Matrixologia

Transcrição

Matrixologia
MATRIXOLOGIA
“Infelizmente, é impossível... dizer o que é a Matrix. Você tem de ver
por si mesmo. Esta é sua última chance. Depois não há como voltar. Se
tomar a pílula azul... a história acaba, e você acordará na sua cama
acreditando... no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha...
ficará no País das Maravilhas... e eu te mostrarei até onde vai a toca do
coelho. Lembre-se... tudo que ofereço é a verdade. Nada mais.”
(Morpheus – The Matrix)
Esta obra apresenta em uma linguagem clara e descomplicada as simbologias
filosóficas propositadamente inseridas no filme The Matrix. Utilizando este
filme como base, o livro é um guia para aqueles que compreenderam a
importância de desconectar-se da grande Matrix que vivemos e
verdadeiramente desejam encontrar os seus reais objetivos de vida.
Abordando a principal mensagem do filme, a leitura desafia o leitor a rever os
seus conceitos e crenças do que é real ou fundamental em sua própria filosofia
de vida, além de orientar no processo de auto-conhecimento e conscientização
de sua missão pessoal.
Matrixologia mostra com muita clareza como todos nós podemos ser O
Escolhido, representado no filme pelo personagem Neo,
apresentando
caminhos concretos para alcançar este objetivo. Sem dúvida trata-se de uma
leitura que mexe definitivamente com toda a estrutura de vida de qualquer
pessoa.
Bem vindo ao deserto do real !!!
Dedicatória:
Dedico esta obra a todos que estão em busca da verdadeira finalidade da vida.
Aqueles que compreenderam a existência de um objetivo supremo que
sobrepõe às metas impostas por um mundo materialista, egoísta e doente.
Que desejam compreender melhor as leis que regem o nosso mundo e querem
melhorar o seu relacionamento com Deus, com o próximo e consigo mesmo.
Introdução.
I) O mito do herói. O simbolismo do auto-conhecimento e auto-realização.
II) A inquietação pela verdade.
III) A Verdade encontra Neo.
IV) O primeiro encontro com os agentes. O medo da mudança.
V) Encontrando Morpheus. O medo de não ter o controle.
VI) Desconectando da Matrix. O que é Real ?
a) Sonho ou realidade ?
b) Crença e conhecimento.
VII) Compreendendo a principal simbologia de Matrix.
a) Maya e Matrix.
b) O Ego e a relação com Maya.
c) A dificuldade do auto-enfrentamento e conscientização da realidade.
d) Equilibrando as atitudes.
e) Os impulsos humanos da sexualidade.
f) Conclusão do capítulo.
VIII) O treinamento.
a) As artes marciais e a disciplina.
b) Quebrando as leis físicas e descobrindo a metafísica. Parte 1
c) Qualquer pessoa ainda conectada à Matrix pode ser um agente.
IX) O oráculo.
a) A importância do desapego.
b) Quebrando as leis físicas e descobrindo a metafísica. Parte 2
c) Onde menos se espera, ali está a sabedoria. A aparência do Oráculo
d) O medo da responsabilidade de ser o escolhido.
X) A traição de Cypher. Nem todos estão preparados.
XI) O resgate à Morpheus. Resgatando a fé e vivendo as sincronicidades.
XII) Neo enfrenta os agentes. O renascimento para uma nova realidade.
a) Relacionando-se com Deus.
b) Relacionando-se consigo próprio.
c) Relacionando-se com o próximo.
d) Relacionamento divino.
XIII) O vôo de Neo no fim do filme. A ascensão aos céus.
Conclusão.
MATRIXOLOGIA
Introdução:
O filme The Matrix é uma dentre algumas obras artísticas que surgem
eventualmente e tocam profundamente um grande número de pessoas. Obras
que normalmente tornam-se símbolos de sua época, devido a forte estrutura
mitológica (Estórias populares antigas sobre personagens que eram referências
em várias áreas do comportamento pessoal e social) e filosófica que se
utilizam.
Ao longo da história da humanidade, diversas lendas, crenças e histórias,
formaram os mitos e arquétipos (Modelos de crenças e ideais) que regiam o
comportamento de civilizações. Esses ícones formados, tornaram-se
patrimônios da humanidade e fazem parte de um inconsciente
coletivo(Conhecimentos inatos que inconscientemente podem e são acessados
pela mente) que influencia a todos nós até hoje. Desta forma o conteúdo de
Matrix, não nasceu tão somente da criatividade de seus autores, mas de uma
fonte de conhecimento milenar.
Misturado com questões atuais como inteligência artificial, realidade virtual e
muitos efeitos especiais, chega-se à receita que faz com que seja esse grande
sucesso. The Matrix entra para história por traduzir para uma linguagem
moderna, diversos conhecimentos fundamentais que seriam inacessíveis aos
que vivem na nossa era, se precisassem ser aprendidos nos formatos originais.
O filme é recheado de várias citações literárias, além de muitos simbolismos
e significados, porém nesse livro, procurarei citar somente aqueles que
segundo a minha interpretação são mais relevantes para o crescimento pessoal
do leitor. É fato incontestável que o filme The Matrix poder ser interpretado de
várias formas diferentes, porém a minha expectativa é que algumas pessoas
possam se identificar com esse livro e quem sabe, desenvolverem uma visão
mais ampla sobre alguns pontos.
Gostaria de deixar claro que para uma melhor compreensão deste artigo, é
fundamental que o filme seja assistido antes. Além de aconselhar que seja
assistido novamente algum tempo depois.
Bem vindo ao mundo real !!!
I) O mito do herói. O simbolismo do auto-conhecimento e autorealização.
Voltando a falar sobre os mitos que são abordados em The Matrix, vamos
citar em especial o mito principal do filme, o mito do herói. Este pode ser
encontrado nas mais variadas culturas, estórias literárias ou fatos reais,
antigas ou contemporâneas, fazendo referência a um herói que em alguns
casos a sua vinda é profetizada. Luta para libertar os demais de algum tipo de
domínio, vivendo uma fundamental missão que visa o benefício de todos, que
acaba lhe proporcionando uma grande evolução pessoal, libertando-o de vários
medos e limitações.
Inicialmente o herói vive em um ambiente comum, normal, como as demais
pessoas, levando uma vida de rotinas e padrões, sem aventuras ou estímulos
existenciais. Porém quando se vê envolvido na nova jornada, a mudança desse
ambiente fica evidente, pois todo o modelo de vida que vinha levando muda
completamente para uma fantástica excitante aventura. Um exemplo
cinematográfico é o filme Guerra nas Estrelas, onde Luke Skywalker passa uma
situação similar, vivendo na fazenda de seu tio, uma vida comum e sem graça,
até que se vê envolvido em uma aventura contra o poderoso império
intergaláctico.
Outro bom exemplo de um mito do Herói que gostaria de destacar, são os 12
trabalhos de Hércules, originado na mitologia grega. O herói enfrentou a ira
dos deuses e lutou contra seres horríveis para transcender a sua condição de
simples mortal. Hércules não aceitava a imperfeição da condição humana e
saiu em busca de algo maior, transcendental. Os desafios que Hércules teve
que enfrentar são metáforas das diversas fases do processo de
desenvolvimento interior.
Estes podem ser divididos em quatro etapas:
1a Superação da violência e dos vícios e criação de limites;
2a Descoberta de talentos, purificação da mente e do corpo e transformação de
instinto em intuição;
3a Domínio da sexualidade e da arte de amar;
4a Desapego e conquista da espiritualidade.
Em resumo o arquétipo do herói trata-se de um mito que simboliza uma
metáfora do processo de auto-conhecimento e auto-realização do ser humano.
O herói, representa cada indivíduo que parte nessa fantástica jornada do autoconhecimento, deixando para trás a “seguranças” das velhas “certezas”, para
se aventurar em um novo universo, onde terá que enfrentar desafios que
proporcionarão a superação dos próprios medos e bloqueios, resultando em
novos conhecimentos e estados avançados de consciência. Podemos dividir em
alguns tópicos como é geralmente estruturada uma história com base no mito
do herói:
1. O Herói é apresentado no mundo comum, onde recebe um chamado à
aventura.
2. Primeiro recusa o chamado, mas num encontro com o mentor é encorajado
a fazer a travessia do primeiro limiar e entrar no mundo especial, onde
encontra testes, inimigos e aliados.
3. Na aproximação da caverna oculta, cruza um segundo limiar onde enfrenta
a provação suprema.
4. Ganha sua recompensa e é perseguido no caminho de volta ao mundo
comum.
5. Cruza então o terceiro limiar, experimenta uma ressurreição e é
transformado pela experiência.
6. Chega então o momento do retorno com o elixir, a benção ou o tesouro que
beneficia o mundo comum.
Em The Matrix, toda a trama gira em torno deste mito. Contando a saga de
Neo, o predestinado/escolhido, que fora profetizado pelo Oráculo. Ele terá que
passar por várias provas e dificuldades até atingir a sua realização pessoal e
cumprir o que esperam dele. Na verdade o filme aborda de uma forma bem
peculiar toda a trajetória de um indivíduo que chega ao estágio de partir na
jornada do auto-conhecimento e auto-realização, a qual procurarei destacar
nos tópicos que seguem.
II) A inquietação pela verdade.
The Matrix só pode iniciar a sua saga a partir de um fato que passa a
motivar Neo, a inquietação pela verdade, simbolizando o início da saga do
herói na aventura da auto-descoberta. Neo sente que existe algo de errado,
um sentimento difícil de explicar, que age a nível inconsciente, mas que
incomoda diariamente ao indivíduo que chega a este estágio da evolução.
Neo mantém um emprego normal, como programador em uma renomada
empresa de softwares, tentando adequar-se dentro dos padrões “normais”
impostos pela sociedade que vive. Porém algo está errado. No filme não é
apenas a curiosidade de saber o que é Matrix que o motiva na busca por
Morpheus. Neo deixa claro que está insatisfeito com a vida que leva, quando
decide viver duplamente atuando nas noites como hacker. O hacker é aquele
que age contra o sistema estabelecido, o buscador de enigmas, decifrador
senhas e invasor dos sistemas, mostrando que tudo pode ser violável e
acessível, encontrando as falhas daquilo que se chama segurança.
Neo vara noites vivendo uma realidade alternativa, que se traduz em uma fuga
do mundo de insatisfação e problemas que vive.
Uma das cenas que
simbolizam esta dificuldade em viver e adequar-se a sua vida “normal” é
quando o seu chefe ameaça demiti-lo pelas dificuldades que apresenta em
cumprir as normas da empresa. Neo inconscientemente busca respostas para a
sua inquietação, pois sente que tem algo de errado com a vida que leva e com
o mundo que vive.
Esta dúvida pode ser constatada na cena que Choi vai a sua casa buscar um
programa e Neo pega o disquete em um livro o qual o título é "Simulacra e
Simulação" do filósofo francês Jean Baudrillard, que consiste em um tratado
respeitado que lida com discussões sobre o que é "real" e sobre o que é
"simulação ou simulacra".
Quando Neo abre o livro, o capítulo visto é sobre o Niilismo(Rejeição total da
autoridade, porque nada existe de absoluto então porque se submeter ao
estado e a igreja e a hierarquia, é a negação de todas as crenças, a recusa a
qualquer conformismo, muitas vezes beirando a intransigência radical, luta
contra a tirania, a hipocrisia, e os artificialismos, em favor da liberdade
individual, diz que todos os males derivam da ignorância,
só a eliminação da ignorância e da opressão pode garantir a liberdade
humana).
Esta mesma cena mostra mais duas representações de como a vida de Neo
está desequilibrada e em crise. A primeira é representada em sua aparência
decadente, ao ponto de ser comentado por Choi quando foi a sua casa buscar
o programa:
Choi: _“Alguma coisa errada, cara? Você parece mais branco que o normal.”
A resposta de Neo é a segunda representação:
Neo:_“Meu computador, ele... Você já teve a sensação em que não tem
certeza se está acordado ou ainda dormindo?”
Essa dificuldade de adaptação a vida normal representada por Neo no filme, é
vivida por todos os seres humanos que chegam a este determinado estágio da
evolução. O homem possui em sua natureza a necessidade inata de evoluir, de
aprender algo novo. E quando a sua vida não pode mais lhe proporcionar isso,
perdendo assim o sentido, ele entra em colapso. Quando as suas dúvidas
existências não podem mais ser satisfeitas pelas respostas fornecidas pelo “seu
mundo”, o indivíduo parte em busca de novas respostas que satisfaçam as
suas perguntas, que se adeqüem ao seu atual estágio de consciência.
III) A Verdade encontra Neo.
Existe um ditado oriental antigo que diz que
pronto, o mestre aparece”.
“Quando o discípulo está
Morpheus e sua tripulação, assim como todos os Capitães das naves
oriundas de Zion que vagam pelas galerias subterrâneas, representam a
sabedoria que busca constantemente os que estão prontos para despertar.
Neo, assim como Trinity e os outros que foram despertos, sabiam que havia
algo de errado, que havia algo a mais e buscaram pela verdade, mostrando-se
prontos e ávidos. Por esse motivo, foram encontrados por ela. Vejamos como
exemplo a cena em que Trinity e Neo tem o seu primeiro encontro.
Trinity: _Sei por que está aqui, Neo. Sei o que anda fazendo.
Sei por que mal dorme... por que mora sozinho e por que, noite após noite...
senta-se ao computador. Você o está procurando. Eu sei porque eu também já
procurei a mesma coisa.
E, quando ele me encontrou... ele me disse que eu não estava procurando por
ele...
eu estava procurando uma resposta.
É a pergunta que nos impulsiona, Neo. Foi a pergunta que te trouxe aqui. Você
conhece a pergunta...
assim como eu.
Neo: _O que é a Matrix?
Trinity: A resposta está aí, Neo. Ela está à sua procura. E ela te encontrará...
se você desejar.
Apesar do objetivo de desconectar as pessoas da Matrix, não seria possível
despertar aleatoriamente e maciçamente, porque nem todas suportariam a
verdade. As mais apegadas às ilusões que vivem, certamente entrariam em
colapso. Por esse motivo era importante selecionar as pessoas qualificadas
para viver essa nova realidade.
Este fato no filme, representa o estágio em que finalmente é compreendida a
verdade sobre a vida, sobre o seu real sentido. Iniciando desta forma a busca
efetiva e consciente pela auto-realização, que trata-se de um estágio da
evolução humana que todo o indivíduo chegará mais cedo ou mais tarde. Esse
é um processo lento que depende de várias situações e experiências vividas
até que o indivíduo esteja pronto para iniciar.
Assim como no filme, a conscientização sobre a verdade da realidade superior
e a libertação de antigos conceitos, seria insuportável para quem não está
realmente preparado e como veremos mais a frente, uma vez desperto e
consciente, a vida nunca mais volta a ser como era.
Entretanto será
apresentado nos próximos tópicos, nem todos os que estão prontos
conseguem efetivamente despertar e nem todos os que despertam conseguem
viver a nova realidade.
IV) O primeiro encontro com os agentes. O medo da mudança.
Paradoxalmente, da mesma forma que existe a inquietação em busca da
evolução e do novo, existe a resistência à mudança. Trata-se de um
mecanismo de auto-defesa do Ego que induz o ser humano a manter-se
naquilo que conhece e domina, motivado pela necessidade de sentir-se seguro.
No filme The Matrix os agentes representam também essa resistência,
representam a imposição do Ego, agindo diretamente sobre o medo da
mudança.
Na saga, acontecem duas cenas que simbolizam bem esse medo, sendo a
primeira delas quando Neo é procurado por agentes para um interrogatório e
se vê em uma situação de escolha, entre se pendurar em um andaime no alto
de um arranha céu (representando o desconhecido, o novo), ou se entregar
aos agentes (que representam a auto-defesa de sentir-se seguro evitando a
mudança).
Morpheus: Há duas formas de sair deste prédio.
Uma é pelo andaime. A outra é levado por eles.
Nas duas há um risco. Você é quem escolhe.
Neo não resiste a primeira pressão da Matrix em mante-lo conectado as
sistema e prefere se entregar aos agentes. Ele se acha pequeno demais para
tudo o que estava acontecendo. Ele se achava ninguém e se via impotente
perante toda a trama que aos poucos ia se desenrolando.
Neo: Não sou ninguém. Eu não fiz nada.
Eu vou morrer.
Droga!
Droga!
Eu não consigo.
Droga.
Neo até tenta, porém naquele momento não tinha confiança nele mesmo
para enfrentar aquela situação e isso o fez recuar e se entregar.
Essa cena representa a primeira barreira encontrada pelo herói, que nesse
caso foi suficiente para impedi-lo temporariamente.
Durante o interrogatório imposto pelos agentes, Neo deixa claro que mesmo
tendo falhado no momento crucial, ele continuava convicto que tinha que
proteger Morpheus e Trinity não revelando o contato já ocorrido, mostrando
desta forma fidelidade ao que acreditava.
Depois de ser grampeado pelos agentes e libertado, Morpheus resolve dar mais
uma oportunidade a Neo, telefonando para marcar um novo encontro.
Novamente Neo passa pela dura prova de descobrir o novo e deixar para
trás o que não está mais lhe trazendo crescimento. A segunda cena que
representa isso é quando Neo entra no carro junto com Trinity, Swich e Apoc.
Neo havia passado pelas mãos dos agentes, que buscam incessantemente
todos os que já estão despertos, e além disso havia sido grampeado. Este fato
levou Trinity e Swich agirem de forma defensiva, tendo que aprontar uma
arma para retirar o grampo que havia sido colocado nele.
Com isso Neo percebeu o quanto era grandioso, complexo e arriscado o que
estava procurando. Percebeu como a sua vida poderia mudar radicalmente se
continuasse naquela busca.
Percebendo essa insegurança, Swich mandou Apoc parar o carro, abriu a porta
e falou:
“Escute, espertinho.
Não temos tempo pra brincadeiras.
Agora só há uma regra:
é do nosso jeito... ou caia fora.”
Mais uma vez ele terá que fazer a sua escolha, Neo pensa por dois ou três
segundos, e novamente é vencido pelo medo da mudança.
Neo exclama: Tudo bem. E abre a porta do carro para sair por ela. Trinity
pega-o pelo braço e fala:
_Por favor, Neo, confie em mim.
_Por quê?
_Porque você já esteve lá.
Neo olha para fora pela porta aberta e a visão que tem é de uma rua que se
estende verticalmente. Trinity continua.
_Você conhece essa rua. Você sabe onde ela vai dar. E sei que não é onde
você deseja estar.
Trinity nessa cena teve um papel fundamental na escolha de Neo no
momento crucial. Ela representou o lembrete da inquietação que acompanhava
Neo e que o levou até aquele lugar e até aquela escolha. Ele se conscientizou
que mesmo com todo o medo que estava da mudança, se saísse do carro para
aquela rua, a sua vida continuaria do mesmo jeito, as suas inquietações e
dúvidas continuariam a resultar na crise existencial que o estava
desequilibrando. Neo faz a escolha que mais cedo ou mais tarde teria que
enfrentar, decide continuar a sua busca pela mudança, pela sua verdade.
Muitos que intuem essa realidade superior e o real sentido para vida fraquejam
nesse primeiro medo, “o medo da mudança”. Isso é uma auto defesa da psique
humana que visa manter o seu equilíbrio interior, que só é possível quando as
perguntas existenciais abaixo estão respondidas.
- Quem eu sou ?
Exemplo de resposta: Sou João da Silva, nascido no Rio de Janeiro no Brasil,
filho de Damaceno da Silva e Orlandina da Silva, sou mecânico, casado com
Maria da Silva e tenho dois filhos, Carlos e Ricardo da Silva.
- De onde vim ?
Exemplo de resposta: Fui gerado biológicamente pelos meus pais, e antes de
Deus me colocar na terra eu morava no céu.
- Como funciona o mundo e a sociedade que vivo ?
Exemplo de resposta: É necessário que o indivíduo estude em uma escola
regular, escolha uma profissão e se esforce para obter o máximo de bens que
trarão conforto e felicidade até a hora de deixar essa vida e viabilizar uma boa
herança para os filhos.
- Qual é a meta da minha vida ?
Exemplo de resposta: Ter a minha própria oficina e uma casa de praia em
Búzios.
- Para onde vou depois de morrer ?
Exemplo de resposta: Se eu andar conforme as leis de Deus vou para o céu, se
não, vou para o inferno.
Os exemplos citados de respostas existenciais formam um exemplo de visão de
mundo, neste caso do Sr. João da Silva, que poderia ser outra completamente
diferente se tivesse nascido em uma tribo indígena do Amazonas, ou em uma
aldeia africana, ou ainda em uma comunidade da Índia.
Cada pessoa tem a sua própria visão de mundo, que além das respostas
existenciais, também é formada pelas influências sofridas na sociedade que se
vive.
Mudanças nessas respostas existenciais (visão de mundo) do Sr. João da Silva,
provavelmente o levará à uma crise que desequilibrará a sua psique.
Por exemplo: O João da Silva descobre que um de seus filhos na verdade não é
seu filho, ou descobre que não é filho de seus pais. A primeira tendência seria
rejeitar essa informação, considerando a crise e o desequilíbrio que a mesma
causaria.
Por isso é tão difícil aceitar novas verdades e no caso de quem está em busca
de algo superior as mudanças na visão de mundo serão inevitáveis.
Porém esse medo assim como os outros pode e deve ser superado, pois de
todas as barreiras que impedem o indivíduo de crescer, o medo é a principal
delas.
Mais cedo ou mais tarde isso acontecerá, pois a consciência está em constante
processo de crescimento e sendo assim, chegará o dia em que a atual visão de
mundo não servirá mais e o equilíbrio da psique entrará em crise. Neste caso,
ou indivíduo enfrenta o medo da mudança, absorvendo e adaptando-se às
novas respostas, ou continuará em crise até o momento que não terá outra
alternativa.
V) Encontrando Morpheus. O medo de não ter o controle.
Um outro medo que está muito associado ao medo da mudança, mas que
merece um destaque especial é o “medo de não ter o controle”.
Na cena em que Neo finalmente encontra com Morpheus, Neo dá sinais
desse medo específico logo no início da conversa com Morpheus.
Morpheus: __Você acredita em destino, Neo?
Neo:
__Não.
Morpheus: __Por que não?
Neo: __Não gosto de pensar que não controlo minha vida.
Morpheus: __Sei exatamente o que quer dizer.
O medo da mudança está fundamentado na necessidade ilusória de controlar
tudo ao seu redor, de ter nas mãos as rédeas da vida. E Morpheus
preocupava-se em saber como Neo pensava, pois isso poderia ser uma grande
barreira para continuar a sua jornada após estar desconectado da Matrix. Pois
as pessoas que acreditam ter total controle sobre suas vidas e convicção que
isso é fundamental para viverem bem, podem passar por um grande choque
emocional, quando descobrem que o controle que achavam que tinham é
muito menor do que podiam imaginar.
Morpheus está representando “a verdade sobre a vida” e deixa bem claro a
Neo que uma vez revelada, a vida do conhecedor nunca mais será a mesma.
Depois de descrever basicamente o que é Matrix, ele deixa claro para Neo que
não será fácil conhecer essa verdade.
Morpheus: _Infelizmente, é impossível...
dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si mesmo. Esta é sua última
chance.
Depois não há como voltar. Se tomar a pílula azul... a história acaba, e você
acordará na sua cama acreditando... no que quiser acreditar. Se tomar a pílula
vermelha... ficará no País das Maravilhas... e eu te mostrarei até onde vai a
toca do coelho. Lembre-se... tudo que ofereço é a verdade. Nada mais.
A questão é que a escolha já estava feita, pois Neo no episódio do carro,
havia se conscientizado que na verdade não havia escolha. Ou ele conhecia
essa verdade, tentando dar um outro rumo a sua vida, ou continuaria em
crise. Não tinha nada mais a perder, fato este que o levou a pegar a pílula
vermelha e toma-la sem hesitar.
VI) Desconectando da Matrix. O que é Real ?
a) Sonho ou realidade ?
Como no filme o processo do despertar é lento, difícil e doloroso. E leva um
tempo até que Neo possa compreender o que é Matrix. Como Neo poderia
enxergar tal fato, estando ainda conectado ? Seria impossível. Para isso ele
precisou primeiro se desconectar do sistema. Porém compreender o que é
também dependeria de libertar a sua mente em relação aos seus conceitos de
realidade.
Depois de tomar a pílula vermelha, Neo é preparado para ser desconectado.
O programa que ingeriu em forma de pílula, começa a interferir na
funcionalidade do seu “organismo” e ele começa a ter “alucinações bem reais”.
Ali é o início dessa jornada rumo a liberdade da mente. Morpheus percebendo
exclama:
Morpheus: _Você já teve um sonho, Neo, que parecia ser verdadeiro?
E se você não conseguisse acordar desse sonho?
Como você saberia a diferença entre o mundo dos sonhos...
e o mundo real?
Neo: _Não pode ser.
Morpheus: _Ser o quê?
Ser real?
Finalmente Neo é desconectado, acordando para o mundo real. Depois de
passar por um processo de adaptação, Morpheus e Neo são colocados no
programa de carregamento que simula a Matrix, Neo começa a compreender a
verdade. Entende que o mundo em que vivia não era real, que tudo não
passava de uma grande ilusão imposta à sua mente e que a realidade vai
muito além do que ele podia compreender. Descobre que a realidade é relativa
e depende do que os nossos sentidos estão captando e traduzindo para o
nosso cérebro.
Utilizando o exemplo de Morpheus, se estamos em um sonho bem real,
interagimos com objetos e pessoas que parecem reais e sólidos, chegamos a
confundi-lo com a realidade, porque a nossa mente os percebe assim.
Alguns pensadores ao longo da história desenvolveram teorias que abordam
esse conceito.
René Descartes, após muito refletir sobre o assunto, chegou a conclusão que
não podemos confiar em experiências sensoriais. Ele ilustra a sua teoria com a
estória de um Demônio maldoso com grandes poderes, capaz de fazer-nos
acreditar na existência do mundo físico externo, que na verdade trata-se
apenas de uma ilusão para nos manter aprisionados.
Peter Unger em seu livro Ignorance (Ignorância) lançado em 1975, sugere a
possibilidade que o mundo físico como o conhecemos, seja apenas estímulos
neurológicos causados por um cientista do mal, utilizando um
supercomputador que conectado ao sistema nervoso por eletrodos, nos induz a
acreditar que existam objetos sólidos os quais interagimos.
Adotando uma teoria muito parecida, Hilary Putnam descreve a sua versão em
seu livro lançado em 1981, Reason, Truth and History (Razão, Verdade e
História), onde sugere que imaginemos que nossos cérebros foram separados
cirurgicamente do nossos corpos, e que foram colocados em um barril cheio de
elementos químicos que os nutrem. Um poderoso computador, envia impulsos
elétricos ao nosso cérebro nos fazendo viver uma “realidade” virtual, onde
achamos estar vivendo no mundo real, porém na verdades estamos sendo
estimulados por um programa de computador.
Desta forma todos eles sugerem que a nossa idéia de realidade sobre o
mundo que vivemos, pode estar limitada ao que o nosso intelecto consegue
ver, acreditar ou compreender. Ou seja, a verdade pode estar bem além do
que
fomos
até
então
capazes
de
conceber.
Esse conceito sobre o que é real ou não é uma teoria bem mais antiga do que
podemos imaginar. Na Grécia, aproximadamente em 387a.c., um certo filósofo
chamado Platão ilustra com muita propriedade essa questão com a sua
Alegoria da Caverna:
“Imaginemos homens que vivam numa caverna cuja entrada se abre para a luz
em toda a sua largura, com um amplo saguão de acesso. Imaginemos que esta
caverna seja habitada, e seus habitantes tenham as pernas e o pescoço
amarrados de tal modo que não possam mudar de posição e tenham de olhar
apenas para o fundo da caverna, onde há uma parede. Imaginemos ainda que,
bem em frente da entrada da caverna, exista um pequeno muro da altura de
um homem e que, por trás desse muro, se movam homens carregando sobre
os ombros estátuas trabalhadas em pedra e madeira, representando os mais
diversos tipos de coisas. Imaginemos também que, por lá, no alto, brilhe o sol.
Finalmente, imaginemos que a caverna produza ecos e que os homens que
passam por trás do muro estejam falando de modo que suas vozes ecoem no
fundo da caverna.
Se fosse assim, certamente os habitantes da caverna nada poderiam ver além
das sombras das pequenas estátuas projetadas no fundo da caverna e
ouviriam apenas o eco das vozes. Entretanto, por nunca terem visto outra
coisa, eles acreditariam que aquelas sombras, que eram cópias imperfeitas de
objetos reais, eram a única e verdadeira realidade e que o eco das vozes
seriam o som real das vozes emitidas pelas sombras. Suponhamos, agora, que
um daqueles habitantes consiga se soltar das correntes que o prendem. Com
muita dificuldade e sentindo-se freqüentemente tonto, ele se voltaria para a
luz e começaria a subir até a entrada da caverna. Com muita dificuldade e
sentindo-se perdido, ele começaria a se habituar à nova visão com a qual se
deparava. Habituando os olhos e os ouvidos, ele veria as estatuetas moveremse por sobre o muro e, após formular inúmeras hipóteses, por fim
compreenderia que elas possuem mais detalhes e são muito mais belas que as
sombras que antes via na caverna, e que agora lhes parece algo irreal ou
limitado. Suponhamos que alguém o traga para o outro lado do muro.
Primeiramente ele ficaria ofuscado e amedrontado pelo excesso de luz; depois,
habituando-se, veria as várias coisas em si mesmas; e, por último, veria a
própria luz do sol refletida em todas as coisas. Compreenderia, então, que
estas e somente estas coisas seriam a realidade e que o sol seria a causa de
todas as outras coisas. Mas ele se entristeceria se seus companheiros da
caverna ficassem ainda em sua obscura ignorância acerca das causas últimas
das coisas. Assim, ele, por amor, voltaria à caverna a fim de libertar seus
irmãos do julgo da ignorância e dos grilhões que os prendiam. Mas, quando
volta, ele é recebido como um louco que não reconhece ou não mais se adapta
à realidade que eles pensam ser a verdadeira: a realidade d as sombras. E,
então, eles o desprezariam.... “
O que assegura que não vivemos em um sistema como Matrix ? Será que a
visão de mundo que temos é a realidade ? O que é real e o que é ilusão ?
b) Crença e conhecimento.
Uma das principais mensagens passadas pelo filme The Matrix, é a importância
de revermos o que consideramos verdade, ou seja o que é real ? Ao longo do
nosso desenvolvimento como seres humanos, absorvemos vários conceitos,
teorias e crenças que são passadas pela nossa família e pela influência da
sociedade que vivemos. Desta forma, formamos a nossa visão de como é o
mundo e de como tudo funciona.
Porém, qual é a profundidade ou a abrangência sobre alguma determinada
crença ou verdade ?
Existe uma diferença muito grande entre acreditar e ter consciência, ou se
preferir entre crença e conhecimento.
Uma crença depende que você acredite no que uma determinada fonte de
informação está lhe passando. Um conhecimento não depende que você
acredite, pois é uma informação que você mesmo, por intermédio do seu
raciocínio pode comprovar.
Você acredita ou tem consciência que 2 + 2 é igual a 4 ?
No caso da pergunta acima, a resposta pode variar. Se o indivíduo em questão
sabe fazer contas de somar, poderá chegar ao resultado e consequentemente
ao conhecimento que o resultado de 2 + 2 é 4, ou seja, ele tem consciência.
Porém se o indivíduo não sabe realizar contas de somar e alguém lhe informa
que 2 + 2 é igual a 4, este dependerá de acreditar ou não nesta informação.
No caso de acreditar, corre-se o risco da fonte estar errada e ele estará
tomando como verdade uma informação que acredita estar certa.
Sidarta Gautama, mais conhecido como O Buda à aproximadamente 2.500
anos atrás, expressou a seguinte opinião sobre o assunto:
“Não acredite no que você ouviu; não acredite em tradições porque elas
existem a muitas gerações; não acredite em algo porque é dito por muitos;
não acredite meramente em afirmações escritas de sábios antigos; não
acredite em conjecturas; não acredite em algo como verdade por força do
hábito; não acredite meramente na autoridade de seus mestres e anciãos.
Somente após a observação e análise, quando for de acordo com a razão e
condutivo para o bem e benefício de todos, somente então aceite e viva para
isso.”
Buda nasceu na Índia, onde a religião mais difundida é baseada nos Vedas
(Literatura sacra indiana). Essa é uma religião cheia de crenças, rituais e
mitos; e Buda após analisar com muita propriedade os detalhes dessa religião,
chegou a conclusão que nem tudo que era ensinado era a fiel realidade. Ele
percebeu que uma verdade(ou conhecimento), não pode estar fundamentada
em uma história criada por um “sábio” à muito tempo(o que não quer dizer
que seja real), ou em um texto “sagrado” escrito a muito tempo(o que não
quer dizer que seja real), ou em uma crença popular (o que não quer dizer
que seja real).
Para exemplificar com mais clareza, o conflito que atualmente existe entre
ciência e religião, representa a crise que atingiu toda uma sociedade na idade
média, exatamente sobre o que era conhecimento e o que era crença.
Até o surgimento da chamada revolução científica muito ditos “conhecimentos
verdadeiros e inquestionáveis” caíram por terra. Podemos citar como exemplo
de “conhecimento verdadeiro” a teoria Geocêntrica, que afirmava ser achatada
(plana) a Terra e que o nosso imóvel planeta era o centro do universo, com
tudo mais girando ao nosso redor. Graças a genialidade de Nicolau Copérnico e
Galileu Galilei, essa “verdade” tornou-se apenas uma crença prevalecendo o
conhecimento. Porém para toda a sociedade daquela época, essa era a
verdade e quem falasse ao contrário corria sérios riscos. Motivo este que levou
Copérnico temer a divulgação de sua teoria Heliocêntrica e Galileu à prisão
domiciliar.
Nessa época tudo era explicado baseado em crenças. Acreditava-se que as
doenças o clima as colheitas, tudo estava relacionado diretamente a forças
espirituais, e dependiam do bom humor dos anjos, santos e demônios.
Com o surgimento dos estudos científicos, as crenças aos poucos foram
colocadas de lado e o conhecimento começou a ser utilizado.
A conclusão final sobre “crença e conhecimento” é que antes de absorver algo
como verdade, e antes de incorporar essa verdade à própria “visão de mundo”
é fundamental uma análise profunda da origem e do sentido da informação,
para que não exista o risco da ação equivocada pela ingenuidade. E além
disso, a revisão daquilo que atualmente é considerado “verdade”, para que se
obtenha a consciência do que é crença e do que é conhecimento na atual visão
de mundo adotada.
VII) Compreendendo a principal simbologia de Matrix.
a) Maya e Matrix.
No filme The Matrix muitas são as cenas que fazem relação à filosofias e
religiões das mais diversas. Dentre elas podemos destacar em especial o
cristianismo, a gnose, o espiritismo, filosofia grega, filosofia moderna, o
taoísmo e o budismo, sendo esta última a mais citada durante a trama.
Segundo entrevistas concedidas, os irmãos Wachowski autores do filme,
alegam claramente a intenção em passar ao público conceitos budistas por
intermédio do filme.
Tomando esta filosofia como base, o conceito que é mais enfatizado no filme,
representando a própria Matrix é Maya. Na verdade, existe uma intenção real
dos irmãos Wachowski de relacionar Matrix a Maya, que pode ser constatada
no entendimento do significado oculto do nome Matrix.
"Ma" indica Maya, que significa ilusão em sânscrito, e "trix" indica três (as três
ilusões que ocultam a realidade: a ilusão física, a ilusão psíquica e a ilusão
espiritual)
Conceito original da filosofia Védica e adotada pelo Budismo como Mara,
Maya é um mundo de ilusões baseado nos prazeres materiais. Rata-se de uma
força magnética inferior que tem como objetivo principal aprisionar e impedir
aos que estão no mundo material partirem em busca da auto-realização. Para
isso usa os mais diversos desejos e prazeres ilusórios, dispondo do poder, da
riqueza, do sexo descontrolado e outras variações.
Maya impõe a cultura do TER, levando as pessoas a acreditarem que o
sentido da vida é concentrar os seus esforços no acúmulo de bens e na busca
do poder, tudo em nome do prazer e da auto-afirmação. Essa “filosofia” de
vida do prazer pelo prazer é chamado de Hedonismo.
Um episódio ocorrido na história de Buda, deixa muito claro os principais
mecanismos que Maya usa para aprisionar os indivíduos. Quando Buda
finalmente está às portas da iluminação (auto-realização), Maya tenta impedilo com mulheres (sexo descontrolado), dinheiro e poder (que proporcionam os
prazeres desenfreados).
b) O Ego e a relação com Maya.
Maya só consegue aprisionar em suas ilusões as mentes humanas graças ao
Ego. Trata-se de uma faceta da personalidade humana que age na maioria das
vezes a nível inconsciente, e como é sugerido tem como característica principal
o egoísmo. Não importa como, e a custo de que ou quem, pois o egoísmo é a
base do comportamento dessa faceta da personalidade. Ela não preocupa-se
quem as suas atitudes magoam, desde que a sua vontade prevaleça e o seu
desejo seja saciado.
O Ego pode ser detectado desde muito cedo no comportamento do ser
humano. Em especial nos primeiros anos de vida, época em que a criança
ainda não sofreu influências sociais sobre o certo e o errado, pode-se constatar
um comportamento totalmente egocêntrico. Podem ser identificados
sentimentos como ciúmes, apego, ira e outros que mostram muito claramente
a real natureza humana quando dominada pelo Ego.
Esta faceta da psique humana é a responsável por nos manter aprisionados à
Maya usando o apego, o medo e a lei do retorno. Conseguir disciplinar o
próprio Ego é o grande segredo para atingir a auto-realização.
O primeiro passo para cumprir esse objetivo é a conscientização que o Ego é
real. A dualidade da mente é um assunto amplamente encontrado em diversas
literaturas religiosas e filosóficas, retratando uma parte de nós que quer fazer
o errado e a outra que aconselha a não fazer (o diabinho e o anjinho interno).
Não estar consciente da atuação do Ego é o mesmo que servir de marionete
para ele. Pois acabamos acreditando que os comportamentos oriundos dele
fazem parte da nossa personalidade, e não tem jeito, “eu sou assim mesmo e
quem quiser que me aceite”.
EX: Uma pessoa que tem a tendência de falar demais da vida dos outros, pode
se justificar: _ Eu sou assim mesmo, muito comunicativa.
Ou alguém que dá vazão a ira constantemente, se justifica dizendo: _É
tenho o pavio curto mesmo !!
eu
Não existe: “Eu sou assim”.
Existe sim: “Eu estou assim.”
Visando entender melhor como funciona a atuação do Ego na psique, vamos
fazer uma adaptação na teoria da Psicanálise para um foco mais
transcendental.
Nossa mente é dividida em Id, Ego e Superconsciência. Três elementos que
interagem constantemente no padrão de comportamento de um determinado
indivíduo.
ID: Impulso inato, instinto originado das necessidades básicas do bemestar físico(que influenciará no seu equilíbrio psicológico). Ex: Fome, sono,
sede, afeto, sexo e etc.
Se um indivíduo sente fome, o Id o levará instintivamente a procurar
comida.
Ego: Como já citado é uma faceta da nossa personalidade que tem como
matriz do seu comportamento o egoísmo, além de todas as atitudes
consideradas antiéticas e inconseqüentes. Ele sempre está tentando abafar
e ludibriar as manifestações da Superconsciência que são contrárias à
essas atitudes. Utiliza justificativas cheias de futilidade, mas que na maioria
das vezes acabam prevalecendo. Além das atitudes motivadas pelo ID,
existem atitudes originadas diretamente do Ego.
Exemplo de sentimentos ações oriundas do Ego:
Medo infundado;
Preguiça;
Inconseqüência;
Ganância;
Gula;
Ciúmes;
Avareza;
Infidelidade;
Desonestidade;
Violência;
Prepotência;
Injustiça;
Dominação;
Vaidade;
Impulsividade;
Indiferença;
Impaciência;
Apego;
Maledicência;
Materialismo;
Vingança;
Compulsão.
Superconsciência: A sua formação é influenciada pelos padrões
éticos/morais da sociedade que o indivíduo desenvolveu-se, além da
bagagem multiexistêncial trazida das experiências vividas em existências
anteriores. A superconsciência é uma parte da mente humana, que em
estágios mais profundos de consciência, tem acesso a
níveis de
compressões que transcendem os cinco sentidos habituais. As atitudes mais
éticas, prudentes, benevolentes e pacientes, são formadas originalmente na
Superconsciência
Disputa entre o Ego e a Superconsciência:
A disputa entre a Superconsciência e Ego pelo controle da mente é muito
intensa, considerando que hora um se manifesta, hora o outro. A intensidade e
o tempo que cada um deles irá atuar, dependerá muito do nível de consciência
do indivíduo adquirido em suas existências anteriores. Existem basicamente
quatro tipos de níveis mentais, inconscientes, semiconscientes, conscientes e
auto-realizados.
Os inconscientes e os semiconscientes são simbolizados no filme pelas pessoas
ainda conectadas a Matrix, que vivem inconscientes das Leis universais, do
principal sentido da vida e da verdade sobre os seus sentimentos e atitudes.
Não tem consciência da necessidade de disciplinar o Ego para a manifestação
constante da Superconsciência visando alcançar a auto-realização. Os seus
objetivos de vida são puramente materiais, direcionando os seus esforços para
alcançar um determinado padrão financeiro, reconhecimento pessoal e
influência social (dinheiro, fama e poder).
Inconscientes:
Extremamente
materialistas,
o
contato
com
a
Superconsciência é muito pequeno e não sabem da existência do Ego,
prevalecendo de forma inconseqüente a sua livre manifestação nos
sentimentos e atitudes.
A Superconsciência não consegue nem se manifestar no momento que surge o
sentimento ou a ação oriunda do Ego. Podendo, ou não, se manifestar depois
que o indivíduo estiver mais tranqüilo como crise de consciência, levando-o a
lamentar-se pela atitude impensada (principalmente depois de sofrer as
conseqüências).
- Semiconscientes: Depois de muitos erros e conseqüências finalmente
perceberam a necessidade de evitar sentimentos e atitudes originadas do Ego.
Porém ainda estão aprisionadas pelo materialismo, além da total indisciplina do
Ego, que resulta em constantes batalhas com a Superconsciência pelo
controle das atitudes, que normalmente são vencidas pelo Ego. Apesar de
saberem que não devem, na maioria dos casos não conseguem ainda resistir
ao apelo do Ego. Como nessa categoria mental existe a objeção da
Superconsciência, o Ego usa vários tipos de mecanismos para camuflar,
esconder ou reprimir as atitudes ou sentimentos indesejados.
Conscientes: São representadas no filme pelos que já foram desconectados da
Matrix. Conscientes das ilusões materiais da vida, da existência do Ego e da
importância em disciplina-lo.
Compreenderam que os seus objetivos de vida devem ser direcionados mais
para o SER do que para o TER, ou seja, objetivos mais existenciais internos do
que materiais externos.
Em boa parte dos casos, a Superconsciência consegue prevalecer aos
sentimentos, atitudes e mecanismos do Ego. Isso dependerá do nível de
disciplina já adquirido em relação ao determinado sentimento e atitude. Se a
disciplina em relação a raiva por exemplo for boa, o indivíduo evitará a atitude
equivocada, porém se não for, a argumentação do Ego conseguirá justificar a
ação aproveitando o momento de nervosismo e desequilíbrio. Gostaria de
ressaltar que este exemplo está referindo-se a disciplina de uma pessoa em
relação a raiva. Porém a mesma pessoa que tem uma boa disciplina em
relação a raiva, pode não ter em relação a outras atitudes do Ego (como a gula
ou a luxúria) e consequentemente não conseguirá evita-las.
Auto-realizados: É representado no filme pelo personagem Neo, que na trama
é apenas um, porém ao longo da história real da humanidade já foram vários
(apesar da minoria esmagadora em relação às demais categorias mentais).
Atingiram a total disciplina do Ego, que não consegue manifestar mais os seus
impulsos, predominando totalmente a Superconsciência. Conseguem ter
acesso à níveis mentais que são impossíveis aos demais que ainda não
chegaram a este estágio.
Desta forma, a partir da consciência da importância de atingir a autorealização, chegamos a conclusão que antes de mais nada, temos que nos
tornar conscientes das ações originadas e camufladas pelo Ego, para depois
com muito esforço disciplina-las.
Para obter sucesso nesse objetivo os 3 passos abaixo são fundamentais:
1° passo: Auto-enfrentamento;
2° passo: Auto-observação;
3° passo: Mudança do que é indesejável.
A importância desses 3 passos pode ser encontrado simbolicamente no filme
na cena em que Neo após ingerir a pílula vermelha, tem uma experiência
alucinógena com o espelho que estava a sua frente. O espelho nesta parte do
filme, tem uma simbologia proposital que realiza um paralelo com o ato de
refletir, afinal este é o primeiro ato que leva ao sucesso nos referidos passos.
Vejamos a História abaixo ocorrida entre Sidarta (Buda) e seu filho Rahula
(que também era seu discípulo), que certamente resultou na cena citada do
filme.
_ O que você acha disso Rahula ? Qual é o propósito do espelho ?
_ Seu propósito é refletir, reverendo senhor.
_Mesmo assim, Rahula, algo deve ser feito com o corpo depois de muito
refletir, algo deve ser feito com a fala... com a mente depois de muito refletir.
Buda confirma com a sua teoria do espelho os três passos já citados em outras
palavras. Ele fala do refletir que é muito importante mas também afirma que
não é o suficiente, pois algo deve ser feito com o corpo depois de muito
refletir, algo deve ser feito com a fala... com a mente depois de muito refletir.
Em outras palavras: É muito importante refletir e se conscientizar dos
pensamentos e atitudes equivocadas e mais ainda agir disciplinadamente para
mudá-las, o que não é nada fácil. Pois de nada adiantará conscientizar-se de
pensamentos, sentimentos e atitudes equivocadas se não existe o esforço para
a efetiva mudança.
Para que seja possível cumprir os três passos é fundamental a dedicação de
um tempo específico para um trabalho mental, que deve ser realizado à sós.
Para aqueles que tem dificuldades em ficar sozinhos é fundamental que isso
seja superado, pois a prática dos 3 passos só é possível com a dedicação de
um tempo diário.
Inicialmente deve ser feita uma análise dos pensamentos, sentimentos e
atitudes que fazem parte da nossa personalidade, para que seja realizado o
auto-enfrentamento. Para o segundo passo, devem ser revistos os
pensamentos, sentimentos e atitudes que ocorreram ao longo do dia que
passou, para que aconteça a auto-observação. E finalmente é importante
querer mudar os pensamentos sentimentos e atitudes que não estão de acordo
com as Leis Universais.
Para que possamos obter sucesso no auto-enfrentamento e na autoobservação é fundamental conhecer as artimanhas que o Ego usa para
enganar a Superconsciência e a nós mesmos.
Os mecanismos de defesa do Ego têm a função de enganar a psique evitando
tomar consciência do sentimento ou atitude oriunda do Ego. Além de defender
a psique de
fatos e acontecimentos que ainda são insuportáveis e
desequilibradores para o seu nível de consciência.
Os estudos da área referem mais de trinta mecanismos de defesa, na sua
grande maioria inconscientes. A seguir listarei os que considero principais:
- Compensação – É um mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo,
inconscientemente, procura compensar uma deficiência real ou imaginária.
Exemplo: Um homem com um defeito físico pelo qual sente-se inferiorizado
perante aos demais, desprende grande esforço para desenvolver sua
capacidade intelectual. Não tem consciência que o nível de intelectualidade
alcançado teve como motivação seus sentimentos de inferioridade e com isso
se abstém da possibilidade de libertar-se desses sentimentos.
- Deslocamento – Através deste mecanismo, um impulso ou sentimento
é inconscientemente deslocado de um objeto original para um objeto
substituto. O deslocamento é um dos mecanismos fundamentais da neurose
conhecida como fobia. Um exemplo clássico é o pequeno Hans, tratado por
Freud. Filho de pais separados, o menino não podendo aceitar
conscientemente a intolerável idéia de odiar seu querido pai devido a maus
tratos impostos a sua mãe e a ele próprio em sua infância, devido repreensão
da Superconsciência que aprendeu ser correto amar o seu pai. Para resolver o
conflito entre amor e ódio, acabou deslocando os sentimentos negativos para
os cavalos da propriedade do seu pai. Os impulsos agressivos originalmente
dirigidas ao pai, passaram para aqueles animais. Por isso Hans os temia, a
ponto de não mais querer ir a casa de seu pai para não vir a encontrá-los.
Através do deslocamento o indivíduo é protegido do sofrimento que
resultaria da consciência da real origem de um problema. Seus efeitos podem
vir a tona, mas o motivo original é disfarçado.
- Fantasia – É um conjunto de idéias ou imagens mentais que procuram
resolver os conflitos intrapsíquicos, através da satisfação imaginária dos
impulsos. As fantasias conscientes, muito comuns na adolescência são também
chamadas de sonhos diurnos. Em qualquer pessoa, as fantasias podem atuar
como um saudável mecanismo de adaptação à realidade externa sempre que a
obtenção de determinados desejos são impossíveis de satisfação imediata.
Como exemplo podemos citar um adolescente que se apaixona por uma
mulher que para ele é inacessível e para tornar suportável este fato, cria a
fantasia que esta mulher também é apaixonada por ele.
- Formação Reativa – Mecanismo inconsciente pelo qual atitudes,
desejos e sentimentos, desenvolvidos pelo Ego são o oposto do que é
realmente almejado pelos impulsos. Assim, uma atitude de extrema solicitude
para com os outros pode estar escondendo sentimentos inconscientes de
hostilidade ou, então, uma pessoa ativa e batalhadora poderá
inconscientemente ter desejos de passividade e submissão. Na formação
reativa, o impulso inconsciente, em geral, consegue uma indireta satisfação. O
exemplo clássico é o da mãe superprotetora que acumula seu filho de cuidados
e benevolências, mas que o rejeita inconscientemente. Sua superproteção
poderá satisfazer os impulsos hostis inconscientes, porque, pelos excessivos
cuidados, limitará a liberdade e o desenvolvimento da criança.
- Negação – Consiste no bloqueio de certas percepções do mundo
externo, ou seja, o indivíduo frente a determinadas situações intoleráveis da
realidade externa, inconscientemente nega sua existência para proteger-se do
sofrimento. Exemplo, uma mãe que dedicou praticamente toda sua vida a uma
filha única, ao perde-la em um acidente fatal, continuou a fazer sua cama
todas as manhãs e a colocar o seu prato na mesa, como se ela ainda vivesse
na família.
- Projeção – É o processo mental pelo qual atributos da própria pessoa,
não aceitos conscientemente, são imputados a outrem, sem levar em conta os
dados da realidade. Exemplo: Uma pessoa que tem um comportamento sexual
exagerado e desequilibrado, consegue “enxergar” esse comportamento em
outras pessoas de sua convivência, em geral fazendo comentários maliciosos e
críticas a respeito.
- Racionalização – È uma tentativa de explicação consciente visando
justificar manifestações de impulsos ou afetos inconscientes e não aceitos pela
Superconsciência. Por exemplo, uma atitude agressiva em relação a um
semelhante, pode ser justificada pelo agressor como defesa a uma provocação.
O que o indivíduo não percebe são seus sentimentos de hostilidade para as
pessoas, independente de provocações. Quando esses sentimentos são
expressos, procura explicá-los usando de argumentos aparentemente
lógicos(dentro de seu próprio universo mental, porém que não estão de acordo
com as leis universais). Ex: Partindo de uma necessidade básica que é oriunda
do Id, a fome, a psique é motivada a buscar comida. Nesta situação a única
opção é uma sacola de frutas que não lhe pertence. O Ego libera o impulso de
pegar a sacola de frutas que está em sua frente. Porém a Superconsciência se
manifesta e lembra a psique que segundo o que aprendeu, pegar algo de
alguém é errado e que inevitavelmente trará uma conseqüência. Logo em
seguida é a vez do Ego, ele utiliza um de seus mecanismos de defesa e
justifica, “Mas estou com muita fome, passando necessidade e essas pessoas
nem estão preocupadas comigo, tenho mais é que pegar mesmo”.
- Repressão ou Recalque – É o processo automático que mantém fora da
consciência, impulsos, idéias ou sentimentos inaceitáveis, os quais não podem
tornar-se conscientes através da evocação voluntária. A repressão é o mais
importante dos mecanismos de defesa do ego e é utilizado desde os primeiros
anos de vida para protege-lo da angústia originada dos conflitos psíquicos.
Exemplo: Duas senhoras da sociedade eram bastante amigas e costumavam
até trabalhar juntas em campanhas filantrópicas. Posteriormente as
circunstâncias fizeram com que tomassem rumos diferentes: uma delas por
problemas financeiros precisou mudar-se de cidade. Anos mais tarde,
reencontraram-se numa festa e foram apresentadas, uma a outra, por um
amigo comum que não sabia de seu prévio relacionamento. Enquanto a
primeira senhora mostrou-se bastante alegre pelo encontro, a segunda não a
reconheceu por mais esforço que fizesse. Percebendo que algo estava errado,
procurou não dar mostras de seu comportamento e respondeu a outra no
mesmo tom. Entretanto o fato preocupou-a muito. Uma posterior análise,
trouxe-lhe à consciência que sentira no passado muita raiva da companheira
por sua melhor sorte. Assim, para evitar reviver aqueles desagradáveis
sentimentos, “ esqueceu-se” inclusive do seu objeto causador.
As vezes, a repressão é confundida com outro mecanismo de defesa
denominado supressão. Os dois levam ao “ esquecimento”, mas a diferença é
que, na supressão, há um esforço consciente para desviar a atenção de
indesejáveis idéias, objetos ou sentimentos. Assim, ocupando-se com outras
atividades, uma pessoa pode “ esquecer-se”, durante o dia, da consulta que
fará ao dentista no fim da tarde.
- Sublimação ou substituição – É o processo pelo qual um impulso é
modificado de forma a ser expresso de conformidade com as demandas do
meio. Este processo inconsciente é considerado sempre como uma função do
Ego normal. Neste sentido, não é propriamente um mecanismo de defesa pois
não impõe nenhum trabalho defensivo ao Ego. Quer dizer, não é necessário
um controle sobre o impulso, pois este apresenta-se modificado de tal forma
que pode ser satisfeito sem proibições. O impulso é desviado para canais
socialmente aceitos ou para ações que não precisam ser conhecidas por outras
pessoas. Exemplo: Uma pessoa que tem dificuldade de se relacionar com
outras do sexo oposto (inclusive amorosamente), porém consegue realizar isso
virtualmente pela internet. Ou um indivíduo que gostaria de ter uma Ferrari,
mas só tem dinheiro para comprar um fusca e acaba colocando o símbolo da
Ferrari no seu carro.
c) Equilibrando as atitudes.
Segundo a filosofia budista, não existe nada de errado com o prazer material.
O erro está no desequilíbrio (incentivado pelo Ego).
Disciplinar o desejo não significa extinguir todos, mas sim não estar amarrado
ou controlado por eles, nem condicionar ou acreditar que a felicidade está
atrelada a satisfação de determinados desejos. OS DESEJOS ATÉ CERTO
PONTO SÃO NORMAIS E NECESSÁRIOS, pois eles têm a função primária de
preservar a vida orgânica.
O indivíduo deve saber interagir com o mundo que vivemos buscando o
equilíbrio dos pensamentos e atitudes, entre o racional e o emocional. É o que
o budismo chama de “o caminho do meio”. Como o próprio Buda Sidarta
ilustrou: “A corda do violão frouxa, não toca. Porém se for apertada demais,
acaba arrebentando. Ela precisa estar na pressão adequada para que toque
afinada.”
Não é mortificando o corpo e a mente, retesando ao extremo os limites do
organismo que o homem chega à compreensão da vida. Nem é entregando-se
aos prazeres excessivamente que chegará a tal.
O desequilíbrio ou exagero inevitavelmente trará as devidas conseqüências,
não como uma forma de castigo, mas como um mecanismo de evolução e
crescimento interior.
Segundo a filosofia Budista, todo indivíduo que vive em Maya está em
constante processo de evolução e crescimento, mesmo quando ainda não está
consciente disto. Vivem constantemente no ciclo que a lei de causa e efeito
(Karma) impõe, e vão aprendendo aos poucos com as conseqüências dos erros
cometidos.
O Karma (lei do retorno) é uma das imutáveis Leis universais (NAMU-MYOUHOU-REN-GUE-KYOU) descobertas por Buda, que precisam ser conhecidas e
compreendidas para se atingir a auto-realização. Como seres humanos
estamos sempre à procura da felicidade tentando nos desviar dos sofrimentos
e das tristezas, mas são exatamente estes que no proporcionam os
aprendizados.
Em se tratando de doença, verificamos que graças à existência da dor ficamos
sabendo que estamos doentes, quando então chamamos um médico para nos
examinar e localizar a causa. Se não sentíssemos a dor, a doença progrediria
até nos fazer sucumbir.
Portanto:
1º A existência de dor nos possibilita chamar um médico, de imediato.
2º Inicia-se o tratamento e ficamos ansiosos pela cura.
3º Suportamos todo tipo de tratamento, por mais penoso que seja.
4º Uma vez curados, tomamos precauções para não haver recaída ou para não
contrairmos novamente a doença.
Sendo assim o homem percebe as dificuldades da vida para que conheça a
verdadeira felicidade. Fortalece seu caráter através do sofrimento, como uma
condição inevitável à aquisição e acúmulo de virtudes. Nem toda dificuldade na
vida é um Karma, pois para aqueles que estão mais avançados e conscientes,
Maya pressiona de várias formas para desequilibra-los constantemente. Saber
sair dessas situações com sabedoria é um aprendizado e uma vitória (como
aconteceu com Neo).
E como saber quando estamos contraindo um Karma ? Como sabemos que
uma determinada atitude não está alinhada com as Leis universais ?
A regra é básica, se temos atitudes positivas, teremos retornos positivos.
Porém se temos atitudes negativas, o retorno não será diferente.
Mas como definir com mais precisão se uma atitude é positiva ou negativa ?
Esse conceito de certo ou errado não pode ser cultural ?
Essa definição pode ser resumida com 3 palavras, “respeito aos limites”. Aos
limites do seu próximo e aos limites do seu corpo.
Para definir os limites em relação ao próximo, a prática é muito simples. Basta
deixar de lado a inconseqüência e analisar se a atitude que será tomada
atingirá negativamente à alguém. Mesmo que seja indiretamente. A resposta
definirá o tipo de retorno você terá.
Volte um pouco neste texto nas já citadas “ações oriundas do Ego” e analise
como a maioria atinge diretamente ou indiretamente ao seu próximo.
Sobre os limites do seu corpo é importante ter a consciência que trata-se de
um instrumento que recebemos para otimizarmos a nossa evolução nessa
grande Matrix. E se tomamos atitudes que prejudicam física ou mentalmente
esse instrumento, certamente teremos um retorno relacionado à ele. Em
outras palavras, atitudes desequilibradas que agridem ou exigem demais do
corpo, trarão as devidas reações. Podemos incluir nesse caso os mais variados
vícios que existem, como as drogas (incluindo as legalizadas), o sexo, o apetite
descontrolado, compulsão por exercícios físicos e outros tipos de compulsões
que afastam o indivíduo do convívio social.
Um dia, todos chegarão ao estágio que terão condições de otimizar a sua
jornada
evolutiva
de
forma
consciente
em
busca
da
autorealização(desconectar-se da Matrix), graças a essa lei do retorno que ensina
com os erros e acertos a medida certa para manter as cordas do violão
afinadas.
Manter essa afinação, ou seja, esse equilíbrio, não é tarefa tão fácil. Pois
para isso é necessário praticar o auto-conhecimento e a auto-observação com
disciplina, considerando que as brigas entre a nossa Superconsciência com o
Ego são uma rotina na vida de quem já está consciente.
Na verdade, esse duelo interior que acontece na psique humana é tão
complexa que nem a inteligência artificial que projetou Matrix foi capaz de
compreendê-la. A cena em que os agentes estão interrogando Morpheus,
podemos constatar essa representação no discurso de Smith sobre a
“grandiosidade” que é a Matrix.
Já olhou pra tudo isso de cima?
Maravilhado com sua beleza...
sua genialidade?
Bilhões de pessoas...
vivendo suas vidas...
distraídas.
Você sabia que a primeira Matrix...
foi criada para ser o mundo humano perfeito, onde ninguém sofreria...
onde todos seriam felizes?
Foi um desastre.
Ninguém aceitou o programa. Perdemos safras inteiras.
Alguns acham que...
não tínhamos a linguagem de programação para descrever o seu mundo
perfeito.
Mas eu acho que...
como espécie...
os seres humanos definem a realidade através da desgraça...
e do sofrimento.
Então o mundo perfeito era um sonho...
do qual o cérebro primitivo de vocês tentava acordar.
E por isso a Matrix foi recriada assim.
O ápice...
da sua civilização.
O mundo perfeito que o Arquiteto tentou implantar para que todos pudessem
viver felizes em Matrix, mostra a complexidade da psique humana e representa
a necessidade inata de evoluir. Ela nunca está parada e a maioria das coisas
que consegue realmente aprender, são baseadas em erros e acertos. Ou seja,
o ser humano só aprende errando, caindo e se levantando. Priva-lo da
possibilidade da escolha, mesmo que seja a escolha errada, foi o que causou o
colapso na primeira versão de Matrix.
Desta forma foi necessário reformula-la de para que o ser humano pudesse
viver nesse seu mundo “imperfeito”. Para que viva as suas ilusões incentivadas
de forma inconsciente pelo ego, ou como disse o agente Smith “Bilhões de
pessoas...vivendo suas vidas...distraídas.”
Com isso, suprem diariamente a Matrix ou Maya com a energia que ela
precisa para manter-se viva, até o dia em que a inevitável desconecção
acontecerá, quando o inconsciente passa a ser consciente, iniciando a jornada
que levará ao cumprimento do real sentido da vida...
d) A dificuldade do auto-enfrentamento e conscientização da realidade.
Sem dúvida o processo de auto-enfrentamento, conscientização da realidade e
compreensão das ilusões que somos submetidos é muito difícil e pode causar
um impacto tão profundo ao ponto de levar à uma crise.
Esse fato é simbolizado no filme quando depois que Neo entra pela primeira
vez no simulador da Matrix com Morpheus e se conscientiza da realidade. Ele
recusa-se a acreditar na verdade e tem um colapso emocional chegando a
vomitar. Na verdade esse é o primeiro dos 3 medos que Neo teve que
enfrentar para se auto-realizar, o medo de se desapegar dos prazeres que a
ilusão proporciona.
Além desse medo normal, Maya também usa a sua força para desorientar a
pessoa que está no processo de auto-conscientização, criando situações e
sentimentos que muitas vezes levam o indivíduo à uma tremenda crise de
pensamentos e atitudes.
O auto-enfrentamento, faz o indivíduo enxergar com muita clareza a atuação
do Ego na sua vida, e em contrapartida, Maya faz de tudo para nos manter
inconscientes sobre essa verdade. E mesmo depois que conhecemos, Maya faz
de tudo para nos desviar da difícil prática do auto-conhecimento e evolução,
usando as mesmas armas, as ilusões da matéria que despertam e atraem a
atuação do Ego.
e) O escolhido - Conclusão dos capítulos VI e VII.
Neo finalmente compreende que a vida que levava não passava de uma grande
ilusão. E que todos os seus objetivos e metas de vida não eram reais, mas na
verdade apenas padrões impostos pela sua mente. Tudo que achava saber
sobre o mundo que vivia estava longe de ser a verdade.
Esse conhecimento inicialmente traz um grande desequilíbrio para sua mente,
pois percebe de uma maneira abrupta que toda a sua vida e objetivos
perderam totalmente o sentido. O que leva Neo perguntar para Morpheus se
existia uma forma de voltar para a Matrix, demonstrando um total desespero
em relação a realidade. O motivo desse sentimento de fuga da verdade é o
fato da sua vida ter perdido totalmente o sentido, por não ter mais objetivo ou
propósito. Afinal toda o esforço para prosperar era em vão, pois estavam
visando objetivos de um mundo ilusório. Desta forma, quando Neo percebeu
essa condição, preferiu voltar a viver na ilusão, onde tinha um propósito, do
que viver no mundo real que acabara de conhecer, onde aparentemente não
tinha nenhuma perspectiva.
Neo: _Não posso voltar, posso?
Morpheus: _Não. Mas, se você pudesse... você realmente iria querer?
Eu te devo desculpas. Temos uma regra: nunca libertamos uma mente após
ela atingir certa idade.
É perigoso. A mente tem problemas em esquecer. Eu já vi acontecer e sinto
muito. Eu fiz o que fiz porque... fui obrigado. Quando a Matrix foi construída,
havia um homem nascido nela... que tinha a habilidade de mudar o que ele
quisesse... para refazer a Matrix a seu modo.
Foi ele quem libertou o primeiro de nós... e nos mostrou a verdade. Enquanto
a Matrix existir...
a raça humana nunca será livre. Quando ele morreu... o Oráculo profetizou a
sua volta...
e que sua chegada coroaria a destruição da Matrix... o fim da guerra... e a
liberdade para nosso povo.
E por isso nós passamos a vida fazendo buscas pela Matrix... procurando por
ele.
Eu fiz o que fiz porque... acredito que a busca terminou. Descanse um pouco.
Você vai precisar.
Neo: _Para quê?
Morpheus: O seu treinamento.
Tudo muda a partir daí, pois agora Neo não só tinha novamente um propósito
para a sua vida, mas tinha um grande propósito. O que Morpheus estava lhe
dizendo é que ele supostamente tinha a importante missão de libertar a
humanidade do domínio das máquinas. E mesmo que Neo não quisesse aceitar
isso inicialmente devido a grande responsabilidade, não deixava de ser um
propósito muito mais significativo do que os que tinha quando vivia em Matrix.
Assim acontece com o indivíduo que desperta para o mundo real e para as
verdades da vida, pois descobre que as pessoas vivem uma ilusão imposta por
Maya (por causa do Ego). Acreditando que a visão de mundo que criaram
baseada na influência do materialismo e do egoísmo é real, mantendo-se
totalmente inconscientes do real sentido e objetivo da vida.
O indivíduo que desperta não só compreende este fato, como também
descobre que existe um objetivo muito maior para sua vida, descobre que tem
uma missão pela frente na busca pela sua auto-realização.
Conclusão prática: A mente humana pelo medo do desequilíbrio e de perder o
controle de sua vida, tem a tendência a não abrir-se à mudanças e
consequentemente à novos conhecimentos e evoluções.
Esse estado mental, possibilita que o Ego atue livremente, levando à atitudes
que estão desalinhadas às Leis Universais, mantendo o indivíduo preso ao ciclo
de causas e efeitos (Karma).
Para que seja possível libertar a mente para uma nível de consciência mais
elevado, é fundamental a revisão da atual “visão de mundo”, distinguindo o
que é real e o que não é (o que é crença e o que é realmente conhecimento).
Além de uma minuciosa auto-observação seguida de auto-enfrentamento,
tornando conscientes
as atitudes camufladas pelo Ego que não estão
alinhadas as Leis Universais, para finalmente ir em busca das mudanças e
evoluções.
VIII) O treinamento.
Depois de consciente da verdadeira realidade, Neo passa por um
treinamento específico para que possa cumprir a missão que o aguarda dentro
da Matrix. Isso envolve conhecer melhor e manipular o quanto possível a sua
estrutura e enfrentar os agentes que caçam incessantemente os que já estão
despertos. Ou seja para cumprir a sua missão, o escolhido terá que atuar na
própria Matrix. Da mesma forma acontece com quem passa a conhecer e
entender Maya. Não adianta isolar-se de Maya para evitar os impulsos do Ego
(os agentes), pois mais cedo ou mais tarde a necessidade de continuar a
jornada (a mesma que o levou a conhecer a verdade) o levará de volta à Maya
e inevitavelmente ao confronto com os agentes(o Ego e a pressão ilusória),
que precisam ser superados para que ela seja vencida.
“Ser do mundo e viver no mundo é fácil. Ser diferente e viver isolado não é tão
difícil. Porém ser diferente e viver no mundo... este é o grande desafio.”
a) As artes marciais e a disciplina:
Acredito que nada melhor do que as artes marciais para representar com
tanta propriedade, a disciplina que uma mente desperta necessita alcançar
para enfrentar as ilusões de Maya. Isso porque vencer Maya é uma verdadeira
batalha, que assim como no treinamento das artes marciais, exige uma grande
disciplina. Na verdade a disciplina é a chave principal para enfrentar e vencer
as dificuldades que são impostas ao indivíduo que parte em busca da autorealização.
As antigas tradições que detém o conhecimento das artes marciais são
consideradas (principalmente para os orientais) caminhos de disciplina em
busca do crescimento espiritual e da auto-realização. Uma das tradições com
essa filosofia é o Bushido, o caminho do guerreiro. Todas as artes-marciais
orientais estão ligadas diretamente a antigas religiões, como é o caso do
Budismo e do Taoísmo.
Dizem essas antigas artes marciais que o verdadeiro guerreiro, consegue
acalmar a sua mente focando toda a sua atenção ao momento do combate,
evitando as distrações. E desta forma consegue vencer os piores adversários e
mais terríveis batalhas.
Da mesma forma os processos de auto-conhecimento e auto-realização
necessitam de uma grande concentração e disciplina. Pois quando se está
inserido na Matrix ou Maya, os ataques dos agentes são constantes e
incontáveis. E saber lutar contra eles é uma questão de sobrevivência.
b) Quebrando as leis físicas e descobrindo a metafísica. Parte 1.
A outra parte do treinamento necessária para atuar na Matrix, é libertar a
mente para uma nova realidade sobre ela. As suas regras e leis físicas podem
ser quebradas ou modificadas em algumas situações, que possibilita atuar com
mais eficiência no cumprimento das missões e provas necessárias.
Este treinamento é iniciado no simulador de luta, quando Neo e Morpheus se
enfrentam. O objetivo de Morpheus é mostrar para Neo como o seu padrão de
pensamento pode influenciar na realidade de Matrix se ele realmente acreditar
nisso.
Morpheus: _Este é um programa de sparring...igual à realidade programada da
Matrix.
Tem as mesmas regras básicas, como a gravidade. Só que essas regras não
diferem das regras de um sistema de computador. Algumas podem ser
distorcidas. Outras... podem ser quebradas.
Entendeu? Então me acerte... se conseguir.
Morpheus e Neo começam a lutar.
Morpheus: Bom! Adaptação... improvisação. Mas sua fraqueza... não é a sua
técnica.
Morpheus vence Neo
Morpheus: _Como eu te venci?
Neo: _Você é rápido.
Morpheus: _Você acredita que... ser mais forte ou mais rápido... tem algo a
ver com os meus músculos neste lugar? Acha que está respirando ar?
Morpheus estava querendo que Neo entendesse que ele era o que acreditava
ser. Naquele programa de computador que simulava a Matrix a sua velocidade,
força e resistência estavam relacionados aos limites que a sua própria mente
determinava. E basta conseguir mudar esse padrão de pensamento para
transcender esses limites
Morpheus: _De novo!
Neo e Morpheus voltam a lutar.
Morpheus: O que está esperando? Você é mais rápido que isso. Não pense que
é. Saiba que é.
Vamos! Pare de tentar me acertar e me acerte!
Finalmente Neo consegue ser mais rápido surpreendendo Morpheus e
vencendo suas defesas.
Neo: _Sei o que está tentando fazer.
Morpheus: _Quero libertar sua mente, Neo. Mas só posso te mostrar a porta.
Você tem de atravessá-la.
A segunda fase desse aprendizado é quando Morpheus e Neo aparecem no
alto de um edifício e Morpheus dizendo a frase “liberte a sua mente”, salta
para um outro prédio à uma distância que seria impossível em padrões
normais. Neo compreende a necessidade de libertar a mente, porém falha na
primeira tentativa.
Não somente filosofias e religiões antigas citam a possibilidade de
realizações sobre-humanas, como também estudos científicos modernos. Como
exemplo podemos citar a “Teoria Holográfica” do Dr. Karl Pribam, baseada nas
teorias sobre a física quântica do Dr. David Bohm (Que trabalhou e foi muito
elogiado por Albert Einsten). Essa teoria (que lembra muito o filme Matrix)
afirma que o universo é um grande holograma e que pode ser modificado e
influenciado pela mente humana. Em síntese, essa teoria afirma claramente
que a mente humana pode alterar fatos da vida e regras da física
convencional, assim como é sugerido no filme, e ainda explica a maioria dos
fenômenos paranormais existentes.
Além de pessoas aparentemente normais que conseguem focar a sua vontade
para mudar positivamente situações em suas vidas, existem diversos mestres
iogues e pessoas denominadas paranormais ou não, que demonstraram
capacidade extra-humanas, realizando feitos que transcendem os limites do
corpo humano e a compreensão baseada no conhecimentos da nossa cultura.
Como o próprio Cristo afirmou: A fé remove montanhas.
c) Qualquer pessoa ainda conectada à Matrix pode ser um agente.
Outra cena que faz parte do treinamento é quando Morpheus e Neo estão em
uma espécie de praça a céu aberto no meio a uma multidão, e passam por
uma loira com vestido vermelho que chama a atenção de Neo.
Morpheus: _A Matrix é um sistema, Neo.
Esse sistema é nosso inimigo.
Mas, quando estamos dentro dele, o que vemos?
Homens de negócio, professores, advogados, marceneiros.
As mesmas pessoas que queremos salvar.
Mas até conseguirmos, essas pessoas fazem parte desse sistema...
e isso faz delas nossas inimigas.
Você precisa entender...
que a maior parte dessas pessoas não está pronta para acordar.
E muitos estão tão inertes...
tão dependentes do sistema...
que vão lutar para protegê-lo.
Você estava me ouvindo ou olhando para a mulher de vestido vermelho?
Olhe de novo.
Neo olha e vê um agente apontando uma arma para a sua cabeça levando um
grande susto.
Neo: Esta não é a Matrix?
Morpheus: É mais um programa de treinamento feito para ensinar uma coisa:
Se você não é um dos nossos, você é um deles.
Isso significa que qualquer um ainda não libertado...é um agente em potencial.
Os agentes não simbolizam apenas o próprio Ego e suas auto-defesas, como
também de outras pessoas. Pessoas conhecidas e até queridas, visando
defender os seus mundos particulares e matrizes personalíticas, se recusam a
ver traços da verdade e fazem de tudo para desencorajar aquele que está
tentando despertar. Até aqueles que já estão despertos em busca da autorealização podem fraquejar em suas convicções e atitudes. Como exemplo
vejamos como foi perseguido o personagem da Alegoria da caverna de Platão,
ou como o próprio Jesus Cristo foi incompreendido e desencorajado pelos
próprios familiares no início de sua missão.
d) Os impulsos humanos da sexualidade.
Segundo a doutrina budista, é fundamental a compreensão que as ilusões
impostas por Maya ao Ego tem como mola propulsora a sexualidade humana.
A cena em que os integrantes da Nabucodonosor estão fazendo uma refeição e
Mouse conversa com Neo sobre a mulher de vermelho, simboliza a importância
de estar atento a essa realidade. A cena chama a atenção sobre o ato de
contrariar a natureza humana reprimindo de forma inconseqüente a
sexualidade.
Dozer fala para Neo: _É uma proteína unicelular... combinada com
aminoácidos, vitaminas e minerais sintéticos. Tudo que o corpo precisa.
Mouse: _Não tem tudo que o corpo precisa.
Mouse se volta para Neo: _Soube que você passou pelo programa de
treinamento. Sabe, eu criei o programa.
Apoc: _Lá vem.
Mouse: _E o que achou dela?
Neo: _De quem?
Mouse: _A mulher de vestido vermelho. Eu a criei. Ela não fala muito... mas,
se você quiser conhecê-la, posso arranjar um encontro a sós.
Swich: _O cafetão digital em ação.
Mouse: _Não ligue para esses hipócritas, Neo. Negar os nossos impulsos... é
negar aquilo que faz de nós humanos.
Esta é uma alusão à importância de cada um de nós em estar extremamente
consciente de nossos impulsos, não recalcando-os hipocritamente para as
regiões do subconsciente, aonde irão se acumular como tralhas no armário.
Nesse nosso "quarto dos fundos", nossos impulsos continuarão a atuar sem
nenhum controle, disciplina ou educação, sorrateiramente, até invadirem como
uma enchente de um rio bravio a consciência.
Em síntese para que possamos nos desapegar das ilusões de Maya, temos que
aprender a disciplinar os impulsos da nossa sexualidade. E para atingir essa
disciplina é necessário que haja o auto-enfrentamento e a auto-concientização
desses impulsos, pois afinal, só podemos disciplinar aquilo de temos contato.
Reprimir essa realidade é esconde-la temporariamente da nossa consciência,
até o momento que os impulsos desenfreados e reprimidos se libertarão
levando as mais indevidas atitudes e até psicopatologias.
Aprender a disciplinar e lidar com a sexualidade(não reprimi-la) é o estágio
principal para quem está vivendo processo de busca pela auto-realização. Mais
à frente neste livro voltaremos a ver este tema.
IX) O oráculo.
a) A importância do desapego.
Quando Morpheus considera que Neo está pronto, resolve levá-lo para
conhecer o Oráculo. O objetivo no filme é que ela confirme para Neo que ele é
o escolhido, e com isso passe a ter fé neste fato.
O papel do oráculo no filme The Matrix, na minha interpretação, visa abordar
a existência de uma realidade que vai além do mundo material que vivemos.
Simboliza que compreender a ilusão que vivemos em Maya, não é suficiente,
pois temos que aprender a confiar e interagir com a Força Superior que tudo
controla, pois só dessa forma é possível se desapegar das ilusões e vencer
Maya.
Na trama, Neo já havia despertado para a realidade de Matrix, porém ainda
não havia aprendido que não controlava totalmente a sua vida, além de ainda
não ter se desapegado totalmente das ilusões.
Quando Neo vai ver o Oráculo, entrando pela primeira vez na Matrix depois
de desconectado, pode-se perceber o apego que ainda tinha da ilusão que
vivia. Dentro do carro ele olha saudoso e melancólico, tendo lembranças de
sua antiga “vida”.
Trinity: _Inacreditável... não é? (Exclama observando o movimento da rua)
Neo: _Deus!
Trinity: _O quê?
Neo:
_Eu comia ali. Macarrão muito bom. Tenho essas lembranças da minha
vida. Nenhuma delas aconteceu.
A psique humana em geral tem tendência ao desenvolvimento do apego, que é
uma variação da necessidade de manter tudo “sob controle”. Apegos dos mais
variados, como o apego à objetos materiais, apego à pessoas, apego à
relacionamentos, apego à situações do passado, apego à situações presentes,
apego à objetivos e fantasias criadas na própria mente, apego aos mais
variados vícios e outras variações.
Ou seja, existe a tendência ao apego, pois o apego serve como uma muleta no
“equilíbrio” da visão de mundo do indivíduo. O medo que aquela situação
mude, que o controle seja perdido.
Ex: - O carro que não pode ser emprestado, pois se alguém bate com ele,
como viverei sem.
- A esposa que acha que não conseguirá suportar a ausência do marido em
sua vida.
- O marido que perdeu a esposa e baseia a sua vida em lembranças de
quando eram felizes.
- Apego aquele emprego. Como será difícil encontrar outro como esse.
- Apego ao conceito que a sua vida estará completa quando tiver aquela
linda casa na montanha.
- Apego às drogas(todos os tipos, incluído as legalizadas). Sem elas não
conseguirei me equilibrar.
O apego e o medo andam de mãos dadas, pois se temos apego à algo,
conseqüentemente temos medo de perder esse algo.
Morpheus sabe que o caminho para que Neo vença a Matrix é a fé em si
mesmo e no rendimento à essa Força Superior, porém sabe também que só
pode mostrar a porta que leva a fé, pois entrar por ela dependeria tão somente
de Neo, da sua capacidade de se desapegar, de vencer principalmente o medo
da mudança e o medo de não ter controle de sua vida. Isso é simbolizado na
cena em que chegam as portas do apartamento em que está o Oráculo.
Morpheus: Eu disse que só posso te mostrar a porta.
Você tem de atravessá-la.
Essa mesma cena por intermédio de outro simbolismo, mostra que quando
você está realmente disposto a encontrar a fé(de verdade), as portas se abrem
sem dificuldade ou resistência. Na hora que Neo estica a mão para abrir a
porta, uma mulher abre antes dele e o recebe carinhosamente, mostrando que
já estava a sua espera.
b) Quebrando as leis físicas e descobrindo a metafísica. Parte 2.
A anfitriã pede que Neo aguarde um pouco até que o Oráculo lhe atenda. Nesta
espera, Neo daria continuidade ao aprendizado que iniciou nos treinamentos de
luta e salto, reforçando como a realidade de Matrix pode ser destorcida, caso
ele abra a sua mente para isso.
Neo observa um grupo de crianças que a sua anfitriã chamou de “outros
potenciais” e fica perplexo ao ver algumas crianças levitando cubos e outra
entortando uma colher.
Vejamos o diálogo com a criança que entortava e desentorta a colher:
Menino: _Não tente entortar a colher. É impossível. Em vez disso, apenas
tente ver a verdade.
Neo:
_Que verdade?
Menino: _A colher não existe.
Neo:
_A colher não existe?
Menino: _Então você verá que não é a colher que entorta. É você mesmo.
Uma história muito parecida pode ser encontrada na filosofia Budista com a
história dos três monges e a bandeira:
O primeiro monge chama a atenção para a forma como a bandeira se move. O
segundo monge afirma que não é a bandeira que se move e sim o vento que
move a bandeira. O terceiro contradiz o dois, afirmando que não a bandeira
que se move nem o vendo que move a bandeira, mas a mente que se move.
A colher não se move... tudo acontece na mente.
c) Onde menos se espera, ali está a sabedoria. A aparência do Oráculo.
Durante o desenrolar do filme, fica claro o grande respeito que todos os
companheiros de Neo tem pelo oráculo, devido a precisão de suas previsões e
sabedoria em suas palavras.
Percebe-se que os autores do filme intencionalmente criam uma expectativa
sobre o Oráculo, induzindo os espectadores a formarem em suas mentes uma
provável aparência desse “todo poderoso” Oráculo.
Porém quando Neo entra pela porta em uma cozinha e todos vêem uma
senhora negra, um pouco acima do peso, vestindo um avental e cozinhando
biscoitos, imagino que a grande maioria ficou se perguntando onde que estava
o Oráculo. Sem falar no cigarro que ela ascendeu e na bebida aparentemente
alcoólica que tomou durante a conversa com Neo.
Oráculo: _Sei que você é o Neo. Já vou te atender.
Neo:
_Você é o Oráculo?
Oráculo: __Bingo. Não era bem o que esperava, não é?
Na verdade o Oráculo de Matrix simboliza um dos mais paradoxos mistérios
existentes, que resume-se nesta frase: “Do local mais esperado, mais
poderoso, mais conhecido, mais exuberante e mais provável, procurarás
desesperadamente a sabedoria e não encontrarás. Porém de onde menos
esperavas, no mais humilde, no menos conhecido, no mais simples, no menos
provável.... ali ela estará.. a verdadeira sabedoria”
d) O medo da responsabilidade de ser o escolhido.
Neo precisava conhecer-se melhor, libertar-se do medo da mudança, do medo
da responsabilidade, liberta-se do racionalismo exagerado que o impedia de
chegar a fé. Pois somente dessa forma, conseguiria transcender a realidade da
Matrix para lutar contra ela e seus agentes.
Da mesma forma, aquele que busca a auto-realização, precisa se libertar dos
seus medos, fantasias e apegos. Pois somente buscando o equilíbrio entre a
razão e a fé, será possível equilibrar o seu emocional para enfrentar Maya com
suas ilusões e os artifícios do nosso próprio Ego.
Visando demonstrar suas próprias habilidades e fazer despertar em Neo uma
melhor receptividade para fé na Força Superior, o Oráculo começa com a cena
do vaso.
Oráculo: _Eu te mandaria se sentar...mas você não iria querer. E não se
preocupe com o vaso.
Neo:
_Que vaso? (Neo vira-se para olhar, esbarra no vaso sobre um móvel
que cai no chão e quebra-se)
Oráculo: _Esse vaso.
Neo:
_Desculpe.
Oráculo: _Já disse, não se preocupe. Mandarei uma das crianças consertar.
Neo:
_Como você sabia?
Oráculo: _O que vai mesmo fazer seus miolos queimarem é... você teria
quebrado se eu não tivesse dito nada?
Nesta cena, além do Oráculo demonstrar as suas habilidades, também passou
rapidamente um ensinamento sobre o futuro alternativo e o livre arbítrio. Ela
previu que se ela falasse sobre o vaso, Neo iria se virar para olhar e o
derrubaria. Mas se ela não tivesse dito nada ? Existem vários futuros
alternativos, que podem se realizar na vida do indivíduo, ou não. Um sensitivo
que tem o dom de prever o futuro, na verdade está acessando o mais
provável, porém como temos o livre arbítrio, esse futuro mais provável pode
não acontecer.
O oráculo sabia da situação que Neo estava passando naquele momento, sabia
que era extremamente complicada, e dependia só dele conseguir vencer os
seus bloqueios para se descobrir como o escolhido. Na verdade o objetivo do
Oráculo, não era dizer para Neo que ele era o escolhido, pois como ela mesma
afirmou, isso não era algo que alguém poderia lhe dizer, e sim algo que ele
deveria sentir.
Oráculo: _Você sabe por que Morpheus te trouxe aqui. Então... o que você
acha? Acha que é o Escolhido?
Neo:
_Sinceramente, não sei.
Oráculo: _Sabe o que isso diz? (apontando para o dizer que estava no topo da
porta) É latim.
Diz: "Conhece a ti mesmo" . Vou te contar um segredinho. Ser o Escolhido é
como estar apaixonado.
Ninguém pode te dizer se você está. Você simplesmente sabe... e não tem
dúvida. Nenhuma.
Nesse diálogo, ela deixo claro o caminho que o levaria a ser o escolhido, que
“coincidentemente” (ou não) é o mesmo caminho que segundo a filosofia
budista e várias outras filosofias levam o indivíduo à auto-realização... o autoconhecimento.
Na verdade a cena que acontece no filme The Matrix é muito parecida com um
episódio ocorrido na vida do filósofo grego Sócrates. Na história, também tem
um Oráculo, situado na Grécia a 500 anos A.C., o Oráculo de Delfos. E a frase
citada em latim no filme "Conhece a ti mesmo”, estava escrito na entrada do
templo. Quando Sócrates visitou o Oráculo(que era uma senhora), este disse
para ele que o homem mais sábio de todos era... ele mesmo. Todo mundo
achava isso, menos o próprio Sócrates. Mais ou menos como acontece com
Neo no filme. O oráculo sabia que o medo estava impedindo Neo de deixar a
sua fé desabrochar. Medo da mudança, medo de perder o “controle da sua
vida”, medo da responsabilidade... e sem a fé necessária, Neo não conseguiria
entender a missão que deveria cumprir dentro da Matrix.
Com isso ela simulou um exame falso, procurando deixar Neo à vontade para
acreditar no que ele quisesse acreditar. Ou seja, que era uma cara comum,
que não era especial, que não podia ser o tal escolhido tão esperado que
salvaria todos.
Oráculo: _Bem...melhor eu dar uma olhada em você. Abra a boca, diga: "Ah" .
Muito bem...
Agora eu deveria dizer: "Ah, interessante, mas..." Aí você diz:
Neo:
_Mas o quê?
Oráculo: _Mas você já sabe o que eu vou te dizer.
Neo:
_Eu não sou o Escolhido.
Oráculo: _Desculpe, garoto. Você tem o dom...mas parece que você está
esperando por algo.
Neo:
_O quê?
Oráculo: _Sua próxima vida, talvez. Quem sabe? Essas coisas são assim.
Muitos que iniciam o caminho da auto-realização passam por esse problema.
Tem o dom, mas não tem fé em si próprio, e antes disso não confia na Força
Superior como deveria , não conseguindo descobrir as suas missões pessoais.
Todos nós temos missões a cumprir dentro de Maya, e indivíduos que muitas
vezes teriam o potencial alcançar a sua auto-realização, deixam para outra
vida, parecendo esperar que aconteça algo.
Só que esse algo acaba realmente acontecendo, pois quando não
compreendemos de forma suave, essa Força Superior providencia que o
entendimento fique bem evidente. No caso de Neo, isso estava bem próximo e
foi previsto pelo Oráculo.
Oráculo: _Pobre Morpheus. Sem ele, estamos perdidos.
Neo:
_Como assim, "sem ele"?
Oráculo: _Você quer mesmo ouvir? Morpheus acredita em você, Neo. E
ninguém, nem você nem eu... pode convencê-lo do contrário. Ele acredita tão
cegamente... que vai sacrificar a própria vida para salvar a sua.
Neo:
_Como?
Oráculo: _Você vai precisar fazer uma escolha. Numa mão, você terá a vida de
Morpheus.
Na outra mão, você terá a sua vida. Um de vocês vai morrer. Qual de vocês...
você escolherá.
Sinto muito, menino. Sinto mesmo. Sua alma é boa. E odeio dar más notícias a
pessoas boas.
Mas não se preocupe. Assim que você passar por aquela porta... vai começar a
se sentir melhor.
Vai lembrar que não acredita nesse papo-furado de destino. Você controla sua
própria vida.
Lembra?
Nesse diálogo o Oráculo além de profetizar o evento que iria fazer Neo
resgatar a sua fé, também fez questão de enfatizar para ele o que esta lhe
impedindo de ser o escolhido, de entender a sua missão... o medo de não ter
o controle da sua vida... o medo...
X) A traição de Cypher. Nem todos estão preparados.
A participação de Cypher na saga do filme The Matrix, remonta um outro
arquétipo que pode ser encontrado na saga do herói, o traidor. Cypher
representa aquele indivíduo que despertou para a verdade, mas que não
estava pronto para isso. Não estava pronto para cumprir a sua missão, e acaba
servindo de ferramenta na evolução do herói. Pois a sua traição, a sua queda,
fortalece mais ainda quem está realmente firme no caminho do autoconhecimento e auto-realização.
Cypher ainda era muito apegado aos prazeres materiais que eram simulados
pela Matrix, e achava a vida real muito dura e sem sentido. Isso porque na
verdade assim como Neo, tinha dificuldades de desabrochar a sua fé, e
confiança em si próprio. Notem que é o mais apagado do grupo, até o jovem
Mouse tem mais expressão do que ele. Vejamos a comprovação disso na sua
negociação com o agente Smith:
Smith: _Negócio fechado, Sr. Reagan?
Cypher: _Sabe... sei que este bife não existe. Sei que, quando eu o coloco na
boca... a Matrix diz ao meu cérebro que ele é... suculento... e delicioso.
Após nove anos... sabe o que percebi? A ignorância é maravilhosa.
Smith: _Então negócio fechado.
Cypher: _Não quero me lembrar de nada. Nada. Entendeu? E eu quero ser
rico. Você sabe, alguém importante. Tipo um ator.
Smith: _O que desejar, Sr. Reagan.
Cypher: _Tudo bem.Leve o meu corpo de volta à usina... me coloque de novo
na Matrix... e eu te dou o que deseja.
O caminho para a auto-realização é muito difícil, e isso é representado no
filme The Matrix pelas dificuldades e privações que sofrem aqueles que foram
desconectados e vivem no mundo real, fugindo dos sentinelas nos
subterrâneos do planeta, comendo rações e vestindo trapos. Viver o mundo
real requer disciplina e o desapego das ilusões criadas por Maya. E para aquele
que ainda não está pronto, para aquele que ainda não venceu o desapego, os
seus próprios medos e desabrochou a sua fé , o fracasso é um resultado
inevitável. Isso acontece por que para quem não está preparado, a luta entre
a Superconsciência(consciente que tudo é uma ilusão) e o Ego ( que gosta de
viver nessa ilusão), acaba vencendo o Ego. É claro que para quem já tem a
consciência da verdade, a vida nunca mais será a mesma, pois, por mais que
ele não consiga evitar o erro, no fundo ele sabe que é uma ilusão e isso
sempre lhe acompanhará, até o momento que de tanto sofrer as
conseqüências de viver a ilusão, finalmente terá forças para vencê-la. Por isso
Cypher diz: A ignorância é maravilhosa.
“Conhecer o caminho é bem diferente de percorrê-lo”
XI) O resgate
sincronicidades.
à
Morpheus.
Resgatando
a
fé
e
vivendo
as
Como já havia citado, quando não compreendemos de forma suave, a Força
Superior providencia que o entendimento fique bem evidente. E isso aconteceu
de forma contundente na saga de Neo, quando ele percebeu que a previsão do
Oráculo estava realmente se concretizando.
E esse fato o levará a enxergar a atuação da Força Superior na trama que se
desenrolava. Naquele momento ele tinha que decidir entre permitir que
Morpheus fosse morto para não revelar os códigos de acesso de Zion, ou
resgatar Morpheus de um lugar e circunstâncias que em princípio pareciam
impossíveis. Na verdade a decisão de Neo em resgatar Morpheus, simboliza o
resgate de sua fé, pois para cumprir essa missão de resgate, Neo precisaria de
muita confiança em si próprio e na Força Superior que se revelava.
Na trama, felizmente Neo toma a decisão mais acertada, representando o
primeiro passo para resgatar a fé necessária para a sua auto-realização.
Após o cumprimento da missão, Neo percebe que os fatos ocorridos
coincidiram incrivelmente com as previsões feitas pelo Oráculo, fazendo-o
refletir e aceitar algo muito além do seu racionalismo habitual. O que havia
acontecido não poderia ser apenas uma mera coincidência.
Esse exemplo ocorrido com Neo, já é observado por várias filosofias e
tradições antigas, onde coincidências muito significativas orientam ou trazem
respostas ao indivíduo que as vive. Mais recentemente em 1920, este fato
chamou a atenção de um dos mais brilhantes pupilos de Sigmund Freud, que
passou a estudar centenas de casos, chegando inclusive nas terapias com seus
pacientes, induzi-los à seguir as orientações dessas “coincidências”. Carl Jung
denominou esse fenômeno de Lei da Sincronicidade, devido à sincronia que os
eventos apresentam.
Jung buscou o embasamento em uma área que acreditou se encaixar
perfeitamente com a sua teoria, a mecânica quântica, que sem dúvida atendeu
amplamente as suas expectativas. Durante anos contou com a ajuda de um
físico austríaco chamado Wolfgang Pauli, o que resultou em uma autoria
conjunta de um pequeno livro que questionava as leis clássicas da física.
Sobre a Lei da Sincronicidade, chegaram a conclusão que eventos e pessoas
podem ter uma relação sincronística em determinadas ocasiões de suas vidas.
Em especial
quando precisam compreender ou decidir situações
extremamente importantes.
Em outras palavras, a teoria afirma que quando buscamos uma determinada
resposta, ou conhecimento, ou direção, uma Força Superior leva o universo
conspirar de forma a orientar ou realizar o que é necessário. E isso acontece
por sutis ou berrantes “coincidências”, que nos fazem questionar sobre a
casualidade do que aconteceu, além de situações que apontam de forma muito
clara em uma determinada direção.
Existem várias formas de detectarmos uma real sincronicidade.
Exemplos:
- Cláudio era um jovem que sempre gostou muito de informática e procura
preparar-se cada vez mais para conseguir o seu espaço no mercado de
trabalho, de preferência em uma grande empresa. Ele tinha uma grande
necessidade de se estabilizar financeiramente. Ao assistir uma palestra sobre
novas tendências da informática, o palestrante falou sobre uma determinada
linguagem de programação que vem aos poucos ganhando mercado em alguns
países do mundo. Como não era muito difundida no seu próprio país, Cláudio
não deu muita atenção ao assunto. A noite em sua casa, Cláudio ligou a
televisão e coincidentemente estava passando uma reportagem sobre a tal
linguagem de programação falada pelo palestrante.
No dia seguinte, após tomar o seu café da manhã, Cláudio pegou um ônibus
em direção ao seu
trabalho e tamanha foi a sua surpresa quando um outro jovem sentou-se ao
seu lado e colocou no colo uma apostila da mesma linguagem de programação.
Cláudio incomodado com tantas coincidências perguntou ao outro jovem sobre
a apostila, que por sua vez afirmou fazer parte de um curso que estava
iniciando na cidade. Cláudio não sabia por que mas havia ficado muito
interessado em fazer o tal curso, afinal não havia nenhuma perspectiva de
utilizar aquele conhecimento no mercado de trabalho que atualmente atuava.
Ao chegar no seu trabalho, folheou o jornal e quase como um farol o anúncio
da escola que estava oferecendo o tal curso da tal linguagem de programação,
praticamente saltou chamando a atenção de Cláudio.
Não perdendo mais tempo Cláudio ligou para o telefone da escola e na mesma
semana tudo deu certo para que ele iniciasse o curso.
Dois meses após ter concluído o curso, já considerando jogado fora o dinheiro
investido, Cláudio vê na internet um anúncio de uma multinacional contratando
programadores daquela linguagem específica de programação. Em pouco
tempo estava empregado, estabilizado financeiramente e crescendo
profissionalmente na grande empresa que estava agora trabalhando.
- Paula estava vivendo sérios problemas emocionais, pois o seu casamento
estava passando por uma tremenda crise, com constantes desentendimentos
que Paula não conseguia entender muito bem por que aconteciam. Ela queria
muito progredir com o seu relacionamento, mas sentia que faltava
compreender alguns pontos fundamentais para melhorar os atritos que vinham
acontecendo no dia à dia. Naquela noite, Paula sonhou com uma amiga que
não via a pelo menos 6 anos e no sonho as duas estavam conversando bem
descontraídas.
Pela manhã, havia marcado de ir ao supermercado com a sua própria mãe,
que coincidentemente comentou que havia sonhado com a mesma amiga que
Paula. Intrigada com a tremenda coincidência, ela foi para casa pensando no
assunto e quando estava preparando o almoço, o telefone tocou
insistentemente fazendo Paula largar as panelas para atender.
Grande foi o seu espanto quando percebeu que era a mesma amiga que estava
telefonando depois de seis anos.
Depois de passado o susto, Paula intrigada, marcou um encontro com a sua
velha amiga para conversarem.
Pois foi justamente essa amiga baseada em experiências vividas que fez Paula
enxergar os erros que ela mesma vinha cometendo em seu casamento, e
indicou a terapia de casais que havia feito com o seu marido em meio a uma
crise que também passaram.
O resultado foi fantástico e Paula e seu marido conseguiram uma harmonia
jamais vivida anteriormente.
- Pedro depois de muito tempo conseguiu juntar o dinheiro que precisava para
dar entrada no financiamento de um carro usado que tanto precisava. Ele
partiu pelas agências da cidade em busca do carro que queria, quando de
repente... foi amor a primeira, ele ficou encantado com um certo carro. Tudo
era perfeito, a roda o estofado a cor... e o valor que tinha em mãos era o
suficiente para a entrada. Pedro se informou da documentação necessária para
dar entrada no financiamento e foi providenciar o mais rápido possível. No dia
seguinte voltou à agência para realizar os procedimentos, mas quando foi abrir
a pasta com os documentos que havia providenciado... cadê a pasta ? Havia
perdido no caminho.
Mediante a este transtorno, Pedro teve que providenciar tudo novamente. No
outro dia deu entrada no financiamento, que levaria 2 dias para ser analisado
segundo o atendente. Quatro longos dias se passaram até que o resultado da
análise retornasse a agência, que foi ... negativo !! O cadastro dele não havia
sido aprovado, pois a renda comprovada segundo o banco não era suficiente.
Furioso com tantas dificuldades Pedro pensou: “agora eu compro esse carro
nem que seja a última coisa que eu faça”.
Foi até o seu irmão que tinha uma renda superior a sua e pediu que
financiasse o carro em seu nome. O irmão que sempre foi muito unido com
Pedro, estranhamente negou o seu pedido, pois não queria comprometer o seu
crédito.
Pedro sem se dar por vencido pediu o mesmo favor a um amigo, e este
finalmente concordou. Com isso em alguns dias Pedro conseguir tirar o carro
da agência.
Dois dias depois conheceu uma amiga de sua namorada que estava vendendo
um carro, do mesmo modelo e cor que o que havia comprado, só que mais
conservado e bem mais barato. Este fato chateou Pedro pela possibilidade de
ter feito um melhor negócio com a amiga de sua namorada, mas o que o
chateou de verdade, foi o carro que ele comprou ter fundido o motor depois de
7 meses de uso.
- Bianca era uma jovem de 16 anos que estava em vias de terminar o 2º grau
e encontrava-se muito indecisa com o curso superior que gostaria de fazer.
Filha de um bem sucedido advogado, havia uma pressão da família para que
ela fizesse o curso de direito, mas esse curso ela tinha certeza que não queria.
Fez alguns testes vocacionais mas não chegou a conclusão nenhuma, até que
um certo dia conheceu o tio de uma amiga quando a estava visitando.
Não teve muito tempo para conversar com ele, mas algo em sua figura
chamou muito a sua atenção. No dia seguinte foi ao shopping com a sua mãe,
quando contrariando todas as estatísticas encontrou o tio de sua amiga. Achou
interessante a tremenda coincidência, mas incrível mesmo foi quando no outro
dia encontrou novamente o tio de sua amiga sozinho tomando um café
expresso em uma lanchonete. Bianca cumprimentou o homem que também se
mostrou surpreso com o novo encontro, porém movida por uma força
inexplicável Bianca pediu licença para sentar-se e iniciou uma conversa.
Descobriu que ele era psicólogo e ouviu muito aquela noite sobre o dia a dia e
as características do trabalho de um psicólogo.
O resultado foi imediato. Bianca havia decidido, iria estudar psicologia.
Esses exemplos mostram como acontecem as sincronicidades nas mais
variadas situações que chamam a atenção pelos acontecimentos inusitados. E
estar atento aos acontecimentos e sentimentos, pode levar ao vivenciamento
prático dessas fantásticas “coincidências”.
Depois de ter vivido essa tremenda sincronicidade, Neo teve a sua fé
resgatada e finalmente percebia que por mais que quisesse estar no controle
da sua vida, existe uma Força Superior que controla tudo. Além disso descobre
que alinhar-se ao fluxo de orientações que vem dessa força era a atitude que o
levaria ao cumprimento da sua missão.
Porém ainda não acreditava que era o escolhido. O fato de ter vencido o seu
racionalismo excessivo não provava que ele realmente era o escolhido.
Vejamos o diálogo que acontece quando ele salva Trinity de dentro do
helicóptero que explode no edifício logo após o resgate de Morpheus:
Morpheus: _Eu sabia. Ele é o Escolhido. Você acredita agora, Trinity?
Neo:
_O Oráculo... Ela me disse...
Morpheus: _Ela te disse... O que você precisava ouvir. Só isso. Cedo ou tarde
você vai perceber, como eu...que há uma diferença entre conhecer o
caminho...
e percorrer o caminho.
Morpheus quis dizer que Neo não estava ainda pronto para aceitar que era o
escolhido e o Oráculo sabia disso. Sabia que se tentasse forçar que ele
aceitasse isso poderia comprometer todo o processo de compreensão que ele
estava vivendo.
Tudo tem que acontecer respeitando o tempo individual de cada um.
XII) Neo enfrenta os agentes. O renascimento para uma nova
realidade.
A barreira mais difícil de ser superada ainda estava por vir, e esta, levaria Neo
a aceitar e ser o escolhido. Ele precisava enfrentar e vencer os agentes, que
também estava associado a enfrentar e vencer os seus próprios medos e
limitações. Quando ele se vê de frente ao agente Smith, Neo quer e acredita
que pode vencê-lo, mas a sua vontade ainda não é o suficiente para isso. Ele
se sai bem na luta contra o agente, porém ser derrotado seria inevitável. Por
quê ? Porque Neo ainda estava apegado a conceitos da sua antiga
personalidade, e de nada adiantaria acreditar que era o escolhido. O antigo
Neo tinha que morrer por completo para que o novo Neo renascesse.
Ao perceber que ainda não podia vencê-lo, Neo decide fugir, porém não
consegue chegar até o telefone para fugir da Matrix, quando finalmente é
baleado e morto pelo agente Smith.
Esta cena representa uma situação que faz alusão ao arquétipo da Fênix,
chegar até as cinzas para depois renascer. Na maioria das vezes o indivíduo
em busca da auto-realização, precisa passar por situações que o levem aos
seus limites, ao fundo do poço, para que consiga se libertar das antigas
matrizes(com licença do trocadilho) e renascer em outras. Em outras palavras
é necessário que morra o velho homem, e com ele morram os medos, as
incertezas, os apegos e o ego.
Morpheus, Trinity e Tank, não acreditam no que vêem, pois tinham
convicção que Neo era o escolhido. Em especial Trinity, por que o Oráculo
havia lhe dito que ela se apaixonaria pelo escolhido e era exatamente o que ela
sentia por Neo.
Trinity: _Não estou mais com medo. O Oráculo disse que eu me apaixonaria e
que o homem que eu amaria... seria o Escolhido. Então, veja... você não pode
estar morto.
Não pode estar... porque eu te amo.
Está me ouvindo?
Eu te amo.
A partir desse momento, Neo finalmente entendeu o que era ser o escolhido,
venceu os seus próprios medos libertando-se dos antigos apegos e renasceu
para uma nova realidade. Neo havia transcendido os limites da Matrix e agora
podia manipulá-la como desejasse. Ele não precisava mais temer os
agentes(as ilusões do Ego e de Maya), pois enfrentá-los agora era plenamente
possível. Finalmente Neo havia se tornado o escolhido.
Essa cena entre Neo e Trinity simboliza o único caminho que pode levar a
auto-realização, os relacionamentos.
Reparem que o momento do renascimento para a condição de Escolhido, foi
marcado pelo início do relacionamento amoroso dos dois, que até então não
havia acontecido(mesmo ele estando “morto”, pois no filme de alguma forma
supostamente ele conseguiu ouvi-la).
Trinity confessa que o ama beijando-o e a partir daí tudo muda.
Quando me refiro a relacionamentos, estou me referindo a todos os tipos de
relacionamentos e não apenas os amorosos.
Diariamente vivemos diversos tipos de relacionamentos. Familiares,
profissionais, fraternais, amorosos. Os quais vamos definir como
relacionamentos com o próximo.
Porém existem outros dois tipos de relacionamentos fundamentais para atingir
a auto-realização:
O relacionamento consigo mesmo e o relacionamento com Deus (ou com a
Força Superior).
Basta que prestemos atenção qual o novo mandamento que Jesus Cristo
considerou o mais importante, o principal: “Amai o senhor teu Deus acima de
todas as coisas e o teu próximo como a ti mesmo”.
Analisando a frase, chegaremos a conclusão que existem nela os três tipos de
relacionamentos já citados. Colocando com outras palavras
o principal
mandamento de Jesus Cristo: “Ame e relacione-se bem, com o teu Deus, com
o teu próximo e com você mesmo”
a) Relacionando-se com Deus
Para amar a Deus acima de todas as coisas, temos que aprender a nos
relacionar com Ele. É impossível amar (verdadeiramente) alguém, mesmo
sendo Deus, sem estabelecer um contato e um relacionamento. Quem
realmente vive um relacionamento com Deus e verdadeiramente o ama, sabe
o quanto é difícil manter estes laços vivendo no mundo de Maya (ou Matrix).
Se relacionar com Deus é viver uma nova realidade de vida, com novas
perspectivas e motivações. Procurando compreender como funcionam as Leis
Universais que Ele criou e alinhar-se à Elas, sentindo-se orientado com um
objetivo que realmente faz sentido.
Muitos dizem viver um relacionamento com Deus, mas na verdade usam Deus
como um gênio da lâmpada. Traçam eles próprios os seus objetivos baseados
no Ego e querem praticamente obrigar Deus a realizar o que desejam.
“Eu quero tanto aquele emprego no banco. Se Deus quiser e Ele quer, eu vou
conseguir.”
E o mais engraçado é que quando não conseguem o que desejam ficam
revoltados e “de mal” com Deus. Não aceitam como Ele deixou que isso
acontecesse, ou que não acontecesse.
O grande segredo do relacionamento com Deus é conscientizar-se que Ele
sempre está visando o nosso crescimento em direção da auto-realização. Em
outras palavras ele não vai permitir que uma determinada situação ocorra ou
não ocorra por um mero capricho. Pois os eventos que acontecem ou não
acontecem em nossas vidas sempre têm a finalidade de proporcionar
aprendizados, crescimentos e evoluções.
Em resumo é fundamental estar totalmente atento à vontade de Deus (por
intermédio das sincronicidades por exemplo) e realmente entregar-se a esta
vontade. E além disso sempre procurar conscientizar-se dos aprendizados que
precisam ser assimilados na situação que atualmente está sendo vivida, fazer
um balanço de quanto crescemos e o quanto ainda podemos crescer.
b) Relacionando-se consigo próprio
Antes de aprender a amar alguém o indivíduo deve aprender a amar a si
próprio. A falta de amor próprio é um dos principais males que assolam a
sociedade moderna, e pode levar aos mais diversos quadros de doenças
psicossomáticas, que vão desde uma depressão até quadros graves de
compulsões, esquizofrenias e até suicídio.
A falta de amor próprio, normalmente está relacionado a algo no indivíduo que
não está alinhado ao padrão que ele acha socialmente aceitável para atingir os
seus objetivos. Em outras palavras, tem algo nele que acha não estar de
acordo com o que as outras pessoas esperam, normalmente baseada em
normas e padrões impostas por uma sociedade que exalta o materialismo e o
Ego.
Se acha feio, ou gordo, ou magro, ou não tem coragem, ou não se acha
inteligente, ou é pobre, ou não atrai os homens como gostaria, ou não tem a
família que gostaria e etc. etc.
Na verdade a falta de amor próprio, parte sempre de um complexo de
inferioridade. O indivíduo em questão se acha injustiçado, perseguido, um
verdadeiro coitado. É claro que existem níveis mais intensos e níveis mais
amenos, porém basicamente é esse o princípio que está relacionado a falta de
amor próprio.
Partindo do pré-suposto que a Lei da Sincronicidade é uma realidade e que
temos um Deus ou uma Força Superior que controla tudo sempre visando o
nosso crescimento em busca da auto-realização, existe uma finalidade para
sermos como somos. Existem pontos da nossa evolução que precisam ser
trabalhados, e somente nas circunstâncias que viemos (aparência, família,
localidade e etc.) poderemos obter o sucesso.
Por isso o indivíduo com problemas de auto-estima não deve se sentir “O
coitado”, mas sim procurar compreender o que a atual circunstância que vive
está proporcionando para o seu aprendizado e crescimento. E se alguém ao
seu redor não lhe der o devido valor, não aceita você como é, não entende o
seu momento de superação e crescimento pessoal, então essa pessoa não
serve para um relacionamento mais profundo.
Não saber se amar, sem dúvida não está alinhado as Leis Universais e
certamente estará trazendo o retorno correspondente de acordo com a lei de
causas e efeitos (Karma), principalmente quando o próprio corpo torna-se
vítima desse estado psicológico, na busca do conforto em bebidas, drogas,
remédios e outras válvulas de escape que prejudicam o organismo.
O importante é estar bem consigo mesmo e se amar intensamente
independente de qualquer coisa.
Por outro lado o excesso de amor próprio também pode ser prejudicial
trazendo conseqüências não muito satisfatórias. Quando somos confiantes
demais, quando nos amamos demais, corremos o risco de sermos prepotentes,
cruéis com as outras pessoas e exageradamente vaidosos, prejudicando assim
um outro pilar importante da ferramenta chamada relacionamentos. E como já
citado, “a corda do violão não pode estar frouxa nem apertada demais”.
É importante estar atento aos excessos. Atento aos limites do próprio corpo
para não força-lo mais do que é capaz. Muitas vezes em nome de um objetivo
esportivo ou estético, pessoas “forçam a barra” e acabam por prejudicar o seu
próprio corpo, o nosso principal instrumento de interação e manifestação.
c) Relacionando-se com o próximo
Não menos importante é saber se relacionar com o próximo. Isso por que a
maioria das ações que trazem conseqüências infelizes, estão relacionadas à
outras pessoas.
Vamos analisar
denominações:
os
Dez
mandamentos
que
regem
várias
religiões
e
1) Não roubarás
2) Não matarás
3) Não cometerás adultérios
4) Não cobiçarás
5) Honrarás pai e mãe
6) Não dê falso testemunho
7) Não furtarás
8) Não adorarás outros deuses
9) Não mencionarás o nome de Deus em vão
10) Guardeis o sábado como dia santo de dedicação a Deus
Agora vamos analisar os sete pecados capitais do cristianismo:
1)
2)
3)
4)
5)
6)
7)
Ira
Inveja
Preguiça
Luxúria
Gula
Vaidade
Cobiça
Reparem agora como a maioria dos mandamentos e dos pecados estão
diretamente ligados ao relacionamento com o nosso próximo. E os que sobram
estão ligados ao nosso relacionamento com Deus e conosco mesmo. Reparem
também que sabiamente Jesus Cristo resumiu todos os mandamentos e
pecados capitais em um só, que já foi citado anteriormente.
Porém respeitar os mandamentos, não praticar os pecados capitais e seguir o
principal mandamento do Cristo não é tão fácil assim. Pois esse é o grande
desafio da nossa existência. Principalmente quando trata-se do nosso próximo
é necessária uma dedicação aplicada e uma disciplina militar.
Todos que vivem em um convívio social passam por problemas de
relacionamentos com a família, com os amigos, com o sexo oposto, etc. e etc.
Não existe essa pessoa que ao relacionar-se com o próximo esteja isenta de
perceber o quanto é difícil manter um nível de harmonia satisfatório.
Acredito que a chave de relacionar-se bem com o próximo pode ser resumida
na expressão “Amor incondicional”. Ou seja, manter o seu nível de amor pelas
pessoas independente do retorno que elas apresentem.
A maioria das pessoas ainda tem um padrão de comportamento nos
relacionamentos baseadas no Ego. Visam antes de mais nada o que aquele
relacionamento pode lhe proporcionar, qual o benefício que poderá tirar em
relacionar-se com aquela determinada pessoa.
É claro que na maioria dos casos isso acontece de forma inconsciente. A
maioria das pessoas não pensa conscientemente por exemplo... ...”Vou me
aproximar do Robson pois ele é filho do meu chefe e poderei tirar proveitos de
sua simpatia.” Porém no fundo faz com essa intenção e por ser uma atitude
não aceitável ética e socialmente, o Ego trata de escondê-la da consciência da
própria pessoa.
Porém se esse indivíduo tiver a possibilidade de enfrentar-se e responder
sinceramente o real motivo que o levou a aproximar-se de Robson, será
tomada ciência do que era inconsciente.
É importante fazer essa avaliação sobre os nossos relacionamentos. É claro
que mesmo que não queiramos, passamos por relacionamentos que nos
trazem benefícios e vantagens, porém o importante é a nossa postura em
relação a eles. Pois o mais importante em um relacionamento é: O que eu
posso acrescentar a esta pessoa ? O que posso fazer para que ela cresça, o
que posso fazer para que ela se desenvolva, ame-se e me ame ? O que posso
investir nesse relacionamento ? Isso inclui aqueles relacionamentos que em
princípio não podem nos acrescentar nada, aqueles que o nosso Ego não vê
como proveitoso ou interessante.
Acredito que Deus não coloca pessoas em nosso caminho ao acaso, e quando
não fazemos a nossa parte não dando a devida atenção, deixamos de ajudar
aquelas pessoas, e o pior de tudo, deixamos também de nos ajudar. Isso
porque por mais simples que seja a pessoa e por mais que achemos que ela
não tem nada a nos acrescentar, eu afirmo que quando alguém é colocado em
nossa vida, sempre tem algo a nos acrescentar, nem que seja o exercício da
nossa compaixão e do nosso amor incondicional.
Agora não podemos confundir “o investir” com “o controlar”. É importante ter a
consciência que apesar de todos termos que aprender as mesmas coisas para
chegarmos à auto-realização, os caminhos e lições para esse objetivo são
diferentes para cada um. Além de cada um ter o seu ritmo e maneira particular
de aprendizado.
Saber se relacionar é sinônimo de deixar que o outro seja livre. Respeitar o seu
momento e o seu ritmo. Se eu consigo ver algo que uma outra pessoa não
consegue, não devo forçar a barra e pressionar. No tempo certo ela verá o que
hoje não consegue, e força-la a mudar antes do tempo pode trazer sérios
danos ao seu equilíbrio interior e ao seu crescimento. Aconselhe sim, mas
sempre deixe que o seu próximo faça o que achar melhor, pois ele mesmo que
arcará com as conseqüências dos seus atos.
Existe uma história que retrata bem essa situação. “Um jovem observava o
casulo de uma antiga lagarta que agora começava a se romper para tornar-se
uma borboleta. No meio do processo o jovem percebeu que a pequena
borboleta estava tendo uma tremenda dificuldade em romper o casulo e aí
resolveu ajudá-la.
Grande foi a sua surpresa quando percebeu que a borboleta depois de ter o
seu casulo aberto, não conseguiu sair voando de dentro dele e ali mesmo
morreu. Depois disso o jovem compreendeu que o esforço que estava fazendo
para romper o casulo era necessário para que ela estivesse pronta para voar.”
É claro que quando as atitudes do próximo invadem o nosso espaço, não
respeitando os nossos limites e abalando o nosso equilíbrio, devemos tomar as
atitudes necessárias (Sempre alinhadas as Leis Universais ). Não podemos
confundir “amor ao próximo” com “ser o capacho do próximo”, ou confundir
“ser uma pessoa boa” com “ser uma pessoa boba”.
Neste caso quando o relacionamento torna-se prejudicial para o nosso
equilíbrio é justificável até um certo afastamento dessa pessoa. Notem que
escrevi um certo afastamento e não uma exclusão total.
Pois mesmo nessas circunstâncias, devemos continuar investindo nesse
relacionamento, porém investindo o que a pessoa está permitindo. É
importante nunca deixar de investir e sempre de acordo com as possibilidades
ajudar essa pessoa a desenvolver-se, nunca deixar o relacionamento morrer
completamente.
“Relacionamentos são como plantas, se não regados regularmente, secam e
morrem.”
Quando falo em investir nos relacionamentos, e quando coloco os
relacionamentos como a principal ferramenta para atingir a autorealização(que é o nosso objetivo principal na vida), fica evidente a
importância de darmos total prioridade a eles.
A maioria das pessoas não fazem isso e colocam egoísticamente os seus
“objetivos de vida” baseados no Ego ( e no materialismo que ele tanto gosta)
na frente dos relacionamentos.
Muitos são os exemplos que são amplamente vistos no dia a dia. É o pai que
não dá atenção ao filho e a esposa por causa do trabalho. É a namorada que
se dedica excessivamente aos estudos e não dá atenção ao namorado. É a
pessoa que tem muitas atividades e não cuida no seu corpo e de si próprio. É a
pessoa que nunca tem tempo para um momento a sós com Deus, etc, e etc.
Porém posso afirmar que NADA é mais importante. Não existe a falta de
tempo, existe a falta de reformular as prioridades. Devemos dedicar a maioria
dos nossos momentos aos relacionamentos, pois essa é a grande receita para
uma vida verdadeiramente FELIZ.
É normal acontecer por exemplo de alguém justificar estar com pressa e mal
falar com as pessoas que convive. Mesmo que seja a faxineira do seu prédio, o
seu João da banca de jornal e etc.
As vezes a pessoa chega até nós precisando de ajuda ou de conversar e não
damos a devida atenção por estarmos muito ocupados com alguma coisa. E
ainda justificamos para nós mesmos com o Ego(egoísticamente) só para não
nos sentirmos tão mal por ter negado atenção: “Poxa, fulano é tão negativo...
poxa fulano não percebe que estou ocupado...”
É claro que temos que tomar cuidado para que a pessoa não fique dependente
sempre na nossa atenção, afinal sempre temos que estar atentos aos exageros
também ( caminho do meio) e essa pessoa tem que se manter equilibrada por
ela mesma.
“Se somos a luz da vida de alguém, esta pessoa ficará no escuro se
precisarmos ir embora.”
É importante estar sempre falando com as pessoas ao nosso redor, darmos
nem que seja um pouco da nossa atenção e alegria, desejar um bom dia,
perguntar como está, demonstrar que você se importa com ela. Isso é investir
nos relacionamentos, plantar o amor, e acreditem, a colheita é maravilhosa.
d) Relacionamento divino
Dos relacionamentos com o próximo, inquestionavelmente o mais complicado é
o amoroso.
Com certeza os demais relacionamentos apresentam um bom grau de
dificuldades, porém o amoroso tem uma particularidade que o torna
especialmente complicado em relação aos outros, a necessidade de ter que
lidar de forma bem específica com a sexualidade.
Como já citado anteriormente, para que se obtenha sucesso na conquista da
auto-realização é fundamental aprender disciplinar a sexualidade, o que não
deve ser confundido com reprimir. E para lidar com a sexualidade é
fundamental que seja vivido um relacionamento amoroso.
Mesmo que inconscientemente todo ser humano sempre está procurando
suprir a sua sexualidade. O que é muito natural pois trata-se de uma
característica inata da nossa personalidade, ou seja, já nascemos com ela.
Todo animal tem essa característica que está relacionada com o instinto de
sobrevivência e perpetuação da espécie. Desta forma, por mais que não
queiramos admitir, ela sempre estará lá. A pessoa que reprime esse instinto e
afirma que nunca pensa em sexo está certamente mentindo, em especial para
ela mesma.
E mesmo aquelas que conseguem evitar comportamentos sexuais visando
suprir o seu desejo interno, compensam de outras formas desenvolvendo as
mais diversas compulsões por outros tipos de prazeres e atividades. São
indivíduos que normalmente comem demais, ou usam drogas (incluindo as
legalizadas) demais, trabalham demais, estudam demais, são religiosas demais
e etc.
Em outras palavras, quando a sexualidade é reprimida, a psique certamente
passa por um tipo de desequilíbrio que certamente resultará em conseqüências
para a mente e para o corpo.
É fundamental suprir a sexualidade para estar realmente saudável fisicamente
e psicologicamente. Porém como tudo na vida é importante usar a regra do
caminho do meio. Ou seja, o uso descontrolado e indevido trará as inevitáveis
conseqüências.
São dois lados de uma mesma moeda, de um lado está o reprimido e do outro
o devasso.
Por isso os relacionamentos amorosos são tão complicados.
Além dos vários pilares que formam a base de um bom relacionamento
amoroso, saber lidar com a própria sexualidade é o mais complicado deles.
Como conseguir se relacionar com alguém que não se assume ou aceita
sexualmente ? Como se relacionar com alguém que tem o apetite sexual
descontrolado ?
Para seja possível viver um relacionamento amoroso de sucesso é fundamental
que cada um dos integrantes conscientizem-se da atual condição da sua
própria sexualidade (é claro que não depende somente disso). E a partir daí os
dois devem trabalhar juntos para equilibrar as suas atuais posturas.
Segundo a filosofia Gnóstica, doutrina que teve o seu início no antigo Egito, e a
prática Tântrica, disciplina indicana, por mais consciência e vontade que o
indivíduo tenha de disciplinar o seu Ego e libertar-se das ilusões materialistas
(Maya), isso só será possível com a disciplina da própria sexualidade, que deve
acontecer à partir de um relacionamento amoroso perfeito com outra pessoa
do sexo oposto.
De acordo com essa teoria, este é o único caminho para atingir este objetivo.
Essa filosofia afirma também que o homem e a mulher são duas metades de
um verdadeiro ser humano e somente pelo amor e sexo divino pode-se chegar
a energia e força necessária para alcançar a verdadeira auto-realização.
“Nascemos como humanos do sexo humano. E renasceremos como divinos do
sexo divino.”
Segundo essas filosofias existe uma tremenda má interpretação por parte de
muitos religiosos, que consideram a sexualidade e o sexo nocivos à
espiritualidade, afastando-se e reprimindo esse tão importante aspecto do ser
humano. É fato que a maioria das atitudes que não estão alinhadas com as
Leis universais tem como origem o impulso sexual, porém o reprimir não é o
caminho, mas sim disciplinar, direcionar essa poderosa energia para a sua
principal finalidade.
Não existe nenhuma critica às religiões que adotam o celibato e a reclusão em
mosteiros como parte de sua doutrina, até mesmo porque nada acontece por
acaso e se estão passando por isso existe alguma finalidade para eles. Porém é
inquestionável que essa prática desenvolve de uma forma bem limitada apenas
o relacionamento com Deus e consigo mesmo, pois sem o relacionamento com
o próximo não existem alguns parâmetros importantes para definir o nosso
relacionamento com Deus e conosco. Isso sem falar dos vários problemas
psicológicos e até psicossomáticos que surgem da repressão da sexualidade e
da exclusão do convívio social, chegando inclusive a escândalos sexuais entre
os próprios adeptos dessa doutrina que não são novidades para ninguém.
A cena entre Trinity e Neo, também simboliza categoricamente o estágio em
que finalmente a auto-realização é alcançada a partir do relacionamento
amoroso perfeito. Possibilitando o renascer de um novo homem(e uma nova
mulher), que viverá uma nova realidade, agora consciente do seu papel junto
ao todo e a humanidade, pronto para cumprir uma missão bem maior do que
poderia imaginar.
XIII) O vôo de Neo no fim do filme. A ascensão aos céus.
Esta última cena do filme certamente passa despercebida para a maioria das
pessoas que assistem, porém tem um papel fundamental no fechamento do
filme, pois ela confirma a intenção de relacionar a saga de Neo ao caminho da
auto-realização. A subida aos céus, ou arrebatamento, ou nirvana, ou
iluminação, são símbolos que representam o alcance da auto-realização e
podem ser encontrados nas mais variadas literaturas sacras e filosóficas.
O final do filme The Matrix proporciona um desfecho inesperado e com forte
conteúdo filosófico, quando Neo fala pelo telefone com a Matrix.
Neo: Sei que você está aí.
Eu sinto você agora.
Sei que está com medo.
Está com medo de nós.
Está com medo das mudanças.
Eu não conheço o futuro.
Eu não vim aqui te dizer como isso vai acabar.
Eu vim aqui te dizer como vai começar.
Vou desligar este telefone.
E vou mostrar a essas pessoas o que não quer que elas vejam.
Vou mostrar a elas um mundo... sem você.
Um mundo sem regras e controle, sem limites e fronteiras.
Um mundo onde tudo é possível.
Para onde vamos daqui...
é uma escolha que deixo pra você.
Conclusão:
E você ? Percebe que existe alguma coisa errada com o mundo que vive ? Algo
dentro de você que não consegue explicar, mas que te incomoda e te
impulsiona a buscar uma resposta de uma pergunta que ainda nem conseguiu
formular ? Percebe que a vida não pode ser tão somente material. Você sente
que não veio aqui somente para ter uma profissão que lhe integre a sociedade,
formar uma família e morrer ? Sente que existe uma missão a ser cumprida ?
Então está na hora de iniciar a sua busca.
Busca por respostas, sentimentos e crescimento. Está na hora de libertar-se
das ilusões impostas à sua mente e focar a sua vida para o seu real sentido e
objetivo. Se auto-conhecendo, enfrentando e conscientizando dos medos e
atitudes equivocadas que precisam ser transcendidas para se atingir a autorealização.
Ou se você após ler este livro identificou-se na condição de já desconectado da
Matrix. Percebe-se já atuando em busca do cumprimento da sua missão
pessoal e do objetivo supremo da vida ?
Seja qual for a sua condição vá em frente, faça a sua história acontecer, viva
o seu Neo, vença os seus agentes e a sua Matrix.
Pois a partir de agora a pergunta que fica é...
...qual pílula ?
Vermelha ou azul ?
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nos assuntos abordados nesse livro.
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