ÁREA TEMÁTICA: 8- O Atendimento Educacional

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ÁREA TEMÁTICA: 8- O Atendimento Educacional
ÁREA TEMÁTICA: 8- O Atendimento Educacional Especializado para alunos com
altas habilidades/superdotação.
ENRIQUECIMENTO CURRICULAR: PRÁTICAS EDUCACIONAIS PARA ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO
HOTZ, Eliane Regina Titon 1
LANGBECKER, Fernanda Belini 2
SANTOS, Naura Nanci Muniz 3
RESUMO:
O
projeto
Enriquecimento
Curricular:
Práticas
Educacionais
para
Altas
Habilidades/Superdotação foi desenvolvido em um dos nove Núcleos Regionais da Educação
do município de Curitiba. O núcleo escolhido tinha uma representatividade significativa de
estudantes identificados com altas habilidades/superdotação. Esses estudantes exigiam dos
professores ações pedagógicas que contemplassem as condições de aproveitamento do seu
potencial. Para uma prática eficaz de atendimento ao estudante com altas
habilidades/superdotação é de fundamental importância considerar: (1) o conhecimento sobre
as suas características; (2) o envolvimento da família enquanto rede de apoio e (3) a mediação
assertiva do professor que o atende. A proposta de discussões, fundamentada teoricamente, e
a realização de práticas de enriquecimento, auxiliaram o professor na percepção das
necessidades educacionais dos estudantes e possibilitaram uma reflexão sobre a sua ação
enquanto docente. Leitura de textos, sensibilização com uso de diferentes recursos, realização
de oficinas e o uso de questionários (um para levantamento de informações sobre o
conhecimento dos professores a respeito do tema altas habilidades/superdotação e outro para
análise do perfil do estudante), foram algumas das estratégias utilizadas para orientar o
trabalho do professor e planejar intervenções mais significativas e enriquecedoras. Os
resultados, obtidos nos encontros, foram analisados e discutidos com os professores. Essa
reflexão oportunizou o repensar da prática docente e sinalizou a importância de uma mediação
assertiva no atendimento às especificidades do estudante com altas habilidades/superdotação.
Os momentos de discussões, a análise das experiências realizadas pelos professores nas
turmas do ensino comum e as atividades vivenciadas no desenvolvimento do projeto,
favoreceram o levantamento das necessidades apresentadas pelos profissionais que tem
matriculado em suas turmas estudantes com altas habilidades/superdotação. A aplicação do
projeto evidenciou a importância do professor fundamentar suas ações a partir do
conhecimento a respeito da temática, para então, poder intervir com excelência no
aproveitamento do potencial dos estudantes.
Palavras-Chaves: Necessidades Educacionais; Mediação; Inclusão; Potencial.
1
Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, Pedagoga, especialista em Educação Especial. E-mail:
[email protected] ou [email protected]
2
Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, Pedagoga, Especialista em Neuropsicologia e
Educação Especial. E-mail: [email protected]
3
Faculdades Integradas Camões. Pedagoga, Psicóloga, Mestre em Ciências da Educação. E-mail:
[email protected]
CURRICULUM ENRICHMENT: EDUCATIONAL PRACTICES FOR HIGH
ABILITIES/GIFTEDNESS
ABSTRACT:
The Enrichment Curriculum Project: Educational Practices for High Abilities/Giftedness was
developed in one of nine Regional Educational Centers of the city of Curitiba. The chosen
center presented a significant amount of students identified with high
abilities/giftedness. These students demanded from the teachers pedagogical actions that
addressed their potential conditions. In order to ensure effective service to students with high
abilities/giftedness it is essential to consider: (1) the knowledge of their own characteristics,
(2) the involvement and support of the families, and (3) the assertive mediation of the teachers
who attend them. The discussion proposal based on theory and practical enrichment
implementation, helped the process of perception of the students’ educational needs and
therefore provided with a reflection on the teacher’s actions. The reading of texts, the
sensitization through the use of different resources, the workshops and the use of
questionnaires (one for gathering of information about teachers' knowledge on the subject of
high abilities/giftedness and the other for the analysis of the student’s profile) were some of
the strategies used to guide the teacher's work and plan more meaningful and enriching
interventions. The results obtained in the meetings, were analyzed and discussed among
teachers. This reflection provided the rethinking of teaching and brought up the importance of
assertive mediation when dealing with students with high abilities/giftedness. The moments of
discussion, the analysis of experiments conducted by teachers in regular school classes and
the activities experienced in the development of the project, favored the assessment needs
from the professionals who have students with high abilities/ giftedness enrolled in their
classes. The implementation of the project highlighted the importance of the teacher actions to
be based on the knowledge of the subject itself in order to guarantee intervention with
excellence and reach the potential of those students.
Keywords: Educational Needs; Mediation; Inclusion; Potential
INTRODUÇÃO
Imagine só um menino ávido por conhecimento na área de Biologia, mais
precisamente sobre a constituição das células do corpo humano, querendo muito discutir sobre
as mitocôndrias, sua função, sua relação com o DNA e muito mais... Não seria nada
surpreendente, se este menino estivesse nos anos finais do Ensino Fundamental ou quem sabe
no Ensino Médio, mas não é esta a realidade do fato. A criança em questão tem apenas seis
anos e está iniciando sua vida escolar. O que fazer com crianças como esta que chegam à
escola intensamente irradiada querer saber?
Para o professor que está à frente das turmas do ensino comum atender esta clientela
constitui um desafio. É consenso entre muitos pesquisadores que dificilmente, apesar de
indicado, os professores de turmas comuns, heterogêneas e com um grande número de
estudantes consigam desenvolver um programa de enriquecimento para estudantes
superdotados. Diante da díade: legalidade da oferta do atendimento X dificuldade em efetivar
o atendimento, são necessárias ações de orientação e apoio ao desenvolvimento de projetos de
enriquecimento. Essas crianças precisam de incentivo e desafios que propiciem o
desenvolvimento de suas potencialidades, caso isso não aconteça, esse potencial latente não
atingirá a capacidade total do seu desempenho.
Não queremos que este fato aconteça. Deixar de aproveitar as habilidades dos
estudantes com altas habilidades/superdotação seria deixar de lapidar diamantes que tem
muito a brilhar!
Estudantes superdotados demandam excelência dos educadores. Isso acarreta a melhoria do ensino,
trazendo a chance que o mesmo aconteça para os demais. Desse modo, uma melhor educação para os
estudantes com habilidades superiores também pode beneficiar todo o contexto educacional e, como
resultado a sociedade poderá contar com melhores políticos, gerentes, pedagogos, pesquisadores,
artistas, professores e profissionais em geral. (Sabatella, 2008 p. 205).
O grande desafio é como o professor poderá desenvolve, no âmbito escolar,
oportunidades para a otimização da aprendizagem e o aproveitamento das habilidades dos
estudantes com altas habilidades/superdotação.
A Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
orienta que deverá ser ofertado a eles o atendimento educacional especializado, organizando
recursos pedagógicos e de acessibilidade, possibilitando o acesso ao currículo, à comunicação
e aos espaços físicos.
[...] o acesso a um tratamento diferenciado, adaptado às condições pessoais do aluno com altas
habilidades/superdotação, mas que garanta igualdade de oportunidades, implica oferecer uma gama de
possibilidades, dentro do que é viável em cada instituição, para que cada uma possa desenvolver
plenamente o seu potencial. O papel de programas específicos para esses indivíduos é o de suprir e
complementar suas necessidades possibilitando seu amplo desenvolvimento pessoal e criando
oportunidades para que eles encontrem desafios compatíveis com suas habilidades (Sabatella &
Cupertino, 2007, p.69).
A educação do estudante com altas habilidades/superdotação ainda exige ações
efetivas por parte de diversos setores da comunidade. O Ministério da Educação e Cultura
(MEC) orienta em seus escritos legais a inclusão e a forma de atendimento que contribua e
enriqueça as práticas pedagógicas suprindo as necessidades apresentadas por esses estudantes.
Segundo Delou (2001) a educação dos superdotados brasileiros pode ser
caracterizada, desde1924, pelo contraste entre a continuidade e a descontinuidade de
iniciativas governamentais e não governamentais. Considerando relatos da referida autora,
percebemos que há algum tempo a superdotação é objeto de estudo e há necessidade dessa
clientela ser identificada e atendida nas suas especificidades. Mitos que acompanham a
temática dificultam o avanço de ações e investimentos que venham suprir a necessidade de
aprofundamento acerca do tema e desse modo impedem um trabalho mais efetivo dentro da
escola.
Buscando otimizar a oportunidade de intervenção pedagógica ofertada pela Secretaria
Municipal da Educação de Curitiba, através do Programa Escola Universidade, foi proposto o
projeto
Enriquecimento
Curricular:
Práticas
Educacionais
para
Altas
Habilidades/Superdotação com o objetivo de subsidiar os profissionais da educação para o
desenvolvimento de estratégias de atendimento e enriquecimento curricular no âmbito escolar.
Segundo as Diretrizes Curriculares para a Educação Municipal de Curitiba (em
consonância com a proposta atual do MEC), o estudante com altas habilidades/superdotação
faz parte do público alvo da educação especial e deve ser atendido com projetos específicos.
O Ministério da Educação e Cultura define a superdotação como um fenômeno
multidimensional que agrega todas as características de desenvolvimento do indivíduo,
abrangendo tanto aspectos cognitivos quanto características afetivas, neuropsicomotoras e de
personalidade.
Historicamente vem se construindo um sistema educacional que preconiza a inclusão
como ato legal e necessário. Em 1990, na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, o
Brasil assumiu o compromisso oficial da erradicação do analfabetismo e universalização do
ensino fundamental. No ano de 1994, foi assinada a Declaração de Salamanca que apresentou
uma linha de ação para inclusão dos estudantes com necessidades especiais nas escolas
comuns das redes de ensino fazendo referência também ao atendimento dos superdotados, a
quem, naquele momento, nomeou de bem dotados. A LDBEN 9394/96 passa a referir-se não
apenas aos estudantes com deficiências, mas aos educandos com necessidades educacionais
especiais. Essa terminologia não resolve o problema da exclusão dos alunos com altas
habilidades na sociedade, mas mostra sintonia legislativa com atualidade teórica”. (MEC,
Vol 1, p. 31). A Resolução nº. 02/2001 reitera a necessidade dos estudantes com altas
habilidades/superdotação serem atendidos conforme suas características e necessidades e
estabelece que:
(...) as escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns
entre outros atendimentos a oferta de atividades que favoreçam ao aluno que apresente altas
habilidades/superdotação, o aprofundamento e enriquecimento de aspectos curriculares mediante
desafios suplementares nas classes comuns, em sala de recursos ou em outros espaços definidos pelos
sistemas de ensino, inclusive para conclusão, em menor tempo da série ou etapa escolar. (Brasil, 2001,
artigo 8º, IX).
A Resolução 04/2009 CEB/CNE, que institui as Diretrizes Operacionais para o
Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial,
determina que os sistemas de ensino devam matricular os alunos com deficiências, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino
regular e no Atendimento Educacional Especializado, ofertados em salas de recursos
multifuncionais ou em Centros de Atendimento Educacional Especializado na rede pública ou
instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos.
Contexto da Superdotação
O conceito de superdotação que fundamentou esse projeto é o apresentado pelo
educador norte-americano Joseph Renzulli, que considera a superdotação como a interação
entre três fatores: habilidade acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade.
O comportamento superdotado consiste nos comportamentos que refletem uma interação entre três
grupamentos básicos dos traços humanos- sendo esses grupamentos habilidades gerais e/ou específicas
acima da média, elevados níveis de comprometimento com a tarefa e criatividade. As crianças
superdotadas são aquelas capazes de desenvolver este conjunto de traços e que os aplicam a qualquer
área potencialmente valiosa do desempenho humano (Renzulli, 1986, p.11-12).
No Brasil não há um consenso sobre os instrumentos utilizados para avaliar a criança
superdotada. Existem ótimas propostas de fichas e roteiros que auxiliam na observação e na
identificação do estudante com altas habilidades/superdotação.
Destaca-se que, para efeito da aplicabilidade do projeto Enriquecimento Curricular:
práticas educacionais para altas habilidades/superdotação optou-se, como referência para
análise e discussão dos casos, a escala para Avaliação das Características Comportamentais de
Alunos com Habilidades Superiores - Revisada, desenvolvida por Renzulli, Smith, White,
Callahan, Hartman e Westeberg (2000) que inclui alguns comportamentos relacionados, em
especial, à aprendizagem, criatividade e motivação, que são registradas no dia-a-dia do
estudante, são eles:
Quanto à aprendizagem o estudante:
•
demonstra vocabulário avançado para a idade;
•
possui grande bagagem de informações sobre um tópico específico;
•
tem facilidade para lembrar informações;
•
tem perspicácia em perceber relações de causa e efeito.
Quanto à criatividade o estudante demonstra:
•
senso de humor;
•
espírito de aventura ou disposição para correr riscos;
•
atitude não conformista, não temendo ser diferente;
•
demonstra imaginação.
Quanto à motivação o estudante demonstra:
•
obstinação em procurar informações sobre tópicos do seu interesse;
•
persistência, indo até o fim quando interessado em um tópico ou problema;
•
envolvimento intenso quando trabalha certos tópicos ou problemas;
•
comportamento que requer pouca orientação do professor.
Outros autores como Delou (1987) e Guenther (2000) apresentam listas com indicadores
de superdotação que em muitos aspectos complementam ou reforçam as características citadas
na escala desenvolvida por Renzulli.
Modelo Triádico de Enriquecimento
Para o atendimento à diversidade de interesses e as características apresentadas pelos
estudantes superdotados, o referido autor propõe o modelo de enriquecimento escolar por ser
um modelo democrático e não exigir muitas mudanças na estrutura da escola.
Segundo Renzulli & Reis (1997) é papel de toda a comunidade escolar o provimento,
a todos os alunos, de oportunidades, recursos e encorajamento para a produção autônoma,
criativa e relevante para um indivíduo quanto para a sociedade. Essa proposta de
enriquecimento sugere: (1) Atividades do Tipo I: experiências e atividades exploratórias com o
objetivo de proporcionar o contato do estudante com vários temas ou áreas do conhecimento.
Devem ser planejadas a partir do interesse dos estudantes para que vivenciem experiências de
investigação e aprofundamento de discussões sobre um determinado tema. (2) Atividades do
Tipo II: aquelas que utilizam métodos e técnicas que serão utilizados nas investigações de
problemas reais, as quais contribuirão para o desenvolvimento de níveis superiores de
pensamento. (3) Atividades do Tipo III: atividades que proporcionam a investigação de
problemas reais. Desenvolve habilidades de pensamento, gerenciamento do tema, avaliação e
habilidades sociais de interação com especialistas, professores e colegas e trazem como
resultado a produção de um novo conhecimento, a solução de problemas ou a apresentação de
um novo produto, sendo que este resultado trará contribuições para a comunidade.
A proposta de enriquecimento vem suplementar a formação do estudante por meio de
estratégias que favorecem o desenvolvimento da sua aprendizagem e o melhor
aproveitamento de suas habilidades. No enriquecimento curricular o estudante participa
ativamente na construção de conhecimentos, produtos e serviços e devendo ser considerada
sua área de interesse.
Por se tratar do trabalho voltado a área do interesse, a teoria das inteligências
múltiplas, de Howard Gardner (1983), vem agregar informações e orientar a intervenção no
atendimento ao estudante com altas habilidades/superdotação. Essa teoria define inteligência
como “um potencial biopsicológico para processar informações que podem ser ativadas num
cenário cultural, para solucionar ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura”.
Método
Para a realização das ações previstas no projeto delimitou-se uma área de aplicação do
projeto que tivesse uma representatividade de estudantes com altas habilidades/superdotação.
Curitiba conta com nove Núcleos de Educação (NRE) e o Núcleo Regional de Educação do
Portão foi escolhido para a implantação do referido projeto. A proposta foi apresentada à
responsável do NRE e a diretora do Centro Municipal de Atendimento Especializado CMAE, espaço de atendimento terapêutico educacional e onde é realiza avaliações
psicoeducacionais dos estudantes matriculados nas instituições de ensino da RME de Curitiba.
No CMAE realizou-se o levantamento de informações sobre o desempenho cognitivo
e intelectual e sobre a vida escolar e os encaminhamentos sugeridos para o seu atendimento
dos avaliados que apresentaram indicativos de altas habilidades/superdotação. Essas
informações enriqueceram as discussões com os profissionais (das escolas de origem dos
estudantes) que participaram dos encontros.
Momentos de discussão orientada foram realizados, abordando por meio de materiais
bibliográficos e práticas de enriquecimento a temática da superdotação. O objetivo dos
encontros era fornecer subsídios para os profissionais que atuam no ensino comum.
Como metodologia de trabalho utilizou-se estratégias como leitura, debates e
apresentações. Reflexões sobre a escola inclusiva, mitos e verdades sobre o indivíduo com
altas habilidades/superdotação, orientações para o enriquecimento curricular tiveram como
norteadores os textos: “Sob a Ótica da Diversidade e da Inclusão: discutindo a prática
educativa com alunos com necessidades educacionais especiais e a formação docente” (Soraia
Napoleão Freitas); “Modelo de Enriquecimento Escolar” - MEC (Jane Farias Chagas; Renata
Rodrigues Maia-Pinto e Vera Lúcia Palmeira Pereira) e “Uma revisão bibliográfica sobre os
mitos que envolvem as pessoas com altas habilidades” (Andréia Jaqueline Devale Rech e
Soraia Napoleão Freitas).
Outra proposta de trabalho realizada foi à aplicação do roteiro de investigação onde os
professores elencaram características dos estudantes a fim de identificar os indicadores de
altas habilidades/superdotação. Esse roteiro favoreceu a organização da próxima intervenção
feita com o grupo, ou seja, as oficinas de enriquecimento com base na característica de cada
estudante (nas diversas áreas do conhecimento).
No último encontro realizado, o grupo de profissionais vivenciou diferentes atividades
podendo experimentar desafios lógicos, jogos matemáticos, jogos interativos, atividades de
autoconhecimento, de produção literária coletiva, de artes (visual e musical) entre outras.
Todos os encontros foram permeados por momentos de acolhida, reflexão e avaliação
das atividades do dia, sendo que no último foi sorteado dois livros sobre o tema.
Disponibilizou-se também aos participantes sugestões de filmes, sites e referência de
materiais bibliográficos de autores que abordam a temática.
Resultados e Discussões
As instituições de ensino exibem uma grande preocupação com os estudantes que não
atingem os critérios de avaliação correspondente à díade idade/ano escolar. Para esses
estudantes são ofertadas oportunidades de acesso a atividades além do período normal de
aula, ajudando-os a “atingir” o conhecimento mínimo exigido para o ano/etapa que se
encontra. Essa preocupação é legítima e por ela consegue-se oportunizar o acesso ao saber,
porém, não somente ela garante que todos os estudantes estejam sendo atendidos nas suas
necessidades. Existe nas salas de aulas estudantes com potencial acima da média que
precisam ser enriquecidos, precisam e necessitam “ir além”. A eles devem ser oportunizadas
estratégias pedagógicas que aproveitem suas potencialidades. Sabatella afirma que
[...] quando as oportunidades não são encontradas, um dos únicos caminhos para os superdotados é
tentar adaptar-se à rotina do ensino convencional, o que significa o desperdício de seus talentos e
aptidões ou a desmotivação por não estarem devidamente assistidos, não conseguindo expandir nem
demonstrar sua total capacidade (2008, p. 173).
No período de aplicação do projeto foi enfatizada a necessidade da prática do
enriquecimento curricular – intra e extra - como forma de intervenção no atendimento aos
estudantes com altas habilidades/superdotação.
Constatou-se que esse procedimento requer dos professores conhecimento sobre a
temática e planejamento de ações que favoreçam a prática do enriquecimento, pois esta
amplia as experiências de aprendizagem favorecendo o desenvolvimento das habilidades e
oportunizando a esses estudantes uma maior complexidade em seus estudos.
Diante da crescente demanda de estudantes com altas habilidades/superdotação faz-se
necessário a continuidade da capacitação e atividades e/ou oficinas como as desenvolvidas
nesse projeto a fim de se garantir excelência no atendimento a essa clientela.
A necessidade dessa capacitação foi externalizada pelos profissionais que participaram
dos encontros. Muitos relataram que esses momentos de vivências, trocas e discussões
contribuíram para a melhoria nas suas ações enquanto docentes. Relataram também que as
experiências e sugestões dos encontros beneficiaram a turma como um todo. Relatos como
esses reforçam o desejo e a necessidade de dar continuidade às ações iniciadas e ampliar o
projeto aos outros Núcleos Regionais de Educação de Curitiba, pois, como já citado
anteriormente, os estudantes com altas habilidades/superdotação fazem parte da clientela da
Educação Especial e devem ser atendidos nas suas especificidades.
Lembrando a situação inicial, descrita neste texto, é muito comum às crianças
chegarem à fase escolar aguçadas pela curiosidade da descoberta. O acolhimento positivo e a
prática de experiências significativas farão grande diferença na trajetória acadêmica.
Para o estudante com altas habilidades/superdotação a expectativa da chegada à
escola é ainda maior. Eles exigem, por apresentarem características específicas, desafios
condizentes com o seu ritmo de desenvolvimento. Quando não são supridos nesse desejo de ir
além do nível que apresentam, podem desencadear o descontentamento no processo ensino
aprendizagem, assim como a desestabilização no aspecto emocional.
Cabe à equipe pedagógica administrativa da escola, num movimento coletivo,
incentivar o gosto pelo aprender e pelo conviver em harmonia.
Conclusão
Os resultados apresentados pelos profissionais que participaram dos encontros foram
muito além do fundamentar-se teoricamente, eles demonstraram ao final do projeto, estar com
o olhar mais “afinado” para identificar no local de trabalho, estudantes com indicadores de
altas habilidades/superdotação.
É importante salientar que as ações desenvolvidas durante a aplicação do projeto
ajudaram a repensar sobre os fatores que ainda mantém a invisibilidade do estudante com
altas habilidades/superdotação.
Eles sempre existiram. A causa de não serem identificados passa pelo
desconhecimento. Desse modo conclui-se que em Curitiba a questão está sendo amenizada
com ações como as desenvolvidas neste projeto.
Não se pode mais pensar em inclusão, excluindo. Os estudantes com altas
habilidades/superdotação precisam de professores que o entendam e contribuam para que eles
se tornem adultos produtivos, realizados e principalmente felizes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Brasil. (1996). Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9394/96. Brasília:
Conselho Nacional de Educação.
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Chagas, Jane Farias & Pinto, Renata Rodrigues Maia & Pereira, Vera Lúcia Palmeira (2007).
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F, Denise de Souza; Alencar, Eunice M. L. Soriano. (2007). Desenvolvimento de talentos e
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F, Soraia Napoleão. (2006). Educação e Altas Habilidades/Superdotação: a ousadia de rever
conceitos e práticas. Santa Maria: UFSM.
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atendimento especializado. Marília: ABPEE.
Sabatella, M.L; Cupertino, C.M.B. (2007). Práticas Educacionais de Atendimento ao Aluno
com altas habilidades /superdotação. In: Fleith, D.S. (Org). A construção de Práticas
educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação: volume 1: orientação a
professores. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial .p 299318.

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