avaliação do consumo de alimentos ricos em antioxidantes e do

Transcrição

avaliação do consumo de alimentos ricos em antioxidantes e do
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE ALIMENTOS RICOS EM
ANTIOXIDANTES E DO CONHECIMENTO SOBRE OS
RADICAIS LIVRES POR PARTE DOS ACADÊMICOS DE
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E ENFERMAGEM DA FAFIMAN
Grisiely Yara Ströher Neves*
Gisely Luzia Ströher**
Antonio Roberto Elias Junior***
Ligia Cristina Takashima****
Rosimare Lacerda de Assis*****
RESUMO
Em pesquisa realizada com 83 acadêmicos dos cursos de Ciências
Biológicas e Enfermagem da FAFIMAN, a partir de um questionário
com questões pré-estabelecidas sobre os radicais livres e alimentos que
são fonte de antioxidantes, 80% dos entrevistados responderam que já
ouviram falar em radicais livres e 95% em antioxidantes. Quando
questionados em relação aos principais efeitos dos radicais livres sobre o
corpo, 34% responderam ser o envelhecimento precoce. Quanto à
frequência de consumo de substâncias antioxidantes na alimentação, em
se tratando da vitamina C e do betacaroteno (precursor da vitamina A),
30% e 45% respectivamente dos entrevistados responderam sempre
consumi-los através dos alimentos. Quanto à vitamina E, flavonoides,
selênio e coenzima Q-10, a maioria dos entrevistados afirmaram
raramente consumir alimentos ricos nestes antioxidantes, chegando a
80% de negativa no caso do selênio. Embora a maioria dos acadêmicos já
tenha ouvido falar em radicais livres e antioxidantes, grande parte deles
ainda não adequou a sua dieta aos benefícios proporcionados pelos
antioxidantes no combate aos radicais livres, uma vez que a alimentação
*
Professora Doutora em Ciências Biológicas do Departamento de Ciências Biológicas - FAFIMAN. E-mail:
[email protected]
** Professora Doutora em Química do Departamento de Coordenação de Processos Químicos - Universidade
Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR CampusApucarana. E-mail: [email protected]
*** Biólogo graduado pela FAFIMAN. E-mail: [email protected]
**** Bióloga graduada pela FAFIMAN. E-mail: [email protected]
***** Bióloga graduada pela FAFIMAN. E-mail: [email protected]
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
47
saudável e rica em antioxidantes melhora a qualidade de vida e ajuda a
reduzir e a prevenir doenças.
Palavras-chave:Antioxidantes. Radicais livres.Alimentação saudável.
INTRODUÇÃO
O corpo humano produz naturalmente substâncias chamadas
de radicais livres, que podem ser definidas como átomos ou moléculas
altamente reativos, que contém número ímpar de elétrons em sua última
camada eletrônica, formados em processos rotineiros do organismo
como a respiração e a digestão dos alimentos (MAGALHÃES, 2007).
O excesso de radicais livres no organismo é combatido por
antioxidantes que são produzidos pelo corpo ou absorvidos através da
dieta. Quando há um desbalanço entre a produção de radicais livres e os
mecanismos de defesa antioxidantes, ocorre o chamado “estresse
oxidativo” (OLIVEIRA;AQUINO; RIBEIRO et al., 2011).
O estresse oxidativo pode ser definido como uma condição
biológica em que ocorre desequilíbrio entre a produção de espécies
reativas de oxigênio e a sua desintoxicação através de sistemas
biológicos que as removam ou reparem os danos por elas causados
(NÚÑEZ-SELLÉS, 2005). Os radicais livres em excesso podem ser
originados principalmente por defeitos na respiração mitocondrial,
ativação-inibição de sistemas enzimáticos ou por fatores exógenos,
como poluição, hábito de fumar, ingerir álcool, drogas, agrotóxicos, ou
ainda, por uma nutrição inadequada (PEREIRA; VIDAL; CONSTANT,
2009).
A oxidação é indispensável à vida aeróbica e, dessa forma, os
radicais livres são produzidos naturalmente. Essas moléculas geradas in
vivo estão envolvidas na produção de energia, fagocitose, regulação do
crescimento celular, sinalização intercelular e síntese de substâncias
biológicas importantes (BARREIROS; DAVID, J. M.; DAVID, J. P.,
2006).
No controle dos radicais livres estão os antioxidantes,
moléculas com cargas positivas que se combinam com os radicais livres,
de carga negativa, tornando-os inofensivos. Logo, essas substâncias
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
48
teriam a capacidade de anular a ação desses radicais, por isso a
denominação de antioxidantes (MAGALHÃES, 2007).
Antioxidantes naturais, presentes particularmente em frutas e
hortaliças têm ganhado crescente interesse entre os consumidores e a
comunidade científica. Estudos epidemiológicos sugerem que o
frequente consumo desses alimentos é associado com a baixa incidência
de doenças degenerativas incluindo o câncer, inflamações, artrites,
declínio do sistema imune, disfunção cerebral, doenças
cardiovasculares, diabetes, mal de Alzheimer e alguns tipos de catarata
(OLIVEIRA;AQUINO; RIBEIRO et al., 2011).
Diversas substâncias presentes nos alimentos de origem
animal e vegetal, de natureza lipofílica ou hidrofílica, apresentam
potencial para atuar como antioxidantes no meio biológico. Entre os
agentes antioxidantes encontrados nos alimentos destacam-se as
vitaminas C e E, os flavonoides, o betacaroteno, o selênio e a coenzima
Q-10 (CERQUEIRA; MEDEIROS;AUGUSTO, 2007).
Os antioxidantes são substâncias que, mesmo presentes em
baixas concentrações, são capazes de atrasar ou inibir as taxas de
oxidação. A classificação mais utilizada para estas substâncias é a que as
divide em dois sistemas: o enzimático composto pelas enzimas
produzidas no organismo, como a coenzima Q-10; e o não enzimático,
formado pelas vitaminas C (ácido ascórbico) e E (β-tocoferol),
compostos fenólicos como os flavonoides, carotenoides como o
betacaroteno e o mineral selênio (SANTOS; CRUZ, 2001).
Os antioxidantes agem nas três linhas de defesa orgânica contra
as espécies reativas de oxigênio. A primeira linha é a de prevenção, que
se caracteriza pela proteção contra a formação das substâncias
agressoras. A segunda linha é a interceptação, neste estágio os
antioxidantes precisam interceptar os radicais livres, os quais, uma vez
formados, iniciam suas atividades destrutivas. E a última linha é o
reparo. Ela ocorre quando a prevenção e a interceptação não foram
completamente efetivas e os produtos da destruição pelos radicais livres
estão sendo continuamente formados em baixas quantidades e desta
forma podem se acumular no organismo. O maior dano causado pelo
estresse oxidativo é a peroxidação dos ácidos graxos constituintes da
dupla camada lipídica que, em última instância, leva à morte celular
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
49
(CERQUEIRA; MEDEIROS;AUGUSTO, 2007).
A teoria de que o envelhecimento é resultado de danos
causados por radicais livres é creditada a Denham Harman que, em 1956,
baseou-se na observação de que a irradiação em seres vivos levava à
indução da formação de radicais livres, os quais diminuíam o tempo de
vida e produziam mudanças semelhantes ao envelhecimento. De acordo
com esta teoria, o lento desenvolvimento de danos celulares irreversíveis
leva ao envelhecimento (HIRATA; SATO; SANTOS, 2004).
Os antioxidantes são agentes responsáveis pela inibição e
redução das lesões causadas pelos radicais livres nas células. A inclusão
de antioxidantes na dieta é de grande importância e uma alimentação
saudável está relacionada com a diminuição do risco do
desenvolvimento de doenças associadas ao acúmulo de radicais livres.
Nos alimentos é encontrada uma grande variedade de substâncias que
podem atuar em sinergismo na proteção das células e dos tecidos
(BIANCHI;ANTUNES, 1999).
JUSTIFICATIVA
As condições de vida (estresse físico e mental), o meio
ambiente (ação de poluentes, radiação), fatores genéticos, nutricionais e
culturais exercem grande influência no desenvolvimento de doenças
degenerativas e no envelhecimento. A literatura demonstra que uma
alimentação natural e equilibrada, com a inclusão de vegetais folhosos,
legumes, frutas frescas, nozes, castanhas, cereais integrais, carnes
magras, ovos e laticínios reforçam o sistema imunológico e combatem os
radicais livres e seus efeitos maléficos sobre o organismo, justificando o
interesse em saber o conhecimento dos acadêmicos de Ciências
Biológicas e Enfermagem da Fundação Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Mandaguari (FAFIMAN) sobre este assunto bem como o
consumo de alimentos que são ricos em antioxidantes.
OBJETIVO
Verificar entre os acadêmicos de Ciências Biológicas e
Enfermagem da FAFIMAN seu conhecimento sobre a ação dos radicais
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
50
livres sobre o organismo humano e o consumo dos alimentos ricos em
antioxidantes.
METODOLOGIA
Para avaliar o conhecimento sobre a ação dos radicais livres e o
consumo dos alimentos ricos em antioxidantes por parte dos acadêmicos
de Ciências Biológicas e Enfermagem da FAFIMAN, foram realizadas
entrevistas, utilizando-se formulários pré-estruturados com questões
referentes ao assunto. As entrevistas foram realizadas nas dependências
da FAFIMAN pelos acadêmicos participantes do projeto. Os dados
foram coletados no período de abril a maio de 2013. Todas as respostas
foram analisadas e apresentadas em percentual.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em questionário aplicado a oitenta e três acadêmicos dos
cursos de Ciências Biológicas e Enfermagem da FAFIMAN, em relação
ao seu conhecimento sobre os radicais livres e consumo de alimentos
antioxidantes, 80% dos entrevistados responderam que já ouviram falar
em radicais livres, enquanto 20% não; 95% responderam que já
escutaram falar em antioxidantes, enquanto 5% não.
Como um dos temas de pesquisa mais intensamente
investigado nos últimos anos, tanto em seus aspectos básicos quanto nas
aplicações clínicas, os radicais livres e os antioxidantes, têm recebido
ampla divulgação pelos meios de comunicação, tendo se tornado,
rapidamente, de domínio público (YOKAICHIYA; GALEMBECK;
TORRES, 2000). Diversos estudos têm demonstrado que o consumo
diário de substâncias antioxidantes na dieta pode produzir uma ação
protetora efetiva contra os processos oxidativos que ocorrem no
organismo. Entre os antioxidantes naturais as frutas e os vegetais são os
alimentos que mais contribuem para o suprimento dietético destes
compostos (NOONAN; BENELLI;ALBINI, 2007).
A busca por uma vida saudável e de corpo e mente em
harmonia, vem se tornando uma preocupação das pessoas do mundo
inteiro nos últimos anos. Neste contexto, os consumidores se deparam
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
51
com a falta do consumo regular de produtos na forma in natura. As frutas
estão, cada vez mais, sendo grandes aliados na prevenção de doenças, em
razão de suas propriedades antioxidantes (FRASER; BRAMLEY,
2004).
Quando questionados em relação aos principais efeitos dos
radicais livres sobre o corpo, 60% dos entrevistados responderam que
não sabem; 34% disseram ser o envelhecimento precoce e 6%
consideraram doenças e distúrbios metabólicos.
Em pesquisa realizada por Silva, Ribeiro e Chaves (2009), com
um grupo de professores do Ensino Médio de Belo Horizonte - MG,
sobre os efeitos dos radicais livres sobre o corpo humano, 58,3% dos
docentes estabeleceram uma relação com o envelhecimento. Foi
relacionado também que os radicais livres contribuem para o surgimento
de patologias como o câncer e doenças auto-imunes, (33,3%), seguido de
aterosclerose e diabetes (16,7%), depressão e dano celular (8,3%). Foi
estabelecida uma relação direta dos radicais livres com o
envelhecimento e com doenças.
Barros e Bock (2013), afirmam que espécies reativas de
oxigênio, incluindo os radicais livres, são geradas por reações
fotoquímicas provocadas por exposição aos raios ultravioleta. Estes são
os principais causadores dos processos oxidativos, que por sua vez, são
os mediadores dos efeitos deletérios do envelhecimento da pele. Como
consequência podem danificar o DNA, membrana das células, e
proteínas como colágeno e elastina.
Quanto à frequência de consumo de substâncias antioxidantes
na alimentação, em se tratando da vitamina C, encontrada
principalmente em alimentos como acerola, brócolis, couve, limão,
laranja, kiwi, goiaba e pimentão, 30% dos entrevistados afirmaram
sempre consumir estes alimentos, 46% regularmente e 24% raramente.
Mais de 85% da vitamina C é proporcionada por frutas e
hortaliças. Nesse sentido, a vitamina C é considerada o antioxidante
hidrossolúvel mais importante no organismo. Apresenta a capacidade de
eliminar diferentes espécies de radicais livres, mantendo a integridade
das membranas celulares (KAUER; KAPOOR, 2001). Estudos mostram
que o ácido ascórbico reduz mutações causadas pelo estresse oxidativo
em células humanas in vitro, o que sugere que ele pode prevenir
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
52
mutações no DNA humano (LUTSENKO; CÁRCAMO; GOLDEN,
2002).
O ácido ascórbico age como antioxidante, detoxificando os
radicais livres das células e combatendo os processos oxidativos. Esta
afirmação pôde ser confirmada em um estudo realizado nos Estados
Unidos, sobre ingestão alimentar e envelhecimento da pele. Cosgrove e
colaboradores em 2007 observaram que mulheres com menor consumo
de alimentos ricos em vitamina C, tinham a pele mais enrugada, seca e
atrofiada, do que as que tinham uma boa ingestão de alimentos com o
nutriente, demonstrando que o maior consumo de vitamina C aumenta a
fotoproteção da pele, uma vez que esta a protege contra radicais livres
formados pela exposição solar repetitiva, criando uma camada
fotoprotetora na epiderme. O estudo foi realizado com 4.025 mulheres
com idade entre 40 e 74 anos. Pesquisas também mostram que a
suplementação regular com vitamina C reduz o risco do aparecimento de
catarata, através de seu efeito antioxidante nas células do cristalino
(BARROS; BOCK, 2013).
Dos entrevistados, 38% afirmaram que raramente consomem
alimentos como germe de trigo, amêndoa, avelã, maionese, óleo de
milho e girassol, gema de ovo e manteiga que são considerados ricos em
vitamina E, 36% consomem regularmente e 26% sempre.
A vitamina E é um antioxidante dietético de grande
importância, e sua forma mais importante é o α-tocoferol. Sua função
como antioxidante é proteger os tecidos adiposos do ataque de radicais
livres, como por exemplo, a formação de radicais peróxidos a partir de
ácidos graxos poliinsaturados nas membranas fosfolipídicas (SANTOS;
CRUZ, 2001).
A vitamina E encontra-se em grande quantidade nos lipídeos, e
evidências recentes sugerem que essa vitamina impede ou minimiza os
danos provocados pelos radicais livres associados com doenças
específicas, incluindo o câncer, artrite, catarata e o envelhecimento
(MORRISSEY; SHEEHY; GAYNOR, 1994). Ela tem a capacidade de
impedir a propagação das reações em cadeia induzidas pelos radicais
livres nas membranas biológicas. Os danos oxidativos podem ser
inibidos pela ação antioxidante dessa vitamina, juntamente com a
glutationa, a vitamina C e os carotenóides, constituindo um dos
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
53
principais mecanismos da defesa endógena do organismo (BIANCHI;
ANTUNES, 1999).
É capaz de inibir o crescimento das células malignas de
linfomas e de câncer de mama in vitro. Impede que as células tumorais
continuem o ciclo celular, interrompendo-o na fase G1 e conduzindo à
apoptose. Em estados de deficiência da vitamina E, os danos celulares
causados pela produção de radicais livres pelo tumor causam
peroxidação lipídica e destruição celular (SANTOS; CRUZ, 2001).
O efeito cooperativo entre as vitaminas C e E é frequentemente
mencionado na literatura, mostrando que a interação dessas vitaminas é
efetiva na inibição da peroxidação dos lipídeos da membrana e na
proteção do DNA(BIANCHI;ANTUNES, 1999).
O betacaroteno é um carotenóide precursor da vitamina A,
também conhecido como pró-vitamina A. Tem importante papel na
manutenção da saúde, agindo como um potente antioxidante (AISSA,
2010). É encontrado principalmente em vegetais e frutas verdeescuros e alaranjados como cenoura, batata doce, tomate, espinafre,
noz moscada, manga, papaia, damasco e brócolis. Dos entrevistados,
45% afirmaram sempre consumir estes alimentos, 36% regularmente e
19% raramente.
Estudos epidemiológicos sugerem que os carotenóides
exercem papel protetor importante contra doenças cardiovasculares e
certos tipos de cânceres. Ainda que o mecanismo de proteção não esteja
totalmente elucidado, depende em parte da sua atividade antioxidante
(NORMAN, 2001). Outras ações, como sua participação na regulação
do crescimento celular e na modulação da expressão gênica, também
podem estar relacionadas ao seu efeito protetor (RAO, A.; RAO, L.,
2007).
Catania e colaboradores em 2009, observaram após quase
cinco anos de seguimento, em um estudo envolvendo 1299 idosos, que
os benefícios do consumo de frutas e hortaliças, ricas em carotenóides foi
inversamente associado à mortalidade cardiovascular.
Os carotenóides exercem ações relacionadas à redução do risco
de doenças degenerativas, prevenção da formação de catarata,
diminuição da degeneração macular relacionada ao envelhecimento e
redução do risco de doenças coronárias (KRINSKI, 2001). Fraser e
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
54
Bramley (2004) associam a alta ingestão de alimentos ricos em
betacaroteno com a redução da incidência de câncer de mama.
Os flavonóides são pigmentos naturais presentes nos vegetais
que desempenham um papel fundamental na proteção contra agentes
oxidantes, como por exemplo, os raios ultravioletas, a poluição
ambiental, substâncias químicas presentes nos alimentos, entre outros, e
atuam também como agentes terapêuticos em um elevado número de
patologias, tais como arteriosclerose e câncer (LIMA, V.; MÉLO;
LIMA, D., 2002).
Dos entrevistados, 69% disseram raramente consumir
alimentos ricos em flavonóides como leite de soja, farinha de soja, tofu,
shoyo, uva e vinho; 25% regularmente e 6% sempre.
Diversos estudos têm demonstrado que o consumo de
substâncias antioxidantes na dieta pode produzir uma ação protetora
contra os danos causados pelos processos oxidativos celulares. A
atividade antioxidante dos flavonóides é consequência das suas
propriedades de óxido-redução, as quais podem desempenhar um
importante papel na absorção e neutralização de radicais livres
(DEGÁSPARI; WASZCZYNSKYJ, 2004). Dessa forma, eles
demonstram grande eficiência no combate de vários tipos de moléculas
oxidantes que estão envolvidos em danos no DNA e promoção de
tumores (MACHADO; NAGEM; PETERS et al., 2008).
Os flavonoides também apresentam possíveis ações
antiproliferativas frente a linhagens de células cancerígenas,
impedindo a multiplicação destas no organismo humano, combatendo
assim o surgimento e proliferação de diversos tipos de câncer
(NOONAN; BENELLI; ALBINI, 2007). Recentemente, eles têm
recebido atenção desde que estudos epidemiológicos sugeriram que o
consumo de alimentos e bebidas ricos em polifenóis está associado
com a redução no risco de doenças cardiovasculares, derrame cerebral
e alguns tipos de câncer. Esses efeitos protetores têm sido atribuídos as
suas propriedades antioxidantes. Pesquisa recente conduzida por Lau,
Shukitt-Hale e Joseph (2005) demonstraram que antioxidantes
naturais, presentes em mirtilo (Vaccinium spp) podem reverter
declínios fisiológicos decorrentes da idade avançada, como a perda da
função motora.
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
55
O selênio é encontrado principalmente em frutos do mar,
fígado, grãos e sementes como arroz integral e aveia. Dos entrevistados,
80% disseram raramente consumir estes alimentos, 16% regularmente e
4% sempre.
O selênio é um mineral essencial que necessita ser obtido
através da alimentação. Desempenha papel relevante no metabolismo da
tiróide e na manutenção da função reprodutiva e imunitária adequada,
sendo componente de várias enzimas como a glutationa peroxidase, que
permite proteger as membranas celulares contra a oxidação provocada
pelos radicais livres de oxigênio (SILVA, 2013).
A primeira linha de combate aos radicais livres são as enzimas
com mecanismos antioxidantes como é o caso da glutationa peroxidase.
A deficiência de selênio leva a uma diminuição da atividade desta
enzima nas células e consequentemente à morte celular. O selênio
(constituinte vital desta enzima) coopera assim na defesa contra o
estresse oxidativo inibindo a formação de compostos oxidativos nas
células (SAITO; YOSHIDA; NISHIO et al., 2004).
O mecanismo que explica os efeitos da vitamina E e do selênio
na imunidade não estão bem elucidados, mas está relacionado às suas
fortes propriedades antioxidantes: eles eliminam os peróxidos livres
formados durante processos de oxidação, os quais podem diminuir a
permeabilidade e elasticidade das membranas citoplasmáticas (VIARO,
R.; VIARO, M.; FLECK, 2001).
Um estudo realizado na Finlândia onde 8.000 pessoas foram
avaliadas durante seis anos demonstrou aumento da incidência de câncer
e de infarto do miocárdio nas pessoas com taxas de selênio plasmáticas
diminuídas. O solo brasileiro apresenta regiões muito pobres em selênio
o que torna muito frequente a deficiência deste mineral (SILVA, 2013).
Em relação à coenzima Q-10, encontrada principalmente em
peixes, nozes, carnes magras, espinafre, soja e amendoim, 44% dos
entrevistados, afirmaram que raramente consomem estes alimentos,
34% regularmente e 22% sempre.
A coenzima Q-10 é uma molécula lipossolúvel, componente
essencial da maioria dos sistemas vivos e parte integrante das
mitocôndrias das células, onde desempenha um papel significativo na
produção de energia e transporte de elétrons. Ela é uma ubiquinona
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
56
lipossolúvel que consiste no maior constituinte da membrana
mitocondrial interna, membrana do complexo de Golgi e membrana dos
lisossomos (OLIVEIRA, 2012). Nos seres humanos, sua biossíntese é
muito ativa até os trinta anos de idade, época que ocorre a estagnação de
sua produção e, a partir desta idade, os níveis começam a decrescer.
Estudos indicam que a administração de suplementos de ubiquinona
possui efeito benéfico no tratamento de doenças do coração,
degeneração muscular e outras doenças degenerativas (BARREIROS;
DAVID, J. M.; DAVID, J. P., 2006).
Pesquisas demonstraram que a coenzima Q-10 aumenta a
produção de ATP e a respiração das células cardíacas, o que melhora a
utilização de oxigênio e reduz o esforço cardíaco, diminuindo a pressão
sanguínea, evitando assim, as arritmias, um fator importante na
prevenção de ataques cardíacos. A coenzima Q-10 também está
relacionada a vários outros processos fisiológicos, estimulando o
sistema imunológico, especialmente a atividade dos fagócitos
(FOLKERS, 1992).
CONCLUSÃO
Embora a maioria dos acadêmicos de Ciências Biológicas e
Enfermagem da FAFIMAN já tenham ouvido falar em radicais livres e
antioxidantes, grande parte deles ainda não adequou a sua dieta aos
benefícios proporcionados pelos antioxidantes no combate aos radicais
livres, uma vez que a alimentação saudável e rica em antioxidantes
melhora a qualidade de vida e ajuda a reduzir e a prevenir doenças.
ABSTRACT
EVALUATION OF THE CONSUMPTION OF FOOD RICH ON
ANTIOXIDANTS AND KNOWLEDGE ABOUT FREE
RADICALS BY THE ACADEMICS OF BIOLOGICAL
SCIENCESAND NURSING OF FAFIMAN
In a survey conducted with 83 academic of the Biological Sciences and
Nursing courses of FAFIMAN starting from a questionnaire with preestablished questions about free radicals and food that are a source of
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
57
antioxidants, 80% of respondents who have already heard of free
radicals and 95% of antioxidant. When questioned on the main effects
of free radicals on the body, 34% answered that premature aging.
Regarding the frequency of consumption of antioxidants in food, in the
case of vitamin C and beta-carotene (precursor of vitamin A), 30% and
45% respectively of respondents always consume them through food.
Regarding vitamin E, flavonoids, selenium and coenzyme Q-10, the
majority of respondents said rarely consume food rich on these
antioxidants, reaching 80% of negative in the case of selenium.
Although most academics have heard of antioxidants and free radicals,
most of them not adapted their diet to the benefits provided by
antioxidants to combat the free radicals, since the healthy and rich diet
on antioxidants improves quality of life and helps to reduce and
prevent diseases.
Keywords: Antioxidants. Free radicals. Healthy food.
REFERÊNCIAS
AISSA, A. F. Avaliação da atividade antimutagênica do betacaroteno microencapsulado em células de ratos tratados com o
antitumoral doxorrubicina empregando os ensaios de micronúcleo
e cometa. 2010. 44 f. Dissertação (Mestrado)-Universidade de São
Paulo, Ribeirão Preto, 2010.
BARREIROS, A. L.; DAVID, J. M.; DAVID, J. P. Estresse oxidativo:
relação entre geração de espécies reativas e defesa do organismo.
Quim. Nova, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 113-123, 2006.
BARROS, C. M.; BOCK, P. M. Vitamina C na prevenção do
envelhecimento cutâneo. 2013. Disponível em:
<http://www.crn2.org.br/pdf/artigos/artigos1277237393.pdf>. Acesso
em: 17 jul. 2013.
BIANCHI, M. L. P.; ANTUNES, L. M. G. Radicais livres e os
principais antioxidantes da dieta. Rev. Nutr., Campinas, SP, v. 12, n.
2, p. 123-130, maio/ago. 1999.
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
58
CATANIA, A. C.; BARROS, C. R.; FERREIRA, S. R. G. Vitaminas e
minerais com propriedades antioxidantes e risco cardiometabólico:
controvérsias e perspectivas. Arq. Bras. Endocrinol. Metab., São
Paulo,v. 53, n. 5, p. 550-559, 2009.
CERQUEIRA, F.; MEDEIROS, M.; AUGUSTO, O. Antioxidantes
dietéticos: controvérsias e perspectivas. Quim. Nova, São Paulo, v.
30, n. 2, p. 441-449, 2007.
COSGROVE, M. C.; FRANCO O. H.; GRANGER, S. P. et al. Dietary
nutrient intakes and skin-aging appearance among middle-aged
American woman. Am. J. Clin Nutr., Bethesda, v. 86, p. 1225-1231,
2007.
DEGÁSPARI, C. H.; WASZCZYNSKYJ, N. Propriedades
antioxidantes de compostos fenólicos. Visão Acadêmica, Curitiba, v.
5, n. 1, p. 33-40, 2004.
FANHANI, A. P. G.; FERREIRA, M. P. Agentes oxidantes: seu papel
na nutrição e saúde dos atletas. SaBios-Rev. Saúde e Biol., Campo
Mourão, v. 1, n. 2, p. 33-41, jul./dez. 2006.
FOLKERS, K. Critique of 30 years of research on hematopoietic and
immunological activities of coenzyme Q10 and potentiality for
therapy of AIDS and cancer. Med. Chem. Res., Cambridge, n. 2, p.
48-60, 1992.
FRASER, P. D.; BRAMLEY, P. M. The biosynthesis and nutritional
uses of carotenoids. Progress Lipid Research, Oxford, v. 43, p. 228265, 2004.
HIRATA, L. L.; SATO, M. E. O.; SANTOS, C. A. M. Radicais livres e
o envelhecimento cutâneo. Acta Farm. Bonae, Buenos Aires, v. 23, n.
3, p. 418-24, 2004.
KAUER, C.; KAPOOR, H. C. Antioxidants in fruits and vegetables the millennium's health. Int. J. Food Sci. Technol., Oxford, v. 36, no.
7, p. 703-725, 2001.
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
59
KRINSKI, N. I. Carotenoids as antioxidants. Nutrition, Burbank, v.
17, p. 815-817, 2001.
LAU, F. C.; SHUKITT-HALE, B.; JOSEPH, J. A. The beneficial
effects of fruit polyphenols on brain aging. Neurobiology of Aging,
New York, v. 26, p. 128-132, 2005.
LIMA, V. L. A. G.; MÉLO, E. A.; LIMA, D. E. S. Fenólicos e
carotenóides totais em pitanga. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 59, p.
447-450, 2002.
LUTSENKO, E. A.; CÁRCAMO, J. M.; GOLDEN, D. W. Vitamin C
Prevents DNA Mutation Induced by Oxidative Stress. J. Biol. Chem.,
Bethesda, v. 277, n. 19, p. 16.895-16.899, 2002.
MACHADO, H.; NAGEM, T. J.; PETERS, V. M. et al. Flavonóides e
seu potencial terapêutico. Boletim do Centro de Biologia da
Reprodução, Juiz de Fora, v. 27, n. 1/2, p. 33-39, 2008.
MAGALHÃES, I. C. R.A ação dos radicais livres no organismo
humano e suas consequências. 2007. Disponível em:
<http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/vari
edades/radicais_ivia.htm>. Acesso em: 29 jun. 2013.
MORRISSEY, P. A.; SHEEHY, P. J. A.; GAYNOR, P. Vitamin E. Am.
J. Clin. Nutr., Bethesda, v. 62, p. 260-264, 1994.
NOONAN, D. M.; BENELLI, R.; ALBINI, A. Angiogenesis and
cancer prevention: a vision. Recent Results. Cancer Research,
Baltimore, v. 174, p. 219-224, 2007.
NORMAN, I. K. Carotenoids as antioxidants.Nutrition, Burbank, v.
17, n. 10, p. 815-817, 2001.
NÚÑEZ-SELLÉS, A. J. Antioxidant therapy: myth or reality? J. Braz.
Chem. Soc., São Paulo, v. 16, no. 4, p. 609-610, 2005.
OLIVEIRA, C. A. Aspectos farmacológicos da coenzima Q10.
2012. 85 f. Dissertação (Mestrado)-Universidade Fernando Pessoa,
Porto, Portugal, 2012.
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
60
OLIVEIRA, D. S.; AQUINO, P. P.; RIBEIRO, S. M. R. et al. Vitamina
C, carotenóides, fenólicos totais e atividade antioxidante de goiaba,
manga e mamão procedentes da Ceasa do Estado de Minas Gerais.
Acta Scientiarum. Health Sciences, Maringá, v. 33, n. 1, p. 89-98,
2011.
PEREIRA, A. L. F.; VIDAL, T. F.; CONSTANT, P. B. L.
Antioxidantes alimentares: importância química e biológica. Nutrire
Rev. Soc. Bras. Aliment. Nutr., São Paulo, v. 34, n. 3, p. 231-247,
dez. 2009.
RAO, A. V.; RAO L. G. Carotenoids and human health. Pharmacol.
Res., London, v. 55, n. 3, p. 207-216, 2007.
SAITO, Y.; YOSHIDA, Y.; NISHIO, K.et al. Characterization of
cellular uptake and distribution of vitamin E. Ann. N Y Acad. Sci.,
New York, v. 1031, p. 368-375, Dec. 2004.
SANTOS, H. S. CRUZ, W. M. S. A terapia nutricional com vitaminas
antioxidantes e o tratamento quimioterápico oncológico. Rev. Bras.
Cancerologia, Rio de Janeiro, v. 47, n. 3, p. 303-308, 2001.
SILVA, J. P. O poder dos antioxidantes: selênio. 2013. Disponível em:
<http://www.josepereiradasilva.com/media/pdf/cms/articles/selenio.pd
f>. Acesso em: 29 jun. 2013.
SILVA, F. C.; RIBEIRO, R. C.; CHAVES, A. C. L. Radicais livres e
antioxidantes: concepções e expectativas dos professores do ensino
médio. In: ENPEC - ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM
EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 7., 2009, Florianópolis. Anais...
Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2009. p. 1-12.
VIARO, R. S.; VIARO, M. S.; FLECK, J. Importância bioquímica do
selênio para o organismo humano. Disciplinarum Scientia. Série:
Ciên. Biol. e da Saúde, Santa Maria, v. 2, n. 1, p. 17-21, 2001.
YOKAICHIYA, D. K.; GALEMBECK, E.; TORRES, B. B. Radicais
livres de oxigênio: um software introdutório. Química Nova, São
Paulo, v. 23, n. 2, p. 267-269, 2000.
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
61
APÊNDICE A
Questionário aplicado para avaliar o conhecimento sobre os
radicais livres e o consumo de alimentos ricos em antioxidantes por parte
dos acadêmicos:
01 - Você já ouviu falar em radicais livres?
( ) sim
( ) não
02 - Você já ouviu falar em antioxidantes?
( ) sim
( ) não
03 - Quais os principais efeitos dos radicais livres sobre o nosso corpo?
________________________________________________________
________________________________________________________
APÊNDICE B
04 - Assinale abaixo a frequência de consumo de substâncias
antioxidantes na sua alimentação:
FREQUÊNCIA Raramente
ALIMENTOS
ANTIOXIDANTES
VITAMINA C
Acerola, brócolis, couve, limão, laranja, kiwi,
goiaba, pimentão.
VITAMINA E
Germe de trigo, amêndoa, avelã, maionese, óleo
de milho e girassol, gema de ovo, manteiga.
BETACAROTENO
Vegetais e frutas verde-escuros e alaranjados,
cenoura, batata doce, tomate, espinafre, noz
moscada, manga, papaia, damasco, brócolis.
FLAVONÓIDES
Leite de soja, farinha de soja, tofu, shoyo, uva,
vinho.
SELÊNIO
Frutos do mar, fígado, grãos e sementes como
arroz integral e aveia.
COENZIMA Q-10
Peixes, nozes, carnes magras, espinafre, soja,
amendoim.
Fonte: Fanhani, Ferreira (2006), Silva, Ribeiro e Chaves (2009).
Regularmente
Sempre
Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 47-62, 2014
62

Documentos relacionados

Julho 2012 Clique na imagem para abrir o arquivo em PDF

Julho 2012 Clique na imagem para abrir o arquivo em PDF Alzheimer: aprenda a prevenir este mal Responsável por 50% das incidências de doenças que provocam a deterioração mental, o Mal de Alzheimer atinge, hoje, mais de 1 milhão de brasileiros. Segundo a...

Leia mais

radicais livres e uso de antioxidantes no doente grave - STI

radicais livres e uso de antioxidantes no doente grave - STI antioxidação “in vivo”, particularmente de órgãos e tecidos onde o estresse oxidativo é maior, e a única técnica que detecta diretamente a presença de radicais livres é a espectroscopia por ressonâ...

Leia mais

Stress Oxidativo, Antioxidantes e Fitoquímicos

Stress Oxidativo, Antioxidantes e Fitoquímicos normal da célula, na maior parte sob a forma de espécies reactivas de oxigénio (ROS) e de nitrogénio (RNS). A exposição dos organismos a radicais livres, conduziu ao desenvolvimento de mecanismos d...

Leia mais