Monografia Completa

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Monografia Completa
Ministério da Educação
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Departamento Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas
Curso de Especialização em Línguas Estrangeiras Modernas
Giselda Maria Ross
A UTILIZAÇÃO DO DITADO COMO RECURSO DIDÁTICO NO
ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
Curitiba
2005
GISELDA MARIA ROSS
A UTILIZAÇÃO DO DITADO COMO RECURSO DIDÁTICO NO
ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
Monografia apresentada como requisito
parcial à conclusão do Curso de
Especialização em Ensino de Línguas
Estrangeiras Modernas do Centro
Federal de Educação Tecnológica do
Paraná.
Orientadora: Profa. Miriam Sester
Retorta
CURITIBA
MARÇO 2005
TERMO DE APROVAÇÃO
GISELDA MARIA ROSS
A UTILIZAÇÃO DO DITADO COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE LÍNGUAS
ESTRANGEIRAS
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista,
pelo curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, do Centro
Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas – Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná, pela seguinte banca examinadora:
Orientadora:
Profa. Miriam Sester Retorta, MS.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Profa.Regina Helena Urias Cabreira, MS.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Profa. Eliane Regina Costa Oliveira, MS.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Coordenadora:
Profa. Carla Barsotti, MSc.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Curitiba, março de 2005
RESUMO
Esta monografia trata da utilização do ditado como recurso didático no ensino de
línguas estrangeiras. Este trabalho avalia até que ponto o ditado pode funcionar
como ferramenta produtiva para o ensino de línguas. Neste estudo, fez-se uso de
pesquisa qualitativa a partir de levantamentos bibliográficos e eletrônicos, livros e
artigos. O centro do trabalho desenvolvido é a análise das aplicações de ditados e o
seu uso como recurso didático. As novas orientações da pedagogia condenam o uso
do ditado como meio de aquisição da ortografia, mas não como meio de avaliação
de rendimento ortográfico. Com uma nova visão da correção do erro, mudamos sua
imagem negativa. Através de uma correção individual, o ditado torna-se um
instrumento para detectar as lacunas de cada aluno, tornando-o autônomo na gestão
de suas dificuldades. O ditado não é essencialmente um método de teste. É um
exercício que faz escrever, refletir e falar sobre a língua. É um exercício de escuta,
de memória e de reflexão.
Palavras-chave: ditado, ortografia, compreensão oral.
RÉSUMÉ
Cette monographie étudie l´usage de la dictée comme instrument didactique dans
l´enseignement de langues étrangères. Ce travail évalue jusqu´à quel point la dictée
peut fonctionner comme un outil productif pour l´apprentissage de langues. Dans ce
travail, l´étude qualitative a été réalisée à partir de la bibliographie existante. Le
centre du travail développé est l´analyse des applicatons de la dictée et son usage
comme outil didactique. Les nouvelles orientations de la pédagogie condamnent
l´emploi de la dictée comme moyen d´acquisition de l´orthographe et non pas
comme moyen d´évaluer le rendement orthographique. Avec une nouvelle vision de
la correction de l´erreur, nous changeons son image négative. À travers une
correction individuelle, la dictée devient un instrument pour dépister les lacunes de
chaque élève en le rendant autonome dans la gestion de ses difficultés. La dictée
n´est essentiellement pas un moyen de contrôle. C´est un exercice qui fait écrire,
réfléchir et parler sur la langue. C´est un exercice d´écoute, de mémoire et de
réflexion.
Mots-clés: dictée, orthographe, compréhension orale.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................5
CAPÍTULO I: A ORTOGRAFIA E O DITADO........................................7
CAPÍTULO II: A COMPREENSÃO ORAL E O DITADO.....................16
CONCLUSÃO...........................................................................................29
BIBLIOGRAFIA........................................................................................31
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INTRODUÇÃO
Esta monografia trata da utilização do ditado como recurso didático no
ensino de línguas estrangeiras.
O ditado na sua forma tradicional é um exercício em que os alunos
reproduzem formas gráficas de um texto ou palavras escolhidas que são lidas em voz
alta pelo professor. Este trabalho pretende avaliar até que ponto ele pode funcionar
como ferramenta produtiva para o ensino de línguas estrangeiras. As inquietações que
moveram a pesquisa perpassam a constatação do pouco uso do ditado, nos dias de
hoje, como um exercício para melhorar a proficiência em ortografia e compreensão
oral.
Nesse estudo faz-se uso de pesquisa qualitativa a partir de levantamentos
bibliográficos e eletrônicos, livros e artigos.
A escolha do tema pesquisado justifica-se pela pouca importância e pelo seu
pouco uso no contexto atual do ensino de línguas estrangeiras em contraste com o seu
intenso uso por professores de décadas anteriores em instituições escolares.
Através deste estudo, polemiza-se a questão do uso desse recurso didático,
muitas vezes esquecido, no aprendizado de línguas.
O resultado da pesquisa contribuirá para avaliar como o ditado faz parte dos
recursos que o professor tem acesso para o ensino de línguas estrangeiras.
Esse trabalho apresenta discussões entre diferentes autores sobre as
aplicações de ditados, tece comentários e também estuda como os exercícios de ditado
contribuem para o ensino da compreensão oral e ortografia de uma língua estrangeira.
Primeiramente fez-se um levantamento bibliográfico sobre o tema escolhido.
Buscou-se então discutir com os autores as questões levantadas por aqueles que se
dedicam a estudar o assunto. A análise das aplicações de ditados e o seu uso como
recurso didático pelos professores é o centro do trabalho desenvolvido. Após as
conclusões sobre os autores lidos e a análise dos exercícios para a utilização do ditado,
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faz uma discussão sobre esse recurso didático em sala de aula.
Esse trabalho está dividido em dois capítulos. No primeiro, trabalha-se o que
é ditado e o seu uso através dos tempos como ferramenta para o ensino e avaliação da
ortografia. Apresenta-se uma discussão sobre os conceitos e pontos de vista de
diferentes autores com as questões relacionadas aos diferentes aspectos do uso do
ditado. Comenta-se a importância desse exercício do ponto de vista cultural para toda
uma nação como a França onde ocorre um concurso anual de ditado “Les Dicos d´Or”.
No segundo, discute-se o ditado como um instrumento confiável para o
ensino da compreensão oral. Trataremos das relações entre o ditado e a compreensão
oral e como esse exercício pode favorecer um comportamento mais ativo do aluno
através de uma discussão sobre as novas tendências para o bom uso do ditado no
ensino de línguas estrangeiras. Far-se-á também um inventário, a partir de nossas
leituras e experiências, dos diferentes tipos de ditados.
Encerrando o trabalho, nas considerações finais, faz-se uma síntese do estudo
sobre as aplicações de ditados e como eles contribuem para o ensino de línguas
estrangeiras.
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Capítulo I: A ORTOGRAFIA E O DITADO
A ortografia, ou seja, a escrita de uma determinada língua conforme as regras
da gramática e segundo o dicionário, é um assunto controvertido no mundo dos
pedagogos. Para alguns, ela deve ter lugar privilegiado nos objetivos de ensino, pois,
ela é a base do sucesso nos estudos. O aprendizado da escrita é favorável ao
desenvolvimento da inteligência e da memória do aluno assim como sua formação ao
esforço e a observação. Para outros, a ortografia não é sinal de inteligência, é uma
disciplina ultrapassada pelos novos meios de comunicação, como a imagem e a
informática.
Mas a ortografia correta é ainda uma exigência social e real dos tempos de
hoje. Fala-se em um declínio do nível dos alunos no que concerne à ortografia. Mas a
ausência de dados não nos permite compará-la em diferentes épocas. O que
observamos é que ela tem ocupado um lugar secundário no ensino de línguas.
Acredita-se que sua aquisição se faz naturalmente através da leitura. Segundo
Angoujard (1994, p.12), distinguem-se duas formas de conhecimento ortográfico: o
conhecimento específico e o conhecimento geral.
O conhecimento específico corresponde ao domínio da forma gráfica de
certas palavras, permitindo sua identificação imediata durante a leitura e a escrita e sua
relação em conformidade com a norma ortográfica. Esta forma de conhecimento
permite aos alunos em um primeiro momento escrever seus nomes e algumas palavras
de âmbito afetivo (como papai, mamãe etc.) Este domínio concerne à parte lexical das
palavras e é adquirido através da memória.
O conhecimento geral é o dos elementos constitutivos da ortografia como
sistema. Tratam-se então da aquisição de letras (grafemas), suas funções e suas regras.
Esta forma de conhecimento resulta de uma abstração: ela se forma primeiramente a
partir da análise da forma gráfica (conhecimento específico) e consiste no conjunto de
fenômenos ortográficos e só pode ser adquirido através da compreensão requerendo
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um exercício de inteligência.
Ainda conforme Angoujard (1994, p.13), estas duas formas de conhecimento
ortográfico geram problemas. Para o conhecimento específico necessita-se de um
trabalho árduo e sempre insuficiente da memória. E como o conhecimento geral requer
tal capacidade de abstração e tal investimento intelectual visto a complexidade do
sistema ortográfico, ele só pode ser adquirido muito progressivamente.
E para a aquisição da ortografia, segundo as práticas tradicionais de ensino, o
ditado sempre foi um exercício de controle e de suporte de aprendizado.
E o que é o ditado? Na definição do dicionário Larousse, ditado é: “Exercício
escolar que tem por objeto o ensino e o controle da ortografia e que consiste em
escrever as palavras, frases ou texto lidos pelo professor.”.
E assim sendo, o ditado na sua forma tradicional, é um exercício em que os
alunos reproduzem as formas gráficas, sem ajuda externa, de uma palavra ou texto
escolhido e lido em voz alta pelo professor.
Prioritariamente, o ditado sempre teve a função de avaliação e em um
segundo momento, o de aprendizado durante a sua correção comentada.
Na função de avaliação, para Angoujard (1994, p.75), o ditado é um
instrumento atípico e pouco confiável ao mesmo tempo.
Atípico, na medida em que a notação leva em conta somente os erros
cometidos pelos alunos e não seus sucessos como se faz em outras áreas. Isso contribui
muito para impor aos alunos uma imagem negativa da ortografia.
Pouco confiável visto que o ditado coloca os alunos em condições
“esterilizadas” em que eles só devem se preocupar com as formas gráficas, excluindo
as outras operações da atividade de produção escrita. Além disso, o ditado não é
considerado uma atividade comum em nenhuma esfera da comunicação na vida real.
O ditado tem alguns inconvenientes que podem comprometê-lo como
instrumento de medida. Um deles é durante a administração oral. Se o aluno estiver
desatento, ou houver barulho no ambiente ou se a pessoa que dita tiver algum
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problema de dicção, essas circunstâncias podem interferir no resultado do exercício.
Outro inconveniente é a forma de corrigi-lo, um erro repetido ou uma palavra com
dois erros, devemos retirar mais pontos? Ou considerá-los como um só erro?
Enfim, um inconveniente, já citado anteriormente, é o aspecto negativo da
correção. Retiram-se pontos dos alunos pelos seus erros, a nota reflete então mais o
não saber que o saber.
As evoluções da didática da língua conduziram a novos objetivos, tais como
desenvolver a capacidade do aluno de ler textos variados, compreendê-los e aprender o
pensamento de um autor, expressar por escrito uma vontade, um pensamento. A leitura
e a escrita devem ser privilegiadas. E a ortografia, o que fazemos dela?
Cabe ao professor engajar primeiramente a importância da ortografia na
leitura e na escrita insistindo entre as relações entre os fatos da língua encontrados. A
ortografia não é trabalhada pura e simplesmente, mas serve para responder às
interrogações e às necessidades.
O ditado foi objeto de numerosas análises nos anos de 1970-1980. Na
França, o plano de renovação do ensino do francês expôs, em 1970, a seguinte opinião:
“O ditado não é um meio de aquisição de ortografia sob qualquer forma
que seja. Pela complexidade de suas dificuldades, ele coloca o aluno em
situação de fracasso porque os meios não lhe são fornecidos para resolver
os problemas que ele encontra (acasos do texto que não correspondem a
progressão da aprendizagem); por outro lado, o aluno deve transcrever um
pensamento e um estilo que não são seus e que ele não tem o tempo de
assimilá-los (como seria o caso na seqüência de um exercício de
reconstituição de texto). O aluno se vê em uma situação que o adulto só
encontra no âmbito profissional.”i
As novas orientações da pedagogia da ortografia condenam o uso do ditado
como meio de aquisição da ortografia e não como meio de avaliar o rendimento
ortográfico. A redação também pode servir para esse objetivo. Mas o ditado possui
propriedades superiores de avaliação.
Uma redação é um exercício em que há variações de palavras, de conteúdo e
de extensão, sendo difícil a interpretação dos resultados. A redação pode ser
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empregada para avaliação do vocabulário ou das formas de expressão ou de outras
variáveis da escrita, mas no que diz respeito à ortografia, o ditado é preferível pela sua
uniformidade.
O teste de ortografia deve ser um instrumento homogêneo capaz de
identificar as dificuldades e suas tipologias.
Podemos então através desse exercício fazer uma triagem dos erros
cometidos. E segundo Angoujard (1994, p.36), podemos fazer essa triagem seguindo
dois critérios: a recorrência e o grau de conhecimento ortográfico que esses erros
manifestam. Mudando-se a visão da constatação do erro não para sancioná-lo, mas sim
para retificá-lo, organizá-lo e compreender onde está o problema, ele perde sua
imagem negativa. Através de uma análise dos erros, pode-se então diferenciar o que é
circunstancial ou freqüente de uma falta de conhecimento ou de saber em construção.
Fazendo-se a distinção entre os erros episódicos daqueles que se apresentam
de maneira sistemática podemos identificar as suas causas e tentar corrigi-los.
Esses erros sistemáticos assinalam um déficit de conhecimento que deve ser
reparado.
Somente assinalar e levantar essas recorrências não são o bastante para se
avaliar o conhecimento ortográfico dos alunos. É preciso identificar e classificar os
erros para se obter uma noção clara dos problemas a serem solucionados. Podemos
assim identificar se o aluno tem dificuldades, em quais aspectos: lexical, de sintaxe,
textual e etc.
Esse levantamento e classificação dos erros é um instrumento muito útil
tanto para o professor quanto para o aluno. Assim, refletindo e revisando erros e
acertos os alunos podem adquirir progressivamente um domínio real da ortografia tão
necessária para a produção escrita.
Repertoriando as dificuldades dos alunos, o professor tem uma base realista
de trabalho e os alunos conseguem se corrigir de maneira interativa. Seria um modo de
ensino inverso a uma acumulação de regras e normas da língua.
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Ao se fazer a correção de um ditado, o erro não deve ser sancionado, mas
sim observado para se buscar um progresso. Através da observação de uma
necessidade ou de uma dificuldade encontrada pode-se desenvolver uma atitude de
curiosidade do aluno fazendo com que ele procure soluções, dando-lhe a impressão de
progredir.
Desse modo, o ditado pode ser um instrumento para detectar as lacunas de
cada aluno em relação às categorias específicas da ortografia.
A correção do ditado deve implicar o aluno. Por essa razão, podemos usar
um código de correção que dá uma idéia do tipo de erro, mas também convida o aluno
a se corrigir sozinho. Essa correção deve ser feita de maneira individual e não coletiva,
pois cada aluno deve proceder a uma reflexão ou uma investigação a respeito de seus
próprios erros e não de seus colegas.
É preciso visar o desenvolvimento de uma autonomia do aluno na gestão dos
problemas encontrados quando ele está em situação de escrita.
Após ser feito o repertório de dificuldades encontradas, os alunos podem
elaborar, individual ou coletivamente, quadros para a memorização das constantes
observadas servindo como um bom instrumento para essa autonomia.
Esses instrumentos coexistentes evidentemente com os dicionários,
gramáticas e manuais, se caracterizam por equilíbrio entre o levantamento dos
problemas de língua a serem resolvidos e suas resoluções. Essa situação faz o aluno
progredir na apropriação da língua. Partindo-se da necessidade de uma resposta
imediata, o aluno educa o seu raciocínio ortográfico.
Tanto o código de correção quanto o quadro das constantes devem ter uma
perfeita continuidade e uma perfeita coerência no método utilizado. Os alunos podem
então se servir desses instrumentos, corrigindo-se com a ajuda desses quadros e desses
códigos, desenvolvendo suas capacidades de auto-correção, fator de autonomia, e sua
vigilância ortográfica.
Para que o ditado possa objetivamente controlar as aquisições é preciso que
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os textos ditados sejam escolhidos ou compostos em função das lições estudadas e dos
exercícios efetuados em sala. Normalmente, os textos são de autores selecionados
pelas suas qualidades literárias. Deve-se propor um texto com dificuldades seriadas e
com objetivos específicos. Por exemplo, um ditado centrado num ponto ortográfico ou
numa conjugação.
Mas esse tipo de exercício também tem seus problemas. Se focalizar sobre
um só aspecto faz com que o resto seja negligenciado. Freqüentemente encontramos
exercícios, nos manuais de ortografia de escolha sistemática entre oposições (como por
exemplo, no francês a diferença entre: a/à; ou/où; on/ont; est/et).
Esses exercícios são baseados na dedução onde o aluno raramente leva em
conta a gramática da frase. Passa a ser um jogo entre dois sons ou dois homófonos, o
sentido fica ausente. Nesse jogo de dedução o aprendizado da língua ficaria
prejudicado, pois se sabe que o aluno progride essencialmente por indução e por
analogia. Ele traduz em regras intuitivas as semelhanças e diferenças que ele descobre
a partir dos elementos observados.
Mas mesmo com as críticas sobre sua eficácia no processo de aprendizado e
de controle da ortografia, o ditado beneficia de uma grande popularidade. Ele continua
enraizado nas práticas da escrita da nossa sociedade. As razões de sua prática
resistente são provavelmente diversas: histórica, social, simbólica e outras mais.
O ditado era usado como ferramenta para preparar futuros empregados e
futuras secretárias. Atualmente essa função desapareceu com as novas tecnologias
como os programas de tratamento de texto. Essa atividade sempre foi praticada no
ensino tradicional da ortografia.
E é difícil lutar contra o que se está estabelecido. Na França, o ditado é
praticado em muitos exames e concursos oficiais. Mesmo em nosso país, vimos nas
ultimas eleições os candidatos a prefeito dos municípios serem submetidos a esse
exercício.
Assim, a mídia francesa também reforça essa atividade através do
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prestigiado ditado de Bernard Pivot.
Ele é um jornalista francês que anima programas culturais na televisão.
Pivot começou sua carreira profissional como estagiário no jornal Progrès
em Lyon, trabalhando com o jornalismo econômico durante um ano e após esse
período, ele se integra ao Figaro littéraire em 1958. Em 1970, ele anima uma crônica
diária na radio meio séria meio cômica, sem hesitar em abordar assuntos políticos, não
muito apreciado pelo Presidente da República Georges Pompidou.
Em 1971, o Figaro littéraire desaparece e Bernard Pivot torna-se chefe de
serviço no Figaro. Ele demite-se em 1974 e inicia um projeto de revista, proposto por
Jean-Louis Servan-Schreiber, criando assim a revista Lire.
Nesse ínterim, Pivot anima, a partir de abril de 1973, Ouvrez les Guillemets,
no canal 1.
Em 1974, ele lança o programa Apostrophes, cuja primeira emissão foi em
janeiro de 1975 através da rede Antenne 2. Esse programa se encerra em 1990, mas
Bernard Pivot cria então Bouillon de Culture que é uma mistura de literatura, cinema e
arte. Sua última emissão se dá em junho de 2001 e é um acontecimento para o mundo
da edição e da mídia.
A partir de janeiro de 2002, Pivot parte ao encontro de estrangeiros que
escolheram juntar a cultura e a língua francesa à sua cultura original. Trata-se de
retratos de homens e de mulheres que cultivam seu “double je” (duplo eu). Esse
programa, intitulado “Double je” é transmitido mensalmente na rede France 2 aos
domingos à noite.
Bernard Pivot escreve também crônicas literárias para o “Journal du
Dimanche”.
Em outubro de 2004, ele é eleito para a Académie Goncourt, sendo o
primeiro não escritor a ser eleito, tal sua importância no mundo da crítica literária.
Com a doutora em lingüística Micheline Sommant, em 1985, ele lança os
Championnats d´orthographe que se tornam, em 1992, os Championnats mondiaux
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d´orthographe antes de se tornarem os Dicos d´Or, no ano seguinte.
Os Dicos d´Or são o concurso anual de ditado, em língua francesa.
Esse concurso tem três fases. Na primeira, são feitos testes de seleção na
imprensa, e em particular na revista “Lire” e l´Express” e também em alguns
estabelecimentos escolares. No outono, os vencedores dos testes preliminares são
reunidos por região para participarem da semifinal. E no inverno, os vencedores de
cada categoria são reunidos em um lugar único para a final. Em geral, em um lugar de
prestígio em Paris.
Há quatro categorias: juniores escolares, juniores, seniores profissionais e
seniores amadores.
A participação a esses Dicos d´Or é totalmente gratuita, o participante só tem
que comprar obrigatoriamente a revista para obter os questionários.
O banco Crédit Agricole se associou, desde a origem, a esse concurso de
ditado, os Dicos d´Or. Por tratar-se de um evento que atrai tradicionalmente milhões
de apaixonados pela ortografia da língua francesa, o Crédit Agricole o patrocina,
considerando que a língua é um patrimônio de uma nação.
Em novembro de 2004, aconteceram as doze finais regionais, mobilizando
em toda a França, funcionários do Crédit Agricole e 1000 corretores voluntários a
serviço desse patrimônio lingüístico, cultural e histórico, e dos concorrentes, ou seja,
dos jogadores. Pois se trata, de um jogo. Um jogo para se compreender, se aprender,
progredir e se ultrapassar. É uma experiência em que se aumenta o conhecimento, mas
também, experimentam-se momentos de vitória e de alegria.
Na última semifinal, mais de 5000 candidatos participaram para a seleção
para a final nacional.
Esse concurso não deve ser visto somente como um jogo, mas também como
uma ferramenta pedagógica.
Os Dicos d´Or Scolaires, reúnem numerosos colégios, escolas, liceus,
estabelecimentos profissionais e centros de ensino da França. Todos os anos, em torno
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de 400.000 jovens são convidados a participar desse “jeu pédagogique” (jogo
pedagógico) como é chamado por Bernard Pivot. Além dos jovens estudantes, milhões
de expectadores exercitam a ortografia de maneira divertida.
Assim esse membro da Académie Goncourt, transformou essa atividade, dita
por muitos, traumatizante, em uma atividade lúdica, substituindo a dificuldade pelo
prazer.
Tradicionalmente, como dito anteriormente, o ditado é visto como um
exercício de avaliação da ortografia. Mas é preciso, que o aluno se conscientize da
realização fônica das formas que habitualmente ele vê escritas. Com exercícios de
confrontação da grafia e fonia, a palavra escrita não é mais vista como inimiga da sua
forma sonora. O ditado pode então ser um meio eficaz de treinamento para
compreensão oral.
No capítulo seguinte, trataremos da relação existente entre o ditado e a
compreensão oral e como esse exercício pode ser um instrumento confiável para
avaliação de uma competência geral. Faremos também um inventário dos tipos de
ditados que pudemos repertoriar durante nossas leituras e experiências.
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CAPÍTULO II: A COMPREENSÃO ORAL E O DITADO
No capítulo anterior tratamos do ditado como um exercício de controle e de
suporte de aprendizado da ortografia quando usado na sua forma tradicional. Falamos
da sua função de avaliação e de aprendizado. Levantaram-se alguns inconvenientes
que o comprometem como instrumento de medida e de correção e seu aspecto
negativo. Vimos que as novas orientações da pedagogia da ortografia condenam o uso
do ditado como meio de aquisição da ortografia, mas não como meio de avaliar o
rendimento ortográfico. O ditado privilegia-se pelo seu caráter homogêneo necessário
para identificarmos as dificuldades e suas tipologias diferentemente da redação.
Através do ditado podemos fazer uma triagem dos erros cometidos seguindo os
critérios da recorrência e o grau de conhecimento ortográfico que esses erros
manifestam. Assim, através de uma nova visão do erro não com o objetivo de
sancioná-lo, mas de retificá-lo, organizá-lo e identificar o problema, ele perde sua
imagem negativa. Torna-se importante a diferenciação entre a falta de conhecimento e
o saber em construção.
O ditado pode também ser um instrumento para detectar as lacunas de cada
aluno. A sua correção deve ser feita individualmente para que o aluno reflita e
investigue seus próprios erros. O aluno deve desenvolver uma autonomia na gestão das
suas dificuldades. O levantamento dos problemas de língua e suas resoluções fazem o
aluno progredir na apropriação da mesma.
Falamos que é preciso ter cuidado na escolha dos textos ditados, que eles
devem ser escolhidos ou compostos em função das lições estudadas e dos exercícios
efetuados em sala e não somente pela sua qualidade literária.
Mas apesar de todas as críticas sobre sua eficácia, o ditado beneficia de uma
grande popularidade e na França o ditado é reforçado pela mídia com o prestigiado
ditado de Bernard Pivot, os “Dicos d´Or”, que atraem milhões de apaixonados pela
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ortografia.
Nesse capítulo, veremos qual outra função tem o ditado. Ao fazê-lo, o aluno
deve se conscientizar da relação fônica das formas escritas. Com exercícios de
confrontação da grafia e fonia, a palavra não é mais inimiga da sua forma sonora. O
ditado relaciona o que é falado com o que é escrito sendo um instrumento importante
de treinamento para a compreensão oral.
A compreensão oral é uma das etapas mais fundamentais da comunicação.
Na aquisição de uma segunda língua, como na da primeira, a compreensão precede a
expressão. Antes de poder formular ou transmitir uma mensagem oral, o aluno deve ter
ouvido a segunda língua. Ele deve ter recebido um banho lingüístico rico e variado.
Quanto mais mensagens significativas ele receber, mais apto ele estará para se
apropriar da segunda língua. Assim, o professor tem um papel importante para o
desenvolvimento da compreensão oral. Ele deve se comunicar sempre na língua alvo,
fazendo um esforço consciente para ser bem compreendido pelo aluno. Ele deve levar
o aluno a saber escutar, a assimilar a língua. O professor pode facilitar a compreensão
através do contexto, dos gestos, das expressões do rosto, da mímica ou pela entonação.
Segundo a pedagogia, a compreensão oral comporta três etapas: a pré-escuta,
a escuta e a pós-escuta.
A pré-escuta é o momento em que o professor prepara os alunos para receber
o conteúdo. É a fase em que se criam expectativas nos alunos levando-os a antecipar o
conteúdo que eles ouvirão. É também a fase em que o professor verifica o vocabulário
conhecido pelos alunos sobre o assunto apresentado. Na seqüência, o professor fornece
o vocabulário desconhecido para melhorar a compreensão. Neste momento o professor
explica aos alunos a tarefa que eles deverão executar durante ou após a escuta.
A escuta é a etapa seguinte em que o aluno tenta apreender o sentido global
do texto se apoiando em todos os indícios, lingüísticos ou não lingüístico. É o
momento em que ele verifica as hipóteses propostas na etapa anterior. Pode-se
oferecer a possibilidade de uma segunda escuta.
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Na pós-escuta, os alunos compartilham o que compreenderam e as
estratégias que utilizaram. É a fase em que eles compartilham impressões e exprimem
seus sentimentos.
Após essas três etapas, pode-se fazer um prolongamento com um conjunto de
atividades diretamente ligadas ao tema. Cada grupo de alunos poderá escolher uma
atividade diferente e comunicar ao resto da classe as dificuldades, suas reações e os
resultados obtidos. Cada equipe poderá ter uma tarefa particular.
Mas como se faz uma escuta eficaz? Para tanto, o aluno deve utilizar
diferentes processos mentais. É levando o aluno a utilizar toda a gama de processos
que podemos garantir o desenvolvimento de sua habilidade a escutar. É a intenção de
comunicação que indica ao aluno qual dos processos mentais deve ser privilegiado:
- A detecção é a busca de uma informação explícita dada em uma
mensagem oral ou escrita.
- A seleção é a busca de uma informação que faz parte do conjunto de
outras informações.
- A inferência é a busca de uma informação que não é dada
explicitamente. O aluno deve recorrer aos seus conhecimentos
anteriores do assunto ou àquilo que ele acabou de ouvir para detectar a
informação desejada.
- A avaliação, mesmo sendo um processo mental, não é um meio que
permite a compreensão da mensagem. É preciso compreender antes de
poder avaliar. Avaliando, o aluno deve julgar a pertinência da
mensagem em relação com a intenção e isso a partir de seus
conhecimentos anteriores.
A compreensão de um discurso oral se apóia na escuta. A escuta de discursos
orais facilita o desenvolvimento lingüístico, ela permite ao aluno a descoberta das
estruturas da língua. Essa compreensão das estruturas lingüísticas ajuda o aluno a
compreender o papel das estruturas da língua antes mesmo que ele tenha tido a ocasião
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de manipulá-las.
A compreensão na escuta resulta da capacidade de reconhecer e estabelecer
os elos entre o discurso e o texto e seus conhecimentos e experiências anteriores. Essa
capacidade exige processos cognitivos complexos.
Podemos distinguir três níveis: a compreensão literal que permite um
levantamento
ou
identificação
das
informações
explícitas;
a
compreensão
interpretativa que se interessa pelas relações implícitas entre os diversos componentes
do discurso ou do texto; e a compreensão crítica que recorre ao julgamento pessoal a
partir de critérios pré-estabelecidos ou de critérios interiorizados.
Para uma boa compreensão oral é necessário que os alunos tenham
conhecimento das regras que regem o funcionamento da língua oral. Isso permitirá a
percepção melhor das diferenças. Muitas vezes, a má compreensão se dá por uma má
percepção devido à quase homofonia das palavras e outras vezes, por uma má
interpretação devido à presença de formas parasitas no aluno impedindo-o de
reconhecer as formas autênticas. Em determinados momentos, a compreensão só
poderá ter sucesso se o aluno levar em conta o contexto, podendo incorrer em contrasensos graves. Assim, cabe ao professor fazer o aluno reagir sobre o enunciado que ele
acredita ouvir fazendo-o apreender o ilogismo. O professor deve se utilizar de uma
pedagogia para dar confiança e encorajamento ao aluno, não o desestabilizando, mas
sim mostrando que a língua oral não é uma língua de “pegadinhas” ou de “arapucas”,
mas uma língua que obedece a regras cujo conhecimento pode ajudá-lo.
É preciso que o aluno se conscientize da realização fônica das formas
escritas. Isso pode ser feito através de atividades de leitura estudada que permitem a
confrontação da grafia/fonia, mas também através do ditado como meio eficaz de
treinar o aluno à compreensão oral.
Analisando as dificuldades notamos que a incompreensão decorre não
somente do que o aluno ouve mal ou segmenta mal, mas também do que ele antecipa e
reinterpreta a partir dos indícios que ele ouve. Essa análise mostra que a compreensão
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oral é um processo ativo no qual existe uma interação entre os processos montantes e
descendentes; constrói-se o sentido de uma mensagem ao mesmo tempo em que se
decodificam os sons.
O ditado não é simplesmente a forma oral que deve ser transcrita. É a escrita,
oralizada pelo professor e transcrita novamente. O ditado é sempre um grande
momento, porque negá-lo. É estressante, mas podemos fazer desse estresse uma
dinâmica positiva reunindo todo o grupo. Os exercícios em que os alunos se
mobilizem a esse ponto nesse estado de recolhimento não são muito freqüentes.
Para Breton (2002), vários aspectos estão em jogo durante o ditado:
- A compreensão global do texto: não podemos ditar um texto se o aluno
não pode representá-lo mentalmente e cujas formas não lhe são
suficientemente familiares.
- A percepção auditiva e a seletividade do ouvido: ouvir, compreender,
ser capaz de fazer uma boa segmentação de palavras (muitos escrevem
se redizendo o texto).
- O gesto gráfico: posição e postura do escritor, capacidade de efetuar
uma boa rotação das letras, de escrever de forma legível e rápida. Os
alunos mais lentos cometem em geral mais erros. Escrevendo em atraso
o que é ditado perde-se “o fio da meada”.
- Organização do espaço da página: percepção dos grupos sintáxicos,
rupturas, capacidade de antecipar a pausa de uma palavra. Devemos
precisar os parágrafos.
- O tempo de duvidar: cascatas de erros ocorrem às vezes de uma dúvida
que não pode ser elucidada por falta de tempo.
O ditado não é essencialmente um método de teste, mas poderá mostrar,
clara e rapidamente, as habilidades de nossos alunos em ouvir, lembrar e escrever
corretamente o que foi ditado. O ditado é primariamente um método de ensino e
poderá vir a ser um item importante no processo de treinamento auditivo.
21
Se considerarmos o ditado como sendo um exercício de treinamento
auditivo, estaremos evitando a distorção na pronúncia de palavras ou sílabas, o que
facilitará sua identificação ou pronúncia. É necessário que evitemos um excesso de
ênfase nas palavras ou sílabas que não são normalmente tônicas. Entretanto, se lermos
as frases de maneira exageradamente lenta, isso não será fácil. Recomenda-se então,
efetuar somente uma leitura de sentenças completas em velocidade de fala normal,
assim o ritmo e a entonação se situarão próximos à normalidade. O ouvido deverá,
dessa forma, ser treinado a captar e reter sentenças pronunciadas normalmente. Isso
implica, como já dito anteriormente, que teremos que selecionar trechos que
contenham sentenças de extensão e de grau de dificuldade apropriados para a classe.
Seria interessante que o professor preparasse seus próprios textos para ditado, tomando
como base o vocabulário, as estruturas e os pontos gramaticais constantes de uma lição
dada recentemente. Quando os alunos já tiverem adquirido esses conhecimentos, o
grau de dificuldades poderá então ser gradualmente aumentado. É preciso que esse
trabalho seja feito regularmente para podermos verificar o aumento da capacidade de
atenção dos alunos.
Ao se fazer um ditado, podemos ler a sentença somente uma vez para que os
alunos se acostumem a ouvir e entender a fala normal, na qual as sentenças são
raramente repetidas. A intenção é de fazer com que os alunos exercitem a captação de
sentenças quando as ouvirem e as retenham em suas mentes o tempo suficiente para
poder escrevê-las. O objetivo é que a habilidade dos alunos em fazer isso aumente
gradativamente e não que eles se desesperem se não alcançá-lo. Aqueles que
necessitam de ajuda para lembrar o que esqueceram podem ser socorridos pelo
professor ou auxiliados por outro aluno que tenha escrito a sentença corretamente. Em
toda essa atividade, as componentes, cooperação e ajuda mútua, são muito enfatizadas.
A correção do ditado pode ser feita de diversas maneiras. Coletivamente,
individualmente, pelos colegas, em grupos, etc. Qualquer um dos alunos poderá copiar
a sua versão no quadro e de maneira interativa a correção é feita e comentada. Nesse
22
momento todos poderão expor suas dificuldades dando ao professor a oportunidade de
tratá-las individual ou coletivamente. Mas toda correção deve ser supervisionada. É
preciso também dar um sentido à correção.
Todos os erros não têm o mesmo valor. Um erro não é sempre um insucesso,
pode ser um saber em construção. É preciso diagnosticar o tipo de erros e explicitá-los.
A análise dos erros é rica em ensinamentos. Para Breton (2002), alguns erros de hoje
prefiguram talvez o uso de amanhã.
O professor precisa enfatizar a espontaneidade e
a
criatividade
experimentando diferentes técnicas, tendo em mente os resultados esperados do
treinamento auditivo, coordenando mão/ouvido, fixando estruturas de sentenças na
mente.
Nenhum professor precisará adotar exclusivamente apenas um modo de fazer
ditado. Através de nossas leituras, fizemos um inventário de algumas formas de
ditados:
- Auto-ditado: memorizar um texto curto, muitas vezes preparado em
classe (vocabulário, inventário de dificuldades) e saber restituí-lo por
escrito.
- Ditado preparado: propor um texto com dificuldades seriadas e com
objetivos específicos. Por exemplo, um ditado centrado em uma
questão ortográfica ou uma conjugação.
- Ditado memória: palavras ou frase aprendidas e reunidas em um
repertório.
- Ditado sondagem: antes de uma atividade de ortografia.
- Ditado parcial: texto com somente algumas palavras a serem escritas.
- Ditado explicado: em conjunto durante o ditado.
- Ditado dirigido: ditado em que o professor chama atenção sobre os
problemas ortográficos.
- Ditado problema: em geral curto, sobre uma frase ou uma série de frases
23
que indicam um problema a ser resolvido, freqüentemente em grupo.
- Ditado sem erro: exercício com trocas coletivas com o objetivo de
trabalhar as dúvidas de ortografia.
- Ditado refletido: realizado a partir de um texto compreendido por todos.
Após o ditado, os alunos sublinham os problemas e durante as aulas
eles encontram sozinhos as soluções. Se isso não acontecer eles
encontrarão as respostas durante a fase coletiva. A classe propõe
indícios, mas a regra é de não dar a solução final. Esse exercício pode
tomar uma forma lúdica e dinâmica.
- Ditado com ferramentas: ditado em que o aluno pode recorrer a
dicionários, livros de conjugação, lista de vocabulários e procurar
corrigir seus erros sozinho.
- Ditado de controle: sobre um ponto ortográfico, o aluno procede por
analogia e substituições.
- Ditado ao adulto: coletivo, em pequenos grupos ou individual, esse
ditado permite a jovens alunos de criar um texto que o adulto
transcreve.
- Ditado a um colega: permite a confrontação em um pequeno grupo ou
em dupla durante a produção de um texto. O ditado ao adulto e o ditado
ao colega estão em relação estreita com os trabalhos de produção
escrita.
- Ditado de música: com o auxilio de um gravador ou de um aparelho de
CD, o ditado é realizado pelo intérprete da canção escolhida e o texto
transcrito pode ser discutido em classe sobre seus diferentes aspectos.
- Ditado com lacunas: o aluno recebe a cópia de um texto do qual foram
retiradas algumas palavras. O aluno acompanha a leitura do professor e
completa as lacunas.
- Ditado em duplas: o professor seleciona um pequeno trecho que deverá
24
ser ditado e organiza a turma em duplas heterogêneas. Quem tem mais
dificuldade dita primeiramente. Durante o ditado o aluno deve
acompanhar o que o colega escreve apontando os erros. Em seguida, os
papéis são trocados. O aluno com maior grau de dificuldade se sente
encorajado com a obtenção de melhores resultados.
- Jogo de ditado: o professor põe no quadro-negro várias cópias do texto a
ser ditado. O aluno dirige-se então ao local onde estão afixados os
textos, o memoriza e escreve o trecho. Vence quem escrever em menos
tempo com letra legível e menor número de erros. Esse exercício
permite trabalhar a articulação entre o aumento da velocidade na escrita
e redução de problemas ortográficos.
- Ditado cópia: o aluno escreve no ritmo que lhe é ditado, um texto que
ele tem diante de seus olhos.
- Ditado teatral: o texto escolhido deve ser impresso e dividido em várias
partes mais ou menos iguais e em número suficiente para que cada
membro do grupo tenha uma parte em mãos. Essas partes devem ser
numeradas na ordem correta do texto. Assim o texto deve ser preparado
por cada grupo e feito isso se passa ao ditado propriamente dito. Cada
membro do primeiro grupo dita a sua parte do texto ao resto da classe.
Dessa maneira, os grupos vão se alternando até que todo o texto esteja
ditado. No momento da última recitação todos os alunos terão escrito o
conjunto do texto menos as palavras que foram ditadas por eles. Os
gestos e a entonação devem ser observados durante a recitação das
partes.
- Ditado silencioso: o professor dita palavras sem emitir sons, somente
articulando
os
lábios.
A
lista
do
vocabulário
é
fornecida
antecipadamente.
- Ditado de números: os números são ditados na língua alvo, os alunos
25
devem transcrevê-los em letras ou algarismos.
- Ditado relâmpago: o professor vai ditando as palavras, escrevendo-as e
apagando-as imediatamente no quadro-negro.
A lista é inesgotável e cada exercício responde a objetivos diferentes e deve
ser coerente com o conjunto de atividades da classe. O que é determinante é a relação
cotidiana da classe com o aprendizado. O aluno torna-se observador, responsável,
autônomo e sem medo de construir o seu saber.
O ditado não é apenas uma parte importante da língua. Quando estiverem
ditando textos, narrativas ou descrições de experiências científicas ou descrevendo
eventos que esperam que sejam lembrados, os professores de outras matérias poderão
fazer uso da mesma técnica. Através de comentários, repetições e discussões dos itens,
os professores podem se certificar se tudo aquilo que foi escrito será realmente
compreendido e lembrado.
Segundo Breton (2002), o ditado tem múltiplos interesses: ele faz escrever,
ele leva a refletir e falar sobre a língua desenvolvendo-se atitudes metalingüísticas. O
comentário e reflexão sobre a língua são atividades muito ricas e apreciadas pelos
alunos. O ditado se inscreve no mecanismo geral da classe como um mecanismo
construtivista adaptado ao aluno, partindo dele mesmo.
Rolland (2000) vê o ditado como um exercício mais complexo do que
parece. Ela reconhece todas as críticas que lhe são feitas tais como exercício artificial,
só se faz ditados na escola, exercício enganador, pois os resultados obtidos não
correspondem às verdadeiras aquisições transpostas na escrita espontânea, exercício
traumatizante, às vezes em razão da dificuldade da ortografia de algumas línguas,
exercício passivo, pois o aluno se deixa conduzir, longe de criar, de inventar e de se
expressar, valores esses privilegiados nos nossos tempos.
Esse repertório de defeitos pode ser compensado por uma análise minuciosa
do esforço específico que representa o ditado. Percebemos no decorrer desse trabalho
que sua finalidade essencial não está provavelmente na aquisição da ortografia.
26
Rolland (2000) tenta descrever o que se passa no ditado para justificar o seu interesse
pedagógico.
Quando nos submetemos ao ditado de um texto exige-se um saber escutar e
ouvir. Durante um diálogo real a pessoa escuta e ouve duas condições obrigatórias
para que haja comunicação. Os interlocutores se compreendem com a ajuda da
entonação, do gestual, da compreensão da situação, da emotividade ou do afetivo
preenchendo alguma lacuna para que a informação seja clara.
Não é essa escuta que é solicitada no ditado. É uma escuta voltada para a
língua, sem outra implicação. O afetivo fica colocado entre parênteses. Mas isso não
deve ser visto como passividade, ao contrário. O aluno deve discriminar e sintetizar
elementos de diversos níveis de língua.
Rolland (2000) considera que os erros por falta de atenção são reveladores de
que a escuta é insuficiente para permitir a transcrição integral do que deve ser ouvido.
Dissemos que o aluno deve discriminar os elementos de diversos níveis de
língua. Primeiramente, há um nível fonético em que os sons devem ser percebidos, daí
o interesse pelo ditado de sons como exercício indispensável para escrever. A
discriminação do ouvido pode ser grandemente ajudada pela introdução de sinais
gráficos distintos para representar os sons. Rolland (2000) explica que crianças que
tem dificuldades para falar, a leitura e, sobretudo a escrita, são meios possíveis de
reeducação, desmentindo a enorme certeza da afirmação que é preciso saber falar antes
de poder ler. O ler e o escrever caminham juntos no aprendizado e às vezes podem
intervir no aprendizado da palavra, isto é, do oral. O aluno que fala mal, deformando
sons ou escamoteando elementos de sintaxe, pode encontrar na escrita uma via de
correção.
Outra discriminação implica na segmentação das palavras. Em francês, as
ligações entre palavras, a elisão da vogal do artigo diante de uma vogal, podem levar a
persistentes confusões nos alunos debutantes na língua. Transcreve-se o que se ouve
sem se preocupar em saber o que a palavra quer dizer. Nesse segundo nível de
27
discriminação é preciso compreender o sentido do que se escuta para poder escrever.
No momento da escuta, o aluno não pode somente confiar no ouvido, pois
conforme Rolland (2000) seria uma falta de inteligência do texto, ou uma falta de
inteligência pura e simplesmente, antes de ser um erro de ortografia.
Existem três situações: o aluno não compreendeu, não procurou compreender
ou compreendeu, mas não soube se achar nas grafias à sua disposição.
Se ele não compreendeu é porque o ditado não está a seu nível, é preciso
ditar textos adequados ao aluno. No momento de escrever não se deve aceitar que o
aluno escreva qualquer coisa tentando adivinhar a grafia da palavra. O ditado não é um
jogo de adivinhação.
Se ele não procurou compreender é por estar convencido que não tem muita
coisa para compreender, as exceções devem ser consideradas, mas a regra aparece
mais freqüentemente. Antes do ditado, as dificuldades devem ser esclarecidas evitando
assim um grande número de erros.
Se o aluno se perdeu nas grafias é preciso que o professor retome o texto e
elucide as dificuldades mostrando que a morfologia das palavras deve ser associada ao
seu sentido. É o momento em que o ditado faz a relação entre o que se escutou e o que
se ouviu.
O erro de ortografia propriamente dito é quando o aluno escolhe uma grafia
incorreta que não descaracteriza, no entanto, a estrutura fonética da palavra. Nesse
caso, o sentido não pode ajudar em nada e somente a memória lexical pode auxiliá-lo.
Para alguns defensores do ditado, é corrigindo seus erros que o aluno adquire
o conhecimento das grafias corretas e das regras de funcionamento da língua escrita.
Mas para tanto, a correção do exercício deve ser efetuada, particularmente de maneira
estritamente individual e não coletiva, pois cada aluno deve proceder a uma reflexão
ou uma pesquisa a respeito de seus próprios erros e não do seu colega. Corre-se o risco
de gravar na memória grafias incorretas. Cada vez que uma palavra é escrita, a grafia
se inscreve na memória visual e gestual do escritor.
28
Sendo a grafia de certas línguas um pouco arbitrária, somente a
familiarização de seu uso pode fazer que ela seja adquirida. Como saberemos escrever
corretamente uma palavra se nunca a vimos antes. Seria interessante que, antes do
ditado, as grafias problemáticas que serão encontradas sejam revistas.
Os alunos poderiam recorrer a dicionários e vocabulários, mas antes da
correção. Normalmente quando temos dúvidas sobre alguma palavra fazemos uso do
dicionário para nos certificarmos da nossa memória.
Além da memória lexical, o ditado exige uma segunda memória que é a do
texto propriamente dito. Existe um fio condutor entre o começo, meio e fim do texto.
Se o aluno perder esse fio poderá incorrer em seqüências impossíveis, tanto
gramaticais quanto lexicais. Nesse caso, o sentido representa um papel importante.
Assimilar o sentido global do texto é uma maneira de não cometer erros.
A palavra lembrança diz bastante que o ditado é um momento de recapitular,
muito mais que um tempo de aprendizado, e que ele exige uma síntese complexa de
noções (Rolland, 2000). O ditado é um exercício que permite entrar na língua sendo
preciso ouvi-la, compreendê-la, dominar suas regras de ortografia. Podemos considerálo como um treinamento para realizar sínteses de aquisição com uma mobilização
imediata de conhecimentos.
Muitos criticam que o ditado não é uma atividade da nossa vida social real.
Isso não é uma objeção válida, pois no cotidiano muitas vezes temos que escutar, ouvir
e transcrever o que nos foi dito. Certamente, existem muitas maneiras de se aprender a
ortografia e trabalhar a compreensão oral, o ditado é uma delas dentre outras, mas é
um excelente exercício de escuta, de memória e de reflexão.
Para muitos, um exercício ultrapassado, mas não por isso esquecido. Ele
pode ser rejuvenescido, revestido e remodelado de acordo com as necessidades de
aprendizado.
Como diria Antoine Laurent de Lavoisier, o célebre químico francês: “Na
natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”.
29
CONCLUSÃO
O ditado, na sua forma tradicional, sempre foi usado como um exercício de
controle e de suporte de aprendizado da ortografia. Mas alguns inconvenientes o
comprometem como instrumento de medida e correção. As novas orientações da
pedagogia da ortografia condenam o uso do ditado como meio de aquisição da
ortografia, mas não como meio de avaliação do rendimento ortográfico.
Esse exercício é privilegiado pelo seu caráter homogêneo necessário para a
identificação das dificuldades e de suas tipologias, diferentemente da redação. Através
do ditado podemos fazer uma triagem dos erros. E com uma nova visão da correção do
erro não com o objetivo de sancioná-lo, mas de identificá-lo, organizá-lo e retificá-lo,
mudamos a sua imagem negativa. Durante a correção, torna-se importante diferenciar
o que é falta de conhecimento e o que é um saber em construção.
Fazendo-se uma correção individual, o ditado pode ser um instrumento para
detectar as lacunas de cada aluno. Investigando seus próprios erros, o aluno pode
desenvolver uma autonomia na gestão de suas dificuldades.
A escolha de textos para o ditado, é um fator importante. Os textos são
escolhidos ou compostos em função das lições estudadas e dos exercícios efetuados
em sala e não somente pela sua qualidade literária.
Ao fazer o ditado, o aluno relaciona o que é falado com o que é escrito,
confrontando a grafia e a fonia da palavra. Dessa maneira o ditado torna-se um
importante instrumento de treinamento para a compreensão oral.
A compreensão de um discurso oral se apóia na escuta. Essa escuta facilita o
desenvolvimento lingüístico permitindo ao aluno a descoberta das estruturas da língua.
O ditado não é essencialmente um método de teste, mas poderá mostrar,
clara e rapidamente, as habilidades do aluno em ouvir, lembrar e escrever corretamente
o que foi ditado. É um exercício que faz escrever, refletir e falar sobre a língua
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desenvolvendo atitudes metalingüísticas.
Durante o ditado de um texto, o aluno precisa saber escutar e ouvir, duas
condições obrigatórias para que haja comunicação. Em um diálogo real, os
interlocutores se compreendem através da entonação, do gestual, do contexto, da
emotividade e do afetivo que preenchem as lacunas para que a informação seja clara.
Essa escuta não é solicitada no ditado. Solicita-se uma escuta voltada para a língua
ficando o afetivo entre parênteses. Mas o aluno não se torna passivo, ao contrário, ele
deve discriminar e sintetizar os elementos de diversos níveis de língua, ou seja, o nível
fonético e a segmentação das palavras, em que é preciso compreender o sentido do que
se escuta para poder escrever.
Além da memória lexical, o ditado exige a memória do texto propriamente
dito. Existe um fio condutor e se o aluno o perder incorrerá em seqüências
impossíveis, tanto gramaticais quanto lexicais. Assim sendo, é preciso que ele assimile
o sentido global do texto.
O ditado é um exercício que permite entrar na língua sendo preciso ouvi-la,
compreendê-la e dominar suas regras de ortografia. É um treinamento para realizar
sínteses de aquisição com uma mobilização imediata de conhecimentos.
Entre muitas maneiras de se aprender a ortografia e trabalhar a compreensão
oral, o ditado é uma delas. Um excelente exercício de escuta, de memória e de
reflexão. Rejuvenescendo e transformando o ditado em um momento lúdico como nos
Dicos d´Or da França, o seu aspecto negativo é apagado e podemos fazer um bom uso
desse recurso didático.
Para alargar os horizontes de nossas reflexões, seria interessante fazer um
estudo comparativo da evolução dos alunos de língua estrangeira, avaliando os seus
rendimentos em ortografia, levantando as dificuldades e tipos de erros que eles
cometem, estabelecendo-se uma classificação para se obter uma noção clara dos
problemas a serem solucionados. O ditado, sendo um instrumento de avaliação pelo
esforço de síntese e análise que ele exige, seria uma ferramenta útil para esse estudo.
31
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32
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Normas para apresentação de documentos
científicos, 2. Curitiba: UFPR, 2002.
33
Excerto Original
i
La dictée n´est pas un moyen d´acquisition de l´ortographe sous quelque forme que ce soit. Par
la complexité de ses difficultés, elle place l´élève em situation d´échec puisque les moyens ne lui sont pas
fournis pour résoudre les problèmes qu´il rencontre (hasards du texte qui ne correspondent pas à une
progression de l´apprentissage); d´autre part l´élève doit transcrire une pensée et un style qui ne sont pas les
siens et qu´il n´a pas le temps d´assimiler (comme ce serait le cas à la suite d´un exercice de reconstitution de
texte). L´élève se trouve dans une situation que l´adulte ne recontre fréquemment que sur le plan
professionnel.”

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