Retiro Quaresmal 2016

Transcrição

Retiro Quaresmal 2016
CEI - JESUÍTAS
Centro de Espiritualidade lnaciana
Retiro Quaresmal 2016
Exercícios Espirituais na vida cotidiana
"Quero ver o direito brotar como fonte
e correr a justiça qual riacho que nâo seca"
(Am 5,24)
Edições Loyola
Preparação: Renato da Rocha
Capa: Viviane Bueno Jeronimo
Foto de
bulentumut/Fotolia
Diagramabão: Viviane Bueno Jeronimo
Revisão: Maria de Fatima Cavallaro
Edições Loyola Jesuítas
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escrita da Editora.
ISBN 978-85-15-04336-1
O EDIÇÕES LOYOLA, Sao Paulo, Brasil, 2015
Sumário
Apresentação
Introdução
9
13
0 que é um Retiro Quaresmal?
14
Como organizar-se para o Retiro Quaresmal?
14
Como usar o roteiro do Retiro Quaresmal?
14
Como fazer a oração pessoal diária?
15
Como revisar a oração'
16
Como fazer a Oração de Atenção Amorosa?
16
Como fazer uma leitura orante?
(se for um texto de ensinamento da Escritura)
17
Como fazer uma contemplação evangélica?
(se o texto for uma cena bíblica, especialmente
um acontecimento ou mistério da vida de Cristo)
18
Acompanhamento no Retiro Quaresmal
19
Dicas para os animadores espirituais
do Retiro Quaresmal
19
Semana introdutória
21
Introdução
22
Quarta-feira de Cinzas
23
Quinta-feira depois das Cinzas
25
Sexta-feira depois das Cinzas
28
Sábado depois das Cinzas
30
Primeira Semana da Quaresma
33
Introdução
34
1° Domingo da Quaresma
34
Segunda-feira da 1' Semana
36
Terça-feira da la Semana
37
Quarta-feira da 1' Semana
38
Quinta-feira da la Semana
39
Sexta-feira da 1a Semana
41
Sábado da la Semana
42
Segunda Semana da Quaresma
43
Introdução
44
2° Domingo da Quaresma
45
Segunda-feira da 2' Semana
47
Terça-feira da 2' Semana
50
Quarta-feira da 2' Semana
51
Quinta-feira da 2' Semana
53
Sexta-feira da 2' Semana
55
Sábado da 2' Semana
57
Terceira Semana da Quaresma
59
Introdução
60
3° Domingo da Quaresma
60
Segunda-feira da 3' Semana
62
Terça-feira da 3' Semana
63
Quarta-feira da 3' Semana
65
Quinta-feira da r Semana
66
Sexta-feira da r Semana
67
Sábado da 3a Semana
68
Quarta Semana da Quaresma
71
Introdução
72
4° Domingo da Quaresma
73
Segunda-feira da 4' Semana
75
Terça-feira da 4a Semana
77
Quarta-feira da 4' Semana
78
Quinta-feira da e Semana
80
Sexta-feira da 4a Semana
82
Sábado da 4' Semana
83
Quinta Semana da Quaresma
85
Introdução
86
5° Domingo da Quaresma
87
Segunda-feira da 5a Semana
89
Terça-feira da 5' Semana
91
Quarta-feira da 5' Semana
93
Quinta-feira da 5" Semana
95
Sexta-feira da 5' Semana
Sábado da 5' Semana
Semana Santa
98
100
103
Introdução
104
Domingo de Ramos
105
Segunda-feira Santa
108
Terça-feira Santa
110
Quarta-feira Santa
113
Quinta-feira Santa
115
Sexta-feira Santa
118
Sábado Santo
121
Domingo da Ressurreição
123
Apresentação
Pelo 12° ano consecutivo, o CEI — Jesuítas (Centro de Espiritualidade
Inaciana) faz chegar a cada um de vocês um roteiro de oraçáo para
viver mais intensamente o tempo litúrgico da Quaresma. Trata-se do já
conhecido Retiro Quaresmal.
A liturgia quaresmal nos é dada como tempo para voltar ao essencial,
ao Evangelho; é tempo pedagógico e terapêutico para mobilizar o coração diante do acontecimento central de nossa fé, a Páscoa. Tempo
que provoca uma sacudida em nossa vida, "deixando-nos conduzir pelo
Espirito": acolhendo com gratidão as surpresas e as delicadezas do
"amor em excesso" de Deus, abandonando-nos à Vontade santificadora
do Pai, sendo dóceis à ação que o Espirito suscita em nosso interior,
destravando a vida e ativando o desejo do seguimento mais profundo
de Jesus Cristo.
Com sua linguagem, sua celebração, seus exercícios e seus ritos, a
Quaresma é um tempo forte de conversão, e isso implica reconstrução de novas relações: consigo, com os outros, com a criação e com
o Criador.
Com a vivência mais radical das práticas quaresmais (oração, jejum e
esmola), começa a acontecer um deslocamento dos falsos senhores que
habitam nosso coração e, ao mesmo tempo, amplia-se o espaço interior
para a presença e ação do verdadeiro Senhor.
Um mergulho no mistério de Deus (oração), um abrir-se aos outros (esmola) e a capacidade de ordenar e dirigir a própria existência (jejum)...
Esses exercícios quaresmais só têm sentido se alimentam e sustentam
nosso seguimento de Jesus Cristo.
Assim, a Quaresma torna - se estar com Jesus no deserto, para, como Ele,
dar a Deus o lugar central em nossas vidas.
Queremos também, ao longo deste tempo quaresmal, caminhar com a
Igreja no Brasil que nos convida a vivenciar a Campanha da Fraternidade. Neste ano, devemos aprofundar o tema: "Casa comum, nossa responsabilidade" e o lema "Quero ver o direito brotar como fonte e correr
a justiça qual riacho que não seca" (Am 5,24).
Também vamos viver em profunda sintonia com toda a Igreja, que este
ano celebra o "jubileu extraordinário da Misericórdia", proclamado pelo
Papa Francisco. Na Bula de Proclamação, ele nos diz: "A Quaresma des-
te Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus" (Misericordiae Vultus).
Os roteiros de oração aqui apresentados, seguindo a metodologia Maciana, foram elaborados por um grupo de jesuítas com experiência no campo dos Exercícios Espirituais: Pe. Jose Ramón (P Semana); Pe. Anísio
(2' Semana); Pe. Élcio Toledo (3 a Semana); Pe. Iglesias (zta Semana);
Pe. Adroaldo (Semana introdutória, 5' Semana e Semana Santa).
Desejamos, com estes subsídios, colaborar para que as pessoas e os grupos de vida possam fazer uma experiência profunda do mistério pascal,
vivendo a travessia quaresmal em direção a um maior serviço.
Pe. Adroaldo Palaoro, SJ
Diretor do CE! — Jesuítas, Rio de Janeiro
OMNI
Introdução
1. 0 que é um Retiro Quaresmal?
Retiro Quaresmal oferece um roteiro de exercícios de oração diária
elaborado segundo a metodologia de S. Inácio de Loyola. Trata-se de uma
forma especial de fazer o retiro pessoalmente em casa, no tempo da Quaresma, para uma boa preparação para a Páscoa do Senhor. Fundamentalmente, o Retiro Quaresmal é um caminho de oração, feito no dia a dia
por determinado tempo, baseando-se em exercícios de oração, sugeridos
e elaborados neste livrinho que ora apresentamos.
2.
Como organizar se para o Retiro Quaresmal?
-
"coração" do Retiro Quaresmal está em dedicar pelo menos 30 minutos diários à oração pessoal, de acordo com os exercícios sugeridos.
muito importante encontrar tempo propício para esse "encontro íntimo com o Senhor", reconhecendo a dificuldade de manter uma rotina
de oração. Isso pede muita fidelidade.
Assim como ensina S. Inácio, precisa-se de muito Animo e generosidade
para começar o retiro.
melhor tempo para a oração diária é aquele em que a pessoa está
mais descansada, menos dispersa e menos agitada pelas preocupaçOes
do dia. Seria bom que fosse sempre à mesma hora. Caso isso ndo seja
possível, pode-se fazer um plano semanal.
Recomenda-se manter uma espécie de diário espiritual (caderno de
vida) em que seja anotado aquilo que durante a oração aconteceu de
mais importante e significativo para o crescimento na fé e em sua prática na vida, ou para registrar apelos de conversão pessoal. Isso vai facilitar a partilha no grupo de oração.
3.
Como usar o roteiro do Retiro Quaresmal?
a. Este roteiro segue as seis semanas da Quaresma, com "pontos" que
animam a oração, desde domingo até sexta-feira. Todos os textos
apresentados seguem os evangelhos propostos pela liturgia para o
Tempo Quaresmal.
Para os sábados, este roteiro pede que se faça uma repetição. Trata-se de escolher a oração da semana que mais o tocou, ou a que
foi mais difícil para você. Escolhida a oração, repita da mesma
maneira como vem fazendo em todas as outras, mas dê especial
atenção aquilo que mais o marcou na primeira vez em que fez a
oração. Não raras vezes acontece que somente durante a repetição
se consegue uma experiência de °raga) mais profunda.
Cada semana começa com uma introdução. Nela, você encontra
uma explicação geral que o tema da semana lhe dá, assim como
a graça a ser pedida. Essa 6. a graça que deve pedir todos os dias
dessa semana.
Tratando-se de Retiro Quaresmal, os exercícios começam na Quarta-feira de Cinzas, como uma etapa introdutória. Nela, a pessoa
convidada a entrar, conscientemente, no caminho de oração dos
Exercícios na Vida Diária e a dispor-se a uma atitude orante.
No fim de cada dia, antes de dormir, dedique 10 minutos à Oraçáo
de Atenção Amorosa (cf. n. 6).
4.
Como fazer a oração pessoal diária?
Escolha um lugar apropriado para a oração e uma posição corporal que mais lhe ajude. Desligue o celular, cuide para não receber
visitas ou ser interrompido.
A ambientação ajuda vela, crucifixo e Bíblia;
Pacifique - se com silêncio exterior e interior. Para isso, ajuda respirar profundamente várias vezes, de maneira pausada. Talvez uma
música ambiente bem baixinha também ajude a criar um clima de
oração. Sentindo-se pacificado, faça o sinal da cruz;
Tome consciência de que você não está só acolhendo a presença de
Deus como amigo; invoque sempre o Espirito Santo;
Faça uma oração de oferecimento na qual todos os pensamentos,
palavras, sentimentos e ações sejam colocados nas mdos de Deus
para que Ele os transforme. Ajuda expressar todas as preocupações, todas as alegrias, todas as dificuldades. Tudo o que está acontecendo na vida deve ser dito a Deus;
15
e. Peça a graça de acordo com o roteiro de cada dia;
F.
Vá ao texto do dia, seguindo as orientações sugeridas. Dedique
tempo a. Palavra de Deus e às imagens e lembranças que ela vai
trazendo. Saboreie a Presença de Deus dentro do seu coração;
g. Termine com uma despedida amorosa, agradecendo por aquilo
que aconteceu na oração. Depois, reze um pai-nosso e uma ave-
maria.
(N. B.: nos números 7 e 8 desta introdução, você encontrará outros dois
modos de orar os textos bíblicos indicados.)
5.
Como revisar a oração?
Após cada tempo de oração, faça a revisdo geral de tudo que ocorreu nela;
Tome o caderno e anote, primeiro, como se saiu no tempo de
oração pessoal. Que elementos ajudaram? Que di fi culdades
apareceram?
Em um segundo momento, anote o que lhe pareceu mais importante para o crescimento da fé e para a vida:
Que Palavra de Deus mais lhe tocou?
Que sentimentos predominaram nessa oração?
Sentiu algum apelo à conversão, desejo, inspiração?
Que resistências sente para seguir esse apelo ou inspiração?
(N B.: essa revisão pode ser usada para a partilha da oração em grupo.)
6.
Como fazer a Oração de Atenção Amorosa?
À noite, antes de deitar, é indicado fazer uma retrospectiva do
dia com um momento de oração (10 minutos), chamada Oração
de Atenção Amorosa. Trata-se do exame espiritual de consciência.
Inácio de Loyola teve uma visão mais ampla desse exame, não apenas vendo as falhas, mas lançando um olhar para todo o dia vivido,
em uma atitude de gratidão e serenidade. Aqui, a pessoa é chamada a tomar consciência da açáo do Senhor durante os eventos
do dia. Conclui-se confiantemente, colocando o futuro nas mãos
de Deus.
Seguem os cinco passos para esse exercício:
Agradecimento
Agradeça a Deus por tudo que viveu neste dia. Sinta-se como um
pobre que por tudo agradece.
Invocação ao Espirito Santo
Invoque o Espirito Santo, pedindo luz para olhar seu dia com os
olhos de Deus: "Que o Espirito me ajude a ver-me um pouco mais
como Ele próprio me vê".
Um olhar sobre o dia que passou
Contemple o dia que passou. Deixe passar, diante de seus olhos,
o dia todo, ou coloque-se diante de alguns acontecimentos. Não
preciso avaliar-se ou julgar-se; dedique mais tempo aos acontecimentos que mais lhe chamam a atenção.
Encontra motives para agradecer? Permitiu que Deus atuasse em
você, sendo sinal de sua presença e amor para com os outros?
Pedido de perdão
Reconhecendo-se frágil e pecador, peça perdão ao Senhor por suas
faltas ou pelo bem que deixou de fazer ao não se deixar conduzir
por seu Espirito.
Oração de conclusão
Confie ao Senhor o seu amanhã, desejando vivamente assumi-lo
com olhar e coraçáo renovados. Trata-se de um novo dom a ser
vivido intensamente na alegria e esperança.
Reze um pai-nosso.
7.
Como fazer uma leitura orante?
(se for um texto de ensinamento da Escritura)
a.
Leitura do texto
a escuta atenta da Palavra na fé. Faça a leitura com todo o seu
ser, pronunciando as palavras com os lábios; releia, devagar, versículo por versículo. Pergunte-se: O que diz o texto em si?
Meditação
Pare onde o texto lhe fala interiormente; não tenha pressa, aprenda a saborear, a ruminar a Palavra. Pergunte-se: O que diz o texto
para mim?
Oração
A oração agora brota do coração tocado pela Palavra feita na leitura
e meditação. Deus é Pai que nos ama muito mais do que poderíamos
ser amados. Pergunte se: O que o texto me faz dizer a Deus? A oração
pode expressar-se por momentos de louvor, de ação de graças, de súplica, de silêncio e, sobretudo, de deixar que o Espirito reze em nós.
-
Contemplação
A contemplaçáo é o momento de intimidade, na qual se deixa a
iniciativa a Deus. Trata-se de saborear o momento com o Senhor.
Vá acolhendo o que vier à mente, o que tocar seu coração: desejos,
luzes, apelos, lembranças, inspiraçóes...
Ação
A Palavra acolhida e saboreada produz frutos de fé e amor em sua
vida. Dê sua resposta, confirmando a Palavra do Senhor. Pergunte se: O que o texto e tudo o que aconteceu nesta oração me fazem
saboreare viver?
Finalize a oração com uma despedida amorosa. Reze um pai-nosso
e uma ave-maria.
Saindo da oração, faça sua revisão (cf. n. 5).
-
8.
Como fazer uma contemplação evangélica?
(se o texto for uma cena bíblica, especialmente
um acontecimento ou mistério da vida de Cristo)
Recorde a história e use a imaginação para entrar na cena evangé-
lica;
•
Procure ver, contemplando cada pessoa da cena; dedique um olhar
demorado, sobretudo, à pessoa de Jesus (se for o caso). Apenas
olhe, sem querer explicar ou entender;
Tente ouvir, prestando atençáo as palavras ditas ou implícitas: o
que podem significar? E se fossem dirigidas a mim?
Observe o que fazem as pessoas da cena. Elas têm nome, história,
sofrimentos, buscas, alegrias? Como reagem? Você percebe os gestos, os sentimentos e atitudes, sobretudo, de Jesus?
Participe ativamente da cena, deixando-se envolver por ela. Além
de ver, ouvir, tente apalpar e sentir o sabor das coisas que nela
aparecem;
E, refletindo, tire proveito de tudo o que ocorreu durante a oração;
Finalize com uma despedida amorosa. Reze um pai-nosso e uma
ave-maria. Saindo da oração, faça sua revisão (cf. n. 5).
9.
Acompanhamento no Retiro Quaresmal
Além das orientações dadas seria desejável um acompanhamento mais
direto. Há duas possibilidades:
Recomenda-se 'as pessoas que desejam fazer o retiro formarem grupos por proximidade geográfica ou afetiva, sejam grupos já existentes, sejam grupos a se constituírem. O objetivo é reunir-se, semanalmente de preferência, para a partilha das experiências (cf. n. 10);
Tanto quanto possível, os grupos sejam acompanhados por um
orientador experiente nos Exercícios Espirituais de S. Inácio, auxiliado por outros acompanhantes idôneos que se disponham a
prestar esse serviço pastoral.
10.
Dicas para os animadores espirituais do Retiro Quaresmal
Constituído o grupo na diversidade de pessoas mas desejosas de
viver o Caminho Quaresmal com mais intensidade, o animador espiritual combina local e data para a primeira reunião. ali ajudado pelas orientaçães e explicações contidas no início do livrinho
Retiro Quaresmal, o animador poderá detalhar mais o objetivo dessa modalidade de retiro, o sentido do tempo quaresmal, os encontros semanais para partilha, o ritmo diário de oração de cada participante. Pode também indicar os "passos para a oração pessoal",
segundo a metodologia inaciana.
W.
Verifique se todos adquiriram o livrinho Retiro Quaresmal; é recomendável que cada participante tenha um "caderno de vida"; isso
ajudará a registrar a experiência vivida em cada oração e melhor
preparar-se para a partilha no grupo.
Antes de cada encontro de partilha, o animador prepara o ambiente:
lugar propício, velas, a Palavra de Deus no centro, flores, cadeiras, estampas etc., de acordo com a criatividade de cada um ou do grupo.
Inicia-se o encontro com cantos, alguma oração vocal, um texto
bíblico (pode ser algum texto que foi rezado durante a semana),
um momento de interiorização.
O animador espiritual motiva os participantes a partilha da oração
vivenciada durante a semana que passou; reforçar que não se trata
de debate, de discussão de ideias, de resolução de dúvidas ou de
réplica ao que o outro falou. O clima deve ser de acolhida amorosa
da oração do outro. A partilha é também oração.
(Tome cuidado para que algumas pessoas não monopolizem a partilha e que a plena liberdade de cada um seja garantida na experiência espiritual.)
A partir da realidade em que se encontram os participantes, o animador os irá conduzindo com delicadeza, tato e bom-senso, fazendo que a partilha vá adquirindo, em um ambiente de muita
serenidade e confiança, maior qualidade espiritual. Cada pessoa
poderá partilhar, muito livremente, a ação do Senhor em seu interior: as alegrias experimentadas, as dificuldades, os apelos que
sentiu, a maneira como o Senhor falou, conduziu e manifestou sua
presença durante a semana ("movimentos do coraçáo").
Que impacto a oração está tendo na vida pessoal, familiar, eclesial,
social?
Após o tempo da partilha, o animador espiritual poderá fazer breves indicações para a oração da semana seguinte; poderá realçar os
"passos para a oração", o "pedido da graça", a avaliação da oração, o
registro das "moções" no caderno de vida. Animar cada participante
fidelidade ao tempo de oração, mesmo nas dificuldades; buscar
ajuda quando sente que algo está travando a experiência espiritual.
Terminar o encontro com algum canto ou o pai-nosso.
Semana
introdutória
(Da quarta-feira de Cinzas ao sábado após Cinzas)
Introdu ão
"Se a vossa justiça não superar a dos doutores da lei e dos
fariseus, não entrareis no Reino dos céus"
(Mt 5,20)
Cinzas: Páscoa no horizonte
Começamos o tempo quaresmal. Mas a Quaresma, como toda a liturgia,
só tem sentido em função da Páscoa. Na realidade estamos vivendo o
grande tempo pascal da Igreja. Quarenta dias de preparação para a
festa da Páscoa e, depois, cinquenta dias de celebração da Ressurreição
do Senhor e da presença inspiradora de seu Espirito. Estamos no tempo
forte da comunidade cristã.
Nesse sentido, cada Quaresma deve ser vivida como nova e única. Há o
risco de cairmos numa mera repetição litúrgica, rotineira, banal, algo
já conhecido. Também o ambiente social em que vivemos não favorece
uma intensa vivência quaresmal. Nosso entorno náo tem disposição para
atravessar Quaresmas, mas permanecer nos carnavais. A Quaresma nos
move a superar a "globalização da superficialidade", da mediocridade...
para restabelecer novas relações com o Criador, com os outros, com a
natureza e consigo mesmo.
Como escola de vida, a Quaresma nos convida a tomar consciência do
que significa "ser seguidor de Jesus" no mundo de hoje. O centro de
nossa vida é Jesus Cristo, sua pessoa, sua mensagem, o mistério de sua
morte e de sua ressurreição.
Estamos vivendo momentos difíceis, críticos. A Igreja no Brasil, em sintonia com a encíclica do Papa Francisco, Laudato Si', quer nos despertar para a dura realidade da destruição e da falta de cuidado para com
a "casa comum". Isso tem gerado muito sofrimento e exclusão. Como
cristdos, cremos que este mundo encontra a luz verdadeira na vida e na
mensagem de Jesus, no mistério de sua Páscoa.
Fixando os olhos na pessoa de Jesus Cristo descobriremos quem somos.
Ele nos interpela e nos pergunta o que queremos fazer de nossa vida,
como queremos viver: pensando em nós mesmos ou sendo generosos
e solidários diante do sofrimento dos outros? Centrando nossa vida no
consumismo desenfreado ou buscando um sentido para a nossa existência? Fixando em nossa autossuficiência ou assumindo atitudes de
serviço e partilha?
Por isso, a palavra-chave da Quaresma é conversão: isso não implica
uma simples mudança de hábitos, no modo de ser e agir... mas "troca de
senhor". Quem é o "senhor" que comanda nosso coração?
Iniciemos, pois, este percurso no "deserto quaresmal", deixando que o
mesmo Espirito que conduziu Jesus ao deserto vá nos modelando e nos
transformando por dentro, fazendo de todos nós criativos seguidores
d'Aquele que "veio trazer vida e vida em abundância".
Por isso, a graça a ser suplicada nesta semana introdutória é esta: viver as "práticas quaresmais" (jejum, oração e esmola) como atitudes de
"saída de si mesmo" para um compromisso solidário diante daqueles que
são as maiores vítimas da ganância e da exploração da Mãe Natureza.
Quarta-feira de Cinzas
"Guardai-vos de praticar a vossa justiça diante dos homens"
(J12,12-18, 2Cor 5,20-6,2; SI 50[41]; Mt 6,1-6 16-18)
Somos "seres de relação", e nas relações nos humanizamos. Começamos nosso "caminho quaresmal" perguntando-nos como nos relacionamos com nossos desejos/impulsos (jejum), como nos situamos diante
de nossos semelhantes (esmola) e como cuidamos de nossa amizade
com o Senhor (oração). Sao as chamadas "práticas quaresmais".
Para aprofundar as "práticas quaresmais", coloque-se diante do
Senhor da vida em atitude de reverência, fazendo a oração preparatória, colocando nas mãos djEle tudo o que vai acontecer durante a oração: "Que todas as minhas ações, intenções, pensamentos,
sentimentos... sejam puramente ordenados ao serviço e louvor de
Deus Nosso Senhor".
Suplique a graça indicada na introdução desta semana.
Como "pontos para a oração" leia atentamente as indicações a seguir.
23
24
A vida de Jesus, testemunhada nos evangelhos, nos convida a viver de
um modo mais integrado. Quaresma é tempo favorável para "ordenar a
própria vida" na direção do sonho de Deus para toda a humanidade.
No Evangelho fala-se das "práticas quaresmais" da oração, esmola e jejum, em que nossas relações são iluminadas e questionadas pelo modo
de proceder de Jesus.
Três gestos nos humanizam e tornam a vida mais leve e com sentido;
condensam o sentido da vida cristã. A vida é um abrir-se aos demais (esmola), um mergulhar no mistério de Deus (oração) e, ao mesmo tempo,
ser capaz de ordenar e dirigir a própria existência (jejum). Isso implica
deixar-se envolver pela graça e permitir que o amor circule em cada um
e no mundo, gerando vida em abundância.
A oração nos ajuda a buscar sentido em todas as experiências, pois ela
nos aproxima da simplicidade e da ternura. Ou seja, torna o coração mais
dócil, fazendo-nos mais humanos e, por isso, mais próximos de Deus. A
oraçáo é uma mão estendida para o divino; não é dobrar a vontade de Deus
a nosso favor; pelo contrário, é colocar-nos em sintonia com Deus, para
entendermos o que é melhor para nosso verdadeiro bem. É deixar Deus ser
Deus, ou seja, revelar sua paternidade e maternidade a cada um de nós.
Orar é sentir-nos participantes da riqueza divina e de seus dons. É sentir-nos agraciados e plenos de sentido do infinito, tirando-nos da mesmice e do vazio. Orar nos molda o coração de acordo com o coração de
Deus, nos ajuda a ser mais irmãos uns dos outros e reforça a certeza de
que somos filhos e filhas amados(as) de Deus.
O jejum nos humaniza, nos faz descer do pedestal e nos torna mais sensíveis e
solidários; fazer jejum tem sentido quando brota da sensibilidade que evita o
consumo desenfreado, o esbanjamento e o orgulho. Na expressão de S. Inácio,
jejuar é "sair do próprio amor, querer e interesse", ou seja, viver na simplicidade de quem renuncia a um "EU" inflado em favor de um "mundo diferente".
Jejuamos para crescer; jejuamos para recordar que as "coisas" não são
um fim, mas um meio; jejuamos como forma de olhar ao redor e recordar que a realidade é muito mais ampla que nossa própria situação.
Jejuar não é "deixar de comer"; é aceitar de maneira consciente que
nossos desejos, nossas necessidades, nossos interesses, nossas preocupações não são o centro do mundo. Jejuar é cuidar-se, com simplicidade e
veneração, e manter viva a "alma" (= sempre animados). Enfim, o jejum
pode nos tornar sensíveis ao próprio mistério da vida; é colocar em questdo a razão de ser da vida. Para que vivemos?
A palavra "esmola" soa mal. Dá ideia de resto, do que sobra... Precisamente porque brota da piedade divina e se modela sobre ela, a esmola
não se reduz a um gesto de ordem apenas material: ela manifesta "um
ato que indica o fazer-se companheiro de viagem junto a quantos se encontram em dificuldade", participando com ternura de sua situação.
O sentido está em oferecer algo de si, importante, significativo. Tem a ver
com abertura de coração, sensibilidade e olhos abertos. É resultado de
uma atenção permanente e ativa, que vai ao encontro do outro, que toma
iniciativa, que se comove. E um estímulo a superar o assistencialismo, que
mantém as diferenças, sustenta a dependência e não promove a cidadania.
Provoca-nos ã solidariedade e ao espírito de compaixão, move - nos ao serviço, à presença-qualidade, ao voluntariado, ã prática do bem e da justiça.
Agora leia, saboreando, o texto evangélico indicado para este dia.
Deixe ressoar em seu coração as palavras de Jesus; converse com
Ele sobre o sentido das três práticas quaresmais; verifique se elas
são um "modo de proceder constante" em sua vida ou, pelo contrário, são atitudes que foram se esvaziando com o tempo.
Que gestos concretos você pode assumir como expressão de uma
vivência encarnada das três práticas quaresmais?
Termine sua oração dando graças ao Senhor (talvez lendo o Salmo
indicado) e registrando no caderno de vida os sentimentos e apelos
que brotaram com mais força.
Quinta-feira de • ois das Cinzas
"Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo..."
(Dt 30,15-20, 51 1; Lc 9,22-25)
seguimento é central em todos os Evangelhos. Significa identificar-se com Jesus em sua entrega total aos outros, sem buscar para si
nada que possa ter cheiro e resquício de poder e glória.
O tema do
25
Inicie sua oração criando um clima de intimidade, silêncio e escuta.
Faça sua oração preparatória como de costume, entregando tudo
nas mãos do Senhor.
Peça a graça indicada para esta semana.
Em atitude amorosa, leia atentamente as indicaçóes a seguir.
A oferta de Jesus é um chamado A liberdade: "Quem quiser seguirme..." Caminhar com Ele nos liberta da autossuficiência estéril e do
autocentramento que nos fecha. O seguimento de Jesus pede "descentrar-nos" de nós mesmos para sermos agentes do novo e criadores
de futuro.
Aqui está o sentido da expressão "renunciar a si mesmo", que não pode
ser interpretada como autonegação, automutilação e autodesprezo. Significa que aquele que segue Jesus precisa dizer não As tendências egocêntricas do seu interior, que querem fechá-lo em si mesmo, atrofiando
e travando o impulso de vida.
Portanto, a expressão "renunciar a si mesmo", não significa negar o que
a pessoa é, mas o que julga ser e não é. Também não se trata de negar
a vida, pois Jesus era um homem profundamente vital e defensor da
vida.
"Renunciar a si mesmo" significa renunciar Aquilo que nega a vida. Para ganhar a vida é necessário perdê-la, e "perder a vida" significa "perder o eu",
ou seja, deixar de alimentar o ego, não deixar que ele determine a vida.
A mensagem de Jesus ndo pretende desumanizar-nos, mas conduzir-nos
A verdadeira plenitude humana.
A vida quer fluir, e quando não flui ela se atrofia. No entanto, no mais
profundo de cada um de nós habita um desejo oculto de querer "ser
deus", de querer estar acima dos outros...
a tentação de querer ser outro, de não aceitar-se como criatura, de
"bastar-se a si mesmo".
"Renunciar a si mesmo" é não deixar que o impulso para a vaidade, a
soberba... predomine; não deixar que o centro seja o "eu", mas Deus. Isso
implica "descer" e acolher humildemente a própria condição humana.
"Perder sua vida por causa de mim" equivale a reencontrar-nos nessa
identidade que compartilhamos com Jesus e com todos os seres. "Perdemos" o eu, deixamos de viver egocentrados e nos descobrimos seres
em relação, inseparáveis dos outros.
Para entrar na escola de Jesus, precisamos nos distanciar de toda ambição pessoal, daquela tendência que deseja possuir, dominar, usar tudo
para seus próprios fins, que sempre gira em torno de si mesmo e que até
tenta instrumentalizar o próprio Deus.
Brota, então, uma compreensão de que o eu se plenifica na medida em
que rompe os laços do seu isolamento, se alarga em direçáo aos outros,
na doação, no serviço e no compromisso solidário.
O evangelho de hoje nos instiga também a "tomar a cruz", e "carregar
sua cruz" significa acolher aquilo que diariamente cruza o nosso caminho, abraçar, com todas as nossas forças e todas as nossas fraquezas,
os sucessos e os fracassos, as coisas vividas e as coisas perdidas, o consciente e o inconsciente...
Nesse sentido, a cruz deixa de ser um "peso morto", ou seja, uma cruz
vazia, sem sentido, in-sensata, pois fecha a pessoa em si mesma, em seu
sofrimento e angústia; não aponta para o futuro, nem abre um horizonte
de vida.
Fazer o caminho contemplativo junto a Jesus que leva a Cruz da fidelidade ajuda-nos a romper com as cruzes que nos afundam no desespero,
nos fracassos, nos traumas das experiências frustrantes...
Agora, leia atentamente, saboreando cada palavra do Evangelho
de hoje.
Na oração, faça um colóquio, converse com o Senhor, "fazendo
memória" das cruzes da vida: elas recordam que o dom da vida lhe
é dado lido para que se conserve, mas para que se consuma e se
expanda no serviço aos outros.
Com o coração marcado pela gratidão, finalize sua oração.
Registre no "caderno de vida" os apelos, as luzes, as "moçóes" que
foram surgindo ao longo da oração.
Sexta-feira de • ois das Cinzas
"Dias virão quando o noivo lhes sera tirado..."
(Is 58,1-9; SI 51; Mt 9,14-15)
Na vida cristã há momentos de alegria e plenitude e momentos de dor e
luto. Todos os momentos envolvem uma graça; sdo diferentes maneiras
de seguir Jesus. Tanto a penitência como a celebração festiva da fé são
evangélicas e santificadoras no momento oportuno.
mais fácil apegar-se 'as normas, tradições... do que estar aberto à novidade de Deus.
Comece sua oração fazendo os "preâmbulos" costumeiros: preparar-se para o encontro com o Senhor, fazer a oração preparatória
e suplicar a graça indicada para esta semana.
Prepare o terreno do coração, lendo com atençáo as indicações a
seguir.
Mais uma vez, diante das armadilhas da religião, a atitude de Jesus é
claríssima.
O culto que agrada a Deus nasce do coraçáo, da adesão interior, desse
centro íntimo de onde nascem nossas decisões e projetos.
Em toda religião há tradições "humanas": normas, costumes, ritos,
devoções.. , que nasceram para ajudar a viver a experiência religiosa em determinada cultura. Podem fazer bem; mas podem causar muito dano quando nos dispersam e nos afastam da Palavra de
Deus. Elas nunca devem ter a primazia. Nunca podemos esquecer
o que é essencial.
Para Jesus, o importante, no jejum, não é o que fazemos, mas o que
Deus faz. Não estamos fazendo algo, mas estamos nos deixando fazer
por Deus. Na tradição dos Padres do Deserto, o jejum é o meio que nos
possibilita criar um "espaço vazio" em que o Espirito possa repousar,
permitindo-nos distinguir o essencial do supérfluo.
Portanto, o jejum 6" um tempo em que damos maior liberdade a Deus
para agir em nós, "ordenando" nossos afetos e orientando nossos
impulsos instintivos. Por isso, a melhor penitência é "abrir espaço
para Deus"; em outros termos, "jejuar é dar espaço para outras fomes" (N. Bonder).
Onde creio encontrar Deus? Nas normas, nos ritos, nos sacrifícios.. , ou
no coração? Sem dúvida, a atitude pessoal será diferente se O experimentarmos no mais profundo de nosso ser e no serviço em favor da
vida. No primeiro caso, haverá fanatismo, legalismo e moralismo; no
segundo, respeito, amor, compaixão e serviço.
O decisivo, como recorda Jesus, é o lugar onde vivemos a experiência de
encontro com Deus; ou seja, a experiência imediata e direta de nos sentirmos em conexão com o Mistério que habita todos os seres, de modo
que, por isso mesmo, sejamos capazes de reconhecê-lo em cada um deles, tal como o reconhecemos em nós mesmos.
O que Jesus deixou claro, com sua forma de viver e com seus ensinamentos, é que o centro da religião não está nem no templo, nem nos
rituais, nem no sagrado, nem na submissáo 'as normas religiosas, nem
nos dogmas e suas teologias. Está em um modo de viver, que se centra
e se concentra na bondade para com todos de maneira igual, no amor
sem limitações ou condicionamentos, no serviço gratuito e generoso.
Isso se traduz e se realiza no respeito ã vida humana, na defesa da vida,
da dignidade e dos direitos da vida humana.
Jesus ampliou e estendeu ã vida inteira essa experiência de encontro
com o Pai; portanto, ela não está reduzida a determinados momentos da
vida, a espaços separados, a ritos privilegiados... Seu modo livre de ser
e viver nos revela "a humanidade de Deus".
Agora, numa atitude reverencial, leia calmamente o Evangelho do dia.
Na oração, dialogue com o Senhor: diante dele procure des-velar (tirar
o véu) e verificar se sua vivência cristã está mais centrada no cumprimento de normas, ritos, leis... ou no serviço e cuidado para com
os outros. Seu "culto" a Deus é expressão de um compromisso ou um
rito vazio, assumido por imposição? Sua experiência de encontro com
Deus só se dá nos momentos de celebração ou no ritmo da vida?
Termine agradecidamente a oração, saboreando o Salmo de hoje.
Registre ern seu "caderno de vida" as experiências de consolação
ou desolação que se fizeram presentes durante a oração.
29
Sábado de • ois das Cinzas
"Não vim chamar os justos, mas os pecadores"
(Is 58,9-14; SI 86[85]; Lc 5,27-32)
Jesus, o homem das "grandes viradas". Ele literalmente virou as mesas" de muitas pessoas.
Jesus arrancou Mateus de sua "mesa" (mesa que o distanciava dos outros, mesa da traição do seu povo e que o tornava colaborador do império romano, que o fazia sentir-se inimigo do povo, mesa da exploração,
da solidão, da acomodação, da fixação... Mesa da morte).
Em casa de Mateus, fundou a mesa da comunhão, da partilha, da festa,
mesa da fraternidade onde todos se sentem iguais... Mesa da vida. Trata-se de uma mesa provocativa, questionadora, incômoda.. , que requer
mudança de lugar, de mentalidade, de atitude... transformação interior.
"Virar a mesa", eis a questão!
Antes de iniciar a oração, crie um ambiente externo e interno para
a escuta e intimidade com o Senhor (escolha o lugar, marque o
tempo, desligue os aparelhos eletrônicos, silencie).
Dê vida aos "preâmbulos": oração preparatória
costumeira, "composição vendo o lugar", a petição da graça indicada para esta semana.
Em seguida, comece a aquecer o coração com os seguintes "pontos
para a oração".
A prática de Jesus que mais causou espanto e escândalo foi a partilha
nas mesas com pobres e pecadores. Para Ele, a mesa é para ser compartilhada com todos; a partilha do pa° com publicanos e pecadores fazia
parte das práticas transgressoras de Jesus. Comendo e bebendo com todos os excluídos, Ele estava transgredindo e desafiando as formalidades
do comportamento social e das regras que estabeleciam a desigualdade,
a divisão, a separação.
Jesus revelava uma grande liberdade ao transitar por diferentes mesas; mesas escandalosas que o faziam próximo dos pecadores, pobres
e excluídos. Ele não só transitou por muitas mesas, mas instituiu como
"marca" para seus seguidores a mesa da Eucaristia.
Porém, a aventura de sentar-se à mesa requer uma troca de "senhor".
Para Mateus, a troca de mesa só foi possível a partir da troca de senhor:
deixou a mesa da dependência ao imperador romano e abriu espaço
interior para a presença de Jesus e dos outros. Ele correu o risco de
assumir a mesa da liberdade e da comunhão.
Mateus não tinha mais mesa fixa (deixou de ficar sentado e pôs-se em
movimento). Tal como Jesus, foi chamado a transitar por outras mesas
(a mesa dos encontros, da criatividade, do novo, do diferente...).
Como seguidores de Jesus e impulsionados por seu Espirito, ndo temos
mais mesas fixas; somos chamados a sair de nossas mesas para participar de todas as mesas.
Todo ser humano tende a se esconder atrás de uma mesa: distância dos
outros, modos de viver fechados, ideias arcaicas, conservadorismo, mediocridade... Perigo da acomodação, da rotina, do permanecer sentado. No
entanto, a "mesa da vida" aponta em outra direção: da gratuidade, da alcgria, da identificação, da amizade, do convívio, do amor e da comunháo.
Reacender o "chamado fundante" .6 permitir ser arrancado da mesa do
imobilismo e da acomodação, para peregrinar, criativamente, por entre
as desafiantes e surpreendentes mesas da vida.
Precisamos "levantar-nos da mesa" cotidianamente. Há sempre um lar
que nos espera, um ambiente carente, um serviço urgente. Há pessoas
que aguardam nossa presença compassiva e servidora, nosso coração
aberto, nossa acolhida e cuidado.
Agora, leia o Evangelho indicado para o dia de hoje, por ser ocasido para uma oração contemplativa: com a imaginaçáo, entre na
cena, procure olhar as pessoas, escutar o que elas dizem, observar
o que fazem, participando ativamente e reservando um momento
de conversa com Jesus.
Deixe que a "entrada na cena" desperte ressonâncias em seu interior; procure dar nomes aos medos que o paralisam atrás da própria mesa. Por quais mesas você tem transitado?
Que mesa você tem proporcionado aos outros?
Termine a oração agradecendo e louvando o Senhor por esse encontro íntimo com Ele.
Leia calmamente o Salmo próprio do dia.
-
Dê nomes e anote no seu "caderno de vida" os "movimentos do
coração" (moções) que você experimentou.
Primeira Semana
da
Quaresma
Introdu ão
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça..."
(Mt 5,6)
Nesta nossa casa comum, onde nascemos e confraternizamos, muitos
vivem aprisionados pelas circunstâncias externas adversas ou pelos próprios condicionamentos negativos internos. Trabalho forçado, moradia
inadequada, comportamento desumano criam submissões doentias em
muitas pessoas. Medo e insegurança fazem parte da nossa bagagem pela
vida. Precisamos urgentemente experimentar a Páscoa do Senhor!
Entremos, pois, nesta la Semana da Quaresma com ânimo redobrado,
tendo em conta o tema da CF/2016: "Casa comum, nossa responsabilidade". Experimentemos a misericórdia de Deus como fonte a correr,
fazendo-se continuamente presente nessa nossa pobre história.
Lembre-se do roteiro para a oração diária:
Escolha a hora e o lugar mais apropriados para a sua oração.
Acolha a presença de Deus, pois Ele está sempre perto de você.
Peça a luz do Espirito Santo, para que dirija e inspire suas ações.
Faça a oração preparatória:"Senhor, que o meu SER e o meu FAZER sejam ordenados para a construçáo do seu Reino de amor. Assim seja!".
Peça a graça para todos os dias desta semana:conhecer Jesus mais
intimamente, para mais amá-lo e segui-lo!
1° Domin o da Quaresma
"Jesus era conduzido pelo Espirito através do deserto"
(Lc 4,1 -1 3)
Hoje rezaremos sobre as tentações de Jesus. Sua fidelidade foi posta
prova. Nunca foi fácil ser coerente; a corrupção tentadora nos espreita
continuamente. São tantos os convites errados!
Jesus foi tentado. Como conciliar isso com sua santidade plena? O
alvo do tentado não é a moralidade das ações externas de Jesus,
mas sua atitude interior de obediência 6. vontade de Deus. Jesus foi
conduzido pelo Espirito Santo e, ao mesmo tempo, experimentou a
sedução do mau espirito. Nossas tentações são sempre estranhas e
contraditórias.
Coloque-se, pois, na presença de Deus e contemple o caminho percorrido por você, até o dia de hoje. Luz e sombras, graça e pecado nos habitam numa luta desigual e constante. Quem é agora seu Senhor? Deus
unifica; o inimigo da natureza humana mente e divide.
Peça a graça de conhecer e escolher sempre o mais gratuito, como fez
Jesus. Deus é sempre maior do que nossas próprias divisões. Reconheça
com gratidão essa presença salvadora em sua história e, confiante, agradeça, pois internamente Ele o unifica.
Em seguida, medite ou contemple a passagem de hoje: Lucas 4,1-13.
"Após o batismo no rio Jordão, Jesus foi para o deserto e la fo'
tentado pelo inimigo." A tentação pode surgir em qualquer
lugar...
"Se es o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em
pão." Sacie gulosamente os próprios desejos.
"Lança te daqui para baixo." Acabar com a própria vida, em vez de
começar uma vida nova, é uma forte tentação.
-
"Tudo te darei se, prostrado em terra, me adorares." Quantas pessoas maltratadas mendigam amores!
"Vieram os anjos e o serviram." As vezes, na própria vida, surgem
inesperadamente propostas novas, caminhos diferentes melhores e
mais gratuitos.
Finalize este tempo de oração coin urn colóquio, como um amigo fala
com outro: "Não me deixes cair na tentação, e livrai-me do maligno.
Amém!".
Por fim, registre como se sentiu, o que Deus lhe propôs e, também, as
dificuldades encontradas no tempo de oração.
MIMS
Se unda-feira da la Semana
"Vinde, benditos do meu Pai!"
(Mt 25,31-46)
Vivemos em uma sociedade excludente que marginaliza os diferentes: os
bons e os maus. Conheço pessoas magníficas que ajudam, sem alarde,
os outros. Mas também encontro outras, muitas, que vivem focadas somente em si.
Hoje vamos rezar sobre nossa opção fundamental. A autorrealização da
liberdade que escolhe o caminho de Deus. Desse modo, damos sentido
‘a nossa existência.
Hoje, é difícil afirmar com segurança quando alguém faz uma opçáo
consciente e livre. Somos tremendamente condicionados pela sociedade
de consumo. Assim, a opção fundamental, como escolha livre e amadurecida, precisa ser entendida como uma escolha feita no mais íntimo de
si mesmo. Optar por Deus e escolher o bem. Dessa "opção fundamental"
derivam todas as outras escolhas.
Autonomia e alteridade são fundamentais. Rezamos sobre como vivemos e sobre o que fazemos (ou deixamos de fazer!). A Palavra de hoje nos
convida a sair de nós mesmos, com gestos pequenos de ajuda, sem cansar
nem duvidar. Agua, comida, roupa, visitas... Pequenas coisas acabam
significando muito para quem precisa.
"Vinde, benditos do meu Pai!". É Deus que nos chama ("vinde!") para
viver de um modo diferente e proclama publicamente: Feliz você será se
fizer o bem!
Aprendamos a ajudar e não simplesmente dar!
Coloque-se, pois, na presença de Deus e peça a graça de amar, ajudare
servir. Em seguida, medite ou contemple a passagem de hoje: Mateus
25,31-46.
"Tive fome e me destes de comer... Tive sede e me destes de beber..."
"Era estrangeiro e me acolhestes... Estava nu e me vestistes..."
"Doente e me visitastes... Na prisão e viestes me ver..."
"Eu vos declaro: cada vez que fizestes isso, foi a mim que o fizestes!"
Finalize este tempo de oração com um colóquio, como um amigo fala
com outro, renovando sua opção fundamental por Deus e pelos outros.
E, por fim, registre como se sentiu, o que Deus lhe propôs e, também, as
dificuldades encontradas no tempo de sua oração.
Ter a-feira da 1a Semana
"Vós orais assim..."
(Mt 6,7-15)
A oração é uma conversa amigável com Deus. Conversa franca, aberta,
que declara seus temores, anseios, necessidades, agradecimentos... Enfim, orar é entrar em comunhão com Deus. S. Inácio dizia: "Ore como se
tudo dependesse de Deus, trabalhe como se tudo dependesse de você".
Rezar, orar... É, difícil?... Rezar a quem? Para quê? A oração é um diálogo apaixonado entre Deus e você.
Na oração, Deus toma sempre a iniciativa e nos move por dentro, para
que nos coloquemos um na frente do outro. Há pessoas que temem se
relacionar, pois não querem compromissos. Orar e amar 6. comprometerse. Ninguém sai do mesmo jeito de um encontro de oração.
Não oramos para mudar a vontade de Deus, mas para modificar a nossa.
"Não construiremos um futuro melhor sem pensar na crise do meio
ambiente e no sofrimento dos excluídos" (cf. LS 13).
Coloque-se, pois, na presença de Deus e peça a graça de amar orando
ou de orar amando.
Em seguida, medite a passagem de hoje: Mateus 6, 7-15.
"Vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que o peçais..."
"Pai nosso... Teu nome é santo!"
"Venha o teu Reino e seja feita a tua vontade..."
37
"0 pão nosso de cada dia dá-nos hoje."
"Perdoa as nossas ofensas, como nós perdoamos..."
"Náo nos deixes cair em tentação... Livra-nos do mal."
Finalize este tempo de oração corn um colóquio, como um amigo fala
com outro, agradecendo por Deus lhe falar ao coração. Oramos porque
amamos e somos amados.
E, por fim, registre corno se sentiu, o que Deus lhe propôs e, também, as
dificuldades encontradas no tempo de sua oração.
Quarta-feira da la Semana
"Nenhum sinal lhe sera dado, a não ser o sinal de Jonas..."
(Lc 11,29-32)
No tempo de Jesus, algumas pessoas pediam-lhe sinais para crer. Você
já percebeu que ninguém acredita no outro se primeiro não o amar? Fé e
amor andam sempre juntos.
Para entender a resposta de Jesus no Evangelho que hoje vamos meditar,
precisamos nos lembrar de Jonas (Jn 3) e da Rainha de Sabá (i Rs 10).
Jonas recebeu uma missão, que no início não quis cumprir: "Vai ã. cidade
de Ninive, capital da Assíria, e diz que, se não se converterem, Deus
aniquilará a cidade". O povo acreditou em Jonas E Nínive se converteu
e não foi destruída.
A Rainha de Sabá (Sabá é a cidade onde hoje se localiza o Yemen do
Sul), formosa, rica e morena, ouviu falar da Sabedoria de Salomão e foi
lá comprovar se era verdade.
Jesus afirmou que aquela geração má queria um sinal para acreditar
nele, e o sinal era Jonas. Se Nínive acreditou em Jonas, por que não
acreditar em Jesus, que é maior que Jonas?
Se a Rainha de Saba acreditou em Salomão, por que aquela geração
não acredita em Jesus, que é maior que Salomão? Aquela geração não
acreditava nele porque não o amava. Tudo está estreitamente interligado
no mundo. Quem ama acredita!
E você? Acredita em Jesus e o ama como discípulo? Você foi escolhido
para ajudar os outros e viver com responsabilidade sua F é nessa terra
maravilhosa, criação de Deus.
Coloque-se, pois, na presença do Senhor e peça a graça de anui-lo, segui-lo
e seivi-lo como discípulo.
Em seguida, medite a passagem de hoje: Lucas 11,29 32.
-
"As multidóes se reuniram em grande quantidade ao redor de Jesus."
"Assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também
será o Filho do Homem para esta geração."
"A rainha do Sul veio de uma terra distante para ouvir a sabedoria
de Salomão. E aqui está quem é maior que Salomão."
Finalize este tempo de oração com um colóquio, como um discípulo fala
com seu mestre, afeiçoando-se com amor à sua pessoa e vivendo generosamente a sua proposta.
E, por fim, registre como se sentiu, o que Deus lhe propôs e, também, as
dificuldades encontradas no tempo de sua oração.
Quinta-feira da P Semana
"Pedi e vos sera dado!"
(Mt 7,7-12)
A Quaresma é urn tempo de conversão. Você já percebeu que alguém só
acredita em uma pessoa se a ama? E, quando não ama, provavelmente
tem muito mais dificuldade em acreditar. Cremos se amamos!
A Quaresma nos coloca nas pegadas de Jesus, e desse modo tomamos
consciência da imensidão do seu amor por nós.
Enquanto caminhamos para o ápice do ano littirgico, a PÁSCOA DO
SENHOR JESUS, revisamos a própria vida, pois percebemos que nossa
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insensatez depende muitas vezes do egoísmo institucionalizado e do
desrespeito pelo mundo criado.
Pedi, buscai, batei! Esses imperativos são um desafio. As "ordens"
assustam, pois nos acostumamos a viver sem muita responsabilidade.
Confiamos pouco em Deus e menos ainda em sua palavra. Nossos
olhos não estão fitos em Deus como deveriam, e o coração fica fechado
para a solidariedade. Por isso, quando chega a crise, o mistério da dor
e somos confrontados com nossa realidade, desmoronamos. A solidão e o descontentamento pervadem nossa existência e encobrem de
pessimismo o próprio horizonte. l'A terra, nossa casa comum, parece
transformar-se cada vez mais em um imenso depósito de lixo" (LS
21). Podemos reduzir o número das necessidades desnecessárias que
nos entorpecem.
A espiritualidade cristã propõe uma forma alternativa de entender a
qualidade de vida sem estar obcecado pelo consumo. Nossa obsessão
a solidariedade!
Não adianta caminhar se estamos no sentido en-ado...
Coloque-se, pois, na presença do Senhor Deus como Pat amoroso e peçalhe a graça de amá-lo como filho e de servi-lo como discípulo.
Em seguida, medite a passagem de hoje: Mateus 7,7-12.
•
"Pedi, e se vos dará. Buscai e achareis. Batei, e vos será aberto."
"Quem de vós dará uma pedra ao filho que pede um pão?"
"Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas
aos que lhe pedirem!"
Finalize este tempo de oração com um colóquio, como filho que acredita
no Pai, porque o ama e vive confiante a própria vida ajudando quem
precisar.
E, por fim, registre como se sentiu, o que Deus lhe propôs e, também, as
dificuldades encontradas no tempo de sua oração.
Sexta-feira da V Semana
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"Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão..."
(Mt 5,20 26)
-
Hoje vamos rezar sobre o perdão. Nunca foi fácil perdoar e ser perdoado.
"Deus jamais se cansa de nos perdoar. Nós é que nos cansamos de pedir
perdão" (Papa Francisco).
A reconciliação não é algo somente entre nós e Deus, mas também entre
nós e os outros. O perdão que recebemos de Deus deve ser concretizado
com nossos semelhantes. Você sabe perdoar?
O perdão faz muita diferença na vida de quem o experimenta. Quem
perdoa experimenta a presença de Deus e é perdoado.
O Evangelho é Boa-Nova, e o perdão faz parte dela. Há palavras e gestos que matam e outros que trazem vida e alegria.
Procure se lembrar das vezes em que você foi verdadeiramente perdoado por Deus e pelos outros e, depois, das pessoas a quem você ainda
deve pedir perdão.
O projeto de Deus é que sejamos filhos e irmãos deixando de lado a
mentira e toda divisão.
O Papa Francisco nos lembra em sua bela encíclica Laudato Si': "E, necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma
responsabilidade para com os outros e o mundo, e que vale a pena ser
bons e honestos" (LS 229).
Coloque-se, pois, na presença do Senhor Deus, Pai amoroso, e peça-lhe a
graça de perdoare ser perdoado.
Em seguida, medite com fé e amor a passagem de hoje: Mateus 5,20 26.
-
"Se a tua justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não
entrarás no Reino dos Céus."
-
Não matarás!' Eu, porém, digo: Não te encolerizes com teu irmão".
"Reconcilia-te com teu irmão e com teu adversário para ser perdoado".
Finalize este tempo de oração corn um colóquio, perdoando para ser perdoado, amando para ser amado.
Por fim, registre como se sentiu, o que Deus lhe propôs e, também, as
dificuldades encontradas no tempo de sua oração.
Sábado da la Semana
Repetição inaciana
A repetição não pretende exercitar só a memória de fatos passados, mas
aprofundar e saborear as ressonâncias mais "significativas" experimentadas nas orações desta semana.
Procure, pois, encontrar nos temas rezados aquele que foi mais expressivo e teve a ver mais com sua vida e história.
A repetição inaciana ajuda a entrar em maior intimidade com o Senhor.
Lembre-se: "Não é o muito saber que sacia e satisfaz o interior, mas o
SENTIR e SABOREAR as coisas internamente..." (EE 2).
Como fazer a repetição? Coloque-se na presença de Deus e peça a graça
de que mais precisa neste momenta. Recorde ou releia suas anotações
desta semana e escolha para orar a mais marcante, detendo-se nos pontos em que teve maior consolação ou desolação ou maior sentimento
espiritual
No final, faça o colóquio de agradecimento e a avaliaçáo da sua oração,
preparando-se para começar com ânimo redobrado a semana que amanhã se inicia.
Encontremo-nos, pois, face a face com a beleza infinita de Deus (cf.
1Cor 13,12). Tudo e todos caminhamos para o Cristo Total!
Segunda Semana
da Quaresma
44
Introdu ão
"Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e sua justiça"
(Mt 6,33)
O convite desta segunda semana é para ter presente a íntima união
com Cristo, Filho de Deus, o Dom por excelência do Pai, dado a nós.
Ele que anunciou o Reino e nos interpela a que o desejemos. Buscá-lo
já ter sido encontrado pelo Senhor, pois antes mesmo que o vislumbremos o Senhor já se nos manifestou nele. O Reino foi tudo para o
Jesus Missionário e o é para o discípulo que deseja fazer caminho com
Ele. Dispor-se para caminhar com Ele é, ao mesmo tempo, desafiador
e repleto de encanto, pois com Ele não se está sozinho, por mais estranho e árduo que seja o caminho.
Caminhar com Jesus nesta Quaresma é deparar com a confissão de Pedro: "Tu és o Cristo...." e de igual modo ouvir dele: "Tu és
Pedro..." (Mt 16,16.18). Pois é no caminho que o conhecemos e somos
conhecidos como Ele nos conhece. E, conhecendo-nos, confia-nos uma
missão. Isto ndo é pouca coisa! Saber e sentir como somos conhecidos
por Deus faz toda a diferença. Afinal, quando o conhecemos e o sentimos sempre ao nosso lado, caminhamos em segurança, motivados
ainda a nos comprometer mais com sua pessoa e sua causa. É fazer a
passagem existencial do ser pessoa para o ser verdadeiramente discípulo, cuja vida está fundada na comunhão com seu Senhor.
Este tempo favorável que vivemos convida-nos a olhar para a vida do
Filho e deixar-nos configurar com Ele. Nesta semana, buscar e encontrar o Reino é acolhê-lo em suas mais diversas manifestações, é estar no
caminho certo. O passo seguinte é ter o coração em sintonia para fazer
na vida o que for de sua santa vontade.
Nesta caminhada quaresmal, o que poderá diferir de tantas outras já vividas é a comunhão íntima. Um convite que subjaz ao tempo quaresmal é a
conversão. Trata-se, sobretudo, de voltar o coraçâo a Deus e a seu reino.
Para melhor obter o que se deseja, convém ter presente a graça no decorrer de cada dia desta semana, e não somente durante a oração, procurando por diversas vezes recordar e manifestar seu desejo ao Pai.
Graça: Peça a Deus a graça de uma maior intimidade com o Filho:
"Que haja em mim um desejo profundo de buscar em tudo servi-lo, no
Filho, com o Filho e pelo Filho. / Que meus olhos estejam fitos no Filho. / Que meu coração possa bater em sintonia com o do Filho. / Que
minhas mãos estejam prontas para agir como as do Filho. / Que eu tenha a mesma coragem do Filho, de caminhar determinadamente com
Ele rumo à sua Páscoa e disposto a viver sua vida de ressuscitado!"
2° Domin o da Quaresma
"Enquanto orava, seu rosto mudou de aspecto..."
(Lc 9,28-36; Gn 15,5-12.17-18, SI 26(27); Fl 3,17-4,1)
Adentre esta segunda semana tendo a clareza de que sua vida está permeada de valores e opções, mas Cristo lhe alerta que seu Reino, sua
Justiça, deve ter a primazia.
Seguindo as orientações introdutórias destes Exercícios Quaresmais, busque se preparar remotamente para fazer sua oração, predispondo-se a colher os frutos que Deus, com sua graça, lhe quiser
oferecer. Nesta preparação remota você pode tomar o evangelho,
uma das duas leituras ou o salmo da liturgia. Pode ainda fazer uma
leitura geral de todos os textos e no momento da oração fixar-se em
um fio condutor. Por exemplo: Na transfiguração, diante de seus
discípulos, Jesus antecipa o que será em sua glória e nos mostra que
este também é nosso fim. A caminhada quaresmal é ocasião para
irmos, já, nos transfigurando Nele.
No momento da oração, sem se deter ou dispersar, procure ter
presente a reta intenção de encontrar com o Senhor que lhe ama e
deseja fazer parte de sua vida.
Coloque-se em oração, pacificando-se, acolhendo os sons que estão
sua volta, atento ao barulho que está cada vez mais perto e até
mesmo dentro de você.
Pacificado, peça a graça que deseja nesta segunda semana, procurando saborear o sentido de cada palavra, observando o que se propõe.
4$
Escolhendo um dos textos, faça uma primeira leitura sem se deter em nenhum ponto. Leia novamente, parando onde encontra
maior sentido. Enquanto medita, busque não perder de vista que
está acompanhando Jesus passo a passo na subida do Tabor.
Tenha presente que esse relato de Lucas coloca você em sintonia com
Jesus, que transmite aos discípulos seus últimos ensinamentos antes de
começar sua caminhada rumo a Jerusalem Uma vez mais, o evangelista
apresenta Jesus em um contexto de oração, deixando entrever que estar
em íntima união com o Pai é uma atitude imprescindível para quem
deseja subir com o Senhor a Jerusalém.
homem e a mulher de Deus, quando rezam, têm o rosto translúcido,
por refletir a imagem do Criador. Trata-se do que há de mais original,
seu ser como imagem de Deus.
Uma vez mais, a Igreja nos propõe a Quaresma como tempo de conversão do nosso coração. Nesta caminhada rumo à Páscoa, podemos
ter bem presentes os mistérios da vida de Cristo, nesta sua caminhada
rumo a Jerusalém, e deixar-nos tocar por esse mistério. Essa caminhada propõe justamente isto: olhar para a vida de Jesus e deixar-se, pela
graça, moldar por sua vida.
Encontrar com o divino é comprometedor, mas também transformador.
Nosso horizonte é ser transfigurado com Cristo. Para tanto, um longo
caminho há que ser feito. Tenhamos presentes que não estamos sozinhos. Na liturgia deste segundo domingo somos convidados a ter presente o seguinte percurso que muito nos ajudará Vamos nos deter nas
personagens que são para nós como manifestações de Deus, que deseja
nos transfigurar em seu Filho:
Abraão: Em Abrado, Ele se manifesta como
o Deus da Promessa, da Aliança, que passa entre os seus dando sinais como prova de sua fidelidade, náo deixando que seus filhos pereçam.
Olho para o que Deus fez por e em Abraão e olho também
para minha vida. Como tenho sentido a fidelidade de Deus em
minha vida?
Paulo: O Apóstolo chama a atençáo da comunidade de Filipos,
que está se deixando contaminar por falsas doutrinas. Alguns
membros se apegam às práticas corporais e não consideram
que este é apenas um meio para a manifestação de Deus e que,
no him, Cristo os ressuscitará em um corpo glorioso como o
seu. Como tenho reconhecido as manifestações de Deus em minha vida?
Jesus: No Filho amado, Deus se manifesta como o Glorificado!
Destino final de todos os que se tornam seus discípulos. Como tenho acolhido o convite do Pai a escutar sua voz?
Essa tríplice manifestação do Pai é sinal e ao mesmo tempo convite a
que vivamos desde já como glorificados com Seu Filho.
Colóquio: Movido pelo pão da Palavra, alimento para o dia de hoje, eu
dialogo com o Pai, agradecendo por Se manifestar em minha história
e por passar por ela deixando sinais de vida para que seja mais plena.
Finalizo com um pai-nosso!
Sei unda-feira da 2 Semana
"Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso"
(Lc 6,36-38; Dn 9,4-10; SI 79)
Antes de tudo, procure ter presente que este imperativo de Jesus é o
lema do santo da misericórdia; uma proposta irrecusável ao discípulo
que deseja se configurar com Cristo.
Coloque-se na presença de Deus e, recordando os passos da oração, busque o modo de rezar que mais inspira você nesta oração.
Peça a graça da semana.
A temática deste dia convida-nos à comunhão com a Igreja, que neste
ano é chamada a se redescobrir como misericordiosa, conforme insiste
o Papa Francisco na bula O rosto da Misericórdia.
"Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai", assim destaca o documento.
Ao deparar com esse imperativo de Jesus, fica claro que ele interpela o
discípulo a se espelhar sobretudo no Pai, pois misericordioso é o modo
que Ele escolheu para se mostrar à humanidade.
47
A maneira de chegar à misericórdia é a vida Jesus, e se chega fazendo
caminho com Ele e aprendendo Dele.
interessante notar que, em alguns momentos na caminhada de
Jesus, seus ensinamentos são transmitidos de modo claro e sem rodeios. Quando se trata da misericórdia, por exemplo, Ele náo pergunta, não pede que se pondere este jeito de ser do Pai, mas simplesmente fala de maneira incisiva, imperativa: "Sede!". Não dá outra
possibilidade ao ouvinte. Este é o tipo de convite que não se posterga.
Ser misericordioso é um modo muito singelo e ao mesmo tempo comprometedor que revela o rosto do Pai. Portanto, se queres pertencer
família de Deus é preciso parecer-se com Ele! Ser como Ele!
Concomitante a esse imperativo, aos da família de Deus, subjaz outro:
"Sejamos irmdos!" Neste caso, Jesus nos interpela a que entre nós, os
filhos, não haja mágoas, ressentimentos, destrato, mas que, olhando
o modo como o Pai trata a cada um, façamos a mesma coisa. Somos
feitos do mesmo "barro", sujeitos As mesmas vicissitudes, aos mesmos tropeços. Daí é preciso olhar uns para os outros com um olhar
misericordioso, colocando-nos cada um no lugar do outro. Isso fará
de nós irmãos e nunca juízes capazes de liquidar-nos mutuamente.
Da vivência misericordiosa segundo o coração do Pai, depende o cultivo de uma vida íntima, de comunhão com Ele. Seria muito mais
fácil se na caminhada cristã pudéssemos seguir Jesus A nossa maneira! Certamente, muitos de nós não poucas vezes deparamos com
essa tentação: viver um cristianismo ao nosso modo. Não há dúvida
de que se trata de uma tentação, pois o verdadeiro seguimento não
nossa maneira, mas ao modo de Deus. Por isso, "ser misericordioso
como o Pai" traz um desafio, mas também uma graça, pois só ao seu
modo poderemos ser verdadeiramente discípulos de Jesus, que não
fez a própria vontade, senão "cumpriu fielmente a vontade do Pai".
Proponho hoje o seguinte exercício:
Eleja em sua vida uma situação concreta em que você foi chamado
a agir com misericórdia. Tenha isso presente na oração e no decorrer de seu dia. Procure perceber as consequências de sua atitude.
Se foi misericordioso, quanto lhe fez bem ajudar o outro; se deixou
de sê-lo, como isso deve ser pesado à consciência.
Tenha presente em sua oração que a misericórdia C. sobretudo ação
concreta, é vida, é atitude e não só sentimento. Ela supoe olhar,
parar e mover-se diante do outro que depende de sua atitude. No
Evangelho de hoje a atitude de Jesus foi clara e imediata. Atitude
semelhante ele espera de seus discípulos.
Olhando ao seu redor, considere que ser misericordioso como o
Pai é também uma atitude que contagia. Na história da humanida-
de houve muitas pessoas que viveram como ícones da misericórdia. Vale a pena lembrar alguns exemplos, próximos ou distantes
de nós: Vicente de Paulo, Madre Teresa de Calcutá, Irma Dulce
na Bahia, Zilda Arns, D. Luciano de Almeida, D. Helder Camara e
tantos outros. Olhe ao seu redor e veja que há alguns por at Pondere esses exemplos e peça a Deus para ser como eles.
Colóquio: Encerre sua oração conversando com o Filho, pedindo que
lhe alcance do Pai a graça de ser como Ele, Misericordioso! Faça isso
rezando Alma de Cristo:
Alma de Cristo, santificai-me.Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Agua do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
O bom Jesus, ouvi-me.
Dentro de vossas chagas escondei-me.
Mao permitais que me separe de vós.
Do espírito maligno defendei-me.
Na hora da morte, chamai-me
e mandai-me ir para vós,
para que com os vossos Santos vos louve
por todos os séculos dos séculos. Amém.
Anote o que lhe ocorreu de mais forte na oração de hoje.
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Ter a-feira da
50
r Semana
"Eles falam, mas não fazem"
(Mt 23,1-12; Is 1,16-20; SI 50)
Preparo minha oração, meu coração para o encontro com o Senhor!
Estando já pacificado, recordo a graça da semana que venho pedindo.
Tomo o texto do Evangelho de Mateus e faço a leitura, uma, duas
ou mais vezes. E. importante que eu tenha presente seu conteúdo.
Considerarei alguns aspectos que me interpelam neste texto:
I.
A vida em Cristo: Interpela-nos a uma coerência de vida tal, que a
palavra "feita" seja o prolongamento da palavra "falada". Eis um exercício para esta Quaresma: uma atenção amorosae cuidadosa em relação as nossas palavrase ações. A missão de Jesus foi marcada por
palavras e ações. Não havia divergência entre uma e outra, mas profunda coerência. Daí a crítica do Senhor aos doutores da leie fariseus,
gente sábia, mas vazia. Este não é o caminho do discipulado.
Vontade determinada: Que nossas ações digam por si só. É comum
depararmos com situações em que desejamos mudar algo, estar mais
voltados a Deus e aos outros, lutar contra este ou aquele vício, pecaclo, defeito... Mas é igualmente verdade que não vemos resultados,
principalmente porque nos falta empenho, coragem, disposição.
Chegamos a formular propósitos, promessas bonitas e bem fundamentadas, mas sem empenho. O evangelho proposto para a oração
deste dia apresenta Jesus combatendo os que têm bons discursos,
mas desprovidos de práticas. Sem uma vontade determinada e exercícios assíduos, não haverá mudanças.
Elegendo com Deus: Longe de olhar para o que está fora de nós, voltemo-nos sobretudo para nós mesmos e, movidos pelo discernimento
que brota da oração, elejamos o que Deus nos inspira a fazer e a viver
para que sejamos transformados por sua ação, mais que pela força
de nossas promessas.
Coerência, palavra de ordem: Lanço um olhar sobre minha vida,
buscando verificar quanto há de coerência entre o que tenho falado e
o que tenho feito; onde estão as maiores dicotomias...
Finalmente, consciente de que ser coerente é também papel da graça,
termino rezando e saboreando a oração do beato Cardeal Newman na
qual ele pede a Jesus que atue através dele:
“Querido Jesus,
Ajudai-me a espalhar Vossa fragrância aonde quer que eu vá.
Inundai minha alma com Vosso Espirito e com Vossa vida.
Penetrai e possui todo o meu ser, tão completamente que toda a minha
alma seja uma irradiação de Vós.
Brilhai através do meu ser e mostrai-Vos de tal forma em mim, que cada
alma que eu encontre possa sentir Vossa presença.
Que elas ergam o olhar e não me vejam, mas apenas a Vós, Senhor.
Ficai comigo para que eu comece a brilhar como Vós e brilhe de tal
forma que seja a luz dos outros.
A luz, ó Senhor, virá toda de Vós, nenhuma sera minha, sereis Vós a
brilhar diante dos outros através de mim.
Permiti, pois, que Vos louve da forma que Vós mais amais, brilhando
sobre aqueles que Vos rodeiam.
Deixai que Vos pregue sem pregar, não por palavras mas pelo meu
exemplo, pela força do entendimento, pela influência simpática daquilo que faço, como prova do amor que o meu coração sente por
Vós. Amém!"
Agradeço ao Senhor e, recolhendo os frutos desta oração, anoto em
meu caderno de vida aquilo que ndo pode ser esquecido!
Colóquio: Ao considerar ern sua oração o impacto que essas palavras fortes de Jesus causam em sua vida, peça perdão ao Senhor por nem sempre
ter vivido a coerência que elas requerem. Peça ainda a graça de vivê-la.
Quarta-feira da
r
Semana
"Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve"
(Mt 20,17-28, Jr 18,18-20)
Hoje você fará uma oração de contemplação. Coloque-se a caminho
com Jesus, que está subindo para Jerusalém, observando que cada passo
MIN
é uma ocasião para aprender Dele. Nessa subida, nenhum detalhe pode
ficar despercebido.
Graça: Recorde a graça que estou pedindo nesta semana, predispondome a acolhê-la.
preciso ter presente que o coração misericordioso supõe um descentramento da pessoa, de modo que ela seja capaz de se esquecer de si
para colocar o outro em primeiro lugar. Essa atitude só sera possível
se formos capazes de ver o outro como Deus nos vê. Ele nos vê com um
olhar de amor. Um olhar original não vê pecados, nem malícias... Que
bom seria se olhássemos assim!
Seguindo a lógica do Evangelho, poderíamos dizer que sua dinâmica
é decrescente; ou seja, quando mais crescemos, nós diminuímos. Só
nos tornamos grandes â medida que nos tornamos pequenos. Pois,
â medida que diminuímos para nós mesmos, Deus nos reergue, nos
faz crescer. Trata-se de sermos à medida de Deus, por Ele, com Ele e
Nele. Do contrário, nosso modo de ser, com nossas carências, vossos
orgulhos, nos fará encher de nós mesmos, ou seja, damos vazão ao
nosso vazio.
Um dos preceitos de longa tradição propostos pela Igreja no tempo da
Quaresma é o jejum, a oração e a esmola. Se vivenciado conforme os
ensinamentos da aide Igreja, esse tripe nos torna mais "vazios" de nós
mesmos e mais preenchidos de Deus.
Siga corretamente os preâmbulos da oração de contemplação. Recorde
que esse modo de rezar requer, depois dos passos introdutórios, três
momentos básicos:
Primeiro, ver quem são as pessoas da cena, do caminho que estão
em comunhdo com Jesus;
Segundo, escutar o que as pessoas vão dizendo umas As outras. O
que se passa em seus corações?
Terceiro, olhar o que as pessoas fazem enquanto caminham.
Depois de percorrer esses passos, dedique um tempo olhando para si
mesmo e se pergunte como foi estar ao lado de Jesus, de seus discipulos e dos outros que caminhavam com eles. 0 que mais lhe tocou
nessa cena?
Recorde que o mais importante na Oração de Contemplação é refletir em
si mesmo para tirar bom proveito.
Colóquio: partindo daquilo que o Senhor lhe deu a graça de saborear,
converse com Ele, agradecendo, pedindo, louvando por ter aceitado fazer com Ele esse caminho.
Anote o que foi mais importante e despeça-se, como fazem os que são
agraciados e agradecidos!
Quinta feira da
-
r Semana
"Durante a vida recebeste teus bens, e Lázaro, seus males"
(Lc 16,19-31, Jr 17,5-10, SI 1)
Tendo preparado remotamente minha oração, sigo os preâmbulos de
costume.
Graça: Recorde o que vem pedindo nesta semana.
O evangelho proposto para a oração de hoje é um retrato visível de um
mundo que ainda não descobriu o verdadeiro amor. Um mundo em que
a falta de amor mata tanto quanto a falta de pão, e a fome de pão é a
mais pura manifestaçáo da fome de amor.
Essa parábola de Jesus, segundo Lucas, é um empecilho a quem cogita
viver um amor exclusivo e doentio que ofusca o olhar diante da necessidade dos outros. As consequências para quem procura ajuntar, para si,
frágeis tesouros ou mesmo abarca para si mesmo os dons destinados a
todos são sempre nefastas. Vive-se uma vida mediocre cerceada na mais
profunda arrogância e orgulho.
Longe de pensar em um determinismo da vida em que uns são agraciados por Deus e outros esquecidos, Jesus quer salientar que a generosidade do Pai é para todos. Todos têm direito a uma vida digna!
O exemplo do evangelho de hoje mostra justamente o resultado de
uma vida em que alguns se julgam privilegiados pela graça e por
isso não se importam com os outros, enquanto outros sofrem toda
espécie de marginalização.
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A vida não deixa de nos instruir com fatos desconcertantes. A cena do
rico opuláo e do pobre Lázaro é um apelo â contemplação que leva
conversão da vida e do coração. Talvez seja difícil admitir, mas esses dois
personagens passaram a história digladiando-se dentro e fora de nós. E
hoje mais do que nunca, quando nos sentimos interpelados pela encíclica
do Santo Padre sobre a Ecologia, deparamos com a opulência e a avidez
de alguns, que a todo custo se sobrepõem ao direito dos outros de ter um
espaço sadio para produzir e viver. Não contentes em sugar as pessoas,
passaram a sujar, espoliar a natureza, fonte de bem para todos.
O tempo liturgic° que estamos vivendo é uma ocasião ímpar para um
profundo exame de consciência; para considerarmos, sobretudo, que
ndo estamos diante da imagem de um Deus mesquinho, mas de um
Deus que cuida, protege, abençoa largamente a todos. Os bens são
para todos. Se Lázaro está à nossa porta, é porque foi expropriado
de seus direitos e dignidade. A nossa porta deseja apenas sobreviver.
Oxalá nossa porta não seja lugar para calcular migalhas, mas para
repartir com generosidade os dons de que somos meros administradores. O pão farto que se parte na mesa do rico é justamente o que foi
tirado de Lázaro.
O espirito da Campanha da Fraternidade nos ajuda a perceber que a
ganância de poucos pode aumentar o número de "Lázaros" em nossa
sociedade. Está, porém, em nossas mãos deixar-nos interpelar pela necessidade de cuidar do que 6. de todos. Nossa casa corre perigo. NOSSA
CASA; aqui não é só a vida de Lázaro!
O Evangelho conclama nossa sensibilidade diante da degradação da
dignidade humana. Não se pode aceitar e muito menos admitir que uns
continuem destruindo o que é de todos.
Tal como propõe Inácio no Exercício da Encarnação, em que a Trindade Santa contempla o mundo e se deixa afetar pelo que vê, meditarei
hoje minha realidade com o olhar de Deus unido ao coração de Jesus,
que me faz sentir que:
o Reino de Deus e sua justiça se alcançam quando vejo o outro
como meu irmão;
meu coração será misericordioso como o do Pai quando for capaz
de colocá-lo na dor do outro;
serei um filho amado do Pai, que manifesta a mim seu agrado
como manifestou em Jesus no Tabor, quando me despir de minha
falsa pobreza, ganância, avidez e tudo que impede de me transfigurar com Ele; quando meu testemunho for coerente com minha
fé professada; quando minha vida se traduzir em serviço generoso
aos mais necessitados;
viverei a verdadeira fraternidade e comunhão quando forem generosas e o coração possuir os tesouros do Cristo, isto é, os despossuidos;
Corn este texto presente como uma moldura que perpassard seu
dia, peça com insistência ao Senhor que seu coração bata em sintonia
com o Dele; que a avidez e o desejo de possuir nunca ofusquem o grito
de fome de seus irmãos mais pequeninos, mas lhe façam solidário em
sua dor, em sua fome, em sua necessidade de pão e de amor. Amém!
Colóquio:
Termine com uma oração de sua devoção e anote o que não deve ser
esquecido.
Sexta-feira da
r
Semana
"Este é o herdeiro. Vamos matá-lo!"
(Mt 21,33-46; Gn 37,3-4.12-13.17-28; SI 105,16-21)
Como de costume, prepare sua oraçáo previamente. Recorde os passos
da oração buscando maior sintonia do coração com o coração de Cristo.
Aproximando-se o fim desta semana, não perca de vista sua proposta:
"Buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça".
Tenha presente que a herança deixada por Deus a cada um de seus filhos
não é alcançada pela força ou pelo simples esforço humano. E dom que
recebemos para ser dado a todos. Todos os que se reconhecem como filhos
no Filho já possuem essa herança. Ter o Filho é o único caminho para chegar a ela. E ter o Filho significa estar em comunhão com Ele, estar predisposto a viver sua proposta. Isto é já ter a herança. No entanto, o evangelho
aponta para um modo de desejar a herança prescindindo do Filho e do caminho a que Ele convida: chegar pela força, através de interesses escusos.
Agindo assim, recusa-se a proposta de Jesus e sua presença.
SS
56
Jesus é uma presença que mexe. Sua passagem e presença não deixam
de tocar a ninguém, seja para acolhê-lo, seja para rejeitar. Mesmo estes
últimos não podem dizer que ele passou à margem.
Ele veio basicamente para nos dizer que todos somos filhos do mesmo
Pai, por isso membros da grande família de Deus. Daí sermos irmãos
irmãos uns dos outros. Ele, o herdeiro por excelência, veio para nos
mostrar o caminho para chegarmos ao Pai. Os que se sentiram convidados seguiram-no, outros o rejeitaram a ponto de provocar-lhe a morte.
Nele que somos o que somos, filhos amados de Deus. Matar o Herdeiro
em nós é o mesmo que liquidar em nós toda possibilidade de configuração com Ele. E perder nossa identidade crista, divina. No entanto
reconhecê-lo e abraçá-lo é desejar configurar-se com Ele. Nesse sentido, nossa caminhada quaresmal convida-nos a nos fixar Nele e em sua
proposta de vida que deseja gerar em nós mais vida para que sejamos
agentes da vida em plenitude. E quem busca e encontra o Reino de Deus
e sua justiça promoverá sempre a vida!
Para mais saborear esta parábola de Jesus, lançaremos sobre ela um
tríplice olhar:
Olhar para o Pai, o doador da vinha, cujos frutos plenificam a vida
dos filhos. Tenho sido capaz de reconhecer os frutos da vinha em
minha vida?
Olhar para o Filho, que trabalha arduamente na vinha e deseja
apresentar ao Pai seus frutos. Voltando ao Pai, Jesus confiou aos
discípulos a missão de produzir frutos. Tenho trabalhado incansavelmente corn Ele na vinha?
Olhar para si mesmo, como Ele, herdeiro da vinha e chamado também a produzir frutos. O tempo quaresmal é ocasião para avaliar
o sabor dos frutos da vinha e pedir disposição para produzir ainda
mais. Que frutos posso ofertar ao Pai?
Voltando ao Pai, faça a Ele seu colóquio, agradecendo por não ter poupado seu único Filho, o Herdeiro, para que viesse dizer que também a
você é dada sua herança. Ern gratidão, termine rezando um pai-nosso.
Anote o mais importante.
Sábado da
r Semana
Repetição inaciana
Ao preparar sua oração no dia de hoje, convido a rezar com você Maria,
a Mãe de Jesus, cujo dia, segundo a tradição, é dedicado a ela. Recorra
pedindo sua intercessão a fim de que lhe alcance do Pai a graça de ser
colocado com seu Filho nesta caminhada rumo a sua Páscoa.
Peça também a graça que lhe tem acompanhado nesta semana, atento
para sentir se recebeu o que vem pedindo.
Chegamos assim ao final desta segunda semana. Oxalá tenhamos vivido
intensamente. Se assim o fizemos, com certeza o sentimento predominante neste momento é o de profunda gratidão a Deus por mais este
passo dado rumo à Páscoa de Jesus.
Um coração agraciado e agradecido é o coração de onde brota o reconhecimento de ndo ter caminhado sozinho. A gratidão precede o olhar
agradecido sobre a vida, sobre a generosidade de Deus.
Para mais e melhor aprofundarmos, lançaremos mão de um elemento
importantíssimo para aqueles que querem saborear mais sua vida espiritual: a oração de repetição. Nesta modalidade não se trata de repetir
esta ou aquela oração, mas, deparando com o que foi mais forte, voltar
proposta do dia.
Pode ser que nos afazeres desta semana tenhamos deixado a desejar
naquilo que competiu a nós, quer por descuido, quer por cansaço, displicência ou qualquer outra razão. E, fazendo a experiência com seriedade, vamos nos descobrindo pessoas orantes a ponto de perceber, de
sentir quando deixamos a desejar, sendo não raramente tíbios em nosso
relacionamento com Deus.
Para a oração deste sábado, lembramos que a oração diária já começa
em sua preparação, de manhã, para os que rezam à tarde, e/ou à noite
para quem reza pela manhã. Assim, ao preparar a °raga) deste último
dia da semana proponho que lancemos, antes de tudo, um olhar sobre
a semana detendo-nos um pouco nas orientaçóes de cada dia, fixandonos mais naquilo que chama a atençáo. Perceberemos que algo tem nos
tocado, quer pela profundidade com que foi vivido aquele dia ou até
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mesmo por termos sido negligentes. Creio que aí está o ponto de partida
para a oração. Veja suas anotações do dia escolhido e a partir daí eleja
dois ou três pontos sobre os quais se debruçará na oração. Pode ainda
pegar um ou outro versículo do texto e fixar-se neles.
Tendo presente a experiência, detenha-se naquele ponto, dia, texto, onde sentir maior devoção, consolação, e/ou tiver maior dificul-
dade.
Trata-se de perceber como viveu este momento, perguntando-se
sobre as consequências "deste dia" no conjunto da semana.
Acerca da graça: recebeu a graça que tanto pediu ao Senhor nesta
semana?
Conseguiu perceber algum avanço na caminhada com Jesus rumo
'a sua Páscoa?
Em relaçáo ã metodologia, você pode dizer que está mais afinado
ao modo inaciano de saborear seu encontro com Deus?
oração fazendo um tríplice colóquio: com o Pai, por sua
benevolência para consigo nesta semana (reze um pai-nosso); com o
Filho, por acolher você nesta caminhada com Ele, predispondo-o para
mais buscar a Deus e sua justiça (reze alma de Cristo); e com Maria, fiel
companheira de Jesus em sua missão, agradecendo por sua maternal
intercessão no caminho rumo à sua Páscoa (reze uma ave-maria).
E, sem perder de vista os frutos desta semana, anote o mais importante.
No exame final da oração, não deixe de se perguntar sobre seu progresso nesta segunda semana. Avalie se algo precisa ser corrigido para
vivenciar a terceira semana com mais disposição.
Encere sua
Terceira Semana
da
Quaresma
Introdu ão
"... descuidais a justiça e o amor de Deus"
(Lc 11,42)
Estamos em pleno Jubileu Extraordinário da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco para "fixarmos o olhar na misericórdia e nos
tornarmos sinal eficaz do agir do Par. Diz o Papa: "Deus, com a misericórdia e o perdáo, passa além da justiça. Isto náo significa desvalorizá-la ou torná-la supérflua. Antes, pelo contrário! 1...] Ele a engloba
e a supera em um evento superior no qual se experimenta o amor, que
está na base de uma verdadeira justiça" (Misericordiae Vultus). Nesta
semana vamos rezar a justiça de Deus e seu amor misericordioso.
Tomaremos o lema da CF 2016 como petição: "Quero ver o direito brotar
como fonte e a justiça correr qual riacho que não seca" (Am 5,24). Podemos nos perguntar se somos essa fonte de onde brota o direito e se nossa
vida é esse rio por onde corre a justiça de Deus. Os termos "fertilidade"
e "esterilidade" nos acompanharão nesta semana, assim como a palavra
"misericórdia". Somos chamados a fazer brotar a justiça e o direito em
nosso mundo, e o amor misericordioso de Deus será nossa força. O pecado é o que nos torna estéreis e não nos deixa produzir os frutos do Reino
de Deus. Estamos no tempo favorável para deixar Deus cuidar de nós,
nos fortalecer e nos irrigar com sua graça para que possamos nos tornar
verdadeiras fontes da ação misericordiosa de Deus em nosso mundo.
Graça da semana: conhecimento íntimo e afetivo do Deus misericordioso que confia em nós. Que possamos ordenar nossa vida e nossa prática
para evitar todo pecado e nos deixar conduzir por Deus, que espera de
nós frutos de justiça e santidade.
3° Domin • o da Quaresma
"Há três anos venho buscar frutos nesta figueira e não encontro"
(Lc 13,1-9; Ex 3,1-8.13-15; SI 102[103]; 1Cor 10,1-6.10-12)
Para receber a graça que nos renova, devemos reconhecer que somos
pecadores. Mas, ao mesmo tempo, devemos ter diante dos olhos a graça
e o perdão de nosso Pai. Como diz o salmista: "0 Senhor é indulgente e
favorável, é paciente, é bondoso e compassivo" (Si 102).
O Evangelho traz a parábola da figueira estéril. O fiel agricultor implora
que seja dada uma chance à árvore; em contrapartida ele cavará, colocard adubo e cuidará dela com esmero. Agindo assim, espera conseguir
frutos. O agricultor fará tudo para não derrubar a árvore e se contentará
com os figos esperados.
Popularmente, as árvores frutíferas têm o nome de "pé". Espera-se que o
"pé de figo" dê frutos, porque terá os pés junto ã terra cavada e adubada.
A salvação da árvore dependerá dos frutos que produzir, e essa fertilidade dependerá de como seu pé estiver unido ã terra onde foi plantada.
Se não estiver unida ã terra, de onde vêm os cuidados do agricultor,
continuará estéril.
O agricultor não desiste da planta, continua cavando e adubando, com
grande paciência e esperança. Sofre com a esterilidade da figueira e faz
o que pode para ajudá-la.
A relação entre o pé e a terra também está presente na 1a leitura.
Deus diz a Moisés: "Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde
estás é uma terra santa" (Ex 3,5). Moisés vê uma sarça em chamas,
ou seja, uma árvore que está morrendo. Mas ela não morre; antes,
dela vem a voz de Deus. Era necessário que Moisés sentisse seus pés
sobre a terra, que sentisse sua pequenez diante de uma realidade que
ultrapassava sua capacidade de compreensão. Moisés tira as sandálias para que seus pés se plantem em Deus. Só assim terá os pés no
chão e, ao mesmo tempo, em Deus e poderá compreender o que Ele
lhe diz.
Na 2a leitura, S. Paulo apresenta o deserto enfrentado pelos hebreus.
Ele só foi sinal de esterilidade e morte para os que desagradaram a
Deus, ou seja, para os que desejaram coisas más. Para os outros, o deserto foi um tempo de ser cuidado por Deus.
Os pés descalços, o desert() e o pé de figo são sinônimos do fiel que deve
estar plantado em Deus e deixar-se cuidar pelo Senhor. Com os pés em
sintonia com o solo, ele produzirá os frutos esperados. Ouem tem os pés
plantados no Senhor está em sintonia com Ele e entende as coisas de
Deus. E Deus faz de tudo para que estejamos plantados nele.
61
EME3
Vamos rezar essas leituras a partir da graça da semana e considerar nossa fertilidade ou esterilidade. E ao mesmo tempo sentir que Deus não
desiste de nós e nos cuida com muito carinho, ternura e esperança.
Sei unda feira da 3a Semana
-
"Levantaram-se e o expulsaram da cidade"
(Lc 4,14-30, 2Rs 5,1-15, SI 42-43)
O texto de Jesus em Nazaré é mais longo do que o que está na liturgia de
hoje. Proponho a cena completa.
Imaginemos Jesus voltando para sua terra e a maneira como foi recebido: alegria de alguns, espanto de outros etc. Era seu povo, as pessoas com quem tinha se criado, as pessoas que mais amava. E ele podia
anunciar a boa notícia para eles. Imaginemos a alegria com que Jesus
diz a palavra: "Hoje se cumpre essa passagem da Escritura..."
Mas nem todos acreditam nele, pois com a pergunta: "Não é este o filho
de José?" alguns questionam se um filho daquele lugar poderia ser o
Messias. E, além disso, alguns cobram que ele faça em sua terra o que
ouviam dizer que fizera em outros lugares.
Os nazarenos não entendem que Jesus é um dom, sinal do cuidado de
Deus para com eles. E deixam o dom passar, ou pior, quase o lançam
em um precipício, com o risco de perdê-lo para sempre.
A misericórdia de Deus não exclui ninguém, mas muitas vezes não se
aceita o cuidado de Deus porque ele não passa no crivo dos preconceitos.
Na leitura de 2 Reis, Naamã considera o conselho de Elizeu muito simplório e não o aceita. Quase deixa as águas santas passarem sem mergulhar
nelas. Ainda bem que não tem a mesma dificuldade com as ponderações
dos servos e não deixa seu orgulho triunfar. Graças aos servos, Naamã foi
agraciado por Deus, reconhecido como um homem de fé, e pode se tornar
o exemplo que Jesus usa para falar da fidelidade dos estrangeiros.
Muitas vezes a raiz de nossa esterilidade é a recusa em aceitar as mediações que Deus usa para nos falar. Deixamos que nossa falta de humilda-
de, nosso desejo de privilégios pessoais ou nossos preconceitos calem a
ação de Deus em nós.
Foi inspirado nesse trecho do Evangelho que o Papa instituiu o Ano da
Misericórdia:
"Este Ano Santo traz consigo a riqueza da missão de Jesus que ressoa
nas palavras do Profeta: levar uma palavra e um gesto de consolação
aos pobres, anunciar a libertação a quantos são prisioneiros das novas
escravidões da sociedade contemporânea, devolver a vista a quem já
não consegue ver porque vive curvado sobre si mesmo, e restituir dignidade aqueles que dela se viram privados. A pregação de Jesus torna-se
novamente visível nas respostas de fé que o testemunho dos cristãos é
chamado a dar" (Misericordiae Vultus).
Podemos entender a proposta do Papa como "mais um documento", ou
podemos entendê-la como a oportunidade de seguir o Jesus que passa.
Quais são as dificuldades para acolher a mensagem de Deus em nossas
vidas e o que nos faz perder seus dons quando passam? Peçamos para
estar atentos aos sinais de Deus, que quer fazer chegar até nós sua mensagem, e que nossos pecados não impeçam essa comunicação.
Ter a-feira da 3a Semana
"Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro?"
(Mt 18,21-35, Dn 3,34-43, SI 25)
A oração de hoje trata da relação entre misericórdia e justiça. Sabemos que a justiça do cristão "deve ultrapassar a dos escribas e fariseus" (Mt 5,20), mas isso não é fácil. Por esse motivo, Jesus coloca entre as petições do pai-nosso o "perdoai as nossas ofensas, assim como
nós perdoamos a quem nos tem ofendido". A parabola de hoje é uma
exegese dessa petição.
Precisamos ter em conta que a justiça de Deus se relaciona com a reconciliaçáo e o perdão e não com a vingança pela retribuição do mal:
"Ouvistes o que foi dito, 'olho por olho e dente por dente'; eu, porém,
END
vos digo [. ..] amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem"
(Mt 5,38.44).
Jesus mostra o dom da misericórdia que busca os pecadores para lhes
oferecer o perdão e a salvação. Pedro tenta colocar um limite na misericórdia ("até quantas vezes?"), mas Jesus ensina que nunca devemos desistir do próximo. Se ele errou, que a punição não seja um castigo, mas
o início da conversão. Isso só será possível se o pecador experimentar a
ternura e o perdão.
Os dois credores da parábola agem de maneira diferente quanto a seus
devedores. O rei olha a situaçáo do devedor e se compadece; seu olhar
é de amor. Coloca o bem da pessoa acima do seu direito de receber. Já
o devedor, quando se torna credor, olha apenas para seus direitos e não
considera a realidade do irmão. Ele age com o sentimento de vingança,
não de justiça.
Esse desejo de vingança é um dos grandes meios de esterilidade em
nossos projetos de uma vida melhor. Quando aspiramos por justiça,
colocamos o desejo de retribuição do mal em primeiro lugar. Pensamos que a punição deve ser proporcional ao crime. Mas essa proporcionalidade é em termos de castigo, não de reconciliação ou de
reparação. Olhamos com olhar de revanche e não de misericórdia.
Para conseguir um olhar de misericórdia, devemos ler os versículos
anteriores ã. pergunta de Pedro. Jesus ensinava que, "se dois dentre
vós se puserem de acordo para pedir seja o que for, isso lhes será
concedido por meu Pai que está nos céus" (Mt 18,19). 0 desejo do
Pai é que seus filhos amados se ponham de acordo e peçam a capacidade de conceder o perdão um ao outro. Só superaremos nossos
ressentimentos interiores, causa do desejo de vingança, quando experimentarmos o grande amor de Deus. Só então estaremos próximos
da justiça do Pai.
Medite a parábola a partir do amor do rei para com o empregado e
a falta de compromisso desse empregado com o amor do rei. Reze o
pai-nosso e pare na frase: "perdoai as nossas ofensas assim como nós
perdoamos a quem nos tem ofendido". Essa frase também poderia ser
rezada assim: "amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei".
Quarta-feira da 3- Semana
"É sábia e inteligente essa grande nação"
(Mt 5,17-19; Dt 4,5-9; SI 147)
Já vimos que Deus cuida de nós como um agricultor que não desanima
de sua figueira. Ele cuida para que ela seja produtiva, e seus frutos são
a justiça e a misericórdia.
Hoje as leituras trazem uma dimensão importante desse cuidado de
Deus: sua lei. Moises a apresenta como um grande dom para o povo,
algo que vai torná-lo uma nação sábia e inteligente (Dt 4,6b). Jesus diz
que quem praticar e ensinar essa lei sera grande no Reino dos céus (Mt
5,19b). Portanto, os mandamentos são o cuidado de Deus para que sejamos sábios, inteligentes e grandes.
Jesus fala da fidelidade à intenção do Pai ao nos dar esse presente mas
rebate o cumprimento cego de preceitos sem sentido. Os mandamentos
não são sinal de uma submissão escravizante, mas da liberdade com
que os filhos de Deus comungam com os ensinamentos de seu Pai. Não
podemos cumpri-los sem inteligência e sabedoria, pois isso jamais nos
fará grandes.
A sabedoria vem dos ensinamentos de Jesus, ou de sermos conformes a
sua imagem e nos tornarmos justos (Rm 8,29-30). Sábio é quem busca se
aproximar de Cristo e se pergunta diante de toda decisão: o que Jesus
faria numa situação dessas?
Sabedoria é diferente de esperteza. Esperto é quem analisa uma situação,
vê as oportunidades e os perigos e arruma um jeito de se sair bem. Mas o
fruto da esperteza sempre é pessoal, ou seja, ndo vê o bem comum e procura a própria vantagem, mesmo que implique prejuízo para os outros.
O esperto não age com sabedoria, pois o que em um momento parece
vantagem pode vir a ser prejudicial para os outros e também para ele.
Entre os "sábios" da época de Jesus havia muitos espertalMes que manipulavam a lei para conseguir benefícios próprios e se colocar acima
dos outros. Jesus condena a prática deles, mas louva a lei em seu principio de orientação de Deus para a construção de uma nação sábia,
porque conhecedora dos planos do Pai e educada por Ele.
6$
Ainda hoje, o problema é que há muita gente esperta e pouca gente
sábia. Cada um tenta tirar vantagem da situação e não se importa com
o coletivo. A sabedoria mostra que, quando a vantagem é de poucos e
o prejuízo de muitos, cedo ou tarde todos perdem, mas quando existe
solidariedade com o proximo todos ganham.
Nossa sabedoria é buscar os valores do Reino de Deus em primeiro lugar, e as coisas de que necessitamos virão por acréscimo (Mt 6,33).
Peçamos ao Senhor que nos dê a sabedoria de buscar o tesouro de seus
ensinamentos. Considerar que Ele não nos deixa sozinhos, mas nos
orienta e cuida de nós por meio da Igreja com ensinamentos expressos
de variadas formas. Agradeça ao Pai que deseja que nos tornemos uma
nação grande, sábia e inteligente.
Quinta-feira da 3a Semana
"Quem não recolhe comigo, dispersa"
(Lc 11,14-23, Jr 7,23-28, SI 95)
O versículo no título acima deve ser entendido na relação esterilidade/
fertilidade de que temos tratado nesta semana. É fértil quem recolhe
com Cristo os frutos de justiça e misericórdia plantados por Ele. E quem
dispersa esses frutos atrapalha a missão e se torna adversário de Jesus.
Jesus quer realizar a profecia de Jeremias: "Serei vosso Deus, e vós sereis
meu povo". O que Jesus faz é para mostrar que o Reino de Deus está presente. A expulsão do demônio é sinal suficiente para reconhecer o messianismo de Jesus e louvar a Deus.
Mas o profeta já tinha alertado que alguns "seguiriam as más inclinações de
seus corações e andariam para trás e não para a frente". Esses "alguns" estão
agora diante do Cristo e colocam-se como seus adversários. Eles o questionam não pelo bem que faz, mas porque querem tornar sua ação ilegítima.
Tentar difamar quem pratica o bem é urna conhecida estratégia de quem
vê seu poder ameaçado. Para piorar, essas pessoas influenciavam outras,
tornando-se falsos líderes.
A resposta de Jesus é simples: se praticasse o bem pelo poder do mal, ESN
esse poder seria contraditório, pois agiria contra si mesmo. Na verdade,
o poder de Jesus é maior, pois tira do mal a tranquilidade que tem para
agir. Agora o mal está desconfortável, pois encontrou um adversário
maior que ele.
Recolher-se com o Cristo .6 trabalhar para a implantação do Reino de
Deus. É estar com o Cristo praticando o bem as pessoas, libertando-as do
mal. Mas teremos também de conviver com as pessoas que, em vez de se
recolher, dispersam, ou seja, trabalham contra Jesus e o Evangelho.
Muitos dos que colaboram com o Cristo estão fora dos círculos eclesiais, praticando a verdade e a justiça em outros grupos. Mas também
essas pessoas de boa vontade pertencem ao rebanho de Cristo, pois quem
"não está contra o projeto de Cristo só pode estar a favor" (cf. Lc 9,50).
O Evangelho nos chama ã comunhão também com essas pessoas, pois
"todo reino dividido contra si mesmo será destruído".
Somos chamados a ser colaboradores da missão de Cristo, membros
de seu povo, ovelhas de seu rebanho. Podemos concluir nossa oração de
hoje rezando o Salmo 94 e demorando-nos na última estrofe, fazendo
um paralelo com a última petição do Pai Nosso: "não nos deixeis cair
em tentação, mas livrai-nos do mal".
Sexta-feira da
r Semana
"Amarás teu Deus... Amarás teu proximo como a ti mesmo"
(Mc 12,28-34; Os 14,2-10; 51 81)
"Qual é o primeiro de todos os mandamentos?" Com essa pergunta, um
escriba queria verificar se Jesus conhecia mesmo a lei. Os dois concordam que a resposta é o amor a Deus e ao proximo. "Tu não estás longe
do Reino de Deus", conclui Jesus.
A missão de Jesus foi apresentar um Deus que ama as pessoas e quer
salvá-las. Um Deus que se confunde com sua própria pessoa: "Deus é
amor, e Jesus é a manifestação do amor de Deus entre nós" (1Jo 4,8-9).
"Amor" é a tradução de agápe, também traduzido por "caridade", mas essas
palavras não exprimem o sentido da palavra grega. Por caridade entendemos a esmola dada em uma posição de superioridade diante da pessoa necessitada. E por amor entendemos um sentimento subjetivo que independe
de nosso querer. Porém, agápe quer dizer compromisso afetivo e efetivo com
o bem do proximo. Quando se diz que "Deus é amor", "amai-vos uns aos outros", "amai os vossos inimigos" etc. quer se afirmar que existe compromisso
efetivo com o bem do próximo, seja ele quem for, porque temos um compromisso afetivo com o Reino de Deus, que é paz e justiça (Rm 14,17).
Deus nos ama e se compromete com nossa salvação, pois "o amor se mostra mais em obras que em palavras" (1Jo 3,18) e é desse amor que provém
sua misericórdia. Muitos se queixam de amigos que fogem na hora em
que mais são necessários. São amigos na futilidade, mas não estão ao lado
quando aparecem os problemas. O verdadeiro amigo 6. aquele de todas as
horas, principalmente das piores. E Deus é esse amigo. O amigo superficial
do Senhor é aquele a quem Jesus disse que não adiantava ficar clamando
"Senhor, Senhor" e não fazer a vontade do Pai (cf. Mt 7,21).
Um amigo adianta-se aos problemas do outro porque o conhece, sabe
de seus sonhos e de seus planos. Quem é amigo de Jesus deve saber
quando ele se alegra e quando se entristece. E o que o alegra é realizar
seu projeto de anunciar o Reino de Deus como bem-aventurança para
os pobres e sofredores. A comunhão com a causa do próximo, principalmente o mais necessitado, é a forma de se mostrar um verdadeiro amigo
de Cristo, pois é reconhecê-lo onde ele está: "0 que fizestes a um desses
pequeninos, foi a mim que o fizestes" (Mt 25,40).
Quando entendermos que Deus é ágape e que o caminho por onde andam os
justos passa pelo amor ao proximo, não estaremos longe do Reino de Deus.
Sábado da 3. Semana
Repetição inaciana
Dentro do Ano da Misericórdia, o Papa propõe o chamado 24 horas corn
o Senhor. 8. um evento para que as pessoas possam se reconciliar com
Deus. O Papa pede que se abra uma porta da misericórdia em todas as
igrejas. Nesta repetição da semana, veja as portas de misericórdia que o
Senhor abriu. O "texto sagrado" de hoje são as próprias anotações e a
repercussão das orações.
Observe como a graça da semana foi sendo conquistada dia a dia. Releia
as anotações e pare onde chamar mais atenção. Não tenha pressa, pois
é importante recordar o sentimento e experimentá-lo novamente. Se em
uma única recordação houver matéria para a oração, continue nela.
Recorde qual sentimento foi predominante durante a semana e quais
moções foram mais fortes ou se repetiram com mais frequência. Coloque esses sentimentos e essas moções diante do Senhor, pedindo um
entendimento delas. Depois anote o fruto dessa oração para poder recordar mais tarde. Agradeça pela graça conquistada e peça o dom da
perseverança para progredir nela.
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Quarta Semana
da Quaresma
Introdu ão
"Sião será resgatada com o direito,
e os repatriados com a justiça"
(Is 1,27)
Vamos avançando rumo ã Páscoa! Entramos na 4a Semana da Quaresma. Que tempo tão rico, o deserto é fértil! Quarenta anos ou dias
simboliza um tempo privilegiado, que Israel experimentou com Moises
no deserto. Jesus, após o batismo, foi conduzido pelo Espirito ao deserto, onde foi tentado durante quarenta dias. Que tipo de Messias o Pai
esperava dele?
O "deserto" é um lugar privilegiado para viver a intimidade com Deus,
para discernir qual é a vontade do Pai. Tempo de conversão (metanoia),
de mudanças de vida. O clima de Quaresma é ao mesmo tempo pessoal
e comunitário. Oraçáo, jejum, esmola e caridade são expressóes do desejo de se aproximar mais de Jesus. Os discípulos de Jesus temos "sede
de Deus", "fome de justiça". Buscamos sempre seu Rosto.
Karl Rahner coloca na boca de S. Inácio de Loyola esta experiência pessoal: "Esta convicção, tão simples e ao mesmo tempo tão prodigiosa,
parece-me que constitui (juntamente com outras coisas que mais adiante referirei) o núcleo do que vós outros chamais minha espiritualidade:
"Deus pode e quer se comunicar diretamente com sua criatura" (Palavras
de Inácio de Loyola a uni jesuíta de hoje, Coleção Ignatiana n. 18, p. 11).
Os textos escolhidos pela Igreja para a liturgia quaresmal estão condicionados pelo catecumenato de preparação dos neófitos para o batismo
que acontecerá na vigília pascal. Os textos da Palavra de Deus não são
apenas uma "recordação" de um passado que narra a vida de Jesus.
São muito mais! A Palavra de Deus é viva e participa do milagre do "Memorial" da Páscoa tanto dos judeus como dos cristãos. Nós estamos presentes, não geográfica, mas sacramentalmente, no evento central que é
a vida, morte e ressurreição de Jesus. "Tomai e comei, tomai e bebei...,
sou eu mesmo que me entrego como alimento para vós".
O pano de fundo desta Lla Semana pode ser o texto de Isaias 1,27: "Sião
sera resgatada com o direito, e os repatriados com a justiça". Lembro
o que me contou um motorista de caminhão. Em suas viagens sempre
carregava a Bíblia e lia antes de deitar. Ele deu uma saída e, quando
voltou ao quarto, seu companheiro motorista estava olhando o livro e,
encabulado, falou: "Rapaz, não sei como vocês podem ler este livro, é
complicado demais!". Meu amigo respondeu para ele: "Não é tão complicado assim. A Bíblia fala de nós!".
O texto de Isaias refere-se à escravidáo e idolatria de Israel. A misericórdia de Deus fará que Sião seja "resgatada" pela justiça do Reino, dom
de Deus. Os repatriados serão igualmente "resgatados". São palavras de
esperança. Se a Bíblia fala de nós, este texto de Isaias nos fala de tanta
escravidão e idolatrias que aprisionam a humanidade, e os repatriados
abrem nossos olhos para milhões de migrantes e refugiados que arriscam suas vidas em busca de uma vida mais digna de ser vivida.
Aproveitemos o momento de graça que vive a Igreja, que com o Papa
Francisco está passando de uma fase de desânimo para um despertar da
alegria da fé missionária. Tomara que tenhamos tempo para ler e meditar os belos documentos do Papa Francisco: A alegria do Evangelho;
Laudato Si' (Louvado sejas. Sobre o cuidado da casa comum); Alegraivos!; Perscrutai.
Graça sugerida para esta Semana:
Senhor, que nesta Quaresma nós, os cristãos, nos aproximemos
mais de Jesus, que é a fonte da verdadeira alegria missionária.
4° Domin o da Quaresma
"0 Pai o avistou e teve compaixão"
(Lc 15,1-3 11-32)
Assim como os textos para as cinco semanas da Quaresma permanecem os
mesmos nos ciclos A, B, C, os textos dos domingos variam para cada ciclo.
Em todos os ciclos o primeiro domingo apresenta as tentações de Jesus, e o
segundo domingo a transfiguração. A partir do terceiro domingo os temas
variam ern cada ciclo. Entrando agora no quarto domingo do ciclo C, que
73
MIES
segue o evangelho de Lucas, o foco está em Deus, Pai misericordioso (Lc
15,11-31). 0 filho mais novo partiu para longe. É muito esperado pelo pai
e, um belo dia, volta ã casa do pai e é recebido com festa e alegria.
Que feliz coincidência! Desde o dia 8 de dezembro passado, estamos vivendo o Ano Jubilar extraordinário - proclamado pelo Papa Francisco e
voltado para o Amor misericordioso de Deus -, que se encerrará no dia
20 de janeiro de 2016, festa de Cristo Rei.
Diz o Papa: "Talvez, demasiado tempo, nos tenhamos esquecido de
apontar e viver o caminho da misericórdia". Por um lado, a tentação
de pretender sempre e só a justiça fez esquecer que esse é apenas o
primeiro passo, necessário e indispensável; a Igreja precisa ir mais
além para alcançar uma meta mais alta e significativa. Por outro lado,
é triste ver como a experiência do perdão em nossa cultura vai rareando cada vez mais. Em certos momentos, até a própria palavra parece
desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão, resta apenas uma
vida infecunda e estéril, como se se vivesse em um deserto desolador.
Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso
do perdão. E o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmfios. O perdão é uma força que
ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro
com esperança.
Prossegue o Papa: com o olhar fixo em Jesus e no seu rosto misericordioso, podemos individuar o amor da Santíssima Trindade. A missão,
que Jesus recebeu do Pai, foi revelar o mistério do amor divino em sua
plenitude. "Deus é amor" (1Jo 4,8.16), afirma-o, pela primeira e única
vez em toda a Escritura, o evangelista Joao. Agora esse amor tornou-se
visível e palpável em toda a vida de Jesus.
Nas parábolas dedicadas à misericórdia,Jesus revela a natureza de Deus
como a de um Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superada a recusa com a compaixão e a misericórdia.
Conhecemos essas parábolas, três em especial: a da ovelha extraviada,
a da moeda perdida e a do pai com seus dois filhos (cf. Lc 15,1-32). Nessas parabolas, Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo
quando perdoa. Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa
fé, porque a misericórdia é apresentada como a força que tudo vence,
enche o coração de amor e consola com o perdão.
E, sobretudo, escutemos a palavra de Jesus, que colocou a misericórdia
como um ideal de vida e como critério de credibilidade para nossa fé:
"Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (Mt 5,7) é
a bem-aventurança em que devemos inspirar-nos, corn particular empenho, neste Ano Santo.
Na Sagrada Escritura, como se vê, misericórdia é a palavra-chave para
indicar o agir de Deus para conosco. Ele não se limita a afirmar seu
amor, mas torna-o visível e palpável.
A própria vocação de Mateus, em palavras do Papa Francisco, se insere
no horizonte da misericórdia. Ao passar diante do posto de cobrança
dos impostos, os olhos de Jesus fixaram-se nos de Mateus. Era um olhar
cheio de misericórdia, que perdoava os pecados daquele homem e, vencendo as resistências dos outros discípulos, escolheu o, a ele, pecador e
publicano, para se tornar um dos Doze. São Beda, o Venerável, ao comentar essa cena do Evangelho, escreveu que Jesus olhou Mateus com
amor misericordioso e escolheu-o: miserando atque eligendo. Sempre
me causou impressão essa frase, a ponto de a tomar para meu lema.
-
Um livro recomendável, que o Papa Francisco disse que lhe fez muito
bem, é A Misericórdia. Condição fundamental do Evangelho e chave da
vida cristã, do Cardeal Walter Kasper (Loyola, 2013).
Deixo o leitor mergulhando na Parabola do Pai misericordioso. Jesus
mostra o rosto do Pai e da Trindade por suas palavras, gestos e atitudes.
Leia com calma o texto e pare onde se sentir mais tocado. Não se esqueça de pedir a graça da semana. A escultura da Irmã Caritas, na Suíça,
uma feliz e simples expressão do amor da Trindade inclinada sob o peso
do amor sobre o ser humano ferido.
Se unda-feira da 4" Semana
"Pode ir, teu filho vive"
(Jo 4,43-54)
Nesta semana, a liturgia nos oferece, para oração, trechos do evangelho
de João, conhecido como o evangelho dos sete sinais. Joao não fala ern
BMW
16
"milagres" de Jesus, mas em "sinais". O sinal aponta para algo maior!
O milagre nem sempre é vislumbrado como sinal de Deus, ficando apenas no prodigioso, sem conduzir a uma maior aproximação de Deus
e abertura para os outros. São estes os sete sinais, número simbólico
que mostra um crescendo na manifestação do amor poderoso de Jesus:
1°) bodas de Cana.' (2,1-10); 2°) cura do filho de um funcionário real,
em Caná (4,46-54); 3°) cura de um paralítico na piscina de Betesda
(5,1-9); 4°) multiplicação dos pães (6,1-13); 5°) Jesus caminha sobre
o mar da Galileia (6,16-20; 6°) cura do cego de nascença (cap. 9);
7°) ressurreição de Lázaro (11,1-46).
Vamos contemplar hoje o segundo sinal. É interessante que os dois
primeiros sinais aconteceram em Caná da Galileia. Aproxime-se de
Jesus, que está voltando da Judeia; no meio da multidão, você olha
as pessoas, ouve o que falam e observa o que fazem, especialmente
Jesus, a quem você deseja conhecer mais e mais, para amá-lo e seguilo com alegria.
Um funcionário do rei Herodes, gente importante, vem pressuroso ao
encontro de Jesus. Ele tinha ouvido falar muito dele. Humilde e confiante, implora que desça ate Cafarnaum para curar seu filho que estava ã
morte. Insiste. Jesus lhe responde: "Podes ir, teu filho vive!". O homem
acreditou na palavra de Jesus e partiu. Descendo para Cafarnaum, seus
empregados lhe dizem que seu filho "vivia"!
Podemos imaginar a alegria iluminando o rosto daquele pai. Perguntou
a que horas o menino tinha melhorado e ouviu que havia sido ã uma da
tarde que a febre passara. Exatamente a hora que Jesus tinha dito: "Teu
filho vive". Ele passou a crer, juntamente com toda a sua família.
Nessa narrativa podemos apreciar a "passagem" da morte para a vida.
Essa é a missão de Jesus. Não só o menino recupera a vida; o pai,
sendo um funcionário poderoso, se torna humilde discípulo de Jesus.
Você pode parar nos pontos que mais lhe tocaram e acreditar que
Jesus deseja ardentemente que você tenha "vida" e possa irradiar a fé
neste nosso mundo. Conclua com a graça da semana e, então, tome
nota do que sentiu na oração e como esta pode enriquecer sua vida
cristã. A oração é um colóquio, com ou sem palavras, com Deus, que
quer se comunicar pessoalmente conosco. Reze um pai-nosso.
Ter a-feira da Lta Semana
77
"No mesmo instante o homem ficou curado"
(Jo 5,1 -1 6)
Hoje meditaremos o 3° sinal do evangelho de João. Para onde esse sinal
aponta? O que ele nos fala "hoje", para nossa realidade? Não esqueçamos o que o amigo caminhoneiro disse: "A Bíblia fala de nós".
Entramos na cena observando com atenção as pessoas e os detalhes
que as rodeiam, especialmente a pessoa de Jesus. Pedimos a graça de
conhecer Jesus, não so "por fora", mas principalmente "por dentro":
seus sentimentos, sofrimentos e seu relacionamento com o Pai, com as
pessoas e com a natureza criada. Estejamos abertos para o que cada um
deles tem a nos dizer.
Estamos hoje na Jerusalém em festa. Aproximamo-nos de Jesus, que se
dirige à piscina ou tanque chamado Betesda, em hebraico. Que espetáculo chocante! Doentes de todo tipo, cegos, coxos e paralíticos ficam
dias e anos a fio deitados à espera da chance de ser o primeiro a mergulhar quando o anjo do Senhor remover as águas.
Contemplo atentamente Jesus. Acompanho seu olhar atento. Ele viu
alguém que tocou seu coração misericordioso. Um homem paralítico
que aguardava sua cura havia 38 anos! Jesus então tomou a iniciativa
e perguntou ao paralítico: "Queres ficar curado?". É claro que queria!
Resposta: "Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando
a água se movimenta. Quando estou chegando, outro entra na minha
frente". Quantas pessoas hoje poderiam dizer algo parecido: não tenho
ninguém que me ajude! Pessoas isoladas, marginalizadas, doentes, desempregadas, idosas abandonadas etc.
Jesus, comovido, lhe disse com intenso afeto: "Levanta te, pega a tua
maca e anda!". Que três verbos esplendorosos! Retoma a tua vida! Passa
da prostração ‘a ação! Assume as rédeas da tua vida. Anda! No mesmo
instante o homem ficou curado, pegou sua maca e começou a andar.
Olhe a alegria de Jesus e a alegria do homem curado. Você conhece a
alegria de sentir a vida voltando?
-
O texto prossegue. Nem todo mundo conhece essa alegria tão divina.
Os legalistas de plantão dizem ao homem curado: "E. sábado. Não te
permitido carregar tua maca!" O homem responde que "aquele que me
curou disse: pega a tua maca e anda!" Ele não conhecia Jesus. Mais tarde, Jesus encontrou o homem no templo e lhe disse: "Olha, estás curado.
Ndo peques mais, para que não te aconteça coisa pior".
O homem saiu e contou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia
curado. Por isso os judeus começaram a perseguir Jesus, porque fazia tais
coisas em dia de sábado. Em outras palavras, para esses homens da lei,
quem faz o bem aos sábados merece ser perseguido e morto. Essa foi a vida
de Jesus, o retrato do Pai misericordioso. A história se repete até hoje.
Pare e deixe-se conduzir pelas moções do Espirito Santo, que se deixa sentir em seu coração. Até que ponto é discípulo de Jesus? Peça ao
Senhor ser fonte de vida para os outros e relembre a graça que pedimos esta semana. Orar é comunicar-se com Deus, com ou sem palavras.
Anote os pontos que não quer esquecer. Conclua com um pai-nosso.
Quarta-feira da LP Semana
"0 Filho também dá a vida a quem ele quer"
(Jo 5,1 7-30)
Hoje damos continuidade ao texto ontem meditado. Trata-se de um discurso denso e profundo, mais propício para ser meditado. Jesus destaca sua
íntima unido e sintonia de vida com o Pai. "Por isso, os judeus ainda mais
procuravam matá-lo, pois, além de violar o sábado, chamava a Deus de
Pai, fazendo-se igual a Deus". Jesus insiste que o Filho e o Pai estão sempre
unidos. O Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que ele mesmo faz.
O tema central da "vida" ressalta-se uma e outra vez. "Assim como o Pai
ressuscita os mortos e lhes dá a vida, o Filho também dá a vida a quem
ele quer"; "0 Pai não julga ninguém, mas deu ao Filho o poder de julgar.
Quem honra o Filho, também honra ao Pai que o enviou".
Pai e Filho, unidos, são fonte de vida. Este seria o resumo do discurso
de Jesus. E que vida? A vida do próprio Deus, vida verdadeira e eterna,
a vida do próprio Jesus derramada por todos nós. "Quem escuta minha
palavra e crê naquele que me enviou possui a vida eterna e passou da morte e não vai a julgamento, mas passou da morte para a vida."
Jesus quer deixar claro: "Procuro fazer não a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou". Pode haver maior união e sintonia?
Vamos mudar um pouco de foco, voltando a perscrutar o evangelho dos
sete sinais. Talvez nos ajude lembrar de pessoas que para nós foram
sinais de vida e dedicarmos um tempo para agradecer as marcas positivas que deixaram em nós. Ser sinal é apontar para algo ou alguém bem
maior. Conhecemos pessoas-sinal, simples e humildes, que vivem aquilo em que acreditam e são fonte de vida para os outros. Essas pessoas
nos ajudam a compreender a Pessoa-sinal por excelência que é Jesus de
Nazaré. Eis algumas características dessas pessoas:
Aproximam e deixam que outras pessoas se aproximem delas.
Tocam e se deixam tocar pelos outros, física, mental e afetivamente.
Acolhem, escutam e tentam ajudar
Independentemente de sua cultura ou crença, despertam a fé no
valor da vida, a fé nas pessoas e a fé no próprio valor e autoestima,
hoje tão baixa para tantos.
Transmitem amor e por isso têm credibilidade para quem se sente
amado gratuita e sinceramente por elas.
Mais cedo ou mais tarde, as pessoas que se sentem tocadas amorosamente vão querer saber qual é a fonte em que bebem esse modo
de ser e se comportar. 0 testemunho é hoje mais tocante que as
palavras!
Cada pessoa-sinal dará sua experiência-fonte. Tente perguntar a
pessoas que você admira sobre esse ponto e se surpreenderá com
as respostas preciosas que vai escutar. Se a pessoa-sinal é cristá,
vai experimentar a alegria de passar de uma evangelização implícita a uma evangelização explícita, declarando que a fonte de sua
vida 6. Jesus. E sua partilha será na linha de que fala Pedro: "Estai
sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que
a pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência" (1Pd 3,15-16).
79
Para muitos, o Papa Francisco está sendo uma pessoa-sinal que com
seus gestos e palavras conduz a Jesus. E Jesus, Pessoa-Sinal, nos conduz
ao Abbá, o Pai querido.
Pode ser que este ser sinal de Jesus ajude você a agradecer e aprender
do testemunho de tantas pessoas e a se perguntar para quem você já foi
pessoa-sinal do Reino de Deus. Termine com um colóquio e faça uma
revisão dos apelos que sentiu na oração; anote para não esquecer. Conclua com um Pai-nosso.
Quinta-feira da 4° Semana
"Vós não quereis vir a mim para terdes a vida"
(Jo 5,31-47)
Os adversários de Jesus exigem dele um testemunho de outras pessoas
para este ser convincente. João Batista deu testemunho da verdade "João
era a lâmpada que iluminava com sua chama ardente e vós gostastes, por
um tempo, de alegrar-vos com sua luz"; "Mas eu tenho urn testemunho
maior que o de João: as obras que o Pai me concedeu realizar. As obras que
faço dão testemunho de mim, pois mostram que o Pai me enviou. Sim, o
Pai que me enviou dá testemunho a meu favor". Jesus deixa claro que o Pai
e as obras que Jesus realiza são o mais forte testemunho de quem ele é.
Todo dia a Igreja constata a força de "credibilidade" que as obras têm em
todos os tempos. Elas convencem muito mais que as palavras.
Vejamos algumas afirmações da Igreja sobre a prioridade evangelizadora do testemunho de vida.
A CNBB afirma que a Igreja é hoje consciente de que "homens e mulheres
do nosso tempo apreciam principalmente o testemunho. Mas isso não dispensa a comunidade — como não dispensa cada cristão — de prestar o serviço de proclamação e do anúncio explícito" (DGAE 2011-2015, n. 77).
O Papa Francisco diz: "Mesmo nesta época, a gente prefere escutar testemunhas: tem sede de autenticidade [...], reclama evangelizadores que
lhes falem de um Deus que eles conheçam e lhes seja familiar como se
eles vissem o invisível" (EG, n. 150).
E novamente o Papa Francisco !as pessoas consagradas: "Hoje as pessoas
precisam certamente de palavras, mas, sobretudo, têm necessidade de
que testemunhemos a misericórdia, a ternura do Senhor, que aquece
o coração, desperta a esperança, atrai para o bem. A alegria de levar a
consolação de Deus" (Alegrai vos, n. 8).
-
Muitas vezes o Papa Francisco aponta o caminho da atração, do contágio, como caminho para fazer a Igreja crescer, caminho da nova evangelização. "A Igreja deve ser atraente. Despertai o mundo! Sede testemunhas de um modo diferente de fazer, de agir, de viver! É possível viver
de maneira diferente neste mundo Eu espero de vós esse testemunho" (Alegrai vos, n. 10).
-
Cada um de nós pode verificar coma "as pessoas-sinal" marcam mais
pelas obras do que pelas palavras. Estas só têm credibilidade quando
são precedidas pelo testemunho de uma vida.
Dez anos após o Concílio Vaticano II, o Beato Paulo VI sublinhou a
importância capital do testemunho, na inesquecível Exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, n. 41: "0 homem contemporâneo escuta com
melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, dizíamos ainda
recentemente a um grupo de leigos, ou então, se escuta os mestres,
porque eles são testemunhas".
Voltando ao nosso texto de hoje, Jesus faz uma afirmação válida também para nossos tempos: "Mas vós nunca ouvistes a sua voz (do Pai),
nem vistes sua face, e não tendes a sua palavra morando em vós, pois
não acreditais naquele que ele enviou"; "Examinais as Escrituras
e são elas que dão testemunho de mim. Vós, porém, não quereis vir a
mim para terdes vida!"; "Eu vim em name do Pai, e vós rid() me recebeis
[.. .]. Se não acreditais nos escritos de Moisés, como podereis crer nas
minhas palavras?".
Jesus deixa transparecer nestas palavras que o cultivo da familiaridade
com Deus, pela oração e pelo modo de viver unidos a Deus, é o "alimento" da nossa fé viva. Corremos o risco de que o ativismo não deixe
espaço e tempo para uma relação pessoal com o Senhor.
o que o Espirito Santo o fez sentir? Tome nota. Faça um colóquio com
Jesus como um amigo fala com outro e lembre a graça que pedimos
nesta semana que estamos terminando. Reze um pai - nosso.
81
"Eles procuravam prendê-lo"
(Jo 7,1-2.10.25-30)
Os textos do evangelho de hoje sáo extremamente ricos e atuais. "Jesus
percorria a Galileia; não queria andar pela Judeia, porque os judeus
[o judaísmo dos rabinos, sem conotação de raça] procuravam matálo. Estava próxima a festa dos judeus, chamada das Tendas." Vale
a pena ler o capítulo inteiro, pois retrata com detalhes a situação.
Jesus prefere andar pela Galileia, onde era bem aceito.
Os irmãos de Jesus querem que ele vápara aJudeia, para se dar a conhecer e mostrar suas obras. Nem eles acreditavam em Jesus. Depois que
seus parentes subiram para Jerusalem, Jesus subiu também, não publicamente, mas em segredo. 0 povo se perguntava se viria à festa e o pro
curavam. Estavam divididos. Para uns, ele era bom; para outros,
enganava a multidão. Ninguém falava dele publicamente, por medo
dos judeus.
Lá pelo meio da festa, Jesus subiu ao templo e começou a ensinar. O
povo estava admirado. Nesse ambiente de divisão, Jesus perguntou:
"Por que procurais matar-me?". A multidão achava que Ele estava possuído por um demônio. A tensdo ia crescendo. "Não é este a quem procuravam matar? Ele fala publicamente e ninguém lhe diz nada. Sera
que os chefes reconheceram que realmente ele é o Cristo?"
Jesus então lhes disse que eles desconheciam aquele que o enviara. Nesse momento procuraram prendê-lo, mas ninguém lhe pôs as mãos porque ainda não tinha chegado sua hora.
O que tocou você nesse clima de tensão, divisões e ameaças de prisão e
de morte? A coragem de Jesus? Sua coerência? A força do amor que o
levou a dar sua própria vida por nós?
Faça seu colóquio com Jesus e anote seus sentimentos e apelos. Peça
a graça da semana e tome nota do que não quer esquecer. Reze o
pai-nosso.
Sábado da 4' Semana
Repetição inaciana
Nos Exercícios Espirituais, S. Inicio dá muita importância ao tipo de
oração que chama dc "repetição". Trata-se de percorrer os pontos que
durante a semana mais o consolaram ou onde encontrou resistências.
Não pretenda descer a detalhes. Às vezes, um ou dois pontos bastam
para se deixar conduzir e iluminar pelo Espirito Santo que o acompanha. Agradeça a Deus c conclua com a oração que preferir.
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Quinta Semana
da
Quaresma
Introdu ão
"Praticai a justiça e o direito,
livrai o oprimido do opressor"
(Jr 1,3)
Nesta 5' Semana da Quaresma, vamos estar com Jesus em Jerusalém,
nos últimos instantes de sua vida pública. Esta semana toda está centrada no capítulo 8 de S. João, em que os conflitos com as autoridades
religiosas chegarão ao ponto máximo: a decisão de matá-lo.
Sabemos que para realizar sua missão Jesus não se dirigiu à capital,
Jerusalem, nem à importante província da Judeia. Para comunicar uma
"boa notícia" á. sociedade de seu tempo, não buscou conquistar para si
os notáveis e as classes abastadas, nem procurou os postos de privilégios, nem tampouco o favor dos mais influentes ou daqueles que detinham o poder e o dinheiro nos grandes centros urbanos.
Galileia foi a primeira decisão importante que Jesus tomou no início de
sua vida pública.
Ele viu claramente que os melhores lugares onde poderia e deveria comunicar sua mensagem eram precisamente os povoados, as pequenas vilas,
os campos e junto ao mar, locais habitados por humildes camponeses e
pescadores, pessoas pobres e marginalizadas, doentes e excluídos.
Todos sabemos que as "mudanças profundas e duradouras" na sociedade não vêm de cima, mas de baixo, a partir da solidariedade e da
identificação de vida com os últimos deste mundo. Ali, nas periferias e
nas margens, há uma esperança latente e alentadora daqueles que se
empenham por imprimir um movimento novo à história; é nele que está
a semente de uma vida diferente, criativa e mais promissora.
Jesus foi o ponto de partida de uma ousada mudança na história da
humanidade.
Além de ser presença de vida nos povoados, vilas e campos, Ele quis
levar vida a uma cidade que carregava forças de morte em seu interior.
Quis pôr o coração de Deus no coração da grande cidade; desejava recriar, no coração da capital, o ícone da nova Jerusalém, a cidade cheia
de humanidade e comunhdo, o lugar da justiça e fraternidade.
a ser pedida nesta 5 a semana: pedir a graça da fidelidade aoprojeto
de Jesus, ou seja, ser presença de vida nos espaços urbanos, inspirando e
motivando as pessoas a construir uma cidade mais humanizada, espaço
de comunhão e acolhida.
Graça
5° Domin o da Quaresma
"Quem de vós não tiver pecado, atire a primeira pedra"
(Is 43,16-21; SI 126[125]; [1 3,8-14; Jo 8,1-11)
O que faz o ser humano ficar tão petrificado por dentro, tão duro, tão
insensível?
Como passar do coração de pedra para a morada da fonte de água
viva?
Como libertar nosso coração dos medos que nos levam a excluir e rejeitar os outros e nos fecharmos em uma fria rigidez?
Para responder a essas inquietantes perguntas, vamos contemplar a
cena do encontro de Jesus com a mulher pecadora.
Comece sua oração criando um clima de silêncio e escuta: atenção
respiração, ao ritmo cardíaco, escuta dos sons e ruídos..., pacificando todo o seu corpo, sua mente, sua afetividade...
Faça a "composição vendo o lugar": imagine o pátio do Templo de
Jerusalém, onde Jesus está sentado ensinando as pessoas.
Sinta-se diante do Criador, presente em tudo e em todos. Suplique
a graça indicada para esta semana.
Leia atentamente os "pontos" a seguir, que serão o prelúdio para a
contemplação.
Uma interioridade petrificada pelo legalismo e pelo moralismo se
expressa numa atitude de intolerância, intransigência e insensibilidade diante dos outros, levando a pessoa a assumir o lugar de Deus
e fazendo-se juiz para julgá-los.
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Quem tem o coração petrificado não tem bênçãos a oferecer, mas
pedras a serem atiradas.
Tal atitude é encontrada claramente na cena evangélica da mulher
surpreendida em adultério.
Ali temos as "pedras nas mãos" dos escribas e fariseus, prontas a
serem lançadas sobre uma mulher condenada e sem chance de
nova possibilidade de vida.
De maneira surpreendente, Jesus apela à consciência daqueles
"homens religiosos" que, em sua arrogância, querem salvar a lei e
condenar uma pessoa.
Com um humor muito sutil, dá a "volta por cima" diante da situação embaraçosa e a transforma em uma possibilidade de vida para
a mulher; Ele coloca no centro a pessoa e rid° a lei.
Jesus não condena aqueles homens que acreditavam ser "justos",
mas os faz compreender que uma lei deve sustentar a vida e não
matá-la. Cada um é convidado a dar um passo em direção à vida.
Jesus não aprova o comportamento da mulher, tampouco a condena como pessoa, mas lhe dá uma nova oportunidade de vida e lhe
abre um novo futuro. Onde os homens viam uma adúltera, Jesus
via uma mulher. Seu olhar não se detinha na mascara, mas contemplava o rosto e abriu um novo futuro de vida para ela.
As pedras na mão são fáceis de encontrar também em nossas vidas.
O convite de Jesus a reconhecer nosso pecado é a única via para
que essas pedras não caiam sobre nenhum inocente e, ao mesmo
tempo, possamos encontrar a possibilidade da transformação e da
mudança.
A arrogância também é nossa e manifesta-se em nosso pensar e agir
cotidianos. Ela é a base de nossos preconceitos, dogmatismos, críticas
amargas, comentários maldosos... A arrogância mora em nosso desprezo e em nossas ironias. Ela nos paralisa e nos petrifica: mente petrificada, emoção petrificada, atitudes petrificadas, religião petrificada...
Olhar os outros com os olhos cristificados: sentir sua presença, sem préconceitos e pré-juízos..., vendo neles o sinal da ternura de Deus. Passar
da contemplação à acolhida: este é o movimento da oraçáo dos olhos.
Trata-se de um olhar admirado e gratuito, que transforma, que liberta e se
comove diante da realidade, especialmente da frágil realidade humana.
Agora, leia atentamente a cena do "encontro de Jesus com a mulher pecadora" (Jo 8,1-11).
Com a imaginação, faça-se presente à cena, olhando, escutando
e observando todas as pessoas: a mulher, os escribas e fariseus e
Jesus. Todos os personagens são como que um espelho: veja os
traços de cada um deles presentes em sua vida.
Faça um colóquio, relatando a Jesus suas reaçóes diante da cena
contemplada.
Termine a oração registrando os "movimentos internos" de consolação ou desolação.
Leia o salmo indicado para este dia.
Se • unda-feira da 5' Semana
"Eu sou a luz do mundo"
(On 13,1-9.15-17.33-62; SI 23[22]; Jo 8,12-20)
O tema da luz é muito frequente na Bíblia. Partindo de um dado experimental, descobre-se sua importância para o desenvolvimento da vida,
não só porque ela é imprescindível para a vida, mas porque o ser humano não pode desenvolver-se na escuridão. Dar que a luz tenha se convertido no símbolo da vida mesma e de tudo o que a rodeia.
Por menor que seja, a luz póe as coisas em seu devido lugar, nos torna
capazes de contemplar a beleza presente em tudo. É como o primeiro
momento da Criação: "Faça-se a luz", e a partir daí o caos foi se transformando em cosmos.
Prepare-se para a oração, seguindo os preâmbulos indicados: posição corporal, silêncio interior, compostura diante do Criador,
súplica da graça (indicada na Introdução).
Como ajuda e motivação para entrar em intimidade com o Senhor,
leia calmamente os "pontos" seguintes:
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A Luz é força fecundante, princípio ativo, condição indispensável
para que haja vida. Tem capacidade de purificar e regenerar. Em
oposição As trevas, ela exalta o que é belo e bom.
Vivemos imersos em um oceano de Luz; carregamos dentro a força
da Luz. Ela sempre está aí, disponível; basta abrir-nos a ela com a
disposição de acolhê-la e de fazer as transformações que ela inspira.
Por ser benfazeja e criadora, a Luz nos permite dizer com o poeta
Thiago de Mello, no meio de impasses, ameaças e conflitos que
pesam sobre nossa vida: "Faz escuro, mas eu canto".
Na Bíblia, Deus é Luz; o fogo 6. sinal da presença e açáo de Deus no
mundo; é expressão da santidade e transcendência divinas. "Deus
é luz, e nele não há treva alguma" (1Jo 1,5). Jesus é a Luz do mundo; sua mensagem é como o fogo que Ele quer espalhar sobre a
terra. Quem crê se torna Luz, reflexo da Luz de Cristo.
A vida inspirada pela fé é um caminhar na Luz.
Somos portadores da luz nova; não devemos extinguir essa luz que
ilumina dentro. Abafá-la é menosprezar a vida da Graça, o tesouro
que nos foi confiado no batismo.
Devemos guardá-la ciosamente, velar por ela, valorizá-la por nossa
colaboração, estimá-la e protegê-la, como a chama olímpica que
nos levará à vitória.
O ser humano é luz quando expande seu verdadeiro ser, ou seja,
quando transcende e vai além, desbloqueando as ricas possibilidades de humanidade. A luz, por si mesma, é expansiva: "Vós sois a
luz do mundo".
Somos luz na medida em que, esvaziando-nos de nosso eu,
permitimos simplesmente que a luz "passe" através de nós sem
encontrar obstáculo.
A pessoa que vive descentrada de si mesma torna-se um canal por
onde passa a mesma luz divina. Não a impede, não a retém nem
se apropria dela, mas permite que a Luz divina ilumine tudo. Ser
luz significa explorar nossas possibilidades humanas e espirituais
e pôr toda essa riqueza a serviço dos demais. Devemos ter cuidado
ao iluminar, sem deslumbrar.
Ninguém "a" luz, senão que tem um pouco de luz. E todos compartilhamos a luz que vem de Deus. Nossa pequena luz reforça e
ativa a luz presente no outro.
Deixemo-nos iluminar, levemos a luz em nossas pobres e frágeis
mãos, iluminando os recantos do nosso cotidiano.
Somos luz do mundo, uma chama que nunca se apaga; somos sarça ardente para os outros, consumindo-nos constantemente, sem
nunca nos consumir; somos uma lamparina humilde, brilhando na
janela da nossa pobre casa, indicando aos outros o caminho da
segurança e do aconchego.
Leia, devagar e com calma, as palavras de Jesus dirigidas aos re-
sistentes fariseus.
Como sugestão, siga o "segundo modo de orar" proposto por Santo
Inácio: "contemplar o significado de cada Palavra de Jesus, permanecendo na consideração de cada uma delas tanto tempo enquanto
nela encontrar significações, comparações, gostos e consolações..."
Saborear internamente cada palavra que sai da boca de Jesus: palavras de vida, carregadas de inspiração e força.
Finalize a oração dando graças por este tempo de escuta da Palavra de Jesus.
Leia, de maneira orante, o Salmo indicado para este dia.
Registre no "caderno de vida" as inspirações, apelos, luzes... que
brotaram do seu coraçáo durante o tempo de oração.
Ter a-feira da 5" Semana
"Quando tiverdes elevado o Filho do Homem,
então sabereis que Eu sou"
(Nm 21,4-9, SI 102[101 ] , Jo 8,21-30)
Com estas duas palavras, "descer" e "elevar-se", o Evangelho de João
descreve o mistério da Redenção realizada por Cristo. Se com Jesus
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quisermos subir ao Pai, teremos primeiro de descer com Ele ã terra,
afundar os pés em nossa própria condição humana.
Todo aquele que pensa que para aproximar-se de Deus tem de se afastar
do humano deforma a própria imagem de Deus, que em Jesus "desce",
faz-se presente para humanizar e elevar a todos. O caminho para aproximar-se de Deus é o caminho que Deus fez para aproximar-se do ser humano: humanizar-se. Não há outro caminho. Esse caminho nos dá medo,
porque nossos instintos de "endeusamento" são mais fortes que a simplicidade própria do humano. E a humanidade de Jesus nos assusta porque
des-vela tudo o que há de mais desumano em nós e em nossas relações.
Inicie sua oração mobilizando e pacificando todos os seus sentidos, sua mente, seu coração... Crie uma quietude interior, de modo
que "nada o perturbe" em sua oração.
Sinta-se na presença do Senhor e faça a oração preparatória de
costume.
Peça a graça indicada para esta semana.
Prepare seu coração com os "pontos para a oração" indicados a seguir:
Jesus Cristo, ao ser "elevado", acolheu tudo quanto é humano e
dessa maneira tudo redimiu.
Em sua humanidade, Ele assumiu nossas carências mais profundas, nossas fomes e nossas sedes de sentido, de plenitude; ao mesmo tempo, ativou e despertou outras grandes "fomes": comunhão,
compaixão, solidariedade...
Descer e subir, portanto, são imagens para descrever o processo
de transformação realizado por Jesus no interior de cada um de
nós. Não podemos "subir" se não estamos dispostos a "descer" com
Ele ao nosso "húmus", 'as nossas sombras, à condição terrena, ao
inconsciente, ã nossa fraqueza humana.
Nós "subimos" a Deus quando "descemos" ã nossa humanidade.
Esse é o caminho da liberdade, o caminho do amor e da humildade, da mansidão e da misericórdia.
O coração, a quem não é estranho nada do que é "humano", alargase, enche-se do amor de Deus, que transforma todo o humano. O
caminho da humildade é o caminho da transformação.
Ao fazer, junto com Jesus Cristo, o caminho da "descida", o ser humano vai ao encontro de sua realidade e coloca-se diante de Deus,
para que Ele transforme em amor tudo quanto existe nele, para
que ele seja totalmente perpassado pelo Espirito de Deus.
É preciso "descer" até o fundo para descobrirmos uma nova fonte
para nossa vida; será "descendo" que poderemos revitalizar a vida
que se tornou vazia e ressequida.
Nós somos o solo, o húmus que Deus, com mãos criativas, vai modelando, tomando-nos assim mais humanos. À medida que nos aceitamos e nos acolhemos como humus, mergulhamos na graça de Deus.
Quem "desce" até sua própria realidade, até os abismos do inconsciente, até a escuriddo de suas sombras, até a impotência de
seus próprios sonhos, quem mergulha em sua condição humana
e terrena e se reconcilia com ela, este sim está "subindo" para
Deus, faz a experiência do encontro com o Deus verdadeiro.
Agora leia pausadamente, saboreando as palavras de Jesus, conforme o Evangelho deste dia.
Busque, na oração, cavar mais profundamente, ate atingir as raízes de seu próprio ser, o núcleo original de sua personalidade.
no mais 'Ultimo que cada um reza ao Senhor. E no mais profundo
de sua interioridade que se escuta o Senhor. Deixe-se invadir pela
luz e pela vida d'Aquele que "armou sua tenda entre nós".
Converse com o Senhor sobre os pensamentos e sentimentos que
vão brotando na oraçáo.
Finalize a oração em uma atitude de gratidão e, depois, registre os
apelos, luzes, moções da oração.
Quarta-feira da 5' Semana
"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará"
(Dn 3,14-20; SI (Dn 3,52-57); Jo 8,31-42)
Outro tema muito próprio do evangelista João: a verdade.
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"Conhecer a verdade" é aspiração humana inata. O ser humano tem sede da
verdade. Uma das angústias humanas 6. não alcançar o manancial da verdade. Enquanto existir verdade encoberta, o ser humano viverá inquieto.
Por isso ele vai buscá-la nas encostas do mundo e nos lugares mais ocultos de seu espírito.
difícil até definir e discernir o que seja a verdade, o que é verdadeiro
ou falso.
A verdade não .6 um dogma, mas um caminho. Quanto mais verdades
absolutas, mais estreito vai ficando nosso mundo. Não podemos abrir
mão da busca por uma verdade que nos plenifique, que nos humanize.
Importa "construir" a verdade, ir ã morada da verdade, encontrá-la.
Mobilize-se inteiramente para "entrar" em oração: diante de Quem
vou estar?
Use os preâmbulos que facilitar uma experiência mais profunda:
oração preparatória, petição da graça...
Deixe ressoar em seu coração os "pontos" a seguir como motivação
para melhor acolher a Palavra de Jesus indicada para o dia de hoje.
O ser humano busca a verdade; antes de "ter" verdade, ele quer
"ser verdade". Jesus afirma: "eu sou a verdade", e não "eu tenho
a verdade" (poderia fechá-lo diante da verdade do outro, caindo
no fundamentalismo). O importante não é ter a verdade, mas ser
verdadeiro. A pessoa verdadeira pode entrar em ressonância com
a verdade do outro.
Jesus é verdadeiro, revela o que é mais nobre em seu coração, não usa
máscara, é pura transparência do rosto do Pai.
Quando Jesus diz "eu sou a verdade", está identificando essa verdade de
Deus com o caminho mesmo da vida humana. A verdade não está na ciência
abstrata, nem nas teorias mais ou menos racionais, ou nos sistemas fechados... A verdade é a vida humana, como extensão do mesmo ser de Deus.
Ao dizer "eu sou a verdade", Jesus nos capacita também para dizer "nós
somos a verdade", não contra alguém, mas a favor de todos. Nós somos
a verdade, os que caminhamos e vivemos no amor, sabendo que em
nossa vida se expressa a vida do Pai.
Nós somos a verdade, e isso inclui todos os que vão e vem, de modo
especial os mais pobres, os excluídos de todos os sistemas de "verdade" do mundo. Nesse sentido, a verdade é expansiva: nos faz
transparentes e nos mobiliza a perceber a verdade presente no outro. Ninguém possui toda a verdade: temos parte da verdade.
A verdade clareia a vida. Sem ela, a existência é sombria. A verdade
gera autenticidade. Onde ela falta, instala-se o vazio existencial.
O ser humano deveria sempre existir na verdade. É preciso destra-
vá-la, e não abafá-la. A humanidade busca a verdade, mas também
pode asfixiá-la. Costuma-se calar a verdade que incomoda.
A verdade é limpa, inocente. Ela nos afasta do mundo da escuridão.
Quando a verdade habita a consciência, o ser humano ilumina-se.
Onde há verdade, há humanidade transparente, "rosto fascinante".
"A verdade nos libertará" porque desvela o que está oculto, desmascara o que está camuflado, revela o desconhecido, desvela a dignidade de cada pessoa, reivindica liberdade e igualdade, sustenta o significado essencial do ser humano e preserva os valores consistentes.
Abra o seu coração para acolher as Palavras de Jesus aos judeus
que haviam acreditado nele (evangelho indicado para este dia).
Deixe que a "verdade" de seu ser se revele diante de Quem é "a
Verdade": quem sou eu para o Senhor? Qual é minha verdade? Ou:
o que em mim é verdadeiro? O que em mim é falso?
Converse com o Senhor como um amigo conversa com outro amigo: agradecendo, escutando, suplicando, silenciando.
Avalie sua mano, dando especial atenção aos "movimentos do coração". Registre-os em seu caderno de vida.
Quinta-feira da Sa Semana
"Se alguém guardar minha palavra, jamais provará a morte"
(Gn 17,3-9; SI 105[104], Jo 8,51-59)
As palavras têm um peso no anúncio e na atividade missionária de Jesus;
não sdo neutras. Como um raio X que transpassa, as palavras proferidas
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por Ele iluminam os recantos mais profundos do ser humano; como um
refletor em noite escura, reacendem a esperança onde tudo já perdeu
o sentido; como a chuva em terra seca, despertam novidades na vida,
sacodem as consciências adormecidas, põem em questão as atitudes de
indiferença e de fechamento.
No encontro com a realidade dos pobres e excluídos, Jesus extrai palavras provocativas, previamente cinzeladas e incorporadas em seu interior, onde elas revelam dinamismo, sentido e alteridade; sua palavra
brota de uma vida interior fecunda e conduz a uma vida comprometida.
Crie um ambiente, interno e externo, que facilite o encontro com o
Senhor.
Ndo esqueça os "preâmbulos": oração preparatória, composição
vendo o lugar, petição da graça...
Comece a oração considerando as indicações a seguir — elas poderão ajudar a aquecer o coração para maior intimidade com o
Senhor.
A palavra de Jesus desencadeia nos ouvintes uma crise: eles têm de
se decidir porque com a palavra de Jesus se dá uma divisão entre
luz e trevas, vida e morte... Jesus anunciou uma palavra que tinha
peso e que colocava em crise a situação social, religiosa, política e
humana da época.
Suas palavras jamais deixam as coisas como estão. Elas não se
limitam a transmitir uma mensagem; têm uma força operativa, desencadeiam um movimento...
Jesus, em sua vida e missão, prolonga a Palavra criativa de Deus;
começa a falar uma Palavra sedutora a partir da margem geográfica, cultural, religiosa e econômica. Palavra encarnada,Jesus sintoniza e ajusta sua palavra à palavra do Pai.
Jesus não só é a Palavra viva e profere palavras que elevam, que
curam, que abrem futuro para as pessoas... Ele também destrava
nelas a capacidade de proferir palavras humanizadoras, capazes de
restabelecer a comunicação e reforçar os laços entre as pessoas.
Poderíamos dizer que Jesus ativa em cada um a capacidade de "empalavrar", ou seja, "pôr em palavras" tudo o que está oculto e re-
primido em seu interior. A palavra abarca todas as expressividades
humanas; mas ela náo se reduz à oralidade: a gestualidade, a linguagem corporal, a expressão dos sentimentos, as atitudes éticas...
tudo isso também faz parte da palavra humana. As palavras são, ao
mesmo tempo, pensamento, sentimento, ação... são humanizadoras
por excelência.
Em nossa sociedade pós-moderna, a palavra cada vez tem menos
relevância, cada vez é menos significativa. Atrofiamos as palavras,
adocicamo-las, manipulamo-las ou as submetemos a um violento
esvaziamento de significados segundo nossa conveniência.
Vivemos hoje uma "crise gramatical", ou seja, temos cada vez
menos palavras. O leque de palavras carregadas de sentido é
muito limitado. Daí a dificuldade de encontrar palavras para
nomear a experiência de Deus, para expressar as grandes questões da vida, para dar sentido a uma busca existencial. Fala-se
muito para dizer bem pouco. Às vezes temos a sensação de que
as palavras nos saturam: nas aulas, na televisdo, nos jornais,
nas liturgias, na internet... há demasiado palavrório. Carecemos
de poesia.
E a raiz disso tudo está na carência de uma interioridade, lugar da
gestão das palavras de sabedoria que inspiram nossa vida.
As palavras perdem força e criatividade quando não nascem do
silêncio. Quem sabe articular silêncio e palavra é um verdadeiro
artifice da vida.
Faça uma "leitura contemplativa" do discurso de Jesus (Evangelho
de hoje), ou seja, saboreie internamente cada palavra proferida por
Jesus. Deixe que elas tenham uma ressonância no próprio interior.
A partir dessa ressonância, entre em diálogo com o Senhor; deixe brotar do seu coração as "palavras" carregadas de vida e de humanidade.
Termine a oração dando graças por este momento especial, permita que a oração tenha também uma ressonância em seu cotidiano.
Registre os apelos, luzes, inspirações, moções (consolação ou
desolação).
97
Sexta-feira da 5a Semana
"Os judeus apanharam pedras para apedrejá-lo"
(Jr 20,10-13; SI 18,1-7; Jo 10,31-42)
Por que somos tão rígidos, tão duros, tdo insensíveis?
O que nos faz ficar petrificados por dentro?
Segundo a tradição bíblica, o que mais nos desumaniza é viver
com um "coraçáo fechado" e endurecido, um "coração de pedra",
incapaz de amar e de crer. Quem vive "fechado em si mesmo" não
pode acolher o Espirito de Deus, não pode deixar-se guiar pelo
Espirito de Jesus. Uma fronteira invisível o separa do Espirito de
Deus, que tudo dinamiza e inspira; é impossível sentir a vida como
Jesus sentia.
"Entre" em oração, colocando os meios necessários: posição corporal, quietude interna e externa, composição, vendo o lugar da
cena bíblica, petição da graça...
Mobilize sua interioridade acolhendo os "pontos" indicados a seguir.
Jesus foi uma das vítimas do fanatismo religioso e legalista de seu
tempo. E tudo em nome de Deus; em nome da religião, da lei e da
verdade.
A Paixão de Jesus teve causas históricas concretas e foi o desenlace
final de uma vida que entrou em conflito com o sistema religiosopolitico estabelecido na sociedade daquele tempo. Jesus sempre
lutou em favor da vida e contra tudo que atentava contra ela.
Os dirigentes religiosos e os líderes do povo judeu deram-se conta
de que aquele homem, Jesus, o Nazareno, questionava, da maneira
mais radical, o sistema em que eles se sustentavam para continuar
exercendo um poder ao qual não estavam dispostos a renunciar.
Jesus tornou-se um "subversivo"; era preciso ser eliminado.
O grande drama que Jesus sofreu foi não terem sabido ver a verdade n'Ele; ndo quiseram ver o que Ele fazia em favor da vida;
não conseguiram ver a bondade e a compaixão em seu coração;
não souberam ver Deus n'Ele. Preferiram a violência.
Jesus teve duras experiências com as pedras, porque muitas vezes
quiseram apedrejá-lo, embora Ele sempre tenha conseguido livrarse delas. Ele tem consciência de que as pessoas encontram justificativas para apedrejar os outros.
Custa-nos reconhecer o que .6 bom nos outros; facilmente preferimos apedrejá-los com nossas críticas, murmurações, difamações...
Sao piores as pedras da lingua que as pedras que atiramos com
as mãos.
Quem tem o coração duro e petrificado terá naturalmente pedras
em abundância em suas mãos para atirar sobre os demais.
Em um coração petrificado o Espirito não tem liberdade de atuar;
dessa resistência à ação do Espirito brotam as doentias divisões
internas, que atrofiam nossas forças criativas e nos distanciam da
comunhão com tudo e com todos. Com isso nos blindamos, tornando-nos rígidos, petrificados em nossas posições, crenças, valores...
e não nos deixamos impactar pelo novo, pelo diferente.
Como quebrar os ferrolhos de nossas intolerâncias, fanatismos, preconceitos, e estender as mãos para acolher o surpreendente e o novo?
Como passar do coração de pedra para a morada da fonte de
água viva?
Leia atentamente o Evangelho indicado para a oração de hoje, em
que chegamos ao ponto alto do conflito de Jesus com as autoridades religiosas.
Diante de Jesus, des-vele (tire o véu) de sua vida: Onde você sente
maior rigidez? Na família, na relação com Deus, no encontro com
os outros, na busca do perfeccionismo...?
Converse com o Senhor. Repita em seu coração: "Senhor, dá-me um
coração de came em vez de um coração de pedras. Dá-me mãos que
se estendem ao que está caído. Arranca de minhas mãos as pedras
que tenho para atirar sobre os outros. Amém".
No final da oração, dê graças por este momento e registre em seu
caderno os movimentos mais fortes do coração.
ONO
100
Sábado da Sa Semana
Repetição inaciana
No encontro com as pessoas, com os conflitos, com os momentos de
alegria e com os riscos de sua missão, Jesus mostra vigor e coragem
de ir além.
Sua atitude de Mestre e sua atuação desencadeiam em seu povo uma
crise, ou seja, Ele rompe com a "normalidade doentia" das pessoas e se
revela imprevisível e desconcertante.
O ser humano tende a acomodar-se facilmente ao conhecido, deixandose levar pela rotina que evita sobressaltos, o que lhe confere uma sensação de segurança e tranquilidade: "Para que e por que mudar...?". E isso
ocorre também com suas ideias, crenças, cosmovisões...
Habituado a ver a realidade a partir de uma determinada perspectiva,
custa-lhe abrir-se a outras percepções, novas ou desconhecidas.
A crise que Jesus introduz entre os seus visa redimir o ser humano, isto
é, tirá-lo de seu horizonte limitado e estreito para elevá-lo a um horizonte amplo, próprio de Deus.
Jesus proclamou uma mensagem que pôs em uma crise radical a situação social, religiosa, politic a e humana da época. Proclamou a novidade
do Reino de Deus.
Com suas atitudes e palavras, Jesus gerou em seus ouvintes um cisma
que levou a uma ruptura-decisão pró ou contra Ele.
Ele veio para provocar uma derradeira decisão das pessoas pró ou
contra Deus, agora manifestado em sua pessoa, em seus gestos e em
suas palavras.
Ele não foi simplesmente a doce e mansa figura de Nazaré; foi alguém
que tomou decisões fortes, teve palavras duras e náo fugiu dos conflitos,
porque no centro de sua vida e missão estava o compromisso com a
vida, sobretudo dos mais pobres e excluídos.
A oraçâo de hoje é dedicada a fazer uma repetição da semana.
Siga, como de costume, os passos iniciais de preparação para a
oração: ambientação, posição corporal, silêncio interno e externo,
petição da graça...
Agora, com um coração agradecido, faça "memória" dos momentos mais fortes, dos apelos mais intensos, das moções mais iluminadas... da semana que passou.
Retome seu caderno de vida e volte aos "momentos mais suculentos", sublinhando-os.
Busque reviver esses momentos e experiências com uma nova
perspectiva, saboreando-os. Dê graças, tendo consciência de que
foi a ação do Espirito que prevaleceu ao longo dos dias.
Desperte o desejo interno de viver a "Semana Santa" com mais
intimidade e presença junto a Jesus que é fiel até o fim.
101
Semana
Santa
104
Introdu 'do
"Sobre ele coloquei meu espírito,
para que promova o direito entre as nações"
(Is 42,1)
Depois de um longo percurso quaresmal, chegamos as portas das celebrações centrais da nossa vida cristã: Paixão, Morte e Ressurreição de
Jesus Cristo.
Nas celebrações da Semana Santa, muitas vezes corremos o risco de
nos deter no secundário e esquecer o essencial. E o mais essencial é que
as diversas celebrações (procissões, via-sacra, liturgias...) nos aproximem e nos façam crescer na identificação com o protagonista principal:
Jesus de Nazaré.
Por isso, precisamos voltar constantemente ao Evangelho para compreender o mais essencial sobre Jesus. Recuperemos, como diz o Papa
Francisco, o frescor original do Evangelho.
A primeira coisa que o Evangelho nos diz é que Jesus foi um buscador
de alternativas.
Ele não foi conivente nem compactuou com a estrutura social-políticareligiosa de seu tempo, profundamente desumanizadora. Sonhou novas
possibilidades de vida e novas relações entre as pessoas. Por isso, ao
anunciar o Reino, transgrediu a situação vigente e, a partir das periferias, foi despertando uma alentadora esperança nos corações dos mais
pobres e excluídos, vítimas de um mundo fechado.
E nós, se queremos continuar a percorrer o caminho que Jesus abriu,
temos de ser também buscadores de alternativas.
Hoje, como seguidores do Nazareno, temos de crer firmemente que é possível um mundo diferente, uma cidade diferente, uma sociedade diferente
em que a fraternidade, a igualdade e a comunhão se façam realidade. Um
mundo em que se respeitem os direitos de todas as pessoas e os direitos
da mãe Terra, onde o compartilhar seja o mais normal e natural.
A vida de Jesus é uma grande subida a Jerusalém; e nessa subida, segundo os relatos evangélicos, Ele desconcertou a todos. Evidentemente, desconcertou as pessoas mais religiosas e observantes da religião judaica:
fariseus, escribas, sacerdotes, ancidos... Não só Jesus foi a pessoa mais
desconcertante de toda a história, mas nele aconteceu algo também desconcertante. Ele desencadeou na história da humanidade um modo de
viver que quebrou toda estrutura petrificada, sobretudo religiosa, constituindo um movimento ousado que colocava o ser humano no centro.
Um movimento alternativo às instituiçóes romanas e à organização sacerdotal do judaísmo; um movimento "marginal" que dava prioridade
aos pobres, aos deslocados, aos doentes e excluídos, aos perdedores...
e que não tem nada a ver com uma organização fundada no poder, no
prestígio, na riqueza.
Esse movimento, desencadeado na Galileia, chega agora às portas da
"cidade santa", Jerusalém.
Aquele homem que movia multidões por todo o país, por sua pregação e
milagres, não é um revolucionário violento. Nem por isso, porém, deixou
de ser provocativo, transgressor e perigoso. E tudo em nome da vida.
Graça a ser pedida durante esta Semana Santa: estar com Jesus no seu ca-
minho de entrega para viver a solidariedade com os sofredores dahistória.
Domin o de Ramos
"... Jesus caminhava à frente, subindo para Jerusalém"
(Is 50,4-7; SI 21[20]; Fl 2,6-11; Lc 19,28-40)
Jesus participava do sonho de todo o povo de Israel que via em Jerusalém a cidade da promessa de paz e plenitude futura, lugar aonde deviam
vir em procissão todos os povos da terra. A tradição profética havia
anunciado uma "subida" dos povos, que viriam a Jerusalém para iniciar
um caminho de comunhão, de justiça e adorar a Deus no Templo, que
estaria aberto para todos. Toda a cidade se converteria em um grande
Templo, lugar onde se cumpriria a esperança dos povos.
Jesus, Filho de Davi, tinha de subir à cidade de seu antepassado Davi,
não para conquistá-la militarmente e reinar, a partir dela, sobre o mundo, mas para instaurar ali outro Reinado, fundado precisamente nos
105
pobres e expulsos dos remos da terra. Para Jesus, Jerusalém deveria
ser entendida como centro da nova humanidade messiânica, capital do
Reino dos excluídos da velha história humana.
Comece sua oraçáo mobilizando todo o seu ser (corpo-mente-afetividade) para o encontro com Jesus, que vive a fidelidade ao Reino
até sua entrega radical.
Faça uso dos preâmbulos: oração preparatória, a composição vendo o lugar, petição da graça indicada para esta semana.
Antes de fazer uma contemplação, aqueça seu coração com as
"considerações" a seguir.
Com sua entrada em Jerusalém, Jesus quis recuperar a cidade
como lugar do encontro e da comunhão, como espaço da paz e
da solidariedade, desalojando aqueles que se fechavam a qualquer
tentativa de mudança. Por isso, seu gesto provocativo e escandaloso de entrar na cidade montado num jumentinho, símbolo da
simplicidade e do despojamento de qualquer pretensão de poder
e força, causou violenta reação naqueles que se beneficiavam da
estrutura política e religiosa da cidade.
Com o gesto profético da entrada em Jerusalénz, Jesus estava afirmando que não podemos compreender sua missdo com base no
poder e na força que se impõem, pois onde há poder não há amor
nem misericórdia.
Os poderosos têm pavor dos que vêm sem nada, despojados
de tudo, sem poder, anunciando a chegada do Reino, ou seja, de
uma humanidade diferente, fundada na verdade e na solidariedade verdadeira.
Jesus entra em Jerusalém rodeado do povo, das pessoas simples.
Esse povo escravo e oprimido o aclama porque veem n'Ele uma
luz de esperança, de vida, de libertação. Escutaram suas palavras e
viram seus feitos durante alguns anos. Escutaram palavras de vida,
de justiça, de amor, de misericórdia, de paz...
Viram seus gestos de cura dos enfermos, de defesa dos fracos, de
doaçáo de alimento aos famintos, de reabilitação dos desprezados,
de acolhida dos marginalizados...
Jesus quer continuar anunciando e realizando na cidade de
Jerusalém aquilo que fizera na regido excluída da Galileia; quer
também humanizar essa cidade para que ela seja sol de justiça e
paz para todos os povos.
•
A "entrada de Jesus em Jerusalem" é uma boa ocasião para considerar nossa presença cristã no meio urbano.
A cidade que Deus quer: uma praça e uma mesa para todos. A praça é de todos, e todos podem caber na praça quando esta começa
pelas vítimas e pelos últimos, onde todos podem circular livremente, criar relações e convivência, com a experiência de ser aceito e
reconhecido como humano.
A mesa, no centro da praça, é lugar de hospitalidade, aceitação e
encontro, lugar de chegada e entrada da pluralidade e diversidade,
como a Nova Jerusalém
"Entrar na nossa Jerusalém" é comprometer-nos com uma cidade mais humana e humanizadora; a cidade que sonhamos e que
queremos: a Cidade Nova. E o seguidor de Jesus tem em quem
se inspirar.
Leia atentamente o Evangelho indicado para este dia; prepare-se
para fazer uma contemplação.
Com a imaginação, recrie o cenário evangélico: a cidade de Jerusalém, o grande Templo, a diversidade de pessoas... Com a chegada de Jesus, montado em um burrinho e uma grande multidão,
faça-se presente, procurando olhar as pessoas, escutar o que elas
dizem, observar o que fazem.
Em que lugar da multidão você se encontra? Como reage diante do
gesto de Jesus? Como você participa? Fica olhando de longe, sem
se comprometer?
Deixe-se conduzir pelo movimento dramático da cena.
Faça um colóquio com Jesus, expressando sua admiração pela atitude ousada e corajosa dele. Fale com Ele sobre sua presença na
cidade onde mora: desejo de ser presença inspiradora, profética,
de compromisso com a construção de relações humanizadoras.
107
Faça "memória" daquilo que é mais desumano em sua cidade:
como você reage diante disso? Passivamente? Suporta? Denuncia?
Atua?... Relate a Jesus.
Termine sua oração saboreando o Salmo indicado para este
momento.
Faça uma "leitura orante" deste tempo de oração e registre os principais sentimentos.
Sei unda feira Santa
-
"... e a casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo"
(Is 42,1-7, SI 27[26], Jo 12,1-11)
Neste inicio de Semana Santa, o Espirito nos leva a viver Betânia, a ser
Betãnia, a assumir Betânia:
casa de hospitalidade e de escuta, onde todos somos irmãos sentados à mesma mesa, junto ao Mestre, o único Senhor, em quem se
centra nossa hospitalidade e nossa escuta; espaço humanizador;
lugar de descanso, como foi para Jesus, onde encontra humanidade, calor humano, compreensão, alivio;
lugar de passagem, onde se recuperam forças para viver situações de
Páscoa, onde se dá a intimidade do encontro dos amigos que falam
em assumir as consequências de viver em favor dos outros, de deixarse levar pelo Espirito e amar até o extremo...; onde se fortalece a opção por viver atravessados pela paixão de Jesus e da Humanidade;
Betânia é lugar de interioridade, onde se internalizam os processos de humanização, onde surge a humanidade nova, atitudes mais
humanas e humanizantes; lugar onde pulsa a Humanidade com
toda sua força e onde re circula o sangue-vida.
-
Busque seu "lugar" costumeiro para iniciar sua oração; pacifique
seu coração, respirando em profundidade ou ouvindo os sons ao
seu redor; faça sua oração preparatória, a composição vendo o
lugar e a graça a ser suplicada.
Antes de entrar em contemplação, leia serenamente os "pontos"
a seguir:
Você é convidado a entrar na casa em Betânia: casa de encontro,
comunidade de amor e coração de humanidade: com Jesus Mestre,
com Marta, Lázaro e Maria, aquela que quebra o frasco e derrama
o perfume nos pés de Jesus.
Aqui, no centro do Evangelho de João, a comunidade, reconstruída
no amor, exala o bom perfume que enche toda a casa. Em lugar do
cheiro da morte, a casa enche-se do perfume: símbolo do amor que
exala bom odor. É. um amor que não tem preço.
Betânia é para Jesus o lugar da acolhida, da hospitalidade, da escuta, da amizade e do serviço. É o templo onde Jesus percebe a
presença e o agir de Deus nos fatos mais simples da vida cotidiana;
Betânia é para Jesus um prolongamento de Nazaré, o lugar do
cotidiano, do pequeno, do simples: o lugar da revelação.
Marta e Maria expressam sua amizade e fazem com Jesus o que
Ele logo fará com seus discípulos no momento de sua despedida:
serve-os A. mesa e lava seus pés. Jesus quis tomar os gestos dessas
mulheres para fazer memória de sua vida.
Impressiona-nos que neste relato elas não falam, e expressam todo
seu amor "mais em obras que em palavras".
Betânia nos desafia a gerar um novo estilo relacional que seja capaz de evidenciar o Reino aqui e agora.
Criar Betânia em nosso interior e em nossas casas: lugar da mesa
compartilhada, da unção e do cuidado; ambiente que exala perfume do amor, da gratidão, amizade...
Podemos visualizar nossa vida como um frasco cheio de perfume
que nos foi entregue gratuitamente por Deus para que lhe respondamos com nosso agradecimento e alegria e para que muitos outros possam participar disso.
Como preparação para a contemplação, leia uma ou duas vezes o
texto do Evangelho indicado para este dia.
109
Com a imaginação, faça-se presente ã casa em Betânia; procure
olhar atentamente cada uma das pessoas (Jesus, Lázaro, Marta e
Maria); sinta o clima de alegria e amizade; procure escutar o que
elas dizem; observe as reações, gestos, acolhida... de cada uma.
Sinta o perfume do frasco quebrado tomando conta da casa.
Participe ativamente da cena, conversando, perguntando, ajudando a servir...
Faça um colóquio com Jesus, falando do clima "pesado" que existe
em Jerusalem, pois estão ã procura dele para matá-lo. Permaneça
aí, deixando-se impactar pelo clima humano reinante nesta casa.
Finalize sua oração dando graças por essa convivência amistosa.
Leia o Salmo indicado.
Registre no caderno de vida os sentimentos predominantes durante a oração.
Eflltrall
"Um de vós me entregará"
(Is 49,1-6; SI 71[70], Jo 13,23-33.36-38)
Durante as contemplações dos mistérios da Paixão e Morte de Jesus, um
personagem vem sempre ã nossa lembrança: Judas Iscariotes. Reagimos negativamente diante de sua traição a Jesus, mas no fundo ele nos
causa repulsa porque é projeção das nossas infidelidades e traições. Ele
é o espelho em que nos vemos.
Mas... o que vem a ser a traição? Como ela se manifesta em nossa vida?
Por que traímos a confiança do outro?
O ato de trair implica romper uma aliança que uma pessoa fez com
outra. Trair é uma ação que tem consequências e, quando se fala de
relacionamento humano, envolve sofrimento e sensação de abandono, gerando um estado de desconfiança generalizada naquele que
foi traído.
Traição dói na proporção inversa da distancia Quanto mais próxima se
sente a pessoa traidora, tanto maior a dor do traído. A traição se situa
no mundo das amizades, das vinculações afetivas intensas, das ligações
íntimas, das proximidades de vida.
Busque criar um ambiente propício para a oração deste dia: espaço externo, atitude interna, silêncio.. , para viver mais intensamente os "momentos finais" da vida de Jesus.
Faça a oração preparatória, a composição vendo o lugar (a última
Ceia), a petição da graça indicada para esta semana.
Leia as "indicações" abaixo como ajuda para "entrar ern contemplação":
Judas se tornou o símbolo da traição porque fazia parte do grupo
íntimo dos apóstolos. Foram anos de convivência nas mesmas caminhadas, nas noites ao relento, nas pregações, nas refeições simples do dia a dia e nas festas. Jesus e Judas viviam elos de amizade,
de confiança, de esperança entre si.
De repente, rompeu-se tal aliança e Judas entregou Jesus aos
adversários.
Com a traição, Judas passou da amizade para a decepção, para a
desilusão, para a perda de vinculação até a entrega. Processo lento
que foi minando seu coração, até que ele se corrompeu, a ponto de
renegar a amizade e trair.
Quando Jesus anunciou que um deles lhe entregaria, todos ficaram
"assustados", "olharam-se mutuamente", mas não conseguiram
identificar o traidor.
Os traidores náo têm um rosto especial; qualquer rosto vale para
dissimular a traiçáo do coração; qualquer rosto vale para esconder
um coração traidor.
Judas em nada dava sinais de ser diferente dos outros discípulos.
Por isso ninguém se atreveu a acusá-lo de traidor. Parecia tão normal como qualquer outro do grupo.
É que as traições são alimentadas e escondidas no coração; elas
náo têm rosto, não são visíveis. Por isso mesmo, os traidores são
111
tão difíceis de ser reconhecidos. Caminham como todos. Comem
como todos. Sorriem como todos. Têm cara de amigo e por dentro
carregam um coração vendedor de vidas, de dignidades.
Poucas experiências destroem tanto alguém por dentro como a
traição.
Quem traiu e quem foi traído assume reações semelhantes, como
esvaziamento da afetividade, sensação de inutilidade vital, desorientação, perda do sentido da própria existência, angústia, pânico, fobias e medos generalizados diante das pessoas e do mundo.
A traição desmonta a esperança no outro ser humano e leva à descrença na existência do amor. A traição tira do ser humano sua
capacidade de dar respostas à vida, de envolver-se em um projeto
e em um ideal maior, que ultrapasse o valor de sua própria vida.
Leia atentamente o Evangelho da liturgia de hoje. Comece a contemplação ativando todos os seus sentidos, para poder participar
intensamente da cena.
Faça-se e sinta-se presente na sala da Última Ceia, como um "humilde servidor": observe o ambiente preparado, a disposição da
mesa, o jarro e a bacia para o lava-pés, os pães ázimos, ervas amargas, vinho...
Centre sua atenção na chegada de Jesus e seus discípulos; observe
as feições de cada um deles, tomando lugar à mesa... Procure escutar o que estão dizendo...
À meia distância, observe a seriedade do momento, escute as palavras de Jesus ao tomar o pão e o vinho... Sinta-se desconcertado
quando Jesus anuncia que um do grupo vai ser o traidor. Veja as
reações dos discípulos, a tristeza de Jesus...
Passe um bom tempo nesta sala, onde está acontecendo um evento
histórico e essencial para os seguidores de Jesus: a instituição da
Eucaristia. Participe também você da refeição.
No final da oração, leia o Salmo indicado e dê graças por poder
participar desse momento.
Faça exame da sua oração e registre no "caderno de vida" os movimentos (moções) do coração.
Quarta-feira Santa
"Ide à cidade, à casa de alguém,
e dizei-lhe: em tua casa celebrarei a Páscoa..."
(Is 50,4-9, SI 69[68], Mt 26,14-25)
Mais uma vez a liturgia nos convida a "fazer memória" desta Ceia tão especial. Jesus havia transitado por muitas refeições, participado de muitas mesas (especialmente com os pobres e pecadores) e agora Ele nos
deixa uma "mesa" como marca dos seus seguidores. Mesa da partilha e
da inclusão, mesa da festa e da comunhão.
em torno dessa mesa que os seguidores de Jesus se constituem como
verdadeira comunidade. Ao recordar a vida, paixão, morte e ressurreição
de Jesus, os cristãos se comprometem a prolongar seus gestos, suas atitudes, seus valores, compromissos... "Fazer memória" de Jesus junto à mesa
é comprometer-se com a vida; é colocar a própria vida a serviço da vida.
Prepare-se para viver este momento denso da Última Ceia; por
isso, disponibilize todo seu ser (sentidos, razdo, afetividade, coraçáo) para "sentir e saborear" esse Mistério.
Um cuidado especial com os preâmbulos: oração preparatória,
composição vendo o lugar, petição da graça...
Leia os "pontos para a oração": isso pode ajudar a aquecer o coração para viver mais intimamente o encontro com o Senhor, que
está às portas de sua Paixão.
Jesus quer cear com seus amigos, por isso precisam encontrar uma
sala em que haja espaço para estar juntos. O ritual pascal dá lugar aos gestos simples que se fazem entre amigos: partilhar o pão,
beber da mesma taça, desfrutar da mútua intimidade, entrar no
clima das confidências...
Sua relação com eles vinha de longe: levavam longo tempo caminhando, descansando e tomando refeições juntos, partilhando
alegrias e rejeições, falando das coisas do Reino.
Jesus sempre buscou companhia; havia nele uma necessidade irresistivel de contar com os seus como amigos e confidentes.
113
E continuaria considerando-os amigos, mesmo quando um deles
iria traí-lo e os outros fugiriam.
Chama-nos a atenção, no Evangelho proposto para hoje, a maneira como Jesus indicou aos discípulos o local onde queria que a
Ceia fosse celebrada Jesus mandou-os seguir um homem que encontrariam à entrada da cidade. Junto a personagens conhecidos
nos Evangelhos, outros, sem rosto, nem identidade, nem protagonismo, surgem inesperadamente, deixando sua "marca, como o
desconhecido homem que emprestou sua casa para que Jesus e
seus discípulos pudessem celebrar a Páscoa.
Anônimo perante a posteridade, sem rosto, porque era seguido pelos que vinham atrás dele, esse homem, de certo modo e do modo
certo, serviu a Cristo como a Igreja deve servi-Lo, sem perguntar
qual seria seu lugar L mesa.
O que teve lugar dentro de sua casa, transformada no mais importante templo material da história humana, seria mais do que suficiente para arrancar dele alguma expressão de vaidade capturada
pelo evangelista. Mas não. Náo é isso que acontece na história da
Salvação.
Aquele homem representa a todos nós; cabe-nos mostrar o caminho do local da Ceia, cabe-nos palmilhar, sobre as pedras do cotidiano, o rumo que leva L casa do Pai.
E devemos fazer que outros nos sigam, para que se cumpra tudo
que foi instituído.
Orientadores do povo de Deus, abrimos as portas da grande sala e
a confiamos ao Mestre para que realize ali o imenso dom da Eucaristia, "como aquele que serve".
Leia atentamente o relato do Evangelho indicado para hoje.
Prepare-se para uma contemplação. Com a imaginação, faça-se
presente L cena, indo com os discípulos para preparar o ambiente
da Última Ceia.
Procure ativar todos os sentidos: olhe as pessoas da cena, escute
o que elas dizem, observe o que fazem, saboreie o pão e o vinho
dados a você por Jesus...
Participe, com alegria, deste evento único; deixe-se afetar por tudo
o que acontece durante a refeição. Reserve um momento de colóquio com Jesus, expressando a Ele seus sentimentos.
Finalize sua oração lendo o Salmo indicado. Depois, registre no cademo de vida as experiências e sentimentos vividos neste momento.
Quinta-feira Santa
"Amou-os até o fim"
(Ex 12,1-8.11-14; 51116[115]; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15)
O texto joanino nos diz que Jesus realizou o "lava-pés" durante a última
Ceia. Todas as refeições tinham o "lava-mãos". Algumas ceias especiais
tinham o "lava-pés" no início, como sinal de acolhida e de hospitalidade.
Jesus realiza seu gesto enquanto a refeição está acontecendo. Pode ser
que Ele esteja colocando uma relação muito estreita entre o comer e o
servir, melhor dizendo, entre a Eucaristia e o serviço solidário.
Até Jesus, os convidados para a refeição eram servidos e saíam satisfeitos. Depois, os convidados passaram a servir-se uns aos outros e sair
da refeição para servir os outros. O dom recebido é partilhado entre os
seus, mas isso não basta; ele precisa ser colocado ã disposição de todos,
a começar pelos mais carentes. O dom é, ao mesmo tempo, graça e missão. Nesse sentido, o lava-pés será o modo de proceder ou o estilo de vida
da comunidade de seus seguidores.
Prepare sua oraçáo, ativando uma disposição interna para viver o
mistério do Lava-pés.
Dê especial atenção As "adições": lugar, posição corporal, pacifica-
ção interior, consciência de estar diante de Deus...
Faça sua costumeira oraçáo preparatória, bem como a composição vendo o lugar, a petição da graça...
Mobilize seus sentidos para que eles o ajudem a fazer uma contempla(do; os "pantos para a oração", indicados a seguir, podem preparar o
terreno interior para acolher o gesto ousado de Jesus no Lava-pés:
Jesus está no meio dos homens como Aquele que serve; por isso
"despoja-se do manto" (sinal de dignidade do "senhor") e pega o
avental (toalha, "ferramenta" do servo). É o Senhor que se torna
"servo". O amor-serviço tem como primeiro símbolo o avental.
"Despojar-se do manto" significa "dar a vida" sob a forma de serviço.
Jesus coloca toda a sua pessoa aos pés de seus discípulos. O Criador põe-se aos pés da criatura para revelar como ela é amada e
como deve amar.
A cena é fortemente simbólica: Ele continua sendo sempre aquele
que serve.
"Tal Cristo, tal cristão": na vivência do serviço evangélico, somos
chamados a vestir o "avental de Jesus". "Vestir o coração" com o
avental da simplicidade, da ternura acolhedora, da escuta comprometida, da presença atenciosa, do serviço desinteressado...
"Tirar o manto" é a atitude firme de quem se dispõe a arrancartudo
que impede a agilidade e a prontidão no serviço (nossa redoma,
nossa mascara, nossa capa de proteção); é mover-se, despojado,
em direção ao outro; é optar pela solidariedade e pela partilha; é
renovar a vontade de incluir o outro no próprio projeto de vida.
Precisamos "levantar-nos da mesa" cotidianamente. Há sempre
um lar que nos espera, um ambiente carente, um serviço urgente.
Há pessoas que aguardam nossa presença compassiva e servidora,
nosso coração aberto, nossa acolhida e cuidado.
Sempre teremos "pés" para lavar, mãos estendidas para acolher,
irmãos que nos esperam, situações delicadas a serem enfrentadas
com coragem.
Sempre teremos, também, a necessidade de nos "sentar ã mesa"
para renovarmos as forças e redobrarmos a coragem de nos levantar e, na humildade, sem manto, servir com amor, do jeito
de Jesus.
"Levantar-nos da mesa" — "sentar-nos à mesa": movimentos de
partida e de chegada; prolongamento do gesto provocativo e escandaloso de Jesus.
••
Na contemplação do Lava-pés, observe silenciosamente os gestos de Jesus. Todos os gestos possuem uma sacralidade própria,
uma reverência, uma paz e calma especiais. Não há pressa, não há
agressividade, não há nada que possa dar a minima aparência de
algo que fosse obrigado.
"Levantou-se da mesa": gesto que nos revela que rid o se pode servir
permanecendo no comodismo. O gesto de levantar denota que há
algo a ser feito.
"Ficar de pé" é posição que expressa prontidão para servir; para
isso é preciso deslocar-se do próprio "lugar" e descer até o "lugar" do outro. É desinstalar-se do próprio bem-estar, é dinamismo. "Estar à mesa" é sempre sinal de fraternidade, de comunhão,
mas é necessário saber levantar-se na hora certa para poder servir com amor.
"Tirou o manto": Ele mesmo se despoja. Abrir mão do manto é
uma iniciativa livre e soberana, que nasce de seu próprio interior.
O manto impede a liberdade de movimentos, não permite fazer o
serviço com facilidade. Há "mantos" que são sinais de poder.
O Senhor assume, em tudo, a condição de servo, para servir. Troca
o manto pela toalha-avental: este parece ser o distintivo fundamental, divisor de águas entre a religião antes e depois de Jesus Cristo.
Não há serviço sem se despir de todas as aparências de poder, de
força, de prestígio.
"Colocou água numa bacia...": Jesus assume os preparativos, náo faz
trabalho pela metade. A água derramada não é feita com violência,
nem com força, mas com extrema delicadeza, com atenção e amor.
"..
e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha": Jesus inclina-se aos pés dos seus discípulos, até o chão, com
reverência, cuidado, acolhida, sem fazer distinção de ninguém.
Lava os pés de todos igualmente.
"Depois... voltou a mesa...": Jesus voltou ao lugar em que estava
antes, mas voltou diferente. Ele rep& o manto, mas não depõe
a toalha-avental. Ele assume e visibiliza uma nova realidade que
caracteriza o novo modo de ser, próprio dos cristdos.
117
Depois de contemplar com "todo acatamento" os gestos de Jesus,
converse com Ele sobre sua admiração e sobre seu desejo de prolongar esses mesmos gestos em seu cotidiano.
Traga â memória as pessoas cujos pés você precisa lavar.
Revele sua gratidão para essa experiência tão íntima e tão intensa.
Leia o Salmo indicado.
Registre em seu caderno as "moções" mais fortes experimentadas
na oração.
"Tudo está consumado"
(Is 52,13-53; 51 31(30]; Hb 4,14-16; 10 18,1-19,42)
Jesus foi parar na Cruz como consequência de toda uma vida doada em
favor dos outros. Ele perdoou, libertou, trouxe â dignidade e â vida todos os que estavam à margem. Incomodou os acomodados, questionou
os poderosos, desmascarou uma falsa religião.
A Paixão de Jesus teve causas históricas concretas e foi o desenlace final
de uma vida que entrou em conflito com o sistema religioso-político estabelecido na sociedade daquele tempo. Jesus foi vítima dos poderosos.
A oração de hoje é profundamente silenciosa: trata-se de acompanhar Jesus no caminho em direção ao Gólgota e sua morte na Cruz.
Silenciar o corpo, a mente, o coração... através dos "preâmbulos":
oração preparatória, composição vendo o lugar, petição da graça...
Antes de "fazer o caminho" com Jesus ate a Cruz, leia as indicações
a seguir, como motivação para a experiência:
Há algo que salta à vista quando lemos os Evangelhos com mais
atenção.
Jesus apareceu como um "transgressor" das leis e tradições, fanaticamente observadas pelos líderes religiosos. Isso não significa que
Ele fosse um libertino e, menos ainda, um provocador.
A chave para compreender essa conduta de Jesus está em que Ele
deixou de observar a Lei unicamente quando estava em jogo a saúde, a integridade da vida, a dignidade e a felicidade das pessoas.
Dito de outra maneira: a liberdade de Jesus perante a Lei não foi
uma liberdade caprichosa e, menos ainda, egoísta. Sempre foi uma
liberdade a serviço da misericórdia.
As curas de Jesus realizadas em dia de sábado revelam sua clara
opção: a felicidade do ser humano, o alivio do sofrimento tem prioridade absoluta, acima das prescrições religiosas.
A religião e seus preceitos deixam de ter sentido e obrigatoriedade
quando ela é usada para causar sofrimento ou para dar as costas â
dor alheia.
No percurso solidário com Jesus e com os sofredores da história
não encontramos o "Deus do poder" que se impõe, mas o "Deus
do amor" que se expõe â maior das fragilidades, porque o amor
significa admitir a possibilidade de ver-se recusado e rejeitado. Só
na fragilidade do amor Deus manifesta sua força misericordiosa.
Diante da violência e do sofrimento Deus silencia, porque Ele se
encontra junto as vitimas, não junto aos carrascos.
Seu "silêncio", porém, não é de tolerância, mas de amor compadecido e solidário. Amor que tudo pode, mas não pode reagir
violência com violência igual ou maior. E continua sem poder impedir que a Paixão de Jesus continue acontecendo hoje. A resposta
de Deus ao sofrimento não é escrita com tinta, mas com sangue,
carne, sentimento, fragilidade.
Ao entrar no caminho da Paixdo de Jesus, uma pergunta brota naturalmente:
"Onde está Deus em nossa experiência de sofrimento?"
Mas Deus desafia-nos a responder â sua própria pergunta: "Onde
está você no meu sofrimento?"
Ele revela, aos nossos olhos dolorosamente abertos, o mistério de sua
própria presença em nosso sofrimento e morte dos seus filhos e filhas.
119
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o Deus que se identifica com a dor do mundo, com a marginalização dos excluídos e com a desgraça de todos os miseráveis da
terra. Não podemos chegar ao Deus de Jesus pelo caminho largo
e fácil do poder e da razão, senão pela senda escarpada e dura da
solidariedade e da loucura da Cruz.
A questão determinante para os cristãos está em buscar a Deus
e crer na sua transcendência a partir da solidariedade com as vítimas, com os crucificados deste mundo e com todos os que necessitam de calor humano, compreensão, tolerância, companhia e
carinho.
Interpretar a Paixdo e morte de Jesus como o resultado de uma decisão
do Pai, que necessitava do sofrimento do Filho para aplacar sua ira contra os homens pecadores, é o mesmo que dizer algo que beira a blasfêmia. Um Deus que precisa de sangue e sofrimento para ficar tranquilo e
satisfeito é uma espécie de monstro que só produz medo e rejeição.
A questdo não é o sofrimento em si mas a favor do que e de quem estamos sofrendo, gastando nossa vida. O único bem que temos é a vida,
presente de Deus, e somente a encontraremos A. medida que a entregarmos em favor dos irmãos, pela mesma causa de Jesus.
Partindo da mensagem evangélica, o único "sofrimento" que Deus quer
é o que brota da luta contra o sofrimento. Deus quer o sofrimento somente quando é consequência de uma convicção e de um modo de viver
que não suporta que os outros sofram. Foi exatamente isso o que aconteceu com Jesus.
E por isso o crucificaram. Somente a força do amor, da misericórdia e
da entrega, que se faz capaz, como em Jesus, de suportar a mais extrema das debilidades, pode transformar o mundo.
Pela contemplação, entre no caminho com Jesus ate o Calvário.
Olhe as pessoas, escute o que dizem; observe as diferentes reações:
os soldados, as mulheres, Cirineu... Basta estar presente, silenciosamente, deixando-se afetar pelas cenas e pelas atitudes das pessoas diante de Jesus, com a Cruz As costas.
Faça seu colóquio a Jesus, o homem da fidelidade ao Projeto do
Reino em favor da vida. Ele doa vida.
Finalize sua oração rezando o Salmo indicado para hoje.
Registre no caderno os apelos, moções... que brotaram da oração.
Sábado Santo
"E, saindo, eles puseram em segurança o sepulcro,
selando a pedra e montando guarda"
(Mt 27,57-66)
A virtude teologal da esperança nos convida a mergulhar no sentido profundo do Sábado Santo, dia do silêncio de Deus Pai e da descida de
Jesus, morto e sepultado, "aos infernos". Foi o dia do Espirito Santo que
não tinha "onde repousar" e fica sem alento.
Normalmente, o Sábado Santo não merece maior reflexão de nossa parte; acabada a Sexta-feira Santa já pensamos no Domingo da Ressurreição. No entanto, o Sábado Santo reivindica ser vivido de maneira
especial.
Jesus no túmulo simboliza o silêncio, a volta ao mais íntimo de si mesmo, abraçando a solidão sem se sentir solitário.
É o dia dedicado à solidão de Maria, o "dia não litúrgico".
Sábado Santo é tempo não só de espera, mas de esperança, de deixar
que o grão de trigo morto comece a dar fruto. É tempo de um inverno
que tornará possível as flores da primavera, é tempo de imaginar, de
criar, de abrir-se a algo novo e inesperado, de sonhar um mundo melhor
e uma Igreja mais nazarena.
Esse espaço de silêncio não é de morte, mas de vida germinal; é noite
que aponta a aurora, são as noites escuras da vida que desembocam
na alegria da alvorada é tempo de fé e de esperança, é momento de
semear, mesmo que não vejamos os resultados; 6. tempo de crer que o
Espirito do Senhor, criador e doador de vida, está fecundando a história
e a terra para seu amadurecimento pascal e escatológico, para a nova
terra e o novo céu.
121
O Sábado Santo é também um dia inquieto. No sábado santo da sociedade pós-moderna, somos terra de penumbra. Nela se antecipa a esperança do dia de Páscoa.
Como as mulheres, deslocamo-nos para o sepulcro levando aromas. As
oraçóes são aromas que o Espirito recolhe em sua taça. A esperança é
o aroma que faz esquecer a putrefaçáo do cadáver. Na noite do sábado
santo nos propomos dormir pouco e levantar-nos muito cedo, porque
algo vai acontecer. O Abbá vai dar à Luz. O Espirito ficou sem palavra,
mas já sussurra. A voz do silêncio já geme; nele vislumbra-se a chegada
da Vida. Algo grandioso se prepara.
Da escuriddo da morte do Filho de Deus brota a Luz de uma esperança
nova: a luz da Ressurreição reflete-se no rosto de Maria. Nossa amizade
e devoção ã Maria da esperança, a transparência feminina do Espirito,
nos mantém no ritmo da espera.
Aproximam-se os rumores de ressurreição. É Páscoa!
Não basta re nascer; é preciso assumir nossa condiçáo de responsáveis
-
de uma Nova Vida.
Oração: Podemos começar este dia recordando uma experiência muito
humana: imaginemos o regresso do enterro de uma pessoa querida, depois de uma longa temporada de lutas e temores, com um tratamento
pesado, com momentos de otimismo, momentos de frustração etc., até
esse instante ultimo em que dizemos em nosso interior: "descansou".
Quem não regressou alguma vez do cemitério com essa sensação?
Partindo dessa experiência, contemplemos por um momenta como descem do Gólgota, Maria, o discípulo amado e algumas mulheres que estavam junto ã Cruz, com a horrível sensação de que tudo acabou.
Hoje é dia de silêncio: de recordar os grandes silêncios da vida (perdas,
fracassos, crises...), em que rid° há razões, não há uma lógica... Mas, no
silêncio profundo, algo novo começa a germinar...
Domingo
da
Ressurreição
"Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda
estava escuro..."
(At 10,37-43, CI 3,1-4,10 20,1-9)
A pedra que fora removida do túmulo de Jesus indicou a Maria Madalena
uma novidade que seu coração buscava, uma novidade que espanta,
enche o coração do desejo de procura: "Ele vive".
O caminho dela em direção ao túmulo é símbolo da coragem em atravessar o escuro da madrugada para ver resplandecer uma nova aurora
em sua vida, pela força criadora da única Presença que tudo sustenta,
tudo recria e enche de amor: a presença do Cristo Ressuscitado.
Na madrugada da Páscoa, Maria Madalena vai ao sepulcro; ela é símbolo daquela comunidade que se movia entre a luz e a obscuridade. Ainda
vive focada no sepulcro (morte); por isso, "ainda estava escuro". Mas,
ao mesmo tempo, começava a clarear ("ao amanhecer") e a "pedra estava removida" (a pedra da dúvida, da tristeza e da resignação fatalista).
Tudo parece anunciar algo definitivamente novo: é "o primeiro dia da
semana"; trata-se de nada menos que de uma nova Criação.
Segundo os evangelistas, as mulheres são as primeiras testemunhas da
ressurreiçáo de Jesus Cristo, pois Ele aparece primeiramente a elas.
Segundo Tomas de Aquino, o motivo dessa precedência é que elas estavam mais bem preparadas que os homens para entender e acolher a
maravilha da Vida.
E estavam mais bem preparadas porque O tinham amado mais.
Envolve-nos a noite de uma crise global que não afeta a todos de maneira igual: a noite da injustiça, da pobreza, da fome de milhões de seres
humanos e da violência que provoca migrações massivas; a noite da
corrupção e da impunidade; a noite da crise ecológica que ameaça a
vida do planeta; a noite dos conflitos religiosos; a noite do individualismo egocêntrico, da desconexão com os outros e com a Fonte da Vida; a
noite da falta de sentido, da ausência de Deus.
Para transitar na noite de nosso tempo precisamos buscar na Ressurreicão a Luz que nos ilumine e nos indique a direção e o sentido de nossa
existência.
A noite pede pessoas marcadas pela experiência da Ressun-eiçáo, capazes de ver a presença do Ressuscitado no meio das realidades simples e
cotidianas, no profundo do coração de cada ser humano, de cada realidade vivente, de cada palmo de nossa terra, no mistério insondável do
universo grávido de graça.
Precisamos cultivar olhos que não só vejam a realidade, mas que sejam capazes de contemplar, no meio da noite, a presença da Luz: uma
luz que brota das profundezas da realidade, do profundo do ser onde o
Deus, fonte de vida, sustenta tudo; uma luz que nos faz descobrir nosso
ser essencial: filhos e filhas amados(as) e irmanados(as) com todos e
com tudo.
A luz da noite pascal reacende a paixão pela vida, desafio mais urgente
de nosso tempo; paixão por toda expressão de vida, especialmente pelas
vidas mais ameaçadas. Dar vida foi a paixão de Jesus, expressa nestas
palavras: "Eu vim para que todos tenham vida e vida abundante" (Jo
10,10). Dar vida, protegê-la, curá-la, cuidá-la, defender sua dignidade,
denunciar tudo o que a ameaça e lutar contra isso foi o que levou Jesus
a perder sua própria vida. Jesus ressuscitou de tanto viver.
Tal é a disposição que hoje precisamos cultivar para iluminar a noite de
nosso tempo.
Amanhece um tempo novo, ressoam para nós as palavras de Isaias: "Eis
que eu farei coisas novas e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis?" (Is 43,19). É tempo de esperança.
Amanhece uma nova consciência planetaria, uma nova espiritualidade,
uma nova maneira de intuir o mistério de Deus, uma visão nova do ser
humano e do mundo, uma nova mentalidade... Amanhece uma sociedade global, planetária, heterogênea, descentralizada, um ecumenismo
planetário; um novo humanismo, uma nova lógica cultural do movimento, inovação constante...
Ao longo deste dia de Luz, alimente o desejo de viver a esperança com
encantamento.
UMA SANTA PÁSCOA A TODOS!
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