1 QUATRO FASES DE ACONSELHAMENTO Natanael BP
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1 QUATRO FASES DE ACONSELHAMENTO Natanael BP
QUATRO FASES DE ACONSELHAMENTO Natanael B. P. Moraes Como uma sinfonia que geralmente tem quatro movimentos, o aconselhamento pastoral também tem quatro fases: esclarecimento, formulação, intervenção e conclusão. Esclarecimento A primeira fase do esclarecimento começa no momento em que o pastor e o membro mantêm contato visando o aconselhamento. Pode ser tão simples como “Você tem cinco minutos para mim?”, ou “Posso falar com você na semana que vem?”. O pastor precisa assegurar ao aconselhado(a) que o conteúdo tratado na seção de aconselhamento merece sigilo absoluto. Em nenhuma hipótese deve mencionar privada ou publicamente o que foi tratado no escritório de aconselhamento. Caso isto ocorra, o pastor poderá perder sua credibilidade como conselheiro. O primeiro passo consiste em esclarecer o processo que se inicia com o aconselhamento. Deve-se estabelecer uma diretriz para o aconselhamento e evitar que o relacionamento de aconselhamento se estenda para fora do escritório em cada encontro do pastor com o(a) aconselhado(a). Evita-se aconselhamento na porta da igreja ou em qualquer local público. O normal é no escritório pastoral. As primeiras comunicações são não verbais: a porta fechada, a dedicação de toda a sua atenção para o(a) aconselhado(a). Além desta fase inicial, sua principal tarefa consiste em ouvir. Isto demonstra ao aconselhado(a) um sentimento de aceitação e compreensão, também cria uma boa atmosfera para exploração, crescimento e mudança. Este processo de construção do relacionamento através da escuta é o aspecto mais importante da fase inicial do aconselhamento. É um período para análise da situação do(a) aconselhado(a) e da sua maneira única de perceber o mundo e a realidade. Por vezes o pastor não compreende bem o propósito desta fase inicial. Ele pode tender a seguir os seus instintos naturais e procurar ir direto para o conselho, o consolo, a persuasão, a exortação ou a elaboração de perguntas. É interessante procurar estabelecer uma identificação básica com o(a) aconselhado(a), comunicar aceitação e compreensão para auxiliar o(a) aconselhado(a) a se sentir seguro(a). Formulação Através do processo de esclarecimento, o conselheiro se prepara para o segundo passo, que é o da formulação. Nesta fase, o estilo de aconselhamento se direciona para a abordagem com perguntas, interligando a escuta empática com a apresentação de perguntas. O objetivo desta segunda fase é o de descobrir a natureza da situação do(a) aconselhado(a) e a formulação que conduzirá a devida intervenção. Uma parte importante da formulação (“diagnose” num sentido mais amplo) é a de saber formular a pergunta correta para se obter um quadro mais amplo da situação do(a) aconselhado(a). É bom que se tenha uma noção da psicopatologia que afeta a maior parte das pessoas, por exemplo, pode ser que haja uma fonte biológica do problema (esquizofrenia e certos tipos de depressão) e isto deve ser reconhecido e devidamente encaminhado para o devido tratamento. Intervenção Esta fase se interliga com o processo de formulação e inicia quando é preciso tomar a primeira decisão no sentido de saber como e se é necessário intervir. Aqui se necessita um bom conhecimento para se tratar dos problemas que surgem para se saber quando se deve encaminhar o(a) aconselhado(a) para um terapeuta clínico (psicólogo, psiquiatra). Uma boa pergunta a ser feita pelo pastor é: “O processo de aconselhamento é da minha alçada?”. A resposta a esta pergunta indica se o(a) aconselhado(a) necessita de um atendimento que está além das nossas habilidades. A percepção de direcionar o(a) aconselhado(a) para o profissional que tem a devida habilidade de um atendimento adequado é de extrema importância. O pastor precisa ter um círculo de profissionais cristãos competentes a quem recorrer para evitar que o(a) aconselhado(a), quando for o seu caso, fique a vagar sem o devido tratamento. Conclusão Como a primeira fase do esclarecimento, a fase de conclusão representa uma transição, uma mudança no relacionamento. Esta fase é mais fácil para o psicólogo do que para o pastor. No caso do pastor, esta fase apresenta mudanças desafiadoras que podem conter benefícios e perigos. 1 O propósito desta fase é o de simbolicamente celebrar o fim do relacionamento formal de aconselhamento e a transição para o relacionamento “normal” entre pastor e membro. Isto se deve ao fato de que o principal trabalho do pastor não é o de ser conselheiro. Todavia é bom lembrar que o pastor precisa estar sempre disponível caso surja algum problema no futuro com o membro. O pastor também pode perguntar discretamente como vai a situação do membro, exercendo o seu papel de um contínuo relacionamento pastoral, demonstrando um contínuo interesse pastoral. William R. Miller, Practical psychology for pastors (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1985), 10-17. Fase de Aconselhamento Esclarecimento Formulação Propósito 1. Realizar a transição para o aconselhamento 2. Construir relacionamentos terapêuticos 3. Esclarecer os objetivos Obter uma compreensão acurada da situação ou do problema do(a) aconselhado(a) Intervenção Direcionar-se para os objetivos do aconselhamento Conclusão Retornar ao relacionamento pastoral anterior ao aconselhamento Habilidades Necessárias 1. Ouvir reflexivamente 2. Aceitação e empatia 1. Conhecimento de psicopatologia 2. Sistema organizado de pensamento sobre pessoas e problemas 1. Habilidades específicas de intervenção 2. Conhecimento sobre como escolher intervenções adequadas 3. Conhecer bons profissionais a quem recorrer 1. Habilidades de transição suaves 2. Habilidades de apoio contínuas 3. Desenvolvimento de uma comunidade que apóia William R. Miller, Practical psychology for pastors (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1985), 1017. 2 NAMORO O Problema do Namoro Prematuro O namoro é um dos focos de maior tensão entre pais e filhos.1 Os adolescentes investem muito do seu tempo, dos seus pensamentos, energia sobre namoro. O irônico é, enquanto os adolescentes investem tanto tempo para o tema do namoro, poucos estão preparados para fazerem as escolhas que o namoro exige. Constantemente os adolescentes recebem pressão dos amigos para namorarem alguém. Causas do Namoro Prematuro Muitos adolescentes enfrentam situações perigosas e desapontamentos porque começam o “jogo do namoro” cegamente, sem estarem cônscios das decisões a serem feitas no namoro. Decisões no Namoro De um modo geral, os adolescentes gastam muito tempo diante do espelho, antes de saírem à procura de alguém. Contudo, poucos estão devidamente preparados para tomarem decisões relevantes para um bom namoro. Quando começar a namorar. Esta é uma questão que gera muitos conflitos nos lares, “Quando um adolescente pode começar a namorar?” Alguns pais pensam que os filhos deveriam atingir uma certa idade antes de namorar. Alguns adolescentes pensam que já nasceram prontos para namorarem; outros se preocupam, pensando que já ultrapassaram “a data limite” para o início do namoro. A idade cronológica é apenas um indicador de que um adolescente está pronto para namorar. O fator preponderante é se ele ou ela são espiritual e emocionalmente maduros o suficiente para enfrentarem as consideráveis decisões e perigos que envolvem o namoro. Alguns adolescentes podem ser suficientemente maduros aos quinze ou dezesseis anos; outros, provavelmente deveriam esperar mais para começarem a namorar. Fatores chaves que indicam que os adolescentes estão maduros para o namoro são: 1. Ele ou ela são influenciados, com freqüência, pela pressão do grupo? 2. Ele ou ela são atraídos, principalmente, por adolescentes da mesma idade? 3. Ele ou ela pretendem namorar para desenvolverem amizade ou romance? 4. Ela ou ela já fizeram o compromisso de abstinência sexual até o casamento e estão determinados a não comprometerem este compromisso? 5. Ele e ela já têm a permissão dos pais para namorar? Se as respostas foram não às questões acima, o adolescente deveria desenvolver mais maturidade antes de começar a namorar. O fator da idade. “Meu namorado é vários anos mais velho do que eu”, afirmou uma jovem, “e meus pais não querem que eu namore com ele. Será que a diferença de idade realmente importa?” Enquanto a diferença de idade de cinco anos faz pouca diferença entre um jovem de 30 e uma jovem de 25 anos, por exemplo, pode ser problemático para uma adolescente de quatorze namorar um adolescente de dezenove anos. A razão para isto é que antes dos vinte anos ocorrem muitas mudanças físicas, emocionais e espirituais; algumas mudanças podem ocorrer tão rapidamente de modo a não permitir que um adolescente esteja bem preparado para enfrentá-la. Naturalmente, mais uma vez, a questão central não é a idade cronológica, mas a maturidade espiritual e emocional. Todavia, diferenças de idade de mais de dois anos, em princípio, deveriam ser evitadas até aos vinte anos. Namoro inter-racial. Embora muitos livros sobre namoro evitem o tema, o namoro inter-racial é uma questão que muitos jovens enfrentam. É bom deixar bem claro o que a Bíblia diz, “não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3:28). Jesus quebrou todas as barreiras entre judeus e samaritanos (Jo 4:1-10); cananitas e judeus 1 Esta sessão que trata de aconselhamento sobre namoro fundamenta-se em Josh McDowell, e Bob Hostetler, Josh McDowell’s Handbook on Counseling Youth (Dallas, TX: Word Publishing, 1996), 121-128. 3 (Mt 15:21-28); romanos e judeus (Lc 7:1-10). Os jovens cristãos devem estar bem cônscios da possibilidade de haver implicações sociais devido a um relacionamento inter-racial, contudo a cor não pode ser uma barreira para o relacionamento entre cristãos.2 Namoro “missionário”. Pode um jovem adventista namorar um não-adventista? Pode um jovem utilizar o namoro como um meio de testemunhar por Cristo? A Palavra de Deus responde estas questões com bastante clareza: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas?” (2Co 6:14). A advertência de Paulo não se aplica apenas a negócios, por exemplo, mas também a namoro e casamento. O que um cristão pode compartilhar com um [não-cristão]? Há muitas áreas de interesse em comum... Hobies, música, esportes, política, interesses intelectuais, todos podem ser pontos de contato entre cristãos e não-cristãos. Contudo, será que é possível encontrar um valor de interesse eterno entre os dois? Não, você não pode encontrar. Em áreas vitais como vontade de Deus, ética divina, reino de Deus, valores da família de Deus e relacionamento marido-mulher cristãos, você percebe que cristãos e não-cristãos são verdadeiros estranhos. Todavia, é nestas áreas que o amor e o casamento acontecem. É aqui onde a comunicação realmente se efetiva.3 Isto não significa que um cristão não possa desfrutar de bom companheirismo com não-cristãos como jogar futebol, compartilhar um sorvete, etc. Contudo, os jovens cristãos que se envolvem em romances com não-cristãos estão ultrapassando uma linha de proteção estabelecida pela Palavra de Deus. Perigos no Namoro Os adolescentes que se preparam para o namoro precisam não apenas confrontar as decisões a serem feitas para iniciarem este tipo de relacionamento, mas, também, estarem cônscios dos perigos: 1. Há o perigo de se isolar dos amigos. Relacionar-se com alguém do mesmo sexo é tão importante quanto relacionar-se com o sexo oposto. Mas, às vezes, quando alguém está namorando, passa a deixar os amigos de lado, e esses amigos podem ser muito importantes, principalmente se o namoro vir a terminar. Também há o perigo de esquecer outros relacionamentos importantes como irmãos, irmãs, e os pais. 2. Há o perigo de namorar por motivos errados, como por exemplo, namorar para impressionar os amigos, para obter alguém de volta ou namorar por ciúme. Em tais casos, você está meramente usando o seu(sua) namorado(a). Você realmente não se importa com a outra pessoa. 3. Muitos namoros se baseiam em poder, não em amor. O namoro torna-se um jogo de poder. A outra pessoa é mantida na ponta de um elástico como se fosse um iô-iô. 4. Há o perigo de confundir atração física e emocional com o amor verdadeiro. Há, igualmente, o perigo de permitir que o desejo sexual assuma o controle.4 Com muita freqüência, especialmente aqueles que começam namorar muito cedo, estão temerariamente despreparados para enfrentar os perigos que o namoro pode apresentar, e, como resultado, exporem-se desnecessariamente ao pior que a experiência do namoro pode oferecer. Propósitos do Namoro Alguns tipos de namoros são caracterizados por linguagem imprópria e jogos sexuais inadequados. O jovem cristão deve evitar isto. Para tanto, ele precisa definir bem os propósitos, os padrões e os planos para o namoro. Propósito. Surpreendentemente a maioria dos adolescentes dá pouca atenção aos propósitos do namoro. Para eles, o mais importante é seguir o rumo da atração sentida pela pessoa do sexo oposto. A seguir, alguns dos propósitos do namoro: 2 Ver estudo sobre casamento inter-racial na apostila de Família e sociedade do professor Natanael Moraes, 25-32. Barry Wood, Questions Teenagers Ask about Dating and Sex (Old Tappan, NJ: Fleming H. Revell, 1981), 144; citado em Josh McDowell, e Bob Hostetler, Josh McDowell’s Handbook on Counseling Youth (Dallas, TX: Word Publishing, 1996), 124. 4 Lês J. Christie, Dating and Waiting: A Christian View of Love, Sex, and Dating (Cincinnati, OH: Standard Publishing, 1983), 12-14; citado em Josh McDowell,e Bob Hostetler, 125. 3 4 1. Socialização. Através do namoro obtém-se diversão com outra pessoa, conhecimento, companhia de outra pessoa, aprende-se a compartilhar interesses comuns, desenvolve-se a habilidade de dialogar. O namoro é um meio de aprender mais a respeito de si mesmo, ao mesmo tempo, é uma oportunidade de desenvolver a capacidade de perceber as necessidades e sentimentos de outra pessoa. 2. Escolha do futuro cônjuge. Obviamente, a pessoa com quem você se casar será aquela com quem você namorou. A seqüência geralmente é: a) Namoro casual. Pouco envolvimento emocional. O jovem começa um relacionamento com alguém do sexo oposto pelo prazer de ter alguma coisa para fazer e algum lugar para ir. Este passo permite que você comece a conhecer alguém. b) Namoro Especial. Este passo requer um grau limitado de envolvimento emocional. c) Namoro firme. Este passo é atingido quando dois jovens decidem fazer um compromisso de amor e companheirismo mútuos. Quando eles percebem que existe uma harmonia de personalidades. d) Pré-noivado. Quando o casal de namorados começa naturalmente a desejar um relacionamento permanente e fala sobre futuros planos de casamento. e) Noivado. Este passo é formalizado com a troca de um símbolo (aliança) e o anúncio público da data do casamento. f) Casamento. Depois de um período mínimo de dois anos de conhecimento, havendo comprovado que realmente há amor, compreensão e harmonia de personalidades, ambos estão prontos para a união definitiva.5 Uma clara compreensão dos propósitos do namoro é crucial. Obviamente, a exploração e as relações sexuais não se constituem propósitos saudáveis do namoro; mas a socialização e a escolha do futuro cônjuge são propósitos legítimos para o namoro. Padrões. Um jovem suficientemente amadurecido estará apto a estabelecer padrões e limites para o namoro. Os pais, bem como outros líderes, deverão auxiliar os jovens a responder questões tais como: 1. Devo freqüentar apenas lugares públicos quando estou namorando? 2. Que tipos de toques e interações são aceitáveis? 3. Que tipos de atividades evitarei ou recusarei? Se tais questões forem devidamente respondidas antes que a tentação chegue, poderão impedir muitos problemas. Os padrões do namoro deveriam incluir uma determinação clara até onde os namorados podem ir na expressão de afeto: 5 Nancy Van Pelt, The Compleat Courtship (Washington, DC: Review and Herald Publishing Association, 1982), 36-38. 5 ESTABELECENDO LIMITES Estar Juntos Áreas Seguras Mãos Dadas Beijo Simples Início do Perigo Beijo Prolongado Excitação Masculina Abraçar Excitação Feminina Carícias Leves Desejos Incontroláveis Carícias Pesadas Relação Sexual6 Impossível Retornar A linha demarcatória da prudência deve ser traçada logo após o beijo simples. A grande maioria dos casais de namorados, de qualquer idade, não pode ir mais longe sem ter de enfrentar problemas. Planos. O último passo no estabelecimento de um bom propósito para o namoro é o planejamento. Deve-se começar planejando a criação de um clima que favoreça o aprofundamento da amizade. Uma boa escolha é andar livremente por um: parque, shopping, zoológico, etc. Este tipo de atividade facilita o diálogo, permitindo que os participantes descubram os gostos e as preferências um do outro, aquilo que não gostam e as experiências prévias de suas vidas. Outras boas atividades para o namoro incluem: 1. Jogos de mesa como quebra-cabeças 2. Esportes simples como ping-pong 3. Passeio de barco a vela, surfar 4. Um passeio pela vizinhança 5. Jantar juntos 6. Andar de patins, skate 7. Fazer longas caminhadas 8. Produzir vídeos caseiros 9. Planejar uma festa para os amigos 10. Ver álbuns de fotos de família juntos Outro ponto chave no planejamento para o namoro é preparar previamente respostas à questões que poderão surgir, tais como: 1. Quanto dinheiro eu posso gastar? 2. O que eu vou dizer se o(a) meu(inha) namorado quiser ter contatos físicos mais íntimos? 3. Se ele(a)quiser me levar para um lugar que eu não gostaria de ir, o que devo fazer? 4. Se, porventura, surgirem estas circunstâncias, poderia vir a terminar o namoro? 5. Como eu posso avaliar se o namoro vai bem ou não? 6. É relevante consultar os pais antes de sair para saber o ponto de vista deles? Uma pesquisa feita com 1.322 jovens adventistas no Brasil, sobre o interesse dos pais em saber para onde e com quem seus filhos saem, revelou o seguinte: 58% - sempre 10% - muitas vezes 16% - algumas vezes 6 Natanael B. P. Moraes, Teologia e ética do sexo (Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Advenrtista, 2000), 206. 6 9% - raramente 7% - nunca Isto significa que dois terços dos pais (68%) se preocupam em saber com quem os filhos saem e quais os lugares que eles freqüentam. Vinte e cinco por cento o fazem esporadicamente, e 7% simplesmente não se importam.7 A Resposta ao Problema do Namoro Prematuro Será que os jovens estão prontos para namorar? Será que eles namoram com discernimento? Será que os jovens estão sendo vítimas dos riscos do namoro. Um pai sensível, um líder de jovens pode auxiliar os jovens a responder estas questões através do emprego da seguinte estratégia: Ouça. Dedique tempo para conversar com o jovem acerca de namoro e ouça, realmente o que ele ou ela tem a dizer. Procure averiguar se ele ou ela possuem a maturidade emocional e espiritual para começarem a namorar com a devida prudência. Demonstre simpatia. Procure lembrar dos seus tempos de adolescência e da importância que o relacionamento moças-rapazes tinha para você. Seja cuidadoso no reconhecimento da urgência e da importância que as questões do namoro têm para os adolescentes. Procure, também, compreender as necessidades emocionais e espirituais que os jovens almejam suprir no namoro. É preciso que os pais e os líderes jovens saibam perceber se as expectativas dos jovens são ou não realísticas, através da perspectiva deles. Afirme. Com freqüência, os jovens utilizam o namoro para suprir necessidades que não estão sendo atendidas por outros relacionamentos, por exemplo, o relacionamento com os pais. Se, porventura, os pais não estão correspondendo às expectativas de seus filhos referentes a amor e a aceitação, os jovens ficarão vulneráveis às pressões, perigos e prazeres impróprios no namoro. Os relacionamentos no namoro serão mais fáceis de serem administrados se os jovens receberem afirmação, afeição e apreciação de outras pessoas – especialmente dos seus pais. Direcione. Pais, pastores, pessoas que trabalham com jovens, ou professores podem auxiliar os jovens que estão pensando namorar através das seguintes iniciativas: 1. Orar por eles. 2. Orar com ele ou ela acerca da experiência do namoro. 3. Acompanhá-los nas decisões a serem feitas sobre namoro. 4. Informar os jovens sobre os perigos que o namoro pode oferecer. 5. Auxiliar os jovens a formular bons propósitos para o namoro, dentro dos parâmetros apresentados no presente guia. Motive-os a fazerem um compromisso. Bons pais e bons líderes de jovens devem auxiliá-los a planejar seus respectivos namoros mediante o estabelecimento de um “contrato de namoro” que estabeleça limites que respeitem os valores estabelecidos pela Palavra de Deus. Recomende. O líder de jovens, professor, pastor, certamente desejará envolver os pais no processo de auxílio aos seus filhos para o enfrentamento das pressões próprias ao namoro. Da mesma maneira, os pais deverão, de boa vontade, procurar o apoio de pastores especializados no trabalho com jovens, professores, ou outro líder qualquer devidamente habilitado. Noutras situações, especialmente aquelas nas quais os jovens demonstram estar passando por dificuldades sérias no namoro, pode ser necessário aos pais procurarem a orientação de um conselheiro profissional, que pode oferecer um direcionamento bíblico sólido. 7 Moraes, Teologia e ética do sexo para solteiros, 117. 7 ESCOLHA DO CÔNJUGE Ela estava com dezenove anos e cursava o primeiro ano de sua faculdade. Nunca antes estivera tão confusa. Luisa sentou-se na poltrona do conselheiro escolar e começou a abrir e fechar a carta do seu namorado que freqüentava outra faculdade, a cerca de cinco mil km dali. Inicialmente, quando ela abrira a carta e lera o remetente, ela pensou que ele estava escrevendo para terminar o namoro, que ele havia conhecido outra pessoa. Contudo, este não era o conteúdo da carta. Ele lhe escrevera para fazer um pedido. “Eu sei que deveria fazer isto pessoalmente”, ele escreveu, “e eu gostaria mesmo de fazê-lo. Mas não sei quando poderei vê-la de novo”. A carta sugeria que eles se casassem no fim do ano escolar e que ela transferisse sua matrícula para a escola dele. “O que você irá dizer a ele?” perguntou o conselheiro. “Não sei”, Luisa respondeu. “Você o ama?” “Sim”, foi o que Luisa imediatamente respondeu. Então ela baixou seus olhos e voltou a abrir e fechar a carta do namorado. “Mas...” O conselheiro esperou enquanto Luisa mexia na carta. “Não estou segura se ele é a pessoa certa”, disse ela vagarosamente. “Você não precisa responder a ele imediatamente”, sugeriu o conselheiro. “Você pode ligar para ele e dizer que não está preparada no momento para lhe dar uma resposta”. “Mas eu não posso fazer isto com ele”, disse Luisa. “Eu não posso fazê-lo”. “Então”, disse lentamente o conselheiro, “o que você vai fazer?” Luisa ergueu seus olhos, contemplou o conselheiro e começou a chorar. “Eu não sei”, foi o que ela declarou.8 O Problema da Escolha da Pessoa Certa para o Casamento As duas escolhas mais importantes na vida de um homem e uma mulher são: seguir a Cristo e o casamento. O problema da escolha da “pessoa certa” para casar pode provocar um conflito intenso, por vezes muita confusão, na mente dos jovens. A questão da “pessoa certa” é mais forte para as pessoas que não concordam com o divórcio, que desejam casar-se uma só vez por toda a vida. Se têm dúvidas, como podem resolvê-las? Como podem saber se a pessoa que encontraram é a pessoa certa? Ainda que a pessoa não esteja pensando em casamento, quando ela encontra alguém pela primeira vez, a pergunta pode vir a mente: será esta a pessoa certa? Como você poderá saber quem é a pessoa certa dentre todas as milhares do sexo oposto que você encontra? Existe algum sexto sentido que lhe esclareça? Será que você precisa sentir um friozinho na espinha para saber? Ou você deverá utilizar alguma análise racional, por exemplo, um programa de computador que defina as pessoas compatíveis ou que esclareça valores de modo a revelar a pessoa certa? Muitos jovens olham ao seu redor e vêem divórcios, casamentos infelizes e perguntam se eles podem esperar algo melhor. Observam casais em conflito e ficam preocupados quanto a fazerem uma escolha equivocada. Contemplam relacionamentos abusivos e ficam com medo de fazerem uma escolha que resulte em algo semelhante para suas vidas. As pesquisas revelam que, enquanto 90% dos adolescentes que freqüentam uma igreja acreditam que Deus pretende que o casamento seja para toda a vida, menos da metade (48%) dizem que desejam um casamento como o dos seus pais. E 43% acreditam que é muito difícil ser feliz no casamento nestes dias. Com tal clima, muitos jovens estão preocupados com a escolha do parceiro certo para o casamento. Muitos estão determinados a não repetirem os erros dos seus pais. Não desejam aumentar os índices das estatísticas de divórcio. Apesar de tudo, os jovens ainda desejam encontrar um cônjuge verdadeiro, que os ame por toda a vida. Ainda assim, estão temerosos de fazer a escolha errada. 8 Esta sessão que trata de aconselhamento sobre escolha do cônjuge fundamenta-se em Josh McDowell, e Bob Hostetler, Josh McDowell’s Handbook on Counseling Youth (Dallas, TX: Word Publishing, 1996), 129-135. 8 Causas das Escolhas Erradas Muitos jovens cometem enganos no namoro e no casamento. Alguns dos seus erros tornam-se trágicos. Freqüentemente, estes enganos não dependem de não encontrar a pessoa certa, mas resultam de outras causas. Não ser a Pessoa Certa Por vezes adolescentes e jovens cometem o engano de orar e procurar pela pessoa certa esquecendo de que, em primeiro lugar, eles deveriam ser a pessoa certa. O jovem que não se entrega a Deus, que não obedece a Sua vontade revelada na Bíblia, está perdendo tempo. É neste ponto que muitos jovens falham. Ao invés de orarem e se esforçarem por se tornar uma pessoa comprometida com o propósito de Deus para um casamento indissolúvel, muitos procuram freneticamente por um cônjuge em cada namoro – enveredando, desta maneira, para uma possível decepção. Buscando a Pessoa Errada Do mesmo modo, alguns jovens estão a procurar pela pessoa certa sem se darem conta de que eles estão, na verdade, buscando a pessoa errada. Eles idealizam em suas mentes o que pensam ser a pessoa certa. Fazem uma lista de atributos, como beleza física, “charme”, comportamento impecável, podendo incluir, também algumas virtudes sociais espirituais, como a daquele jovem, estudante de teologia, que sonhava com uma futura esposa que fosse bonita, inteligente, cristã e rica. Por vezes (normalmente sem percebê-lo) algumas garotas imaginam que “o cônjuge certo” será alguém exatamente como o “meu pai”. Naturalmente, ao procederem desta maneira, muitos jovens pintam uma imagem do sr. Correto ou da sra. Perfeita que é tão idealizada ou romântica a ponto de torná-los cegos às possibilidades ao redor deles. Isto não quer dizer que um jovem não deveria procurar por certas qualidades numa pessoa em potencial, mas simplesmente que tais qualificações deveriam refletir objetivos realistas. Utilizando Motivos Errados Alguns enganos no namoro e no casamento são freqüentemente o resultado de motivos equivocados – alguns até mesmo impróprios. Inclusive adolescentes e jovens cristãos procuram uma pessoa por motivos errados. “Senhor Desespero”. “Todos estão se casando após obterem o diploma (do ensino médio ou da faculdade), e eu também devo fazê-lo”. Síndrome de “dama-de-honra”. “Sempre a dama-de-honra, nunca a noiva”. Alguns se sentem como se fossem os últimos solteiros, e as mulheres, particularmente, parecem ter medo de ficarem sozinhas, após todos os “bons partidos” terem se casado. A grande oportunidade. Alguns se casam por causa de uma vida infeliz no lar... “Só por desaforo”. Às vezes alguns se casam logo após saírem de um relacionamento que muito os fez sofrer. Eles tentam preencher o vazio deixado ou pensam estar se vingando com esta medida... Pressão. Quando os pais pressionam para que se casem, alguns sucumbem e casam. Ou quando um namorado/noivo pressiona o outro para casar, e ele aceita... Eles se casam por obrigação, não por amor. Atender as necessidades. Muitas pessoas se casam, principalmente para atender as suas próprias necessidades, ao invés de atender as necessidades do parceiro. Estas necessidades podem centralizar-se na auto-estima, sexo, emoções, finanças, ou outras necessidades. Algumas vezes existem necessidades de caráter mais íntimo, como a de se sentir valorizado ou a de se tornar alguém importante. 9 Crise de gravidez. Um elevado número de jovens se casam a cada ano por causa da crise de gravidez. Em algumas situações, esta é a melhor medida, mas não o é na maioria dos casos. 9 A Perspectiva Bíblica da Escolha do Cônjuge Certo “O sucesso na vida não consiste tanto em se casar com a pessoa que o fará feliz”, afirma Charles Swindoll, “mas em fugir de muitos que poderiam torná-lo um miserável”.10 Existem três questões fundamentais: (1) há somente uma pessoa certa?; (2) como posso saber se encontrei a pessoa certa?; (3) como eu posso me preparar? Há Somente uma Pessoa Certa? Tim Stafford afirma: Eu acredito que se Deus deseja que você se case, ele tem uma pessoa certa para você. Penso que você pode ter certeza de encontrar esta pessoa se você andar na luz de Deus. E você, certamente, será apto a dizer, “Esta mulher [ou este homem] é a pessoa certa para mim”. Nem todos os cristãos pensam desta maneira. Alguns poderiam dizer que Deus não tem uma pessoa especialmente escolhida para você. Diriam que você poderia se casar com qualquer pessoa dentre um determinado número. É possível que estejam certos.11 Stacy e Paula Rinehart sugerem que seria mais realístico dizer que “você deve se casar com uma pessoa certa, ao invés de com a pessoa certa”: É óbvio que enfrentamos uma tensão de verdades. Deus está no controle, como Jó disse: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42:2). Também é verdade que Deus nos dá liberdade para fazer escolhas sábias dentro dos limites dos Seus valores morais. A Bíblia diz que uma pessoa cristã só pode casar com outra pessoa cristã [2Co 6:14] o que por si é bastante limitador (pois descarta muitas pessoas do mundo), mas, noutro sentido, é muito amplo (pois há muitos cristãos). Portanto, dentro do corpo de cristãos devemos fazer escolhas espiritualmente certas. Não podemos ignorar nem a soberania de Deus nem a nossa responsabilidade.12 Como Posso Saber se Encontrei a Pessoa Certa? Como muitas outras decisões, a escolha do cônjuge afetará o resto da vida de uma pessoa – na verdade, o resto da vida de duas pessoas. E, como qualquer outro esforço para conhecer a vontade de Deus, isto deverá ser feito mediante oração e estudo da Bíblia. A questão permanece, uma vez que a pessoa tenha procurado sinceramente a direção de Deus com respeito a escolha do cônjuge, como é possível saber se tomou a decisão certa? Tim Stafford oferece uma perspectiva que pode ajudar: Se você acredita que há uma pessoa certa, como poderá ter certeza? Talvez a resposta que eu vou lhe dar – é uma resposta bíblica – possa frustrá-lo. Como normalmente ocorre com a Bíblia, ela não resolve o seu problema da maneira que você gostaria que ela o fizesse. Aqui está a resposta: Você saberá com certeza a resposta no dia em que você estiver diante do pastor e disser “Sim”. Até aquele dia você não terá plena certeza. Após aquele dia a questão estará respondida, para sempre... É como uma adivinhação ou jogo. Você gostaria de saber previamente o resultado para acertar o palpite. Ao contrário disto, a decisão torna-se bem mais difícil. Você faz a sua própria 9 Barry St. Clair, e Bill Jones, Love: Making I t Last (Bernardino, CA: Here’s Life Publishers, 1988), 139-140; citado em McDowell, e Hostetler, 132. 10 Charles R. Swindoll, Singleness (Portland, OR: Multnomah, 1981), 13; citado em McDowell, e Hostetler, 132. 11 Tim Stafford, Worth the Wait: Love, Sex, and Keeping the Dream Alive (Wheaton, IL: Tyndale, 1988), 106; citado em McDowell, e Hostetler, 132-133. 12 Stacy, e Paula Rinehart, Choices, Finding God’s Way Dating, Sex, Singleness, and Marriage (Colorado Springs, CO: NavPress, 1982), 142; citado em McDowell, e Hostetler, 133. 10 escolha, e depois que você a fez, você ouve um porta bater atrás de si. Sua escolha repentinamente tornou-se a escolha de Deus. Eu acredito que nós nos frustramos porque recusamos enfrentar a difícil situação do casamento – e de nós mesmos. Nós queremos reduzir o casamento a uma questão de encontrar a correta combinação de personalidades, como o achar a chave correta para a fechadura. Nós passamos a avaliar as candidatas uma a uma de acordo com uma lista de qualidades para ver se elas se encaixam nas mesmas. Realmente eu creio que a compatibilidade é importante. Todavia, não é o critério mais importante para um casamento bem sucedido. O principal foco do Senhor não é compatibilidade, mas uma questão que atinge o coração do casamento: Você tem condições de dizer “Sim” e permanecer firme até a morte? Se você tem, então você encontrou a “pessoa certa” – e você também se tornou “a pessoa certa”.13 Como Devo me Preparar? A partir do momento em que um jovem estiver seguro de que encontrou a pessoa com quem ele passará o restante de sua vida, os próximos passos são o noivado e o casamento.14 A pergunta que surge é, por quanto tempo deveria se estender o noivado? 1. O noivado deve se estender pelo tempo que for necessário ao preparo para o casamento. Há dois grandes eventos a serem preparados, a cerimônia de casamento e a vida em comum após a cerimônia. O planejamento da cerimônia de casamento geralmente leva de três a seis meses, dependendo do tamanho da cerimônia.15 2. Noivados longos podem apresentar dificuldades porque durante este período as tentações sexuais aumentam. Quanto mais longo o noivado, mais pressões... A prudência indica uma extensão entre três a doze meses.16 A Resposta ao Problema da Escolha do Cônjuge Certo Um pastor ou líder de jovens pode auxiliar os jovens a se prepararem para o noivado e o casamento com a seguinte estratégia: Ouça Ofereça a eles o tempo necessário para que falem sobre os seus relacionamentos. Procure descobrir a perspectiva do aconselhado sobre namoro, casamento e vontade de Deus.17 Demonstre Simpatia Procure ver os fatos com os olhos deles. Lembre-se dos seus tempos de adolescência; de que modo você era semelhante a eles? Seus conflitos eram semelhantes aos deles? Aproveite todas as oportunidades para comunicar sua empatia e compreensão.18 Afirme Muitos dos jovens que são tentados a se casarem por razões erradas são motivados, em parte, pela insegurança. É imprescindível afirmá-los, dizendo que ele ou ela são muito importantes para Deus. Informe-lhes que você gosta de estar junto deles compartilhando fatos que são relevantes para eles.19 Direcione Uma maneira de oferecer orientação é através do conteúdo deste capítulo. Outra é através de perguntas que possibilitam avaliar os motivos e o nível de preparo para o casamento, através de perguntas como estas: 13 Stafford, 111; citado em McDowell, e Hostetler, 133. McDowell, e Hostetler, 133. 15 Ibid., 134. 16 Ibid. 17 Ibid. 18 Ibid. 19 Ibid. 14 11 1. Ambos são cristãos? (Ver 2Co 6:14). 2. Vocês têm procurado descobrir a vontade de Deus de acordo com a Bíblia? 3. Vocês se amam segundo o padrão do amor bíblico? (Ver 1Co 13). 4. Os pais de vocês aprovam? (Ver Êx 20:12). 5. Vocês se auxiliam mutuamente a crescer no conhecimento de Deus? 6. Vocês conseguem dialogar tranqüilamente? 7. Vocês têm amigos em comum? 8. Ambos têm “orgulho” um do outro? 9. Ambos têm o mesmo nível intelectual? 10. Ambos têm interesses em comum? 11. Ambos compartilham os mesmos valores? 12. Vocês se auxiliam emocionalmente? 13. Vocês confiam completamente um no outro? 14. Ambos têm condições de aceitar e apreciar suas respectivas famílias? 15. Existem, porventura, questões envolvendo aspectos não resolvidos do passado? 16. O sexo está sob controle? 17. Quanto tempo vocês já passaram juntos? (Lembre que o tempo mínimo recomendável para namoro e noivado são dois anos). 18. Em algum momento já tiveram conflitos e souberam perdoar? 19. Já discutiram sobre todas as áreas da vossa vida futura? 20. Tiveram alguma sessão de aconselhamento? 20 Motive o Aconselhado a Fazer um Compromisso Procure incentivar o(a) aconselhado(a) a por em prática as idéias apresentadas no aconselhamento. Desafie-o a desenvolver suas próprias convicções e aplicá-las, com base na Bíblia, a fim de poder escolher seu futuro cônjuge para toda a vida.21 Recomende O ideal é que cada casal que é candidato ao matrimônio seja aconselhado por um pastor ou conselheiro cristão profissional. O aconselhamento deveria abranger várias sessões. 22 20 Ibid., 134-135. Ibid., 135. 22 Ibid. 21 12 Escolha do Cônjuge – Determinismo? A tese de que há uma pessoa exclusiva para cada um de nós tem como base a predestinação divina. Deste modo, predestinação e determinismo estão associados. Uma das conseqüências desta “predestinação conjugal” é a de que Deus determina o nosso cônjuge à revelia de nossa vontade. Noutras palavras, pressupõe que Deus é uma pessoa arbitrária e ditatorial. 23 Há duas teorias sobre a presciência divina: uma é a presciência divina absoluta e a outra é a presciência divina relativa. Quanto à presciência divina absoluta, esta se subdivide em duas, a não causativa que aceita o livre arbítrio humano e a causativa, por sua vez, determinista, ou seja, nega o livre arbítrio humano. A presciência divina absoluta não-causativa entende que Deus prevê o futuro nos mínimos detalhes, bem como todas as ações dos seres livres, sem que isto implique em determinismo ou predestinação. A presciência divina absoluta causativa coloca ênfase sobre a soberania de Deus e afirma que todas as coisas ocorrem pela vontade de Deus. As raízes desta teoria estão em Agostinho que teve um forte defensor em Calvino. Para ele a graça divina é destinada àqueles a quem Deus escolhe; Ele predestinou para o castigo e para a salvação, inclusive o número de cada um dos casos para a salvação ou perdição está fixado. Para a teoria da presciência divina relativa, Deus não conhece o futuro no sentido absoluto. O ponto crucial é se Deus conhece todas as coisas de antemão, toda a liberdade de ação parece ser excluída. Quando argumentamos do ponto de vista da onisciência e da onipotência de Deus, parece que o livrearbítrio humano fica obliterado. Quando argumentamos com base no livre-arbítrio humano, parece que a presciência e o poder divino de determinar as ações são excluídos. Então surge a questão: até que ponto Deus determina os acontecimentos humanos, e até que ponto o homem é livre em suas ações? Apenas mais um pouco sobre a predestinação calvinista, ela sustenta que desde toda a eternidade passada, todas as coisas foram ordenadas de antemão, de tal modo que elas terão de ocorrer necessariamente dentro do tempo, incluindo a salvação final ou reprovação final dos homens. A abordagem calvinista merece uma indagação chave, visto que todos somos pecadores, por que uma pessoa deveria ser escolhida para honra e outra para desonra? Passemos a uma breve consideração sobre livre-arbítrio. Algumas passagens que oferecem uma perspectiva sobre o livre-arbítrio são Mateus 11:28; Marcos 16:15-16; Atos 17:30. Estes textos transmitem a noção de que o convite divino a que todos se arrependam seria um escárnio ao nome de Deus se os homens não pudessem se arrepender! De acordo com Ellen White, “Não é um decreto arbitrário da parte de Deus que veda o Céu aos ímpios; estes são excluídos por sua própria inaptidão para dele participar”.24 Se o destino de cada indivíduo já estivesse predeterminado desde a eternidade, para a salvação ou para a perdição, a proclamação do evangelho perderia o seu sentido. Os homens não seriam mais moralmente responsáveis, e Deus, em última análise, seria responsável pela perdição dos impenitentes, o que faria da punição do pecado – a cada um “segundo as suas obras” (Ap 20:12) – uma farsa e uma injustiça; pois tais obras teriam sido o resultado do desígnio divino. Isto é completamente contrário ao conceito bíblico! Analisemos a questão da escolha do cônjuge sob a perspectiva do tema da predestinação. Se Deus tivesse uma única pessoa para cada um de nós, Ele teria que: criar uma especialmente para cada um de nós, como o fez para Adão ou teria que conceder o dom profético para todos os seres humanos para que assim pudessem encontrar a pessoa que Ele designou para cada um deles. Sem o dom profético da revelação nunca encontrariam a pessoa certa designada por Deus. Seria mais ou menos assim: “Aqui está a mulher da sua vida, revelada especialmente através de um sonho ou visão”. Se não fosse por revelação especial de Deus a cada um de nós, como saberíamos qual pessoa Ele tem para nós? Quando Deus, em Sua soberania, decide que alguém realize uma responsabilidade especial, seja como profeta, seja como rei, Ele o faz livremente, através de uma revelação especial: “Ora, o SENHOR, um dia antes de Saul chegar, o revelara a Samuel, dizendo: 16 Amanhã a estas horas, te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo das mãos dos filisteus; porque atentei para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim. 17 Quando Samuel viu 23 Para uma melhor noção sobre o tema da presciência divina, ver o artigo “Presciência Divina – Relativa ou Absoluta” em O Ministério Adventista, novembro-dezembro de 1984, pp. 13-22. 24 Ellen G. White, Caminho a Cristo em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 18, 1CD-Rom. 13 a Saul, o SENHOR lhe disse: Eis o homem de quem eu já te falara. Este dominará sobre o meu povo” (1Sa 9:15-17). É óbvio que não funciona assim. Outro problema gerado pela tese de uma pessoa exclusiva para cada um de nós é que ela anula a liberdade de escolha do ser humano. Se Deus tem uma única pessoa para mim, então minha parte é apenas receber por revelação especial aquela pessoa que Ele designou para mim. Não há margem para escolha, apenas aceitação. Tal fato transmitiria uma noção errônea do caráter de Deus, pois faria dEle um tirano, um ditador. “Olha, tome esta pessoa como seu cônjuge. Você não pode reclamar nem devolver”. Ou seja, tudo já estaria determinado antecipadamente por Deus. Em teologia isto se denomina predestinação. O que Deus determina é um tipo de caráter, não uma pessoa exclusiva: “Pesem, os que pretendem casar-se, todo sentimento e observem todas as modalidades de caráter naquele com quem desejam unir o destino de sua vida. Seja todo passo em direção do casamento caracterizado pela modéstia, simplicidade, e sincero propósito de agradar e honrar a Deus”.25 Outra citação que segue o mesmo conselho e, “.... receba a jovem como companheiro vitalício tão-somente ao que possua traços de caráter puros e varonis, que seja diligente, honesto e tenha aspirações, que ame e tema a Deus”.26 Neste mesmo livro, Ellen White continua sua orientação: “Antes de dar a mão em casamento, deveria toda mulher indagar se aquele com quem está para unir seu destino, é digno. Qual é seu passado? É pura a sua vida? É o amor que ele exprime de caráter nobre, elevado, ou é simples inclinação emotiva? Tem os traços de caráter que a tornarão feliz? Poderá ela encontrar verdadeira paz e alegria na afeição dele? Ser-lhe-á permitido, a ela, conservar sua individualidade, ou terá de submeter seu juízo e consciência ao domínio do marido? Como discípula de Cristo, ela não pertence a si mesma, foi comprada por preço. Pode honrar as reivindicações do Salvador como supremas? Serão conservados puros e santos o corpo e a alma, os pensamentos e propósitos? Essas perguntas têm influência vital sobre o bem-estar de toda mulher que se casa”.27 Continuando a ênfase sobre o caráter do pretendente, ela orienta aos jovens consultarem os pais e acrescenta, “Consultai a Deus e a vossos pais tementes a Deus, jovens amigos. Orai sobre o assunto. Pesai cada sentimento e observai todo desenvolvimento de caráter na pessoa a quem pretendeis ligar o destino de vossa vida”.28 Em suma, a tese de que há uma pessoa exclusiva para cada um de nós tem como base a predestinação divina e pressupõe que Deus é uma pessoa arbitrária e ditatorial. A IASD compartilha a noção de que a presciência divina é absoluta, mas não causativa e aceita o livre arbítrio humano. Se Deus tivesse uma única pessoa para cada um de nós, Ele teria que criar uma especialmente para cada um de nós, como o fez para Adão, ou teria que conceder o dom profético para todos os seres humanos para que assim pudessem encontrar a pessoa que Ele designou para cada um deles. Sem o dom profético da revelação nunca encontrariam a pessoa certa designada por Deus. O que Deus determina é um tipo de caráter exclusivo (temente a Deus), não uma pessoa exclusiva! As fontes de orientação, tais como o próprio Deus, a Bíblia, a oração, o conselho dos pais, são recursos disponíveis que favorecem uma livre escolha do cônjuge conveniente. 25 Idem, Mensagem aos jovens, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 435, 1CD-Rom. Ibid. 27 Ibid., 439. 28 Ibid., 449. 26 14 ACONSELHAMENTO DE CASAIS As dificuldades das pessoas não ocorrem no vácuo. Elas vivem numa ampla rede de relacionamentos com outras pessoas e, naturalmente, com os seus problemas. Alguns conselheiros argumentam que, por esta razão o tratamento sempre deveria envolver a família ou, até mesmo, uma parcela maior da sociedade. Talvez isto seja uma super-simplificação, contudo contém um cerne de verdade. As dimensões socialrelacionais dos problemas de uma pessoa sempre deveriam ser consideradas. A maioria dos problemas de “saúde mental” é, na verdade, problemas de ajustamento, conflitos e, em certo sentido, entre a pessoa e o ambiente social. Se o alvo é a mudança, isto pode ser efetuado pela mudança da pessoa, do ambiente, ou de ambos.29 1. 2. 3. 4. 5. 6. O que é um Bom Relacionamento? Pré-requisitos para um bom relacionamento: O bom relacionamento acontece entre pessoas autônomas. “Autônomo” não quer dizer frio, distante, isolado ou desnecessário. Autônoma é a pessoa capaz de existir independentemente, que tem uma identidade própria.30 O bom relacionamento é aquele que é escolhido. Pessoas autônomas podem escolher depender de outras em virtude de necessidades significativas. Elas iniciam um relacionamento por decisão própria e continuam nele também por decisão pessoal.31 Bom relacionamento é aquele onde cada pessoa se compromete com o crescimento e a felicidade do outro.32 No bom relacionamento cada parceiro está aberto à mudança, como também cada parceiro tem habilidades positivas para solicitar e negociar mudanças do outro.33 Existe bom relacionamento quando cada parceiro compartilha com o outro o seu mundo interior. Isto se denomina intimidade. Num contexto de confiança e respeito mútuos, os parceiros comunicam um ao outro suas realidades presentes e expectativas futuras – percepções, reações, emoções, memórias, esperanças, planos, experiências e pensamentos.34 O bom relacionamento inclui comprometimento. Todos os relacionamentos experimentam altos e baixos. Contudo, desde 1960, houve uma mudança de valores. A tendência favorável à independência e a realização pessoal a expensas de compromisso com o relacionamento tem se acentuado.35 O que Acontece com os Relacionamentos? Porque ocorrem problemas? Porque tantos relacionamentos parecem ir tão mal? Como explicar aquele bom relacionamento que aos poucos se torna frio, amargurado, semelhante aqueles que costumam chegar ao escritório do conselheiro?36 Na verdade, como em todos os demais relacionamentos, o casamento precisa de cuidados básicos e específicos numa base constante. Se o cuidado é negligenciado por muito tempo, o resultado é enfermidade e morte do relacionamento.37 É preciso enfatizar que existem processos naturais, tais como a da planta que murcha por não ser regada. Os relacionamentos estão sempre mudando, seja para o crescimento ou para a deterioração. Certos ciclos são naturais. O relevante é que não se deve procurar falhas ou culpar alguém, nem se deveria cultivar uma noção pessimista sobre os relacionamentos. Ao contrário, é preciso ser otimista. De fato, muitas coisas podem ser feitas para promover crescimento ou para encorajar a recuperação quando o cuidado foi negligenciado. 29 William R. Miller, Practical Psychology for Pastors (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1985), 327. Ibid., 328. 31 Ibid., 329. 32 Ibid. 33 Ibid. 34 Ibid. 35 Ibid. 36 Ibid. 37 Ibid. 30 15 A seguir, algumas causas de crises nos relacionamentos conjugais: 1. Perda da novidade. Muitas pessoas ainda acreditam na rainbow theory of love (teoria do arco-íris do amor).38 A idéia básica é, quando alguém encontra a pessoa certa (encontra “aquela e só aquela”, ou encontra “o verdadeiro amor”, ou experimenta “o fato real”), ela experimenta uma espécie de emoção repentina. Centenas de canções exaltam esta experiência excitante. A habilidade perceptiva muda e todo o mundo (inclusive a pessoa amada) parece brilhante e perfeito. A excitação sexual aumenta assustadoramente. Há esperança, otimismo e alegria. As pessoas pensam que aqueles sentimentos perdurarão para sempre, ou seja, de que aquela é a pessoa certa, que ela é o cônjuge ideal e que o casamento dará certo. Contudo com o tempo o sentimento tende a diminuir. E isto sempre acontece. 39 O maior perigo para o casamento acontece quando um ou ambos os parceiros começam o relacionamento com a expectativa de que os sentimentos despertados pelo amor “arco-íris” continuarão para sempre, ou pelo menos, que eles assegurarão, automaticamente, uma vida feliz para sempre.40 Se os cônjuges compreendem que a diminuição do “arco-íris” é normal e que isto não significa que o “amor morreu”, ou que fizeram a escolha errada, então esta primeira transição pode ser negociada apropriadamente a fim de experimentar momentos que relembrem os maravilhosos sentimentos do passado.41 2. Discrepâncias nas expectativas. Imperfeições que não foram vistas antes aparecem. Então se ouve o clamor, “você não é aquela pessoa com quem eu me casei”. Itens que não tinham sido claramente discutidos antes do casamento começam a aflorar. Algumas das áreas onde as diferenças surgem são: O tempo que o casal gasta junto e o tempo que cada um dedica às atividades pessoais. Divisão de papéis funcionais. Maneiras de ganhar e gastar dinheiro. A maneira como as decisões são tomadas. A freqüência e a natureza das relações sexuais. Crenças e práticas religiosas. Filhos – se os terão, quando e como criá-los.42 3. Decréscimo da ênfase no que é positivo. O reforço positivo é acentuado durante o período do namoro. À medida que o casal passa a viver junto, lentamente tendem a diminuir este reforço (feedback). Os pequenos gestos de atenção desaparecem – por favor, muito obrigado. Cada um passa a esperar que o outro expresse apreciação. É preciso manter as pequenas atenções. 43 Conforme diz Ellen G. White, “São as pequenas coisas que revelam os capítulos do coração. São as pequenas atenções, os numerosos incidentes pequeninos e as simples cortesias da vida, que formam a soma da felicidade da existência”.44 4. Ênfase no negativo. À medida que decresce a ênfase nos pequenos itens positivos da vida, pode aumentar a tendência ao criticismo. A inclinação para destacar aspectos negativos pode vir “mascarada” pelas seguintes atitudes - ameaças, ficar “emburrado(a)”, silêncio, acessos de raiva, tendência a acusar, 38 Como exemplo da aceitação da teoria da teoria do arco-íris do amor, apresenta-se a seguinte narrativa que está concorrendo a um prêmio cujo título geral é, “Love Stories of Hawaii”, título específico, “Rainbow Love”, dedicado a Arthur Lott Jr. Por Debra Lott. “Quando o vi pela primeira vez no ensino médio, ele era magro, alto e bonito. Namoramos por pouco tempo porque ele se mudou. Depois perdemos o contato. Então, num bonito dia de céu azul, o telefone tocou. Era ele. Haviam-se passado vinte anos. Ele me convidou a ir ao Havaí. Eu fui em março e me apaixonei de novo. No momento em que contemplei seus olhos castanhoclaro, eu o reconheci. Ele me conduziu a sua praia que ele chamava de Makaha. Sentamo-nos a beira da praia de águas azuis a contemplar um golfinho que nadava calmamente. Naquele momento nós juramos amor um ao outro. Eu ainda me lembro do arcoíris mágico que surgiu diante de nós. Casamo-nos um ano mais tarde, tendo Honolulu como paisagem diante de nós. Hoje temos dois filhos e ainda nos amamos como se fôssemos adolescentes. Nosso amor não mudou, apenas o cenário ao nosso redor”. Debra Lott, “First Love”, pesquisa realizada na internet, no site http://www.bestplaceshawaii.com/lovestories/stories/S003809.html, no dia 15 de novembro de 2004. 39 Miller, Practical Psychology for Pastors, 330. 40 Ibid., 331. 41 Ibid. 42 Ibid., 332. 43 Ibid. 44 Ellen G. White, O lar adventista, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 108, 1CD-Rom. 16 culpar, condenar. Se a troca de declarações negativas continuar por muito tempo, o casal poderá se tornar insensível. Esta é a condição de muitos casais que procuram aconselhamento. Quando chegam ao conselheiro, é comum ouvir-se a seguinte declaração: “Não sinto mais nada por você”. Todavia, esta situação não é irreversível. O processo de reversão do entorpecimento poderá ser lento e doloroso, mas valerá a pena investir nele.45 Ellen White também diz, “é a negligência das palavras bondosas, animadoras e afetuosas, e das pequenas cortesias da vida que ajudam a formar o todo da infelicidade da existência”.46 5. Conflitos, decisões, problemas, transições. As pessoas precisam ter habilidades para enfrentar estas situações. Quando os interesses do casal estão em conflito, como resolvê-los? Quando uma decisão importante precisa ser tomada, quem a tomará? Quando surge um problema difícil, qual dos cônjuges deverá prover a solução? E quando surgem sérias transições (mudança de emprego, doença, a chegada de um filho, morte de um familiar) que tipo de apoio ou disposição para mudar o outro cônjuge irá oferecer? Quando o casal não dispõe de habilidades para enfrentar o problema, a tentação para recorrer à coação será muito forte, ou a de procurar se afastar emocional ou fisicamente do cônjuge.47 6. Mudanças cognitivas. À medida que o arco-íris fenece, diminuem as afirmações positivas, aumentam as negativas, surgem os conflitos, etc. Os parceiros se esforçam para entender o que está se passando. Neste processo, podem surgir alguns fatores nocivos. a) Globalismo. É a inclinação para generalizar em excesso. Devido às tendências acima mencionadas, um dos parceiros pode concluir que todo o casamento está piorando. b) Projeção de culpa. Muitas pessoas relutam em reconhecer suas deficiências. É mais fácil culpar o “outro”. Isto é exemplificado pelos casais que procuram aconselhamento. Logo na chegada, um deles diz, “Você...” c) Atitude pessimista. A pessoa encara o relacionamento como se fosse uma bola de neve a rolar ladeira a baixo. A pessoa desiste, manifesta desesperança. d) Erosão na confiança e no respeito. Confiar numa pessoa é acreditar que as suas promessas se cumprirão. Respeitar uma pessoa é acreditar que ela é digna de confiança, competente e merecedora de amor.48 7. Isolamento. As pessoas costumam ouvir que a felicidade no casamento é algo natural. Se porventura alguém enfrenta dificuldades no casamento, será tentado a pensar que falhou em algo simples. A sociedade transmite a noção de que os problemas conjugais pertencem às questões privadas e que não devem ser compartilhadas com pessoas de fora da relação. Isto colabora para que a dor e o sofrimento aumentem e não se resolvam.49 Avaliação para o Aconselhamento A fase inicial do aconselhamento abrange as primeiras duas ou três sessões onde são avaliadas as seguintes áreas: 1. Como é a crise do casal? 2. Qual o compromisso desse casal com o seu relacionamento? Tem consciência de que o casamento é uma união vitalícia? 3. Quais são os problemas que os separam? 4. Como esses problemas se manifestam no relacionamento? 5. Quais são as forças que os mantêm juntos? 6. O que o tratamento pode fazer para ajudá-los?50 Estas questões são tratadas durante uma entrevista inicial conjunta, bem como durante as entrevistas individuais subseqüentes. A entrevista conjunta fornece ao conselheiro uma oportunidade para ver como o 45 Miller, Practical Psychology for Pastors, 333. White, O lar adventista, 108, em 1CD-Rom. 47 Miller, Practical Psychology for Pastors, 333. 48 Idem, Living as If: How Positive Faith Can Change Your Life (Philadelphia, PA: Westminster Press, s.d.), [além da página citada não ter sido informada, o próprio autor disse que à época, a obra ainda não saíra do prelo]; citado em William R. Miller, Practical Psychology for Pastors (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1985), 335. 49 Miller, Practical Psychology for Pastors, 335-336. 50 David H. Barlov, ed., Manual clínico dos transtornos psicológicos (Porto Alegre, RS: Artmed, 1999), 540-541. 46 17 casal está se relacionando no momento. As entrevistas individuais permitem que o conselheiro avalie os problemas que cada membro do casal pode ser incapaz de discutir abertamente diante do outro.51 Como é a Crise desse Casal? Uma crise mais leve indica que o casal pode ser mais receptivo às estratégias de mudança no início da terapia. Casais com crise mais grave provavelmente obterão maiores benefícios de uma ênfase inicial na aceitação.52 Qual o Compromisso desse Casal com o seu Relacionamento? Visto que sentir-se comprometido com um relacionamento é um evento privado, a ênfase sobre aceitação emocional promete ser uma abordagem mais eficaz do que a ênfase na mudança.53 Para os casais que são altamente colaborativos, as estratégias de mudança podem ser implementadas imediatamente. Quanto menos colaborativo um casal, é mais plausível que as estratégias de aceitação se mostrem mais eficaz. A promoção da aceitação exerce um efeito profundo sobre os tipos de estímulos que funcionam como reforçadores. Se a falta de compromisso for alimentada por sentimentos de raiva, ressentimento ou dor, cada membro do casal mais provavelmente será reforçado pelo comportamento que é prejudicial ao outro e menos cooperará para melhorar o relacionamento. Se o conselheiro puder aumentar a probabilidade com que cada membro do casal sinta simpatia ou ternura, o valor do reforçamento desses comportamentos envolvidos na colaboração aumenta.54 Quais são os Problemas que os Separam? A avaliação dos principais problemas que estão no momento separando o casal ocorre durante a entrevista conjunta. Os problemas que desunem o casal, que têm pouca probabilidade de mudar ou que são concentrados em torno de experiências privadas (p. ex., diferentes desejos de intimidade), deveriam ser tratados principalmente mediante o uso de estratégias de aceitação. As questões relativas aos comportamentos mais instrumentais/públicos (p. ex., como administrar a renda familiar) exigem uma ênfase maior nas estratégias de mudança.55 Como esses Problemas se Manifestam no Relacionamento? Conhecer como os casais tentam lutar com os seus problemas é de particular importância porque, muitas vezes, não são os problemas em si, mas como o casal lida com eles que determina seu atual nível de crise.56 Quais São as Forças que os Mantêm Juntos? As forças que mantêm unido o casal constituem comumente a base a partir da qual o conselheiro trabalha para melhorar o relacionamento. Perguntar sobre o que atraiu inicialmente cada parceiro para o outro é, com freqüência, uma das melhores questões para avaliar suas energias. Geralmente se faz esta pergunta ao fim da primeira sessão, a fim de fornecer alguma perspectiva ao casal sobre seus problemas e concluir a sessão num tom positivo.57 Cumpre ressaltar que muitas vezes algo que inicialmente era atraente se desenvolveu num ponto de discórdia. Por exemplo, a organização e um senso de responsabilidade que a princípio eram considerados excelentes podem, agora, ser vistos como compulsivos e exigentes. Se o conselheiro puder ajudar o casal a começar ver a conexão entre uma queixa atual e o que este último identificava como uma força anterior, suam experiência desses eventos pode passar de primariamente negativa para positiva, através de sua reassociação com memórias de valência positiva. 58 Se um casal não puder gerar lembranças positivas de como foi seu primeiro encontro, o sucesso da terapia será duvidoso. Às vezes, é o caso de relacionamentos que se constituem por conveniência ou 51 Ibid., 541. Ibid. 53 Ibid. 54 Ibid., 542. 55 Ibid. 56 Ibid., 543. 57 Ibid. 58 Ibid. 52 18 necessidade, e quando esses casais chegam a situações de atrito também são difíceis de tratar. Entretanto, se for fácil que o casal produza lembranças positivas de como foi seu primeiro encontro, o prognóstico é, muitas vezes, um tanto melhor. O que o Tratamento Pode Fazer para Ajudá-los? O plano para o curso do tratamento geralmente é uma combinação de mudança e aceitação. As pesquisas mostraram que a capacidade para a mudança está associada negativamente à gravidade da crise, proximidade do divórcio, cessação total ou quase total das relações sexuais e papéis sexuais tradicionais,59 como maternidade e construção da identidade da mulher.60 Melhorando os Relacionamentos Cada uma das tendências negativas tem uma correspondente positiva. O conteúdo das orientações positivas para os casais também são úteis para o aconselhamento de noivos, como também para o fortalecimento dos relacionamentos familiares. Melhorando a Comunicação Dificuldades na comunicação fazem parte de quase todos os relacionamentos que enfrentam problemas. Por vezes, é uma simples questão de tirar tempo para conversar, contudo, na maioria dos casos, é preciso um auxílio externo (conselheiro) que inclua treinamento nas habilidades de ouvir e se expressar.61 Talvez a principal necessidade seja o desenvolvimento da habilidade do ouvir reflexivamente. Uma técnica inicial seria a de formar o hábito de ouvir sem responder imediatamente. O exercício do “ouvinte silencioso” é bastante apropriado. Consiste em atribuir a um dos cônjuges a tarefa de falar por certo período de tempo ( cinco minutos para iniciar) enquanto o outro cônjuge ouve, sem dizer uma palavra sequer. Pode se prescrever um tema ou tópico para discussão, ou pode ser deixado a critério do cônjuge escolher o tema. Depois, na continuação do exercício, o ouvinte torna-se o porta-voz enquanto o que havia falado primeiro passa a ser ouvinte.62 Um segundo tipo de exercício é o da comunicação através da “carta de amor”, uma atividade geralmente aplicada nos encontros de casais. Normalmente, o líder ou conselheiro prescreve um determinado tópico para cada um dos cônjuges escreverem num estilo de “jornal pessoal”. Nele deverão ser expressos pensamentos e sentimentos, percepções e intuições ou qualquer coisa que venha à mente (e ao coração). A redação deve se estender por um período de tempo previamente estabelecido, variando de cinco minutos à uma hora. O mesmo período de tempo dedicado à redação dever ser utilizado para a discussão do que foi escrito. Então os cônjuges trocam os “jornais”, lêem-nos e discutem-nos. Solução de Problemas Quando um casal se defronta com um problema, como eles o abordam para negociar uma solução? A seguir, alguns pontos essenciais: 1. Inicialmente é preciso definir qual o tipo específico de problema. É comum ocorrer com conselheiros que labutam constantemente com solução de problemas o engano de ir direto para a solução do problema quando, na verdade, um dos cônjuges “problematizado” só deseja ser ouvido e compreendido. Por exemplo, o marido que trabalha fora de casa retorna no fim do dia e se depara com um muro de lamentações por parte da esposa que permaneceu no lar: o telefone tocou o dia inteiro, a máquina de lavar transbordou, as crianças estiveram brigando, os quatorze projetos que foram iniciados não foram concluídos, o jantar queimou, a bateria do carro morreu porque o esposo deixou as luzes ligadas durante a noite anterior. Se neste momento o esposo passa diretamente para a solução do problema, sugerindo que a esposa organize melhor o seu tempo a fim de evitar que estas coisas aconteçam, o resultado poderá ser uma “erupção vulcânica”. Contudo, o “solucionador” de problemas estava apenas procurando ajudar. O erro estava na 59 Ibid., 543-544. Maria Chatziandreou, Michael G. Madianos, e Vasilis C. Farsaliotis, “Los Factores Psicológicos y de Personalidad y el Tratamiento de la Fertilización "in Vitro" en la Mujer”, em The European Journal of Psychiatry (edição em espanhol), no site http://scielo.isciii.es/scielo.php?pid=S1579-699X2003000400003&script=sci_arttext, no dia 21 de novembro de 2004. 60 61 62 Miller, Practical Psychology for Pastors, 343. Ibid. 19 incompreensão do que era esperado. O casal deve ser treinado a conferir as fases e averiguar se porventura está “navegando no mesmo barco”. Basicamente, há duas fases: expressar e resolver. Quando um dos cônjuges começa a expressar qualquer tipo de insatisfação, uma boa pergunta a ser feita é: “Você gostaria que eu ouvisse e compreendesse, ou você quer que eu o ajude a encontrar uma solução?” Isto evita as “linhas cruzadas”, semelhantes àquelas descritas acima.63 2. Se a tarefa é solucionar o problema, o próximo passo é esclarecer a natureza do problema. O problema está com aquele que se encontra aborrecido ou estressado (ou que está mais insatisfeito). Assim, se Antônio deixa a toalha de banho no chão e Lúcia fica irritada com isto, então o problema é de Lúcia, ainda que ela pudesse argumentar que foi o comportamento de Antônio que “provocou” a sua raiva. Isto não significa que Antônio está livre para dizer “Veja bem, o problema está com você”, negando, desta maneira, a sua responsabilidade. Ao contrário, este passo esclarece quem está aborrecido ou ofendido. A pessoa que está com o problema tem a responsabilidade de expressá-lo, enquanto a tarefa do outro cônjuge restringe-se a ouvir reflexivamente.64 Observe que o expressar/ouvir é o primeiro passo, não importa em que fase estejam – expressando ou solucionando. Se estiverem na fase de expressar os sentimentos, então o processo se restringe a expressar/ouvir. Na fase de solução, o processo vai além da expressão.65 Ainda que o objetivo final seja a solução de problemas, é melhor dedicar um bom tempo para expressar/ouvir. Uma iniciativa prematura voltada para a solução de problemas pode ser tão ofensiva quanto o oferecer uma solução para alguém que não a deseja.66 3. Há duas boas regras a serem lembradas sobre o expressar, quando se tem por objetivo solucionar problemas. A primeira é dizer o que você gostaria e o que você quer em forma de “mensagem”. A segunda é ser tão específico quanto possível. “Eu gostaria que você fosse menos desleixado” é muito vaga e geral. O retorno (feedback) de caráter geral muda as emoções, não o comportamento. Se você deseja uma mudança, seja específico. “Eu gostaria que você pendurasse a toalha de banho após o seu banho matinal e colocasse as roupas sujas no cesto”. Se o cônjuge que deve expressar esquecer estas regras, o outro sempre deveria dizer, “O que você gostaria que acontecesse”, ou “Você poderia ser mais específico – o que você deseja que eu faça?”. Observe que o problema não precisa envolver necessariamente o cônjuge. Pode estar somente com o outro.67 4. Uma vez que o objetivo específico foi esclarecido, utilize a técnica das alternativas de “tempestade cerebral” (brainstorm). Cada um dos cônjuges ou demais membros da família pode sugerir soluções alternativas, ou cada um pode promover a sua “tempestade cerebral” pessoal escrevendo idéias que estão sendo compartilhadas. 5. Em seguida, a alternativa mais conveniente é selecionada. Quando o problema não envolve o cônjuge ou a solução selecionada é prontamente aceitável ao cônjuge, esta escolha é feita pelo cônjuge que “tem” o problema. O outro se dedicará principalmente a ouvir. Se, por outro lado, ambos os cônjuges estão envolvidos, ou ambos “compartilham” o problema, ou se a solução selecionada não é inteiramente aceitável ao outro, então deve-se recorrer ao processo de solução de conflito (ver abaixo). 6. Finalmente vem a implementação da mudança. A pessoa que tem o problema e que escolheu uma alternativa agora planeja e implementa um primeiro passo nesta direção. O outro cônjuge novamente ouve reflexivamente, mas também pode dizer, “Há alguma coisa que eu possa fazer para ajudar?” 68 Resolução de Conflitos Com freqüência, ambos os cônjuges compartilham sentimentos acerca de uma questão, ou ambos estão insatisfeitos ou envolvidos emocionalmente. Neste caso, não é tão simples como um ou o outro que tem o problema. Ambos “têm” problema.69 Em grande parte, os passos iniciais são os mesmos para a solução de problemas. Os cônjuges devem esclarecer o que eles desejam e encontrar uma solução, em lugar de apenas se expressarem. Então, cada um, por sua vez, expressa, através de “suas mensagens”, o que eles gostariam que acontecesse ou o que eles 63 Ibid., 345. Ibid. 65 Ibid. 66 Ibid. 67 Ibid., 346. 68 Ibid. 69 Ibid. 64 20 desejam. Cada cônjuge ouve reflexivamente o outro a fim de esclarecer o que é esperado. É bom dizer mais uma vez que é preciso ser o mais especifico possível. Segue-se o processo de “tempestade cerebral”, onde cada um dos cônjuges produz o máximo possível de alternativas possível. Após haver atingido o ponto da escolha da alternativa e, a bem de um bom andamento do aconselhamento, deve-se destacar que uma boa resolução de conflito requer negociação. Ambos os cônjuges estão envolvidos na seleção da melhor alternativa. Cada uma das possíveis alternativas é considerada e avaliada. Talvez seja necessário retornar ao estágio da “tempestade cerebral” e produzir outras possibilidades. Por fim, define-se um acordo, algumas vezes na forma de um contrato, onde cada cônjuge concorda em fazer uma determinada mudança em troca de um auxílio específico ou encorajamento ao outro. Ajuda bastante escrever o acordo a fim de que cada um dos cônjuges possa lembrar qual é o seu compromisso específico. Por fim, começa a implementação. Cada um passa a realizar os primeiros passos para atingir as mudanças desejadas. Mais tarde, os cônjuges poderão avaliar conjuntamente se o acordo está funcionando, e se não, como ele poderia ser mudado. Cada cônjuge deveria reconhecer a responsabilidade, quando solicitado a mudar pelo outro, de averiguar qual mudança, quando ela ocorreu e reforçá-la. Pode ser um simples “muito obrigado”, ou uma carícia, ou outra manifestação qualquer em apreciação pela mudança realizada. As pequenas conquistas na direção certa também deveriam ser reconhecidas, porque grandes mudanças são o produto da soma de pequenas mudanças. Também é bom destacar que este tipo de negociação exige uma considerável dose mútua de boa fé.70 Ênfase no Positivo Esta é uma estratégia utilizada para melhorar o relacionamento. O objetivo é que cada cônjuge ou membro da família cresça no emprego de referências positivas para o outro. A seguir algumas sugestões: 1. Cada cônjuge escreve uma lista de ações positivas que aprecia. A lista inclui aspectos positivos de amplitude diversificada, pequenos e grandes. Exemplo: Ouvir certas palavras que foram ditas. Realizações físicas e sociais. Tempo e experiências compartilhadas com o cônjuge. Um tempo pessoal, a ser utilizado como bem entender. Pequenas atitudes ou gentilezas. Outras atividades. Estas listas são trocadas, de modo que cada cônjuge possa saber o que agrada ao outro. Depois que a lista for trocada, o casal deve ser estimulado a falar sobre ela. 2. Cada cônjuge pode escolher um aspecto positivo para oferecer ao outro, com o objetivo de praticálo em dobro na próxima semana. Pode ser escolhido da lista ou de um pedido verbal ao cônjuge. 3. Cada cônjuge pode escolher um determinado dia da semana para dar uma surpresa ao cônjuge pela prática de atos positivos. Seria interessante manter o dia da semana em segredo. 4. Poderia ser estabelecido um objetivo geral de aumentar a expressão de aspectos positivos por um determinado número de semanas. Isto poderia ser feito através de uma planilha de controle. 5. Pode ser feito um encontro semanal no qual cada cônjuge compartilha com o outro quais aspectos positivos gostaria de ver realizado na próxima semana. Alguns casais que estão passando por crise ou estresse tendem a compartilhar junto tempo neutro ou negativo. Inclusive, eles podem deixar de compartilhar os períodos mais positivos como: refeições, assentarem-se e dormirem juntos, intimidade sexual, descontração, etc. A recreação positiva em comum pode desaparecer. A restauração de experiências positivas compartilhadas é um aspecto chave para melhorar o relacionamento do casal.71 PLANILHA DIÁRIA DE CONTROLE DE DECLARAÇÕES POSITIVAS E NEGATIVAS72 Dia O que eu disse Positivo Negativo O que foi dito a mim Positivo Negativo 70 Ibid., 346-347. Ibid., 348-349. 72 Ibid., 152. 71 21 Segunda feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira sexta-feira Reduzindo o que é Negativo O outro lado desta moeda é diminuir a expressão e a intensidade das ocorrências negativas no casamento e na família. Este é um ponto crucial que por vezes pode ser postergado até que os aspectos positivos tenham primeiro feito a pavimentação para a sua implementação. Contudo, em outros casos, a repetição de ocorrências negativas pode envenenar tanto o relacionamento a ponto de impedir qualquer expressão positiva. De qualquer modo, a ênfase nos aspectos e expressões positivas e redução das negativas são metas complementares. Sugestão de possíveis passos a seguir: 1. Cada cônjuge pode preparar uma lista das atitudes negativas do outro cônjuge. Neste ponto a objetividade é imprescindível. O que o outro cônjuge faz ou diz e é percebido como negativo? Estas listas podem ser trocadas e discutidas. Se, porventura, o nível de estresse é elevado, primeiro eles deveriam entregar a lista a um conselheiro para que este pudesse intermediar a discussão entre o casal. Poderia ser elaborada uma lista simples com três itens: a) Que aspectos negativos são mais prejudiciais ou irritantes? b) Que aspectos negativos são moderadamente prejudiciais ou ofensivos? c) Que aspectos negativos são levemente prejudiciais ou irritantes? Em resposta a tal lista, a tendência defensiva do cônjuge pode ser reduzida se ele ou ela se concentrarem em audição reflexiva e no detectar o que é realmente prejudicial. Contudo, é bom lembrar que, mesmo sob as melhores circunstâncias, conferir a lista pode ser bastante difícil. 2. Cada um dos cônjuges pode explorar um ou mais itens negativos na tentativa de reduzi-los à metade ou eliminá-los completamente. A implementação disto pode gerar conseqüências imprevisíveis. Dizer, por exemplo, “pare de reclamar” pode não apenas aumentar o contingente de dificuldades, como também pode contribuir para aumentar o montante da raiva contida. O conselheiro deveria estar alerta para tais possibilidades. 3. A redução dos negativos pode ser combinada com o acréscimo nos positivos se a estratégia do “dia especial” for escolhida. 4. Uma estratégia geral para a redução dos negativos consiste em manter um relato dos negativos enviados e recebidos. Por vezes, o próprio processo de relatar reduz o comportamento negativo. 5. Reuniões familiares também podem, se necessário, focalizar em experiências negativas que cada membro gostaria que fossem reduzidas. 22 EXPRESSÃO, SOLUÇÃO DE PROBLEMAS, SOLUÇÃO DE CONFLITOS73 1º Passo Fases: Expressão ou Solução? Expressão Solução De quem é o problema? 2º Passo Meu Seu Meu Seu Nosso Atividade Atividade Atividade Atividade Atividade EXPRESSAR OUVIR EXPRESSAR OUVIR EXPRESSAR/OUVI R Fim do processo 3º Passo Especificar o Problema Diga o que quer Entenda o que é pedido Ambos dizem o que Seja específico Entenda o especificado Seja específico Tempestade cerebral Tempestade cerebral Tempestade cerebral Decida Ouça Negocie Implemente Apóie Implemente Avalie Ouça Avalie querem 4º Passo Alternativas de "Tempestade cerebral" 5º Passo Escolha a melhor alternativa 6º Passo Implemente 7º Passo Avalie Salve e/ou imprima apenas para o seu uso pessoal. Respeite os direitos autorais do professor. 73 Ibid., 347. 23 EXEMPLO DE TRATAMENTO DE CRISE PELA ABORDAGEM HUMANISTA (Proposta do Terapeuta Adventista Kiff D. Achord) O Caso ―Bety‖ Antes da crise, Bety estava desfrutando o atendimento de suas necessidades fisiológicas, segurança, pertinência e amor, e auto-estima.1 Como referência para o aconselhamento, o pastor Roger utiliza a escola humanista, com sua ênfase na hierarquia das necessidades de Maslow.2 Hierarquia das Necessidades AUTOREALIZAÇÃO ESTIMA PERTINÊNCIA E AMOR SEGURANÇA FISIOLÓGICAS As declarações feitas na entrevista com o pastor Roger revelaram a profundidade da crise: 1. Necessidades fisiológicas ―Faz três noites que não durmo. Quando tento comer, sinto náuseas. Se forço e como um pouco, o meu estômago começa doer‖. 2. Necessidade de Segurança ―Eu amo Wilson e não quero perdê-lo... Meus familiares vivem no sul do país, com exceção de minha irmã a quem não tenho visto.., faz um ano que Wilson não vai à igreja‖. 3. Necessidade de estima: 1 Para uma melhor noção sobre o caso Bety, ver Kiff D. Achord, Adventist Concepis ofPsychology (Loma Linda, CA: Loma Linda University, 1977), 41-58. 2 Ibid., 43. 1 ―Sei que não tenho sido uma boa esposa. Faz alguns meses que ele não demonstra interesse sexual em mim. Ele disse que a sua nova namorada tem um desempenho sexual melhor do que o meu. Também sei que não tenho sido uma boa cristã e, penso que Deus está triste comigo por isto‖. Intensidade da Crise: Obviamente a crise de Bety era muito intensa. Teoricamente, era mais fácil para ela perder Wilson pela morte do que por aquele tipo de prejuízo. Embora mais severa, sua morte não lhe teria afetado a auto-estima. A severidade da crise pode ser quantificada pelos diversos valores atribuídos a certa hierarquia de necessidades. A severidade da crise também pode ser quantificada pela soma das necessidades perdidas ou ameaçadas: No caso de Bety, o número seria: 5 + 4 + 3 +2 = 14 Sua crise é de grande proporção. Qualquer pessoa com uma crise acima de 10 necessitaria ser atendida por um psiquiatra a fim de que pudesse avaliar a possibilidade de suicídio, analisar a possibilidade de hospitalização, ou prescrever medicação. Na verdade, Bety foi encaminhada a um psiquiatra que lhe prescreveu medicação para dormir. Técnicas de Aconselhamento de Crise: 1. Estabelecer um relacionamento subjetivo 2. Definir a crise 3. Esclarecer as alternativas 4. Estabelecer sistemas de apoio 1. O Relacionamento Subjetivo Os três aspectos essenciais de um relacionamento terapêutico são: a) Empatia b) Genuinidade c) Afetuosidade não-possessiva Empatia: ―Ao invés de pensar cognitivamente o problema de Bety, procurei sentir a sua agonia‖. ―Imaginei o quadro - minha esposa se aproxima e diz: vou embora porque encontrei alguém melhor do que você‖. ―Eu me senti num estado terrível como Bety; falei pouco, mas sofri com ela‖. ―Não procurei dizer nada significativo primeiro; apenas procurei simpatizar com ela onde ela estava‖. ―Por cerca de dez minutos ficamos sentados juntos, sentindo a tristeza da situação‖. ―Algum tempo depois ela percebeu a minha preocupação por ela e parou de chorar‖. ―Então ela começou a me contar detalhes do seu drama‖. 2. Definindo a Crise ―Enquanto o relacionamento subjetivo estava sendo estabelecido entre mim e Bety, ela também estava definindo a crise imediata‖. ―Neste caso, o evento que a precipitava era a declaração de Wilson — ele a estava deixando por outra mulher‖. Neste ponto, é importante, não apenas definir a crise para a satisfação teórica do conselheiro, mas também participar delicadamente a informação com o cliente. ―Disse a Bety que não era nada fora do normal ela se sentir fragilizada; afinal, suas necessidades básicas de sono, sexo, alimento, segurança, amor, pertinência, auto-estima e autorealização foram-lhe retiradas abruptamente. Qualquer pessoa reagiria da mesma maneira que ela. Ela não perdera a razão, era uma pessoa normal que estava perdendo suas necessidades humanas legítimas. Disse-lhe, que no seu lugar reagiria da mesma maneira‖. 2 Os eventos desencadeadores nem sempre são evidentes como os de Bety. Quando se está definindo a crise imediata, é importante investigar os eventos e situações que precederam o sentimento de desequilibro. À medida que a pessoa em crise explora eventos e situações que precederam a crise, surgirão evidências observáveis de ansiedade, isto é, respiração ofegante, choro, suspiros, o falar rápido ou vagaroso, movimento dos dedos, etc. A linguagem corporal, com freqüência definirá a crise. O objetivo principal do aconselhamento da crise é resolver o desequilibro causado pela crise imediata. Também, com freqüência, outros conflitos vêm à tona durante a crise, mas estes não devem ser tratados imediatamente, pelo menos por enquanto. 4. Esclarecendo as Alternativas Depois que o relacionamento subjetivo foi bem firmado e a crise imediata foi bem definida e compreendida, tanto pelo cliente como pelo conselheiro, o foco do aconselhamento se volta para o esclarecimento das alternativas de ação. O conselheiro focaliza nas necessidades teóricas ou perdidas. No caso de Bety, é preciso discutir as opções que restabeleceriam suas necessidades fisiológicas perdidas. ―Bety decidiu procurar o psiquiatra para conseguir medicação para dormir‖. ―Depois esclarecemos alternativas sobre sua necessidade de segurança: ela decidiu visitar uma de suas amigas e permanecer com ela por alguns dias ou semanas‖. ―Ela também conversou com Wilson sobre o apoio financeiro para que ela continuasse estudando‖. ―Das necessidades de segurança passamos para as necessidades de amor e pertinência. Bety decidiu voltar a assistir a igreja e manter um novo contato com sua irmã em Sorocaba‖. ―Ela me disse que eu era uma pessoa muito importante para ela e que gostaria de ter uma entrevista semanal comigo‖. ―Falamos sobre o fúturo. Bety contou que ainda amava muito a Wilson, mas achava que poderia vir a gostar de outra pessoa, mais adiante‖. O esclarecimento das alternativas é uma tarefa do cliente. No caso de Bety, o esclarecimento das alternativas levou três ou quatro sessões, porque ela havia perdido muitas necessidades. 4. Definindo Sistemas de Apoio O estágio final no aconselhamento de crises é oferecer apoio ao cliente durante o período mais dificil de sua vida. Uma maneira simples de descobrir qual é o sistema de apoio é perguntar para a pessoa: ―O que você poderia fazer hoje para que ficasse bem?‖ Normalmente eles responderão apresentando alguma atividade que lhes trouxe prazer e alegria no passado. No caso de Bety, seu sistema de apoio incluiu: animais de estimação, cavalgar, ler poesia. Estes quatro estágios no aconselhamento de crises nem sempre ocorrem na seqüência descrita acima. E importante que o relacionamento subjetivo comece a operar o mais cedo possível e continue durante todo o período de aconselhamento. O término do aconselhamento ocorre quanto todos os quatro estágios se concretizaram e a maioria das necessidades perdidas tenha sido pelo menos parcialmente restabelecidas. Normalmente, depois de várias sessões, o cliente em crise dirá: ―Estou me sentindo muito melhor‖; então o conselheiro saberá que seu trabalho está quase concluído. 3 Escolha do Cônjuge – Determinismo? A tese de que há uma pessoa exclusiva para cada um de nós tem como base a predestinação divina. Deste modo, predestinação e determinismo estão associados. Uma das consequências desta ―predestinação conjugal‖ é a de que Deus determina o nosso cônjuge à revelia de nossa vontade. Noutras palavras, pressupõe que Deus é uma pessoa arbitrária e ditatorial.3 Há duas teorias sobre a presciência divina: uma é a presciência divina absoluta e a outra é a presciência divina relativa. Quanto à presciência divina absoluta, esta se subdivide em duas, a não causativa que aceita o livre arbítrio humano e a causativa, por sua vez, determinista, ou seja, nega o livre arbítrio humano. A presciência divina absoluta não causativa entende que Deus prevê o futuro nos mínimos detalhes, bem como todas as ações dos seres livres, sem que isto implique em determinismo ou predestinação. A presciência divina absoluta causativa coloca ênfase sobre a soberania de Deus e afirma que todas as coisas ocorrem pela vontade de Deus. As raízes desta teoria estão em Agostinho que teve um forte defensor em Calvino. Para ele a graça divina é destinada àqueles a quem Deus escolhe; Ele predestinou para o castigo e para a salvação, inclusive o número de cada um dos casos para a salvação ou perdição está fixado. Quando argumentamos do ponto de vista da onisciência e da onipotência de Deus, parece que o livre-arbítrio humano fica obliterado. Quando argumentamos com base no livrearbítrio humano, parece que a presciência e o poder divino de determinar as ações são excluídos. Então surge a questão: até que ponto Deus determina os acontecimentos humanos, e até que ponto o homem é livre em suas ações? O foco do presente estudo encontra-se na escolha do cônjuge. Tim Stafford defende o ponto de vista de que Deus tem uma pessoa certa para cada cristão. Esta é uma perspectiva baseada em pressupostos determinísticos comuns ao conjunto de princípios defendidos pela teoria mais abrangente da predestinação calvinista. Antes de passarmos a discussão específica do tema em foco, é preciso conceituar melhor os termos predestinação e livre arbítrio segundo a Bíblia e o Espírito de Profecia. Outros motivos teológicos estão envolvidos como o conflito entre o bem o mal, a queda de Lúcifer, a queda de Adão e Eva, presciência de Deus, etc. Para aqueles que acreditam numa presciência divina relativa, ou seja, que Deus não conhece o futuro no sentido absoluto o ponto crucial é: "se Deus conhece todas as coisas de antemão, toda a liberdade de ação parece ser excluída".4 Deste modo, para que o livre arbítrio humano seja mantido, o conceito da presciência divina é relativizado, ou seja, para os seus defensores, Deus não tem conhecimento prévio de todas as nossas ações. Na verdade, esta posição torna Deus dependente do homem.5 Predestinação e Livre-Arbítrio Predestinação e livre-arbítrio são dois conceitos aparentemente contraditórios. Como a Bíblia estabelece a ambos, não podemos advogar apenas um deles, em detrimento do outro; pois "quando argumentamos dedutivamente, com base na onisciência e na onipotência de Deus, o livre-arbítrio humano parece ser obliterado. Por outro lado, quando argumentamos dedutivamente, com base no livre-arbítrio humano, a presciência e o poder divino de 3 Para uma melhor noção sobre o tema da presciência divina, ver o artigo de Albert R. Timm, ―Presciência Divina – Relativa ou Absoluta‖ em O Ministério Adventista, novembro-dezembro de 1984, pp. 13-22. 4 Herman Bavinck, The Doctrine of God (Edimburgo: The Banner of God Trust, 1979), 189, citado em Albert R. Timm, ―Presciência Divina – Relativa ou Absoluta‖ em O Ministério Adventista, novembro-dezembro de 1984, 14. 5 Bavinck, 189, citado em Timm, 14. 4 determinar as ações parecem excluídos".6 Assim surge a indagação: Até que ponto Deus determina os acontecimentos humanos, e até que ponto o homem é livre em suas ações? Ao desenvolver o tema da predestinação, Calvino citou Agostinho que comentara a queda de Adão, ―o homem não somente [a si mesmo] se perdeu, mas ainda a seu arbítrio‖.7 A noção agostiniana sobre a natureza humana pecaminosa depois da queda esclarece porque o cristão precisa de Deus para fazer o bem. A noção de total depravação da natureza humana decaída explica a ausência do livre arbítrio no ser humano, daí a total dependência de Deus para escolher fazer o bem.8 Segundo Calvino, a soberania divina sobre o ser humano é plena e lhe exclui o livrearbítrio, ―[Ele] próprio efetua em nós o querer, [o] que outra [cousa] não é senão que o Senhor, por Seu Espírito, nos dirige, inclina, governa o coração e nele reina como em domínio Seu‖.9 A seguir o conceito calvinista da predestinação, ―Chamamos predestinação o eterno decreto de Deus pelo qual houve em si [por] determinado quê acerca de cada homem quisesse acontecer. Pois, não são criados todos em igual condição; pelo contrário, a uns é preordenada a vida eterna, a outros a eterna danação. Portanto, como criado foi cada qual para um ou outro (desses dois) fins, assim [o] dizemos predestinado ou para a vida, ou para a morte. Esta [predestinação], porém, Deus há atestado não só em cada pessoa, mas também exemplo lhe deu em toda a descendência de Abraão, de onde fizesse manifesto que Lhe está no arbítrio de que natureza seja a condição futura de cada nação‖.10 Essa doutrina afirma ainda que Cristo morreu apenas pelos "eleitos de Deus", para os quais a graça salvadora de Deus é concedida incondicionalmente; enquanto que para o restante da humanidade não há esperança de salvação.11 Dentro do contexto da discussão específica sobre escolha do cônjuge, a posição que afirma ter Deus uma pessoa certa (determinada) para cada crente nega peremptoriamente o livre-arbítrio humano, o que não é condizente com o testemunho das Escrituras. Assim sendo, você não tem que escolher, já que seu livre-arbítrio não é levado em conta por Deus. O que a pessoa precisa é descobrir quem Deus escolheu para ela. Se este fosse o caso, como se daria a revelação desta informação, por revelação ou por inspiração profética? Tratemos, agora, do livre-arbítrio. O relato da criação e da queda do homem, no livro de Gênesis, estabelece a doutrina do livre-arbítrio humano — de um lado está a ordem divina a Adão: "Da árvore da ciência do bem e do mal não comerás" (2:17), e do outro, a transgressão dessa ordem: "e ele comeu" (cap. 3:6). Este episódio demonstra claramente que as ordens divinas podem ser transgredidas por Suas criaturas dotadas de livre-arbítrio.12 Se, porventura, a hipótese da predestinação calvinista fosse verdadeira, haveria uma pergunta, "Uma vez que somos todos pecadores, por que uma pessoa deveria ser escolhida para honra e outra para desonra?"13 Obviamente isto lançaria uma sombra de dúvida sobre a justiça de Deus. A predestinação calvinista afirma que a graça salvadora de Deus é concedida apenas aos que Ele predestinou à salvação; porém o conceito bíblico não suporta esta posição. Isaías 55:1 diz: "Ah! todos vós os que tendes sede, vinde às águas...", e Cristo ratifica essas palavras 6 Sanday, em Russell N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado (Guaratinguetá, SP: A Voz da Bíblia, s.d.), 3:727, citados em Timm, 14. 7 Agostinho, Enchiridion – manual, cap. IX, seção 30 (PLM, vol. XL, p. 246), citado em João Calvino, As institutas (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985), 2:24. 8 Idem, Sermão CLXXVI, seção V e, também, seção VI (PLM, vol. XXXVIII, pp. 952-953), citado em Calvino, 2:46. 9 João Calvino, As institutas (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985), 2:61. 10 Idem, 3:389. 11 Timm, 14. 12 Ibid. 13 J. Ivan Crawford, Buscando a glória de Deus, Lição da Escola Sabatina, abril-junho de 1982, ed. Do professor, 60, citado em Timm, 14. 5 com o convite: "Vinde a Mim todos..." (S. Mat. 11:28), e ordena que as boas-novas da salvação devem ser pregadas "a toda criatura" (S. Marc. 16:15). A Bíblia aprofunda ainda mais esse conceito ao declarar que Deus "deseja que todos os homens sejam salvos" (I Tim. 2:4), e que Ele não quer "que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (2 Pe 3:9); e a ordem divina é: "Agora, porém, notifica aos homens que todos em toda parte se arrependam" (Atos 17:30). Assim, ―O convite a todos para que se arrependam seria um escárnio ao nome de Deus se os homens não se pudessem arrepender".14 A Bíblia acrescenta, porém, que "Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo Lhe é aceitável" (Atos 10:34 e 35).15 Ellen White confirma a noção bíblica de livre-arbítrio, "Não é um decreto arbitrário da parte de Deus que veda o Céu aos ímpios; estes são excluídos por sua própria inaptidão para dele participar‖.16 Se o destino de cada indivíduo já estivesse predeterminado desde a eternidade, para a salvação ou para a perdição, a proclamação do evangelho perderia o seu sentido. Os homens não seriam mais moralmente responsáveis, e Deus, em última análise, seria responsável pela perdição dos impenitentes, o que faria da punição do pecado – a cada um ―segundo as suas obras‖ (Ap 20:12) – uma farsa e uma injustiça; pois tais obras teriam sido o resultado do desígnio divino. Isto é completamente contrário ao conceito bíblico!17 Do mesmo modo, no tema específico do casamento, se o cônjuge de cada pessoa estivesse predeterminado desde a eternidade por Deus tal fato anularia completamente o livrearbítrio do ser humano e, consequentemente, a responsabilidade pela escolha do parceiro(a). Presciência Divina e Origem do Mal A Bíblia declara que o pecado se originou em Lúcifer, um ser perfeito que veio a rebelar-se contra Deus (Ez 28:14 e 15; Is 14:12-15), o qual, após suscitar "peleja no Céu", foi expulso (Ap 12:7-9). Posteriormente, ele induziu também os nossos primeiros pais ao pecado. O Espírito de Profecia diz a esse respeito, e com relação ao plano divino para a salvação do homem: "O plano de nossa redenção não foi um pensamento posterior, formulado depois da queda de Adão.... Desde o princípio Deus e Cristo sabiam da apostasia de Satanás, e da queda do homem mediante o poder enganador do apóstata. Deus não ordenou a existência do pecado. Previu-a, porém, e tomou providências para enfrentar a terrível emergência".18 Em outras palavras, "Deus tinha um conhecimento dos eventos do futuro, mesmo antes da criação do mundo. Ele não fez Seus propósitos para se ajustarem às circunstâncias, mas permitiu que as coisas se desenvolvessem e surtissem efeito. Ele não agiu para produzir certas condições, mas sabia que tais condições iriam existir".19 Se Deus sabia, porém, de antemão, que Lúcifer e nossos primeiros pais cairiam em pecado, por que Ele os criou? — Cristo "sabia que Lúcifer procuraria tirar-Lhe a vida durante o Seu ministério terrestre e que finalmente conseguiria fazê-lo no Calvário. Sabia que Lúcifer tentaria induzi-Lo a abusar do poder de Seu Pai ou de Seu próprio poder. Ele sabia também a parte que seria desempenhada por homens e mulheres. Mas a eterna presciência de Cristo dos contínuos e definidos efeitos dos pecados dos outros sobre Ele foi superada por Seu eterno amor. Prosseguiu na criação dos anjos e do homem a despeito do terrível custo para Sua própria Pessoa‖.20 14 Pedro Apolinário, Análise de textos bíblicos de difícil interpretação (São Paulo: Instituto Adventista de Ensino, 1980), 1:19, citado em Timm, 14-15. 15 Timm, 14-15. 16 Ellen G. White, Caminho a Cristo, 18, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 1CD-Rom. 17 Timm, 15. 18 Ellen G. White, O desejado de todas as nações, 22, Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom. 19 Idem, em Seventh-day Adventist Bible Commentary (SDABC), ed. Francis D. Nichol (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1976), 6:1082. 20 Norman R. Gulley, O sacrifício expiatório de Cristo, Lição da Escola Sabatina, janeiro-março de 1983, ed. do professor, 5, citado em Timm, 16. 6 Mas, o fato de Cristo os ter criado, apesar de saber previamente que eles cairiam, não torna Deus, em última análise, o autor do pecado? — A questão básica na compreensão deste assunto é fazermos "a diferença entre praescientia e praedestinatio, isto é, entre a presciência e a eterna eleição de Deus. A presciência de Deus nenhuma outra coisa é senão isso que Deus sabe todas as coisas antes de acontecerem",21 mas ela "não é causativa em si mesma".22 Escolha do Conjuge e Predestinação Analisemos a questão da escolha do cônjuge sob a perspectiva do tema da predestinação. Se Deus tivesse uma única pessoa para cada um de nós, Ele teria que: criar uma especialmente para cada um de nós, como o fez para Adão ou teria que conceder o dom profético para todos os seres humanos para que assim pudessem encontrar a pessoa que Ele designou para cada um deles. Sem o dom profético da revelação nunca encontrariam a pessoa certa designada por Deus. Seria mais ou menos assim: ―Aqui está a mulher da sua vida, revelada especialmente através de um sonho ou visão‖. Se não fosse por revelação especial de Deus a cada um de nós, como saberíamos qual pessoa Ele tem para nós? Quando Deus, em Sua soberania, decide que alguém realize uma responsabilidade especial, seja como profeta, seja como rei, Ele o faz livremente, através de uma revelação especial: ―Ora, o SENHOR, um dia antes de Saul chegar, o revelara a Samuel, dizendo: 16 Amanhã a estas horas, te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo das mãos dos filisteus; porque atentei para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim. 17 Quando Samuel viu a Saul, o SENHOR lhe disse: Eis o homem de quem eu já te falara. Este dominará sobre o meu povo‖ (1Sa 9:15-17). É óbvio que não funciona assim. Outro problema gerado pela tese de uma pessoa exclusiva para cada um de nós é que ela anula a liberdade de escolha do ser humano. Se Deus tem uma única pessoa para mim, então minha parte é apenas receber por revelação especial aquela pessoa que Ele designou para mim. Não há margem para escolha, apenas aceitação. Tal fato transmitiria uma noção errônea do caráter de Deus, pois faria dEle um tirano, um ditador. ―Olha, tome esta pessoa como seu cônjuge. Você não pode reclamar nem devolver‖. Ou seja, tudo já estaria determinado antecipadamente por Deus. Em teologia isto se denomina predestinação. O que Deus determina é um tipo de caráter, não uma pessoa exclusiva: ―Pesem, os que pretendem casar-se, todo sentimento e observem todas as modalidades de caráter naquele com quem desejam unir o destino de sua vida. Seja todo passo em direção do casamento caracterizado pela modéstia, simplicidade, e sincero propósito de agradar e honrar a Deus‖.23 Outra citação que segue o mesmo conselho e, ―... receba a jovem como companheiro vitalício tão somente ao que possua traços de caráter puros e varonis, que seja diligente, honesto e tenha aspirações, que ame e tema a Deus‖.24 Neste mesmo livro, Ellen White continua sua orientação: ―Antes de dar a mão em casamento, deveria toda mulher indagar se aquele com quem está para unir seu destino, é digno. Qual é seu passado? É pura a sua vida? É o amor que ele exprime de caráter nobre, elevado, ou é simples inclinação emotiva? Tem os traços de caráter que a tornarão feliz? Poderá ela encontrar verdadeira paz e alegria na afeição dele? Ser-lhe-á permitido, a ela, conservar sua individualidade, ou terá de submeter seu juízo e consciência ao domínio do marido? Como discípula de Cristo, ela não pertence a si mesma, foi comprada por preço. Pode honrar as reivindicações do Salvador como supremas? Serão conservados puros e 21 Livro de concórdia, As confissões da Igreja Evangélica Luterana (São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, Editora Concórdia, 1980), 532, citado em Timm, 16. 22 Augustus H. Strong, Systematic Theology (Valley Forge, PA: Judson Press, 1979), 286, citado em Timm, 16. 23 Idem, Mensagem aos jovens, 435, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom. 24 Ibid. 7 santos o corpo e a alma, os pensamentos e propósitos? Essas perguntas têm influência vital sobre o bem-estar de toda mulher que se casa‖.25 Continuando a ênfase sobre o caráter do pretendente, ela orienta aos jovens consultarem os pais e acrescenta, ―Consultai a Deus e a vossos pais tementes a Deus, jovens amigos. Orai sobre o assunto. Pesai cada sentimento e observai todo desenvolvimento de caráter na pessoa a quem pretendeis ligar o destino de vossa vida‖.26 Aparente Evidência de Determinismo Divino na Escolha do Cônjuge A definição de Rebeca como esposa de Isaque tem sido apresentada como evidencia de que Deus é quem determina a esposa de cada marido, ou seja, um tipo de predestinação matrimonial: ―Ó SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, rogo-te que me acudas hoje e uses de bondade para com o meu senhor Abraão! Eis que estou ao pé da fonte de água, e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água; dá-me, pois, que a moça a quem eu disser: inclina o cântaro para que eu beba; e ela me responder: Bebe, e darei ainda de beber aos teus camelos, seja a que designaste para o teu servo Isaque; e nisso verei que usaste de bondade para com o meu senhor‖ (Gn 24:12-14). De fato, o texto diz, ―designaste‖, portanto, em resposta a oração de Eliézer Deus lhe mostrou quem deveria ser a esposa de Isaque. Ellen White lembra alguns dos costumes dos tempos antigos, ―Os contratos de casamento eram geralmente feitos pelos pais, contudo nenhuma compulsão era usada para forçá-los a casar com quem não amavam. Mas os filhos tinham confiança no julgamento dos pais, e seguiam-lhes o conselho concedendo suas afeições àqueles que seus tementes e experientes pais escolhiam para eles. Era considerado crime seguir caminho contrário‖.27 Este texto descreve o costume da época que fora aceito por Isaque. Mais a frente, Ellen White, em seu comentário, acrescenta que no caso de Isaque, este confiava ―na sabedoria e afeição de seu pai, estava satisfeito com a entrega desta questão a ele, crendo também que o próprio Deus dirigiria na escolha a fazer-se‖.28 O texto não trata de determinismo, mas de confiança na orientação dos pais. Estes, evidentemente, como era o caso de Abraão, confiavam na direção de Deus. Observe-se que Abraão não disse a Eliézer, ―Vá e busque uma jovem por nome Rebeca, pois Deus me revelou que esta deverá ser a esposa de meu filho‖. Ele apenas assegurou a Eliézer que "O Senhor, Deus dos Céus", disse ele, "que me tomou da casa de meu pai e da terra da minha parentela, ... enviará o Seu anjo adiante da tua face" (Gn 24:7). Eliézer havia aprendido com Abraão a confiar em Deus. Nem Abraão, nem ele tinham recebido uma revelação especial sobre aquela que deveria ser a esposa de Isaque. Então Eliézer decidiu pedir a Deus um sinal (Gn 24:12-14) que foi prontamente respondido. A atitude de Rebeca em atender ao pedido de Eliézer foi uma resposta de Deus a sua oração. Mas isto não significa determinismo, porque o livre-arbítrio dela foi respeitado, ―Chamemos a moça e ouçamo-la pessoalmente. Chamaram, pois, a Rebeca e lhe perguntaram: Queres ir com este homem? Ela respondeu: Irei‖ (Gn 24:57-58). Ellen White comenta este ato de Rebeca, ―Depois de obter-se o consentimento da família, a própria Rebeca foi consultada quanto a ir ela a uma tão grande distância da casa de seu pai para casar-se com o filho de Abraão. Ela acreditava, pelo que havia tido lugar, que Deus a escolhera para ser a esposa de Isaque‖.29 O caso específico do casamento de Isaque não pode ser empregado para comprovação de predestinação conjugal, mas de resposta de Deus ao pedido de Eliézer. Aquela foi uma situação singular, não a regra geral. O normal era os filhos confiarem na orientação dos pais para definir o seu respectivo cônjuge. 25 Ibid., 439. Ibid., 449. 27 Idem, História da redenção, 85-86, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom. 28 Ibid. 29 Ibid., 173. 26 8 Se, porventura, a Bíblia e o Espírito de Profecia ensinassem que é Deus quem previamente determina uma pessoa exclusiva para cada um dos crentes, isto deveria ser claramente apresentado. Mas não é este o caso. Mais a frente, no capítulo de Patriarcas e profetas que trata do casamento de Isaque, Ellen White faz as seguintes aplicações: ―Se há um assunto que deve ser cuidadosamente considerado, e no qual se deve procurar o conselho de pessoas mais velhas e experientes, é o do casamento; se a Bíblia já foi necessária como conselheira, se a direção divina em algum tempo deveria ser procurada em oração, é antes de dar um passo que liga pessoas entre si para toda a vida. Os pais nunca devem perder de vista sua responsabilidade pela felicidade futura de seus filhos. O respeito de Isaque aos conselhos de seu pai foi o resultado do ensino que o habilitou a amar uma vida de obediência. Ao mesmo tempo em que Abraão exigia de seus filhos que respeitassem a autoridade paterna, sua vida diária testificava que essa autoridade não era um domínio egoísta ou arbitrário, mas que se fundava no amor, e tinha em vista o bem-estar e felicidade deles. Pais e mães devem sentir que se lhes impõe o dever de guiar as afeições dos jovens, a fim de que possam ser colocadas naqueles que hajam de ser companheiros convenientes. Devem sentir como seu dever, pelo seu próprio ensino e exemplo, com a graça auxiliadora de Deus, modelar de tal maneira o caráter de seus filhos desde os seus mais tenros anos, que sejam puros e nobres, e sejam atraídos para o bem e para o verdadeiro. Os semelhantes atraem os semelhantes; os semelhantes apreciam os semelhantes. Que o amor pela verdade, pureza e bondade seja cedo implantado na alma, e o jovem procurará a companhia daqueles que possuem essas características‖.30 Se porventura defendesse a noção de que Deus é quem determina desde a eternidade a união dos cônjuges, Ellen White teria aproveitado a oportunidade para defender esta noção em seu comentário sobre o casamento de Isaque com Rebeca. Ao contrário, ela destacou o relevante papel dos pais em orientar os filhos na devida escolha. Basta considerar com atenção o contexto acima referido. Deus pode ser consultado na escolha do cônjuge, como o fez Eliézer para a escolha da esposa de Isaque, mas isto não retira o exercício do livre arbítrio humano para o cumprimento da vontade de Deus. É bom lembrar que ―A oração move o braço da Onipotência. Aquele que comanda as estrelas na sua órbita nos céus, e cuja palavra controla as águas do grande abismo - o mesmo Criador infinito atuará em favor do Seu povo, se O invocarem com fé‖,31 inclusive na escolha do cônjuge. O soberano Deus dispõe de poder para definir a escolha do cônjuge no presente em resposta à oração de fé, mas não significa que Ele tenha determinado isto na eternidade e que não respeite o livre arbítrio humano. O fato de que Ele conhece de antemão todas as coisas não implica em que Ele é o causador de todas as coisas. A Relação Entre Soberania de Deus e Livre-Arbítrio Humano A bem da verdade, em teologia existem várias tensões. Uma delas é entre soberania de Deus e livre-arbítrio. Por exemplo, se a definição do cônjuge está nas mãos de Deus, a atividade do ser humano não a afeta; se depende da ação humana, não está nas mãos de Deus. Como se pode constatar, é o antigo problema do determinismo contra o livre arbítrio. A primeira alternativa pode conduzir à passividade: porque deveriam os seres humanos se preocupar se suas ações não afetam os planos de Deus? Mas o segundo pode levar à ansiedade: como fazer a escolha certa se tudo depende apenas de mim? O estudo da relação entre soberania divina com livre-arbítrio humano na Bíblia permite que se vislumbre uma parceria ideal. Tomemos, por exemplo, as profecias de tempo referentes à primeira vinda de Jesus, como Daniel 9:24-27; Isaías 7:14, etc. Evidentemente eram profecias incondicionais quanto ao fator tempo, contudo o seu cumprimento dependia da livre aceitação por parte dos escolhidos para que elas se cumprissem. Este foi o caso de Maria 30 31 Idem, Patriarcas e profetas, 175-176, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom. Idem, Nos lugares celestiais, 351, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom. 9 perante o anjo, ―Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus‖ (Lc 1:35). Maria poderia ter recusado a incumbência celeste, mas não, ela espontaneamente disse, ―Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra‖ (Lc 1:38). De modo objetivo, o relato acima confirma a declaração bem colocada por Harold H. Rowley, ―O Paradoxo da graça é que o ato que emana totalmente de Deus pode ser realizado através do homem‖.32 Por sua vez, ao discorrer sobre soberania divina e livre arbítrio no contexto da visão de Ezequiel no rio Quebar, disse Ellen White: ―Todos estão pela sua própria escolha decidindo o seu destino, e Deus está governando acima de tudo para o cumprimento de Seu propósito‖.33 Não existe conflito entre a soberania de Deus e livre arbítrio humano. Basta que lembremos o chamado profético de William Foy e Hazen Foss. Ambos recusaram o chamado divino por livre e espontânea vontade, ao contrario de Ellen White. Deus respeitou a recusa de ambos em exercer o ministério profético, mas exaltou a decisão de Ellen White em aceitar desempenhá-lo.34 Ao final de tudo, Sua soberania foi exercida porque Seu propósito de conceder a igreja remanescente um voz de orientação profética foi alcançado. Resumo e Conclusão O presente trabalho estudou o tema da escolha do cônjuge pela perspectiva de dois pontos de vistas antagonistas, o da presciência absoluta causativa e a não causativa. A presciência absoluta causativa defende: 1) a soberania total de Deus; 2) todas as coisas acontecem pela vontade exclusiva de Deus; 3) o ser humano não tem livre arbítrio; 4) salvação e perdição de cada pessoa estão decretados desde a eternidade por Deus; 5) Deus é quem determina o cônjuge. A presciência absoluta não causativa defende: 1) a soberania de Deus; 2) o respeito ao livre arbítrio humano; 3) salvação ou perdição dependem da aceitação ou rejeição humana da redenção gratuitamente oferecida por Deus; 4) a escolha do cônjuge é uma questão definida pessoalmente. O plano da redenção em Cristo, Sua encarnação, vida, morte, ressurreição e intercessão reconhece a presciência divina que anteviu a entrada do pecado no céu por Lúcifer e na terra por Adão, mas não o causou, apenas proveu-lhe uma solução satisfatória. O testemunho geral da Bíblia corrobora a posição da presciência absoluta não causativa, pois se o destino de cada indivíduo já estivesse predeterminado desde a eternidade, para a salvação ou para a perdição, a pregação do evangelho não teria sentido. Os homens não seriam mais moralmente responsáveis, e Deus seria responsável pela perdição dos impenitentes, o que faria da punição do pecado segundo as obras uma farsa e uma injustiça; pois tais obras teriam sido o resultado do desígnio divino. No caso do casamento, se o cônjuge de cada pessoa estivesse predeterminado desde a eternidade por Deus tal fato anularia completamente o livre-arbítrio do ser humano e, consequentemente, a responsabilidade pela escolha do parceiro(a). Se a predestinação conjugal fosse verdadeira, Deus teria que criar uma esposa especialmente para cada um de nós, como o fez para Adão, ou teria que conceder o dom profético para todos os seres humanos para que assim pudessem encontrar a pessoa que Ele designou para cada um deles. Sem o dom profético da revelação ou inspiração nunca encontrariam a pessoa certa designada por Deus. O que Deus determina é um tipo de caráter exclusivo (temente a Deus), não uma pessoa exclusiva! As fontes de orientação, tais como o próprio Deus, a Bíblia, a oração, o 32 Harold H. Rowley, A importância da literatura apocalíptica (São Paulo: Edições Paulinas, 1980), 177. Ellen G. White, Educação, 178, em OEGW, 1CD-Rom. 34 Para uma melhor noção sobre o chamado profético de Foy e Foss, ver Herbert E. Douglas, Mensageira do Senhor (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2002), 38. 33 10 conselho dos pais, são recursos disponíveis que favorecem uma livre escolha do cônjuge conveniente. O casamento de Isaque e Rebeca, ao invés de corroborar o determinismo divino do cônjuge desde a eternidade, exalta a submissão do filho à orientação do pai para a escolha da companheira como um modelo a ser seguido na atualidade. Fica evidente que Deus pode ser consultado na escolha do cônjuge, como o fez Eliézer para a escolha da esposa de Isaque, mas isto não retira o exercício do livre arbítrio humano para o cumprimento da vontade de Deus. Lembre-se que Rebeca teve a opção de rejeitar o pedido de casamento e a mudança para a terra de Isaque. Alguns têm dificuldade em harmonizar soberania divina e livre arbítrio humano. Se a definição do cônjuge está nas mãos de Deus, a atividade do ser humano não a altera; se depende da ação humana, não está nas mãos de Deus; é o retorno da controvérsia entre determinismo e livre arbítrio. A primeira alternativa conduziria à passividade: porque deveriam as pessoas se preocupar se suas ações não afetam os planos de Deus? Mas o segundo gera ansiedade: como fazer a escolha certa se tudo depende apenas de mim? A experiência de William Foy, Hazen Foss e Ellen White comprova que Deus respeita o livre arbítrio humano tanto para rejeitar quanto para aceitar o chamado profético, mas ao final de tudo, Ele exerce Sua soberania quando confere à igreja remanescente a guia inspirada por meio de Ellen White. Em suma, o testemunho geral da Bíblia e do Espírito de Profecia corrobora que a escolha do cônjuge pode ser orientada por Deus, desde que solicitada com fé. Contudo esta orientação não implica que tenha sido predeterminada por Deus desde a eternidade, ao contrario, este direcionamento divino requer o exercício humano da liberdade e responsabilidade correspondentes. Embora saiba desde a eternidade quais serão nossas escolhas, não é Deus quem determina nosso futuro cônjuge. A única coisa que Ele define é que a escolha do futuro cônjuge tome em consideração um caráter cristão nobre. Afinal, se houvesse apenas uma pessoa designada por Deus, os viúvos não teriam direito a novo casamento. Estariam condenados a uma solidão permanente, já que a ―predeterminada‖ morreu! 11 Abuso Sexual de Crianças na Igreja Peter Winter [Pseudônimo] Ministry, março de 2001, 18-21 Anne soou interessada, e até um pouco preocupada. “Pastor, eu quero lhe falar”, disse. Encontrei um pouco de dificuldade em acreditar no que ouvi. “Martin abusou sexualmente da minha filha.” Martin era o líder de um dos ministérios infantis da nossa comunidade. Estava em seus trinta anos, era capaz e divertido. Ele e sua esposa não tinham filhos até então. Eram muito populares com nossos membros, e, mesmo recentes na comunidade já tinham um grande número de amigos próximos. Minha primeira reação foi a de perguntar a Anne se sua filha estava certa do que afirmava. “Sandra não mentiria,” ela respondeu. 'Além do mais, há indícios de que o que diz é verdade. “Depois que voltou de suas férias com Martin e sua esposa no último verão, sua atitude quanto a ele mudou drasticamente. Não quis mais ir às reuniões dos adolescentes da nossa igreja. Quando nós compramos para Martin um presente de natal, nossa filha nem mesmo quis assinar o cartão. E se recusa a estar sozinha na mesma sala com seu professor de piano.” Anne continuou depois de uma breve pausa, “agora mesmo não permite nem que o seu próprio pai a toque”. Nós pensamos que ela estava só atravessando uma fase associada com a puberdade. Mas agora parece que é muito mais grave do que isso. Eu estava chocado. Mas havia mais a vir à tona. “Minha filha Sandra não é a única que Martin tem molestado.” Anne continuou. “Sandra diz que Martin fez o mesmo à Lisa”. “Os pais de Lisa sabem sobre isto?” perguntei a Anne. “Ainda não”, ela respondeu. “Temos que falar com eles, e então nós poderemos fazer algo”. Naquela semana, após o culto da igreja, o pai de Lisa que também era membro da igreja veio conversar comigo. Ele estava calmo, contudo irritado (sua aparência era de calma, mas escondia uma irritação). Sua esposa falara com Lisa e tinha confirmado a história da Sandra. Os pais de ambas as meninas quiseram encontrar-se com Martin. Eu tive sérias dificuldades para confortá-los, pois o sentimento de revolta era muito grande. Como poderia um homem como Martin, amigável, sempre pronto para rir, amigo e companheiro ser realmente um molestador de crianças? Como poderia eu ter a certeza de que as meninas não estavam exagerando acerca de um ou dois incidentes de afinidade? Durante os poucos dias seguintes eu orei sobre o caso e decidi então me encontrar com Martin. Fui direto ao ponto. “Sandra disse que quando estavam passando as férias juntos você tocou nos órgãos genitais dela. Ela também disse que você fez o mesmo a Lisa. É verdade Martin?” Martin hesitou um pouco. Então, olhando para baixo disse “sim, é verdade” Ele aparentava estar realmente aliviado de poder finalmente falar sobre este assunto com alguém. Por ser seu pastor me senti com a sensação curiosa de ser repelido por sua admissão logo no princípio. No entanto, ele demonstrou que estava aparentemente disposto a discutir seu comportamento comigo. “Já falei com os pais de ambas as meninas e nós decidimos que se não quiser ser denunciado para a polícia terá que se adequar à determinadas circunstâncias. “Eu disse-lhe que o primeiro passo seria um encontro com os pais das meninas para escutar o que pensam e sentem sobre o que você fez e para que tenha a oportunidade de se desculpar. Então teria que pagar pela terapia das meninas. Você deve também ir a um terapeuta. Finalmente, você tem que renunciar imediatamente do cargo de líder dos desbravadores. Enquanto são feitos os exames e a terapia com as meninas você não deverá vir à igreja”. Nós falamos sobre estas condições por uma hora ou 12 mais. A objeção principal de Martin concerniu no tocante a sua terapia. “Você quer apenas forçar-me a ver um psiquiatra como se eu de alguma forma fosse um pervertido”, disse Martin. Isto me surpreendeu. Eu pensei que se o problema dele fosse meu, eu estaria ansioso para ir a um médico. Entretanto, Martin começou a mostrar sinais de não acreditar que tinha feito qualquer coisa anormal. Minha outra surpresa era sobre a sua atitude para com a igreja. Ele não estava preocupado de não vir à igreja novamente. “Eu tenho tido dúvidas mesmo,” ele disse. Esta entrevista me causou uma dor no coração e algum trauma. Não somente por que Martin parecia feliz de parar de vir à igreja, mas também por que eu estava dolorosamente ciente que eu não tinha qualquer direito de fazê-lo parar de vir, eu estava começando a sentir o impacto de um dilema doloroso. Minha decisão foi causada por dois outros fatores dos quais os pais de ambas as meninas já estavam cientes. Primeiro, nós sentíamos que as meninas não deveriam ter sido confrontadas com o abusador delas semana após semana. Segundo, as meninas não queriam ter a sensação que toda a nossa congregação sabia o que tinha acontecido a elas. Trauma emocional Uma das emoções mais turbulentas em crianças abusadas é a vergonha. Apesar de elas não terem feito nada para provocar o molestador, mesmo assim, elas se sentem envergonhadas de terem sido usadas como objetos de desejos pervertidos. Elas tentam esconder sua vergonha, deixando o seu abuso em segredo – em muitos casos até mesmo de seus próprios pais. A fim de preservar os sentimentos daquelas duas meninas, nós decidimos deixar o abuso de Martin em segredo para a igreja. Lendo I Coríntios 6:9-11, eu fui convencido de que, com alguma cooperação de Martin, ele poderia ser curado. Deixar em segredo, também tinha a intenção de dar a Martin uma oportunidade de mudar sem ter que sofrer com as enormes repercussões que uma investigação policial poderia trazer. Olhando para trás, eu vi quão ingênuo eu fui. Nunca deveria ter impedido um membro de vir à igreja sem o consentimento e apoio da igreja. Isso foi um erro. Eu agora reconheço também como minha tentativa de manter o assunto confidencial somente estendeu e até mesmo intensificou o sofrimento de todos envolvidos. Um problema que deveria ter sido resolvido em questão de meses levou mais de dois anos. Nossa igreja sofreu durante esse tempo. Inicialmente, Martin parecia concordar com as nossas condições. Ele se encontrou com os pais. O encontro teve uma carga emocional forte, mas fez o clima entre eles melhorar um pouco. Martin expressou sua tristeza pelos erros cometidos, e os pais se dispuseram a perdoar. O surgimento de problemas Com o passar do tempo, porém, dois problemas surgiram. Primeiro: como as suas reações iniciais indicavam, Martin estava relutante em fazer terapia, apesar de eu tê-lo encaminhado a um terapeuta que me fora recomendado. Depois de uma visita inicial, Martin me disse que esse terapeuta só poderia atendê-lo no horário comercial. Ele disse que por isso, poderia passar por terapia. Eu acreditei nele, mas mesmo assim insistia para que fizesse terapia. Como resultado dessa pressão, Martin, eventualmente, começou a ir a um psicólogo de sua escolha. Este conselheiro tinha pouca experiência na área de abuso sexual. Eu gradualmente comecei a perceber que Martin estava na realidade evitando o nosso acordo e sua responsabilidade. O segundo problema era que os membros da igreja perceberam sua ausência, visitaram-no e perguntaram por que ele não vinha mais à igreja. A 13 resposta de Martin levava a crer que uma ou duas famílias e mais o pastor haviamno tratado injustamente. “Algumas pessoas simplesmente não conseguem perdoar,” ele dizia suspirando com uma dor em seus olhos. Suas respostas geraram perguntas e a dúvida pairou na atmosfera da igreja. De repente, em uma classe realizada na igreja, um dos membros começou a criticar a liderança da igreja por não conseguir perdoar. E assim, com o passar do tempo, os rumores e críticas cresceram. Cobrindo a realidade O abuso de Martin nunca resultou em relação sexual com suas vítimas. Ele começava brincando inocentemente com uma menina – colocando-a no seu colo, fazendo cócegas em sua barriga, ou massageando-a de brincadeira nas costas. Depois sua mão caía abaixo da linha do quadril e ele tocava a genitália. Quando isso aconteceu com Sandra, ela estava quase na puberdade. Os dedos de Martin penetraram sua vagina. Sandra percebeu que Martin havia passado uma linha crítica. Ela repentinamente ficou firme e manifestou medo. Ela parou de rir, sentiu-se enjoada, caiu deitada, não sabendo como reagir. Martin parou seus avanços sexuais e fez de conta que nada de anormal havia acontecido – uma atitude que confundiu sua jovem vítima. Depois Martin adotou a mesma atitude ao conversar com seus amigos na igreja a respeito dos incidentes. “Nós estávamos apenas brincando,” ele disse, “e a minha mão acidentalmente caía abaixo da linha do quadril, só isso. Os pais de Lisa e Sandra estão fazendo um estardalhaço de um pequeno incidente.” Assim, novamente, os rumores se espalharam pela congregação: Martin estava sendo vitimado pelos membros. Nesse tempo, eu não estava ciente de que Martin havia espalhado esses rumores. Eu só estava ciente de uma rápida deterioração na atmosfera de nossa igreja. Enquanto eu via a desconfiança e as recriminações crescerem, eu percebi que precisava de conselhos. Conversei com o meu líder denominacional e ele imediatamente assegurou-me o apoio financeiro para conseguir qualquer ajuda profissional que eu precisasse. Eu assisti a um seminário de um dia sobre abuso infantil organizado por uma igreja vizinha. Nesse seminário consegui o endereço de um psicólogo cristão especializado em terapia para os que abusam de crianças e também para suas vítimas. “Estou me esforçando para entender o perdão,” disse a Thomas, o terapeuta. Eu também disse a ele que sabia que era verdade que Martin tinha abusado ou tentado abusar mais de uma vez das meninas e que ele estava relutante para fazer terapia – mas Martin também parecia estar genuinamente arrependido das suas ações. “Não devemos nós estar mais dispostos ao perdão?”, perguntei. Lidando com um abusador Olhando para trás, posso perceber que Thomas deve ter se admirado da minha “inocência”. Primeiro, ele explicou o perfil psicológico de um abusador infantil. “Eles são muito bons em manipulação”. Então, acrescentou, “Martin está lhe manipulando, fazendo você sentir pena dele. Abusadores são também muito bons em evitar as conseqüências das suas ações. O que você descreveu mostra que ele está fazendo exatamente isso.” Mais tarde, Thomas me disse que as chances de Martin não ter abusado somente das duas vítimas que eu conhecia eram grandes. Ele me avisou para encorajar as famílias a processá-lo judicialmente, pois somente esse processo poderia fazer as outras vítimas aparecerem. “Ainda mais”, ele acrescentou, “se Martin tem relutado para entrar na terapia, então as chances de que ele vai abusar de outras pessoas no futuro – possivelmente na sua igreja – são significativas”. 14 Foi essa informação que me fez levar o caso adiante. Na minha próxima conversa com Martin, enquanto o pressionava sobre o motivo pelo qual ele achava que não poderia ir a um terapeuta especializado em casos de abuso sexual, eu percebi quão significativamente ele estava manipulando meu genuíno desejo de vêlo curado. Ele agiu como se estivesse ferido e magoado com a minha insistência, mostrando que sofria muito, pois, segundo transparecia, eu demonstrava ser muito duro com ele. Naquele momento, mais de um ano se passara desde a visita inicial da Anne. Eu percebi que nossas tentativas para conter o problema haviam falhado. Eu falei com os dois casais de pais sobre revelarmos a situação para a igreja. Eles, que a essa altura tinham sido afetados devido aos rumores na nossa igreja, aceitaram que o primeiro passo seria falar abertamente com os líderes locais da nossa igreja. Eu também informei a Martin o que iria fazer. Embora nossos líderes congregacionais tenham tomado algumas decisões racionais – como organizar uma reunião especial para discutir o problema – uma parte desses líderes mais tarde deixou seus cargos, pois a carga emocional era muito grande para suportar. Nós decidimos informar a igreja em duas fases. Na primeira reunião seria somente para dar a informação. Uma segunda reunião, um mês ou mais depois, seria para decidir se iríamos ou não desligar Martin do rol dos membros da igreja. Também decidimos convidar Thomas, o terapeuta que eu tinha consultado, para essas reuniões. Assim que nos reunimos, ficou claro que os rumores que Martin propagara tinham produzido efeito. Enquanto alguns recriminassem suas ações, outros membros passaram a defende-lo. “Martin está triste pelo que fez”, eles diziam. “Você tem que perdoar um pecador arrependido.” Outros viram o pecado dele como um erro e não como um ato deliberado. Um ou dois pensaram que as vítimas estavam exagerando ao contar os incidentes. “Até porque”, eles diziam, “Martin não chegou a ter penetração com as meninas”. O conselho profissional que Thomas deu, contudo, fez com que todos pensassem de forma diferente. “Os que abusam das crianças coagem suas vítimas” ele explicou. “Em um processo conhecido como “acariciar” [Em zoologia, o termo inglês grooming, acariciar, se refere ao hábito presente em diversos mamíferos, especialmente os grandes primatas, de afagar a pele ou os pêlos de um membro da comunidade a fim de fortalecer os vínculos afetivos e manter a unidade do grupo] eles arquitetam situações nas quais podem ficar sozinhos com as crianças, normalmente, fazendo com que elas dependam deles. Nessas situações, eles passam a ter intimidade sexual com as crianças. Mesmo que essa intimidade não alcance a penetração, ela ainda pode traumatizar a criança”. Isso não era o que a maioria dos membros queria ouvir, mas Thomas foi direto ao ponto. “Martin não tem demonstrado os frutos de um genuíno arrependimento. A falta de disposição para aceitar o tratamento que poderia ajudá-lo não confirma os pedidos de desculpa que ele fez”. Efeitos na Igreja As emoções produzidas naquelas reuniões quase que dividiu a igreja. Os pais das meninas abusadas estavam particularmente arrasados. Eles estavam certos de que uma vez que a igreja soubesse do ocorrido, receberiam apoio dos outros membros. Infelizmente, aconteceu exatamente o contrário. Alguns dos amigos deles sentiam-se tão desconfortáveis com a situação que os evitavam. Outros foram hostis, pois estavam convencidos que o problema seria resolvido tão somente se os pais perdoassem Martin e o encorajassem a voltar à igreja. Alguns ainda pensavam que as vítimas tinham virtualmente se tornado culpadas. Mas, finalmente, como 15 igreja, nós decidimos formalmente que diríamos a Martin que ou ele aceitava a terapia ou ele seria eliminado do rol de membros. Embora não fosse nosso desejo tornar público os casos de abuso, as notícias correram. Como resultado, uma terceira vítima apareceu e confirmou que também havia sido abusada por Martin, alguns anos atrás. Foi isso, junto com a contínua relutância de Martin em fazer terapia, que conduziu os pais das vítimas a procurarem à polícia. Poucos dias depois, a polícia foi à casa de Martin com uma autorização de busca. O que eles descobriram seria usado como evidência em seu julgamento. Por causa do processo contra ele, Martin escreveu uma carta explicando sua decisão de deixar não apenas nossa congregação local, mas também a nossa denominação. Embora aceitasse sua decisão, nossa igreja decidiu eliminá-lo formalmente. Nós tomamos essa decisão não apenas pelas suas ações, mas também por causa de sua falta de arrependimento. Infelizmente, aquela deliberação da igreja não encerrou a problemática. Percebendo que a nossa igreja estava profundamente dividida, nós organizamos um seminário sobre abuso infantil. O palestrante, um terapeuta competente, foi capaz de dissipar uma série de conceitos errados e ajudou alguns de nossos membros a entender como Martin manipulara os sentimentos deles. Nós também organizamos uma semana de oração e um jejum para a nossa igreja. Ainda restou a sensação da ofensa causada pela ação de um homem. Nossa congregação, que era amigável e feliz antes de tudo isso vir à tona, ainda sofre com problemas de divisão e desconfiança. Algumas pessoas têm mudado de posição e se desculpado por se posicionar ao lado de Martin. Outras não. Uma das famílias das vítimas, anteriormente muito ativa na igreja, vem à igreja ocasionalmente. A esposa de Martin, que ajudou seu esposo do início ao fim, deixou de ter contato conosco. As próprias vítimas têm feito muitas sessões de terapia durante os últimos três anos. Apenas o tempo irá nos dizer quão satisfatoriamente as feridas emocionais foram curadas. Martin é um pseudônimo assim como todos os nomes mencionados no artigo. Aprendendo com a situação Olhando para trás, eu pude tirar várias lições, e as compartilho aqui com os pastores que porventura venham a se deparar com situações semelhantes. (1) Nunca varra para debaixo do tapete as alegações de abuso infantil. Tome um tempo para se aconselhar e evite se precipitar nas decisões, mas não finja que o problema não existe. (2) Respeite as confidencialidades, mas não tente manter o problema em segredo. Mesmo quando você sabiamente e compreensivelmente tenta manter uma situação potencialmente volátil contida, tentativas de manter sigilo serão como dar um tiro pela culatra, isto é, resultarão em prejuízo para você. (3) Informe-se sobre a situação legal. Em alguns países, você é legalmente requisitado a reportar abusos infantis à polícia. Esteja ciente de sua responsabilidade legal quanto à informação que é divulgada em confiança a você. (4) Consiga toda ajuda possível. Informe apropriadamente os membros da liderança da igreja sobre o problema e peça apoio. 16 (5) Peça ajuda aos líderes, administradores denominacionais. Peça a um colega de confiança, sensível e fiel para ajudá-lo em seus esforços para pastorear o abusador, a vítima e, se necessário, a congregação. (6) Esteja consciente do perfil psicológico típico de um abusador de crianças. Se você não tem experiência em lidar com abuso infantil, procure um terapeuta profissional para se aconselhar. Assista a um seminário sobre abuso infantil. Sua congregação ou denominação poderá arcar com as despesas. (7) Não subestime o problema. Ele tem o potencial de dividir as famílias e a igreja. Reconheça que isso pode levar muito tempo e vir a drenar suas energias emocionais. (8) Aconselhe as vítimas a processar o abusador que não se arrepende. Eu reconheço que esse conselho é controverso. Como pastores, nós não temos todos os recursos para lidar com as diversas ramificações desse problema. (9) Seja paciente. O tema do abuso sexual é tão carregado emocionalmente que a sua igreja pode demorar mais tempo do que você imagina para superá-lo. (10) Tome tempo para a oração e o jejum. Além de eu ter sido, propositadamente, muito aberto sobre os erros que cometi nesta situação, posso, a bem da verdade, reconhecer a graciosa mão de Deus conduzindo a nossa congregação. 17 MASTURBAÇÃO Bento nunca contou a ninguém o seu segredo. Ele começou aos doze ou treze anos de idade, quase por acidente. Bento havia escondido uma revista de sexo explícito debaixo do seu colchão. De vez em quando, ele a abria para dar uma rápida olhada. Repentinamente ele passou a sentir emoções diferentes, que eram ao mesmo tempo boas e amedrontadoras. Algum tempo depois, ele passou a sentir uma nova sensação. Inicialmente ele passou a sentir temor porque a cama estava ficando molhada. Ele se preocupava quanto a alguma coisa estar mal com ele; ficava temeroso quando estava para dormir, pensando que pudesse acontecer de novo. Ele não sabia o que fazer. De uma coisa ele estava convicto, não iria contar aos seus pais. Nos meses e anos seguintes, a masturbação passou a fazer parte da vida de Bento. Obtinha satisfação com ela, até mesmo gostava de antecipá-la em pensamento. Quando ele cursava o ensino médio, a masturbação tornou-se uma obsessão. Pensava nela o dia todo. Qualquer estímulo extra era o suficiente para que ele buscasse alívio na masturbação, tal como uma pessoa viciada em droga. Ele dizia para si mesmo que não havia nada de errado com o seu segredo, mas, algumas vezes ele experimentava sentimentos de estar sujo e culpado. Ele tinha muito medo de que alguém descobrisse o que ele fazia em segredo.35 Introdução A masturbação é uma prática de auto-estímulo dos órgãos genitais que visa atingir o orgasmo.36 É uma prática comum da adolescência. É tema de piadas, cochichos e aborrecimento entre os adolescentes.37 As pesquisas de Alfred Kinsey revelaram que 93% dos homens adultos e 62% das mulheres admitiram terem se masturbado.38 Normalmente, para o menino adolescente, a habilidade de atingir orgasmo é o ponto inicial que pode vir a desencadear o hábito da masturbação. Antes disto, a polução noturna é o meio natural de encontrar alívio da tensão, uma vez que as relações sexuais com uma pessoa do sexo oposto não estão ainda disponíveis.39 A masturbação é um problema mais freqüente para os meninos do que para as meninas por duas razões básicas. Primeiro, as meninas pré-adolescentes e adolescentes não sentem as mesmas pressões internas para liberação da tensão sexual. Por um bom período de tempo, o sentimento de segurança e carinho que elas podem vir a receber, compensam consideravelmente uma possível excitação sexual. Nelas a excitação sexual aumenta a medida que recebem carícias mais fortes no período denominado de preâmbulos e, especialmente, com a penetração genital. Um segunda razão para a masturbação ser menos apelativa deve-se ao fato de que para elas existem mais sanções contra a prática.40 Masturbação: Boa ou Má Com certeza, a masturbação pode proporcionar um prazer temporário, mas com freqüência, ela traz, a longo prazo, um elevado custo provocado pelo vício, além de outros problemas sexuais.41 35 Josh McDowell, e Bob Hostetler, Josh McDowell’s Handbook on Counseling Youth (Dallas, TX: Word Publishing, 1996), 262. 36 Gary R. Collins, Christian Counseling: A Compreensive Guide (Waco, TX: Word, 1980), 285; citado em Josh McDowell, e Bob Hostetler, Josh McDowell’s Handbook on Counseling Youth (Dallas, TX: Word Publishing, 1996), 263. 37 McDowell e Hostetler, 263. 38 Ibid. 39 G. Keith Olson, Counseling Teenagers (Loveland, CO: Group Books, 1984), 3; citado em McDowell e Hostetler, 263. 40 Ibid. 41 Paul Cook, ―Masturbation: Good or Bad?‖, pesquisa realizada na internet, no site http://www.pornfree.org/masturbation.htm, no dia 11 de outubro de 2004. 18 Masturbação 2 A Masturbação é um Vício Se porventura alguém duvida que masturbação seja vício observe para ver quantas semanas ou meses a pessoa habituada pode permanecer sem se masturbar. Hoje se sabe que os vícios sexuais são, na verdade, como um vício em droga. Ele é auto-induzido. As substâncias químicas que o nosso organismo libera durante a excitação sexual criam o mesmo efeito que as drogas no cérebro. A masturbação repetida reforça a formação de circuitos químicos do cérebro que são próprias às ações viciosas. Da mesma forma que no vício de drogas, a masturbação requer uma quantia crescente de estímulo para alcançar um nível consistente de prazer. Isto pode conduzir tanto a uma crescente freqüência do hábito quanto a uma busca infindável por novo material que renove a experiência.42 A Masturbação Condiciona o nosso Corpo a Responder ao Auto-Estímulo, que é Auto-Centralizado Isto prejudica a nossa capacidade de se relacionar sexualmente com outra pessoa do sexo oposto. O sexo é uma experiência relacional, onde nós atendemos às necessidades de outra pessoa como também às nossas. Se estivermos acostumados a atender os nossos próprios desejos, será difícil oferecer a(ao) nossa(o) parceira(o) a atenção que ela(e) merece. Além disto, os hormônios liberados no cérebro durante a excitação sexual provocam uma ligação com aquilo que vemos ou pensamos durante a exposição aos mesmos. Isto pode nos tornar mais propensos à masturbação (e a fantasias associadas) do que ao sexo real.43 A Masturbação Provoca um Desequilíbrio Sexual A masturbação desperta nossos desejos sexuais e condiciona o cérebro a buscar gratificação sexual com mais freqüência do que o normal. O bom senso nos diz que deve haver um equilíbrio entre o sexo e as outras atividades da nossa vida. A masturbação provoca um desequilíbrio por predispor o nosso corpo e a mente a buscar gratificação com mais freqüência do que o normal. Como o circuito de retorno de um amplificador, o desequilíbrio entre realidade e fantasia pode posteriormente conduzir a pessoa ao vício. O desequilíbrio sexual também pode afetar outras áreas da nossa vida por drenar energia, tempo e recursos para a atividade sexual. Por exemplo, um homem pode permanecer por várias horas à noite surfando na internet a fim de se estimular sexualmente. O seu desempenho profissional pode ser afetado por não conseguir ficar bem desperto durante o dia, sua família sofre por causa de seu mau-humor, sua esposa fica alienada dele por falta de atenção e afeto, e as suas dívidas do cartão de crédito aumentam em função dos sites pornográficos visitados para saciar o seu hábito. Provavelmente as pessoas que mais sofram desequilíbrio sejam aquelas que não têm atividade sexual normal (p. ex. adolescentes, solteiros, divorciados, viúvos, pessoas que vivenciam disfunções sexuais no casamento). Ironicamente, são estas as mesmas pessoas que têm mais inclinação a entregarem-se a pornografia e a masturbação. Se elas gratificam o seu apetite pela indulgência, as chances aumentam facilmente, no sentido de ficarem presas ao ciclo vicioso que este desequilíbrio provoca.44 42 Ibid. Ibid. 44 Ibid. 43 19 Masturbação 3 Aspectos Espirituais da Masturbação Existem algumas questões essenciais, sobre masturbação a serem respondidas pelos cristãos como, ―você é um pessoa comprometida a honrar a Deus com a sua vida?‖ Se você é, considere os seguintes aspectos discutidos a seguir. Primeiro consideremos os pecados que normalmente acompanham a masturbação: lascívia e idolatria sexual.45 De acordo com o dicionário de Aurélio B. de H. Ferreira, lascívia é luxúria, libidinagem, sensualidade.46 Exemplos óbvios de lascívia durante a masturbação incluem contemplar pornografia e idealizar fantasias sobre sexo. Como vimos pela definição, a lascívia pode ser simplesmente um desejo intenso. Pode não ser um pensamento consciente, mas apenas um forte impulso da carne.47 Idolatria, para Ferreira, é culto prestado a ídolos; amor, paixão exagerada, excessiva.48 Quando uma pessoa contempla pornografia ou passa a formar imagens mentais em sua imaginação durante a masturbação, ela está alimentando uma devoção ao ídolo do sexo. Tal devoção é grandemente reforçada pelas substâncias químicas associadas ao prazer que são liberadas no cérebro durante a excitação sexual e o orgasmo.49 A idolatria é pecado (Ex 20:3-5) e pode trazer conseqüências desagradáveis como perturbação demoníaca e maldições para a descendência daquele que a pratica. É impossível amar a Deus de todo o coração e ao mesmo tempo idolatrar imagens de sexo perante os olhos e em nossos pensamentos.50 O Impacto Espiritual da Masturbação 1. Através da masturbação o pecado domina a pessoa. Só podemos ser servos de dois poderes, o pecado ou a justiça. Paulo escreveu: ―Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça?‖ (Rm 6:16). 2. A masturbação utiliza o corpo como instrumento do pecado. O nosso corpo deve ser apresentado e usado como um instrumento de justiça, não de pecado. Paulo escreveu: ―Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça‖ (Rm 6:12, 13). Somos responsáveis pela purificação dos motivos e propósitos pecaminosos do nosso coração através do auxílio do Espírito Santo. A prática da masturbação é exatamente o oposto do fugir dos desejos da carne porque envolve a condescendência com os maus desejos e o emprego do nosso corpo para implementá-los. Agindo assim, estamos impedindo que Deus nos utilize como Seus vasos de honra. 3. A masturbação macula o templo de Deus e entristece o Espírito Santo. Com o crentes em Cristo, nossos corpos são literalmente templos do Espírito Santo, que vive em nós. O pecado sexual é peculiar porque danifica esta união especial que temos com Deus. Paulo referia-se a isto quando disse que o pecado sexual é um pecado contra o nosso próprio corpo (1Co 6:18). Inclusive ele chegou a compará-lo a tentar unir Jesus a uma prostituta (1Co 6:1520). Uma vez que a masturbação reforça os pecados sexuais (p. ex. lascívia ou idolatria 45 Ibid. Aurélio B. de H. Ferreira, Novo dicionário da língua portuguesa (Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986), ver ―Lascívia‖. 47 Cook, http://www.porn-free.org/masturbation.htm, 11/10/2004. 48 Ferreira, ver ―Idolatria‖. 49 Cook, http://www.porn-free.org/masturbation.htm, 11/10/2004. 50 Ibid. 46 20 Masturbação 4 sexual) ela também danificará o nosso relacionamento com Deus e maculará o Seu templo (os nossos corpos).51 4. A masturbação reforça a nossa natureza carnal. Paulo escreveu: ―Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer‖ (Gl 5:16, 17).52 5. A masturbação decepciona e engana. Ela abre a porta para as enganosas influências da lascívia. ―no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade‖ (ver Ef 4:22-24).53 6. A masturbação molda a sua mente conforme o padrão do mundo: ―Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente‖ (1Jo 2:15-17).54 7. A masturbação pode lhe roubar as bênçãos que Deus planejou para a sua vida. Se você é um cristão, você tem o dever de não viver focalizado na lascívia da carne, ao invés, é preciso viver para cumprir os propósitos do Espírito (Rm 8:12-13). A masturbação contém a ameaça de uma escravidão prolongada e uma jornada espiritual embaraçosa. Jesus ressuscitou para que você pudesse viver uma nova vida, livre da escravidão do pecado.55 Raízes da Masturbação Algumas das razões comuns para a masturbação são: 1. Compensação pela dor da rejeição, abuso, uma auto-estima pobre, frustração, estresse. 2. Amor do prazer 3. Auto-piedade 4. Independência, auto-suficiência 5. Um complemento ao hábito de ver pornografia 6. ―Sexo seguro‖, numa tentativa de manter ―virgindade física‖ 7. ―Uma liberação saudável‖ da tensão sexual 8. Impaciência, indisposição de esperar pela provisão feita por Deus (casamento).56 Geralmente as raízes da masturbação envolvem pecados que cometemos ou que alguém cometeu contra nós: 1. Trauma/violência/abuso/molestar/ser molestado 2. Rejeição (p. ex. não ser amado pelos pais, sofrer zombaria dos colegas, abuso, ser descartado pela namorada, etc.) 3. Influências genéticas 4. Dificuldade em perdoar (inclusive amargura, ressentimento, rancor) 5. Atividade oculta (ver pornografia em publicações, internet, etc.) 51 Ibid. Ibid. 53 Ibid. 54 Ibid. 55 Ibid. 56 Paul Cook, ―Roots of Masturbation‖, pesquisa realizada na internet, no site http://www.pornfree.org/masturbation_roots.htm, no dia 11 de outubro de 2004. 52 21 Masturbação 5 6. Pecado sexual (prazer em contemplar descrições, cenas de violência sexual, estupro, etc) 7. Vínculos espirituais 8. Homossexualismo e outras perversões (bestialismo, sexo grupal, fetichismo, etc)57 Formação do Hábito Um pai continuamente censura o seu filho de sete anos de idade por sua inaptidão em atividades esportivas. O pai não vê nenhum valor na habilidade do filho para a música, pintura, literatura, etc. Segundo o pai, estas atividades são para os ―efeminados‖. O filho fica emocionalmente ferido pela rejeição do pai o que passa a ser o início de uma raiz de rejeição. Nos anos seguintes, o pai continua a ridicularizar o filho. O garoto passa a pensar que ele não consegue fazer nada bom aos olhos do pai e que nunca conseguirá. À medida que se torna adolescente, ele reage à rejeição com reclusão e rebeldia. Quando um amigo qualquer lhe apresenta a pornografia e a masturbação, o garoto descobre um prazer nunca desfrutado antes. As imagens de pornografia lhe oferecem aceitação e amor pelos quais ele tanto esperou. Não lhe interessa que a pornografia se fundamente em fantasia – ele tomará qualquer forma de ―amor‖ e aceitação que puder obter. Logo que ele descobre o ―conforto‖ da masturbação, passa a depender dela – passa a ser um dependente...58 A Resposta ao Problema da Masturbação Talvez os pais ou demais pessoas adultas pensem que seja um tanto difícil abordar o tema da masturbação com os adolescentes e jovens. Contudo, pode-se criar oportunidades. O esboço a seguir pode auxiliar ao pastor, professor, ou líder jovem a tratar o problema com sensibilidade e eficiência.59 Ouça Convide os jovens para um conversa aberta e honesta sobre as lutas e dificuldades que os perturbam. Assegure a eles que você respeitará o sigilo das informações prestadas. Inicialmente, procure deixá-los a vontade para exporem a realidade deles sem expressar choque, escândalo, condenação ou repulsa. Faça perguntas com o objetivo de receber informação que auxilie a perceber a situação (―Por quanto tempo isto tem sido um conflito para você?‖), e isto não para satisfazer a curiosidade.60 Demonstre Simpatia É bem fácil para os pais e outros adultos esquecer os seus tempos de adolescência e minimizar as lutas que os jovens enfrentam. Ainda que a masturbação diminua após a adolescência, as paixões e desejos sexuais continuam. Procure lembrar de sua própria fraqueza e conflitos nesta área, e utilize-as para obter uma perspectiva que compreenda com compaixão as dificuldades enfrentadas pelos jovens. Um adulto sensível (ou do mesmo sexo do jovem) pode comunicar empatia através de: 1. Olhar para o jovem diretamente (saindo de detrás da mesa do escritório, se você se encontra num lugar como este, ou inclinando-se para ele, se estiver noutro lugar, como uma poltrona a frente). 2. Um toque apropriado (um toque de leve no braço, ou a mão sobre o ombro, por exemplo). 3. Manter os olhos na pessoa sem constrangê-la ou evitando desviar os olhos dela. 57 Ibid. Ibid. 59 McDowell e Hostetler, 266. 60 Ibid. 58 22 Masturbação 6 4. Comentar as declarações da pessoa, como ―Você se sente...‖ ou ―Parece que você quer dizer...‖ 5. Esperar com paciência mediante o silêncio ou quando a pessoa está chorando.61 Afirme Demonstre afirmação aos adolescentes que estão enfrentando lutas com a sua sexualidade e que provavelmente estejam se sentindo desconfortáveis consigo mesmos. Eles podem odiar os seus sentimentos sexuais, inclusive a si mesmos. Eles precisam receber afirmações de que em parte estas reações são normais num contexto de mundo decaído e que podem vencer. Declarações que podem afirmar os jovens: 1. ―Você não é a única pessoa a lutar com isto‖. 2. ―Os seus sentimentos são normais‖. 3. ―O fato de você me falar sobre isto demonstra coragem‖. 4. ―Eu gosto do modo como você fala isto...‖ 5. ―Gosto muito de você‖.62 Direcione A masturbação pode ser vencida ―pela oração e uma sincera disposição em permitir que o Espírito Santo controle a vida, pelo envolvimento em atividades que envolvam outras pessoas, pelo evitar material que excite sexualmente (como fotos eróticas ou novelas), por evitar demorar-se em fantasias sexuais impróprias, pelo reconhecimento de que o pecado (inclusive a lascívia) será perdoado quando for confessado com sinceridade e tristeza‖.63 Você pode apresentar a seguinte estratégia a ser seguida: 1. Seja honesto com Deus. Admita que os pensamentos lascivos que o conduzem à masturbação constituem-se em pecado contra Deus. Seja honesto acerca do seu pecado e peça a Deus purificação. 2. Estabeleça um marco. O marco fixa o ponto que define o início de uma jornada. Decida que você irá agradar a Deus mais do que a você mesmo. Tome a decisão de modo a cumprir Gl 5:16, ―andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne‖. 3. Conecte com a fonte de poder. Reconheça que você não pode vencer esta batalha pelo seu próprio poder. Somente pela habitação de Cristo em você será possível mudar os seus desejos e os seus hábitos. Comece agora a desfrutar de comunhão regular e consistente com Deus a cada dia. 4. Renove a sua mente. Visto que este problema começou na sua mente, permita que Deus a mude. Deus muda a sua mente através do contato com a Bíblia. É lá que encontramos os pensamentos de Deus. Ele deseja que os Seus pensamentos sejam os nossos pensamentos. Tome tempo para ler a Bíblia e orar pelo menos um hora por dia. 5. Controle o seu olhar. Não contemple nada que o excite sexualmente. É bem verdade que você não pode viver num mosteiro, pois ninguém está livre de ver objetos que estimulem ao sexo. Mas não se demore em contemplá-los – especialmente material pornográfico, novelas e filmes para adultos. 6. Controle o seu corpo. Quando você sentir que o seu corpo está a ponto de explodir por causa da pressão sexual, procure controlá-lo através do exercício, servindo as 61 Ibid. Ibid. 63 Collins, Christian Counseling, 296; citado em McDowell, e Hostetler, 266-267. 62 23 Masturbação 7 7. necessidades do próximo, ou atividades físicas agradáveis como andar de bicicleta ou jogar basquete em dupla, por exemplo. 8. Conte com um amigo. Peça a uma pessoa do mesmo sexo e espiritualmente madura que ―cobre‖ de você responsabilidade. Peça que ele lhe questione regularmente se você está evitando tudo aquilo que é lascivo. 9. Evite situações que expõem à tentação. Resista a segunda ―olhada‖ para uma pessoa vestida sensualmente, e evite revistas e programas de TV que o estimulem sexualmente. Esteja alerta nos momentos de solidão, especialmente quando é fácil de ser tentado. 10. Se falhar não desista. Leva tempo para libertar-se do hábito. Se você vir a cair, não permaneça caído, mas limpe a poeira e confesse seu pecado a Deus imediatamente para receber o perdão. Não esmoreça diante da falha. 11. Continue lutando até a vitória final. Você não precisa pecar. ―Não permita que o radiador fique superaquecido‖. A medida que você se entrega a Deus (ao invés de ao pecado, como um instrumento de impiedade), sua energia sexual será conduzida para torna-lo um poderoso(a) homem(mulher) de Deus. Confie em Jesus. Obedeçalhe. Ele lhe dará a vitória.64 Motive o Aconselhado a Fazer um Compromisso Anime o jovem a responder ativamente ao seu problema, auxiliando-o a formular um plano específico, acrescido de passos bem definidos que sirvam como um guia de comportamento. Por exemplo, se a sua grande luta com a masturbação acontece à noite quando vai para a cama, estimule-o a fazer exercícios vigorosos ou ficar mais tempo sem ir para o quarto, de modo que ao se deitar, ele concilie logo o sono. Deixe que o jovem sugira a sua própria ―tarefa‖, a fim de que ao conseguir cumpri-la, isto lhe confira mais autoconfiança.65 Recomende Em assuntos sexuais, é imprescindível que uma pessoa adulta do mesmo sexo que o jovem ofereça apoio e auxílio (se uma professora está preocupada com um jovem, por exemplo, ela deveria solicitar a companhia de um homem a fim de aconselhar o jovem). Aconselhar uma pessoa do sexo oposto, neste item sexual, pode ser perigoso, tanto para a pessoa adulta quanto para o jovem.66 Adicionalmente, o adulto prudente deve estar cônscio de que o problema da masturbação pode ser altamente comprometedor para um futuro relacionamento conjugal se ele não for devidamente tratado. É preciso estar alerta para a necessidade de recorrer a um conselheiro profissional, especialmente quando os problemas sexuais são acompanhados de depressão e/ou ansiedade, quando há um senso de culpa acentuado, quando há um comportamento que revela desequilíbrio, quando o conselheiro se sente muito chocado ou constrangido a continuar o aconselhamento, ou quando ele ou ela sente uma forte e persistente atração sexual pelo aconselhado(a).67 Masturbação e Exame Laboratorial Vez por outra, o pastor é abordado para responder perguntas um tanto delicadas. Um exemplo é a questão relacionada com a coleta de esperma para exames laboratoriais. Como a 64 Estes dez pontos são uma adaptação do conteúdo de Barry St. Clair, and Bill Jones, Sex: Desiring the Best (San Bernardino, CA: Here‘s Life Publishers, 1987), 110; citado em McDowell, e Hostetler, 267. 65 McDowell, e Hostetler, 267. 66 Ibid., 267-268. 67 Ibid., 258. 24 Masturbação 8 Bíblia não tem uma resposta específica sobre este tema, é preciso recorrer a princípios mais gerais que possam ser aplicados a esta questão. A seguir, procurar-se-á responder a esta pergunta. Para início da discussão, apresenta-se as seguintes perguntas para reflexão: 1. Será que a descriminalização da masturbação não está relacionada com a tendência mais liberalizadora da sociedade atual? 2. O que a inspiração tem a dizer sobre masturbação? É pecado ou não? 3. O ato de se masturbar para coletar espermatozóides para exame de fertilidade é pecado ou não? 4. A tentativa de justificar a masturbação para efeito de coleta de material não seria um tipo de racionalização ou negação? 5. Que motivos podem levar uma pessoa a tentar descriminalizar a masturbação? 6. Qual é o risco espiritual que incorremos em condescender com um único ato pecaminoso? Discussão 1. Será que a descriminalização da masturbação não está relacionada com a tendência mais liberalizadora da sociedade atual? ―Tanto a Psicologia quanto a Medicina reconhecem a prática da masturbação como sendo saudável e necessária para o próprio conhecimento e desenvolvimento. Na terapia sexual, a masturbação é uma das técnicas utilizadas como exercício em várias situações‖.68 2. O que a inspiração tem a dizer sobre masturbação? É pecado ou não? ―Jovens e crianças de ambos os sexos se entregam à poluição moral, e praticam este repulsivo vício, destruidor da alma e do corpo. Muitos professos cristãos se acham tão embotados pela mesma prática, que suas sensibilidades morais não podem ser despertadas para compreender que isso é pecado, e que se nisso continuam, os seguros resultados serão completa ruína do corpo e da mente. O homem, o ser mais nobre da Terra, formado à imagem de Deus, transforma-se em animal! Faz-se grosseiro e corrupto. Todo cristão terá de aprender a refrear as paixões, e a ser regido por princípios. A menos que assim aja, é indigno do nome de cristão. Alguns que fazem alta profissão de fé, não compreendem o pecado da masturbação e s eus seguros resultados. O hábito longamente arraigado lhes tem cegado o entendimento. Eles não avaliam a excessiva malignidade deste degradante pecado que lhes enerva o organismo e destrói a energia nervosa do cérebro. Os princípios morais são demasiado fracos quando em luta com um hábito arraigado. Solenes mensagens vindas do Céu não podem impressionar fortemente o coração não fortalecido contra a condescendência com esse degradante vício. Os sensitivos nervos do cérebro perderam o saudável tono devido à estimulação doentia para satisfazer um desejo não natural de satisfação sensual. Os nervos cerebrais que se comunicam com todo o organismo, são os únicos meios pelos quais o Céu se pode comunicar com o homem, e influenciar sua vida mais íntima. Seja o que for que perturbe a circulação das correntes elétricas no sistema nervoso, diminui a resistência das forças vitais, e o resultado é um amortecimento das sensibilidades da mente. Em atenção a isto, como é importante que pastores e povo que professam piedade se apresentem limpos e imaculados quanto a tal vício degradante da alma!‖69 68 Claudecy de Souza, pesquisa realizada na internet, no site http://www.adolescente.psc.br/adolescente/masturbacao.htm, no dia 27 de setembro de 2005. 69 Ellen G. White, Conselhos sobre saúde, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 616, em 1CD-Rom. 25 Masturbação 9 3. O ato de se masturbar para coletar espermatozóides para exame de fertilidade é pecado ou não? Antes de dizer sim ou não é preciso responder a outras perguntas: a) Em que circunstâncias uma boa intenção pode justificar uma má ação? Ex.: Inocentar o justo com uma mentira. b) Os fins justificam os meios? Ex.: Estou com muita fome, por isto não é errado roubar para matar a fome. Se você respondeu as perguntas a e b com sim, então a mentira e o roubo deixam de ser pecado/transgressão da lei, ou seja, mentira e roubo são atitudes relativas. Depende das circunstâncias. Se você respondeu as perguntas a e b com não, então a mentira e o roubo não podem ser atitudes relativas; ou seja, mentira e roubo sempre serão pecado. Deste modo, a masturbação, por ser ―excessiva malignidade‖ e ―degradante pecado‖, mesmo que praticada com a ―boa intenção‖ de fazer um exame de fertilidade não deixa de ser pecado. 4. A tentativa de justificar a masturbação para efeito de coleta de material não seria um tipo de racionalização ou negação, ou seja, um mecanismo de defesa? (Lembre-se: todos os mecanismos de defesa envolvem um elemento de auto-engano). Racionalização: ―Atribuir motivos lógicos ou socialmente desejáveis para o que fazemos de modo a parecer que agimos de forma racional‖. A racionalização serve a dois propósitos: a) Ela alivia nossa decepção quando não conseguimos atingir um objetivo. b) Ela nos fornece motivos aceitáveis para o nosso comportamento. Neste caso, a resposta seria sim. A tentativa de justificar a masturbação para efeito de coleta de material é um tipo de racionalização/desculpa para ―pecar com uma certa segurança‖. Negação: ―Negar a existência de uma realidade desagradável‖. Negação espiritual: ―Terrível é o poder do engano próprio na mente humana! Que cegueira – tomar a luz por trevas e as trevas por luz!‖70 Neste caso, a resposta seria sim. A tentativa de justificar a masturbação para efeito de coleta de material é um tipo de negação do pecado intrínseco a ela. 5. Que motivos podem levar uma pessoa a tentar descriminalizar a masturbação? a) Influência da ―onda‖ liberalizante da sociedade atual. b) A prática da masturbação impede uma percepção clara da malignidade deste pecado: ―Muitos professos cristãos se acham tão embotados pela mesma prática, que suas sensibilidades morais não podem ser despertadas para compreender que isso é pecado‖.71 6. Qual é o risco espiritual que incorremos em condescender com um único ato pecaminoso, no caso da masturbação? 70 Idem, Mente, caráter e personalidade em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 2:725, em 1CD-Rom. 71 Idem, Conselhos sobre saúde, 616, em 1CD-Rom. 26 Masturbação 10 ―O cristão sincero não fará planos que Deus não possa aprovar‖.72 ―Satanás oferece aos homens o reino do mundo se estes entregarem a ele a supremacia. Muitos fazem isto e sacrificam o céu. É melhor morrer do que pecar‖.73 Fidelidade no Muito e no Pouco ―O deixar de conformar-se com os reclamos de Deus em todos os pormenores significa fracasso e prejuízo certos para o transgressor. Deixando de seguir o caminho do Senhor, rouba ele ao seu Criador o serviço que Lhe é devido. Isso reflete sobre si mesmo; deixa de conquistar a graça, a capacidade, a força de caráter que toda pessoa que tudo entrega a Deus tem o privilégio de receber. Vivendo apartado de Cristo, está exposto à tentação. Comete erros em sua obra para o Mestre. Infiel aos princípios em coisas mínimas, deixa de cumprir a vontade de Deus nas maiores. Procede segundo os princípios a que se acostumou. Deus não pode unir-Se aos que, colocando-se em primeiro lugar, vivem para agradar a si mesmos. Os que assim procedem, no fim hão de ser os últimos de todos. O pecado que mais se aproxima de ser desesperançadamente incurável é o orgulho da opinião própria e o egoísmo. Isso impede todo o crescimento. Quando o homem tem defeitos de caráter, e não obstante deixa de reconhecê-los; quando está tão possuído de presunção que não vê a sua falta, como pode então ser purificado?‖74 Antes de qualquer decisão, a pessoa cristã precisa considerar que os princípios divinos exarados nas Santas Escrituras devem dirigir a escolha final. Como foi visto acima, o ato da masturbação é pecado em qualquer circunstância, por isto o cristão tem que optar por outra solução de coleta de material que não seja a masturbação. Neste caso, ele deveria colher o material utilizando um meio natural, isto é, através de uma relação sexual com sua esposa. Quando se aproximasse o momento da ejaculação, ele colheria o esperma necessário e, depois, o levaria para o laboratório de análises. Uma breve pesquisa sobre coleta de material para exame na internet permite concluir que é possível obter material sem se recorrer a masturbação. A seguir, as orientações do laboratório iacs: Espermograma - Colheita de Esperma Preparação: o exame deve ser precedido de uma pausa de ejaculação (jejum sexual) de quatro dias. Antes da colheita lavar o pênis com água e sabão, enxaguar bem e secar. Colheita: Deixe o frasco fornecido pelo laboratório, sem tampa, para receber a ejaculação, fechando logo após a colheita. O esperma poderá ser colhido no laboratório por auto estimulação, ou na própria residência, desde que, neste caso, seja entregue no laboratório antes de decorridos vinte minutos após a ejaculação; para isto é necessário que a Recepção do laboratório esteja previamente avisada. De qualquer forma, o volume total deve ser colhido com cuidado para que não haja perda do material. Não fazer uso de camisinha de Vênus para a coleta do esperma.75 72 Idem, A ciência do bom viver, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 359, em 1CD-Rom. 73 Idem, Testimonies for the Church (Mountain View, CA: Pacific Press Publishing Association, 1948), 4:495. 74 Ellen G. White, Testemunhos seletos em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 3:184, em 1CD-Rom. 75 ―Espermograma‖, pesquisa realizada na internet, no site http://www.iacs.com.br/txt/esperma.htm, no dia 10 de novembro de 2005. Grifo nosso. 27 Masturbação 11 Conforme se pode constatar, é possível colher material para exame sem se recorrer à masturbação. Há, praticamente, um consenso de que o cristão não deve se masturbar. Embora a Bíblia não tenha uma declaração explícita sobre esta atitude, Ellen White deixa bem claro que a masturbação ―é pecado‖ (Conselhos sobre saúde, 616). A dificuldade surge quando é preciso fazer um espermograma. De um modo geral, os médicos recomendam a autoestimulação para a coleta de material. Diante de um pedido como este, o cristão passa a enfrentar uma crise de consciência. Aqueles que optam pelo exame através da coleta de material por masturbação, recorrem ao costumeiro argumento pelo qual ―os fins justificam os meios‖. Assim, se a finalidade última é a alegria da paternidade, então se pode recorrer à masturbação para realizar o exame. A bem da verdade, deve ser muito triste receber a informação de que não se está habilitado a ser pai. Por isto, é muito importante descobrir a dificuldade com antecedência e realizar um tratamento médico que reverta o processo que venha impedir a paternidade. Cumpre salientar que para o homem casado que precise realizar o espermograma, há uma outra possibilidade, além da masturbação. Ele pode colher material através de um coito interrompido com sua esposa ―na própria residência, desde que, neste caso, seja entregue no laboratório antes de decorridos vinte minutos após a ejaculação‖ (laboratório IACS). A dificuldade aumenta quando o paciente é solteiro, pois como cristão, ele não pode recorrer ao sexo pré-marital para colher material. Na verdade, para isto também há solução, embora um pouco mais ―agressiva‖. Trata-se de uma pequena incisão cirúrgica no testículo para retirar espermatozóides. Como se pode ver, é perfeitamente possível, tanto paro um homem casado como para um solteiro realizar um espermograma sem apelar à masturbação. A despeito dos meios alternativos acima expostos, ainda há pessoas que preferem utilizar a autoestimulação para realizar um espermograma. Para um cristão não é nada prudente ir nesta direção. Consideremos o argumento baseado na premissa de que os fins justificam os meios, ou de que uma boa intenção justifica uma má ação. Um bom exemplo é o caso de roubo para aplacar a fome, ou da utilização de uma mentira para procurar inocentar uma pessoa acusada injustamente de haver cometido um crime. Deve-se deixar bem claro que a Palavra de Deus repudia a premissa de que os fins justificam os meios: ―ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!‖ (Is 5:20). Outra passagem elucidativa é Rm 3:8 ―E por que não dizemos, como alguns, caluniosamente, afirmam que o fazemos: Pratiquemos males para que venham bens? A condenação destes é justa‖. Seria interessante lembrarmos o exemplo bíblico dos três jovens hebreus, Sadraque, Mesaque e Abdnego (cf. Dn 3), que mesmo diante de uma grande ameaça, decidiram permanecer fiéis a Deus em oposição à adoração da estátua erigida por Nabucodonosor. Bem que eles poderiam ter ―racionalizado‖ dizendo, ―a preservação da nossa vida é justificada pela adoração da estátua do rei‖. Se assim tivessem procedido, teriam falhado na fé e pecado contra Deus, impedindo aquela revelação tão maravilhosa da salvação do Senhor. Mas, porque não se pode utilizar o mal para se conseguir um bem? A resposta é simples, por sua natureza hedionda, o mal e o pecado sempre são contrários a Deus, ao Seu caráter e a Sua lei. O problema da masturbação para o espermograma não é de quantidade (apenas um ato de masturbação), mas de qualidade. Um único ato pecaminoso nunca poderá ser justificado: ―O pecado é um intruso, por cuja presença nenhuma razão se pode dar. É misterioso, inexplicável; desculpá-lo corresponde a defendê-lo. Se para ele se pudesse encontrar desculpa, ou mostrar-se causa para a sua existência, deixaria de ser pecado. Nossa única definição de 28 pecado é a que é dada na Palavra de Deus; é: ‗quebrantamento da lei‘; é o efeito de um princípio em conflito com a grande lei do amor, que é o fundamento do governo divino‖. Ellen White, O grande conflito, 493. Qualquer iniciativa no sentido de procura justificar a masturbação para fins terapêuticos deve ser interpretada como racionalização, ou um autoengano perigoso para a vida espiritual. 29 ACONSELHANDO PESSOAS QUE DESEJAM DEIXAR O HOMOSSEXUALISMO Dia a dia cresce o número de pessoas que fazem uma ―opção pelo homossexualismo‖, inclusive entre os adventistas do sétimo dia. Que atitude a igreja deve tomar em relação a este tema? Antes de considerar a abordagem disciplinar, a igreja precisa se voltar para a tarefa de orientação e auxílio daqueles que lutam contra desejos que os mantêm em conflito emocional. É normal as pessoas procurarem entender as causas do homossexualismo. Cumpre salientar que por si mesmo o homossexualismo é um sintoma. Em medicina, um agente etiológico causa apenas uma enfermidade, por exemplo, só um agente produz a tuberculose, no caso o bacilo de Koch. Já, a aids é uma síndrome porque vários vírus podem provocá-la. O mesmo se dá com o homossexualismo, visto ser uma síndrome com vários fatores causadores.76 A seguir, apresenta-se alguns fatores que podem influir para uma pessoa se tornar homossexual: Desordens nos relacionamentos familiares, abuso sexual na infância, experiências homossexuais, rebeldia juvenil/jovem, etc.77 Deste modo, a patologia do homossexualismo não é primária, mas secundária, por isto, ele não é doença, mas sintoma.78 Uma pesquisa em São Francisco com 1.000 homossexuais e 500 heterossexuais revelou que apenas um fator prognosticava uma orientação homossexual na idade adulta: inconformidade de gênero na infância.79 Na verdade, é ―difícil testar hipóteses relativas aos hormônios pré-natais em humanos, e a maioria dos estudos relacionados possuem falhas metodológicas que impedem conclusões seguras‖.80 Outro estudo de 114 famílias de homossexuais, juntamente com uma análise cromossômica de 40 famílias onde havia irmãos homossexuais mostrou evidência de um marcador genético para a homossexualidade no cromossomo X, que os homens receberam de suas mães. O estudo também demonstrou que estes homossexuais tinham mais parentes homossexuais gays pelo lado materno do que pelo lado paterno da família.81 De acordo com Daryl J. Bem, fatores genéticos não influenciam a orientação sexual por si mesmos, mas influenciam o temperamento e os traços de personalidade de uma criança.82 É bom lembrar que ainda que o ambiente e a hereditariedade exerçam influência sobre a pessoa humana, "Cristo deu Seu Espírito como um poder divino para vencer toda tendência hereditária e cultivada para o mal".83 Orientação Espiritual 1º passo a) Entrar em acordo com Deus b) Confissão, arrependimento 76 José M. N. Pereira, ―O Homossexualismo não é Doença, é Sintoma‖, palestra proferida no encontro da Êxodus, Rio de Janeiro, 14 de novembro de 1999. 77 Josh McDowell e Bob Hostetler, Counseling Youth (Dallas, TX: Word, 1996), 315. 78 Pereira. 79 Rita Atkinson, et. al., Introdução à psicologia (Porto Alegre, RS: Artmed, 1995), 398. 80 Ibid., 400. 81 Ibid. 82 Ibid., 401. 83 Ellen G. White, O desejado de todas as nações (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1979), 671. 30 HOMOSSEXUALISMO 2 O homossexualismo é uma indisposição de sermos plenamente homem e plenamente mulher. c) Arrependimento das atitudes permissivas. d) Arrependimeto das atitudes autoritárias: ―nasci assim, devo continuar assim‖. 2º passo Como posso ver a Deus? Deus é justo? Será que temos dEle a mesma imagem dos pais? É Deus que coloca em nós o fardo de culpa? 3º passo Como vejo a mim mesmo? Medo, isolamento, inveja (três atitudes do homossexualismo). As pessoas substituem estas atitudes pelo envolvimento homossexual. ―Eu não valho nada‖. Isto é uma mentira! Deus quer que você se veja: ―Valho tanto quanto Ele me valoriza‖. 4º passo Como vejo aos outros ao meu redor? Que impressão tenho do sexo oposto? Que impressão tenho das pessoas do mesmo sexo? Temos que corrigir nossas imagens. ―Você nunca adultera com alguém a quem você ama. Se você a amasse, não a arrastaria para aquele pecado‖. 5º passo Qual o princípio da crença? Você crê que Jesus Cristo pode libertá-lo? Você crê que Jesus Cristo ama aos outros como a você? 6º passo Submissão: Apreciar a autoridade naquilo que Ele representa. Jesus Cristo é nosso exemplo de submissão a Deus. Ele reconheceu os magistrados, governadores, sacerdotes, etc. 6º passo O homossexual rejeita a autoridade de Deus. Deve-se ensinar o homossexual a aprender a apreciar a autoridade de Deus. O pico mais alto da vitória depende cada vez mais do vale da submissão! 7º passo Substituição: trocar a velha vida pela nova. Quando você sentiu que Deus havia convencido você do pecado do homossexualismo? O homossexualismo é iniciativa humana para resolver uma problema que só Deus com o Seu remédio pode resolver. 8º passo Aprender a viver debaixo da graça de Deus. 31 HOMOSSEXUALISMO 3 O sentimento de culpa é um recurso utilizado pelo inimigo para mantê-lo aprisionado. Deve-se cultivar o hábito das ações de graças pela vitória. É preciso deixar de lançar a culpa nos outros. Aconselhamento Passo a Passo 1. A pessoa precisa estar decidida a deixar o homossexualismo. Só se inicia o aconselhamento quando a pessoa houver tomado a decisão de romper com as práticas relacionadas com o homossexualismo: relações sexuais; amigos que não querem deixar o homossexualismo; contemplação de cenas homossexuais, seja filmes, revistas, internet; qualquer hábito relacionado com atitudes homossexuais como bate-papo em chats gays na internet, etc.) 2. Geralmente a pessoa tem dificuldade em contar fatos e atitudes relacionadas com a vida homossexual, por isto é preciso ter uma atitude de muita compreensão e aceitação. Em qualquer aconselhamento devemos ter uma atitude semelhante a de Cristo de perdão, aceitação. Quando houver recaídas não devemos condenar pois isto as pessoas fazem normalmente, mas não o conselheiro. O conselheiro talvez seja o único apoio cristão que o homossexual pode ter. 3. Uma seção de aconselhamento de uma hora (tempo máximo normal) divide-se em duas partes: a) ―Fale sobre a sua semana...‖ Com isto o conselheiro demonstra interesse nos sentimentos do aconselhado. b) Perguntas e respostas. Para esta parte do aconselhamento utiliza-se a apostila de Frank Worthen. A pessoa que deixa o estilo de vida homossexual baseado em sua confiança em Cristo, gradativamente descobre que suas reações homossexuais estão diminuindo e cresce segura no fato de que está caminhando ao lado de Deus. Procurar satisfação na homossexualidade é correr atrás de uma falsa solução para as legítimas necessidades emocionais. Essas necessidades emocionais têm estimulado o desejo por relacionamentos íntimos com pessoas do mesmo sexo. Esses desejos têm existido desde a infância, uma vez que eles não foram satisfeitos no tempo apropriado durante o processo de crescimento pelo(a) pai/mãe. Desejos íntimos podem ser atendidos numa forma legítima com a vontade de Deus (namoro, noivado, casamento). Quando isto acontece, a tentação homossexual desaparece. A Causa mas Profunda da Homossexualidade Encontra-se na ruptura dos vínculos familiares, produzindo, com isto a falta de senso de se pertencer e de se sentir parte de algo, e, ainda, na falta de afirmação. A segurança de uma criança depende de uma chave tripolar de vínculos: a) Da mãe para com a criança. b) Do pai para com a criança. c) Do compromisso entre o pai e a mãe de uma união vitalícia e amorável. Qualquer quebra neste triângulo produzirá insegurança na criança. Pode ser que esta quebra não seja real, mas se a criança interpreta desta maneira o resultado é o mesmo. 32 HOMOSSEXUALISMO 4 Transferidor de Identidade No momento em que o pai/mãe renuncia ao seu papel começam a surgir distorções. O(a) filho(a) precisa ser capaz de honrar e desejar ser como seu pai/mãe, para que a transferência de identidade possa acontecer. O menino possui certas necessidades que somente seu pai pode preencher e a mesma verdade se aplica a menina com sua mãe. A necessidade do garoto pode ser resumida em três palavras: Força, poder e proteção. O que leva os homossexuais a saírem pelas ruas procurando parceiros sexuais? ... a busca deles não é primeiramente sexo, mas sim intimidade... a maioria das buscas do homossexual reflete a procura para encontrar o pai. Raízes não Sexuais As raízes mais profundas da homossexualidade não são sexuais. O desejo por interação sexual vem depois de um longo período após ter passado pelo simples desejo de amor, segurança, afirmação. Retraimento A maioria dos homossexuais tem um período de retraimento na sua infância. Se a criança teve um pai ausente, seja de forma física ou emocional, é sentida uma certa vulnerabilidade pela criança. O garoto se sente exposto e sem proteção no mundo. Essa tendência para retraimento ou fuga produz três efeitos: Medo, isolamento e inveja. Medo Por detrás das fobias existe um grande medo de ser abandonado, causado desde cedo na infância. Naturalmente: as crianças esperam proteção dos pais e, quando um torna-se ofensivo ele trai o propósito intencionado por Deus de proteger a família. Pai indiferente: renunciou ao seu papel e, em certo sentido pode ser mais prejudicial do que o pai ofensivo. Isto pode provocar ressentimentos. Pai – o modelo À medida que a criança cresce, ela precisa de conhecimentos, habilidades, de modelo ideal de proteção. Elementos que só podem vir do pai. Ausência do pai: Pode tornar a criança irada com o mundo e começar a se afundar no seu próprio mundo de fantasia. Isolamento Falta de modelo de pai/mãe do mesmo sexo da criança: Cria problemas para a criança, no que se refere a relacionamento com seus coleguinhas. Caso do menino: Se ele tem apenas a influência da mãe, reagirá no seu mundo e com seus colegas da mesma maneira que a mãe reagiria. Jeito efeminado: 33 HOMOSSEXUALISMO 5 Será logo percebido pelos coleguinhas, passando a ser ridicularizado e excluído do círculo deles. Resultado: É imposto sobre ele um isolamento. Problemas básicos da homossexualidade: Ausência de afirmação e do senso de se pertencer a alguém. Rejeição dos colegas: Reforça as diferenças da criança e a idéia de que ela não é aceita. Às crianças diferentes: É-lhes negada a oportunidade de pertencer a um grupo, ficando, assim, do lado de fora do círculo de seus colegas, observando ansiosamente a intimidade que lhe foi negada, não compartilhando dos segredos e nem do companheirismo do grupo. Inveja Como se sente uma criança que foi rejeitada? Passa a sentir inveja dos colegas que são aceitos. Quais podem ser as conseqüências desta ―inveja‖? Começa um processo, que se continuado até a conclusão leva ao que os homossexuais denominam de ―orientação‖ sexual. Processo: a) Ela se compara com os outros e reconhece que não é igual aos demais colegas. b) Conclui que não poderá alcançar o padrão dos colegas do grupo. c) Começa a ficar para trás. d) Finalmente desiste, admitindo inadequação para com o grupo. e) Isto traz à tona a admiração por aqueles que de alguma forma parecem ser melhores. Eles podem ser mais bonitos, mais inteligentes, ter um corpo mais bem formado. f) Em algum momento deste processo a admiração se degenera até se transformar em inveja e num desejo de possuir aquelas qualidades. g) Normalmente existe uma pessoa especial que é esse objeto de inveja e admiração. Pode ser que décadas mais tarde o homossexual esteja ainda procurando este ―primeiro amor‖. Desejam fortemente que essas pessoas sejam seus ―melhores amigos‖, fantasiando estarem sozinhos com estas pessoas e serem capazes de se relacionarem intimamente com elas. h) Na puberdade, quando o desejo sexual começa a emergir, o desejo de ter intimidade se volta para aquele que tem sido o centro de atenção da criança, o qual era o seu objeto de admiração e inveja. Deste modo a inveja se torna erotizada. Para muitas pessoas, esse processo não se concretiza até o final, mas para o homossexual, esse desejo sexual por uma pessoa do mesmo sexo parece completamente natural porque ele ou ela começou a sentí-lo de uma forma que não era sexual. Resumo Falha na transferência de identidade (pelo pai ou mãe) filho(a) não sente que é amado(a), não se sente seguro(a), nem que é afirmado(a) retraimento medo isolamento inveja sentimento de inadequação admiração pelos que são melhores desejo de possuir as qualidades admiradas no(a) outro(a) concentração numa pessoa ―especial‖ que passa a ser o foco das suas fantasias na adolescência a admiração se 34 HOMOSSEXUALISMO 6 transforma em erotização o sentimento parece normal porque começou de forma não sexual envolvimento homossexual desgosto amargura pânico remorso. O processo de libertação do homossexualismo pode levar cerca de dois anos de seções semanais com o conselheiro. Caso haja um grupo de pessoas lutando com a mesma dificuldade, pode-se criar um grupo de apoio (semelhante aos alcoólicos anônimos). 35 DEPRESSÃO Sinais de depressão 1. Humor deprimido A pessoa pode reclamar de sentimentos tristes, perda, desesperança, irritação ou vazio. Estes sentimentos são persistentes, não são transitórios, ocorrendo quase todos os dias. 2. Perda de prazer ou perda de interesse em atividades comuns Eventos e atividades tipicamente prazerosos deixam de ser agradáveis. A libido sexual pode diminuir. A ausência de prazer ou alegria pode ocorrer até mesmo quando o indivíduo não se ―sente deprimido‖. É a ausência de um prazer normal, a perda de interesse naquilo que anteriormente dava satisfação. A pessoa pode se afastar das atividades. 3. Mudanças no apetite A pessoa pode perder o apetite ou pode passar a comer mais. Isto pode se demonstrar pela perda ou ganho de peso. 4. Mudanças no padrão do sono Tanto um quanto o outro podem ocorrer. A pessoa pode passar a dormir mais ou pode sofrer de insônia muitos dias. 5. Mudanças na movimentação Fisicamente a pessoa pode parecer lenta, movendo-se e falando mais vagarosamente do que o normal. Por outro lado, a pessoa pode parecer mais agitada do que o normal. 6. Fadiga A pessoa experimenta uma falta de energia geral, cansaço, ou dificuldade para enfrentar as circunstâncias em função do sentir-se ―esgotada‖. 7. Sentimentos de indignidade, auto-reprovação ou culpa. Possivelmente o pastor seja uma pessoa mais apta a perceber estas características. A culpa e a auto-reprovação são desproporcionais, exageradas. São excessivas e impróprias em escopo e intensidade. A pessoa pode sentir que o que fez é imperdoável, que está condenada, amaldiçoada ou abandonada por Deus. 8. Modificações na maneira de pensar e na concentração A pessoa deprimida tem dificuldades em se concentrar, em pensar ou em tomar decisões. 9. Pensamentos e atos suicidas A pessoa pode pensar com freqüência em morte, pode desejar morrer, pensar em cometer suicídio. Podem ocorrer tentativas reais de suicídio.84 84 William R. Miller, Practical Psychology for Pastors (Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall, 1994), 199. 36 Causas de depressão 1. Fatores situacionais a) Estresse – pressão de tempo, relacionamentos difíceis, ruídos, dores, mudanças b) Perdas – familiares, amigos, casamento, trabalho, posses, animais de estimação c) Falta de reforço positivo – recebimento de críticas, pouco apoio d) Trauma 2. Padrões de pensamento – cognitivo (como a pessoa pensa) a) Auto-declarações negativas – ―não sou bom‖, ―falhei de novo‖, ―sou feio‖ b) Crenças irracionais c) Memória e atenção seletiva – ênfase no lembrar coisas negativas d) Pessimismo e) Culpa 3. Orgânicas a) Distúrbio bipolar b) Desequilíbrio químico c) Grande trauma físico d) Fatores dietéticos e) Uso de drogas 4. Fatores comportamentais a) Habilidades sociais – não saber se relacionar com pessoas, não saber iniciar diálogos b) Evitar contatos c) Ansiedade 5. Conseqüência de comportamento a) Reforço da depressão – ex. esposa que fica em casa só, sem reconhecimento b) Desconhecimento de comportamentos saudáveis e adaptativos.85 Esta é uma apostila preparada pelo professor Natanael Moraes. Se desejar, pode imprimir para uso pessoal. Por favor, respeite os direitos autorais do professor e não repasse a outros. 85 Ibid., 200-208. 37 CONCEITOS ADVENTISTAS DE PSICOLOGIA Departamento de Educação Associação Geral da IASD1 1. Definição A psicologia é uma das disciplinas científicas que provê uma descrição ou explanação da mente e do comportamento que serve como base para o trabalho do psicólogo, psiquiatra, educador, ministro, e outros que tratam com o comportamento humano. 2. Princípios a. A psicologia, uma das mais jovens ciências, foi estabelecida numa base empírica e é reconhecida como fundamental paras as profissões que tratam com o ser humano. Em psicologia, como em outras ciências, pode haver verdade e erros. b. Existem certos conceitos cristãos, mantidos pelos adventistas do sétimo dia, concernentes a origem, natureza, e destino da raça humana que nos levam a ver a ciência da psicologia sob uma perspectiva única. Esses princípios verdadeiros da psicologia são encontrados nas Santas Escrituras e esclarecidos pelos escritos do Espírito de Profecia. c. O modo como um adventista do sétimo dia aplica as descobertas da psicologia aos problemas da mente e do comportamento, a abordagem final e os relacionamentos contêm elementos únicos porque em muitos aspectos sua base de referência, filosofia, e objetivos são diferentes daqueles dos não adventistas. Algumas técnicas podem ser similares, mas a filosofia subjacente pode ser diferente. d. Em virtude da sua singularidade, devem ser envidados esforços especiais para garantir que em faculdades e escolas a psicologia seja ensinada conforme o ponto de vista adventista. 3. Um ponto de referência Um dos objetivos da psicologia é descobrir e descrever leis do pensamento e do comportamento humano. Embora a Bíblia não deva ser vista, necessariamente, como uma exposição técnica de ciência do comportamento, ela provê um discernimento essencial, autoritativo com respeito a origem, natureza e destino da humanidade. Estes são revelados por Deus, Aquele que planejou e criou a humanidade, e são estabelecidos nas Escrituras. Visto que seu autor é divino, a Bíblia provê um critério final pelo qual pressuposições e teorias da ciência devem ser comparadas e avaliadas a fim de determinar se são autênticas e válidas. Ellen White observa que "a verdadeira ciência e a Inspiração estão em perfeita harmonia. A falsa ciência é algo independente de Deus. É uma ignorância pretensiosa". Testimonies, 4:584. 4. Conceitos e objetivos Enquanto existem muitos temas sendo explorados no campo da psicologia, os seguintes são alguns conceitos e objetivos defendidos pelos adventistas do sétimo dia. a. Relativo-Absoluto Nós cremos que Deus existe e é a corporificação viva da verdade absoluta e, portanto, que existe verdade absoluta. A lei de Deus é um transcrito do Seu caráter e representa o padrão pelo qual o caráter de uma pessoa deve ser avaliado. Com base nisto, inclusive o reconhecimento de Deus como Criador e seres humanos como criaturas que seguem leis que refletem o Seu poder 1 Esta declaração foi aprovada pelo Concílio Anual em outubro de 1977. 1 criador, os psicólogos cristãos deveriam continuamente procurar descobrir e relacionar estas leis a fim de compreender o homem como um ser holístico. Qualquer conclusão relativística estabelecida como resultado da pesquisa psicológica deve ser avaliada à luz da vontade de Deus conforme revelada em Sua Palavra, em a natureza, e no Espírito de Profecia. b. Mente e ser total As Escrituras e os escritos de Ellen G. White descrevem o ser humano como uma unidade multidimensional. Esta expressão aponta para o fato de que qualquer coisa que afete uma pessoa numa área, afeta toda a pessoa de um modo ou de outro -- o aspecto físico do ser afeta o mental e o espiritual e estes por sua vez afetam um ao outro e ao corpo. Um fato central desta unidade é que no aspecto pessoal, a mente provê ao ser humano consciência, criatividade, amor, decisão e outras qualidades que indicamos quando nos referimos ao homem como um ser pessoal. A "mente" é uma entidade funcional cujo órgão central é o cérebro. É através deste órgão e de suas extensões periféricas que a mente entra em contato com o mundo exterior, reage a ele, e o modifica criativamente. Também é através desta função central que a pessoa concebe todo o seu ambiente, seu passado, seu elevado destino e organiza sua vida para se relacionar de modo significativo com os mesmos. Enquanto esta função central provê uma medida para orientação e controle do todo, precisa ser reconhecido que ele também é afetado pelas outras dimensões da pessoa. A saúde espiritual, física e social tem uma influência importante sobre a mente. Por definição, a psicologia tem que ver primariamente com esta função central do ser humano. Por analogia, ela participa de um inter-relacionamento com outras disciplinas ligadas à pessoa, a interpenetração e interdependência da mente com outras dimensões do ser humano. c. Liberdade Um aspecto da função mental que distingue, de modo especial, os seres humanos dos seres inferiores é a capacidade de agir criativamente; isto é, a capacidade de iniciar uma ação que eles não tiveram que iniciar. Um aspecto desta capacidade é descrito nos escritos de Ellen White como liberdade de escolha. Tal liberdade torna possível que uma pessoa peque, mas, também, deve ser lembrado que ela é a base para que alguém seja capaz de amar ao nível de princípio, a ponto de a pessoa ser considerada um ser responsável. Liberdade é a principal qualidade da mente do ser humano, uma vez que ele é portador da imagem do seu Criador. A perda total desta liberdade pode ser considerada como uma deformação da imagem de Deus no homem e na mulher. As outras dimensões dos seres humanos podem afetar esta liberdade de modos significativos, como também o pode o mal uso e a perversão deste dom. Os psicólogos cristãos deveriam procurar entender este dom e dirigir seus esforços no sentido de facilitar a restauração e a preservação da liberdade. d. Sexualidade Os seres humanos foram criados como macho e fêmea. A atração mútua entre os sexos foi designada por Deus. É uma base para a família e a sociedade, e fonte de felicidade humana, bem como um meio de continuidade da raça. As normas divinas indicam como esta felicidade pode ser preservada. Como o mal é a distorção do bem, a sexualidade tem, algumas vezes, sido pervertida e se tornado uma força destrutiva na vida humana. As práticas sexuais deveriam estar de acordo com os princípios divinos do amor cristão amadurecido, tais como vistos na verdadeira sabedoria dos séculos. Esta força humana poderosa pode se inclinar para encontrar expressão tanto para o bem como para o mal. As pessoas deveriam ser ensinadas que as manifestações da sexualidade podem conduzir à felicidade permanente ou a conseqüências que resultam em miséria. 2 e. Natureza humana Os adventistas do sétimo dia estão plenamente cônscios da profundidade radical do pecado nos seres humanos e encaram algumas das expressões otimistas da psicologia moderna como altamente irreais. Contudo, seria importante nos lembrar que a preocupação com o mal em a natureza humana, que tanto tem caracterizado o pensamento cristão, pode contribuir, adicionalmente, para o problema. O considerar crianças pequenas como completamente sem esperança pode criar nelas sentimentos profundos de rejeição e insignificância que resultarão em sérios distúrbios de personalidade. Uma variedade de mecanismos destrutivos pode ser traçada em função destas condições adversas. Portanto, é necessário que os psicólogos adventistas do sétimo dia também enfatizem o aspecto bom da criação divina. Isto deveria incluir aspirações nobres dos seres humanos através do poder de Cristo e seus potenciais para o bem, quando aberto à graça divina. Os psicólogos "otimistas" reivindicam um ponto que não deveria se passado por alto, ainda que haja o reconhecimento do estado caído da raça humana; não se obtém nenhuma redenção por tal reconhecimento. Portanto, todas as considerações sobre a nossa natureza decaída devem vir acompanhadas de expressões, verbais ou não, do elevado valor que Deus atribui aos Seus filhos e sobre o potencial para o bem através da graça de Deus. Embora o pecado tenha afetado toda a natureza humana (vontade, intelecto, emoções), o amor e a graça de Deus em Jesus Cristo dão esperança, do modo como expressou Ellen White: "não somente poder intelectual, mas espiritual - percepção do que é reto, anelo de bondade. Mas contra estes princípios há um poder contendor, antagônico... Há em sua natureza um pendor para o mal, uma força à qual, sem auxílio, não poderá ele resistir. Para opor resistência a esta força, para atingir aquele ideal que no íntimo de sua alma ele aceita como o único digno, não pode encontrar auxílio senão em um poder. Esse poder é Cristo". Educação, 29. Há um agudo contraste entre os princípios psicológicos baseados na Bíblia e alguns ensinos populares. Ao invés de bondade inata, nós cremos no estado caído da raça humana. Ainda que o ambiente e a hereditariedade exerçam influência sobre a pessoa humana, "Cristo deu Seu Espírito como um poder divino para vencer toda tendência hereditária e cultivada para o mal". O desejado de todas as nações, 671. O estado básico da condição humana provém da queda e das escolhas pessoais feitas desde então. É através da apreciação e aceitação deste dom divino que a pessoa pode se conscientizar da sua dignidade pessoal e verdadeiro potencial. A mais elevada confiança do cristão é depositada em Cristo, que concede conversão, purificação e transformação em uma nova criatura. 5. Exposição de razões para o ensino de psicologia em escolas e faculdades adventistas a. Auxiliar cada estudante a descobrir os princípios de psicologia encontrados na Bíblia e nos escritos de Ellen White. b. Permitir que o estudante descubra e compreenda os princípios do comportamento humano e seja apto a aplicá-los. c. Prover um ambiente que conduza à motivação da curiosidade intelectual; um ambiente favorável ao crescimento da pessoa nos aspectos mental, social e religioso. d. Desenvolver no estudante a habilidade de pensar criticamente e distinguir entre pressuposições teóricas e fatos estabelecidos na psicologia. e. Auxiliar a construir uma comunidade de mentes aptas a tratar com o conhecimento novo que está a brotar constantemente, e que por sua vez, afeta os valores básicos da vida. f. Encorajar o viver pelo propósito de servir a Deus e a humanidade. 3 g. Prover princípios e discernimento que auxiliarão o estudante nos relacionamentos interpessoais, tais como o lar e a vida familiar, e os contatos diários com os outros. h. Apresentar maneiras pelas quais os estudantes possam utilizar princípios de psicologia para conduzir homens e mulheres a Cristo. i. Prover fundamentação e motivação para o treinamento profissional de professores de psicologia, clínicos, conselheiros e profissionais identificados com o ponto de vista adventista do sétimo dia. 6. Controle da mente e manipulação a. "Cada ser humano criado à imagem de Deus, é dotado de certa faculdade própria do Criador - a individualidade - faculdade esta de pensar e agir". Educação, 17. Deus colocou no homem a Sua própria imagem, e é este fato que o distingue de todos os demais seres inferiores da criação. Foram concedidos ao homem atributos, num sentido limitado, para estarmos seguros, que são característicos de Deus. Qualquer coisa que diminua a habilidade do ser humano no sentido da responsabilidade e da escolha reduz nele o que mais deveria assemelhá-lo a Deus -- criatividade, a capacidade de tomar decisões. b. Qualquer prática ou atitude que venha a diminuir a capacidade humana de autodeterminação viola o desígnio do Criador. A seguir se destacam alguns meios pelos quais pode ser exercido controle: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. Uso impróprio de drogas psicotrópicas Lavagem cerebral e controle da mente Programação forçada e modificação do comportamento Doutrinação manipulativa Doutrinação subliminar Meditação transcendental Yoga Experiências "carismáticas" Festivais de música tipo "Rock" Manipulação emocional extrema em encontros religiosos públicos Encorajamento excessivo de dependência numa situação de aconselhamento Hipnose O denominador comum em todas estas situações é o de uma elevação do fator sugestionável e a redução da capacidade pessoal de fazer escolhas responsáveis. c. O psicólogo cristão deve ter como meta auxiliar na restauração e proteção da imagem de Deus no ser humano quando ele ajuda as pessoas a manter a individualidade e a liberdade de fazer escolhas independentes em suas vidas. 4 A PERSPECTIVA BÍBLICA DO ACONSELHAMENTO CRISTÃO Introdução Há necessidade de se analisar a perspectiva bíblica do relacionamento entre cristianismo e psicologia. Mas, antes de mais nada, é preciso destacar que as Escrituras descrevem o homem como um ser portador de alma, espírito, corpo e mente. A Bíblia não descreve o homem como um ser compartimentalizado, mas o apresenta como um ser holístico. Deste modo, o cristão vê o homem como um ser criado por Deus, sujeito a leis de natureza física, psicológica e espiritual, igualmente estabelecidas pelo Criador.2 Sempre a pessoa humana deverá ser vista como um todo, isto é, como um ser bio-psíquico-espiritual.3 A Ordem da Criação A perspectiva bíblica do relacionamento entre psicologia e cristianismo é encontrada na criação original quando as leis de Deus foram estabelecidas. Bara é a palavra hebraica que descreve o poder criador de Deus. Ela é usada três vezes em Gênesis 1: “No princípio, criou [bara] Deus os céus e a terra” (Gn 1:1).4 “Criou [bara], pois, Deus os grandes animais marinhos e todos os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas, segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom” (Gn 1:21). “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1:27). O caos sem forma se transmudou em criação. Deus, então, introduziu multiplicidade, complexidade e ordem. De modo que as leis científicas constituem-se em nossa tentativa de descrever os relacionamentos e complexidades que observamos. Três estágios da criação podem ser destacados: O cosmos, a terra, a vegetação (Gn 1:1). Animais, pássaros, vida aquática (Gn 1:21). As pessoas humanas (Gn 1:27). Várias subcategorias podem ser discernidas dentro de cada um destes estágios: Leis da física, química, astronomia, geologia, biologia Leis referentes à vida animal: zoologia, anatomia, fisiologia. Disciplinas que se aplicam especificamente aos seres humanos: sociologia, lógica, psicologia, teologia (a mensagem da redenção e salvação).5 Todas as categorias da criação de Deus funcionam de modo a formar um grande todo: o ser humano num mundo de Deus. Por outro lado, as três categorias e suas subcategorias distinguem-se uma das outras. Passar por cima a distinção das categorias pode produzir confusão, porque falha em levar em consideração a ordem da criação de Deus.6 As leis espirituais que nos governam não devem ser igualadas, mas devem incluir as leis psicológicas, biológicas e químicas. Quando se estuda psicologia, que é uma categoria criada por 2 William T. Kirwan, Biblical Concepts for Christian Counseling (Grande Rapids, MI: Baker Book House, 1987), 33. 3 Ibid. 4 Salvo indicação contrária, todas as referências neste trabalho são da Versão de João Ferreira de Almeida revista e atualizada (ARA), (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993). 5 Kirwan, 36. 6 Ibid. 5 Deus, é legítimo e apropriado lembrar que ela faz parte de um grande todo – as leis espirituais que governam o ser humano abrangem mais do que a psicologia. Nunca a Bíblia nega a importância da dimensão física e biológica da pessoa humana. Tanto a necessidade de sono e descanso de Jesus, quanto a preocupação de Paulo pela saúde de Timóteo (1Ti 5) refletem realidades biológicas. De igual modo, a Bíblia reflete realidades psicológicas; ela não ignora a psicologia. Ela está cônscia da importância dos relacionamentos interpessoais. Quando pessoas são aconselhadas na área da saúde mental e emocional, é imperativo unir verdades das Escrituras com verdades da psicologia.7 A Ênfase Bíblica Sobre Relacionamentos Muitas verdades psicológicas estão incluídas no texto bíblico. Nossas necessidades de sentido e propósito na vida, desenvolvimento emocional e liberdade da culpa são bem enfatizadas. Emoções destrutivas como ansiedade, ira, culpa e depressão são discutidas. Conceitos psicológicos tais como mecanismos de defesa inconscientes (repressão, racionalização, negação) são reconhecidos em diversas passagens. Ainda mais significativo é o fato da necessidade humana por relacionamentos íntimos, por amor e confiança, ser recorrente em todas as Escrituras.8 Deus disse, “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2:18). Adão tinha necessidade de companheirismo, como também relacionamento social e sexual para obter felicidade e satisfação. Eva foi criada para atender estas necessidades, como Adão as suas. Observe-se que antes da queda, Deus havia demonstrado que as necessidades sociais e individuais eram importantes. Após a queda, as necessidades para relacionamentos íntimos não só foram ampliadas, mas os relacionamentos que continuaram foram severamente distorcidos.9 Acredita-se que a fase mais intensiva de desenvolvimento da personalidade começa na infância e se estenda até o início da adolescência. Crianças que não receberam amor e afeto, provavelmente desenvolverão uma atitude de rancor e hostilidade para a vida. Tais pessoas manifestam sua hostilidade de vários modos indesejáveis.10 Em Romanos 1, Paulo aborda o tema de Gênesis 3 – nossa rebelião e queda: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Rm 1:18). A descrição do processo interior pelo qual as pessoas negam a existência de Deus, além das suas próprias necessidades espirituais também são expressas pela psicologia: “Traduzir a análise de Paulo sobre a resposta humana em linguagem contemporânea da psicologia não é uma tarefa difícil... a classificação da resposta humana a Deus pode ser formulada através das categorias de trauma, repressão e substituição”.11 Um estudo das palavras de Paulo e o processo que elas descrevem, demonstram aquilo que hoje enfrentamos. A repressão é o principal mecanismo de defesa, uma forma de negação utilizada por todos nós. A repressão é um processo pelo qual excluímos desejos e impulsos legítimos do nosso consciente. Satisfações, desejos e impulsos negados passam a operar no inconsciente. De acordo com Sproul, é exatamente este o processo que Paulo tem em mente em Rm 1:18, onde a repressão da verdade divina conduz a um estilo de vida impuro e a um comportamento pecaminoso. 12 7 Ibid., 37. 8 Ibid., 37-38. 9 Ibid., 38. 10 Ibid., 38. 11 R. C. Sproul, The Psychology of Atheism (Minneapolis, MN: Bethany Fellowship, 1974), 73-74; citado em Kirwan, 40. 12 Kirwan, 41. 6 De Gênesis 2-3 e Romanos 1, podemos destacar o seguinte: Deus nos criou com necessidades sociais e espirituais. Um bom relacionamento interpessoal com Deus e com outras pessoas é necessário para atender estas necessidades. Se as nossas necessidades não são atendidas por bons relacionamentos interpessoais, então, como Adão, teremos a tendência para nos tornar emocional, psicológica e espiritualmente desorientados. 13 Corretamente aplicada no contexto cristão, uma compreensão da dinâmica da repressão pode auxiliar pessoas sofredoras a obterem cura no seu relacionamento com Deus, com outros e consigo mesmo.14 Abordagem Bíblica das Principais Dimensões da Personalidade Como a revelação de Deus para nós, a Bíblia é a autoridade final para nossa vida psicoespiritual. Ela descreve o ser humano em três dimensões, pensar, sentir e agir. De modo semelhante, William B. Oglesby declara: É evidente que a Bíblia reconhece a importância de todos os três conceitos. Na verdade, existe um conceito pelo qual toda a história da revelação de Deus e a resposta humana é definida como “conhecer”, “fazer” e “sentir”. A questão crucial é saber qual destas é vista como a mais importante.15 Pela perspectiva da psicologia bíblica, as categorias conhecer, sentir e fazer abrangem o todo de um indivíduo e estão interconectadas de tal modo que elas não podem ser separadas. Conhecer As teorias modernas sobre o conhecimento enfatizam a importância de acumular dados, fatos e conceitos na mente. Os gregos elevavam o conhecimento a tal ponto que eles tendiam vê-lo como um fim em si mesmo. Embora esta concepção esteja ausente da Bíblia, ela pode ser encontrada no mundo ocidental e na maioria das igrejas cristãs.16 A Bíblia sempre apresenta o conhecimento em termos de relacionamento pessoal. Em hebraico, todas as palavras que denotam conhecimento se referem a ações que envolvem afetividade. Quando Moisés solicitou a Deus que acompanhasse os israelitas, ele disse, “se achei graça aos teus olhos, rogo-te que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça e ache graça aos teus olhos” (Ex 33:13). A resposta de Deus é dada no mesmo tom, “Farei também isto que disseste; porque achaste graça aos meus olhos, e eu te conheço pelo teu nome” (Ex 33:17). Inegavelmente os aspectos pessoais do “conhecer” estão presentes aqui.17 O Antigo Testamento apresenta o conhecimento como proveniente de um encontro pessoal com Deus. As descrições do Antigo Testamento sobre Deus e a Sua criação são declarações de fé que refletem a revelação que Deus faz de Si mesmo. Já a abordagem metafísica dos gregos sobre a natureza de Deus e sua criação era especulativa.18 13 Ibid., 41. 14 Ibid., 41. 15 W. B. Oglesby, Jr. Biblical Themes for Pastoral Care (Nashville, TN: Abingdon, 1980), 25; citado em Kirwan, 42. 16 Kirwan, 43. 17 Ibid. 18 Ibid., 43-44. 7 O Novo Testamento descreve conhecimento de modo bastante similar ao do Antigo Testamento. Observe a oração de Jesus pelos Seus discípulos, “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3).19 Nas quatro epístolas da prisão, Paulo começa com uma oração na qual o conhecimento significa estar em Cristo. “para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele” (Ef 1:17). “E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção” (Fp 1:9). “para que a comunhão da tua fé se torne eficiente no pleno conhecimento de todo bem que há em nós, para com Cristo” (Fm 6). Em cada oração, Paulo utiliza a palavra grega epignosis, embora a palavra comum seja gnosis. Nestes quatro exemplos, ele acrescenta o prefixo epi para indicar “um pleno ou completo conhecimento de”.20 O sentido de conhecimento para a sociedade contemporânea é bem diferente do sentido bíblico. Em suma, a Bíblia não preza a ênfase grega e moderna sobre o intelectualismo. Na verdade, ela adverte contra ele.21 “Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século?... os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1:20, 22-24). A abordagem bíblica de “conhecimento” permanece como uma restrição para os cristãos que vêm a acumulação de fatos bíblicos ou a compreensão de doutrinas teológicas obscuras como santificação.22 Ser/Coração O ser/coração é a segunda dimensão vital da personalidade humana. Para melhor compreender a noção de ser é preciso examinar o conceito bíblico de “coração”. O coração é o centro da vida íntima do homem e a fonte ou sede de todas as forças e funções da alma e espírito.23 1. Nele habitam emoções, sentimentos, desejos e paixões, alegria.24 “Por isso, se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; além disto, também a minha própria carne repousará em esperança” (At 2:26). Dor e tristeza “Pelo contrário, porque vos tenho dito estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração” (Jo 16:6). 19 Ibid., 44. 20 Ibid., 45. 21 Ibid., 45-46. 22 Ibid., 46. 23 Johannes Behm, kardia, Theological Dictionary of the New Testament (TDNT), ed. Gerhard Kittel (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1979), 3:611. 24 Ibid., 612. 8 Desejo “Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos” (Rm 10:1). Lascívia “Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si” (Rm 1:24). 2. O coração é a sede do entendimento, a fonte do pensamento e reflexão.25 “Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios” (Mc 7:21). “Quando completou quarenta anos, veio-lhe a idéia [kardian] de visitar seus irmãos, os filhos de Israel” (At 7:23). 3. O coração é a sede da vontade, a fonte da decisão.26 “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria” (2Co 9:7). 4. O coração é o centro primordial do ser humano para o qual Deus Se volta, no qual a vida religiosa está enraizada e que determina a conduta moral.27 “Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se” (Rm 2:15) Em suma: coração é sede das emoções, sentimentos, pensamentos e vontade. De fato, a Bíblia enfatiza o papel chave do coração na vida cristã. Por natureza o coração é ímpio e mau (Jr 17:9). É para o coração que Deus olha (1Sm 16:7), com o coração cremos e somos justificados (Rm 10:10), e é do coração que brota a obediência (Rm 6:17). O coração é a fonte interna de todas as nossas ações externas (Lc 6:45). Como o centro da pessoa, é dele que provém as respostas emocionais. Todo o espectro de emoções, da alegria à depressão, do amor ao ódio, são atribuídas ao coração.28 De acordo com a Bíblia, as emoções e os sentimentos têm um papel claramente definido na vida cristã. Basicamente, emoções são reações psíquicas desencadeadas por estímulos provenientes do mundo exterior e do próprio ser interior. O cérebro é estimulado por um evento (externo) ou pensamento (interno), experiências passadas, circunstâncias do momento e expectativas concernentes ao futuro que são processados rapidamente de modo a produzir uma resposta emocional. Esta resposta emocional é tridimensional. Primeiro, há uma resposta cortical. Em segundo lugar, há uma mudança fisiológica que afeta, entre outras coisas, a respiração e os batimentos cardíacos. Em terceiro lugar, há um sentimento consciente ou a sensação de uma emoção específica.29 Visto que Deus vê o nosso coração como a principal influência da vida cristã, é imperativo para nós sabermos como ele pode ser transformado. Como é possível um coração “Enganoso..., mais do que todas as coisas” (Jr 17:9) tornar-se branco “como a neve” (Is 1:18)? Como a condição 25 Ibid. 26 Ibid. 27 Ibid. 28 Kirwan, 47. 29 Ibid., 49. 9 do nosso coração pode ser mudada? Esta é a pergunta mais importante para a psicologia e a filosofia. A resposta bíblica é clara. O coração é mudado através do relacionamento com Jesus Cristo. A teologia cristã tem seu foco neste relacionamento, que é disponível a todos que confiam em Cristo. De acordo com a Bíblia, não há outro modo pelo qual o coração e a pessoa humana possam ser efetivamente mudados. No Antigo Testamento, apenas o relacionamento pessoal com o Senhor, o Deus que entra em concerto, poderia produzir uma mudança de vida. Davi solicitou a Deus que operasse em seu coração: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Sl 51:10); “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos” (Sl 139:23). O papel divino de renovar o coração humano é destacado em Ezequiel: “Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus” (Ez 11:1920). E no Novo Testamento, Paulo enfatiza a necessidade da habitação de Cristo no coração 30: para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus (Ef 3:16-19). Agir A ação é a terceira dimensão vital da personalidade humana. Assim como o conhecimento se relaciona com a mente, o coração com o ser, a vontade se relaciona com a ação. Talvez a passagem mais relevante da Bíblia apareça na epístola aos Romanos31: Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa... Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim... Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? (Rm 7:15-16, 8-20, 24). Aqui Paulo confessa sua incapacidade de “fazer”. Isto é, ele não pode, por sua própria força e por sua própria vontade, viver uma vida piedosa e justa. É significativo observar que em qualquer lugar em que a Bíblia nos diga que devemos fazer alguma coisa, isto sempre é expresso num contexto de relacionamento com Deus. Sem Ele nada pode ser feito. Paulo destaca este princípio no capítulo seguinte: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). Paulo falhava quando baseava sua religião em suas próprias realizações. Mas quando ele se tornou um filho adotivo do Senhor (“os que estão em Cristo Jesus”) ele pode ver a si mesmo como vencedor – cessou sua luta por “fazer”.32 Por vezes, os Dez Mandamentos dados a Moisés por Deus são vistos como uma descrição de uma religião de realizações humanas. Contudo, é preciso destacar que no contexto eles são precedidos por uma declaração que deveria lembrar o povo de Israel do seu concerto com Deus, do seu relacionamento com Ele33: 30 Ibid., 52-53. 31 Ibid., 53. 32 Ibid., 54. 33 Ibid. 10 Ouvi, ó Israel, os estatutos e juízos que hoje vos falo aos ouvidos, para que os aprendais e cuideis em os cumprirdes. O SENHOR, nosso Deus, fez aliança conosco em Horebe. Não foi com nossos pais que fez o SENHOR esta aliança, e sim conosco, todos os que, hoje, aqui estamos vivos. Face a face falou o SENHOR conosco, no monte, do meio do fogo... dizendo: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim (Dt 5:1-7). A menção à libertação do Egito servia como uma lembrança das promessas do concerto divino e Sua fidelidade infalível para como o Seu povo. O restabelecimento do relacionamento com Deus não era promovido apenas pela dádiva dos mandamentos, os próprios mandamentos eram relacionais. Os quatro primeiros tratam do nosso relacionamento com Deus, os últimos seis com o nosso relacionamento com o nosso semelhante. Os mandamentos têm como objetivo atender as necessidades e promover o mais elevado bem da família pactual de Deus.34 O Sermão da Montanha, com freqüência, é visto como uma lista de ordens a ser obedecida. Este tipo de análise superficial perde o foco central de nosso relacionamento com Deus. Por exemplo, “Bem-aventurados os pobres de espírito” (Mt 5:3),35 poderia ser dito de outra maneira, “Bem-aventurados são aqueles que olham para Deus a fim de receber as suas necessidades mais acalentadas e para o estabelecimento de um relacionamento íntimo”. Estes ensinos de Jesus devem ser analisados à luz de Sua cruz, porque o estilo de vida por Ele descrito é impossível de ser vivido a parte do relacionamento com Ele. O próprio Cristo disse: “sem mim nada podereis fazer” (Jo 15:5).36 Em suma, embora o “fazer” seja enfatizado por toda a Bíblia, sempre é apresentado em ligação com o relacionamento com Deus. Nunca aparece isoladamente para designar um dever ou serviço a ser feito separado do encontro com Deus e com o semelhante.37 Havendo examinado as três dimensões vitais da personalidade humana, resta-nos saber qual é a principal. Nossa discussão deixa claro que o princípio bíblico centraliza-se no coração. Não há nada mais importante do que a transformação do coração através do relacionamento com Jesus Cristo. Portanto, nas Escrituras o ser/coração é mais importante. Na verdade, o relacionamento pessoal com Deus é um componente essencial da perspectiva bíblica das outras duas dimensões da personalidade humana. O conceito escriturístico de “conhecer” envolve o relacionamento pessoal com aquilo que é conhecido; o conhecimento deriva do encontro pessoal com Deus. E onde quer que a Bíblia enfatize o “fazer”, é sempre dentro do contexto de relacionamento com Deus. Contudo, os três aspectos do coração humano incorporam, realmente, em grande medida, todas as três dimensões da personalidade humana: cognição (conhecer), afeto (ser/coração) e volição (fazer). Assim, como já foi indicado, o ser/coração é o principal destaque do ensino bíblico.38 Força de Vontade no Espírito de Profecia Há um capítulo no segundo volume de Mente, caráter e personalidade que trata do tema da força de vontade. Tendo em vista o contexto de aconselhamento pastoral, é relevante que se analise as principais citações sobre vontade. A seguir, destacam-se aquelas que merecem atenção: 34 Ibid., 54-55. 35 Versão de João Ferreira de Almeida revista e corrigida (ARC), (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993). 36 Ibid., 55. 37 Ibid. 38 Ibid., 55-56. 11 A Mola de Todas as Ações Mas deveis lembrar-vos de que vossa vontade é a fonte de todas as vossas ações. Mensagens aos Jovens, págs. 153; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:685. Poder Governante em a Natureza do Homem A vontade é o poder que governa a natureza do homem, pondo todas as outras faculdades sob sua direção. A vontade não é gosto nem a inclinação, mas o poder que decide, o qual atua nos filhos dos homens para obediência a Deus, ou para a desobediência. Mensagens aos Jovens, pág. 151; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:685. Tudo Depende de sua Reta Ação O tentado necessita compreender a verdadeira força de vontade. É este o poder que governa a natureza do homem - o poder de decisão, de escolha. Tudo depende da devida ação da vontade. Os desejos em direção da bondade e da pureza, são em si mesmos justos; mas, se aí ficamos, nada aproveitam. Muitos descerão à ruína, enquanto esperam e desejam vencer suas más tendências. Eles não entregam a vontade a Deus. Não escolhem servi-Lo. A Ciência do Bom Viver, pág. 176; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:685. A Impossibilidade Está em Nossa Vontade Toda a nossa vida pertence a Deus e tem de ser usada para Sua glória. Sua graça consagrará e aproveitará cada faculdade. Que ninguém diga: Eu não posso remediar meus defeitos de caráter; pois, se chegardes a essa conclusão, por certo deixareis de alcançar a vida eterna. A impossibilidade está em vossa própria vontade. Se não quiserdes, então não podereis vencer. A real dificuldade provém da corrupção de corações não santificados, e na relutância por submeter-se ao controle de Deus. The Youth's Instructor, 28 de janeiro de 1897; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:686. O Espírito Santo não Substitui a Força de Vontade O Espírito de Deus não Se propõe a fazer nossa parte, nem no querer nem no fazer. Esta é a obra do agente humano, em cooperação com os agentes divinos. Logo que inclinemos nossa vontade a harmonizar-se com a vontade de Deus, a graça de Cristo Se apresenta para cooperar com o agente humano; não será, porém, substituto para fazer nosso trabalho independentemente de nossa resolução e nossa decidida ação. Portanto, não é a abundância de luz, e de evidência em cima de evidência, o que converterá a pessoa; é unicamente o agente humano aceitando a luz, despertando as energias da vontade, compreendendo e reconhecendo aquilo que ele sabe ser justiça e verdade, e assim cooperando com os serviços celestiais designados por Deus para a salvação da alma. Carta 135, 1898; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:691. A Vontade Determina a Vida ou a Morte Unicamente a eternidade pode revelar o glorioso destino a que o homem, restaurado à imagem de Deus, pode atingir. Para podermos alcançar esse elevado ideal, o que leva a alma a tropeçar precisa ser sacrificado. É mediante a vontade que o pecado retém seu domínio sobre nós. A entrega da vontade é representada como arrancar o olho ou cortar a mão. Parece-se-nos muitas vezes que, sujeitar a vontade a Deus é o mesmo que consentir em atravessar a vida mutilado ou aleijado. ... Deus é a fonte da vida, e só podemos ter vida ao nos acharmos em comunhão com Ele. ... Se vos apegais ao eu, recusando entregar a Deus a vossa vontade, estais preferindo a morte. ... Exigirá um sacrifício o entregar-se a Deus; é, porém, um sacrifício do inferior pelo mais elevado, do terreno pelo espiritual, do perecível pelo eterno. Não é o desígnio de 12 Deus que nossa vontade seja destruída; pois é unicamente mediante o exercício da mesma que nos é possível efetuar aquilo que Ele quer que façamos. Nossa vontade deve ser sujeita à Sua a fim de que a tornemos a receber purificada e refinada, e tão ligada em correspondência com o Divino, que Ele possa, por nosso intermédio, derramar as torrentes de Seu amor e poder. O Maior Discurso de Cristo, págs. 61 e 62; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:693. Para Compreender a Verdadeira Força de Vontade Estarás em constante perigo, até que compreendas a verdadeira força de vontade. Poderás crer e prometer todas as coisas, mas tuas promessas ou tua fé não terão nenhum valor enquanto não puseres tua vontade do lado da fé e da ação. Se combateres o combate da fé com toda a tua força de vontade, vencerás. Teus sentimentos, tuas impressões, tuas emoções não merecem confiança, pois não são seguros. Testimonies, vol. 5, pág. 513; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:693. A prática continuada de pecados acariciados é um comportamento de alto risco espiritual para os cristãos. Como exemplo, menciona-se o caso de um irmão anônimo, praticante inveterado da masturbação, por quem a irmã White, advertida por Deus em sonho, recusou-se a orar: O Caso do Irmão: Meu marido e eu assistimos uma vez a uma reunião em que nossa atenção foi solicitada para um irmão que sofria grandemente com a tuberculose. Achava-se magro e pálido. Ele pedia as orações do povo de Deus. Disse que a família estava doente, e que perdera um filho. Falava com sentimento acerca dessa perda. Disse que havia tempos esperava poder ver o irmão e a irmã White. Acreditava que, se orassem por ele, seria curado. Testemunhos seletos, 1:259. Curvamo-nos naquela noite em oração, e apresentamos seu caso perante o Senhor. Rogamos que pudéssemos conhecer a vontade de Deus a seu respeito. Todo o nosso desejo era que Deus fosse glorificado. Queria o Senhor que orássemos por este enfermo? Deixamos o caso com o Senhor, e recolhemo-nos para descansar. Num sonho o caso daquele homem me foi claramente apresentado. Foi mostrado o seu procedimento desde a infância, e que, se orássemos, o Senhor não nos ouviria; pois ele atendia à iniqüidade em seu coração. Na manhã seguinte o homem veio para que orássemos por ele. Nós o tomamos à parte, e dissemos-lhe que sentíamos ser forçados a recusar o seu pedido. Contei-lhe meu sonho, que ele reconheceu ser a verdade. Ele praticava a masturbação desde a infância, e continuara nessa prática através de sua vida de casado, mas disse que procuraria romper com ela. Ibid., 260. Quando os jovens adotam práticas vis enquanto o espírito é tenro, eles nunca obterão força para desenvolver plena e corretamente personalidade física, intelectual e moral. Ali estava um homem que se degradava diariamente, e todavia ousava arriscar-se a entrar na presença de Deus, e pedir um acréscimo da força que ele vilmente dissipara, e que se concedida, consumiria em sua concupiscência. Que paciência a de Deus! Se Ele lidasse com o homem segundo seus caminhos corruptos, quem poderia viver à Sua vista? Que seria se houvéssemos sido menos cautelosos e levado diante de Deus o caso desse homem, enquanto ele praticava iniqüidade, teria o Senhor ouvido e atendido? "Porque Tu não és um Deus que tenha prazer na iniqüidade, nem contigo habitará o mal. Os loucos não pararão à Tua vista; aborreces a todos os que praticam a maldade." Sal. 5:4 e 5. "Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá." Sal. 66:18. Esse não é um caso isolado. Mesmo as relações matrimoniais não foram suficientes para preservar esse homem dos hábitos corruptos de sua adolescência. Quisera poder convencer-me de que casos como o que apresento são raros; sei, porém, que são freqüentes. Ibid., 261. 13 Controlando a Vontade Mas não precisais desesperar. ... Compete-vos ceder vossa vontade à vontade de Jesus Cristo, e isto fazendo, Deus imediatamente toma posse e efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade. Vossa natureza toda será então posta sob o controle do Espírito de Cristo, e mesmo vossos pensamentos Lhe serão submissos. Não podeis controlar vossos impulsos, vossas emoções, tal qual o desejaríeis; podeis, porém, controlar a vontade, e podeis operar uma inteira mudança em vossa vida. Entregando a Cristo vossa vontade, vossa vida será escondida com Cristo em Deus, e aliada ao poder que está acima de todo principado e potestade. Tereis, provinda de Deus, força que vos prenderá a Sua força; e uma nova luz, a própria luz da viva fé, ser-vos-á possível. Mas vossa vontade terá de cooperar com a vontade de Deus. Testimonies, vol. 5, págs. 513 e 514; citado em Mente, caráter e personalidade, 2:694. Esta é uma apostila preparada pelo professor Natanael Moraes. Se desejar, pode imprimir para uso pessoal. Por favor, respeite os direitos autorais do professor e não repasse a outros. 14 Escolha do Cônjuge – Determinismo? Natanael Moraes A tese de que há uma pessoa exclusiva para cada um de nós tem como base a predestinação divina. Deste modo, predestinação e determinismo estão associados. Uma das consequências desta “predestinação conjugal” é a de que Deus determina o nosso cônjuge à revelia de nossa vontade. Noutras palavras, pressupõe que Deus é uma pessoa arbitrária e ditatorial.1 Há duas teorias sobre a presciência divina: uma é a presciência divina absoluta e a outra é a presciência divina relativa. Quanto à presciência divina absoluta, esta se subdivide em duas, a não causativa que aceita o livre arbítrio humano e a causativa, por sua vez, determinista, ou seja, nega o livre arbítrio humano. A presciência divina absoluta não causativa entende que Deus prevê o futuro nos mínimos detalhes, bem como todas as ações dos seres livres, sem que isto implique em determinismo ou predestinação. A presciência divina absoluta causativa coloca ênfase sobre a soberania de Deus e afirma que todas as coisas ocorrem pela vontade de Deus. As raízes desta teoria estão em Agostinho que teve um forte defensor em Calvino. Para ele a graça divina é destinada àqueles a quem Deus escolhe; Ele predestinou para o castigo e para a salvação, inclusive o número de cada um dos casos para a salvação ou perdição está fixado. Quando argumentamos do ponto de vista da onisciência e da onipotência de Deus, parece que o livre-arbítrio humano fica obliterado. Quando argumentamos com base no livre-arbítrio humano, parece que a presciência e o poder divino de determinar as ações são excluídos. Então surge a questão: até que ponto Deus determina os acontecimentos humanos, e até que ponto o homem é livre em suas ações? O foco do presente estudo encontra-se na escolha do cônjuge. Tim Stafford defende o ponto de vista de que Deus tem uma pessoa certa para cada cristão. Esta é uma perspectiva baseada em pressupostos determinísticos comuns ao conjunto de princípios defendidos pela teoria mais abrangente da predestinação calvinista. Antes de passarmos a discussão específica do tema em foco, é preciso conceituar melhor os termos predestinação e livre arbítrio segundo a Bíblia e o Espírito de Profecia. Outros motivos teológicos estão envolvidos como o conflito entre o bem o mal, a queda de Lúcifer, a queda de Adão e Eva, presciência de Deus, etc. Para aqueles que acreditam numa presciência divina relativa, ou seja, que Deus não conhece o futuro no sentido absoluto o ponto crucial é: "se Deus conhece todas as 1 Para uma melhor noção sobre o tema da presciência divina, ver o artigo de Albert R. Timm, “Presciência Divina – Relativa ou Absoluta” em O Ministério Adventista, novembro-dezembro de 1984, pp. 13-22. 1 coisas de antemão, toda a liberdade de ação parece ser excluída".2 Deste modo, para que o livre arbítrio humano seja mantido, o conceito da presciência divina é relativizado, ou seja, para os seus defensores, Deus não tem conhecimento prévio de todas as nossas ações. Na verdade, esta posição torna Deus dependente do homem.3 Predestinação e Livre-Arbítrio Predestinação e livre-arbítrio são dois conceitos aparentemente contraditórios. Como a Bíblia estabelece a ambos, não podemos advogar apenas um deles, em detrimento do outro; pois "quando argumentamos dedutivamente, com base na onisciência e na onipotência de Deus, o livre-arbítrio humano parece ser obliterado. Por outro lado, quando argumentamos dedutivamente, com base no livre-arbítrio humano, a presciência e o poder divino de determinar as ações parecem excluídos".4 Assim surge a indagação: Até que ponto Deus determina os acontecimentos humanos, e até que ponto o homem é livre em suas ações? Ao desenvolver o tema da predestinação, Calvino citou Agostinho que comentara a queda de Adão, “o homem não somente *a si mesmo+ se perdeu, mas ainda a seu arbítrio”.5 A noção agostiniana sobre a natureza humana pecaminosa depois da queda esclarece porque o cristão precisa de Deus para fazer o bem. A noção de total depravação da natureza humana decaída explica a ausência do livre arbítrio no ser humano, daí a total dependência de Deus para escolher fazer o bem. 6 Segundo Calvino, a soberania divina sobre o ser humano é plena e lhe exclui o livre-arbítrio, “*Ele+ próprio efetua em nós o querer, *o+ que outra [cousa] não é senão que o Senhor, por Seu Espírito, nos dirige, inclina, governa o coração e nele reina como em domínio Seu”.7 A seguir o conceito calvinista da predestinação, “Chamamos predestinação o eterno decreto de Deus pelo qual houve em si [por] determinado quê acerca de cada homem quisesse acontecer. Pois, não são criados todos em igual condição; pelo contrário, a uns é preordenada a vida eterna, a outros a eterna danação. Portanto, como criado foi cada qual para um ou outro (desses dois) fins, assim [o] dizemos predestinado ou para a vida, ou para a morte. Esta [predestinação], porém, Deus há atestado não só em cada pessoa, mas também exemplo lhe deu em toda a 2 Herman Bavinck, The Doctrine of God (Edimburgo: The Banner of God Trust, 1979), 189, citado em Albert R. Timm, “Presciência Divina – Relativa ou Absoluta” em O Ministério Adventista, novembrodezembro de 1984, 14. 3 Bavinck, 189, citado em Timm, 14. 4 Sanday, em Russell N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado (Guaratinguetá, SP: A Voz da Bíblia, s.d.), 3:727, citados em Timm, 14. 5 Agostinho, Enchiridion – manual, cap. IX, seção 30 (PLM, vol. XL, p. 246), citado em João Calvino, As institutas (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985), 2:24. 6 Idem, Sermão CLXXVI, seção V e, também, seção VI (PLM, vol. XXXVIII, pp. 952-953), citado em Calvino, 2:46. 7 João Calvino, As institutas (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985), 2:61. 2 descendência de Abraão, de onde fizesse manifesto que Lhe está no arbítrio de que natureza seja a condição futura de cada nação”.8 Essa doutrina afirma ainda que Cristo morreu apenas pelos "eleitos de Deus", para os quais a graça salvadora de Deus é concedida incondicionalmente; enquanto que para o restante da humanidade não há esperança de salvação.9 Dentro do contexto da discussão específica sobre escolha do cônjuge, a posição que afirma ter Deus uma pessoa certa (determinada) para cada crente nega peremptoriamente o livre-arbítrio humano, o que não é condizente com o testemunho das Escrituras. Assim sendo, você não tem que escolher, já que seu livre-arbítrio não é levado em conta por Deus. O que a pessoa precisa é descobrir quem Deus escolheu para ela. Se este fosse o caso, como se daria a revelação desta informação, por revelação ou por inspiração profética? Tratemos, agora, do livre-arbítrio. O relato da criação e da queda do homem, no livro de Gênesis, estabelece a doutrina do livre-arbítrio humano — de um lado está a ordem divina a Adão: "Da árvore da ciência do bem e do mal não comerás" (2:17), e do outro, a transgressão dessa ordem: "e ele comeu" (cap. 3:6). Este episódio demonstra claramente que as ordens divinas podem ser transgredidas por Suas criaturas dotadas de livre-arbítrio.10 Se, porventura, a hipótese da predestinação calvinista fosse verdadeira, haveria uma pergunta, "Uma vez que somos todos pecadores, por que uma pessoa deveria ser escolhida para honra e outra para desonra?"11 Obviamente isto lançaria uma sombra de dúvida sobre a justiça de Deus. A predestinação calvinista afirma que a graça salvadora de Deus é concedida apenas aos que Ele predestinou à salvação; porém o conceito bíblico não suporta esta posição. Isaías 55:1 diz: "Ah! todos vós os que tendes sede, vinde às águas...", e Cristo ratifica essas palavras com o convite: "Vinde a Mim todos..." (S. Mat. 11:28), e ordena que as boas-novas da salvação devem ser pregadas "a toda criatura" (S. Marc. 16:15). A Bíblia aprofunda ainda mais esse conceito ao declarar que Deus "deseja que todos os homens sejam salvos" (I Tim. 2:4), e que Ele não quer "que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (2 Pe 3:9); e a ordem divina é: "Agora, porém, notifica aos homens que todos em toda parte se arrependam" (Atos 17:30). Assim, “O convite a todos para que se arrependam seria um escárnio ao nome de Deus se os homens não se pudessem arrepender".12 A Bíblia acrescenta, porém, que "Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo Lhe é aceitável" (Atos 10:34 e 35).13 8 Idem, 3:389. Timm, 14. 10 Ibid. 11 J. Ivan Crawford, Buscando a glória de Deus, Lição da Escola Sabatina, abril-junho de 1982, ed. Do professor, 60, citado em Timm, 14. 12 Pedro Apolinário, Análise de textos bíblicos de difícil interpretação (São Paulo: Instituto Adventista de Ensino, 1980), 1:19, citado em Timm, 14-15. 13 Timm, 14-15. 9 3 Ellen White confirma a noção bíblica de livre-arbítrio, "Não é um decreto arbitrário da parte de Deus que veda o Céu aos ímpios; estes são excluídos por sua própria inaptidão para dele participar”.14 Se o destino de cada indivíduo já estivesse predeterminado desde a eternidade, para a salvação ou para a perdição, a proclamação do evangelho perderia o seu sentido. Os homens não seriam mais moralmente responsáveis, e Deus, em última análise, seria responsável pela perdição dos impenitentes, o que faria da punição do pecado – a cada um “segundo as suas obras” (Ap 20:12) – uma farsa e uma injustiça; pois tais obras teriam sido o resultado do desígnio divino. Isto é completamente contrário ao conceito bíblico! 15 Do mesmo modo, no tema específico do casamento, se o cônjuge de cada pessoa estivesse predeterminado desde a eternidade por Deus tal fato anularia completamente o livre-arbítrio do ser humano e, consequentemente, a responsabilidade pela escolha do parceiro(a). Presciência Divina e Origem do Mal A Bíblia declara que o pecado se originou em Lúcifer, um ser perfeito que veio a rebelar-se contra Deus (Ez 28:14 e 15; Is 14:12-15), o qual, após suscitar "peleja no Céu", foi expulso (Ap 12:7-9). Posteriormente, ele induziu também os nossos primeiros pais ao pecado. O Espírito de Profecia diz a esse respeito, e com relação ao plano divino para a salvação do homem: "O plano de nossa redenção não foi um pensamento posterior, formulado depois da queda de Adão.... Desde o princípio Deus e Cristo sabiam da apostasia de Satanás, e da queda do homem mediante o poder enganador do apóstata. Deus não ordenou a existência do pecado. Previu-a, porém, e tomou providências para enfrentar a terrível emergência".16 Em outras palavras, "Deus tinha um conhecimento dos eventos do futuro, mesmo antes da criação do mundo. Ele não fez Seus propósitos para se ajustarem às circunstâncias, mas permitiu que as coisas se desenvolvessem e surtissem efeito. Ele não agiu para produzir certas condições, mas sabia que tais condições iriam existir".17 Se Deus sabia, porém, de antemão, que Lúcifer e nossos primeiros pais cairiam em pecado, por que Ele os criou? — Cristo "sabia que Lúcifer procuraria tirar-Lhe a vida durante o Seu ministério terrestre e que finalmente conseguiria fazê-lo no Calvário. Sabia que Lúcifer tentaria induzi-Lo a abusar do poder de Seu Pai ou de Seu próprio poder. Ele sabia também a parte que seria desempenhada por homens e mulheres. Mas a eterna presciência de Cristo dos contínuos e definidos efeitos dos 14 Ellen G. White, Caminho a Cristo, 18, em Obras de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s.d.), 1CD-Rom. 15 Timm, 15. 16 Ellen G. White, O desejado de todas as nações, 22, Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom. 17 Idem, em Seventh-day Adventist Bible Commentary (SDABC), ed. Francis D. Nichol (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1976), 6:1082. 4 pecados dos outros sobre Ele foi superada por Seu eterno amor. Prosseguiu na criação dos anjos e do homem a despeito do terrível custo para Sua própria Pessoa”. 18 Mas, o fato de Cristo os ter criado, apesar de saber previamente que eles cairiam, não torna Deus, em última análise, o autor do pecado? — A questão básica na compreensão deste assunto é fazermos "a diferença entre praescientia e praedestinatio, isto é, entre a presciência e a eterna eleição de Deus. A presciência de Deus nenhuma outra coisa é senão isso que Deus sabe todas as coisas antes de acontecerem",19 mas ela "não é causativa em si mesma".20 Escolha do Conjuge e Predestinação Analisemos a questão da escolha do cônjuge sob a perspectiva do tema da predestinação. Se Deus tivesse uma única pessoa para cada um de nós, Ele teria que: criar uma especialmente para cada um de nós, como o fez para Adão ou teria que conceder o dom profético para todos os seres humanos para que assim pudessem encontrar a pessoa que Ele designou para cada um deles. Sem o dom profético da revelação nunca encontrariam a pessoa certa designada por Deus. Seria mais ou menos assim: “Aqui está a mulher da sua vida, revelada especialmente através de um sonho ou visão”. Se não fosse por revelação especial de Deus a cada um de nós, como saberíamos qual pessoa Ele tem para nós? Quando Deus, em Sua soberania, decide que alguém realize uma responsabilidade especial, seja como profeta, seja como rei, Ele o faz livremente, através de uma revelação especial: “Ora, o SENHOR, um dia antes de Saul chegar, o revelara a Samuel, dizendo: 16 Amanhã a estas horas, te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo das mãos dos filisteus; porque atentei para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim. 17 Quando Samuel viu a Saul, o SENHOR lhe disse: Eis o homem de quem eu já te falara. Este dominará sobre o meu povo” (1Sa 9:15-17). É óbvio que não funciona assim. Outro problema gerado pela tese de uma pessoa exclusiva para cada um de nós é que ela anula a liberdade de escolha do ser humano. Se Deus tem uma única pessoa para mim, então minha parte é apenas receber por revelação especial aquela pessoa que Ele designou para mim. Não há margem para escolha, apenas aceitação. Tal fato transmitiria uma noção errônea do caráter de Deus, pois faria dEle um tirano, um ditador. “Olha, tome esta pessoa como seu cônjuge. Você não pode reclamar nem devolver”. Ou seja, tudo já estaria determinado antecipadamente por Deus. Em teologia isto se denomina predestinação. 18 Norman R. Gulley, O sacrifício expiatório de Cristo, Lição da Escola Sabatina, janeiro-março de 1983, ed. do professor, 5, citado em Timm, 16. 19 Livro de concórdia, As confissões da Igreja Evangélica Luterana (São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, Editora Concórdia, 1980), 532, citado em Timm, 16. 20 Augustus H. Strong, Systematic Theology (Valley Forge, PA: Judson Press, 1979), 286, citado em Timm, 16. 5 O que Deus determina é um tipo de caráter, não uma pessoa exclusiva: “Pesem, os que pretendem casar-se, todo sentimento e observem todas as modalidades de caráter naquele com quem desejam unir o destino de sua vida. Seja todo passo em direção do casamento caracterizado pela modéstia, simplicidade, e sincero propósito de agradar e honrar a Deus”.21 Outra citação que segue o mesmo conselho e, “... receba a jovem como companheiro vitalício tão somente ao que possua traços de caráter puros e varonis, que seja diligente, honesto e tenha aspirações, que ame e tema a Deus”.22 Neste mesmo livro, Ellen White continua sua orientação: “Antes de dar a mão em casamento, deveria toda mulher indagar se aquele com quem está para unir seu destino, é digno. Qual é seu passado? É pura a sua vida? É o amor que ele exprime de caráter nobre, elevado, ou é simples inclinação emotiva? Tem os traços de caráter que a tornarão feliz? Poderá ela encontrar verdadeira paz e alegria na afeição dele? Ser-lhe-á permitido, a ela, conservar sua individualidade, ou terá de submeter seu juízo e consciência ao domínio do marido? Como discípula de Cristo, ela não pertence a si mesma, foi comprada por preço. Pode honrar as reivindicações do Salvador como supremas? Serão conservados puros e santos o corpo e a alma, os pensamentos e propósitos? Essas perguntas têm influência vital sobre o bem-estar de toda mulher que se casa”.23 Continuando a ênfase sobre o caráter do pretendente, ela orienta aos jovens consultarem os pais e acrescenta, “Consultai a Deus e a vossos pais tementes a Deus, jovens amigos. Orai sobre o assunto. Pesai cada sentimento e observai todo desenvolvimento de caráter na pessoa a quem pretendeis ligar o destino de vossa vida”.24 Aparente Evidência de Determinismo Divino na Escolha do Cônjuge A definição de Rebeca como esposa de Isaque tem sido apresentada como evidencia de que Deus é quem determina a esposa de cada marido, ou seja, um tipo de predestinação matrimonial: “Ó SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, rogo-te que me acudas hoje e uses de bondade para com o meu senhor Abraão! Eis que estou ao pé da fonte de água, e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água; dá-me, pois, que a moça a quem eu disser: inclina o cântaro para que eu beba; e ela me responder: Bebe, e darei ainda de beber aos teus camelos, seja a que designaste para o teu servo Isaque; e nisso verei que usaste de bondade para com o meu senhor” (Gn 24:12-14). De fato, o texto diz, “designaste”, portanto, em resposta a oração de Eliézer Deus lhe mostrou quem deveria ser a esposa de Isaque. Ellen White lembra alguns dos costumes dos tempos antigos, “Os contratos de casamento eram geralmente feitos pelos pais, contudo nenhuma compulsão era usada 21 Idem, Mensagem aos jovens, 435, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom. Ibid. 23 Ibid., 439. 24 Ibid., 449. 22 6 para forçá-los a casar com quem não amavam. Mas os filhos tinham confiança no julgamento dos pais, e seguiam-lhes o conselho concedendo suas afeições àqueles que seus tementes e experientes pais escolhiam para eles. Era considerado crime seguir caminho contrário”.25 Este texto descreve o costume da época que fora aceito por Isaque. Mais a frente, Ellen White, em seu comentário, acrescenta que no caso de Isaque, este confiava “na sabedoria e afeição de seu pai, estava satisfeito com a entrega desta questão a ele, crendo também que o próprio Deus dirigiria na escolha a fazer-se”.26 O texto não trata de determinismo, mas de confiança na orientação dos pais. Estes, evidentemente, como era o caso de Abraão, confiavam na direção de Deus. Observe-se que Abraão não disse a Eliézer, “Vá e busque uma jovem por nome Rebeca, pois Deus me revelou que esta deverá ser a esposa de meu filho”. Ele apenas assegurou a Eliézer que "O Senhor, Deus dos Céus", disse ele, "que me tomou da casa de meu pai e da terra da minha parentela, ... enviará o Seu anjo adiante da tua face" (Gn 24:7). Eliézer havia aprendido com Abraão a confiar em Deus. Nem Abraão, nem ele tinham recebido uma revelação especial sobre aquela que deveria ser a esposa de Isaque. Então Eliézer decidiu pedir a Deus um sinal (Gn 24:12-14) que foi prontamente respondido. A atitude de Rebeca em atender ao pedido de Eliézer foi uma resposta de Deus a sua oração. Mas isto não significa determinismo, porque o livre-arbítrio dela foi respeitado, “Chamemos a moça e ouçamo-la pessoalmente. Chamaram, pois, a Rebeca e lhe perguntaram: Queres ir com este homem? Ela respondeu: Irei” (Gn 24:57-58). Ellen White comenta este ato de Rebeca, “Depois de obter-se o consentimento da família, a própria Rebeca foi consultada quanto a ir ela a uma tão grande distância da casa de seu pai para casar-se com o filho de Abraão. Ela acreditava, pelo que havia tido lugar, que Deus a escolhera para ser a esposa de Isaque”.27 O caso específico do casamento de Isaque não pode ser empregado para comprovação de predestinação conjugal, mas de resposta de Deus ao pedido de Eliézer. Aquela foi uma situação singular, não a regra geral. O normal era os filhos confiarem na orientação dos pais para definir o seu respectivo cônjuge. Se, porventura, a Bíblia e o Espírito de Profecia ensinassem que é Deus quem previamente determina uma pessoa exclusiva para cada um dos crentes, isto deveria ser claramente apresentado. Mas não é este o caso. Mais a frente, no capítulo de Patriarcas e profetas que trata do casamento de Isaque, Ellen White faz as seguintes aplicações: “Se há um assunto que deve ser cuidadosamente considerado, e no qual se deve procurar o conselho de pessoas mais velhas e experientes, é o do casamento; se a Bíblia já foi necessária como conselheira, se a direção divina em algum tempo 25 Idem, História da redenção, 85-86, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom. Ibid. 27 Ibid., 173. 26 7 deveria ser procurada em oração, é antes de dar um passo que liga pessoas entre si para toda a vida. Os pais nunca devem perder de vista sua responsabilidade pela felicidade futura de seus filhos. O respeito de Isaque aos conselhos de seu pai foi o resultado do ensino que o habilitou a amar uma vida de obediência. Ao mesmo tempo em que Abraão exigia de seus filhos que respeitassem a autoridade paterna, sua vida diária testificava que essa autoridade não era um domínio egoísta ou arbitrário, mas que se fundava no amor, e tinha em vista o bem-estar e felicidade deles. Pais e mães devem sentir que se lhes impõe o dever de guiar as afeições dos jovens, a fim de que possam ser colocadas naqueles que hajam de ser companheiros convenientes. Devem sentir como seu dever, pelo seu próprio ensino e exemplo, com a graça auxiliadora de Deus, modelar de tal maneira o caráter de seus filhos desde os seus mais tenros anos, que sejam puros e nobres, e sejam atraídos para o bem e para o verdadeiro. Os semelhantes atraem os semelhantes; os semelhantes apreciam os semelhantes. Que o amor pela verdade, pureza e bondade seja cedo implantado na alma, e o jovem procurará a companhia daqueles que possuem essas características”.28 Se porventura defendesse a noção de que Deus é quem determina desde a eternidade a união dos cônjuges, Ellen White teria aproveitado a oportunidade para defender esta noção em seu comentário sobre o casamento de Isaque com Rebeca. Ao contrário, ela destacou o relevante papel dos pais em orientar os filhos na devida escolha. Basta considerar com atenção o contexto acima referido. Deus pode ser consultado na escolha do cônjuge, como o fez Eliézer para a escolha da esposa de Isaque, mas isto não retira o exercício do livre arbítrio humano para o cumprimento da vontade de Deus. É bom lembrar que “A oração move o braço da Onipotência. Aquele que comanda as estrelas na sua órbita nos céus, e cuja palavra controla as águas do grande abismo - o mesmo Criador infinito atuará em favor do Seu povo, se O invocarem com fé”,29 inclusive na escolha do cônjuge. O soberano Deus dispõe de poder para definir a escolha do cônjuge no presente em resposta à oração de fé, mas não significa que Ele tenha determinado isto na eternidade e que não respeite o livre arbítrio humano. O fato de que Ele conhece de antemão todas as coisas não implica em que Ele é o causador de todas as coisas. A Relação Entre Soberania de Deus e Livre-Arbítrio Humano A bem da verdade, em teologia existem várias tensões. Uma delas é entre soberania de Deus e livre-arbítrio. Por exemplo, se a definição do cônjuge está nas mãos de Deus, a atividade do ser humano não a afeta; se depende da ação humana, não está nas mãos de Deus. Como se pode constatar, é o antigo problema do determinismo contra o livre arbítrio. A primeira alternativa pode conduzir à passividade: porque deveriam os seres humanos se preocupar se suas ações não 28 29 Idem, Patriarcas e profetas, 175-176, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom. Idem, Nos lugares celestiais, 351, em Obras de Ellen G. White, 1CD-Rom. 8 afetam os planos de Deus? Mas o segundo pode levar à ansiedade: como fazer a escolha certa se tudo depende apenas de mim? O estudo da relação entre soberania divina com livre-arbítrio humano na Bíblia permite que se vislumbre uma parceria ideal. Tomemos, por exemplo, as profecias de tempo referentes à primeira vinda de Jesus, como Daniel 9:24-27; Isaías 7:14, etc. Evidentemente eram profecias incondicionais quanto ao fator tempo, contudo o seu cumprimento dependia da livre aceitação por parte dos escolhidos para que elas se cumprissem. Este foi o caso de Maria perante o anjo, “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35). Maria poderia ter recusado a incumbência celeste, mas não, ela espontaneamente disse, “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lc 1:38). De modo objetivo, o relato acima confirma a declaração bem colocada por Harold H. Rowley, “O Paradoxo da graça é que o ato que emana totalmente de Deus pode ser realizado através do homem”.30 Por sua vez, ao discorrer sobre soberania divina e livre arbítrio no contexto da visão de Ezequiel no rio Quebar, disse Ellen White: “Todos estão pela sua própria escolha decidindo o seu destino, e Deus está governando acima de tudo para o cumprimento de Seu propósito”.31 Não existe conflito entre a soberania de Deus e livre arbítrio humano. Basta que lembremos o chamado profético de William Foy e Hazen Foss. Ambos recusaram o chamado divino por livre e espontânea vontade, ao contrario de Ellen White. Deus respeitou a recusa de ambos em exercer o ministério profético, mas exaltou a decisão de Ellen White em aceitar desempenhá-lo.32 Ao final de tudo, Sua soberania foi exercida porque Seu propósito de conceder a igreja remanescente um voz de orientação profética foi alcançado. Resumo e Conclusão O presente trabalho estudou o tema da escolha do cônjuge pela perspectiva de dois pontos de vistas antagonistas, o da presciência absoluta causativa e a não causativa. A presciência absoluta causativa defende: 1) a soberania total de Deus; 2) todas as coisas acontecem pela vontade exclusiva de Deus; 3) o ser humano não tem livre arbítrio; 4) salvação e perdição de cada pessoa estão decretados desde a eternidade por Deus; 5) Deus é quem determina o cônjuge. A presciência absoluta não causativa defende: 1) a soberania de Deus; 2) o respeito ao livre arbítrio humano; 3) salvação ou perdição dependem da aceitação ou rejeição humana da redenção gratuitamente oferecida por Deus; 4) a escolha do cônjuge é uma questão definida pessoalmente. O plano da redenção em Cristo, Sua encarnação, vida, morte, ressurreição e intercessão reconhece a presciência divina que anteviu a entrada do pecado no céu por Lúcifer e na terra por Adão, mas não o causou, apenas proveu-lhe uma solução satisfatória. 30 Harold H. Rowley, A importância da literatura apocalíptica (São Paulo: Edições Paulinas, 1980), 177. Ellen G. White, Educação, 178, em OEGW, 1CD-Rom. 32 Para uma melhor noção sobre o chamado profético de Foy e Foss, ver Herbert E. Douglas, Mensageira do Senhor (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2002), 38. 31 9 O testemunho geral da Bíblia corrobora a posição da presciência absoluta não causativa, pois se o destino de cada indivíduo já estivesse predeterminado desde a eternidade, para a salvação ou para a perdição, a pregação do evangelho não teria sentido. Os homens não seriam mais moralmente responsáveis, e Deus seria responsável pela perdição dos impenitentes, o que faria da punição do pecado segundo as obras uma farsa e uma injustiça; pois tais obras teriam sido o resultado do desígnio divino. No caso do casamento, se o cônjuge de cada pessoa estivesse predeterminado desde a eternidade por Deus tal fato anularia completamente o livre-arbítrio do ser humano e, consequentemente, a responsabilidade pela escolha do parceiro(a). Se a predestinação conjugal fosse verdadeira, Deus teria que criar uma esposa especialmente para cada um de nós, como o fez para Adão, ou teria que conceder o dom profético para todos os seres humanos para que assim pudessem encontrar a pessoa que Ele designou para cada um deles. Sem o dom profético da revelação ou inspiração nunca encontrariam a pessoa certa designada por Deus. O que Deus determina é um tipo de caráter exclusivo (temente a Deus), não uma pessoa exclusiva! As fontes de orientação, tais como o próprio Deus, a Bíblia, a oração, o conselho dos pais, são recursos disponíveis que favorecem uma livre escolha do cônjuge conveniente. O casamento de Isaque e Rebeca, ao invés de corroborar o determinismo divino do cônjuge desde a eternidade, exalta a submissão do filho à orientação do pai para a escolha da companheira como um modelo a ser seguido na atualidade. Fica evidente que Deus pode ser consultado na escolha do cônjuge, como o fez Eliézer para a escolha da esposa de Isaque, mas isto não retira o exercício do livre arbítrio humano para o cumprimento da vontade de Deus. Lembre-se que Rebeca teve a opção de rejeitar o pedido de casamento e a mudança para a terra de Isaque. Alguns têm dificuldade em harmonizar soberania divina e livre arbítrio humano. Se a definição do cônjuge está nas mãos de Deus, a atividade do ser humano não a altera; se depende da ação humana, não está nas mãos de Deus; é o retorno da controvérsia entre determinismo e livre arbítrio. A primeira alternativa conduziria à passividade: porque deveriam as pessoas se preocupar se suas ações não afetam os planos de Deus? Mas o segundo gera ansiedade: como fazer a escolha certa se tudo depende apenas de mim? A experiência de William Foy, Hazen Foss e Ellen White comprova que Deus respeita o livre arbítrio humano tanto para rejeitar quanto para aceitar o chamado profético, mas ao final de tudo, Ele exerce Sua soberania quando confere à igreja remanescente a guia inspirada por meio de Ellen White. Em suma, o testemunho geral da Bíblia e do Espírito de Profecia corrobora que a escolha do cônjuge pode ser orientada por Deus, desde que solicitada com fé. Contudo esta orientação não implica que tenha sido predeterminada por Deus desde a eternidade, ao contrario, este direcionamento divino requer o exercício humano da liberdade e responsabilidade correspondentes. 10 Embora saiba desde a eternidade quais serão nossas escolhas, não é Deus quem determina nosso futuro cônjuge. A única coisa que Ele define é que a escolha do futuro cônjuge tome em consideração um caráter cristão nobre. Afinal, se houvesse apenas uma pessoa designada por Deus, os viúvos não teriam direito a novo casamento. Estariam condenados a uma solidão permanente, já que a “predeterminada” morreu! 11 Anuario de Psicologia 2003, vol. 34, no 2,215-233 O 2003, Facultat de Psicologia Universitat de Barcelona Maltrato de-mujeresy misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativo* Esperanza Bosch Victoria A. Ferrer Universitat de les Illes Balears - Las creencias y actitudes misóginas han sido propuestas como un posible factor explicativo del fenómeno de la violencia de género. En este trabajo se analiza empíricamente su posible papel en el caso del maltrato de mujeres. Concretamente, llevamos a cabo un análisis comparativa entre las actitudes misóginas de maltratadores y no maltratadores. La ccSexist Attitudes toward Women Scaleu (Benson y Vincent, 1980) y la ccHusband's Patriarchal Beliefs,) (Smith, 1990)fueron aplicadas a una muestra de 142 mujeres maltratadas y 142 no maltratadas, preguntándoles por las actitudes y creencias de sus cdnyuges. Los resultados obtenidos muestran que en términos generales 10s maltratadores muestran más creencias y actitudes misóginas que 10s no maltratadores. Se analizan y discuten estos resultados y sus implicaciones. Palabras clave: misoginia, maltrato de mujeres. Misogynist beliefs and attitudes may help to explain gender violence. This research analyses their possible role in domestic violence, comparing misogynist attitudes in batterers and non-batterers. The cSexist Attitudes toward Women Scalep (Benson & Vincent, 1980) and ccHusbandls Patriarchal Beliefs)) (Smith, 1990) were applied to a sample of 142 victims of domestic violence and I42 female non-victims, who were asked about their husbands'attitudes and beliefs. Those results are discussed. Key words: Misogyny, domestic violence. De acuerdo con las consideraciones de diversos organismos nacionales e internacionales que se ocupan del tema (Organización de Naciones Unidas, Organización Mundial de la Salud, Parlamento Europeo, Instituto de la Mujer, ...) el térrnino <<vio* Este trabajo se realizó en el marco de un proyecto de investigación financiado por el Programa Sectorial de Promocidn General del Conocimiento de la Dirección General de Enseñanza Superior e Investigación Científica del Ministeri0 de Educación y Cultura (PB98-0122). Correspondencia:Facultad de Psicologia. Universitat de les Illes Balears. Cira. Valldemossa km 7'5. 07071 Palma de Mallorca. Baleares.Correoelectrónico: [email protected],es 216 E. Bosch y I!A. Ferrer lencia doméstica o familiar>>suele emplearse para referirse a toda forma de violencia (física, sexual o psicológica) o arnenaza de emplearla que pone en peligro la seguridad o el bienestar de un miembro de la familia, incluyendo el maltrato infantil, el incesto, el maltrato de mujeres y 10s abusos sexuales o de otro tipo contra cualquier pelrsona que conviva bajo el mismo techo. De entre todos estos tipos de violencia, nuestro trabajo se centra en el denominado maltrato de mujeres, es decir, en la violencia ejercida contra las mujeres por su pareja (o ex-pareja). Una parte importante de las investigaciones sobre el tema se ha centrado en desarrollar modelos explicativos que permitan entender por qué ocurre y, en base a ello, diseñar programas de prevención y tratamiento. Aunque la exposición detallada de 10s modelos explicativos desarrollados hasta la fecha excede 10s propósitos de este articulo, si cabe recordar que se pueden agrupar en dos grandes bloques (Villavicencio, 1993; Villavicencio y Sebastián, 1999): teorías psicológicas y sociológicas. Las teorías psicológicas buscan la causa del maltrato en factores individuales, y muy especialmente en la presencia de psicopatologia. Actualmente estos factores están descartados como causa única (Roberts et al., 1998) y se cuestiona si la psicopatologia del maltratador desempeña algún papel en la génesis de este problema (Ferrer et al., 2002). Las teorías sociológicas incluyen, en opinión de Johnson (1995), la denominada perspectiva de la violencia familiar y la perspectiva feminista. Desde la perspectiva de la violencia familiar se considera que el origen del maltrato est6 en la crisis de la institución familiar, generada por 10s estresores externos y 10s cambios a 10s que est6 sometida. Se considera que, cuando se da, esta violencia no aumenta y que hombres y mujeres son violentos por igual e igualmente responsables del problema, aunque las mujeres lleven la peor parte de las consecuencias. Desde la perspectiva feminista se considera que el maltrato tiene su origen en 10s valores patriarcales que llevan a 10s hombres a tratar de someter a las mujeres. En este sentido, se piensa que en las relaciones de maltrato suele existir una <<escaladade violencia>>con objeto de generar primero, y mantener, después el control y que la violencia en la pareja es ejercida por 10s hombres y padecida por las mujeres. Los modelos multicausales (Stith y Rosen, 1992; Stith y Farley, 1993; Corsi 1995; Berkowitz 1996; O'Neil y Harway 1997;Echeburúa y Fernández-Montalvo 1998; Heise 1998) consideran el maltrato de mujeres como un fenómeno complejo que s610 puede ser explicado a partir de la intervención de un conjunt0 de factores diversos, incluyendo factores individuales, sociales y del contexto concreto de la pareja. Entre 10s factores que se barajan en estos modelos están las creencias y actitudes de 10s maltratadores. Asi, por ejemplo, Walker (1984), Briere (1987) y FernándezMontalvo y Echeburúa (1997) obtuvieron resultados que relacionaban la presencia de creencias y actitudes negativas de 10s maltratadores hacia las mujeres con el maltrato, mentras Neidig, Friedman y Collins (1986) no observaron relación en este sentido. Por su parte, 10s resultados obtenidos por Dobash y Dobash (1978), Rosembaum y O'Leary (1981), Walker (1983), Telch y Lindquist (1984), Saunders et al. (1987) y Crossman, Stith y Bender (1990) establecieron la existencia de una relación entre la adscripción de 10s maltratadores al estereotipo de rol de género tradicional y la presencia de maltrato. En cambio, 10s resultados de Browning (1983), LaViolette, Barnett y Miller (1984), Hotaling y Sugarman (1986) y Dutton (1988) negaban dicha relación. Trabajos como 10s de Yllo y Straus (1984) y Smith (1990) detectaron que la presencia de maltrato estaba estrechamente relacionada con la ideologia patriarcal de 10s maltratadores. Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia Malrrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativo 217 Finalmente, Briere (1987) y Saunders et al. (1987) observaron que la actitud positiva hacia la violencia (interpersonal o contra la pareja) y la presencia de maltrato de mujeres estaban relacionadas. Browning (1983) y Dutton (1988) obtuvieron resultados contrarios. Por 10 que se refiere a 10s modelos explicativos, además de en la teoria feminista, las actitudes se incluyen con mayor o menor suerte en casi todos 10s modelos multicausales citados. Asi, por ejemplo, Stith y Farley (1993) incluyen en su modelo el igualitarismo de rol sexual y las actitudes positivas hacia la violencia doméstica. Corsi (1995) y Heise (1998) examinan la función de las creencias y valores patriarcales imperantes. Berkowitz (1996) considera que las normas y valores sociales que legitiman el dominio masculino en la familia y la sociedad y la dependencia femenina favorecen la aparición de violencia familiar. O'Neil y Harway (1997) se refieren explicitarnente a las actitudes misóginas como factores que simultáneamente actúan como predisponentes y provocadores del maltrato de mujeres. Y Echebunía y Fernández-Montalvo (1998) entienden 10s estereotipos sexuales machistas como uno de 10s factores que influye sobre la actitud de hostilidad que presenta el maltratador. En nuestra opinión, Blanca Vázquez (1999) realiza una propuesta sugerente que podemos considerar ligada a las teorias feministas y alternativa a estos enfoques. Concretamente, propone que, en vez de contemplar el maltrato de mujeres como una variable discreta que ocurre o no, podria entenderse como un cccontinuumu que ocurre en mayor o menor medida en todas las familias. Obviamente, esto no significa que todas las familias sean abusivas, sino que en ellas se refleja de algún modo el sistema de poder jerárquico, estructurado y patriarcal. Esta autora sigue argumentando que hasta hace algunas décadas esa estructura jerkquica era aceptada sin discusiones. Sin embargo, actualmente se produce una situación paradójica pues teóricamente la relación de pareja se establece entre dos personas iguales en derechos y deberes (igualitarismo teórico) pero en la practica la estructura implícita (el poder patriarcal) no ha desaparecido ni ha sido sustituida por nuevas formas de relación entre hombres y mujeres. En esta indefinición, la problemática de pareja podria desembocar fácilmente en el abuso psicológico del hombre a la mujer, llegando al abuso fisico en ciertos casos. Si aceptamos esa perspectiva, el paso siguiente sería determinar cuáles son 10s mecanismos que impiden o perrniten que el abuso siga avanzando en ese <<continuum>> y llegue a convertirse en formas extremas de violencia. Nuestra hipótesis de trabajo (Ferrer y Bosch, 2000; Bosch y Ferrer, 2002) es que el núcleo duro de ese mecanismo que frenarialliberaria el maltrato son las actitudes y creencias misóginas, que, por otra parte, correlacionan directamente con mayores niveles de masculinidad/ferninidad tradicionales. Estas actitudes misóginas estm'an relacionadas con la presencia de creencias sesgadas y estereotipadas sobre 10s roles de género, sobre la inferioridad <<natural,> de las mujeres, y sobre la legitimidad de usar la violencia contra ellas como forma aceptable de resolver 10s conflictos interpersonales y constituiran el elemento clave para diferenciar a maltratadores de no maltratadores. Este trabajo inicia la evaluación empírica de esta hipótesis y, para ello, y como primer paso, se comparan las actitudes misóginas presentes en maltratadores y no maltratadores. Aunque nuestro interés es estudiar a maltratadores, a quienes entrevistamos fue a las mujeres. La razón es que acceder a 10s maltratadores es muy complicado (no suelen colaborar, no siempre están identificados o localizados, etc.) y podría generar problemas debido a la deseabilidad social. Además, diversos trabajos (Rosenbaum y O'Leary, 1981; Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia 218 E. Bosch y 1!A. Ferrer Van Hasselt, Morrison y Bellack, 1985; Smith, 1990; Lindquist et al., 1997) demuestran que las mujeres constituyen una fuente de inforrnación fiable sobre sus maltratadores. Método La muestra de mujeres victimas de maltrato estudiada quedó compuesta por un total de 142 mujeres con una media de edad 39'38 años (d.t. 10'60). De ellas, el 31% residian en la zona norte, el 28'2% en la zona centro, el 21'8% en la zona sur' y el 19% en las islas. El tiempo medio de padecimiento de maltrato era de 147'08 meses (rango 1-600 meses, d.t. 122'03). El 36'1% de las entrevistadas habia padecido maltrato durante 60 6 menos meses y el 63'9% restante lo habia padecido durante 61 6 mis meses. Todas las entrevistadas habian padecido maltrato psicol6gico y el 88'7% de ellas habia padecido, además, maltrato físico. La muestra de mujeres no victimas de maltrato quedó compuesta por 142 mujeres con una media de edad 37'49 años (d.t. 11'26). De ellas, el 22'5% residian en la zona norte, el 32'4%en la zona centro, el 23'2% en la zona sur y el 21'8%en las islas. En cuanto a 10s varones, la edad media de 10s maltratadores era de 42'29 años (d.t. 10'91) y de ellos, un 9'9%tenian de 18 a 30 años, un 38'7% de 31 a 40 años, un 28'2% de 41 a 50 años, un 19'7%tenian 51 6 mis años y en un 3'5% de casos no se disponía de este dato. El 63'4% de ellos tenia estudios primarios o menos, el 21'8% estudios medios y el 14'8% estudios superiores. Por otra parte, un 54'2% presentaban abuso de alcohol, un 23'2% abuso de drogas, un 16'9%psicopatologia, un 74'6% problemas de celos y un 36'6% comportamiento violento en general. Y entre 10s no maltratadores, su edad media era de 39'85 años (d.t. 12'06) y de ellos, un 24'6% tenian de 18 a 30 años, un 29'6% de 31 a 40 años, un 21'8% de 41 a 50 años, un 22'5%tenian 5 1 6 mis años y en un 1'4%de casos no se disponía de este dato. El 55'6% tenia estudios primarios o menos, el 25'4% estudios medios y el 19'0%estudios superiores. El abuso de alcohol o drogas y la psicopatologia se hallaban presentes en un 2'8% de ellos. Un 12'7% tenian problemas de celos y un 0'7% comportarniento violento en general. Tal y como estaba previsto en 10s criterios de selección, no habia diferencias entre maltratadores y no maltratadores en cuanto a edad (t = 1'46; p = 0' 145), lugar de residencia (xZ= 2'6517; p = 0'449) o nivel de estudios (xZ=1'8391; p = 0'399). Instrumentos Para recoger datos sobre variables sociodemográficas, antecedentes, maltrato o variables clínicas se emple6 una entrevista elaborada al efecto. En el caso de las mujeres nnaltratadas era más extensa pues incluia una descripción completa del maltrato y su evolución. A las mujeres no maltratadas se les administró una versión breve y, además, un pequeño screening para detectar y rechazar posibles casos de maltrato no-denunciado. 1. Denominamos zona norte a las Comunidades de Aragbn, Asturias. Cantabria, Cataluña, Galicia, Navarra, Pais Vasco y Rioja; zona centro a las de Castilla-La Mancha, Castilla-Lebn,Comunidad Valenciana y Madrid; y zona sur a las de Andalucía, Ceuta y Melilla, Extremadura y Murcia. Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia Maltrato de mujeres y misoginia: estudio emplrico sobre un posible factor explicativo 219 En cuanto a 10s instrumentos para evaluar actitudes, el Sexist Attitudes Toward Women Scale (SATWS, Benson y Vincent, 1980) consta de 40 items (indicados en las tablas como items 1 a 40 y cuyo texto puede verse en el Anexo I), 26 afirmaciones sexistas y 16 afirmaciones no sexistas (cuya puntuación se invierte). En su versión original el formato de respuesta es una escala Likert de 7 puntos (de fuertemente en desacuerdo a fuertemente de acuerdo), con un rango de puntuación de 40-280, donde puntuaciones más altas indican niveles más elevados de actitudes sexistas; la consistencia interna oscila entre 0'90 y 0'93, según la muestra estudiada y tiene una adecuada validez de contenido y de constructo. En nuestro caso la escala se present6 con un formato de respuesta en una escala Likert de 4 puntos (completamente en desacuerdo, en desacuerdo, de acuerdo, completamente de acuerdo), de modo que el rango de puntuación oscila entre 40 y 160 puntos, donde puntuaciones más elevadas indican actitudes sexistas rnás extremas. Los análisis realizados (Ferrer y Bosch, 2002) indican que para nuestra muestra la consistencia interna es de 0'65 y la estructura factorial de la escala es de 5 factores: el Factor 1 (FI) consta de 16 items relativos a la consideración de la mujer como inferior en sus habilidades y capacidades; el Factor 2 (F2) de 16 items relativos a la aceptación del movimiento feminista y sus reivindicaciones; el Factor 3 (F3) de 5 items relativos a la aceptación del estereotipo femenino tradicional; el Factor 4 (F4) de 5 items relativos a aceptar el tratamiento de las mujeres como objetos sexuales; y el Factor 5 (F5) consta de un Único item relativo al desprecio de la figura masculina conocida como crcalzonazos>>. El Husband's Patriarchal Beliefs (HPB,Smith, 1990) incluye 4 items (en las tablas como a, b, c y d), cuyo texto puede verse en el Anexo 1, relativos a creencias patriarcales. En su versión original, el formato de respuesta es una escala Likert de 4 puntos (completamente en desacuerdo, en desacuerdo, de acuerdo, completamente de acuerdo) con un rango de puntuación de 4 a 16, donde una mayor puntuación indica niveles mis elevados de creencias patriarcales, y tiene una consistencia interna de 0'79 y una adecuada validez de contenido. En nuestro caso la escala se present6 con un formato similar y 10s análisis realizados (Ferrer y Bosch, 2002) indican que para nuestra muestra la consistencia interna es de 0'96 y, al igual que había observado su autor, la estructura factorial de la escala incluye un solo factor de creencias patriarcales (HPB). Procedimiento Para acceder a las víctimas de maltrato se contó con la participación de 26 centros de toda la geografia española. Las profesionales de esos centros (a quienes agradecemos su colaboración) entrevistaron a mujeres que acudían demandando ayuda o asesoramiento. La muestra de mujeres no maltratadas se seleccionó mediante un muestreo no probabilistico por cuotas (en base a lugar de residencia, edad y nivel de estudios). Análisis de datos Los datos fueron analizados mediante 10s programas estadisticos del paquete SPSS (versión 10 para MacIntosh). Cabe señalar que, dado que las puntuaciones Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia 220 E. Bosch y V A . Ferrer medias para 10s diferentes factores no seguían una distribución normal, las comparaciones de medias se realizaron aplicando estadísticos no pararnétricos. Resultados En primer lugar, se realizó una comparación entre el porcentaje de individuos de acuerdo y en desacuerdo entre maltratadores y no maltratadores para cada ítem del SATWS y del HPB, con objeto de determinar si el maltrato estaba relacionado con las actitudes hacia las mujeres. TABLA1. TABULACIONES CRUZADAS Continúa en la págirla 221. Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativa 22 1 Viene de la página 220. Continh en la página 222. Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia E. Bosch y il A. Ferrer 22% Viene de la página 221. [tem d Maltratador No maltratador 20 (14'5%) 127 (89'4%) 118 (85'5%) 15 (10'6%) x2 (d.f.1) = 177,461; p = ,000 C. contingencia:0,600 Maltratador No maltratador 14 (10'3%) 104 (73'8%) 122 (89'7%) 37 (26'2%) x2 (d.f.l) = 125,436; p = ,000 C. contingencia:0,540 Maltratador No maltratador 32 (23'4%) 141 (99'3%) 105 (76'6%) 1 (0'7%) xz(d.f.l) = 209,688, p = ,000 C. contingencia:0,616 Los resultados obtenidos, que se presentan en la Tabla 1, indican que la variablle presencialausencia de maltrato est6 significativamente relacionada con todos 10s items de actitudes hacia las mujeres evaluados, excepto el 21 (<<Lasmujeres deberían ser tratadas suavemente por 10s hombres porque son muy delicadaw), aunque no en todos 10s casos esta relación tiene el mismo sentido ni la misma magnitud. Asi, y como indican 10s respectivos coeficientes de contingencia, dicha relación es particulztnnente estrecha en el caso de 10s items 5, 16, 18,23, 30, 33, a, b, c y d, todos ellos indicadores de sexismo y con 10s que una amplia mayoria de maltratadores est6 de acuerdo y una amplia mayoria de no maltratadores en desacuerdo; y también en el caso de 10s items 19,25,26, 35 y 40, todo ellos indicadores de no sexismo y con 10s que una amplia mayoria de no maltratado?es muestra acuerdo y una amplia mayoria de maltratadores desacuerdo. Por 10 que se refiere a las comparaciones de medias, en primer lugar se compararon las puntuaciones medias obtenidas para cada factor por maltratadores y no maltratadores y, posteriormente, se agrupó a unos y otros en función de diversas variables. La puntuación de 10s maltratadores es significativarnentesuperior para 10s factores F1 (z = -1 1.059; p = 0.000), F3 (z = -8.726; p = 0.000), F4 (z = -7.622; p = 0.000), y F5 (z = -6.159; p = 0.000), que evalúan respectivamente la consideración de que la mujer es inferior en sus habilidades y capacidades (m = 3'17 (1d.t .= 0.60) para maltratadores y m = 2'1 1 (d.t. = 0.48) para no maltratadores), la aceptación del estereotipo femenino tradicional (m = 2'75 (d.t. = 0.55) y m = 2'18 (d.t. = 0.39) respectivamente), la aceptación de las mujeres como objetos sexuales (m = 3'17 (d.t. = 0.65) y m = 2'51 (d.t. = 0.67) respectivamente) y el rechazo a la figura del <<calzonazos>> (m = 3'36 (d.t. == 0.98) y m = 2'69 (d.t. = 0.95) respectivamente) y para el factor HPB (z = -12.527; p = 0.000) que evalúa creencias patriarcales (m = 3'33 (d.t. = 0.84) para maltratadores y m = 1'5 l (d.t. = 0.54) para no maltraAnuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativo 223 tadores). Para F2, que evalúa la aceptación del movirniento feminista y sus reivindicaciones (m = 3.00 (d.t. = 0.42) para no maltratadores y m = 2'06 (d.t. = 0.57) para maltratadores), la puntuación de 10s no maltratadores es significativamente superior (Z = -12.527; p = 0.000). Al agrupar a maltratadores y no maltratadores en función de la edad y compararlos, se observa (Tabla 2) que para F1 y HPB 10s maltratadores de todos 10s grupos TABLA 2. COMPARACI~N DE LAS PUNTUACIONES MEDIAS OBTENIDAS PARA CADA FACTOR POR MALTRATADORES Y NO MALTRATADORES AGRUPADOS EN F U N C I ~ NDE LA VARIABLE EDAD Anuario de Psicologia, vol. 34, no2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia 224 E. Bosch y il A. Ferrer de edad obtienen puntuaciones significativamente superiores; para F2 10s no maltratadores de todos 10s grupos de edad obtienen puntuaciones significativamente superiores; para F3, F4 y F5 hay algunos cambios según 10s grupos de edad. Asi, para F3 y F5 no hay diferencias estadisticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores mis jóvenes, pero en 10s otros grupos de edad 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamente superiores. Finalmente, para F4 no hay diferencias estadisticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores más jóvenes y mlás mayores, pero entre 10s de edades intermedias 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamente superiores. La comparación de maltratadores y no maltratadores en función de su nivel de estudios muestra (Tabla 3) que para FI, F3, F4 y HPB 10s maltratadores de todos 10s niveles de estudios obtienen puntuaciones significativamente superiores; y para F2 10s no maltratadores de todos 10s niveles de estudios obtienen puntuaciones significa- Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativo 225 tivamente superiores. En el caso de F5 no hay diferencias estadisticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores con estudios superiores y entre 10s de estudios primarios y medios 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamente superiores. Al comparar a maltratadores y no maltratadores en función del abuso de alcohol se observa (Tabla 4) que para F1, F3, F4 y HPB 10s maltratadores, abusen o no del alcohol, obtienen puntuaciones significativamente superiores; y para F2 10s no maltratadores, abusen o no del alcohol, obtienen puntuaciones significativamente superiores. En el caso de F5 no se observan diferencias estadisticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores que abusan del alcohol, pero entre 10s que no abusan, 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamentesuperiores. TABLA 4. COMPARACION DE LAS PUNTUACIONES MEDIAS OBTENIDAS PARA CADA FACTOR POR MALTRATADORES Y NO MALTRATADORES AGRUPADOS EN FUNCIÓN DE LA VARIABLE ABUSO DE ALCOHOL Al agrupar a maltratadores y no maltratadores en función del abuso de drogas no se observan (Tabla 5) diferencias estadísticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores que abusan de las drogas en ningún caso (Fl, F2, F3, F4, F5 y HPB).Entre 10s que no abusan de ellas, 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamente superiores en FI, F3, F4, F5 y HPB y 10s no maltratadores en F2. La diferenciación de maltratadores y no maltratadores en función la presencia de psicopatologia muestra (Tabla 6) que para F1 y HPB 10s maltratadores, presenten o no psicopatologia, obtienen puntuaciones significativamentesuperiores. Para F2, F3, F4 y F5 no hay diferencias estadísticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores con Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia E. Bosch y i! A. Ferrer 226 psicopatologia. Entre 10s que no la presentan, 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativarnentesuperiores en F3, F4, F5 y HPB y 10s no maltratadores en F2. N Media (d.t.) Factor 1 t Abuso de drogas No abuso drogas 30 1 92 3.19 (0,56) 1 1 125 2,17 (0.70) 2,03 (0,52) 1 124 1 1 1 1 4 133 1 1 3,ll (0,71) Factor 2 30 96 1 1 Media (d.t.) N No maltratadores Maltratadores 4 4 2,12 (0,49) 1 -2,518; p = 0,008 1 -10,478; p = 0,000 3.00 (0,441 3,00 (0.42) 1 -2,088; p = 0,036 1 -10,533; p = 0,000 2,35 (0.00) 1 1 -1,188; p = 0,262 2,17 (0.40) 2.63 (0,48) 2.50 (0.67) 1 1 -1,950; p = 0,058 -6,763; p = 0,000 2.11 (0.21) Factor 3 30 101 2,66 (033) 2,78 ( 0 3 ) 33 101 3,24 (0,60) 3,14 (0.66) ( Factor 4 4 134 1 ZP -8,447; p = 0,000 Factor 5 33 107 1 1 3.51 (0.87) 3,31 (1,OO) 1 1 TAIKA6. COMPARACI~N DE LAS PUNTUACIONES MEDIAS OBTENIDAS PARA CADA FACTOR POR MALTRATADORES Y NO MALTRATADORES AGRUPADOS EN FUNCION DE LA VARiABLE PRESENCIA DE PS~COPATOLOGÍA L 1 N Maltratadores Media (d.t.) N No maltratadores Media (d.t.) Z p Factor 1 Presencia de osicooatoloeía 20 3.23 (0.46) 4 1.97 (0.51) -2,924; o = 0,001 Ausencia de psicopatologia 88 3,15 (0,62) 126 2,12 (0.49) -9,777; p = 0,000 21 1.96 (0.39) 3 2.85 (0.67) -2.239: D = 0.023 2.11 (039) 126 3.01 (0.41) -9,505; p = 0,000 1 L Factor 2 Presencia de nsicnnatoloeía Ausencia de psicopatologia 90 Continua en la pcigina 227. Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativa 227 Viene de la página 226. Al comparar a maltratadores y no maltratadores en función de la presencia de problemas de celos se observa (Tabla 7) que para FI, F3, F4 y HPB 10s maltratadores, tengan o no problemas de celos, obtienen puntuaciones significativamentesuperiores y para F2 10s no maltratadores, tengan o no problemas de celos, obtienen puntuaciones significativamentesuperiores. Para F5 no se observan diferencias estadisticamenTABLA 7. COMPARACI~N DE LAS PUNTUACIONES MEDIAS OBTENIDAS PARA CADA FACTOR POR MALTRATADORES Y NO MALTRATADORES AGRUPADOS EN F U N C I ~ NDE LA VARIABLE PRESENCIA DE CELOS Continria en la página 228. Anuario de Psicología, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia E. Bosch y KA. Ferrer 228 Viene de la página 227. L N Maltratadores 1 Media (d.t.) N No maltratadores Media (dl.) z;p Factor 3 1 Presencia de celos I 97 Ausencia de celos 31 1 Presencia de celos I 98 1 2.75 (0.49) 1 18 1 2,77 (0,65) 1 120 1 3.18 (0.64) 1 18 Factor 5 2.26 (0.53) 1 -3,492; D = 0,000 2,17 (0.37) 1 1 2.56 (0.75) 1 -3,434; D = 0,000 1 1 2.28 (0.75) 1 1 4,982; p = 0,000 4,866; p = 0,000 Presencia de celos 104 3,41 (0,96) 18 Ausencia de celos 33 3.12 (1,02) 124 Presencia de celos 101 3,35 (032) 18 1,79 (0.70) -5,429; p = 0,000 Ausencia de celos 32 3,28 (0,90) 121 1,47 (0.50) -7,626; p = 0,000 2.75 (0.97) -2,063; p = 0,039 HPB te significativas entre maltratadores y no maltratadores sin problemas de celos, pero entre 10s que si tienen estos problemas, 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamente superiores. Finalmente, al agrupar a maltratadores y no maltratadores en función de la presencia de comportarnientos violentos en general no se observan (Tabla 8) diferencias estadisticamente significativas entre maltratadores y no maltratadores con comportarniento violento general en ningún caso (Fl, F2, F3, F4, F5 y HPB). Entre quienes no presentan este tipo de comportarniento, 10s maltratadores obtienen puntuaciones significativamente superiores en FI, F3, F4, F5 y HPB y 10s no maltratadores en F2. TABLA8. COMPARACI~NDE LAS PUNTUACIONES MEDIAS OBTENiDAS PARA CADA FACTOR POR MALTRATADORES Y NO MALTRATADORES AGRUPADOS EN F U N C I ~ NDE LA VARIABLE PRESENCIA DE CONDUCTA VIOLENTA EN GENERAL N Maltratadores Media (d.t.) N No maltratadores Media (d.t.) z; p Factor 1 Presencia de violencia general 43 3,23 (0.60) 1 Ausencia de violencia general 69 3.12 (0.62) 127 Presencia de violencia general 45 2,03 (059) 1 Ausencia de violencia general 71 2.10 (O,%) 126 1,63- -1,661; p = 0,045 2.12 (0,49) -9,098; p = 0,000 344 - -1,472; p = 0,174 3,00 (0.42) -9,059; p = 0,000 Factor 2 - Continúa en la página 229. Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia Maltrato de rnujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativa 229 Viene de la prtgina 228. En definitiva, 10s resultados obtenidos indican que, en ténninos generales, 10s maltratadores (tanto en general, como diferenciados por edad, nivel de estudios, abuso de alcohol, psicopatologia o problemas de celos) muestran significativamente más acuerdo que 10s no maltratadores con la consideración de las mujeres como inferiores en sus habilidades y capacidades (Fl) y con las creencias patriarcales (HPB) evaluadas. Estos resultados son similares a 10s de Walker (1984), Briere (1987) o Fernández-Montalvo y Echeburtía (1997) por 10 que se refiere a relacionar el maltrato con la presencia de creencias y actitudes negativas de 10s maltratadores hacia las mujeres y con 10s de Yllo y Straus (1984) o Smith (1990) en 10 que se refiere a relacionar10 con la ideologia patriarcal de 10s maltratadores. Cabe sin embargo, remarcar la falta de homogeneidad y las disparidades existentes entre estos trabajos, sobre todo en 10 que a sus respectivas metodologias se refiere (entrevistar a 10s maltratadores o a sus cónyuges, a muestras de población general o no, ...). Siguiendo con 10s resultados obtenidos, el hecho de que 10s no maltratadores (también en general y diferenciados en función de las citadas variables) muestren niveles de aceptación del movimiento feminista y sus reivindicaciones (F2) significativamente superiores a 10s maltratadores puede tomarse como indicador de que, además, 10s maltratadores también presentan 10 que se ha denominado sexismo sutil, esto es, un sexismo modern0 que está presente en la negación de la discriminación que padecen las mujeres, en el antagonismo hacia sus demandas, y en la falta de apoyo a Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia 230 E. Bosch y il A. Ferrer las políticas diseñadas para ayudarlas (Benokraitis y Feagin, 1986; Swin et al., 1995; Baron y Byrne, 1998). Por 10 que se refiere al resto de factores estudiados creemos adecuado realizar algunas matizaciones. Asi, en el caso de la aceptación del estereotipo femenino tradicional (F3) y del tratamiento de las mujeres como objetos sexuales (F4), se repite la tendencia a que 10s maltratadores muestren significativamente más acuerdo cuando estudiamos la muestra general y diferenciada por estudios, pero no al diferenciarla por edad, abuso de alcohol o presencia de psicopatologia. Estos resultados mostrarian pues coincidencia con aquellos que señalan la existencia de una relación entre el maltrato y la adscripción de 10s maltratadores al estereotipo de rol de género tradicional, como, por ejemplo, 10s de Dobash y Dobah (1978), Rosembaum y O'Leary (1981), Walker (1983), Telch y Lindquist (1984), Saunders et al. (1987) o Crossman, Stith y Bender (1990). Nuevamente es importante señalar la disponibilidad de técnicas y muestras estudiadas. Finalmente destaca que el factor denominado ctrechazo al calzonazos>>(F5) est6 muy extendido tanto entre maltratadores como entre no maltratadores, constituyendo un ejemplo de la fuerza de 10s rnitos culturales en relación al papel de 10s varones y a su relación con las mujeres en nuestra sociedad. En definitiva, podemos concluir que 10s resultados obtenidos tienden a corroborar la hipótesis de trabajo formulada, esto es, que las actitudes y creencias midginas diferencian a maltratadores y no maltratadores. Sin embargo, y como ya se comentó anteriormente, este trabajo constituye tan s610 un primer paso en la evaluación empírica de esta hipótesis puesto que, por sus propias características, tiene algunas limitaciones importantes. Asi, por una parte, cabe hacer referencia a la forma de obtener 10s datos, preguntando a las mujeres sobre sus parejas. En relación con esto hay que recordar que en la revisión meta-analítica de Sugarman y Frankel(1996), que incluye 10s resultados de 29 estudios sobre el tema, se formularon diversas hipótesis y una de ellas se referia a que 10s maltratadores mostrm'an más acuerdo con 10s roles de género tradi(cionales que 10s no maltratadores. Los resultados obtenidos indicaron una tendencia '.en egte sentido, aunque no fueron concluyentes. Según 10s autores del trabajo, esta ausedcia de resultados significativos podría deberse a razones metodológicas como 10s instrumentos de medida usados, las muestras comparativas empleadas (muestras de control compuestas por estudiantes universitarios, ...), o quién fuera la persona informante, De hecho, en 10s estudios que preguntaban a 10s hombres se obtenian relaciones mínimas entre estas actitudes y la violencia, pero en aquellos que preguntaban a las mujeres por las actitudes de sus maridos las relaciones eran significativas. Aplicando esta conclusión a nuestro propio trabajo, surge la necesidad de seguir profundizando en 10s análisis realizados y de ampliar el horizonte de 10s trabajos a realizar, incluyendo también nuevos intentos en 10s que se trabaje directamente con 10s maltratadores. Como ya se comentó anteriormente, este proceder supone numerosas dificultades pero es un reto ineludible si queremos llegar a obtener conclusiones definitivas sobre el tema. Por otra parte, una dificultad añadida para la adecuada interpretación de 10s datos obtenidos surge del escaso número de individuos que abusan de alcohol o drogas, presentan psicopatologia, celos o violencia general entre la muestra de no maltratadores. Una posible forma de superar esta limitación pasa evidentemente por continuar trabajando para lograr muestras de comparación mis homogéneas en cuanto a estas variables. Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativa 23 1 Además, y siguiendo con cuestiones metodológicas,hay que recordar que las preguntas formuladas, tanto a las mujeres maltratadas como a las no maltratadas, eran directas (<&upareja o ex-pareja ¿ha tenido problemas de abuso de alcohol?>>. ..) y en el caso de las no maltratadas no se solicitaba información complementaria al respecto. Surge pues la cuestión de la conveniencia de completar estas entrevistas para obtener datos complementarios que permitan incluir criterios de homogeneización externos ya que podria darse la circunstancia de que las mujeres no maltratadas tuvieran mayor resistencia que las maltratadas a catalogar a sus parejas o ex-parejas como padeciendo alguno de 10s problemas citados. En conclusión podemos decir que estos primeros datos sugieren que efectivamente 10s maltratadores presentan más actitudes y creencias misóginas que 10s no maltratadores y, al rnismo tiempo, nos ofrecen algunas indicaciones sobre por dónde desarrollar el trabajo futuro encarninado a corroborar la hipótesis de trabajo formulada. Baron, R. A. y Byrne, D. (1998). Psicologia social. Madrid: Prentice Ha11 (8" edición). Benokraitis, N. V. & Feagin, J.R. (1986). Modern sexism: Blatant, subtle and covert discrimination.Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall. Benson, P .L. & Vincent, S. (1980). Development and validation of the Sexist Attitude Toward Women Scale. Psychology of Women Quarterly,5 (2), 276-291. Berkowitz, L. (1996). Violencia doméstica. En Leonard Berkowitz, Agresión. Causas, consecuencias y control @p. 259290). Bilbao: DDB. Edición original en inglés 1993. Bosch, E. y Ferrer, V. A. (2002). La voz de las invisibles. Las victimas de un mal amor que mata. Madrid: Editorial Cátedra. 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Me molestan mucho las mujeres que se quejan de que la sociedad es injusta con ellas. 4. Las mujeres van más de compras que 10s hombres porque son mis indecisas. 5. La mayoría de las mujeres <<liberadas*se suben al tren de la protesta s610 por la diversión. 9. Frente al peligro, 10s hombres son instintivamente más valientes que las mujeres. 12. Las mujeres confían mis en la intuici6n y menos en la razón que 10s hombres. 13. Antes del matrimonio, las mujeres no deberían ser tan activas sexualmente como 10s hombres. 23. Desconfio de una mujer que prefiere trabajar a tener hijos. 24. Creo que las mujeres son por naturaleza más débiles emocionalmente que 10s hombres. (-) 25. Por termino medio, las mujeres son tan inteligentes como 10s hombres. 29. Me molesta mis ver a una mujer agresiva que a un hombre agresivo. 30. No se debería contratar a una mujer si hay un padre de familia que necesita el trabajo. 32. Por naturaleza, 10s hombres son mejores que las mujeres para las cosas mecánicas. 33. El lugar de una mujer es el hogar. Anuario de Psicologia, vol. 34, no 2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia Maltrato de mujeres y misoginia: estudio empirico sobre un posible factor explicativo 233 36. Creo que 10s hombres son instintivamente mis competitivos que las mujeres. 38. Me sentiria incómodo si cuando se dirigen a mi por escrito pusieran <<Sr./Sra.>> (por ejemplo, en una carta). Factor 2 . Aceptación del movimiento feminista. 6. Me molesta que un hombre se interese por una mujer s610 si ella es guapa. 11. Realmente entiendo por qué es necesario que exista el movimiento de liberación de la mujer. 14. Los hombres son tan fácilmente influenciables por 10s demás como las mujeres. (-)16. Los hombres siempre serán el sexo dominante. 17. No me gusta que 10s hombres traten a las mujeres como objetos sexuales. (-)18. Creo que cuando una pareja toma una decisión el marido debería tener la última palabra. 19. Las mujeres deberian tener exactamente 10s mismos derechos que 10s hombres. 20. No Veo nada mal0 en una mujer a la que no le gusta llevar faldas o vestidos. 22. Las mujeres deberian estar preparadas para oponerse a 10s hombres con la finalidad de obtener el mismo estatus. 26. Si en una pareja ambos trabajan a tiempo completo, el marido deberia hacer la mitad del trabajo doméstico. 27. Me gustan las mujeres francas, sinceras. 31. Cuando toman una decisión, las mujeres pueden soportar la presión igual que 10s hombres. 34. Creo que muchos anuncios de TV presentan una imagen degradante de las mujeres. 35. Creo que una mujer puede hacer la mayoría de cosas tan bien como un hombre. 37. Creo que las mujeres tienen derecho a enfadarse cuando se las llama <<tipas>>. 40. Si pudiera elegir, me daria exactamente igual trabajar para una mujer que para un hombre. Factor 3. Aceptación del estereotipo femenino tradicional. (-) 3. Nuestra sociedad pone demasiado énfasis (da demasiada importancia) en la belleza (física), especialmente en el caso de las mujeres. 8. Creo que tener hijos es el mayor logro para una mujer. 10. Creo que las mujeres deberian dedicar una gran cantidad de tiempo a intentar estar guapas. 15. Creo que las mujeres deberían preocuparse más por su apariencia que 10s hombres. 21. Las mujeres deberían ser tratadas suavemente por 10s hombres porque son muy delicadas. Factor 4 . Aceptación del trato a las mujeres como si fueran objetos sexuales. 28. No Veo nada mal0 en que 10s hombres echen piropos a las mujeres bien parecidas. 39. No me parece mal que haya hombres que se interesen principalmente por el cuerpo de la mujer. Factor 5 . Desprecio del cccalzonazoss. 7. Me molesta ver a un hombre al que una mujer le dice 10 que tiene que hacer. [tems de la escala HPB. a) Un hombre tiene derecho a decidir si su esposdpareja puede o no trabajar fuera de casa. b) Un hombre tiene derecho a decidir si su esposa/pareja puede o no salir por la noche con sus amistades. c) A veces es importante para un hombre demostrar a su esposdpareja que 61 es el cabeza de farnilia. d) Un hombre tiene derecho a tener relaciones sexuales con su esposdpareja cuando 61 quiera, aunque ella no quiera. Anuario de Psicologia, vol. 34, nQ2, junio 2003, pp. 215-233 O 2003, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia VICIO EM TRABALHO Natanael B. P. Moraes Introdução Deus espera que os Seus obreiros estejam sempre prontos a servir: “O sistema de oito horas não encontra lugar no programa do ministro de Deus. Ele deve-se manter de prontidão a qualquer hora. Deve conservar sua vida e energia; pois se é apático e indolente, não pode exercer uma influência salvadora. Se ocupa uma posição de responsabilidade, deve estar preparado para assistir a reuniões de comissão e concílios, passando horas num trabalho cansativo para o cérebro e os nervos, fazendo planos para o avançamento da causa. Essa espécie de trabalho é um pesado encargo para a mente e o corpo. {OE 451.1} O ministro que tem uma devida apreciação do serviço, considera-se como servo de Deus pronto a atender a qualquer momento. Quando, com Isaías, ouve a voz do Senhor, dizendo: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” ele responde: “Eis-me aqui, envia-me a mim.” Isaías 6:8. Não pode dizer: Eu me pertenço; farei o que me aprouver com o meu tempo. Ninguém que consagrou a vida à obra de Deus como Seu ministro, vive para si próprio. Sua obra é seguir a Cristo, ser um agente voluntário e um coobreiro do Mestre, recebendo dia a dia Seu Espírito, e agindo como o Salvador fazia, sem vacilar nem ficar desanimado. É escolhido de Deus como fiel instrumento para promover a obra missionária em todas as terras, e cumprelhe ponderar bem a vereda que trilha”.1 Embora Deus espere que Seus obreiros estejam prontos a servir a qualquer momento, Ele não deseja que Seus servos vivam estressados: “Existe por todos os lados intemperança no comer e no beber, intemperança no trabalho, intemperança em quase todas as coisas. Aqueles que fazem grandes esforços para realizar determinada quantidade de trabalho em dado espaço de tempo, e continuam a trabalhar quando seu discernimento lhes diz que deveriam repousar, jamais lucrarão. Eles estão vivendo com capital emprestado. Estão gastando as forças vitais de que irão necessitar no futuro. E, quando a energia que eles têm tão imprudentemente usado é requerida, fracassam por falta dela. Foi-se a força física, as faculdades mentais falham. Percebem que se depararam com uma perda, mas não sabem qual. Seu tempo de necessidade surgiu, mas seus recursos físicos acham-se exauridos. Todos os que violam as leis da saúde deverão a qualquer tempo tornar-se sofredores em maior ou menor grau. Deus nos proveu da energia indispensável, a qual deve ser utilizada em diferentes períodos de nossa vida. Se 1 Ellen G. White, Obreiros evangélicos, 451. 1 negligentemente esgotarmos essas forças pela contínua sobrecarga, teremos sofrido perdas em algum tempo. Nossa utilidade será diminuída, quando não destruída a nossa própria vida”.2 A. Consideração da atividade contínua pela psicologia Há pessoas que desenvolvem o costume de estarem constantemente em atividade. Trata-se de uma desordem obsessivo-compulsiva que se manifesta através de exigências autoimpostas, é uma incapacidade de controlar hábitos de trabalho e uma indulgência excessiva com trabalho que exclui a maior parte das demais atividades da vida. 3 É uma obsessão mais ampla por organização, perfeccionismo e controle a expensas de flexibilidade, abertura e eficiência.4 O vício em trabalho é um vício tal como o alcoolismo. É progressivo, em natureza, sendo uma tentativa inconsciente de resolver necessidades psicológicas não atendidas, cujas raízes se originam na família e podem conduzir a uma condição de vida incontrolável, a desintegração da família, a sérios problemas de saúde e até mesmo a morte. Semelhante aos alcoólatras, os viciados em trabalho têm padrões de pensamento rígidos que alimentam o seu vício. Devido a sua auto-absorção com trabalho, os viciados em trabalho não percebem os sinais, tais como dores físicas e habilidade reduzida de atuação, que podem ser advertências de sérios problemas de saúde. O vício em trabalho prejudica a saúde física e mental do viciado. O prejuízo é fisiológico e químico em natureza e pode levar à ansiedade, depressão, e, até mesmo ao suicídio... Como em outros vícios, há um ponto onde o viciado atinge tal grau no qual ele não admite que possa ter um problema e não procura o auxílio que ele necessita... O vício em trabalho é tão devastador a ponto de criar problemas de saúde, esfacelar casamentos e envolver outros membros da família nos mesmos problemas de saúde.5 Pesquisas têm indicado que os viciados manifestam diversas consequências negativas que incluem depressão, ansiedade, ira e que por baixo dos hábitos obsessivos de trabalho encontram-se sentimentos de inferioridade, medo de falhar e defesa contra ansiedade não resolvida.6 2 Idem, Conselhos sobre saúde, 99. Bryan E. Robinson, “A Typology of Workaholics With Implications for Counselors”, Journal of Addictions & Offender Counseling (01 de outubro de 2000), pesquisa realizada na internet, no site, http://www.accessmylibrary.com/coms2/summary_0286-28426050_ITM, no dia 14 de maio de 2008. 4 Loren Stein, “Workaholism”, pesquisa realizada na internet, no site http://healthresources.caremark.com/topic/workaholism, no dia 14 de janeiro de 2008. 5 Robinson, “A Typology of Workaholics With Implications for Counselors”, http://www.accessmylibrary.com/coms2/summary_0286-28426050_ITM, 14/5/2008. 6 Ibid. 3 2 O viciado em trabalho pode se tornar um dependente físico da adrenalina que circula em seu corpo – algumas vezes com efeitos danosos. A função da adrenalina é o de dar a ilusão de que você tem uma quantidade considerável de força, resiliência e energia. A pessoa com este problema não tem noção de que está realmente cansada ou esgotada ou que tem sintomas físicos. É comum os viciados em trabalho serem acometidos de ataque cardíaco, ou um colapso que conduz a uma doença catastrófica.7 A vida do viciado em trabalho fica fora de controle. Ele pensa em trabalho constantemente e se não puder trabalhar, entrará em pânico ou ficará deprimido. Ele não concorda em fazer intervalo ou recompensar a si mesmo com férias. Se tirar férias, provavelmente planejará atividades com objetivos bem específicos. Um viciado em trabalho precisa trabalhar. Ele precisa de objetivos que sejam atingidos. Ele se esforça e prossegue à medida que se aproxima do seu alvo, ele começa a planejar outro alvo. Um viciado em trabalho não consegue parar e desfrutar dos resultados do seu trabalho. Os viciados em trabalho se negam a receber colaboração, têm problemas para delegar tarefas e gostam de estarem sempre ativos a fim de poderem ser vistos como pessoas ativas. Enquanto os viciados em trabalho vêem a si mesmos como pessoas que não estão produzindo aquilo que deveria ser produzido, os demais percebem facilmente que eles estão sempre em atividade. 8 A crença subjacente é de que se o viciado em trabalho não estiver sempre em atividade, ele não terá o direito de existir. Como o alcoolismo, é uma doença da alma, uma doença espiritual.9 A estrutura familiar da pessoa viciada em trabalho, ou seja, seu cônjuge, seus filhos, tornam-se uma extensão do ego do viciado, conduzindo, inevitavelmente a família ao conflito. Cônjuges e filhos relatam sentimentos de solidão, carência de amor, isolamento e abandono físico e emocional.10 Sintomas vividos por viciados em trabalho: a) Preocupação com trabalho Geralmente os viciados em trabalho “levam” o escritório para casa e para outros convívios sociais, por isto não conseguem se desligar do trabalho. Alguns viciados em trabalho passam longas horas em atividade a tal ponto que eles deixam de se relacionarem com sua família e de se socializarem com outras pessoas. 7 Stein, “Workaholism”, http://healthresources.caremark.com/topic/workaholism, 14/1/2008. Ibid. 9 Ibid. 10 Robinson, “A Typology of Workaholics With Implications for Counselors”, http://www.accessmylibrary.com/coms2/summary_0286-28426050_ITM, 14/5/2008. 8 3 Viciados em trabalho não se sentem confortáveis quando por motivo de doença precisam deixar de trabalhar ou quando têm que tirar férias. O pensamento de tirar férias e não poder trabalhar é semelhante ao do alcoólatra que é privado de sua garrafa de bebida. 11 b) Dificuldade em delegar Muitos viciados em trabalho não se sentem bem em delegar por causa da sua necessidade de controlar. Os viciados em trabalho justificam o tempo que eles gastam trabalhando a fim de convencerem a si mesmos de que somente eles podem realizar as tarefas que eles deveriam delegar. A delegação de projetos ou tarefas iria demonstrar que outras pessoas são capazes de completá-los, o que, de certa maneira, ameaçaria o seu senso de controle. 12 c) Negligência de outros aspectos da vida Frequentemente, os viciados em trabalho colocam o trabalho a frente de seus familiares e até mesmo de sua vida pessoal. Muitos pacientes lamentam o não terem assistido aos eventos que eles perderam ou as coisas que eles deixarem de fazer por causa de sua obsessão pelo trabalho. 13 d) Sinais físicos e de comportamento Os sinais físicos do viciado em trabalho incluem dor de cabeça, fadiga, indigestão, dor no peito, dificuldades para respirar, tiques nervosos, tontura. Os sinais de comportamento incluem explosão de nervos, inquietação, insônia, dificuldade para relaxar, irritação, impaciência, esquecimento, dificuldade para se concentrar, aborrecimento, alteração de temperamento da euforia para a depressão.14 O vício em trabalho pode destruir casamentos, e em casos extremos, ele pode ser mortal – algumas vezes, as pessoas vêm a morrer se elas não obtiverem auxílio para o problema subjacente.15 11 Dana Mattioli, “Five Signals That You May Be a Workaholic”, The Wall Street Journal – Executive Career Site, pesquisa realizada na internet, no site http://www.careerjournal.com/myc/killers/20070109-mattioli.html, no dia 15 de janeiro de 2008. 12 Ibid. 13 Ibid. 14 Scott Reeves, “Do workaholics have an obsessive-compulsive disorder?”, pesquisa realizada na internet, no site http://www.msnbc.msn.com/id/10099138/, no dia 16 de janeiro de 2008. 15 Ibid. 4 Conviver com um viciado em trabalho é como falar com um zumbi. Não existe nenhum tipo de troca e nenhum tipo de apoio mútuo que dê um alento de vida para o relacionamento de modo a manter um casamento intacto. Há pouco interesse em intimidade – e com freqüência “não” há tempo para isto. A taxa de divórcio entre viciados em trabalho é 40% mais alto do que no restante da população. 16 Superando o hábito da atividade incessante Para os viciados em trabalho com déficit de atenção é preciso utilizar uma medicação específica a fim de reduzir seu “apetite” por crises e grau de estimulação elevada. Caso se comprove que não é necessário o uso de medicação, o terapeuta poderá empregar técnicas tradicionais de redução de estresse. Devem levar os clientes a perceberem que é aceitável, periodicamente, condescenderem com eles próprios, separando um tempo para tomarem um bom banho morno, relaxar numa varanda, ou ouvir música à meia-luz. Eles devem ter a cooperação do corpo e da mente a fim de obterem os plenos benefícios deste tempo especial. Os conselheiros podem encorajar os seus clientes a bloquearem todos os seus pensamentos relacionados com trabalho que procuram entrar em suas mentes e ensinar-lhes técnicas de interrupção de pensamento que tornem mais fácil. Eles devem ser orientados que podem se sentir aborrecidos ou incomodados pela primeira vez que eles tentam fazer isto, mas não devem desanimar. A única maneira de se ver livre da adrenalina é através dela. Quando a pessoa estiver impaciente, os conselheiros devem recomendar-lhe exercícios vigorosos, empregar técnicas de respiração profunda, ou meditação e a manter um estado de humor tranquilo a qualquer custo até que a ansiedade diminua.17 Para aqueles que são quimicamente dependentes, a abstinência é fundamental e implica em sobriedade. Mas para o viciado em trabalho, a maioria dos quais precisa trabalhar, é preciso aprender a trabalhar com moderação – abstendo-se da tendência de trabalhar compulsivamente e a libertar-se do pensamento negativo. Para alguns viciados em trabalho, um plano efetivo de trabalho moderado deverá incluir atividades específicas e comprometimento com períodos de tempo determinados. Para outros, será uma ampla estrutura que ofereça o máximo de flexibilidade, juntamente com equilíbrio em outras áreas da vida – familiar, social, pessoal, espiritual.18 Podem auxiliar seus clientes a desenvolver um plano de cuidado pessoal adaptado as suas necessidades pessoais, estilo de vida e preferências. O plano poderia incluir atividades 16 Ibid. Robinson, “A Typology of Workaholics With Implications for Counselors”, http://www.accessmylibrary.com/coms2/summary_0286-28426050_ITM, 14/5/2008. 18 Ibid. 17 5 sociais, lazer, hobbies e familiares, como também pessoais e espirituais. O plano incluiria horas regulares de trabalho. Este plano deveria ser colocado no papel e definiria atividades para uma semana de modo a que eles pudessem ver como gastam o seu tempo e quanto tempo de sua vida é dedicado em demasia para uma atividade. Os conselheiros poderiam auxiliar seus clientes a reduzirem seus padrões perfeccionistas de trabalho para objetivos mais facilmente alcançáveis e a delegarem trabalho para outras pessoas, tanto no escritório quanto na casa. 19 Passos a serem dados no desenvolvimento de um plano de cuidado pessoal: Para começar um plano de cuidado pessoal, os conselheiros devem conduzir os clientes a pensar em suas vidas como um círculo composto de quatro partes, como descrito abaixo, e então levá-los a completar os quatro passos seguintes. Eu: atender as necessidades pessoais como descanso, exercício físico, relaxamento, auto-estima, espiritualidade, nutrição, e tempo livre para meditar e pensar. Família: investir tempo e desenvolver relacionamentos com as pessoas amadas e que são consideradas seus familiares. A família envolve o cônjuge, incluindo cônjuge e filhos; pode incluir pessoas não casadas do mesmo sexo ou sexo oposto, ou adultos que residem com pessoas mais velhas ou irmãos. A família é o principal sistema de apoio do cliente. Recreação: diversão, hobbies, lazer, relacionamentos sociais e amizades. Trabalho: ser efetivo e produtivo no trabalho, desfrutar satisfação naquilo que faz, trabalhar moderadamente e dar um tempo semelhante para outras áreas da vida pessoal. 1. O cliente fornece a percentagem de tempo ATUAL. Como o cliente está vivendo? Ele indica a porcentagem de tempo que ele ou ela ATUALMENTE dedica a cada uma das quatro áreas. O total deve chegar a 100%. EU – FAMÍLIA – RECREAÇÃO – TRABALHO – Total 100% 19 Ibid. 6 2. A porcentagem DESEJADA pelo cliente. Como o cliente gostaria de desfrutar sua vida? O cliente indica o percentual desejado que ele ou ela desejaria dedicar a cada uma das quatro áreas de modo a ter uma vida mais equilibrada. EU – FAMÍLIA – RECREAÇÃO – TRABALHO – Total 100% 3. O cliente coloca os quatro percentuais de ATUAL e DESEJADA nos espaços abaixo. O cliente subtrai a porcentagem ATUAL da DESEJADA a fim de obter o RESTANTE, que é o montante de mudança que ele ou ela necessita fazer em cada área a fim de alcançar o equilíbrio em sua vida. O maior valor alcançado merece mais atenção. O menor valor alcançado significa que a área precisa menos atenção. EU FAMÍLIA RECREAÇÃO TRABALHO DESEJADA ATUAL RESTANTE 4. Com base nos quatro RESTANTES, o cliente escolhe três o quatro atividades ou objetivos para cada área que ele ou ela poderia estabelecer para fazer as mudanças necessárias para alcançar maior equilíbrio em sua vida. O cliente coloca estes objetivos e atividades no espaço abaixo. A colocação em prática dos mesmos torna-se a base para o plano de cuidado pessoal. Depois de o cliente aplicar o plano por uma semana, revise com ele ou com ela e motive-o a decidir o que ele ou ela deseja manter ou acrescentar, ou cancelar. EU – FAMÍLIA – RECREAÇÃO – 7 TRABALHO –20 C.2. Avaliação da atividade incessante pelo Espírito de Profecia Os cristãos não estão livres do vicio em trabalho. Quem o tem só pára a fim de ir à igreja para assistir aos cultos ou quando está dormindo. Parece ser um hábito da cultura européia. Em si mesmo é louvável, pois enaltece o valor do trabalho como uma bênção divina; por outro lado, quando levado às ultimas consequências, pode se tornar uma fonte de estresse, inclusive enfermidade mais graves. Ellen White tem um conselho inspirado que serve de orientação, para reverter a atividade incessante: “Insisto com você [S. N. Haskell] para que não trabalhe acima daquilo que é capaz de fazer. Devia ter menos trabalho constante e árduo, a fim de que possa manterse em condição repousada. Deve haver uma sesta durante o dia. Poderá então pensar de pronto, e seus pensamentos serão mais claros e suas palavras mais convincentes. E não deixe de pôr de lado todo o seu ser em ligação com Deus. Aceite o Espírito Santo para sua iluminação espiritual, e sob sua guia prossiga em conhecer o Senhor. Vá para onde o Senhor o dirigir, fazendo o que Ele ordenar. Espere no Senhor e Ele lhe renovará as forças. Mas não se requer do irmão ou de mim estarmos num esforço contínuo. Devemos render continuamente o que Ele de nós requer, e Ele nos mostrará o Seu concerto”. 21 A orientação acima indica que é preciso uma mudança radical de hábito. Primeiro interrompendo o trabalho continuo; em segundo lugar, fazer uma breve sesta, que alem de proporcionar descanso, confere um funcionamento do cérebro mais aguçado. O principal motivo para evitar uma atividade constante é o de obter mais tempo para a comunhão com Deus. Na verdade, essa deve ser a prioridade número um do cristão: “Far-nos-ia bem passar diariamente uma hora a refletir sobre a vida de Jesus. Deveremos tomá-la ponto por ponto, e deixar que a imaginação se apodere de cada cena, especialmente as finais. Ao meditar assim em Seu grande sacrifício por nós, nossa confiança nEle será mais constante, nosso amor vivificado, e seremos mais profundamente imbuídos de Seu espírito. Se queremos ser salvos afinal, teremos de aprender ao pé da cruz a lição de arrependimento e humilhação”. 22 Por que será que algumas pessoas têm o hábito de estarem sempre ocupados? Caso não o façam parece que estão a cometer um pecado imperdoável. Trata-se de uma inversão de prioridades, onde o maior engano está em não dedicar a Deus o tempo que Ele merece por 20 Ibid. White, Conselhos aos idosos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003), 125. 22 Idem, O desejado de todas as nações, em 1CD-Rom. 21 8 direito inalienável. Parece uma síndrome de Marta, sempre atarefada, enquanto a atitude correta encontra-se em Maria, que ficou aos pés de Jesus para dEle apreender-Lhe os ensinos (Lc 10:38-42). Este hábito de estar sempre fazendo algo não poderia ser classificado como transgressão do primeiro e segundo mandamentos? Sim, não seria colocar o trabalho acima de Deus, tornando-o uma espécie de ídolo? Como se pôde perceber por uma das citações acima, não é pecado interromper a labuta diária, especialmente quando se está sobrecarregado e tirar um tempo para descansar. Sobretudo, o mais importante é separar tempo para comungar com Deus e obter uma renovação das forças físicas, mentais e espirituais. Levado às últimas consequências, o costume de trabalhar incessantemente, sem tempo para a comunhão diária com Deus poderia ser classificada como uma iniciativa humana de justificação pelas obras. Seria mais ou menos assim, “Não posso ser indolente. Tenho que trabalhar bastante, na verdade todo o tempo, para agradar a Deus e receber as Suas bênçãos”. A única solução possível, caso seja esta a motivação para uma atividade incessante, é a de compreender e viver na prática a justificação pela fé. Sim, porque devido a nossa natureza intrinsecamente pecaminosa (Rm 3:23), é-nos impossível fazer algo que mereça o favor divino (Rm 4:1-7). O único recurso é o de aceitar a graça imerecida de Deus: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9 ARA). Pode haver outro motivo que explique o porquê algumas pessoas não cessem de trabalhar. É o que veremos a seguir. C.3. O costume de estar sempre ocupado pode ser uma tentativa de ganhar ou poupar dinheiro. “Dá-se frequentemente que os idosos não estão dispostos a compreender e reconhecer que sua força mental está falhando. Abreviam os próprios dias com o tomarem sobre si cuidados que pertencem a seus filhos. Satanás joga muitas vezes com a imaginação deles, e leva-os a sentirem continua ansiedade com relação aos bens que possuem. Isto é seu ídolo, e amontoam com avareza. Privam-se muitas vezes dos confortos da vida, e trabalham além de suas forças, de preferência a usar os meios que tem. Colocam-se assim em constante carência, por temor de que, em algum tempo futuro, venham a sofrer falta. Todos estes temores são originados por Satanás. Ele estimula os órgãos que levam aos temores servis e aos ciúmes que corrompem a nobreza do intelecto e destroem os pensamentos e sentimentos elevados. Essas pessoas são insensatas no que respeita ao 9 dinheiro. Caso tomassem a atitude que Deus deseja que mantenham seus últimos dias seriam os melhores e mais felizes. Os que têm filhos em cuja honestidade e cuidadoso governo têm motivos para confiar, devem permitir que eles os tornem felizes. A menos que façam isto, Satanás se aproveitará de sua falta de resistência mental, e manejará com eles. Devem por de lado a ansiedade e as preocupações, ocupar o tempo da maneira mais satisfatória possível, e amadurecerem para o Céu”. 23 É possível que o objetivo de ganhar ou poupar dinheiro se constitua num dos motivos de se trabalhar incessantemente. A citação acima revela que esta pode ser uma atitude instigada por Satanás para provocar desgaste mental, pior ainda, para encurtar desnecessariamente a vida do idoso. Quão bom seria que os pais idosos atendessem aos conselhos dos filhos que procuram com amor prolongar os seus dias na terra, abstendo-se de atividades incessantes que estão a minar suas energias físicas, mentais e espirituais. Tomemos o seguinte trecho: “Privam-se muitas vezes dos confortos da vida, e trabalham além de suas forças, de preferência a usar os meios que tem”. Alguns idosos, já na casa dos setenta ou oitenta anos, resistem à ideia de colocar alguém para trabalhar em suas casas, ainda que tenham recursos financeiros para fazê-lo. Seria muito bom que atendessem ao conselho inspirado e deixassem de se suicidarem com excesso de trabalho inteiramente desnecessário. O tempo livre poderia ser dedicado ao estudo da Palavra de Deus, a pesquisa do Espírito de Profecia, a visitação dos filhos, netos e demais familiares. Afinal pessoas são mais importantes do que coisas ou trabalho. Queridos idosos que estão a ler este artigo, por favor, ponderem cuidadosamente os conselhos inspirados de Ellen White e decidam por ter um restante de tempo de vida com qualidade, sobretudo com saúde plena. C.4. Uma receita simples e prática do Espírito de Profecia para uma boa manutenção da saúde dos idosos e demais pessoas Parte-se do pressuposto de que os oito remédios naturais colocados a nossa disposição constituem-se nos melhores preventivos para a manutenção da boa saúde: “Ar puro, luz solar, abstinência, repouso, exercício, regime conveniente, uso de água e confiança no poder divino - eis os verdadeiros remédios”.24 23 24 Idem, Conselhos aos idosos, 79-80. Idem, ciência do bom viver, 127, em 1CD-Rom. 10 A colocação em pratica destes princípios requer boa vontade e empenho pessoal: “O uso dos remédios naturais requer certo cuidado e esforço que muitos não estão dispostos a exercer. O processo da natureza para curar e construir é gradual, e isso parece vagaroso ao impaciente. Demanda sacrifício e abandono das nocivas condescendências. Mas no fim se verificará que a natureza, não sendo estorvada, faz seu trabalho sabiamente e bem. Aqueles que perseveram na obediência a suas leis, ganharão em saúde de corpo e de alma”. 25 Dever ser muito difícil para os idosos empreenderem uma sequência de mudança de hábitos, contudo é isto que Deus deseja que eles façam. Aliás, alguns não acreditam que pessoas com idade avançada não mudem seus hábitos nocivos arraigados. Particularmente, acredito que uma vez que mostremos com amor e respeito as mudanças a serem empreendidas, os idosos irão atender e por em prática, sobretudo porque acreditamos no poder renovador e capacitador do Espírito Santo. Assim, com submissão e entrega a Deus, boa vontade e determinação, os idosos podem colocar em prática estes bons hábitos de vida: a) Confiança no poder divino. Isto é tanto uma atitude mental quanto um hábito a ser desenvolvido. A atitude é um confiar constante e pleno no cuidado de Deus, já o hábito requer a prática de uma comunhão pessoal e diária com Deus através do estudo da Bíblia, ou seja, entender e viver a justificação pela fé na rotina diária. b) Por sua vez, o ar puro e a luz solar requerem um ambiente saudável, junto à natureza, sem poluição ambiental. Sabe-se que a recepção da luz solar proporciona a obtenção da vitamina D, tão necessária para a fixação do cálcio nos idosos, evitando desta maneira a osteoporose. c) A abstinência é o “não” da temperança e do equilíbrio que promove o bem. De acordo com o conselho inspirado, “Temperança no comer, no beber, no dormir e vestir é um dos grandes princípios da vida religiosa”.26 Não a qualquer tipo de ação viciosa, não aos excessos, tais como o trabalho incessante ou até mesmo exercícios em demasia. d) Repouso. Mais uma vez, segundo a inspiração, “Trabalhar demais é destrutivo para as faculdades físicas, mentais, e morais. Se forem concedidos ao cérebro períodos apropriados de repouso, os pensamentos serão claros e incisivos, e os trabalhos serão feitos com 25 26 Ibid. Idem, Conselhos sobre o regime alimentar, 157, em 1CD-Rom. 11 rapidez”.27 Como visto acima, a carência de sono pode ser uma das causas da perda de clareza mental e lentidão na execução das tarefas cotidianas. Necessita-se de repouso, diário através do sono no horário correto, ou seja, entre 22 e 6 horas da manhã, preferencialmente; Semanal, no sábado, dia do Senhor, com assistência à escola sabatina e ao culto divino, alem da participação em atividade missionária conveniente; anual, no período normal de férias. Como visto acima, no caso de excesso de trabalho, é apropriado que se tire uma sesta restauradora das energias físicas e mentais. Mesmo os aposentados deveriam ter um tempo no ano para descanso, fora da rotina normal. e) Exercício. Conforme Ellen White, o melhor exercício é o caminhar, pois “movimenta mais músculos. Os pulmões são forçados a uma ação benéfica, uma vez que é impossível andar em passo rápido sem os dilatar”. 28 A seguir, apresenta-se uma citação do Espírito de Profecia que interliga a prática de exercício com repouso como solução para o excesso de trabalho: “Os devidos períodos de sono e repouso, e abundância de exercício corporal, são essenciais à saúde física assim como à mental. Roubar à natureza suas horas de repouso e restauração, por permitir-se a um homem fazer o trabalho de quatro, ou de três, ou mesmo de dois, dará em resultado perda irreparável”.29 Quão seria é a necessidade de sermos equilibrados na execução do trabalho. Intemperança implica em perda irreparável. f) Regime conveniente. No livro Conselhos sobre o regime alimentar, Ellen White menciona o regime alimentar ideal: “Cereais, frutas, nozes e verduras constituem o regime dietético escolhido por nosso Criador”.30 A seguir, apresenta-se uma citação relevante que interliga três dos remédios naturais já mencionados acima: “Estudo diligente não é a principal causa da debilitação das faculdades mentais. A causa principal é o regime dietético inadequado, refeições irregulares, falta de exercício físico. Comer e dormir em horas irregulares minam as forças cerebrais”. 31 Portanto, a debilitação das faculdades mentais (em Ellen White, as faculdades mentais aparecem em oposição às faculdades físicas,32 ou seja, por faculdades mentais devem-se 27 Idem, Testemunhos seletos, 3:196, em 1CD-Rom. Idem, Conselhos aos idosos, 133. 29 Idem, Obreiros evangélicos, 423, em 1CD-Rom. 30 Idem, Conselhos sobre o regime alimentar, 81, em 1CD-Rom. 31 Ibid., 123. 32 Idem, Conselhos aos pais, professores e estudantes, 64, em 1CD-Rom. 28 12 entender as habilidades de raciocinar, sentir e decidir) está diretamente ligada à irregularidade na alimentação, à prática de exercício físico e ao repouso. g) Uso de água. O Espírito de Profecia recomenda o uso de “água branda para beber e banhar-se”,33 que resultará numa existência feliz. Assim, a preservação da saúde está ligada à regularidade na prática dos remédios naturais concedidos por Deus. D. Conclusão Para a psicologia, o vicio em trabalho é uma desordem obsessivo-compulsiva. Trata-se de uma tentativa inconsciente de resolver necessidades psicológicas não atendidas, cujas raízes se originam na família. Na raiz dos hábitos obsessivos de trabalho, encontram-se sentimentos de inferioridade, medo de falhar e defesa contra ansiedade não resolvida. A crença subjacente é de que se o viciado em trabalho não estiver sempre em atividade, ele não terá o direito de existir. Assim como o alcoolismo, é uma doença da alma, uma doença espiritual. Os sintomas indicativos são: preocupação dominante com trabalho; dificuldade em delegar; negligencia de aspectos relevantes da vida como tempo para a família, inclusive sua vida pessoal; fadiga, explosão de nervos, inquietação, insônia, dificuldade para relaxar, irritação, impaciência, esquecimento, dificuldade para se concentrar, aborrecimento. Entre as conseqüências psicológicas do vicio em trabalho encontram-se: ansiedade, depressão, ira, insatisfação, desestruturação familiar (cônjuges e filhos reclamam de sentimentos de solidão, carência de amor, isolamento e abandono físico e emocional); entre as conseqüências físicas estão ataques cardíacos, colapso que conduz a uma doença catastrófica, inclusive suicídio. O vicio em trabalho também afeta a vida espiritual, sendo que o principal prejuízo é o impedimento de uma comunhão adequada com Deus. É uma violação do primeiro e segundo mandamentos, pois o trabalho é colocado acima de Deus como uma espécie de ídolo. Alem do mais, este costume de atividade incessante pode ser uma tentativa humana de justificação pelas obras. Aquele que procura agradar a Deus através de um trabalho contínuo, até mesmo na obra da pregação do Evangelho, deveria aprender a descansar no Seu amor, graça e justiça. Entre os possíveis motivos que levam uma pessoa a trabalhar incessantemente está o de ganhar ou poupar dinheiro. Segundo Ellen White, esta pode ser uma atitude instigada por 33 Idem, Mensagens escolhidas, 1:456, em 1CD-Rom. 13 Satanás que provoca desgaste mental e encurta a vida do idoso, sendo, na verdade, um suicídio programado. Seguramente, o colocar em prática os oito remédios naturais, sugeridos pelo Espírito de Profecia, contribuirá grandemente para a restauração da saúde física, mental e espiritual de qualquer pessoa: ar puro, luz solar, abstinência, repouso, exercício, regime conveniente, uso de água e confiança no poder divino. Receita de um correto estilo de vida para um dia: Antes de elaborar a agenda diária, é preciso estabelecer as prioridades pelas quais o tempo será distribuído: EU FAMÍLIA RECREAÇÃO TRABALHO Depois, é só fazer a agenda propriamente dita. 1. Uma hora de comunhão com Deus (estudo da Bíblia). 2. Desjejum com frutas e cereais integrais. 3. Atividades normais do dia (após duas horas da refeição iniciar o consumo de água pura). 4. Almoço conforme o regime dietético orientado por Deus (beber água pura até uma hora antes da refeição). 5. Caso seja necessário, devido ao volume de trabalho, uma breve sesta. 6. Atividades normais do dia. 7. Uma hora de exercício ao ar livre (pode ser pela manhã, se assim o preferir). 8. Jantar com frutas e cereais integrais 9. Momentos de lazer, leitura, assistir TV, etc. 14 10. Repouso – 22 hs Esta é uma apostila preparada pelo professor Natanael Moraes. Se desejar, pode imprimir para uso pessoal. Por favor, respeite os direitos autorais do professor e não repasse a outros. 15