estudosdosimpactosdevizinhanca - Secretaria de Estado da Justiça
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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ EDUARDO DA SILVA ESTUDO DOS IMPACTOS DE VIZINHANÇA GERADOS PELO COMPLEXO PENITENCIÁRIO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA FLORIANÓPOLIS JANEIRO 2013 EDUARDO DA SILVA ESTUDO DOS IMPACTOS DE VIZINHANÇA GERADOS PELO COMPLEXO PENITENCIÁRIO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA Trabalho de Conclusão do Curso de Gestão Penitenciária, da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí, como requisito para obtenção do título de especialista em gestão penitenciária. Prof. Orientadora: Sônia Novaes Estácio FLORIANÓPOLIS JANEIRO 2013 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais e ao meu único irmão que me acompanharam nesta longa jornada pelo conhecimento, e em especial para minha namorada Aline pelos constantes gestos de apóio, carinho, dedicação e compreensão para que fosse possível atingir minhas metas. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por possibilitar mais uma conquista em minha vida. A minha família e minha namorada pelo constante incentivo. A minha orientadora que me transmitiu conhecimento e me ajudou a concluir este trabalho e por fim aos funcionários do Complexo Penitenciário do Estado e a população da cidade de São Pedro de Alcântara que se mostraram muito hospitaleiros, permitindo que a pesquisa fluísse com êxito. “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.” (Charles Darwin) RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo a realização da pesquisa científica acerca do Estudo dos Impactos de Vizinhança gerados pelo Complexo Penitenciário de São Pedro de Alcântara. O Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), previsto nos arts. 36, 37 e 38, da lei 10.257, conhecida como Estatuto da Cidade (EC), é um recurso que auxilia no planejamento da cidade e permite a análise de impactos no meio urbano, gerados por novos empreendimentos ou novas atividades na região. O mesmo deve ser realizado de maneira prévia, ou seja, anterior a implantação do empreendimento ou atividade e analisa diversas questões como o adensamento populacional, os equipamentos urbanos e comunitários, o uso e ocupação do solo, a valorização imobiliária, a geração de tráfego e demanda por transporte, a ventilação e iluminação, a paisagem urbana e patrimônio natural e cultural. No primeiro momento busca-se situar o leitor sobre a lei 10.257, posteriormente é apresentado breve histórico do Complexo Penitenciário de São Pedro de Alcântara e os conflitos gerados entre população e prefeitura,para impedir sua construção e culmina com a pesquisa de campo que revela os impactos causados na região. Palavras-chave: planejamento, impactos de vizinhança, penitenciária ABSTRACT This Working End of Course aims at realization of scientific research on the Study of the Impacts of Neighbourhood generated by the Penitentiary of São Pedro de Alcântara, this study is expected in the arts. 36, 37 and 38 of Law 10.257, known as the City Statute (EC). The Neighborhood Impact Study (EIV) is a feature that helps in the planning of the city and allows the analysis of impacts in urban areas, generated by new projects or new activities in the region. The same should be done so prior, ie, prior to the implementation of the project or activity and analyzes various issues such as population density, urban and community equipment, the use and occupation of land, real estate valuation, traffic generation and demand for transport, ventilation and lighting, urban landscape and natural and cultural heritage. At first I seek to situate the reader about the law 10.257, then present a brief history of the Penitentiary of São Pedro de Alcântara and generational conflicts between population and city to prevent its construction and finally contemplate with field research revealing the impacts in the region. Keywords: study, impacts, region LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Entrada do Complexo Penitenciário do Estado ........................... 18 Figura 2 - Aspectos negativos do Complexo Penitenciário do Estado ......... 21 Figura 3 - Aspectos positivos do Complexo Penitenciário do Estado........... 22 Figura 4 - Imagem superior do Complexo Penitenciário Estado .................. 24 Figura 5 - Evolução populacional da cidade de São Pedro de Alcântara ..... 26 Figura 6 - Estação de tratamento de esgoto do Complexo Penitenciário..... 27 Figura 7 - Zonas de serviço 1 e proteção 2 ................................................. 29 Figura 8 - Portal da cidade de São Pedro de Alcântara .............................. 31 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APA EC EIA EIV IBAMA IBGE PAB Área de Proteção Ambiental Estatuto da Cidade Estudo Prévio de Impacto Ambiental Estudo de Impacto de Vizinhança Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Piso de Atenção Básica SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................ 10 1 ESTATUTO DA CIDADE ......................................................................... 12 1.1 QUESTÕES ANALISADAS NO EIV ...................................................... 13 1.1.1 Adensamento populacional.............................................................. 13 1.1.2 Equipamentos urbanos e comunitários ......................................... 14 1.1.3 Uso e ocupação do solo ................................................................... 14 1.1.4 Valorização imobiliária...................................................................... 15 1.1.5 Geração de tráfego e demanda por transporte ............................... 15 1.1.6 Ventilação e iluminação .................................................................... 15 1.1.7 Paisagem urbana e patrimônio natural e cultural .......................... 16 2 A CIDADE DE SÃO PEDRO DE ALCANTARA E SEU CONTEXTO ....... 17 3 COMPLEXO PENITENCIÁRIO DO ESTADO .......................................... 18 3.1 HISTÓRICO .......................................................................................... 19 3.2 OPINIÃO DA POPULAÇÃO .................................................................. 20 3.3 CARACTERIZAÇÃO ............................................................................. 22 4 ANÁLISE DOS IMPACTOS GERADOS COM RELAÇÃO AO DISPOSTO NO ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA ................................................. 24 4.1 COM RELAÇÃO AO ADENSAMENTO POPULACIONAL .................... 25 4.2 EQUIPAMENTOS URBANOS E COMUNITÁRIOS ............................... 26 4.3 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO URBANO ............................................ 28 4.4 VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA .............................................................. 30 4.5 GERAÇÃO DE TRÁFEGO E DEMANDA POR TRANSPORTE ............ 30 4.6 PAISAGEM URBANA E PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL ........ 32 CONCLUSÃO ............................................................................................. 34 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 35 10 INTRODUÇÃO O tema principal aborda o Estudo de Impacto de Vizinhança que está inserido no Estatuto da Cidade, lei 10.257. Este estudo é uma ferramenta que possibilita um planejamento urbano, ou seja, é uma análise prévia que apresenta os impactos que uma construção ou empreendimento pode gerar em uma região. A implantação do Complexo Penitenciário de São Pedro de Alcântara não foi contemplada por este estudo prévio, com isto, o principal objetivo deste trabalho foi identificar os impactos de vizinhança ocasionados após a construção desta unidade prisional. Para identificar os impactos sofridos pela população de São Pedro de Alcântara foram definidos alguns objetivos específicos como: comparar o adensamento populacional anterior e posterior a construção do Complexo Penitenciário de São Pedro de Alcântara; avaliar os equipamentos urbanos e comunitários da cidade de São Pedro de Alcântara; verificar valorização imobiliária da cidade de São Pedro de Alcântara; conhecer questões pertinentes ao trafego e a demanda por transporte público da cidade de São Pedro de Alcântara e investigar alterações na paisagem urbana e patrimônio natural e cultural após a construção do Complexo Penitenciário de São Pedro de Alcântara. Os objetivos citados buscam respostas que devem ser sanadas com as pesquisas exploratória, bibliográfica e descritiva. Para coletar os dados que vão contribuir com a pesquisa serão utilizadas duas técnicas, o questionário e as entrevistas. A realização do estudo de caso foi importante para esclarecer à sociedade das dúvidas e mitos que existem acerca de unidade prisional em uma região, a mesma também pode corroborar para que o Estado tenha ciência dos possíveis danos que podem ocasionar com a construção desse tipo de empreendimento e possibilitar o desenvolvimento de medidas mitigadoras para suprir as atuais necessidades daquela população que convive nas proximidades das unidades prisionais. O sistema prisional catarinense atualmente está subordinado a Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania e administrado pelo Departamento de Administração Prisional. Composto por 41 estabelecimentos penais entre Penitenciárias, Colônias Agrícolas ou Industriais, Casas de Albergados, Cadeias Públicas, Hospital de 11 Custódia e Tratamento Psiquiátrico, onde 14.974 indivíduos estão reclusos, sendo 13.423 do sexo masculino e 1.183 do sexo feminino. Com uma população carcerária consideravelmente pequena, o Estado de Santa Catarina conta com 8.656 vagas e com isto, sofre com o déficit de vagas de 6.318, porém para suprir esse saldo negativo seria necessário aumentar o número de vagas, o que não tem sido fácil para os atuais governantes, pois sempre que se especula um possível local para a construção de uma unidade prisional a população daquela cidade se mobiliza contra a instalação e nas localidades com unidades já existentes a comunidade apresenta profundo descontentamento com esses empreendimentos, como o caso da comunidade de São Pedro de Alcântara, porém qual a proporção do impacto causado pelas unidades prisionais nesta sociedade? Para responder questões como esta que a presente pesquisa foi elaborada. 12 1 ESTATUTO DA CIDADE Em 10 de junho de 2001, o Presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a lei 10.257, também conhecida como Estatuto da Cidade, que surgiu para regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, que estabelecem as diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. O Estatuto da Cidade têm como objetivo reunir normas relacionadas a ação do poder público na regulamentação do uso da propriedade urbana a favor do bem coletivo, da segurança e do bem estar dos cidadãos, bem como o equilíbrio ambiental. A lei 10.257 é dividida em cinco capítulos: Diretrizes Gerais, Dos Instrumentos da Política Urbana, Do Plano Diretor, Da Gestão Democrática da Cidade e Disposições Gerais. Porém o segundo capítulo citado, que se refere aos instrumentos da política urbana, apresenta maior relevância no estudo proposto, tendo em vista que na sua seção XII, trata do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV). A Seção XII é composta dos artigos 36, 37 e 38 e em suma estabelece que a lei municipal deva definir os empreendimentos e atividades privados ou públicos em área urbana utilizando-se de um estudo preliminar de impacto de vizinhança para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do poder público, para com isso evitar que esses afetem a qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades e para isto, várias questões devem ser analisadas como: Adensamento populacional; Equipamentos urbanos e comunitários; Uso e ocupação do solo; Valorização imobiliária; Geração de trafego e demanda por transporte público; Ventilação e iluminação e Paisagem urbana e patrimônio natural e cultural. Por fim registra-se que o EIV não substitui a elaboração e a aprovação de Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), requerido nos termos da legislação ambiental. 13 1.1 QUESTÕES ANALISADAS NO EIV O art. 37 do Estatuto da Cidade suscita as questões citadas no capítulo 1 e são extremamente relevantes no Estudo Preliminar. Segundo Campos (2005), o papel deste instrumento é amenizar os impactos gerados por novo uso ou edificação com relação ao seu entorno, através da avaliação prévia dos empreendimentos e da compatibilidade dos mesmos com o em torno que os cerca. Em concordância com o que estabelece a lei 10.257, os pontos exigidos nos estudos devem analisar de maneira preventiva, ou seja, anterior a construção e avaliar quais serão as alterações positivas e negativas que este novo empreendimento ou atividade pode gerar ao ser inserido no meio urbano. Na seqüência serão apresentadas as características de cada um dos fatores a serem avaliados no estudo preliminar. 1.1.1 Adensamento populacional A instalação de um empreendimento geralmente altera a densidade da população local, dependendo da característica do mesmo, pode haver um decréscimo ou acréscimo populacional. Em geral empreendimentos não residenciais causam maiores impactos, tendo em vista que o mesmo necessita de profissionais que por sua vez acabam por habitar no entorno do local. Porém não se pode desconsiderar que empreendimentos residenciais de grande porte também podem ocasionar grandes conflitos no adensamento populacional. A migração repentina pode vir á interferir no uso e ocupação do solo, na ventilação e iluminação, na geração de tráfego e demanda por transporte público, nos equipamentos urbanos e comunitários, na paisagem urbana e patrimônio natural e cultural e na valorização imobiliária, ou seja, por essas razões, o adensamento populacional e suas conseqüências devem ser bem verificados pelo Estudo de Impacto de Vizinhança, para que os respectivos impactos não gerem danos para população vizinha já instalada e nem na população que vir a se fixar na área quando da implantação do empreendimento. 14 1.1.2 Equipamentos urbanos e comunitários A implantação de determinados empreendimentos podem gerar um aumento populacional, ou seja, esse acréscimo pode ocasionar na falta ou na insuficiência de equipamentos urbanos e comunitários, para atender a demanda local. A definição de equipamentos urbanos e comunitários é determinada através da Lei nº 6.766/1979, art.5º, parágrafo único, onde estabelece que “consideram-se urbanos os equipamentos públicos de abastecimento de água, serviços de esgotos, energia elétrica, coletas de águas pluviais, rede telefônica e gás canalizado” e no art. 4, parágrafo 2° da mesma lei determina que “consideramse comunitários os equipamentos públicos de educação, cultura, saúde, lazer e similares” O Estudo de Impacto de Vizinhança tem o propósito de verificar quais desses equipamentos deverão ser instalados ou ter sua capacidade aumentada, pois dependendo da natureza do empreendimento alguns equipamentos apresentam maior necessidade de existirem ou de expandirem. 1.1.3 Uso e ocupação do solo Conforme o disposto no inciso VIII, art. 30 da Constituição Federal Brasileira, compete aos municípios promover, no que couber adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. No que se refere ao uso do solo, o município deve definir as diversas atividades que podem ser realizadas em uma determinada área, setor, região e/ ou zona e com relação à ocupação do solo o mesmo deve determinar a forma como a edificação deve ocupar o terreno, em função das normas e índices urbanísticos incidentes sobre os mesmos, com o objetivo de orientar e ordenar o crescimento da cidade. 15 1.1.4 Valorização imobiliária A valorização imobiliária varia do tipo de empreendimento implantado na cidade, tendo em vista que alguns possibilitam um melhoramento na infra-estrutura da região e estabelecem um ambiente atrativo ao local ocasionando em uma maior procura por imóveis próximos. Quando a busca é grande, mais valorizado é o imóvel. Em contrapartida, outros empreendimentos podem gerar poluição, insegurança entre outros transtornos que desvalorizem os imóveis. 1.1.5 Geração de tráfego e demanda por transporte Em geral uma das principais conseqüências da implantação de um empreendimento é o aumento do fluxo de pessoas na região, as mesmas necessitarão circular na cidade, onde a demanda por transporte público, vias e estacionamentos também tendem a aumentar de forma proporcional, principalmente na área de instalação deste empreendimento, que possivelmente propiciará uma maior circulação de pessoas. Com o deslocamento mais intenso da população, o município deve realizar um planejamento que busque alternativas de transporte público e melhorias das vias públicas com o intuito de facilitar a mobilidade urbana, tendo em vista que, o direito de ir e vir são garantidos pela Constituição Federal, através do art. 5º, inciso XV e LXVIII. Desta maneira, torna-se inevitável a elaboração de medidas para que, mesmo com o aumento do número de frequentadores da vizinhança, o tráfego, a insuficiência de transporte público e a falta de estacionamento não acarretem em condições precárias de circulação. 1.1.6 Ventilação e iluminação A ventilação e a iluminação são dois pontos analisados que buscam pelo conforto do ambiente, ou seja, novas construções sem os recuos ou afastamentos 16 mínimos determinados pelo Estatuto da Cidade podem gerar graves danos para os ambientes internos. Um empreendimento sem ventilação é muito insalubre, pois não ocorre a renovação do ar destes locais. Segundo o infectologista Joaquim Celso Andrade Guimarães o ambiente fechado ajuda na proliferação de gripes e resfriados. “São de transmissão respiratória, ou seja, o vírus está no ar. Quando você tosse ou espirra, o vírus ou os microorganismos se espalham pelo ar, e em um lugar sem ventilação e fechado acaba facilitando a contaminação das outras pessoas”. Um ambiente com boa ventilação além de evitar a transmissão de doenças respiratórias, conforme JONES (2001) ela reduz o consumo de energia, minimizando diretamente o uso de sistemas de ventilação mecânica e ar condicionado. A dificuldade de incidência de luz natural torna a iluminação artificial à única alternativa para manter um ambiente iluminado e o excessivo consumo de energia elétrica se torna inevitável. 1.1.7 Paisagem urbana e patrimônio natural e cultural Thomas Gordon Cullen (1914-1994) foi um influente arquiteto e urbanista inglês e definia paisagem urbana como a “arte de tornar coerente e organizado, visualmente, o emaranhado de edifícios, ruas e espaços que constituem o ambiente urbano”, ou seja, o conceito de paisagem urbana pode ser entendido como a maneira em que os edifícios, ruas, vegetações, veículos, sinalizações e outros elementos se organizam dentro do perímetro urbano com o objetivo de evitar a poluição visual e de contribuir para a melhoria da qualidade de vida no meio urbano. A construção de novos empreendimentos deve ser compatível com a paisagem urbana da vizinhança para não alterar a identidade histórica da cidade. A minimização de impactos deve atuar no sentido da preservação da natureza, da memória, da história e do referencial simbólico de importância para a coletividade. 17 2 A CIDADE DE SÃO PEDRO DE ALCANTARA E SEU CONTEXTO O município de São Pedro de Alcântara foi à primeira colônia alemã em Santa Catarina, povoada por imigrantes provenientes em sua maioria das regiões do Hunsruck e Eifel, sudoeste da Alemanha, que chegaram à região em 1829. Devido ao desenvolvimento da colônia, a mesma foi elevada à Freguesia e à Paróquia, mediante Lei Provincial n.194, de 13 de abril de 1844, posteriormente através Lei Estadual n.9.534, de 16 de abril de 1994 o município adquiriu sua autonomia político-administrativa. Conforme os últimos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010, a cidade de São Pedro de Alcântara possui 4704 habitantes e sua extensão territorial correspondente a aproximadamente 140 km². A mesma está localizada na região da Grande Florianópolis, cerca de 30 km de distância da capital do Estado. Faz divisas com outros cinco municípios: São José, Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas, Angelina e Antônio Carlos. A cidade fica localizada a 18 km da BR-101 e é acessada através da SC407 que inicia no município de São José, passa por São Pedro de Alcântara, Angelina, Rancho Queimado. Até o ano de 2000, segundo o censo demográfico do IBGE, a população de São Pedro de Alcântara concentrava-se em mais de 58% na zona urbana, e conforme dados do mesmo instituto no ano de 2010, esse percentual aumentou para 79,27%. A economia da cidade está estruturada no turismo rural, ecoturismo, turismo histórico e cultural, na produção de hortigranjeiros e derivados de cana, porém conforme IBGE de 2010, o setor de serviço é o que mais arrecada, rendendo ao município o valor de 22.470.000 reais, seguido das atividades agropecuárias com 9.796.000 reais e posteriormente do setor industrial rende 4.665.000. Conforme a política de uso, ocupação e parcelamento do solo, apresentada no Plano Diretor da cidade de São Pedro de Alcântara, o município é dividido em duas macrozonas, definido como macrozona urbana e macrozona rural. Na macrozona urbana desdobra-se nas seguintes zonas: zona residencial 1, zona residencial 2, zona empresarial, zona de proteção 1, zona de proteção 2, zona especial controlada, zona de serviço 1, zona de serviço 2, zona especial histórica e a macrozona rural distribui-se nas seguintes zonas: zona de uso restrito, 18 zona de uso especial de conservação, zona de uso especial turístico, zona agrossilvipastoril. O Complexo Penitenciário do Estado encontra-se na zona de proteção 2, que compreende-se em toda a área do entorno da penitenciária, onde não se pode ocupar, tendo como objetivo promover a segurança da população do município com relação à unidade prisional. 3 COMPLEXO PENITENCIÁRIO DO ESTADO O Complexo Penitenciário do Estado completa em 2012, 10 anos de existência, no entanto, possui um vasto histórico que se inicia antes de sua inauguração. Este capítulo tem como objetivo explicitar o histórico e as características gerais desta que é a maior unidade prisional do estado de Santa Catarina, a entrada da mesma pode ser observada na figura 1. Figura 1 - Entrada do Complexo Penitenciário do Estado. Fonte: Rosane Lima. Disponível em http://ndonline.com.br/. Acessado em 16 de dezembro de 2012. 19 3.1 HISTÓRICO O Complexo Penitenciário do Estado antes denominado Complexo Penitenciária de São Pedro de Alcântara teve sua inauguração em 30 de dezembro de 2002, no final do mandato do governador Esperidião Amim Helou Filho. Sua construção foi morosa e marcada por diversos fatores turbulentos, principalmente após a data de 28 de janeiro de 1997, onde foi emitido pelo prefeito Salézio Zimmermann o alvará de construção que concedia a licença à Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania, para a construção do Complexo Penitenciário no terreno localizado na comunidade da Colônia Santa Tereza. Neste período, a população temendo a proximidade com os criminosos, resistiu à construção da Penitenciária formando um Comitê contra o Complexo Penitenciário de São Pedro de Alcântara, com destaque para o vereador Roberto Stahelin, um dos líderes da oposição. Entretanto apesar das constantes batalhas dos alcantarenses com o prefeito da situação, a construção do complexo foi imposta para comunidade local. Contrariando não apenas a vontade da população, mas leis ambientais com a derrubada de uma imensa área de preservação permanente. No ano de 2007, foi anunciado pelo Governo do Estado de Santa Catarina o projeto de construção de uma Central de Triagem Prisional para o município de São Pedro de Alcântara. O empreendimento teria capacidade para 250 presos e seria construído ao lado do Complexo Penitenciário existente no município. A reação de repulsa foi imediata de parte da população. Protestos, passeatas e abaixo assinados, com cobertura da mídia, provocaram grande repercussão sobre o caso. A Prefeitura Municipal de São Pedro de Alcântara negou o pedido de alvará de construção e o conflito desta vez foi vencido pela população alcantarense que demonstrava descontentamento com a unidade prisional já existente, conforme será apresentada no próximo capítulo. No dia 17 de abril de 2009, o governador Luiz Henrique da Silveira, sancionou a lei 14.676, denominando Complexo Penitenciário do Estado a Penitenciária Estadual localizada no Município de São Pedro de Alcântara. Esta proposta foi criada pelo deputado Cesar Souza Junior e as razões defendidas pelo mesmo foram pelo fato de preservar a imagem da primeira colônia alemã de Santa 20 Catarina e de minimizar prejuízos causados pela vizinhança indesejada que trazia prejuízos à economia local, como por exemplo, a desvalorização imobiliária. “Denominar o estabelecimento prisional como Complexo Penitenciário do Estado vai amenizar o impacto social e histórico, evitando utilizar o nome do próprio Município de São Pedro de Alcântara, que faz parte da história de nosso Estado e é sinônimo de orgulho para seus moradores”, justificou César Souza Junior. Em 2011, os constantes homicídios ocorridos dentro do Complexo Penitenciário do Estado culminaram na morte de 11 presos apenas na metade do ano, fazendo com a pacata São Pedro de Alcântara ganhasse as manchetes policiais e um status de cidade violenta, tendo em vista que com uma população pequena, este número elevado de mortes acarretou num aumento da taxa de homicídios da cidade. Atualmente o Complexo Penitenciário do Estado possui uma população carcerária de 1206 presos, ou seja, considerando que a unidade pode abrigar apenas 1110, a mesma apresenta um déficit de 96 vagas. A construção do Complexo Penitenciário do Estado ocorreu antes da aprovação de Lei n°10.257 que estabelece o Estudo de Impacto de Vizinhança, sendo assim não houve um estudo prévio para a instalação deste empreendimento na cidade de São Pedro de Alcântara. 3.2 OPINIÃO DA POPULAÇÃO Neste capítulo será apresentada uma pesquisa referente a um trabalho com data de 2009 e trata-se de uma monografia de autoria de Virginia Helena Cezário que foi elaborado ao curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Santa Catarina, localizada na cidade de Florianópolis. A monografia possui o título de “Os agentes externos atuando na restrição de novos empreendimentos: O projeto de instalação do centro de triagem prisional no município de São Pedro de Alcântara”, e em um de seus capítulos realiza uma entrevista com a população alcantarense a respeito da Penitenciária localizada na cidade. Segundo Cezário foram questionados aspectos positivos e negativos que o empreendimento trouxe ao local. Dentre os pontos negativos os entrevistados citaram diversos descontentamentos conforme pode ser visto na figura 2. 21 10% Desvalorização de terrenos 10% 30% Transporte coletivo Tráfego intenso e rápido de viaturas 20% Medo de fugas e rebeliões Outros 30% Figura 2 - Aspectos negativos do Complexo Penitenciário do Estado. Fonte: Imagem de autoria própria Na pesquisa os entrevistados foram questionados a respeito dos aspectos negativos de maior relevância. Uma grande parte da população mostrou-se insatisfeita com a desvalorização dos terrenos próximos ao empreendimento. Conforme Cezário, a região possui um grande número de sítios e chácaras, reservado a um público que adquiri imóveis para passar os finais de semana e o efeito da Penitenciária transmitiu temor e receio gerando a queda da procura por este tipo de imóveis e a desvalorização dos mesmos. O transporte coletivo foi um aspecto bastante citado nas entrevistas, onde a reclamação mais comum foi referente aos visitantes dos presos que se utilizam do transporte público coletivo e que segundo a população local apresentam má educação e a algumas atitudes bem agressivas, deixando as pessoas da comunidade local, constrangidas e amedrontadas. O acréscimo de viaturas policiais circulando muitas vezes em alta velocidade pelas pacatas vias do município também foi muito apontado como ponto negativo da Penitenciária. Por fim, pelos alcantarenses ainda foi citado à questão das rebeliões e fugas que ocorrem e provoca tensão nos moradores, a queda da auto-estima da população por possuir esse tipo de empreendimento e as doenças como tuberculose que os detentos podem acabar transmitindo a população local. Esses dois últimos aspectos citados aparecem na legenda da figura 2, como outros. 22 Com relação aos aspectos positivos apenas os comerciantes proprietários de bares, restaurantes, lanchonetes e mercados próximo ao local se mostraram favoráveis ao empreendimento, pois argumentaram que a circulação de pessoas aumentou consideravelmente e que por conseqüência seus negócios prosperaram muito após a instalação da Penitenciária. Ainda foi citado o aumento de oferta de empregos por conta do empreendimento como aspecto positivo. Também foi solicitado que priorizasse qual aspecto de maior relevância para cada entrevistado. Os demais entrevistados não citaram pontos positivos ao empreendimento por considerarem não haver. Os resultados podem ser visualizados na figura 3. 10% Não houve aspectos positivos 20% Aumento do comércio local 70% Aumento da oferta de empregos Figura 3 - Aspectos positivos do Complexo Penitenciário do Estado. Fonte: Imagem de autoria própria 3.3 CARACTERIZAÇÃO O Complexo Penitenciário do Estado está vinculado ao Departamento de Administração Prisional da Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania do Estado de Santa Catarina. O estabelecimento está localizado na estrada geral de Santa Tereza, s/nº no bairro de Santa Tereza no município de São Pedro de Alcântara no Estado de Santa Catarina e tem como objetivo a custódia de presos em regime fechado, do sexo masculino maiores de 18 anos, provenientes de todo o território nacional. 23 O complexo pesquisado possui uma área de 22.950 m², é uma edificação e composta por quatro pavilhões, sendo que cada um possui duas galerias em piso superior e duas em piso inferior. Nos pavilhões 1 e 2 cada galeria possui 22 celas, 01 pátio para o banho de sol, 01 sala de visitas, 04 quartos de visita íntima, 01 banheiro para uso das visitas, 01 sala para atendimento social e psicológico, 01 sala de aula e 01 setor de segurança. Com relação à estrutura, os pavilhões 3 e 4 se assemelham com os citados anteriormente e apenas se difere na quantidade reduzida de cubículos, tendo em vista que existem três galerias com 12 celas e uma com 10. Somando todos os pavilhões atingimos um total de 268 celas com capacidade para 988 presos. Além dos 4 pavilhões, o complexo possui 14 celas de triagem para presos recém ingressados na unidade, 14 celas de isolamento para presos que se comportam de maneira inadequada e 11 alojamentos para presos que exercem trabalho na área interna e externa da Penitenciária, sendo assim o Complexo Penitenciário possui ao todo 1110 vagas. Ainda na área interna, o complexo possui 03 oficinas onde os reeducandos do pavilhão 1 exercem atividades laborais diariamente, 01 cozinha industrial onde os presos do alojamento preparam toda a alimentação que será servida no complexo, 04 parlatórios para permitir o acesso do detento ao advogado, 01 consultório médico, 01 consultório odontológico e 01 farmácia. Na área externa, ou seja, fora da muralha que cerca a parte interna da Penitenciária possui o setor administrativo e a casa da revista. A figura 4 apresenta a imagem atual do Complexo Penitenciário do Estado, de onde é possível observar com maior clareza o pavilhão 04. 24 Figura 4 - Imagem superior do Complexo Penitenciário Estado. Fonte: Foto de autoria própria Atualmente, o quadro de funcionários do complexo é constituído de 03 assistentes sociais, 03 psicólogas, 01 médico, 02 dentistas, 01 enfermeira, 04 técnicos em atividade de saúde 01 técnico em atividades administrativas e 132 agentes penitenciários. 4 ANÁLISE DOS IMPACTOS GERADOS COM RELAÇÃO AO DISPOSTO NO ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA Estando ciente da ausência de um estudo prévio para a implantação do Complexo Penitenciário do Estado, nesta fase deseja-se estabelecer uma análise baseada nos fatores definidos pelo Estatuto da Cidade, a respeito dos impactos de vizinhança gerados pela construção deste empreendimento. Embora o Estudo de Impacto de Vizinhança preveja a análise mínima de sete questões, serão analisadas apenas as questões de maior relevância, ou seja, os principais fatores pelo qual se podem considerar como geradores de impactos para a sociedade. 25 4.1 COM RELAÇÃO AO ADENSAMENTO POPULACIONAL Em 2002, a interiorização do sistema penitenciário paulista causou o inchamento de dezenas de pequenas cidades devido à migração dos familiares dos presos que buscavam maior proximidade com o mesmo. Inclusive o jornal “O Estado de São Paulo” de 18 de fevereiro de 2002, com a matéria “Fim do Carandiru tira paz de cidade do interior” retratam a realidade de municípios interioranos como Itaí, Iaras, Avaré, Iperó, Potim, Lavínia e Pracinha que estavam sofrendo com o aumento demasiado da população e os diversos problemas oriundos da mesma. Com a realidade vivenciada pela população desses municípios supracitados, logo a expectativa para a cidade de São Pedro de Alcântara seria de um aumento populacional motivado pelos mesmos fatores. Segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística foram constatados um acréscimo populacional tendo em vista que no ano de 2000 a população de São Pedro de Alcântara passou de 3584 habitantes para 4765 em 2007, no entanto este aumento se deve ao fato que o IBGE contabiliza a população carcerária, ou seja, se considerarmos que o Complexo Penitenciário do Estado possui em média 1150 presos, ao somarmos a população de 2000 ao número de presos terá aproximadamente a população apresentada em 2007. O censo demográfico mais recente, realizado no ano de 2010, apresenta uma pequena diminuição com relação à contagem populacional efetuada no ano de 2007, com uma população de 4704 habitantes, como pode ser visto na figura 5 que representa através de gráfico a evolução populacional da cidade desde o ano de 1996. O recente Plano Diretor do Município aprovado em 2011 impede uma maior proximidade de residências na área de entorno do Complexo Penitenciário do Estado, ou seja, é mais uma forma determinante para a não ocorrência migratória dos familiares dos presos. 26 5000 4765 4704 2007 2010 População 4500 4000 3584 3465 3500 3000 1996 2000 Ano Figura 5 - Evolução populacional da cidade de São Pedro de Alcântara. Fonte: Imagem de autoria própria 4.2 EQUIPAMENTOS URBANOS E COMUNITÁRIOS No ano de 2011, em visita ao Complexo Penitenciário do Estado, a vigilância sanitária de Santa Catarina atestou que a rede de tratamento de esgoto apresentava-se saturada. Na data de 18/07/2012, a Penitenciária foi notificada para responder procedimento administrativo movido pela 1ª Companhia de Polícia Militar Ambiental, com o objetivo de averiguar o possível extravasamento de esgoto sem o devido tratamento, diretamente em curso d'água. Segundo Gessy Concer, gerente de apoio operacional desde julho de 2007, a estação de tratamento de esgoto era acompanhada por um técnico responsável até o ano de 2010 e os testes realizados sempre apresentavam bons resultados, mas atualmente a qualidade da água possui caráter duvidoso. Na figura 6 é possível verificar a estação de tratamento de esgoto do complexo em funcionamento. 27 Figura 6 - Estação de tratamento de esgoto do Complexo Penitenciário. Fonte: Foto de autoria própria Dentre os equipamentos urbanos o serviço de esgoto é o que afeta de forma negativa para a população, tendo em vista que toda água que passa pela estação de tratamento é despejada no rio Maruim. Conforme citado no subitem 4.1, a instalação do Complexo Penitenciário gerou um aumento populacional, porém por este acréscimo ter se devido à chegada da população carcerária, a mesma não afeta de forma demasiada os equipamentos comunitários, tendo em vista que a maioria dos recursos existentes antes da construção da Penitenciária supriu a necessidade do município, tendo em vista que os equipamentos comunitários de educação, cultura, saúde e lazer são propiciados aos presos pela própria administração do complexo. Atualmente um dos maiores conflitos existentes entre o Complexo Penitenciário do Estado e a Prefeitura do Município de São Pedro de Alcântara está relacionado ao atendimento de saúde, pois os recursos que são transferidos do Fundo Nacional de Saúde aos Fundos de Saúde dos Municípios, conhecido como Piso de Atenção Básica (PAB), consideram a população constante do Censo Demográfico 2010, da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para angariar os recursos, ou seja, abrange a população carcerária. De acordo com a Gerente de Saúde, Ensino e Promoção Social do Complexo, Tatiana da Silva, a Secretaria da Saúde do município apenas repassa alguns medicamentos anualmente e realiza em média cinco encaminhamentos 28 mensais para a rede do SUS, porém não efetua nenhum consulta médica em seus dois centros de saúde. Segundo a mesma, referente às requisições de eletrocardiograma a prefeitura de São Pedro de Alcântara dispõe da aparelhagem e sempre agenda atendimento conforme disponibilidade. Buscando uma maior imparcialidade neste embate, a secretária da saúde do município, Isolene Bernadete Hoffmann, também foi procurada para dar seu parecer, no entanto a mesma se negou a falar sobre tal assunto. 4.3 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO URBANO Como já foi citado anteriormente neste trabalho, o município de São Pedro de Alcântara foi emancipado em 16 de abril de 1994, porém o mesmo permaneceu até 2011 sem lei municipal específica que definisse o uso e ocupação do solo urbano, sendo assim o município seguiu respeitando a lei municipal de São José, cidade pela qual havia se desmembrado, pois conforme reza a Lei Complementar n°135, de 11 de janeiro de 1995, art.29. Até que tenha legislação própria, vigorará no novo Município no que couber, a legislação. I – do Município de que é originária a sua sede, em caso de criação e desmembramento. O Comitê contra o Complexo Penitenciário de São Pedro de Alcântara procurou impedir a construção da Penitenciária com base na Lei Municipal n°2.859 de 13 de dezembro de 1995 que proibia a construção e instalação de complexos penitenciários, presídios ou empreendimentos desta natureza no município de São José e com base na Lei Municipal n°2.986/96 que definia o Morro do Quilombo, local onde se pretendia construir o Complexo, como sendo área de proteção ambiental (APA), fatos imprescindíveis para a concessão das licenças ambientais. Devido aos fortes argumentos contrários a construção do Complexo, a obra foi suspensa algumas vezes por embargos do IBAMA, o primeiro deles ocorreu em 06 de março de 1997, onde atendendo a solicitação da Procuradora Geral da Republica, os fiscais estiveram no local e proibiram o corte de árvore até que a Secretaria de Justiça e Cidadania apresentasse o relatório de cobertura florística. O segundo embargo ocorreu em 03 de abril de 1997 e foi motivada pelo desrespeito ao primeiro, quando se suspeitava do corte ilegal de árvores nativas da Mata Atlântica e antes que um técnico se deslocasse para verificar a irregularidade, a empresa 29 responsável pela obra promoveu o corte de todas as árvores do local. A obra suspensa agradou ao grupo contrário a construção do Complexo, os mesmos na época batalharam pela não retirada do embargo. Em 1997, de acordo com o vereador Roberto Stahelin, um dos líderes mais ferrenhos do Comitê contra a Construção do Complexo, defendia a idéia que o município de São Pedro era apenas lembrado quando outros municípios se negavam a receber obras negativas, se referindo ao leprosário, ao aterro sanitário hospitalar e ao Complexo Penitenciário. E segundo o mesmo a área é inadequada para este tipo de obra, pois o terreno é alagadiço e exigiria uma quantidade enorme de aterro, o que torna a construção tecnicamente inviável. Atualmente o município de São Pedro de Alcântara possui Lei Complementar nº82/2011 que dispõe sobre o zoneamento, uso e ocupação do solo do município, a mesma através do art. 20 defini a Zona de Proteção 2, como área de entorno da penitenciária, onde não se pode ocupar. O referido artigo objetiva proibir a ocupação urbana, promover a segurança da população de São Pedro de Alcântara com relação à penitenciária. Já o art.23 defini a Zona de Serviço 1 como a área que compreende à penitenciária e tem o objetivo de restringir a expansão da penitenciária de segurança máxima do Estado. Conforme podemos verificar na figura 7. Figura 7 - Zonas de serviço 1 e proteção 2. Fonte: Imagem de autoria própria 30 4.4 VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA Ao ser questionado sobre a lógica de valorização de imóveis, Gilberto Guerreiro, vice-presidente de vendas do Sindicato da Habitação (Secovi) de Florianópolis e Tubarão, definiu que “Basicamente, é uma questão de oferta e procura” ou seja, quanto mais interesse houverem determinado local, maiores tendem a ser os preços na região.Acessibilidade e segurança estão entre os principais fatores citados pelo gerente geral de vendas da imobiliária Auxiliadora Predial, Alexandre Arruda. Segundo Valmor Celso da Silva, que atua há 25 anos no ramo imobiliário da cidade de São Pedro de Alcântara, sendo os 20 primeiros anos como agenciador de imóveis e os outros 05 anos como corretor de imóveis, após a construção do Complexo Penitenciário do Estado, os imóveis no bairro Santa Tereza iniciaram um processo de desvalorização que após alguns anos se estagnaram e voltaram a valorizar. Conforme Leandro Hoffmann, corretor de imóveis da Imobiliária São Pedro, localizada no município de São Pedro de Alcântara, no ano de 2011 houve certa rejeição por parte de seus clientes em adquirir imóveis no bairro Santa Tereza, pois os mesmos tinham medo que a região se tornasse violenta, assim como a região da trindade que comporta uma Penitenciária, mas atualmente este receio minimizou-se e o mesmo afirmou que não possui nenhum sitio para vender nas proximidades do Complexo, sendo assim é possível notar que se um fator degradante ocorre na Penitenciária, logo incide de forma determinante na desvalorização dos imóveis próximos. 4.5 GERAÇÃO DE TRÁFEGO E DEMANDA POR TRANSPORTE Devido a uma baixa incidência migratória dos familiares de presos ao município de São Pedro de Alcântara, os mesmos passaram a se deslocar periodicamente para realizarem as visitas, sendo assim gerando maior tráfego na principal via de acesso, a SC-407 e nas ruas Manoel Tomaz da Silva, Valdomiro Antonioda Silva e Adriano Enning. 31 No ano de 2010, o então governador Luiz Henrique da Silveira, assinou ordens de serviço para trabalhos de pavimentação asfáltica e sinalizações na rodovia SC-407 (trecho São José/São Pedro de Alcântara) que até então possuía apenas pavimentação com paralelepípedos e uma péssima sinalização. Atualmente a SC-407 apresenta-se parcialmente concluída, tendo em vista que alguns trechos localizados na cidade de São José a sinalização ainda é deficiente e possui um trajeto de aproximadamente 500 metros sem asfalto. O trecho da rodovia SC-407 que passa pela cidade de São Pedro de Alcântara apresenta-se totalmente concluída e bem sinalizada, conforme podemos verificar na figura 8. As ruas Manoel Tomaz da Silva e Valdomiro Antonio da Silva que são constantemente utilizadas para o deslocamento de pessoas até a Penitenciária também foram asfaltadas, porém essas através de recursos municipais. Figura 8 - Portal da cidade de São Pedro de Alcântara, localizado na Rodovia SC-407. Fonte: Foto de autoria própria O Complexo gera tráfego através das escoltas de presos que constantemente são deslocados por motivo de audiência, saúde e transferências e pelo deslocamento de advogados e familiares dos apenados, sendo este último o que ocasiona maior impacto, tendo em vista que de segunda a sexta ocorre uma média de 70 visitas e nos finais de semana por volta de 100 visitas. A circulação dessas pessoas na cidade geralmente se ocorre entre as 07:00 horas e 11:00 horas 32 e entre as 13:00 horas e 17:00 horas que compreende os horários de entrada e saída dos visitantes dos presos. Os ônibus são os principais meios transportes públicos utilizados pelos familiares que realizam visitas periódicas aos parentes aprisionados. A rodoviária Santa Terezinha Ltda, que atua a 53 anos na região é a única empresa que realiza o deslocamento entre Florianópolis e São Pedro de Alcântara. Segundo Isac Felicio Vieira, auxiliar administrativo da empresa Santa Terezinha, a partir do ano de 2002, em virtude dos deslocamentos dos visitantes ao Complexo Penitenciário do Estado, foi necessário o aumento no número de linhas e toda a frota foi substituída por ônibus adaptados para portadores de necessidades especiais. Conforme o mesmo, nos sábados, domingos e feriados existem horários especiais devido à entrada e saída dos visitantes. Os horários especiais citados são os seguintes: No sábado, partida de Florianópolis as 07:00 horas e as 12:15 horas e no domingo partida de Florianópolis as 07:10 horas e as 12:30 horas e retorno de São Pedro de Alcântara as 17:20 horas. Essas foram às únicas alterações ocorridas no transporte público da região, tendo em vista que o itinerário não foi alterado devido à construção da Penitenciária, pois anterior ao ano de 2002, os ônibus já trafegavam nas vias utilizadas atualmente. 4.6 PAISAGEM URBANA E PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL A cidade São Pedro de Alcântara é a primeira colônia alemã em Santa Catarina, povoada por imigrantes provenientes da Alemanha que buscam constantemente preservar sua cultura através das festas germânicas realizadas na no município como a Oktobertanz e a Stammtisch, e pelo destaque também para a produção, cachaça artesanal ou de alambique elaborada em centenários engenhos movidos a água. A cidade ainda oferece aos seus visitantes um cenário de paisagens bucólicas cercadas de muita mata atlântica, riachos e relevos. Apesar dos vários atrativos que a cidade de São Pedro de Alcântara propicia, o município é sempre lembrado pelo fato de abrigar uma penitenciária de segurança máxima, afirma Michele Maia da Silva, atual Secretária de Gabinete do município. 33 O primeiro impacto que o município de São Pedro de Alcântara recebeu, ocorreu antes mesmo da construção do Complexo, com a derrubada de diversas árvores nativas da Mata Atlântica no local onde seria erguido a Penitenciária, o que afetou o patrimônio natural da cidade. O afastamento do Complexo através da Zona de Proteção 2, evita uma poluição visual e sendo assim não afeta a paisagem urbana, no entanto o impacto na cultura dos cidadãos é notório e em muitos casos moradores alteraram seus hábitos por medo dos bandidos que estão encarcerados na unidade. Atualmente o complexo está inserido no contexto da cidade e buscando maior proximidade com a população alcantarense, no ano de 2012 os agentes penitenciários do Complexo Penitenciário do Estado participaram pela primeira vez do desfile cívico oficial da cidade, em homenagem a semana da independência do Brasil. 34 CONCLUSÃO O estudo realizado no presente artigo baseou-se em pesquisas bibliográficas com o intuito de expor os conceitos e explicitar a função do Estudo de Impacto de Vizinhança. Com esta abordagem foi possível constatar que este estudo é uma excelente ferramenta de planejamento que visa evitar que a cidade se torne um verdadeiro caos. O Estudo de Impacto de Vizinhança objetiva adequar o desenvolvimento da cidade proporcionando qualidade de vida para sociedade, analisando questões referentes ao ambiente, a estrutura e ao transporte, ou seja, todos os fatores que são pertinentes para o bom funcionamento das cidades, com a intenção de que ninguém seja prejudicado. O Estudo de Impacto de Vizinhança está previsto no Estatuto da Cidade e compete a cada município estabelecer lei que regulamente o mesmo, definindo os empreendimentos que para a concessão de alvará de construção necessitarão passar pelo estudo. O tipo de empreendimento pesquisado conforme levantamentos bibliográficos foram constatados certo desprezo por parte da sociedade e sua construção passou a ser um desafio para os governantes. Procurando embasamento para justificar o alto índice de reprovação da população com relação à implantação de uma Penitenciária nas proximidades de suas casas, realizei um estudo de caso referente ao Complexo Penitenciário do Estado que completa em 2012, dez anos de existência, onde sua construção ocorreu antes da aprovação do Estatuto da Cidade, ou seja, a mesma não passou por estudo prévio para sua instalação e a pequena população da cidade recém emancipada e com pouca infra-estrutura acabou por absorver. Baseando-se em entrevistas com profissionais de diversos segmentos e em documentos públicos foi possível levantar dados e concluir que a população de São Pedro de Alcântara praticamente se estagnou e movimentos migratórios devido ao empreendimento não foram notificados, fazendo com que os equipamentos comunitários não fossem ampliados, pois contrariamente ao que ocorreu em cidades interioranas paulistas, o município de São Pedro de Alcântara não registrou grandes migrações de familiares de presos na região. Esta condição foi constatada com a 35 verificação das visitas cadastradas no Serviço Social do Complexo que atualmente não possui cadastro de visitantes residentes em São Pedro de Alcântara. O fator mais impactante e de forma negativa se refere ao meio ambiente, tendo em vista que para a construção do Complexo foi cortadas diversas árvores nativas da Mata Atlântica e atualmente a estação de tratamento de esgoto não apresenta os resultados satisfatórios, colocando em risco a qualidade da água do rio Maruí, e da saúde da população. O tráfego de pessoas se tornou mais intenso, porém estabeleceram-se melhorias nas vias como asfaltamento das mesmas e melhores sinalizações, assim como uma maior disponibilidade de transporte público. Considerando que os presos do complexo correspondem a quase ¼ da população de São Pedro de Alcântara, é inegável seu impacto profundo na cidade, fazendo com que a mesma seja vista unicamente pelo fato de possuir uma penitenciária. E os impactos psicológicos e o apelo por segurança nessas comunidades próximas são evidentes, o que alterou drasticamente com o perfil da população local. Com a realização do estudo de caso, procuro esclarecer para a sociedade das determinadas dúvidas e mitos que existem sobre a construção de unidades prisionais em uma região, a mesma também pode corroborar para que o Estado tenha ciência dos possíveis danos que podem ocasionar com a construção desse tipo de empreendimento e possibilita a criação medidas mitigadores para suprir as atuais necessidades daquela população que convive nas proximidades das unidades prisionais. 36 REFERÊNCIAS ADAM, Roberto Sabatella. Analisando o Conceito de Paisagem Urbana de Gordon Cullen. Disponível em: http://www.up.com.br/davinci/5/pdf21.pdf. Acesso em 15 de novembro de 2012. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 05 de outubro de 1988. Atualizada até a emenda constitucional n°38, de 12/06/2002. BRASIL. Estatuto da Cidade de 2001. Lei nº 10.257 de 10 de julho de 2001. 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Lei nº 2986, de 31 de dezembro de 1996. Cria área de proteção ambiental Morro do Quilombo. São José. Santa Catarina. 1996. 37 BRASIL. Lei nº 6766, de 19 de dezembro de 1979.Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e dá outras Providências. BRASIL. Lei nº 14.676, de 17 de abril de 2009. Denomina Complexo Penitenciário do Estado a Penitenciária Estadual localizada no Município de São Pedro de Alcântara. Santa Catarina. 2009. CAMBRAIA, Maria Aparecida Seabra de Carvalho, DO VALLE, Maria Isabel Marques e COSTA, Maria de Lujan Seabra de Carvalho. Termo de Referencia para Estudo de Impacto de Vizinhança. CAMPOS, Alves de, Betina. Diretrizes para Análise de Impacto em Meio Urbano Baseadas em Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV). 2005. Dissertação (Pós Graduação em Engenharia da Produção) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. CEZÁRIO, Virgínia Helena. 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