PECUARIA teoria
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PECUARIA teoria
PLANTAS TÓXICAS PARA A PECUÁRIA: Milhares de anos se passaram desde que os mais primitivos animais começaram a se alimentar de vegetais; inicialmente os primeiros organismos existentes eram desprovidos de predadores e supriam uns dos outros de substâncias nutritivas; com o passar do tempo foram surgindo organismos mais evoluídos que eram capazes de se alimentar de plantas, que por sua vez forneciam alimentos para os animais, que depois se tornariam os ancestrais dos carnívoros. No decorrer deste período, uma série de evoluções adaptativas, através de seleção natural, ocorreram, no sentido de adaptar os organismos existentes na exploração e utilização dos nutrientes e fontes de energia disponíveis. As plantas, também desenvolveram mecanismos para se proteger da predação, seja através da proteção mecânica (espinhos, tricomas, pêlos glandulares, etc.), redutores de digestibilidade (celulose e hemicelulose, pectina, ligninas, cutinas, taninos e sílica), métodos de escape (camuflagem, sementes aladas, etc) ou através da produção de toxinas (alcalóides, terpenóides, cianetos hidrogenados, etc.). São justamente estas toxinas os causadores de grandes perdas econômicas em rebanhos, e que muita importância exerce sobre a toxicologia veterinária, particularmente no Brasil, onde a diversidade botânica é muito grande. As razões que levam um animal a ingerir plantas tóxicas são muito variadas, e incluem, entre elas: -a formação de pastagens de forma inadequada -a inclusão recente de animais num pasto desconhecido -a escassez de alimentos -falta de limpeza periódica do pasto ou cultura -perversão do apetite devido à deficiências minerais, etc. Com relação à planta, a toxicidade vai variar de acordo com a espécie da planta, de seu princípio biológico, da parte da planta ingerida, das condições do meio, solo, adubação e clima, e do estágio de crescimento da planta (se em brotação, floração, etc.). Dos animais, os bovinos são os que mais comumente costumam se intoxicar, isto devido aos seus hábitos alimentares; com a gustação quase inexistente, rápida deglutição e digestão lenta (o que favorece a absorção do tóxico) os fazem vítimas fáceis, principalmente daquelas plantas que provocam morte súbita. IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DE PLANTAS TÓXICAS NO BRASIL: O Brasil, devido a sua grande extensão geográfica, flora diversificada, e ainda não totalmente conhecida, e tipo de criação, predominantemente extensiva, é um país cujas características propicia em muito a ocorrência de intoxicações por plantas tóxicas. Embora muitos sejam os casos de intoxicação de ocorrência no campo, poucos são os casos devidamente relatados e estudados. Muitos dos casos de intoxicações por plantas são diagnosticados como envenenamento por outras substâncias, ou muito mais freqüentemente, confundidas com doenças infecciosas. Isto algumas vezes decorre do fato do veterinário ou do próprio fazendeiro não ter um conhecimento um pouco mais amplo à respeito das plantas tóxicas mais importantes existentes nas diferentes regiões do Brasil. É 2 comum que, na tentativa de tentar o animal intoxicado os tratadores façam com que o animal seja submetido a esforços físicos como a corrida, administram substâncias ácidas ou alcalinas, ou mesmo usam do azeite; estes métodos, dependendo da substância ingerida, poderão mesmo intensificar os danos aos animais. É partindo-se do estudo da planta, da substância tóxica envolvida e do mecanismo de ação exato é que poderá se chegar à aplicação de uma terapêutica adequada, que, por sua vez, deverão ter ampla divulgação para utilização no campo. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA: No Brasil não existem estimativas recentes de qual seja a perda anual com problemas relacionados à intoxicação por plantas tóxicas na pecuária. DOBERHEINER, estima que cerca de 150.000 cabeças de gado sejam perdidas anualmente. Nos E.U.A. estima-se que sejam perdidos em 17 estados do oeste americano cerca de 336 milhões de dólares/ano. Normalmente os estudos só levam em conta os problemas relacionados com as perdas diretas. PERDAS DIRETAS: -morte -retardo de crescimento -diminuição na eficiência reprodutiva -aborto -problemas neonatais -diminuição da imunidade, etc. PERDAS INDIRETAS: -suplementação da ração -construção de cercas -custos médicos -manejo, etc. As perdas econômicas são decorrentes das mortes, abortos, defeitos congênitos, efeitos patológicos nos vários órgãos que resultam em alterações reprodutivas, performance diminuída, perda de peso, desperdícios (por mal-estado geral do animal), além de fotossensibilização. CLASSIFICAÇÃO DAS PLANTAS: Existem vários critérios para a classificação de plantas: a)Botânico b)Geográfico c)Farmacológico d)Clínico e Anátomo-patológico 3 a)Botânico: Realiza a classificação em Classe, Ordem, Família, Gênero, Espécie e variedade. A utilização em separado deste tipo de classificação não define bem quais as plantas tóxicas ou não. Numa mesma família ou gênero poderão se encontrar plantas tóxicas e não tóxicas, como o caso da Palicourea marcgravii, planta que promove morte súbita em bovinos, e que pertence à mesma família do café. Um outro exemplo é a mandioca brava (Manihot esculenta) que é tóxica devido ao alto grau de HCN, diferentemente de sua parente próxima a Manihot utilissima, que é muito utilizada em nossa alimentação e que possue teores muito baixos de HCN. b)Geográfico: Num país como o Brasil, de extensão geográfica muito grande, e temperaturas elevadas em quase todo o território, é comum o aparecimento de uma mesma planta em várias regiões diferentes, o que torna difícil basear o diagnóstico por este dado. c)Farmacológico: As plantas contém muitas substâncias tóxicas diferentes. Sabe-se que as substâncias que causam uma determinada sintomatologia em uma espécie animal pode não causar em outra, ou então, atuam sobre órgãos diferentes. Devido à grande variedade de plantas existem em nosso país, e devido aos escassos estudos até agora realizados ainda muito pouco se conhece sobre os princípios tóxicos existentes em nossa flora. d)Clínico e Anátomo-patológico: De maneira geral é a classificação mais utilizada. A dificuldade está no fato das plantas em geral causarem lesões muito semelhantes umas das outras, além do que podem ser confundidas com as lesões por processos infecciosos e outros. Diagnóstico: Deve ser realizado com base no maior número de dados possível, através de uma anamnese minuciosa, análise da sintomatologia, achados de necrópsia, histopatológico, diagnóstico diferencial (pois as lesões não são patognomônicas). Muitas vezes não há o encontro das lesões, entretanto há o encontro de plantas tóxicas no estômago e rúmen do animal. Caso esteja muito macerada pode se avaliar o cheiro, que é muito característico no caso de plantas cianogênicas (odor de amêndoas amargas) e no caso da Palicourea spp. (vic-vaporub). No Brasil cerca de 50 plantas tóxicas para herbívoros já foram catalogadas. 4 AS PLANTAS MAIS IMPORTANTES NO NOSSO MEIO SÃO: 1) CAUSADORAS DE MORTE SÚBITA: 1-Palicourea sp (Erva-de-rato; Vick; Cafezinho; Roxa; Roxinha) 2-Arrabideae sp (Gibata, Chibata) 3-Pseudocalymma sp 4-Mascagnia sp (Tinguí; Timbó; Corona) Estas plantas são responsáveis por mais de 50% das perdas econômicas por intoxicação por plantas. Palicourea marcgravii: A Palicourea marcgravii é a planta tóxica mais importante do Brasil. Pertence à família Rubiacea; é popularmente conhecida como Cafézinho, Café-bravo (pois é da mesma família do café), Roxinha ou Roxona (na maturação o dorso é arroxeado), Erva-de-Rato (antigamente entrava na composição de rodenticidas), Vick-vaporub (quando se esmagam as folhas, exala-se o odor de salicilato de metila). Distribuição e Habitat: É uma das plantas mais difundidas pelo país, só ocorre no Brasil, só não estando presente nos estados do MS, Região Sul e Sertão Nordestino. É de difícil erradicação. Condições para Ocorrência: É extremamente palatável. Mesmo a planta seca é tóxica. Sintomas: A sintomatologia é semelhante nas diferentes plantas causadoras de morte súbita, sendo que verifica-se andar cambaleante, paraplegias, convulsões tônico-clônicas violentíssimas e morte súbita. Morte ocorre mais ou menos após 7-14 horas da ingestão da dose tóxica da planta. Necrópsia e Histopatologia: não há lesões específicas, verificando-se somente o odor de salicilato de metila durante a abertura do rúmen. Poderá se encontrar vestígios da planta no conteúdo ruminal. Diagnóstico Diferencial: picada de cobra, carbúnculo hemático (que também causa quadro agudo), e com outras plantas que causam morte súbita. Princípio Tóxico: Ác. monofluoracético. 0,5 g/kg é capaz de matar um bovino. Experimentos realizados em nossos laboratórios demonstraram que cerca de 0,4 g/kg mata bovinos em cerca de 6 horas. Mecanismo de Ação: Inibe a aconitase no Ciclo de Krebs. 5 Tratamento: Não existe tratamento curativo. A evolução rápida e a morte fulminante dos animais não possibilitam a administração de antídotos. Profilaxia: É de difícil erradicação e combate. Normalmente encontrada em lugares sombreados, em geral nas margens de matas nativas cercadas da propriedade. A flor é 3 vezes mais tóxica que as folhas. A "erva de rato" deve ser arrancada dos pastos, não bastando cortar. É necessário que se faça a remoção e/ou queima da planta. A carne de um animal intoxicado poderá ser utilizado caso seja bem passado. O rúmen deverá ser eliminado. 6 2) CAUSADORAS DE HEPATOTOXICIDADE: 1-Senecio brasiliensis (Flor das Almas; Maria mole) 2-Crotalaria sp (Guizo de cascavel) 3-Symphitum officinalis (Confrey) 4-Sessea brasiliensis (Peroba d'água; Pau de osso; Queluz) = SP/MG 5-Cestrum laevigatum (Coerana; Dama da Noite) = Sudeste/CO Senecio brasiliensis: Vulgarmente conhecida como "Maria-mole" e "Flor das Almas" Distribuição e Habitat: Brasil e Uruguai. Condições para Ocorrência: Acomete bovinos, equinos e ovinos. Seus efeitos tóxicos são cumulativos e os animais acometidos apresentam cirrose hepática. As partes tóxicas estão nas folhas e frutos e variam nas diferentes épocas do ano. Sintomas: Inapetência, irritabilidade, emagrecimento, palidez de mucosas, transtornos intestinais e urina escura. Estas plantas também causam falência hepática. Neste caso a bilirrubina direta está abaixo do normal. Diagnóstico: Pelo conjunto de dados. A necrópsia revela cirrose hepática e edema pulmonar. Princípio Ativo Tóxico: Alcalóides pirrolizidínicos Tratamento:Não há Profilaxia: Afastar os animais de áreas onde existam a planta. 7 3) AÇÃO RADIOMIMÉTICA (em ruminantes) e AÇÃO ANTI-TIAMINA (em monogástricos): 1-Pteridium aquilinum 2-Equisetum arvense (cavalinha) Pteridium aquilinum: Pertence à família Polidipiaceae, e é vulgarmente conhecida como Samambaia ou Samambaia do Campo. Distribuição e Habitat: É uma planta muito frequente em várias regiões do Brasil, principalmente do sul da Bahia para baixo (Sudeste, Centro-Oeste, Sul). Ocorre em solos de pH ácido, arenosos e pobres em nutrientes; geralmente é a primeira a brotar em solos queimados. Muitos povos o utilizam como alimento na forma cozida e como saladas verdes. No Japão o aumento da incidência de carcinoma esofágico em humanos está relacionado com o consumo desta planta. Aparentemente o consumo de leite contaminado também tem levado ao aumento da incidência de câncer estomacal. É uma planta cosmopolita só não sendo encontrada nos polos. Condições para Ocorrência: Fome, escassez de fibra bruta para o animal e vício. Sintomas (em ruminantes): AgudosOcorrem quando da ingestão de mais de 10g/kg em 1 semana; caracterizados por: -Hemorragias nasais, diáteses hemorrágicas e febre alta. No caso de mordedura por insetos, o sangue não estanca com facilidade. As fezes são sangüinolentas e de mau cheiro característico. Ao exame de sangue verifica-se trombocitopenia, leucopenia (neutropenia) e anemia. CrônicosQuando o animal ingere a samambaia por períodos iguais ou superiores a dois anos. Neste caso, à patogenia se dá o nome de Hematúria enzoótica. Caso a ingestão ocorra por um período de mais ou menos 5 anos (gado de leite) verifica-se sintomas de tosse, regurgitação de alimento, timpanismo e prisão de ventre. Neste caso o quadro é denominado de Caraguatá ou Figueira. Necrópsia: AgudoHemorragias disseminadas no corpo do animal, além de úlceras na mucosa. No histopatológico verifica-se rarefação da medula óssea, atrofia dos centros germinativos dos folículos do baço. 8 Crônico(2 anos): À necrópsia verifica-se bexiga com lesão. No histopatológico verifica-se carcinoma epidermóide (pontuação e formações imensas em forma de couve-flor). (5 anos): À necrópsia verifica-se que a extensão compreendida entre o esôfago até o rúmem encontra-se com formações nodulares em forma de couve-flor, além de carcinomas epidermóides (verificado no histopatológico). Diagnóstico Diferencial: Aguda- Pasteurelose (devido à febre alta) Crônica (2 anos)- Piroplasmose (5 anos)- Actinibacilose (devido à regurgitação) e Tuberculose (por também ser caquetizante). Princípio Ativo Tóxico: É um glicosídio denominado ptaquilosídio. Este princípio está relacionado ao efeito cancerígeno, em relação ao efeito radiomimético ainda não se sabe se é o próprio ptaquilosídio ou um outro princípio ativo não identificado. É passível de passar pelo leite, sendo relatado casos de pessoas que apresentaram câncer estomacal por ingestão de leite contaminado. O princípio tóxico não é destruído pela pasteurização. Tratamento: Aguda- Retirar o animal do pasto, transfusão de sangue, além de estimulante da medula óssea (l-batil álcool - caro e de valor valioso) Crônica: Abate (carcinoma não cura). Profilaxia: Correção do pH do solo. Sintomas (em eqüinos): Incoordenação à ponto de cair, desequilíbrio do trem posterior, tremores musculares, quando o cavalo cai, às vezes não consegue mais se levantar. Nos estágios finais verifica-se opistótono, convulsão e morte. Princípio ativo tóxico: Tiaminase: degrada a tiamina. a tiamina é um cofator de carboxilases no metabolismo protêico, carboidratos e lipídios. A deficiência de tiamina leva a acúmulo de piruvato endógeno. No entanto, não é bem sabido porquê este acúmulo de piruvato estaria implicado na sintomatologia nervosa que os equinos aprensentam. Além da sintomatologia nervosa verificam-se alterações circulatórias que também não conseguem ser correlacionadas com a deficiência de tiamina. Necrópsia: nada digno de nota. Diagnóstico diferencial: Com Senécio sp. e Crotalária sp. Tratamento: Tiamina na dose de 1,25 mg/Kg. 9 4) AÇÃO SEMELHANTE À VITAMINA D: 1-Solanum malacoxylon (Espichadeira) = Pantanal 2-Nierembergia veitchii = RS Solanum malacoxylon: Pertence à família Solanaceae, e é vulgarmente conhecida como Espichadeira. Distribuição e Habitat: Ocorre mais no Pantanal Mato-grossense. É o maior problema na Argentina. Geralmente o seu aparecimento está relacionado com terrenos argilosos. Condições para Ocorrência: Ocorre no período de inverno (de julho a setembro). É um período sem chuvas, em que os animais descem para regiões com mais pastagens (terras mais baixas, presença de Solanum). Concomitantemente há queda das folhas. Os bovinos comem mais folhas caídas misturadas à pastagem; geralmente não comem a folha no pé. Sintomas: Andar difícil e doloroso (se apóia na ponta do carpo). Com a evolução emagrece e cada vez procura menos alimento, apesar da fome, já que tem dificuldades para se locomover. À auscultação verifica-se sopros e arritmias cardíacas. No exame de sangue verifica-se hipercalcemia e hiperfosfatemia. O animal morre deitado já que não consegue se levantar. Necrópsia e Histopatológico: Calcificação em vários locais do organismo, principalmente tendões, aorta e artéria pulmonar (grandes vasos), além de pulmão, em alguns casos. Na auscutação pulmonar verifica-se enfizema. No coração há a calcificação das válvulas. No exame histopatológico verifica-se a calcificação de diversos tecidos e desarranjo do conjuntivo. Diagnóstico Diferencial: É facilmente diferenciável devido ao tipo de história clínica. Princípio Ativo Tóxico: 1,25 diidrocolecalciferol, que é uma molécula semelhante à vit. D3 ativada. Tratamento: Não há. Profilaxia: Evitar que os animais pastem em locais infestados pela planta. 10 5) CAUSADORAS DE DISTÚRBIOS NO SNC: 1-Ricinus communis -folhas- (Mamona, Carrapateira) 2-Ipomoea fistulosa (Canudo, Algodão bravo, Campainha, Salsa) São plantas tóxicas causadoras de intoxicações em várias espécies animais. A Ipomeae sp é uma planta pertencente à família Convolvulaceae. Distribuição e Habitat: Ocorre em todo o Nordeste, especialmente na margens de rios e lagoas. Também no Norte e Centro-Oeste (Pantanal). Condições para ocorrência: Os animais precisam ingerir a planta por semanas para apresentar os sintomas de intoxicação. Como a planta se mantém verde durante todo o ano, durante os períodos de seca os animais a ingerem em grande quantidade. Alguns autores defendem que os animais se viciam em comer a planta. Acomete bovinos, ovinos e caprinos. Sintomas: Logo após a ingestão os animais apresentam apatia, um andar cambaleante, como que embriagados. O emagrecimento é progressivo e não há recuperação. Quando a quantidade ingerida é pequena, passado o período de embriaguez, o animal se recupera. A evolução é crônica. Diagnóstico: Se faz pelo conjunto de dados, sendo a sintomatologia nervosa muito característica. Princípio ativo tóxico: Ainda não identificado. Tratamento: Desconhecido. Indica-se o abate do animal antes que este emagreça demais. Profilaxia: Evitar o acesso às plantas. Normalmente o animal come a mamona só quando está com fome, já que é pouco palatável. 11 6) CAUSADORAS DE DISTÚRBIOS NO TGI: 1-Baccharis coridifolia (Mio-Mio) = Sul 2-Ricinus communis - sementes - (Mamona, Carrapateira) Bacharis coridifolia: Pertence à família Compositae, sendo vulgarmente denominada de Mio-Mio. Possui o formato de um pinheiro, alcançando no máximo 1 metro de altura. Distribuição e Habitat: Ocorre principalmente na Região Sul, estendendo-se até São Paulo, na divisa do Paraná, principalmente nos campos nativos. Condições para Ocorrência: Geralmente os animais intoxicados são aqueles que nunca tiveram contato prévio com a planta; ou os provenientes de regiões sem Mio-Mio, ou então animais recém-desmamados. Sintomas: Efeito cáustico sobre o aparelho digestivo, com anorexia, parada dos movimentos ruminais, focinho quente e seco, secreção acentuada ao redor dos olhos. Na floracão (período de fevereiro/março), os animais apresentam sintomatologia nervosa, já que neste período a planta se mostra 4 vezes mais tóxica que durante a brotação (período de outubro/novembro). Necrópsia e Histopatológico: Verifica-se hemorragia e necrose em quase todo o TGI; no histopatológico verifica-se necrose do epitélio gastro-entérico. Diagnóstico Diferencial: Não se faz. Nas regiões onde a intoxicação é frequente as lesões são características. Princípio Ativo Tóxico: Tricotecenos. A dose tóxica é de no mínimo 0,5 g/kg. A substância cáustica é produzida pelo fungo Myrothecium vernicarum, que se encontra nas raízes do Mio-Mio (durante a floração sobe para as folhas e flores da planta). Tratamento: Não se faz, já que o princípio ativo é cáustico e promove a queima das mucosas. Profilaxia: Se faz através de fumigações. O Mio-Mio é queimado e os animais são forçados a aspirar a fumaça produzida. Com isto os animais desenvolvem o condicionamento aversivo pela planta. 12 7) PLANTAS CIANOGÊNICAS: 1-Manihot spp. (Mandioca brava, Maniçoba) = NO, NE e BR 2-Prunus sphaerocarpa (Pessegueiro bravo) = Sul 3-Sorghum vulgare (Sorgo) = BR 4-Piptadenia macrocarpa (Angico preto) = NE Manihot sp. (mais utilizada para suínos e bovinos), Sorghum sp. (mais utilizada para eqüinos) , Piptadenia macrocarpa (Angico-preto, mais importante para bovinos; não é planta forrageira - Região Nordeste) , Prunus sphaerocarpa (Pessegueiro-bravo - Não é forrageira - Região Sul) Patogenia: É um glicosídio cianogênico, o CN- é liberado durante a mastigação. Combinase com o Fe3+ da citocromo oxidase. Com o bloqueio da enzima não há o transporte de elétrons com consequente parada da cadeia respiratória. O oxigênio não consegue passar para o tecido pois o local onde este se liga na cadeia respiratória está ocupado; com isto ocore anóxia citotóxica e morte celular. Sintomas: Inicialmente há inquietude, gemidos, mucosa com coloração vermelho-brilhante. Na fase agônica as pupilas encontram-se dilatadas. Após a ingestão a morte ocorre num período de mais ou menos 2 horas. 5 minutos após o aparecimento dos sintomas clínicos sobrevém a morte. Necrópsia: Verifica-se que o sangue apresenta coloração vermelho-brilhante. Ao abrir o animal na necrópsia verifica-se o nítido odor de amêndoas amargas Diagnóstico Diferencial: Não há. Deve se realizar a diferenciação entre as diversas plantas do mesmo grupo, caso não se verifique a coloração vermelho-brilhante e cheiro de cianeto. A anamnese é muito importante, já que ela definirá qual o tipo de planta ingerida. Tratamento: É eficiente, mas como a morte é rápida após o início dos sintomas, é difícil que o tratamento seja instalado antes que os animais morram. Consiste na administração de Tiossulfito de sódio (20g de nitrito de sódio + 30 g de tiossulfato de sódio + 500 ml de H2O). Administrar 20 ml/50 kg via IV, daí para menos em tosdos os animais como profilaxia. Profilaxia: Solução de picrato (5% de carbonato de sódio e 5% de ácido pícrico). Quando se suspeita que a planta contenha altos teores de HCN, pega-se uma tira de papel branco, embebe-se nesta solução, deixa secar. Pega-se um tubo de ensaio, coloca a planta macerada dentro, junto com um pouco de água. Coloca-se uma tira contendo a solução no topo do tubo, fecha-se e aquece-se por 2 minutos em temperatura de 33ºC. Caso a tira se tingir de amarelo a vermelho tijolo, significa que existe ácido cianídrico sendo eliminada do material vegetal; quando mais escura se tornar a tira, maior o teor de ácido. Para prevenir a intoxicação com mandioca ou sorgo amassar na água para liberar o cianeto. 13 8) PLANTAS FOTOSSENSIBILIZANTES: 1-Fotossensibilização Secundária ou Hepatogênica: Lantana camara ou spp (Chumbinho, Camara) = BR Stryphnodendron spp (Barbatimão) = BR Enterolobium guminiferum (Tamboril do Campo) = Triângulo Mineiro Brachiaria decumbens + Pythomyces chartarum (fungo)= BR Lantana camara: pertence à família Verbenaceae, sendo vulgarmente conhecida como Chumbinho, Camará, Cambará, etc. Distribuição e ocorrência: Ocorre em todo o país, principalmente no Sudeste. Infesta pastagens e terrenos baldios. Acomete principalmente os bovinos. Condições para Ocorrência: A planta cresce junto com as plantas forrageiras, sendo ingeridas conjuntamente. Sintomas: Alterações do tubo digestivo, meteorismo moderado (distenção do tubo intestinal por gases, provocando ronronar), diminuição dos movimentos ruminais, apatia, perda do apetite, fezes moles com sangue, fotossensibilização, principalmente na região inguinal (virilha) e cervical dorsal. Princípio Ativo Tóxico: Lantadeno. Sabe-se que 2 g/kg é capaz de intoxicar bovinos. Mecanismo de ação: A substância tóxica promove a obstrução dos canalículos biliares fazendo com que haja o acúmulo de filoeritrina na circulação. A filoeritrina é então ativada pelo sol, provocando processo inflamatório. Normalmente a filoeritrina é biotransformada, sendo então excretada diretamente através dos canalículos biliares com as fezes. Diagnóstico: Pelo conjunto de dados. Verifica-se a presença de bilirrubina direta normal. Tratamento: Desconhecido. No caso do Pythomyces pegar 1 parte em 10 da planta ( coletada da parte do fundo) misturar bem, preencher a câmara de Newbauer (1 lado) e fazer a contagem. Acima de 40 esporos - retirar animal do pasto. Neste caso o princípio tóxico é a esporodesmina. 14 9) CAUSADORAS DE DISTÚRBIOS RENAIS: 1-Thiloa glaucocarpa (Sipaúba, Vaqueta) = NE (caatingas) 2-Dimorphandra mollis (Faveira) = CO e Sudeste Thiloa glaucocarpa: Pertence à família Combretaceae, e é vulgarmente denominada de Sipaúba ou Vagueta. Distribuição e Habitat: Ocorre principalmente no Nordeste do Brasil, em locais quentes e sem chuvas. Condições para Ocorrência: Ocorre no período que compreende o inverno (que é chuvoso no Nordeste). Ocorre após chuvas fortes e que logo cessam. À partir de 10 a 20 dias desta chuva ocorre a brotação da Thiloa. Como esta planta é a primeira a brotar e os animais encontram-se famintos, ocorrem os casos de intoxicação. Caso a chuva seja suficiente para que outras plantas brotem concomitantemente, os casos de intoxicação serão mais brandos. O índice de letalidade é alto, ultrapassando 75%. Alguns criadores acreditam que a doença esteja relacionada com a ingestão da rama murcha, daí o nome "mal da rama murcha"; isto ocorre pois estes relacionam a toxicidade da planta com o período em que encontram os animais severamente doentes ou mortos (dias depois da brotação quando então a brotação se encontra murcha devido à estiagem) Sintomas: Edema generalizado na barbela, períneo, glândulas mamárias, além do desenvolvimento de ascite; a este quadro dá-se o nome de "Popa-inchada". Quando o animal não apresenta edemas este quadro é conhecido como Venta-Seca (já que o animal não defeca, e quando o faz o odor é característico). Nos dois casos os animais apresentam anorexia, parada da ruminação, fezes ressequidas na forma de bolotas com muito muco, que depois passam para pastosas. O cheiro é sempre muito desagradável. A mufla se encontra seca, com corrimento catarral, com formação de crostas nas narinas. O emagrecimento é lento e progressivo, o pêlo áspero e o andar é lerdo e arrastado. Necrópsia e Histopatológico: Verificam-se edemas subcutâneos serosos por quase todas as cavidades (hidrotórax e hidropericárdio, edema do intestino grosso e perirenal, principalmente do rim esquerdo). No exame histopatológico verifica-se necrose maciça do epitélio dos túbulos contornados proximais, que é patognomônico desta intoxicação. Diagnóstico Diferencial: Não se faz, só se for com outras substâncias que causem nefroses tóxicas; verificar história clínica. Princípio Tóxico e Tratamento: Não se conhece. Profilaxia: Ficar alerta quando as condições ambientais e climáticas favorecerem a brotação de Thiloa no campo. A retirada do gado 4 a 5 dias após o início das chuvas protege o animal; caso contrário, se este permanecer por mais de 8 dias após o início das chuvas estes animais estarão irremediavelmente intoxicados. 15 10) CAUSADORAS DE DISTÚRBIOS NÃO BEM-DEFINIDOS: 1-Brachiaria radicans (Tannergrass) = BR 2-Ramaria flavobrunnescens (cogumelo) = Sul, SP Brachiaria radicans: Pertence à família Dermatiaceae, sendo vulgarmente denominada de "Tannergrass". Distribuição e Habitat: É originária da África, tendo sido muito empregada como planta forrageira no estado de São Paulo. Condições para Ocorrência: As intoxicações ocorrem quando se dá esta planta como fonte exclusiva de alimentação, principalmente quando esta se encontra viçosa e o animal esfomeado. Sintomas: Apatia, anorexia, urina cor de coca-cola, diarréia, certo grau de icterícia, exame de sangue com muita hemoglobina. Na dosagem verifica-se alto teor de nitrito no sangue. Necrópsia e Histopatologia: Os rins apresentam-se de coloração escura. No histopatológico verifica-se hemoglobina na luz dos túbulos contornados renais além de micronecroses hepáticas. Diagnóstico Diferencial: Piroplasmose e hemoglobinúria bacilar. Princípio ativo tóxico: Nitrato??? Não é. Atualmente desconhecido. Tratamento: Não há. Deve se realizar a retirada dos animais do pasto; desta forma eles se recuperam rapidamente. O prognóstico é bom, sendo que a letalidade é baixa. Profilaxia: Orientar o proprietário para não alimentar o rebanho exclusivamente com Brachiaria, principalmente se esta se encontrar viçosa. Fazer rodízio de pastagens ou trocar a forrageira. Ramaria flavobrunnescens: É um cogumelo pertencente à família Clavariaceae. Produz uma doença denominada de "Mal dos Eucaliptos", pois são encontradas no meio de eucaliptais; outros a denominam de "Bocopa" (Bo=boca; Co=cola; Pa=pata). Este fungo assemelha-se vagamente com as flores da couve-flor, possuindo uma coloração que varia do amarelo-alaranjado a levemente castanhas quando envelhecidas. Condições para ocorrência: Normalmente estes fungos se proliferam entre eucaliptais, nas épocas de outono, principalmente quando a densidade de árvores é muito alta. Desenvolvem-se após curto período de chuvas pesadas, seguidos de dias quentes, geralmente em locais sombreados. Aparentemente os animais que tem acesso a este fungo a consomem regularmente. 16 Sintomas: O sintomas iniciam-se após um período de mais ou menos 7 dias da ingestão, caracterizando-se por sialorréia, prostração, perda de pelos na extremidade da cauda (característica da doença), descamação dos epitélios da lingua e da boca, opacidade da córnea e cegueira, anorexia e parada ruminal; vacas prenhes abortam; há também o comprometimento do estojo córneo das falanges, que com o tempo são eliminados. Necrópsia: Descamação total do epitélio da língua, gengiva e focinho; necrose do esôfago, com odor fétido; necrose da mucosa do coagulador e intestino. Petéquias no miocárdio, sendo que o sangue não se mostra coagulado e é escuro. Diagnóstico: Se faz pelo conjunto dos dados, além da sintomatolgia. O diferencial se faz com a febre aftosa. Princípio Ativo Tóxico: Desconhecido, porém, é de natureza alcalóide, volátil, termolábil e hidrossolúvel. Tratamento: Não há Profilaxia: Evitar o acesso dos animais aos eucaliptais através do cercamento adequado. A simples retirada dos animais faz com que a maioria se recupere do quadro.