1 QUATRO FASES DE ACONSELHAMENTO Natanael BP

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1 QUATRO FASES DE ACONSELHAMENTO Natanael BP
QUATRO FASES DE ACONSELHAMENTO
Natanael B. P. Moraes
Como uma sinfonia que geralmente tem quatro movimentos, o aconselhamento pastoral também tem
quatro fases: esclarecimento, formulação, intervenção e conclusão.
Esclarecimento
A primeira fase do esclarecimento começa no momento em que o pastor e o membro mantêm contato
visando o aconselhamento. Pode ser tão simples como “Você tem cinco minutos para mim?”, ou “Posso
falar com você na semana que vem?”.
O pastor precisa assegurar ao aconselhado(a) que o conteúdo tratado na seção de aconselhamento
merece sigilo absoluto. Em nenhuma hipótese deve mencionar privada ou publicamente o que foi tratado no
escritório de aconselhamento. Caso isto ocorra, o pastor poderá perder sua credibilidade como conselheiro.
O primeiro passo consiste em esclarecer o processo que se inicia com o aconselhamento. Deve-se
estabelecer uma diretriz para o aconselhamento e evitar que o relacionamento de aconselhamento se estenda
para fora do escritório em cada encontro do pastor com o(a) aconselhado(a). Evita-se aconselhamento na
porta da igreja ou em qualquer local público. O normal é no escritório pastoral.
As primeiras comunicações são não verbais: a porta fechada, a dedicação de toda a sua atenção para
o(a) aconselhado(a). Além desta fase inicial, sua principal tarefa consiste em ouvir. Isto demonstra ao
aconselhado(a) um sentimento de aceitação e compreensão, também cria uma boa atmosfera para
exploração, crescimento e mudança. Este processo de construção do relacionamento através da escuta é o
aspecto mais importante da fase inicial do aconselhamento. É um período para análise da situação do(a)
aconselhado(a) e da sua maneira única de perceber o mundo e a realidade.
Por vezes o pastor não compreende bem o propósito desta fase inicial. Ele pode tender a seguir os
seus instintos naturais e procurar ir direto para o conselho, o consolo, a persuasão, a exortação ou a
elaboração de perguntas. É interessante procurar estabelecer uma identificação básica com o(a)
aconselhado(a), comunicar aceitação e compreensão para auxiliar o(a) aconselhado(a) a se sentir seguro(a).
Formulação
Através do processo de esclarecimento, o conselheiro se prepara para o segundo passo, que é o da
formulação. Nesta fase, o estilo de aconselhamento se direciona para a abordagem com perguntas,
interligando a escuta empática com a apresentação de perguntas.
O objetivo desta segunda fase é o de descobrir a natureza da situação do(a) aconselhado(a) e a
formulação que conduzirá a devida intervenção. Uma parte importante da formulação (“diagnose” num
sentido mais amplo) é a de saber formular a pergunta correta para se obter um quadro mais amplo da
situação do(a) aconselhado(a). É bom que se tenha uma noção da psicopatologia que afeta a maior parte das
pessoas, por exemplo, pode ser que haja uma fonte biológica do problema (esquizofrenia e certos tipos de
depressão) e isto deve ser reconhecido e devidamente encaminhado para o devido tratamento.
Intervenção
Esta fase se interliga com o processo de formulação e inicia quando é preciso tomar a primeira
decisão no sentido de saber como e se é necessário intervir. Aqui se necessita um bom conhecimento para se
tratar dos problemas que surgem para se saber quando se deve encaminhar o(a) aconselhado(a) para um
terapeuta clínico (psicólogo, psiquiatra).
Uma boa pergunta a ser feita pelo pastor é: “O processo de aconselhamento é da minha alçada?”. A
resposta a esta pergunta indica se o(a) aconselhado(a) necessita de um atendimento que está além das nossas
habilidades. A percepção de direcionar o(a) aconselhado(a) para o profissional que tem a devida habilidade
de um atendimento adequado é de extrema importância. O pastor precisa ter um círculo de profissionais
cristãos competentes a quem recorrer para evitar que o(a) aconselhado(a), quando for o seu caso, fique a
vagar sem o devido tratamento.
Conclusão
Como a primeira fase do esclarecimento, a fase de conclusão representa uma transição, uma mudança
no relacionamento. Esta fase é mais fácil para o psicólogo do que para o pastor. No caso do pastor, esta fase
apresenta mudanças desafiadoras que podem conter benefícios e perigos.
1
O propósito desta fase é o de simbolicamente celebrar o fim do relacionamento formal de
aconselhamento e a transição para o relacionamento “normal” entre pastor e membro. Isto se deve ao fato de
que o principal trabalho do pastor não é o de ser conselheiro. Todavia é bom lembrar que o pastor precisa
estar sempre disponível caso surja algum problema no futuro com o membro. O pastor também pode
perguntar discretamente como vai a situação do membro, exercendo o seu papel de um contínuo
relacionamento pastoral, demonstrando um contínuo interesse pastoral. William R. Miller, Practical
psychology for pastors (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1985), 10-17.
Fase de Aconselhamento
Esclarecimento
Formulação
Propósito
1. Realizar a transição
para o
aconselhamento
2. Construir
relacionamentos
terapêuticos
3. Esclarecer os
objetivos
Obter uma
compreensão acurada da
situação ou do problema
do(a) aconselhado(a)
Intervenção
Direcionar-se para os
objetivos do
aconselhamento
Conclusão
Retornar ao
relacionamento pastoral
anterior ao aconselhamento
Habilidades Necessárias
1. Ouvir
reflexivamente
2. Aceitação e empatia
1. Conhecimento de
psicopatologia
2. Sistema organizado
de pensamento sobre
pessoas e problemas
1. Habilidades
específicas de
intervenção
2. Conhecimento sobre
como escolher
intervenções
adequadas
3. Conhecer bons
profissionais a quem
recorrer
1. Habilidades de
transição suaves
2. Habilidades de apoio
contínuas
3. Desenvolvimento de
uma comunidade que
apóia
William R. Miller, Practical psychology for pastors (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1985), 1017.
2
NAMORO
O Problema do Namoro Prematuro
O namoro é um dos focos de maior tensão entre pais e filhos.1
Os adolescentes investem muito do seu tempo, dos seus pensamentos, energia sobre namoro.
O irônico é, enquanto os adolescentes investem tanto tempo para o tema do namoro, poucos estão
preparados para fazerem as escolhas que o namoro exige.
Constantemente os adolescentes recebem pressão dos amigos para namorarem alguém.
Causas do Namoro Prematuro
Muitos adolescentes enfrentam situações perigosas e desapontamentos porque começam o “jogo do
namoro” cegamente, sem estarem cônscios das decisões a serem feitas no namoro.
Decisões no Namoro
De um modo geral, os adolescentes gastam muito tempo diante do espelho, antes de saírem à procura
de alguém. Contudo, poucos estão devidamente preparados para tomarem decisões relevantes para um bom
namoro.
Quando começar a namorar. Esta é uma questão que gera muitos conflitos nos lares, “Quando um
adolescente pode começar a namorar?” Alguns pais pensam que os filhos deveriam atingir uma certa idade
antes de namorar. Alguns adolescentes pensam que já nasceram prontos para namorarem; outros se
preocupam, pensando que já ultrapassaram “a data limite” para o início do namoro.
A idade cronológica é apenas um indicador de que um adolescente está pronto para namorar. O fator
preponderante é se ele ou ela são espiritual e emocionalmente maduros o suficiente para enfrentarem as
consideráveis decisões e perigos que envolvem o namoro. Alguns adolescentes podem ser suficientemente
maduros aos quinze ou dezesseis anos; outros, provavelmente deveriam esperar mais para começarem a
namorar.
Fatores chaves que indicam que os adolescentes estão maduros para o namoro são:
1. Ele ou ela são influenciados, com freqüência, pela pressão do grupo?
2. Ele ou ela são atraídos, principalmente, por adolescentes da mesma idade?
3. Ele ou ela pretendem namorar para desenvolverem amizade ou romance?
4. Ela ou ela já fizeram o compromisso de abstinência sexual até o casamento e estão determinados
a não comprometerem este compromisso?
5. Ele e ela já têm a permissão dos pais para namorar?
Se as respostas foram não às questões acima, o adolescente deveria desenvolver mais maturidade
antes de começar a namorar.
O fator da idade. “Meu namorado é vários anos mais velho do que eu”, afirmou uma jovem, “e
meus pais não querem que eu namore com ele. Será que a diferença de idade realmente importa?” Enquanto
a diferença de idade de cinco anos faz pouca diferença entre um jovem de 30 e uma jovem de 25 anos, por
exemplo, pode ser problemático para uma adolescente de quatorze namorar um adolescente de dezenove
anos. A razão para isto é que antes dos vinte anos ocorrem muitas mudanças físicas, emocionais e
espirituais; algumas mudanças podem ocorrer tão rapidamente de modo a não permitir que um adolescente
esteja bem preparado para enfrentá-la. Naturalmente, mais uma vez, a questão central não é a idade
cronológica, mas a maturidade espiritual e emocional. Todavia, diferenças de idade de mais de dois anos, em
princípio, deveriam ser evitadas até aos vinte anos.
Namoro inter-racial. Embora muitos livros sobre namoro evitem o tema, o namoro inter-racial é
uma questão que muitos jovens enfrentam. É bom deixar bem claro o que a Bíblia diz, “não pode haver
judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo
Jesus” (Gl 3:28). Jesus quebrou todas as barreiras entre judeus e samaritanos (Jo 4:1-10); cananitas e judeus
1
Esta sessão que trata de aconselhamento sobre namoro fundamenta-se em Josh McDowell, e Bob Hostetler, Josh McDowell’s
Handbook on Counseling Youth (Dallas, TX: Word Publishing, 1996), 121-128.
3
(Mt 15:21-28); romanos e judeus (Lc 7:1-10). Os jovens cristãos devem estar bem cônscios da possibilidade
de haver implicações sociais devido a um relacionamento inter-racial, contudo a cor não pode ser uma
barreira para o relacionamento entre cristãos.2
Namoro “missionário”. Pode um jovem adventista namorar um não-adventista? Pode um jovem
utilizar o namoro como um meio de testemunhar por Cristo? A Palavra de Deus responde estas questões
com bastante clareza: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode
haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas?” (2Co 6:14). A advertência de
Paulo não se aplica apenas a negócios, por exemplo, mas também a namoro e casamento.
O que um cristão pode compartilhar com um [não-cristão]? Há muitas áreas de interesse em
comum... Hobies, música, esportes, política, interesses intelectuais, todos podem ser pontos de
contato entre cristãos e não-cristãos. Contudo, será que é possível encontrar um valor de interesse
eterno entre os dois? Não, você não pode encontrar. Em áreas vitais como vontade de Deus, ética
divina, reino de Deus, valores da família de Deus e relacionamento marido-mulher cristãos, você
percebe que cristãos e não-cristãos são verdadeiros estranhos. Todavia, é nestas áreas que o amor e o
casamento acontecem. É aqui onde a comunicação realmente se efetiva.3
Isto não significa que um cristão não possa desfrutar de bom companheirismo com não-cristãos como
jogar futebol, compartilhar um sorvete, etc. Contudo, os jovens cristãos que se envolvem em romances com
não-cristãos estão ultrapassando uma linha de proteção estabelecida pela Palavra de Deus.
Perigos no Namoro
Os adolescentes que se preparam para o namoro precisam não apenas confrontar as decisões a serem
feitas para iniciarem este tipo de relacionamento, mas, também, estarem cônscios dos perigos:
1. Há o perigo de se isolar dos amigos. Relacionar-se com alguém do mesmo sexo é tão importante
quanto relacionar-se com o sexo oposto. Mas, às vezes, quando alguém está namorando, passa a
deixar os amigos de lado, e esses amigos podem ser muito importantes, principalmente se o
namoro vir a terminar. Também há o perigo de esquecer outros relacionamentos importantes
como irmãos, irmãs, e os pais.
2. Há o perigo de namorar por motivos errados, como por exemplo, namorar para impressionar os
amigos, para obter alguém de volta ou namorar por ciúme. Em tais casos, você está meramente
usando o seu(sua) namorado(a). Você realmente não se importa com a outra pessoa.
3. Muitos namoros se baseiam em poder, não em amor. O namoro torna-se um jogo de poder. A
outra pessoa é mantida na ponta de um elástico como se fosse um iô-iô.
4. Há o perigo de confundir atração física e emocional com o amor verdadeiro. Há, igualmente, o
perigo de permitir que o desejo sexual assuma o controle.4
Com muita freqüência, especialmente aqueles que começam namorar muito cedo, estão
temerariamente despreparados para enfrentar os perigos que o namoro pode apresentar, e, como resultado,
exporem-se desnecessariamente ao pior que a experiência do namoro pode oferecer.
Propósitos do Namoro
Alguns tipos de namoros são caracterizados por linguagem imprópria e jogos sexuais inadequados. O
jovem cristão deve evitar isto. Para tanto, ele precisa definir bem os propósitos, os padrões e os planos para
o namoro.
Propósito. Surpreendentemente a maioria dos adolescentes dá pouca atenção aos propósitos do
namoro. Para eles, o mais importante é seguir o rumo da atração sentida pela pessoa do sexo oposto. A
seguir, alguns dos propósitos do namoro:
2
Ver estudo sobre casamento inter-racial na apostila de Família e sociedade do professor Natanael Moraes, 25-32.
Barry Wood, Questions Teenagers Ask about Dating and Sex (Old Tappan, NJ: Fleming H. Revell, 1981), 144; citado em Josh
McDowell, e Bob Hostetler, Josh McDowell’s Handbook on Counseling Youth (Dallas, TX: Word Publishing, 1996), 124.
4
Lês J. Christie, Dating and Waiting: A Christian View of Love, Sex, and Dating (Cincinnati, OH: Standard Publishing, 1983),
12-14; citado em Josh McDowell,e Bob Hostetler, 125.
3
4
1. Socialização. Através do namoro obtém-se diversão com outra pessoa, conhecimento, companhia
de outra pessoa, aprende-se a compartilhar interesses comuns, desenvolve-se a habilidade de
dialogar. O namoro é um meio de aprender mais a respeito de si mesmo, ao mesmo tempo, é uma
oportunidade de desenvolver a capacidade de perceber as necessidades e sentimentos de outra
pessoa.
2. Escolha do futuro cônjuge. Obviamente, a pessoa com quem você se casar será aquela com quem
você namorou. A seqüência geralmente é:
a) Namoro casual. Pouco envolvimento emocional. O jovem começa um relacionamento
com alguém do sexo oposto pelo prazer de ter alguma coisa para fazer e algum lugar para
ir. Este passo permite que você comece a conhecer alguém.
b) Namoro Especial. Este passo requer um grau limitado de envolvimento emocional.
c) Namoro firme. Este passo é atingido quando dois jovens decidem fazer um compromisso
de amor e companheirismo mútuos. Quando eles percebem que existe uma harmonia de
personalidades.
d) Pré-noivado. Quando o casal de namorados começa naturalmente a desejar um
relacionamento permanente e fala sobre futuros planos de casamento.
e) Noivado. Este passo é formalizado com a troca de um símbolo (aliança) e o anúncio
público da data do casamento.
f) Casamento. Depois de um período mínimo de dois anos de conhecimento, havendo
comprovado que realmente há amor, compreensão e harmonia de personalidades, ambos
estão prontos para a união definitiva.5
Uma clara compreensão dos propósitos do namoro é crucial. Obviamente, a exploração e as relações
sexuais não se constituem propósitos saudáveis do namoro; mas a socialização e a escolha do futuro cônjuge
são propósitos legítimos para o namoro.
Padrões. Um jovem suficientemente amadurecido estará apto a estabelecer padrões e limites para o
namoro. Os pais, bem como outros líderes, deverão auxiliar os jovens a responder questões tais como:
1. Devo freqüentar apenas lugares públicos quando estou namorando?
2. Que tipos de toques e interações são aceitáveis?
3. Que tipos de atividades evitarei ou recusarei?
Se tais questões forem devidamente respondidas antes que a tentação chegue, poderão impedir
muitos problemas.
Os padrões do namoro deveriam incluir uma determinação clara até onde os namorados podem ir na
expressão de afeto:
5
Nancy Van Pelt, The Compleat Courtship (Washington, DC: Review and Herald Publishing Association, 1982), 36-38.
5
ESTABELECENDO LIMITES
Estar Juntos
Áreas Seguras
Mãos Dadas
Beijo Simples
Início do Perigo
Beijo Prolongado
Excitação Masculina
Abraçar
Excitação Feminina
Carícias Leves
Desejos Incontroláveis
Carícias Pesadas
Relação Sexual6
Impossível Retornar
A linha demarcatória da prudência deve ser traçada logo após o beijo simples. A grande maioria dos
casais de namorados, de qualquer idade, não pode ir mais longe sem ter de enfrentar problemas.
Planos. O último passo no estabelecimento de um bom propósito para o namoro é o planejamento.
Deve-se começar planejando a criação de um clima que favoreça o aprofundamento da amizade. Uma boa
escolha é andar livremente por um: parque, shopping, zoológico, etc. Este tipo de atividade facilita o
diálogo, permitindo que os participantes descubram os gostos e as preferências um do outro, aquilo que não
gostam e as experiências prévias de suas vidas. Outras boas atividades para o namoro incluem:
1. Jogos de mesa como quebra-cabeças
2. Esportes simples como ping-pong
3. Passeio de barco a vela, surfar
4. Um passeio pela vizinhança
5. Jantar juntos
6. Andar de patins, skate
7. Fazer longas caminhadas
8. Produzir vídeos caseiros
9. Planejar uma festa para os amigos
10. Ver álbuns de fotos de família juntos
Outro ponto chave no planejamento para o namoro é preparar previamente respostas à questões que poderão
surgir, tais como:
1. Quanto dinheiro eu posso gastar?
2. O que eu vou dizer se o(a) meu(inha) namorado quiser ter contatos físicos mais íntimos?
3. Se ele(a)quiser me levar para um lugar que eu não gostaria de ir, o que devo fazer?
4. Se, porventura, surgirem estas circunstâncias, poderia vir a terminar o namoro?
5. Como eu posso avaliar se o namoro vai bem ou não?
6. É relevante consultar os pais antes de sair para saber o ponto de vista deles?
Uma pesquisa feita com 1.322 jovens adventistas no Brasil, sobre o interesse dos pais em saber para
onde e com quem seus filhos saem, revelou o seguinte:
58% - sempre
10% - muitas vezes
16% - algumas vezes
6
Natanael B. P. Moraes, Teologia e ética do sexo (Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Advenrtista, 2000), 206.
6
9% - raramente
7% - nunca
Isto significa que dois terços dos pais (68%) se preocupam em saber com quem os filhos saem e
quais os lugares que eles freqüentam. Vinte e cinco por cento o fazem esporadicamente, e 7% simplesmente
não se importam.7
A Resposta ao Problema do Namoro Prematuro
Será que os jovens estão prontos para namorar? Será que eles namoram com discernimento? Será que
os jovens estão sendo vítimas dos riscos do namoro. Um pai sensível, um líder de jovens pode auxiliar os
jovens a responder estas questões através do emprego da seguinte estratégia:
Ouça. Dedique tempo para conversar com o jovem acerca de namoro e ouça, realmente o que ele ou
ela tem a dizer. Procure averiguar se ele ou ela possuem a maturidade emocional e espiritual para
começarem a namorar com a devida prudência.
Demonstre simpatia. Procure lembrar dos seus tempos de adolescência e da importância que o
relacionamento moças-rapazes tinha para você. Seja cuidadoso no reconhecimento da urgência e da
importância que as questões do namoro têm para os adolescentes. Procure, também, compreender as
necessidades emocionais e espirituais que os jovens almejam suprir no namoro. É preciso que os pais e os
líderes jovens saibam perceber se as expectativas dos jovens são ou não realísticas, através da perspectiva
deles.
Afirme. Com freqüência, os jovens utilizam o namoro para suprir necessidades que não estão sendo
atendidas por outros relacionamentos, por exemplo, o relacionamento com os pais. Se, porventura, os pais
não estão correspondendo às expectativas de seus filhos referentes a amor e a aceitação, os jovens ficarão
vulneráveis às pressões, perigos e prazeres impróprios no namoro. Os relacionamentos no namoro serão
mais fáceis de serem administrados se os jovens receberem afirmação, afeição e apreciação de outras
pessoas – especialmente dos seus pais.
Direcione. Pais, pastores, pessoas que trabalham com jovens, ou professores podem auxiliar os
jovens que estão pensando namorar através das seguintes iniciativas:
1. Orar por eles.
2. Orar com ele ou ela acerca da experiência do namoro.
3. Acompanhá-los nas decisões a serem feitas sobre namoro.
4. Informar os jovens sobre os perigos que o namoro pode oferecer.
5. Auxiliar os jovens a formular bons propósitos para o namoro, dentro dos parâmetros apresentados
no presente guia.
Motive-os a fazerem um compromisso. Bons pais e bons líderes de jovens devem auxiliá-los a
planejar seus respectivos namoros mediante o estabelecimento de um “contrato de namoro” que estabeleça
limites que respeitem os valores estabelecidos pela Palavra de Deus.
Recomende. O líder de jovens, professor, pastor, certamente desejará envolver os pais no processo
de auxílio aos seus filhos para o enfrentamento das pressões próprias ao namoro. Da mesma maneira, os pais
deverão, de boa vontade, procurar o apoio de pastores especializados no trabalho com jovens, professores,
ou outro líder qualquer devidamente habilitado. Noutras situações, especialmente aquelas nas quais os
jovens demonstram estar passando por dificuldades sérias no namoro, pode ser necessário aos pais
procurarem a orientação de um conselheiro profissional, que pode oferecer um direcionamento bíblico
sólido.
7
Moraes, Teologia e ética do sexo para solteiros, 117.
7
ESCOLHA DO CÔNJUGE
Ela estava com dezenove anos e cursava o primeiro ano de sua faculdade. Nunca antes estivera tão
confusa. Luisa sentou-se na poltrona do conselheiro escolar e começou a abrir e fechar a carta do seu
namorado que freqüentava outra faculdade, a cerca de cinco mil km dali. Inicialmente, quando ela abrira a
carta e lera o remetente, ela pensou que ele estava escrevendo para terminar o namoro, que ele havia
conhecido outra pessoa. Contudo, este não era o conteúdo da carta. Ele lhe escrevera para fazer um pedido.
“Eu sei que deveria fazer isto pessoalmente”, ele escreveu, “e eu gostaria mesmo de fazê-lo. Mas não
sei quando poderei vê-la de novo”. A carta sugeria que eles se casassem no fim do ano escolar e que ela
transferisse sua matrícula para a escola dele.
“O que você irá dizer a ele?” perguntou o conselheiro.
“Não sei”, Luisa respondeu.
“Você o ama?”
“Sim”, foi o que Luisa imediatamente respondeu. Então ela baixou seus olhos e voltou a abrir e
fechar a carta do namorado. “Mas...”
O conselheiro esperou enquanto Luisa mexia na carta.
“Não estou segura se ele é a pessoa certa”, disse ela vagarosamente.
“Você não precisa responder a ele imediatamente”, sugeriu o conselheiro. “Você pode ligar para ele
e dizer que não está preparada no momento para lhe dar uma resposta”.
“Mas eu não posso fazer isto com ele”, disse Luisa. “Eu não posso fazê-lo”.
“Então”, disse lentamente o conselheiro, “o que você vai fazer?”
Luisa ergueu seus olhos, contemplou o conselheiro e começou a chorar. “Eu não sei”, foi o que ela
declarou.8
O Problema da Escolha da Pessoa Certa para o Casamento
As duas escolhas mais importantes na vida de um homem e uma mulher são: seguir a Cristo e o
casamento. O problema da escolha da “pessoa certa” para casar pode provocar um conflito intenso, por
vezes muita confusão, na mente dos jovens.
A questão da “pessoa certa” é mais forte para as pessoas que não concordam com o divórcio,
que desejam casar-se uma só vez por toda a vida. Se têm dúvidas, como podem resolvê-las? Como
podem saber se a pessoa que encontraram é a pessoa certa? Ainda que a pessoa não esteja pensando
em casamento, quando ela encontra alguém pela primeira vez, a pergunta pode vir a mente: será esta
a pessoa certa?
Como você poderá saber quem é a pessoa certa dentre todas as milhares do sexo oposto que
você encontra? Existe algum sexto sentido que lhe esclareça? Será que você precisa sentir um
friozinho na espinha para saber? Ou você deverá utilizar alguma análise racional, por exemplo, um
programa de computador que defina as pessoas compatíveis ou que esclareça valores de modo a
revelar a pessoa certa?
Muitos jovens olham ao seu redor e vêem divórcios, casamentos infelizes e perguntam se eles
podem esperar algo melhor. Observam casais em conflito e ficam preocupados quanto a fazerem uma
escolha equivocada. Contemplam relacionamentos abusivos e ficam com medo de fazerem uma escolha que
resulte em algo semelhante para suas vidas.
As pesquisas revelam que, enquanto 90% dos adolescentes que freqüentam uma igreja acreditam que
Deus pretende que o casamento seja para toda a vida, menos da metade (48%) dizem que desejam um
casamento como o dos seus pais. E 43% acreditam que é muito difícil ser feliz no casamento nestes dias.
Com tal clima, muitos jovens estão preocupados com a escolha do parceiro certo para o casamento.
Muitos estão determinados a não repetirem os erros dos seus pais. Não desejam aumentar os índices das
estatísticas de divórcio. Apesar de tudo, os jovens ainda desejam encontrar um cônjuge verdadeiro, que os
ame por toda a vida. Ainda assim, estão temerosos de fazer a escolha errada.
8
Esta sessão que trata de aconselhamento sobre escolha do cônjuge fundamenta-se em Josh McDowell, e Bob Hostetler, Josh
McDowell’s Handbook on Counseling Youth (Dallas, TX: Word Publishing, 1996), 129-135.
8
Causas das Escolhas Erradas
Muitos jovens cometem enganos no namoro e no casamento. Alguns dos seus erros tornam-se
trágicos. Freqüentemente, estes enganos não dependem de não encontrar a pessoa certa, mas resultam de
outras causas.
Não ser a Pessoa Certa
Por vezes adolescentes e jovens cometem o engano de orar e procurar pela pessoa certa esquecendo
de que, em primeiro lugar, eles deveriam ser a pessoa certa. O jovem que não se entrega a Deus, que não
obedece a Sua vontade revelada na Bíblia, está perdendo tempo.
É neste ponto que muitos jovens falham. Ao invés de orarem e se esforçarem por se tornar uma
pessoa comprometida com o propósito de Deus para um casamento indissolúvel, muitos procuram
freneticamente por um cônjuge em cada namoro – enveredando, desta maneira, para uma possível decepção.
Buscando a Pessoa Errada
Do mesmo modo, alguns jovens estão a procurar pela pessoa certa sem se darem conta de que eles
estão, na verdade, buscando a pessoa errada. Eles idealizam em suas mentes o que pensam ser a pessoa
certa. Fazem uma lista de atributos, como beleza física, “charme”, comportamento impecável, podendo
incluir, também algumas virtudes sociais espirituais, como a daquele jovem, estudante de teologia, que
sonhava com uma futura esposa que fosse bonita, inteligente, cristã e rica.
Por vezes (normalmente sem percebê-lo) algumas garotas imaginam que “o cônjuge certo” será
alguém exatamente como o “meu pai”.
Naturalmente, ao procederem desta maneira, muitos jovens pintam uma imagem do sr. Correto ou da
sra. Perfeita que é tão idealizada ou romântica a ponto de torná-los cegos às possibilidades ao redor deles.
Isto não quer dizer que um jovem não deveria procurar por certas qualidades numa pessoa em potencial, mas
simplesmente que tais qualificações deveriam refletir objetivos realistas.
Utilizando Motivos Errados
Alguns enganos no namoro e no casamento são freqüentemente o resultado de motivos equivocados
– alguns até mesmo impróprios. Inclusive adolescentes e jovens cristãos procuram uma pessoa por motivos
errados.
“Senhor Desespero”. “Todos estão se casando após obterem o diploma (do ensino médio ou da
faculdade), e eu também devo fazê-lo”.
Síndrome de “dama-de-honra”. “Sempre a dama-de-honra, nunca a noiva”. Alguns se sentem
como se fossem os últimos solteiros, e as mulheres, particularmente, parecem ter medo de ficarem sozinhas,
após todos os “bons partidos” terem se casado.
A grande oportunidade. Alguns se casam por causa de uma vida infeliz no lar...
“Só por desaforo”. Às vezes alguns se casam logo após saírem de um relacionamento que muito os
fez sofrer. Eles tentam preencher o vazio deixado ou pensam estar se vingando com esta medida...
Pressão. Quando os pais pressionam para que se casem, alguns sucumbem e casam. Ou quando um
namorado/noivo pressiona o outro para casar, e ele aceita... Eles se casam por obrigação, não por amor.
Atender as necessidades. Muitas pessoas se casam, principalmente para atender as suas próprias
necessidades, ao invés de atender as necessidades do parceiro. Estas necessidades podem centralizar-se na
auto-estima, sexo, emoções, finanças, ou outras necessidades. Algumas vezes existem necessidades de
caráter mais íntimo, como a de se sentir valorizado ou a de se tornar alguém importante.
9
Crise de gravidez. Um elevado número de jovens se casam a cada ano por causa da crise de
gravidez. Em algumas situações, esta é a melhor medida, mas não o é na maioria dos casos. 9
A Perspectiva Bíblica da Escolha do Cônjuge Certo
“O sucesso na vida não consiste tanto em se casar com a pessoa que o fará feliz”, afirma Charles
Swindoll, “mas em fugir de muitos que poderiam torná-lo um miserável”.10
Existem três questões fundamentais: (1) há somente uma pessoa certa?; (2) como posso saber se
encontrei a pessoa certa?; (3) como eu posso me preparar?
Há Somente uma Pessoa Certa?
Tim Stafford afirma:
Eu acredito que se Deus deseja que você se case, ele tem uma pessoa certa para você. Penso
que você pode ter certeza de encontrar esta pessoa se você andar na luz de Deus. E você, certamente,
será apto a dizer, “Esta mulher [ou este homem] é a pessoa certa para mim”.
Nem todos os cristãos pensam desta maneira. Alguns poderiam dizer que Deus não tem uma
pessoa especialmente escolhida para você. Diriam que você poderia se casar com qualquer pessoa
dentre um determinado número. É possível que estejam certos.11
Stacy e Paula Rinehart sugerem que seria mais realístico dizer que “você deve se casar com uma
pessoa certa, ao invés de com a pessoa certa”:
É óbvio que enfrentamos uma tensão de verdades. Deus está no controle, como Jó disse:
“Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42:2). Também é
verdade que Deus nos dá liberdade para fazer escolhas sábias dentro dos limites dos Seus valores
morais. A Bíblia diz que uma pessoa cristã só pode casar com outra pessoa cristã [2Co 6:14] o que
por si é bastante limitador (pois descarta muitas pessoas do mundo), mas, noutro sentido, é muito
amplo (pois há muitos cristãos). Portanto, dentro do corpo de cristãos devemos fazer escolhas
espiritualmente certas. Não podemos ignorar nem a soberania de Deus nem a nossa
responsabilidade.12
Como Posso Saber se Encontrei a Pessoa Certa?
Como muitas outras decisões, a escolha do cônjuge afetará o resto da vida de uma pessoa – na
verdade, o resto da vida de duas pessoas. E, como qualquer outro esforço para conhecer a vontade de Deus,
isto deverá ser feito mediante oração e estudo da Bíblia.
A questão permanece, uma vez que a pessoa tenha procurado sinceramente a direção de Deus com
respeito a escolha do cônjuge, como é possível saber se tomou a decisão certa? Tim Stafford oferece uma
perspectiva que pode ajudar:
Se você acredita que há uma pessoa certa, como poderá ter certeza?
Talvez a resposta que eu vou lhe dar – é uma resposta bíblica – possa frustrá-lo. Como
normalmente ocorre com a Bíblia, ela não resolve o seu problema da maneira que você gostaria que
ela o fizesse. Aqui está a resposta: Você saberá com certeza a resposta no dia em que você estiver
diante do pastor e disser “Sim”. Até aquele dia você não terá plena certeza. Após aquele dia a
questão estará respondida, para sempre...
É como uma adivinhação ou jogo. Você gostaria de saber previamente o resultado para
acertar o palpite. Ao contrário disto, a decisão torna-se bem mais difícil. Você faz a sua própria
9
Barry St. Clair, e Bill Jones, Love: Making I t Last (Bernardino, CA: Here’s Life Publishers, 1988), 139-140; citado em
McDowell, e Hostetler, 132.
10
Charles R. Swindoll, Singleness (Portland, OR: Multnomah, 1981), 13; citado em McDowell, e Hostetler, 132.
11
Tim Stafford, Worth the Wait: Love, Sex, and Keeping the Dream Alive (Wheaton, IL: Tyndale, 1988), 106; citado em
McDowell, e Hostetler, 132-133.
12
Stacy, e Paula Rinehart, Choices, Finding God’s Way Dating, Sex, Singleness, and Marriage (Colorado Springs, CO: NavPress,
1982), 142; citado em McDowell, e Hostetler, 133.
10
escolha, e depois que você a fez, você ouve um porta bater atrás de si. Sua escolha repentinamente
tornou-se a escolha de Deus.
Eu acredito que nós nos frustramos porque recusamos enfrentar a difícil situação do
casamento – e de nós mesmos. Nós queremos reduzir o casamento a uma questão de encontrar a
correta combinação de personalidades, como o achar a chave correta para a fechadura. Nós passamos
a avaliar as candidatas uma a uma de acordo com uma lista de qualidades para ver se elas se
encaixam nas mesmas.
Realmente eu creio que a compatibilidade é importante. Todavia, não é o critério mais
importante para um casamento bem sucedido. O principal foco do Senhor não é compatibilidade, mas
uma questão que atinge o coração do casamento: Você tem condições de dizer “Sim” e permanecer
firme até a morte? Se você tem, então você encontrou a “pessoa certa” – e você também se tornou “a
pessoa certa”.13
Como Devo me Preparar?
A partir do momento em que um jovem estiver seguro de que encontrou a pessoa com quem
ele passará o restante de sua vida, os próximos passos são o noivado e o casamento.14
A pergunta que surge é, por quanto tempo deveria se estender o noivado?
1. O noivado deve se estender pelo tempo que for necessário ao preparo para o casamento. Há
dois grandes eventos a serem preparados, a cerimônia de casamento e a vida em comum após a
cerimônia. O planejamento da cerimônia de casamento geralmente leva de três a seis meses,
dependendo do tamanho da cerimônia.15
2. Noivados longos podem apresentar dificuldades porque durante este período as tentações
sexuais aumentam. Quanto mais longo o noivado, mais pressões... A prudência indica uma extensão
entre três a doze meses.16
A Resposta ao Problema da Escolha do Cônjuge Certo
Um pastor ou líder de jovens pode auxiliar os jovens a se prepararem para o noivado e o
casamento com a seguinte estratégia:
Ouça
Ofereça a eles o tempo necessário para que falem sobre os seus relacionamentos. Procure
descobrir a perspectiva do aconselhado sobre namoro, casamento e vontade de Deus.17
Demonstre Simpatia
Procure ver os fatos com os olhos deles. Lembre-se dos seus tempos de adolescência; de que
modo você era semelhante a eles? Seus conflitos eram semelhantes aos deles? Aproveite todas as
oportunidades para comunicar sua empatia e compreensão.18
Afirme
Muitos dos jovens que são tentados a se casarem por razões erradas são motivados, em parte,
pela insegurança. É imprescindível afirmá-los, dizendo que ele ou ela são muito importantes para
Deus. Informe-lhes que você gosta de estar junto deles compartilhando fatos que são relevantes para
eles.19
Direcione
Uma maneira de oferecer orientação é através do conteúdo deste capítulo. Outra é através de
perguntas que possibilitam avaliar os motivos e o nível de preparo para o casamento, através de
perguntas como estas:
13
Stafford, 111; citado em McDowell, e Hostetler, 133.
McDowell, e Hostetler, 133.
15
Ibid., 134.
16
Ibid.
17
Ibid.
18
Ibid.
19
Ibid.
14
11
1. Ambos são cristãos? (Ver 2Co 6:14).
2. Vocês têm procurado descobrir a vontade de Deus de acordo com a Bíblia?
3. Vocês se amam segundo o padrão do amor bíblico? (Ver 1Co 13).
4. Os pais de vocês aprovam? (Ver Êx 20:12).
5. Vocês se auxiliam mutuamente a crescer no conhecimento de Deus?
6. Vocês conseguem dialogar tranqüilamente?
7. Vocês têm amigos em comum?
8. Ambos têm “orgulho” um do outro?
9. Ambos têm o mesmo nível intelectual?
10. Ambos têm interesses em comum?
11. Ambos compartilham os mesmos valores?
12. Vocês se auxiliam emocionalmente?
13. Vocês confiam completamente um no outro?
14. Ambos têm condições de aceitar e apreciar suas respectivas famílias?
15. Existem, porventura, questões envolvendo aspectos não resolvidos do passado?
16. O sexo está sob controle?
17. Quanto tempo vocês já passaram juntos? (Lembre que o tempo mínimo recomendável
para namoro e noivado são dois anos).
18. Em algum momento já tiveram conflitos e souberam perdoar?
19. Já discutiram sobre todas as áreas da vossa vida futura?
20. Tiveram alguma sessão de aconselhamento? 20
Motive o Aconselhado a Fazer um Compromisso
Procure incentivar o(a) aconselhado(a) a por em prática as idéias apresentadas no aconselhamento.
Desafie-o a desenvolver suas próprias convicções e aplicá-las, com base na Bíblia, a fim de poder escolher
seu futuro cônjuge para toda a vida.21
Recomende
O ideal é que cada casal que é candidato ao matrimônio seja aconselhado por um pastor ou
conselheiro cristão profissional. O aconselhamento deveria abranger várias sessões. 22
20
Ibid., 134-135.
Ibid., 135.
22
Ibid.
21
12
Escolha do Cônjuge – Determinismo?
A tese de que há uma pessoa exclusiva para cada um de nós tem como base a predestinação divina.
Deste modo, predestinação e determinismo estão associados.
Uma das conseqüências desta “predestinação conjugal” é a de que Deus determina o nosso cônjuge à
revelia de nossa vontade. Noutras palavras, pressupõe que Deus é uma pessoa arbitrária e ditatorial. 23
Há duas teorias sobre a presciência divina: uma é a presciência divina absoluta e a outra é a
presciência divina relativa. Quanto à presciência divina absoluta, esta se subdivide em duas, a não causativa
que aceita o livre arbítrio humano e a causativa, por sua vez, determinista, ou seja, nega o livre arbítrio
humano.
A presciência divina absoluta não-causativa entende que Deus prevê o futuro nos mínimos detalhes,
bem como todas as ações dos seres livres, sem que isto implique em determinismo ou predestinação.
A presciência divina absoluta causativa coloca ênfase sobre a soberania de Deus e afirma que todas
as coisas ocorrem pela vontade de Deus. As raízes desta teoria estão em Agostinho que teve um forte
defensor em Calvino. Para ele a graça divina é destinada àqueles a quem Deus escolhe; Ele predestinou para
o castigo e para a salvação, inclusive o número de cada um dos casos para a salvação ou perdição está
fixado.
Para a teoria da presciência divina relativa, Deus não conhece o futuro no sentido absoluto. O ponto
crucial é se Deus conhece todas as coisas de antemão, toda a liberdade de ação parece ser excluída.
Quando argumentamos do ponto de vista da onisciência e da onipotência de Deus, parece que o livrearbítrio humano fica obliterado. Quando argumentamos com base no livre-arbítrio humano, parece que a
presciência e o poder divino de determinar as ações são excluídos. Então surge a questão: até que ponto
Deus determina os acontecimentos humanos, e até que ponto o homem é livre em suas ações?
Apenas mais um pouco sobre a predestinação calvinista, ela sustenta que desde toda a eternidade
passada, todas as coisas foram ordenadas de antemão, de tal modo que elas terão de ocorrer necessariamente
dentro do tempo, incluindo a salvação final ou reprovação final dos homens.
A abordagem calvinista merece uma indagação chave, visto que todos somos pecadores, por que uma
pessoa deveria ser escolhida para honra e outra para desonra?
Passemos a uma breve consideração sobre livre-arbítrio. Algumas passagens que oferecem uma
perspectiva sobre o livre-arbítrio são Mateus 11:28; Marcos 16:15-16; Atos 17:30. Estes textos transmitem a
noção de que o convite divino a que todos se arrependam seria um escárnio ao nome de Deus se os homens
não pudessem se arrepender! De acordo com Ellen White, “Não é um decreto arbitrário da parte de Deus
que veda o Céu aos ímpios; estes são excluídos por sua própria inaptidão para dele participar”.24
Se o destino de cada indivíduo já estivesse predeterminado desde a eternidade, para a salvação ou
para a perdição, a proclamação do evangelho perderia o seu sentido.
Os homens não seriam mais moralmente responsáveis, e Deus, em última análise, seria responsável
pela perdição dos impenitentes, o que faria da punição do pecado – a cada um “segundo as suas obras” (Ap
20:12) – uma farsa e uma injustiça; pois tais obras teriam sido o resultado do desígnio divino. Isto é
completamente contrário ao conceito bíblico!
Analisemos a questão da escolha do cônjuge sob a perspectiva do tema da predestinação. Se Deus
tivesse uma única pessoa para cada um de nós, Ele teria que: criar uma especialmente para cada um de nós,
como o fez para Adão ou teria que conceder o dom profético para todos os seres humanos para que assim
pudessem encontrar a pessoa que Ele designou para cada um deles. Sem o dom profético da revelação
nunca encontrariam a pessoa certa designada por Deus. Seria mais ou menos assim: “Aqui está a mulher da
sua vida, revelada especialmente através de um sonho ou visão”. Se não fosse por revelação especial de
Deus a cada um de nós, como saberíamos qual pessoa Ele tem para nós?
Quando Deus, em Sua soberania, decide que alguém realize uma responsabilidade especial, seja
como profeta, seja como rei, Ele o faz livremente, através de uma revelação especial: “Ora, o SENHOR, um
dia antes de Saul chegar, o revelara a Samuel, dizendo: 16 Amanhã a estas horas, te enviarei um homem da
terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo das
mãos dos filisteus; porque atentei para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim. 17 Quando Samuel viu
23
Para uma melhor noção sobre o tema da presciência divina, ver o artigo “Presciência Divina – Relativa ou Absoluta” em O
Ministério Adventista, novembro-dezembro de 1984, pp. 13-22.
24
Ellen G. White, Caminho a Cristo em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 18, 1CD-Rom.
13
a Saul, o SENHOR lhe disse: Eis o homem de quem eu já te falara. Este dominará sobre o meu povo” (1Sa
9:15-17).
É óbvio que não funciona assim. Outro problema gerado pela tese de uma pessoa exclusiva para
cada um de nós é que ela anula a liberdade de escolha do ser humano. Se Deus tem uma única pessoa para
mim, então minha parte é apenas receber por revelação especial aquela pessoa que Ele designou para mim.
Não há margem para escolha, apenas aceitação. Tal fato transmitiria uma noção errônea do caráter de Deus,
pois faria dEle um tirano, um ditador. “Olha, tome esta pessoa como seu cônjuge. Você não pode reclamar
nem devolver”. Ou seja, tudo já estaria determinado antecipadamente por Deus. Em teologia isto se
denomina predestinação.
O que Deus determina é um tipo de caráter, não uma pessoa exclusiva: “Pesem, os que pretendem
casar-se, todo sentimento e observem todas as modalidades de caráter naquele com quem desejam unir o
destino de sua vida. Seja todo passo em direção do casamento caracterizado pela modéstia, simplicidade, e
sincero propósito de agradar e honrar a Deus”.25 Outra citação que segue o mesmo conselho e, “.... receba a
jovem como companheiro vitalício tão-somente ao que possua traços de caráter puros e varonis, que seja
diligente, honesto e tenha aspirações, que ame e tema a Deus”.26
Neste mesmo livro, Ellen White continua sua orientação:
“Antes de dar a mão em casamento, deveria toda mulher indagar se aquele com quem está para unir
seu destino, é digno. Qual é seu passado? É pura a sua vida? É o amor que ele exprime de caráter nobre,
elevado, ou é simples inclinação emotiva? Tem os traços de caráter que a tornarão feliz? Poderá ela
encontrar verdadeira paz e alegria na afeição dele? Ser-lhe-á permitido, a ela, conservar sua individualidade,
ou terá de submeter seu juízo e consciência ao domínio do marido? Como discípula de Cristo, ela não
pertence a si mesma, foi comprada por preço. Pode honrar as reivindicações do Salvador como supremas?
Serão conservados puros e santos o corpo e a alma, os pensamentos e propósitos? Essas perguntas têm
influência vital sobre o bem-estar de toda mulher que se casa”.27
Continuando a ênfase sobre o caráter do pretendente, ela orienta aos jovens consultarem os pais e
acrescenta, “Consultai a Deus e a vossos pais tementes a Deus, jovens amigos. Orai sobre o assunto. Pesai
cada sentimento e observai todo desenvolvimento de caráter na pessoa a quem pretendeis ligar o destino de
vossa vida”.28
Em suma, a tese de que há uma pessoa exclusiva para cada um de nós tem como base a predestinação
divina e pressupõe que Deus é uma pessoa arbitrária e ditatorial.
A IASD compartilha a noção de que a presciência divina é absoluta, mas não causativa e aceita o
livre arbítrio humano.
Se Deus tivesse uma única pessoa para cada um de nós, Ele teria que criar uma especialmente para
cada um de nós, como o fez para Adão, ou teria que conceder o dom profético para todos os seres humanos
para que assim pudessem encontrar a pessoa que Ele designou para cada um deles. Sem o dom profético da
revelação nunca encontrariam a pessoa certa designada por Deus.
O que Deus determina é um tipo de caráter exclusivo (temente a Deus), não uma pessoa exclusiva!
As fontes de orientação, tais como o próprio Deus, a Bíblia, a oração, o conselho dos pais, são recursos
disponíveis que favorecem uma livre escolha do cônjuge conveniente.
25
Idem, Mensagem aos jovens, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 435, 1CD-Rom.
Ibid.
27
Ibid., 439.
28
Ibid., 449.
26
14
ACONSELHAMENTO DE CASAIS
As dificuldades das pessoas não ocorrem no vácuo. Elas vivem numa ampla rede de relacionamentos
com outras pessoas e, naturalmente, com os seus problemas. Alguns conselheiros argumentam que, por esta
razão o tratamento sempre deveria envolver a família ou, até mesmo, uma parcela maior da sociedade.
Talvez isto seja uma super-simplificação, contudo contém um cerne de verdade. As dimensões socialrelacionais dos problemas de uma pessoa sempre deveriam ser consideradas. A maioria dos problemas de
“saúde mental” é, na verdade, problemas de ajustamento, conflitos e, em certo sentido, entre a pessoa e o
ambiente social. Se o alvo é a mudança, isto pode ser efetuado pela mudança da pessoa, do ambiente, ou de
ambos.29
1.
2.
3.
4.
5.
6.
O que é um Bom Relacionamento?
Pré-requisitos para um bom relacionamento:
O bom relacionamento acontece entre pessoas autônomas. “Autônomo” não quer dizer frio, distante,
isolado ou desnecessário. Autônoma é a pessoa capaz de existir independentemente, que tem uma
identidade própria.30
O bom relacionamento é aquele que é escolhido. Pessoas autônomas podem escolher depender de
outras em virtude de necessidades significativas. Elas iniciam um relacionamento por decisão própria
e continuam nele também por decisão pessoal.31
Bom relacionamento é aquele onde cada pessoa se compromete com o crescimento e a felicidade do
outro.32
No bom relacionamento cada parceiro está aberto à mudança, como também cada parceiro tem
habilidades positivas para solicitar e negociar mudanças do outro.33
Existe bom relacionamento quando cada parceiro compartilha com o outro o seu mundo interior. Isto
se denomina intimidade. Num contexto de confiança e respeito mútuos, os parceiros comunicam um
ao outro suas realidades presentes e expectativas futuras – percepções, reações, emoções, memórias,
esperanças, planos, experiências e pensamentos.34
O bom relacionamento inclui comprometimento. Todos os relacionamentos experimentam altos e
baixos. Contudo, desde 1960, houve uma mudança de valores. A tendência favorável à
independência e a realização pessoal a expensas de compromisso com o relacionamento tem se
acentuado.35
O que Acontece com os Relacionamentos?
Porque ocorrem problemas? Porque tantos relacionamentos parecem ir tão mal? Como explicar
aquele bom relacionamento que aos poucos se torna frio, amargurado, semelhante aqueles que costumam
chegar ao escritório do conselheiro?36
Na verdade, como em todos os demais relacionamentos, o casamento precisa de cuidados básicos e
específicos numa base constante. Se o cuidado é negligenciado por muito tempo, o resultado é enfermidade
e morte do relacionamento.37
É preciso enfatizar que existem processos naturais, tais como a da planta que murcha por não ser
regada. Os relacionamentos estão sempre mudando, seja para o crescimento ou para a deterioração. Certos
ciclos são naturais. O relevante é que não se deve procurar falhas ou culpar alguém, nem se deveria cultivar
uma noção pessimista sobre os relacionamentos. Ao contrário, é preciso ser otimista. De fato, muitas coisas
podem ser feitas para promover crescimento ou para encorajar a recuperação quando o cuidado foi
negligenciado.
29
William R. Miller, Practical Psychology for Pastors (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1985), 327.
Ibid., 328.
31
Ibid., 329.
32
Ibid.
33
Ibid.
34
Ibid.
35
Ibid.
36
Ibid.
37
Ibid.
30
15
A seguir, algumas causas de crises nos relacionamentos conjugais:
1. Perda da novidade. Muitas pessoas ainda acreditam na rainbow theory of love (teoria do arco-íris
do amor).38 A idéia básica é, quando alguém encontra a pessoa certa (encontra “aquela e só aquela”, ou
encontra “o verdadeiro amor”, ou experimenta “o fato real”), ela experimenta uma espécie de emoção
repentina. Centenas de canções exaltam esta experiência excitante. A habilidade perceptiva muda e todo o
mundo (inclusive a pessoa amada) parece brilhante e perfeito. A excitação sexual aumenta
assustadoramente. Há esperança, otimismo e alegria. As pessoas pensam que aqueles sentimentos
perdurarão para sempre, ou seja, de que aquela é a pessoa certa, que ela é o cônjuge ideal e que o casamento
dará certo. Contudo com o tempo o sentimento tende a diminuir. E isto sempre acontece. 39
O maior perigo para o casamento acontece quando um ou ambos os parceiros começam o
relacionamento com a expectativa de que os sentimentos despertados pelo amor “arco-íris” continuarão para
sempre, ou pelo menos, que eles assegurarão, automaticamente, uma vida feliz para sempre.40
Se os cônjuges compreendem que a diminuição do “arco-íris” é normal e que isto não significa que o
“amor morreu”, ou que fizeram a escolha errada, então esta primeira transição pode ser negociada
apropriadamente a fim de experimentar momentos que relembrem os maravilhosos sentimentos do
passado.41
2. Discrepâncias nas expectativas. Imperfeições que não foram vistas antes aparecem. Então se ouve
o clamor, “você não é aquela pessoa com quem eu me casei”. Itens que não tinham sido claramente
discutidos antes do casamento começam a aflorar. Algumas das áreas onde as diferenças surgem são:
O tempo que o casal gasta junto e o tempo que cada um dedica às atividades pessoais.
Divisão de papéis funcionais.
Maneiras de ganhar e gastar dinheiro.
A maneira como as decisões são tomadas.
A freqüência e a natureza das relações sexuais.
Crenças e práticas religiosas.
Filhos – se os terão, quando e como criá-los.42
3. Decréscimo da ênfase no que é positivo. O reforço positivo é acentuado durante o período do
namoro. À medida que o casal passa a viver junto, lentamente tendem a diminuir este reforço (feedback). Os
pequenos gestos de atenção desaparecem – por favor, muito obrigado. Cada um passa a esperar que o outro
expresse apreciação. É preciso manter as pequenas atenções. 43 Conforme diz Ellen G. White, “São as
pequenas coisas que revelam os capítulos do coração. São as pequenas atenções, os numerosos incidentes
pequeninos e as simples cortesias da vida, que formam a soma da felicidade da existência”.44
4. Ênfase no negativo. À medida que decresce a ênfase nos pequenos itens positivos da vida, pode
aumentar a tendência ao criticismo. A inclinação para destacar aspectos negativos pode vir “mascarada”
pelas seguintes atitudes - ameaças, ficar “emburrado(a)”, silêncio, acessos de raiva, tendência a acusar,
38
Como exemplo da aceitação da teoria da teoria do arco-íris do amor, apresenta-se a seguinte narrativa que está concorrendo a
um prêmio cujo título geral é, “Love Stories of Hawaii”, título específico, “Rainbow Love”, dedicado a Arthur Lott Jr. Por Debra
Lott. “Quando o vi pela primeira vez no ensino médio, ele era magro, alto e bonito. Namoramos por pouco tempo porque ele se
mudou. Depois perdemos o contato. Então, num bonito dia de céu azul, o telefone tocou. Era ele. Haviam-se passado vinte anos.
Ele me convidou a ir ao Havaí. Eu fui em março e me apaixonei de novo. No momento em que contemplei seus olhos castanhoclaro, eu o reconheci. Ele me conduziu a sua praia que ele chamava de Makaha. Sentamo-nos a beira da praia de águas azuis a
contemplar um golfinho que nadava calmamente. Naquele momento nós juramos amor um ao outro. Eu ainda me lembro do arcoíris mágico que surgiu diante de nós. Casamo-nos um ano mais tarde, tendo Honolulu como paisagem diante de nós. Hoje temos
dois filhos e ainda nos amamos como se fôssemos adolescentes. Nosso amor não mudou, apenas o cenário ao nosso redor”. Debra
Lott, “First Love”, pesquisa realizada na internet, no site http://www.bestplaceshawaii.com/lovestories/stories/S003809.html, no
dia 15 de novembro de 2004.
39
Miller, Practical Psychology for Pastors, 330.
40
Ibid., 331.
41
Ibid.
42
Ibid., 332.
43
Ibid.
44
Ellen G. White, O lar adventista, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 108, 1CD-Rom.
16
culpar, condenar. Se a troca de declarações negativas continuar por muito tempo, o casal poderá se tornar
insensível. Esta é a condição de muitos casais que procuram aconselhamento. Quando chegam ao
conselheiro, é comum ouvir-se a seguinte declaração: “Não sinto mais nada por você”. Todavia, esta
situação não é irreversível. O processo de reversão do entorpecimento poderá ser lento e doloroso, mas
valerá a pena investir nele.45 Ellen White também diz, “é a negligência das palavras bondosas, animadoras e
afetuosas, e das pequenas cortesias da vida que ajudam a formar o todo da infelicidade da existência”.46
5. Conflitos, decisões, problemas, transições. As pessoas precisam ter habilidades para enfrentar
estas situações. Quando os interesses do casal estão em conflito, como resolvê-los? Quando uma decisão
importante precisa ser tomada, quem a tomará? Quando surge um problema difícil, qual dos cônjuges deverá
prover a solução? E quando surgem sérias transições (mudança de emprego, doença, a chegada de um filho,
morte de um familiar) que tipo de apoio ou disposição para mudar o outro cônjuge irá oferecer? Quando o
casal não dispõe de habilidades para enfrentar o problema, a tentação para recorrer à coação será muito
forte, ou a de procurar se afastar emocional ou fisicamente do cônjuge.47
6. Mudanças cognitivas. À medida que o arco-íris fenece, diminuem as afirmações positivas,
aumentam as negativas, surgem os conflitos, etc. Os parceiros se esforçam para entender o que está se
passando. Neste processo, podem surgir alguns fatores nocivos.
a) Globalismo. É a inclinação para generalizar em excesso. Devido às tendências acima
mencionadas, um dos parceiros pode concluir que todo o casamento está piorando.
b) Projeção de culpa. Muitas pessoas relutam em reconhecer suas deficiências. É mais fácil
culpar o “outro”. Isto é exemplificado pelos casais que procuram aconselhamento. Logo na chegada, um
deles diz, “Você...”
c) Atitude pessimista. A pessoa encara o relacionamento como se fosse uma bola de neve a
rolar ladeira a baixo. A pessoa desiste, manifesta desesperança.
d) Erosão na confiança e no respeito. Confiar numa pessoa é acreditar que as suas promessas
se cumprirão. Respeitar uma pessoa é acreditar que ela é digna de confiança, competente e merecedora de
amor.48
7. Isolamento. As pessoas costumam ouvir que a felicidade no casamento é algo natural. Se
porventura alguém enfrenta dificuldades no casamento, será tentado a pensar que falhou em algo simples. A
sociedade transmite a noção de que os problemas conjugais pertencem às questões privadas e que não devem
ser compartilhadas com pessoas de fora da relação. Isto colabora para que a dor e o sofrimento aumentem e
não se resolvam.49
Avaliação para o Aconselhamento
A fase inicial do aconselhamento abrange as primeiras duas ou três sessões onde são avaliadas as
seguintes áreas:
1. Como é a crise do casal?
2. Qual o compromisso desse casal com o seu relacionamento? Tem consciência de que o casamento
é uma união vitalícia?
3. Quais são os problemas que os separam?
4. Como esses problemas se manifestam no relacionamento?
5. Quais são as forças que os mantêm juntos?
6. O que o tratamento pode fazer para ajudá-los?50
Estas questões são tratadas durante uma entrevista inicial conjunta, bem como durante as entrevistas
individuais subseqüentes. A entrevista conjunta fornece ao conselheiro uma oportunidade para ver como o
45
Miller, Practical Psychology for Pastors, 333.
White, O lar adventista, 108, em 1CD-Rom.
47
Miller, Practical Psychology for Pastors, 333.
48
Idem, Living as If: How Positive Faith Can Change Your Life (Philadelphia, PA: Westminster Press, s.d.), [além da página
citada não ter sido informada, o próprio autor disse que à época, a obra ainda não saíra do prelo]; citado em William R. Miller,
Practical Psychology for Pastors (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1985), 335.
49
Miller, Practical Psychology for Pastors, 335-336.
50
David H. Barlov, ed., Manual clínico dos transtornos psicológicos (Porto Alegre, RS: Artmed, 1999), 540-541.
46
17
casal está se relacionando no momento. As entrevistas individuais permitem que o conselheiro avalie os
problemas que cada membro do casal pode ser incapaz de discutir abertamente diante do outro.51
Como é a Crise desse Casal?
Uma crise mais leve indica que o casal pode ser mais receptivo às estratégias de mudança no início
da terapia. Casais com crise mais grave provavelmente obterão maiores benefícios de uma ênfase inicial na
aceitação.52
Qual o Compromisso desse Casal com o seu Relacionamento?
Visto que sentir-se comprometido com um relacionamento é um evento privado, a ênfase sobre
aceitação emocional promete ser uma abordagem mais eficaz do que a ênfase na mudança.53
Para os casais que são altamente colaborativos, as estratégias de mudança podem ser implementadas
imediatamente. Quanto menos colaborativo um casal, é mais plausível que as estratégias de aceitação se
mostrem mais eficaz. A promoção da aceitação exerce um efeito profundo sobre os tipos de estímulos que
funcionam como reforçadores. Se a falta de compromisso for alimentada por sentimentos de raiva,
ressentimento ou dor, cada membro do casal mais provavelmente será reforçado pelo comportamento que é
prejudicial ao outro e menos cooperará para melhorar o relacionamento. Se o conselheiro puder aumentar a
probabilidade com que cada membro do casal sinta simpatia ou ternura, o valor do reforçamento desses
comportamentos envolvidos na colaboração aumenta.54
Quais são os Problemas que os Separam?
A avaliação dos principais problemas que estão no momento separando o casal ocorre durante a
entrevista conjunta. Os problemas que desunem o casal, que têm pouca probabilidade de mudar ou que são
concentrados em torno de experiências privadas (p. ex., diferentes desejos de intimidade), deveriam ser
tratados principalmente mediante o uso de estratégias de aceitação. As questões relativas aos
comportamentos mais instrumentais/públicos (p. ex., como administrar a renda familiar) exigem uma ênfase
maior nas estratégias de mudança.55
Como esses Problemas se Manifestam no Relacionamento?
Conhecer como os casais tentam lutar com os seus problemas é de particular importância porque,
muitas vezes, não são os problemas em si, mas como o casal lida com eles que determina seu atual nível de
crise.56
Quais São as Forças que os Mantêm Juntos?
As forças que mantêm unido o casal constituem comumente a base a partir da qual o conselheiro
trabalha para melhorar o relacionamento. Perguntar sobre o que atraiu inicialmente cada parceiro para o
outro é, com freqüência, uma das melhores questões para avaliar suas energias. Geralmente se faz esta
pergunta ao fim da primeira sessão, a fim de fornecer alguma perspectiva ao casal sobre seus problemas e
concluir a sessão num tom positivo.57
Cumpre ressaltar que muitas vezes algo que inicialmente era atraente se desenvolveu num ponto de
discórdia. Por exemplo, a organização e um senso de responsabilidade que a princípio eram considerados
excelentes podem, agora, ser vistos como compulsivos e exigentes. Se o conselheiro puder ajudar o casal a
começar ver a conexão entre uma queixa atual e o que este último identificava como uma força anterior,
suam experiência desses eventos pode passar de primariamente negativa para positiva, através de sua
reassociação com memórias de valência positiva. 58
Se um casal não puder gerar lembranças positivas de como foi seu primeiro encontro, o sucesso da
terapia será duvidoso. Às vezes, é o caso de relacionamentos que se constituem por conveniência ou
51
Ibid., 541.
Ibid.
53
Ibid.
54
Ibid., 542.
55
Ibid.
56
Ibid., 543.
57
Ibid.
58
Ibid.
52
18
necessidade, e quando esses casais chegam a situações de atrito também são difíceis de tratar. Entretanto, se
for fácil que o casal produza lembranças positivas de como foi seu primeiro encontro, o prognóstico é,
muitas vezes, um tanto melhor.
O que o Tratamento Pode Fazer para Ajudá-los?
O plano para o curso do tratamento geralmente é uma combinação de mudança e aceitação. As
pesquisas mostraram que a capacidade para a mudança está associada negativamente à gravidade da crise,
proximidade do divórcio, cessação total ou quase total das relações sexuais e papéis sexuais tradicionais,59
como maternidade e construção da identidade da mulher.60
Melhorando os Relacionamentos
Cada uma das tendências negativas tem uma correspondente positiva. O conteúdo das orientações
positivas para os casais também são úteis para o aconselhamento de noivos, como também para o
fortalecimento dos relacionamentos familiares.
Melhorando a Comunicação
Dificuldades na comunicação fazem parte de quase todos os relacionamentos que enfrentam
problemas. Por vezes, é uma simples questão de tirar tempo para conversar, contudo, na maioria dos casos, é
preciso um auxílio externo (conselheiro) que inclua treinamento nas habilidades de ouvir e se expressar.61
Talvez a principal necessidade seja o desenvolvimento da habilidade do ouvir reflexivamente. Uma
técnica inicial seria a de formar o hábito de ouvir sem responder imediatamente. O exercício do “ouvinte
silencioso” é bastante apropriado. Consiste em atribuir a um dos cônjuges a tarefa de falar por certo período
de tempo ( cinco minutos para iniciar) enquanto o outro cônjuge ouve, sem dizer uma palavra sequer. Pode
se prescrever um tema ou tópico para discussão, ou pode ser deixado a critério do cônjuge escolher o tema.
Depois, na continuação do exercício, o ouvinte torna-se o porta-voz enquanto o que havia falado primeiro
passa a ser ouvinte.62
Um segundo tipo de exercício é o da comunicação através da “carta de amor”, uma atividade
geralmente aplicada nos encontros de casais. Normalmente, o líder ou conselheiro prescreve um
determinado tópico para cada um dos cônjuges escreverem num estilo de “jornal pessoal”. Nele deverão ser
expressos pensamentos e sentimentos, percepções e intuições ou qualquer coisa que venha à mente (e ao
coração). A redação deve se estender por um período de tempo previamente estabelecido, variando de cinco
minutos à uma hora. O mesmo período de tempo dedicado à redação dever ser utilizado para a discussão do
que foi escrito. Então os cônjuges trocam os “jornais”, lêem-nos e discutem-nos.
Solução de Problemas
Quando um casal se defronta com um problema, como eles o abordam para negociar uma solução? A
seguir, alguns pontos essenciais:
1. Inicialmente é preciso definir qual o tipo específico de problema. É comum ocorrer com
conselheiros que labutam constantemente com solução de problemas o engano de ir direto para a solução do
problema quando, na verdade, um dos cônjuges “problematizado” só deseja ser ouvido e compreendido. Por
exemplo, o marido que trabalha fora de casa retorna no fim do dia e se depara com um muro de lamentações
por parte da esposa que permaneceu no lar: o telefone tocou o dia inteiro, a máquina de lavar transbordou, as
crianças estiveram brigando, os quatorze projetos que foram iniciados não foram concluídos, o jantar
queimou, a bateria do carro morreu porque o esposo deixou as luzes ligadas durante a noite anterior. Se
neste momento o esposo passa diretamente para a solução do problema, sugerindo que a esposa organize
melhor o seu tempo a fim de evitar que estas coisas aconteçam, o resultado poderá ser uma “erupção
vulcânica”. Contudo, o “solucionador” de problemas estava apenas procurando ajudar. O erro estava na
59
Ibid., 543-544.
Maria Chatziandreou, Michael G. Madianos, e Vasilis C. Farsaliotis, “Los Factores Psicológicos y de Personalidad y el
Tratamiento de la Fertilización "in Vitro" en la Mujer”, em The European Journal of Psychiatry (edição em espanhol), no site
http://scielo.isciii.es/scielo.php?pid=S1579-699X2003000400003&script=sci_arttext, no dia 21 de novembro de 2004.
60
61
62
Miller, Practical Psychology for Pastors, 343.
Ibid.
19
incompreensão do que era esperado. O casal deve ser treinado a conferir as fases e averiguar se porventura
está “navegando no mesmo barco”. Basicamente, há duas fases: expressar e resolver. Quando um dos
cônjuges começa a expressar qualquer tipo de insatisfação, uma boa pergunta a ser feita é: “Você gostaria
que eu ouvisse e compreendesse, ou você quer que eu o ajude a encontrar uma solução?” Isto evita as
“linhas cruzadas”, semelhantes àquelas descritas acima.63
2. Se a tarefa é solucionar o problema, o próximo passo é esclarecer a natureza do problema. O
problema está com aquele que se encontra aborrecido ou estressado (ou que está mais insatisfeito). Assim, se
Antônio deixa a toalha de banho no chão e Lúcia fica irritada com isto, então o problema é de Lúcia, ainda
que ela pudesse argumentar que foi o comportamento de Antônio que “provocou” a sua raiva. Isto não
significa que Antônio está livre para dizer “Veja bem, o problema está com você”, negando, desta maneira, a
sua responsabilidade. Ao contrário, este passo esclarece quem está aborrecido ou ofendido. A pessoa que
está com o problema tem a responsabilidade de expressá-lo, enquanto a tarefa do outro cônjuge restringe-se
a ouvir reflexivamente.64
Observe que o expressar/ouvir é o primeiro passo, não importa em que fase estejam – expressando ou
solucionando. Se estiverem na fase de expressar os sentimentos, então o processo se restringe a
expressar/ouvir. Na fase de solução, o processo vai além da expressão.65
Ainda que o objetivo final seja a solução de problemas, é melhor dedicar um bom tempo para
expressar/ouvir. Uma iniciativa prematura voltada para a solução de problemas pode ser tão ofensiva quanto
o oferecer uma solução para alguém que não a deseja.66
3. Há duas boas regras a serem lembradas sobre o expressar, quando se tem por objetivo solucionar
problemas. A primeira é dizer o que você gostaria e o que você quer em forma de “mensagem”. A segunda é
ser tão específico quanto possível. “Eu gostaria que você fosse menos desleixado” é muito vaga e geral. O
retorno (feedback) de caráter geral muda as emoções, não o comportamento. Se você deseja uma mudança,
seja específico. “Eu gostaria que você pendurasse a toalha de banho após o seu banho matinal e colocasse as
roupas sujas no cesto”. Se o cônjuge que deve expressar esquecer estas regras, o outro sempre deveria dizer,
“O que você gostaria que acontecesse”, ou “Você poderia ser mais específico – o que você deseja que eu
faça?”. Observe que o problema não precisa envolver necessariamente o cônjuge. Pode estar somente com o
outro.67
4. Uma vez que o objetivo específico foi esclarecido, utilize a técnica das alternativas de “tempestade
cerebral” (brainstorm). Cada um dos cônjuges ou demais membros da família pode sugerir soluções
alternativas, ou cada um pode promover a sua “tempestade cerebral” pessoal escrevendo idéias que estão
sendo compartilhadas.
5. Em seguida, a alternativa mais conveniente é selecionada. Quando o problema não envolve o
cônjuge ou a solução selecionada é prontamente aceitável ao cônjuge, esta escolha é feita pelo cônjuge que
“tem” o problema. O outro se dedicará principalmente a ouvir. Se, por outro lado, ambos os cônjuges estão
envolvidos, ou ambos “compartilham” o problema, ou se a solução selecionada não é inteiramente aceitável
ao outro, então deve-se recorrer ao processo de solução de conflito (ver abaixo).
6. Finalmente vem a implementação da mudança. A pessoa que tem o problema e que escolheu uma
alternativa agora planeja e implementa um primeiro passo nesta direção. O outro cônjuge novamente ouve
reflexivamente, mas também pode dizer, “Há alguma coisa que eu possa fazer para ajudar?” 68
Resolução de Conflitos
Com freqüência, ambos os cônjuges compartilham sentimentos acerca de uma questão, ou ambos
estão insatisfeitos ou envolvidos emocionalmente. Neste caso, não é tão simples como um ou o outro que
tem o problema. Ambos “têm” problema.69
Em grande parte, os passos iniciais são os mesmos para a solução de problemas. Os cônjuges devem
esclarecer o que eles desejam e encontrar uma solução, em lugar de apenas se expressarem. Então, cada um,
por sua vez, expressa, através de “suas mensagens”, o que eles gostariam que acontecesse ou o que eles
63
Ibid., 345.
Ibid.
65
Ibid.
66
Ibid.
67
Ibid., 346.
68
Ibid.
69
Ibid.
64
20
desejam. Cada cônjuge ouve reflexivamente o outro a fim de esclarecer o que é esperado. É bom dizer mais
uma vez que é preciso ser o mais especifico possível. Segue-se o processo de “tempestade cerebral”, onde
cada um dos cônjuges produz o máximo possível de alternativas possível.
Após haver atingido o ponto da escolha da alternativa e, a bem de um bom andamento do
aconselhamento, deve-se destacar que uma boa resolução de conflito requer negociação. Ambos os cônjuges
estão envolvidos na seleção da melhor alternativa. Cada uma das possíveis alternativas é considerada e
avaliada. Talvez seja necessário retornar ao estágio da “tempestade cerebral” e produzir outras
possibilidades. Por fim, define-se um acordo, algumas vezes na forma de um contrato, onde cada cônjuge
concorda em fazer uma determinada mudança em troca de um auxílio específico ou encorajamento ao outro.
Ajuda bastante escrever o acordo a fim de que cada um dos cônjuges possa lembrar qual é o seu
compromisso específico.
Por fim, começa a implementação. Cada um passa a realizar os primeiros passos para atingir as
mudanças desejadas. Mais tarde, os cônjuges poderão avaliar conjuntamente se o acordo está funcionando, e
se não, como ele poderia ser mudado. Cada cônjuge deveria reconhecer a responsabilidade, quando
solicitado a mudar pelo outro, de averiguar qual mudança, quando ela ocorreu e reforçá-la. Pode ser um
simples “muito obrigado”, ou uma carícia, ou outra manifestação qualquer em apreciação pela mudança
realizada. As pequenas conquistas na direção certa também deveriam ser reconhecidas, porque grandes
mudanças são o produto da soma de pequenas mudanças. Também é bom destacar que este tipo de
negociação exige uma considerável dose mútua de boa fé.70
Ênfase no Positivo
Esta é uma estratégia utilizada para melhorar o relacionamento. O objetivo é que cada cônjuge ou
membro da família cresça no emprego de referências positivas para o outro. A seguir algumas sugestões:
1. Cada cônjuge escreve uma lista de ações positivas que aprecia. A lista inclui aspectos positivos de
amplitude diversificada, pequenos e grandes. Exemplo:
Ouvir certas palavras que foram ditas.
Realizações físicas e sociais.
Tempo e experiências compartilhadas com o cônjuge.
Um tempo pessoal, a ser utilizado como bem entender.
Pequenas atitudes ou gentilezas.
Outras atividades.
Estas listas são trocadas, de modo que cada cônjuge possa saber o que agrada ao outro. Depois que a
lista for trocada, o casal deve ser estimulado a falar sobre ela.
2. Cada cônjuge pode escolher um aspecto positivo para oferecer ao outro, com o objetivo de praticálo em dobro na próxima semana. Pode ser escolhido da lista ou de um pedido verbal ao cônjuge.
3. Cada cônjuge pode escolher um determinado dia da semana para dar uma surpresa ao cônjuge pela
prática de atos positivos. Seria interessante manter o dia da semana em segredo.
4. Poderia ser estabelecido um objetivo geral de aumentar a expressão de aspectos positivos por um
determinado número de semanas. Isto poderia ser feito através de uma planilha de controle.
5. Pode ser feito um encontro semanal no qual cada cônjuge compartilha com o outro quais aspectos
positivos gostaria de ver realizado na próxima semana.
Alguns casais que estão passando por crise ou estresse tendem a compartilhar junto tempo neutro ou
negativo. Inclusive, eles podem deixar de compartilhar os períodos mais positivos como: refeições,
assentarem-se e dormirem juntos, intimidade sexual, descontração, etc. A recreação positiva em comum
pode desaparecer. A restauração de experiências positivas compartilhadas é um aspecto chave para melhorar
o relacionamento do casal.71
PLANILHA DIÁRIA DE CONTROLE DE DECLARAÇÕES POSITIVAS E NEGATIVAS72
Dia
O que eu disse
Positivo
Negativo
O que foi dito a mim
Positivo
Negativo
70
Ibid., 346-347.
Ibid., 348-349.
72
Ibid., 152.
71
21
Segunda feira
Terça-feira
Quarta-feira
Quinta-feira
sexta-feira
Reduzindo o que é Negativo
O outro lado desta moeda é diminuir a expressão e a intensidade das ocorrências negativas no
casamento e na família. Este é um ponto crucial que por vezes pode ser postergado até que os aspectos
positivos tenham primeiro feito a pavimentação para a sua implementação. Contudo, em outros casos, a
repetição de ocorrências negativas pode envenenar tanto o relacionamento a ponto de impedir qualquer
expressão positiva. De qualquer modo, a ênfase nos aspectos e expressões positivas e redução das negativas
são metas complementares. Sugestão de possíveis passos a seguir:
1. Cada cônjuge pode preparar uma lista das atitudes negativas do outro cônjuge. Neste ponto a
objetividade é imprescindível. O que o outro cônjuge faz ou diz e é percebido como negativo? Estas listas
podem ser trocadas e discutidas. Se, porventura, o nível de estresse é elevado, primeiro eles deveriam
entregar a lista a um conselheiro para que este pudesse intermediar a discussão entre o casal.
Poderia ser elaborada uma lista simples com três itens:
a) Que aspectos negativos são mais prejudiciais ou irritantes?
b) Que aspectos negativos são moderadamente prejudiciais ou ofensivos?
c) Que aspectos negativos são levemente prejudiciais ou irritantes?
Em resposta a tal lista, a tendência defensiva do cônjuge pode ser reduzida se ele ou ela se
concentrarem em audição reflexiva e no detectar o que é realmente prejudicial. Contudo, é bom lembrar que,
mesmo sob as melhores circunstâncias, conferir a lista pode ser bastante difícil.
2. Cada um dos cônjuges pode explorar um ou mais itens negativos na tentativa de reduzi-los à
metade ou eliminá-los completamente. A implementação disto pode gerar conseqüências imprevisíveis.
Dizer, por exemplo, “pare de reclamar” pode não apenas aumentar o contingente de dificuldades, como
também pode contribuir para aumentar o montante da raiva contida. O conselheiro deveria estar alerta para
tais possibilidades.
3. A redução dos negativos pode ser combinada com o acréscimo nos positivos se a estratégia do “dia
especial” for escolhida.
4. Uma estratégia geral para a redução dos negativos consiste em manter um relato dos negativos
enviados e recebidos. Por vezes, o próprio processo de relatar reduz o comportamento negativo.
5. Reuniões familiares também podem, se necessário, focalizar em experiências negativas que cada
membro gostaria que fossem reduzidas.
22
EXPRESSÃO, SOLUÇÃO DE PROBLEMAS, SOLUÇÃO DE CONFLITOS73
1º Passo
Fases: Expressão ou Solução?
Expressão
Solução
De quem é o problema?
2º Passo
Meu
Seu
Meu
Seu
Nosso
Atividade
Atividade
Atividade
Atividade
Atividade
EXPRESSAR
OUVIR
EXPRESSAR
OUVIR
EXPRESSAR/OUVI
R
Fim do processo
3º Passo
Especificar o Problema
Diga o que quer
Entenda o que é pedido Ambos dizem o que
Seja específico
Entenda o especificado
Seja específico
Tempestade cerebral
Tempestade cerebral
Tempestade cerebral
Decida
Ouça
Negocie
Implemente
Apóie
Implemente
Avalie
Ouça
Avalie
querem
4º Passo
Alternativas de "Tempestade cerebral"
5º Passo
Escolha a melhor alternativa
6º Passo
Implemente
7º Passo
Avalie
Salve e/ou imprima apenas para o seu uso pessoal. Respeite os direitos autorais do professor.
73
Ibid., 347.
23
EXEMPLO DE TRATAMENTO DE CRISE PELA ABORDAGEM HUMANISTA
(Proposta do Terapeuta Adventista Kiff D. Achord)
O Caso ―Bety‖
Antes da crise, Bety estava desfrutando o atendimento de suas necessidades
fisiológicas, segurança, pertinência e amor, e auto-estima.1
Como referência para o aconselhamento, o pastor Roger utiliza a escola humanista,
com sua ênfase na hierarquia das necessidades de Maslow.2
Hierarquia das Necessidades
AUTOREALIZAÇÃO
ESTIMA
PERTINÊNCIA E AMOR
SEGURANÇA
FISIOLÓGICAS
As declarações feitas na entrevista com o pastor Roger revelaram a profundidade da
crise:
1. Necessidades fisiológicas
―Faz três noites que não durmo. Quando tento comer, sinto náuseas. Se forço e como um
pouco, o meu estômago começa doer‖.
2. Necessidade de Segurança
―Eu amo Wilson e não quero perdê-lo... Meus familiares vivem no sul do país, com exceção
de minha irmã a quem não tenho visto.., faz um ano que Wilson não vai à igreja‖.
3. Necessidade de estima:
1
Para uma melhor noção sobre o caso Bety, ver Kiff D. Achord, Adventist Concepis ofPsychology (Loma Linda,
CA: Loma Linda University, 1977), 41-58.
2
Ibid., 43.
1
―Sei que não tenho sido uma boa esposa. Faz alguns meses que ele não demonstra interesse
sexual em mim. Ele disse que a sua nova namorada tem um desempenho sexual melhor do que o meu.
Também sei que não tenho sido uma boa cristã e, penso que Deus está triste comigo por isto‖.
Intensidade da Crise:
Obviamente a crise de Bety era muito intensa.
Teoricamente, era mais fácil para ela perder Wilson pela morte do que por aquele tipo de
prejuízo. Embora mais severa, sua morte não lhe teria afetado a auto-estima.
A severidade da crise pode ser quantificada pelos diversos valores atribuídos a certa hierarquia
de necessidades.
A severidade da crise também pode ser quantificada pela soma das necessidades perdidas ou
ameaçadas:
No caso de Bety, o número seria:
5 + 4 + 3 +2 = 14
Sua crise é de grande proporção.
Qualquer pessoa com uma crise acima de 10 necessitaria ser atendida por um psiquiatra a fim
de que pudesse avaliar a possibilidade de suicídio, analisar a possibilidade de hospitalização, ou
prescrever medicação.
Na verdade, Bety foi encaminhada a um psiquiatra que lhe prescreveu medicação para dormir.
Técnicas de Aconselhamento de Crise:
1. Estabelecer um relacionamento subjetivo
2. Definir a crise
3. Esclarecer as alternativas
4. Estabelecer sistemas de apoio
1. O Relacionamento Subjetivo
Os três aspectos essenciais de um relacionamento terapêutico são:
a) Empatia
b) Genuinidade
c) Afetuosidade não-possessiva
Empatia:
―Ao invés de pensar cognitivamente o problema de Bety, procurei sentir a sua agonia‖.
―Imaginei o quadro - minha esposa se aproxima e diz: vou embora porque encontrei alguém
melhor do que você‖.
―Eu me senti num estado terrível como Bety; falei pouco, mas sofri com ela‖.
―Não procurei dizer nada significativo primeiro; apenas procurei simpatizar com ela onde ela
estava‖.
―Por cerca de dez minutos ficamos sentados juntos, sentindo a tristeza da situação‖.
―Algum tempo depois ela percebeu a minha preocupação por ela e parou de chorar‖.
―Então ela começou a me contar detalhes do seu drama‖.
2. Definindo a Crise
―Enquanto o relacionamento subjetivo estava sendo estabelecido entre mim e Bety, ela
também estava definindo a crise imediata‖.
―Neste caso, o evento que a precipitava era a declaração de Wilson — ele a estava deixando
por outra mulher‖.
Neste ponto, é importante, não apenas definir a crise para a satisfação teórica do conselheiro,
mas também participar delicadamente a informação com o cliente.
―Disse a Bety que não era nada fora do normal ela se sentir fragilizada; afinal, suas
necessidades básicas de sono, sexo, alimento, segurança, amor, pertinência, auto-estima e autorealização foram-lhe retiradas abruptamente. Qualquer pessoa reagiria da mesma maneira que ela. Ela
não perdera a razão, era uma pessoa normal que estava perdendo suas necessidades humanas
legítimas. Disse-lhe, que no seu lugar reagiria da mesma maneira‖.
2
Os eventos desencadeadores nem sempre são evidentes como os de Bety.
Quando se está definindo a crise imediata, é importante investigar os eventos e situações que
precederam o sentimento de desequilibro.
À medida que a pessoa em crise explora eventos e situações que precederam a crise, surgirão
evidências observáveis de ansiedade, isto é, respiração ofegante, choro, suspiros, o falar rápido ou
vagaroso, movimento dos dedos, etc. A linguagem corporal, com freqüência definirá a crise.
O objetivo principal do aconselhamento da crise é resolver o desequilibro causado pela crise
imediata. Também, com freqüência, outros conflitos vêm à tona durante a crise, mas estes não devem
ser tratados imediatamente, pelo menos por enquanto.
4. Esclarecendo as Alternativas
Depois que o relacionamento subjetivo foi bem firmado e a crise imediata foi bem definida e
compreendida, tanto pelo cliente como pelo conselheiro, o foco do aconselhamento se volta para o
esclarecimento das alternativas de ação.
O conselheiro focaliza nas necessidades teóricas ou perdidas. No caso de Bety, é preciso
discutir as opções que restabeleceriam suas necessidades fisiológicas perdidas.
―Bety decidiu procurar o psiquiatra para conseguir medicação para dormir‖.
―Depois esclarecemos alternativas sobre sua necessidade de segurança: ela decidiu visitar uma
de suas amigas e permanecer com ela por alguns dias ou semanas‖.
―Ela também conversou com Wilson sobre o apoio financeiro para que ela continuasse
estudando‖.
―Das necessidades de segurança passamos para as necessidades de amor e pertinência. Bety
decidiu voltar a assistir a igreja e manter um novo contato com sua irmã em Sorocaba‖.
―Ela me disse que eu era uma pessoa muito importante para ela e que gostaria de ter uma
entrevista semanal comigo‖.
―Falamos sobre o fúturo. Bety contou que ainda amava muito a Wilson, mas achava que
poderia vir a gostar de outra pessoa, mais adiante‖.
O esclarecimento das alternativas é uma tarefa do cliente.
No caso de Bety, o esclarecimento das alternativas levou três ou quatro sessões, porque ela
havia perdido muitas necessidades.
4. Definindo Sistemas de Apoio
O estágio final no aconselhamento de crises é oferecer apoio ao cliente durante o período mais
dificil de sua vida.
Uma maneira simples de descobrir qual é o sistema de apoio é perguntar para a pessoa:
―O que você poderia fazer hoje para que ficasse bem?‖
Normalmente eles responderão apresentando alguma atividade que lhes trouxe prazer e alegria
no passado.
No caso de Bety, seu sistema de apoio incluiu: animais de estimação, cavalgar, ler poesia. Estes quatro estágios no aconselhamento de crises nem sempre ocorrem na seqüência descrita
acima.
E importante que o relacionamento subjetivo comece a operar o mais cedo possível e continue
durante todo o período de aconselhamento.
O término do aconselhamento ocorre quanto todos os quatro estágios se concretizaram e a
maioria das necessidades perdidas tenha sido pelo menos parcialmente restabelecidas.
Normalmente, depois de várias sessões, o cliente em crise dirá: ―Estou me sentindo muito
melhor‖; então o conselheiro saberá que seu trabalho está quase concluído.
3
Escolha do Cônjuge – Determinismo?
A tese de que há uma pessoa exclusiva para cada um de nós tem como base a
predestinação divina. Deste modo, predestinação e determinismo estão associados.
Uma das consequências desta ―predestinação conjugal‖ é a de que Deus determina o
nosso cônjuge à revelia de nossa vontade. Noutras palavras, pressupõe que Deus é uma pessoa
arbitrária e ditatorial.3
Há duas teorias sobre a presciência divina: uma é a presciência divina absoluta e a
outra é a presciência divina relativa. Quanto à presciência divina absoluta, esta se subdivide
em duas, a não causativa que aceita o livre arbítrio humano e a causativa, por sua vez,
determinista, ou seja, nega o livre arbítrio humano.
A presciência divina absoluta não causativa entende que Deus prevê o futuro nos
mínimos detalhes, bem como todas as ações dos seres livres, sem que isto implique em
determinismo ou predestinação.
A presciência divina absoluta causativa coloca ênfase sobre a soberania de Deus e
afirma que todas as coisas ocorrem pela vontade de Deus. As raízes desta teoria estão em
Agostinho que teve um forte defensor em Calvino. Para ele a graça divina é destinada àqueles
a quem Deus escolhe; Ele predestinou para o castigo e para a salvação, inclusive o número de
cada um dos casos para a salvação ou perdição está fixado.
Quando argumentamos do ponto de vista da onisciência e da onipotência de Deus,
parece que o livre-arbítrio humano fica obliterado. Quando argumentamos com base no livrearbítrio humano, parece que a presciência e o poder divino de determinar as ações são
excluídos. Então surge a questão: até que ponto Deus determina os acontecimentos humanos,
e até que ponto o homem é livre em suas ações?
O foco do presente estudo encontra-se na escolha do cônjuge. Tim Stafford defende o
ponto de vista de que Deus tem uma pessoa certa para cada cristão. Esta é uma perspectiva
baseada em pressupostos determinísticos comuns ao conjunto de princípios defendidos pela
teoria mais abrangente da predestinação calvinista.
Antes de passarmos a discussão específica do tema em foco, é preciso conceituar
melhor os termos predestinação e livre arbítrio segundo a Bíblia e o Espírito de Profecia.
Outros motivos teológicos estão envolvidos como o conflito entre o bem o mal, a queda de
Lúcifer, a queda de Adão e Eva, presciência de Deus, etc.
Para aqueles que acreditam numa presciência divina relativa, ou seja, que Deus não
conhece o futuro no sentido absoluto o ponto crucial é: "se Deus conhece todas as coisas de
antemão, toda a liberdade de ação parece ser excluída".4 Deste modo, para que o livre arbítrio
humano seja mantido, o conceito da presciência divina é relativizado, ou seja, para os seus
defensores, Deus não tem conhecimento prévio de todas as nossas ações. Na verdade, esta
posição torna Deus dependente do homem.5
Predestinação e Livre-Arbítrio
Predestinação e livre-arbítrio são dois conceitos aparentemente contraditórios. Como a
Bíblia estabelece a ambos, não podemos advogar apenas um deles, em detrimento do outro;
pois "quando argumentamos dedutivamente, com base na onisciência e na onipotência de
Deus, o livre-arbítrio humano parece ser obliterado. Por outro lado, quando argumentamos
dedutivamente, com base no livre-arbítrio humano, a presciência e o poder divino de
3
Para uma melhor noção sobre o tema da presciência divina, ver o artigo de Albert R. Timm, ―Presciência
Divina – Relativa ou Absoluta‖ em O Ministério Adventista, novembro-dezembro de 1984, pp. 13-22.
4
Herman Bavinck, The Doctrine of God (Edimburgo: The Banner of God Trust, 1979), 189, citado em Albert R.
Timm, ―Presciência Divina – Relativa ou Absoluta‖ em O Ministério Adventista, novembro-dezembro de 1984,
14.
5
Bavinck, 189, citado em Timm, 14.
4
determinar as ações parecem excluídos".6 Assim surge a indagação: Até que ponto Deus
determina os acontecimentos humanos, e até que ponto o homem é livre em suas ações?
Ao desenvolver o tema da predestinação, Calvino citou Agostinho que comentara a
queda de Adão, ―o homem não somente [a si mesmo] se perdeu, mas ainda a seu arbítrio‖.7 A
noção agostiniana sobre a natureza humana pecaminosa depois da queda esclarece porque o
cristão precisa de Deus para fazer o bem. A noção de total depravação da natureza humana
decaída explica a ausência do livre arbítrio no ser humano, daí a total dependência de Deus
para escolher fazer o bem.8
Segundo Calvino, a soberania divina sobre o ser humano é plena e lhe exclui o livrearbítrio, ―[Ele] próprio efetua em nós o querer, [o] que outra [cousa] não é senão que o
Senhor, por Seu Espírito, nos dirige, inclina, governa o coração e nele reina como em domínio
Seu‖.9
A seguir o conceito calvinista da predestinação, ―Chamamos predestinação o eterno
decreto de Deus pelo qual houve em si [por] determinado quê acerca de cada homem quisesse
acontecer. Pois, não são criados todos em igual condição; pelo contrário, a uns é preordenada
a vida eterna, a outros a eterna danação. Portanto, como criado foi cada qual para um ou outro
(desses dois) fins, assim [o] dizemos predestinado ou para a vida, ou para a morte. Esta
[predestinação], porém, Deus há atestado não só em cada pessoa, mas também exemplo lhe
deu em toda a descendência de Abraão, de onde fizesse manifesto que Lhe está no arbítrio de
que natureza seja a condição futura de cada nação‖.10
Essa doutrina afirma ainda que Cristo morreu apenas pelos "eleitos de Deus", para os
quais a graça salvadora de Deus é concedida incondicionalmente; enquanto que para o
restante da humanidade não há esperança de salvação.11
Dentro do contexto da discussão específica sobre escolha do cônjuge, a posição que
afirma ter Deus uma pessoa certa (determinada) para cada crente nega peremptoriamente o
livre-arbítrio humano, o que não é condizente com o testemunho das Escrituras. Assim sendo,
você não tem que escolher, já que seu livre-arbítrio não é levado em conta por Deus. O que a
pessoa precisa é descobrir quem Deus escolheu para ela. Se este fosse o caso, como se daria a
revelação desta informação, por revelação ou por inspiração profética?
Tratemos, agora, do livre-arbítrio. O relato da criação e da queda do homem, no livro
de Gênesis, estabelece a doutrina do livre-arbítrio humano — de um lado está a ordem divina
a Adão: "Da árvore da ciência do bem e do mal não comerás" (2:17), e do outro, a
transgressão dessa ordem: "e ele comeu" (cap. 3:6). Este episódio demonstra claramente que
as ordens divinas podem ser transgredidas por Suas criaturas dotadas de livre-arbítrio.12 Se,
porventura, a hipótese da predestinação calvinista fosse verdadeira, haveria uma pergunta,
"Uma vez que somos todos pecadores, por que uma pessoa deveria ser escolhida para honra e
outra para desonra?"13 Obviamente isto lançaria uma sombra de dúvida sobre a justiça de
Deus.
A predestinação calvinista afirma que a graça salvadora de Deus é concedida apenas
aos que Ele predestinou à salvação; porém o conceito bíblico não suporta esta posição. Isaías
55:1 diz: "Ah! todos vós os que tendes sede, vinde às águas...", e Cristo ratifica essas palavras
6
Sanday, em Russell N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado (Guaratinguetá, SP: A Voz da Bíblia, s.d.),
3:727, citados em Timm, 14.
7
Agostinho, Enchiridion – manual, cap. IX, seção 30 (PLM, vol. XL, p. 246), citado em João Calvino, As
institutas (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985), 2:24.
8
Idem, Sermão CLXXVI, seção V e, também, seção VI (PLM, vol. XXXVIII, pp. 952-953), citado em Calvino,
2:46.
9
João Calvino, As institutas (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985), 2:61.
10
Idem, 3:389.
11
Timm, 14.
12
Ibid.
13
J. Ivan Crawford, Buscando a glória de Deus, Lição da Escola Sabatina, abril-junho de 1982, ed. Do
professor, 60, citado em Timm, 14.
5
com o convite: "Vinde a Mim todos..." (S. Mat. 11:28), e ordena que as boas-novas da
salvação devem ser pregadas "a toda criatura" (S. Marc. 16:15). A Bíblia aprofunda ainda
mais esse conceito ao declarar que Deus "deseja que todos os homens sejam salvos" (I Tim.
2:4), e que Ele não quer "que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento"
(2 Pe 3:9); e a ordem divina é: "Agora, porém, notifica aos homens que todos em toda parte se
arrependam" (Atos 17:30). Assim, ―O convite a todos para que se arrependam seria um
escárnio ao nome de Deus se os homens não se pudessem arrepender".14 A Bíblia acrescenta,
porém, que "Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que
O teme e faz o que é justo Lhe é aceitável" (Atos 10:34 e 35).15
Ellen White confirma a noção bíblica de livre-arbítrio, "Não é um decreto arbitrário da
parte de Deus que veda o Céu aos ímpios; estes são excluídos por sua própria inaptidão para
dele participar‖.16 Se o destino de cada indivíduo já estivesse predeterminado desde a
eternidade, para a salvação ou para a perdição, a proclamação do evangelho perderia o seu
sentido. Os homens não seriam mais moralmente responsáveis, e Deus, em última análise,
seria responsável pela perdição dos impenitentes, o que faria da punição do pecado – a cada
um ―segundo as suas obras‖ (Ap 20:12) – uma farsa e uma injustiça; pois tais obras teriam
sido o resultado do desígnio divino. Isto é completamente contrário ao conceito bíblico!17
Do mesmo modo, no tema específico do casamento, se o cônjuge de cada pessoa
estivesse predeterminado desde a eternidade por Deus tal fato anularia completamente o livrearbítrio do ser humano e, consequentemente, a responsabilidade pela escolha do parceiro(a).
Presciência Divina e Origem do Mal
A Bíblia declara que o pecado se originou em Lúcifer, um ser perfeito que veio a
rebelar-se contra Deus (Ez 28:14 e 15; Is 14:12-15), o qual, após suscitar "peleja no Céu", foi
expulso (Ap 12:7-9). Posteriormente, ele induziu também os nossos primeiros pais ao pecado.
O Espírito de Profecia diz a esse respeito, e com relação ao plano divino para a salvação do
homem: "O plano de nossa redenção não foi um pensamento posterior, formulado depois da
queda de Adão.... Desde o princípio Deus e Cristo sabiam da apostasia de Satanás, e da queda
do homem mediante o poder enganador do apóstata. Deus não ordenou a existência do
pecado. Previu-a, porém, e tomou providências para enfrentar a terrível emergência".18 Em
outras palavras, "Deus tinha um conhecimento dos eventos do futuro, mesmo antes da criação
do mundo. Ele não fez Seus propósitos para se ajustarem às circunstâncias, mas permitiu que
as coisas se desenvolvessem e surtissem efeito. Ele não agiu para produzir certas condições,
mas sabia que tais condições iriam existir".19
Se Deus sabia, porém, de antemão, que Lúcifer e nossos primeiros pais cairiam em
pecado, por que Ele os criou? — Cristo "sabia que Lúcifer procuraria tirar-Lhe a vida durante
o Seu ministério terrestre e que finalmente conseguiria fazê-lo no Calvário. Sabia que Lúcifer
tentaria induzi-Lo a abusar do poder de Seu Pai ou de Seu próprio poder. Ele sabia também a
parte que seria desempenhada por homens e mulheres. Mas a eterna presciência de Cristo dos
contínuos e definidos efeitos dos pecados dos outros sobre Ele foi superada por Seu eterno
amor. Prosseguiu na criação dos anjos e do homem a despeito do terrível custo para Sua
própria Pessoa‖.20
14
Pedro Apolinário, Análise de textos bíblicos de difícil interpretação (São Paulo: Instituto Adventista de
Ensino, 1980), 1:19, citado em Timm, 14-15.
15
Timm, 14-15.
16
Ellen G. White, Caminho a Cristo, 18, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
s.d.), 1CD-Rom.
17
Timm, 15.
18
Ellen G. White, O desejado de todas as nações, 22, Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom.
19
Idem, em Seventh-day Adventist Bible Commentary (SDABC), ed. Francis D. Nichol (Hagerstown, MD: Review
and Herald, 1976), 6:1082.
20
Norman R. Gulley, O sacrifício expiatório de Cristo, Lição da Escola Sabatina, janeiro-março de 1983, ed. do
professor, 5, citado em Timm, 16.
6
Mas, o fato de Cristo os ter criado, apesar de saber previamente que eles cairiam, não
torna Deus, em última análise, o autor do pecado? — A questão básica na compreensão deste
assunto é fazermos "a diferença entre praescientia e praedestinatio, isto é, entre a presciência
e a eterna eleição de Deus. A presciência de Deus nenhuma outra coisa é senão isso que Deus
sabe todas as coisas antes de acontecerem",21 mas ela "não é causativa em si mesma".22
Escolha do Conjuge e Predestinação
Analisemos a questão da escolha do cônjuge sob a perspectiva do tema da
predestinação. Se Deus tivesse uma única pessoa para cada um de nós, Ele teria que: criar
uma especialmente para cada um de nós, como o fez para Adão ou teria que conceder o dom
profético para todos os seres humanos para que assim pudessem encontrar a pessoa que Ele
designou para cada um deles. Sem o dom profético da revelação nunca encontrariam a pessoa
certa designada por Deus. Seria mais ou menos assim: ―Aqui está a mulher da sua vida,
revelada especialmente através de um sonho ou visão‖. Se não fosse por revelação especial de
Deus a cada um de nós, como saberíamos qual pessoa Ele tem para nós?
Quando Deus, em Sua soberania, decide que alguém realize uma responsabilidade
especial, seja como profeta, seja como rei, Ele o faz livremente, através de uma revelação
especial: ―Ora, o SENHOR, um dia antes de Saul chegar, o revelara a Samuel, dizendo: 16
Amanhã a estas horas, te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por
príncipe sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo das mãos dos filisteus; porque
atentei para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim. 17 Quando Samuel viu a Saul, o
SENHOR lhe disse: Eis o homem de quem eu já te falara. Este dominará sobre o meu povo‖
(1Sa 9:15-17).
É óbvio que não funciona assim. Outro problema gerado pela tese de uma pessoa
exclusiva para cada um de nós é que ela anula a liberdade de escolha do ser humano. Se Deus
tem uma única pessoa para mim, então minha parte é apenas receber por revelação especial
aquela pessoa que Ele designou para mim. Não há margem para escolha, apenas aceitação.
Tal fato transmitiria uma noção errônea do caráter de Deus, pois faria dEle um tirano, um
ditador. ―Olha, tome esta pessoa como seu cônjuge. Você não pode reclamar nem devolver‖.
Ou seja, tudo já estaria determinado antecipadamente por Deus. Em teologia isto se denomina
predestinação.
O que Deus determina é um tipo de caráter, não uma pessoa exclusiva: ―Pesem, os que
pretendem casar-se, todo sentimento e observem todas as modalidades de caráter naquele com
quem desejam unir o destino de sua vida. Seja todo passo em direção do casamento
caracterizado pela modéstia, simplicidade, e sincero propósito de agradar e honrar a Deus‖.23
Outra citação que segue o mesmo conselho e, ―... receba a jovem como companheiro vitalício
tão somente ao que possua traços de caráter puros e varonis, que seja diligente, honesto e
tenha aspirações, que ame e tema a Deus‖.24
Neste mesmo livro, Ellen White continua sua orientação:
―Antes de dar a mão em casamento, deveria toda mulher indagar se aquele com quem
está para unir seu destino, é digno. Qual é seu passado? É pura a sua vida? É o amor que ele
exprime de caráter nobre, elevado, ou é simples inclinação emotiva? Tem os traços de caráter
que a tornarão feliz? Poderá ela encontrar verdadeira paz e alegria na afeição dele? Ser-lhe-á
permitido, a ela, conservar sua individualidade, ou terá de submeter seu juízo e consciência ao
domínio do marido? Como discípula de Cristo, ela não pertence a si mesma, foi comprada por
preço. Pode honrar as reivindicações do Salvador como supremas? Serão conservados puros e
21
Livro de concórdia, As confissões da Igreja Evangélica Luterana (São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, Editora
Concórdia, 1980), 532, citado em Timm, 16.
22
Augustus H. Strong, Systematic Theology (Valley Forge, PA: Judson Press, 1979), 286, citado em Timm, 16.
23
Idem, Mensagem aos jovens, 435, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom.
24
Ibid.
7
santos o corpo e a alma, os pensamentos e propósitos? Essas perguntas têm influência vital
sobre o bem-estar de toda mulher que se casa‖.25
Continuando a ênfase sobre o caráter do pretendente, ela orienta aos jovens
consultarem os pais e acrescenta, ―Consultai a Deus e a vossos pais tementes a Deus, jovens
amigos. Orai sobre o assunto. Pesai cada sentimento e observai todo desenvolvimento de
caráter na pessoa a quem pretendeis ligar o destino de vossa vida‖.26
Aparente Evidência de Determinismo Divino na Escolha do Cônjuge
A definição de Rebeca como esposa de Isaque tem sido apresentada como evidencia
de que Deus é quem determina a esposa de cada marido, ou seja, um tipo de predestinação
matrimonial: ―Ó SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, rogo-te que me acudas hoje e uses
de bondade para com o meu senhor Abraão! Eis que estou ao pé da fonte de água, e as filhas
dos homens desta cidade saem para tirar água; dá-me, pois, que a moça a quem eu disser:
inclina o cântaro para que eu beba; e ela me responder: Bebe, e darei ainda de beber aos teus
camelos, seja a que designaste para o teu servo Isaque; e nisso verei que usaste de bondade
para com o meu senhor‖ (Gn 24:12-14). De fato, o texto diz, ―designaste‖, portanto, em
resposta a oração de Eliézer Deus lhe mostrou quem deveria ser a esposa de Isaque.
Ellen White lembra alguns dos costumes dos tempos antigos, ―Os contratos de
casamento eram geralmente feitos pelos pais, contudo nenhuma compulsão era usada para
forçá-los a casar com quem não amavam. Mas os filhos tinham confiança no julgamento dos
pais, e seguiam-lhes o conselho concedendo suas afeições àqueles que seus tementes e
experientes pais escolhiam para eles. Era considerado crime seguir caminho contrário‖.27 Este
texto descreve o costume da época que fora aceito por Isaque.
Mais a frente, Ellen White, em seu comentário, acrescenta que no caso de Isaque, este
confiava ―na sabedoria e afeição de seu pai, estava satisfeito com a entrega desta questão a
ele, crendo também que o próprio Deus dirigiria na escolha a fazer-se‖.28 O texto não trata de
determinismo, mas de confiança na orientação dos pais. Estes, evidentemente, como era o
caso de Abraão, confiavam na direção de Deus.
Observe-se que Abraão não disse a Eliézer, ―Vá e busque uma jovem por nome
Rebeca, pois Deus me revelou que esta deverá ser a esposa de meu filho‖. Ele apenas
assegurou a Eliézer que "O Senhor, Deus dos Céus", disse ele, "que me tomou da casa de meu
pai e da terra da minha parentela, ... enviará o Seu anjo adiante da tua face" (Gn 24:7).
Eliézer havia aprendido com Abraão a confiar em Deus. Nem Abraão, nem ele tinham
recebido uma revelação especial sobre aquela que deveria ser a esposa de Isaque. Então
Eliézer decidiu pedir a Deus um sinal (Gn 24:12-14) que foi prontamente respondido.
A atitude de Rebeca em atender ao pedido de Eliézer foi uma resposta de Deus a sua
oração. Mas isto não significa determinismo, porque o livre-arbítrio dela foi respeitado,
―Chamemos a moça e ouçamo-la pessoalmente. Chamaram, pois, a Rebeca e lhe perguntaram:
Queres ir com este homem? Ela respondeu: Irei‖ (Gn 24:57-58). Ellen White comenta este ato
de Rebeca, ―Depois de obter-se o consentimento da família, a própria Rebeca foi consultada
quanto a ir ela a uma tão grande distância da casa de seu pai para casar-se com o filho de
Abraão. Ela acreditava, pelo que havia tido lugar, que Deus a escolhera para ser a esposa de
Isaque‖.29
O caso específico do casamento de Isaque não pode ser empregado para comprovação
de predestinação conjugal, mas de resposta de Deus ao pedido de Eliézer. Aquela foi uma
situação singular, não a regra geral. O normal era os filhos confiarem na orientação dos pais
para definir o seu respectivo cônjuge.
25
Ibid., 439.
Ibid., 449.
27
Idem, História da redenção, 85-86, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom.
28
Ibid.
29
Ibid., 173.
26
8
Se, porventura, a Bíblia e o Espírito de Profecia ensinassem que é Deus quem
previamente determina uma pessoa exclusiva para cada um dos crentes, isto deveria ser
claramente apresentado. Mas não é este o caso. Mais a frente, no capítulo de Patriarcas e
profetas que trata do casamento de Isaque, Ellen White faz as seguintes aplicações: ―Se há um
assunto que deve ser cuidadosamente considerado, e no qual se deve procurar o conselho de
pessoas mais velhas e experientes, é o do casamento; se a Bíblia já foi necessária como
conselheira, se a direção divina em algum tempo deveria ser procurada em oração, é antes de
dar um passo que liga pessoas entre si para toda a vida. Os pais nunca devem perder de vista
sua responsabilidade pela felicidade futura de seus filhos. O respeito de Isaque aos conselhos
de seu pai foi o resultado do ensino que o habilitou a amar uma vida de obediência. Ao
mesmo tempo em que Abraão exigia de seus filhos que respeitassem a autoridade paterna, sua
vida diária testificava que essa autoridade não era um domínio egoísta ou arbitrário, mas que
se fundava no amor, e tinha em vista o bem-estar e felicidade deles.
Pais e mães devem sentir que se lhes impõe o dever de guiar as afeições dos jovens, a
fim de que possam ser colocadas naqueles que hajam de ser companheiros convenientes.
Devem sentir como seu dever, pelo seu próprio ensino e exemplo, com a graça auxiliadora de
Deus, modelar de tal maneira o caráter de seus filhos desde os seus mais tenros anos, que
sejam puros e nobres, e sejam atraídos para o bem e para o verdadeiro. Os semelhantes atraem
os semelhantes; os semelhantes apreciam os semelhantes. Que o amor pela verdade, pureza e
bondade seja cedo implantado na alma, e o jovem procurará a companhia daqueles que
possuem essas características‖.30
Se porventura defendesse a noção de que Deus é quem determina desde a eternidade a
união dos cônjuges, Ellen White teria aproveitado a oportunidade para defender esta noção
em seu comentário sobre o casamento de Isaque com Rebeca. Ao contrário, ela destacou o
relevante papel dos pais em orientar os filhos na devida escolha. Basta considerar com
atenção o contexto acima referido.
Deus pode ser consultado na escolha do cônjuge, como o fez Eliézer para a escolha da
esposa de Isaque, mas isto não retira o exercício do livre arbítrio humano para o cumprimento
da vontade de Deus. É bom lembrar que ―A oração move o braço da Onipotência. Aquele que
comanda as estrelas na sua órbita nos céus, e cuja palavra controla as águas do grande abismo
- o mesmo Criador infinito atuará em favor do Seu povo, se O invocarem com fé‖,31 inclusive
na escolha do cônjuge.
O soberano Deus dispõe de poder para definir a escolha do cônjuge no presente em
resposta à oração de fé, mas não significa que Ele tenha determinado isto na eternidade e que
não respeite o livre arbítrio humano. O fato de que Ele conhece de antemão todas as coisas
não implica em que Ele é o causador de todas as coisas.
A Relação Entre Soberania de Deus e Livre-Arbítrio Humano
A bem da verdade, em teologia existem várias tensões. Uma delas é entre soberania de
Deus e livre-arbítrio. Por exemplo, se a definição do cônjuge está nas mãos de Deus, a
atividade do ser humano não a afeta; se depende da ação humana, não está nas mãos de Deus.
Como se pode constatar, é o antigo problema do determinismo contra o livre arbítrio. A
primeira alternativa pode conduzir à passividade: porque deveriam os seres humanos se
preocupar se suas ações não afetam os planos de Deus? Mas o segundo pode levar à
ansiedade: como fazer a escolha certa se tudo depende apenas de mim?
O estudo da relação entre soberania divina com livre-arbítrio humano na Bíblia
permite que se vislumbre uma parceria ideal. Tomemos, por exemplo, as profecias de tempo
referentes à primeira vinda de Jesus, como Daniel 9:24-27; Isaías 7:14, etc. Evidentemente
eram profecias incondicionais quanto ao fator tempo, contudo o seu cumprimento dependia da
livre aceitação por parte dos escolhidos para que elas se cumprissem. Este foi o caso de Maria
30
31
Idem, Patriarcas e profetas, 175-176, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom.
Idem, Nos lugares celestiais, 351, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom.
9
perante o anjo, ―Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a
sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus‖ (Lc
1:35). Maria poderia ter recusado a incumbência celeste, mas não, ela espontaneamente disse,
―Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra‖ (Lc 1:38). De
modo objetivo, o relato acima confirma a declaração bem colocada por Harold H. Rowley, ―O
Paradoxo da graça é que o ato que emana totalmente de Deus pode ser realizado através do
homem‖.32
Por sua vez, ao discorrer sobre soberania divina e livre arbítrio no contexto da visão de
Ezequiel no rio Quebar, disse Ellen White: ―Todos estão pela sua própria escolha decidindo o
seu destino, e Deus está governando acima de tudo para o cumprimento de Seu propósito‖.33
Não existe conflito entre a soberania de Deus e livre arbítrio humano. Basta que
lembremos o chamado profético de William Foy e Hazen Foss. Ambos recusaram o chamado
divino por livre e espontânea vontade, ao contrario de Ellen White. Deus respeitou a recusa de
ambos em exercer o ministério profético, mas exaltou a decisão de Ellen White em aceitar
desempenhá-lo.34 Ao final de tudo, Sua soberania foi exercida porque Seu propósito de
conceder a igreja remanescente um voz de orientação profética foi alcançado.
Resumo e Conclusão
O presente trabalho estudou o tema da escolha do cônjuge pela perspectiva de dois
pontos de vistas antagonistas, o da presciência absoluta causativa e a não causativa.
A presciência absoluta causativa defende: 1) a soberania total de Deus; 2) todas as
coisas acontecem pela vontade exclusiva de Deus; 3) o ser humano não tem livre arbítrio; 4)
salvação e perdição de cada pessoa estão decretados desde a eternidade por Deus; 5) Deus é
quem determina o cônjuge.
A presciência absoluta não causativa defende: 1) a soberania de Deus; 2) o respeito ao
livre arbítrio humano; 3) salvação ou perdição dependem da aceitação ou rejeição humana da
redenção gratuitamente oferecida por Deus; 4) a escolha do cônjuge é uma questão definida
pessoalmente.
O plano da redenção em Cristo, Sua encarnação, vida, morte, ressurreição e
intercessão reconhece a presciência divina que anteviu a entrada do pecado no céu por Lúcifer
e na terra por Adão, mas não o causou, apenas proveu-lhe uma solução satisfatória.
O testemunho geral da Bíblia corrobora a posição da presciência absoluta não
causativa, pois se o destino de cada indivíduo já estivesse predeterminado desde a eternidade,
para a salvação ou para a perdição, a pregação do evangelho não teria sentido. Os homens não
seriam mais moralmente responsáveis, e Deus seria responsável pela perdição dos
impenitentes, o que faria da punição do pecado segundo as obras uma farsa e uma injustiça;
pois tais obras teriam sido o resultado do desígnio divino.
No caso do casamento, se o cônjuge de cada pessoa estivesse predeterminado desde a
eternidade por Deus tal fato anularia completamente o livre-arbítrio do ser humano e,
consequentemente, a responsabilidade pela escolha do parceiro(a).
Se a predestinação conjugal fosse verdadeira, Deus teria que criar uma esposa
especialmente para cada um de nós, como o fez para Adão, ou teria que conceder o dom
profético para todos os seres humanos para que assim pudessem encontrar a pessoa que Ele
designou para cada um deles. Sem o dom profético da revelação ou inspiração nunca
encontrariam a pessoa certa designada por Deus.
O que Deus determina é um tipo de caráter exclusivo (temente a Deus), não uma
pessoa exclusiva! As fontes de orientação, tais como o próprio Deus, a Bíblia, a oração, o
32
Harold H. Rowley, A importância da literatura apocalíptica (São Paulo: Edições Paulinas, 1980), 177.
Ellen G. White, Educação, 178, em OEGW, 1CD-Rom.
34
Para uma melhor noção sobre o chamado profético de Foy e Foss, ver Herbert E. Douglas, Mensageira do
Senhor (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2002), 38.
33
10
conselho dos pais, são recursos disponíveis que favorecem uma livre escolha do cônjuge
conveniente.
O casamento de Isaque e Rebeca, ao invés de corroborar o determinismo divino do
cônjuge desde a eternidade, exalta a submissão do filho à orientação do pai para a escolha da
companheira como um modelo a ser seguido na atualidade.
Fica evidente que Deus pode ser consultado na escolha do cônjuge, como o fez Eliézer
para a escolha da esposa de Isaque, mas isto não retira o exercício do livre arbítrio humano
para o cumprimento da vontade de Deus. Lembre-se que Rebeca teve a opção de rejeitar o
pedido de casamento e a mudança para a terra de Isaque.
Alguns têm dificuldade em harmonizar soberania divina e livre arbítrio humano. Se a
definição do cônjuge está nas mãos de Deus, a atividade do ser humano não a altera; se
depende da ação humana, não está nas mãos de Deus; é o retorno da controvérsia entre
determinismo e livre arbítrio. A primeira alternativa conduziria à passividade: porque
deveriam as pessoas se preocupar se suas ações não afetam os planos de Deus? Mas o
segundo gera ansiedade: como fazer a escolha certa se tudo depende apenas de mim?
A experiência de William Foy, Hazen Foss e Ellen White comprova que Deus respeita
o livre arbítrio humano tanto para rejeitar quanto para aceitar o chamado profético, mas ao
final de tudo, Ele exerce Sua soberania quando confere à igreja remanescente a guia inspirada
por meio de Ellen White.
Em suma, o testemunho geral da Bíblia e do Espírito de Profecia corrobora que a
escolha do cônjuge pode ser orientada por Deus, desde que solicitada com fé. Contudo esta
orientação não implica que tenha sido predeterminada por Deus desde a eternidade, ao
contrario, este direcionamento divino requer o exercício humano da liberdade e
responsabilidade correspondentes.
Embora saiba desde a eternidade quais serão nossas escolhas, não é Deus quem
determina nosso futuro cônjuge. A única coisa que Ele define é que a escolha do futuro
cônjuge tome em consideração um caráter cristão nobre.
Afinal, se houvesse apenas uma pessoa designada por Deus, os viúvos não teriam
direito a novo casamento. Estariam condenados a uma solidão permanente, já que a
―predeterminada‖ morreu!
11
Abuso Sexual de Crianças na Igreja
Peter Winter [Pseudônimo]
Ministry, março de 2001, 18-21
Anne soou interessada, e até um pouco preocupada. “Pastor, eu quero lhe falar”,
disse. Encontrei um pouco de dificuldade em acreditar no que ouvi. “Martin abusou
sexualmente da minha filha.” Martin era o líder de um dos ministérios infantis da nossa
comunidade. Estava em seus trinta anos, era capaz e divertido. Ele e sua esposa não
tinham filhos até então. Eram muito populares com nossos membros, e, mesmo recentes na
comunidade já tinham um grande número de amigos próximos. Minha primeira reação foi a
de perguntar a Anne se sua filha estava certa do que afirmava. “Sandra não mentiria,” ela
respondeu. 'Além do mais, há indícios de que o que diz é verdade.
“Depois que voltou de suas férias com Martin e sua esposa no último verão, sua
atitude quanto a ele mudou drasticamente. Não quis mais ir às reuniões dos adolescentes
da nossa igreja. Quando nós compramos para Martin um presente de natal, nossa filha nem
mesmo quis assinar o cartão. E se recusa a estar sozinha na mesma sala com seu
professor de piano.” Anne continuou depois de uma breve pausa, “agora mesmo não
permite nem que o seu próprio pai a toque”. Nós pensamos que ela estava só atravessando
uma fase associada com a puberdade. Mas agora parece que é muito mais grave do que
isso.
Eu estava chocado. Mas havia mais a vir à tona. “Minha filha Sandra não é a única
que Martin tem molestado.” Anne continuou. “Sandra diz que Martin fez o mesmo à Lisa”.
“Os pais de Lisa sabem sobre isto?” perguntei a Anne. “Ainda não”, ela respondeu. “Temos
que falar com eles, e então nós poderemos fazer algo”. Naquela semana, após o culto da
igreja, o pai de Lisa que também era membro da igreja veio conversar comigo. Ele estava
calmo, contudo irritado (sua aparência era de calma, mas escondia uma irritação). Sua
esposa falara com Lisa e tinha confirmado a história da Sandra. Os pais de ambas as
meninas quiseram encontrar-se com Martin. Eu tive sérias dificuldades para confortá-los,
pois o sentimento de revolta era muito grande. Como poderia um homem como Martin,
amigável, sempre pronto para rir, amigo e companheiro ser realmente um molestador de
crianças? Como poderia eu ter a certeza de que as meninas não estavam exagerando
acerca de um ou dois incidentes de afinidade?
Durante os poucos dias seguintes eu orei sobre o caso e decidi então me encontrar
com Martin. Fui direto ao ponto. “Sandra disse que quando estavam passando as férias
juntos você tocou nos órgãos genitais dela. Ela também disse que você fez o mesmo a Lisa.
É verdade Martin?” Martin hesitou um pouco. Então, olhando para baixo disse “sim, é
verdade” Ele aparentava estar realmente aliviado de poder finalmente falar sobre este
assunto com alguém. Por ser seu pastor me senti com a sensação curiosa de ser repelido
por sua admissão logo no princípio. No entanto, ele demonstrou que estava aparentemente
disposto a discutir seu comportamento comigo. “Já falei com os pais de ambas as meninas e
nós decidimos que se não quiser ser denunciado para a polícia terá que se adequar à
determinadas circunstâncias. “Eu disse-lhe que o primeiro passo seria um encontro com os
pais das meninas para escutar o que pensam e sentem sobre o que você fez e para que
tenha a oportunidade de se desculpar. Então teria que pagar pela terapia das meninas.
Você deve também ir a um terapeuta. Finalmente, você tem que renunciar imediatamente do
cargo de líder dos desbravadores. Enquanto são feitos os exames e a terapia com as
meninas você não deverá vir à igreja”. Nós falamos sobre estas condições por uma hora ou
12
mais. A objeção principal de Martin concerniu no tocante a sua terapia. “Você quer apenas
forçar-me a ver um psiquiatra como se eu de alguma forma fosse um pervertido”, disse
Martin. Isto me surpreendeu. Eu pensei que se o problema dele fosse meu, eu estaria
ansioso para ir a um médico. Entretanto, Martin começou a mostrar sinais de não acreditar
que tinha feito qualquer coisa anormal. Minha outra surpresa era sobre a sua atitude para
com a igreja. Ele não estava preocupado de não vir à igreja novamente. “Eu tenho tido
dúvidas mesmo,” ele disse.
Esta entrevista me causou uma dor no coração e algum trauma. Não somente
por que Martin parecia feliz de parar de vir à igreja, mas também por que eu estava
dolorosamente ciente que eu não tinha qualquer direito de fazê-lo parar de vir, eu
estava começando a sentir o impacto de um dilema doloroso.
Minha decisão foi causada por dois outros fatores dos quais os pais de ambas
as meninas já estavam cientes. Primeiro, nós sentíamos que as meninas não
deveriam ter sido confrontadas com o abusador delas semana após semana.
Segundo, as meninas não queriam ter a sensação que toda a nossa congregação
sabia o que tinha acontecido a elas.
Trauma emocional
Uma das emoções mais turbulentas em crianças abusadas é a vergonha.
Apesar de elas não terem feito nada para provocar o molestador, mesmo assim, elas
se sentem envergonhadas de terem sido usadas como objetos de desejos
pervertidos. Elas tentam esconder sua vergonha, deixando o seu abuso em segredo
– em muitos casos até mesmo de seus próprios pais.
A fim de preservar os sentimentos daquelas duas meninas, nós decidimos
deixar o abuso de Martin em segredo para a igreja. Lendo I Coríntios 6:9-11, eu fui
convencido de que, com alguma cooperação de Martin, ele poderia ser curado.
Deixar em segredo, também tinha a intenção de dar a Martin uma oportunidade de
mudar sem ter que sofrer com as enormes repercussões que uma investigação
policial poderia trazer.
Olhando para trás, eu vi quão ingênuo eu fui. Nunca deveria ter impedido um
membro de vir à igreja sem o consentimento e apoio da igreja. Isso foi um erro. Eu
agora reconheço também como minha tentativa de manter o assunto confidencial
somente estendeu e até mesmo intensificou o sofrimento de todos envolvidos. Um
problema que deveria ter sido resolvido em questão de meses levou mais de dois
anos. Nossa igreja sofreu durante esse tempo.
Inicialmente, Martin parecia concordar com as nossas condições. Ele se
encontrou com os pais. O encontro teve uma carga emocional forte, mas fez o clima
entre eles melhorar um pouco. Martin expressou sua tristeza pelos erros cometidos,
e os pais se dispuseram a perdoar.
O surgimento de problemas
Com o passar do tempo, porém, dois problemas surgiram. Primeiro: como as
suas reações iniciais indicavam, Martin estava relutante em fazer terapia, apesar de
eu tê-lo encaminhado a um terapeuta que me fora recomendado. Depois de uma
visita inicial, Martin me disse que esse terapeuta só poderia atendê-lo no horário
comercial. Ele disse que por isso, poderia passar por terapia. Eu acreditei nele, mas
mesmo assim insistia para que fizesse terapia. Como resultado dessa pressão,
Martin, eventualmente, começou a ir a um psicólogo de sua escolha. Este
conselheiro tinha pouca experiência na área de abuso sexual. Eu gradualmente
comecei a perceber que Martin estava na realidade evitando o nosso acordo e sua
responsabilidade.
O segundo problema era que os membros da igreja perceberam sua
ausência, visitaram-no e perguntaram por que ele não vinha mais à igreja. A
13
resposta de Martin levava a crer que uma ou duas famílias e mais o pastor haviamno tratado injustamente. “Algumas pessoas simplesmente não conseguem perdoar,”
ele dizia suspirando com uma dor em seus olhos. Suas respostas geraram
perguntas e a dúvida pairou na atmosfera da igreja. De repente, em uma classe
realizada na igreja, um dos membros começou a criticar a liderança da igreja por
não conseguir perdoar. E assim, com o passar do tempo, os rumores e críticas
cresceram.
Cobrindo a realidade
O abuso de Martin nunca resultou em relação sexual com suas vítimas. Ele
começava brincando inocentemente com uma menina – colocando-a no seu colo,
fazendo cócegas em sua barriga, ou massageando-a de brincadeira nas costas.
Depois sua mão caía abaixo da linha do quadril e ele tocava a genitália. Quando isso
aconteceu com Sandra, ela estava quase na puberdade. Os dedos de Martin
penetraram sua vagina. Sandra percebeu que Martin havia passado uma linha
crítica. Ela repentinamente ficou firme e manifestou medo. Ela parou de rir, sentiu-se
enjoada, caiu deitada, não sabendo como reagir. Martin parou seus avanços sexuais
e fez de conta que nada de anormal havia acontecido – uma atitude que confundiu
sua jovem vítima.
Depois Martin adotou a mesma atitude ao conversar com seus amigos na
igreja a respeito dos incidentes. “Nós estávamos apenas brincando,” ele disse, “e a
minha mão acidentalmente caía abaixo da linha do quadril, só isso. Os pais de Lisa
e Sandra estão fazendo um estardalhaço de um pequeno incidente.” Assim,
novamente, os rumores se espalharam pela congregação: Martin estava sendo
vitimado pelos membros.
Nesse tempo, eu não estava ciente de que Martin havia espalhado esses
rumores. Eu só estava ciente de uma rápida deterioração na atmosfera de nossa
igreja. Enquanto eu via a desconfiança e as recriminações crescerem, eu percebi
que precisava de conselhos. Conversei com o meu líder denominacional e ele
imediatamente assegurou-me o apoio financeiro para conseguir qualquer ajuda
profissional que eu precisasse. Eu assisti a um seminário de um dia sobre abuso
infantil organizado por uma igreja vizinha. Nesse seminário consegui o endereço de
um psicólogo cristão especializado em terapia para os que abusam de crianças e
também para suas vítimas.
“Estou me esforçando para entender o perdão,” disse a Thomas, o terapeuta.
Eu também disse a ele que sabia que era verdade que Martin tinha abusado ou
tentado abusar mais de uma vez das meninas e que ele estava relutante para fazer
terapia – mas Martin também parecia estar genuinamente arrependido das suas
ações. “Não devemos nós estar mais dispostos ao perdão?”, perguntei.
Lidando com um abusador
Olhando para trás, posso perceber que Thomas deve ter se admirado da
minha “inocência”. Primeiro, ele explicou o perfil psicológico de um abusador infantil.
“Eles são muito bons em manipulação”. Então, acrescentou, “Martin está lhe
manipulando, fazendo você sentir pena dele. Abusadores são também muito bons
em evitar as conseqüências das suas ações. O que você descreveu mostra que ele
está fazendo exatamente isso.” Mais tarde, Thomas me disse que as chances de
Martin não ter abusado somente das duas vítimas que eu conhecia eram grandes.
Ele me avisou para encorajar as famílias a processá-lo judicialmente, pois somente
esse processo poderia fazer as outras vítimas aparecerem. “Ainda mais”, ele
acrescentou, “se Martin tem relutado para entrar na terapia, então as chances de
que ele vai abusar de outras pessoas no futuro – possivelmente na sua igreja – são
significativas”.
14
Foi essa informação que me fez levar o caso adiante. Na minha próxima
conversa com Martin, enquanto o pressionava sobre o motivo pelo qual ele achava
que não poderia ir a um terapeuta especializado em casos de abuso sexual, eu
percebi quão significativamente ele estava manipulando meu genuíno desejo de vêlo curado. Ele agiu como se estivesse ferido e magoado com a minha insistência,
mostrando que sofria muito, pois, segundo transparecia, eu demonstrava ser muito
duro com ele.
Naquele momento, mais de um ano se passara desde a visita inicial da Anne.
Eu percebi que nossas tentativas para conter o problema haviam falhado. Eu falei
com os dois casais de pais sobre revelarmos a situação para a igreja. Eles, que a
essa altura tinham sido afetados devido aos rumores na nossa igreja, aceitaram que
o primeiro passo seria falar abertamente com os líderes locais da nossa igreja. Eu
também informei a Martin o que iria fazer.
Embora nossos líderes congregacionais tenham tomado algumas decisões
racionais – como organizar uma reunião especial para discutir o problema – uma
parte desses líderes mais tarde deixou seus cargos, pois a carga emocional era
muito grande para suportar.
Nós decidimos informar a igreja em duas fases. Na primeira reunião seria
somente para dar a informação. Uma segunda reunião, um mês ou mais depois,
seria para decidir se iríamos ou não desligar Martin do rol dos membros da igreja.
Também decidimos convidar Thomas, o terapeuta que eu tinha consultado, para
essas reuniões.
Assim que nos reunimos, ficou claro que os rumores que Martin propagara
tinham produzido efeito. Enquanto alguns recriminassem suas ações, outros
membros passaram a defende-lo. “Martin está triste pelo que fez”, eles diziam. “Você
tem que perdoar um pecador arrependido.” Outros viram o pecado dele como um
erro e não como um ato deliberado. Um ou dois pensaram que as vítimas estavam
exagerando ao contar os incidentes. “Até porque”, eles diziam, “Martin não chegou a
ter penetração com as meninas”.
O conselho profissional que Thomas deu, contudo, fez com que todos
pensassem de forma diferente. “Os que abusam das crianças coagem suas vítimas”
ele explicou. “Em um processo conhecido como “acariciar” [Em zoologia, o termo
inglês grooming, acariciar, se refere ao hábito presente em diversos mamíferos, especialmente
os grandes primatas, de afagar a pele ou os pêlos de um membro da comunidade a fim de
fortalecer os vínculos afetivos e manter a unidade do grupo] eles arquitetam situações nas
quais podem ficar sozinhos com as crianças, normalmente, fazendo com que elas
dependam deles. Nessas situações, eles passam a ter intimidade sexual com as
crianças. Mesmo que essa intimidade não alcance a penetração, ela ainda pode
traumatizar a criança”. Isso não era o que a maioria dos membros queria ouvir, mas
Thomas foi direto ao ponto. “Martin não tem demonstrado os frutos de um genuíno
arrependimento. A falta de disposição para aceitar o tratamento que poderia ajudá-lo
não confirma os pedidos de desculpa que ele fez”.
Efeitos na Igreja
As emoções produzidas naquelas reuniões quase que dividiu a igreja. Os pais
das meninas abusadas estavam particularmente arrasados. Eles estavam certos de
que uma vez que a igreja soubesse do ocorrido, receberiam apoio dos outros
membros. Infelizmente, aconteceu exatamente o contrário. Alguns dos amigos deles
sentiam-se tão desconfortáveis com a situação que os evitavam. Outros foram
hostis, pois estavam convencidos que o problema seria resolvido tão somente se os
pais perdoassem Martin e o encorajassem a voltar à igreja. Alguns ainda pensavam
que as vítimas tinham virtualmente se tornado culpadas. Mas, finalmente, como
15
igreja, nós decidimos formalmente que diríamos a Martin que ou ele aceitava a
terapia ou ele seria eliminado do rol de membros.
Embora não fosse nosso desejo tornar público os casos de abuso, as
notícias correram. Como resultado, uma terceira vítima apareceu e confirmou que
também havia sido abusada por Martin, alguns anos atrás. Foi isso, junto com a
contínua relutância de Martin em fazer terapia, que conduziu os pais das vítimas a
procurarem à polícia. Poucos dias depois, a polícia foi à casa de Martin com uma
autorização de busca. O que eles descobriram seria usado como evidência em seu
julgamento.
Por causa do processo contra ele, Martin escreveu uma carta explicando sua
decisão de deixar não apenas nossa congregação local, mas também a nossa
denominação. Embora aceitasse sua decisão, nossa igreja decidiu eliminá-lo
formalmente. Nós tomamos essa decisão não apenas pelas suas ações, mas
também por causa de sua falta de arrependimento. Infelizmente, aquela deliberação
da igreja não encerrou a problemática. Percebendo que a nossa igreja estava
profundamente dividida, nós organizamos um seminário sobre abuso infantil. O
palestrante, um terapeuta competente, foi capaz de dissipar uma série de conceitos
errados e ajudou alguns de nossos membros a entender como Martin manipulara os
sentimentos deles. Nós também organizamos uma semana de oração e um jejum
para a nossa igreja.
Ainda restou a sensação da ofensa causada pela ação de um homem. Nossa
congregação, que era amigável e feliz antes de tudo isso vir à tona, ainda sofre com
problemas de divisão e desconfiança. Algumas pessoas têm mudado de posição e
se desculpado por se posicionar ao lado de Martin. Outras não. Uma das famílias
das vítimas, anteriormente muito ativa na igreja, vem à igreja ocasionalmente. A
esposa de Martin, que ajudou seu esposo do início ao fim, deixou de ter contato
conosco. As próprias vítimas têm feito muitas sessões de terapia durante os últimos
três anos. Apenas o tempo irá nos dizer quão satisfatoriamente as feridas
emocionais foram curadas.
Martin é um pseudônimo assim como todos os nomes mencionados no artigo.
Aprendendo com a situação
Olhando para trás, eu pude tirar várias lições, e as compartilho aqui com os pastores
que porventura venham a se deparar com situações semelhantes.
(1) Nunca varra para debaixo do tapete as alegações de abuso infantil. Tome um
tempo para se aconselhar e evite se precipitar nas decisões, mas não finja que o
problema não existe.
(2) Respeite as confidencialidades, mas não tente manter o problema em segredo.
Mesmo quando você sabiamente e compreensivelmente tenta manter uma
situação potencialmente volátil contida, tentativas de manter sigilo serão como
dar um tiro pela culatra, isto é, resultarão em prejuízo para você.
(3) Informe-se sobre a situação legal. Em alguns países, você é legalmente
requisitado a reportar abusos infantis à polícia. Esteja ciente de sua
responsabilidade legal quanto à informação que é divulgada em confiança a
você.
(4) Consiga toda ajuda possível. Informe apropriadamente os membros da liderança
da igreja sobre o problema e peça apoio.
16
(5) Peça ajuda aos líderes, administradores denominacionais. Peça a um colega de
confiança, sensível e fiel para ajudá-lo em seus esforços para pastorear o
abusador, a vítima e, se necessário, a congregação.
(6) Esteja consciente do perfil psicológico típico de um abusador de crianças. Se
você não tem experiência em lidar com abuso infantil, procure um terapeuta
profissional para se aconselhar. Assista a um seminário sobre abuso infantil. Sua
congregação ou denominação poderá arcar com as despesas.
(7) Não subestime o problema. Ele tem o potencial de dividir as famílias e a igreja.
Reconheça que isso pode levar muito tempo e vir a drenar suas energias
emocionais.
(8) Aconselhe as vítimas a processar o abusador que não se arrepende. Eu
reconheço que esse conselho é controverso. Como pastores, nós não temos
todos os recursos para lidar com as diversas ramificações desse problema.
(9) Seja paciente. O tema do abuso sexual é tão carregado emocionalmente que a
sua igreja pode demorar mais tempo do que você imagina para superá-lo.
(10) Tome tempo para a oração e o jejum. Além de eu ter sido, propositadamente,
muito aberto sobre os erros que cometi nesta situação, posso, a bem da verdade,
reconhecer a graciosa mão de Deus conduzindo a nossa congregação.
17
MASTURBAÇÃO
Bento nunca contou a ninguém o seu segredo. Ele começou aos doze ou treze anos de
idade, quase por acidente. Bento havia escondido uma revista de sexo explícito debaixo do
seu colchão. De vez em quando, ele a abria para dar uma rápida olhada. Repentinamente ele
passou a sentir emoções diferentes, que eram ao mesmo tempo boas e amedrontadoras. Algum
tempo depois, ele passou a sentir uma nova sensação. Inicialmente ele passou a sentir temor
porque a cama estava ficando molhada. Ele se preocupava quanto a alguma coisa estar mal
com ele; ficava temeroso quando estava para dormir, pensando que pudesse acontecer de
novo. Ele não sabia o que fazer. De uma coisa ele estava convicto, não iria contar aos seus
pais.
Nos meses e anos seguintes, a masturbação passou a fazer parte da vida de Bento.
Obtinha satisfação com ela, até mesmo gostava de antecipá-la em pensamento. Quando ele
cursava o ensino médio, a masturbação tornou-se uma obsessão. Pensava nela o dia todo.
Qualquer estímulo extra era o suficiente para que ele buscasse alívio na masturbação, tal
como uma pessoa viciada em droga.
Ele dizia para si mesmo que não havia nada de errado com o seu segredo, mas,
algumas vezes ele experimentava sentimentos de estar sujo e culpado. Ele tinha muito medo
de que alguém descobrisse o que ele fazia em segredo.35
Introdução
A masturbação é uma prática de auto-estímulo dos órgãos genitais que visa atingir o
orgasmo.36 É uma prática comum da adolescência. É tema de piadas, cochichos e
aborrecimento entre os adolescentes.37 As pesquisas de Alfred Kinsey revelaram que 93% dos
homens adultos e 62% das mulheres admitiram terem se masturbado.38
Normalmente, para o menino adolescente, a habilidade de atingir orgasmo é o ponto
inicial que pode vir a desencadear o hábito da masturbação. Antes disto, a polução noturna é o
meio natural de encontrar alívio da tensão, uma vez que as relações sexuais com uma pessoa
do sexo oposto não estão ainda disponíveis.39
A masturbação é um problema mais freqüente para os meninos do que para as meninas
por duas razões básicas. Primeiro, as meninas pré-adolescentes e adolescentes não sentem as
mesmas pressões internas para liberação da tensão sexual. Por um bom período de tempo, o
sentimento de segurança e carinho que elas podem vir a receber, compensam
consideravelmente uma possível excitação sexual. Nelas a excitação sexual aumenta a medida
que recebem carícias mais fortes no período denominado de preâmbulos e, especialmente,
com a penetração genital. Um segunda razão para a masturbação ser menos apelativa deve-se
ao fato de que para elas existem mais sanções contra a prática.40
Masturbação: Boa ou Má
Com certeza, a masturbação pode proporcionar um prazer temporário, mas com
freqüência, ela traz, a longo prazo, um elevado custo provocado pelo vício, além de outros
problemas sexuais.41
35
Josh McDowell, e Bob Hostetler, Josh McDowell’s Handbook on Counseling Youth (Dallas, TX: Word
Publishing, 1996), 262.
36
Gary R. Collins, Christian Counseling: A Compreensive Guide (Waco, TX: Word, 1980), 285; citado em Josh
McDowell, e Bob Hostetler, Josh McDowell’s Handbook on Counseling Youth (Dallas, TX: Word Publishing,
1996), 263.
37
McDowell e Hostetler, 263.
38
Ibid.
39
G. Keith Olson, Counseling Teenagers (Loveland, CO: Group Books, 1984), 3; citado em McDowell e
Hostetler, 263.
40
Ibid.
41
Paul Cook, ―Masturbation: Good or Bad?‖, pesquisa realizada na internet, no site http://www.pornfree.org/masturbation.htm, no dia 11 de outubro de 2004.
18
Masturbação 2
A Masturbação é um Vício
Se porventura alguém duvida que masturbação seja vício observe para ver quantas
semanas ou meses a pessoa habituada pode permanecer sem se masturbar. Hoje se sabe que os
vícios sexuais são, na verdade, como um vício em droga. Ele é auto-induzido. As substâncias
químicas que o nosso organismo libera durante a excitação sexual criam o mesmo efeito que
as drogas no cérebro. A masturbação repetida reforça a formação de circuitos químicos do
cérebro que são próprias às ações viciosas. Da mesma forma que no vício de drogas, a
masturbação requer uma quantia crescente de estímulo para alcançar um nível consistente de
prazer. Isto pode conduzir tanto a uma crescente freqüência do hábito quanto a uma busca
infindável por novo material que renove a experiência.42
A Masturbação Condiciona o nosso Corpo a Responder ao
Auto-Estímulo, que é Auto-Centralizado
Isto prejudica a nossa capacidade de se relacionar sexualmente com outra pessoa do
sexo oposto. O sexo é uma experiência relacional, onde nós atendemos às necessidades de
outra pessoa como também às nossas. Se estivermos acostumados a atender os nossos
próprios desejos, será difícil oferecer a(ao) nossa(o) parceira(o) a atenção que ela(e) merece.
Além disto, os hormônios liberados no cérebro durante a excitação sexual provocam uma
ligação com aquilo que vemos ou pensamos durante a exposição aos mesmos. Isto pode nos
tornar mais propensos à masturbação (e a fantasias associadas) do que ao sexo real.43
A Masturbação Provoca um Desequilíbrio Sexual
A masturbação desperta nossos desejos sexuais e condiciona o cérebro a buscar
gratificação sexual com mais freqüência do que o normal. O bom senso nos diz que deve
haver um equilíbrio entre o sexo e as outras atividades da nossa vida. A masturbação provoca
um desequilíbrio por predispor o nosso corpo e a mente a buscar gratificação com mais
freqüência do que o normal. Como o circuito de retorno de um amplificador, o desequilíbrio
entre realidade e fantasia pode posteriormente conduzir a pessoa ao vício.
O desequilíbrio sexual também pode afetar outras áreas da nossa vida por drenar
energia, tempo e recursos para a atividade sexual. Por exemplo, um homem pode permanecer
por várias horas à noite surfando na internet a fim de se estimular sexualmente. O seu
desempenho profissional pode ser afetado por não conseguir ficar bem desperto durante o dia,
sua família sofre por causa de seu mau-humor, sua esposa fica alienada dele por falta de
atenção e afeto, e as suas dívidas do cartão de crédito aumentam em função dos sites
pornográficos visitados para saciar o seu hábito.
Provavelmente as pessoas que mais sofram desequilíbrio sejam aquelas que não têm
atividade sexual normal (p. ex. adolescentes, solteiros, divorciados, viúvos, pessoas que
vivenciam disfunções sexuais no casamento). Ironicamente, são estas as mesmas pessoas que
têm mais inclinação a entregarem-se a pornografia e a masturbação. Se elas gratificam o seu
apetite pela indulgência, as chances aumentam facilmente, no sentido de ficarem presas ao
ciclo vicioso que este desequilíbrio provoca.44
42
Ibid.
Ibid.
44
Ibid.
43
19
Masturbação 3
Aspectos Espirituais da Masturbação
Existem algumas questões essenciais, sobre masturbação a serem respondidas pelos
cristãos como, ―você é um pessoa comprometida a honrar a Deus com a sua vida?‖ Se você é,
considere os seguintes aspectos discutidos a seguir. Primeiro consideremos os pecados que
normalmente acompanham a masturbação: lascívia e idolatria sexual.45
De acordo com o dicionário de Aurélio B. de H. Ferreira, lascívia é luxúria,
libidinagem, sensualidade.46 Exemplos óbvios de lascívia durante a masturbação incluem
contemplar pornografia e idealizar fantasias sobre sexo. Como vimos pela definição, a
lascívia pode ser simplesmente um desejo intenso. Pode não ser um pensamento consciente,
mas apenas um forte impulso da carne.47
Idolatria, para Ferreira, é culto prestado a ídolos; amor, paixão exagerada, excessiva.48
Quando uma pessoa contempla pornografia ou passa a formar imagens mentais em sua
imaginação durante a masturbação, ela está alimentando uma devoção ao ídolo do sexo. Tal
devoção é grandemente reforçada pelas substâncias químicas associadas ao prazer que são
liberadas no cérebro durante a excitação sexual e o orgasmo.49
A idolatria é pecado (Ex 20:3-5) e pode trazer conseqüências desagradáveis como
perturbação demoníaca e maldições para a descendência daquele que a pratica. É impossível
amar a Deus de todo o coração e ao mesmo tempo idolatrar imagens de sexo perante os olhos
e em nossos pensamentos.50
O Impacto Espiritual da Masturbação
1. Através da masturbação o pecado domina a pessoa. Só podemos ser servos de dois
poderes, o pecado ou a justiça. Paulo escreveu: ―Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis
como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para
a morte ou da obediência para a justiça?‖ (Rm 6:16).
2. A masturbação utiliza o corpo como instrumento do pecado. O nosso corpo deve ser
apresentado e usado como um instrumento de justiça, não de pecado. Paulo escreveu: ―Não
reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões;
nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de
iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos
membros, a Deus, como instrumentos de justiça‖ (Rm 6:12, 13).
Somos responsáveis pela purificação dos motivos e propósitos pecaminosos do nosso
coração através do auxílio do Espírito Santo. A prática da masturbação é exatamente o oposto
do fugir dos desejos da carne porque envolve a condescendência com os maus desejos e o
emprego do nosso corpo para implementá-los. Agindo assim, estamos impedindo que Deus
nos utilize como Seus vasos de honra.
3. A masturbação macula o templo de Deus e entristece o Espírito Santo. Com o
crentes em Cristo, nossos corpos são literalmente templos do Espírito Santo, que vive em nós.
O pecado sexual é peculiar porque danifica esta união especial que temos com Deus. Paulo
referia-se a isto quando disse que o pecado sexual é um pecado contra o nosso próprio corpo
(1Co 6:18). Inclusive ele chegou a compará-lo a tentar unir Jesus a uma prostituta (1Co 6:1520). Uma vez que a masturbação reforça os pecados sexuais (p. ex. lascívia ou idolatria
45
Ibid.
Aurélio B. de H. Ferreira, Novo dicionário da língua portuguesa (Rio de Janeiro:
Editora Nova Fronteira, 1986), ver ―Lascívia‖.
47
Cook, http://www.porn-free.org/masturbation.htm, 11/10/2004.
48
Ferreira, ver ―Idolatria‖.
49
Cook, http://www.porn-free.org/masturbation.htm, 11/10/2004.
50
Ibid.
46
20
Masturbação 4
sexual) ela também danificará o nosso relacionamento com Deus e maculará o Seu templo (os
nossos corpos).51
4. A masturbação reforça a nossa natureza carnal. Paulo escreveu: ―Digo, porém: andai
no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o
Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que,
porventura, seja do vosso querer‖ (Gl 5:16, 17).52
5. A masturbação decepciona e engana. Ela abre a porta para as enganosas influências
da lascívia. ―no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que
se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso
entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade‖ (ver Ef 4:22-24).53
6. A masturbação molda a sua mente conforme o padrão do mundo: ―Não ameis o
mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está
nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e
a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem
como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece
eternamente‖ (1Jo 2:15-17).54
7. A masturbação pode lhe roubar as bênçãos que Deus planejou para a sua vida. Se
você é um cristão, você tem o dever de não viver focalizado na lascívia da carne, ao invés, é
preciso viver para cumprir os propósitos do Espírito (Rm 8:12-13). A masturbação contém a
ameaça de uma escravidão prolongada e uma jornada espiritual embaraçosa. Jesus ressuscitou
para que você pudesse viver uma nova vida, livre da escravidão do pecado.55
Raízes da Masturbação
Algumas das razões comuns para a masturbação são:
1. Compensação pela dor da rejeição, abuso, uma auto-estima pobre, frustração,
estresse.
2. Amor do prazer
3. Auto-piedade
4. Independência, auto-suficiência
5. Um complemento ao hábito de ver pornografia
6. ―Sexo seguro‖, numa tentativa de manter ―virgindade física‖
7. ―Uma liberação saudável‖ da tensão sexual
8. Impaciência, indisposição de esperar pela provisão feita por Deus (casamento).56
Geralmente as raízes da masturbação envolvem pecados que cometemos ou que
alguém cometeu contra nós:
1. Trauma/violência/abuso/molestar/ser molestado
2. Rejeição (p. ex. não ser amado pelos pais, sofrer zombaria dos colegas, abuso, ser
descartado pela namorada, etc.)
3. Influências genéticas
4. Dificuldade em perdoar (inclusive amargura, ressentimento, rancor)
5. Atividade oculta (ver pornografia em publicações, internet, etc.)
51
Ibid.
Ibid.
53
Ibid.
54
Ibid.
55
Ibid.
56
Paul Cook, ―Roots of Masturbation‖, pesquisa realizada na internet, no site http://www.pornfree.org/masturbation_roots.htm, no dia 11 de outubro de 2004.
52
21
Masturbação 5
6. Pecado sexual (prazer em contemplar descrições, cenas de violência sexual,
estupro, etc)
7. Vínculos espirituais
8. Homossexualismo e outras perversões (bestialismo, sexo grupal, fetichismo, etc)57
Formação do Hábito
Um pai continuamente censura o seu filho de sete anos de idade por sua inaptidão em
atividades esportivas. O pai não vê nenhum valor na habilidade do filho para a música,
pintura, literatura, etc. Segundo o pai, estas atividades são para os ―efeminados‖. O filho fica
emocionalmente ferido pela rejeição do pai o que passa a ser o início de uma raiz de rejeição.
Nos anos seguintes, o pai continua a ridicularizar o filho. O garoto passa a pensar que ele não
consegue fazer nada bom aos olhos do pai e que nunca conseguirá. À medida que se torna
adolescente, ele reage à rejeição com reclusão e rebeldia. Quando um amigo qualquer lhe
apresenta a pornografia e a masturbação, o garoto descobre um prazer nunca desfrutado antes.
As imagens de pornografia lhe oferecem aceitação e amor pelos quais ele tanto esperou. Não
lhe interessa que a pornografia se fundamente em fantasia – ele tomará qualquer forma de
―amor‖ e aceitação que puder obter. Logo que ele descobre o ―conforto‖ da masturbação,
passa a depender dela – passa a ser um dependente...58
A Resposta ao Problema da Masturbação
Talvez os pais ou demais pessoas adultas pensem que seja um tanto difícil abordar o
tema da masturbação com os adolescentes e jovens. Contudo, pode-se criar oportunidades. O
esboço a seguir pode auxiliar ao pastor, professor, ou líder jovem a tratar o problema com
sensibilidade e eficiência.59
Ouça
Convide os jovens para um conversa aberta e honesta sobre as lutas e dificuldades que
os perturbam. Assegure a eles que você respeitará o sigilo das informações prestadas.
Inicialmente, procure deixá-los a vontade para exporem a realidade deles sem expressar
choque, escândalo, condenação ou repulsa. Faça perguntas com o objetivo de receber
informação que auxilie a perceber a situação (―Por quanto tempo isto tem sido um conflito
para você?‖), e isto não para satisfazer a curiosidade.60
Demonstre Simpatia
É bem fácil para os pais e outros adultos esquecer os seus tempos de adolescência e
minimizar as lutas que os jovens enfrentam. Ainda que a masturbação diminua após a
adolescência, as paixões e desejos sexuais continuam. Procure lembrar de sua própria
fraqueza e conflitos nesta área, e utilize-as para obter uma perspectiva que compreenda com
compaixão as dificuldades enfrentadas pelos jovens. Um adulto sensível (ou do mesmo sexo
do jovem) pode comunicar empatia através de:
1. Olhar para o jovem diretamente (saindo de detrás da mesa do escritório, se você se
encontra num lugar como este, ou inclinando-se para ele, se estiver noutro lugar, como uma
poltrona a frente).
2. Um toque apropriado (um toque de leve no braço, ou a mão sobre o ombro, por
exemplo).
3. Manter os olhos na pessoa sem constrangê-la ou evitando desviar os olhos dela.
57
Ibid.
Ibid.
59
McDowell e Hostetler, 266.
60
Ibid.
58
22
Masturbação 6
4. Comentar as declarações da pessoa, como ―Você se sente...‖ ou ―Parece que você
quer dizer...‖
5. Esperar com paciência mediante o silêncio ou quando a pessoa está chorando.61
Afirme
Demonstre afirmação aos adolescentes que estão enfrentando lutas com a sua
sexualidade e que provavelmente estejam se sentindo desconfortáveis consigo mesmos. Eles
podem odiar os seus sentimentos sexuais, inclusive a si mesmos. Eles precisam receber
afirmações de que em parte estas reações são normais num contexto de mundo decaído e que
podem vencer.
Declarações que podem afirmar os jovens:
1. ―Você não é a única pessoa a lutar com isto‖.
2. ―Os seus sentimentos são normais‖.
3. ―O fato de você me falar sobre isto demonstra coragem‖.
4. ―Eu gosto do modo como você fala isto...‖
5. ―Gosto muito de você‖.62
Direcione
A masturbação pode ser vencida ―pela oração e uma sincera disposição em permitir
que o Espírito Santo controle a vida, pelo envolvimento em atividades que envolvam outras
pessoas, pelo evitar material que excite sexualmente (como fotos eróticas ou novelas), por
evitar demorar-se em fantasias sexuais impróprias, pelo reconhecimento de que o pecado
(inclusive a lascívia) será perdoado quando for confessado com sinceridade e tristeza‖.63
Você pode apresentar a seguinte estratégia a ser seguida:
1. Seja honesto com Deus. Admita que os pensamentos lascivos que o conduzem à
masturbação constituem-se em pecado contra Deus. Seja honesto acerca do seu
pecado e peça a Deus purificação.
2. Estabeleça um marco. O marco fixa o ponto que define o início de uma jornada.
Decida que você irá agradar a Deus mais do que a você mesmo. Tome a decisão de
modo a cumprir Gl 5:16, ―andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência
da carne‖.
3. Conecte com a fonte de poder. Reconheça que você não pode vencer esta batalha
pelo seu próprio poder. Somente pela habitação de Cristo em você será possível
mudar os seus desejos e os seus hábitos. Comece agora a desfrutar de comunhão
regular e consistente com Deus a cada dia.
4. Renove a sua mente. Visto que este problema começou na sua mente, permita que
Deus a mude. Deus muda a sua mente através do contato com a Bíblia. É lá que
encontramos os pensamentos de Deus. Ele deseja que os Seus pensamentos sejam
os nossos pensamentos. Tome tempo para ler a Bíblia e orar pelo menos um hora
por dia.
5. Controle o seu olhar. Não contemple nada que o excite sexualmente. É bem
verdade que você não pode viver num mosteiro, pois ninguém está livre de ver
objetos que estimulem ao sexo. Mas não se demore em contemplá-los –
especialmente material pornográfico, novelas e filmes para adultos.
6. Controle o seu corpo. Quando você sentir que o seu corpo está a ponto de explodir
por causa da pressão sexual, procure controlá-lo através do exercício, servindo as
61
Ibid.
Ibid.
63
Collins, Christian Counseling, 296; citado em McDowell, e Hostetler, 266-267.
62
23
Masturbação 7
7. necessidades do próximo, ou atividades físicas agradáveis como andar de bicicleta
ou jogar basquete em dupla, por exemplo.
8. Conte com um amigo. Peça a uma pessoa do mesmo sexo e espiritualmente
madura que ―cobre‖ de você responsabilidade. Peça que ele lhe questione
regularmente se você está evitando tudo aquilo que é lascivo.
9. Evite situações que expõem à tentação. Resista a segunda ―olhada‖ para uma
pessoa vestida sensualmente, e evite revistas e programas de TV que o estimulem
sexualmente. Esteja alerta nos momentos de solidão, especialmente quando é fácil
de ser tentado.
10. Se falhar não desista. Leva tempo para libertar-se do hábito. Se você vir a cair, não
permaneça caído, mas limpe a poeira e confesse seu pecado a Deus imediatamente
para receber o perdão. Não esmoreça diante da falha.
11. Continue lutando até a vitória final. Você não precisa pecar. ―Não permita que o
radiador fique superaquecido‖. A medida que você se entrega a Deus (ao invés de
ao pecado, como um instrumento de impiedade), sua energia sexual será conduzida
para torna-lo um poderoso(a) homem(mulher) de Deus. Confie em Jesus. Obedeçalhe. Ele lhe dará a vitória.64
Motive o Aconselhado a Fazer um Compromisso
Anime o jovem a responder ativamente ao seu problema, auxiliando-o a formular um
plano específico, acrescido de passos bem definidos que sirvam como um guia de
comportamento. Por exemplo, se a sua grande luta com a masturbação acontece à noite
quando vai para a cama, estimule-o a fazer exercícios vigorosos ou ficar mais tempo sem ir
para o quarto, de modo que ao se deitar, ele concilie logo o sono. Deixe que o jovem sugira a
sua própria ―tarefa‖, a fim de que ao conseguir cumpri-la, isto lhe confira mais
autoconfiança.65
Recomende
Em assuntos sexuais, é imprescindível que uma pessoa adulta do mesmo sexo que o
jovem ofereça apoio e auxílio (se uma professora está preocupada com um jovem, por
exemplo, ela deveria solicitar a companhia de um homem a fim de aconselhar o jovem).
Aconselhar uma pessoa do sexo oposto, neste item sexual, pode ser perigoso, tanto para a
pessoa adulta quanto para o jovem.66
Adicionalmente, o adulto prudente deve estar cônscio de que o problema da
masturbação pode ser altamente comprometedor para um futuro relacionamento conjugal se
ele não for devidamente tratado. É preciso estar alerta para a necessidade de recorrer a um
conselheiro profissional, especialmente quando os problemas sexuais são acompanhados de
depressão e/ou ansiedade, quando há um senso de culpa acentuado, quando há um
comportamento que revela desequilíbrio, quando o conselheiro se sente muito chocado ou
constrangido a continuar o aconselhamento, ou quando ele ou ela sente uma forte e persistente
atração sexual pelo aconselhado(a).67
Masturbação e Exame Laboratorial
Vez por outra, o pastor é abordado para responder perguntas um tanto delicadas. Um
exemplo é a questão relacionada com a coleta de esperma para exames laboratoriais. Como a
64
Estes dez pontos são uma adaptação do conteúdo de Barry St. Clair, and Bill Jones, Sex: Desiring the Best
(San Bernardino, CA: Here‘s Life Publishers, 1987), 110; citado em McDowell, e Hostetler, 267.
65
McDowell, e Hostetler, 267.
66
Ibid., 267-268.
67
Ibid., 258.
24
Masturbação 8
Bíblia não tem uma resposta específica sobre este tema, é preciso recorrer a princípios mais
gerais que possam ser aplicados a esta questão. A seguir, procurar-se-á responder a esta
pergunta. Para início da discussão, apresenta-se as seguintes perguntas para reflexão:
1. Será que a descriminalização da masturbação não está relacionada com a tendência
mais liberalizadora da sociedade atual?
2. O que a inspiração tem a dizer sobre masturbação? É pecado ou não?
3. O ato de se masturbar para coletar espermatozóides para exame de fertilidade é
pecado ou não?
4. A tentativa de justificar a masturbação para efeito de coleta de material não seria um
tipo de racionalização ou negação?
5. Que motivos podem levar uma pessoa a tentar descriminalizar a masturbação?
6. Qual é o risco espiritual que incorremos em condescender com um único ato
pecaminoso?
Discussão
1. Será que a descriminalização da masturbação não está relacionada com a tendência
mais liberalizadora da sociedade atual?
―Tanto a Psicologia quanto a Medicina reconhecem a prática da masturbação como
sendo saudável e necessária para o próprio conhecimento e desenvolvimento. Na terapia
sexual, a masturbação é uma das técnicas utilizadas como exercício em várias situações‖.68
2. O que a inspiração tem a dizer sobre masturbação? É pecado ou não?
―Jovens e crianças de ambos os sexos se entregam à poluição moral, e praticam
este repulsivo vício, destruidor da alma e do corpo. Muitos professos cristãos se acham
tão embotados pela mesma prática, que suas sensibilidades morais não podem ser
despertadas para compreender que isso é pecado, e que se nisso continuam, os seguros
resultados serão completa ruína do corpo e da mente. O homem, o ser mais nobre da
Terra, formado à imagem de Deus, transforma-se em animal! Faz-se grosseiro e
corrupto. Todo cristão terá de aprender a refrear as paixões, e a ser regido por
princípios. A menos que assim aja, é indigno do nome de cristão.
Alguns que fazem alta profissão de fé, não compreendem o pecado da masturbação e s
eus seguros resultados. O hábito longamente arraigado lhes tem cegado o
entendimento.
Eles não avaliam a excessiva malignidade deste degradante pecado que lhes
enerva o organismo e destrói a energia nervosa do cérebro. Os princípios morais são
demasiado fracos quando em luta com um hábito arraigado. Solenes mensagens vindas
do Céu não podem impressionar fortemente o coração não fortalecido contra a
condescendência com esse degradante vício. Os sensitivos nervos do cérebro perderam
o saudável tono devido à estimulação doentia para satisfazer um desejo não natural de
satisfação sensual. Os nervos cerebrais que se comunicam com todo o organismo, são
os únicos meios pelos quais o Céu se pode comunicar com o homem, e influenciar sua
vida mais íntima. Seja o que for que perturbe a circulação das correntes elétricas no
sistema nervoso, diminui a resistência das forças vitais, e o resultado é um
amortecimento das sensibilidades da mente. Em atenção a isto, como é importante que
pastores e povo que professam piedade se apresentem limpos e imaculados quanto a
tal vício degradante da alma!‖69
68
Claudecy de Souza, pesquisa realizada na internet, no site
http://www.adolescente.psc.br/adolescente/masturbacao.htm, no dia 27 de setembro de 2005.
69
Ellen G. White, Conselhos sobre saúde, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
s.d.), 616, em 1CD-Rom.
25
Masturbação 9
3. O ato de se masturbar para coletar espermatozóides para exame de fertilidade é
pecado ou não?
Antes de dizer sim ou não é preciso responder a outras perguntas:
a) Em que circunstâncias uma boa intenção pode justificar uma má ação?
Ex.: Inocentar o justo com uma mentira.
b) Os fins justificam os meios?
Ex.: Estou com muita fome, por isto não é errado roubar para matar a fome.
Se você respondeu as perguntas a e b com sim, então a mentira e o roubo deixam de
ser pecado/transgressão da lei, ou seja, mentira e roubo são atitudes relativas. Depende das
circunstâncias.
Se você respondeu as perguntas a e b com não, então a mentira e o roubo não podem
ser atitudes relativas; ou seja, mentira e roubo sempre serão pecado.
Deste modo, a masturbação, por ser ―excessiva malignidade‖ e ―degradante pecado‖,
mesmo que praticada com a ―boa intenção‖ de fazer um exame de fertilidade não deixa de ser
pecado.
4. A tentativa de justificar a masturbação para efeito de coleta de material não seria um
tipo de racionalização ou negação, ou seja, um mecanismo de defesa? (Lembre-se: todos os
mecanismos de defesa envolvem um elemento de auto-engano).
Racionalização:
―Atribuir motivos lógicos ou socialmente desejáveis para o que fazemos de modo a
parecer que agimos de forma racional‖.
A racionalização serve a dois propósitos:
a) Ela alivia nossa decepção quando não conseguimos atingir um objetivo.
b) Ela nos fornece motivos aceitáveis para o nosso comportamento.
Neste caso, a resposta seria sim. A tentativa de justificar a masturbação para efeito de
coleta de material é um tipo de racionalização/desculpa para ―pecar com uma certa
segurança‖.
Negação:
―Negar a existência de uma realidade desagradável‖.
Negação espiritual:
―Terrível é o poder do engano próprio na mente humana! Que cegueira – tomar
a luz por trevas e as trevas por luz!‖70
Neste caso, a resposta seria sim. A tentativa de justificar a masturbação para efeito de
coleta de material é um tipo de negação do pecado intrínseco a ela.
5. Que motivos podem levar uma pessoa a tentar descriminalizar a masturbação?
a) Influência da ―onda‖ liberalizante da sociedade atual.
b) A prática da masturbação impede uma percepção clara da malignidade deste
pecado:
―Muitos professos cristãos se acham tão embotados pela mesma prática, que suas
sensibilidades morais não podem ser despertadas para compreender que isso é pecado‖.71
6. Qual é o risco espiritual que incorremos em condescender com um único ato
pecaminoso, no caso da masturbação?
70
Idem, Mente, caráter e personalidade em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
s.d.), 2:725, em 1CD-Rom.
71
Idem, Conselhos sobre saúde, 616, em 1CD-Rom.
26
Masturbação 10
―O cristão sincero não fará planos que Deus não possa aprovar‖.72
―Satanás oferece aos homens o reino do mundo se estes entregarem a ele a
supremacia. Muitos fazem isto e sacrificam o céu. É melhor morrer do que pecar‖.73
Fidelidade no Muito e no Pouco
―O deixar de conformar-se com os reclamos de Deus em todos os pormenores
significa fracasso e prejuízo certos para o transgressor. Deixando de seguir o caminho
do Senhor, rouba ele ao seu Criador o serviço que Lhe é devido. Isso reflete sobre si
mesmo; deixa de conquistar a graça, a capacidade, a força de caráter que toda pessoa
que tudo entrega a Deus tem o privilégio de receber. Vivendo apartado de Cristo, está
exposto à tentação. Comete erros em sua obra para o Mestre. Infiel aos princípios em
coisas mínimas, deixa de cumprir a vontade de Deus nas maiores. Procede segundo os
princípios a que se acostumou.
Deus não pode unir-Se aos que, colocando-se em primeiro lugar, vivem para
agradar a si mesmos. Os que assim procedem, no fim hão de ser os últimos de todos. O
pecado que mais se aproxima de ser desesperançadamente incurável é o orgulho da
opinião própria e o egoísmo. Isso impede todo o crescimento. Quando o homem tem
defeitos de caráter, e não obstante deixa de reconhecê-los; quando está tão possuído de
presunção que não vê a sua falta, como pode então ser purificado?‖74
Antes de qualquer decisão, a pessoa cristã precisa considerar que os princípios divinos
exarados nas Santas Escrituras devem dirigir a escolha final. Como foi visto acima, o ato da
masturbação é pecado em qualquer circunstância, por isto o cristão tem que optar por outra
solução de coleta de material que não seja a masturbação. Neste caso, ele deveria colher o
material utilizando um meio natural, isto é, através de uma relação sexual com sua esposa.
Quando se aproximasse o momento da ejaculação, ele colheria o esperma necessário e,
depois, o levaria para o laboratório de análises.
Uma breve pesquisa sobre coleta de material para exame na internet permite concluir
que é possível obter material sem se recorrer a masturbação. A seguir, as orientações do
laboratório iacs:
Espermograma - Colheita de Esperma
Preparação: o exame deve ser precedido de uma pausa de ejaculação (jejum sexual) de
quatro dias. Antes da colheita lavar o pênis com água e sabão, enxaguar bem e secar.
Colheita: Deixe o frasco fornecido pelo laboratório, sem tampa, para receber a
ejaculação, fechando logo após a colheita. O esperma poderá ser colhido no
laboratório por auto estimulação, ou na própria residência, desde que, neste caso, seja
entregue no laboratório antes de decorridos vinte minutos após a ejaculação; para isto
é necessário que a Recepção do laboratório esteja previamente avisada. De qualquer
forma, o volume total deve ser colhido com cuidado para que não haja perda do
material. Não fazer uso de camisinha de Vênus para a coleta do esperma.75
72
Idem, A ciência do bom viver, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 359,
em 1CD-Rom.
73
Idem, Testimonies for the Church (Mountain View, CA: Pacific Press Publishing Association, 1948), 4:495.
74
Ellen G. White, Testemunhos seletos em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
s.d.), 3:184, em 1CD-Rom.
75
―Espermograma‖, pesquisa realizada na internet, no site http://www.iacs.com.br/txt/esperma.htm, no dia 10 de
novembro de 2005. Grifo nosso.
27
Masturbação 11
Conforme se pode constatar, é possível colher material para exame sem se recorrer à
masturbação.
Há, praticamente, um consenso de que o cristão não deve se masturbar. Embora a
Bíblia não tenha uma declaração explícita sobre esta atitude, Ellen White deixa bem claro que
a masturbação ―é pecado‖ (Conselhos sobre saúde, 616). A dificuldade surge quando é
preciso fazer um espermograma. De um modo geral, os médicos recomendam a
autoestimulação para a coleta de material. Diante de um pedido como este, o cristão passa a
enfrentar uma crise de consciência. Aqueles que optam pelo exame através da coleta de
material por masturbação, recorrem ao costumeiro argumento pelo qual ―os fins justificam os
meios‖. Assim, se a finalidade última é a alegria da paternidade, então se pode recorrer à
masturbação para realizar o exame.
A bem da verdade, deve ser muito triste receber a informação de que não se está
habilitado a ser pai. Por isto, é muito importante descobrir a dificuldade com antecedência e
realizar um tratamento médico que reverta o processo que venha impedir a paternidade.
Cumpre salientar que para o homem casado que precise realizar o espermograma, há
uma outra possibilidade, além da masturbação. Ele pode colher material através de um coito
interrompido com sua esposa ―na própria residência, desde que, neste caso, seja entregue no
laboratório antes de decorridos vinte minutos após a ejaculação‖ (laboratório IACS).
A dificuldade aumenta quando o paciente é solteiro, pois como cristão, ele não pode
recorrer ao sexo pré-marital para colher material. Na verdade, para isto também há solução,
embora um pouco mais ―agressiva‖. Trata-se de uma pequena incisão cirúrgica no testículo
para retirar espermatozóides. Como se pode ver, é perfeitamente possível, tanto paro um
homem casado como para um solteiro realizar um espermograma sem apelar à masturbação.
A despeito dos meios alternativos acima expostos, ainda há pessoas que preferem
utilizar a autoestimulação para realizar um espermograma. Para um cristão não é nada
prudente ir nesta direção.
Consideremos o argumento baseado na premissa de que os fins justificam os meios, ou
de que uma boa intenção justifica uma má ação. Um bom exemplo é o caso de roubo para
aplacar a fome, ou da utilização de uma mentira para procurar inocentar uma pessoa acusada
injustamente de haver cometido um crime. Deve-se deixar bem claro que a Palavra de Deus
repudia a premissa de que os fins justificam os meios: ―ai dos que ao mal chamam bem e ao
bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o
doce, por amargo!‖ (Is 5:20). Outra passagem elucidativa é Rm 3:8 ―E por que não dizemos,
como alguns, caluniosamente, afirmam que o fazemos: Pratiquemos males para que venham
bens? A condenação destes é justa‖. Seria interessante lembrarmos o exemplo bíblico dos três
jovens hebreus, Sadraque, Mesaque e Abdnego (cf. Dn 3), que mesmo diante de uma grande
ameaça, decidiram permanecer fiéis a Deus em oposição à adoração da estátua erigida por
Nabucodonosor. Bem que eles poderiam ter ―racionalizado‖ dizendo, ―a preservação da nossa
vida é justificada pela adoração da estátua do rei‖. Se assim tivessem procedido, teriam
falhado na fé e pecado contra Deus, impedindo aquela revelação tão maravilhosa da salvação
do Senhor.
Mas, porque não se pode utilizar o mal para se conseguir um bem? A resposta é
simples, por sua natureza hedionda, o mal e o pecado sempre são contrários a Deus, ao Seu
caráter e a Sua lei. O problema da masturbação para o espermograma não é de quantidade
(apenas um ato de masturbação), mas de qualidade. Um único ato pecaminoso nunca poderá
ser justificado:
―O pecado é um intruso, por cuja presença nenhuma razão se pode dar. É misterioso,
inexplicável; desculpá-lo corresponde a defendê-lo. Se para ele se pudesse encontrar desculpa,
ou mostrar-se causa para a sua existência, deixaria de ser pecado. Nossa única definição de
28
pecado é a que é dada na Palavra de Deus; é: ‗quebrantamento da lei‘; é o efeito de um
princípio em conflito com a grande lei do amor, que é o fundamento do governo divino‖.
Ellen White, O grande conflito, 493.
Qualquer iniciativa no sentido de procura justificar a masturbação para fins
terapêuticos deve ser interpretada como racionalização, ou um autoengano perigoso para a
vida espiritual.
29
ACONSELHANDO PESSOAS QUE DESEJAM DEIXAR O HOMOSSEXUALISMO
Dia a dia cresce o número de pessoas que fazem uma ―opção pelo homossexualismo‖,
inclusive entre os adventistas do sétimo dia. Que atitude a igreja deve tomar em relação a este
tema? Antes de considerar a abordagem disciplinar, a igreja precisa se voltar para a tarefa de
orientação e auxílio daqueles que lutam contra desejos que os mantêm em conflito emocional.
É normal as pessoas procurarem entender as causas do homossexualismo. Cumpre
salientar que por si mesmo o homossexualismo é um sintoma. Em medicina, um agente
etiológico causa apenas uma enfermidade, por exemplo, só um agente produz a tuberculose,
no caso o bacilo de Koch. Já, a aids é uma síndrome porque vários vírus podem provocá-la. O
mesmo se dá com o homossexualismo, visto ser uma síndrome com vários fatores
causadores.76
A seguir, apresenta-se alguns fatores que podem influir para uma pessoa se tornar
homossexual:
Desordens nos relacionamentos familiares, abuso sexual na infância, experiências
homossexuais, rebeldia juvenil/jovem, etc.77 Deste modo, a patologia do homossexualismo
não é primária, mas secundária, por isto, ele não é doença, mas sintoma.78
Uma pesquisa em São Francisco com 1.000 homossexuais e 500 heterossexuais
revelou que apenas um fator prognosticava uma orientação homossexual na idade adulta:
inconformidade de gênero na infância.79 Na verdade, é ―difícil testar hipóteses relativas aos
hormônios pré-natais em humanos, e a maioria dos estudos relacionados possuem falhas
metodológicas que impedem conclusões seguras‖.80
Outro estudo de 114 famílias de homossexuais, juntamente com uma análise
cromossômica de 40 famílias onde havia irmãos homossexuais mostrou evidência de um
marcador genético para a homossexualidade no cromossomo X, que os homens receberam de
suas mães. O estudo também demonstrou que estes homossexuais tinham mais parentes
homossexuais gays pelo lado materno do que pelo lado paterno da família.81
De acordo com Daryl J. Bem, fatores genéticos não influenciam a orientação sexual
por si mesmos, mas influenciam o temperamento e os traços de personalidade de uma
criança.82
É bom lembrar que ainda que o ambiente e a hereditariedade exerçam influência sobre
a pessoa humana, "Cristo deu Seu Espírito como um poder divino para vencer toda tendência
hereditária e cultivada para o mal".83
Orientação Espiritual
1º passo
a) Entrar em acordo com Deus
b) Confissão, arrependimento
76
José M. N. Pereira, ―O Homossexualismo não é Doença, é Sintoma‖, palestra proferida no encontro da
Êxodus, Rio de Janeiro, 14 de novembro de 1999.
77
Josh McDowell e Bob Hostetler, Counseling Youth (Dallas, TX: Word, 1996), 315.
78
Pereira.
79
Rita Atkinson, et. al., Introdução à psicologia (Porto Alegre, RS: Artmed, 1995), 398.
80
Ibid., 400.
81
Ibid.
82
Ibid., 401.
83
Ellen G. White, O desejado de todas as nações (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1979), 671.
30
HOMOSSEXUALISMO 2
O homossexualismo é uma indisposição de sermos plenamente homem e plenamente mulher.
c) Arrependimento das atitudes permissivas.
d) Arrependimeto das atitudes autoritárias: ―nasci assim, devo continuar assim‖.
2º passo
Como posso ver a Deus?
Deus é justo?
Será que temos dEle a mesma imagem dos pais?
É Deus que coloca em nós o fardo de culpa?
3º passo
Como vejo a mim mesmo?
Medo, isolamento, inveja
(três atitudes do homossexualismo).
As pessoas substituem estas atitudes pelo envolvimento homossexual. ―Eu não valho
nada‖. Isto é uma mentira! Deus quer que você se veja: ―Valho tanto quanto Ele me
valoriza‖.
4º passo
Como vejo aos outros ao meu redor?
Que impressão tenho do sexo oposto?
Que impressão tenho das pessoas do mesmo sexo?
Temos que corrigir nossas imagens.
―Você nunca adultera com alguém a quem você ama. Se você a amasse, não a
arrastaria para aquele pecado‖.
5º passo
Qual o princípio da crença?
Você crê que Jesus Cristo pode libertá-lo?
Você crê que Jesus Cristo ama aos outros como a você?
6º passo
Submissão: Apreciar a autoridade naquilo que Ele representa.
Jesus Cristo é nosso exemplo de submissão a Deus.
Ele reconheceu os magistrados, governadores, sacerdotes, etc.
6º passo
O homossexual rejeita a autoridade de Deus.
Deve-se ensinar o homossexual a aprender a apreciar a autoridade de Deus.
O pico mais alto da vitória depende cada vez mais do vale da submissão!
7º passo
Substituição: trocar a velha vida pela nova.
Quando você sentiu que Deus havia convencido você do pecado do homossexualismo?
O homossexualismo é iniciativa humana para resolver uma problema que só Deus com
o Seu remédio pode resolver.
8º passo
Aprender a viver debaixo da graça de Deus.
31
HOMOSSEXUALISMO 3
O sentimento de culpa é um recurso utilizado pelo inimigo para mantê-lo aprisionado.
Deve-se cultivar o hábito das ações de graças pela vitória.
É preciso deixar de lançar a culpa nos outros.
Aconselhamento Passo a Passo
1. A pessoa precisa estar decidida a deixar o homossexualismo.
Só se inicia o aconselhamento quando a pessoa houver tomado a decisão de romper
com as práticas relacionadas com o homossexualismo: relações sexuais; amigos que não
querem deixar o homossexualismo; contemplação de cenas homossexuais, seja filmes,
revistas, internet; qualquer hábito relacionado com atitudes homossexuais como bate-papo em
chats gays na internet, etc.)
2. Geralmente a pessoa tem dificuldade em contar fatos e atitudes relacionadas com a
vida homossexual, por isto é preciso ter uma atitude de muita compreensão e aceitação.
Em qualquer aconselhamento devemos ter uma atitude semelhante a de Cristo de
perdão, aceitação.
Quando houver recaídas não devemos condenar pois isto as pessoas fazem
normalmente, mas não o conselheiro.
O conselheiro talvez seja o único apoio cristão que o homossexual pode ter.
3. Uma seção de aconselhamento de uma hora (tempo máximo normal) divide-se em
duas partes:
a) ―Fale sobre a sua semana...‖
Com isto o conselheiro demonstra interesse nos sentimentos do aconselhado.
b) Perguntas e respostas.
Para esta parte do aconselhamento utiliza-se a apostila de Frank Worthen.
A pessoa que deixa o estilo de vida homossexual baseado em sua confiança em Cristo,
gradativamente descobre que suas reações homossexuais estão diminuindo e cresce segura no
fato de que está caminhando ao lado de Deus.
Procurar satisfação na homossexualidade é correr atrás de uma falsa solução para as
legítimas necessidades emocionais. Essas necessidades emocionais têm estimulado o desejo
por relacionamentos íntimos com pessoas do mesmo sexo. Esses desejos têm existido desde a
infância, uma vez que eles não foram satisfeitos no tempo apropriado durante o processo de
crescimento pelo(a) pai/mãe. Desejos íntimos podem ser atendidos numa forma legítima com
a vontade de Deus (namoro, noivado, casamento). Quando isto acontece, a tentação
homossexual desaparece.
A Causa mas Profunda da Homossexualidade
Encontra-se na ruptura dos vínculos familiares, produzindo, com isto a falta de senso
de se pertencer e de se sentir parte de algo, e, ainda, na falta de afirmação.
A segurança de uma criança depende de uma chave tripolar de vínculos:
a) Da mãe para com a criança.
b) Do pai para com a criança.
c) Do compromisso entre o pai e a mãe de uma união vitalícia e amorável.
Qualquer quebra neste triângulo produzirá insegurança na criança. Pode ser que esta
quebra não seja real, mas se a criança interpreta desta maneira o resultado é o mesmo.
32
HOMOSSEXUALISMO 4
Transferidor de Identidade
No momento em que o pai/mãe renuncia ao seu papel começam a surgir distorções.
O(a) filho(a) precisa ser capaz de honrar e desejar ser como seu pai/mãe, para que a
transferência de identidade possa acontecer.
O menino possui certas necessidades que somente seu pai pode preencher e a mesma
verdade se aplica a menina com sua mãe.
A necessidade do garoto pode ser resumida em três palavras:
Força, poder e proteção.
O que leva os homossexuais a saírem pelas ruas procurando parceiros sexuais? ... a
busca deles não é primeiramente sexo, mas sim intimidade... a maioria das buscas do
homossexual reflete a procura para encontrar o pai.
Raízes não Sexuais
As raízes mais profundas da homossexualidade não são sexuais.
O desejo por interação sexual vem depois de um longo período após ter passado pelo
simples desejo de amor, segurança, afirmação.
Retraimento
A maioria dos homossexuais tem um período de retraimento na sua infância.
Se a criança teve um pai ausente, seja de forma física ou emocional, é sentida uma
certa vulnerabilidade pela criança.
O garoto se sente exposto e sem proteção no mundo.
Essa tendência para retraimento ou fuga produz três efeitos:
Medo, isolamento e inveja.
Medo
Por detrás das fobias existe um grande medo de ser abandonado, causado desde cedo
na infância.
Naturalmente: as crianças esperam proteção dos pais e, quando um torna-se ofensivo
ele trai o propósito intencionado por Deus de proteger a família.
Pai indiferente: renunciou ao seu papel e, em certo sentido pode ser mais prejudicial
do que o pai ofensivo. Isto pode provocar ressentimentos.
Pai – o modelo
À medida que a criança cresce, ela precisa de conhecimentos, habilidades, de modelo
ideal de proteção. Elementos que só podem vir do pai.
Ausência do pai:
Pode tornar a criança irada com o mundo e começar a se afundar no seu próprio
mundo de fantasia.
Isolamento
Falta de modelo de pai/mãe do mesmo sexo da criança:
Cria problemas para a criança, no que se refere a relacionamento com seus
coleguinhas.
Caso do menino:
Se ele tem apenas a influência da mãe, reagirá no seu mundo e com seus colegas da
mesma maneira que a mãe reagiria.
Jeito efeminado:
33
HOMOSSEXUALISMO 5
Será logo percebido pelos coleguinhas, passando a ser ridicularizado e excluído do
círculo deles.
Resultado:
É imposto sobre ele um isolamento.
Problemas básicos da homossexualidade:
Ausência de afirmação e do senso de se pertencer a alguém.
Rejeição dos colegas:
Reforça as diferenças da criança e a idéia de que ela não é aceita.
Às crianças diferentes:
É-lhes negada a oportunidade de pertencer a um grupo, ficando, assim, do lado de fora
do círculo de seus colegas, observando ansiosamente a intimidade que lhe foi negada, não
compartilhando dos segredos e nem do companheirismo do grupo.
Inveja
Como se sente uma criança que foi rejeitada?
Passa a sentir inveja dos colegas que são aceitos.
Quais podem ser as conseqüências desta ―inveja‖?
Começa um processo, que se continuado até a conclusão leva ao que os homossexuais
denominam de ―orientação‖ sexual.
Processo:
a) Ela se compara com os outros e reconhece que não é igual aos demais colegas.
b) Conclui que não poderá alcançar o padrão dos colegas do grupo.
c) Começa a ficar para trás.
d) Finalmente desiste, admitindo inadequação para com o grupo.
e) Isto traz à tona a admiração por aqueles que de alguma forma parecem ser melhores.
Eles podem ser mais bonitos, mais inteligentes, ter um corpo mais bem formado.
f) Em algum momento deste processo a admiração se degenera até se transformar em
inveja e num desejo de possuir aquelas qualidades.
g) Normalmente existe uma pessoa especial que é esse objeto de inveja e admiração.
Pode ser que décadas mais tarde o homossexual esteja ainda procurando este
―primeiro amor‖.
Desejam fortemente que essas pessoas sejam seus ―melhores amigos‖, fantasiando
estarem sozinhos com estas pessoas e serem capazes de se relacionarem intimamente com
elas.
h) Na puberdade, quando o desejo sexual começa a emergir, o desejo de ter intimidade
se volta para aquele que tem sido o centro de atenção da criança, o qual era o seu objeto de
admiração e inveja.
Deste modo a inveja se torna erotizada.
Para muitas pessoas, esse processo não se concretiza até o final, mas para o
homossexual, esse desejo sexual por uma pessoa do mesmo sexo parece completamente
natural porque ele ou ela começou a sentí-lo de uma forma que não era sexual.
Resumo
Falha na transferência de identidade (pelo pai ou mãe)  filho(a) não sente que é
amado(a), não se sente seguro(a), nem que é afirmado(a)  retraimento  medo 
isolamento  inveja  sentimento de inadequação  admiração pelos que são melhores 
desejo de possuir as qualidades admiradas no(a) outro(a)  concentração numa pessoa
―especial‖ que passa a ser o foco das suas fantasias  na adolescência a admiração se
34
HOMOSSEXUALISMO 6
transforma em erotização  o sentimento parece normal porque começou de forma não
sexual  envolvimento homossexual  desgosto  amargura  pânico  remorso.
O processo de libertação do homossexualismo pode levar cerca de dois anos de seções
semanais com o conselheiro.
Caso haja um grupo de pessoas lutando com a mesma dificuldade, pode-se criar um
grupo de apoio (semelhante aos alcoólicos anônimos).
35
DEPRESSÃO
Sinais de depressão
1. Humor deprimido
A pessoa pode reclamar de sentimentos tristes, perda, desesperança, irritação ou vazio.
Estes sentimentos são persistentes, não são transitórios, ocorrendo quase todos os dias.
2. Perda de prazer ou perda de interesse em atividades comuns
Eventos e atividades tipicamente prazerosos deixam de ser agradáveis. A libido
sexual
pode diminuir. A ausência de prazer ou alegria pode ocorrer até mesmo quando o indivíduo
não se ―sente deprimido‖. É a ausência de um prazer normal, a perda de interesse naquilo que
anteriormente dava satisfação. A pessoa pode se afastar das atividades.
3. Mudanças no apetite
A pessoa pode perder o apetite ou pode passar a comer mais. Isto pode se
demonstrar
pela perda ou ganho de peso.
4. Mudanças no padrão do sono
Tanto um quanto o outro podem ocorrer. A pessoa pode passar a dormir mais ou
pode
sofrer de insônia muitos dias.
5. Mudanças na movimentação
Fisicamente a pessoa pode parecer lenta, movendo-se e falando mais
vagarosamente do
que o normal. Por outro lado, a pessoa pode parecer mais agitada do que o normal.
6. Fadiga
A pessoa experimenta uma falta de energia geral, cansaço, ou dificuldade para
enfrentar
as circunstâncias em função do sentir-se ―esgotada‖.
7. Sentimentos de indignidade, auto-reprovação ou culpa.
Possivelmente o pastor seja uma pessoa mais apta a perceber estas características.
A
culpa e a auto-reprovação são desproporcionais, exageradas. São excessivas e impróprias em
escopo e intensidade. A pessoa pode sentir que o que fez é imperdoável, que está condenada,
amaldiçoada ou abandonada por Deus.
8. Modificações na maneira de pensar e na concentração
A pessoa deprimida tem dificuldades em se concentrar, em pensar ou em tomar
decisões.
9. Pensamentos e atos suicidas
A pessoa pode pensar com freqüência em morte, pode desejar morrer, pensar em
cometer suicídio. Podem ocorrer tentativas reais de suicídio.84
84
William R. Miller, Practical Psychology for Pastors (Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall, 1994), 199.
36
Causas de depressão
1. Fatores situacionais
a) Estresse – pressão de tempo, relacionamentos difíceis, ruídos, dores, mudanças
b) Perdas – familiares, amigos, casamento, trabalho, posses, animais de estimação
c) Falta de reforço positivo – recebimento de críticas, pouco apoio
d) Trauma
2. Padrões de pensamento – cognitivo (como a pessoa pensa)
a) Auto-declarações negativas – ―não sou bom‖, ―falhei de novo‖, ―sou feio‖
b) Crenças irracionais
c) Memória e atenção seletiva – ênfase no lembrar coisas negativas
d) Pessimismo
e) Culpa
3. Orgânicas
a) Distúrbio bipolar
b) Desequilíbrio químico
c) Grande trauma físico
d) Fatores dietéticos
e) Uso de drogas
4. Fatores comportamentais
a) Habilidades sociais – não saber se relacionar com pessoas, não saber iniciar
diálogos
b) Evitar contatos
c) Ansiedade
5. Conseqüência de comportamento
a) Reforço da depressão – ex. esposa que fica em casa só, sem reconhecimento
b) Desconhecimento de comportamentos saudáveis e adaptativos.85
Esta é uma apostila preparada pelo professor Natanael Moraes. Se desejar, pode
imprimir para uso pessoal. Por favor, respeite os direitos autorais do professor e não
repasse a outros.
85
Ibid., 200-208.
37
CONCEITOS ADVENTISTAS DE PSICOLOGIA
Departamento de Educação
Associação Geral da IASD1
1. Definição
A psicologia é uma das disciplinas científicas que provê uma descrição ou explanação da mente
e do comportamento que serve como base para o trabalho do psicólogo, psiquiatra, educador,
ministro, e outros que tratam com o comportamento humano.
2. Princípios
a. A psicologia, uma das mais jovens ciências, foi estabelecida numa base empírica e é
reconhecida como fundamental paras as profissões que tratam com o ser humano. Em psicologia,
como em outras ciências, pode haver verdade e erros.
b. Existem certos conceitos cristãos, mantidos pelos adventistas do sétimo dia, concernentes a
origem, natureza, e destino da raça humana que nos levam a ver a ciência da psicologia sob uma
perspectiva única. Esses princípios verdadeiros da psicologia são encontrados nas Santas Escrituras
e esclarecidos pelos escritos do Espírito de Profecia.
c. O modo como um adventista do sétimo dia aplica as descobertas da psicologia aos
problemas da mente e do comportamento, a abordagem final e os relacionamentos contêm
elementos únicos porque em muitos aspectos sua base de referência, filosofia, e objetivos são
diferentes daqueles dos não adventistas. Algumas técnicas podem ser similares, mas a filosofia
subjacente pode ser diferente.
d. Em virtude da sua singularidade, devem ser envidados esforços especiais para garantir que
em faculdades e escolas a psicologia seja ensinada conforme o ponto de vista adventista.
3. Um ponto de referência
Um dos objetivos da psicologia é descobrir e descrever leis do pensamento e do comportamento
humano. Embora a Bíblia não deva ser vista, necessariamente, como uma exposição técnica de
ciência do comportamento, ela provê um discernimento essencial, autoritativo com respeito a
origem, natureza e destino da humanidade. Estes são revelados por Deus, Aquele que planejou e
criou a humanidade, e são estabelecidos nas Escrituras.
Visto que seu autor é divino, a Bíblia provê um critério final pelo qual pressuposições e teorias
da ciência devem ser comparadas e avaliadas a fim de determinar se são autênticas e válidas.
Ellen White observa que "a verdadeira ciência e a Inspiração estão em perfeita harmonia. A
falsa ciência é algo independente de Deus. É uma ignorância pretensiosa". Testimonies, 4:584.
4. Conceitos e objetivos
Enquanto existem muitos temas sendo explorados no campo da psicologia, os seguintes são
alguns conceitos e objetivos defendidos pelos adventistas do sétimo dia.
a. Relativo-Absoluto
Nós cremos que Deus existe e é a corporificação viva da verdade absoluta e, portanto, que
existe verdade absoluta. A lei de Deus é um transcrito do Seu caráter e representa o padrão pelo
qual o caráter de uma pessoa deve ser avaliado. Com base nisto, inclusive o reconhecimento de
Deus como Criador e seres humanos como criaturas que seguem leis que refletem o Seu poder
1
Esta declaração foi aprovada pelo Concílio Anual em outubro de 1977.
1
criador, os psicólogos cristãos deveriam continuamente procurar descobrir e relacionar estas leis a
fim de compreender o homem como um ser holístico.
Qualquer conclusão relativística estabelecida como resultado da pesquisa psicológica deve ser
avaliada à luz da vontade de Deus conforme revelada em Sua Palavra, em a natureza, e no Espírito
de Profecia.
b. Mente e ser total
As Escrituras e os escritos de Ellen G. White descrevem o ser humano como uma unidade
multidimensional. Esta expressão aponta para o fato de que qualquer coisa que afete uma pessoa
numa área, afeta toda a pessoa de um modo ou de outro -- o aspecto físico do ser afeta o mental e o
espiritual e estes por sua vez afetam um ao outro e ao corpo.
Um fato central desta unidade é que no aspecto pessoal, a mente provê ao ser humano
consciência, criatividade, amor, decisão e outras qualidades que indicamos quando nos referimos ao
homem como um ser pessoal.
A "mente" é uma entidade funcional cujo órgão central é o cérebro. É através deste órgão e
de suas extensões periféricas que a mente entra em contato com o mundo exterior, reage a ele, e o
modifica criativamente. Também é através desta função central que a pessoa concebe todo o seu
ambiente, seu passado, seu elevado destino e organiza sua vida para se relacionar de modo
significativo com os mesmos.
Enquanto esta função central provê uma medida para orientação e controle do todo, precisa
ser reconhecido que ele também é afetado pelas outras dimensões da pessoa. A saúde espiritual,
física e social tem uma influência importante sobre a mente.
Por definição, a psicologia tem que ver primariamente com esta função central do ser
humano. Por analogia, ela participa de um inter-relacionamento com outras disciplinas ligadas à
pessoa, a interpenetração e interdependência da mente com outras dimensões do ser humano.
c. Liberdade
Um aspecto da função mental que distingue, de modo especial, os seres humanos dos seres
inferiores é a capacidade de agir criativamente; isto é, a capacidade de iniciar uma ação que eles não
tiveram que iniciar. Um aspecto desta capacidade é descrito nos escritos de Ellen White como
liberdade de escolha. Tal liberdade torna possível que uma pessoa peque, mas, também, deve ser
lembrado que ela é a base para que alguém seja capaz de amar ao nível de princípio, a ponto de a
pessoa ser considerada um ser responsável.
Liberdade é a principal qualidade da mente do ser humano, uma vez que ele é portador da
imagem do seu Criador. A perda total desta liberdade pode ser considerada como uma deformação
da imagem de Deus no homem e na mulher. As outras dimensões dos seres humanos podem afetar
esta liberdade de modos significativos, como também o pode o mal uso e a perversão deste dom. Os
psicólogos cristãos deveriam procurar entender este dom e dirigir seus esforços no sentido de
facilitar a restauração e a preservação da liberdade.
d. Sexualidade
Os seres humanos foram criados como macho e fêmea. A atração mútua entre os sexos foi
designada por Deus. É uma base para a família e a sociedade, e fonte de felicidade humana, bem
como um meio de continuidade da raça. As normas divinas indicam como esta felicidade pode ser
preservada. Como o mal é a distorção do bem, a sexualidade tem, algumas vezes, sido pervertida e
se tornado uma força destrutiva na vida humana.
As práticas sexuais deveriam estar de acordo com os princípios divinos do amor cristão
amadurecido, tais como vistos na verdadeira sabedoria dos séculos. Esta força humana poderosa
pode se inclinar para encontrar expressão tanto para o bem como para o mal. As pessoas deveriam
ser ensinadas que as manifestações da sexualidade podem conduzir à felicidade permanente ou a
conseqüências que resultam em miséria.
2
e. Natureza humana
Os adventistas do sétimo dia estão plenamente cônscios da profundidade radical do pecado
nos seres humanos e encaram algumas das expressões otimistas da psicologia moderna como
altamente irreais. Contudo, seria importante nos lembrar que a preocupação com o mal em a
natureza humana, que tanto tem caracterizado o pensamento cristão, pode contribuir,
adicionalmente, para o problema.
O considerar crianças pequenas como completamente sem esperança pode criar nelas
sentimentos profundos de rejeição e insignificância que resultarão em sérios distúrbios de
personalidade. Uma variedade de mecanismos destrutivos pode ser traçada em função destas
condições adversas.
Portanto, é necessário que os psicólogos adventistas do sétimo dia também enfatizem o
aspecto bom da criação divina. Isto deveria incluir aspirações nobres dos seres humanos através do
poder de Cristo e seus potenciais para o bem, quando aberto à graça divina. Os psicólogos
"otimistas" reivindicam um ponto que não deveria se passado por alto, ainda que haja o
reconhecimento do estado caído da raça humana; não se obtém nenhuma redenção por tal
reconhecimento. Portanto, todas as considerações sobre a nossa natureza decaída devem vir
acompanhadas de expressões, verbais ou não, do elevado valor que Deus atribui aos Seus filhos e
sobre o potencial para o bem através da graça de Deus.
Embora o pecado tenha afetado toda a natureza humana (vontade, intelecto, emoções), o
amor e a graça de Deus em Jesus Cristo dão esperança, do modo como expressou Ellen White:
"não somente poder intelectual, mas espiritual - percepção do que é reto, anelo de bondade. Mas
contra estes princípios há um poder contendor, antagônico... Há em sua natureza um pendor para o
mal, uma força à qual, sem auxílio, não poderá ele resistir. Para opor resistência a esta força, para
atingir aquele ideal que no íntimo de sua alma ele aceita como o único digno, não pode encontrar
auxílio senão em um poder. Esse poder é Cristo". Educação, 29.
Há um agudo contraste entre os princípios psicológicos baseados na Bíblia e alguns ensinos
populares. Ao invés de bondade inata, nós cremos no estado caído da raça humana. Ainda que o
ambiente e a hereditariedade exerçam influência sobre a pessoa humana, "Cristo deu Seu Espírito
como um poder divino para vencer toda tendência hereditária e cultivada para o mal". O desejado
de todas as nações, 671. O estado básico da condição humana provém da queda e das escolhas
pessoais feitas desde então. É através da apreciação e aceitação deste dom divino que a pessoa pode
se conscientizar da sua dignidade pessoal e verdadeiro potencial. A mais elevada confiança do
cristão é depositada em Cristo, que concede conversão, purificação e transformação em uma nova
criatura.
5. Exposição de razões para o ensino de psicologia em escolas e faculdades adventistas
a. Auxiliar cada estudante a descobrir os princípios de psicologia encontrados na Bíblia e nos
escritos de Ellen White.
b. Permitir que o estudante descubra e compreenda os princípios do comportamento humano e
seja apto a aplicá-los.
c. Prover um ambiente que conduza à motivação da curiosidade intelectual; um ambiente
favorável ao crescimento da pessoa nos aspectos mental, social e religioso.
d. Desenvolver no estudante a habilidade de pensar criticamente e distinguir entre
pressuposições teóricas e fatos estabelecidos na psicologia.
e. Auxiliar a construir uma comunidade de mentes aptas a tratar com o conhecimento novo que
está a brotar constantemente, e que por sua vez, afeta os valores básicos da vida.
f.
Encorajar o viver pelo propósito de servir a Deus e a humanidade.
3
g. Prover princípios e discernimento que auxiliarão o estudante nos relacionamentos
interpessoais, tais como o lar e a vida familiar, e os contatos diários com os outros.
h. Apresentar maneiras pelas quais os estudantes possam utilizar princípios de psicologia para
conduzir homens e mulheres a Cristo.
i. Prover fundamentação e motivação para o treinamento profissional de professores de
psicologia, clínicos, conselheiros e profissionais identificados com o ponto de vista adventista do
sétimo dia.
6. Controle da mente e manipulação
a. "Cada ser humano criado à imagem de Deus, é dotado de certa faculdade própria do Criador
- a individualidade - faculdade esta de pensar e agir". Educação, 17. Deus colocou no homem a Sua
própria imagem, e é este fato que o distingue de todos os demais seres inferiores da criação. Foram
concedidos ao homem atributos, num sentido limitado, para estarmos seguros, que são
característicos de Deus. Qualquer coisa que diminua a habilidade do ser humano no sentido da
responsabilidade e da escolha reduz nele o que mais deveria assemelhá-lo a Deus -- criatividade, a
capacidade de tomar decisões.
b. Qualquer prática ou atitude que venha a diminuir a capacidade humana de
autodeterminação viola o desígnio do Criador. A seguir se destacam alguns meios pelos quais pode
ser exercido controle:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
Uso impróprio de drogas psicotrópicas
Lavagem cerebral e controle da mente
Programação forçada e modificação do comportamento
Doutrinação manipulativa
Doutrinação subliminar
Meditação transcendental
Yoga
Experiências "carismáticas"
Festivais de música tipo "Rock"
Manipulação emocional extrema em encontros religiosos públicos
Encorajamento excessivo de dependência numa situação de aconselhamento
Hipnose
O denominador comum em todas estas situações é o de uma elevação do fator sugestionável e a
redução da capacidade pessoal de fazer escolhas responsáveis.
c. O psicólogo cristão deve ter como meta auxiliar na restauração e proteção da imagem de
Deus no ser humano quando ele ajuda as pessoas a manter a individualidade e a liberdade de fazer
escolhas independentes em suas vidas.
4
A PERSPECTIVA BÍBLICA DO ACONSELHAMENTO CRISTÃO
Introdução
Há necessidade de se analisar a perspectiva bíblica do relacionamento entre cristianismo e
psicologia. Mas, antes de mais nada, é preciso destacar que as Escrituras descrevem o homem como
um ser portador de alma, espírito, corpo e mente. A Bíblia não descreve o homem como um ser
compartimentalizado, mas o apresenta como um ser holístico. Deste modo, o cristão vê o homem
como um ser criado por Deus, sujeito a leis de natureza física, psicológica e espiritual, igualmente
estabelecidas pelo Criador.2 Sempre a pessoa humana deverá ser vista como um todo, isto é, como
um ser bio-psíquico-espiritual.3
A Ordem da Criação
A perspectiva bíblica do relacionamento entre psicologia e cristianismo é encontrada na criação
original quando as leis de Deus foram estabelecidas. Bara é a palavra hebraica que descreve o poder
criador de Deus. Ela é usada três vezes em Gênesis 1:
“No princípio, criou [bara] Deus os céus e a terra” (Gn 1:1).4
“Criou [bara], pois, Deus os grandes animais marinhos e todos os seres viventes que rastejam, os
quais povoavam as águas, segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas espécies. E viu
Deus que isso era bom” (Gn 1:21).
“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”
(Gn 1:27).
O caos sem forma se transmudou em criação. Deus, então, introduziu multiplicidade, complexidade
e ordem. De modo que as leis científicas constituem-se em nossa tentativa de descrever os
relacionamentos e complexidades que observamos.
Três estágios da criação podem ser destacados:
O cosmos, a terra, a vegetação (Gn 1:1).
Animais, pássaros, vida aquática (Gn 1:21).
As pessoas humanas (Gn 1:27).
Várias subcategorias podem ser discernidas dentro de cada um destes estágios:
Leis da física, química, astronomia, geologia, biologia
Leis referentes à vida animal: zoologia, anatomia, fisiologia.
Disciplinas que se aplicam especificamente aos seres humanos: sociologia, lógica, psicologia,
teologia (a mensagem da redenção e salvação).5
Todas as categorias da criação de Deus funcionam de modo a formar um grande
todo: o ser humano num mundo de Deus. Por outro lado, as três categorias e suas subcategorias
distinguem-se uma das outras. Passar por cima a distinção das categorias pode produzir confusão,
porque falha em levar em consideração a ordem da criação de Deus.6
As leis espirituais que nos governam não devem ser igualadas, mas devem incluir as leis
psicológicas, biológicas e químicas. Quando se estuda psicologia, que é uma categoria criada por
2
William T. Kirwan, Biblical Concepts for Christian Counseling (Grande Rapids, MI:
Baker Book House, 1987), 33.
3
Ibid.
4
Salvo indicação contrária, todas as referências neste trabalho são da Versão de João
Ferreira de Almeida revista e atualizada (ARA), (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993).
5
Kirwan, 36.
6
Ibid.
5
Deus, é legítimo e apropriado lembrar que ela faz parte de um grande todo – as leis espirituais que
governam o ser humano abrangem mais do que a psicologia.
Nunca a Bíblia nega a importância da dimensão física e biológica da pessoa humana. Tanto a
necessidade de sono e descanso de Jesus, quanto a preocupação de Paulo pela saúde de Timóteo
(1Ti 5) refletem realidades biológicas. De igual modo, a Bíblia reflete realidades psicológicas; ela
não ignora a psicologia. Ela está cônscia da importância dos relacionamentos interpessoais. Quando
pessoas são aconselhadas na área da saúde mental e emocional, é imperativo unir verdades das
Escrituras com verdades da psicologia.7
A Ênfase Bíblica Sobre Relacionamentos
Muitas verdades psicológicas estão incluídas no texto bíblico. Nossas necessidades de sentido e
propósito na vida, desenvolvimento emocional e liberdade da culpa são bem enfatizadas. Emoções
destrutivas como ansiedade, ira, culpa e depressão são discutidas. Conceitos psicológicos tais como
mecanismos de defesa inconscientes (repressão, racionalização, negação) são reconhecidos em
diversas passagens. Ainda mais significativo é o fato da necessidade humana por relacionamentos
íntimos, por amor e confiança, ser recorrente em todas as Escrituras.8
Deus disse, “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2:18). Adão tinha necessidade de
companheirismo, como também relacionamento social e sexual para obter felicidade e satisfação.
Eva foi criada para atender estas necessidades, como Adão as suas. Observe-se que antes da queda,
Deus havia demonstrado que as necessidades sociais e individuais eram importantes. Após a queda,
as necessidades para relacionamentos íntimos não só foram ampliadas, mas os relacionamentos que
continuaram foram severamente distorcidos.9
Acredita-se que a fase mais intensiva de desenvolvimento da personalidade começa na infância e se
estenda até o início da adolescência. Crianças que não receberam amor e afeto, provavelmente
desenvolverão uma atitude de rancor e hostilidade para a vida. Tais pessoas manifestam sua
hostilidade de vários modos indesejáveis.10
Em Romanos 1, Paulo aborda o tema de Gênesis 3 – nossa rebelião e queda: “A ira de Deus se
revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça”
(Rm 1:18). A descrição do processo interior pelo qual as pessoas negam a existência de Deus, além
das suas próprias necessidades espirituais também são expressas pela psicologia: “Traduzir a análise
de Paulo sobre a resposta humana em linguagem contemporânea da psicologia não é uma tarefa
difícil... a classificação da resposta humana a Deus pode ser formulada através das categorias de
trauma, repressão e substituição”.11
Um estudo das palavras de Paulo e o processo que elas descrevem, demonstram aquilo que hoje
enfrentamos. A repressão é o principal mecanismo de defesa, uma forma de negação utilizada por
todos nós. A repressão é um processo pelo qual excluímos desejos e impulsos legítimos do nosso
consciente. Satisfações, desejos e impulsos negados passam a operar no inconsciente. De acordo
com Sproul, é exatamente este o processo que Paulo tem em mente em Rm 1:18, onde a repressão
da verdade divina conduz a um estilo de vida impuro e a um comportamento pecaminoso. 12
7
Ibid., 37.
8
Ibid., 37-38.
9
Ibid., 38.
10
Ibid., 38.
11
R. C. Sproul, The Psychology of Atheism (Minneapolis, MN: Bethany Fellowship, 1974),
73-74; citado em Kirwan, 40.
12
Kirwan, 41.
6
De Gênesis 2-3 e Romanos 1, podemos destacar o seguinte:
Deus nos criou com necessidades sociais e espirituais.
Um bom relacionamento interpessoal com Deus e com outras pessoas é necessário para atender
estas necessidades.
Se as nossas necessidades não são atendidas por bons relacionamentos interpessoais, então, como
Adão, teremos a tendência para nos tornar emocional, psicológica e espiritualmente desorientados. 13
Corretamente aplicada no contexto cristão, uma compreensão da dinâmica da
repressão pode auxiliar pessoas sofredoras a obterem cura no seu relacionamento com Deus, com
outros e consigo mesmo.14
Abordagem Bíblica das Principais Dimensões da Personalidade
Como a revelação de Deus para nós, a Bíblia é a autoridade final para nossa vida psicoespiritual.
Ela descreve o ser humano em três dimensões, pensar, sentir e agir. De modo semelhante, William
B. Oglesby declara:
É evidente que a Bíblia reconhece a importância de todos os três conceitos. Na verdade, existe um
conceito pelo qual toda a história da revelação de Deus e a resposta humana é definida como
“conhecer”, “fazer” e “sentir”. A questão crucial é saber qual destas é vista como a mais
importante.15
Pela perspectiva da psicologia bíblica, as categorias conhecer, sentir e fazer abrangem o todo de um
indivíduo e estão interconectadas de tal modo que elas não podem ser separadas.
Conhecer
As teorias modernas sobre o conhecimento enfatizam a importância de acumular dados, fatos e
conceitos na mente. Os gregos elevavam o conhecimento a tal ponto que eles tendiam vê-lo como
um fim em si mesmo. Embora esta concepção esteja ausente da Bíblia, ela pode ser encontrada no
mundo ocidental e na maioria das igrejas cristãs.16
A Bíblia sempre apresenta o conhecimento em termos de relacionamento pessoal. Em hebraico,
todas as palavras que denotam conhecimento se referem a ações que envolvem afetividade. Quando
Moisés solicitou a Deus que acompanhasse os israelitas, ele disse, “se achei graça aos teus olhos,
rogo-te que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça e ache graça aos
teus olhos” (Ex 33:13). A resposta de Deus é dada no mesmo tom, “Farei também isto que disseste;
porque achaste graça aos meus olhos, e eu te conheço pelo teu nome” (Ex 33:17). Inegavelmente os
aspectos pessoais do “conhecer” estão presentes aqui.17
O Antigo Testamento apresenta o conhecimento como proveniente de um encontro pessoal com
Deus. As descrições do Antigo Testamento sobre Deus e a Sua criação são declarações de fé que
refletem a revelação que Deus faz de Si mesmo. Já a abordagem metafísica dos gregos sobre a
natureza de Deus e sua criação era especulativa.18
13
Ibid., 41.
14
Ibid., 41.
15
W. B. Oglesby, Jr. Biblical Themes for Pastoral Care (Nashville, TN: Abingdon, 1980),
25; citado em Kirwan, 42.
16
Kirwan, 43.
17
Ibid.
18
Ibid., 43-44.
7
O Novo Testamento descreve conhecimento de modo bastante similar ao do Antigo Testamento.
Observe a oração de Jesus pelos Seus discípulos, “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o
único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3).19
Nas quatro epístolas da prisão, Paulo começa com uma oração na qual o conhecimento significa
estar em Cristo.
“para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e
de revelação no pleno conhecimento dele” (Ef 1:17).
“E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda
a percepção” (Fp 1:9).
“para que a comunhão da tua fé se torne eficiente no pleno conhecimento de todo bem que há em
nós, para com Cristo” (Fm 6).
Em cada oração, Paulo utiliza a palavra grega epignosis, embora a palavra comum seja gnosis.
Nestes quatro exemplos, ele acrescenta o prefixo epi para indicar “um pleno ou completo
conhecimento de”.20
O sentido de conhecimento para a sociedade contemporânea é bem diferente do sentido bíblico. Em
suma, a Bíblia não preza a ênfase grega e moderna sobre o intelectualismo. Na verdade, ela adverte
contra ele.21
“Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século?... os judeus pedem sinais,
como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os
judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos,
pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1:20, 22-24).
A abordagem bíblica de “conhecimento” permanece como uma restrição para os cristãos que vêm a
acumulação de fatos bíblicos ou a compreensão de doutrinas teológicas obscuras como
santificação.22
Ser/Coração
O ser/coração é a segunda dimensão vital da personalidade humana. Para melhor
compreender a noção de ser é preciso examinar o conceito bíblico de “coração”.
O coração é o centro da vida íntima do homem e a fonte ou sede de todas as forças e
funções da alma e espírito.23
1. Nele habitam emoções, sentimentos, desejos e paixões, alegria.24
“Por isso, se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; além disto, também a minha
própria carne repousará em esperança” (At 2:26).
Dor e tristeza
“Pelo contrário, porque vos tenho dito estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração” (Jo
16:6).
19
Ibid., 44.
20
Ibid., 45.
21
Ibid., 45-46.
22
Ibid., 46.
23
Johannes Behm, kardia, Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), ed.
Gerhard Kittel (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1979), 3:611.
24
Ibid., 612.
8
Desejo
“Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para
que sejam salvos” (Rm 10:1).
Lascívia
“Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio
coração, para desonrarem o seu corpo entre si” (Rm 1:24).
2. O coração é a sede do entendimento, a fonte do pensamento e reflexão.25
“Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a
prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios” (Mc 7:21).
“Quando completou quarenta anos, veio-lhe a idéia [kardian] de visitar seus irmãos, os
filhos de Israel” (At 7:23).
3. O coração é a sede da vontade, a fonte da decisão.26
“Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por
necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria” (2Co 9:7).
4. O coração é o centro primordial do ser humano para o qual Deus Se volta, no qual a vida
religiosa está enraizada e que determina a conduta moral.27
“Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a
consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se” (Rm 2:15)
Em suma: coração é sede das emoções, sentimentos, pensamentos e vontade.
De fato, a Bíblia enfatiza o papel chave do coração na vida cristã. Por natureza o coração é
ímpio e mau (Jr 17:9). É para o coração que Deus olha (1Sm 16:7), com o coração cremos e somos
justificados (Rm 10:10), e é do coração que brota a obediência (Rm 6:17). O coração é a fonte
interna de todas as nossas ações externas (Lc 6:45). Como o centro da pessoa, é dele que provém as
respostas emocionais. Todo o espectro de emoções, da alegria à depressão, do amor ao ódio, são
atribuídas ao coração.28
De acordo com a Bíblia, as emoções e os sentimentos têm um papel claramente definido na
vida cristã. Basicamente, emoções são reações psíquicas desencadeadas por estímulos provenientes
do mundo exterior e do próprio ser interior. O cérebro é estimulado por um evento (externo) ou
pensamento (interno), experiências passadas, circunstâncias do momento e expectativas
concernentes ao futuro que são processados rapidamente de modo a produzir uma resposta
emocional. Esta resposta emocional é tridimensional. Primeiro, há uma resposta cortical. Em
segundo lugar, há uma mudança fisiológica que afeta, entre outras coisas, a respiração e os
batimentos cardíacos. Em terceiro lugar, há um sentimento consciente ou a sensação de uma
emoção específica.29
Visto que Deus vê o nosso coração como a principal influência da vida cristã, é imperativo
para nós sabermos como ele pode ser transformado. Como é possível um coração “Enganoso...,
mais do que todas as coisas” (Jr 17:9) tornar-se branco “como a neve” (Is 1:18)? Como a condição
25
Ibid.
26
Ibid.
27
Ibid.
28
Kirwan, 47.
29
Ibid., 49.
9
do nosso coração pode ser mudada? Esta é a pergunta mais importante para a psicologia e a
filosofia. A resposta bíblica é clara. O coração é mudado através do relacionamento com Jesus
Cristo. A teologia cristã tem seu foco neste relacionamento, que é disponível a todos que confiam
em Cristo. De acordo com a Bíblia, não há outro modo pelo qual o coração e a pessoa humana
possam ser efetivamente mudados. No Antigo Testamento, apenas o relacionamento pessoal com o
Senhor, o Deus que entra em concerto, poderia produzir uma mudança de vida. Davi solicitou a
Deus que operasse em seu coração: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de
mim um espírito inabalável” (Sl 51:10); “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e
conhece os meus pensamentos” (Sl 139:23). O papel divino de renovar o coração humano é
destacado em Ezequiel: “Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua
carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e
guardem os meus juízos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus” (Ez 11:1920). E no Novo Testamento, Paulo enfatiza a necessidade da habitação de Cristo no coração 30:
para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder,
mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela
fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com
todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer
o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a
plenitude de Deus (Ef 3:16-19).
Agir
A ação é a terceira dimensão vital da personalidade humana. Assim como o conhecimento se
relaciona com a mente, o coração com o ser, a vontade se relaciona com a ação. Talvez a passagem
mais relevante da Bíblia apareça na epístola aos Romanos31:
Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que
prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa...
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o
bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal
que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim
o pecado que habita em mim... Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo
desta morte? (Rm 7:15-16, 8-20, 24).
Aqui Paulo confessa sua incapacidade de “fazer”. Isto é, ele não pode, por sua própria força
e por sua própria vontade, viver uma vida piedosa e justa. É significativo observar que em qualquer
lugar em que a Bíblia nos diga que devemos fazer alguma coisa, isto sempre é expresso num
contexto de relacionamento com Deus. Sem Ele nada pode ser feito. Paulo destaca este princípio no
capítulo seguinte: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm
8:1). Paulo falhava quando baseava sua religião em suas próprias realizações. Mas quando ele se
tornou um filho adotivo do Senhor (“os que estão em Cristo Jesus”) ele pode ver a si mesmo como
vencedor – cessou sua luta por “fazer”.32
Por vezes, os Dez Mandamentos dados a Moisés por Deus são vistos como uma descrição de
uma religião de realizações humanas. Contudo, é preciso destacar que no contexto eles são
precedidos por uma declaração que deveria lembrar o povo de Israel do seu concerto com Deus, do
seu relacionamento com Ele33:
30
Ibid., 52-53.
31
Ibid., 53.
32
Ibid., 54.
33
Ibid.
10
Ouvi, ó Israel, os estatutos e juízos que hoje vos falo aos ouvidos, para que os
aprendais e cuideis em os cumprirdes. O SENHOR, nosso Deus, fez aliança conosco em
Horebe. Não foi com nossos pais que fez o SENHOR esta aliança, e sim conosco, todos os
que, hoje, aqui estamos vivos. Face a face falou o SENHOR conosco, no monte, do meio
do fogo... dizendo: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei do Egito, da casa da servidão.
Não terás outros deuses diante de mim (Dt 5:1-7).
A menção à libertação do Egito servia como uma lembrança das promessas do concerto
divino e Sua fidelidade infalível para como o Seu povo. O restabelecimento do relacionamento com
Deus não era promovido apenas pela dádiva dos mandamentos, os próprios mandamentos eram
relacionais. Os quatro primeiros tratam do nosso relacionamento com Deus, os últimos seis com o
nosso relacionamento com o nosso semelhante. Os mandamentos têm como objetivo atender as
necessidades e promover o mais elevado bem da família pactual de Deus.34
O Sermão da Montanha, com freqüência, é visto como uma lista de ordens a ser obedecida.
Este tipo de análise superficial perde o foco central de nosso relacionamento com Deus. Por
exemplo, “Bem-aventurados os pobres de espírito” (Mt 5:3),35 poderia ser dito de outra maneira,
“Bem-aventurados são aqueles que olham para Deus a fim de receber as suas necessidades mais
acalentadas e para o estabelecimento de um relacionamento íntimo”. Estes ensinos de Jesus devem
ser analisados à luz de Sua cruz, porque o estilo de vida por Ele descrito é impossível de ser vivido
a parte do relacionamento com Ele. O próprio Cristo disse: “sem mim nada podereis fazer” (Jo
15:5).36
Em suma, embora o “fazer” seja enfatizado por toda a Bíblia, sempre é apresentado em
ligação com o relacionamento com Deus. Nunca aparece isoladamente para designar um dever ou
serviço a ser feito separado do encontro com Deus e com o semelhante.37
Havendo examinado as três dimensões vitais da personalidade humana, resta-nos saber
qual é a principal. Nossa discussão deixa claro que o princípio bíblico centraliza-se no coração. Não
há nada mais importante do que a transformação do coração através do relacionamento com Jesus
Cristo. Portanto, nas Escrituras o ser/coração é mais importante. Na verdade, o relacionamento
pessoal com Deus é um componente essencial da perspectiva bíblica das outras duas dimensões da
personalidade humana. O conceito escriturístico de “conhecer” envolve o relacionamento pessoal
com aquilo que é conhecido; o conhecimento deriva do encontro pessoal com Deus. E onde quer
que a Bíblia enfatize o “fazer”, é sempre dentro do contexto de relacionamento com Deus. Contudo,
os três aspectos do coração humano incorporam, realmente, em grande medida, todas as três
dimensões da personalidade humana: cognição (conhecer), afeto (ser/coração) e volição (fazer).
Assim, como já foi indicado, o ser/coração é o principal destaque do ensino bíblico.38
Força de Vontade no Espírito de Profecia
Há um capítulo no segundo volume de Mente, caráter e personalidade que trata do tema
da força de vontade. Tendo em vista o contexto de aconselhamento pastoral, é relevante que se
analise as principais citações sobre vontade. A seguir, destacam-se aquelas que merecem atenção:
34
Ibid., 54-55.
35
Versão de João Ferreira de Almeida revista e corrigida (ARC), (São Paulo: Sociedade
Bíblica do Brasil, 1993).
36
Ibid., 55.
37
Ibid.
38
Ibid., 55-56.
11
A Mola de Todas as Ações
Mas deveis lembrar-vos de que vossa vontade é a fonte de todas as vossas ações.
Mensagens aos Jovens, págs. 153; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:685.
Poder Governante em a Natureza do Homem
A vontade é o poder que governa a natureza do homem, pondo todas as outras
faculdades sob sua direção. A vontade não é gosto nem a inclinação, mas o poder que
decide, o qual atua nos filhos dos homens para obediência a Deus, ou para a desobediência.
Mensagens aos Jovens, pág. 151; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:685.
Tudo Depende de sua Reta Ação
O tentado necessita compreender a verdadeira força de vontade. É este o poder
que governa a natureza do homem - o poder de decisão, de escolha. Tudo depende da
devida ação da vontade. Os desejos em direção da bondade e da pureza, são em si mesmos
justos; mas, se aí ficamos, nada aproveitam. Muitos descerão à ruína, enquanto esperam e
desejam vencer suas más tendências. Eles não entregam a vontade a Deus. Não escolhem
servi-Lo. A Ciência do Bom Viver, pág. 176; citado em Mente, caráter e personalidade,
2:685.
A Impossibilidade Está em Nossa Vontade
Toda a nossa vida pertence a Deus e tem de ser usada para Sua glória. Sua graça
consagrará e aproveitará cada faculdade. Que ninguém diga: Eu não posso remediar meus
defeitos de caráter; pois, se chegardes a essa conclusão, por certo deixareis de alcançar a
vida eterna. A impossibilidade está em vossa própria vontade. Se não quiserdes, então não
podereis vencer. A real dificuldade provém da corrupção de corações não santificados, e na
relutância por submeter-se ao controle de Deus. The Youth's Instructor, 28 de janeiro de
1897; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:686.
O Espírito Santo não Substitui a Força de Vontade
O Espírito de Deus não Se propõe a fazer nossa parte, nem no querer nem no
fazer. Esta é a obra do agente humano, em cooperação com os agentes divinos. Logo que
inclinemos nossa vontade a harmonizar-se com a vontade de Deus, a graça de Cristo Se
apresenta para cooperar com o agente humano; não será, porém, substituto para fazer nosso
trabalho independentemente de nossa resolução e nossa decidida ação. Portanto, não é a
abundância de luz, e de evidência em cima de evidência, o que converterá a pessoa; é
unicamente o agente humano aceitando a luz, despertando as energias da vontade,
compreendendo e reconhecendo aquilo que ele sabe ser justiça e verdade, e assim
cooperando com os serviços celestiais designados por Deus para a salvação da alma. Carta
135, 1898; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:691.
A Vontade Determina a Vida ou a Morte
Unicamente a eternidade pode revelar o glorioso destino a que o homem,
restaurado à imagem de Deus, pode atingir. Para podermos alcançar esse elevado ideal, o
que leva a alma a tropeçar precisa ser sacrificado. É mediante a vontade que o pecado
retém seu domínio sobre nós. A entrega da vontade é representada como arrancar o olho ou
cortar a mão. Parece-se-nos muitas vezes que, sujeitar a vontade a Deus é o mesmo que
consentir em atravessar a vida mutilado ou aleijado. ...
Deus é a fonte da vida, e só podemos ter vida ao nos acharmos em comunhão com
Ele. ... Se vos apegais ao eu, recusando entregar a Deus a vossa vontade, estais preferindo a
morte. ...
Exigirá um sacrifício o entregar-se a Deus; é, porém, um sacrifício do inferior
pelo mais elevado, do terreno pelo espiritual, do perecível pelo eterno. Não é o desígnio de
12
Deus que nossa vontade seja destruída; pois é unicamente mediante o exercício da mesma
que nos é possível efetuar aquilo que Ele quer que façamos. Nossa vontade deve ser sujeita
à Sua a fim de que a tornemos a receber purificada e refinada, e tão ligada em
correspondência com o Divino, que Ele possa, por nosso intermédio, derramar as torrentes
de Seu amor e poder. O Maior Discurso de Cristo, págs. 61 e 62; citado em Mente, caráter
e personalidade, 2:693.
Para Compreender a Verdadeira Força de Vontade
Estarás em constante perigo, até que compreendas a verdadeira força de vontade.
Poderás crer e prometer todas as coisas, mas tuas promessas ou tua fé não terão nenhum
valor enquanto não puseres tua vontade do lado da fé e da ação. Se combateres o combate
da fé com toda a tua força de vontade, vencerás. Teus sentimentos, tuas impressões, tuas
emoções não merecem confiança, pois não são seguros. Testimonies, vol. 5, pág. 513;
citado em Mente, caráter e personalidade, 2:693.
A prática continuada de pecados acariciados é um comportamento de alto risco
espiritual para os cristãos. Como exemplo, menciona-se o caso de um irmão anônimo,
praticante inveterado da masturbação, por quem a irmã White, advertida por Deus em
sonho, recusou-se a orar:
O Caso do Irmão:
Meu marido e eu assistimos uma vez a uma reunião em que nossa atenção foi
solicitada para um irmão que sofria grandemente com a tuberculose. Achava-se magro e
pálido. Ele pedia as orações do povo de Deus. Disse que a família estava doente, e que
perdera um filho. Falava com sentimento acerca dessa perda. Disse que havia tempos
esperava poder ver o irmão e a irmã White. Acreditava que, se orassem por ele, seria
curado. Testemunhos seletos, 1:259.
Curvamo-nos naquela noite em oração, e apresentamos seu caso perante o Senhor.
Rogamos que pudéssemos conhecer a vontade de Deus a seu respeito. Todo o nosso desejo
era que Deus fosse glorificado. Queria o Senhor que orássemos por este enfermo?
Deixamos o caso com o Senhor, e recolhemo-nos para descansar. Num sonho o caso
daquele homem me foi claramente apresentado. Foi mostrado o seu procedimento desde a
infância, e que, se orássemos, o Senhor não nos ouviria; pois ele atendia à iniqüidade em
seu coração. Na manhã seguinte o homem veio para que orássemos por ele. Nós o
tomamos à parte, e dissemos-lhe que sentíamos ser forçados a recusar o seu pedido.
Contei-lhe meu sonho, que ele reconheceu ser a verdade. Ele praticava a masturbação
desde a infância, e continuara nessa prática através de sua vida de casado, mas disse que
procuraria romper com ela. Ibid., 260.
Quando os jovens adotam práticas vis enquanto o espírito é tenro, eles nunca
obterão força para desenvolver plena e corretamente personalidade física, intelectual e
moral. Ali estava um homem que se degradava diariamente, e todavia ousava arriscar-se a
entrar na presença de Deus, e pedir um acréscimo da força que ele vilmente dissipara, e
que se concedida, consumiria em sua concupiscência. Que paciência a de Deus! Se Ele
lidasse com o homem segundo seus caminhos corruptos, quem poderia viver à Sua vista?
Que seria se houvéssemos sido menos cautelosos e levado diante de Deus o caso desse
homem, enquanto ele praticava iniqüidade, teria o Senhor ouvido e atendido? "Porque Tu
não és um Deus que tenha prazer na iniqüidade, nem contigo habitará o mal. Os loucos não
pararão à Tua vista; aborreces a todos os que praticam a maldade." Sal. 5:4 e 5. "Se eu
atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá." Sal. 66:18.
Esse não é um caso isolado. Mesmo as relações matrimoniais não foram
suficientes para preservar esse homem dos hábitos corruptos de sua adolescência. Quisera
poder convencer-me de que casos como o que apresento são raros; sei, porém, que são
freqüentes. Ibid., 261.
13
Controlando a Vontade
Mas não precisais desesperar. ... Compete-vos ceder vossa vontade à vontade de
Jesus Cristo, e isto fazendo, Deus imediatamente toma posse e efetua em vós tanto o querer
como o realizar, segundo a Sua boa vontade. Vossa natureza toda será então posta sob o
controle do Espírito de Cristo, e mesmo vossos pensamentos Lhe serão submissos.
Não podeis controlar vossos impulsos, vossas emoções, tal qual o desejaríeis;
podeis, porém, controlar a vontade, e podeis operar uma inteira mudança em vossa vida.
Entregando a Cristo vossa vontade, vossa vida será escondida com Cristo em Deus, e
aliada ao poder que está acima de todo principado e potestade. Tereis, provinda de Deus,
força que vos prenderá a Sua força; e uma nova luz, a própria luz da viva fé, ser-vos-á
possível. Mas vossa vontade terá de cooperar com a vontade de Deus. Testimonies, vol. 5,
págs. 513 e 514; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:694.
Esta é uma apostila preparada pelo professor Natanael Moraes. Se desejar, pode
imprimir para uso pessoal. Por favor, respeite os direitos autorais do professor e não repasse
a outros.
14
Escolha do Cônjuge – Determinismo?
Natanael Moraes
A tese de que há uma pessoa exclusiva para cada um de nós tem como base a
predestinação divina. Deste modo, predestinação e determinismo estão associados.
Uma das consequências desta “predestinação conjugal” é a de que Deus
determina o nosso cônjuge à revelia de nossa vontade. Noutras palavras, pressupõe
que Deus é uma pessoa arbitrária e ditatorial.1
Há duas teorias sobre a presciência divina: uma é a presciência divina absoluta
e a outra é a presciência divina relativa. Quanto à presciência divina absoluta, esta se
subdivide em duas, a não causativa que aceita o livre arbítrio humano e a causativa,
por sua vez, determinista, ou seja, nega o livre arbítrio humano.
A presciência divina absoluta não causativa entende que Deus prevê o futuro
nos mínimos detalhes, bem como todas as ações dos seres livres, sem que isto
implique em determinismo ou predestinação.
A presciência divina absoluta causativa coloca ênfase sobre a soberania de
Deus e afirma que todas as coisas ocorrem pela vontade de Deus. As raízes desta
teoria estão em Agostinho que teve um forte defensor em Calvino. Para ele a graça
divina é destinada àqueles a quem Deus escolhe; Ele predestinou para o castigo e para
a salvação, inclusive o número de cada um dos casos para a salvação ou perdição está
fixado.
Quando argumentamos do ponto de vista da onisciência e da onipotência de
Deus, parece que o livre-arbítrio humano fica obliterado. Quando argumentamos com
base no livre-arbítrio humano, parece que a presciência e o poder divino de
determinar as ações são excluídos. Então surge a questão: até que ponto Deus
determina os acontecimentos humanos, e até que ponto o homem é livre em suas
ações?
O foco do presente estudo encontra-se na escolha do cônjuge. Tim Stafford
defende o ponto de vista de que Deus tem uma pessoa certa para cada cristão. Esta é
uma perspectiva baseada em pressupostos determinísticos comuns ao conjunto de
princípios defendidos pela teoria mais abrangente da predestinação calvinista.
Antes de passarmos a discussão específica do tema em foco, é preciso
conceituar melhor os termos predestinação e livre arbítrio segundo a Bíblia e o Espírito
de Profecia. Outros motivos teológicos estão envolvidos como o conflito entre o bem o
mal, a queda de Lúcifer, a queda de Adão e Eva, presciência de Deus, etc.
Para aqueles que acreditam numa presciência divina relativa, ou seja, que Deus
não conhece o futuro no sentido absoluto o ponto crucial é: "se Deus conhece todas as
1
Para uma melhor noção sobre o tema da presciência divina, ver o artigo de Albert R. Timm,
“Presciência Divina – Relativa ou Absoluta” em O Ministério Adventista, novembro-dezembro de 1984,
pp. 13-22.
1
coisas de antemão, toda a liberdade de ação parece ser excluída".2 Deste modo, para
que o livre arbítrio humano seja mantido, o conceito da presciência divina é
relativizado, ou seja, para os seus defensores, Deus não tem conhecimento prévio de
todas as nossas ações. Na verdade, esta posição torna Deus dependente do homem.3
Predestinação e Livre-Arbítrio
Predestinação e livre-arbítrio são dois conceitos aparentemente contraditórios.
Como a Bíblia estabelece a ambos, não podemos advogar apenas um deles, em
detrimento do outro; pois "quando argumentamos dedutivamente, com base na
onisciência e na onipotência de Deus, o livre-arbítrio humano parece ser obliterado.
Por outro lado, quando argumentamos dedutivamente, com base no livre-arbítrio
humano, a presciência e o poder divino de determinar as ações parecem excluídos".4
Assim surge a indagação: Até que ponto Deus determina os acontecimentos humanos,
e até que ponto o homem é livre em suas ações?
Ao desenvolver o tema da predestinação, Calvino citou Agostinho que
comentara a queda de Adão, “o homem não somente *a si mesmo+ se perdeu, mas
ainda a seu arbítrio”.5 A noção agostiniana sobre a natureza humana pecaminosa
depois da queda esclarece porque o cristão precisa de Deus para fazer o bem. A noção
de total depravação da natureza humana decaída explica a ausência do livre arbítrio no
ser humano, daí a total dependência de Deus para escolher fazer o bem. 6
Segundo Calvino, a soberania divina sobre o ser humano é plena e lhe exclui o
livre-arbítrio, “*Ele+ próprio efetua em nós o querer, *o+ que outra [cousa] não é senão
que o Senhor, por Seu Espírito, nos dirige, inclina, governa o coração e nele reina como
em domínio Seu”.7
A seguir o conceito calvinista da predestinação, “Chamamos predestinação o
eterno decreto de Deus pelo qual houve em si [por] determinado quê acerca de cada
homem quisesse acontecer. Pois, não são criados todos em igual condição; pelo
contrário, a uns é preordenada a vida eterna, a outros a eterna danação. Portanto,
como criado foi cada qual para um ou outro (desses dois) fins, assim [o] dizemos
predestinado ou para a vida, ou para a morte. Esta [predestinação], porém, Deus há
atestado não só em cada pessoa, mas também exemplo lhe deu em toda a
2
Herman Bavinck, The Doctrine of God (Edimburgo: The Banner of God Trust, 1979), 189, citado em
Albert R. Timm, “Presciência Divina – Relativa ou Absoluta” em O Ministério Adventista, novembrodezembro de 1984, 14.
3
Bavinck, 189, citado em Timm, 14.
4
Sanday, em Russell N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado (Guaratinguetá, SP: A Voz da Bíblia,
s.d.), 3:727, citados em Timm, 14.
5
Agostinho, Enchiridion – manual, cap. IX, seção 30 (PLM, vol. XL, p. 246), citado em João Calvino, As
institutas (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985), 2:24.
6
Idem, Sermão CLXXVI, seção V e, também, seção VI (PLM, vol. XXXVIII, pp. 952-953), citado em Calvino,
2:46.
7
João Calvino, As institutas (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985), 2:61.
2
descendência de Abraão, de onde fizesse manifesto que Lhe está no arbítrio de que
natureza seja a condição futura de cada nação”.8
Essa doutrina afirma ainda que Cristo morreu apenas pelos "eleitos de Deus",
para os quais a graça salvadora de Deus é concedida incondicionalmente; enquanto
que para o restante da humanidade não há esperança de salvação.9
Dentro do contexto da discussão específica sobre escolha do cônjuge, a posição
que afirma ter Deus uma pessoa certa (determinada) para cada crente nega
peremptoriamente o livre-arbítrio humano, o que não é condizente com o testemunho
das Escrituras. Assim sendo, você não tem que escolher, já que seu livre-arbítrio não é
levado em conta por Deus. O que a pessoa precisa é descobrir quem Deus escolheu
para ela. Se este fosse o caso, como se daria a revelação desta informação, por
revelação ou por inspiração profética?
Tratemos, agora, do livre-arbítrio. O relato da criação e da queda do homem,
no livro de Gênesis, estabelece a doutrina do livre-arbítrio humano — de um lado está
a ordem divina a Adão: "Da árvore da ciência do bem e do mal não comerás" (2:17), e
do outro, a transgressão dessa ordem: "e ele comeu" (cap. 3:6). Este episódio
demonstra claramente que as ordens divinas podem ser transgredidas por Suas
criaturas dotadas de livre-arbítrio.10 Se, porventura, a hipótese da predestinação
calvinista fosse verdadeira, haveria uma pergunta, "Uma vez que somos todos
pecadores, por que uma pessoa deveria ser escolhida para honra e outra para desonra?"11 Obviamente isto lançaria uma sombra de dúvida sobre a justiça de Deus.
A predestinação calvinista afirma que a graça salvadora de Deus é concedida
apenas aos que Ele predestinou à salvação; porém o conceito bíblico não suporta esta
posição. Isaías 55:1 diz: "Ah! todos vós os que tendes sede, vinde às águas...", e Cristo
ratifica essas palavras com o convite: "Vinde a Mim todos..." (S. Mat. 11:28), e ordena
que as boas-novas da salvação devem ser pregadas "a toda criatura" (S. Marc. 16:15).
A Bíblia aprofunda ainda mais esse conceito ao declarar que Deus "deseja que todos os
homens sejam salvos" (I Tim. 2:4), e que Ele não quer "que nenhum pereça, senão que
todos cheguem ao arrependimento" (2 Pe 3:9); e a ordem divina é: "Agora, porém,
notifica aos homens que todos em toda parte se arrependam" (Atos 17:30). Assim, “O
convite a todos para que se arrependam seria um escárnio ao nome de Deus se os
homens não se pudessem arrepender".12 A Bíblia acrescenta, porém, que "Deus não
faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o
que é justo Lhe é aceitável" (Atos 10:34 e 35).13
8
Idem, 3:389.
Timm, 14.
10
Ibid.
11
J. Ivan Crawford, Buscando a glória de Deus, Lição da Escola Sabatina, abril-junho de 1982, ed. Do
professor, 60, citado em Timm, 14.
12
Pedro Apolinário, Análise de textos bíblicos de difícil interpretação (São Paulo: Instituto Adventista de
Ensino, 1980), 1:19, citado em Timm, 14-15.
13
Timm, 14-15.
9
3
Ellen White confirma a noção bíblica de livre-arbítrio, "Não é um decreto
arbitrário da parte de Deus que veda o Céu aos ímpios; estes são excluídos por sua
própria inaptidão para dele participar”.14 Se o destino de cada indivíduo já estivesse
predeterminado desde a eternidade, para a salvação ou para a perdição, a
proclamação do evangelho perderia o seu sentido. Os homens não seriam mais
moralmente responsáveis, e Deus, em última análise, seria responsável pela perdição
dos impenitentes, o que faria da punição do pecado – a cada um “segundo as suas
obras” (Ap 20:12) – uma farsa e uma injustiça; pois tais obras teriam sido o resultado
do desígnio divino. Isto é completamente contrário ao conceito bíblico! 15
Do mesmo modo, no tema específico do casamento, se o cônjuge de cada
pessoa estivesse predeterminado desde a eternidade por Deus tal fato anularia
completamente o livre-arbítrio do ser humano e, consequentemente, a
responsabilidade pela escolha do parceiro(a).
Presciência Divina e Origem do Mal
A Bíblia declara que o pecado se originou em Lúcifer, um ser perfeito que veio a
rebelar-se contra Deus (Ez 28:14 e 15; Is 14:12-15), o qual, após suscitar "peleja no
Céu", foi expulso (Ap 12:7-9). Posteriormente, ele induziu também os nossos primeiros
pais ao pecado. O Espírito de Profecia diz a esse respeito, e com relação ao plano
divino para a salvação do homem: "O plano de nossa redenção não foi um pensamento
posterior, formulado depois da queda de Adão.... Desde o princípio Deus e Cristo
sabiam da apostasia de Satanás, e da queda do homem mediante o poder enganador
do apóstata. Deus não ordenou a existência do pecado. Previu-a, porém, e tomou
providências para enfrentar a terrível emergência".16 Em outras palavras, "Deus tinha
um conhecimento dos eventos do futuro, mesmo antes da criação do mundo. Ele não
fez Seus propósitos para se ajustarem às circunstâncias, mas permitiu que as coisas se
desenvolvessem e surtissem efeito. Ele não agiu para produzir certas condições, mas
sabia que tais condições iriam existir".17
Se Deus sabia, porém, de antemão, que Lúcifer e nossos primeiros pais cairiam
em pecado, por que Ele os criou? — Cristo "sabia que Lúcifer procuraria tirar-Lhe a
vida durante o Seu ministério terrestre e que finalmente conseguiria fazê-lo no
Calvário. Sabia que Lúcifer tentaria induzi-Lo a abusar do poder de Seu Pai ou de Seu
próprio poder. Ele sabia também a parte que seria desempenhada por homens e
mulheres. Mas a eterna presciência de Cristo dos contínuos e definidos efeitos dos
14
Ellen G. White, Caminho a Cristo, 18, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, s.d.), 1CD-Rom.
15
Timm, 15.
16
Ellen G. White, O desejado de todas as nações, 22, Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom.
17
Idem, em Seventh-day Adventist Bible Commentary (SDABC), ed. Francis D. Nichol (Hagerstown, MD:
Review and Herald, 1976), 6:1082.
4
pecados dos outros sobre Ele foi superada por Seu eterno amor. Prosseguiu na criação
dos anjos e do homem a despeito do terrível custo para Sua própria Pessoa”. 18
Mas, o fato de Cristo os ter criado, apesar de saber previamente que eles
cairiam, não torna Deus, em última análise, o autor do pecado? — A questão básica na
compreensão deste assunto é fazermos "a diferença entre praescientia e
praedestinatio, isto é, entre a presciência e a eterna eleição de Deus. A presciência de
Deus nenhuma outra coisa é senão isso que Deus sabe todas as coisas antes de
acontecerem",19 mas ela "não é causativa em si mesma".20
Escolha do Conjuge e Predestinação
Analisemos a questão da escolha do cônjuge sob a perspectiva do tema da
predestinação. Se Deus tivesse uma única pessoa para cada um de nós, Ele teria que:
criar uma especialmente para cada um de nós, como o fez para Adão ou teria que
conceder o dom profético para todos os seres humanos para que assim pudessem
encontrar a pessoa que Ele designou para cada um deles. Sem o dom profético da
revelação nunca encontrariam a pessoa certa designada por Deus. Seria mais ou
menos assim: “Aqui está a mulher da sua vida, revelada especialmente através de um
sonho ou visão”. Se não fosse por revelação especial de Deus a cada um de nós, como
saberíamos qual pessoa Ele tem para nós?
Quando Deus, em Sua soberania, decide que alguém realize uma
responsabilidade especial, seja como profeta, seja como rei, Ele o faz livremente,
através de uma revelação especial: “Ora, o SENHOR, um dia antes de Saul chegar, o
revelara a Samuel, dizendo: 16 Amanhã a estas horas, te enviarei um homem da terra
de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o
meu povo das mãos dos filisteus; porque atentei para o meu povo, pois o seu clamor
chegou a mim. 17 Quando Samuel viu a Saul, o SENHOR lhe disse: Eis o homem de
quem eu já te falara. Este dominará sobre o meu povo” (1Sa 9:15-17).
É óbvio que não funciona assim. Outro problema gerado pela tese de uma
pessoa exclusiva para cada um de nós é que ela anula a liberdade de escolha do ser
humano. Se Deus tem uma única pessoa para mim, então minha parte é apenas
receber por revelação especial aquela pessoa que Ele designou para mim. Não há
margem para escolha, apenas aceitação. Tal fato transmitiria uma noção errônea do
caráter de Deus, pois faria dEle um tirano, um ditador. “Olha, tome esta pessoa como
seu cônjuge. Você não pode reclamar nem devolver”. Ou seja, tudo já estaria
determinado antecipadamente por Deus. Em teologia isto se denomina predestinação.
18
Norman R. Gulley, O sacrifício expiatório de Cristo, Lição da Escola Sabatina, janeiro-março de 1983,
ed. do professor, 5, citado em Timm, 16.
19
Livro de concórdia, As confissões da Igreja Evangélica Luterana (São Leopoldo, RS: Editora Sinodal,
Editora Concórdia, 1980), 532, citado em Timm, 16.
20
Augustus H. Strong, Systematic Theology (Valley Forge, PA: Judson Press, 1979), 286, citado em Timm,
16.
5
O que Deus determina é um tipo de caráter, não uma pessoa exclusiva: “Pesem,
os que pretendem casar-se, todo sentimento e observem todas as modalidades de
caráter naquele com quem desejam unir o destino de sua vida. Seja todo passo em
direção do casamento caracterizado pela modéstia, simplicidade, e sincero propósito
de agradar e honrar a Deus”.21 Outra citação que segue o mesmo conselho e, “...
receba a jovem como companheiro vitalício tão somente ao que possua traços de
caráter puros e varonis, que seja diligente, honesto e tenha aspirações, que ame e
tema a Deus”.22
Neste mesmo livro, Ellen White continua sua orientação:
“Antes de dar a mão em casamento, deveria toda mulher indagar se aquele
com quem está para unir seu destino, é digno. Qual é seu passado? É pura a sua vida?
É o amor que ele exprime de caráter nobre, elevado, ou é simples inclinação emotiva?
Tem os traços de caráter que a tornarão feliz? Poderá ela encontrar verdadeira paz e
alegria na afeição dele? Ser-lhe-á permitido, a ela, conservar sua individualidade, ou
terá de submeter seu juízo e consciência ao domínio do marido? Como discípula de
Cristo, ela não pertence a si mesma, foi comprada por preço. Pode honrar as
reivindicações do Salvador como supremas? Serão conservados puros e santos o corpo
e a alma, os pensamentos e propósitos? Essas perguntas têm influência vital sobre o
bem-estar de toda mulher que se casa”.23
Continuando a ênfase sobre o caráter do pretendente, ela orienta aos jovens
consultarem os pais e acrescenta, “Consultai a Deus e a vossos pais tementes a Deus,
jovens amigos. Orai sobre o assunto. Pesai cada sentimento e observai todo
desenvolvimento de caráter na pessoa a quem pretendeis ligar o destino de vossa
vida”.24
Aparente Evidência de Determinismo Divino na Escolha do Cônjuge
A definição de Rebeca como esposa de Isaque tem sido apresentada como
evidencia de que Deus é quem determina a esposa de cada marido, ou seja, um tipo de
predestinação matrimonial: “Ó SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, rogo-te que me
acudas hoje e uses de bondade para com o meu senhor Abraão! Eis que estou ao pé da
fonte de água, e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água; dá-me, pois,
que a moça a quem eu disser: inclina o cântaro para que eu beba; e ela me responder:
Bebe, e darei ainda de beber aos teus camelos, seja a que designaste para o teu servo
Isaque; e nisso verei que usaste de bondade para com o meu senhor” (Gn 24:12-14).
De fato, o texto diz, “designaste”, portanto, em resposta a oração de Eliézer Deus lhe
mostrou quem deveria ser a esposa de Isaque.
Ellen White lembra alguns dos costumes dos tempos antigos, “Os contratos de
casamento eram geralmente feitos pelos pais, contudo nenhuma compulsão era usada
21
Idem, Mensagem aos jovens, 435, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom.
Ibid.
23
Ibid., 439.
24
Ibid., 449.
22
6
para forçá-los a casar com quem não amavam. Mas os filhos tinham confiança no
julgamento dos pais, e seguiam-lhes o conselho concedendo suas afeições àqueles que
seus tementes e experientes pais escolhiam para eles. Era considerado crime seguir
caminho contrário”.25 Este texto descreve o costume da época que fora aceito por
Isaque.
Mais a frente, Ellen White, em seu comentário, acrescenta que no caso de
Isaque, este confiava “na sabedoria e afeição de seu pai, estava satisfeito com a
entrega desta questão a ele, crendo também que o próprio Deus dirigiria na escolha a
fazer-se”.26 O texto não trata de determinismo, mas de confiança na orientação dos
pais. Estes, evidentemente, como era o caso de Abraão, confiavam na direção de Deus.
Observe-se que Abraão não disse a Eliézer, “Vá e busque uma jovem por nome
Rebeca, pois Deus me revelou que esta deverá ser a esposa de meu filho”. Ele apenas
assegurou a Eliézer que "O Senhor, Deus dos Céus", disse ele, "que me tomou da casa
de meu pai e da terra da minha parentela, ... enviará o Seu anjo adiante da tua face"
(Gn 24:7).
Eliézer havia aprendido com Abraão a confiar em Deus. Nem Abraão, nem ele
tinham recebido uma revelação especial sobre aquela que deveria ser a esposa de
Isaque. Então Eliézer decidiu pedir a Deus um sinal (Gn 24:12-14) que foi prontamente
respondido.
A atitude de Rebeca em atender ao pedido de Eliézer foi uma resposta de Deus
a sua oração. Mas isto não significa determinismo, porque o livre-arbítrio dela foi
respeitado, “Chamemos a moça e ouçamo-la pessoalmente. Chamaram, pois, a Rebeca
e lhe perguntaram: Queres ir com este homem? Ela respondeu: Irei” (Gn 24:57-58).
Ellen White comenta este ato de Rebeca, “Depois de obter-se o consentimento da
família, a própria Rebeca foi consultada quanto a ir ela a uma tão grande distância da
casa de seu pai para casar-se com o filho de Abraão. Ela acreditava, pelo que havia tido
lugar, que Deus a escolhera para ser a esposa de Isaque”.27
O caso específico do casamento de Isaque não pode ser empregado para
comprovação de predestinação conjugal, mas de resposta de Deus ao pedido de
Eliézer. Aquela foi uma situação singular, não a regra geral. O normal era os filhos
confiarem na orientação dos pais para definir o seu respectivo cônjuge.
Se, porventura, a Bíblia e o Espírito de Profecia ensinassem que é Deus quem
previamente determina uma pessoa exclusiva para cada um dos crentes, isto deveria
ser claramente apresentado. Mas não é este o caso. Mais a frente, no capítulo de
Patriarcas e profetas que trata do casamento de Isaque, Ellen White faz as seguintes
aplicações: “Se há um assunto que deve ser cuidadosamente considerado, e no qual se
deve procurar o conselho de pessoas mais velhas e experientes, é o do casamento; se
a Bíblia já foi necessária como conselheira, se a direção divina em algum tempo
25
Idem, História da redenção, 85-86, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom.
Ibid.
27
Ibid., 173.
26
7
deveria ser procurada em oração, é antes de dar um passo que liga pessoas entre si
para toda a vida. Os pais nunca devem perder de vista sua responsabilidade pela
felicidade futura de seus filhos. O respeito de Isaque aos conselhos de seu pai foi o
resultado do ensino que o habilitou a amar uma vida de obediência. Ao mesmo tempo
em que Abraão exigia de seus filhos que respeitassem a autoridade paterna, sua vida
diária testificava que essa autoridade não era um domínio egoísta ou arbitrário, mas
que se fundava no amor, e tinha em vista o bem-estar e felicidade deles.
Pais e mães devem sentir que se lhes impõe o dever de guiar as afeições dos
jovens, a fim de que possam ser colocadas naqueles que hajam de ser companheiros
convenientes. Devem sentir como seu dever, pelo seu próprio ensino e exemplo, com
a graça auxiliadora de Deus, modelar de tal maneira o caráter de seus filhos desde os
seus mais tenros anos, que sejam puros e nobres, e sejam atraídos para o bem e para
o verdadeiro. Os semelhantes atraem os semelhantes; os semelhantes apreciam os
semelhantes. Que o amor pela verdade, pureza e bondade seja cedo implantado na
alma, e o jovem procurará a companhia daqueles que possuem essas
características”.28
Se porventura defendesse a noção de que Deus é quem determina desde a
eternidade a união dos cônjuges, Ellen White teria aproveitado a oportunidade para
defender esta noção em seu comentário sobre o casamento de Isaque com Rebeca. Ao
contrário, ela destacou o relevante papel dos pais em orientar os filhos na devida
escolha. Basta considerar com atenção o contexto acima referido.
Deus pode ser consultado na escolha do cônjuge, como o fez Eliézer para a
escolha da esposa de Isaque, mas isto não retira o exercício do livre arbítrio humano
para o cumprimento da vontade de Deus. É bom lembrar que “A oração move o braço
da Onipotência. Aquele que comanda as estrelas na sua órbita nos céus, e cuja palavra
controla as águas do grande abismo - o mesmo Criador infinito atuará em favor do Seu
povo, se O invocarem com fé”,29 inclusive na escolha do cônjuge.
O soberano Deus dispõe de poder para definir a escolha do cônjuge no
presente em resposta à oração de fé, mas não significa que Ele tenha determinado isto
na eternidade e que não respeite o livre arbítrio humano. O fato de que Ele conhece
de antemão todas as coisas não implica em que Ele é o causador de todas as coisas.
A Relação Entre Soberania de Deus e Livre-Arbítrio Humano
A bem da verdade, em teologia existem várias tensões. Uma delas é entre
soberania de Deus e livre-arbítrio. Por exemplo, se a definição do cônjuge está nas
mãos de Deus, a atividade do ser humano não a afeta; se depende da ação humana,
não está nas mãos de Deus. Como se pode constatar, é o antigo problema do
determinismo contra o livre arbítrio. A primeira alternativa pode conduzir à
passividade: porque deveriam os seres humanos se preocupar se suas ações não
28
29
Idem, Patriarcas e profetas, 175-176, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom.
Idem, Nos lugares celestiais, 351, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom.
8
afetam os planos de Deus? Mas o segundo pode levar à ansiedade: como fazer a
escolha certa se tudo depende apenas de mim?
O estudo da relação entre soberania divina com livre-arbítrio humano na Bíblia
permite que se vislumbre uma parceria ideal. Tomemos, por exemplo, as profecias de
tempo referentes à primeira vinda de Jesus, como Daniel 9:24-27; Isaías 7:14, etc.
Evidentemente eram profecias incondicionais quanto ao fator tempo, contudo o seu
cumprimento dependia da livre aceitação por parte dos escolhidos para que elas se
cumprissem. Este foi o caso de Maria perante o anjo, “Descerá sobre ti o Espírito
Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente
santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35). Maria poderia ter
recusado a incumbência celeste, mas não, ela espontaneamente disse, “Aqui está a
serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lc 1:38). De modo
objetivo, o relato acima confirma a declaração bem colocada por Harold H. Rowley, “O
Paradoxo da graça é que o ato que emana totalmente de Deus pode ser realizado
através do homem”.30
Por sua vez, ao discorrer sobre soberania divina e livre arbítrio no contexto da
visão de Ezequiel no rio Quebar, disse Ellen White: “Todos estão pela sua própria
escolha decidindo o seu destino, e Deus está governando acima de tudo para o
cumprimento de Seu propósito”.31
Não existe conflito entre a soberania de Deus e livre arbítrio humano. Basta
que lembremos o chamado profético de William Foy e Hazen Foss. Ambos recusaram o
chamado divino por livre e espontânea vontade, ao contrario de Ellen White. Deus
respeitou a recusa de ambos em exercer o ministério profético, mas exaltou a decisão
de Ellen White em aceitar desempenhá-lo.32 Ao final de tudo, Sua soberania foi
exercida porque Seu propósito de conceder a igreja remanescente um voz de
orientação profética foi alcançado.
Resumo e Conclusão
O presente trabalho estudou o tema da escolha do cônjuge pela perspectiva de
dois pontos de vistas antagonistas, o da presciência absoluta causativa e a não
causativa.
A presciência absoluta causativa defende: 1) a soberania total de Deus; 2) todas
as coisas acontecem pela vontade exclusiva de Deus; 3) o ser humano não tem livre
arbítrio; 4) salvação e perdição de cada pessoa estão decretados desde a eternidade
por Deus; 5) Deus é quem determina o cônjuge.
A presciência absoluta não causativa defende: 1) a soberania de Deus; 2) o
respeito ao livre arbítrio humano; 3) salvação ou perdição dependem da aceitação ou
rejeição humana da redenção gratuitamente oferecida por Deus; 4) a escolha do
cônjuge é uma questão definida pessoalmente.
O plano da redenção em Cristo, Sua encarnação, vida, morte, ressurreição e
intercessão reconhece a presciência divina que anteviu a entrada do pecado no céu
por Lúcifer e na terra por Adão, mas não o causou, apenas proveu-lhe uma solução
satisfatória.
30
Harold H. Rowley, A importância da literatura apocalíptica (São Paulo: Edições Paulinas, 1980), 177.
Ellen G. White, Educação, 178, em OEGW, 1CD-Rom.
32
Para uma melhor noção sobre o chamado profético de Foy e Foss, ver Herbert E. Douglas, Mensageira
do Senhor (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2002), 38.
31
9
O testemunho geral da Bíblia corrobora a posição da presciência absoluta não
causativa, pois se o destino de cada indivíduo já estivesse predeterminado desde a
eternidade, para a salvação ou para a perdição, a pregação do evangelho não teria
sentido. Os homens não seriam mais moralmente responsáveis, e Deus seria
responsável pela perdição dos impenitentes, o que faria da punição do pecado
segundo as obras uma farsa e uma injustiça; pois tais obras teriam sido o resultado do
desígnio divino.
No caso do casamento, se o cônjuge de cada pessoa estivesse predeterminado
desde a eternidade por Deus tal fato anularia completamente o livre-arbítrio do ser
humano e, consequentemente, a responsabilidade pela escolha do parceiro(a).
Se a predestinação conjugal fosse verdadeira, Deus teria que criar uma esposa
especialmente para cada um de nós, como o fez para Adão, ou teria que conceder o
dom profético para todos os seres humanos para que assim pudessem encontrar a
pessoa que Ele designou para cada um deles. Sem o dom profético da revelação ou
inspiração nunca encontrariam a pessoa certa designada por Deus.
O que Deus determina é um tipo de caráter exclusivo (temente a Deus), não
uma pessoa exclusiva! As fontes de orientação, tais como o próprio Deus, a Bíblia, a
oração, o conselho dos pais, são recursos disponíveis que favorecem uma livre escolha
do cônjuge conveniente.
O casamento de Isaque e Rebeca, ao invés de corroborar o determinismo
divino do cônjuge desde a eternidade, exalta a submissão do filho à orientação do pai
para a escolha da companheira como um modelo a ser seguido na atualidade.
Fica evidente que Deus pode ser consultado na escolha do cônjuge, como o fez
Eliézer para a escolha da esposa de Isaque, mas isto não retira o exercício do livre
arbítrio humano para o cumprimento da vontade de Deus. Lembre-se que Rebeca teve
a opção de rejeitar o pedido de casamento e a mudança para a terra de Isaque.
Alguns têm dificuldade em harmonizar soberania divina e livre arbítrio humano.
Se a definição do cônjuge está nas mãos de Deus, a atividade do ser humano não a
altera; se depende da ação humana, não está nas mãos de Deus; é o retorno da
controvérsia entre determinismo e livre arbítrio. A primeira alternativa conduziria à
passividade: porque deveriam as pessoas se preocupar se suas ações não afetam os
planos de Deus? Mas o segundo gera ansiedade: como fazer a escolha certa se tudo
depende apenas de mim?
A experiência de William Foy, Hazen Foss e Ellen White comprova que Deus
respeita o livre arbítrio humano tanto para rejeitar quanto para aceitar o chamado
profético, mas ao final de tudo, Ele exerce Sua soberania quando confere à igreja
remanescente a guia inspirada por meio de Ellen White.
Em suma, o testemunho geral da Bíblia e do Espírito de Profecia corrobora que
a escolha do cônjuge pode ser orientada por Deus, desde que solicitada com fé.
Contudo esta orientação não implica que tenha sido predeterminada por Deus desde a
eternidade, ao contrario, este direcionamento divino requer o exercício humano da
liberdade e responsabilidade correspondentes.
10
Embora saiba desde a eternidade quais serão nossas escolhas, não é Deus
quem determina nosso futuro cônjuge. A única coisa que Ele define é que a escolha do
futuro cônjuge tome em consideração um caráter cristão nobre.
Afinal, se houvesse apenas uma pessoa designada por Deus, os viúvos não
teriam direito a novo casamento. Estariam condenados a uma solidão permanente, já
que a “predeterminada” morreu!
11
Anuario de Psicologia
2003, vol. 34, no 2,215-233
O 2003, Facultat de Psicologia
Universitat de Barcelona
Maltrato de-mujeresy misoginia: estudio empirico
sobre un posible factor explicativo*
Esperanza Bosch
Victoria A. Ferrer
Universitat de les Illes Balears
-
Las creencias y actitudes misóginas han sido propuestas como un posible factor explicativo del fenómeno de la violencia de género. En este trabajo
se analiza empíricamente su posible papel en el caso del maltrato de mujeres.
Concretamente, llevamos a cabo un análisis comparativa entre las actitudes
misóginas de maltratadores y no maltratadores. La ccSexist Attitudes toward
Women Scaleu (Benson y Vincent, 1980) y la ccHusband's Patriarchal Beliefs,)
(Smith, 1990)fueron aplicadas a una muestra de 142 mujeres maltratadas y
142 no maltratadas, preguntándoles por las actitudes y creencias de sus cdnyuges. Los resultados obtenidos muestran que en términos generales 10s maltratadores muestran más creencias y actitudes misóginas que 10s no maltratadores. Se analizan y discuten estos resultados y sus implicaciones.
Palabras clave: misoginia, maltrato de mujeres.
Misogynist beliefs and attitudes may help to explain gender violence.
This research analyses their possible role in domestic violence, comparing
misogynist attitudes in batterers and non-batterers. The cSexist Attitudes
toward Women Scalep (Benson & Vincent, 1980) and ccHusbandls Patriarchal
Beliefs)) (Smith, 1990) were applied to a sample of 142 victims of domestic violence and I42 female non-victims, who were asked about their husbands'attitudes and beliefs. Those results are discussed.
Key words: Misogyny, domestic violence.
De acuerdo con las consideraciones de diversos organismos nacionales e internacionales que se ocupan del tema (Organización de Naciones Unidas, Organización
Mundial de la Salud, Parlamento Europeo, Instituto de la Mujer, ...) el térrnino <<vio* Este trabajo se realizó en el marco de un proyecto de investigación financiado por el Programa Sectorial de Promocidn General del Conocimiento de la Dirección General de Enseñanza Superior e Investigación Científica del Ministeri0 de Educación y
Cultura (PB98-0122).
Correspondencia:Facultad de Psicologia. Universitat de les Illes Balears. Cira. Valldemossa km 7'5. 07071 Palma de Mallorca.
Baleares.Correoelectrónico: [email protected],es
216
E. Bosch y I!A. Ferrer
lencia doméstica o familiar>>suele emplearse para referirse a toda forma de violencia
(física, sexual o psicológica) o arnenaza de emplearla que pone en peligro la seguridad o el bienestar de un miembro de la familia, incluyendo el maltrato infantil, el
incesto, el maltrato de mujeres y 10s abusos sexuales o de otro tipo contra cualquier
pelrsona que conviva bajo el mismo techo. De entre todos estos tipos de violencia,
nuestro trabajo se centra en el denominado maltrato de mujeres, es decir, en la violencia ejercida contra las mujeres por su pareja (o ex-pareja).
Una parte importante de las investigaciones sobre el tema se ha centrado en
desarrollar modelos explicativos que permitan entender por qué ocurre y, en base a
ello, diseñar programas de prevención y tratamiento. Aunque la exposición detallada
de 10s modelos explicativos desarrollados hasta la fecha excede 10s propósitos de este
articulo, si cabe recordar que se pueden agrupar en dos grandes bloques (Villavicencio, 1993; Villavicencio y Sebastián, 1999): teorías psicológicas y sociológicas.
Las teorías psicológicas buscan la causa del maltrato en factores individuales,
y muy especialmente en la presencia de psicopatologia. Actualmente estos factores
están descartados como causa única (Roberts et al., 1998) y se cuestiona si la psicopatologia del maltratador desempeña algún papel en la génesis de este problema
(Ferrer et al., 2002).
Las teorías sociológicas incluyen, en opinión de Johnson (1995), la denominada perspectiva de la violencia familiar y la perspectiva feminista. Desde la perspectiva de la violencia familiar se considera que el origen del maltrato est6 en la crisis de
la institución familiar, generada por 10s estresores externos y 10s cambios a 10s que
est6 sometida. Se considera que, cuando se da, esta violencia no aumenta y que hombres y mujeres son violentos por igual e igualmente responsables del problema, aunque las mujeres lleven la peor parte de las consecuencias. Desde la perspectiva feminista se considera que el maltrato tiene su origen en 10s valores patriarcales que llevan
a 10s hombres a tratar de someter a las mujeres. En este sentido, se piensa que en las
relaciones de maltrato suele existir una <<escaladade violencia>>con objeto de generar
primero, y mantener, después el control y que la violencia en la pareja es ejercida por
10s hombres y padecida por las mujeres.
Los modelos multicausales (Stith y Rosen, 1992; Stith y Farley, 1993; Corsi
1995; Berkowitz 1996; O'Neil y Harway 1997;Echeburúa y Fernández-Montalvo 1998;
Heise 1998) consideran el maltrato de mujeres como un fenómeno complejo que s610
puede ser explicado a partir de la intervención de un conjunt0 de factores diversos,
incluyendo factores individuales, sociales y del contexto concreto de la pareja.
Entre 10s factores que se barajan en estos modelos están las creencias y actitudes de 10s maltratadores. Asi, por ejemplo, Walker (1984), Briere (1987) y FernándezMontalvo y Echeburúa (1997) obtuvieron resultados que relacionaban la presencia de
creencias y actitudes negativas de 10s maltratadores hacia las mujeres con el maltrato,
mentras Neidig, Friedman y Collins (1986) no observaron relación en este sentido.
Por su parte, 10s resultados obtenidos por Dobash y Dobash (1978), Rosembaum
y O'Leary (1981), Walker (1983), Telch y Lindquist (1984), Saunders et al. (1987) y
Crossman, Stith y Bender (1990) establecieron la existencia de una relación entre la
adscripción de 10s maltratadores al estereotipo de rol de género tradicional y la presencia de maltrato. En cambio, 10s resultados de Browning (1983), LaViolette, Barnett y
Miller (1984), Hotaling y Sugarman (1986) y Dutton (1988) negaban dicha relación.
Trabajos como 10s de Yllo y Straus (1984) y Smith (1990) detectaron que la
presencia de maltrato estaba estrechamente relacionada con la ideologia patriarcal de
10s maltratadores.
Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233
O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
Malrrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativo
217
Finalmente, Briere (1987) y Saunders et al. (1987) observaron que la actitud
positiva hacia la violencia (interpersonal o contra la pareja) y la presencia de maltrato
de mujeres estaban relacionadas. Browning (1983) y Dutton (1988) obtuvieron resultados contrarios.
Por 10 que se refiere a 10s modelos explicativos, además de en la teoria feminista, las actitudes se incluyen con mayor o menor suerte en casi todos 10s modelos
multicausales citados. Asi, por ejemplo, Stith y Farley (1993) incluyen en su modelo
el igualitarismo de rol sexual y las actitudes positivas hacia la violencia doméstica.
Corsi (1995) y Heise (1998) examinan la función de las creencias y valores patriarcales imperantes. Berkowitz (1996) considera que las normas y valores sociales que
legitiman el dominio masculino en la familia y la sociedad y la dependencia femenina favorecen la aparición de violencia familiar. O'Neil y Harway (1997) se refieren
explicitarnente a las actitudes misóginas como factores que simultáneamente actúan
como predisponentes y provocadores del maltrato de mujeres. Y Echebunía y Fernández-Montalvo (1998) entienden 10s estereotipos sexuales machistas como uno de 10s
factores que influye sobre la actitud de hostilidad que presenta el maltratador.
En nuestra opinión, Blanca Vázquez (1999) realiza una propuesta sugerente
que podemos considerar ligada a las teorias feministas y alternativa a estos enfoques. Concretamente, propone que, en vez de contemplar el maltrato de mujeres
como una variable discreta que ocurre o no, podria entenderse como un cccontinuumu
que ocurre en mayor o menor medida en todas las familias. Obviamente, esto no significa que todas las familias sean abusivas, sino que en ellas se refleja de algún modo
el sistema de poder jerárquico, estructurado y patriarcal. Esta autora sigue argumentando que hasta hace algunas décadas esa estructura jerkquica era aceptada sin discusiones. Sin embargo, actualmente se produce una situación paradójica pues teóricamente la relación de pareja se establece entre dos personas iguales en derechos y
deberes (igualitarismo teórico) pero en la practica la estructura implícita (el poder
patriarcal) no ha desaparecido ni ha sido sustituida por nuevas formas de relación
entre hombres y mujeres. En esta indefinición, la problemática de pareja podria
desembocar fácilmente en el abuso psicológico del hombre a la mujer, llegando al
abuso fisico en ciertos casos.
Si aceptamos esa perspectiva, el paso siguiente sería determinar cuáles son 10s
mecanismos que impiden o perrniten que el abuso siga avanzando en ese <<continuum>>
y llegue a convertirse en formas extremas de violencia. Nuestra hipótesis de trabajo
(Ferrer y Bosch, 2000; Bosch y Ferrer, 2002) es que el núcleo duro de ese mecanismo
que frenarialliberaria el maltrato son las actitudes y creencias misóginas, que, por
otra parte, correlacionan directamente con mayores niveles de masculinidad/ferninidad tradicionales. Estas actitudes misóginas estm'an relacionadas con la presencia de
creencias sesgadas y estereotipadas sobre 10s roles de género, sobre la inferioridad
<<natural,>
de las mujeres, y sobre la legitimidad de usar la violencia contra ellas como
forma aceptable de resolver 10s conflictos interpersonales y constituiran el elemento
clave para diferenciar a maltratadores de no maltratadores.
Este trabajo inicia la evaluación empírica de esta hipótesis y, para ello, y como
primer paso, se comparan las actitudes misóginas presentes en maltratadores y no
maltratadores.
Aunque nuestro interés es estudiar a maltratadores, a quienes entrevistamos fue a
las mujeres. La razón es que acceder a 10s maltratadores es muy complicado (no suelen
colaborar, no siempre están identificados o localizados, etc.) y podría generar problemas
debido a la deseabilidad social. Además, diversos trabajos (Rosenbaum y O'Leary, 1981;
Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233
O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
218
E. Bosch y 1!A. Ferrer
Van Hasselt, Morrison y Bellack, 1985; Smith, 1990; Lindquist et al., 1997) demuestran
que las mujeres constituyen una fuente de inforrnación fiable sobre sus maltratadores.
Método
La muestra de mujeres victimas de maltrato estudiada quedó compuesta por un
total de 142 mujeres con una media de edad 39'38 años (d.t. 10'60). De ellas, el 31%
residian en la zona norte, el 28'2% en la zona centro, el 21'8% en la zona sur' y el
19% en las islas. El tiempo medio de padecimiento de maltrato era de 147'08 meses
(rango 1-600 meses, d.t. 122'03). El 36'1% de las entrevistadas habia padecido maltrato durante 60 6 menos meses y el 63'9% restante lo habia padecido durante 61 6
mis meses. Todas las entrevistadas habian padecido maltrato psicol6gico y el 88'7%
de ellas habia padecido, además, maltrato físico.
La muestra de mujeres no victimas de maltrato quedó compuesta por 142 mujeres con una media de edad 37'49 años (d.t. 11'26). De ellas, el 22'5% residian en la
zona norte, el 32'4%en la zona centro, el 23'2% en la zona sur y el 21'8%en las islas.
En cuanto a 10s varones, la edad media de 10s maltratadores era de 42'29 años
(d.t. 10'91) y de ellos, un 9'9%tenian de 18 a 30 años, un 38'7% de 31 a 40 años, un
28'2% de 41 a 50 años, un 19'7%tenian 51 6 mis años y en un 3'5% de casos no se
disponía de este dato. El 63'4% de ellos tenia estudios primarios o menos, el 21'8%
estudios medios y el 14'8% estudios superiores. Por otra parte, un 54'2% presentaban abuso de alcohol, un 23'2% abuso de drogas, un 16'9%psicopatologia, un 74'6%
problemas de celos y un 36'6% comportamiento violento en general.
Y entre 10s no maltratadores, su edad media era de 39'85 años (d.t. 12'06) y de
ellos, un 24'6% tenian de 18 a 30 años, un 29'6% de 31 a 40 años, un 21'8% de 41 a
50 años, un 22'5%tenian 5 1 6 mis años y en un 1'4%de casos no se disponía de este
dato. El 55'6% tenia estudios primarios o menos, el 25'4% estudios medios y el
19'0%estudios superiores. El abuso de alcohol o drogas y la psicopatologia se hallaban presentes en un 2'8% de ellos. Un 12'7% tenian problemas de celos y un 0'7%
comportarniento violento en general.
Tal y como estaba previsto en 10s criterios de selección, no habia diferencias
entre maltratadores y no maltratadores en cuanto a edad (t = 1'46; p = 0' 145), lugar
de residencia (xZ= 2'6517; p = 0'449) o nivel de estudios (xZ=1'8391; p = 0'399).
Instrumentos
Para recoger datos sobre variables sociodemográficas, antecedentes, maltrato o
variables clínicas se emple6 una entrevista elaborada al efecto. En el caso de las mujeres
nnaltratadas era más extensa pues incluia una descripción completa del maltrato y su evolución. A las mujeres no maltratadas se les administró una versión breve y, además, un
pequeño screening para detectar y rechazar posibles casos de maltrato no-denunciado.
1. Denominamos zona norte a las Comunidades de Aragbn, Asturias. Cantabria, Cataluña, Galicia, Navarra, Pais Vasco y Rioja;
zona centro a las de Castilla-La Mancha, Castilla-Lebn,Comunidad Valenciana y Madrid; y zona sur a las de Andalucía, Ceuta
y Melilla, Extremadura y Murcia.
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O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
Maltrato de mujeres y misoginia: estudio emplrico sobre un posible factor explicativo
219
En cuanto a 10s instrumentos para evaluar actitudes, el Sexist Attitudes Toward
Women Scale (SATWS, Benson y Vincent, 1980) consta de 40 items (indicados en las
tablas como items 1 a 40 y cuyo texto puede verse en el Anexo I), 26 afirmaciones
sexistas y 16 afirmaciones no sexistas (cuya puntuación se invierte). En su versión
original el formato de respuesta es una escala Likert de 7 puntos (de fuertemente en
desacuerdo a fuertemente de acuerdo), con un rango de puntuación de 40-280, donde
puntuaciones más altas indican niveles más elevados de actitudes sexistas; la consistencia interna oscila entre 0'90 y 0'93, según la muestra estudiada y tiene una adecuada validez de contenido y de constructo.
En nuestro caso la escala se present6 con un formato de respuesta en una escala Likert de 4 puntos (completamente en desacuerdo, en desacuerdo, de acuerdo, completamente de acuerdo), de modo que el rango de puntuación oscila entre 40 y 160
puntos, donde puntuaciones más elevadas indican actitudes sexistas rnás extremas.
Los análisis realizados (Ferrer y Bosch, 2002) indican que para nuestra muestra la consistencia interna es de 0'65 y la estructura factorial de la escala es de 5 factores: el Factor 1 (FI) consta de 16 items relativos a la consideración de la mujer
como inferior en sus habilidades y capacidades; el Factor 2 (F2) de 16 items relativos
a la aceptación del movimiento feminista y sus reivindicaciones; el Factor 3 (F3) de 5
items relativos a la aceptación del estereotipo femenino tradicional; el Factor 4 (F4)
de 5 items relativos a aceptar el tratamiento de las mujeres como objetos sexuales; y
el Factor 5 (F5) consta de un Único item relativo al desprecio de la figura masculina
conocida como crcalzonazos>>.
El Husband's Patriarchal Beliefs (HPB,Smith, 1990) incluye 4 items (en las
tablas como a, b, c y d), cuyo texto puede verse en el Anexo 1, relativos a creencias
patriarcales. En su versión original, el formato de respuesta es una escala Likert de 4
puntos (completamente en desacuerdo, en desacuerdo, de acuerdo, completamente de
acuerdo) con un rango de puntuación de 4 a 16, donde una mayor puntuación indica
niveles mis elevados de creencias patriarcales, y tiene una consistencia interna de
0'79 y una adecuada validez de contenido.
En nuestro caso la escala se present6 con un formato similar y 10s análisis realizados (Ferrer y Bosch, 2002) indican que para nuestra muestra la consistencia interna es de 0'96 y, al igual que había observado su autor, la estructura factorial de la
escala incluye un solo factor de creencias patriarcales (HPB).
Procedimiento
Para acceder a las víctimas de maltrato se contó con la participación de 26 centros de toda la geografia española. Las profesionales de esos centros (a quienes agradecemos su colaboración) entrevistaron a mujeres que acudían demandando ayuda o
asesoramiento. La muestra de mujeres no maltratadas se seleccionó mediante un
muestreo no probabilistico por cuotas (en base a lugar de residencia, edad y nivel de
estudios).
Análisis de datos
Los datos fueron analizados mediante 10s programas estadisticos del paquete
SPSS (versión 10 para MacIntosh). Cabe señalar que, dado que las puntuaciones
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O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
220
E. Bosch y V A . Ferrer
medias para 10s diferentes factores no seguían una distribución normal, las comparaciones de medias se realizaron aplicando estadísticos no pararnétricos.
Resultados
En primer lugar, se realizó una comparación entre el porcentaje de individuos
de acuerdo y en desacuerdo entre maltratadores y no maltratadores para cada ítem del
SATWS y del HPB, con objeto de determinar si el maltrato estaba relacionado con las
actitudes hacia las mujeres.
TABLA1. TABULACIONES
CRUZADAS
Continúa en la págirla 221.
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O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativa
22 1
Viene de la página 220.
Continh en la página 222.
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O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
E. Bosch y il A. Ferrer
22%
Viene de la página 221.
[tem d
Maltratador
No maltratador
20 (14'5%)
127 (89'4%)
118 (85'5%)
15 (10'6%)
x2 (d.f.1) = 177,461; p = ,000
C. contingencia:0,600
Maltratador
No maltratador
14 (10'3%)
104 (73'8%)
122 (89'7%)
37 (26'2%)
x2 (d.f.l) = 125,436; p = ,000
C. contingencia:0,540
Maltratador
No maltratador
32 (23'4%)
141 (99'3%)
105 (76'6%)
1 (0'7%)
xz(d.f.l) = 209,688, p = ,000
C. contingencia:0,616
Los resultados obtenidos, que se presentan en la Tabla 1, indican que la variablle presencialausencia de maltrato est6 significativamente relacionada con todos 10s
items de actitudes hacia las mujeres evaluados, excepto el 21 (<<Lasmujeres deberían
ser tratadas suavemente por 10s hombres porque son muy delicadaw), aunque no en
todos 10s casos esta relación tiene el mismo sentido ni la misma magnitud. Asi, y
como indican 10s respectivos coeficientes de contingencia, dicha relación es particulztnnente estrecha en el caso de 10s items 5, 16, 18,23, 30, 33, a, b, c y d, todos ellos
indicadores de sexismo y con 10s que una amplia mayoria de maltratadores est6 de
acuerdo y una amplia mayoria de no maltratadores en desacuerdo; y también en el
caso de 10s items 19,25,26, 35 y 40, todo ellos indicadores de no sexismo y con 10s
que una amplia mayoria de no maltratado?es muestra acuerdo y una amplia mayoria
de maltratadores desacuerdo.
Por 10 que se refiere a las comparaciones de medias, en primer lugar se compararon las puntuaciones medias obtenidas para cada factor por maltratadores y no maltratadores y, posteriormente, se agrupó a unos y otros en función de diversas variables.
La puntuación de 10s maltratadores es significativarnentesuperior para 10s factores F1 (z = -1 1.059; p = 0.000), F3 (z = -8.726; p = 0.000), F4 (z = -7.622;
p = 0.000), y F5 (z = -6.159; p = 0.000), que evalúan respectivamente la consideración de que la mujer es inferior en sus habilidades y capacidades (m = 3'17
(1d.t .= 0.60) para maltratadores y m = 2'1 1 (d.t. = 0.48) para no maltratadores), la
aceptación del estereotipo femenino tradicional (m = 2'75 (d.t. = 0.55) y m = 2'18
(d.t. = 0.39) respectivamente), la aceptación de las mujeres como objetos sexuales
(m = 3'17 (d.t. = 0.65) y m = 2'51 (d.t. = 0.67) respectivamente) y el rechazo a la
figura del <<calzonazos>>
(m = 3'36 (d.t. == 0.98) y m = 2'69 (d.t. = 0.95) respectivamente) y para el factor HPB (z = -12.527; p = 0.000) que evalúa creencias patriarcales (m = 3'33 (d.t. = 0.84) para maltratadores y m = 1'5 l (d.t. = 0.54) para no maltraAnuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233
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Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativo
223
tadores). Para F2, que evalúa la aceptación del movirniento feminista y sus reivindicaciones (m = 3.00 (d.t. = 0.42) para no maltratadores y m = 2'06 (d.t. = 0.57) para
maltratadores), la puntuación de 10s no maltratadores es significativamente superior
(Z = -12.527; p = 0.000).
Al agrupar a maltratadores y no maltratadores en función de la edad y compararlos, se observa (Tabla 2) que para F1 y HPB 10s maltratadores de todos 10s grupos
TABLA
2. COMPARACI~N
DE LAS PUNTUACIONES MEDIAS OBTENIDAS PARA CADA FACTOR POR
MALTRATADORES Y NO MALTRATADORES AGRUPADOS EN F U N C I ~ NDE LA VARIABLE EDAD
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E. Bosch y il A. Ferrer
de edad obtienen puntuaciones significativamente superiores; para F2 10s no maltratadores de todos 10s grupos de edad obtienen puntuaciones significativamente superiores; para F3, F4 y F5 hay algunos cambios según 10s grupos de edad. Asi, para F3
y F5 no hay diferencias estadisticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores mis jóvenes, pero en 10s otros grupos de edad 10s maltratadores obtienen
puntuaciones significativamente superiores. Finalmente, para F4 no hay diferencias
estadisticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores más jóvenes y
mlás mayores, pero entre 10s de edades intermedias 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamente superiores.
La comparación de maltratadores y no maltratadores en función de su nivel de
estudios muestra (Tabla 3) que para FI, F3, F4 y HPB 10s maltratadores de todos 10s
niveles de estudios obtienen puntuaciones significativamente superiores; y para F2
10s no maltratadores de todos 10s niveles de estudios obtienen puntuaciones significa-
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Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativo
225
tivamente superiores. En el caso de F5 no hay diferencias estadisticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores con estudios superiores y entre 10s de
estudios primarios y medios 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamente superiores.
Al comparar a maltratadores y no maltratadores en función del abuso de alcohol se observa (Tabla 4) que para F1, F3, F4 y HPB 10s maltratadores, abusen o no del
alcohol, obtienen puntuaciones significativamente superiores; y para F2 10s no maltratadores, abusen o no del alcohol, obtienen puntuaciones significativamente superiores. En el caso de F5 no se observan diferencias estadisticamente significativas
entre maltratadores y no maltratadores que abusan del alcohol, pero entre 10s que no
abusan, 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamentesuperiores.
TABLA
4. COMPARACION
DE LAS PUNTUACIONES MEDIAS OBTENIDAS PARA CADA FACTOR
POR MALTRATADORES Y NO MALTRATADORES AGRUPADOS EN FUNCIÓN DE LA VARIABLE ABUSO DE ALCOHOL
Al agrupar a maltratadores y no maltratadores en función del abuso de drogas
no se observan (Tabla 5) diferencias estadísticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores que abusan de las drogas en ningún caso (Fl, F2, F3, F4, F5 y
HPB).Entre 10s que no abusan de ellas, 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamente superiores en FI, F3, F4, F5 y HPB y 10s no maltratadores en F2.
La diferenciación de maltratadores y no maltratadores en función la presencia de
psicopatologia muestra (Tabla 6) que para F1 y HPB 10s maltratadores, presenten o no psicopatologia, obtienen puntuaciones significativamentesuperiores. Para F2, F3, F4 y F5 no
hay diferencias estadísticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores con
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O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
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226
psicopatologia. Entre 10s que no la presentan, 10s maltratadores obtienen puntuaciones
significativarnentesuperiores en F3, F4, F5 y HPB y 10s no maltratadores en F2.
N
Media (d.t.)
Factor 1
t
Abuso de drogas
No abuso drogas
30
1
92
3.19 (0,56)
1
1
125
2,17 (0.70)
2,03 (0,52)
1
124
1
1
1
1
4
133
1
1
3,ll (0,71)
Factor 2
30
96
1
1
Media (d.t.)
N
No maltratadores
Maltratadores
4
4
2,12 (0,49)
1 -2,518; p = 0,008
1 -10,478; p = 0,000
3.00 (0,441
3,00 (0.42)
1 -2,088; p = 0,036
1 -10,533; p = 0,000
2,35 (0.00)
1
1
-1,188; p = 0,262
2,17 (0.40)
2.63 (0,48)
2.50 (0.67)
1
1
-1,950; p = 0,058
-6,763; p = 0,000
2.11 (0.21)
Factor 3
30
101
2,66 (033)
2,78 ( 0 3 )
33
101
3,24 (0,60)
3,14 (0.66)
(
Factor 4
4
134
1
ZP
-8,447; p = 0,000
Factor 5
33
107
1
1
3.51 (0.87)
3,31 (1,OO)
1
1
TAIKA6. COMPARACI~N
DE LAS PUNTUACIONES MEDIAS OBTENIDAS PARA CADA FACTOR POR MALTRATADORES
Y NO MALTRATADORES AGRUPADOS EN FUNCION DE LA VARiABLE PRESENCIA DE PS~COPATOLOGÍA
L
1
N
Maltratadores
Media (d.t.)
N
No maltratadores
Media (d.t.)
Z p
Factor 1
Presencia de
osicooatoloeía
20
3.23 (0.46)
4
1.97 (0.51)
-2,924; o = 0,001
Ausencia de
psicopatologia
88
3,15 (0,62)
126
2,12 (0.49)
-9,777; p = 0,000
21
1.96 (0.39)
3
2.85 (0.67)
-2.239: D = 0.023
2.11 (039)
126
3.01 (0.41)
-9,505; p = 0,000
1
L
Factor 2
Presencia de
nsicnnatoloeía
Ausencia de
psicopatologia
90
Continua en la pcigina 227.
Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233
O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativa
227
Viene de la página 226.
Al comparar a maltratadores y no maltratadores en función de la presencia de
problemas de celos se observa (Tabla 7) que para FI, F3, F4 y HPB 10s maltratadores,
tengan o no problemas de celos, obtienen puntuaciones significativamentesuperiores
y para F2 10s no maltratadores, tengan o no problemas de celos, obtienen puntuaciones significativamentesuperiores. Para F5 no se observan diferencias estadisticamenTABLA
7. COMPARACI~N
DE LAS PUNTUACIONES MEDIAS OBTENIDAS PARA CADA FACTOR
POR MALTRATADORES Y NO MALTRATADORES AGRUPADOS EN F U N C I ~ NDE LA VARIABLE PRESENCIA DE CELOS
Continria en la página 228.
Anuario de Psicología, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233
O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
E. Bosch y KA. Ferrer
228
Viene de la página 227.
L
N
Maltratadores
1
Media (d.t.)
N
No maltratadores
Media (dl.)
z;p
Factor 3
1
Presencia de celos I
97
Ausencia de celos
31
1
Presencia de celos I
98
1
2.75 (0.49)
1
18
1
2,77 (0,65)
1
120
1
3.18 (0.64)
1
18
Factor 5
2.26 (0.53)
1
-3,492; D = 0,000
2,17 (0.37)
1
1
2.56 (0.75)
1
-3,434; D = 0,000
1
1
2.28 (0.75)
1
1
4,982; p = 0,000
4,866; p = 0,000
Presencia de celos
104
3,41 (0,96)
18
Ausencia de celos
33
3.12 (1,02)
124
Presencia de celos
101
3,35 (032)
18
1,79 (0.70)
-5,429; p = 0,000
Ausencia de celos
32
3,28 (0,90)
121
1,47 (0.50)
-7,626; p = 0,000
2.75 (0.97)
-2,063; p = 0,039
HPB
te significativas entre maltratadores y no maltratadores sin problemas de celos, pero
entre 10s que si tienen estos problemas, 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamente superiores.
Finalmente, al agrupar a maltratadores y no maltratadores en función de la presencia de comportarnientos violentos en general no se observan (Tabla 8) diferencias
estadisticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores con comportarniento violento general en ningún caso (Fl, F2, F3, F4, F5 y HPB). Entre quienes no
presentan este tipo de comportarniento, 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamente superiores en FI, F3, F4, F5 y HPB y 10s no maltratadores en F2.
TABLA8. COMPARACI~NDE LAS PUNTUACIONES MEDIAS OBTENiDAS PARA CADA FACTOR
POR MALTRATADORES Y NO MALTRATADORES AGRUPADOS EN F U N C I ~ NDE LA VARIABLE
PRESENCIA DE CONDUCTA VIOLENTA EN GENERAL
N
Maltratadores
Media (d.t.)
N
No maltratadores
Media (d.t.)
z; p
Factor 1
Presencia de
violencia general
43
3,23 (0.60)
1
Ausencia de
violencia general
69
3.12 (0.62)
127
Presencia de
violencia general
45
2,03 (059)
1
Ausencia de
violencia general
71
2.10 (O,%)
126
1,63-
-1,661; p = 0,045
2.12 (0,49)
-9,098; p = 0,000
344 -
-1,472; p = 0,174
3,00 (0.42)
-9,059; p = 0,000
Factor 2
-
Continúa en la página 229.
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O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
Maltrato de rnujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativa
229
Viene de la prtgina 228.
En definitiva, 10s resultados obtenidos indican que, en ténninos generales, 10s
maltratadores (tanto en general, como diferenciados por edad, nivel de estudios, abuso
de alcohol, psicopatologia o problemas de celos) muestran significativamente más
acuerdo que 10s no maltratadores con la consideración de las mujeres como inferiores
en sus habilidades y capacidades (Fl) y con las creencias patriarcales (HPB) evaluadas.
Estos resultados son similares a 10s de Walker (1984), Briere (1987) o Fernández-Montalvo y Echeburtía (1997) por 10 que se refiere a relacionar el maltrato con la
presencia de creencias y actitudes negativas de 10s maltratadores hacia las mujeres y
con 10s de Yllo y Straus (1984) o Smith (1990) en 10 que se refiere a relacionar10 con
la ideologia patriarcal de 10s maltratadores. Cabe sin embargo, remarcar la falta de
homogeneidad y las disparidades existentes entre estos trabajos, sobre todo en 10 que
a sus respectivas metodologias se refiere (entrevistar a 10s maltratadores o a sus cónyuges, a muestras de población general o no, ...).
Siguiendo con 10s resultados obtenidos, el hecho de que 10s no maltratadores
(también en general y diferenciados en función de las citadas variables) muestren
niveles de aceptación del movimiento feminista y sus reivindicaciones (F2) significativamente superiores a 10s maltratadores puede tomarse como indicador de que, además, 10s maltratadores también presentan 10 que se ha denominado sexismo sutil, esto
es, un sexismo modern0 que está presente en la negación de la discriminación que
padecen las mujeres, en el antagonismo hacia sus demandas, y en la falta de apoyo a
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las políticas diseñadas para ayudarlas (Benokraitis y Feagin, 1986; Swin et al., 1995;
Baron y Byrne, 1998).
Por 10 que se refiere al resto de factores estudiados creemos adecuado realizar
algunas matizaciones. Asi, en el caso de la aceptación del estereotipo femenino tradicional (F3) y del tratamiento de las mujeres como objetos sexuales (F4), se repite la
tendencia a que 10s maltratadores muestren significativamente más acuerdo cuando
estudiamos la muestra general y diferenciada por estudios, pero no al diferenciarla
por edad, abuso de alcohol o presencia de psicopatologia.
Estos resultados mostrarian pues coincidencia con aquellos que señalan la existencia de una relación entre el maltrato y la adscripción de 10s maltratadores al estereotipo de rol de género tradicional, como, por ejemplo, 10s de Dobash y Dobah (1978),
Rosembaum y O'Leary (1981), Walker (1983), Telch y Lindquist (1984), Saunders et
al. (1987) o Crossman, Stith y Bender (1990). Nuevamente es importante señalar la
disponibilidad de técnicas y muestras estudiadas.
Finalmente destaca que el factor denominado ctrechazo al calzonazos>>(F5)
est6 muy extendido tanto entre maltratadores como entre no maltratadores, constituyendo un ejemplo de la fuerza de 10s rnitos culturales en relación al papel de 10s varones y a su relación con las mujeres en nuestra sociedad.
En definitiva, podemos concluir que 10s resultados obtenidos tienden a corroborar la hipótesis de trabajo formulada, esto es, que las actitudes y creencias midginas diferencian a maltratadores y no maltratadores. Sin embargo, y como ya se
comentó anteriormente, este trabajo constituye tan s610 un primer paso en la evaluación empírica de esta hipótesis puesto que, por sus propias características, tiene algunas limitaciones importantes.
Asi, por una parte, cabe hacer referencia a la forma de obtener 10s datos, preguntando a las mujeres sobre sus parejas. En relación con esto hay que recordar que
en la revisión meta-analítica de Sugarman y Frankel(1996), que incluye 10s resultados de 29 estudios sobre el tema, se formularon diversas hipótesis y una de ellas se
referia a que 10s maltratadores mostrm'an más acuerdo con 10s roles de género tradi(cionales que 10s no maltratadores. Los resultados obtenidos indicaron una tendencia
'.en egte sentido, aunque no fueron concluyentes. Según 10s autores del trabajo, esta
ausedcia de resultados significativos podría deberse a razones metodológicas como
10s instrumentos de medida usados, las muestras comparativas empleadas (muestras
de control compuestas por estudiantes universitarios, ...), o quién fuera la persona
informante, De hecho, en 10s estudios que preguntaban a 10s hombres se obtenian
relaciones mínimas entre estas actitudes y la violencia, pero en aquellos que preguntaban a las mujeres por las actitudes de sus maridos las relaciones eran significativas.
Aplicando esta conclusión a nuestro propio trabajo, surge la necesidad de
seguir profundizando en 10s análisis realizados y de ampliar el horizonte de 10s trabajos a realizar, incluyendo también nuevos intentos en 10s que se trabaje directamente
con 10s maltratadores. Como ya se comentó anteriormente, este proceder supone
numerosas dificultades pero es un reto ineludible si queremos llegar a obtener conclusiones definitivas sobre el tema.
Por otra parte, una dificultad añadida para la adecuada interpretación de 10s
datos obtenidos surge del escaso número de individuos que abusan de alcohol o drogas, presentan psicopatologia, celos o violencia general entre la muestra de no maltratadores. Una posible forma de superar esta limitación pasa evidentemente por continuar trabajando para lograr muestras de comparación mis homogéneas en cuanto a
estas variables.
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Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativa
23 1
Además, y siguiendo con cuestiones metodológicas,hay que recordar que las
preguntas formuladas, tanto a las mujeres maltratadas como a las no maltratadas, eran
directas (<&upareja o ex-pareja ¿ha tenido problemas de abuso de alcohol?>>.
..) y en
el caso de las no maltratadas no se solicitaba información complementaria al respecto. Surge pues la cuestión de la conveniencia de completar estas entrevistas para obtener datos complementarios que permitan incluir criterios de homogeneización externos ya que podria darse la circunstancia de que las mujeres no maltratadas tuvieran
mayor resistencia que las maltratadas a catalogar a sus parejas o ex-parejas como
padeciendo alguno de 10s problemas citados.
En conclusión podemos decir que estos primeros datos sugieren que efectivamente 10s maltratadores presentan más actitudes y creencias misóginas que 10s no maltratadores y, al rnismo tiempo, nos ofrecen algunas indicaciones sobre por dónde desarrollar el trabajo futuro encarninado a corroborar la hipótesis de trabajo formulada.
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Xtems de la escala SATWS
Factor 1. Consideración de las mujeres como inferiores.
1. Si tuviera una hija, la disuadiría (le quitaria de la cabeza la idea de) de trabajar en mecánica (talleres de coches).
2. Me molestan mucho las mujeres que se quejan de que la sociedad es injusta con ellas.
4. Las mujeres van más de compras que 10s hombres porque son mis indecisas.
5. La mayoría de las mujeres <<liberadas*se suben al tren de la protesta s610 por la diversión.
9. Frente al peligro, 10s hombres son instintivamente más valientes que las mujeres.
12. Las mujeres confían mis en la intuici6n y menos en la razón que 10s hombres.
13. Antes del matrimonio, las mujeres no deberían ser tan activas sexualmente como 10s
hombres.
23. Desconfio de una mujer que prefiere trabajar a tener hijos.
24. Creo que las mujeres son por naturaleza más débiles emocionalmente que 10s hombres.
(-) 25. Por termino medio, las mujeres son tan inteligentes como 10s hombres.
29. Me molesta mis ver a una mujer agresiva que a un hombre agresivo.
30. No se debería contratar a una mujer si hay un padre de familia que necesita el trabajo.
32. Por naturaleza, 10s hombres son mejores que las mujeres para las cosas mecánicas.
33. El lugar de una mujer es el hogar.
Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233
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Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativo
233
36. Creo que 10s hombres son instintivamente mis competitivos que las mujeres.
38. Me sentiria incómodo si cuando se dirigen a mi por escrito pusieran <<Sr./Sra.>>
(por
ejemplo, en una carta).
Factor 2 . Aceptación del movimiento feminista.
6. Me molesta que un hombre se interese por una mujer s610 si ella es guapa.
11. Realmente entiendo por qué es necesario que exista el movimiento de liberación de la
mujer.
14. Los hombres son tan fácilmente influenciables por 10s demás como las mujeres.
(-)16. Los hombres siempre serán el sexo dominante.
17. No me gusta que 10s hombres traten a las mujeres como objetos sexuales.
(-)18. Creo que cuando una pareja toma una decisión el marido debería tener la última palabra.
19. Las mujeres deberian tener exactamente 10s mismos derechos que 10s hombres.
20. No Veo nada mal0 en una mujer a la que no le gusta llevar faldas o vestidos.
22. Las mujeres deberian estar preparadas para oponerse a 10s hombres con la finalidad de
obtener el mismo estatus.
26. Si en una pareja ambos trabajan a tiempo completo, el marido deberia hacer la mitad
del trabajo doméstico.
27. Me gustan las mujeres francas, sinceras.
31. Cuando toman una decisión, las mujeres pueden soportar la presión igual que 10s
hombres.
34. Creo que muchos anuncios de TV presentan una imagen degradante de las mujeres.
35. Creo que una mujer puede hacer la mayoría de cosas tan bien como un hombre.
37. Creo que las mujeres tienen derecho a enfadarse cuando se las llama <<tipas>>.
40. Si pudiera elegir, me daria exactamente igual trabajar para una mujer que para un
hombre.
Factor 3. Aceptación del estereotipo femenino tradicional.
(-) 3. Nuestra sociedad pone demasiado énfasis (da demasiada importancia) en la belleza
(física), especialmente en el caso de las mujeres.
8. Creo que tener hijos es el mayor logro para una mujer.
10. Creo que las mujeres deberian dedicar una gran cantidad de tiempo a intentar estar
guapas.
15. Creo que las mujeres deberían preocuparse más por su apariencia que 10s hombres.
21. Las mujeres deberían ser tratadas suavemente por 10s hombres porque son muy delicadas.
Factor 4 . Aceptación del trato a las mujeres como si fueran objetos sexuales.
28. No Veo nada mal0 en que 10s hombres echen piropos a las mujeres bien parecidas.
39. No me parece mal que haya hombres que se interesen principalmente por el cuerpo de
la mujer.
Factor 5 . Desprecio del cccalzonazoss.
7. Me molesta ver a un hombre al que una mujer le dice 10 que tiene que hacer.
[tems de la escala HPB.
a) Un hombre tiene derecho a decidir si su esposdpareja puede o no trabajar fuera de casa.
b) Un hombre tiene derecho a decidir si su esposa/pareja puede o no salir por la noche con sus
amistades.
c) A veces es importante para un hombre demostrar a su esposdpareja que 61 es el cabeza de
farnilia.
d) Un hombre tiene derecho a tener relaciones sexuales con su esposdpareja cuando 61 quiera,
aunque ella no quiera.
Anuario de Psicologia, vol. 34, nQ2, junio 2003, pp. 215-233
O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
VICIO EM TRABALHO
Natanael B. P. Moraes
Introdução
Deus espera que os Seus obreiros estejam sempre prontos a servir:
“O sistema de oito horas não encontra lugar no programa do ministro de Deus. Ele
deve-se manter de prontidão a qualquer hora. Deve conservar sua vida e energia; pois se é
apático e indolente, não pode exercer uma influência salvadora. Se ocupa uma posição de
responsabilidade, deve estar preparado para assistir a reuniões de comissão e concílios,
passando horas num trabalho cansativo para o cérebro e os nervos, fazendo planos para o
avançamento da causa. Essa espécie de trabalho é um pesado encargo para a mente e o
corpo. {OE 451.1}
O ministro que tem uma devida apreciação do serviço, considera-se como servo de
Deus pronto a atender a qualquer momento. Quando, com Isaías, ouve a voz do Senhor,
dizendo: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” ele responde: “Eis-me aqui, envia-me a
mim.” Isaías 6:8. Não pode dizer: Eu me pertenço; farei o que me aprouver com o meu tempo.
Ninguém que consagrou a vida à obra de Deus como Seu ministro, vive para si próprio. Sua
obra é seguir a Cristo, ser um agente voluntário e um coobreiro do Mestre, recebendo dia a dia
Seu Espírito, e agindo como o Salvador fazia, sem vacilar nem ficar desanimado. É escolhido de
Deus como fiel instrumento para promover a obra missionária em todas as terras, e cumprelhe ponderar bem a vereda que trilha”.1
Embora Deus espere que Seus obreiros estejam prontos a servir a qualquer momento,
Ele não deseja que Seus servos vivam estressados:
“Existe por todos os lados intemperança no comer e no beber, intemperança no
trabalho, intemperança em quase todas as coisas. Aqueles que fazem grandes esforços para
realizar determinada quantidade de trabalho em dado espaço de tempo, e continuam a
trabalhar quando seu discernimento lhes diz que deveriam repousar, jamais lucrarão. Eles
estão vivendo com capital emprestado. Estão gastando as forças vitais de que irão necessitar
no futuro. E, quando a energia que eles têm tão imprudentemente usado é requerida,
fracassam por falta dela. Foi-se a força física, as faculdades mentais falham. Percebem que se
depararam com uma perda, mas não sabem qual. Seu tempo de necessidade surgiu, mas seus
recursos físicos acham-se exauridos. Todos os que violam as leis da saúde deverão a qualquer
tempo tornar-se sofredores em maior ou menor grau. Deus nos proveu da energia
indispensável, a qual deve ser utilizada em diferentes períodos de nossa vida. Se
1
Ellen G. White, Obreiros evangélicos, 451.
1
negligentemente esgotarmos essas forças pela contínua sobrecarga, teremos sofrido perdas
em algum tempo. Nossa utilidade será diminuída, quando não destruída a nossa própria
vida”.2
A. Consideração da atividade contínua pela psicologia
Há pessoas que desenvolvem o costume de estarem constantemente em atividade.
Trata-se de uma desordem obsessivo-compulsiva que se manifesta através de exigências autoimpostas, é uma incapacidade de controlar hábitos de trabalho e uma indulgência excessiva
com trabalho que exclui a maior parte das demais atividades da vida. 3 É uma obsessão mais
ampla por organização, perfeccionismo e controle a expensas de flexibilidade, abertura e
eficiência.4
O vício em trabalho é um vício tal como o alcoolismo. É progressivo, em natureza,
sendo uma tentativa inconsciente de resolver necessidades psicológicas não atendidas, cujas
raízes se originam na família e podem conduzir a uma condição de vida incontrolável, a
desintegração da família, a sérios problemas de saúde e até mesmo a morte. Semelhante aos
alcoólatras, os viciados em trabalho têm padrões de pensamento rígidos que alimentam o seu
vício. Devido a sua auto-absorção com trabalho, os viciados em trabalho não percebem os
sinais, tais como dores físicas e habilidade reduzida de atuação, que podem ser advertências
de sérios problemas de saúde. O vício em trabalho prejudica a saúde física e mental do viciado.
O prejuízo é fisiológico e químico em natureza e pode levar à ansiedade, depressão, e, até
mesmo ao suicídio... Como em outros vícios, há um ponto onde o viciado atinge tal grau no
qual ele não admite que possa ter um problema e não procura o auxílio que ele necessita... O
vício em trabalho é tão devastador a ponto de criar problemas de saúde, esfacelar casamentos
e envolver outros membros da família nos mesmos problemas de saúde.5
Pesquisas têm indicado que os viciados manifestam diversas consequências negativas
que incluem depressão, ansiedade, ira e que por baixo dos hábitos obsessivos de trabalho
encontram-se sentimentos de inferioridade, medo de falhar e defesa contra ansiedade não
resolvida.6
2
Idem, Conselhos sobre saúde, 99.
Bryan E. Robinson, “A Typology of Workaholics With Implications for Counselors”, Journal of Addictions
& Offender Counseling (01 de outubro de 2000), pesquisa realizada na internet, no site,
http://www.accessmylibrary.com/coms2/summary_0286-28426050_ITM, no dia 14 de maio de 2008.
4
Loren Stein, “Workaholism”, pesquisa realizada na internet, no site
http://healthresources.caremark.com/topic/workaholism, no dia 14 de janeiro de 2008.
5
Robinson, “A Typology of Workaholics With Implications for Counselors”,
http://www.accessmylibrary.com/coms2/summary_0286-28426050_ITM, 14/5/2008.
6
Ibid.
3
2
O viciado em trabalho pode se tornar um dependente físico da adrenalina que circula
em seu corpo – algumas vezes com efeitos danosos. A função da adrenalina é o de dar a ilusão
de que você tem uma quantidade considerável de força, resiliência e energia. A pessoa com
este problema não tem noção de que está realmente cansada ou esgotada ou que tem
sintomas físicos. É comum os viciados em trabalho serem acometidos de ataque cardíaco, ou
um colapso que conduz a uma doença catastrófica.7
A vida do viciado em trabalho fica fora de controle. Ele pensa em trabalho
constantemente e se não puder trabalhar, entrará em pânico ou ficará deprimido. Ele não
concorda em fazer intervalo ou recompensar a si mesmo com férias. Se tirar férias,
provavelmente planejará atividades com objetivos bem específicos. Um viciado em trabalho
precisa trabalhar. Ele precisa de objetivos que sejam atingidos. Ele se esforça e prossegue à
medida que se aproxima do seu alvo, ele começa a planejar outro alvo. Um viciado em
trabalho não consegue parar e desfrutar dos resultados do seu trabalho. Os viciados em
trabalho se negam a receber colaboração, têm problemas para delegar tarefas e gostam de
estarem sempre ativos a fim de poderem ser vistos como pessoas ativas. Enquanto os viciados
em trabalho vêem a si mesmos como pessoas que não estão produzindo aquilo que deveria
ser produzido, os demais percebem facilmente que eles estão sempre em atividade. 8
A crença subjacente é de que se o viciado em trabalho não estiver sempre em
atividade, ele não terá o direito de existir. Como o alcoolismo, é uma doença da alma, uma
doença espiritual.9
A estrutura familiar da pessoa viciada em trabalho, ou seja, seu cônjuge, seus filhos,
tornam-se uma extensão do ego do viciado, conduzindo, inevitavelmente a família ao conflito.
Cônjuges e filhos relatam sentimentos de solidão, carência de amor, isolamento e abandono
físico e emocional.10
Sintomas vividos por viciados em trabalho:
a) Preocupação com trabalho
Geralmente os viciados em trabalho “levam” o escritório para casa e para outros
convívios sociais, por isto não conseguem se desligar do trabalho.
Alguns viciados em trabalho passam longas horas em atividade a tal ponto que eles
deixam de se relacionarem com sua família e de se socializarem com outras pessoas.
7
Stein, “Workaholism”, http://healthresources.caremark.com/topic/workaholism, 14/1/2008.
Ibid.
9
Ibid.
10
Robinson, “A Typology of Workaholics With Implications for Counselors”,
http://www.accessmylibrary.com/coms2/summary_0286-28426050_ITM, 14/5/2008.
8
3
Viciados em trabalho não se sentem confortáveis quando por motivo de doença
precisam deixar de trabalhar ou quando têm que tirar férias.
O pensamento de tirar férias e não poder trabalhar é semelhante ao do alcoólatra que
é privado de sua garrafa de bebida. 11
b) Dificuldade em delegar
Muitos viciados em trabalho não se sentem bem em delegar por causa da sua
necessidade de controlar.
Os viciados em trabalho justificam o tempo que eles gastam trabalhando a fim de
convencerem a si mesmos de que somente eles podem realizar as tarefas que eles deveriam
delegar.
A delegação de projetos ou tarefas iria demonstrar que outras pessoas são capazes de
completá-los, o que, de certa maneira, ameaçaria o seu senso de controle. 12
c) Negligência de outros aspectos da vida
Frequentemente, os viciados em trabalho colocam o trabalho a frente de seus
familiares e até mesmo de sua vida pessoal.
Muitos pacientes lamentam o não terem assistido aos eventos que eles perderam ou
as coisas que eles deixarem de fazer por causa de sua obsessão pelo trabalho. 13
d) Sinais físicos e de comportamento
Os sinais físicos do viciado em trabalho incluem dor de cabeça, fadiga, indigestão, dor
no peito, dificuldades para respirar, tiques nervosos, tontura. Os sinais de comportamento
incluem explosão de nervos, inquietação, insônia, dificuldade para relaxar, irritação,
impaciência, esquecimento, dificuldade para se concentrar, aborrecimento, alteração de
temperamento da euforia para a depressão.14
O vício em trabalho pode destruir casamentos, e em casos extremos, ele pode ser
mortal – algumas vezes, as pessoas vêm a morrer se elas não obtiverem auxílio para o
problema subjacente.15
11
Dana Mattioli, “Five Signals That You May Be a Workaholic”, The Wall Street Journal – Executive
Career Site, pesquisa realizada na internet, no site
http://www.careerjournal.com/myc/killers/20070109-mattioli.html, no dia 15 de janeiro de 2008.
12
Ibid.
13
Ibid.
14
Scott Reeves, “Do workaholics have an obsessive-compulsive disorder?”, pesquisa realizada na
internet, no site http://www.msnbc.msn.com/id/10099138/, no dia 16 de janeiro de 2008.
15
Ibid.
4
Conviver com um viciado em trabalho é como falar com um zumbi. Não existe nenhum
tipo de troca e nenhum tipo de apoio mútuo que dê um alento de vida para o relacionamento
de modo a manter um casamento intacto. Há pouco interesse em intimidade – e com
freqüência “não” há tempo para isto. A taxa de divórcio entre viciados em trabalho é 40% mais
alto do que no restante da população. 16
Superando o hábito da atividade incessante
Para os viciados em trabalho com déficit de atenção é preciso utilizar uma medicação
específica a fim de reduzir seu “apetite” por crises e grau de estimulação elevada. Caso se
comprove que não é necessário o uso de medicação, o terapeuta poderá empregar técnicas
tradicionais de redução de estresse. Devem levar os clientes a perceberem que é aceitável,
periodicamente, condescenderem com eles próprios, separando um tempo para tomarem um
bom banho morno, relaxar numa varanda, ou ouvir música à meia-luz. Eles devem ter a
cooperação do corpo e da mente a fim de obterem os plenos benefícios deste tempo especial.
Os conselheiros podem encorajar os seus clientes a bloquearem todos os seus pensamentos
relacionados com trabalho que procuram entrar em suas mentes e ensinar-lhes técnicas de
interrupção de pensamento que tornem mais fácil. Eles devem ser orientados que podem se
sentir aborrecidos ou incomodados pela primeira vez que eles tentam fazer isto, mas não
devem desanimar. A única maneira de se ver livre da adrenalina é através dela. Quando a
pessoa estiver impaciente, os conselheiros devem recomendar-lhe exercícios vigorosos,
empregar técnicas de respiração profunda, ou meditação e a manter um estado de humor
tranquilo a qualquer custo até que a ansiedade diminua.17
Para aqueles que são quimicamente dependentes, a abstinência é fundamental e
implica em sobriedade. Mas para o viciado em trabalho, a maioria dos quais precisa trabalhar,
é preciso aprender a trabalhar com moderação – abstendo-se da tendência de trabalhar
compulsivamente e a libertar-se do pensamento negativo. Para alguns viciados em trabalho,
um plano efetivo de trabalho moderado deverá incluir atividades específicas e
comprometimento com períodos de tempo determinados. Para outros, será uma ampla
estrutura que ofereça o máximo de flexibilidade, juntamente com equilíbrio em outras áreas
da vida – familiar, social, pessoal, espiritual.18
Podem auxiliar seus clientes a desenvolver um plano de cuidado pessoal adaptado as
suas necessidades pessoais, estilo de vida e preferências. O plano poderia incluir atividades
16
Ibid.
Robinson, “A Typology of Workaholics With Implications for Counselors”,
http://www.accessmylibrary.com/coms2/summary_0286-28426050_ITM, 14/5/2008.
18
Ibid.
17
5
sociais, lazer, hobbies e familiares, como também pessoais e espirituais. O plano incluiria horas
regulares de trabalho. Este plano deveria ser colocado no papel e definiria atividades para uma
semana de modo a que eles pudessem ver como gastam o seu tempo e quanto tempo de sua
vida é dedicado em demasia para uma atividade. Os conselheiros poderiam auxiliar seus
clientes a reduzirem seus padrões perfeccionistas de trabalho para objetivos mais facilmente
alcançáveis e a delegarem trabalho para outras pessoas, tanto no escritório quanto na casa. 19
Passos a serem dados no desenvolvimento de um plano de cuidado pessoal:
Para começar um plano de cuidado pessoal, os conselheiros devem conduzir os
clientes a pensar em suas vidas como um círculo composto de quatro partes, como descrito
abaixo, e então levá-los a completar os quatro passos seguintes.
Eu: atender as necessidades pessoais como descanso, exercício físico, relaxamento,
auto-estima, espiritualidade, nutrição, e tempo livre para meditar e pensar.
Família: investir tempo e desenvolver relacionamentos com as pessoas amadas e que
são consideradas seus familiares. A família envolve o cônjuge, incluindo cônjuge e filhos; pode
incluir pessoas não casadas do mesmo sexo ou sexo oposto, ou adultos que residem com
pessoas mais velhas ou irmãos. A família é o principal sistema de apoio do cliente.
Recreação: diversão, hobbies, lazer, relacionamentos sociais e amizades.
Trabalho: ser efetivo e produtivo no trabalho, desfrutar satisfação naquilo que faz,
trabalhar moderadamente e dar um tempo semelhante para outras áreas da vida pessoal.
1. O cliente fornece a percentagem de tempo ATUAL. Como o cliente está vivendo? Ele
indica a porcentagem de tempo que ele ou ela ATUALMENTE dedica a cada uma das quatro
áreas. O total deve chegar a 100%.
EU –
FAMÍLIA –
RECREAÇÃO –
TRABALHO –
Total 100%
19
Ibid.
6
2. A porcentagem DESEJADA pelo cliente. Como o cliente gostaria de desfrutar sua
vida? O cliente indica o percentual desejado que ele ou ela desejaria dedicar a cada uma das
quatro áreas de modo a ter uma vida mais equilibrada.
EU –
FAMÍLIA –
RECREAÇÃO –
TRABALHO –
Total 100%
3. O cliente coloca os quatro percentuais de ATUAL e DESEJADA nos espaços abaixo. O
cliente subtrai a porcentagem ATUAL da DESEJADA a fim de obter o RESTANTE, que é o
montante de mudança que ele ou ela necessita fazer em cada área a fim de alcançar o
equilíbrio em sua vida. O maior valor alcançado merece mais atenção. O menor valor
alcançado significa que a área precisa menos atenção.
EU
FAMÍLIA
RECREAÇÃO
TRABALHO
DESEJADA
ATUAL
RESTANTE
4. Com base nos quatro RESTANTES, o cliente escolhe três o quatro atividades ou
objetivos para cada área que ele ou ela poderia estabelecer para fazer as mudanças
necessárias para alcançar maior equilíbrio em sua vida. O cliente coloca estes objetivos e
atividades no espaço abaixo. A colocação em prática dos mesmos torna-se a base para o plano
de cuidado pessoal. Depois de o cliente aplicar o plano por uma semana, revise com ele ou
com ela e motive-o a decidir o que ele ou ela deseja manter ou acrescentar, ou cancelar.
EU –
FAMÍLIA –
RECREAÇÃO –
7
TRABALHO –20
C.2. Avaliação da atividade incessante pelo Espírito de Profecia
Os cristãos não estão livres do vicio em trabalho. Quem o tem só pára a fim de ir à
igreja para assistir aos cultos ou quando está dormindo. Parece ser um hábito da cultura
européia. Em si mesmo é louvável, pois enaltece o valor do trabalho como uma bênção divina;
por outro lado, quando levado às ultimas consequências, pode se tornar uma fonte de
estresse, inclusive enfermidade mais graves.
Ellen White tem um conselho inspirado que serve de orientação, para reverter a
atividade incessante: “Insisto com você [S. N. Haskell] para que não trabalhe acima daquilo
que é capaz de fazer. Devia ter menos trabalho constante e árduo, a fim de que possa manterse em condição repousada. Deve haver uma sesta durante o dia. Poderá então pensar de
pronto, e seus pensamentos serão mais claros e suas palavras mais convincentes. E não deixe
de pôr de lado todo o seu ser em ligação com Deus. Aceite o Espírito Santo para sua
iluminação espiritual, e sob sua guia prossiga em conhecer o Senhor. Vá para onde o Senhor o
dirigir, fazendo o que Ele ordenar. Espere no Senhor e Ele lhe renovará as forças.
Mas não se requer do irmão ou de mim estarmos num esforço contínuo. Devemos
render continuamente o que Ele de nós requer, e Ele nos mostrará o Seu concerto”. 21
A orientação acima indica que é preciso uma mudança radical de hábito. Primeiro
interrompendo o trabalho continuo; em segundo lugar, fazer uma breve sesta, que alem de
proporcionar descanso, confere um funcionamento do cérebro mais aguçado. O principal
motivo para evitar uma atividade constante é o de obter mais tempo para a comunhão com
Deus.
Na verdade, essa deve ser a prioridade número um do cristão: “Far-nos-ia bem passar
diariamente uma hora a refletir sobre a vida de Jesus. Deveremos tomá-la ponto por ponto, e
deixar que a imaginação se apodere de cada cena, especialmente as finais. Ao meditar assim
em Seu grande sacrifício por nós, nossa confiança nEle será mais constante, nosso amor
vivificado, e seremos mais profundamente imbuídos de Seu espírito. Se queremos ser salvos
afinal, teremos de aprender ao pé da cruz a lição de arrependimento e humilhação”. 22
Por que será que algumas pessoas têm o hábito de estarem sempre ocupados? Caso
não o façam parece que estão a cometer um pecado imperdoável. Trata-se de uma inversão
de prioridades, onde o maior engano está em não dedicar a Deus o tempo que Ele merece por
20
Ibid.
White, Conselhos aos idosos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003), 125.
22
Idem, O desejado de todas as nações, em 1CD-Rom.
21
8
direito inalienável. Parece uma síndrome de Marta, sempre atarefada, enquanto a atitude
correta encontra-se em Maria, que ficou aos pés de Jesus para dEle apreender-Lhe os ensinos
(Lc 10:38-42).
Este hábito de estar sempre fazendo algo não poderia ser classificado como
transgressão do primeiro e segundo mandamentos? Sim, não seria colocar o trabalho acima de
Deus, tornando-o uma espécie de ídolo?
Como se pôde perceber por uma das citações acima, não é pecado interromper a
labuta diária, especialmente quando se está sobrecarregado e tirar um tempo para descansar.
Sobretudo, o mais importante é separar tempo para comungar com Deus e obter uma
renovação das forças físicas, mentais e espirituais.
Levado às últimas consequências, o costume de trabalhar incessantemente, sem
tempo para a comunhão diária com Deus poderia ser classificada como uma iniciativa humana
de justificação pelas obras. Seria mais ou menos assim, “Não posso ser indolente. Tenho que
trabalhar bastante, na verdade todo o tempo, para agradar a Deus e receber as Suas bênçãos”.
A única solução possível, caso seja esta a motivação para uma atividade incessante, é a
de compreender e viver na prática a justificação pela fé. Sim, porque devido a nossa natureza
intrinsecamente pecaminosa (Rm 3:23), é-nos impossível fazer algo que mereça o favor divino
(Rm 4:1-7). O único recurso é o de aceitar a graça imerecida de Deus: “Porque pela graça sois
salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém
se glorie” (Ef 2:8-9 ARA).
Pode haver outro motivo que explique o porquê algumas pessoas não cessem de
trabalhar. É o que veremos a seguir.
C.3. O costume de estar sempre ocupado pode ser uma tentativa de ganhar ou poupar
dinheiro.
“Dá-se frequentemente que os idosos não estão dispostos a compreender e
reconhecer que sua força mental está falhando. Abreviam os próprios dias com o tomarem
sobre si cuidados que pertencem a seus filhos. Satanás joga muitas vezes com a imaginação
deles, e leva-os a sentirem continua ansiedade com relação aos bens que possuem. Isto é seu
ídolo, e amontoam com avareza. Privam-se muitas vezes dos confortos da vida, e trabalham
além de suas forças, de preferência a usar os meios que tem. Colocam-se assim em constante
carência, por temor de que, em algum tempo futuro, venham a sofrer falta.
Todos estes temores são originados por Satanás. Ele estimula os órgãos que levam aos
temores servis e aos ciúmes que corrompem a nobreza do intelecto e destroem os
pensamentos e sentimentos elevados. Essas pessoas são insensatas no que respeita ao
9
dinheiro. Caso tomassem a atitude que Deus deseja que mantenham seus últimos dias seriam
os melhores e mais felizes. Os que têm filhos em cuja honestidade e cuidadoso governo têm
motivos para confiar, devem permitir que eles os tornem felizes. A menos que façam isto,
Satanás se aproveitará de sua falta de resistência mental, e manejará com eles. Devem por de
lado a ansiedade e as preocupações, ocupar o tempo da maneira mais satisfatória possível, e
amadurecerem para o Céu”. 23
É possível que o objetivo de ganhar ou poupar dinheiro se constitua num dos motivos
de se trabalhar incessantemente. A citação acima revela que esta pode ser uma atitude
instigada por Satanás para provocar desgaste mental, pior ainda, para encurtar
desnecessariamente a vida do idoso.
Quão bom seria que os pais idosos atendessem aos conselhos dos filhos que procuram
com amor prolongar os seus dias na terra, abstendo-se de atividades incessantes que estão a
minar suas energias físicas, mentais e espirituais.
Tomemos o seguinte trecho: “Privam-se muitas vezes dos confortos da vida, e
trabalham além de suas forças, de preferência a usar os meios que tem”. Alguns idosos, já na
casa dos setenta ou oitenta anos, resistem à ideia de colocar alguém para trabalhar em suas
casas, ainda que tenham recursos financeiros para fazê-lo. Seria muito bom que atendessem
ao conselho inspirado e deixassem de se suicidarem com excesso de trabalho inteiramente
desnecessário.
O tempo livre poderia ser dedicado ao estudo da Palavra de Deus, a pesquisa do
Espírito de Profecia, a visitação dos filhos, netos e demais familiares. Afinal pessoas são mais
importantes do que coisas ou trabalho.
Queridos idosos que estão a ler este artigo, por favor, ponderem cuidadosamente os
conselhos inspirados de Ellen White e decidam por ter um restante de tempo de vida com
qualidade, sobretudo com saúde plena.
C.4. Uma receita simples e prática do Espírito de Profecia para uma boa manutenção
da saúde dos idosos e demais pessoas
Parte-se do pressuposto de que os oito remédios naturais colocados a nossa
disposição constituem-se nos melhores preventivos para a manutenção da boa saúde: “Ar
puro, luz solar, abstinência, repouso, exercício, regime conveniente, uso de água e confiança
no poder divino - eis os verdadeiros remédios”.24
23
24
Idem, Conselhos aos idosos, 79-80.
Idem, ciência do bom viver, 127, em 1CD-Rom.
10
A colocação em pratica destes princípios requer boa vontade e empenho pessoal: “O
uso dos remédios naturais requer certo cuidado e esforço que muitos não estão dispostos a
exercer. O processo da natureza para curar e construir é gradual, e isso parece vagaroso ao
impaciente. Demanda sacrifício e abandono das nocivas condescendências. Mas no fim se
verificará que a natureza, não sendo estorvada, faz seu trabalho sabiamente e bem. Aqueles
que perseveram na obediência a suas leis, ganharão em saúde de corpo e de alma”. 25
Dever ser muito difícil para os idosos empreenderem uma sequência de mudança de
hábitos, contudo é isto que Deus deseja que eles façam. Aliás, alguns não acreditam que
pessoas com idade avançada não mudem seus hábitos nocivos arraigados. Particularmente,
acredito que uma vez que mostremos com amor e respeito as mudanças a serem
empreendidas, os idosos irão atender e por em prática, sobretudo porque acreditamos no
poder renovador e capacitador do Espírito Santo.
Assim, com submissão e entrega a Deus, boa vontade e determinação, os idosos
podem colocar em prática estes bons hábitos de vida:
a) Confiança no poder divino. Isto é tanto uma atitude mental quanto um hábito a ser
desenvolvido. A atitude é um confiar constante e pleno no cuidado de Deus, já o hábito requer
a prática de uma comunhão pessoal e diária com Deus através do estudo da Bíblia, ou seja,
entender e viver a justificação pela fé na rotina diária.
b) Por sua vez, o ar puro e a luz solar requerem um ambiente saudável, junto à
natureza, sem poluição ambiental. Sabe-se que a recepção da luz solar proporciona a obtenção
da vitamina D, tão necessária para a fixação do cálcio nos idosos, evitando desta maneira a
osteoporose.
c) A abstinência é o “não” da temperança e do equilíbrio que promove o bem. De
acordo com o conselho inspirado, “Temperança no comer, no beber, no dormir e vestir é um
dos grandes princípios da vida religiosa”.26 Não a qualquer tipo de ação viciosa, não aos
excessos, tais como o trabalho incessante ou até mesmo exercícios em demasia.
d) Repouso. Mais uma vez, segundo a inspiração, “Trabalhar demais é destrutivo para
as faculdades físicas, mentais, e morais. Se forem concedidos ao cérebro períodos apropriados
de repouso, os pensamentos serão claros e incisivos, e os trabalhos serão feitos com
25
26
Ibid.
Idem, Conselhos sobre o regime alimentar, 157, em 1CD-Rom.
11
rapidez”.27 Como visto acima, a carência de sono pode ser uma das causas da perda de clareza
mental e lentidão na execução das tarefas cotidianas.
Necessita-se de repouso, diário através do sono no horário correto, ou seja, entre 22 e
6 horas da manhã, preferencialmente; Semanal, no sábado, dia do Senhor, com assistência à
escola sabatina e ao culto divino, alem da participação em atividade missionária conveniente;
anual, no período normal de férias. Como visto acima, no caso de excesso de trabalho, é
apropriado que se tire uma sesta restauradora das energias físicas e mentais. Mesmo os
aposentados deveriam ter um tempo no ano para descanso, fora da rotina normal.
e) Exercício. Conforme Ellen White, o melhor exercício é o caminhar, pois “movimenta
mais músculos. Os pulmões são forçados a uma ação benéfica, uma vez que é impossível andar
em passo rápido sem os dilatar”. 28
A seguir, apresenta-se uma citação do Espírito de Profecia que interliga a prática de
exercício com repouso como solução para o excesso de trabalho: “Os devidos períodos de
sono e repouso, e abundância de exercício corporal, são essenciais à saúde física assim como à
mental. Roubar à natureza suas horas de repouso e restauração, por permitir-se a um homem
fazer o trabalho de quatro, ou de três, ou mesmo de dois, dará em resultado perda
irreparável”.29 Quão seria é a necessidade de sermos equilibrados na execução do trabalho.
Intemperança implica em perda irreparável.
f) Regime conveniente. No livro Conselhos sobre o regime alimentar, Ellen White
menciona o regime alimentar ideal: “Cereais, frutas, nozes e verduras constituem o regime
dietético escolhido por nosso Criador”.30
A seguir, apresenta-se uma citação relevante que interliga três dos remédios naturais
já mencionados acima: “Estudo diligente não é a principal causa da debilitação das faculdades
mentais. A causa principal é o regime dietético inadequado, refeições irregulares, falta de
exercício físico. Comer e dormir em horas irregulares minam as forças cerebrais”. 31
Portanto, a debilitação das faculdades mentais (em Ellen White, as faculdades mentais
aparecem em oposição às faculdades físicas,32 ou seja, por faculdades mentais devem-se
27
Idem, Testemunhos seletos, 3:196, em 1CD-Rom.
Idem, Conselhos aos idosos, 133.
29
Idem, Obreiros evangélicos, 423, em 1CD-Rom.
30
Idem, Conselhos sobre o regime alimentar, 81, em 1CD-Rom.
31
Ibid., 123.
32
Idem, Conselhos aos pais, professores e estudantes, 64, em 1CD-Rom.
28
12
entender as habilidades de raciocinar, sentir e decidir) está diretamente ligada à irregularidade
na alimentação, à prática de exercício físico e ao repouso.
g) Uso de água. O Espírito de Profecia recomenda o uso de “água branda para beber e
banhar-se”,33 que resultará numa existência feliz.
Assim, a preservação da saúde está ligada à regularidade na prática dos remédios
naturais concedidos por Deus.
D. Conclusão
Para a psicologia, o vicio em trabalho é uma desordem obsessivo-compulsiva. Trata-se
de uma tentativa inconsciente de resolver necessidades psicológicas não atendidas, cujas
raízes se originam na família. Na raiz dos hábitos obsessivos de trabalho, encontram-se
sentimentos de inferioridade, medo de falhar e defesa contra ansiedade não resolvida. A
crença subjacente é de que se o viciado em trabalho não estiver sempre em atividade, ele não
terá o direito de existir. Assim como o alcoolismo, é uma doença da alma, uma doença
espiritual. Os sintomas indicativos são: preocupação dominante com trabalho; dificuldade em
delegar; negligencia de aspectos relevantes da vida como tempo para a família, inclusive sua
vida pessoal; fadiga, explosão de nervos, inquietação, insônia, dificuldade para relaxar,
irritação, impaciência, esquecimento, dificuldade para se concentrar, aborrecimento. Entre as
conseqüências psicológicas do vicio em trabalho encontram-se: ansiedade, depressão, ira,
insatisfação, desestruturação familiar (cônjuges e filhos reclamam de sentimentos de solidão,
carência de amor, isolamento e abandono físico e emocional); entre as conseqüências físicas
estão ataques cardíacos, colapso que conduz a uma doença catastrófica, inclusive suicídio.
O vicio em trabalho também afeta a vida espiritual, sendo que o principal prejuízo é o
impedimento de uma comunhão adequada com Deus. É uma violação do primeiro e segundo
mandamentos, pois o trabalho é colocado acima de Deus como uma espécie de ídolo. Alem do
mais, este costume de atividade incessante pode ser uma tentativa humana de justificação
pelas obras. Aquele que procura agradar a Deus através de um trabalho contínuo, até mesmo
na obra da pregação do Evangelho, deveria aprender a descansar no Seu amor, graça e justiça.
Entre os possíveis motivos que levam uma pessoa a trabalhar incessantemente está o
de ganhar ou poupar dinheiro. Segundo Ellen White, esta pode ser uma atitude instigada por
33
Idem, Mensagens escolhidas, 1:456, em 1CD-Rom.
13
Satanás que provoca desgaste mental e encurta a vida do idoso, sendo, na verdade, um
suicídio programado.
Seguramente, o colocar em prática os oito remédios naturais, sugeridos pelo Espírito
de Profecia, contribuirá grandemente para a restauração da saúde física, mental e espiritual de
qualquer pessoa: ar puro, luz solar, abstinência, repouso, exercício, regime conveniente, uso
de água e confiança no poder divino.
Receita de um correto estilo de vida para um dia:
Antes de elaborar a agenda diária, é preciso estabelecer as prioridades pelas quais o
tempo será distribuído:
EU
FAMÍLIA
RECREAÇÃO
TRABALHO
Depois, é só fazer a agenda propriamente dita.
1. Uma hora de comunhão com Deus (estudo da Bíblia).
2. Desjejum com frutas e cereais integrais.
3. Atividades normais do dia (após duas horas da refeição iniciar o consumo de água
pura).
4. Almoço conforme o regime dietético orientado por Deus (beber água pura até uma
hora antes da refeição).
5. Caso seja necessário, devido ao volume de trabalho, uma breve sesta.
6. Atividades normais do dia.
7. Uma hora de exercício ao ar livre (pode ser pela manhã, se assim o preferir).
8. Jantar com frutas e cereais integrais
9. Momentos de lazer, leitura, assistir TV, etc.
14
10. Repouso – 22 hs
Esta é uma apostila preparada pelo professor Natanael Moraes. Se desejar, pode
imprimir para uso pessoal. Por favor, respeite os direitos autorais do professor e não repasse
a outros.
15

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