INSTRUÇÕES PARA PUBLICAÇÃO NOS ANAIS DO

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INSTRUÇÕES PARA PUBLICAÇÃO NOS ANAIS DO
8th Brazilian Congress of Manufacturing Engineering
May, 18th to 22th 2015, Salvador, Bahia, Brazil
Copyright © 2015 ABCM
ANÁLISE DE RESÍDUOS SIMILARES AOS DE TIROS
Cláudio Godinho Novaes1,2, [email protected]
Mayara de Carvalho Santos3 , [email protected]
Raisa Siqueira Alves3, [email protected]
Ladário da Silva1,4, [email protected]
1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica (PPGEM), Escola de Engenharia Industrial e Metalúrgica de
Volta Redonda (EEIMVR),Universidade Federal Fluminense (UFF), Volta Redonda, RJ.
2
Posto Regional de Polícia Técnico-Científica de Resende (PRPTC-Resende), Polícia Civil do Estado do Rio de
Janeiro, RJ.
3
Licenciatura em Química, Instituto de Ciências Exatas (ICEx), UFF, Volta Redonda, RJ.
4
Departamento de Física, ICEx, UFF, Volta Redonda, RJ.
Resumo. Esse estudo pretende analisar se resíduos de fogos de artifício coletados em pessoas e no local de festas de
fim de ano podem ser confundidos com aqueles provenientes de tiros. O alto índice de homicídios por armas de fogo
justifica as pesquisas que envolvem os resíduos de tiros e seus semelhantes, pois é crítico se certificar que não há risco
de confusão entre os dois tipos de resíduos. Outro aspecto relevante é que fogos de artifício nem sempre são fabricados
por indústrias regulares, havendo no Brasil variada produção artesanal, tornando mais complexo o cumprimento de
padrões. Os resíduos característicos de tiros provenientes de munição tradicional são esferoidais e compostos por
chumbo (Pb), bário (Ba) e antimônio (Sb), simultaneamente, e resíduos de motores de carros, gasolina, tintas, urina,
cigarros e fogos de artifício possuem elementos também presentes em resíduos de tiros. A técnica padrão recomendada
para análise de resíduos de tiros, e utilizada na presente pesquisa, foi a análise dos mesmos com o Microscópio
Eletrônico de Varredura acoplado ao Espectrômetro de Energia Dispersiva (MEV/EDS) por ter condições de analisar
dois parâmetros: morfologia e composição dos resíduos. Nas análises realizadas até o momento nos fogos,
encontramos partículas com bário (Ba) e chumbo (Pb) separadamente em amostras de morfologia irregular e não
encontramos antimônio (Sb). Observamos maior incidência de partículas irregulares nas amostras coletadas de fogos
de artifício, e encontramos partícula indicativa de tiro (Ba-Al), porém, sem morfologia adequada. Nos resíduos de
tiros, encontramos o trio de elementos (Pb, Ba, Sb) em uma partícula esferoidal, como esperado, e observamos maior
incidência de partículas esferoidais, e de partículas indicativas compostas pelo par (Ba, Al). Entre as semelhanças
encontramos, em ambos os resíduos, partículas esferoidais compostas por ferro (Fe) e oxigênio (O), além de inúmeros
outros elementos em comum.
Palavras-chave: Resíduos de tiros, Resíduos de Fogos de Artifício, Análise por MEV/EDS.
1. INTRODUÇÃO
Segundo o Mapa da Violência: Homicídios e Juventude no Brasil (Waiselfisz (2013)), 70% dos homicídios no
Brasil são realizados por armas de fogo, o que representa cerca de 35 mil mortes em 2013, deixando para trás o índice
de toda a América. Nas duas últimas décadas, cerca de 800 mil cidadãos foram mortos por armas de fogo, esse número
representa um aumento de 346,5%, índice alto mesmo descontando-se o aumento populacional representado por 60,3%
(Waiselfisz (2013a)). Essa realidade justifica a necessidade e importância de investimentos na Segurança Pública,
especialmente na Perícia Criminal e essa pesquisa em particular.
A balística forense é a área responsável pelo estudo de armas de fogo, que podem causar, por exemplo, perfuração e
ruptura do tecido do alvo, visando o esclarecimento do ocorrido. Após a produção de tiro, resíduos sólidos e gasosos
são expelidos pela arma. Os resíduos podem ser projetados no atirador e no local do disparo sob a forma de aerossol. A
análise e correta identificação desses resíduos é um tema importante para a Perícia Criminal (Garofano et al,1999;
Romolo et al, 2001 e Reis et al, 2005). Vários testes já foram e ainda são utilizados como o reativo de Griess (ácido
parassulfanílico) que identifica apenas os nitritos, o rodizonato de sódio que detecta chumbo, etc (Wallace (2008)). As
técnicas citadas anteriormente, limitam-se à análise composicional, entretanto, isso não é suficiente para uma análise
confiável de resíduo de tiro, como especifica a norma americana (ASTM E 1588-10 (2010)), que sugere o emprego do
Microscópio Eletrônico de Varredura acoplado ao Espectrômetro de Energia Dispersiva (MEV/EDS), que realiza tanto
análises composicionais quanto morfológicas. Vários outros produtos como freios (Martiny et al, (2005) e fogos de
artifício (Trimpe, 2003 e Grimma et al, 2012), dentre outros produzem resíduos cujo processo fisico-químico envolvido
é similar (Russel (2000)) ao que ocorre na produção de tiros, gerando resíduos similares. É necessário verificar se é
possível estabelecer diagnóstico diferencial entre os vários tipos de resíduos encontrados atualmente, evitando-se assim
imputar crime a quem não o cometeu. Os resíduos exclusivos de tiros provenientes de munição tradicional possuem os
elementos chumbo (Pb), bário (Ba) e antimônio (Sb) em uma única partícula esferoidal (Romolo et al (2001)).
Entretanto, resíduos com essa composição química podem ser confundidos com resíduos de origem ocupacional, como
os resíduos de freio (Martiny et al (2005)) e fogos (Trimpe, 2003 e Grimma et al, 2012), e por isso é crítico a análise
morfológica. Novo desafio se apresenta com a entrada no mercado da munição sem chumbo com composição diferente
(Pinto, 2005). Neste trabalho investigamos os resíduos de fogos de artifício comercializados no Brasil, coletados em
festas de fim de ano em quatro cidades brasileiras: Angra dos Reis/RJ, Joinville/SC, Valença/RJ e Rio de Janeiro/RJ
usando o MEV/EDS.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os resíduos de fogos de artifício foram coletados do cabelo, de ambas as mãos e do ambiente nas proximidades de
voluntários presentes em festas de passagem de ano de 2013 para 2014 das cidades citadas anteriormente. Usamos stubs
específicos para resíduos de tiros e treinamos os voluntários sobre a forma correta de coleta. Cada voluntário escolheu
um espectador que estivesse próximo ao local da queima para ceder os resíduos depositados sobre si. Assim, um stub
foi usado para coletar resíduos de ambas as mãos e um outro stub foi usado para coletar resíduos dos cabelos. Um
terceiro stub foi colocado exposto ao ambiente em um local próximo ao voluntário e ao espectador, para que pudesse
coletar os resíduos provenientes do ar. A fim de termos amostras de resíduos de tiros reais para comparação, coletamos
e analisamos por mesmo material e método, resíduos gerados por arma brasileira e analisada por mesmo material e
métodos. Portanto, quatro tiros foram produzidos com uma pistola Taurus, calibre .380 AUTO, modelo PT 938 e seus
resíduos foram coletados das mãos do atirador pelo mesmo tipo de stub usado nas demais coletas, e analisados no
Microscópio Eletrônico de Varredura da marca CARL ZEISS, modelo EVO MA 10, acoplado ao espectrômetro de
energia dispersiva (EDS), da marca EDAX modelo Pegasus MX4i, seguindo o procedimento padrão para coleta de
resíduos de tiros.
As amostras de fogos de artifício foram divididas em três grupos: Air, coletadas do ar/ambiente; Hand, coletadas
das mãos e Hair, coletados do cabelo. Inúmeras análises foram realizadas ao longo de meses no MEV e ainda há outras
a serem feitas. Dessas análises apresentamos 116, sendo 67 imagens por feixe retroespalhado e 49 por feixe secundário.
Obtivemos 42 imagens Air, 58 imagens Hand e 16 imagens Hair. A caracterização da composição química foi realizada
pela técnica de Espectroscopia por Energia Dispersiva (EDS), e foram destacadas um total de 20 análises para Air, 34
análises para Hand e 11 análises para Hair, totalizando 65 espectros. Dos disparos com arma de fogo registramos 42
imagens, sendo 24 de elétrons retroespalhados e 18 de elétrons secundários e mais 18 espectros. No total são
apresentadas 158 imagens e 83 espectros. Os stubs são revestidos por fita adesiva de carbono (C) e, após a coleta, foram
recobertos com ouro (Au) antes de serem analisados no microscópio. A análise no MEV foi realizada da seguinte
forma: um porta-amostras para 9 amostras, específico para o equipamento utilizado, foi adquirido para ser usado apenas
em amostras de resíduos de fogos de artifício. Cada stub foi colocado no porta-amostra, intercalado por um stub não
utilizado que servirá de referência. Caso encontremos algum resíduo não-usual ou mesmo o característico de tiros nas
amostras de fogos, os stubs de referência serão analisados a fim de verificarmos se houve contaminação. Após inseridos
no MEV procede-se ao ajuste dos parâmetros iniciais e os de análise usuais como energia do feixe, distância de
trabalho, ajustes de foco, astigmatismo, etc. Em seguida usamos o detector de elétrons retroespalhados que destaca pelo
maior brilho partículas que contém elementos com número atômico mais alto. Estas partículas, especialmente as que
aparentam ser esferoidais, são as candidatas naturais à análise por EDS. Após a obtenção do espectro de EDS, passamos
a usar o detector de elétrons secundários para avaliar de forma mais detalhada a forma do resíduo.
3. RESULTADOS
Inicialmente fizemos uma caracterização geral de partículas encontradas, sejam elas irregulares ou esferoidais a fim
de conhecer as características desses resíduos. Exibimos aqui alguns resultados iniciais. Cada espectro de EDS exibido
possui duas imagens, sendo a superior de elétrons retro espalhados e a inferior de elétrons secundários. Ao final de cada
análise, uma tabela contendo todos os registros é disponibilizada. Os elementos relevantes estão destacados nas tabelas.
3.1. Amostras Air (fogos): 20 Espectros Registrado
A Figura (1) apresenta espectro relativo à partícula de formato esferoidal com composição apenas de ferro (Fe) e
oxigênio (O), o que não garante que o resíduo seja proveniente de disparo de arma de fogo, visto que a partícula
característica de resíduo de tiro deve ser composta por chumbo (Pb), bário (Ba) e antimônio (Sb). Entretanto esta
partícula também foi encontrada nos resíduos de tiros. Dos 20 espectros destacados na amostra Air, apenas uma
partícula esferoidal (Sph) foi encontrada (Sph.9), as demais possuem morfologia irregular (Irr). Portanto, nenhuma
partícula analisada possui, simultaneamente, morfologia e composição suficientes para ser confundida com resíduo de
tiro. A Tabela 1 resume todos os resultados registrados na amostra Air. O par bário (Ba) - alumínio (Al) O elemento
bário (Ba), indicativos de tiro (Romolo, 2001; Reis, 2005 e Wallace, 2008) , foi identificado na partícula Irr.3,
entretanto esta partícula não possui formato esferoidal. O elemento alumínio (Al) foi identificado oito vezes, sendo
apenas uma vez ligado ao elemento bário (Ba). O espectro da partícula Irr.3 é bem rico apresentando elementos como
magnésio (Mg), típico de fogos, e sódio (Na) e cloro (Cl), que podem ser apenas sal. A Tabela (1) resume as partículas
encontradas.
Figura 1. Imagem de partícula analisada de morfologia esferoidal, encontrada na amostra tipo “Air” de fogos de
artifício (Sph.9) e seu respectivo espectro de EDS.
Figura 2. Imagem de partícula analisada de morfologia irregular, encontrada na amostra tipo “Air” de fogos de
artifício (Irr.3) e seu respectivo espectro de EDS.
Tabela 1. Identificação dos elementos encontrados na amostra Air, com destaque para os elementos Ba e Al, e o
par Ba-Al, indicativos de resíduo de tiro.
Identificação da análise
Elementos identificados
Irr. 1
C, O, Si, Au
Irr. 3
C, O, Na, Mg, Al, Si, Au, Cl, K, Ba, Fe
Irr. 5
C, O, Au, S, K
Irr. 6
C, O, Mg, Al, Si, Au, Ca, Fe
Irr. 7
C, O, Mg, Al, Si, Au, K, Ca, Fe
Irr. 8
C, O, Na, Si, Au, Cl
Sph. 9
C, O, Fe
Irr. 10
C, O, Zn, Al
Irr. 11
C, O, Au
Irr. 12
C, O, Au, S, K
Irr. 13
C, O, Mg, Au, K
Irr. 14
C, O, Fe, Al, Si, Au, Ca
Irr. 15
B, C, O, Au, Na, Cl, K
Irr. 16
C, O, Fe
Irr. 17
C, N, O, Na, Cl, K
Irr. 18
C, O, Mg, Al, Ca, Fe
Irr. 19
C, Na, Si, Fe
Irr. 20
C, O, Fe, Al, Si, Au
Irr. 21
B, C, O, Na, Au, S, Ca
Irr. 22
C, N, O, Al, Au
3.2. Amostras Hand (fogos): 34 Espectros Registrados
Das 34 análises registradas da amostra Hand, o chumbo (Pb) foi encontrado seis vezes. O bário (Ba) também
foi identificado, porém, não foi encontrado bário (Ba) com chumbo (Pb) e/ou antimônio (Sb). O alumínio (Al) também
foi identificado nove vezes, sendo em oito partículas irregulares e em uma esferoidal. Entretanto nestas amostras não foi
encontrado o par bário (Ba) – alumínio (Al), que é indicativo de tiro, segundo Grima (2012). O elemento antimônio
(Sb) não foi detectado nenhuma vez. A Tabela (2) apresenta todos os elementos registrados nas amostras Hand.
Tabela 2. Identificação dos elementos encontrados na amostra Hand, com destaque para os elementos de
interesse, indicativos de resíduos de tiros.
Identificação da análise
Elementos identificados
Irr. 01
C, O, Au, Cl, Fe
Irr. 02
C, O, Al, Si, Au, K
Irr. 03
C, O, Au, Cl, Fe
Irr. 04
B, O, Fe, Au
Irr. 05
C, O, F, Au
Irr. 06
B, C, Au, Ca
Irr. 07
B, C, O, F, Au, Ca
Irr. 08
O, Mg, Al, Si, Au, K, Ti, Fe
Irr. 09
O, Mg, Al, Si, Au, Ti, K, Fe
Irr. 10
C, O, Fe, Bi, Ca, Au
Irr. 11
O, C, Mg, Al, Si, Au, K, Ti, Fe
Irr. 15
B, O, Au, Pb, Ca
Irr. 15B
B, O, Fe, Au, Pb, Bi
Irr. 16
C, O, Fe, Au, Pb, Ca
Irr. 16B
C, O, Fe, Au, Pb, Bi, Ca
Irr. 17
C, O, Rb, Au, S, Ca
Irr. 18
C, O, W, Nb, Mo, Ca, Ba
Irr. 19
C, O, P, Ca, La
Irr. 20
C, O, Fe, Al, Si, Au, Cl, Ca
Irr. 21
B, O, Fe, Au, Pb, Bi
Irr. 22
O, Si, Na, Au, Ca
Irr. 23
C, O, Mg, Al, Si, Au, Fe
Irr. 24
B, O, Fe, Au, Bi
Irr. 25
C, O, Co, Au, Pb, Ca
Irr. 26
C, O, Cu, Au, Ca
Irr. 27
B, O, Au, Bi
Irr. 28
B, C, Ti, Cu, Au, Ag
Irr. 30
C, O, Fe, Mg, Al, Si, Au, Ag
Irr. 31
C, O, Mg, Al, Si, Au, K, Ca
Irr. 32
C, O, Na, Si, Au, Ca
Sph. 12
C, O, Na, Si, Au, Ca
Sph. 13
C, O, Na, Si, Au, Ca
Sph. 14
O, Na, Si, Au, Ca
Sph. 29
C, O, Al, Si, Nb, Ca
3.3. Amostras Hair (fogos): 11 Espectros Registrados
O par bário (Ba) – alumínio (Al) foi encontrado em uma partícula de morfologia irregular. O bário (Ba) foi
encontrando em partículas de morfologia irregular, mas isolado de outros elementos relevantes. Além disso, duas
partículas esferoidais foram encontradas, mas de composição não característica de resíduos de tiros. A Tabela (3)
indica todos os elementos registrados na amostra Hair.
Tabela 3. Identificação dos elementos encontrados na amostra Hair, com destaque para os elementos indicativos
de resíduos de tiros.
Identificação da análise
Elementos identificados
Irr. 1
B, C, O, Sr, Au, S, Ca, Ba
Irr. 2
C, O, Au, Fe, Ca
Irr. 3
C, O, Fe, Cu, Au, Al, Ba
Irr. 4
C, O, Fe, Si, Au, Cl, Ca, Ti
Irr. 5
C, O, Si, Au, Cl, Fe
Irr. 6
C, O, Na, Au, Cl, K, Fe
Irr. 7
C, O, Au, S, Ba
Irr. 8
C, Au, Fe
Irr. 9
C, O, Fe, Si, Au, Bi, Ca
Sph. 1
C, O, Au, Cl, Ca
Sph. 2
C, O, Na, Si, Au, Ca
3.4. Amostras Hand (tiros): 18 Espectros Registrados
Produzimos tiros para serem analisados pelos mesmos materiais e métodos que usamos para estudar os fogos.
A partícula destacada na Fig. (3) é composta pelo par bário (Ba) – alumínio (Al) e possui morfologia esferoidal, sendo
categoricamente identificada como indicativa de tiro. O alumínio (Al) foi encontrado treze vezes nessa amostra, o bário
(Ba) foi encontrado oito vezes, dentre essas, o par bário (Ba) – alumínio (Al) foi encontrado seis vezes, sendo todas de
morfologia esferoidal. Isso mostra que a incidência desse par é alta nos resíduos de tiros, o que confirma a literatura
(Romolo et al, 2001; Reis et al, 2005 e Wallace, 2008) .
A partícula identificada pela Fig. (4) é composta por ferro (Fe) e oxigênio (O) e possui morfologia esferoidal
semelhantemente à partícula da Fig. (1), ou seja similar à partícula encontrada nos resíduos de fogos de artifício
classificado como Air. Portanto, realmente existe uma similaridade entre os resíduos produzidos por fogos de artifício e
disparos por arma de fogo, de modo que elementos em comum são encontrados aliados à morfologia regular.
Figura 3. Imagem de partícula analisada de morfologia esferoidal, encontrada na amostra hand disparo (Sph.
3/1) e seu respectivo espectro de EDS.
Figura 4. Imagem de partícula analisada de morfologia esferoidal, encontrada na amostra hand disparo (Sph.
5/2) e seu respectivo espectro de EDS.
A partícula da Fig. (5) é claramente uma partícula característica de tiro, encontrada nos resíduos dos tiros obtidos nas
mãos do atirador. Essa partícula é destacadamente esferoidal, composta por chumbo (Pb), bário (Ba) e antimônio (Sb)
além de conter alumínio (Al) que é indicativo de tiro. Essa é a partícula que, encontrada em uma amostra, dá segurança
ao Perito – baseado na literatura – de que houve disparo por arma de fogo. Nosso procedimento foi capaz de encontrá-la
em resíduos de tiros, o que nos garante ser capaz de encontrar algo similar em resíduos de fogos de artifício.
A Tabela (4) resume as partículas encontradas com destaque para aos elementos e partículas relevantes.
Figura 5. Imagem de partícula analisada de morfologia regular, encontrada na amostra hand disparo (Sph. 2/2)
e seu espectro espectro de EDS.
Tabela 4. Identificação dos elementos encontrados na amostra Hand (tiro), destacando os elementos
característicos encontrados.
Identificação da análise
Elementos identificados
General 1
C, O, Mg, Al, Si, Au, K, Fe, Co
Irr. 4/1
C, O, Au, Mo, Ba
Sph. 1/1
C, O, Al, Au, Ba
Sph. 2/1
C, N, O, Fe, Al, Si, Au, Mo, Ba
Sph. 3/1
C, O, Al, Au, Ba
Sph. 6/1
C, O, Na, Mg, Al, Si, Au, Ca, Fe
Sph. 7/1
C, O, Au, Fe
Sph. 1/2
C, O, Mg, Al, Si, Au, Ba, Fe
Sph. 2/2
C, O, Al, Au, Sb, Ba, Pb
Sph. 3/2
C, O, Na, Au, Cl, K
Sph. 3/2bot
C, O, Al, Si, Cl, K, Ca, Au
Sph. 3/2up
C, O, Al, Si, Au
Sph. 5/2
C, O, Au, Fe
Sph. 6/2
C, O, Ni, Al, Si, Au, Mn, Fe, Zn
Sph. 7/2
C, O, Al, Au, Mo, Ca, Ba
Sph. 8/2
C, O, Al, Si, Au, K, Ca, Mn, Fe, Zn
Sph. 9/2
C, Au, Fe
Sph. 10/2
C, O, Au, Fe
4. CONCLUSÕES
A presença quase ubíqua de armas de fogo em homicídios no Brasil (Waiselfisz, 2013 e Waiselfisz, 2013a) torna
importante o estudo de resíduos de tiros (Romolo, 2001; Reis, 2005 e Wallace, 2008), freios (Martiny et al (2005)) e
fogos de artifício (Trimpe, 2003; Grimma et al, 2012 e Russel, 2000), dentre outros. Neste trabalho estudamos as
características de resíduos de fogos de artifício coletados de voluntários presentes em locais e do ar/ambiente próximo
às explosões de fogos de artifício de cidades brasileiras na passagem de ano de 2013/2014. Investigamos as
características comuns e diferentes entre esses resíduos e os resíduos de tiros, a fim de construir um diagnóstico
diferencial entre esses tipos de resíduos. Neste processo, encontramos partículas esferoidais compostas por ferro (Fe) e
oxigênio (O) tanto em resíduos de fogos (Fig. (1)) quanto em resíduos de tiros (Fig. (4)). Além da semelhança anterior,
sabemos que elementos tais como chumbo (Pb), cobre (Cu), alumínio (Al), bário (Ba), ferro (Fe), potássio (K), enxofre
(S), cloro (Cl), dentre outros são utilizados tanto em cartuchos comuns de armas de fogo (Romolo et al (2001) quanto
em fogos de artifício (Trimpe (2003)) , com finalidades diferentes.
Os elementos bário (Ba) e chumbo (Pb) foram também encontrados separadamente em partículas irregulares de
resíduos de fogos de artifício, entretanto, o antimônio (Sb) não foi encontrado nos fogos. Concluímos também que a
recorrência de partículas esferoidais é claramente maior nos resíduos coletados de tiros do que nos resíduos coletados
de fogos de artifício, nas condições desta pesquisa. A partícula característica de tiro, exibida na Fig. (5), contendo o trio
de elementos relevantes chumbo (Pb), bário (Ba) e antimônio (Sb), possui a morfologia adequada além de conter
alumínio (Al).
O elemento antimônio (Sb) só foi encontrado nos resíduos de tiros, a incidência de partículas esferoidais é maior
nos disparos tornando essencial o uso do microscópio na análise desse tipo de resíduo. Por fim, a partícula que
caracteriza de forma única o resíduo de tiro (Romolo et al (2001)) foi identificada apenas em nossos resíduos de tiros,
confortando-nos, até o momento de que não há risco de confusão entre os dois tipos de resíduos, e que nosso
procedimento é capaz de detectar esse tipo de resíduo se o encontrarmos. Estamos terminando as análises dos resíduos
de fogos coletados nas cidades e estudaremos os resíduos de fogos de artifício adquiridos no comércio de Volta
Redonda e explodidos por nós de forma controlada em local limpo. Futuramente expandiremos a pesquisa para todo o
Brasil e compararemos os resultados com as características da munição sem chumbo (Pinto et al (2005)).
5. AGRADECIMENTOS
À Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (PROPPI) da Universidade Federal Fluminense (UFF), ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Rio de Janeiro Carlos Chagas Filho (FAPERJ).
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASTM E 1588-10., 2010, “Standard Guide for Gunshot Residue Analysis by Scanning Electron Microscopy/Energy
Dispersive Spectroscopy”.
Garofano, L.; Capra, M.; Ferrari, F.; Bizarro, G. P.; Di Tullio, D.; Dell’Olio, M.; Ghitti, A., 1999, “Gunshot residue—
further studies on particles of environmental and occupational origin”, Forensic Sci. Int. 103, pp. 1–21.
Grimma, M.; Butler, M.; Hanson, R.; Mohameden, A., 2012, “Firework displays as sources of particles similar to
gunshot residue”. Science and Justice. No. 52. pp. 49-57.
Martiny, A.; Pinto, A. L.; da Silva, L.; Campos, A. P. C.; Santos, J. B.; Sader, M.; Miguens, F. C., 2005, “Estudo
Preliminar por MEV e Microanálise por Raios-X de Partículas do tipo GSR Oriundas de Pastilhas de Freios
Nacionais”, No. 22, pp. 23-26.
Pinto, A. L.; Oliveira, A. G.; Martiny, A.; Campos, A. P. C.; da Silva, L.; Sader, M., 2005, “Análise de Resíduos de
tiro oriundos de munição sem chumbo por MEV/EDS”, Perícia Federal, No. 22, pp. 18-19.
Reis, E. L. T.; Sarkis, J. E S.; Rodrigues, C.; Neto, O. N.; Viebig, S., 2004, “Identificação de Resíduos de Disparos de
Armas de Fogo por Espectrometria de Massas com Fonte de Plasma Indutivo”. Quim. Nova, No. 3, pp. 409-413.
Romolo, F.S.; Margot, P., 2001, “Identification of gunshot residue: a critical review” Forensic Sci Int 2001, V. 119,
pp.195–211.
Russel, M. S., 2002, “The Chemistry of fireworks”, Ed. Royal Society of Chemistry, Cambrige, UK. 132 p.
Trimpe M., 2003, “Analysis of fireworks for particles of the type found in primer residue (GSR)”. Int. Assoc.
MicroAnal. News, No.4, pp. 1–8.
Waiselfisz, J. J., 2013, “Mapa da Violência de 2013. Mortes matadas por armas de fogo” Secretaria Geral da
Presidência da República. Brasília: pp. 09.
Waiselfisz, J. J., 2013, “Mapa da Violência de 2013. Homicídios e Juventude no Brasil”. Secretaria Geral da
Presidência da República; Secretaria Nacional de Juventude e Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial: 2013. pp. 30-33.
Wallace, J. S., 2008, “Chemical Analysis of Firearms, Ammunition,and Gunshot Residues”, Ed. CRC, FL, USA. 316 p.
7. DIREITOS AUTORAIS
Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo do material impresso incluído no seu trabalho.
ANALYSIS OF GUNSHOT-LIKE RESIDUES
Cláudio Godinhos de Novaes1,2, [email protected]
Mayara de Carvalho Santos3, [email protected]
Raisa Siqueira Alves3, [email protected]
Ladário da Silva1,4, [email protected]
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica (PPGEM), Escola de Engenharia Industrial e Metalúrgica de
1
Volta Redonda (EEIMVR),Universidade Federal Fluminense (UFF), Volta Redonda, RJ.
2
Posto Regional de Polícia Técnica e Científica (PRPTC) do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), Resende,
RJ.
3
Chemistry Undergraduate, Instituto de Ciências Exatas (ICEx), UFF, Volta Redonda, RJ.
4
Physics Department, ICEx, UFF, Volta Redonda, RJ.
Copyright
The identified authors are solely responsible by the material in this manuscript.
Abstract. This study aims to analyze if fireworks residues collected from people and from environment near new year
parties places may be confused with gunshot residues. The high homicide rate in Brazil committed with firearms
justifies the researches dealing with GSR and similar ones, once it is very important to be sure that there is no risk to
confuse these types of residues. Another point is that fireworks manufacturers, especially in Brazil, are not always
regular industries. There are also homemade fireworks. The characteristic GSR particles from traditional ammunition
are composed simultaneously by the elements Pb, Ba, and SB in a spheroidal particle. Residues from engines,
gasoline, paints, urine, cigars and fireworks may have elements and structure similar to GSR. The standard
recommended analysis for GSR, and used in this research, is the elemental and morphological analysis using a
SEM/EDS. The study up to this point concerning fireworks residues reveals different irregular particles with Ba and
Pb. We did not find Sb. We noticed a great amount of irregular particles in the fireworks collected samples and we
found indicative particles (Ba-Al) without the proper morphology, The GSR samples collected from shooter´s hand
presented the GSR unique particle (Pb, Ba, Sb) with spheroidal shape as well as indicative particles (Ba,Al). Both
residues present spheroidal particles with Fe and O, and indicative particles with Ba and Al, as well as other elements.
Palavras-chave: Gunshot Residues, Fireworks Residues, SEM/EDS analysis.