Apontamento No. 58 MERCADO MONETÁRIO

Transcrição

Apontamento No. 58 MERCADO MONETÁRIO
Apontamento No. 58
MERCADO MONETÁRIO: NOÇÕES BÁSICAS
Mercados monetários. Contagens de dias e anos. Taxas de juro e desconto.
Deescrição breve
O mercado monetário é o conjunto dos mercados financeiros onde é contratada a cedência
temporária de poupanças para suprir deficiências transitórias de tesouraria de empresas e
administrações públicas. As aplicações e tomadas de fundos no mercado monetário são duma
forma geral créditos sem garantia ou recurso a penhor, hoje chamados instrumentos
monetários. Os instrumentos monetários são definidos principalmente pela denominação
cambial dos fundos e pelo prazo curto abaixo de um ano da dívida. Alguns são emitidos com
um desconto sobre o valor nominal enquanto os outros são instrumentos cujo pagamento final
inclui a restituição do capital inicial e o pagamento explícito do juro acordado pelas partes.
Os valores e títulos transaccionados nos mercados monetários em todo o Mundo são
semelhantes na forma jurídica e nos montantes típicos dum mercado grossista. A variável de
decisão central nestas transacções do mercado monetário é o juro que os credores desejam
sempre mais alto e que os devedores desejam sempre mais baixo. Este apontamento apresenta
os conceitos, e as práticas seguidas no mercado monetário para calcular os juros devidos ou
implícitos nos instrumentos monetários.
MERCADOS MONETÁRIOS
O mercado monetário é a maior componente do sistema financeiro da generalidade dos
países do Mundo. É o mercado do dinheiro que as famílias e algumas empresas aplicam em
depósitos e os bancos agregam e depois aplicam em dívida destinada a resolver desencontros
temporários de tesouraria de outros bancos, de outras empresas, e das administrações centrais
ou entidades supranacionais como o Banco Mundial ou o Banco Europeu de Investimentos.
É o mercado dos capitais de curto prazo em geral abaixo de um ano que se caracterizam pela
mais alta liquidez, pelo mais baixo risco de incumprimento, e pelos montantes elevados
típicos dos mercados grossistas. É o dinheiro que em última instância vem das folgas das
famílias abastadas e das remediadas, e que se vai para os grandes apertos das empresas e da
administração pública.
Walter BAGEHOT (1826-1877), o jornalista e financeiro inglês que foi um dos primeiros
editores da revista The Economist, e o Autor do clássico Lombard Street, descrevia em 1873
o mercado monetário como “o mercado do dinheiro dos banqueiros”, o dinheiro que se
[2]
emprestava sem garantia e se depositava sem pré-aviso.1 É hoje ainda o mercado de quem
procura quantias grandes com alguma urgência, e de quem se dispõe a oferecê-las na
iminência de as querer logo de volta. Não é dinheiro para investimento.
O mercado monetário não tem um local central, físico ou eletrónico, onde se juntam todos os
participantes para realizar as suas transacções. Está disperso pelos milhares de intermediários
que há em todo o Mundo aonde acorrem os milhões de participantes que comunicam entre si
cada vez meno pelo telefone e cada vez mais através da internet, ou das plataformas
electrónicas dos bancos e das plataformas multi-bancárias das corretoras. Quem tem um
excesso temporário de fundos busca no mercado monetário uma retribuição mais alta. Quem
tem um défice temporário de tesouraria busca no mercado monetário um custo mais baixo
para se financiar. O mercado monetário funciona a partir da retribuição prometida a quem
tem uma poupança que procura aplicar, e do crédito que merece quem pede dinheiro
emprestado. No mercado monetário, aplicam-se fundos e tomam-se fundos, sob a s formas
jurídicas mais diversas. Aplicamos dinheiro num banco através dum depósitos. Tomamos
dinheiro junto dum banco através de empréstimos. Aplicamos dinheiro numa empresa ou
numa administração central através de valores que se diz serem sua emissão.
O mercado monetário é o mercado onde as promessas de pagamento são negociadas em geral
com base no juro acordado para prazos até um ano. Os instrumentos do mercado monetário
distinguem-se por isso em dois grandes tipos: os que são emitidos ao valor do par, e aqueles
cuja prestação final única se faz ao valor do par porque foram emitidos a um preço inferior
que inclui um desconto. Os depósitos e os empréstimos bancários, e os certificados de
depósito, são instrumentos geralmente emitidos ao valor do par. Os Bilhetes do Tesouro, o
papel comercial das empresas, ou as letras, são instrumentos geralmente emitidos abaixo do
par. Por isso, enquanto o juro é pago explicitamente no primeiro grupo de instrumentos
monetários, no caso dos instrumentos emitidos a um preço abaixo do par o juro é pago
implicitamente através do desconto que é calculado como a diferença entre o valor nominal e
o preço a que foi emitido. As diferenças na definição formal (leia-se: jurídica) dos
instrumentos monetários são importantes no cálculo da variável central duma dívida: a
remuneração ou custo dos fundos cedidos temporariamente.
O custo duma tomada de fundos espelha a remuneração da sua aplicação. O custo dos fundos
para quem pediu emprestado deve ser por isso igual à remuneração de quem emprestou.
Custos e remunerações são em geral representados em termos de uma proporção dos fundos
cedidos. Esta proporção é a chamada taxa de juro. O juro duma dívida depende por isso do
montante dos fundos cedidos, do prazo por que são cedidos, e do calendário a que obedece a
1
Cf. Walter BAGEHOT. Lombard Street: A Description of the Money Market (London [New York, New
York]: 1873 [1999]) John Wiley & Sons, Inc.
[3]
sua restituição e retribuição. O prazo de cedência dos fundos é o que tem início na data em
que os fundos são disponibilizados e quando o juro começa a vencer ou correr, e a data em
que a dívida se extingue e deixa por isso de merecer retribuição. Para calcular o juro devido,
é preciso determinar a proporção de um ano que representa o período de formação do juro
acordado porque a taxa de juro é em geral apresentada como uma taxa de base anual. Não é
demais recordar que estas práticas de contagem de dias são as mais diversas em todo o
Mundo e ainda as mesmas que eram usadas nos tempos em que não havia calculadoras.
CONTAGENS DE DIAS E ANOS
O montante do juro dum instrumento monetário depende do valor nominal da dívida e da taxa
que lhe está associada. Como a taxa tem geralmente uma base anual, o prazo curto da dívida
é representado como uma proporção de um ano. No caso de instrumentos monetários, o prazo
da dívida coincide em geral com o período de formação do juro. O período de formação do
juro tem início na data de desembolso dos fundos e termina na data do vencimento do
empréstimo. A proporção que representa o prazo é uma razão: o numerador é o número de
dias do período de formação do juro, o denominador é o número de dias representativo de um
ano. Há pois que saber como se faz a contagem do número de dias do prazo, e qual é a
convenção ou base usada para representar um ano.
Nos tempos da história em que os cabedais se movimentavam com mais dificuldade do que
hoje, as dívidas eram denominadas na moeda local. As convenções e práticas, comerciais e
bancárias, locais eram por isso determinantes no cálculo do juro. À medida que as barreiras à
circulação livre do dinheiro se levantaram, as dívidas deixaram de estar denominadas só em
moeda local. Mas as convenções e práticas associadas às moedas em que as dívidas estão
denominadas prevaleceram quiçá por paroquialismo exagerado ou preguiça em mudar.
Assim, numa praça financeira nos dias de hoje, há quase tantas convenções e práticas de
cálculo de juros quantas as moedas em que o dinheiro se pode transaccionar. Importa pois
conhecê-las para poder calcular a proporção que representa o prazo, e com isso o juro.
A prática mais comum de contagem dos dias do período de formação do juro é a contagem do
número efectivo de dias do prazo: contam-se tão-só os dias do calendário. Além desta, há
ainda a prática Brasileira de contar o número de dias úteis do prazo, e a prática Suíça de
contar o número de dias dum prazo com meses completos de 30 dias. O mercado monetário
Brasileiro foi pioneiro na América do Sul no uso dos dias úteis sobretudo quando as taxas de
juro acompanhavam as taxas da hiperinflação. O mercado monetário da Suíça é o único entre
os das economias avançadas no uso deste pressuposto que os meses completos dum prazo
têm todos 30 dias.
[4]
Exemplo 1
Calcule o número efectivo de dias do prazo de 6 Meses a iniciar no dia 19 de Março.
Solução. O prazo de 6 Meses a partir dum qualquer dia 19 de Março termina no dia 19 do
sexto mês seguinte: Setembro. O número efectivo de dias deste prazo calcula-se somando os
dias que restam do mês de Março, mais o total de cada um dos meses intercalares, e mais os
19 dias do mês de Setembro.
Número efectivo de dias = (31 – 19) + 30 + 31 + 30 + 31 + 31 + 19 = 184 dias. /
A contagem do número efectivo de dias entre duas datas pode também ser feita através duma
folha de cálculo. O cálculo feito através duma folha de cálculo MS Excel associa a cada data
o dia que lhe corresponde no calendário Juliano. Assim os dias 19 de Março de 2012 e 19 de
Setembro de 2012 do calendário Gregoriano são respectivamente os dias 40987 e 41171 do
calendário Juliano.
Número efectivo de dias = 41171 – 40987 = 184 dias.
N.B. O uso de folhas de cálculo em que o calendário está ligado ao relógio do computador
leva em conta automaticamente a fracção de cada dia entretanto decorrida.
Exemplo 2
Calcule o número de dias do prazo de 6 Meses a partir do dia 19 de Março dum qualquer ano,
com base na convenção que faz uso de meses completos com 30 dias.
Solução. A contagem dos dias é feita somando a diferença entre o dia final e o dia inicial,
mais o múltiplo de 30 dias que se obtém com a diferença entre a ordem dos dois meses,
Setembro (9) e Março (3).
Número de dias = (19 – 19) + 30 × (9 – 3) = 180 dias.
A prática do mercado monetário Suíço “poupa” 4 dias de acumulação do juro duma dívida
com relação à prática de contagem do número efectivo de dias do prazo. /
Vamos agora analisar as convenções usadas na representação de um ano i.e. o denominador
da proporção. As duas convenções ditas bancárias mais usadas são de um ano sempre com
360 dias, e de um ano bancário sempre com 365 dias. A convenção de um ano bancário com
360 dias veio da ideia simples de se considerar um ano com 12 meses, cada um com 30 dias.
[5]
Além da convenções dum ano bancário com 360 ou 365 dias, há ainda a convenção Brasileira
de usar um ano com 252 dias úteis, e a convenção Russa de usar um ano com o respectivo
número efectivo de dias (i.e. com 365 ou 366 dias).
Depois de saber fazer a contagem dos dias dum prazo e conhecer a convenção sobre o ano
bancário a usar, podemos então analisar os métodos ou bases mais usuais de cálculo da
proporção representativa do prazo. A base de cálculo desta proporção no mercado monetário
do euro é designada por Actual/360 ou ACT/360 para indicar que a prática da contagem dos
dias é a do número efectivo de dias, e a convenção sobre o ano bancário é de 360 dias num
ano. O mercado monetário dos países da UEM, e os dos EUA, dos países Escandinavos, e de
muitos países da Ásia e América do Sul, assim como da maioria dos mercados monetários de
Euro-divisas, usam também a base Actual/360 para o cálculo do prazo. Considere um
depósito em euros que vence o juro à taxa anual de 3 por cento e cujo prazo de um ano inclui
o mês de Fevereiro (de 28 dias) dum ano normal. O valor efectivo do juro deste depósito vai
ser superior a 3 por cento do valor nominal porque o número efectivo de (365) dias do prazo
é maior do que o número de dias do ano bancário (de 360 dias) para o dinheiro em euros.
.
O método de cálculo do prazo no mercado monetário do iene Japonês é designado por
Actual/365 ou ACT/365 para indicar que a prática da contagem dos dias é a do número
efectivo de dias, e que a convenção sobre o ano bancário é de 365 dias num ano. Neste caso,
um depósito em ienes com o prazo (efectivo) de 365 dias e a taxa anual de 3 por cento vence
efectivamente um juro que é igual a 3 por cento do valor nominal.
.
Os mercados internos do Canadá, Austrália e Nova Zelândia, e os mercados internos e
internacionais do dinheiro do Reino Unido, Hong Kong, África do Sul, Taiwan, Tailândia, e
Malásia, usam também o método ou base Actual/365 para o cálculo do juro.
Exemplo 3
Considere um depósito a 365 dias (um ano) em francos Suíços constituído em 19 de Março
que vence o juro à taxa anual de 3 por cento. Calcule o valor efectivo do juro do depósito.
Solução. O número de dias deste prazo é igual a 360 dias.
Número de dias = (19 – 19) + 30 × 12 = 360 dias.
[6]
O valor do juro efectivo vem dado por:
.
O juro é efectivamente igual a 3 por cento do valor nominal do depósito. O mercado
monetário interno da Suíça usa o método de cálculo referido como 30/360 para indicar que a
convenção de contagem dos dias do prazo é a de meses completos de 30 dias, e que a
convenção relativa ao ano bancário é de 360 dias num ano. /
A base de cálculo dos prazos nalguns mercados monetários de países da América do Sul é
referida como BD/252 para indicar que a convenção de contagem dos dias do prazo é do
número de dias úteis (“business days”), e que a convenção relativa ao ano bancário é de 252
dias úteis num ano.2
É natural que o juro efectivo calculado com base na convenção do ano bancário de 360 dias
seja diferente do juro efectivo calculado com base na convenção do ano bancário de 365 dias,
para uma mesma taxa anual. Para comparar taxas de juro calculadas com base em convenções
diferentes, há que poder converter uma taxa anual r360 baseada no ano de 360 dias numa taxa
anual r365 baseada no ano de 365 dias. Tem-se assim que:
.
Exemplo 4
Suponha a taxa anual de 3,0416667 por cento apresentada com base no ano bancário de 360
dias. Calcule a taxa anual equivalente com base no ano bancário de 365 dias.
Solução. Aplica-se de imediato a fórmula desenvolvida antes deste exemplo.
.
A taxa anual equivalente com base num ano bancário de 365 dias é de 3,000 por cento. /
2
Junta-se em Anexo um quadro com a informação actualmente disponível sobre os métodos de cálculo de
prazos em termos anuais no mercado monetário de alguns países.
[7]
TAXAS DE JURO E DESCONTO
Os instrumentos monetários podem ser distinguidos pela forma como pagam o juro acordado.
Os instrumentos ditos de desconto pagam o juro implicitamente sob a forma dum desconto
aplicado ao valor nominal do empréstimo. Os Bilhetes do Tesouro (BT) emitidos pelo
Estado, o papel comercial emitido pelas empresas financeiras e pelas comerciais e industriais,
e títulos de crédito como as letras e livranças, são instrumentos de desconto. As Obrigações
do Tesouro (OT), os Certificados de Depósito (CD) emitidos pelos bancos, as Obrigações de
Caixa emitidas pelas empresas, e títulos de crédito como depósitos a prazo, são instrumentos
que pagam o juro explicitamente. O juro destes títulos e valores é pago explicitamente sob a
forma duma proporção do valor nominal devida aquando do reembolso final do empréstimo.
Os instrumentos de desconto são em geral emitidos ou adquiridos a um preço inferior ao
valor nominal do reembolso final. A diferença entre o valor nominal e o montante do preço
representa o custo pago para disponibilizar de imediato o valor nominal dum capital com
vencimento ao fim dum certo prazo. Considere um instrumento de desconto com o prazo
inicial de um número efectivo n de dias. O valor nominal do título (ou valor) é o montante
X(n) dos fundos que o devedor (ou emitente) está obrigado a pagar duma só vez no final do
prazo do empréstimo. O preço do título (ou valor) é o pagamento simples a efectuar na data
do desembolso (ou da emissão) que corresponde ao montante X(0) pago pelo credor (ou
investidor). A diferença entre o valor nominal e o preço, X(n) – X(0), é o desconto. A taxa
periódica Δ(0, n) do desconto chamado desconto por fora é o juro formado com base no
capital final ao longo do prazo de n dias até ao vencimento do empréstimo.
.
A taxa do desconto por fora é também designada por taxa do desconto bancário ou desconto
comercial, para chamar a atenção de que o valor do desconto é determinado com base no
valor nominal (futuro) do instrumento de desconto em questão. Para apresentar esta taxa
periódica sob a forma duma taxa anual, basta levar em conta o número de dias efectivos do
prazo e a convenção apropriada sobre o número de dias do ano bancário. Tem-se que:
.
A taxa anual δ360(0, n) do desconto por fora relativo ao prazo de n dias efectivos obedece ao
método ACT/360 de contagem dos dias e é equivalente à taxa periódica para o mesmo prazo.
[8]
Exemplo 5
Considere um Bilhete do Tesouro (BT) dos EUA com um prazo inicial de um ano. Os BT
norte-americanos a um ano são emitidos com um prazo inicial de 52 Semanas ou 364 dias
efectivos. Suponha que a emissão se fez com um desconto anual (por fora) de 10 por cento e
que a compra foi dum nominal de 10 milhões de dólares dos EUA. Calcule o preço.
Solução. Os BT norte-americanos são com efeito emitidos e cotados com base num desconto
bancário. Além disso, a taxa do desconto é uma taxa de curto prazo do dinheiro em dólares
dos EUA que segue o método ACT/360.
dólares.
O preço do BT é igual ao valor nominal menos o desconto.
dólares.
O preço de 10 milhões de dólares de BT a 52 Semanas com um desconto anual de 10 por
cento foi de 8.988.888,89 dólares. /
Considere agora um instrumento de desconto com o mesmo prazo inicial de n dias efectivos
mas cujo preço é cotado com base num desconto por dentro. A taxa periódica Δ*(0, n) do
desconto chamado desconto por dentro é o juro formado com base no preço (inicial) ao longo
do prazo do empréstimo até ao vencimento no n-ésimo dia.
.
A taxa do desconto por dentro também é designada por taxa do desconto racional para
sublinhar que o valor do desconto é determinado com base no valor inicial do título. A taxa
anual δ360*(0, n) do desconto por dentro é determinada de modo semelhante e consoante o
método de contagem dos dias do prazo. No caso do método ACT/360, tem-se:
.
A taxa periódica Δ*(0, n) do desconto e a taxa anual δ360*(0, n) são taxas através das quais o
mesmo montante do valor nominal determina um preço igual i.e. são taxas equivalentes.
[9]
Exemplo 6
Considere um Bilhete do Tesouro (BT) emitido pela República Portuguesa com um prazo
inicial de um ano. Os BT portuguese são emitidos com prazo iniciais de 91, 182 , e 364 dias
efectivos. Suponha que a emissão se fez com um desconto anual (por dentro) de 10 por cento
e que a compra foi dum nominal de 10 milhões de euros. Calcule o preço.
Solução. Os BT portuguese são com efeito emitidos e cotados com base num desconto por
dentro. Além disso, a taxa do desconto é uma taxa de curto prazo do dinheiro em euros que
segue também o método ACT/360. O preço do BT é igual ao valor inicial do valor nominal.
euros.
A propósito, o desconto do BT é igual ao valor nominal menos o preço.
euros.
O preço de 10 milhões de euros de BT a 364 dias com um desconto anual de 10 por cento foi
de 9.081.735,62 euros. /
Os dois exemplos anteriores mostram como com definições idênticas, o desconto por fora e o
desconto por dentro determinam preços (e descontos) diferentes. Com efeito, o preço do
instrumento de desconto calculado com base no desconto por fora (8.988.888,89 unidades
monetárias) é menor do que o preço do instrumento calculado com base no desconto por
dentro (9.081.735,62 unidades monetárias). Torna-se por isso importante saber comparar os
valores das taxas periódicas determinados pelos dois tipos de desconto. Com relação a um
mesmo prazo, tem-se assim que:
, e, que:
.
Portanto, ao fim de algumas transformações simples, tem-se que:
, e, que:
.
[ 10 ]
Pode-se do mesmo modo comparar os valores dos dois tipos de taxas anuais de desconto
calculadas com base no mesmo método de contagem dos dias dum prazo igual. Tem-se assim
que:
, e, que:
.
O Quadro 58.1 mostra valores equivalentes das duas taxas anuais de desconto, por fora e por
dentro, em percentagem.
S.F.F. Inserir aqui: Quadro 58.1 Taxas anuais do desconto, em percentagem.
Considere agora um instrumento monetário que paga o juro explicitamente sob a forma duma
quantia única a acrescentar ao valor do reembolso integral do valor nominal no fim do prazo
de n dias efectivos. No caso dum instrumento que paga o juro explicitamente, X(0) é o valor
nominal do empréstimo e o pagamento final X(n) é o total do valor nominal mais o montante
do juro acordado. A razão da diferença entre o valor do pagamento final e o valor nominal,
igual a X(n) – X(0), com relação ao valor nominal é a taxa periódica R(0, n) de remuneração
do capital inicial.
.
R(0, n) é a proporção de cada euro do capital inicial que deve ser paga pelo devedor no final
dum ano normal como juro: é a taxa periódica de juro relativa ao Primeiro Ano. Do mesmo
modo, estabelece-se a relação entre a taxa periódica e a taxa anual que lhe corresponde.
.
A expressão é semelhante no caso dum instrumento monetário ceja denominação cambial
segue o método ACT/365 de contagem dos dias.
Exemplo 7
Considere um Certificado de Depósito (CD) em euros com uma taxa anual de 10 por cento
que foi emitido com um prazo inicial de 364 dias efectivos. Suponha que a compra foi dum
nominal de 10 milhões de euros. Calcule o montante do reembolso final.
[ 11 ]
Solução. A taxa anual do dinheiro em euros obedece ao método ACT/360. O cálculo do valor
final dos 10 milhões de euros é simples.
euros.
O valor do reembolso final do CD é igual ao valor nominal mais o juro.
euros.
O reembolso final dos 10 milhões de dólares com um número efectivo de 364 dias à taxa
anual de 10 por cento é 11.011.111,11 euros. /
Também aqui importa fazer a distinção entre a taxa periódica de remunração e a equivalente
taxa anual quando o prazo do empréstimo é diferente de 360 ou 365 dias efectivos, consoante
o método de contagem dos dias. Assim, num empréstimo em euros a um prazo com um
número efectivo n de dias, a relação entre a taxa periódica R(0, n) e a taxa anual r360(0, n) que
lhe corresponde vem dada por:
.
Na linha anual do tempo, o prazo de n dias é representado pela fracção n/360 quando o
método de cálculo do juro se baseia na convenção Actual/360. Do mesmo modo, num
empréstimo em ienes a um prazo com um número efectivo n de dias, a relação entre a taxa
periódica R(0, n) e a taxa anual r365(0, n) que lhe corresponde vem dada por:
.
Obviamente, este prazo de n dias é representado pela fracção n/365 quando o método de
cálculo do juro se baseia na convenção Actual/365.
Os instrumentos monetários são dum modo geral caracterizados pelo prazo inicial que não
excede um ano. Dum ponto de vista jurídico, há instrumentos monetários cujo prazo inicial
pode ir até dois anos embora sejam raros os exemplos. Mas há instrumentos de dívida cujo
prazo inicial era largamente superior a um ano mas cujo prazo residual é hoje inferior a um
ano. Suponha uma Obrigação do Tesouro (OT) com o prazo de 10 Anos na data de emissão
há mais de nove anos e que hoje tem um prazo residual de cerca de 6 Meses, por exemplo.
[ 12 ]
Quando se desejar comparar a taxa de remuneração desta OT com a de um instrumento
monetário típico como um BT, há que conhecer também o método de contagem dos dias da
obrigação porque é em geral diferente do que é usado no mercado monetário. A análise fica
adiada até ao tratamento das noções básicas das dívidas de longo prazo. Mas fica desde já
lançado o alerta para a necessidade de saber comparar remunerações e eventualmente tirar
partido delas através de operações de arbitragem apropriadas.
Sumário
As tomadas e aplicações de dinheiro para suprir deficiências transitórias de tesouraria de
empresas e administrações públicas são o grande mercado do dinheiro em cada país. São
também o grande mercado do dinheiro em todo o Mundo porque estas tomadas e aplicações
de dinheiro se fazem através de instrumentos jurídicos, semelhantes na forma, que são
transaccionados de modo também semelhante por todo o lado. Os chamados instrumentos
monetários são herdeiros do título de crédito mais antigo e mais transaccionado desde
sempre: a letra de câmbio. A letra de câmbio era emitida a desconto para “esconder” o juro
que lhe estava implícito como forma de mitigar o “risco inquisitorial” da Igreja de Roma.
Hoje, fora da finança Islâmica, há instrumentos monetários que copiam o juro explícito das
dívidas com prazos mais longos como foram as dívidas de soberanos, de cidades-estado, e
dos Montepios. Para comparar as remunerações oferecidas pelos vários instrumentos nas
várias praças, torna-se curial conhecer as características de cada instrumento e as práticas
usadas nas várias praças para calcular o juro entretanto formado e devido a quem cedeu o uso
dum capital.
Conceitos-chave
mercado monetário, money market, mercado monetario, Geldmarkt, marché monétaire,
mercato monetario
instrumento monetário, money market instrument, instrumento monetario,
Geldmarktinstrument, instrument du marché monétaire, strumento monetario
depósito, deposit, deposito, Einlage, dépôt, deposito
empréstimo, loan, empréstito, Anleihe, emprunt, prestito
taxa de juro, interest rate, tipo de interés, Zinssatz, taux d’intérêt, tasso di interesse
desconto, discount, desconto, Diskont, escompt, sconto
[ 13 ]
Questões
1. Explique o que entende por mercado monetário.
2. Qual é a convenção Dia/Ano usada no mercado monetário do euro?
3. Qual é a convenção Dia/Ano usada no mercado monetário da libra esterlina?
4. Qual é o número efectivo de dias no período de 3 Meses após 30 de Julho?
5. Qual é o número efectivo de dias no período de 6 Meses após 30 de Julho?
6. Qual é o número efectivo de dias no período de 7 Meses após 30 de Julho?
Exercícios
1. Se investir um milhão de dólares dos EUA à taxa anual de 5 por cento, quanto espera
receber ao fim de 3 Meses após 30 de Julho?
2. Se investir um bilião de ienes à taxa anual de 5 por cento, quanto espera receber ao
fim de 6 Meses após 30 de Julho?
3. Qual é o valor inicial em 30 de Julho de um milhão de francos Suíços a receber ao fim
de 3 Meses descontados à taxa anual de 5 por cento mais uma margem de 4 por
cento?
4. Qual é o valor inicial em 30 de Julho de um milhão de libras a receber ao fim de 6
Meses descontados à taxa anual de 5 por cento mais uma margem de 2 por cento?
N.B. São desde já agradecidas as correcções e as sugestões ou comentários a esta versão
ainda preliminar do texto. Muito obrigado.
Primeira versão: 13 de Agosto. 2007. Última revisão: 30 de Março. 2014.
Copyright (c) 2014. Francisco J. Comprido.
[ 14 ]
ANEXO
Bases de cálculo de juros no mercado monetário
O quadro seguinte reúne a informação actualmente disponível sobre as bases de cálculo de
juros nos mercados monetários de alguns países.
Ano bancário de 360 dias
Ano bancário de 365 dias
Zona euro
Actual/360
Reino Unido
Actual/365
EUA
Actual/360
Hong Kong
Actual/365
Dinamarca
Actual/360
África do Sul
Actual/365
Noruega ‡
Actual/360
Tailândia
Actual/365
Suécia
Actual/360
Malásia
Actual/365
Brasil
Actual/360
Singapura
Actual/365
Rep. Checa
Actual/360
Canadá ‡‡
Actual/365
Hungria
Actual/360
Japão ‡‡
Actual/365
Austrália ‡‡
Actual/365
Nova Zelândia ‡‡
Actual/365
Finlândia
Actual/365
Turquia
Actual/365
Noruega ‡‡‡
Actual/365
Suíça
30/360
Notas: ‡ Excepto Bilhetes do Tesouro. ‡‡ Mercado doméstico. ‡‡‡ Bilhetes do Tesouro.
[ 15 ]
Quadro 58.1 Taxas de desconto, em percentagem.
0,500
0,503
0,500
0,498
1,000
1,010
1,000
0,990
1,500
1,523
1,500
1,478
2,000
2,041
2,000
1,961
2,500
2,564
2,500
2,439
3,000
3,093
3,000
2,913
3,500
3,627
3,500
3,382
4,000
4,167
4,000
3,846
4,500
4,712
4,500
4,306
5,000
5,263
5,000
4,762

Documentos relacionados