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AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE ALIMENTOS RICOS EM ANTIOXIDANTES E DO CONHECIMENTO SOBRE OS RADICAIS LIVRES POR PARTE DOS ACADÊMICOS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E ENFERMAGEM DA FAFIMAN Grisiely Yara Ströher Neves* Gisely Luzia Ströher** Antonio Roberto Elias Junior*** Ligia Cristina Takashima**** Rosimare Lacerda de Assis***** RESUMO Em pesquisa realizada com 83 acadêmicos dos cursos de Ciências Biológicas e Enfermagem da FAFIMAN, a partir de um questionário com questões pré-estabelecidas sobre os radicais livres e alimentos que são fonte de antioxidantes, 80% dos entrevistados responderam que já ouviram falar em radicais livres e 95% em antioxidantes. Quando questionados em relação aos principais efeitos dos radicais livres sobre o corpo, 34% responderam ser o envelhecimento precoce. Quanto à frequência de consumo de substâncias antioxidantes na alimentação, em se tratando da vitamina C e do betacaroteno (precursor da vitamina A), 30% e 45% respectivamente dos entrevistados responderam sempre consumi-los através dos alimentos. Quanto à vitamina E, flavonoides, selênio e coenzima Q-10, a maioria dos entrevistados afirmaram raramente consumir alimentos ricos nestes antioxidantes, chegando a 80% de negativa no caso do selênio. Embora a maioria dos acadêmicos já tenha ouvido falar em radicais livres e antioxidantes, grande parte deles ainda não adequou a sua dieta aos benefícios proporcionados pelos antioxidantes no combate aos radicais livres, uma vez que a alimentação * Professora Doutora em Ciências Biológicas do Departamento de Ciências Biológicas - FAFIMAN. E-mail: [email protected] ** Professora Doutora em Química do Departamento de Coordenação de Processos Químicos - Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR CampusApucarana. E-mail: [email protected] *** Biólogo graduado pela FAFIMAN. E-mail: [email protected] **** Bióloga graduada pela FAFIMAN. E-mail: [email protected] ***** Bióloga graduada pela FAFIMAN. E-mail: [email protected] Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 47 saudável e rica em antioxidantes melhora a qualidade de vida e ajuda a reduzir e a prevenir doenças. Palavras-chave:Antioxidantes. Radicais livres.Alimentação saudável. INTRODUÇÃO O corpo humano produz naturalmente substâncias chamadas de radicais livres, que podem ser definidas como átomos ou moléculas altamente reativos, que contém número ímpar de elétrons em sua última camada eletrônica, formados em processos rotineiros do organismo como a respiração e a digestão dos alimentos (MAGALHÃES, 2007). O excesso de radicais livres no organismo é combatido por antioxidantes que são produzidos pelo corpo ou absorvidos através da dieta. Quando há um desbalanço entre a produção de radicais livres e os mecanismos de defesa antioxidantes, ocorre o chamado “estresse oxidativo” (OLIVEIRA;AQUINO; RIBEIRO et al., 2011). O estresse oxidativo pode ser definido como uma condição biológica em que ocorre desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio e a sua desintoxicação através de sistemas biológicos que as removam ou reparem os danos por elas causados (NÚÑEZ-SELLÉS, 2005). Os radicais livres em excesso podem ser originados principalmente por defeitos na respiração mitocondrial, ativação-inibição de sistemas enzimáticos ou por fatores exógenos, como poluição, hábito de fumar, ingerir álcool, drogas, agrotóxicos, ou ainda, por uma nutrição inadequada (PEREIRA; VIDAL; CONSTANT, 2009). A oxidação é indispensável à vida aeróbica e, dessa forma, os radicais livres são produzidos naturalmente. Essas moléculas geradas in vivo estão envolvidas na produção de energia, fagocitose, regulação do crescimento celular, sinalização intercelular e síntese de substâncias biológicas importantes (BARREIROS; DAVID, J. M.; DAVID, J. P., 2006). No controle dos radicais livres estão os antioxidantes, moléculas com cargas positivas que se combinam com os radicais livres, de carga negativa, tornando-os inofensivos. Logo, essas substâncias Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 48 teriam a capacidade de anular a ação desses radicais, por isso a denominação de antioxidantes (MAGALHÃES, 2007). Antioxidantes naturais, presentes particularmente em frutas e hortaliças têm ganhado crescente interesse entre os consumidores e a comunidade científica. Estudos epidemiológicos sugerem que o frequente consumo desses alimentos é associado com a baixa incidência de doenças degenerativas incluindo o câncer, inflamações, artrites, declínio do sistema imune, disfunção cerebral, doenças cardiovasculares, diabetes, mal de Alzheimer e alguns tipos de catarata (OLIVEIRA;AQUINO; RIBEIRO et al., 2011). Diversas substâncias presentes nos alimentos de origem animal e vegetal, de natureza lipofílica ou hidrofílica, apresentam potencial para atuar como antioxidantes no meio biológico. Entre os agentes antioxidantes encontrados nos alimentos destacam-se as vitaminas C e E, os flavonoides, o betacaroteno, o selênio e a coenzima Q-10 (CERQUEIRA; MEDEIROS;AUGUSTO, 2007). Os antioxidantes são substâncias que, mesmo presentes em baixas concentrações, são capazes de atrasar ou inibir as taxas de oxidação. A classificação mais utilizada para estas substâncias é a que as divide em dois sistemas: o enzimático composto pelas enzimas produzidas no organismo, como a coenzima Q-10; e o não enzimático, formado pelas vitaminas C (ácido ascórbico) e E (β-tocoferol), compostos fenólicos como os flavonoides, carotenoides como o betacaroteno e o mineral selênio (SANTOS; CRUZ, 2001). Os antioxidantes agem nas três linhas de defesa orgânica contra as espécies reativas de oxigênio. A primeira linha é a de prevenção, que se caracteriza pela proteção contra a formação das substâncias agressoras. A segunda linha é a interceptação, neste estágio os antioxidantes precisam interceptar os radicais livres, os quais, uma vez formados, iniciam suas atividades destrutivas. E a última linha é o reparo. Ela ocorre quando a prevenção e a interceptação não foram completamente efetivas e os produtos da destruição pelos radicais livres estão sendo continuamente formados em baixas quantidades e desta forma podem se acumular no organismo. O maior dano causado pelo estresse oxidativo é a peroxidação dos ácidos graxos constituintes da dupla camada lipídica que, em última instância, leva à morte celular Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 49 (CERQUEIRA; MEDEIROS;AUGUSTO, 2007). A teoria de que o envelhecimento é resultado de danos causados por radicais livres é creditada a Denham Harman que, em 1956, baseou-se na observação de que a irradiação em seres vivos levava à indução da formação de radicais livres, os quais diminuíam o tempo de vida e produziam mudanças semelhantes ao envelhecimento. De acordo com esta teoria, o lento desenvolvimento de danos celulares irreversíveis leva ao envelhecimento (HIRATA; SATO; SANTOS, 2004). Os antioxidantes são agentes responsáveis pela inibição e redução das lesões causadas pelos radicais livres nas células. A inclusão de antioxidantes na dieta é de grande importância e uma alimentação saudável está relacionada com a diminuição do risco do desenvolvimento de doenças associadas ao acúmulo de radicais livres. Nos alimentos é encontrada uma grande variedade de substâncias que podem atuar em sinergismo na proteção das células e dos tecidos (BIANCHI;ANTUNES, 1999). JUSTIFICATIVA As condições de vida (estresse físico e mental), o meio ambiente (ação de poluentes, radiação), fatores genéticos, nutricionais e culturais exercem grande influência no desenvolvimento de doenças degenerativas e no envelhecimento. A literatura demonstra que uma alimentação natural e equilibrada, com a inclusão de vegetais folhosos, legumes, frutas frescas, nozes, castanhas, cereais integrais, carnes magras, ovos e laticínios reforçam o sistema imunológico e combatem os radicais livres e seus efeitos maléficos sobre o organismo, justificando o interesse em saber o conhecimento dos acadêmicos de Ciências Biológicas e Enfermagem da Fundação Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari (FAFIMAN) sobre este assunto bem como o consumo de alimentos que são ricos em antioxidantes. OBJETIVO Verificar entre os acadêmicos de Ciências Biológicas e Enfermagem da FAFIMAN seu conhecimento sobre a ação dos radicais Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 50 livres sobre o organismo humano e o consumo dos alimentos ricos em antioxidantes. METODOLOGIA Para avaliar o conhecimento sobre a ação dos radicais livres e o consumo dos alimentos ricos em antioxidantes por parte dos acadêmicos de Ciências Biológicas e Enfermagem da FAFIMAN, foram realizadas entrevistas, utilizando-se formulários pré-estruturados com questões referentes ao assunto. As entrevistas foram realizadas nas dependências da FAFIMAN pelos acadêmicos participantes do projeto. Os dados foram coletados no período de abril a maio de 2013. Todas as respostas foram analisadas e apresentadas em percentual. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em questionário aplicado a oitenta e três acadêmicos dos cursos de Ciências Biológicas e Enfermagem da FAFIMAN, em relação ao seu conhecimento sobre os radicais livres e consumo de alimentos antioxidantes, 80% dos entrevistados responderam que já ouviram falar em radicais livres, enquanto 20% não; 95% responderam que já escutaram falar em antioxidantes, enquanto 5% não. Como um dos temas de pesquisa mais intensamente investigado nos últimos anos, tanto em seus aspectos básicos quanto nas aplicações clínicas, os radicais livres e os antioxidantes, têm recebido ampla divulgação pelos meios de comunicação, tendo se tornado, rapidamente, de domínio público (YOKAICHIYA; GALEMBECK; TORRES, 2000). Diversos estudos têm demonstrado que o consumo diário de substâncias antioxidantes na dieta pode produzir uma ação protetora efetiva contra os processos oxidativos que ocorrem no organismo. Entre os antioxidantes naturais as frutas e os vegetais são os alimentos que mais contribuem para o suprimento dietético destes compostos (NOONAN; BENELLI;ALBINI, 2007). A busca por uma vida saudável e de corpo e mente em harmonia, vem se tornando uma preocupação das pessoas do mundo inteiro nos últimos anos. Neste contexto, os consumidores se deparam Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 51 com a falta do consumo regular de produtos na forma in natura. As frutas estão, cada vez mais, sendo grandes aliados na prevenção de doenças, em razão de suas propriedades antioxidantes (FRASER; BRAMLEY, 2004). Quando questionados em relação aos principais efeitos dos radicais livres sobre o corpo, 60% dos entrevistados responderam que não sabem; 34% disseram ser o envelhecimento precoce e 6% consideraram doenças e distúrbios metabólicos. Em pesquisa realizada por Silva, Ribeiro e Chaves (2009), com um grupo de professores do Ensino Médio de Belo Horizonte - MG, sobre os efeitos dos radicais livres sobre o corpo humano, 58,3% dos docentes estabeleceram uma relação com o envelhecimento. Foi relacionado também que os radicais livres contribuem para o surgimento de patologias como o câncer e doenças auto-imunes, (33,3%), seguido de aterosclerose e diabetes (16,7%), depressão e dano celular (8,3%). Foi estabelecida uma relação direta dos radicais livres com o envelhecimento e com doenças. Barros e Bock (2013), afirmam que espécies reativas de oxigênio, incluindo os radicais livres, são geradas por reações fotoquímicas provocadas por exposição aos raios ultravioleta. Estes são os principais causadores dos processos oxidativos, que por sua vez, são os mediadores dos efeitos deletérios do envelhecimento da pele. Como consequência podem danificar o DNA, membrana das células, e proteínas como colágeno e elastina. Quanto à frequência de consumo de substâncias antioxidantes na alimentação, em se tratando da vitamina C, encontrada principalmente em alimentos como acerola, brócolis, couve, limão, laranja, kiwi, goiaba e pimentão, 30% dos entrevistados afirmaram sempre consumir estes alimentos, 46% regularmente e 24% raramente. Mais de 85% da vitamina C é proporcionada por frutas e hortaliças. Nesse sentido, a vitamina C é considerada o antioxidante hidrossolúvel mais importante no organismo. Apresenta a capacidade de eliminar diferentes espécies de radicais livres, mantendo a integridade das membranas celulares (KAUER; KAPOOR, 2001). Estudos mostram que o ácido ascórbico reduz mutações causadas pelo estresse oxidativo em células humanas in vitro, o que sugere que ele pode prevenir Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 52 mutações no DNA humano (LUTSENKO; CÁRCAMO; GOLDEN, 2002). O ácido ascórbico age como antioxidante, detoxificando os radicais livres das células e combatendo os processos oxidativos. Esta afirmação pôde ser confirmada em um estudo realizado nos Estados Unidos, sobre ingestão alimentar e envelhecimento da pele. Cosgrove e colaboradores em 2007 observaram que mulheres com menor consumo de alimentos ricos em vitamina C, tinham a pele mais enrugada, seca e atrofiada, do que as que tinham uma boa ingestão de alimentos com o nutriente, demonstrando que o maior consumo de vitamina C aumenta a fotoproteção da pele, uma vez que esta a protege contra radicais livres formados pela exposição solar repetitiva, criando uma camada fotoprotetora na epiderme. O estudo foi realizado com 4.025 mulheres com idade entre 40 e 74 anos. Pesquisas também mostram que a suplementação regular com vitamina C reduz o risco do aparecimento de catarata, através de seu efeito antioxidante nas células do cristalino (BARROS; BOCK, 2013). Dos entrevistados, 38% afirmaram que raramente consomem alimentos como germe de trigo, amêndoa, avelã, maionese, óleo de milho e girassol, gema de ovo e manteiga que são considerados ricos em vitamina E, 36% consomem regularmente e 26% sempre. A vitamina E é um antioxidante dietético de grande importância, e sua forma mais importante é o α-tocoferol. Sua função como antioxidante é proteger os tecidos adiposos do ataque de radicais livres, como por exemplo, a formação de radicais peróxidos a partir de ácidos graxos poliinsaturados nas membranas fosfolipídicas (SANTOS; CRUZ, 2001). A vitamina E encontra-se em grande quantidade nos lipídeos, e evidências recentes sugerem que essa vitamina impede ou minimiza os danos provocados pelos radicais livres associados com doenças específicas, incluindo o câncer, artrite, catarata e o envelhecimento (MORRISSEY; SHEEHY; GAYNOR, 1994). Ela tem a capacidade de impedir a propagação das reações em cadeia induzidas pelos radicais livres nas membranas biológicas. Os danos oxidativos podem ser inibidos pela ação antioxidante dessa vitamina, juntamente com a glutationa, a vitamina C e os carotenóides, constituindo um dos Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 53 principais mecanismos da defesa endógena do organismo (BIANCHI; ANTUNES, 1999). É capaz de inibir o crescimento das células malignas de linfomas e de câncer de mama in vitro. Impede que as células tumorais continuem o ciclo celular, interrompendo-o na fase G1 e conduzindo à apoptose. Em estados de deficiência da vitamina E, os danos celulares causados pela produção de radicais livres pelo tumor causam peroxidação lipídica e destruição celular (SANTOS; CRUZ, 2001). O efeito cooperativo entre as vitaminas C e E é frequentemente mencionado na literatura, mostrando que a interação dessas vitaminas é efetiva na inibição da peroxidação dos lipídeos da membrana e na proteção do DNA(BIANCHI;ANTUNES, 1999). O betacaroteno é um carotenóide precursor da vitamina A, também conhecido como pró-vitamina A. Tem importante papel na manutenção da saúde, agindo como um potente antioxidante (AISSA, 2010). É encontrado principalmente em vegetais e frutas verdeescuros e alaranjados como cenoura, batata doce, tomate, espinafre, noz moscada, manga, papaia, damasco e brócolis. Dos entrevistados, 45% afirmaram sempre consumir estes alimentos, 36% regularmente e 19% raramente. Estudos epidemiológicos sugerem que os carotenóides exercem papel protetor importante contra doenças cardiovasculares e certos tipos de cânceres. Ainda que o mecanismo de proteção não esteja totalmente elucidado, depende em parte da sua atividade antioxidante (NORMAN, 2001). Outras ações, como sua participação na regulação do crescimento celular e na modulação da expressão gênica, também podem estar relacionadas ao seu efeito protetor (RAO, A.; RAO, L., 2007). Catania e colaboradores em 2009, observaram após quase cinco anos de seguimento, em um estudo envolvendo 1299 idosos, que os benefícios do consumo de frutas e hortaliças, ricas em carotenóides foi inversamente associado à mortalidade cardiovascular. Os carotenóides exercem ações relacionadas à redução do risco de doenças degenerativas, prevenção da formação de catarata, diminuição da degeneração macular relacionada ao envelhecimento e redução do risco de doenças coronárias (KRINSKI, 2001). Fraser e Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 54 Bramley (2004) associam a alta ingestão de alimentos ricos em betacaroteno com a redução da incidência de câncer de mama. Os flavonóides são pigmentos naturais presentes nos vegetais que desempenham um papel fundamental na proteção contra agentes oxidantes, como por exemplo, os raios ultravioletas, a poluição ambiental, substâncias químicas presentes nos alimentos, entre outros, e atuam também como agentes terapêuticos em um elevado número de patologias, tais como arteriosclerose e câncer (LIMA, V.; MÉLO; LIMA, D., 2002). Dos entrevistados, 69% disseram raramente consumir alimentos ricos em flavonóides como leite de soja, farinha de soja, tofu, shoyo, uva e vinho; 25% regularmente e 6% sempre. Diversos estudos têm demonstrado que o consumo de substâncias antioxidantes na dieta pode produzir uma ação protetora contra os danos causados pelos processos oxidativos celulares. A atividade antioxidante dos flavonóides é consequência das suas propriedades de óxido-redução, as quais podem desempenhar um importante papel na absorção e neutralização de radicais livres (DEGÁSPARI; WASZCZYNSKYJ, 2004). Dessa forma, eles demonstram grande eficiência no combate de vários tipos de moléculas oxidantes que estão envolvidos em danos no DNA e promoção de tumores (MACHADO; NAGEM; PETERS et al., 2008). Os flavonoides também apresentam possíveis ações antiproliferativas frente a linhagens de células cancerígenas, impedindo a multiplicação destas no organismo humano, combatendo assim o surgimento e proliferação de diversos tipos de câncer (NOONAN; BENELLI; ALBINI, 2007). Recentemente, eles têm recebido atenção desde que estudos epidemiológicos sugeriram que o consumo de alimentos e bebidas ricos em polifenóis está associado com a redução no risco de doenças cardiovasculares, derrame cerebral e alguns tipos de câncer. Esses efeitos protetores têm sido atribuídos as suas propriedades antioxidantes. Pesquisa recente conduzida por Lau, Shukitt-Hale e Joseph (2005) demonstraram que antioxidantes naturais, presentes em mirtilo (Vaccinium spp) podem reverter declínios fisiológicos decorrentes da idade avançada, como a perda da função motora. Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 55 O selênio é encontrado principalmente em frutos do mar, fígado, grãos e sementes como arroz integral e aveia. Dos entrevistados, 80% disseram raramente consumir estes alimentos, 16% regularmente e 4% sempre. O selênio é um mineral essencial que necessita ser obtido através da alimentação. Desempenha papel relevante no metabolismo da tiróide e na manutenção da função reprodutiva e imunitária adequada, sendo componente de várias enzimas como a glutationa peroxidase, que permite proteger as membranas celulares contra a oxidação provocada pelos radicais livres de oxigênio (SILVA, 2013). A primeira linha de combate aos radicais livres são as enzimas com mecanismos antioxidantes como é o caso da glutationa peroxidase. A deficiência de selênio leva a uma diminuição da atividade desta enzima nas células e consequentemente à morte celular. O selênio (constituinte vital desta enzima) coopera assim na defesa contra o estresse oxidativo inibindo a formação de compostos oxidativos nas células (SAITO; YOSHIDA; NISHIO et al., 2004). O mecanismo que explica os efeitos da vitamina E e do selênio na imunidade não estão bem elucidados, mas está relacionado às suas fortes propriedades antioxidantes: eles eliminam os peróxidos livres formados durante processos de oxidação, os quais podem diminuir a permeabilidade e elasticidade das membranas citoplasmáticas (VIARO, R.; VIARO, M.; FLECK, 2001). Um estudo realizado na Finlândia onde 8.000 pessoas foram avaliadas durante seis anos demonstrou aumento da incidência de câncer e de infarto do miocárdio nas pessoas com taxas de selênio plasmáticas diminuídas. O solo brasileiro apresenta regiões muito pobres em selênio o que torna muito frequente a deficiência deste mineral (SILVA, 2013). Em relação à coenzima Q-10, encontrada principalmente em peixes, nozes, carnes magras, espinafre, soja e amendoim, 44% dos entrevistados, afirmaram que raramente consomem estes alimentos, 34% regularmente e 22% sempre. A coenzima Q-10 é uma molécula lipossolúvel, componente essencial da maioria dos sistemas vivos e parte integrante das mitocôndrias das células, onde desempenha um papel significativo na produção de energia e transporte de elétrons. Ela é uma ubiquinona Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 56 lipossolúvel que consiste no maior constituinte da membrana mitocondrial interna, membrana do complexo de Golgi e membrana dos lisossomos (OLIVEIRA, 2012). Nos seres humanos, sua biossíntese é muito ativa até os trinta anos de idade, época que ocorre a estagnação de sua produção e, a partir desta idade, os níveis começam a decrescer. Estudos indicam que a administração de suplementos de ubiquinona possui efeito benéfico no tratamento de doenças do coração, degeneração muscular e outras doenças degenerativas (BARREIROS; DAVID, J. M.; DAVID, J. P., 2006). Pesquisas demonstraram que a coenzima Q-10 aumenta a produção de ATP e a respiração das células cardíacas, o que melhora a utilização de oxigênio e reduz o esforço cardíaco, diminuindo a pressão sanguínea, evitando assim, as arritmias, um fator importante na prevenção de ataques cardíacos. A coenzima Q-10 também está relacionada a vários outros processos fisiológicos, estimulando o sistema imunológico, especialmente a atividade dos fagócitos (FOLKERS, 1992). CONCLUSÃO Embora a maioria dos acadêmicos de Ciências Biológicas e Enfermagem da FAFIMAN já tenham ouvido falar em radicais livres e antioxidantes, grande parte deles ainda não adequou a sua dieta aos benefícios proporcionados pelos antioxidantes no combate aos radicais livres, uma vez que a alimentação saudável e rica em antioxidantes melhora a qualidade de vida e ajuda a reduzir e a prevenir doenças. ABSTRACT EVALUATION OF THE CONSUMPTION OF FOOD RICH ON ANTIOXIDANTS AND KNOWLEDGE ABOUT FREE RADICALS BY THE ACADEMICS OF BIOLOGICAL SCIENCESAND NURSING OF FAFIMAN In a survey conducted with 83 academic of the Biological Sciences and Nursing courses of FAFIMAN starting from a questionnaire with preestablished questions about free radicals and food that are a source of Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 57 antioxidants, 80% of respondents who have already heard of free radicals and 95% of antioxidant. When questioned on the main effects of free radicals on the body, 34% answered that premature aging. Regarding the frequency of consumption of antioxidants in food, in the case of vitamin C and beta-carotene (precursor of vitamin A), 30% and 45% respectively of respondents always consume them through food. Regarding vitamin E, flavonoids, selenium and coenzyme Q-10, the majority of respondents said rarely consume food rich on these antioxidants, reaching 80% of negative in the case of selenium. Although most academics have heard of antioxidants and free radicals, most of them not adapted their diet to the benefits provided by antioxidants to combat the free radicals, since the healthy and rich diet on antioxidants improves quality of life and helps to reduce and prevent diseases. Keywords: Antioxidants. Free radicals. Healthy food. REFERÊNCIAS AISSA, A. F. Avaliação da atividade antimutagênica do betacaroteno microencapsulado em células de ratos tratados com o antitumoral doxorrubicina empregando os ensaios de micronúcleo e cometa. 2010. 44 f. Dissertação (Mestrado)-Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2010. BARREIROS, A. L.; DAVID, J. M.; DAVID, J. P. Estresse oxidativo: relação entre geração de espécies reativas e defesa do organismo. Quim. 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Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 61 APÊNDICE A Questionário aplicado para avaliar o conhecimento sobre os radicais livres e o consumo de alimentos ricos em antioxidantes por parte dos acadêmicos: 01 - Você já ouviu falar em radicais livres? ( ) sim ( ) não 02 - Você já ouviu falar em antioxidantes? ( ) sim ( ) não 03 - Quais os principais efeitos dos radicais livres sobre o nosso corpo? ________________________________________________________ ________________________________________________________ APÊNDICE B 04 - Assinale abaixo a frequência de consumo de substâncias antioxidantes na sua alimentação: FREQUÊNCIA Raramente ALIMENTOS ANTIOXIDANTES VITAMINA C Acerola, brócolis, couve, limão, laranja, kiwi, goiaba, pimentão. VITAMINA E Germe de trigo, amêndoa, avelã, maionese, óleo de milho e girassol, gema de ovo, manteiga. BETACAROTENO Vegetais e frutas verde-escuros e alaranjados, cenoura, batata doce, tomate, espinafre, noz moscada, manga, papaia, damasco, brócolis. FLAVONÓIDES Leite de soja, farinha de soja, tofu, shoyo, uva, vinho. SELÊNIO Frutos do mar, fígado, grãos e sementes como arroz integral e aveia. COENZIMA Q-10 Peixes, nozes, carnes magras, espinafre, soja, amendoim. Fonte: Fanhani, Ferreira (2006), Silva, Ribeiro e Chaves (2009). Regularmente Sempre Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014 62
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