num hotel de cinco estrelas

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num hotel de cinco estrelas
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por FILIPA CARDOSO fotografia HOTEL CORINTHIA
Corinthia Hotel Lisbon
“Energy Performance Contracting”
num hotel de cinco estrelas
O Corinthia Hotel Lisbon quer ser mais eficiente e diminuir a sua dependência energética. A Galp Soluções de Energia e o ISQ Energia responderam com a implementação
de um contrato de desempenho energético e convidaram a nossa revista a seguir
o processo. O objectivo é dar a conhecer todas as fases deste projecto onde
a solução é a aplicação de um contrato de performance energética.
S
endo o maior hotel de cinco estrelas em Lisboa,
o Corinthia Hotel Lisbon (CHL) deparou-se,
inevitavelmente, com os elevados custos de
energia. Com 518 quartos, o hotel apresentava
elevados consumos energéticos que o expunham ao
risco de enfrentar as consequências de um aumento
exponencial do preço da energia e à volatilidade do
mercado energético. A isso, refere Pedro Ferreira,
director regional de Engenharia do CHL, juntou-se “a
pressão económica para uma maior eficiência energética e a questão do impacto ambiental” que levaram
o hotel a desenvolver um “projecto que permitisse
não só estar em conformidade com as Directivas
Europeias em matéria ambiental como controlar os
custos de energia”. A solução surgiu nas empresas
de serviços energéticos (ESE), com a implementação
de um contrato de desempenho energético (EPC nas
siglas em inglês), com base no qual se vão aplicar
medidas que permitam ao CHL gerir e reduzir mais
de 20% do consumo energético e ainda produzir a
sua própria energia.
O desafio foi apresentado ao mercado e, depois de
seis meses, de reuniões, discussões de projecto e
apresentação de propostas, a Galp Soluções de Energia
foi a escolhida. “Porque apresentaram as melhores
soluções técnicas e pelo seu envolvimento para com
este projecto inovador na hotelaria em Portugal”, refere
Pedro Ferreira. Para este projecto, a equipa da Galp
Soluções de Energia conta com o apoio técnico do
ISQ Energia. Do lado do CHL, Pedro Ferreira é quem
assume o comando. Para o responsável, serão dois os
grandes benefícios deste projecto: reduzir o consumo
de energia, por via da optimização da eficiência energética, e a produção de energia de forma autónoma e
com recurso a fontes renováveis. O objectivo é “criar
uma identidade que seja uma referência na utilização
eficiente de energia e respectiva produção autónoma, nomeadamente, através de fontes renováveis”,
explicam os especialistas do ISQ Energia.
Um caso pioneiro em Portugal No nosso país,
os contratos de desempenho energético não são ainda
muito comuns, havendo até uma grande indefinição
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sobre as melhores formas para a sua aplicação, que
é particularmente evidente no programa Eco.AP para
os edifícios da Administração Pública (ver pág. 6). “A
celebração de um contrato onde o investimento nas
medidas de eficiência energética é realizado pela
ESE e onde o retorno desse investimento é feito com
base na energia não consumida, isto é, na energia
poupada pela implementação daquelas medidas,
terá de ter como suporte um estudo técnico sólido
que garanta que, durante a exploração do contrato,
não haja dúvidas relativamente às reais poupanças
geradas por aquele investimento”, considera Jorge
Borges de Araújo, director-geral do ISQ Energia.
A hotelaria é um dos sectores promissores para o mercado das ESE, com potenciais de poupança relevantes,
paralelamente aos edifícios públicos. “No caso concreto
dos hotéis, a factura energética é um dos principais
itens na rubrica de custos da sua conta de exploração,
sendo o potencial de poupança significativo através
da eficiência energética dos equipamentos e boas
práticas de utilização e operação das instalações”,
refere Pedro Louro da Galp Soluções de Energia.
Quatro fase A estratégia para o CHL está a desenvolver-se em quatro fases. A primeira consistiu
na identificação e avaliação preliminar do potencial
de eficiência energética. Aqui foi efectuada a recolha de informação sobre consumos de energia
(gás, electricidade), água, dados sobre os perfis de
consumo e taxas de ocupação. Esta análise foi feita
anteriormente à visita preliminar do edifício e com o
intuito de avaliar as condições de funcionamento e
estado de manutenção das instalações. “Esta avaliação reveste-se da maior importância porque é aqui
que se avalia o potencial de poupança e se define a
estratégia para a execução da avaliação energética do
edifício e dos equipamentos”, explica Paulo Oliveira,
especialista do ISQ Energia. “Na avaliação energética,
é efectuada a medição do consumo de energia dos
sistemas, o rendimento dos equipamentos e, entre
outros dados, é também analisado o perfil de utilização das diversas instalações no edifício com vista
à identificação das oportunidades de redução do
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consumo de energia”, completa.
De acordo com os profissionais, esta avaliação é mais
do que uma auditoria simplificada para a certificação
do edifício, já que é necessário efectuar um estudo
profundo e detalhado das instalações e do seu funcionamento e calcular o seu impacto no consumo
energético do edifício. “É fundamental detectar vícios
e erros nas instalações, assim com a razão para o
seu consumo de energia, ainda que aparentemente
normal”, referem. Nesta primeira fase, a análise do
tarifário dos diferentes vectores de energia que fornecem o hotel é também indispensável, no sentido
de avaliar o potencial de redução do custo da factura
por via da gestão da procura da energia.
Posteriormente, numa segunda fase, avança-se para
a auditoria energética e concepção do projecto de
eficiência energética, havendo já um acordo prévio
com o cliente, que evolui para o contrato de performance. Daí decorrem as fases de implementação e
exploração do projecto de eficiência energética (estas
fases serão acompanhadas em detalhe nas próximas
edições da Climatização).
Mudanças em três vertentes A par do investimento na eficiência energética, o contrato implica uma
estratégia em três vectores fundamentais: mudança
tecnológica, comportamental e organizacional. O
primeiro prende-se com uma análise técnica aos equipamentos e instalações,
como controlo de energia,
tecnologias de construção,
motores, iluminação, climatização, instalações
eléctricas, etc.. A mudança
comportamental prevê a
actuação junto dos hóspedes e funcionários no que
respeita ao uso da energia. “Os seus hábitos têm
um impacto significativo
sobre os consumos”, referem. “Os colaboradores
Gráfico 1 A energia térmica cedida à água e a respectiva eficiência da caldeira.
do CHL são parte importante de uma organização eficiente em termos
energéticos, pois possuem
informações claras e factuais que podem ajudar
a melhorar a sua implementação e compreensão.
É necessário informá-los
sobre novas iniciativas e
modernizações. Os colaboradores têm de estar
bem informados e os mais
qualificados deverão actuar como embaixadores da
Gráfico 2 Diagramas de carga da potência requerida pelos chillers, bombas de condensação e torres de arrefecimento.
eficiência energética para
os clientes do hotel”.
Relativamente à mudança organizacional, os responsáveis explicam que
“os procedimentos e a
normalização auxiliam a
reduzir custos. Nesta última linha estratégica é
fundamental, para a implementação da política
energética, o empenho da
gestão de topo, que no
CHL terá uma implemenGráfico 3 Diagramas de carga da potência requerida para a preparação de AQS.
tação facilitada pois esta
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Até o Sol trabalha
com a Vulcano.
A política energética
para o Hotel Corinthia
preocupação está interiorizada na gestão de topo,
particularmente personificada no Eng.º Pedro Ferreira, que desde cedo demonstrou a mesma vontade
na obtenção de resultados importantes e apoiou a
estratégia definida”.
Nesse sentido, o projecto aposta, paralelamente,
na formação e sensibilização dos colaboradores. “A
integração de pessoal com formação especializada
em engenharia e de manutenção é importante considerar. A formação técnica em sistemas, eficiência
energética, utilização racional de energia térmica e
eléctrica permitirá ao pessoal técnico modificar as
operações e aumentar a eficiência”, esclarecem.
Sustentabilidade A ambição do projecto vai
além da sustentabilidade energética: “no projecto para
o CHL, concentramo-nos não apenas na sustentabilidade energética mas também na sustentabilidade
económica e social, pois só assim seria possível obter
o sucesso ambicionado”, referem. Desta forma, graças
à redução do custo da energia, o hotel poderá aumentar os resultados financeiros, obter um serviço mais
competitivo, orientando-se melhor para o “hóspede”.
Para além da competitividade energética e todas as
vantagens económicas associadas a uma maior eficiência energética, este contrato pretende ter outras
mais-valias, tais como:
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“Alterar o pensamento na direcção certa, abordando
os edifícios de forma integrada e definindo a política
energética para cada edifício” é o objectivo dos
profissionais envolvidos neste projecto. Com base
nesta linha orientadora foi concebido o conceito
de Hotel Energeticamente Eficiente que “pretende
criar uma identidade que seja uma referência na
utilização eficiente de energia e respectiva produção autónoma nomeadamente, através de fontes
renováveis”. Dessa forma, definiram-se cinco eixos
centrais:
n “Conservação de Energia, como o primeiro recurso para a redução dos consumos de energia. Isolar,
sombrear, recuperar são algumas das formas económicas de conservar a energia e de não a degradar,
possibilitando também a redução da intensidade
de matérias-primas nas alterações necessárias a
efectuar à instalação, controlando desse modo o
investimento;
n Eficiência Energética mais vocacionada para os
equipamentos e para a utilização eficaz das diferentes formas de energia. A eficiência energética está
intimamente ligada com o aumento da intensidade
de serviço dos equipamentos, garantindo dessa
forma melhores performances e menores custos
de investimento;
n Gestão da Procura de Energia, não para aumentar a eficiência directa do edifício mas para actuar
principalmente na redução do custo com a factura
de energia. Transferência de consumos, alteração
dos perfis de consumo e recurso a soluções passivas
são algumas das medidas que permitem efectuar a
gestão da procura de energia, reduzindo também o
“peak load” e contribuindo assim para uma melhor
gestão da rede eléctrica nacional;
n Utilização de recursos endógenos, que, sendo
um objectivo social, é também uma forma de proporcionar autonomia no abastecimento e reduzir a
dependência de fontes primárias de energia;
n A diversificação dos vectores energéticos com
viabilidade tecnológica e económica, permitirá uma
maior segurança no abastecimento de energia e
controlar a gestão da procura de energia”.
• Melhorar as condições de conforto e os níveis de
satisfação;
• Reduzir os custos com a manutenção e falhas nos
sistemas, actuando na simplificação das instalações
e reduzir a intensidade de matérias-primas no processo;
• Aumentar a vida útil dos equipamentos e o valor
patrimonial;
• Progredir na cidadania corporativa, contribuindo para
reduzir as emissões de CO2 para atmosfera. n
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Dois dias de ESCO Europe
em Londres
Londres foi, em 2012, a cidade escolhida para receber a oitava conferência europeia ESCO Europe. O encontro teve lugar nos dias 25 e 26 de Janeiro e reuniu 230
profissionais ligados ao sector das empresas de serviços energéticos (ESE).
anuncioA5.pt..pdf
D
epois de Lisboa, em 2010, foi a vez da cidade
de Londres receber mais uma edição da
conferência europeia das ESE – ESCO Europe.
Organizada pela Synergy Events, o encontro
decorreu em dois dias (25 e 26 de Janeiro), durante
os quais foi possível debater e discutir o actual estado
do mercado europeu das ESE, conhecer oportunidades
e casos práticos, analisar modelos de negócio, etc..
Portugal fez por marcar a sua presença, com várias
empresas nacionais a partilharem as suas experiências
e projectos, e com a apresentação do programa para
a eficiência energética dos edifícios da Administração
Pública, Eco.AP, feito por Filipe Vasconcelos (assessor
do secretário de Estado da Energia). “A eficiência
energética é parte da resposta à situação económica
portuguesa”, afirmou.
“Identificar o papel dos serviços energéticos na concretização das metas 20/20” foi o tema que abriu a
sessão de trabalhos, com destaque para os programas
de redução de consumos energéticos, de emissões
de CO2 e ainda de reabilitação energética dos edifícios
que estão a ser levados a cabo em Londres. Em representação da Comissão Europeia (CE), Marc Ringel (DG
Energia) explorou a proposta da nova Directiva para
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Eficiência Energética, em particular no que se refere
ao papel das ESE, e Timothée Noël deu a conhecer
as possibilidades de financiamento no âmbito do
Programa Energia Inteligente Europa (ver pág. 70)
para a promoção dos serviços energéticos.
Não esquecendo que as ESE são empresas que visam
o lucro, o encontro contou com a apresentação de
modelos de negócios rentáveis, com destaque para
novas abordagens e novos serviços de eficiência
energética que as empresas podem oferecer nos
seus projectos. Os exemplos vieram de vários países, como Alemanha, Dinamarca, França, Espanha,
Letónia e Portugal. Carlos Samora divulgou o projecto
de substituição de lâmpadas convencionais por LED
levado a cabo pela Arquiservice no Casino Estoril e
noutras lojas de retalho.
O segundo dia foi dedicado aos mercados ESE emergentes e à identificação de oportunidades, melhoria
do retorno de investimento e desempenho e ainda
à questão do financiamento. Paolo Bertoldi, do Joint
Research Center da CE, é já uma autoridade neste
assunto e fez uma panorâmica da actual situação dos
mercados europeus. O especialista iniciou a sua apresentação reforçando a definição de ESE, admitindo que
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
há ainda muitas confusões. “Uma ESE oferece garantias
de poupanças energéticas e a sua remuneração está
directamente ligada com as poupanças alcançadas”,
referiu. Para Bertoldi, os factores favoráveis ao mercado
estão a aumentar, mas não são ainda suficientes para
remover todas as barreiras. “O mercado europeu é
promissor, mas há ainda muitas barreiras, estamos
longe de explorar todo o potencial”, apontou.
O acesso ao financiamento é uma das principais preocupações do sector e, no sentido de ajudar as empresas
a encontrar formas de angariar capitais públicos ou
privados para investir em eficiência energética, o
contou13:40
com a presença de Gregory Barker, o
1evento
11/04/18
ministro de Estado britânico do Departamento para
a Energia e Alterações Climáticas. O político deu a
conhecer os últimos desenvolvimentos no programa
“Green Deal” no Reino Unido.
Num sector que está ainda a ganhar contornos na
maioria dos países europeus, a apresentação de casos
de estudo é fundamental num encontro deste tipo.
Dessa forma, projectos, como o programa de reabilitação dos edifícios londrinos RE:FIT, a implementação
de contratos de serviços energéticos em Bilbau, a rede
de aquecimento urbano da zona olímpica de Londres,
entre outros, foram dados a conhecer. Miguel Matias,
do Grupo Self Energy, apresentou um projecto que
está a ser desenvolvido em Portugal. Trata-se de
uma escola secundária no Porto, com cerca de 1000
alunos, onde se combinaram medidas de eficiência
energética e a transformação centralizada de energia
através de cogeração e energias renováveis.
Como novidade na sessão deste ano, a organização
incluiu no programa mesas redondas estratégicas,
com a duração de uma hora e meia cada, no sentido
de permitir que os especialistas não só debatessem
os temas, como delineassem soluções. O mercado
espanhol, o financiamento da eficiência energética,
factores onde as ESE podem melhorar foram algumas
das questões em destaque. n

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