, quase toca o solo (SANTOS, 1993, p. 40). Recentes pesquisas, baseadas em análise de DNA mitocondrial, 31 consideram o kouprey como um hibrido do Bos javanicus (banteng) e do Bos taurus indicus (gado zebu) (FELLMAN, 2006). Entretanto, outros pesquisadores como Hassanin e Ropiquet (2007 citado por KOUPREY, [2007]), consideram o kouprey uma espécie distinta. FIGURA 13 – Macho Bos sauveli, Vincennes Zoo, Paris. Fonte: HO, 1937. 4.1.5.4 Bos grunniens Conhecido como iaque, boi grunidor ou boi com cauda de cavalo (FIG. 14). A diferenciação entre esta espécie e o Bos taurus ocorreu há 5,8 milhões de anos (FERNÁNDEZ; VRBA, 2005, p. 282). Habitam o planalto tibetano e o Himalaia, em altitudes que variam de 4.500 a 6.000 m. Quando domesticado, fornecem lã, carne e leite, além de serem muito utilizados como animais de tração. Suas fezes são utilizadas em algumas regiões da China como combustível, principalmente no inverno, quando as temperaturas atingem 40ºC (IAQUE, [2007]). Sua cabeça lembra a de um taurino, mas o andar e o posterior assemelham-se a cavalos. Cruzado com Bos taurus, produz um hibrido denominado dzo ou pien niu, muito apreciado por mongóis e tibetanos (SANTIAGO, 1986, p. 10). Sua coloração de pelagem varia de marrom a preto nos animais selvagens. Já nos domesticados, também podem ser encontrados animais brancos. Os animais selvagens podem atingir 1.000 kg de peso e dois metros de altura na região da escápula, enquanto que os domésticos têm aproximadamente a metade desta altura (YAK, [2007]). 32 FIGURA 14 – Macho Bos grunniens. Fonte: THE UNIVERSAL PROTEIN RESOURCE, [2007]. 4.1.5.5 Bos taurus É o gado bovino doméstico. Segundo a nomenclatura clássica de Linneu (1758 citado por ISSA; JORGE; SERENO, 2006, p. 1609; SANTIAGO, 1986, p. 14), em sua célebre obra, Systema Naturae, os taurinos europeus e os zebuínos indianos eram considerados espécies distintas, denominadas Bos taurus e Bos indicus, respectivamente. Mas atualmente, o mais aceito é que tanto taurinos quanto zebuínos tenham descendido do mesmo grupo de animais e por terem fecundidade completa entre si pertençam a uma única espécie denominada Bos taurus. Pela notável diferença fenotípica e pela distância genética, taurinos (bovinos sem cupim) e zebuínos (bovinos com cupim) são classificados como subespécies distintas, denominadas Bos taurus taurus e Bos taurus indicus, respectivamente (ISSA; JORGE; SERENO, 2006, p. 1609; SANTIAGO, 1986, p. 13). Segundo Ritz et al. (2000, p. 181), a distância genética entre essas duas suas subespécies é de 310 a 820 mil anos. Para Frisch (2004, p. 6), esta diferenciação iniciou-se há 1,5 milhões de anos. 33 5 A ORIGEM DOS BOVINOS O Bos taurus, como todos os bovídeos descendem de um único tronco filogenético, uma espécie de antílope, chamado de antílope de Pikermi, que viveu durante o Mioceno e Plioceno, ou seja, entre 23,3 a 1,8 milhões de anos (SANTIAGO, 1986, p. 13). O antílope de Pikermi teria dado origem, entre outros, ao Bos primigenius, do qual descendem todos os bovinos domésticos atuais (FRISCH, 2004, p. 6; FELIUS, 1985, p. 8; SANTOS, 1999, p. 264; SANTIAGO, 1986, p. 13). Segundo Lydekker (1898, citado por BOS ACUTIFRONS, [2007]), o Bos primigenius descendeu do Bos acutifrons, há cerca de 1,5 a 2 milhões de anos, espécie que habitou a Índia até a metade do Pleistoceno, há cerca de 900 mil anos atrás. O Bos primigenius (FIG. 15), chamado de Auroque ou Uro, teria se originado na Índia. Viviam em regiões de clima quente em uma área que compreendia além da Índia, a Turquia e a Península Arábica. Viveram restritos a essa região até o fim da Grande Era Glacial (cerca de 250 mil anos atrás). Durante este período houve apenas aumento do número de animais, mas não havia condições para que estes se espalhassem. Após o início do aquecimento terrestre, os Auroque se dispersaram da Ásia ocidental para diversas regiões do planeta, como leste da China, ocidente do Oriente Médio, norte da África e Europa (FELIUS, 1985, p. 8). FIGURA 15 – Esqueleto Bos primigenius de 9.500 anos, National Museum of Denmark Fonte: THYSSEN, 2004. 34 O Bos primigenius era muito maior que os bovinos domésticos atuais. Os machos possuíam até 1,75 a 2 m de altura da região da escápula e cerca de 3 m de comprimento, enquanto as fêmeas possuíam entre 1,5 a 1,7 m de altura. Esses possuíam chifres em forma de lira, que mediam cerca de um metro de comprimento. A pelagem nos machos variava do marrom escuro ao preto, com uma faixa clara longitudinal ao longo da região dorso-lombar. Nas fêmeas e nos bezerros a pelagem encontrada era marrom avermelhada. Pinturas rupestres também relatam a ocorrência de animais malhados e brancos (FELIUS, 1985, p. 8). O quarto dianteiro era bem maior que o traseiro, conformação que favorecia a velocidade em corridas (SANTOS, 1999, p. 264). Esta espécie teria se diferenciado em alguns subtipos após o fim da Grande Era Glacial. Essa afirmação é baseada em diferenças no tamanho do crânio, formato do chifres e outras evidências de achados fósseis. Há divergência entre as autoridades no número desses subtipos, mas pode-se verificar a ocorrência de dois grandes grupos de Bos primigenius, que muitos consideram subespécies diferentes: o Bos primigenius primigenius, que mantinha as características do Bos primigenius original e teria dado origem aos bovinos europeus (Bos taurus taurus), e o Bos primigenius namadicus, que vivia na Índia e teria dado origem aos zebuínos (Bos taurus indicus) (FELIUS, 1985, p. 8; SANTOS, 1993, p. 50; SANTIAGO, 1986, p. 13). Achados fósseis revelam que o Bos namadicus teria vivido durante o período Pleistoceno (entre 1,8 milhão a 11,5 mil anos) (SANTOS, 1993, p. 50). A caça e o desmatamento do hábitat do Bos primigenius fez com que a espécie se extinguisse no século XVII. Há relatos que em 1476 havia dois grandes rebanhos de Auroque em terras da família real da Polônia. Em 1564, havia apenas 38 animais, sendo 22 vacas, três animais jovens, cinco bezerros e oito touros. Dois anos depois restavam 24 animais. Em 1602, apenas 4, três touros e uma vaca. O último touro morreu em 1620 e a última vaca em 1627, ano em que a espécie foi considerada extinta (VUURE, 2003 citado por MAAS, 2006). 5.1 A domesticação dos bovinos Os primeiros centros agrícolas surgiram entre sete a dez mil anos em uma região que vai da costa mediterrânea de Israel até as montanhas Taurus na Turquia. Além de Israel e Turquia, os outros pioneiros da agricultura se espalharam pelo Irã, Armênia, Azerbaijão, Geórgia, Rússia e Iraque. Com o advento da agricultura tornou-se possível iniciar as primeiras domesticações. Os primeiros animais a serem domesticados foram bovinos, ovinos, caprinos, suínos e caninos (FELIUS, 1985, p. 9). 35 Há uma grande divergência entre especialistas quanto à data das primeiras domesticações de Bos primigenius. No entanto a maioria dos trabalhos baseados em achados arqueológicos sugere que tenha ocorrido em dois centros diferentes, há cerca de cinco a dez mil anos (FELIUS, 1985, p. 9; SANTIAGO, 1986, p. 13; LOFTUS, 1999, p. 2015). Já outro trabalho de Loftus et al. (1994, citado por MEIRELLES et al., 1999, p. 543), baseado em análise de DNA mitocondrial, indica que essas domesticações teriam iniciado a pelo menos 200 mil anos. Os dois centros primários de domesticação teriam sido: 1 – Oriente Próximo (região que engloba os atuais Iraque, Líbano, Palestina e Síria), onde teriam sido domesticados os primeiros Bos primigenius primigenius, dando origem ao Bos taurus taurus (taurino europeu). Esta afirmação é baseada em estudos feitos por Loftus et al. (1999, p. 2015), utilizando análises de DNA mitocondrial. 2 – Região que corresponde ao sudoeste do Paquistão e do Afeganistão e sudeste do Irã, onde teriam sido domesticados os primeiros Bos primigenius namadicus, dando origem ao Bos taurus indicus (zebuíno indiano). Esta afirmação é baseada em análises de achados arqueológicos feito por Meadow (1993 citado por LOFTUS et al., 1999, p. 2015), mas, como nunca se encontrou ossos de zebuínos selvagens, esta afirmação é insegura (FELIUS, 1985, p. 93). FIGURA 16 – Prováveis locais primários de domesticação dos taurinos (Bos taurus taurus) e zebuínos (Bos taurus indicus). Fonte: MODIFICADO DE GOOGLE EARTH, 2007; LOFTUS, 1999; MEADOW, 1993 citado por LOFTUS, 1999. 36 O advento da agricultura e a domesticação permitiram ao homem armazenar reservas nutricionais e abandonar o nomadismo. Esta foi uma grande revolução que gerou um grande avanço, permitindo a formação de civilizações. No entanto alguns especialistas afirmam que os primeiros bovinos não foram domesticados visando a produção de carne ou leite ou realização de trabalhos de tração, mas sim para serem utilizados em rituais e práticas religiosas (FELIUS, 1985, p. 9). 5.2 Modificações fenotípicas dos bovinos Com o início da domesticação, houve grandes modificações no fenótipo dos bovinos. Características que seriam prejudiciais a um animal selvagem passaram a ser ignoradas ou até mesmo selecionadas artificialmente pelos homens. Por exemplo, espécimes com chifres curtos e finos, ausência de chifres e pelagem malhada ou coloração diferente do ambiente, tinham menos chances de sobreviver que os demais, ou seja, estavam sujeitos à seleção natural (FELIUS, 1985, p. 10). Com isso, iniciou-se uma distinção dentro da espécie. Tal diferenciação não foi mais drástica no início graças a uma prática comum dos criadores do período Neolítico (período entre 14 e seis mil anos). Estes soltavam as suas vacas para que emprenhassem dos touros selvagens (Bos primigenius), visando aumentar o tamanho de suas crias (SANTOS, 1999, p. 273). Mesmo com esta prática os animais Bos taurus taurus mediam cerca de 1,15 a 1,38 m de altura na região da escápula. Durante a Idade Média (de 476 a 1453) os bovinos domésticos chegavam a apenas 1,05 m de altura na região da escápula. Esta diminuição ocorreu pela falta de alimento para os animais domesticados. Assim, os animais menores tinham mais chances de sobreviver e acabaram sendo selecionados. Outras mudanças marcantes no fenótipo dos bovinos foi o aumento da proporcionalidade entre os quartos posterior e o anterior, diminuição dos chifres e diversificação de pelagem (SANTOS, 1999, p. 273; FELIUS, 1985, p. 10). Com a Revolução Industrial, iniciada em meados do século XVIII, criou-se a necessidade de seleção de animais mais produtivos para atender a crescente demanda de alimento, como carne e leite. Ao mesmo tempo, diminuiu-se a necessidade da utilização dos bovinos para o trabalho de tração. A partir dessa época pode-se considerar que surgiram as primeiras raças puras (FELIUS, 1985, p. 11). 37 6 AS RAÇAS BOVINAS ATUAIS Existem atualmente cerca de 1,3 bilhão de cabeças de gado no mundo, sendo que Índia, China, Brasil e Estados Unidos são, respectivamente, os países com maior contingente. (CATTLE, [2007]). Há mais de 600 raças bovinas catalogadas, entre as quais 74 estão presentes no Brasil (SANTOS, 1999, p. 1). Como já foi mencionado, a Revolução Industrial foi o marco inicial da real distinção e seleção das raças puras. A primeira a se destacar foi a raça Durham, criada no norte da Inglaterra no início do século XIX. Esta raça se espalhou por todo o Reino Unido e foi exportada para a Europa Ocidental e para os Estados Unidos. Atualmente é conhecida como Shorthorn e foi a raça mais importante do mundo até aproximadamente 1875. Como o Shorthorn, a maioria das raças Bos taurus taurus que conhecemos hoje iniciaram sua seleção no século XIX. Porém, com o aumento da demanda por carne e leite há uma tendência de ocorrer uma diminuição do número de raças, visto que o interesse se volta cada vez mais para raças especializadas (FELIUS, 1985, p. 11). As raças atuais podem ser divididas, como relatado anteriormente, em dois grandes grupos: Bos taurus taurus e Bos taurus indicus. Segundo Frisch (2004, p. 7), estes grandes grupos podem ser divididos da seguinte maneira: 6.1 Bos taurus taurus 6.1.1 Raças Européias Os bovinos taurinos evoluíram em clima temperado e não foram expostos ao desafio dos estresses presentes nas regiões tropicais, sendo pouco produtivos nestes ambientes, a menos que estes estresses sejam controlados. 6.1.1.1 Raças Britânicas São as raças originárias da Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales), como o Aberdeen Angus (FIG. 16), Galloway, Belted Galloway, Highland, Murray Grey, British White e White Park. Há muito tempo têm sido selecionadas para produção de carne para o consumo humano, principalmente a raça Angus. As raças britânicas foram selecionadas para a habilidade de crescer rapidamente em ambientes favoráveis, para se criar um bezerro 38 por ano e produzir carne macia e saborosa. Segundo Gazzola et al. (1998 citado por FRISH, 2004, p. 8), as raças britânicas possuem carne mais macia que as zebuínas. Este tipo de seleção gerou animais férteis e de elevada intensidade metabólica, sendo que alguns como os da raça Angus possuem alta capacidade de depositar gordura intramuscular (marmoreio), característica correlacionada positivamente com o melhor sabor da carne e maciez. FIGURA 17 – Dividend, touro da raça Aberdeen Angus Fonte: ALTA GENETICS INC., 2002. 6.1.1.2 Raças Continentais São as raças originárias da Europa continental, como Blonde d‟Aquitaine, Charolais, Limousin, Salers, Chianina, Marchigiana, Piemontese, Romagnola, Simental (FIG. 17) e Gelbvieh. As raças continentais foram selecionadas inicialmente para tração, o que fez aumentar a massa muscular e o peso adulto e diminuir a quantidade de gordura. O alto peso adulto fez com que estas raças possuíssem maior peso ao nascer e elevado metabolismo. A combinação de peso adulto elevado e alta taxa de metabolismo gerou animais de alta necessidade nutricional para manutenção. As raças continentais diferenciaram-se das raças britânicas entre 200 a 500 anos atrás (FRISCH, 2004, p. 7). Segundo Blott; Williams; Haley (1998, p. 277), que analisou a diferenciação genética entre 37 raças européias através de polimorfismos de proteínas do soro sanguíneo, as raças originadas do Canal Inglês (Ilha Guernsey e Ilha Jersey, localizadas entre a Inglaterra e a França), tais como Guernsey e Jersey, estão mais correlacionadas com as raças continentais do que com as britânicas. 39 FIGURA 18 – Gallus Imp., touro da raça Simental. Fonte: FAZENDA 3 GALHOS, [198-]. 6.1.1.3 Raças Crioulas Correspondem aos primeiros bovinos a serem introduzidos nas Américas, como as raças introduzidas no Brasil: Caracu (FIG. 18), Crioulo Lageano, Curraleiro, Junqueira, Mocho Nacional e Pantaneiro; e a raça presente na Venezuela: Romosinuano. Foram trazidas pelos colonizadores a partir do século XVI. Diferenciaram-se das demais raças taurinas há mais de 400 anos (MATEUS et al., 2004, p. 112). Segundo Silva (1947, p. 57), os portugueses teriam trazidos para o Brasil bons animais. Estes animais enfrentaram grande choque climático, vindo para um ambiente onde havia mais estresses ambientais que os existentes em sua origem. Assim, as diferenças que hoje existem entre as raças originárias européias e as crioulas se devem, principalmente, à adaptação ambiental que estas foram obrigadas a se submeter. O gado que originou estas raças ainda é motivo de discussão. Segundo Serrano et al. (2004, p. 543), que analisou a provável origem das raças crioulas nacionais através de DNA microssatélites, pode-se considerar que estas raças tiveram duas origens distintas. As raças Crioulo Lageano, Curraleiro, Mocho Nacional e Pantaneiro se originaram de raças ibéricas, ou seja, raças originárias de Portugal ou Espanha. Já a raça Caracu teria se originado do gado aquitânico, ou seja, bovinos originários do sudoeste da França. Segundo alguns autores, uma das raças que mais influenciou as raças crioulas brasileiras foi a Barrosã (SILVA, 1947, p. 57), que embora seja originária de Portugal, não é ibérica, mas sim batava (SERRANO et al., 2004, p. 544). 40 FIGURA 19 – Gaiato da Guaraúna, touro da raça Caracu. Fonte: ALTA GENETICS DO BRASIL, 2007a. 6.1.2 Raças Africanas Evoluíram nas regiões tropicais, em condições semelhantes àquelas em que as raças índicas evoluíram. Possuem maior resistência ao calor, a ectoparasitas, como carrapatos, e se adaptam melhor a condições nutricionais adversas, quando comparados com as raças taurinas européias. Foram separadas das raças taurinas européias entre 10 a 20 mil anos (FRISH, 2004, p. 7). Também possuem menor intensidade metabólica, menor potencial de crescimento e menor exigência de alimentação para manutenção, quando comparados com as taurinas britânicas. Segundo Gazzola et al. (1998 citado por FRISCH, 2004, p. 8), a qualidade de sua carne está mais próxima das britânicas do que das raças índicas. 6.1.2.1 Raças do Sanga São raças que se originaram na região do Sanga Africano (distrito da República do Congo), como Africânder (FIG. 19) e Tuli. Possuem cupim cérvico-torácico e evoluíram em regiões secas do sul da África. Eram tradicionalmente classificadas como Bos taurus indicus, mas pesquisas realizadas por Frisch (1997, p. 77) baseadas em morfologia do cromossomo Y, freqüência de marcadores de DNA e polimorfismos de proteínas sanguíneas revelaram que as raças originárias ao sul do rio Zambezi, como o Africânder e o Tuli seriam mais bem classificadas como Bos taurus taurus. Já as raças sanga originárias ao norte do rio Zambezi, 41 chamadas de raças do leste africano, se classificariam como tauríndicas, como será abordado posteriormente. Segundo Frisch e O‟Neill (1998 citado por FRISCH, 2004, p. 13), o fato de evoluírem em regiões secas fez com que tivessem menor resistência a carrapatos e vermes do que as raças zebuínas indianas e, provavelmente, menor também do que as raças do oeste africano e crioulas. FIGURA 20 – Vaca da raça Africânder Fonte: THE AFRIKANER CATTLE BREEDERS SOCIET OF SOUTH AFRICA, [2007]. 6.1.2.2 Raças do Oeste Africano São raças originárias da região ocidental da África, como o N‟Dama (FIG. 20) e o Muturu. Evoluíram em regiões de clima quente e úmido, altamente infestadas por parasitas. Sendo assim, é provável que estas raças tenham maior resistência para parasitas internos do que as raças do Sanga (FRISCH, 2004, p. 8). 42 FIGURA 21 – Vaca e bezerra da raça N‟Dama Fonte: VAN LANCKER, [2007] 6.2 Raças Tauríndicas Africanas São animais que evoluíram na África Oriental. Foram gerados do cruzamento do gado taurino nativo com o gado zebuíno que chegou à região há aproximadamente três mil anos. Como exemplo de raça tauríndica africana, podemos citar a Boran (FIG. 21). Segundo Frisch et al. (1997 citado por ISSA; JORGE; SERENO, 2006, p. 1610), baseado em análise de morfologia do cromossomo Y, freqüência de marcadores de DNA e polimorfismos de proteínas sanguíneas, a classificação mais correta destas raças seriam como taurindicas e não zebuínas, como era aceita anteriormente. FIGURA 22 – Touro da raça Boran, Quênia. Fonte: BORAN CATTLE BREEDERS SOCIETY, [2007]. 43 6.3 Bos taurus indicus Os zebuínos evoluíram nos trópicos na presença de elevadas cargas de calor, de doenças tropicais, de grandes variações na disponibilidade dos nutrientes e de alto desafio de parasitas internos e externos. Por milhares de gerações, a seleção natural para sobrevivência na presença destes estresses ambientais resultou em raças que possuem resistência elevada a ectoparasitas, como carrapatos, e endoparasitas, como diversas espécies tropicais de nematóides gastrointestinais, além de boa adaptação a altas temperaturas, radiação solar elevada e muitas doenças tropicais, incluindo doenças oculares. A seleção natural sob circunstâncias de baixa disponibilidade nutricional e elevadas temperaturas, favoreceram os animais com uma intensidade metabólica baixa e pequena exigência nutricional para manutenção. Havia dois tipos de seleções originais destas raças: para tração (por exemplo o Ongole) e para leite (por exemplo o Gir) (FRISCH, 2004, p. 8). 44 7 ORIGEM DAS RAÇAS ZEBUÍNAS DA ATUALIDADE Os zebuínos teriam se originado do Bos primigenius namadicus, subespécie do Bos primigenius (MEADOW 1993, citado por LOFTUS et al., 1999, p. 2015). O local de origem dos zebuínos é uma questão muito controversa. Segundo alguns especialistas, os primeiros zebuínos teriam surgido na região do Oriente Próximo (região que contem Síria, Líbano, Palestina e Iraque). Para outros, a origem teria sido na região que hoje compreende Índia, Mianmar, Malásia e Tailândia. Há alguns até que acreditam que os zebuínos tenham se originado na África (SANTIAGO, 1986, p. 14). Já quanto ao local de domesticação, como já mencionado, é uma questão um pouco mais unânime entre diversos autores. O sudoeste do Paquistão e do Afeganistão e sudeste do Irã teriam sido os locais das primeiras domesticações dos zebuínos. (MEADOW 1993 citado por LOFTUS et al., 1999, p. 2015). O gado zebuíno teria se espalhado por grande parte da Ásia e norte da África. Das raças zebuínas atualmente conhecidas, a grande maioria é originária da Índia ou países vizinhos. O gado indiano pode ser dividido em dois grandes grupos: o nativo indiano e o originário dos animais levados pelos povos invasores (SILVA, 1947, p. 191). O gado nativo indiano é encontrado por todo território da Índia. Consiste em um gado de pequeno porte, de cor escura. Quase todos estes animais possuem nimburi (saliência óssea formada no meio da marrafa) e foram selecionados para tração. Pode ser denominado gado indígena ou, como citado por Wallace (1887 citado por SILVA, 1947, p. 192), gado das aldeias. Não foram encontrados estudos mais aprofundados e atuais sobre este gado. O gado originário dos animais levados pelos povos que invadiram a Índia é o que gerou grande parte das raças zebuínas que atualmente têm importância econômica mundial. Este grande grupo é formado por muitas raças, dentre as quais, algumas serão abordadas posteriormente. Entre os povos que invadiram a Índia e contribuíram para a formação de muitas raças, estão os arianos. Este povo se estabeleceu no planalto iraniano, região que compreende dois terços do Irã, a porção oriental e meridional do Afeganistão e o oeste do Paquistão há cinco mil anos. Esta região, como já comentado, é a mesma em que ocorreram as primeiras domesticações de zebuínos. Os arianos há 3,5 mil anos saíram do seu local de origem, passaram pelo Punbjab (estado ou província que atualmente está dividida entre o Paquistão e a Índia) e invadiram a Península da Índia, também conhecida como Industão (região que hoje compreende Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal e Butão) (ARIANOS, [2007]) (FIG. 22). 45 Estudiosos do assunto afirmam que estes povos levaram consigo os seus animais domésticos, entre os quais estavam os zebuínos, os quais eram mais refinados do que os previamente existentes na Índia. Estes animais, provavelmente já possuíam diferenças entre si antes da migração, mas elas ficaram mais evidentes quando se estabeleceram nos territórios indo-paquistanês. Este grupo de raças que se originou com este povo é conhecido como gado branco-cinza do norte. Parte do povo ariano teria ido até o sudoeste indiano e o gado que estes levaram teria originado raças como Kankrej, Nagori e Malvi. Outra parte dos arianos teria se dirigido mais para a região oriental da Índia e o gado levado por estes teria originado raças como Hariana e Ongole (SILVA, 1947, p. 199). Para alguns autores o Kankrej não foi introduzido pelos arianos ou influenciado por estes. Tanto Olver (1938 citado por SANTOS, 2000, p. 444), quanto Joshi e Phillips (1954 citado por SANTOS, 2000, p. 444) crêem que o Kankrej já habitava o vale do Indo quando as últimas tribos arianas invadiram a Índia há 3,5 mil anos. FIGURA 23 – Migração dos povos arianos e localização das raça bovinas levadas por eles. Fonte: MODIFICADO DE GOOGLE EARTH, 2007; SANTOS, 1994; SANTIAGO, 1987. 46 Outros invasores da Índia que podem ter contribuído para formações de raças zebuínas importantes são os que vieram da Indonésia. Esta tribo teria invadido o sul e o oeste da Índia levando consigo o seu gado que, segundo alguns estudiosos do assunto, pode ter originado a raça Gir (SILVA, 1947, p. 237). 7.1 Distribuição e classificação das raças zebuínas indianas e paquistanesas A distribuição de algumas raças acompanha muito de perto as rotas seguidas pelos principais invasores da Índia, especialmente pelos arianos. Houve, naturalmente, um intercâmbio entre o gado desses conquistadores e o nativo da região, embora alguns desses tipos tenham permanecido puros por tempo relativamente longo. Fatores ambientais também podem ter influenciado e gerado algumas modificações fenotípicas. A seleção artificial também fez sentir sua ação no rebanho, em evolução lenta, mas constante. Alguns grupamentos zebuínos foram objetos de trabalhos seletivos que lhes deram maior uniformidade de características e funções, cabendo-lhes, então, com mais propriedade a denominação de raças (SANTIAGO, 1987, p. 111). Segundo Santiago (1987, p. 111), os diferentes autores, que no passado descreveram os bovinos indianos, se basearam nos rebanhos encontrados nas províncias e numerosos distritos do antigo império. Assim, deram às raças e variedades estudadas nomes correspondentes à região em que elas se haviam formado ou eram encontradas em maior número, seguindo o antigo costume europeu, pelo qual quase todas as raças bovinas, eqüinas, ovinas e suínas, tomaram a denominação da área geográfica de origem. Uma das explicações para o motivo da existência de tantas raças na Índia é a que este país chegou a ter mais de 500 reinos, comandados por marajás e estes apreciavam diferenciar até o gado que possuíam daquele dos vizinhos. Por isso existem até hoje muitas raças e variedades no país (SANTOS, 2000, p. 446). Olver (1938 citado por SANTIAGO, 1987, p. 111) esclarece preliminarmente que raças, na verdadeira acepção da palavra, existiriam poucas na Índia. O termo expressa, na realidade, a ocorrência de agrupamentos com várias características próprias, mas apresentando acentuada variabilidade. São antes raças naturais ou geográficas, porquanto se formaram sob a influência de fatores de meio e quase sempre sem a intervenção do homem. Em sua maior parte, os trabalhos seletivos visando à uniformização a ao melhoramento dos Zebuínos datam do presente século, principalmente nos últimos quarenta anos. Evidentemente, a situação zootécnica vigente na Índia era muito diferente da atual. Assim, existiriam na Índia 47 apenas quatro ou cinco tipos básicos ou raças-tronco e que a grande maioria das trinta ou quarenta sub-raças corresponderia a estes tipos ou era resultante de miscigenação de dois ou mais troncos. Para provar suas origens, Olver considerou as migrações pré-históricas de povos, cujo gado deve ter exercido marcada influência no gado nativo. Os tipos importados permaneceram puros por algum tempo, mas depois houve inevitáveis cruzamentos em decorrência do deslocamento de pastores nômades, em suas migrações anuais em busca de alimento, e do comércio de animais por mercadores itinerantes, além da criação descontrolada, tudo contribuindo para a mistura de tipos. Baseado no fenótipo dos animais, em testemunhos arqueológicos e também em dados históricos sobre a introdução dos diferentes tipos de gado no território da Índia e do Paquistão, Olver (1938, p. 14) classificou assim as raças encontradas neste local: Tipo 1 – Gado grande e cinzento-branco do norte - Embora seja possível enquadrar as diversas raças num único tipo básico por terem cor e origem semelhante, o Autor considerou que possuíam diferenças fenotípicas suficientes para serem classificadas em dois subtipos, a saber: a) Subtipo do Norte ou cinza escuro Kankrej Malvi Krishna Valley (tem sangue Misore) Nagori (tem sangue do gado do Sul) b) Subtipo do Sul ou cinza claro Ongole Bhagnari Gaolao Hariana Rath Mehwati (tem sangue Hariana e Gir) Tipo 2 – O bem distinto tipo Misore do Sul Apresentando conformação característica da cabeça e dos chifres. Amrit Mahal Khillari 48 Hallikar Kangayam (tem sangue do gado braço-cinza) Nimari (tem sangue Gir) Tipo 3 – O conhecido gado Gir de Kathiawar e do Oeste da Índia Gir Dangi Deoni Sahiwal (tem sangue de Afegan) Sindi (sua base é o gado vermelho e o Afegan) Tipo 4 – O pequeno gado preto, vermelho ou pardo Que se encontra em toda a Índia, principalmente nas regiões montanhosas e de florestas. Têm as mesmas características do gado nativo indiano. Olver não citou raças, mas outros estudiosos citam pelo menos, três: Lohani Siri Ponwar Tipo 5 – O gado Dhanni do Pundjab Diferente principalmente na pelagem, não pode ser incluído em nenhum dos tipos anteriores, motivo pelo qual é citado à parte. O zootecnista norte-americano Ralph Phillips realizou novos estudos sobre a sistemática do gado da Índia. Partindo das bases lançadas por Olver, seu trabalho foi publicado sob o título The Cattle of Índia, em 1944, trazendo uma interessante modificação: o desdobramento do primeiro tipo básico de Olver em dois tipos independentes. Mais tarde, Phillips, com a colaboração do técnico hindu N. R. Joshi, apresentou um estudo mais amplo, publicado pela FAO em 1953: El Ganado Cebu de la Índia y del Pakistan (SANTIAGO, 1987, p. 123). Neste estudo as raças zebuínas da Índia e do Paquistão foram classificadas da seguinte forma: 49 TABELA 1 – Classificação das raças zebuínas Tipos Raças Kankrej Grupo I Este grupo inclui o gado cinzento com chifres em forma de lira, Kenwariya fronte larga, arcadas orbitárias proeminentes, perfil plano ou Malvi côncavo. O Kankrej é seu representante mais típico. Kherigarh Tharparkar Hissar Bachaur Grupo II Gado grande, branco ou cinza claro, apresenta chifres curtos e Bhagneri perfil ligeiramente convexo – com arcadas orbitárias não Gaolao salientes. O Ongole e o Hariana são os mais característicos do Hariana grupo. Krishna Valley Nagori Mehwati Ongole Rath Dangi Grupo III Gado de testa proeminente, de chifres laterais, frequentemente Deoni retorcidos, barbela muito desenvolvida. Pelagem vermelha, ou castanha, uniforme ou geralmente manchada. branca, Gir Nimari Sindi Sahiwal Grupo IV Amrit Mahal Gado de tamanho médio, compacto, de perfil convexo, com Alambadi chifres longos, ponteagudos – nascendo bem próximos da cabeça. Bargur É conhecido como tipo de Misore. Hallikar Kangayam Khillari 50 Grupo V Lohani Abrange todo o gado pequeno, heterogêneo de pelagem vermelha Ponwar ou parda, muitas vezes, malhado de branco. É encontrado em todo Siri o País, sobretudo nas regiões montanhosas, no norte, no Beluchistão e no Himalaia. Grupo VI Dhanni O gado do Pundjab, pequeno, de pernas curtas; de pelagem branca, com pequenas manchas vermelhas, castanhas ou pretas, diferente da de todas as raças Indianas. Não pode ser classificada em nenhum dos tipos básicos precedentes, motivo pelo qual é agrupado a parte. Fonte: JOSHI e PHILLIPS, 1953 citado por SANTIAGO (1987, p. 123). 51 8 O REBANHO BRASILEIRO São escassas as informações sobre as primeiras importações e início da pecuária nacional. Alguns estudiosos crêem que os primeiros bovinos a desembarcar no Brasil foram trazidos de Portugal, de 1530 a 1554. Os navios que trouxeram as primeiras importações teriam ancorado e desembarcado os animais na Capitania de São Vicente (SILVA, 1947, p. 45; SANTOS, 1993, p. 51). Seriam, principalmente, raças ibéricas (SANTOS, 1993, p. 51; ISSA; JORGE; SERENO, 2006, p. 1610). Estes animais sofreram muito por terem que se adaptar a um clima muito diferente do qual habitavam, como mencionado no texto a seguir: “...de Portugal e de suas ilhas, vieram eles em profusão, aqui prosperando, senão em qualidade, devido à inclemência do clima, ao menos em quantidade.” (SILVA, 1947, p. 45). A partir de São Vicente este gado foi levado para as outras capitanias (SILVA, 1947, p. 45). Em São Paulo, Rio de Janeiro e Olinda, a pecuária ficou restrita aos canaviais, enquanto que o gado que chegou à Bahia penetrou pelos sertões e teve papel importante na expansão do território nacional (SANTOS, 1993, p. 51). A maioria do gado nacional até princípios do século XX filiava-se ao tronco ibérico, mesmo que com certa mestiçagem em muitos casos. Alguns autores afirmam que o fato de Portugal e Espanha terem sido ocupados pelos mouros (povo originário da região ocidental do Saara), teria permitido a introdução de sangue zebuíno africano nos animais ibéricos e, consequentemente, o gado brasileiro já teria um grau de sangue zebuíno. Também há pesquisadores que acreditam que juntamente com a vinda de escravos negros, teria chegado zebuínos africanos aos nossos portos. Esta sugestão é baseada na histórica entrada de alguns vegetais e animais africanos pelas mesmas vias, como o coqueiro de dendê, o quiabo, o maxixe, o guandu, o capim Angola, o capim Elefante, o cavalo berbere, os jumentos algerianos, tunisianos e egípcios, as cabras da Núbia, os carneiros do Sudão e as galinhas d‟Angola (SANTOS, 1993, p. 51). Ao gado nacional originário destes primeiros animais que adentraram o Brasil é dado o nome de crioulos. Entre as raças crioulas mais conhecidas atualmente estão o Caracu, o Crioulo Lageano, o Curraleiro, também chamado de Pé-Duro, o Mocho Nacional e Panteneiro, também conhecido por Tucura (SERRANO et al., 2004, p. 543). Primo (1993 citado por SERRANO et al., 2004, p. 544), baseado em informações históricas, considerou que as raças Crioulo Lageano, Curraleiro e Pantaneiro teriam se originado do gado ibérico, ou seja, do gado nativo de Portugal e Espanha como, por exemplo, as raças Mirandesa e Brava. Já as raças Caracu e Mocho Nacional teriam se originado do gado 52 aquitânico, ou seja, do gado oriundo do sudoeste da França como, por exemplo, as raças portuguesas Galega, Arouquesa, Alentejana, Mertolenga, Algarvia e Minhota e a francesa Blonde d‟Aquitaine. Segundo Serrano et al. (2004, p. 543), baseado em análise de DNA microssatélites, a raça Mocho Nacional se enquadra melhor junto às raças de origem ibérica e não como de origem aquitânica. Este mesmo autor informa que houve contaminação por sangue zebuíno nas raças crioulas, principalmente o Crioulo Lageano, o Pantaneiro e o Mocho Nacional (SERRANO et al., 2004, p. 548), sendo que esta última já teria perdido a sua identidade genética. Segundo Silva (1947, p. 57), a opinião geral da maioria dos especialistas no assunto é que a raça Barrosã tenha sido uma das raças que mais influenciaram a formação do gado crioulo. Estudos baseados em DNA microssatélite indicam que a raça Junqueira, outra raça crioula, poderia ter a mesma origem das raças Blode d‟Aquitaine, Holandês e Pardo-Suiço. Outra suposição é que alguma destas tenha participado da formação da raça Junqueira (RANGEL; ZUCCHI; FERREIRA, 2004, p. 99). 8.1 Importação dos zebuínos e alteração do rebanho nacional Como relata Silva (1947, p. 127), já no início do século XIX começou a se despertar o interesse dos brasileiros por uma modificação do tipo de gado aqui existente. A degenerescência do crioulo causada principalmente pelos fatores ambientais e a falta, quase absoluta, de cuidados, mostrava-se incompatível com o cenário mundial de carne, que começava a se abrir aos olhos dos brasileiros. Iniciou-se então a busca por animais importados, tanto taurinos, quanto zebuínos. Em 1813 entraram no Brasil os primeiros zebuínos que se tem notícia (SANTIAGO, 1993, p. 95). Tratava-se de um casal oriundo da costa de Malabar, na Índia, e que foi deixado em Salvador. Em 1826 estabeleceu-se o primeiro núcleo de zebuínos puros, na Fazenda Real de Santa Cruz. Seguiram-se a estas várias importações de animais em pequenas quantidades (SANTIAGO, 1984, p. 133). As primeiras importações foram de diferentes raças, conforme a região visitada. Aos zebus do Nilo, sucederam os da África Ocidental, Senegal, Guiné e Congo. Depois vieram os do grupo Misore, da Índia (SANTIAGO, 1984, p. 133). 53 Na realidade, muitos dos criadores brasileiros não sabiam distinguir bem as raças, e talvez os próprios indianos fossem incapazes de fazê-lo, uma vez que seu gado ainda não tinha sido convenientemente estudado e as descrições das raças indianas eram poucas ou falhas (SANTIAGO, 1987, p. 153). Até 1938 os brasileiros estavam fazendo um gado sem qualquer orientação externa, ou seja, da terra mãe do zebu (SANTOS, 1993, p. 91). Segundo Santos (1993, p. 171) foram importadas as raças Krishna Valley, Gaolao, Ongole, Kangayam, Nagori, etc, mas a princípio, tudo recebia o único nome de “raça Zebu”. Durante muito tempo prevaleceu a idéia de que o gado indiano deveria ser sempre cruzado. Na voragem dos cruzamentos, acidentais ou intencionais, desapareceram os representantes de certas raças, como a Hissar, a Malvi, a Sindi e as do grupo Misore (SANTIAGO, 1984, p. 134). Em 1930 o rebanho nacional era visivelmente mestiçado, onde 80 a 90% do rebanho era denominado Indubrasil. Neste mesmo ano, graças a uma licença especial do Ministério da Agricultura, é realizada uma importação de mais 192 animais das raças Gir, Guzerá, Nelore e Sindi. Em 1952 são importados do Paquistão 31 animais da raça Sindi, os quais foram destinados para o Instituto Agronômico do Norte e Escola de Piracicaba. Em 1955 entram mais 114 animais da raça Gir, trazidas por contrabando através da Bolívia (SANTIAGO, 1984, p. 134). Em 1960 Celso Garcia Cid, consegue liberação do Ministério da Agricultura e importa mais 102 animais. Em 1962 ocorre a última importação, quando adentraram ao nosso território mais 297 zebuínos (SANTIAGO, 1984, p. 134). Segundo Santiago (1987, p. 95), foram importados ao Brasil, no total, 6.262 animais zebuínos. É uma quantidade muito pequena se comparada a de mais de um milhão de taurinos que adentraram o nosso território (ABCZ, [2007]a). É impressionante verificar como pouco mais de seis mil animais conseguiram alterar as características de um rebanho que até o princípio do século XX era basicamente de taurinos (SANTOS, 1993, p. 51). Atualmente, o rebanho nacional conta com mais de 190 milhões de bovinos, sendo que 80% possuem sangue zebuíno (ABCZ, [2007]a). Estes números mostram como os zebuínos se adaptaram bem ao clima brasileiro, principalmente no Brasil Central, onde está a maior parte do rebanho nacional. É nítido, pela enorme multiplicação da quantidade de animais fenotipicamente zebuínos, que a grande maioria do atual rebanho zebuíno brasileiro não é descendente exclusivamente de animais Bos taurus indicus. A maioria dos zebuínos importados era macho, 54 preferidos por terem maior poder de multiplicação, os quais eram cruzados com vacas nativas Bos taurus taurus (MEIRELLES et al., 1999, p. 543). Britto e Mello (1999, p. 371), analisou a morfologia do cromossomo Y de 75 machos da raça Pé-Duro do Núcleo de Preservação de Gado Pé-Duro da Embrapa, no Piauí, e características fenotípicas indicativas de origem zebuína e taurina. Observou que em 68% deles o cromossomo Y era acrocêntrico, ou seja, tipicamente zebuíno. Associado com características fenotípicas observadas nos animais, como maior bainha prepucial, chegou-se a conclusão que o rebanho Pé-Duro estava contaminado por sangue zebuíno, provavelmente através de touros Bos taurus indicus. Issa; Jorge; Sereno (2006, p. 1609), analisando a morfologia do cromossomo Y de 12 machos da raça Pantaneiro da Faz. Experimental Nhumirim da Embrapa Pantanal, observou que em 75% deles o cromossomo Y era acrocêntrico, ou seja, tipicamente zebuíno. A avaliação dos mesmos animais através de DNA mitocondrial, constatou que 100% deles descendiam, pela parte materna, de taurinos. Assim conclui-se que, também em animais da raça Pantaneiro, houve contaminação por zebuínos através de touros. Inclusive na formação de raças sintética a participação dos zebuínos parece ter sido maior através de touros do que de vacas. Henkes et al. (2005, p. 63), avaliando o DNA mitocondrial de animais Brangus-Ibagé (5/8 Bos taurus taurus, 3/8 Bos taurus indicus), observaram que não houve participação de fêmeas zebuínos na formação desta raça. Da mesma forma que touros zebuínos deixaram sua participação genética em raças taurinas no Brasil, vacas taurinas também estão presentes na ascendência de boa parte dos animais zebuínos brasileiros. Meirelles et al. (1999, p. 545) analisaram o DNA mitocondrial de 124 animais das raças Nelore, Gir e Brahman. Observou que 79% dos animais puros de origem (PO) da raça Nelore possuíam DNA mitocondrial característico de Bos taurus taurus. Quanto aos animais puros de origem (PO) da raça Gir, 73% possuíam DNA mitocondrial característico de Bos taurus taurus. Todos os animais da raça Brahman apresentaram DNA mitocondrial característico de Bos taurus taurus. Conclui-se a partir daí que grande parte do rebanho zebuíno brasileiro, inclusive animais puros, foi formado sobre vacas taurinas. Neste mesmo estudo foram analisados alguns animais puros de origem importada (POI), ou seja, animais que, em toda a ascendência de seu pedigree, arremete a animais importados da Índia. 26% dos animais POI da raça Nelore e 25% dos animais POI da raça Gir possuía DNA mitocondrial característico de Bos taurus taurus (MEIRELLES et al., 1999, p. 544). Segundo os autores, estes resultados sugerem que há erro de informação em cerca de um quarto das linhagens maternas dos animais Nelore e Gir considerados POI. Outra teoria que 55 deve ser considerada é que alguns animais zebuínos importados já podem ter vindo “contaminados” com sangue taurino. 8.2 As raças zebuínas existentes no Brasil 8.2.1 Raça Brahman Em 1885, Al Mc Faddin, Shanghai Pierce e Tom M. O‟Connor compraram o touro “Khedive”, puro-sangue Guzerá, na Índia. A seguir, em 1889, J. D. Hudgins também comprou gado diretamente da Índia. Até 1915, os produtos cruzados recebiam o nome de “big eared louisiana cattle” (gado de longas orelhas de Louisiana). Em 1915 começou a seleção de Brahman, quando W. J. Hudgins comprou outras 40 fêmeas aneloradas descendentes de animais importados em 1906 (SANTOS, 2000, p. 442). O grande impulso, no entanto, aconteceu quando os Estados Unidos realizaram duas importações de Zebu do Brasil, em 1923 e 1924. Segundo Rhoad ([19--] citado por SANTOS, 2000, p. 442), este gado importado do Brasil apresentava uma nítida predominância de Guzerá, com alguma evidência de Gir e Nelore. As linhagens famosas do início lembram o gado brasileiro, até nos nome portugueses... Sartwelle comprou “Imperador” e, logo a seguir, o legendário “Aristocrata” que, com “Penélope” (filha de um Guzerá da importação de 1906 e mãe Nelore), iria gerar a linhagem “Manso”. Os irmãos de “Manso”, “Albacrata” e “Aristarchus” eram notoriamente da raças Guzerá. Já o próprio “Manso” era um misto de Nelore e Guzerá. Segundo Rutowitsch ([19--] citado por SANTOS, 2000, p. 442), um grande criador da raça no Brasil, a raça foi criada utilizando como referencial comparativo as raças inglesas produtoras de carne, que eram as melhores do mundo à época. O objetivo fundamental de seus formadores era criar uma raça que pudesse agüentar calor, umidade, insetos, parasitas e doenças típicas do Golfo do México na penúltima virada do século. Esses pioneiros eram criadores que gostavam das características das raças inglesas (Angus, Hereford e Shorthorn) como produtoras de carne, mas não podiam fazer com que elas tivessem sucesso e prevalecesse na inóspita região semitropical do Sul dos Estados Unidos. 56 FIGURA 24 – JDH Atari Oyo Manso, touro da raça Brahman. Fonte: J. D. HUDGINS INC., [2007]. É formada basicamente por quatro raças zebuínas: Gir, Guzerá, Krishna Valley e Nelore. Em 1993 houve alteração da legislação, a qual facilitou o ingresso de animais desta raça ao Brasil. Em 1994 ocorreu a primeira importação de animais desta raça. Já foram importados animais dos Estados Unidos, Argentina, Colômbia e Paraguai (ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE BRAHMAN DO BRASIL-ACBB, [2007]). 8.2.2 Raça Gir Santos (1990 citado por SANTOS, 2000, p. 443), segundo sugestões da literatura sagrada hinduísta, acredita que o Gir talvez seja a raça zebuína mais antiga do planeta. É a raça-tronco do terceiro grupo das raças indianas tanto na classificação de Olver, quanto na de Joshi e Phillips, como já visto. Entre as teorias da origem da raça Gir está a de que os ascendentes destes animais descenderam de um gado deixado na península de Katiawar, no estado de Gujarat. Este gado teria sido levado a este local por antepassados da tribo ariana, quando migravam do norte africano para o interior asiático, tendo se fixada neste hábitat a mais 80 mil anos (SANTOS, 2000, p. 443). Outra teoria é de ter sido levada ao sul e ao oeste indiano por tribos procedentes da Indonésia (SILVA, 1947, p. 237). Originário da floresta de Gir, no estado de Gujarat é também encontrado em grande número em estado de pureza racial nas regiões do atual estado de Rajasthan (ABCZ, 57 [2007]b). A floresta de Gir não é muito densa, possui períodos de seca periódicos, sua vegetação é rica em arbustos e espinhos. A principal árvore da região é a teca. É o único local do oeste indiano onde ainda há leões asiáticos (ASIA ROOMS, [2007]). Entre as particularidades da raça podemos citar a forma do crânio e dos chifres. É a única raça bovina com chifres voltados para baixo e para trás, e de crânio ultra convexo, do mundo (SANTOS, 2000, p. 443). Há algumas especulações que tentam explicar a causa de algumas características fenotípicas particulares da raça Gir. Para alguns, a forma do crânio e tipo dos chifres são resultado da seleção natural onde os animais que tivessem maior facilidade de atravessar matas teriam maior chance de sobreviver e espalhar seus genes. Outra teoria é a que os chifres eram usados como ferramenta de defesa em caso de serem atacados por leões, espécie que habita a região até hoje (SANTOS, 2000, p. 443). O Gir também se distingue pela pelagem, sendo vermelha ou amarela em combinações típicas da raça (ZEBU ON-LINE, [2007]). Na Índia, existem rebanhos com história de 300 anos, ou mais, tendo sido uma raça muito utilizada para melhorar as demais em termos de produtividade leiteira e trabalho pesado. O Gir, modernamente, goza de grande popularidade na Índia, principalmente pela sua notável mansidão e aptidão leiteira. Segundo Santos (2000, p. 443), é comum encontrar vacas Gir produzindo leite nos templos e nos centros de pesquisa, bem como nos asilos e organismos sociais. FIGURA 25 – F. B. Nefrita, vaca da raça Gir. Fonte: CENTRAL NOVA ÍNDIA, [2007]. A chegada do Gir ao Brasil ocorreu entre 1906 a 1911 (SANTIAGO, 1984, p. 174; SANTOS, 1998 citado por SANTOS, 2000, p. 448), mas foi no final da Primeira Guerra Mundial que, de fato, tornou-se figura comum. Ao chegar ao Brasil a raça Gir passou por 58 formidável progresso, a ponto de se perceber, hoje, sua influência na grande maioria das propriedades pecuárias do país. Inicialmente, o sucesso do Gir ficou patenteado pela consolidação da raça Indubrasil. A seguir, em meados de 1930, os pecuaristas sentiram a necessidade de retornar às raças puras indianas e o Gir sofreu uma grande ascensão, com animais atingindo valores astronômicos. Baseado nos registros genealógicos, conclui-se que o Gir entre 1938 e 1967 era a principal raça do Brasil (SANTOS, 2000, p. 448). Na década de 1950, os altos preços do Gir já desestimulavam o ingresso de novos selecionadores. Na década de 1960, para atender o enorme mercado de propriedades leiteiras, diversos selecionadores passaram a segregar as fêmeas Gir de aptidão leiteira. Dividiu-se, assim, o horizonte da raça em dois: linhagens para leite e linhagens para corte. Assim, acabou perdendo o trono da pecuária de corte para o Nelore, mas acabou ganhando um novo trono, o da pecuária de leite (SANTOS, 2000, p. 448). Esta queda, para muitos, foi causado por uma excessiva preocupação com características étnicas, principalmente quanto à conformação de cabeça e questões de pelagem (SANTIAGO, 1984, p. 173). Na década de 40, atendendo ao mercado, foi produzido o Gir Mocho com influência original do gado Mocho Nacional e do Red Poll. Esta variedade continua em expansão, apresentando as mesmas características e funções do gado Gir tradicional (SANTOS, 2000, p. 448). Atualmente, para muitos, a raça Gir no Brasil supera o Gir indiano tanto em pureza racial quanto em produtividade (SANTIAGO, 1984, p. 173). O Gir teve influência na formação de outras raças indianas, como a Dangi, a Deoni, a Nimari e até nas raças Sindi e Sahiwal (SANTIAGO, 1984, p. 173). 8.2.3 Raça Guzerá Na Índia é denominada de Kankrej, pois era encontrada em grande quantidade na região de Kankej, território ao norte do estado de Gujarat (SANTIAGO, 1984, p. 193). É a raça-tronco do primeiro subtipo do primeiro grupo das raças indianas na classificação de Olver e também do primeiro grupo na classificação de Joshi e Phillips, como já visto. A origem do Kankrej não é unanimidade entre os especialistas. Há autores que crêem que a raça foi levado ao local que hoje habita pelas tribos arianas que invadiram a Índia há 3,5 mil anos (SILVA, 1947, p. 199). Para outros autores o Kankrej não foi introduzido pelos arianos, nem muito influenciado por estes. Tanto Olver (1938, citado por SANTOS, 2000, p. 444) quanto Joshi e Phillips (1954 citado por SANTOS, 2000, p. 444) crêem que o 59 Kankerj já habitava o vale do Indo, no atual Paquistão, quando as últimas tribos arianas invadiram a Índia. Esta teoria é baseada em achados arqueológicos como o famoso selo encontrado nas ruínas de Mahenjo-Daro, cidade ao norte da Índia, destruída há cerca de cinco mil anos. Neste selo é retratado um animal com características extremamente semelhantes aos da raça Kankrej. Também há achados arqueológicos que revelam que o Kankrej habitou a região da Mesopotâmia, localizada atualmente no Iraque (SANTIAGO, 1984, p. 193). O Kankrej habita, principalmente, a região semi-desértica do distrito de Kutch, no estado de Gujarat (SANTOS, 2000, p. 444; SANTIAGO, 1984, p. 193). Também pode ser encontrado próximo à cidade de Ahmedabad, também no estado de Gujarat e no distrito de Tharparkar, no estado de Sindh, no Paquistão. Estas regiões possuem índice pluviométrico entre 500 e 650 mm por ano e temperaturas entre 5 e 50ºC (SANTIAGO, 1984, p. 193). FIGURA 26 – Acaso S, touro da raça Guzerá. Fonte: ASSIS, 2006. A característica fenotípica mais marcante da raça são os chifres, muito desenvolvidos e simétricos, possuindo forma de lira ou torquês (SANTIAGO, 1984, p. 194). Segundo Bitencourt (2002, p. 106), a guzerá tem sido a principal raça bovina da Índia. Hoje, a maior parte do rebanho indiano é composta pela raça e suas variantes. Segundo Santos (2000, p. 450), o Kankrej ou Guzerá foi a primeira raça zebuína a entrar no Brasil, entre as que persistem, sendo trazida da Índia na década de 1870, pelo Barão de Duas Barras, logo dominando a pecuária nos cafezais fluminenses. Foi a raça de maior contingente até o início da década de 1920. A partir daí houve um grande declínio no número de animais desta raça, pois surgiu, nesta época, uma demanda 60 extrema sobre matrizes Guzerá, visando formar a nova raça daquela época, o Indubrasil (SANTOS, 2000, p. 450). É uma raça extremamente rústica. Entre 1979 e 1983, por exemplo, houve uma grande seca no nordeste brasileiro. Após este período só haviam sobrevivido os rebanhos bovinos compostos por Guzerá (BITENCOURT, 2002, p. 106). 8.2.4 Raça Indubrasil Segundo Santos (1998 citado por SANTOS, 2000, p. 445), o mestiço de Guzerá com Nelore dominou os primórdios da criação de Zebu no Brasil, desde 1890 até 1920. Com a introdução da raça Gir, entre 1911 e 1920, os produtos cruzados (Guzonel x Gir), então denominados apenas de Zebu, adquiriram seu aspecto definitivo, exibindo um grande porte, habilidade para longas caminhadas e matrizes eficientes. Segundo Santiago (1984, p. 219), o Hissar, o Mehwati, a Sindi e as raças do grupo Misore também participaram da formação da raça Indubrasil. Entusiasmados com o resultado do Indubrasil, os triangulinos visualizavam o Gir apenas como um meio para obtenção do novo tipo zebuíno (SANTOS, 1993, p. 84). A voragem dos cruzamentos entre as raças zebuínas culminou com o desaparecimento de algumas raças que adentraram o Brasil, como o Hissar e as raças do grupo Misore. As raças Nelore, Gir e Guzerá só não desapareceram graças a perseverança de um pequeno grupo de selecionadores (SANTIAGO, 1984, p. 221). FIGURA 27 – Genérico, touro da raça Indubrasil. Fonte: ALTA GENETICS DO BRASIL, 2006. 61 O sucesso desse cruzamento foi tão grande que, além de se espalhar pelo país inteiro, também incentivou duas exportações entre 1923 e 1924, para os Estados Unidos, com intenção de consolidar a raça Brahman e em 1946, o próprio Indubrasil foi exportado para aquele país e influenciando fortemente a raça americana (SANTOS, 2000, p. 445). A maioria dos fazendeiros do início do século não tinha conhecimento das características de cada raça e não conseguiam distinguir bem os zebuínos puros dos animais cruzados com taurinos. Assim, começou-se a dar preferência a exemplares de orelhas longas, barbela e umbigo avantajados e cupim volumoso, pois eram características particulares das raças zebuínas. Era a medida de defesa dos compradores que, assim agindo, tinham certeza de estar escolhendo animais puros e evitando a aquisição de mestiços (SANTIAGO, 1984, p. 219) Segundo Santos (2000, p. 445), até 1929, quando foi aprovado o nome de Indubrasil, a raça havia recebido vários nomes, entre eles: Induberaba, Induaraxá, Indubelém, Indugoiás e Induporã. Foi a primeira raça zebuína, formada por criadores brasileiros, com base no gado importado do continente asiático (SANTIAGO, 1984, p. 219). Lentamente começou-se uma campanha contra a raça. O argumento principal era que, sem a pureza genética, não se poderia manter um bom mestiço por longo tempo. Dizia-se que a raça já havia gasto suas virtudes obtidas pela heterose e que, agora, sem se praticar uma nova re-infusão de sangue zebuíno estaria fadada ao fracasso. Muitos acreditavam nessa conversa e voltaram a utilizar o Gir que atingia preços absurdos. Assim iniciou-se a grande queda do gigante Indubrasil (SANTOS, 1993, p. 88). O Indubrasil dominou a pecuária brasileira, desde 1925 até 1945. Em 1930 já passava de 15% do total de registros entre as raças zebuínas no Brasil, aumentando para 79,8% em 1940. Desde 1930, com a chegada de espetaculares produtos da raça Gir, diretamente da Índia, os criadores vinham praticando algumas re-infusões sobre os mestiços. Os produtos de primeira geração eram excelentes, mas, a partir daí, decresciam aceleradamente, não conseguindo fixar nem um tipo guzeratado, nem agirado (SANTOS, 1993, p. 93). Daí para frente, este índice caiu vertiginosamente, pois todos os bons resultados divulgados na pecuária mostravam ser a infusão de Gir o motivo principal de progresso (SANTOS, 1993, p. 93). A participação do Indubrasil no registro genealógico das raças zebuínas, em 1950, caía para apenas 32,05% (SANTOS, 1993, p. 101). Já em 1980 esta participação correspondia a apenas 3,7%. Entre as opiniões que tentam explicar tamanha queda está a que a raça estava restrita a criadores tradicionais, havendo pouca chance para o 62 surgimento de novos criadores, não se adaptando a um mundo cada vez mais dinâmico, que exige constantes renovações (SANTOS, 2000, p. 445). Atualmente, o hábitat está restrito ao Nordeste e a Minas Gerais, embora no restante do Brasil as vacas continuem sendo procuradas para servir como base de cruzamentos indiscriminados (SANTOS, 2000, p. 445). 8.2.5 Raça Kangayam É originário do distrito de Coimbatore, estado de Tamil Nadu, o qual fazia parte da antiga Presidência de Madras, na Índia (SANTOS, 2000, p. 446; SANTIAGO, 1987, p. 148). O Kangayam se enquadra no grupo de raças Misore, embora seja evidente, pelo seu maior porte quando comparado com as demais raças da Índia meridional, que possui em sua composição sangue de gado Ongole (SANTIAGO, 1987, p. 148). É raça especializada em transportes leves, trabalhando até 10 horas por dia e, como todas as raças do grupo Misore, é muito rústica e de baixa aptidão leiteira (SANTOS, 2000, p. 446). Muitos animais Kangayam foram importados no início do século, tendo sido absorvidos na formação da raça Nelore, contribuindo tanto na caracterização quanto na conformação da musculosidade (SANTOS, 2000, p. 453). FIGURA 28 – Touro da raça Kangayam. Fonte: ABCZ, [2007]d. Segundo Santos (2000, p. 453), também vieram alguns animais nas importações de 1962/1963 que se mantiveram em puros em propriedade de Sérgio Jacinto Costa, no Mato 63 Grosso do Sul, de João Batista Andrade, na Bahia, e de Rubico Carvalho, em São Paulo. Estes dois últimos rebanhos foram adquiridos por Benedito e Arlindo Drummond, e após estudos de DNA mitocondrial estão atualmente no Triângulo Mineiro (CANAL TORTUGA, [2001]; TOLEDO [2006]). 8.2.6 Raça Nelore A raça Nelore é descendente direta da raça Ongole, embora, para muitos autores não tenha sido influenciada apenas por esta raça. A formação da raça Nelore será abordada posteriormente, em capítulo próprio. Foi dado à raça o nome Nelore, pois era na província de Nelore onde se recolhiam os animais Ongole escolhidos pelos brasileiros, entre 1900 e 1920 e que posteriormente seriam importados (SANTOS, 2000, p. 454). O Ongole é originário da região de mesmo nome, hoje localizada no distrito de Prakasan, no estado de Andhra Pradesh, na Índia. É também encontrado na região de Madras, capital do estado de Tamil Nadu, ao sul de Andhra Pradesh (SANTIAGO, 1984, p. 153; SANTOS, 2000, p. 446). FIGURA 29 – Inriti da Terley, touro da raça Nelore. Fonte: ASSIS, 2006. O Ongole é classificado por Olver como sendo do segundo subtipo do primeiro grupo de raças zebuínas. Já Joshi e Phillips o classificam como sendo do segundo grupo 64 (SANTIAGO, 1987, p. 124). Nestes grupos, juntamente com a raça Hariana, é a raça de maior destaque (SANTIAGO, 1984, p. 153). O Ongole teria sido levado ao sul da Índia pelas tribos arianas, que invadiram a Índia há cerca de 3,5 mil anos (SILVA, 1947, p. 200). Atualmente na Índia, o Ongole continua sem grandes melhoramentos, uma vez que não se pratica seleção para corte naquele país. É, no entanto, um gado de grande porte, muito utilizado em tração e transportes pesados, além de ser figura constante dos concursos de força. Apesar disto, alguns autores crêem que a Índia continuará gerando bons espécimes, úteis ao Brasil (SANTOS, 2000, p. 446). A primeira entrada de animais Ongole no Brasil ocorreu em 1874, quando o Barão do Paraná adquiriu um casal desta raça em um zoológico de Londres, repetindo a compra em 1877. Já em 1878, Manoel Ubelhart Lemgruber comprou um lote no jardim zoológico de Hamburgo. A seguir passou a encomendar animais diretamente da Índia por empresas especializadas no fornecimento de animais para circos e zoológicos (SANTOS, 2000, p. 454). Logo no começo da história, o Ongole ou Nelore era cruzado com o Kankrej, aqui chamado de Guzerá, formando um “Guzonel” portentoso e muito rústico, que incentivou muita gente a escolher o Zebu (SANTOS, 2000, p. 454). Tamanho foi o sucesso deste cruzamento que em 1920 reduziu o rebanho nacional a poucos criadores e por pouco não desapareceu (SANTIAGO, 1984, p. 221). Em 1930, com a importação realizada por Ravísio Lemos, o Nelore ganhou um grande impulso, chegando à caracterização racial que seria homologada pelo Registro Genealógico. A partir de então o Nelore brasileiro consolidou uma fisionomia um pouco diferente do Ongole indiano, apresentado uma marrafa mais estreita, boa distribuição muscular, menor aptidão leiteira, chifres mais longos e consolidação de um andamento peculiar com passos mais curtos (SANTOS, 2000, p. 454). As importações do início da década de 1960 trouxeram animais exponenciais da Índia, provocando um acelerado melhoramento genético. Rapidamente, o Nelore chegou a 70% do total de zebuínos registrados no Brasil. A partir de então, a produção de carne deu um salto, aumentando o consumo per capita nacional e deixando saldo para exportações. Modernamente, os pecuaristas procuram avidamente mais tecnologias para aumentar o desfrute e a lucratividade, tendo sempre o Nelore como base (SANTOS, 2000, p. 454). 65 8.2.7 Raça Sindi É a raça mais popular entre todas as zebuínas leiteiras do mundo (RED SINDHI CATTLE, [2007]). É criada em 33 países asiáticos, africanos e americanos. É considerada a raça nacional do Paquistão (SANTOS, 2000, p. 446). É uma das raças mais importantes do terceiro grupo de raças zebuínos, segundo Olver e segundo Joshi e Phillips (SANTIAGO, 1987, p. 124). Alguns autores afirmam que o Sindi é originário da região de Kohistan, no estado de Sindi, no Paquistão (SANTIAGO, 1984, p. 229; SANTOS, 2000, p. 446). Entretanto, atualmente, o distrito de Kohistan está situado em North-West Frontier Province, também no Paquistão, local muito distante do estado de Sindi. Assim acredita-se que a origem do Sindi não seja na região de Kohistan, mas em algum local do estado de Sindi, o qual deu o nome à raça. FIGURA 30 – Suspiro E, touro da raça Sindi. Fonte: ALTA GENETICS DO BRASIL, 2007b. Segundo Camargo ([19--] citado por ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE SINDI-ABC SINDI, 2007), importador da raça em 1952, a raça se manteve em relativo estado de pureza racial, graças aos desertos que rodeiam o hábitat em que a raça se originou, isolando estas das demais raças. Segundo Santiago (1984, p. 229) em certas regiões, devido ao nomadismo de algumas tribos, recebeu influência de Gir em seu sangue. 66 Segundo Santos (2000, p. 446), do cruzamento entre o Sindi e o Gir ocorrida pela migração deste até a periferia do estado de Sindi, teria surgido o gado Sahiwal, considerado o mais leiteiro da Índia. A primeira entrada de gado Sindi no Brasil ocorreu em 1850 (SANTOS, 2000, p. 456), quando foi deixado um reprodutor, provavelmente da raça Sindi, na Bahia, para o Visconde de Paraguaçu (SANTIAGO, 1984, p. 233). Segundo Santiago (1984, p. 233) animais Sindi também devem ter chegado entre 1854 e 1856 e no início do século XX. Pela falta de conhecimento para distinguir as diversas raças zebuínas, o Sindi acabou desaparecendo. Em 1930, na importação realizada por Ravísio Lemos, aportaram no Brasil animais da raça Sindi, os quais, também confundidos com a raça Gir, foram vendidos a José Cesário de Castilho, o qual, mais tarde, reconheceu que este animais eram da raça Sindi (SANTIAGO, 1984, p. 233). Felisberto de Camargo, enfrentando forte oposição do Ministério da Agricultura e das Associações de Criadores, conseguiu trazer do Paquistão 31 animais Sindi, os quais foram destinados para o Instituto Agronômico do Norte e Escola de Piracicaba (SANTIAGO, 1984, p. 134). A raça Sindi se adaptou muito bem ao semi-árido nordestino, onde está sendo cada vez mais procurada pela sua excelente rusticidade e boa produção leiteira. 8.2.8 Raça Tabapuã FIGURA 31 – Popó da Pedra Riscada, touro da raça Tabapuã. Fonte: ASSIS, 2006. 67 Desde o início do século XX criadores cruzavam animais Guzerá e Nelore com o gado Mocho Nacional. Mas só na década de 1940 este cruzamento daria origem à raça Tabapuã (SANTOS, 1999, p. 544). Segundo Neves (1912 citado por FAUSER AGROFLORESTAL, [2007]), o Mocho Nacional originou-se do gado taurino mocho introduzido pelos colonizadores e era criado no Sudeste e em Goiás. No início da década de 1940, em meio a uma boiada enviada de Goiás para São Paulo, alguns animais mochos e com fenótipo de zebuíno se destacaram e chamaram a atenção de seu proprietário, Júlio do Valle. Este, ciente do interesse de Alberto Ortenblad pela pesquisa científica, deu-lhe de presente um touro zebuíno mocho de ótima conformação para corte, o qual foi denominado T-0 e foi a base que Alberto Ortenblad usou para formar a nova raça brasileira. Ortenblad era proprietário da Faz. Água Milagrosa, em Tabapuã, São Paulo e batizou a raça com o nome da cidade onde se localizava sua propriedade. Outros criadores se interessaram pelo gado zebuíno mocho, o qual começou a se expandir. A união destes criadores em um objetivo que idealizava um tipo semelhante homogeneizou o gado e possibilitou a aprovação do registro junto ao Ministério da Agricultura em 1969 (FAUSER AGROFLORESTAL, [2007]). 8.2.9 Variedades Mochas FIGURA 32 – Garrafa da Cal, vaca mocha da raça Gir. Fonte: FAZENDA CALCIOLÂNDIA, [2007]. 68 As raças Nelore e Gir possuem variedades mochas. O aparecimento destes espécimes sem chifres, segundo alguns estudiosos e muitos criadores, apareceu como resultado de mutações genéticas. Este argumento, apesar de possível, é altamente improvável, pois uma mutação que resulte em uma mudança tão drástica no fenótipo de um animal é extremamente rara. Antigamente esta teoria era mais aceita, pois se acreditava que a presença ou não de chifres fosse de monogênica (controlada por um par de genes), onde a característica mocha seria a dominante. Entretanto, estudos mais recentes afirmam que esta característica, em zebuínos, é poligênica (controlada por mais de um par de genes), o que torna a teoria de mutação ainda mais improvável (SILVA, 2007, p. 94). Além disso, na Índia, local onde os zebuínos habitam a milhares de anos e que conta com o maior contingente destes animais, nunca foi relatada a ocorrência de zebuínos mochos (SANTIAGO, 1984, p. 243). Com isso, podemos supor que as variedades mochas destas raças zebuínas tenham sido obtidas através de cruzamentos. Alguns autores crêem que os animais utilizados para conferir esta característica a certos zebuínos tenham sido animais crioulos mochos da raça conhecida como Mocho Nacional (SANTOS, 1999, p. 451; SANTIAGO, 1986, p. 419). Para a formação do Gir Mocho, também teriam sido utilizados animais da raça inglesa Red Poll (SANTOS, 1999, p. 376). FIGURA 33 – Liceu da Boticão, touro mocho da raça Nelore. Fonte: ALTA GENETICS DO BRASIL, 2005. 69 Segundo Santos (1999, p. 376), os primeiros animais mochos da raça Gir surgiram na década de 40. Os primeiros animais mochos da raça Nelore surgiram em meados da década de 50 (SANTIAGO, 1986, p. 419). As variedades Nelore Mocho e Gir Mocho foram aceitas pelo Registro Genealógico em 1969 e em 1976, respectivamente (SANTIAGO, 1986, p. 419; SANTOS, 1999, p. 376). 70 9 A FORMAÇÃO DA RAÇA NELORE A raça Nelore é descendente direta da raça Ongole, embora, para muitos autores não tenha sido influenciada, no Brasil, apenas por esta raça. O Ongole é classificado por Olver e por Joshi e Phillips juntamente com as demais raças do Grupo Branco-Cinza do Norte. Estas raças têm em comum a face estreita, pelagem branca ou cinza claro, chifres curtos, perfil ligeiramente convexo e com arcadas orbitárias não salientes (SANTIAGO, 1987, p. 126). O Ongole não é uma raça que permaneceu isolada e se manteve pura. Segundo alguns autores, as raças que mais influenciaram a formação do Ongole foram as pertencentes ao Grupo Branco-Cinza do Norte, do qual o próprio Ongole faz parte (JOSHI e PHILLIPS, 1953 citado por SANTOS, 1993, p. 10). A maioria dos autores crê que o gado Branco-Cinza não seja nativo do subcontinente indo-paquistanês, tendo sido ali introduzido pelos povos pastores, denominados arianos, que invadiram a Índia há 3,5 mil anos. Esse argumento fica mais plausível quando se observa que a distribuição dessas raças coincide com as rotas e o deslocamento das tribos arianas no território paquistanês e indiano (SANTIAGO, 1987, p. 129). O gado dos arianos, ao se dispersar por extensas regiões do Paquistão e da Índia, sob condições diversas de clima, solo e agricultura, foi-se diferenciando, tendo dado origem a diversos tipos ou raças geográficas, mas apresentando todas elas alguns traços comuns. Consideram-se, por isso, as raças Ongole, Rath, Bhagnari e Gaolao como simples variedade da raça-tronco, a Hariana (SANTIAGO, 1987, p. 129). Além do Ongole, segundo a maioria dos autores, ser descendente da raça Hariana e de todas as outras raças do Grupo Branco-Cinza, algumas raças do grupo Misore, segundo muitos especialistas, também participaram de sua formação (SANTOS, 1993, p. 169). 9.1 Raças do grupo branco-cinza claro de chifres curtos Neste grupo está o gado levado pelos arianos ao Paquistão e à Índia há cerca de 3,5 mil anos. Estes animais têm em comum os chifres curtos, o perfil ligeiramente convexo, arcadas orbitárias não salientes e pelagem branca ou cinza. As raças Ongole e Hariana são as mais características do grupo. 71 9.1.1 Raça Ongole Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173): Cabeça: Tamanho moderado e estreita; Fronte: Plana ou semiconvexo, pouca “goteira” e chanfro estreito; Chifres: Curtos, grossos na base, normalmente saindo dos lados. Podem ser para cima e para fora e as pontas são rombudas; Orelhas: Curtas, lanceoladas e não pontiagudas; Marrafa e Nimburi: Marrafa plana, com pouco ou sem nimburi; Pele e Pelagem: Pele solta, flexível. Pelagem branca, admitindo manchas semelhantes às encontradas no gado do grupo Misore; Cauda: Tamanho moderado, com vassoura a meia distância entre o jarrete e o chão; Giba: Grande, situada pouca à frente da cernelha; Barbela: Tamanho moderado; Bainha: Tamanho moderado; Corpo: Grande, longo, alto, pescoço curto; Pureza genética: Faz parte do Grupo Branco-Cinza do Norte. É baseada na raça Hariana, com influência de outras raças do Grupo Branco-Cinza do Norte e raças do Sul e Sudoeste da Índia (Grupo Misore). FIGURA 34 – Touro da raça Ongole, Índia. Fonte: RAO, [2007]. 72 Segundo Santiago (1986, p. 81), não há grandes diferenças entre o padrão racial do Ongole indiano e do Nelore brasileiro. O Ongole é originário da região de mesmo nome, hoje localizada no distrito de Prakasan, no estado de Andhra Pradesh, na Índia. É também encontrado na região de Madras, capital do estado de Tamil Nadu, Índia (SANTIAGO, 1984, p. 153; SANTOS, 2000, p. 446). Segundo Silva (1947, p. 225), a razão para que nesta região sejam encontrados os melhores espécimes da raça não está ligado apenas à qualidade do solo, mas também é resultado do cuidado com que os criadores da região têm com estes animais, prezando muito pela pureza racial. Na opinião de muitos especialistas o Ongole sofreu infusão de sangue, além das raças do seu próprio grupo, das raças do Grupo Misore e, até, do gado nativo indiano (SILVA, 1947, p. 225). Este, inclusive, poderia ser o responsável pela variação do tom de sua pelagem e inconstância na coloração dos chifres do Ongole, características estas que até servem para diferenciar esta raça das outras. Santos (1993, p. 169) considera que o Ongole é “um coquetel que deu certo, formado por cruzamentos de diversas raças na Índia”. Uma das características mais marcantes da raça são os chifres. Segundo Silva (1947, p. 225), as vacas Ongole mais puras são aquelas que possuem chifres em formato de paus negros, fincados, sem simetria, no ocipital da fêmea, sendo completamente destituído de nimburi (protuberância óssea no topo e centro da cabeça). Segundo Santiago (1986, p. 81), são animais muito eficientes tanto para o trabalho, quanto para a produção leiteira. São animais dóceis, fortes e muito úteis para o trabalho pesado, como puxar arados e carros. Apesar dos esforços de alguns criadores, a raça Ongole está se degenerando pela contínua miscigenação e falta de controle que há em seu hábitat (SILVA, 1947, p. 225; SANTOS, 1993, p. 169). Além disso, não se pratica seleção para corte naquele país, apesar de estar figurando constantemente nos concursos de força. Apesar disto, alguns autores crêem que a Índia continuará gerando bons espécimes, úteis ao Brasil (SANTOS, 2000, p. 446). 9.1.2 Raça Bhagnari Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173): Cabeça: Largura média; Fronte: Plana, sem goteira; Chifres: Saindo lateralmente, curtos e grossos, para os lados; 73 Orelhas: Pequenas e largas, com extremidades arredondadas e lanceoladas; Marrafa e Nimburi: Normalmente sem nimburi. Marrafa tendendo à horizontal; Pele e Pelagem: Pele branca ou cinza. Nos macho a cabeça, giba, pescoço e posterior ficam escuros; Cauda: Curta, com vassoura a meia distância entre o jarrete e o chão; Giba: Tamanho moderado, situada à frente da cernelha; Barbela: Tamanho mediano; Bainha: Tamanho mediano; Corpo: Longo, compacto; Pureza genética: Faz parte do Grupo Branco-Cinza do Norte. FIGURA 35 – Vaca da raça Bhagnari. Fonte: OLVER, 1938. A raça Bhagnari é originária do território Bhag, no estado de Balochistan e também habita ao norte de Jacobabad, no estado de Sindh, ambos no Paquistão (SANTIAGO, 1987, p. 132). Foi formado nesta região e se manteve sem grande intromissão de sangue de outras raças (SILVA, 1947, p. 234). São animais de pelagem clara, sendo que nos machos adultos o pescoço, as espáduas e a giba podem ser quase pretas (SANTIAGO, 1987, p. 132). Foi selecionada para tração, mas, segundo Silva (1947, p. 234), mesmo sendo muito parecidas com a Hariana e o Ongole, apresenta aptidão leiteira melhor que estas. Mesmo nunca tendo sido selecionada para produção de carne, Joshi e Phillips (1954 citado por SANTOS, 1993, p. 174) concluem 74 que “a julgar por sua forma, grande peso vivo, e a tendência a engordar mesmo com pouca alimentação, poderia ser selecionada para esta finalidade”. A raça Bhagnari, segundo comenta Santos (1993, p. 174), pode ter influenciado na formação da raça Tharparkar. A semelhança entre a raça Bhagnari e a Ongole é tanta que Santos (1993, p. 174) afirma que, ainda hoje, muitos estudiosos confundem animais Bhagnari com legítimos animais Ongole, embora a distância entre o hábitat dessas duas raças esteja separado por mais de 2.000 km. É uma raça de muitas qualidades e que inclusive arrebanhou adeptos que incentivavam a importação do Bhagnari ao Brasil (SILVA, 1947, p. 234). 9.1.3 Raça Gaolao Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173): Cabeça: Comprida; Fronte: Perfil plano ou ligeiramente convexo (SANTIAGO, 1987, p. 132), com possibilidade de goteira, chanfro saliente semi-convexo até perto do focinho, abaulado; Chifres: Fincados ao lado do crânio, curtos, grossos e com pontas rombudas. Dirigem-se para fora e para trás; Orelhas: Médias, extremidades arredondadas e lanceoladas; Marrafa e Nimburi: Marrafa semi-convexa. Sem nimburi; Pele e Pelagem: Pelagem branca. Os machos são mais escuros na cabeça, pescoço, giba e posterior; Cauda: Curta, com vassoura pouco abaixo do jarrete; Giba: Grande, pouco à frente da cernelha; Barbela: Volumosa; Bainha: Tamanho mediano; Corpo: Longo, estreito e forte; Pureza genética: Faz parte do Grupo Branco-Cinza do Norte. É uma raça encontrada por grande parte da Índia, mas se concentra mais na região central daquele país, principalmente nos estados de Maharashtra e Madhya Pradesh, ambos na Índia (SANTIAGO, 1987, p. 132). 75 Apesar de apresentar grande semelhança com o Ongole, o Gaolao é muito mais ativo (SANTIAGO, 1987, p. 132; JOSHI e PHILLIPS, 1954 citado por SANTOS, 1993, p. 176). Graça a semelhança que há entre as raças Ongole, Gaolao e Bhagnari, estas são consideradas como parentes na Índia (SANTOS, 1993, p. 212) São animais de altura média, corpo leve, com tendência a ser estreitos e compridos, com cabeça estreita e comprida, alargando-se na base dos chifres (SANTIAGO, 1987, p. 132). Segundo Santos (1993, p. 173), o Gaolao apresentava uma boa produção leiteira, mas, como a seleção desta raça ultimamente se voltou apenas para a tração, a aptidão leiteira foi prejudicada. FIGURA 36 – Touro da raça Gaolao, Índia. Fonte: OLVER, 1938. Já para Santiago (1987, p. 132), o Gaolao foi selecionado para tração rápida, mas nas últimas décadas tem-se dado grande importância para o melhoramento leiteiro da raça. A opinião de Silva (1947, p. 222) sobre a raça é contundente, considerando o Gaolao como uma péssima raça com relação a estrutura de carcaça. A única característica que este autor vê como interessante é a sua pelagem que, segundo ele é “[...] branco-prata, sedosa e macia como nenhuma outra.”. Para ele, a raça nada tem que a faça recomendável aos ocidentais e diz: “Nós, criadores do Brasil, deixamos em paz o Gaolao, lá onde ele está, bem no centro-norte da Índia e onde tanto o estimam, apesar desta estima ser para nós um enigma.” Para Santos (1993, p. 171, 1993, p. 212), pode-se considerar que a aparição de cupins grandes, pregas volumosas sobre os olhos e/ou perfil muito convexo nos animais 76 Ongole ou Nelore seja creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue da raça Gaolao. 9.1.4 Raça Hariana Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173): Cabeça: Longa e estreita; Fronte: Perfil plano; Chifres: Normalmente curtos e grossos. Saem lateralmente para fora, para cima, um pouco para frente e para dentro, com pontas rombudas; Orelhas: Pequenas ou médias, lanceoladas, nunca pendentes, com extremidades não pontiagudas; Marrafa e Nimburi: Marrafa estreita, horizontal. Nimburi bem saliente no centro da marrafa, entre os chifres; Pele e Pelagem: Pele macia, flexível. Pelagem branca, ou cinza claro, sendo que nos machos é cinza escuro na cabeça, pescoço, giba e posterior; Cauda: Fina, com vassoura a meia distância entre o jarrete e o chão; Giba: Pequena, um pouco adiante da cernelha; Barbela: Pequena; Bainha: Pequena; Corpo: Medianamente longo e profundo, com pescoço curto e forte; Pureza genética: Considerado a base do Grupo Branco-Cinza do Norte da Índia. FIGURA 37 – Vaca da raça Hariana, Índia. Fonte: OLVER, 1938. 77 A raça Hariana constituiu a raça-tronco do gado branco-cinza (SANTIAGO, 1987, p. 133). A raça é encontrada em forma mais ou menos pura nos estados de Haryana, Punjab, Rajasthan e Uttar Pradesh, todos na Índia. São animais compactos e bem proporcionais. Possuem cabeça comprida e estreita, mantendo-a elevada ao caminhar. Os chifres são finos e curtos, saindo horizontalmente, curvando-se para cima e para dentro. No centro da marrafa possuem uma acentuada proeminência óssea, o nimburi que é praticamente uma característica racial (SANTIAGO, 1987, p. 133; SANTOS, 1993, p. 175). São de pelagem branca ou cinza clara, focinho largo com espelho nasal preto, olhos grandes e brilhantes. Há relatos de animais com chifres em “forma de banana”, mas isso não agrada aos criadores (SANTOS, 1993, p. 175). As orelhas não são muito pequenas, um pouco pendentes e muito móveis (SILVA, 1947, p. 219). A raça Hariana tem tal soma de caracteres idênticos aos da raça Ongole que só os conhecedores profundos das duas raças estão aptos a distinguir vacas quando juntas em um mesmo curral (SILVA, 1947, p. 219). Segundo Silva (1993, p. 175), em termos de aparência, o Ongole tem entre 50 a 80% de similaridade com a Hariana. Entretanto há algumas características que podem ajudar nesta diferenciação. A Hariana tem a cara mais comprida e umbigo e barbela menor que o Ongole. A pelagem da Hariana é sempre branca ou cinza claro. Já a pelagem mais comum do Ongole é branca com nuvens escuras. Mas um dos pontos mais importantes para a diferenciação destas raças é, sem dúvida, o nimburi. Segundo Silva (1947, p. 219), “Hariana sem nimburi não é puro sangue, o mesmo se dando com o Ongole que tiver nimburi”. Os bois desta raça são poderosos animais de trabalhos e as vacas produzem boa qualidade de leite, sendo muitas delas enviadas, principalmente, aos grandes centros do nordeste indiano. Algumas destas vacas não voltam para seu local de origem, formando bons núcleos desta raça fora de seu hábitat natural, os quais, muitas vezes são considerados como sendo da raça Ongole. Segundo Tibery (1989 citado por SANTOS, 1993, p. 133), a raça Hariana é muito interessante para o Brasil. Assim, pode-se considerar que a aparição do nimburi nos animais Ongole ou Nelore seja creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue da raça Hariana. 78 9.1.5 Raça Krishna Valley Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173): Cabeça: Pequena a média; Fronte: Perfil plano ou semi-convexo; Chifres: Laterais, curtos e grossos, para fora, para cima e para dentro; Orelhas: Pequenas, lanceoladas e arredondadas; Marrafa e Nimburi: Marrafa plana com pouco ou sem nimburi; Pele e Pelagem: Pelagem entre branco e cinza; Cauda: Tamanho mediano, com vassoura entre o jarrete e o chão; Giba: Grande, situado pouco a frente da cernelha; Barbela: Volumosa; Bainha: Tamanho médio; Corpo: Longo, massivo e com peito largo; Pureza genética: Formado pela raça Hariana com influência do gado Misore. FIGURA 38 – Touro da raça Krishna Valley, Índia. Fonte: NATIONAL DAIRY RESEARCH INSTITUTE, 2006a. É originária na região de Bombaim, também conhecido como Mumbai, no estado de Maharashtra, e na região de Hyderabad, no estado de Andhra Pradesh, Índia (SANTIAGO, 1987, p. 133). 79 Foi formada no fim do século XIX pelos rajás do sul de Maharashtra, que objetivavam criar um animal de grande porte para os trabalhos agrícolas nos solos negros da região. Para atingirem este objetivo cruzaram animais das raças Gir e Ongole. Alguns autores também citam que a raça Kankrej participou de sua formação e a base de gado local utilizada seria do tipo Misore. Por ser oriundo de cruzamentos recentes, não mantêm um padrão fenotípico muito constante (JOSHI e PHILLIPS, 1954 citado por SANTOS, 1993, p. 210; SANTIAGO, 1987, p. 133). São animais branco ou cinza claro, sendo que os machos adultos apresentam tonalidades mais escuras nos terços anterior e posterior. Algumas vacas também podem apresentar pelagem parda e branca ou branca e preta. O perfil da fronte é ligeiramente convexo e os chifres são pequenos e recurvados. Possuem orelhas de tamanho médio e o quarto posterior bem mais desenvolvido que o anterior (SANTIAGO, 1987, p. 133). É considerado por muitos especialistas como a raça de melhor carcaça da Índia(SILVA, 1947, p. 86). São animais muito úteis para tração pesada, sendo muito utilizados no cultivo de solos negros e transporte de cargas pesadas. Apesar de nunca ter sido selecionado para produção leiteira, as vacas têm boa aptidão para esta característica, graças a infusão de sangue Gir e Ongole (SANTIAGO, 1987, p. 133). Segundo Tibery (1989 citado por SANTOS, 1993, p. 138), “[...] a raça Krishna Valley pode ser considerada extinta.” Para Santos (1993, p. 171), pode-se considerar que a aparição de cupins muito grandes e orelhas com pontas mais afiladas nos animais Ongole ou Nelore seja creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue da raça Krishna Valley. 9.1.6 Raça Nagori Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173): Cabeça: Longa e estreita; Fronte: Perfil normalmente plano; Chifres: Médios, para fora, para cima, com curvas nas pontas para dentro. Fincados ao lado do crânio; Orelhas: Compridas e estreitas; Marrafa e Nimburi: Marrafa plana. Pouco ou muito nimburi; Pele e Pelagem: Pele fina. Pelagem branca; 80 Cauda: Curta, com vassoura pouco abaixo do jarrete; Giba: Média, situado pouco adiante da cernelha; Barbela: Pequena; Bainha: Pequena; Corpo: Longo, profundo, peito moderado e pescoço curto; Pureza genética: Faz parte do Grupo Branco-Cinza do Norte, mas houve infusão de sangue de raças do sul da Índia, de pelagem cinza. FIGURA 39 – Vaca da raça Nagori, Índia. Fonte: OLVER, 1938. O gado Nagori é encontrado no antigo estado de Jodhpur, agora integrado no estado de Rajasthan, Índia. Apesar de ser classificado como sendo do Grupo Branco-Cinza do Norte, Olver acentua que a raça Nagori apresenta sangue do gado cinza e chifres em forma de lira (SANTIAGO, 1987, p. 135). Segundo Silva (1947, p. 212), o Nagori tem muita semelhança fenotípica com o Kankrej. Como o seu local de origem é muito próximo do hábitat da raça Hariana e da raça Kankrej, alguns especialistas crêem que o Nagori seja descendente destas duas raças (SANTOS, 1993, p. 135; SANTIAGO, 1987, p. 135). A ocorrência de períodos de fome, determinando grandes migrações do rebanho em busca de alimento, pode ter auxiliado estes cruzamentos. Santos (1993, p. 175), baseado nas pesquisas de Harbans Singh (citado por SANTOS, 1993, p. 175) que mostram certo relacionamento entre as raças Ongole e Kankrej, sugere que esta proximidade tenha sido causada pela infusão de sangue Nagori na formação do Ongole. Em geral são animais grandes, altos, ativos e dóceis, com ossatura forte. Possuem cabeça comprida e estreita, fronte plana e pouco proeminente. As orelhas são grandes e caídas. 81 Os chifres são de tamanho médio e saem dos ângulos externos da marrafa dirigindo-se para cima e depois para dentro, nas pontas (SANTIAGO, 1987, p. 135). Segundo Santiago (1987, p. 135), entraram no Brasil uma escala apreciável de animais Nagori, os quais foram absorvidos pela raça Guzerá. Para Tybery (1989 citado por SANTOS, 1993, p. 138) a raça Nagori não tem mais futuro na Índia. 9.1.7 Raça Rath Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173): Cabeça: Tamanho mediano; Fronte: Perfil plana; Chifres: Laterais, pequenos, um pouco para frente e para dentro nas pontas; Orelhas: Pequenas, pontas arredondadas e lanceoladas; Marrafa e Nimburi: Marrafa plana. Nimburi moderado; Pele e Pelagem: Pelagem branca. Cabeça, pescoço, giba e posterior escuros nos machos adultos; Cauda: Curta, com vassoura a meia distância entre o jarrete e o chão; Giba: Média, pouco à frente da cernelha; Barbela: Pequena; Bainha: Pequena; Corpo: Comprimento moderado e bem arqueado; Pureza genética: Formado a partir da raça Hariana, com influência do Nagori e Mewati. FIGURA 40 – Touro da raça Rath, Índia. Fonte: OLVER, 1938. 82 O Rath é encontrado de forma mais pura na região próxima ao distrito de Alwar, no estado de Rajasthan, Índia. Fora desta região também podem ser encontrados animais da raça Rath, mas provavelmente já com influência de outras raças, como Hariana, Nagori e Mehwati (SANTIAGO, 1987, p. 136; SANTOS, 1993, p. 175). É muito semelhante à raça Hariana, mas com um porte menor, sendo assim, de mais fácil manutenção. Os animais jovens apresentam, frequentemente, nimburi, o qual desaparece quando adultos. São bons animais de tração e muito longevos. Algumas vacas são boas produtoras de leite, mas raramente o período de lactação ultrapassa 200 dias (SANTIAGO, 1987, p. 136). Segundo Santos (1993, p. 175), o Rath, em sua própria região, é considerado “gado de pobre”, enquanto que o Nagori é considerado “gado de rico”. Este classificação é, provavelmente, decorrente do porte dos animais, pois apenas criadores com mais condições poderiam manter animais maiores como os da raça Nagori, enquanto que o Rath pode ser mantido em condições muito mais adversas. Para Silva (1947, p. 221) o Rath é considerado o “boi do pobre” graças a sua sobriedade, comendo tudo o que lhe é oferecido e vivendo sempre em bom estado. 9.2 Gado de Misore Algumas raças do Grupo Misore também contribuíram com sua genética para a formação do atual Ongole e Nelore (SANTOS, 1993, p. 169; SILVA, 1947, p. 251; SANTIAGO, 1986, p. 405). O tipo Misore forma o segundo grupo de raças indianas na classificação de Olver e o quarto grupo na classificação de Joshi e Phillips (SANTIAGO, 1987, p. 126). Este gado tem sua origem no antigo estado de Misore, atual estado de Karnataka, na Índia meridional, região de altitude variando entre 550 a 1.000 metros e cortada por uma cadeia de colinas e vales profundos (SANTIAGO, 1987, p. 145). Segundo Silva (1947, p. 251), o gado tipo Misore não é bom produtor de carne, nem de leite. Segundo este autor, o Grupo Misore foi selecionado, por diversas gerações de marajás, única e exclusivamente para tração rápida gerando “o melhor bovino para tração existente sobre a terra”. Segundo Santos (1993, p. 124), a própria mãe de Karvadi Imp., um dos mais famosos touros Ongole importados ao Brasil, possuía traços do tipo Misore em sua caracterização. 83 Já o Nelore brasileiro, também sofreu influência de raças do tipo Misore, que entraram em quantidade apreciável durante o primeiro período de importação (SANTIAGO, 1986, p. 405). Assim, podemos considerar que o Nelore brasileiro sofreu infusão de sangue Misore tanto antes da importação, na formação do Ongole, quanto após chegar ao território nacional, através dos exemplares que aportaram em nossas terras. Saber quais as raças do tipo Misore que influenciaram o Nelore no Brasil não é tarefa fácil, pois elas produzem bezerros muito semelhantes quando cruzados com a raça Ongole (SANTOS, 1993, p. 211). Mas, provavelmente, as quatro raças do tipo Misore que mais participaram da formação do Ongole e do Nelore foram o Amrit-Mahal, o Kangayam, o Hallikar e o Khillari (SANTOS, 1993, p. 173). Para Santos (1993, p. 253), pode-se considerar que a aparição de marrafas muito estreitas, carcaças mais magras, goteiras muito pronunciadas e perfis de fronte muito convexos nos animais Ongole ou Nelore seja creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue das raças do tipo Misore. 9.2.1 Raça Amrit-Mahal Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173): Cabeça: Estreita; Fronte: Proeminente no perfil e com goteira; Chifres: Fincados no topo do crânio. Longos, para trás seguindo ao lado do pescoço, para cima e com pontas finas; Marrafa e Nimburi: Chifres quase justapostos, sem chance de nimburi; Pele e Pelagem: Pelagem cinza, manchas claras na face e barbela. Pele sem elasticidade e de cor escura; Cauda: Fina, com vassoura pouco abaixo do jarrete; Giba: Média, pouco a frente da cernelha; Barbela: Bem desenvolvida; Bainha: Muito reduzida; Corpo: Compacto e bem arqueado; Pureza genética: Pertence ao Grupo Misore. Segundo Silva (1947, p. 251), o Amrit-Mahal é o expoente máximo do gado de Misore. Alguns governantes do antigo estado de Misore, atual estado de Karnataka, Índia, reuniram, entre os anos 1500 e 1600, as melhores vacas leiteiras da região e iniciaram uma 84 seleção que visava a produção de leite e, principalmente, a tração rápida, objetivando o transporte de equipamento militar (SANTIAGO, 1987, p. 145; SANTOS, 1993, p. 210; SILVA, 1947, p. 251). Os machos e as fêmeas chamaram muito a atenção durante o século XIX devido à resistência e velocidade da marcha, podendo percorrer 160 km em dois dias e meio de marcha (SANTOS, 1993, p. 210). Por este motivo era comparado, por vários pesquisadores como sendo o correspondente ao Cavalo Árabe dos bovinos (SILVA, 1947, p. 251). FIGURA 41 – Touro da raça Amrit-Mahal, Índia. Fonte: NATIONAL DAIRY RESEARCH INSTITUTE, 1999. O nome Amrit-Mahal significa “departamento do leite” (SANTOS, 1993, p. 210), mas, ironicamente, as vacas apresentam muito pouca aptidão leiteira (SANTIAGO, 1987, p. 145; SILVA, 1947, p. 251). Possui pelagem cinza, variando do quase branco ao quase negro. A cara e a barbela apresentam manchas de um tom branco. O cupim, as extremidades dos membros e a cauda são pretos. Não são animais dóceis, podendo tornar-se perigosos quando não domesticados (SANTIAGO, 1987, p. 145). 9.2.2 Raça Hallikar Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173): Cabeça: Longa e estreita; Fronte: Muito proeminente no perfil. A goteira chega perto do focinho. Chanfro abaulado; 85 Chifres: Longos, emergindo do topo do crânio. Para trás, ligeiramente para cima e sobre o pescoço; Orelhas: Curtas, lanceoladas e pontudas; Marrafa e Nimburi: Chifres quase justapostos. Sem nimburi; Pele e Pelagem: Coloração cinza, às vezes até preta. Manchas claras na face, barbela e ventre; Cauda: Fina, com vassoura pouco abaixo do jarrete; Giba: Tamanho moderado, pouco a frente da cernelha; Barbela: Tamanho moderado; Bainha: Muito reduzida; Corpo: Compacto e bem arqueado; Pureza genética: É o tipo mais característico do Grupo Misore. FIGURA 42 – Vaca da raça Hallikar, Índia. Fonte: NATIONAL DAIRY RESEARCH INSTITUTE, 2006b. É originário dos distritos de Tamkur, Hassan e Dharwar, todos no estado de Karnataka (SANTIAGO, 1987, p. 148). Segundo Silva (1947, p. 258), nesta região está localizado a sub-tribo de Hallikar, a qual deu origem ao nome da raça. Segundo o mesmo autor, muitos consideram que o Amrit-Mahal seja o ascendente do Hallikar. Possui tamanho médio, corpo compacto e musculoso. A fronte é convexa e uma acentuada goteira. As orelhas são pequenas e pontiagudas, geralmente mantidas firmes em posição horizontal. É freqüente a aparição de animais com pele rósea. Não há um dimorfismo sexual muito acentuado na raça (SANTIAGO, 1987, p. 148). Segundo Santos (1993, p. 209), 86 os pontos mais fáceis para solucionar este problema são a giba e os chifres, sendo, respectivamente, menores e mais finos nas fêmeas. Segundo Santiago (1987, p. 148), a Hallikar é a mais apreciada raça de tração da Índia. É um gado forte, inteligente e rápido, mas as vacas não são boas produtoras de leite. É um gado extremamente apreciado em sua região (SILVA, 1993, p. 209). Segundo Santos (1993, p. 209), alguns criadores chegam a andar 90 a 160 km, a pé, para levar suas vacas para serem cobertas por touros famosos. Teria sido o primeiro gado a ter tido contado com gado do Grupo Branco-Cinza do Norte, sendo, então, o primeiro a influenciar o Ongole (SANTOS, 1993, p. 209). Para Santos (1993, p. 171), pode-se considerar que a aparição de orelhas mais curtas com pontas afiladas e goteiras mais pronunciadas nos animais Ongole ou Nelore seja creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue da raça Hallikar. 9.2.3 Raça Kangayam Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173): Cabeça: Média; Fronte: Suavemente proeminente no perfil. Fronte plana. Chifres: Fortes, para cima, para fora e para frente, com pontas finas para dentro. Nos adultos as pontas chegam a se tocar. Emergem no topo da cabeça; Orelhas: Pequenas, lanceoladas, pontudas; Marrafa e Nimburi: Marrafa estreita, plana ou até sub-concava. Sem nimburi; Pele e Pelagem: Pele fina, coloração cinza; Cauda: Tamanho moderado, com vassoura pouco abaixo do jarrete; Giba: Tamanho médio, pouco a frente da cernelha; Barbela: Pequena; Bainha: Muito curta; Corpo: Medianamente longo, focinho grande e amplo posterior; Pureza genética: Pertence ao Grupo Misore, mas tem leve influência do Grupo Branco-Cinza do Norte. É originário da região de Kangayam, localizado no distrito de Coimbatore, no antigo estado de Madras, atualmente conhecido como Tamil Nadu, Índia (SILVA, 1947, p. 261; SANTOS, 1993, p. 210; SANTIAGO, 1987, p. 148). 87 O Kangayam é classificado junto ao gado do tipo Misore, mas, em sua formação, também participou o Grupo Branco-Cinza do Norte. A raça deste ramo que, provavelmente, participou da formação do Kangayam foi o Ongole (PHILLIPS 1944 citado por SANTOS, 1993, p. 210; SILVA, 1947, p. 261). Esta mescla seria a responsável pelo maior porte que o Kangayam possui comparativamente às demais raças do tipo Misore (SANTIAGO 1987, p. 148). FIGURA 43 – Touro da raça Kangayam, Índia. Fonte: NATIONAL DAIRY RESEARCH INSTITUTE, 2006c. Segundo Santiago (1987, p. 148), há duas variedades dentro da raça, diferenciadas no porte, mas de ambas ativas, fortes, com corpo curto e compacto. Possui cabeça de tamanho médio e fronte ligeiramente convexa. As orelhas são pequenas, eretas e pontiagudas. São animais dóceis e trabalhadores, sendo muito estimados para todo o tipo de tração. Segundo Silva (1947, p. 261), os animais Kangayam conservam-se em bom estado sem muita necessidade nutricional e trabalham no campo até os 14 anos. O Kangayam, segundo Santos (1993, p. 210), teria contribuído na formação do Ongole. Esta influência teria feito com que os chifres desta raça se voltassem para dentro e, às vezes, até para frente. Também teria influenciado o Nelore brasileiro, mudando alguns detalhes no crânio desta raça quando comparada com o Ongole. Para Santos (1993, p. 171), pode-se considerar que a aparição de orelhas mais curtas com pontas afiladas e goteiras mais pronunciadas nos animais Ongole ou Nelore seja creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue da raça Kangayam. 88 9.2.4 Raça Khillari Características morfológicas (SANTOS, 1993, p. 173): Cabeça: Massiva e estreita; Fronte: Pouco proeminente e com pouca goteira; Chifres: Emergem do topo do crânio. São longos, para cima, para trás e com pontas finas; Orelhas: Pequenas, lanceoladas e pontudas; Marrafa e Nimburi: Os chifres nascem justapostos. Sem nimburi; Pele e Pelagem: Coloração do cinza ao branco; Cauda: Curta, com vassouro pouco abaixo do jarrete; Giba: Grande, pouco a frente da cernelha; Barbela: Volumosa; Bainha: Curta; Corpo: Longo e com costelas arqueadas; Pureza genética: Descendente do Amrit-Mahal, com influência do Grupo Branco-Cinza do Norte. FIGURA 44 – Touro da raça Khillari, Índia Fonte: OLVER, 1938. É criada em uma vasta região, que compreende o estado de Maharashtra, Karnataka e todo o planalto do Deccan, na região central e sul da Índia (SANTIAGO, 1987, p. 149). Diferentemente das demais raças, o nome que deu origem à raça não deriva de uma tribo ou região. Segundo Santos (1993, p. 211), Khillari significa apenas “gado de vaqueiro”. 89 Para alguns especialistas, o Khillari é descendente do Amrit-Mahal (SANTOS, 1993, p. 173; SILVA, 1947, p. 258). Já segundo Santiago (1987, p. 149) e Joshi e Phillips (1954 citado por SANTOS, 1993, p. 211), o Khillari seria descendente do Hallikar. Mas todos estes citam que o Khillari seria formado por uma raça do Grupo Misore e também teria sido influenciada pelo Grupo Branco-Cinza do Norte. Segundo Silva (1947, p. 258), o Gir da atualidade teria sido influenciado pelo Khillari. Esta sugestão é baseada em alguns detalhes fenotípicos que muitos animais da raça Gir apresentam atualmente, como a cara chuviscada e a barbela muito desenvolvida, características marcantes da raça Khillari. Por ser, até hoje, muito utilizado no cruzamento com o Ongole, várias características do Khillari são encontradas no Ongole moderno indiano (SANTOS, 1993, p. 211). É um animal compacto e harmonioso, semelhante a um cilindro maciço. A pelagem predominante é a branco-cinza, sendo que os machos possuem as partes anterior e posterior mais escuras. Frequentemente surgem animais com manchas brancas ou cinzentadas na cara (SANTIAGO, 1987, p. 149). São animais muito apreciados pela sua potência e rapidez na tração, podendo percorrer grandes distâncias sem apresentar sinais de cansaço (SANTIAGO, 1987, p. 149). Também podem ser empregados em trabalhos pesados (SILVA, 1947, p. 258). Quando novo é um dos zebuínos mais rebeldes e difíceis de ser domado (SILVA, 1947, p. 258). As vacas, como as demais do Grupo Misore, não são boas leiteiras (SANTIAGO, 1987, p. 149). Tibery (1989 citado por SANTOS, 1993, p. 138) considera o Khillari, juntamente com o Ongole, Gir, Kankrej, Sindi, Hariana e Kangayam, as únicas raças indianas que interessam para o Brasil. Diz ainda que “[...] todas as outras podem desaparecer à vontade, pois não farão falta.” Para Santos (1993, p. 171 e 253), pode-se considerar que a aparição de cupins muito grandes, orelhas muito curtas com postas afiladas e goteiras muito pronunciadas nos animais Ongole ou Nelore seja creditada, pelo menos parcialmente, à infusão de sangue da raça Khillari. 90 10 DISCUSSÃO SOBRE A FORMAÇÃO DA RAÇA NELORE A raça Nelore, como já mencionado, não é uma raça pura, pois participaram de sua formação muitas outras raças. Porém não se deve encarar isto como um desprestígio à raça. Entre outros motivos, a participação de outras raças na formação do Nelore se deve à incapacidade, por parte de brasileiros e indianos, de diferenciar as distintas raças indianas até a década de 20 (SANTIAGO, 1987, p. 153; SANTOS, 1993, p. 76). Inclusive especialistas poderiam se confundir ao tentar classificar um animal. Olver (1938 citado por SANTOS, 1993, p. 169), cita que um animal da raça Bhagnari, do Paquistão, pode ser confundido com um legítimo Ongole de Andhra Pradhesh. Segundo Silva (1947, p. 219), o Ongole tem tal soma de caracteres idênticos aos do Hariana que só os maiores conhecedores poderiam distinguir vacas destas duas raças quando juntas em um mesmo curral. Esta dificuldade de diferenciação não era exclusiva dos zebuínos, visto que no início do século os criadores brasileiros preferiam animais de orelhas maiores por ser uma das únicas características a que podiam se apegar para diferenciar um Bos taurus taurus de um Bos taurus indicus. Esta preferência, inclusive, fez com que o Nelore fosse deixado em segundo plano, pois possui orelhas de tamanho semelhante a dos taurinos (SANTIAGO, 1984, p. 405). A impureza na base de formação da raça não é exclusividade do Nelore. Tanto o Guzerá quanto o Gir também tiveram uma base de formação no Brasil de animais mestiços, formados por diversas raças de zebuínos (SANTIAGO, 1984, p. 138) e inclusive com participação de animais taurinos crioulos, que foram utilizados como base para a multiplicação do zebu por cruzamentos absorventes (MEIRELLES et al., 1999, p. 543). Por possuir esta origem impura, o Nelore não apresentava uma padronização muito evidente, mostrando uma grande diversidade de tipos. Com o estabelecimento do padrão racial oficial e com a importação de animais puros na década de 60, com intensa utilização destes animais, a padronização do rebanho melhorou significativamente, uniformizando bastante o rebanho Nelore nacional. Atualmente, a raça Nelore é uma das mais bem definidas do país (SANTIAGO, 1986, p. 415). Segundo brasileiros enviados à Índia no início da década de 90, os próprios técnicos indianos admitem que o padrão de beleza do Nelore brasileiro é superior ao do Ongole tradicional (SANTOS, 1993, p. 140). Apesar de considerado de origem impura, a raça Ongole, na qual é baseada o Nelore brasileiro, é descendente, principalmente, de raças que tiveram a mesma origem. As raças do Grupo Branco-Cinza do Norte, do qual faz parte o Ongole e as raças que mais 91 influenciaram a sua formação, foram levadas pelos arianos há 3,5 mil anos do local onde habitavam (Irã, Afeganistão e Paquistão) para o Paquistão e para a Índia (ARIANOS, [2007]). Este gado, inclusive, seria mais refinado comparativamente aos que previamente habitavam a Índia. No novo hábitat, este gado se dispersou por diversas regiões sob condições diversas de clima, solo e agricultura. Assim, ocorreu maior diferenciação entre os animais, dando origem a diversos ecotipos ou raças geográficas (SANTIAGO, 1987, p. 129). Estas raças, de igual origem, foram as principais formadoras do Nelore. Santos (1993, p. 169), considera esta formação do Nelore um trunfo da raça, que lhe teria conferido a sua enorme versatilidade. Este argumento é baseado nos diferente ambientes em que as raças que participaram da formação do Nelore habitavam (FIG. 45 e 46). FIGURA 45 - Média pluviométrica anual da Índia com a localização das raças Branco-Cinza do Norte, Grupo de Misore, Kankrej e Gir. Fonte: MODIFICADO DE WIKIMEDIA COMMONS, [2007]; SANTIAGO, 1987. 92 FIGURA 46 - Temperatura média anual da Índia com a localização das raças Branco-Cinza do Norte, Grupo de Misore, Kankrej e Gir Fonte: MODIFICADO DE WIKIMEDIA COMMONS, [2007]; SANTIAGO, 1987. Da raça Bhagnari teria vindo a capacidade do Nelore enfrentar regiões desérticas e frias. Da raça Nagori teria vindo a capacidade para enfrentar regiões pedregosas e semi-áridas. A raça Hariana seria a responsável pela aptidão para grande porte e fixação tipológica. As raças Gaolao e Rath teriam conferido ao Nelore aptidão para viver em regiões de grande altitude. A raça Krishna Valley teria dado ao Nelore aptidão para viver em regiões de agricultura. Já as raças do Grupo Misore teriam conferido ao Nelore aptidão para que este apresente boa conversão alimentar em ambiente de extrema rusticidade (SANTOS 1993, p. 169). 93 A infusão de sangue de diversas raças, obviamente, não trouxe apenas qualidades ao Nelore. O gado do Grupo Misore, por exemplo, seria o responsável por alguns animais Nelore apresentarem porte menor, serem mais bravios e terem menor produção leiteira (SANTOS, 1993, p. 154). Estimativas mostram que o Nelore é responsável por cerca de 80% da produção industrial de carne do Brasil (ABCZ, [2007]c), o qual é o segundo maior produtor e o maior exportador mundial deste produto. Estes números por si só, são os maiores argumentos que mostram a incrível capacidade produtiva do Nelore, a enorme importância para a economia nacional e como o mundo se torna, cada vez mais, dependente deste gado para suprir a crescente demanda por proteína animal. 94 11 CONCLUSÕES O trabalho de evolução do Bos taurus demonstrou que a espécie bovina é altamente diversificada em tipo e em genética. As novas pesquisas utilizando materiais moleculares estão sendo extremamente úteis para o esclarecimento da origem e formação dos bovinos e suas diversas raças, embora não se tenha chegado, ainda, a muitas verdades absolutas sobre o assunto. A domesticação da espécie iniciou uma grande mudança fenotípica nos animais, culminando na formação de inúmeras raças, influenciadas pelo ambiente em que foram criadas e, mais recentemente, pela seleção artificial. Há, ainda hoje, muitas precipitações com relação à utilização de raças erroneamente escolhidas para o objetivo traçado pelos criadores, algumas das quais incitadas por modismos e pela beleza não funcional. Para que isso não ocorra é necessário que os técnicos estejam capacitados a diferenciar as reais vantagens e limitações de cada raça. O conhecimento destas características passa, obrigatoriamente, pelo conhecimento do ambiente em que determinada raça teve origem. O rebanho bovino brasileiro sofreu grandes mudanças fenotípicas. Iniciou-se com pequeno número de animais taurinos trazidos da Europa, o qual sofreu grande queda produtiva para que pudesse se adaptar a novo ambiente. A partir do século XIX, o nosso rebanho começou ter maior grau de sangue zebuíno, graças às primeiras importações destes animais. Com a chegada de maior quantidade de zebuínos no século XX, a excelente forma com que se adaptaram ao clima brasileiro e a impressionante rapidez com que se multiplicaram, os animais fenotipicamente Bos taurus indicus correspondem, atualmente, à grande maioria da população bovina brasileira. A raça Nelore tem uma origem complexa. É formada por diversas raças de origem indiana. Isto contribuiu para que, no início das grandes importações, a raça fosse deixada em segundo plano. Atualmente, apresentando uma boa padronização racial, boa produtividade e uma excelente adaptabilidade, a sua origem, influenciada por várias raças, é vista como uma das razões para a sua ótima versatilidade. 95 REFERÊNCIAS ALTA GENETICS DO BRASIL. Catálogo Europeu de Corte, [S.l. : s.n.], 2007a. ALTA GENETICS DO BRASIL. Catálogo Europeu de Leite, [S.l. : s.n.], 2007b. ALTA GENETICS DO BRASIL. Catálogo Zebu de Corte, [S.l. : s.n.], 2005. ALTA GENETICS DO BRASIL. Catálogo Zebu de Corte, [S.l. : s.n.], 2006. ALTA GENETICS INC. Catálogo Europeu de Corte, [S.l. : s.n.], 2002. ANOA. In: Wikipedia, the free encyclopedia. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Anoa>. Acesso em: 09 out. 2007. ARIANOS. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Arianos>. Acesso em: 09 out. 2007. ASIA ROOMS. Gir National Park India. [2007]. Disponível em: <http://www.asiarooms.com/travel-guide/india/national-parks-&-wildlife-sanctuaries-inindia/gir-national-park-india.html>. Acesso em: 09 out. 2007. ASSIS, R. E. F. Touros Central Alta Genetics, Uberaba. 2006. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE SINDI-ABC SINDI. A Raça Sindi no Brasil. [2007]. Disponível em: <http://www.sindi.org.br/site/?sec=10&id=7>. Acesso em: 09 out. 2007. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE ZEBU-ABCZ. As Raças Zebuínas: O Gir. [2007]b. Disponível em: <http://www.abcz.org.br/site/tecnica/racas/gir.php>. Acesso em: 09 out. 2007. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE ZEBU-ABCZ. As Raças Zebuínas: O Nelore e o Nelore Mocho. [2007]c. Disponível em: <http://www.abcz.org.br/site/tecnica/racas/nel.php>. Acesso em: 09 out. 2007. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE ZEBU-ABCZ. As Raças Zebuínas: O Sindi e o Cangaiam [2007]d. Disponível em: <http://www.abcz.org.br/site/tecnica/racas/sincan.php>. Acesso em: 29 out. 2007. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE ZEBU-ABCZ. História. [2007]a. Disponível em: <http://www.abcz.org.br/site/abcz/historico.php>. Acesso em: 09 out. 2007. ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE BRAHMAN DO BRASIL-ACBB. A raça Brahman. [2007]. Disponível em: <http://www.brahman.com.br/raca/>. Acesso em: 09 out. 2007. BANTENG. In: Wikipedia, the free encyclopedia. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Banteng>. Acesso em: 09 out. 2007. 96 BISÃO-AMERICANO. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bis%C3%A3oamericano>. Acesso em: 09 out. 2007. BISONTE. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bisonte>. Acesso em: 09 out. 2007. BISONTE-EUROPEU. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bisonte-europeu>. Acesso em: 09 out. 2007. BITENCOURT, L. O Zebu do Brasil: Parte 3. ABCZ: A Revista Brasileira do Zebu e Seus Cruzamentos, v. 2, n. 9, p. 106-123, jul./ago. 2002. BLOTT, S. C.; WILLIAMS, J. L.; HALEY, C. S. Genetic relationships among European cattle breeds. Animal Genetics, v. 29, n. 4, p. 273-282, ago. 1998. BORAN CATTLE BREEDERS SOCIETY. Boran Bull, Photo Gallery, [2007]. Disponível em: <http://www.borankenya.org/bb-bull015.htm>. Acesso em: 29 out. 2007. BOS ACUTIFRONS. In: Wikipedia, the free encyclopedia. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Bos_acutifrons>. Acesso em: 09 out. 2007. BOVÍDEOS. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bovidae>. Acesso em: 09 out. 2007. BOVINOS. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bovinae>. Acesso em: 09 out. 2007. BRITTO, C. M. C.; MELLO, M. L. S. Morphological Dimorphism in the Y Chromosome of “Pé-Duro” cattle in the Brasilian state of Piauí. Genet. mol. biol., v. 22, n. 3, p. 369-373, set. 1999. BÚFALO-AFRICANO. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%BAfalo_africano>. Acesso em: 09 out. 2007. CANAL TORTUGA, In: Noticiário Tortuga. [2001]. Disponível em: <http://www.canaltortuga.com.br/noticiario/pag_noticia2.asp?categoria=4&edicao=433>. Acesso em: 15 dez. 2007 CATTLE. In: Wikipedia, the free encyclopedia. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Bos_taurus#_note-0>. Acesso em: 09 out. 2007. CENTRAL NOVA ÍNDIA. Mãe do Facho, [2007]. Disponível em: <http://www.novaindia.com.br/semen/zebu/gir/facho_mae.htm> Acesso em: 29 out. 2007. 97 DOMESTIC BUFFALO. In: Wikipedia, the free encyclopedia. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: < http://en.wikipedia.org/wiki/Water_Buffalo>. Acesso em: 09 out. 2007. EBI, K. Bison. In: Living Wilderness, [2007]. Disponível em: <http://www.livingwilderness.com/wildlife/bison-standing.html>. Acesso em 29 out. 2007. FAUSER AGROFLORESTAL. A Origem do Tabapuã. [2007]. Disponível em: <http://fauser.com.br/tabapuan-br.htm>. Acesso em: 09 out. 2007. FAZENDA 3 GALHOS, Gallus Imp. In: Fazenda 3 Galhos, Simmental, [19--]. Disponível em: <http://www.3galhos.com.br/t_touros.htm>. Acesso em: 29 out. 2007. FAZENDA CALCIOLÂNDIA. Garrafa da Cal, [2007]. Disponível em: <http://www.calciolandia.com.br/animal_detalhes.asp?id=2789&origem=249&codigo=Z985 &sexo=F&grupo=Gir&sub=Gir%20mocho>. Acesso em: 29 out. 2007. FELIUS, M. Genus Bos: Cattle Breeds of the World. Rahway, NJ: Merk, 1985. 234 p. FELLMAN, M. Northwestern biologists demote Southeast Asia‟s „forest ox‟. EurekAlert, set. 2006. Disponível em < http://www.eurekalert.org/pub_releases/2006-09/nu-nbd091506.php>. Acesso em: 9 out. 2007. FERNÁNDEZ, M. H.; VRBA, E. S. A complete estimate of the phylogenetic relationships in Ruminantia: a dated spesies-level supertree of the extant ruminants. Biological Reviews, v. 80, p. 269-302, fev. 2005. FINK, K. W. Lowland anoa. In: ARKive, Images of life on Earth, [2007]. Disponível em: <http://www.arkive.org/species/GES/mammals/Bubalus_depressicornis/GES009129.html>. Acesso em 29 out. 2007. FRISCH, J. E. Manual Sistema Frisch. Trad. André Bruzzi Corrêa. [S.l.]: Alta Genetics do Brasil, 2004. 68 p. Disponível em: <http://www.altagenetics.com.br/sistemafrisch/SistemaFrisch.pdf> Acesso em: 10 out. 2007. GAUR. In: Wikipedia, the free encyclopedia. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Gaur>. Acesso em: 09 out. 2007. GOOGLE EARTH, Image NASA, Europa Technologies, Tele Atlas, Image TerraMetrics, 2007. Disponível em: <http://earth.google.com>. Acesso em: 29 out. 2007. HARVEY, M. Gaur. In: ARKive, Images of life on Earth, [2007]. Disponível em: <http://www.arkive.org/species/GES/mammals/Bos_frontalis/GES005820.html>. Acesso em 29 out. 2007. HEJDA, E. Tragulus javanicus. In: Wikimedia Commons [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Tragulus_javanicus.jpg>. Acesso em: 29 out. 2007. 98 HENKES, L. E. et al. Mitichondrial control region genetic diversiti and maternal ancestry of a Brangus-Ibage cattle populations. Genet. mol. biol., v. 28, n. 1, p. 60-66, jan./mar. 2005. HEUCLIN, D. Tamaraw. In: ARKive, Images of life on Earth, [2007]. Disponível em: <http://www.arkive.org/species/GES/mammals/Bubalus_mindorensis/GES028471.html>. Acesso em 29 out. 2007. HO, A. P. Cambodia's National Animal Never Existed, Scientists Say. In: National Geografic, 1937. Disponível em: <http://news.nationalgeographic.com/news/bigphotos/2705473.html>. Acesso em: 29 out. 2007. HUFFMAN, B. Adult male banteng. In: An Ultimate Ungulate Image, 2005. Disponível em: <http://www.ultimateungulate.com/Images/Bos_javanicus/B_javanicus3.html>. Acesso em 29 out. 2007. HUFFMAN, B. Pseudoryx nghetinhensis: Saolao. In: Ultimate ungulate. [S.l. : s.n.], [2007]. Disponível em: <http://www.ultimateungulate.com/Artiodactyla/Pseudoryx_nghetinhensis.html>. Acesso em: 09 out. 2007. IAQUE. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Iaque>. Acesso em: 09 out. 2007. ISSA, E. C.; JORGE, W.; SERENO, J. R. B. Cytogenetic and molecular analysis of the Pantaneiro cattle breed. Pesq. agropec. bras., v. 41, n. 11, p. 1609-1615, nov. 2006. J. D. HUDGINS INC. JDH Atari Oyo Manso 431/3, [2007]. Disponível em: <http://www.jdhudgins.com/431_3pedigree.html> Acesso em: 29 out. 2007. KOTOWSKI, H. Wisent. In: Wikimedia Commons [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Wisent.jpg>. Acesso em: 29 out. 2007. KOUPREY. In: Wikipedia, the free encyclopedia. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Kouprey>. Acesso em: 09 out. 2007. LINDHOLM, N. Subadult mountain anoa. In: An Ultimate Ungulate Image, 1998. Disponível em: <http://www.ultimateungulate.com/Images/Bubalus_quarlesi/B_quarlesi1.html>. Acesso em 29 out. 2007. LOFTUS, R. T. et al. A microsatellite survey of cattle from a centre of origin: the Near East. Molecar Ecology, v. 8, n. 12, p. 2015-2022, dez. 1999. MAAS, P. Bos primigenius primigenius. In: The Extinction Website. [S.l. : s.n.], jul. 2006. Disponível em: <http://www.petermaas.nl/extinct/speciesinfo/aurochs.htm>. Acesso em: 09 out. 2007. MATEUS, J. C. et al. Genetic diversity and differentiation in Portuguese cattle breeds using microsatellites. Animal Genetics, v. 35, n. 2, p. 106-113, abr. 2004. 99 MEIRELLES, F. V. et al. Is the American zebu really Bos indicus? Genet. mol. biol., v. 22, n. 4, p. 543-546, dez. 1999. MONTALDO, H. H. ; MEZA-HERRERA, C. A. Use of molecular markers and major genes in the genetic improvement of livestock. Eletronic Journal of Biotechnology, v. 1, n. 2, ago. 1998. 7 p. NATIONAL DAIRY RESEARCH INSTITUTE. Amritmahal, In: Livestock, Enviroment and Development LEAD Initiative, 1999. Disponível em: <http://www.fao.org/docs/eims/upload/photo/201882.JPG>. Acesso em: 29 out. 2007. NATIONAL DAIRY RESEARCH INSTITUTE. Hallikar, In: Livestock, Enviroment and Development LEAD Initiative, 2006b. Disponível em: <http://www.fao.org/docs/eims/upload/photo/201889.JPG>. Acesso em: 29 out. 2007. NATIONAL DAIRY RESEARCH INSTITUTE. Kangayam, In: Livestock, Enviroment and Development LEAD Initiative, 2006c. Disponível em: <http://www.fao.org/docs/eims/upload/photo/201889.JPG>. Acesso em: 29 out. 2007. NATIONAL DAIRY RESEARCH INSTITUTE. Krishna Valley, In: Livestock, Enviroment and Development LEAD Initiative, 2006a. Disponível em: <http://www.fao.org/docs/eims/upload/photo/201885.JPG>. Acesso em: 29 out. 2007. OLVER, A. A brief survey of some important breeds of cattle in India. Delhi: Government of India, 1938. 143 p. Disponível em: <http://dli.iiit.ac.in/cgibin/Browse/scripts/use_scripts/advnew/aui/bookreader_india/bookReader_test.cgi?barcode=1 48214> Acesso em: 09 out. 2007. PECORA. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pecora>. Acesso em: 09 out. 2007. RABINOWITZ, A. Adult female saolao. In: An Ultimate Ungulate Image, [2007]. Disponível em: <http://www.ultimateungulate.com/Images/Pseudoryx_nghetinhensis/P_nghetinhensis1.html>. Acesso em 29 out. 2007. RAJPUT, J. Asian Buffalo. In: ARKive, Images of life on Earth, [2007]. Disponível em: <http://www.arkive.org/species/GES/mammals/Bubalus_bubalis/GES018985.html>. Acesso em: 29 out. 2007. RANGEL, P. N.; ZUCCHI, M. I.; FERREIRA, M. E. Similaridade genética entre raças bovinas brasileiras, Pesq. agropec. bras., v. 39, n. 1, p. 97-100, jan. 2004. RAO, A. M. Ongole, In: Breeds of Livestock: Oklahoma State University Board of Regents, [2007]. Disponível em: <http://www.ansi.okstate.edu/breeds/cattle/ONGOLE/Index.htm>. Acesso em: 29 out. 2007. 100 RED SINDHI CATTLE. In: Wikipedia, the free encyclopedia. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Red_Sindhi>. Acesso em: 09 out. 2007. RITZ, L. R. et al. Phylogenetic analysis of the tribe Bovini using microsatellites. Animal Genetics, v. 31, n. 3, p. 178-185, jun. 2000. SANTIAGO, A. A. Gado Nelore: 100 anos de seleção. São Paulo: Editora dos Criadores, 1987. 594 p. SANTIAGO, A. A. O zebu na Índia, no Brasil e no Mundo. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1986. 744 p. SANTIAGO, A. A. Os cruzamentos na pecuária bovina. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1984. 549 p. SANTOS, R. dos Nelore: A vitória Brasileira. Uberaba: Agropecuária Tropical, 1993. 328 p. SANTOS, R. dos Os cruzamentos na Pecuária Tropical. Uberaba: Agropecuária Tropical, 1999. 672 p. SCOTT, J.; SCOTT, A. African Buffalo. In: ARKive, Images of life on Earth, [2007]. Disponível em: <http://www.arkive.org/species/GES/mammals/Syncerus_caffer/GES028530.html>. Acesso em 29 out. 2007. SERRANO, G. M. et al. Genetic diversity and population structure of Brazilian native bovine breeds. Pesq. agropec. bras., v. 39, n. 6, p. 543-549, jun. 2004. SILVA, A. B. da O Zebu na Índia e no Brasil. Rio de Janeiro: [sn], 1947. SILVA, O. da Herança genética do caráter mocho em bovinos. ABCZ: A Revista Brasileira do Zebu e Seus Cruzamentos, v. 7, n. 39, p. 94-95, jul./ago. 2007. SPRITZE, A. et al. Caracterização genética da raça bovina Crioulo Lageano por marcadores moleculares RAPD. Pesq. agropec. bras., v. 38, n. 10, p. 1157-1164, out. 2003. TAMARAW. In: Wikipedia, the free encyclopedia. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Tamaraw>. Acesso em: 09 out. 2007. THE AFRIKANER CATTLE BREEDERS SOCIET OF SOUTH AFRICA, Africander. In: Breeds of Livestock: Oklahoma State University Board of Regents, [2007]. Disponível em: <http://www.ansi.okstate.edu/breeds/cattle/africander/index.htm>. Acesso em: 29 out. 2007. THE UNIVERSAL PROTEIN RESOURCE. Bos mutus grunniens. In: UniProt, [2007]. Disponível em: <http://beta.uniprot.org/taxonomy/30521>. Acesso em: 29 out. 2007. THYSSEN, M. Vig ukoksen. In: Wikimedia Commons [S.l.]: GNU Free Documentation, 2004. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Vig_uroksen.jpg>. Acesso em: 29 out. 2007. 101 TOLEDO, L. R. A Índia é logo ali. Globo Rural, n. 244, p. 32-37, fev. 2006. TRÁGULO. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Tragulidae>. Acesso em: 09 out. 2007. VAN LANCKER, C. J. N‟dama. In: Breeds of Livestock: Oklahoma State University Board of Regents, [2007]. Disponível em: <http://www.ansi.okstate.edu/breeds/cattle/NDAMA/index.htm>. Acesso em: 29 out. 2007. WIKIMEDIA COMMONS. Climate of India, In: Wikimedia Commons [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Climate_of_India>. Acesso em: 29 out. 2007. YAK. In: Wikipedia, the free encyclopedia. [S.l.]: GNU Free Documentation, [2007]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Bos_grunniens>. Acesso em: 09 out. 2007. ZEBU ON-LINE. As Raças do Zebu. [2007]. Disponível em: <http://www.zebuonline.com.br/pt/quem_somos/racas.php>. Acesso em: 09 out. 2007.