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A ARTE DA FOTOGRAFIA DE SEBASTIÃO SALGADO
NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Suzi Maria Petró , Mariel Hidalgo Garcia, Susane Hubner, Kelly da Slva Moraes,
Marco Mello, Márcia Vargas, André Rodrigues Horta, João Nely Niederaurer,
João Rudimar Kunz, Mara Denise Medaglia Martins
Os estudos sobre cultura visual mostram que as imagens presentes no nosso cotidiano
são fundamentais na formação de uma cultura crítica na es cola. Partindo desse princípio e
aproveitando a exposição Gênesis de Sebastião Salgado, realizou-se um trabalho de análise de
fotografias na EJA.
A intenção de Sebastião Salgado com Gênesis foi o de revelar o que havia ainda de
intocável no planeta. A proposta da EJA foi a de partilhar este mundo que o fotógrafo nos
mostra, observar novas culturas, paisagens e estabelecer relações entre povos, lugares e tempos.
Primeiramente, apresentou-se o fotógrafo aos alunos, assim como algumas fotos do
artista e alguns dados de sua biografia. Assistimos a um documentário chamado Revelando
Sebastião Salgado, com a história de vida e a obra do fotógrafo e uma entrevista denominada
Pelos olhos de Sebastião Sagado. Foi montada na sala de usos múltiplos a exposição
Trabalhadores, com dezenas de fotos em painéis de grande proporção, de modo a familiarizar os
alunos com sua obra. A professora de Ciências, Mariel Garcia, apresentou um roteiro inicial de
observação para a exposição Gênesis que contemplou três eixos básicos: a escolha de uma foto
que tenha chamado a atenção do aluno e estabelecer relações entre ela e a realidade em que
vivemos. O segundo ponto foi a observação de uma foto de uma comunidade indígena ou
africana, a fim de pensarmos a realidade em que vivem outros povos. A terceira parte do
trabalho foi a observação e análise de uma foto da Amazônia ou Pantanal, para que fosse
possível observar paisagens intocadas pelas ações do homem branco.
Na sequência, seguem as fotos escolhidas por alguns alunos e suas observações.
Parte 01: Escolha de uma foto interessante: o que se vê e do que nos recordamos ao
observá-la. Quais relações que podemos fazer com a realidade em que vivemos?
Foto 1: Pinguins no Gelo: Legenda oficial: “ Colônia de pinguins-de-barbicha (Pygoscelis
Antarctica) aobre icebergs localizados entre as ilhas Zovodovski e Visokoi, Ilhas Sandwich do
Sul. Novembro e dezembro de 2009.
“Na foto, eu vejo vários pinguins em várias posições diferentes, mas somente um se atira na
água. Vejo geleiras e o mar espumoso. Eu acho que, no fundo, tem uma montanha. Parece estar
um dia nublado, um tempo para chuva. Deve ser muito frio também. O mar parece estrar muito
agitado.
A foto me faz lembrar o frio, a neve de Gramado. Também me faz lembrar da migração de
vários pinguins que acabam parando em praias brasileiras e muitos acabam morrendo e outros,
por sorte, são abrigados por biólogos, são cuidados e voltam para a natureza. Com eles, eu me
recordo das praias brasileiras.” Valdecir Wietozykoski – Totalidade 5.
“Eles estão enfileirados nas grandes geleiras. O último dos pinguins está mais distante
dos outros e os outros quatro da frente estão em grupo de cabeça para baixo. Eles pretendem
escorregar do iceberg. Um deles parece que vai dar um pulo. O primeiro que pulou está livre
pelo ar e suas nadadeiras estão para trás. Seus pés estão colados, prontos para se atirar na água.
No mar, as águas estão se batendo, ondas entre ondas. A primeira geleira parece mais
lisinha e a segunda geleira, lá do canto, é mais escura e ela é uma parede com muita textura de
gelo que forma várias camadas grossa. Ela está quase encostando na água.” Natália Farias
Machado – Totalidade 5.
“Neste ambiente, seria impossível viver, pois é muito gelado. Só se nós nos
transformássemos em pinguins para nos adaptarmos ao ambiente e à forma deles se
alimentarem.” Carla Severo Pinheiro – Totalidade 4.
“Os pinguins me fazem lembrar dos jovens que andam em grupos nos colégios e nas
ruas. Eles fazem parte de uma comunidade, onde um vai o outro também vai.” Micael Pinheiro
– Totalidade 4.
Parte 02: análise de comunidades tradicionais:
Foto 2 - Comunidade indígena: Legenda oficial: Retrato de todos os xamãs kamayura, o homem
ao centro com um chapéu de pele de onça-pintada é o mais importante sacerdote tradicional de
toda a região do Xingu. Seu nome é Takumã Kamayura e é o antigo chefe da tribo Kamayura.
No Xingu, só aos xamãs é permitido fumar, uma vez que esse é considerado um ato sagrado que
lhes permite contatar com as divindades. Mato Grosso, Brasil. Julho, agosto e setembro de
2005.
“Os índios do Alto do Xingu são de uma tribo que preserva sua cultura. Na foto,
aparecem alguns índios de pé e alguns sentados. Dá para notar que o índio com um chapéu de
onça na cabeça é o chefe da tribo. Alguns destes índios estão com o rosto triste ou cara fechada.
Alguns deles estão com um tipo de fumo na mão, até parece um cigarro, só que bem grande. Eu
acho que eles estão num tipo de barraco porque no fundo é escuro ou poderia ser por causa da
foto porque ela está um pouco escura. Alguns estão com uma faixa amarrada no pé, pode ser por
terem se machucado ou talvez por outro motivo...
Para viver lá, eu teria que mudar meu jeito de ser, os meus cabelos, o meu jeito de
vestir. O jeito de falar. Mudaria toda a minha vida....” Ana Carolina Ruidias Totalidade 05.
Foto de índios xamãs: “São índios líderes xamãs da tribo Kamayura, fazendo pose para
a foto, mostrando um pouco da sua cultura. Na tribo deles, os xamãs fumam. Eles usam pouca
roupa e seus cabelos lembram índios muito antigos.” Lucas Valle Da Silva – Totalidade 5.
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Foto 3 - Comunidade africana 1: Legenda oficial: As mulheres mursi e surma são as últimas
mulheres do mundo a usar discos para estender os lábios. Nenhum antropologista ainda
conseguiu explicar ao certo a origem e a função desta prática. Alguns dizem que essa mutilação,
inestética aos olhos dos traficantes de escravos, era imposta pelos homens para proteger suas
mulheres das incursões daqueles. Apenas as mulheres pertencestes a uma casta elevada têm o
direito de usar estes discos, que exibem orgulhosamente ao andar pela povoação na companhia
do marido e dos filhos. Dargui, povoação mursi no Parque Nacional Mago, perto de Jinka.
Etiópia. Setembro, outubro de 2007.
“As mulheres mursi e surma usam alargadores nos lábios e nas orelhas e muitas
pulseiras e colares. Uma delas está parada com um braço para o alto e a outra está com um
braço tocando o outro, com a mão perto da barriga. Atrás delas tem uma madeira em que elas
estão encostadas e bem atrás estão as árvores.” Thayane Soares Correia – Totalidade 5.
“Na realidade, elas são mulheres bonitas. Elas têm o nariz fininho. Usam colares que
provavelmente elas fazem. Eu não usaria jamais um alargador na orelha e nos lábios e nem as
roupas delas e nem seus colares.” Ingrid da Silva Jaquet – Totalidade 4.
Foto 4 - Comunidade africana 2: legenda oficial: A dança da cura ou dança em transe é o ritual
místico mais importante dos bosquímanos. Enquanto as mulheres cantam e batem palmas
ritmadamente, os homens dançam num círculo em volta delas. Durante esta dança, os xamãs
tocam com as mãos os presentes para livrá-los das “flechas da doença”. Vagens secas são
preenchidas com pedrinhas e chocalham ruidosamente nas pernas dos xamãs, onde são
amarradas, enquanto eles dançam. Os bosquímanos acreditam que o transe marca a entrada dos
xamãs no mundo dos espíritos. Botsuana. Janeiro de 2008.
Eu observei uma tribo numa roda, com madeiras nas mãos, como se tivessem rezando
com as mãos para cima e cultuando algo que poderia servir para uma cura. Só de olhar para eles,
eu vejo bastante fé. Eles usam tangas e tem um círculo bem grande e bem detalhado, é um ritual
de muita fé” Tainara Maria Gomes Cardoso – Totalidade 5.
Foto 5 - Foto da Amazônia ou do Pantanal: legenda oficial: Uma onça-pintada (Panthera onça).
A onça-pintada é o maior felino das Américas e pode ser encontrada sobretudo na floresta
amazônica, mas também no Pantanal e na planície vizinha, conhecida como Gran Chaco. O
tamanho das onças-pintadas varia de 112 a 185 centímetros, e o macho pesa, em média, 120
quilos (embora alguns dos que se encontram no Pantanal possam a chegar a 150 quilos). Na
família dos felinos, só os leões e os tigres são maiores. Esta onça-pintada foi vista perto do rio
Tagoarira, na região de Porto Jofre. Parque Estadual Encontro das Águas. Pantanal. Mato
Grosso, Brasil. Setembro e outubro de 2011.
“Vejo um animal muito bonito, com olhos concentrados, a vegetação, uma árvore de
pequeno porte, com muitas folhas e muitos galhos. Um rio raso com uma areia fina ao redor.”
Jéssica Alves Gonçalves – Totalidade 6.
“Eu vejo folhas finas, parecendo uma toca. Parece que a onça está barriguda e também
que posou para a foto. Ela parece mansa. Ela me lembrou de uma gata. As águas são limpas e
parece que dá para a gente se refletir nelas.” Guilherme Chaves dos Santos – Totalidade 4.
Foto 6 - As cataratas de Ichum: Legenda oficial: “ As cascatas do Ichun-Prarara, localizadas no
planalto Ichun, no coração da floresta amazônica venezuelana, são muito isoladas e de difícil
acesso. Venezuela. Novembro e dezembro de 2006.
“A imagem é bem interessante. Nela podemos ver as cataratas que são belas e, em volta
delas, vemos muita vegetação nativa e intocada, com mitas rochas ásperas. O clima,
aparentemente, é agradável.” Thalia Lima – Totalidade 06.
Com estas atividades, foi possível analisar diferentes partes do planeta ainda intocadas
pela ação do homem branco. Observar culturas diferentes e conhecer um pouco mais do mundo
e de seus habitantes tão distantes. Este trabalho propôs-se dar aos alunos condições de ampliar a
cultura do olhar e descobrir um mundo novo que Sebastião Salgado nos trouxe com a exposição
Gênesis e descobrir novas emoções a partir de suas imagens.
Referências Bibliográficas:
EMEF Nossa Senhora de Fátima. PPT Sebastião Salgado. Vida e Obra. Produção Coletiva.
Professores da EJA, 2014.
PAULA, Betse de. (Direção). Revelando Sebastião Salgado. Documentário. 1h14mins. 2012
PELOS OLHOS DE SEBASTÃO SALGADO. RBS TV. Entrevista. 2014. 6 mins 51 segs.
SALGADO, Sebastião. Exposição Trabalhadores: uma arqueologia do trabalho industrial.
2009.
SALGADO, Sebastião. Gênesis. São Paulo: Ed. Taschen, 2013.
SALGADO, Sebastião; FRANCQ, Isabele. Da minha terra à Terra. São Paulo: Ed. Paralela,
2013.