Fotografia estroboscópica

Transcrição

Fotografia estroboscópica
FOTOGRAFIA ESTROBOSCÓPICA
ESTROBOSCÓPICA
Texto e fotos: Paulo de Oliveira
Foto 1: Bico-de-lacre
Muitos flash electrónicos permitem-nos regular manualmente a sua potência de
disparo. A diminuição da potência do relâmpago processa-se através da diminuição
da duração do mesmo. Por exemplo, um flash que à máxima potência fornece um
relâmpago com uma duração de 1/1000 de seg. pode a 1/128 da potência atingir os
1/ 30.000 ou mesmo 1/50.000 de seg.!
É assim que se conseguem obter fotografias de insectos a voar, rãs a saltar,
gotas de água a cair e outras imagens de alta velocidade.
No entanto, acontece que se um flash à máxima potência tem um número guia
(NG) de 40 a 1/128 da potência pode não ultrapassar os 3,5! Por isso os flash
comercializados especificamente para fotografia de alta velocidade precisam de ser
muito potentes, bastante volumosos e, naturalmente, caros.
Para usarmos pequenos flash portáteis na fotografia de alta velocidade precisamos em primeiro lugar ser pouco ambiciosos: existem muitos temas que podem
ser fotografados em movimento apenas a 1/10.000 ou 1/20.000 de seg. quando o
número guia ainda é razoável. Também é conveniente aproveitar todo fluxo luminoso disponível aproximando os flash o mais possível do motivo fotográfico ou concentrando a sua luz através de lentes fresnel. Nalgumas situações mais difíceis
podemos mesmo conjugar a luz de vários flash até atingir a potência necessária.
A fotografia estroboscópica não é mais do que uma sucessão de relâmpagos
de flash, desde uma velocidade moderadamente alta até mesmo a alta velocidade,
que vão decompondo o movimento do motivo fotográfico em tantas imagens quanto
o número dos relâmpagos emitidos. Também existe para este efeito material topo
de gama que alia o seu enorme volume a um preço talvez demasiado elevado para
uma utilização meramente casual.
Muitos flash portáteis dispõem de uma função estroboscópica em que a descarga do condensador é repartida por uma série de relâmpagos pouco intensos: o
número e a frequência dos relâmpagos podem quase sempre ser programados
com precisão. Mas a fraca potência destes aparelhos não permite explorar aquela
função para além de escassos efeitos visuais.
paulofotos
www.paulofotos.com
© PAULO DE OLIVEIRA
Para trabalhar seriamente em fotografia estroboscópica precisamos utilizar
vários flash fornecendo cada um deles iluminação para uma imagem. Estudando
bem a frequência dos disparos para o número de flash disponíveis podemos repetir
indefinidamente uma sequência de disparos. Por exemplo, utilizando seis flash e
sabendo que cada um deles leva 2 segundos a reciclar completamente podemos
trabalhar, indefinidamente, com uma cadência de 3 imagens por segundo.
Foto: 2
Os melhores flash para este efeito são os velhos Vivitar 283 que aliam uma
boa potência a uma robustez a toda a prova e um preço bastante económico no
mercado de usados. Tenho 10 destes flash que me têm prestado bom serviço ao
longo de mais de 20 anos de utilização. Modifiquei-os todos com fichas RCA para
poderem trabalhar no campo com alimentação externa, através de baterias de 6V,
ou de uma fonte de alimentação em estúdio.
A regulação manual da potência faz-se através de um acessório chamado
VP-1 (foto:2 inserto em cima do lado esquerdo) que é encaixado na parte frontal
em vez do chamado computador, com que todos ao flash são vendidos, e que controla automaticamente a exposição. Como este acessório não é fácil de encontrar
tive que destruir alguns dos tais computadores para lhes aproveitar a ficha de
encaixe e instalar ali resistências variáveis (foto:2 inserto da direita): que é o que de
resto existe dentro dos tais VP-1.
Os flash podem ser montados em linha ou em qualquer outra configuração
que se afigure mais conveniente, conforme as situações. O número dos flash
depende, obviamente, do número de imagens e da frequência desejadas. A potência dos flash tem que ser regulada através de medições com um flashmeter de
modo a ficarem a emitir todos o mesmo fluxo luminoso.
Para programar o disparo dos flash construí uma consola que permite introduzir o atraso do primeiro disparo, ligar até 10 flash e regular a frequência e o tempo entre cada disparo.
A Jama Electronique fabrica um aparelho muito melhor do que esta minha
engenhoca e que permite programar com precisão o disparo de até 16 flash mas,
como é vulgar na maior parte destas soluções tecnológicas, as possibilidades são
paulofotos
www.paulofotos.com
© PAULO DE OLIVEIRA
directamente proporcionais ao aumento do custo dos aparelhos. Mas caso o
aspecto económico não seja impedimento esta é de facto a melhor solução para
programar uma sessão de fotografia estroboscópica.
Se pretender apenas, ocasionalmente, fazer algumas fotografias estroboscópicas poderá sempre recorrer a uma solução caseira muito menos dispendiosa:
compre um sequenciador de luzes barato do tipo dos utilizados nas discotecas.
Mesmo os modelos mais simples dispõem de seis a oito saídas (tomadas) para
fazer acender outros tantos projectores. Cada uma destas saídas envia corrente
eléctrica de 220V sempre que o aparelho assim o determina e dependendo da frequência pré-regulada num manípulo próprio. A função de sequência ligada ao som
não nos interessa, evidentemente, para esta situação.
Em vez de uma lâmpada, ou de um projector, vai ligar antes a cada saída
um relais que irá fazer disparar um flash mas protegendo-o da alta voltagem fornecida pelo aparelho. Para ligar os relais ao sequenciador de luzes utilize fichas
domésticas de 220 V e para fazer a ligação aos flash use terminais cortados aos
cabos de ligação ou sapatas (hot-shoe) munidas de cabos próprios, cujas extremidades serão soldadas directamente aos relais correspondentes.
Os relais podem ser comprados em qualquer loja de componentes electrónicos
bastando referir que pretende controlar circuitos de 6V (os flash) com outro de
220V.
Alguns sequenciadores dispõem de uma escala onde podemos regular com
precisão a frequência de disparo pretendida, mas nos modelos mais económicos é
preciso fazer uma regulação a “olhómetro” colocando o sistema a funcionar e
depois ir girando o manípulo até obter a frequência julgada conveniente.
Mas se pensa que agora, depois de ultrapassado o obstáculo tecnológico, já
nada o vai impedir de captar lindas cenas de voo da passarada, desengane-se.
Mesmo armados de todo o equipamento que a tecnologia nos permite hoje dispor
a fotografia de animais em movimento é uma actividade extremamente laboriosa.
Foto: 3
paulofotos
www.paulofotos.com
© PAULO DE OLIVEIRA
Construí um túnel de voo com cerca de quatro metros de comprimento onde
treino e fotografo aves de pequeno tamanho a voar. Leu bem: treino!
Não consigo fotografar aves selvagens em cativeiro. Entram em pânico, atiram-se à toa contra as paredes e muitas vezes acabam por sucumbir ao stress –
acontece-me quase o mesmo quando me obrigam a ver televisão.
Só animais nascidos e criados em gaiolas podem trabalhar bem no túnel de
voo. Porém a maioria não sabe voar, apenas esvoaça. Por exemplo o bico-de-lacre
da foto: 1 foi escolhido entre 5 candidatos que todos os dias trabalhavam no túnel
de voo. Mas só ele é que apreciava aqueles momentos de liberdade relativa e
aprendeu a voar com uma trajectória suficientemente regular para eu o poder fotografar.
Para fazer esta fotografia tive que colocar um fundo de veludo preto e remover o vidro frontal a meio do túnel de voo, para evitar o reflexo da luz frontal dos
flash. Bem treinado a voar de uma ponta para a outra do túnel nem se apercebeu
que estava a passar por aquele espaço aberto por onde poderia ter iniciado voos
mais longos! Tudo isto envolve muitos animais, gaiolas, tratamento e treino diário e
muita observação
Usei uma Mamiya RZ 67 que disparava à mão logo que a ave iniciava o voo.
A sequência de disparo dos flash era iniciada através de uma barreira de infravermelhos colocada fora da imagem. Mantive a intensidade da luz ambiente baixa para
não provocar dupla exposição mas suficiente para o pássaro voar em segurança. O
formato 6x7cm fornece aqui uma melhor área de filme para assegurar um bom
reenquadramento. Depois da digitalização num Coolscan 8000 da Nikon a imagem
foi reenquadrada e foram disfarçadas no Photoshop algumas sombras que, apesar
do veludo, ficaram marcadas no fundo preto.
Com a rela as coisas foram mais fáceis mas muito mais barulhentas. Aproveitei uma súbita aparição destes animais num dos charcos da quinta; que de resto
se repetiu durante três épocas. Tinha muita matéria-prima mas precisei de conservar os animais pelo menos dois dias no estúdio para acalmarem e habituarem-se
ao ambiente. Só que se sentiram tão bem que coacharam constantemente noite e
dia com aquele ruído característico irritante.
As ventosas da extremidade dos dedos faz destes animais óptimos trepadores. Basta fornecer-lhes um pau que eles não resistem a percorrê-lo até chegar à
sua extremidade; e depois saltam para outro suporte.
Como são animais nocturnos podemos baixar bastante a luz do estúdio e
manter o obturador aberto à espera da acção. Os flash são igualmente disparados
por uma barreira de infravermelhos simples.
O Photoshop permite-nos posteriormente disfarçar nas imagens finais a
sobreposição de algumas partes mais claras do animal.
Hoje com as câmaras digitais podemos rentabilizar mais algumas destas
sessões, o que é certamente vantajoso tanto para os animais como para o próprio
fotógrafo. Mas ainda precisamos esperar algum tempo para que seja comercializado um sensor de imagem com boa qualidade, uma área de 6x7 cm e um preço
“realista”.
paulofotos
www.paulofotos.com
© PAULO DE OLIVEIRA

Documentos relacionados