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Copyright© 2013 by Carlos Hilton Cruz Carvalho / Luis Carlos de Morais Junior
Direitos em Língua Portuguesa reservados aos autores através da
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LITTERIS EDITORA.
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Revisão
Os autores
Editoração
Litteris Editora
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Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
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Morais Junior, Luis Carlos de,
Os que ouvem mais que nós / Luis Carlos de Morais Junior, Carlos
Hilton Cruz Carvalho. 1. ed. - Rio de Janeiro : Litteris Ed., 2013.
88p.; 21cm
ISBN 978-85-374-0219-1
1. Língua de sinais - Educação - Brasil. 2. Língua brasileira de sinais
- Educação - Brasil. 3. Surdos - Educação - Brasil. 4. Prática de ensino.
I. Carvalho, Carlos Hilton Cruz. II. Título.
13-04961
CDD - 419
CDU - 81.221.24
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Os que ouvem mais que nós é fruto de
pesquisa desenvolvida no Grupo A
vivência pós-moderna, ligado ao tema
Estudos Transdisciplinares em Línguas
e Literaturas, na Linha de Pesquisa:
Língua Portuguesa e suas respectivas
Literaturas sob o influxo de outras
disciplinas, artes e mídias, da Faculdade
CCAA.
CONTATOS DOS AUTORES
Luis Carlos de Morais Junior:
[email protected]
Carlos Hilton:
[email protected]
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SUMÁRIO
1- DEFICIÊNCIA NÃO: DIVERSIDADE FUNCIONAL........................ 9
2- BREVE HISTÓRICO DO SURDO, NO BRASIL E NO MUNDO.... 15
3- AS LÍNGUAS DE SINAIS E A LIBRAS............................... 24
SURDA......................................................... 38
4- A
CULTURA
5- A
IDENTIDADE
6- A
COMUNIDADE
SURDA..................................................... 46
SURDA................................................... 53
7- PEDAGOGIA BILÍNGUE PARA SURDOS.................................. 57
INCONCLUSÃO:
INCLUSÃO.....................................................
73
NOTAS .............................................................................. 77
BIBLIOGRAFIA..................................................................... 84
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CAPÍTULO 1
DEFICIÊNCIA NÃO: DIVERSIDADE FUNCIONAL
O homem é um ser multissensorial, que de vez em quando
verbaliza.1
Imagine que você está dormindo, sem saber que está
dormindo, e começa a sonhar, sem saber que está sonhando.
Você se vê no seu ambiente mais comum, sua casa, sua escola,
seu trabalho, entre seus amigos. Pode escolher.
Mas, para seu desespero, você percebe que não consegue ouvir
nada do que as pessoas a sua volta estão dizendo. Elas olham
para você, falam, veem que você não escutou, e então gritam.
Você tenta falar, explicar que, por algum motivo estranho,
não está conseguindo ouvir o que elas dizem. No entanto, a sua
voz também não sai. Ninguém escuta você.
Agora todas as pessoas o olham, acintosamente.
Umas riem, achando que você está fazendo palhaçada. Outras
se exasperam, fácil assim.
E você? O que pode fazer? Você quer entendê-los, mas não
pode, quer se fazer entender, e não consegue.
Como você se sentiria, nessa situação?
Deve ser mesmo um momento difícil. Mas, aí, você acorda, e
volta à sua realidade normal.
Porém, como devem se sentir aqueles, cuja vida inteira é assim,
igual ao seu sonho?
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Esses são os Surdos.
Eles enfrentam cotidianamente essa situação, percebendo que
a maioria das pessoas tem muito pouca paciência com eles.
Mesmo que você se esforce bastante, não vai conseguir
entender ou descrever totalmente o que é ser um sujeito Surdo,
simplesmente porque você nunca foi um.
Por isso será maravilhoso, quando todo cidadão ouvinte tiver
acesso à ampla informação sobre a realidade do Surdo, sua Língua,
cultura e identidade, para que haja maior entendimento entre
todos, e haja inclusão, e as pessoas procurem conhecer como
funciona e saber da importância do uso da Língua Brasileira de
Sinais (LIBRAS), utilizada pelas comunidades Surdas do Brasil.
Há uma grande diferença entre ouvir e escutar. Os Surdos
podem ouvir mais que você, no sentido que eles captam uma
gama de informações às quais você pode não estar atento naquele
momento. Isso quebra um paradigma preconceituoso sobre o que
seria a surdez. Deficiência? Não! Trata-se, na verdade, e, sem
nenhum favor, de diversidade funcional.
Pois, como já se disse, e citamos no início, e vamos repetir
agora, porque é muito importante: “O homem é um ser
multissensorial, que de vez em quando verbaliza”.2
Essas sábias palavras nos acenam para o fato de que não há a
exclusividade do verbo falado (fonado), nas nossas percepções
e comunicações.
Captamos uma miríade de sensações, temos muito mais que
cinco sentidos: visão, olfato, tato, paladar, audição, autopercepção
interna, autopercepção externa, sensação de movimento,
temperatura, equilíbrio... não se chegou a um número consensual
entre os cientistas, mas alguns falam que temos trinta e três
sentidos. Talvez, por isso, o médico peça ao paciente que diga:
trinta e três.
É sabido que cegos desenvolvem percepções auditivas e táteis
muito mais abrangentes e intensas do que as dos que veem. A
mesma coisa acontece com o Surdo, que pode compensar
amplificando outros dos seus receptores sensoriais.3
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Um exemplo é o fato de Surdos ouvirem música com seu
corpo inteiro, e poderem inclusive dançar (pela percepção rítmica,
cinestética e cenestésica) e cantar, havendo muitos corais de
Surdos.
Vamos esclarecer, de cara, duas palavras importantes, que
são parecidas, porém, que falam de coisas diferentes:
Cenestésico – Relativo a cenestesia. Sentir a si
mesmo, perceber o funcionamento dos órgãos
internos.
Cinestésico – Uma pessoa que se comunica através
da ação corporal.
Cinestesia – Conjunto de sensações pelas quais se
percebem os movimentos musculares.4
Todos nós ativamos esses dois tipos de percepções, as internas
e as musculares, para captar informações. O Surdo pode voltar
sua atenção para elas, de uma forma mais concentrada ainda,
para captar, por exemplo, a música.
Ouvir a música com o seu corpo todo, cinestesicamente, e
sentir muito mais do que meramente os mesmos sons de sempre,
esse sonho seria bem mais interessante, não?
Um caso que ficou famoso, e impressiona muita gente, até
hoje, é o de Helen Adams Keller, que ficou Surda e cega aos
dezoito meses de idade, devido a uma “febre cerebral” (talvez
escarlatina).
Ela tinha percepções cinestésicas das coisas a sua volta, mas
não conseguia entender o que eram, parecia que havia entre ela
e o mundo uma barreira intransponível.
A jovem professora Anne Sullivan conseguiu magistralmente
ultrapassar a barreira, ensinando de forma tátil os sinais para
Helen Keller, que em adulta se tornou uma grande pensadora,
escritora e conferencista, lutando pela causa dos portadores de
deficiência, e sendo ela mesma um exemplo inspirador.5
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Este livro foi feito por nós dois, fifty/fifty.
Não pretendemos aqui ensinar a Língua Brasileira de Sinais,
coisa que, aliás, exige a interação com mestre e com um grupo,
para ser bem apreendida.
O nosso objetivo é discutir algumas questões referentes ao
papel do Surdo na nossa sociedade, e, como indicam os títulos
dos capítulos, conscientizar o leitor para fatos como a surdez ser
uma diversidade funcional, e a possibilidade real e necessária do
Surdo ter o seu lugar, com uma comunidade, uma Língua, uma
cultura e uma pedagogia próprias.
Vamos falar brevemente sobre algumas das nossas motivações,
para escrevê-lo.
Carlos Hilton conta que, quando tinha sete anos de idade,
sofreu um acidente, brincando de pique bandeira, e foi levado
ao Hospital Souza Aguiar, jorrando sangue pelo ouvido.
A partir daí ele começou a ter sérios problemas de letramento,
de leitura e escrita, pois isso aconteceu no início de sua
alfabetização. E precisou aprender a ler e a escrever com uma
professora que morava numa vila, próxima à sua casa, e que,
com carinho, fê-lo superar seus bloqueios.
Depois, em 1994, já formado em Jornalismo, trabalhando
como voluntário numa igreja católica, participando das
celebrações e cantando, ele viu um casal de Surdos, que
compareciam todo domingo, e ficavam num cantinho,
escondidos. O filho traduzia de forma imperfeita e insatisfatória
para eles o que era dito na missa, e os pais entendiam muito
pouco.
Aquilo o incomodou.
Um dia ele desceu do coro e falou que os queria ajudar, mas
eles ficaram desconfiados, o que é comum acontecer com os
Surdos, pela sua própria situação de serem alvos de deboches etc.
Carlos aprendeu LIBRAS nessa época, com um Surdo da igreja,
para tentar ajudar aqueles que não conseguiam ouvir, para que
eles pudessem compreender a missa.
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Aí ele começou um trabalho com o grupo de Surdos da
paróquia. Desse pequeno núcleo se formou uma comunidade
Surda, que se ampliou, e existe até hoje, e na qual Carlos ensina
LIBRAS para os Surdos e forma intérpretes ouvintes, também,
na perspectiva de sócio-Linguagem.
Ele comenta que a comunidade Surda representa para o Surdo
um momento de libertação, pois muitos Surdos nascem em
famílias de ouvintes, e não têm a construção da sua própria
identidade, porque seus pais são ouvintes. Isso quer dizer que
eles se sentem uns estranhos, como se ninguém fosse igual a
eles, e eles fossem os inadequados. Ao encontrar e frequentar
uma comunidade, o Surdo encontra outros que pensam e se
expressam como ele, pois compartilham a mesma diversidade
funcional, e, consequentemente, de expressão Linguística.
Luis Carlos explica seu interesse pela questão contando que
participou, em 2010, de uma banca de monografia de graduação
sobre LIBRAS, de um orientando de Carlos Hilton, na Faculdade
CCAA.
O trabalho mexeu muito com ele, e, a certo momento, na
interpelação ao aluno, Luis Carlos falou que via a todos os seres
humanos como um devir interligado, todos nós somos anões,
gigantes, cegos, Surdos, gênios etc.
Inspirado nesse acontecimento, escreveu o romance Gigante,
no qual uma personagem fala assim para o protagonista:
– Carlos, há outros como você. Em todo o mundo
estão surgindo gigantes. E a sociedade começa a
se preparar para aceitar vocês. Vocês somos nós.
Porque a humanidade é como um rio genético, e
toda deriva que ocorra, que é catalogada como
mutação, deficiência, ou esquisitice, é na verdade
uma parte misturada no todo que somos, no rio
humano com todas as suas manifestações.6
Carlos continuou conversando com Luis sobre o assunto,
trazendo material e incentivando suas leituras. Em 5 de julho de
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2012, Carlos Hilton deu uma entrevista no programa de rádio
produzido e apresentado por Luis Carlos (com o nome de Speed
Luis, em homenagem ao seu pai, o radialista Speed Luiz), No
Tempo do Rádio a Lenha, que nessa nona edição falou sobre
Sociedade e preconceito, e contou com a presença também do
sociólogo Leopoldo Pio (Carlos Hilton é radialista também, tem
uma bela voz de cantor e locutor, e gravou lindas vinhetas para
No Tempo do Rádio a Lenha).7
No início, queríamos fazer um artigo, um paper, um papel de
poucas páginas, sobre a questão pedagógica da inclusão do Surdo.
Mas, quando Carlos iniciou o processo de passar informações
para Luis, nós dois vimos que a questão é grande, precisaríamos
do espaço de livros, e resolvemos arregaçar as mangas, e botar a
mão na massa, e este é o primeiro deles.
Não podemos julgar os outros por não serem iguais a nós. A
rigor, somos todos diferentes uns dos outros, e tanto, que
poderíamos nos chamar a cada um de nós de “espécie
especialíssima”, como afirma o pensador grego neoplatônico
Porfírio (c. 232-c. 304) na sua Isagoge8, e como também pensou o
filósofo Alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), na sua
“teoria dos indiscerníveis”.
Pare e pense, depois, se quiser, se movimente; porém, que
esse movimento, seja gesto ou fala, traga a marca do sentimento
compartilhado (inspirado por essa forma de amor, que no latim
se diz “compaixão”, e que é a tradução do grego “simpatia”), e a
compreensão de que os seres humanos estamos todos ligados,
somos todos diferentes, mas somos todos iguais.
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CAPÍTULO 2
BREVE HISTÓRICO DO SURDO,
NO BRASIL E NO MUNDO
Somos notavelmente ignorantes a respeito da surdez
(Oliver Wolf Sacks)9
O outro, o diferente. Essa é uma longa história, um plural
que se multiplica a cada vez que alguém tenta contá-la. São tantas
realidades incontáveis, as várias visões de mundo, as diferenças,
e o quanto de preconceito de intolerância já se construiu sobre
isso.
No caso dos Surdos, desde a Idade Antiga houve um certo
incômodo, um não saber o que fazer em relação a ele.
Parece, por exemplo, que egípcios e judeus “protegiam” os
Surdos, mas lhes negavam o direito à educação. Pior era na antiga
China, onde os Surdos eram lançados ao mar, assim como os
gauleses os sacrificavam aos deuses.10 Situação análoga à semítica
acontecia em Grécia e Roma, onde se consideravam os Surdos
privados da possibilidade de aprendizado intelectual e moral.11
Por outro lado, quando, no diálogo platônico Crátilo, Sócrates
(c. 459 a.C.-399 a. C.) pergunta a Hermógenes se, caso não
tivéssemos voz, seria possível usar as mãos para sinalizar, ele
obtém uma resposta positiva.
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Sócrates: Bem, como podem os nomes originais,
que não são como tais baseados em outros, tornarnos claras, na medida do possível, as coisas que são,
função que, afinal, lhes cabe sendo eles realmente
nomes? Responde-me o seguinte: se não tivéssemos
voz ou Língua e desejássemos nos comunicar com
clareza, não tentaríamos – como fazem realmente
as pessoas mudas – fazer sinais com nossas mãos,
cabeça e o resto de nosso corpo?
Hermógenes: Sim. Que outra alternativa teríamos,
Sócrates?12
Discípulo de Platão (428 a. C.-348 d. C.), Aristóteles (384 a.
C.-322 a. C.) pensa que a razão representa o real, e a Língua
comunica essa representação, e sendo assim, todo o processo de
aprendizagem para ele está totalmente centrado na escuta da
Língua oral. Inclusive, em suas aulas, havia os alunos
“akoustikoi”, que não podiam falar, enquanto não tivessem
aprendido um mínimo.
Pela preponderância da expressão oral, os Surdos seriam
“menos educáveis”, pois, não eram considerados, para ele, como
seres pensantes.
A coisa chegava ao ponto abSurdo de os romanos jogarem os
Surdos no rio Tiger!!13
Durante a Idade Média, novamente o significado do Surdo
muda na sociedade (como mostrou Foucault que acontece com
a loucura, na sua história, e acontece com tudo: as palavras têm
significados que são gerados em uma dada época, pelas
instituições, as visibilidades e os enunciados).14
Com o advento do cristianismo, por causa da interpretação
de textos sagrados, chegou-se a supor que os Surdos não teriam
direito à (por não terem acesso ao conceito de) salvação.
Por exemplo, a germinação do cosmos através da manifestação
da palavra divina pronunciada pelo “verbo” (em grego λόγος
“palavra”), no Evangelho segundo São João, 1,1 15 , ou a
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proposição de ser preciso “ouvir” para ter fé, que está na Epístola
aos Romanos, 10, 17-1816
Foram alguns dos textos assim que serviram para difundir a
visão negativa do Surdo. Através dos séculos, várias ações do
cristianismo colaboraram para consolidar a dignidade Surda, mas,
do dogma medieval, bem como de preconceitos da Idade Antiga,
herdamos a concepção errônea da surdez.
Exemplo de ato desenvolvido por cristão que contribuiu com
a causa está no fato de que o primeiro livro sobre o alfabeto
manual dos Surdos foi escrito pelo padre franciscano Mechor de
Yebra (1526-1586).
Já o mais antigo professor de Surdos conhecido hoje por nós
foi o monge beneditino Pedro Ponce de Léon (1520-1584), que
aproveitou o voto de silêncio dos mosteiros para dar início ao
seu trabalho com dois irmãos Surdos. Ele usava a datilologia,
escrita e tentativa de oralização. Logo depois, surgiu Juan Pablo
Bonet (1579-1623), que treinou a fala com o uso do alfabeto
datilológico.
No Renascimento a situação não melhorou, e, ainda por cima,
os espetáculos de “monstruosidades”, circos de horrores
medievais que se prolongavam pela Europa, vão usar Surdos
como motivo de deboche, ao lado de anões, corcundas etc.
No século do Iluminismo, isolavam-se as pessoas com
qualquer diversidade funcional, como uma proposta de
“higienização” social, evitando a “contaminação” da sociedade
pelo suposto desviante (essa é a época da exclusão, sobre a qual
escreve Foucault 17 ). Foi quando surgiram os Institutos
Educacionais, que eram mais asilos do que escolas.
Um dos mais marcantes cientistas desse período foi Jean Marc
Gaspard Itard (1774-1838), médico cirurgião e psiquiatra, que
estudou com Philippe Pinel (1745-1826). Gaspard entendia a
surdez como doença, e, para descobrir a sua cura, fez vários
experimentos: dissecou cadáveres, deu choques elétricos nos
ouvidos de Surdos, furou tímpanos de alunos Surdos (tendo
ocasionado o óbito de um deles), usou sanguessugas etc.18
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Os filósofos da Linguagem dos séculos XVII e XIX também
disseminaram a ideia abSurda de que o Surdo seria incapaz de
aprender e pensar.
Mas, o filósofo Francês Étienne Bonnot de Condillac (17151780) foi uma exceção, pois forneceu o primeiro endosso
filosófico à Língua de Sinais e ao seu uso na educação de Surdos.
Outra figura importante foi o reverendo norte-americano
Thomaz Hopkins Gallaudet (1787-1851), que conheceu uma
menina Surda, de nome Alice, comoveu-se com a sua história e
quis ajudá-la. Como não havia nenhuma escola específica nos
EUA, o religioso foi buscar conhecer os trabalhos feitos nessa
área em Paris e em Londres; voltando aos EUA, funda ali a
primeira escola de Surdos da América.19
Já na idade contemporânea, ainda grassa o preconceito, desde
seus primórdios.
Immanuel Kant (1724-1804), o filósofo Alemão, que é um
importante fundamento do saber atual, em 1773, declara que os
Surdos nunca podem atingir mais do que um análogo da razão,
pois os sinais não seriam capazes de representar uma generalidade.
Arthur Schopenhauer (1788-1860) também pensava parecido,
entendendo que os Surdos não teriam acesso direto ao raciocínio,
já que, na época, a Linguagem modelo do pensamento era a oral.
Foi a Psicologia que, precedendo a Linguística, realizou
avanços científicos para um futuro reconhecimento de status
linguístico das Línguas de Sinais. Numa época em que, para os
linguistas, as Línguas de Sinais não eram consideradas Línguas
genuínas, Wilhelm Maximilian Wundt (1832-1920), o fundador
da Psicologia Experimental, foi o primeiro acadêmico a defender
a concepção das Línguas de Sinais como idiomas autônomos.
Já Ferdinand de Saussure (1857-1913), no seu Curso de
Linguística geral (obra póstuma, que reúne as notas de Charles
Bally e Albert Seschehaye, com a colaboração de Albert
Riedlinger, tomadas nos cursos de Saussure na Universidade de
Genebra, de 1906 a 1911), enfatiza a arbitrariedade das relações
entre o signo e o seu referente.
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Assim, a iconicidade de certos sinais (dos Surdos) continuaria
sendo vista como inferioridade, como se fossem simples imitações
da forma das coisas ou dos processos e movimentos, um “ícone”,
isto é, uma imagem, um “retrato” das coisas. Na verdade, há
arbitrariedade também nas Línguas de Sinais, e esse presumida
“semelhança” é cultural, tanto quanto a da Língua falada.
Assim, as Línguas de Sinais eram consideradas uma
comunicação inferior e com vocabulário limitado, equivalente a
mera gesticulação mímica e pantomímica, sem estrutura
hierárquica gramatical, e limitada apenas a representações de
certos aspectos da realidade.
Hitler, na II Guerra Mundial (1939-1945) exterminou pessoas
com diversidade funcional em seus campos de concentração, entre
as quais estavam os Surdos. E o Terceiro Reich proibiu o uso da
Língua de Sinais Alemã, para tentar manter a hegemonia da
Língua oral, com a desculpa de que os Sinais poderiam ser usados
para comunicar segredos de guerra.
Aos poucos, uma nova fase iria se instaurar para diferentes
concepções e estudos sobre as Línguas de Sinais no mundo e os
avanços sobre essa área de estudos da Linguística. Na segunda
metade do Século XVIII, havia apenas dois métodos de ensino
para os alunos Surdos: o método francês de sinais do Abade de
L´Epée (1712-1789) e método oral alemão de Samuel Heinicke
(1729-1790).
Aquele, denominado de “Sinais Metódicos”, foi o mais
conhecido e difundido, e deu início à educação de Surdos. Seu
criador tornou-se célebre como o “pai da educação dos Surdos”.
Aconteceu que ele conheceu duas irmãs gêmeas Surdas, e,
por causa delas, passou a ter contato com vários outros Surdos
carentes. Inicialmente, L´Epée começou o seu trabalho em casa,
usando combinações de sinais com a gramática.
O Abade fundou a primeira escola mundial desta natureza, o
Instituto de Surdos de Paris, e foi o defensor da Língua de Sinais
e do desenvolvimento do Surdo, como também o precursor na
educação dos Surdos.
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Graças ao gestualismo, muitos Surdos se tornaram
multiplicadores das suas próprias Línguas de Sinais, sendo
professores e difundindo já o conceito de cultura, Língua e
identidade Surda, e dando bases para a origem do futuro
bilinguismo para Surdos.
A prova do avanço do gestualismo é a vinda do professor
Eduard Huet (1822?-1882), do Instituto Nacional de Surdos de
Paris, ao Brasil, a pedido de Dom Pedro II, para fundar o Instituto
Nacional de Educação de Surdos – INES.
/.../ Em junho de 1855, Huet apresenta ao
Imperador D. Pedro II um relatório cujo conteúdo
revela a intenção de fundar uma escola para Surdos
no Brasil. Neste documento também informa
sobre a sua experiência anterior como diretor de
uma instituição para Surdos na França: o Instituto
dos Surdos-Mudos de Bourges.
Era comum que Surdos formados pelos Institutos
especializados europeus fossem contratados a fim
de ajudar a fundar estabelecimentos para a
educação de seus semelhantes. Em 1815, por
exemplo, o norte-americano Thomas Hopkins
Gallaudet (1781-1851) realizou estudos no Instituto
Nacional dos Surdos de Paris. Ao concluí-los
convidou o ex-aluno dessa instituição, Laurent Clérc,
Surdo, que já atuava como professor, para fundar
o que seria a primeira escola para Surdos na
América. Portanto, podemos compreender que a
proposta de Huet correspondia a essa tendência.
O governo imperial apoia a iniciativa de Huet e
destaca o Marquês de Abrantes para acompanhar
de perto o processo de criação da primeira escola
para Surdos no Brasil.
O novo estabelecimento começa a funcionar em
1º de janeiro de 1856, mesma data em que foi
publicada a proposta de ensino apresentada por
Huet. /.../20
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L´Epée publicou ainda o primeiro dicionário de Língua de
Sinais do mundo, o qual foi muito criticado pelo oralista Samuel
Heinicke, conhecido como “pai do método oral”, que fundou a
primeira escola oralista, atribuindo valor à tentativa da fala oral.
O oralismo atingiu seu auge no Congresso Internacional de
Educação de Surdos de Milão, em 1880, o qual, aliás, não teve a
presença de nenhuma representatividade Surda.
Célebre por suas pesquisas em relação às questões dos sons e
pela criação de um aparelho fonador, Alexander Melville Bell
(1819-1905, foneticista, pai do inventor do telefone Alexander
Graham Bell) teve grande representatividade nesse Congresso,
sendo a voz ativa em favor do oralismo criado por Heinicke,
manifestando-se contra o gestualismo.
Por influência do Congresso (ao qual não foram os Surdos), e
da autoridade de Alexander Bell, o uso das Línguas de Sinais foi
proibido em todo o mundo, e muitas escolas utilizavam de
violência, amarrando as mãos dos Surdos, para que não usassem
as suas Línguas de Sinais. Imagine um falante, como ele se
sentiria, se lhe amarrassem a língua, para ele não falar.
O oralismo é uma imposição social da maioria Linguística, os
falantes da modalidade oral da Língua, sobre uma minoria
Linguística, no caso, os Surdos, que não encontram assim
expressão diante da comunidade ouvinte, como afirma Sánchez.21
O método bimodal ou bimodalismo, mais conhecido como
comunicação total, teve início em 1970, devido ao crescente
analfabetismo entre os Surdos, observado por educadores. Para
eles, seria preciso retomar o uso das Línguas de Sinais no meio
escolar, para possibilitar o avanço na educação de Surdos, pois
desconfiavam de que o aprendizado só seria possível trazendo a
Língua de Sinais como instrumento para o ensino.
Porém, tudo era aceitável, a fim de atingir o objetivo, inclusive
o uso da oralização junto com os sinais e demais recursos. O
bimodalismo é um sistema artificial, considerado inadequado,
tendo em vista que desconsidera a Língua de Sinais e sua riqueza
estrutural e acaba por desconsiderar também o Português.
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Esse foi o motivo de ganhar o nome de Comunicação Total,
pois, tudo era permitido, para atingir o objetivo de educar o Surdo,
dando origem à chamada Língua de Sinais sinalizadas, como o
Inglês sinalizado, o Português sinalizado, entre outras, que
utilizam os sinais, com as estruturas das Línguas orais.
O bimodalismo trouxe o retorno das Línguas de Sinais para
dentro da sala de aula, depois de aproximadamente um século
de proibição, mas errou, ao falsificar o uso das Línguas de Sinais,
usadas concomitantemente com as Línguas orais, o que é
impossível, considerando que se tratam de duas Línguas distintas,
de modalidades diferentes.
O mais eficiente e atencioso dos métodos é o bilíngue. A
proposta do método bilíngue é recente, e teve início no fim da
década de 70 e início da década de 80, já no século XX, e segue
até os dias atuais. O bilinguismo traz o conceito de respeito à
minoria Linguística, que é a comunidade Surda.
O método bilíngue, através de estudos empíricos e científicos
sobre a Língua e constituição do sujeito, consiste em que a Língua
de Sinais seja a Língua natural de acesso de informação como
primeira Língua (L1) do Surdo, tendo a Língua oral escrita como
segunda Língua (L2), e não sendo mais obrigatório o uso das
técnicas oralistas, como a leitura labial. O bilinguismo é uma
proposta de ensino, usada por escolas que se propõem a tornar
acessível à criança duas Línguas, no contexto escolar22.
A Língua é o grande instrumento natural para o ser humano
entender a si e ao mundo que o cerca e, sobretudo, expressar seu
pensamento.
Como o Surdo também é um sujeito pleno, ele possui uma
Língua natural e específica, ele também usufrui desse grande
instrumento, e que é denominada Língua de Sinais – LS, e, no
Brasil, Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
A história comprova que não foi tão fácil para o Surdo
conquistar o direito ao uso da sua Língua de Sinais, e de torná-la
uma disciplina curricular obrigatória, como é aqui e agora, no
Brasil. Pois, numa sociedade composta em sua maioria de pessoas
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ouvintes, as Línguas de Sinais parecem não ser percebidas por
seus não usuários e, às vezes, são até tachadas como Línguas
mortas (ou artificiais, ou não-Línguas, ou outra bobagem
qualquer), por aqueles que não a utilizam como um veículo eficaz
na comunicação entre seus pares linguísticos.
Todavia, as Línguas de Sinais – LS e a Língua Brasileira de
Sinais – LIBRAS sempre permaneceram vivas no seio das vastas
comunidades Surdas espalhadas no mundo e no Brasil,
considerando os Surdos são os detentores oficiais das suas
próprias Línguas de Sinais – LS, e se encarregam de mantê-las e
difundi-las.
As Línguas de Sinais – LS e a Língua Brasileira de Sinais –
LIBRAS são oriundas das experiências socioculturais das pessoas
Surdas, que as experimentam em uso no seu cotidiano
comunicacional, em meio às comunidades Surdas.
As Línguas de Sinais – LS são Línguas naturais e de caráter
genuíno, como qualquer outra Língua, e apresentam as mesmas
complexidades estruturais que as Línguas orais, em suas
produções. Isso significa que elas têm articulação, morfologia,
vocabulário, sintaxe e semântica próprios, diferentes de qualquer
outra Língua falada, inclusive o Português. A LIBRAS não é o
Português “sinalizado”. É outra Língua. Tem sua própria
gramática, vale repetir.23
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CAPÍTULO 3
AS LÍNGUAS DE SINAIS E A LIBRAS
O bem-estar de cada um está ligado ao bem-estar de todos.
(Helen Keller)24
Não é só o caso da gramática ser própria.
O não linguista pode não saber, mas, em cada Língua, cada
palavra recobre sentidos próprios, diferentes de uma palavra que
supostamente a traduz, em outra Língua. Isso significa que cada
Língua gera uma visão de mundo diferente, com semântica e
pragmática diferentes de outra Língua. “Gato” em Português tem
aspectos fonéticos, fonológicos, morfológicos, semânticos e
pragmáticos diferentes de “cat”, em Inglês. Por exemplo, em
Português gato/gata pode ser “pessoa bonita” também, o que
não ocorre em outros idiomas. É assim com todas as Línguas.
Inclusive com a Língua de Sinais. A palavra “gato” ali
“funciona” diferente, tanto na sua expressividade, quanto na sua
relação com o resto da Língua, e com o mundo. Diferenças de
significante (“gato” rima com “rato”, “cat” rima com “bat”),
diferenças de semântica (os significados não são exatamente
iguais), diferença pragmática (usam-se de maneiras diferentes).
Exatamente assim acontece com as Línguas de Sinais (e, mais,
ainda, de novo, as gramáticas são outras, tudo “funciona”
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diferente, entre a LIBRAS e a Língua Portuguesa do Brasil,
falada).
Não há como saber qual a origem das Línguas de Sinais, assim
não há um registro preciso de origem de qualquer idioma, mas,
sim, a origem do estudo referente a uma determinada Língua,
tanto das modalidades orais, e quanto as de Sinais. As Línguas
são fenômenos originados nas mentes humanas, nas suas relações
sociais com o meio, não sendo possível prover uma cronologia
da sua origem e de muito do seu prévio desenvolvimento.
Como Línguas de mesmo valor em status linguísticos, as
Línguas de Sinais também participam dos mesmos universais
linguísticos que compõem as Línguas orais.
Não há Línguas primitivas. Todas são igualmente complexas
e igualmente capazes de expressar qualquer ideia. O vocabulário
de cada Língua pode ser expandido, a fim de incluir novas
palavras, para expressar novos conceitos. Assim, como as Línguas
orais, as Línguas de Sinais também são complexas e passíveis de
expressar qualquer ideia. Seus vocabulários estão sempre em
expansão, incluindo novas palavras e novos sinais.
O certo é que as Línguas de Sinais são feitas de olhares, gestos
e expressões faciais e corporais, isto é, são vísuoespaciais, e são
compartilhadas por pessoas Surdas, tais como as Línguas de Sinais
brasileira, espanhola, francesa, portuguesa etc. Elas são ágrafas,
não se escrevem. São Línguas que utilizam a visão, as mãos e a
expressão facial e corporal, como canais de recepção, produção
e expressividade.
Já orais-auditivas são Línguas compartilhadas por pessoas
ouvintes, tais como o Espanhol, o Francês, o Português, o Inglês
etc., e podem ser escritas. Elas utilizam o conduto auditivo
(audição) e o sistema fonador (voz), como canais de percepção,
produção e expressão.
As Línguas de Sinais e as Línguas orais são Línguas de
modalidade diferentes, que, como afirmamos, utilizam canais
de recepção, produção e expressão também diferenciados.
Não há falhas na organização de uma Língua de Sinais, pois
elas são Línguas independentes das Línguas orais em suas
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estr uturas gramaticais. Por isso, elas não podem estar
subordinadas às Línguas orais, sendo completamente diferentes,
tendo gramáticas com organizações internas próprias, o que, por
desconhecimento, alguns denominam de “falhas na organização
gramatical”; o certo seria denominar essas diferenças lógicas de
características próprias das estruturas das Línguas.
Há falhas na organização gramatical do Inglês, quando coloca
o adjetivo antecedendo o substantivo, ou no Português, que o
pospõe?
As Línguas de Sinais não são as Línguas orais utilizando
simultaneamente os sinais. Tal ato é denominado de sinalização
de uma Língua oral tais como: o Inglês sinalizado, o Português
sinalizado etc.
A datilologia é a soletração manual do alfabeto de uma Língua
de Sinais, com as letras em Línguas de Sinais, alfabeto que
mostramos como é em LIBRAS, no final deste capítulo. A
datilologia não é uma Língua, como pensam alguns, mas trata de
simples códigos, baseados nos alfabeto das Línguas orais de cada
país. Um modo adaptado, para auxiliar no ensino da Língua oral.
Os Surdos só utilizam a datilologia para nominar aquilo que
ainda não tem um sinal específico. Após a criação do sinal
específico, os Surdos não mais utilizarão a datilologia.
Outra coisa importante: as Línguas de Sinais não são Línguas
pobres, que não possam expressar a abstração, grave equívoco,
no qual muitos incorrem. Pelo contrário, são Línguas ricas de
expressividade e não podem ser comparadas (ou compreendidas
na comparação) com as estruturas das Línguas orais.
O restrito não é a Língua de Sinais. Foi a proibição e a
intolerância para com as mesmas, que as restringiram, e fizeram
com que elas não tivessem a total visibilidade.
Nas Línguas de Sinais há figuras de Linguagem e sinais
metaforizados. Isso comprova o quanto elas também podem
expressar sentimentos, poesias, piadas, gírias etc.
A ideia errônea de que o sujeito falante só é aquele que produz
uma modalidade de Língua oral e não uma Língua de Sinais
sempre foi um discurso histórico que subordinou as Línguas de
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Sinais, nas pessoas dos Surdos. Esse é o motivo da não aceitação
das Línguas de Sinais, acreditando que as mesmas são gestos
aleatórios.
As Línguas de Sinais não podem ser oriundas dos ouvintes,
pelo motivo de que não são eles os produtores naturais,
sociolinguisticamente falando, dessa modalidade de Língua; e,
muito menos, poderia ser o gestual oriundo dos ouvintes, pois
os gestos que utilizam em suas Línguas orais jamais alcançariam
um nível tão extraordinário de complexidade e gestualidade,
como são apresentadas nas Línguas de Sinais.
Você entende? Na riqueza da inteligência humana, o cérebro
do Surdo encontra outros receptores para fortalecer suas
percepções, e ouve o que não ouvimos, ouvindo. Da mesma
forma, ele encontra nas mãos e nas expressões faciais e corporais
o seu “órgão de fala”, a sua “Língua”, e precisa e consegue
exprimir com gestos riquezas e sutilezas que o falante jamais
conseguiria, visto que este usa a língua dentro da boca para se
expressar.
São duas adaptações do cérebro. A Língua, os dentes, o esôfago
são partes do aparelhos digestivo. As narinas, a prega vocal e os
pulmões são parte do aparelho respiratório. A fala não tem
aparelho. Ela adapta essas partes para ciberneticamente se
expressar e atuar com sentido sobre o mundo e os outros homens.
A mesmíssima coisa faz o Surdo, com mãos, braços e face. Não
há inferioridade na sua adaptação. Há uma diversidade funcional,
ele usa os órgãos de forma diferente, nem melhor, nem pior, que
a maioria falante.
O hemisfério direito do cérebro é responsável pelas
organizações espaciais e o hemisfério esquerdo é responsável
pela Linguagem humana. Contudo, um grande equívoco é achar
que, por as Línguas de Sinais serem Línguas vísuoespacias, elas
não seriam verdadeiramente Línguas, devido ao que estariam
automaticamente sendo processadas pelo hemisfério direito.
Estudos de Bellugi e Klima, realizados em 1990,
comprovaram que Surdos que tiveram lesões no hemisfério
esquerdo não conseguiam processar informações Linguísticas
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corretamente (em LS, bem entendido); porém, tendo as suas
informações espaciais mantidas intactas. Isso comprovou que
as Línguas de Sinais também são processadas, como qualquer
outra Língua, no hemisfério esquerdo.
O registro iconográfico de Línguas de Sinais mais antigo
encontrado até hoje é do ano de 1579, em Veneza, e extraído da
obra de Cosmos Rosselius, com a representação de um alfabeto
digital feita numa gravura em madeira.
Foi através dos monges católicos no século XVII da Espanha
que os Surdos passaram a fazer uso de um alfabeto manual
durante as aulas de alfabetização. Os monges faziam uso deste
tipo de comunicação nos mosteiros, por causa do voto do silêncio.
Mas, veja bem, o uso dos monges era de um falante que usa
sinais. Ao caírem nas mãos dos Surdos, esses sinais são como
um vírus de Linguagem, que desenvolve milhões de processos
diferenciadores, gerando uma estrutura Linguística, quase que
infinitamente mais rica.
A primeira publicação de um alfabeto manual foi feita por
Juan Pablo Bonet em 1620, no livro Reducción de las letras y arte
para ensenãr a hablar a los mudos, que foi a primeiro obra conhecida
sobre Surdos.
Na Franca, em 1750, o abade Charles de L´Epée, ao fundar
uma classe para pessoas Surdas, criou um método de Linguagem
de gestos, denominada “A Linguagem de Sinais Metódicos”.
Esse, que era diferente do já citado alfabeto manual usado pelos
monges através do voto do silêncio (um costume até hoje usual
nos mosteiros), possuía códigos com significados, e cada gesto
representava uma palavra ou até mesmo uma frase. Em seguida,
o abade Sicard, discípulo do abade L´Epée, foi quem escreveu o
primeiro dicionário de Língua de Sinais do mundo.
A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS é a Língua natural e
de modalidade vísuoespacial desenvolvida pela comunidade
Surda brasileira, conhecida com as siglas LIBRAS ou LSB. A
LIBRAS é uma Língua que independe da Língua portuguesa.
Nela também se apresentam os dialetos regionais e as gírias, como
em qualquer outra forma de Língua.
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A LIBRAS foi reconhecida com status de Língua natural e
segunda registrada no Brasil após a Língua portuguesa, pela Lei
da LIBRAS nº 10.436 (24/04/2002)25 , e se tornou disciplina
obrigatória nos cursos de licenciatura, pelo Decreto da LIBRAS
nº 5.626 (22/12/2005).26
Nele, é garantido que a LIBRAS é reconhecida com o status
de Língua natural do Surdo brasileiro, o qual tem direito a uma
educação bilíngue, e a ter um tradutor e intérprete de LIBRAS,
que o mediará, garantindo-lhe o direito de exercer a sua Língua.
O decreto reza ainda que a LIBRAS é disciplina obrigatória na
formação de professores e demais áreas profissionais.
Há ainda a Lei nº 8.213 (24/07/1991) da Organização
Internacional do Trabalho OIT, que expande o mercado do
trabalho para os Surdos, professores e demais profissionais
bilíngues.27
O primeiro registro da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS
é do ano 1875, e é intitulado Iconographia dos Signaes dos SurdosMudos. Ele foi produzido por Flausino José Gama, ex-aluno do
Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES. O original
da obra está na Biblioteca Nacional, com uma cópia na Biblioteca
Museu do INES.
Os estudos das Línguas de Sinais pela Linguística se iniciaram
por volta de 1960, com o linguista norte-americano William
Stokoe28 (1919-2000), que inventou um sistema de notação
(“Stokoe notation”), e o conceito de “querologia” (“cherology”),
o equivalente de “fonologia” para as Línguas de Sinais.
Desde essa época houve um grande crescimento sobre as
investigações das Línguas de Sinais na parte da aquisição natural,
estrutura, uso e funcionamento.
As Línguas de Sinais expressam conceitos abstratos, com
riqueza e complexidade, como qualquer outra Língua oral, e
podem falar de quaisquer assuntos, como política, física, filosofia
etc. Na verdade, as Línguas de Sinais têm a sua própria forma de
expressar os conceitos na sua estrutura, que é visual.
A arbitrariedade dos sinais nas Línguas de Sinais comprova o
conceito de que elas obedecerão às características do sinal do
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grupo, que irá identificá-lo. Isso anula o conceito de que os sinais
são apenas icônicos e gestuais.
Os gestos estão inseridos em qualquer modalidade de Língua,
eles são anteriores à palavra oral e são importantes para a
provocação do exercício da Linguagem. Os gestos compõem o
exercício da Linguagem humana. Gestuais auxiliares são sistemas
auxiliares que se associam aos sinais para estabelecer uma
comunicação em pantomima.
Muitos questionam como podem Surdos de diferentes países
conversarem livremente entre si, e, às vezes, até pensam que
eles estão utilizando as suas Línguas de Sinais de origem. Mas
isso não é como parece ser! Esses Surdos não estão dialogando
em suas Línguas de Sinais, mas em gestuno ou pantomima.
O gestuno (Língua Gestual Internacional - LGI ou Língua
Internacional de Sinais, aqui no Brasil) é uma Linguagem auxiliar
internacional, muitas vezes usada pelos Surdos em conferências
internacionais ou informalmente, quando eles viajam para outros
países. Ela é para as Línguas de Sinais como as tantas tentativas
de Línguas Internacionais inventadas, que são dezenas, nas quais
se destacam o Esperanto, o Volapuque e a Interlíngua, sendo
que o gestuno “deu certo”, isto é, tem sido consistentemente
utilizado em encontros internacionais de Surdos, o que já não
acontece com tanta regularidade nos casos das Línguas orais
internacionais inventadas.
Mas o gestuno não é considerado uma Língua, já que não
possui uma gramática apropriada. Ele utiliza os sinais com a
gramática de qualquer uma das Línguas de Sinais existentes. É
utilizada em reuniões internacionais de Surdos. Perceba a força
dessa afirmação: somente os Surdos desenvolvem características
visuais tão peculiares para a produção do gestuno.
Há também o signuno, que é um código gestual do Esperanto,
derivado do gestuno29. Veja seu alfabeto, como nos é mostrado
pelo site Wikipedia, e que contém sinais especiais e caracteres
do Esperanto:30
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Vamos pedir emprestadas (adaptadas) à professora Heloísa
Maria Moreira Lima Salles as suas explicações, sobre o sistema
de Transcrição para a LIBRAS, que é uma forma de utilizar a
escrita (no nosso caso, adaptada da Língua portuguesa) para
representar graficamente os sinais da LIBRAS.
A transcrição da Língua de Sinais para a Língua
Portuguesa possui peculiaridades que facilitam no
momento em que o leitor ou transcritor se depara
com a mesma.
Tal sistema diferentemente do que se pensa
atualmente não é o Sign Writing (Escrita de Sinais),
mas palavras da Língua Portuguesa, onde os itens
lexicais são apresentados em letras maiúsculas.
Podemos citar alguns exemplos:
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1. Se um sinal corresponder a duas palavras
(composta) na Língua Portuguesa devemos separálas com hífen. Ex.: GUARDA-ROUPA.
2. Se dois ou mais sinais correspondem a uma única
palavra na Língua Portuguesa deve-se usar o sinal
de igualdade e o acento circunflexo unindo ambas
para representá-las. Ex.: CAVALO^LISTRA=
ZEBRA.
3. Em casos de transcrição de palavras em
Datilologia a mesma deve ser apresentada separada
por hífen. Ex.: C-O-N-T-I-N-E-N-T-E.
4. Se ocorrer um empréstimo da Língua
Portuguesa para a LIBRAS a palavra deverá
aparecer em itálico. Ex.: NUNCA.
5. A LIBRAS não apresenta desinência de gênero
e número. As palavras em Língua Portuguesa que
as possuem deverão ser transcritas com o símbolo
@ (arroba) no lugar da desinência. Ex.: EL@ (ela
ou ele), ME@ (meu ou minha).
6. Não há restrições para utilizar os sinais de
pontuação da Língua Portuguesa, desde que
estejam empregados corretamente.31
Segundo Nídia Regina Limeira de Sá, a importância do
aprendizado da LIBRAS é relevante para se traçar um modelo
de projeto político pedagógico e efetivar concretamente uma
verdadeira educação bilíngue para alunos Surdos. E, para que
isso ocorra, apresenta os seguintes itens que podem ser
explorados: 1) o abandono da ideologia “terapêutica”, e a
aproximação de novos paradigmas socioculturais; 2) a
problematização da diferença, na luta do sentido dos termos
“diversidade” e “diferença”; 3) a criação de escolas específicas
para Surdos; 4) a viabilização de um ambiente linguístico
adequado para Surdos; 5) o cultivo de relações culturais com a
comunidade Surda; 6) o currículo pensado a partir da cultura e
da ciência Surda; 7) uma educação para a vida na sociedade e do
conhecimento sobre a comunidade Surda.32
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Essas propostas reforçam que o aprendizado da LIBRAS
acentua a necessidade de que profissionais da educação e demais
áreas reconheçam as especificidades próprias das Línguas de
Sinais, e, ainda, a metodologia apropriada para o ensino de alunos
Surdos, de acordo com a proposta bilíngue. A efetivação do
método bilíngue para educação de Surdos deve ser de
responsabilidade dos gestores educacionais, que devem
implementá-la em seus programas pedagógicos, bem como
viabilizá-la na escola bilíngue para Surdos.
Como as Línguas orais, as Línguas de Sinais também podem
ser aprendidas. Assim, crianças Surdas ou filhos ouvintes de pais
Surdos podem aprender suas Línguas de Sinais em qualquer parte
do mundo. Esses Surdos e ouvintes são considerados nativos em
Línguas de Sinais. E filhos de pais Surdos são denominados
bilíngues (pois transitam em duas Línguas: orais e sinais) e
biculturais (já que transitam em duas culturas: a ouvinte e a Surda).
Como já dissemos, mas é importante frisar, as Línguas de
Sinais são Línguas de modalidade vísuoespacial , não se escrevem
(ágrafas) e são Línguas naturais, oriundas das comunidades
Surdas e das experiências visuais dessas comunidades. Elas são
manifestações Linguísticas naturais, fazendo parte do mundo
simbólico, cultural e linguístico das pessoas Surdas, que
compartilham uma Língua visual.
Em 1974, Valerie Sutton, da Universidade de Copenhague,
na Dinamarca inventou o Sign Writing, que foi criado para
registrar qualquer movimento humano, e até mesmo de animais
e insetos. É um sistema de escrita visual direta de sinais, e é
capaz de transcrever as propriedades sublexicais das Línguas de
Sinais (os quiremas e os parâmetros). O Sign Writing permite
uma descrição detalhada dos quiremas de uma Língua de Sinais
e com um registro preciso dos sinais que resultam de sua
combinação.
O sistema compreende cinco divisões: A Dance Writing para
registrar a coreografia de danças; a Sign Writing para registrar as
Línguas de Sinais; a Mime Writing para registrar a mímica e a
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pantomima clássica; a Sports Writing para registrar a ginástica, a
patinação e o caratê e o Science Writing para registrar a
fisioterapia, a Linguagem corporal e os movimentos de animais
e de insetos.
Há uma corrente da comunidade Surda que defende a
importância do ensino desse sistema, junto com o letramento
para crianças Surdas. Já outros acreditam que o sistema tem a
sua importância apenas para os estudiosos da Linguagem.
Para alguns desconhecedores, o estudo fonológico das Línguas
está relacionado apenas ao da sonoridade. Porém, o estudo
fonológico é relacionado não ao som, mas à menor unidade sem
significado (material) de uma palavra ou de um sinal.
O fonológico é tão presente nas Línguas orais quanto nas
Línguas de Sinais.
As unidades distintivas mínimas sem significado nas Línguas
orais são classificados como fonemas e nas Línguas de Sinais há
os quiremas, do grego “queiros” (χειρος), que significa “mão”.
Como qualquer outra Língua oral, as Línguas de Sinais também
possuem os seus níveis gramaticais: (1) o quirológico, que opera
com o quirema (e que corresponde ao fonológico, que opera com
o fonema, nas Línguas orais auditivas); (2) o morfológico, que
opera com o morfema e a palavra; (3) o sintático, que opera com
a lógica e a organização da frase; (4) o semântico, que opera com
o significado; e (5) o pragmático, que opera com o sentido (o uso
dos significados e sua inserção no contexto).
Assim, como nas Línguas orais, as palavras são formadas a
partir de regras pré-estabelecidas pela gramática. Nas Línguas
de Sinais os processos de formação de sinais são denominados
de parâmetros. Os cinco parâmetros das Línguas de Sinais são:
1- Configuração das mãos: as formas das mãos
que podem ser usadas na datilologia (alfabeto
manual), em outras formas feitas por uma ou pelas
duas mãos do sinalizador. Quando o sinal é feito
com duas mãos pode ter a mesma configuração
de mão ou configurações diferentes.
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2 - Ponto de articulação: o lugar onde a mão
predominante pode estar tocando alguma parte
do corpo ou estar em um espaço neutro vertical
(do meio do corpo até a cabeça) e horizontal (à
frente do emissor).
3 - Movimento: os sinais podem implicar ou não
em um movimento.
4 - Orientação: os sinais têm uma direção e um
sentido.
5 - Expressão facial e corporal: muitos sinais têm
a expressão da face e/ou do corpo como mais
um traço diferencial.
Há sinais usando também os lábios, a Língua, a bochecha e o
queixo. Essa é uma grande demonstração (e inclusive prova) de
que as Línguas de Sinais não podem ser realizadas
concomitantemente com a Língua oral.
Nas Línguas de Sinais, os classificadores são configurações
das mãos que, relacionados à coisa, pessoa e animal, funcionam
como marcadores, na concordância verbal, dando maior ênfase
ao contexto.
Nas Línguas orais-auditivas, os classificadores podem se
manifestar de várias formas, como:
- uma desinência, como as do Português, Língua que classifica
os substantivos e adjetivos em: masculino e feminino: menin(A)menin(O); singular e plural: menina(S)-menino(S);
- uma partícula, que se coloca entre as palavras: cara-de-pau;
- desinências (modo temporal e número pessoal) que se
acrescentam ao verbo, para estabelecer flexão (modo/tempo/
número/pessoa): am-á-va-mos;
- atribuir uma qualidade a uma coisa, através de um adjetivo
ou de locução adjetiva: arredondado, quadrado, cheio de bolas,
de listras, etc.
Os classificadores nas Línguas de Sinais substituem o nome
que as precedem, e vêm junto ao verbo para classificar o sujeito
ou o objeto, que está ligado à ação do verbo.
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Os classificadores nas Línguas de Sinais são marcadores de
concordância de gênero, pessoa, animal ou coisa. Eles
representam, através da concordância, uma característica desta
pessoa, animal ou coisa, que está sendo referida, ou o objeto da
ação verbal.
Há também verbos que possuem concordância de gênero e
são chamados de verbos classificadores, porque concordam com
o sujeito da frase. Como por exemplo, os verbos CAIR e
ANDAR/MOVER que, dependendo do sujeito da frase, terão
um classificador próprio para concordar com pessoa, animal ou
coisa.
Há muitos sinais que são invariáveis, e que, somente num
determinado contexto e movimento, podem ser utilizados com
a função de substantivo ou de verbo, pois alguns dos pares
apresentam uma diferenciação em relação aos seus parâmetros.
Vamos fazer uma ilação que é muito ousada, e apenas a
insinuamos aqui, mas, tal procedimento do sistema das LS as
aproximaria das Línguas ideográficas como o Chinês; talvez, pela
posição intercambiável das classes de palavras, e também pelos
tons, que, no nosso caso, corresponderiam a inflexões e
expressões.
As duas Línguas, de sinais e a oral, possuem meios para
expressar emoções, sensações, sentimentos e sentidos. Na
LIBRAS, as expressões faciais e corporais são de suma
importância para que a mensagem possa ser corretamente
inferida, pois existem sinais que contextualizam diversos
momentos, apenas com a mudança de expressão facial.
Quando não há o uso correto das expressões faciais e corporais
na produção do discurso em LIBRAS, a mensagem não está sendo
bem transmitida, e por isso não cumpre com o seu objetivo
primordial, que é de informar e/ou expressar.
A palavra sem o som é como um sinal sem a expressão.
Ambos se complementam: sinal e expressão. Assim, não
adianta utilizar o alfabeto como parte intrínseca da LIBRAS, se
não houver execução das diversas expressões faciais e corporais.
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O alfabeto e as configurações de mãos só têm a sua
funcionalidade quando estão intrínsecos com as expressões.
As expressões faciais e corporais são adquiridas ao longo do
tempo e aprimoradas, mediante o contato do ouvinte com os
Surdos. É por isso que, quando um ouvinte tenta expressar algo
em sinais, sem a devida expressão correta, o Surdo percebe que
ele não tem afinidade com a Língua de Sinais e nem com a
comunidade Surda, pois a sua Língua é expressiva, e aquele
sujeito ali não o está sendo.
A beleza das expressões faciais e corporais são comparadas
às sonoridades das Línguas de sinas. Por caminhos diferentes, os
sinais e os sons cumprem com o mesmo objetivo: a produção da
beleza durante o discurso.
Alfabeto de LIBRAS:
Números em LIBRAS:
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CAPÍTULO 4
A CULTURA SURDA
Tais Línguas são naturais internamente e externamente, pois
refletem a capacidade psicobiológica humana para a Linguagem e porque
surgiram da mesma forma que as Línguas orais – da necessidade
específica e natural dos seres humanos de usarem um sistema linguístico
para expressarem ideias, sentimentos e ações. As Línguas de Sinais são
sistemas linguísticos que passaram de geração em geração de pessoas
Surdas. São Línguas que não se derivam das Línguas orais, mas
fluíram de uma necessidade natural de comunicação entre pessoas que
não utilizam o canal auditivo-oral, mas o canal espaço-visual como
modalidade Linguística.
(Ronice Muller de Quadros) 33
Você pode retratar com exatidão a origem de uma Língua?
Isso é impossível, pois a Língua é um ato social e por mais que
se possa identificar a sua funcionalidade, nunca se poderá
determinar a sua origem.
Porém, a única certeza que se tem, através das diversas
pesquisas da Linguística, é que a Língua é produto da relação
humana, comprovando, assim, a existência da sua racionalidade,
porque Linguagem, Língua e fala se fundem.
Mas qual é a funcionalidade da Linguagem humana?
É a comunicação e a expressão do pensamento, dos sentimentos
e dos desejos, bem como articulação de ações sociais.
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É por isso que deve ficar claro que a Linguagem humana se
diferencia da comunicação animal.
A Linguagem humana é um fenômeno psíquico, complexo
em sua evolução, produzido no cérebro e que é socialmente
articulado. Ninguém a pega, a prende. Mas, se pode atrasá-la no
seu livre e natural desenvolvimento, no indivíduo, na sua mente.
A Língua é parte fundamental para a construção dos
significados do ser humano, é um processo de cognição, que
resultará no desenvolvimento dos conhecimentos de si e do
mundo.
Então, não confundamos a Linguagem humana com outras
formas de Linguagem, como quando se tentar estabelecer uma
comparação com a comunicação dos animais, ou com os códigos
artificiais, entre outras.
Para pesquisadores da Linguagem, há um período crucial de
desenvolvimento e de maturação cerebral para o pleno
desenvolvimento da Linguagem, que pode variar dos sete aos
catorze anos, que é a época quando o sujeito deve ser exposto e
estimulado pelos contatos sociais e de Linguagem.
Caso contrário, se isso não acontecer, ou for pouco
desenvolvido, ocorrerá um atraso de Linguagem, que pode ser
irreversível. Tal realidade de atraso de Linguagem é fatal tanto
para um ouvinte quanto para um Surdo.
O certo é que ninguém tem aulas particulares ou de
reabilitação de Linguagem humana. Ela é um processo natural e
fenomenológico, que a mentalidade humana experimenta, no seu
dia-a-dia, desde o seu nascimento. Sem o desenvolvimento da
Linguagem, o pensamento estaria condicionado a um estado de
inércia.
Há um caso que intriga o mundo há anos, e parece sempre
será um mistério, tendo inclusive gerado o filme Jeder für sich und
Gott gegen alle (O enigma de Kaspar Hauser, 1974, do diretor alemão
Werner Herzog):
Kaspar Hauser (provável 30 de Abril de 1812
- 17 de Dezembro de 1833 em Ansbach,
Mittelfranken) foi uma criança abandonada, envolta
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em mistério, encontrada na praça Unschlittplatz em
Nuremberg, Alemanha do século XIX, com
alegadas ligações com a família real de Baden.
Hauser passou os primeiros anos de sua vida
aprisionado numa cela, não tendo contato verbal
com nenhuma outra pessoa, fato esse que o
impediu de se expressar em um idioma. Porém,
logo lhe foram ensinadas as primeiras palavras, e
com o seu posterior contato com a sociedade, ele
pôde paulatinamente aprender a falar, da mesma
maneira que uma criança o faz. Afinal, ele havia
sido destituído somente de uma Língua, que é um
produto social da faculdade de Linguagem, não
da própria faculdade em si. A exclusão social de
que foi vítima não o privou apenas da fala, mas de
uma série de conceitos e raciocínios, o que fazia,
por exemplo, que Hauser não conseguisse
diferenciar sonhos de realidade durante o período
em que passou aprisionado. /.../34
Fatos verídicos de bebês humanos que foram criados por
animais (lobas ou macacas), nas florestas, e que são retratados
em livros, e adaptados depois para o cinema, como o caso de
Mogli (O livro da selva, de Rudyard Kipling) e do Tarzan (uma
série de obras de Edgar Rice Burroughs, como Tarzan, o filho da
selva), na verdade não aconteceram como a literatura e os filmes
nos mostram, um homem normalmente socializado, construindo
uma casa nas árvores, integrado enquanto humano à natureza e
aos animais.
O que se viu na verdade foram crianças que, ao se lhe abrirem
as janelas cognitivas (trilhas neurais, geneticamente
programadas para se constituir na infância, para propiciar o
aprendizado da criança de cultura e língua), não estando elas
entre humanos, adotaram a comunicação e os modos dos
animais. Não conseguem se comportar ou falar como homens,
nem se socializar, quando são encontradas e trazidas para a
civilização.
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São inúmeros casos, sempre acontecendo com lobas e
macacas, que adotam bebês humanos (Kipling e Burroughs se
inspiraram em fatos reais, vale repetir). Podemos citar, para
exemplificar:
Amala e Kamala, também conhecidas como as
meninas lobo, foram duas crianças selvagens
encontradas na Índia no ano de 1920. A primeira
delas tinha um ano e meio e faleceu um ano mais
tarde. Kamala, no entanto, já tinha oito anos de
idade, e viveu até 1929. Elas eram como lobos
crianças, muito estranhas, mas com uma história
interessantíssima. Suas idades presumíveis eram de
2 e 8 anos. Deram-lhes os nomes de Amala e
Kamala, respectivamente. Após encontrá-las, o
Reverendo Singh levou-as para o orfanato que
mantinha na cidade de Midnapore. Foi lá que ele
iniciou o penoso processo de socialização das duas
meninas-lobo. Elas não falavam, não sorriam,
andavam de quatro, uivavam para a lua e sua visão
era melhor à noite do que de dia. /.../35
A Linguagem humana irá requerer a modalidade de percepção
e produção, seja a oral-auditiva, ou seja a vísuoespacial . Sem o
fenômeno da Linguagem, você não poderia articular uma Língua,
e nem entender todos esses conceitos.
A Língua humana sempre traz, historicamente, um legado
como um instrumento de poder e de submissão de grandes
civilizações.
A ideia da retórica (a arte de usar uma Linguagem para
comunicar de forma eficaz e persuasiva), nascida na Sicília (Século
V a. C.), foi ainda mais difundida na Grécia pelo filósofo
Aristóteles, fazendo com que a Língua do ouvinte se tornasse a
supremacia única e eficaz para exprimir o conhecimento através
de uma perfeita expressão oral.
O que dava a entender que, se alguém não compartilhasse a
mesma forma de comunicação, seria considerado um sujeito sem
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capacidade ou competência comunicativa, dando origem ao
depreciativo termo “Surdo-mudo”.
Vejam o abSurdo: ele não ouve, então, ele não pode falar.
O próprio pensador não considerava que os Surdos fossem
capazes de receber educação, pois, para ele, esses indivíduos
não tinham raciocínio e não tinham possibilidade de acesso a
qualquer forma de conhecimento.
O certo é que a história comprova que o Surdo é o único
sujeito que já nasce numa sociedade, sem o direito de expressar
a sua Língua (de Sinais)!!
É preciso diferenciar, então, a língua como órgão do corpo,
da Língua como a expressão do pensamento.
Somente o ser humano tem as condições neurológicas e
habilidades Linguísticas para adquirir uma Língua, pois a Língua
é que diferencia os seres humanos dos outros animais. As Línguas
expressam os pensamentos, as emoções etc. de um determinado
grupo, sendo depositárias de diferentes culturas.
As Línguas desempenham uma funcionalidade imediata nas
comunicações humanas e ajudam a organizar o mundo.
Pode-se definir a Língua como um sistema de signos que são
relacionados estruturalmente com intuito de gerar os significados
através da codificação e da decodificação. A Língua é uma
realidade que está entre nós, na coletividade. Ela é constituída
arbitrariamente, por convenções sociais e contribui para as
transformações sociais. Seja falada ou Língua de Sinais.
A Língua como estrutura deve ser aprendida e isso requer o
letramento da mesma, se essa for de modalidade escrita. O
letramento da Língua é oferecido na escola. Contudo, já chegamos
à escola utilizando uma Língua, ou melhor, dizendo e pensando
numa Língua.
É por isso que se pode afirmar que Língua é o sujeito e um
sujeito é a Língua. Realidade essa que não se pode desassociar.
Quem é você? Você é uma Língua, pois somente esse instrumento
através da Linguagem pode situá-lo em você mesmo. A Língua
nasce com o sujeito!
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É nessa maneira de pensar uma Língua que se pode entender
o que seja uma Língua natural.
Língua natural é o que a Linguística define como sendo todo
o sistema linguístico que é geneticamente desenvolvido
naturalmente nos seres humanos, sem a intromissão e influência
de qualquer fator externo para a sua aquisição, que se dará através
do fenômeno da Linguagem.
Segundo as pesquisas da Linguística, uma Língua natural
possui os seguintes traços: flexibilidade e versatilidade;
arbitrariedade; descontinuidade; criatividade e produtividade;
dupla articulação; padrão e dependência estrutural. Os traços
únicos de padrão e dependência estrutural são próprios das
Línguas humanas.
Então, Língua natural é a Língua interna ou materna de um
determinado indivíduo, e é classificada como primeira Língua
(L1). Sendo assim, não é possível conceber duas Línguas naturais
ao mesmo tempo, em um determinado indivíduo. Ele sempre irá
pensar em apenas uma única Língua ou primeira Língua (L1) e
poderá adquirir uma segunda Língua (L2) ou (L3), (L4), (L5) e
demais, mas essas serão sempre denominadas de Línguas
artificiais. Por exemplo: você desde que nasceu aprendeu a falar
o Português do Brasil, que é a sua primeira Língua, ou Língua
materna (L1). Mas você pode estudar outras, que se tornarão
Línguas a mais para você. Sendo assim, se você as aprender,
você falará, ao lado da Língua Portuguesa (L1), a Língua Inglesa
(L2), a Língua Francesa (L3), a Língua Alemã (L4), a Língua
Grega (L5) etc.
Daí você entende que, quando um Surdo é submetido a
tratamentos terapêuticos e de reabilitação, ditos de “Linguagem
oral”, e realizados por um ouvinte, ele não está tendo a
oportunidade de adquirir a sua Língua natural de sinais com seus
pares linguísticos (outros Surdos), gerando, como consequência
um sério atraso no seu desenvolvimento cognitivo em Língua de
Sinais, como os estudos comprovam. É como se bagunçasse logo
de início um período fundamental para a aquisição de uma
Língua natural.
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A Língua natural do Surdo deve ser sempre a Língua de Sinais,
e se ele for exposto a ela o mais cedo possível se sentirá
confortável, por ela ser adquirida por ele, naturalmente, através
da via visual.
Você precisou ser submetido a algum tratamento terapêutico
e de reabilitação para adquirir a sua Língua oral naturalmente?
O Surdo sempre foi submetido, por questões ideológicas.
Isso foi devido à teoria ouvintista (conjunto de conceitos que
trazem a ideia de que ouvir e oralizar é superior a qualquer outra
forma de comunicação, sendo um modelo de normalidade e de
normatização social), que difundiu que o ato de ouvir e oralizar
é natural e ser um Surdo é que é anormal, prejudicial, doentio.
Então, por qual motivo o Surdo não teria o direito de também
adquirir a Língua de Sinais naturalmente?
Estudos comprovam que os defensores dos tratamentos
terapêuticos e de reabilitação oral de crianças Surdas influenciam
diretamente a família de Surdos, sendo um dos primeiros
diagnósticos receitados para a fragilizada família, o de não
optarem pelo contato com a Língua de Sinais.
Para esses terapeutas, o contato com a Língua de Sinais
acarretará num atraso na aquisição de Língua oral para essa
criança, mesmo sabendo que essa aquisição é impossível, por
ser tratar de uma criança Surda.
Independente do grau da perda auditiva, uma perda auditiva
sempre será uma perda auditiva!
Os tratamentos terapêuticos de reabilitação se estendem por
anos em clínicas especializadas, ultrapassando até mesmo o
período de maturação de Linguagem, segundo alguns
pesquisadores, e fazendo com que essa criança apenas
desenvolva a capacidade de repetir sons para a formulação de
palavras orais através de métodos repetitivos, o que se diferencia
totalmente de contatos sociais com os seus pares linguísticos,
através uma Língua comum e acessível a eles.
O mais lamentável é que, alcançando um nível máximo de
produção de tais palavras orais segundo a concepção do terapeuta
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e sem a possibilidade de continuar o tratamento, ele aconselhará
a família a expor o Surdo à Língua de Sinais - tardiamente.
Tal atitude contribui para que haja um atraso na aquisição
natural da Língua de Sinais, gerando uma verdadeira
descaracterização nesse processo na mente da criança e
contribuindo para resultados negativos e irreversíveis para que
o Surdo possa ter habilidades em expor o pensamento e
posteriormente na produção escrita da Língua oral.
Quando se trata de fala, sempre é um ter mo que é
condicionado à ideia de produção de uma Língua sonora, que
utiliza a prega vocal. Ou seja, para os desconhecedores, “falar”
é um verbo utilizado apenas para os que compartilham uma
Língua oral e nunca para os Surdos que compartilham uma Língua
de Sinais.
Contudo, a fala é a manifestação, a expressão e a realização
concreta de uma determinada Língua feita por um indivíduo. E,
sendo um ato individual, a fala pode ser de modalidade oralauditiva, no caso dos ouvintes com uma fala oral, que utiliza o
som, ou vísuoespacial, com a fala em sinais, que utiliza o sinal,
no caso dos Surdos.
São expressões de Línguas e de falas diferentes!
Com isso, para aqueles que ainda questionam se o Surdo fala
ou filosofa, a resposta é que ele utiliza a sua fala em Língua de
Sinais, pois é nessa Língua que ele expressa o seu pensamento e
a sua visão de mundo.
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CAPÍTULO 5
A IDENTIDADE SURDA
/.../ é permanentemente obscurecida pelo discurso de
deficiência; discurso que oculta, através de seu parente
cientificismo e neutralidade, o problema da identidade, a
alteridade e, em síntese, a questão do Outro, da sua existência,
da sua complexidade, dos seus matizes /.../
(Carlos Skliar)36
Mário é um menino Surdo, que faz o ensino em uma escola
do município do Rio de Janeiro, em uma época na qual não havia
ainda a política da inclusão, e o uso de Línguas de Sinais pelos
alunos era reprimido, dentro da escola.
Ele insiste em se comunicar, dentro da sala de aula, usando
LIBRAS, e a professora sempre tenta convencê-lo a não fazer
isso, inclusive com castigos.
Como o menino teima em tentar se comunicar com Sinais,
ela chama o responsável para dar queixa ele; no caso, a ela, a
mãe do garoto. Quando ela chega para falar com a professora,
esta percebe o quanto tinha sido estúpida. A própria mãe de
Mário era Surda, e usava a Língua de Sinais também, ao se
comunicar com a professora.
A mãe de Mário era Surda, também.
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Mas, outros meninos e meninas Surdos têm pai e mãe, e toda
a família, ouvintes. E, em muitos casos, esses familiares nunca
dizem “eu te amo” para o Surdo, nem uma vez. A desculpa dada
é que ele não iria entender, pois não sabe ler lábios. A verdade é
que as pessoas têm medo do diferente, da diversidade.
Sem saber ler lábios nem falar com LIBRAS, qualquer filho
entenderia quando a mãe o pai lhe dissessem, com carinho, eu te
amo.
Entender o conceito de cultura é fundamental para que você
possa apreender o que significa o conceito de cultura Surda. Para
Carlos Skliar, o respeito à Língua das diferentes comunidades
Surdas é crucial, para que ocorra o desenvolvimento do Surdo,
como um sujeito bicultural e bilíngue, ou seja, que transita entre
duas culturas e duas Línguas: a dos Surdos e a dos ouvintes.
Cultura pode ser definida como um conjunto de atividades e
modos de agir, costumes e instruções de um determinado povo,
e é o meio pelo qual o homem se adapta às condições de existência
e transforma a sua realidade.
Reconhecemos em toda parte culturas de minorias
Linguísticas: entre nós, brasileiros, os alemães, os chineses, os
italianos etc., que vieram residir no país e que mantêm os seus
costumes vivos, com uso de suas Línguas nativas; porém, eles
ainda sofrem discriminações, devido ao uso de suas Línguas
correntes, sendo sua uma luta pelo direito ao uso das mesmas. O
mesmo acontece com tantas comunidades indígenas do Brasil.
A construção da identidade e da autoimagem do Surdo
depende de vários fatores, como, por exemplo, a qualidade de
sua comunicação e da sua representação social em relação ao
seu meio. Essa qualidade na comunicação é associada à cultura
Surda, que é escrita com “S” maiúsculo, para designar uma
identidade Surda por utilizar uma Língua de Sinais.
É certo que identidade não é algo que se aprende, mas que se
constrói, sendo considerada como um conjunto de caracteres
próprios e exclusivos com os quais se diferenciam pessoas,
animais, plantas e objetos inanimados uns dos outros, quer diante
do conjunto das diversidades, ou quer perante seus semelhantes.
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A realidade Surda não é diferente, pois, os Surdos são os únicos
construtores da sua identidade, sendo os seus benfeitores entre
si, promovendo o crescimento do conjunto de características que
servirá para ampliar a visão de identidade Surda, onde o discurso
da comunicação em Língua de Sinais é o fator que fortalece o
laço identitários entre os seus pares Surdos.
A conceituação do que seja uma identidade ou uma identidade
Surda interessa a vários campos de conhecimento, como a
História, a Sociologia, a Antropologia, o Direito, a Psicologia, a
Linguística etc., o que gera diferentes definições, conforme o
enfoque que se lhe dê, podendo ainda haver uma visão de
identidade individual ou coletiva, falsa ou verdadeira, presumida
ou ideal, perdida ou resgatada.
Entender a identidade Surda é percebê-la provida através da
interação do Surdo com outros Surdos desde a infância, sendo
essa relação dinâmica e transformadora em suas ações para o
desenvolvimento das suas lutas e anseios como classe, ou como
um povo, para que os Surdos perpetuem a identidade Surda,
dentro das diversas práticas sociais.
Além das influências clínicas, da concepção da surdez
entendida como deficiência para pais de crianças Surdas, há os
problemas enfrentados por crianças Surdas filhos de pais ouvintes,
diferentemente das crianças Surdas filhas de pais Surdos.
Tais situações podem provocar o não desenvolvimento natural
de uma identidade Surda, já que essa criança não é exposta desde
cedo aos fatores sociolinguísticos das comunidades Surdas. Sendo
necessário e urgencial o envio dessa criança à comunidade Surda,
o quanto antes, para fortalecimento de sua identidade.
A identidade Surda não é construída ao acaso, mas com o
encontro de seus pares linguísticos Surdos. A conscientização
de uma identidade Surda é fundamental para o desenvolvimento
desta desde a infância, e a família tem o papel fundamental para
promover previamente o contato do filho Surdo com a
comunidade Surda, pois é na comunidade que ocorrerá o
confronto das narrativas Surdas. Infelizmente, ainda é bastante
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acentuado o desconhecimento de Surdos em torno de sua própria
concepção do que seja uma identidade Surda.
A história dos Surdos se associa aos vários relatos de exclusão
como usuários de uma Língua de minoria, a Língua de Sinais,
considerada como uma Língua natural e estrangeira dentro do
próprio país de origem e uma mímica para os desconhecedores.
Tudo isso, pelo simples fato de serem Surdos e não
compartilharem o uso de uma Língua majoritária dos ouvintes, a
Língua oral.
Contudo, infelizmente quando um sujeito nasce com
deter minadas características físicas, motoras, sensoriais,
intelectuais e mentais, ele já recebe um Cadastro Internacional
de Doença denominado CID, que servirá para cadastrá-lo nos
programas de benefícios sociais. Por mais que gerem ações
beneficitárias, o CID ainda contribui para manter uma visão
simplista e biológica do sujeito, considerando-o como um doente,
um deficiente.
As diversas teorias difundidas pela visão clínica em relação
ao Surdo e propagadas por correntes terapêuticas e de reabilitação,
também reforçaram muitos dos estigmas, que, até hoje, são
difundidos nas sociedades, entre os quais se mantém o de
deficiente, o de portador de doenças e, infelizmente, o de “Surdomudo”.
A perda auditiva ou surdez ocorre no canal auditivo e nada
tem a ver com disfunção da prega vocal (comumente conhecida
como “cordas vocais”, onde se produz a fala). São canais distintos
e com funções distintas.
É por ignorância que Surdo é denominado Surdo-mudo, pois
só possui perda auditiva, e não apresenta a incapacidade de
produzir o som, sua prega vocal está preservada. E se o Surdo
não utiliza uma Língua oral, que é foneticamente sonora, é porque,
naturalmente, ele não a escuta. O Surdo, que é confundido com
um mudo, é um Surdo oralizado, ou um Surdo sinalizado, e não
um Surdo-mudo.
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Surdo é a pessoa que nasce com perda auditiva, sua prega
vocal pode estar em perfeito estado, mas, seu aspecto neurológico
é visual-espacial, utiliza a Língua de Sinais e se reconhece como
membro de uma comunidade Surda.
Ensurdecido é aquele ouvinte que perde a capacidade de ouvir
no decorrer da vida.
Mudo é a indivíduo que nasce com algum defeito na prega
vocal que o impede de emitir sons. Caso raríssimo nos estudos
clínicos.
Já o emudecido perdeu a capacidade de emitir som, devido a
algum fator adquirido que afetou a prega vocal.
Você conseguiria realizar as mesmas tarefas dos atletas
paraolímpicos?
Talvez você responda com propriedade que não, e sua resposta
irá condizer com a de uma pessoa que não nasceu e nem se
desenvolveu com características próprias e que a sociedade,
pejorativa e erroneamente, denomina com a palavra
“deficiência”.
Deficiência é uma ideia que carrega um histórico com o
estigma negativo de bestialidade, doença, descaso, exclusão,
ignorância, inaptidão, inferioridade, malefício, preconceito, vírus
e outras coisas assim.
O certo é que você não iria conseguir efetuar as mesmas
atividades, se quisesse competir com o atleta paraolímpico, e,
no fundo, se sentiria um incapaz, atribuindo (sem o dizer) para si
próprio o uso do termo “deficiente”.
Assim, a deficiência é uma questão de visão socialmente
interpretativa e imbuída de uma carga histórica e emocional, da
opinião e da visão de uns sobre os outros, não sendo uma
realidade para aqueles que nascem com certas características, e
sim uma ideologia de poder de uma maioria sobre uma minoria.
Com o desenvolvimento das pesquisas sócio-antropológicolinguísticas dos últimos anos, há uma nova visão, que vem
anulando a antiga ideia de deficiência, e valorizando o sujeito
como alguém que possui uma característica peculiar e pode e
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deve ser visto como um indivíduo pleno, realizado, capaz de
sobreviver, de ter ideais e com um extremo orgulho de ter nascido
com certas características, que o tornam possuidor de uma
identidade.
Essa nova visão traz um novo termo: Diversidade Funcional,
ou pessoa com Diversidade Funcional. Esse é o caso das
comunidades Surdas.
Na verdade, como no caso de qualquer outro sujeito
socialmente constituído, não existe apenas um jeito de encarar
ou se reconhecer como uma pessoa com perda auditiva. Isso
dependerá do meio, da experiência e da ideologia a que o sujeito
for exposto pela família e pela sociedade, através das terapias de
reabilitação.
Contudo, o correto é que os Surdos, objeto do nosso estudo,
ou seja, os usuários das Línguas de Sinais, não se constituem
como pessoas deficientes, mas como membros de uma
comunidade indentitária e possuidora de uma Língua viva, a
Língua de Sinais, de uma cultura e de uma identidade Surda.
Isso os torna sujeitos plenos que utilizam uma Língua natural,
de modalidade visual-espacial, pessoas independentes e livres
para tomarem as suas decisões, como qualquer outro cidadão,
que tem o direito de usar a sua própria Língua.
Surdos se autodeterminam como um povo, e o aspecto usual
das Línguas de Sinais é o maior fator de agregação social entre
os seus membros.
Esse é o grande motivo dos Surdos se verem como pessoas
com Diversidade Funcional e não como pessoas portadoras de
uma deficiência.
Eles são possuidores de características específicas, tais como
o uso das Línguas de Sinais, que os constituem como pessoas
autônomas em suas falas em sinais, e não se deve continuar a
reduzi-los a um simples canal auditivo ou um ouvido que não
funcionam.
Devemos largar de mão tais termos para designar uma pessoa
com deficiência auditiva: surdo-mudo, mudo-surdo, surdinho,
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deficiente auditivo, portador de necessidades especiais, portador
de perda auditiva, portador de surdez etc.
Ao se referir a uma pessoa com diversidade funcional auditiva,
o melhor a fazer é usar o termo “Surdo”, pois o Surdo é possuidor
de uma Língua de Sinais – LS, de uma cultura Surda e de uma
identidade Surda. E ele pode, e deve, pertencer a uma
comunidade Surda.
O batismo de um sinal é a primeira manifestação de contato
com a comunidade Surda, onde o ouvinte adquire um sinal
específico de acordo com as suas características físicas ou
psicológicas, e que, de agora em diante, irá marcá-lo dentro da
comunidade Surda.
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CAPÍTULO 6
A COMUNIDADE SURDA
Minha atenção, ao enfatizar a cultura Surda, discutindo um
tema de interesse na área dos chamados estudos culturais, voltase sobre ideias e práticas que fornecem sentidos às relações
sociais, como as temos hoje.
(Nídia Regina Limeira deSá)37
Foi através dos estudos de Sacks (1989) que se conseguiu
chegar a identificar culturalmente quem são os Surdos com “S”
maiúsculo, aqueles que se constituíram sócio-antropológicolinguisticamente como
portadores, não de uma
deficiência, mas, de uma
Língua de Sinais, de uma
Cultura Surda e de uma
Identidade Surda.
Assim como, também,
diferenciá-los dos surdos
com “s” minúsculo, aqueles que, infelizmente, foram mal
influenciados, e impedidos pela visão clínica, que não tiveram a
oportunidade de atingir um conhecimento sócio-antropológicolinguístico do que realmente signifique ser um Surdo.
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A Lei nº 8.160 de 08/01/199138 confere
e determina o uso do símbolo internacional
do Surdo onde haja a circulação desses
cidadãos, no Brasil. O símbolo foi adotado
em 1980, pela Federação Mundial dos
Surdos. Perceba que o seu design confere
com os preconceitos clínicos sobre o Surdo,
correndo o risco de trazer embutidas
diversas interpretações errôneas, tais como:
“uma orelha que não funciona”, “é proibida
presença de Surdo nesse estabelecimento”,
“cuidado, Surdo”, entre outras.39
Pesquisadores dos estudos antropológicos das comunidades
Surdas, junto com os Surdos, vêm se articulando para substituílo, em breve, pela nova imagem que representa uma pessoa
mexendo as mãos, já para, eles, este novo símbolo carrega o
verdadeiro sentido de um sujeito que utiliza uma Língua de
Sinais.40
Através da Lei Nº 11.796 (29/10/2008)41, foi instituído no
Brasil, no dia 26 de setembro, o dia da fundação do Instituto
Nacional de Educação de Surdos – INES como o Dia Nacional
dos Surdos.
E no dia 30 de setembro é celebrado como o Dia Internacional
dos Surdos pela Federação Mundial dos Surdos.
As comunidades Surdas do Brasil não estão fora desses
contextos históricos, e também se encontram na mesma realidade
das comunidades de minorias Linguísticas.
Ao longo do tempo, sempre lutaram para serem reconhecidas
como um grupo que possui significações particulares e que se
diferencia com o uso de uma Língua específica de modalidade
vísuoespacial, ou espáciovisual.
Segundo Tomaz Tadeu Silva:
/.../ a cultura é um campo de produção de
significados no qual os diferentes grupos sociais,
situados em posições diferenciais de poder, lutam
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pela imposição de seus significados à sociedade
mais ampla. A cultura é, nessa concepção, um
campo contestado de significação /.../. A cultura
é um campo onde se define não só a forma que o
mundo deve ter, mas também a forma como as
pessoas e os grupos devem ser. A cultura é um
jogo de poder.42
Para a pesquisadora Nídia Regina Limeira de Sá, a luta dos
Surdos pelo reconhecimento de sua cultura é conflitiva em relação
às ideologias dos ouvintes como maioria que subjugam
historicamente as minorias linguísticas da comunidade Surda,
sendo “vista como uma das formas globais de vida ou como
uma das formas globais de luta, e é abordada através de uma
reconstrução da posição social dos seus usuários”.43
Sendo assim, identificar uma cultura Surda, que é grafada com
“S” maiúsculo, é perceber sociolinguisticamente a existência de
uma Língua de Sinais com modalidade vísuoespacial ou espaço
visual do Surdo, de um estilo de vida Surda, de uma produção
cultural e artística Surda, de um modo de olhar o mundo Surdo,
de comunidades e associações de Surdos e de um canal visual de
percepção e de aprendizado pelo Surdo.
Quando se fala sobre comunidade Surda, subentende-se a
presença de indivíduos Surdos que desejam compartilhar as suas
experiências pelo uso da Língua de Sinais; de acordo com a
professora Lucinda Ferreira Brito, as comunidades Surdas são
locais que promovem a socialização através de várias atividades
entre os seus membros.
É sabido que, do ponto vista da sociologia, o que se denomina
uma comunidade é um grupo territorial de indivíduos com
relações recíprocas, que servem de meios comuns para lograr
fins comuns.
Comunidade também é entendida como pessoas que se
organizam sob o mesmo conjunto de normas e geralmente vivem
no mesmo local, sob o mesmo governo ou compartilham do
mesmo legado cultural e histórico.
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É na comunidade Surda que os Surdos se constituem como
sujeitos que se identificam com seus pares linguisticos,
desconstruindo a visão ultrapassada de deficientes, e se
constituindo como membros de uma comunidade, cuja
identidade é marcada pelo uso da Língua de Sinais para o
desenvolvimento da cultura Surda e o fortalecimento da
identidade Surda.
O Surdo dentro da comunidade aprende a reconhecer a sua
Língua, cultura e identidade Surda, promove ações para a
divulgação da Língua de Sinais e dos direitos políticos, com as
conquistas de diversas ações que vão desde educação a saúde e
esporte, em prol da classe Surda.
É inserido na comunidade Surda que o ouvinte obtém a
proficiência na Língua de Sinais, para sustentar a profissão de
tradutor e intéprete de Língua de Sinais – TILS. Fora da
comunidade Surda, o TILS perde a essência da sua
funcionalidade. É na comunidade que ele nasce, cresce e se
desenvolve.
A comunidade Surda é o local onde o Surdo aprende o valorizar
a Língua, a cultura e a identidade Surda. A participação do Surdo
na sua comunidade contribui para a sua altonomia enquanto
cidadão e com a libertação dos estigmas sofridos, a ele impingidos
pelos ouvintes.
Aqui no Brasil, as comunidades Surdas44 têm as suas principais
representatividades históricas através do Instituto Nacional de
Educação de Surdos – INES, fundado em 1856; da Federação
Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS; por
associações de Surdos em diversos estados; por escolas; pastorais
dos Surdos da igreja católica; ministérios dos Surdos das igrejas
protestantes, comunidades Surdas espíritas e de muitas outras
designações religiosas.
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CAPÍTULO 7
PEDAGOGIA BILÍNGUE PARA SURDOS45
A isso chamamos de equidade que, no fundo, reconhece as
diferenças individuais e a importância do trabalho na
diversidade, com espírito democrático, isto é plural /.../ procuro
defender a posposta de educação inclusiva entendida como
reestruturação das escolas (mesmo especiais), de modo a que
atendam às necessidades de todas as crianças que delas
necessitam.
(Rosita Edler Carvalho)46
A prática de uma educação bilíngue, com o direito ao uso da
Língua natural de sinais como primeira Língua (L1) e, como
segunda Língua (L2), a escrita da Língua oral do seu país de
origem, é recente, e, como consequência desse fato, ainda temos
uma prática educacional para Surdos rudimentar e não implantada
veridicamente em diversas escolas do País.
O desconhecimento dos estudos científicos dos Surdos e de
uma educação específica e direcionada para Surdos ainda é
bastante acentuado no meio profissional educacional, dentro da
formação de diversas áreas. Tal realidade faz com que as
repetições das injustiças se façam presentes em diversos
ambientes escolares, desfavorecendo o Surdo nas conquistas de
seu território linguístico.
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Ainda se confunde uma educação inclusiva, proposta pelas
teorias inclusivistas, sem uma relação teórica e técnica com a
Língua, cultura e identidade Surda, com o verdadeiro sentido do
que seja uma educação inclusiva bilíngue para o sujeito Surdo,
objeto de tanto desejo desta comunidade.
A professora Edler Carvalho defende a inclusão educacional
de alunos com diversidade funcional, mas tal realidade nunca
condiz com o histórico da educação do Surdo, como
implementação verídica de uma inclusão bilíngue para Surdos.
Esse ainda é um dos problemas mais enfrentados por ela,
pois, se teoriza a proposta de inclusão, mas não se efetiva uma
inclusão bilíngue para Surdos e, consequentemente, a formação
específica de uma Pedagogia Bilíngue. A professora e
pesquisadora Ronice Müller de Quadros esclarece a necessidade
dessa formação.
Todavia, antes de teorizar uma inclusão para o aluno Surdo
como sempre foi proposta, como muitos deles não tiveram a
participação da comunidade Surda, é preciso entender e
interiorizar os conceitos teóricos e práticos sobre bilinguismo
para a educação de Surdos.
Só assim, se poderá concretizar uma verdadeira educação
inclusiva e bilíngue para Surdos, com a execução de uma
Pedagogia bilíngue e com o papel exercido pelo professor
pedagogo bilíngue, ou seja, aquele que transita nos conhecimentos
da LIBRAS e da Língua oral escrita.
Acreditar na necessidade de promover uma verdadeira
educação bilíngue e uma Pedagogia bilíngue para os Surdos é
aceitar as suas especificidades Linguísticas e suas
particularidades, para realizar os ajustes do currículo tão
necessários às atividades educacionais desse aluno.
Para que ocorra uma verdadeira educação e Pedagogia bilíngue
para os Surdos, é necessário que o ambiente escolar propicie
intensamente o uso da Língua de Sinais, que perpassará desde o
seu ingresso, as atividades escolares, as avaliações e outras, com
o trabalho paralelo àquele da Língua Portuguesa oral, como
Língua instrumental.
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Todavia, o que se chama de bilinguismo para Surdos, que
atualmente se tenta implementar, ainda é um modelo de
bimodalismo reproduzido mascarado como fachada de um falso
bilinguismo, no qual o Surdo é arguido da mesma forma que o
ouvinte.
O nosso questionamento é: onde está a proposta inclusiva
bilíngue nas provas de concurso Federal para os Surdos? O
bilinguismo para os Surdos ainda está fora da esfera de uma
verdadeira inclusão, e está mais para teorismo do que para prática!
Por transitar em diferentes Linguagens, foi esclarecida a
importância da formação superior do Tradutor Intérprete da
LIBRAS, através do Decreto de LIBRAS Nº. 5.626, de 22/12/
2005, cujo Artigo 17 reza que “A formação do tradutor e
intérprete de LIBRAS - Língua Portuguesa deve efetivar-se por
meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com
habilitação em LIBRAS – Língua Portuguesa”.47
A funcionalidade do profissional TILS nos esferas
educacionais ainda é objeto de desconhecimento para muitos
professores e instituições, e, muitas vezes, ele é confundido até
como uma ameaça, por ser uma presença dita estranha na sala
de aula, onde o regente é exclusivamente o professor. Eis a
necessidade de conhecer a sua importância e funcionalidade na
educação do Surdo.
O TILS é o profissional que domina duas Línguas, a Língua
de Sinais e a Língua oral. Assim, o TILS traduz e interpreta de
uma Língua de Sinais (Língua alvo) para uma Língua oral (Língua
fonte) ou desta Língua fonte (Língua oral) para uma determinada
Língua alvo (Língua de Sinais).
A Suécia foi um dos primeiros países a valorizar a importância
do profissional TILS, cuja presença é relatada desde 1875; nos
Estados Unidos é antes ainda que o encontramos, desde 1815,
com Thomas Gallaudet que era tradutor e intérprete do Surdo
Laurent Clerc (MEC; SEESP, 2004, p.13 e 14).
Já no Brasil, a presença de TILS se registra desde os nos 1980;
mas, com o reconhecimento como profissão tendo se dado
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recentemente, desde 1º de setembro de 2010 pela lei nº 12.319,
abriram-se vantagens para muitas áreas de trabalhos e concursos
públicos para essa nova carreira.48
Ele é um profissional importante, que compõe a equipe
pedagógica da instituição de ensino, devido a ser ele o conhecedor
da cultura Surda. Eis o grande motivo de o TILS ter que
participar da confecção do programa pedagógico, das elaborações
das aulas junto com os professores, das leituras antecipadas dos
materiais a serem traduzidos e interpretados, e do conselho de
classe da instituição. Coisas que, na grande maioria das escolas,
ainda não acontecem.
O TILS não é um sujeito apático e sem compromisso no
processo educacional do aluno Surdo, não devendo se omitir
para a construção do caminho educacional.
Contudo, o TILS não assume a função de professor, dentro
da sala de aula ele é apenas o veículo entre duas Línguas distintas,
e, por isso, deve manter e obedecer o código de ética profissional,
que lhe é próprio, reconhecendo seu espaço e seu dever
profissional no universo escolar.
Um TILS que trabalha na educação tem grande importância
para o desenvolvimento do Surdo, tanto quanto o professor que
está regendo a turma, porém, cada um assumindo suas funções,
sem tentar invadir o espaço do outro, contribuindo para o
crescimento intelectual do aluno Surdo.
Mas, tudo isso de nada adiantará, se não houver os ajustes
curriculares precisos para o aprendizado do Surdo. Necessita-se
compreender o processo de letramento do Surdo em uma segunda
Língua (L2), já que a sua primeira Língua ou Língua de
pensamento (L1) é a Língua de Sinais. O professor deve entender
com antecedência que a Língua de acesso para o conhecimento
do Surdo é a Língua de Sinais, fundamento essencial da proposta
bilíngue, tendo a Língua oral escrita apenas como um
instrumental para o seu dia-a-dia, tais como ler livros, consultar
bulas, ver jornais, escrever e-mails, acessar as redes sociais etc.
O motivo dessa controvérsia é que o ouvinte não consegue
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visualizar as características que diferem o sujeito Surdo enquanto
usuário de uma Língua de Sinais que não se estrutura como a
dele, considerando que essas Línguas de Sinais são ágrafas, ou
seja, não se escrevem seguindo as estruturas das Línguas orais,
como é o caso da Língua Portuguesa. Daí, o Surdo faz a tentativa
de escrever da mesma maneira como ele pensa a sua Língua que
é ágrafa, situação não muito diferente do falante ouvinte, que é
o reprodutor natural da Língua oral que se escreve e mesmo assim
foge da regra gramatical da própria Língua. Ainda podemos
comparar com o contexto daquela pessoa que sabe bem um
idioma, e, ao começar a aprender outro, tenta usar as estruturas
do primeiro, ao se expressar no segundo.
Vemos outro exemplo dessa transcrição coloquial, quando o
ouvinte reproduz na fala social a frase “A gente vai”, que não é
nem um pouco concomitante com a regra gramatical, em lugar
do uso correto da frase, com a primeira pessoa do pronome
pessoal no plural, “Nós vamos”. Isso comprova que há uma
transcrição do pensamento para a escrita, que para a Linguística
são fenômenos sociais da fala do cotidiano que se apresentam
no texto escrito do falante.
Tal realidade também é percebida no Surdo, mas com uma
diferenciação, pois o mesmo não tem a Língua oral como acesso
e pensamento, e por isso se torna mais visível a tentativa de
escrever numa Língua em que não pensa, e que não é sua, o que
nada tem a ver com problema cognitivo ou incapacidade de
aprender e nem de abstração, como os desconhecedores supõem,
mas sim, de caminhos estruturais de modelos de Línguas
diferenciadas em suas estruturas naturais. Para a pesquisadora e
professora Elidéa Lúcia Bernardino, isso é comprovado através
da lógica de duas Línguas distintas.49
Agora você entende o porquê de a legenda oculta (“close
caption”) não satisfazer, como uso de Língua escrita para o Surdo
que utiliza a LIBRAS, pois ler não é apenas visualizar palavras
escritas, mas sim interpretá-las nos contexto sociais.
Um exemplo básico e técnico é que, se num determinado
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filme, a legenda mostra a seguinte frase: “Você gosta de homem?”,
e o contexto ocasicional de fato for “Você quer ser prostituta?”,
mesmo o Surdo lendo, de nada a legenda foi útil, pois não cumpriu
com foco da informação, pois somente a tradução na Língua de
Sinais traria o objeto da informação proposta. E somente o
tradutor e intérprete de LIBRAS, que transita nos contexto de
ambas as Línguas, o faria naturalmente.
Prevista, pela Portaria do Ministério das Comunicações através
da Portaria de nº 310 (27/06/2006)50, que trata dos recursos de
acessibilidade para pessoas com deficiência, na programação
veiculada nos serviços de radiodifusão de sons e imagens e de
retransmissão de televisão, a legenda oculta não satisfaz
linguisticamente ao acesso de informações pelos Surdos usuários
da Língua de Sinais.
Se o Surdo pensa em sinais e se as informações são codificadas
com maior velocidade em LP, num processo natural da
Linguagem, então a legenda oculta se torna um empecilho para
esse processo ser rápido, já que, tendo uma outra estrutura de
Língua, o Surdo deverá fazer um esforço maior, e até mesmo,
muitas vezes, perdendo o contexto das informações para obter
os contextos necessários.
A legenda oculta tem maior valor para os ensurdecidos, pois
pensam em uma estrutura escrita da LP. Porém, a legenda para o
Surdo é importante, para que ele, após ter o acesso ágil na sua
Língua natural, possa pesquisar palavras escritas em LP, isso é
mais do que justo, pois só assim, visualizando as palavras, é que
ele será ajudado, no processo de letramento em L2.
O certo é que o Surdo pensa em Língua de Sinais, e possui o
direito de receber as informações em sua Língua de acesso,
realidade ainda não legalmente cumprida.
Muitos Surdos desenvolvem práticas de leitura e
de escrita, e seus resultados constituem indicativos
de letramento escolar, com maiores competências
para ler e escrever, em diferentes graus, permitindolhes usar socialmente a leitura e a escrita e servir-se
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delas para finalidades individuais e sociais. Os
Surdos que não estão imersos em tais práticas
pouco usam socialmente a leitura e a escrita,
apresentando outros resultados.51
Não há uma metodologia oficial para o ensino da Língua
instrumental escrita portuguesa para o Surdo. Foi através de
experimentos educacionais positivos, realizados desde 1996 no
INES, que se desenvolveu a proposta do trabalho de ensino da
Língua portuguesa (LP) como segunda Língua (L2) do aluno
Surdo, e que tem como base a abordagem “sociointeracionista”
para a aprendizagem.
Assim, todas as atividades de leitura e escrita se pautam na
função comunicativa do uso da Linguagem pelo aluno Surdo, na
qual devemos abordar assim as várias práticas:
- Ler: para o Surdo é levá-lo a saber, ser envolvido em uma
interação em um momento sócio-histórico específico do escritor,
como qualquer interlocutor, que usa a Linguagem a partir de um
lugar social marcado, pois se desenvolver, no envolvimento com
a leitura, é em uma prática social.
- Escrever: para o Surdo difere do discurso oral, pois pressupõe
um interlocutor ausente, mas ele precisará utilizá-la para escrever
lembretes, agendas, diários etc. Essa escrita deve ter como
objetivo essencial o fato de alguém ler o que está escrito na prática
do cotidiano. Para o Surdo, a Língua escrita deve ser vista como
um sistema de signos que é histórico e social e que deve
possibilitar a ele um significado de mundo e da realidade que o
cerca. Assim, aprendê-la é aprender não só com palavras, mas
também os seus significados culturais e, com eles, os modos pelos
quais os Surdos vivem no seu meio social e entendam e
interpretem a realidade de si mesmos.
Por isso, é que é tão importante desenvolver o mais cedo
possível uma educação bilíngue nos primeiros anos iniciais da
educação do Surdo, fato esse que se comprava através das várias
pesquisas sobre o letramento de Surdos, porque é só através da
Língua de Sinais (LS) que se levará o aluno Surdo ao
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conhecimento de mundo e à experiência da vida, usando as
informações armazenadas em sua memória visual e sendo
compartilhadas em sala de aula, para ir adquirindo
gradativamente as habilidades instrumentais da escrita de uma
Língua oral como L2.
Assim, ao Surdo, como um sujeito que experimenta as
referências visuais e cujo acesso é visual, caberá, no seu processo
de aprendizado de uma L2, ter utilizado o meio visual para
adquirir a escrita da segunda Língua.
Há vários experimentos em salas de aula no Instituto Nacional
de Educação de Surdos – INES, e em algumas outras escolas
com classe de Surdos, que perpassam pela imagem a utilização
substancial e técnica para o desenvolvimento da escrita do Surdo.
Pois é pela imagem que ele fotografará a palavra escrita com um
instrumental a ser desenvolvido nas diversas contextualizações.
Daí se tem: Imagem + Língua de Sinais (L1) + Instrumental
escrito da Língua oral como L2, L3, L4...
IMAGEM + LÍNGUA DE SINAIS (L1) + INSTRUMENTAL
(L2+L3+L4...)
MILHO/CORN/MAIZ
(CRIAR CONTEXTUALIZAÇÕES)
Os resultados já observados no processo bilíngue de
alfabetização e de letramento de alunos Surdos, tentando usar a
LP de acordo com seu nível, mostram que, assim, haverá alunos
Surdos mais participativos no processo educativo, mais curiosos
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com o mundo que os cerca, com leitura mais significativa de
diversos de temas, e com maior e melhor leitura de mundo,
produzindo textos com elementos próprios e construindo uma
identidade Surda.
Diferentemente das Línguas orais, que só seguem a estrutura
de Sujeito + Verbo + Objeto (SVO), como é o caso da Língua
portuguesa, as Línguas de Sinais e a LIBRAS podem assumir as
seguintes estruturas frasais:
(SVO) Sujeito + Verbo + Objeto
(SV) Sujeito + Verbo
(SVC) Sujeito + Verbo + Complemento
(CSV) Complemento + Sujeito + Verbo
(SOV) Sujeito + Objeto + Verbo
(OV) Objeto + Verbo
(VO) Verbo + Sujeito
Você poderá perceber as seguintes estruturas de frases na
tentativa de escrita de um aluno Surdo:
Meu irmão já foi à cachoeira. (SVC)
Lugar lindo é mais gente passear ruim. (CSV)
Eu e ele ou cerveja na compra, eles está beber muito tontos.
(SOV)
Você sentirei com saudade. (OV)
Eu sou triste porque amanhã embora está Maria. (OV)
Nos textos produzidos por alunos Surdos você poderá
encontrar as características básicas:
- uso de enunciadores curtos;
- vocabulário reduzido;
- ausência de artigos;
- ausência de preposições;
- ausência de concordância nominal e verbal;
- uso reduzido de diferentes tempos verbais;
- falta de elementos formadores de palavras (afixos);
- falta de verbos de ligação (ser, estar, ficar etc.);
- ausência de conectivos, tais como conjunções, pronomes
relativos etc.;
- colocação aparentemente aleatória de elementos na oração.
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Depois que você percebeu as diferenciações da escrita do
Surdo você pode ainda questionar: como desenvolver os ajustes
necessários curriculares para os alunos Surdos?
Tais ajustes deverão partir da visão real de como pensa, fala e
aprende o Surdo, e que deverá contar com a contribuição de um
instrutor Surdo da Língua de Sinais, de um tradutor e intérprete
de Língua de Sinais – TILS e de professores especialistas na área
da educação de Surdos, para a sua confecção. Os ajustes devem
então conter como base os seguintes elementos exemplificados,
e obedecer às seguintes orientações:
1 - O planejamento curricular para os Surdos será dividido
em três níveis:
1.1 - No âmbito mais geral, envolvendo o projeto pedagógico
da instituição escolar e com o corpo docente;
1.2 - Em âmbito mais particular, envolvendo o currículo
desenvolvido dentro da sala de aula com o aluno Surdo;
1.3 - E no nível individual de cada aluno Surdo.
2 - As adaptações organizacionais do currículo:
2.1 - O agrupamento de alunos Surdos para realização de
atividades de ensino-aprendizagem em Línguas de Sinais;
2.2 - a organização didática da aula;
2.3 - a organização dos períodos a serem definidos para o
desenvolvimento das atividades previstas.
3 - As adaptações aos objetivos e conteúdos com a utilização
de imagens e figuras com o uso da palavra escrita:
3.3 - à seleção, priorização e sequenciamento de conteúdos;
3.4 - à seleção, inclusão e priorização de objetivos;
3.5 - à eliminação e ao acréscimo de conteúdos desnecessários,
quando for necessário.
4 - As adaptações avaliativas do currículo:
4.1 - À variação de critérios, procedimentos, técnicas e
instrumentos adotados para avaliar o aluno utilizando a Língua
de Sinais e a escrita;
4.2 - à variação de critérios de promoção.
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5 - As adaptações nos procedimentos didáticos e nas
atividades de ensino-aprendizagem:
5.1 - à alteração nos métodos adotados para o ensino dos
conteúdos curriculares ao Surdo;
5.2 - à introdução de atividades complementares ou
alternativas, além das planejadas pela turma;
5.3 - à alteração do nível de abstração e de complexidade das
atividades, oferecendo recursos de apoio ao Surdo;
5.4 - à seleção de materiais visuais e sua adaptação.
6 - As adaptações na temporalidade do currículo:
6.1 - à alteração do tempo previsto para a realização das
atividades e conteúdos;
6.2 - ao período para alcançar determinados objetivos;
6.3 - ao prolongamento ou redução do tempo de permanência
do aluno na série, fase, ciclo ou etapa;
6.4 - ao nivelamento e acompanhamento do grupo da sua
série, para ele se sentir inserido em um grupo e em um contexto.
7 - As adaptações de acesso ao conteúdo:
7.1 - mobiliários adequados, sala com cadeiras em círculo e
bem iluminada para uma melhor visualização do Surdo;
7.2 - equipamentos específicos que promovam uma melhor
acuidade visual para o Surdo;
7.3 - recursos materiais adaptados como exercícios, testes,
provas etc.;
7.4 - formas alternativas e ampliadas de comunicação;
7.5 - mobilidades variadas de apoio para participar das
atividades escolares extraclasse;
7.6 - promoções de situações educacionais diferenciadas;
7.7 - recursos humanos especializados ou de apoio;
7.8 - adaptação espacial tais como figuras e imagens
representativas em LIBRAS.
Quando mostramos todas as características da tendência de
produção de texto dos Surdos, não queremos dizer com isso que
ele sempre escreva continuamente assim, num estilo estrutural
(SV), (SOV), (OV) e (VO), sem utilizar nunca a estrutura (SVO),
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própria do desenvolvimento da língua oral. Isso seria uma
inverdade.
Estudos comprovam que as realidades estruturais linguísticas
irão depender da exposição que o Surdo tem desde cedo à escrita
da Língua oral e a motivação para o aprendizado da mesma. Isso
é algo particular, individual, de cada um, é como uma prédisposição Linguística. Fato esse que ocorre no aprendizado de
qualquer outra Língua, inclusive o aprendizado da Língua de
Sinais, como é o caso do ouvinte.
Será que todos têm as mesmas pré-disposições para o aprendizado
de uma determinada Língua? Os ouvintes podem responder muito
bem, quando são expostos ao aprendizado da LIBRAS.
É sabido que há Surdos que possuem uma proficiência na
escrita da Língua oral portuguesa mais apurada do que alguns
ouvintes, e as sala de relacionamentos de bate papo, chats, emails, MSN e demais recursos muito contribuíram para que os
Surdos tivessem interesse pela escrita, onde ela acontece de forma
lúdica, o que muito os incentivou.
Porém, a sociedade não cobra tanto a escrita do cego que não
assina nem mesmo o seu próprio nome, como cobra do Surdo.
Alegam esses reacionários que o cego não escreve por não poder
ver, mas esquecem os mesmos reacionários que o Surdo não
compartilha naturalmente de uma Língua oral que se escreve, e
que a sua Língua materna é a Língua de Sinais, que não se escreve.
Contudo, devemos ter em mente que a realidade de Surdos
que possuem um bom desenvolvimento de escrita, ainda que
tão pequena, não pode servir de modelo para uma “cobrança”
generalizada do mesmo desempenho, que serviria para se manter
um olhar equiparativo, normatizador, ou até mesmo comparativo
e excludente, entre sujeitos Surdos e ouvintes, para que se evitem
os falsos falares tais como: “Coitado, é difícil para ele entender a
LP”, “Ele não aprende a escrever a LP”, “Ele não consegue ler a
LP”, “É difícil para ele aprender a LP”!
Pois, se houver fracasso nesses falares não é do Surdo, e sim
daqueles que ainda sustentam uma visão errônea e distorcida,
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considerando que não enxergam, na diferença, a grande arte de
construir o saber, a partir da sua realidade.
Caberá ao docente ter a sensibilidade de respeitar a
produção primária do texto do seu aluno Surdo, fazendo, à
parte, as correções devidas das suas produções, e o
estimulando a, cada vez mais, ganhar gosto pelo contato com
a leitura e a escrita; apresentando sempre a estrutura correta
da Língua oral, como uma troca sequencial entre estruturas
de Línguas diferenciadas, onde não há erros, e sim beleza,
nos seus modelos de estruturas.
Há no mercado diversos materiais bilíngues de contos de
histórias infantis em LIBRAS, alguns inclusive produzidos pelo
Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES, onde se propõe
uma Pedagogia Bilíngue visualmente praticada com o uso
contextual da LIBRAS e a visualização da palavra escrita na
Língua oral portuguesa.
A figura do professor bilíngue (que utiliza a LIBRAS e a Língua
Portuguesa escrita) ainda é muito discutida dentro das pesquisas
sobre a educação dos Surdos aqui no Brasil, pois ainda se
confunde o papel do professor bilíngue com o de tradutor e
intérprete de Língua de Sinais.
O professor Capovilla, através dos seus estudos, apresenta a
experiência de uma inclusão bilíngue numa escola da Dinamarca,
com objetivo de enfoque de letramento e aquisição da leitura e
da escrita, utilizando a Língua de Sinais dinamarquesa.52
Através da experiência na Dinamarca é que se pode perceber
qual é a figura do professor bilíngue, com a presença de alunos
Surdos numa sala de aula. O professor bilíngue se coloca como
informante do conteúdo em Língua de Sinais dinamarquesa,
explicando todo o significado do conteúdo exposto, não abrindo
mão de criar um ambiente em que circule livremente a Língua
de Sinais. Com isso, ele estabelecerá posteriormente o feedback
dos alunos referente ao conteúdo explicado, quando os mesmo
é que irão compor as suas próprias histórias, através do lúdico e
da capacidade de criatividade.
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O professor bilíngue é o responsável por assumir a função de
estabelecer o ensino direto do conteúdo durante toda a aula,
utilizando livremente a Língua de Sinais e promovendo esse
ambiente linguístico. Mas, isso não quer dizer que o mesmo
precise ser proficiente na Língua de Sinais, como é o caso do
tradutor e intérprete. Para se manter a relação segura, efetiva e
afetiva com o seu aluno Surdo, o professor deve ter no mínimo
um básico da Língua de Sinais. Fora disso é fingir ensinar e estar
fingindo aprender!
Ao tradutor e intérprete de Língua de Sinais cabe ser o
mediador, que irá trabalhar junto com o professor bilíngue em
questões mais complexas do conteúdo, e que também terá a ajuda
do instrutor Surdo da Língua de Sinais, o qual contribuirá com o
ensino dos sinais e dos contextos, em variados temas, que serão
trabalhados.
É por isso que o planejamento é de extrema importância para
o eficaz cumprimento do programa pedagógico.
Ao trabalhar com o Surdo, numa sala de aula, observe as
seguintes recomendações:
1 - Procure criar um ambiente na aula, utilizando a LIBRAS
sem o uso concomitante da Língua portuguesa oral, e estabelecendo
o reconhecimento profissional do instrutor Surdo de Língua de
Sinais e do tradutor e intérprete de Língua de Sinais.
2 - Ao conversar com seu aluno Surdo, fale de frente, não
oralizando junto com os sinais, pois isso é um vício que tem que
ser logo descartado.
3 - No discurso, seja claro e use pausadamente as mãos. Uma
boa articulação de mãos com configuração perfeita e expressão
facial facilitará a comunicação em LIBRAS.
4 - Ao falar com um aluno Surdo, evite olhar para outro lado,
passar na frente de Surdos conversando ou conversar
paralelamente com outra pessoa. Isso faz com que o Surdo perca
a sua linha de pensamento. Imagine você conversando com um
ouvinte e outro ouvinte interrompendo. O processo é o mesmo
e o contato visual é importante.
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5 - Mantenha um ambiente em sala de aula claro, bem
iluminado, com boa visibilidade e bem ventilado.
6 - Distribua as carteiras em círculo, pois, assim, facilitará o
contato visual entre os Surdos e os demais presentes na sala, já
que a Língua de Sinais é articulada de frente, face-a-face. Utilize
aparelhos eletrônicos que contribuam para uma melhor
visualização do aluno Surdo como datashow, TV, DVD-R, tela,
quadro, quadro interativo etc.
7 - Evite gritar com seu aluno Surdo, caso queira chamá-lo
bata com o pé no chão ou acene com as mãos para chamar a sua
atenção. Não adianta chamar o Surdo de longe.
8 - Seja expressivo, demonstrando sentimentos quando
discursar em LIBRAS.
9 - Caso não consiga entender o que o Surdo queira expressar,
não tenha vergonha, e pergunte novamente, procurando prestar
atenção às suas expressões. Evite ficar escrevendo, isso não
ajudará a você para o desenvolvimento da LIBRAS.
10 - Evite ruídos visuais com portas abertas e janelas, onde
circulem pessoas a todo o momento. Isso distrai o aluno Surdo.
Se for necessário, providencie cortinas ou persianas. Contudo,
os avisos visuais desenhados com a imagem do sinal e com a
palavra escrita demonstrando o banheiro, a lanchonete, a sala
etc. são importantes para o aluno se sentir confortável
visualmente.53
A tão sonhada equipe multifuncional escolar, que a legislação
estabelece para uma inclusão bilíngue de um aluno Surdo, irá ser
composta pelos seguintes profissionais:
- pedagogo bilíngue, que irá gerenciar toda a elaboração e
efetivação de um programa do curso, para que esse possa focar
uma inclusão bilíngue do Surdo através da interdisciplinaridade;
- professor bilíngue, que irá estabelecer o ensino do conteúdo
em Língua de Sinais e criar um ambiente linguisticamente
apropriado ao aluno Surdo;
- tradutor e intérprete de Língua de Sinais, que transitará nos
processos de tradução e interpretação de ambas as Línguas em
casos mais complexos de conteúdo;
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- instrutor Surdo da Língua de Sinais, que focará o ensino da
Língua de Sinais através da sua gramática e contextualizações
dos sinais em diferentes abordagens.
A importância do desenvolvimento da Linguagem para o
Surdo é crucial para o seu crescimento, com a aquisição da Língua
de Sinais e da sua fala em sinais, que é a expressão do seu
conhecimento de mundo. O aprendizado e o treino das
configurações das mãos, do alfabeto e dos números é importante
para o início do aprendizado prático na LIBRAS.
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INCONCLUSÃO: INCLUSÃO
Se a Língua de Sinais é uma Língua natural adquirida de
forma espontânea pela pessoa Surda em contato com pessoas
que usam essa Língua e se a Língua oral é adquirida de forma
sistematizada, então as pessoas Surdas têm o direito de ser
ensinadas na Língua de Sinais. A proposta bilíngue busca
captar esse direito.
(Ronice Muller de Quadros) 54
Vocês entendem?
O movimento para eles é como o som para vocês.
Mas... o movimento é global, é contínuo, é plural, é sobreposto,
é focal e composto.
Eles ouvem movimentos, na sua integralidade.
Não é só cinestesia (percepções musculares), é também
sinestesia (sobreposição de sentidos sensoriais).
Para o Surdo o movimento é som, e o mundo inteiro é uma
sinfonia de sons.
É preciso construir nova visão do sujeito Surdo enquanto
Língua, cultura e identidade, abandonado as ideias clínicas que
foram construídas em torno dele, e que agora procuramos
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desconstruir, por um olhar diferente, que o vê enquanto um
ser com diversidade funcional e não um deficiente, ele que é
membro de uma comunidade de minoria Linguística, que utiliza
uma Língua de Sinais e que se considera como um povo.
Não há registro oficial histórico sobre as Línguas de Sinais,
até porque uma Língua não é algo concreto, do qual se pudesse
determinar um período de criação, mas, sim, um fenômeno
neurológico próprio do ser humano, o único ser que
conhecemos que é capaz de gerar uma Língua, que ele
compartilha, através dos seus atos sociais.
As Línguas de Sinais são Línguas genuínas e vivas, fruto
das relações sociais entre os membros das comunidades Surdas.
A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, como Língua natural
e genuína da comunidade Surda brasileira, compartilha da
mesma fenomenologia neurológica e foi reconhecida com o
status de segunda Língua oficial do país em 2002, decretada
como disciplina obrigatória nos cursos de nível superior.
A língua, a cultura, a identidade, a pedagogia e a comunidade
Surda compõem o que há de mais importante para a constituição
do sujeito, pois é na comunidade que o Surdo adquirirá os
conceitos fundamentais para constituir a sua identidade.
A visão estereotipada que foi construída através dos tempos
comprova que, desde as civilizações antigas, passando por todas
as eras, o Surdo tem sido discriminado, enquanto ser que possui
uma Língua específica, e que essas ideias ainda se perpetuam
até os dias atuais, devido ao desconhecimento da Língua, da
cultura e da identidade Surda.
As fases pelas quais passou a educação dos Surdos mostram
que ele sempre foi objeto de manipulação ideológica por parte
de alguns ouvintes, e podemos ver as fases do gestualismo, do
oralismo, do bimodalismo ou comunicação total, como vários
disparates impostos a eles, contra o crescimento da cultura, da
identidade e da Língua do Surdo.
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Reconhecemos assim que é de extrema necessidade a criação
e o desenvolvimento do bilinguismo para essa comunidade. A
prática e o treino das saudações básicas e da acentuação gráfica
em LIBRAS reforça o treino das configurações.
A necessidade de os futuros profissionais da educação
entenderem a importância do ensino da LIBRAS leva a crer que
a opção por uma educação inclusiva bilíngue do Surdo se faz
necessária para o desenvolvimento educacional desse aluno,
deixando de ser apenas uma disciplina, para ser um mercado de
trabalho, e vendo a advento de uma Pedagogia específica, que é
a Pedagogia bilíngue. O estudos dos verbos básicos, dos
substantivos, dos advérbios e dos adjetivos da LIBRAS,
juntamente com o treino, é crucial para a elaboração das frases
na LIBRAS.
Assim, é percebido que ajustes curriculares se fazem
necessários, devido ao fato de que o Surdo, que é o possuidor
em uso de uma Língua de Sinais, que é ágrafa, não compartilha
da estrutura de uma Língua oral, tendo que fazer um esforço
para obter as contextualizações em outra estrutura de Língua. O
aprendizado das formas de sinalização e de numeração dos
ordinais e de quantidade em LIBRAS compõe a prática para a
criação de frases da Língua.
Nosso status de seres é uma inconclusão, como este texto,
estamos em constante transformação, como um rio que flui. A
vida é criação, e, dentro desta premissa, quer a toda hora criar
novas maneiras de expressão, de impressionar o outro e o
ambiente.
Surdos somos todos, quando não queremos ver nem ouvir o
quanto cada um de nós é importante e traz em si uma joia que só
ele pode trazer, para todos nós.
Mas, se pudermos ver ou vir a ver que cada um traz em si
esse tesouro, que mundo genial e lindo estaremos criando.
Cada indivíduo considerado “especial”, o é por causa daquilo
que a sociedade de consumo, regras e normas, acende como medo
no peito de cada um, e ousa chamar deficiência.
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Cada Surdo é um universo cheio de luzes, sons e cores, que
só ele pode ouvir, mas, ao qual pode nos apresentar, se nos
aproximarmos dele, sem preconceitos.
E ousar amar a cada ser humano como é, sem restrições de
padrões exógenos de “normalidade”. Amar, pura e simplesmente.
E aí sim, conseguir realmente se comunicar com eles, e
entender, de fato, aqueles que ouvem mais que nós.
Aqueles que, por exemplo, podem ouvir o voo do beija-flor.
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NOTAS
1
Fonte: Site Não-verbal, disponível em http://naoverbal.wordpress.com/
LIBRAS/alfabeto-de-LIBRAS/, acesso: 14/06/2013.
2
Fonte: Site Não-verbal, disponível em http://naoverbal.wordpress.com/
LIBRAS/alfabeto-de-LIBRAS/, acesso: 14/06/2013
3
Ver também KRECH, David & CRUTCHFIELD, Richard. Elementos de Psicologia.
Tradução de Dante Moreira Leite e Miriam Moreira Leite. Vol 1. 5. ed. São Paulo:
Pioneira, 1974, p. 57 e ss.
Essa é uma questão muito polêmica, mas, apenas como ilustração, vejamos o
que nos diz sobre o assunto “Receptor sensorial” uma enciclopédia hoje em dia
tão popular quanto a Wikipedia:
“Num sistema sensorial, um receptor sensorial é a estrutura que reconhece um
estímulo no ambiente interno ou externo de um organismo.
Os receptores sensoriais localizam-se nos órgãos dos sentidos e são terminais
nervosos com a capacidade de receber um determinado estímulo e transformálo em impulso nervoso. Esses receptores são classificados de acordo com a
natureza do estímulo para os quais são sensíveis:
Quimioceptores, sensíveis à presença ou concentração de determinadas
substâncias, como os responsáveis pelo paladar e olfato, Fotoceptores, sensíveis
à luz, como os cones e bastonetes dos olhos, Termoceptores, sensíveis às
mudanças da temperatura, Mecanoceptores, responsáveis pelas sensações tácteis
e auditivas.
Numa classificação mais geral, podem considerar-se três tipos principais de
receptores sensoriais: exteroceptores, que recebem estímulos do exterior do
animal, visceroceptores, que recebem estímulos dos órgãos internos, e
proprioceptores, localizados principalmente nas articulações, músculos e tendões,
dão ao sistema nervoso central informações sobre a posição do corpo ou sobre
a força que é necessário aplicar.
No corpo humano existem vários tipos especializados de receptores sensoriais,
entre os quais: terminações nervosas livres, discos de Merkel, receptores dos
folículos pilosos, corpúsculos de Pacini- pressão, corpúsculos de Meissner,
corpúsculos de Krause (frio) e Rufinni (dor), fusos neuromusculares, corpúsculos
tendíneos ou corpúsculos de Golgi, sistema vestibular”
“Receptor sensorial”, in Wikipedia, disponível em http://pt.wikipedia.org/
wiki/Receptor_sensorial, acesso 14/06/2013.
4
Dicionário informal, disponível em http://www.dicionarioinformal.com.br/
, acesso em 14/06/2013.
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Ver também: “Cinestesia - Propriocepção também denominada como cinestesia,
é o termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial
do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de
cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Este tipo específico
de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de
diversas atividades práticas. Resulta da interação das fibras musculares que
trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de informações táteis
e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno”.
Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinestesia, acesso em 14/06/2013.
5
Informações colhidas no site Helen Keller Internacional, disponível em: http:/
/www.hki.org/about-helen-keller/, acesso: 16/06/2013. Ver também:
KELLER, Helen. A história da minha vida. Trad. Myriam Campello. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2008. Sobre a cenestesia, ver também Ver WALLON, Henri. As
origens do caráter na criança. Trad. Pedro da Silva Dantas. São Paulo: Difusão
Europeia do Livro, 1971, p. 154 e ss.
6
MORAIS JUNIOR, Luis Carlos de. Gigante. Rio de Janeiro: Quártica, 2011, p.
125.
7
No Tempo do Rádio a Lenha 9: Leopoldo Pio e Carlos Hilton – Sociedade e
preconceito – 05/07/2012, pode-se fazer o download e ouvir nos links:
http://yourlisten.com/channel/content/16902944/
No_tempo_do_r%C3%A1dio_a_lenha_9
h t t p s : / / s k y d r i v e . l i v e . c o m /
?cid=5c31bf06d5ac75f2&id=5C31BF06D5AC75F2!264
8
“Isagoge (em grego clássico å0óáãùãÞ, eisagogé: introdução) é o nome da tradução
latina feita por Boécio da obra Introductio in Praedicamenta do escritor e filósofo
grego Porfírio (século III)), obra que também aparece por vezes referida
por Quinque voces (Cinco vocábulos) ou Quinque voces Por phyrii. Trata-se de uma
curta introdução, de carácter pedagógico, ao estudo das Categorias de Aristóteles.
O texto teve uma profunda influência na Filosofia medieval europeia e inspirou
diversas obras com o nome Isagoge, chegando mesmo a designar genericamente
a introdução ao estudo da filosofia aristoteliana e o nome da disciplina onde
esse estudo era feito. Isagoge (por vezes grafada Ysagoge) é também o título de
múltiplas obras de vários autores, provavelmente a mais famosa das quais é a
Isagoge atribuída a Boncompagni, nome pelo qual ficou conhecido Boncompagno
da Signa (1194 - 1243)”. Artigo disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Isagoge, acesso em 16/06/2013.
9
SACKS, Oliver W. Vendo Vozes: uma viagem ao mundo dos Surdos. Trad. Laura
Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 15.
10
VELOSO, Éden; MAIA, Valdeci. Aprenda LIBRAS com eficiência e rapidez.
Curitiba: Mãos Sinais, 2009, p. 27.
11
Idem, ibidem, 28.
12
PLATÃO. Diálogos VI: Crátilo, Cármides, Laques, Ion, Menexeno. Trad. Edson
Bini. Bauru: EDIPRO, 2010, 422e, p. 107.
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CASTRO, Alberto Rainha de; CARVALHO, Ilza Silva de. Comunicação por
Língua brasileira de sinais: livro básico/Alberto Rainha de Castro e Ilza Silva de Carvalho.
Brasília: Senac, 2005, p. 15, 29.
14
Sobre este postulado de Foucault ver toda sua obra, mas, a título de exemplo,
ver FOUCAULT, Michel. A Verdade e as Formas Jurídicas. 4 ed. Rio de Janeiro,
PUC, Divisão de Intercâmbio e Edições, Série Letras e Artes, 06/74, Caderno
16, 1979, passim.
15
A Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista. Trad. coordenada por José Bortolini.
São Paulo: Edições Paulinas, 1985, p. 1985.
16
A Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista. Trad. coordenada por José Bortolini.
São Paulo: Edições Paulinas, 1985, p. 2137.
17
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. 6 ed. Trad. Ligia M. Pomdé Vassallo.
Petrópolis, Vozes, 1988, passim.
18
Sobre os dados renascentistas, VELOSO, Éden; MAIA, Valdeci. Aprenda
LIBRAS com eficiência e rapidez. Curitiba: Mãos Sinais, 2009, p. 30, 35.
19
Ibidem, p. 39.
20
História do INES, Instituto Nacional de Surdos, site, disponível em: http:/
/www.ines.gov.br/institucional/Paginas/historiadoines.aspx, acesso: 19/06/
2013.
21
Apud QUADROS, Ronice Muller de. Educação de Surdos: aquisição da Linguagem.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 26.
22
A Suécia foi o primeiro país a reconhecer politicamente os Surdos como
minoria Linguística, com direito a uma educação bilíngue na Língua de Sinais e
na Língua falada.
23
Para dar uma dimensão da grandeza desse investimento, vamos citar aqui as
principais Línguas de Sinais do mundo:
Continente Africano: Língua Gestual de Adamorobe, Língua Gestual Algeriana,
Língua Gestual de Bamako (numa escola do Mali), Língua Gestual de Bura,
Língua Gestual do Chade, Língua Gestual do Congo, Língua Gestual Egípcia,
Língua Gestual da Etiópia, Língua Gestual Franco-Americana, Língua Gestual
da Gâmbia, Língua Gestual de Gana, Língua Gestual Guineense, Língua Gestual
Hausa, Língua Gestual Queniana, Língua Gestual Libanesa, Língua Gestual de
Madagáscar, Língua Gestual Marroquina, Língua Gestual Moçambicana, Língua
Gestual de Mbour (Senegal), Língua Gestual da Namíbia, Língua Gestual
Nigeriana, Língua Gestual da Serra Leoa, Língua Gestual Sul Africana, Língua
Gestual da Tanzânia, Língua Gestual da Tunísia, Língua Gestual do Uganda,
Língua Gestual da Zâmbia, Língua Gestual do Zimbábue
Continente Americano: Língua Gestual Americana, Língua Gestual Argentina,
Língua Gestual Boliviana, Língua Brasileira de Sinais, Língua Gestual Chilena,
Língua Gestual Colombiana, Língua Gestual da Costa Rica, Língua Gestual
Cubana, Língua Gestual do Equador, Língua Gestual da Guatemala, Língua
Gestual das Honduras, Língua Gestual das Províncias Marítimas, Línguas
13
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gestuais maias (México), Língua Gestual Mexicana, Língua Gestual da
Nicaraguense, Língua Gestual Quebequiana, Língua Gestual do Perú, Língua
Gestual da Providência, Língua Gestual do Uruguai, Língua Gestual Kaapor
Brasileira, Língua Gestual Venezuelana
Continente Asiático: Língua Gestual Australiana, Língua Gestual de Ban Khor,
Língua Gestual Chinesa, Língua Gestual Filipina, Língua Gestual Havaiana,
Língua Gestual de Hong-Kong, Língua Gestual Indo-Paquistanesa ou Língua
Gestual Indiana, Língua Gestual Indonésia, Língua Gestual Japonesa, Língua
Gestual Kata Kolok (Bali), Língua Gestual de Laos, Língua Gestual Coreana,
Língua Gestual Malasiana, Língua Gestual de Penang – Malásia, Língua Gestual
de Selangor – Malásia, Malasiano manualmente codificado (ou Kod Tangan
Bahasa Malaysia) – Malásia, Língua Gestual da Mongólia, Língua Gestual do
Nepal, Língua Gestual da Nova Zelândia, Língua Gestual da Singapura, Língua
Gestual do Sri Lanka, Língua Gestual de Taiwan, Língua Gestual Tibetana,
Língua Gestual Thai, Línguas gestuais vietnamitas
Continente Europeu: Língua Gestual Albanesa, Língua Gestual Armeniana,
Língua Gestual Austríaca, Língua Gestual Belgo-Francesa, Língua Gestual
Britânica, Língua Gestual Búlgara, Língua Gestual Catalã, Língua Gestual Croata,
Língua Gestual Checa, Língua Gestual Dinamarquesa, Língua Gestual dos Países
Baixos, Língua Gestual da Estónia, Língua Gestual Finlandesa, Língua Gestual
da Flandres, Língua Gestual Francesa, Língua Gestual Alemã, Língua Gestual
Grega, Língua Gestual Húngara, Língua Gestual da Islândia, Língua Gestual
Irlandesa, Língua Gestual Italiana, Língua Gestual Lituana, Língua Gestual da
Malta, Língua Gestual da Irlanda do Norte, Língua Gestual Norueguesa, Língua
Gestual Polaca, Língua Gestual Portuguesa, Língua Gestual Russa, Língua
Gestual Espanhola, Língua Gestual Sueca, Língua Gestual Suíço-Francesa, Língua
Gestual Suíço-Alemã, Língua Gestual Turca, Língua Gestual de Valência, Antiga
Língua de Sinais Francesa, Língua Gestual Ucraniana, Língua Gestual Eslovaca
Oriente Médio: Língua Gestual Al-Sayyid Bedouin, Língua Gestual Israelense,
Língua Gestual Persa, Língua Gestual da Jordânia, Língua Gestual do Kuwait,
Língua Gestual da Arábia Saudita
24
Helen Keller’s Legacy, no site Helen Keller Internacional, disponível em http:/
/www.hki.org/about-helen-keller/helen-kellers-legacy/, acesso: 16/06/2013
25
Lei disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10436.htm, acesso: 21/06/2013.
26
Decreto disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2005/decreto/d5626.htm, acesso: 21/06/2013.
27
Conferir a Legislação relativa ao trabalho de pessoas portadoras de deficiência:
coletânea. Brasília: TEM Ministério do Trabalho e Emprego, SIT/DSST, 1999,
disponível
em
http://www.unesp.br/costsa_ses/
mostra_arq_multi.php?arquivo=5641, acesso: 21/06/2013.
28
Ver: William C. Stokoe, Jr - Founder of Sign Language Linguistics - 1919-2000,
disponível em: http://gupress.gallaudet.edu/stokoe.html, acesso 15/06/2013.
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“O gestuno é a Língua de sinais internacional; é uma Língua inventada que
difundiu a Federação mundial de Surdos em 1951. Em 1973, um comité criou
um sistema standard de sinais internacionais. Trataram de eleger os sinais que
melhor se entendiam de várias Línguas de sinais, para criar uma Língua fácil de
aprender.
A comissão publicou um livro com uns 1500 sinais. Não tinha uma gramática
concreta, pelo que muitos dizem que não é uma Língua real.
O nome vem do italiano e significa: união das Línguas de sinais. Alguns Surdos
utilizaram esta Língua nos Jogos Mundiais para Surdos, a Conferência de Surdos
e o Festival de Washington DC, mas obviando estas situações seu uso é muito
reduzido”. “Origens do Gestuno”, in AlfabetoSurdo.com, disponível em http:/
/www.alfabetoSurdo.com/ptsign/gestunoorigins.asp, acesso: 19/06/2013.
30
Ver: “Signuno”, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Signuno,
acesso: 19/06/2013.
31
Adaptado de SALLES, Heloísa Maria Moreira Lima. Ensino de Língua Portuguesa
para Surdos: caminhos para a prática pedagógica. 2 vol. Brasília: MEC, SEESP, 2004.
32
Adaptado de SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de Surdos.
São Paulo: Paulinas, 2006, passim.
33
QUADROS, Ronice Muller de. Educação de Surdos: aquisição da Linguagem.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 47.
34
“Kaspar Hauser”, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Kaspar_Hauser, acesso: 14/06/2013.
35
“Amala e Kamala”, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Amala_e_Kamala, acesso 14/06/2003.
36
SKLIAR, C. “A localização política da educação bilíngue para Surdos”, in:
______ (org.). Atualidade da educação bilíngue para Surdos, processos e projetos
pedagógicos. Porto Alegre: Mediação, 1999, v.1, p.12.
37
SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de Surdos. São Paulo:
Paulinas, 2006, p. 356.
38
“Art. 1º. É obrigatória a colocação, de forma visível, do “Símbolo Internacional
de Surdez” em todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização
por pessoas portadoras de deficiência auditiva, e em todos os serviços que
forem postos à sua disposição ou que possibilitem o seu uso. Art. 2º. O ‘Símbolo
Internacional de Surdez’ deverá ser colocado, obrigatoriamente, em local visível
ao público, não sendo permitida nenhuma modificação ou adição ao desenho
reproduzido no anexo a esta Lei”. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L8160.htm, acesso em 21/05/2013.
39
Imagem disponível em http://cliqueautomotivo.com.br/imagens/imagenssobre-rodas/simbolo-surdez.jpg, acesso: 02/06/2013.
40
Ver, por exemplo, “Mãos em movimento: LIBRAS e educação especial”,
disponível em http://maosemovimento.blogspot.com.br/2010/07/simbolosda-surdez.html, acesso: 20/06/2013.
29
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“Art.1º - Fica instituído o dia 26 de setembro de cada ano como o Dia Nacional
dos Surdos”.
42
SILVA, Tomaz Tadeu. “A produção social da identidade e diferença”, in:_____
(org.). Documentos de identidade; uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte,
Autentica, 1999, p.134.
43
SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de Surdos. São Paulo:
Paulinas, 2006, p105.
44
Ver também o site Comunidade Surda, disponível em: http://
www.comunidadesurda.com.br/, acesso: 11/06/2013.
45
No livro todo, Luis Carlos procurou trazer contribuições de pesquisa e texto
às informações que Carlos lhe trouxe, seguinte a proposta “fifty fifty”. Neste
capítulo, Luis dá mais a palavra a Carlos, pela experiência desta na pedagogia de
surdos, pois Carlos Hilton é bacharel em Comunicação, com experiência como
jornalista e radialista, com matérias publicadas em órgãos de imprensas e
assessorias. Pós-graduado como especialista em Educação Especial com Ênfase
em Surdez, pela FEUDUC (Fundação Educacional de Duque de Caxias), e em
Letramento e Surdez, pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES.
Docente aprovado no concurso Federal (ProLIBRAS/2006) para o ensino médio
e superior da Língua Brasileira de Sinais –LIBRAS, certificado pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) e como tradutor e intérprete de LIBRAS
(ProLIBRAS/2007); profissional tradutor-intérprete de LIBRAS reconhecido
pela Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos FENEIS e pela
Associação dos Profissionais Tradutores e Intérpretes de Língua Brasileira de
Sinais do Estado do Rio de Janeiro – APILRJ, com curso certificado de LIBRAS/
INES/ MEC pelo INES. É membro da comunidade Surda atuando há mais de
dez anos através da educação, promoção política na: saúde, humana, cultural,
social e trabalhista e em demais eventos relacionados à surdez. Elaborador e
organizador de seminários, de cursos e de encontros referentes à Educação e à
cultura Surda. Em 2006, foi condecorado pela Câmara dos Vereadores do Rio de
Janeiro com um prêmio Moção de reconhecimento, pelos trabalhos de politização
prestados à comunidade Surda carioca. Seu lema profissional para a implantação
de uma escola bilíngue de Surdos é “A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS
disseminada na sociedade brasileira”.
46
EDLER CARVALHO, Rosita. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. Porto
Alegre: Mediação, 2004, p. 17.
47
Decreto disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2005/decreto/d5626.htm, acessado: 21/06/20113.
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– LIBRAS. Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010, disponível em http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.htm, acesso:
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53
Ver também VELOSO, Éden; MAIA, Valdeci. Aprenda LIBRAS com eficiência
e rapidez. Curitiba: Mãos Sinais, 2009, p. 16-18. Aqui, desenvolvemos alguns
itens, acrescentamos outros e excluímos aquilo com o que não concordamos.
Nossa proposta se baseia na experiência pessoal em sala de aula com alunos
Surdos.
54
QUADROS, Ronice Muller de. Educação de Surdos: aquisição da Linguagem.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 27.
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