Estudo e Implementação de um Inversor Polo Ressonante
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Estudo e Implementação de um Inversor Polo Ressonante
Estudo e Implementação de um Inversor Polo Ressonante Auxiliar Wilian Soares Lacerda1 Porfírio Cabaleiro Cortizo2 Neste trabalho é realizado um estudo do funcionamento de um inversor polo ressonante auxiliar. As etapas de funcionamento do conversor alimentando detalhadamente. a carga são descritas e analisadas Os resultados experimentais são mostrados evidenciando a eficácia do inversor para o acionamento de máquinas elétricas de modo geral. PALAVRAS-CHAVE: Conversor de energia elétrica Inversor polo ressonante Acionamento elétrico 1 INTRODUÇÃO O conversor estático comumente usado no acionamento de alta performance de motores CA é o inversor. A eficiência destes conversores estáticos de energia está relacionada com as perdas durante a condução e comutação dos interruptores, sendo esta última responsável pela limitação da frequência de chaveamento. As perdas por condução são inerentes ao dispositivo utilizado como chave, não podendo ser eliminadas. As perdas na comutação, por outro lado, podem ser minimizadas através de técnicas que impõem tensão ou corrente nula na chave no momento da comutação, sendo denominados conversores com comutação não dissipativa. Dentre as topologias de inversores com comutação não dissipativa estão: Link DC ressonante [1], Série ressonante [6], Polo ressonante [2,3,10], etc. Eles apresentam as seguintes vantagens em relação aos inversores estáticos convencionais: 1 - Ms. Eng. Elétrica da UFMG, Professor de Engenharia Elétrica do CEFET-MG 2 - Dr. Ing. INPT/França, Professor de Engenharia Eletrônica da UFMG 1 • Menor dissipação de potência durante a comutação e, consequentemente, diminuição das dimensões dos dissipadores de calor. • Maior eficiência do conversor. • Frequências mais altas de comutação, acima de 20kHz, portanto, fora da faixa audível. • Elementos de ajuda a comutação (snubbers) e filtragem menores. Entretanto, estes inversores apresentam as seguintes desvantagens: • Necessidade de dispositivos semicondutores auxiliares responsáveis pela introdução do processo da ressonância. • Maior complexibilidade no sistema de comando e sincronismo das chaves. • Esforços mais elevados de tensão ou corrente nos semicondutores. O conversor CC/CA objeto deste trabalho é o Inversor Polo Ressonante Auxiliar [3,4]. Esta topologia possui as seguintes características: • Permite a comutação suave sem sobretensão nos interruptores principais. • Permite o seu controle pelo método de modulação de largura de pulso (MLP). O dispositivo semicondutor de potência utilizado é o IGBT (Insulated Gate Bipolar Transistor). Este dispositivo possui a característica de entrada semelhante ao MOSFET e característica de saída semelhante ao transistor bipolar. Portanto, possue a vantagem de ser controlado pela tensão de gate e ter uma baixa queda de tensão coletor-emissor em condução. 2 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO Na Fig. 1 é mostrado um braço do inversor polo ressonante auxiliar. C3 Entrada CC C4 T3 D3 D4 D1 T1 C1 vC1 T2 C2 Saída CA L1 T4 D2 iL1 Figura 1: Diagrama de um braço do Conversor Polo Ressonante Auxiliar O circuito de potência principal, formado pelos interruptores T1, T2, D1 e D2, é associado a um circuito auxiliar (T3, T4, D3, D4) responsável pela introdução da ressonância entre o indutor (L1) e os capacitores (C1, C2) durante as comutações. 2 O sentido da corrente no indutor (iL1) e tensão no capacitor (vC1) considerados como positivos, também são mostrados na figura. Cada chave principal possue um capacitor em paralelo ("snubber") para garantir que a abertura da chave também seja feita com tensão nula (ZVS). As chaves auxiliares (T3 e T4) estão em série com o indutor de ressonância e irão sempre comutar com corrente nula (ZCS). Os capacitores C3 e C4 formam um divisor de tensão criando, assim, uma derivação na fonte CC de alimentação. Um conversor trifásico completo é obtido através da associação de três braços do conversor polo ressonante auxiliar. Para analisarmos as etapas de funcionamento do inversor, consideraremos o estudo de um inversor em meia ponte, levando-se em conta as seguintes simplificações: • Os componentes são considerados ideais. • A carga pode ser considerada uma fonte de corrente ideal. • Uma fonte de tensão ideal conectada na entrada do inversor, representa a tensão de saída de um retificador com filtro a capacitor. • Os capacitores C3 e C4 são de valores elevados, de modo que a tensão em cada capacitor é sempre igual a metade da tensão de alimentação. Durante a operação do inversor com modulação por largura de pulso [8], haverá a comutação do diodo para o IGBT complementar, e deste IGBT de volta para o diodo. Estas comutações são descritas a seguir. 2.1 Comutação Diodo-IGBT Consideramos a situação inicial em que a corrente de carga IL apresenta o sentido indicado na Fig. 2. Deseja-se efetuar a comutação da corrente de carga de D2 para T1. Há comando de gate em T2, entretanto, é D2 que conduz a corrente de carga. C3 D3 D4 D1 2E C4 T3 T1 L1 T4 D2 T2 C1 IL C2 E E Figura 2: Diodo D2 conduzindo corrente da carga 3 Para realizar esta comutação, é necessário que T2 entre em condução, para posteriormente D1, e finalmente T1 assumir a corrente de carga. Esta sequência de comutações é necessária porque a chave possue característica de tiristor dual [9] (só começa a conduzir quando a tensão nos seus terminais se anular). Etapa 1: Inicialmente, T3 é comandado, fazendo circular uma componente da corrente IL através do indutor L1 conforme mostra a Fig. 3. C3 D3 D1 D4 T1 C1 IL E 2E C4 T3 L1 T4 D2 T2 C2 E Figura 3: Etapa 1 Esta corrente cresce linearmente a uma taxa de: diL1 E = dt L1 (1) A corrente que passa pelo indutor, soma-se a corrente por D2 para resultar na corrente de carga. iL1 + iD2 = IL (2) Esta etapa termina quando a corrente no indutor iguala-se a corrente de carga (IL), e consequentemente D2 corta. Etapa 2: A chave T2 entra em condução (comando de gate presente e tensão nos seus terminais nula). A diferença entre a corrente no indutor e a corrente de carga passa por T2 (Fig. 4). iT2 + IL = iL1 (3) 4 C3 D3 D4 2E C4 T3 D1 T1 L1 D2 T4 T2 C1 IL C2 E E Figura 4: Etapa 2 A partir deste instante, a corrente circulando em T2 provoca o armazenamento de energia suplementar no indutor que irá compensar as perdas que ocorrem durante a ressonância no processo de comutação. A corrente que circula em T2 damos o nome de Iboost. Quando a corrente em T2 atinge um valor pré-definido, T2 é desligado. Etapa 3: Inicia-se o processo de ressonância entre o indutor e os capacitores C1 e C2 (Fig. 5). A corrente no indutor (iL1) evolui senoidalmente. C3 D3 D4 2E C4 T3 T4 D1 T1 L1 D2 T2 C1 IL C2 E E Figura 5: Etapa 3 Esta etapa termina quando a tensão no capacitor C2 atinge o valor 2E, e a tensão em C1 se anula. Etapa 4: No final da ressonância, a corrente no indutor (iL1) é maior que a corrente de carga (IL), devido a energia armazenada no indutor pela corrente Iboost. Assim, D1 entra em condução (Fig. 6). iL1 - iD1 = IL (4) 5 C3 D3 D4 2E C4 T3 D1 T1 L1 D2 T4 T2 C1 IL C2 E E Figura 6: Etapa 4 A tensão agora aplicada nos terminais do indutor é -E. Assim a corrente no indutor decresce linearmente a uma taxa de: diL1 E =− dt L1 (5) Quando a corrente no indutor (iL1) se iguala a corrente de carga (IL), D1 corta. Etapa 5: Após o corte de D1, iL1 continua diminuindo. A corrente de carga é complementada pela corrente em T1, que conduz por ter comando de gate e tensão zero em seus terminais (Fig. 7). iL1 + iT1 = IL C3 D3 D4 2E C4 T3 T4 (6) D1 T1 C1 IL L1 D2 T2 C2 E E Figura 7: Etapa 5 Quando a corrente no indutor chega a zero, T3 corta (ZCS), finalizando a etapa 5. Etapa 6: A chave T1 fornece a corrente de carga (Fig. 8). 6 C3 D3 D1 T1 D4 2E C4 T3 C1 IL L1 T4 D2 T2 C2 E E Figura 8: Etapa 6 As formas de onda desta sequência de funcionamento são apresentadas a seguir. As curvas foram obtidas através de simulação feita no programa SACSO [7]. Tensão em T1 [V] Corrente em L1 [A] Corrente em T1 [A] (X10) Tempo [seg] Tensão em T2 [V] Tempo [seg] Corrente em D2 [A] Corrente em T2 [A] (X10) Tempo [seg] Tempo [seg] 7 Corrente em D1 [A] Tempo [seg] Figura 9: Formas de onda na comutação diodo-IGBT 2.2 Comutação IGBT-Diodo A sequência de etapas a seguir descreve o processo de comutação da corrente de carga da chave T1 para o diodo D2. Etapa 7: Com T1 inicialmente conduzindo a corrente de carga (Fig. 8), T4 é comandado para conduzir (Fig. 10). A tensão nos terminais do indutor L1 é então igual a -E, iniciando o crescimento de uma corrente no indutor L1 com o sentido indicado. T1 fornece a corrente de carga (IL) e a corrente no indutor (iL1). iT1 = IL + iL1 C3 D3 D1 T1 D4 C1 IL L1 2E C4 T3 (7) T4 D2 T2 C2 E E Figura 10: Etapa 7 Após o tempo necessário para armazenar energia no indutor suficiente para compensar as perdas que ocorrerão durante a ressonância, o IGBT T1 é bloqueado. 8 Etapa 8: Inicia-se o processo de ressonância. A corrente no indutor evolui senoidalmente, a tensão no capacitor C1 aumenta até 2E, e a tensão em C2 diminui até zero (Fig. 11). C3 D3 D4 D1 L1 2E C4 T3 T1 D2 T4 T2 C1 IL C2 E E Figura 11: Etapa 8 Etapa 9: Quando a tensão em C2 é nula, o diodo D2 entra em condução (Fig. 12), fornecendo corrente para a carga e para o indutor. iD2 = IL + iL1 C3 D3 D4 D1 T1 L1 2E C4 T3 (8) T4 D2 T2 C1 IL C2 E E Figura 12: Etapa 9 Neste instante, a tensão no indutor é E. Assim a corrente no indutor diminui linearmente até zero, instante no qual T4 corta. Etapa 10: Quando a corrente no indutor se anula, a corrente de carga passa por D2 (Fig. 13). 9 C3 D3 D4 D1 2E C4 T3 T1 L1 T4 D2 T2 C1 IL C2 E E Figura 13: Etapa 10 As formas de onda desta sequência de funcionamento são apresentadas a seguir (Fig. 14). As curvas foram obtidas através de simulação feita no programa SACSO [7]. Corrente em T1 [A] (X10) Corrente em D2 [A] Tensão em T1 [V] Tempo [seg] Tempo [seg] Corrente em L1 [A] Tempo [seg] Figura 14: Formas de onda na comutação IGBT-diodo 10 2.3 Comutação IGBT-Diodo (sem etapa de ressonância) Se a corrente da carga for suficiente para carregar e descarregar os capacitores C1 e C2 durante a comutação IGBT-diodo, o processo de ressonância pode ser inibido. O valor da corrente da carga no instante de comutação determinará o intervalo de tempo necessário para realizá-la. Portanto, esta corrente deve ter um valor tal que realize a comutação num intervalo de tempo desprezível quando comparado com o período de chaveamento. Considera-se inicialmente a chave T1 conduzindo a corrente de carga (Fig. 8). Quando esta é bloqueada, o capacitor C1 (inicialmente descarregado) carrega-se linearmente através da carga. O capacitor C2 (inicialmente com tensão 2E) se descarrega pela carga até zero (Fig. 15). iC1 + iC2 = IL D3 C3 (9) D1 T1 D4 C1 IL L1 2E C4 T3 T4 D2 T2 E E C2 Figura 15: Corrente da carga realizando a comutação Quando a tensão no capacitor C2 for igual a zero, o diodo D2 entra em condução, assumindo a corrente de carga (Fig. 13). As formas de onda desta sequência de funcionamento são apresentadas a seguir (Fig. 16). Corrente em T1 [A] (X10) Corrente em D2 [A] Tensão em T1 [V] Tempo [seg] Tempo [seg] 11 Figura 16: Formas de onda na comutação IGBT-diodo sem a etapa de ressonância 3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS A figura a seguir foi adquirida na medição da tensão coletor-emissor de um IGBT principal e, simultaneamente, a corrente no indutor de ressonância durante o acionamento de um motor CA. O osciloscópio utilizado foi um Tektronix TDS460. Os parâmetros de funcionamento foram: • Frequência de chaveamento do inversor: 16kHz • Tensão barramento CC: 170V • Corrente no motor: 10A de pico Figura 17: Canal 1 - tensão coletor-emissor IGBT principal = vC Canal 2 - corrente no indutor de ressonância (1V = 10A) A figura a seguir foi adquirida acoplando à entrada de varredura horizontal do osciloscópio a tensão emissor-coletor de um IGBT principal (vC). Simultaneamente, foi acoplada à entrada de varredura vertical a corrente no indutor de ressonância durante o acionamento do motor CA. Obteve-se, então, o diagrama de fase do inversor. 12 Figura 18: Diagrama de fase Canal 1, eixo x - tensão no capacitor Canal 2, eixo y - corrente no indutor (1V=10A) 4 CONCLUSÃO Neste trabalho foi descrito o funcionamento do inversor polo ressonante auxiliar. Foi realizado um estudo e análise do inversor. O inversor trifásico foi implementado e resultados experimentais foram colhidos. O inversor apresentouse satisfatório para a aplicação em acionamento de máquinas, devido às suas características de comutação suave, frequência de comutação acima da frequência audível, controle por MLP, proteções do circuito de comando e capacidade de reversibilidade. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 AVELAR, Henrique J. e CORTIZO, Porfírio C. Link DC Resonant Converter Without Overvoltage, Study of a Buck Converter. In: European Power Electronics Conference, 4, 1991, Firenze. Anais. Firenze: [s. n.], 1991. v. 4, p. 212-215. 2 CHERITI, A., AL-HADDAD, K. e outros. A Rugged Soft Commutated PWM Inverter for AC Drives. IEEE-PESC 90 Conference Records, [s. l.], p. 656-662, 1990. 13 3 DONCKER, R. W., LYONS, J. P. The auxiliary resonant commutated pole converter. IEEE - Industry Applicatons Society Conference Records, [s. l.], p. 12281235, out. 1990. 4 DONCKER, R. W., LYONS, J. P. An auxiliary quasi-resonant DC link inverter for switched reluctance machines. In: European Power Electronics Conference, 4, 1991, Firenze. Anais. Firenze: [s. n.], 1991. v. 4, p. 18-23. 5 LACERDA, Wilian Soares. Sistema de desenvolvimento para acionamentos elétricos, aplicação ao controle de posição de uma máquina síncrona a ímas permanentes. Belo Horizonte: UFMG, 1994. 210 p. (Tese, Mestrado em Engenharia Elétrica). 6 MOREIRA, Alessandro F. Controle por Estrutura Variável de Um Conversor Série Ressonante. Belo Horizonte: UFMG, 1993. (Tese, Mestrado em Engenharia Elétrica). 7 SACSO - Notice du Programe. França: Laboratoire D'Electrotechique et D'Electronique Industrielle, Unité de Recherche Associée, Toulose, 1985. 8 SEIXAS, Paulo F. Commande numérique d'une machine synchrone autopilotée. Toulose: Institut National Polytechnique de Toulose, 1988. 237 p. (Tese, Doutorado em Engenharia Elétrica). 9 VILHENA, Lauro B. M. N. Conversor Forward Multiressonante com Interruptor de Tensão Nula. Belo Horizonte: UFMG, 1989. (Tese, Mestrado em Engenharia Elétrica). 10 YONEMORI, H. e outros. New Soft-switching Phase-Shifted PWM High-frequency Inverter-linked Cycloconverter Incorporating Voltage-clamped Quasi-resonant Technique. IEEE - Industry Applicatons Society Conference Records, [s. l.], p. 283-290, 1991. 14
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