80 anos da Acipi
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80 anos da Acipi
ACIPI 80 anos Copyright c Associação Comercial e Industrial de Piracicaba 1ª edição: 2013 Tiragem: 5.000 DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO: Miriam Miranda - Impar Comunicação REVISÃO: Mariana Leite Ferraz Peron COLABORAÇÃO: Adriana Furlan Martin Eliana Terci Juliana Ferraz Felipe Rodrigues (textos) FOTOGRAFIAS: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP) Acervo da Gazeta de Piracicaba André Vidal Bolly Vieira Christiano Diehl Neto Henrique Spavieri Isa Spruck IMPRESSÃO: www.graficamundo.com.br ACIPI Associação Comercial e Industrial de Piracicaba Rua do Rosário, nº 700 – Centro 13.400-183 – Piracicaba – SP Tel.: 19 3417 - 1766 e-mail: [email protected] Sumário UMA HISTÓRIA DE SUCESSO ................................................................................... 15 O perfil da Acipi ao comemorar oito décadas e a gestão do presidente Angelo Frias Neto (2012-2015). PONTO DE PARTIDA ................................................................................................. 33 O comércio e a indústria a partir da fundação de Piracicaba, em 1767. O ANO / 1933 ........................................................................................................... 69 Fundação da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi), a atuação dos presidentes ao longo dos anos, a modernização e os serviços prestados aos. associados e à comunidade. MODERNIZAÇÃO .................................................................................................... 107 A descentralização do comércio, a informatização e inovações que transformaram a Acipi em uma respeitada entidade empresarial e prestadora de serviço por excelência. SERVIÇOS ............................................................................................................... 139 A Acipi estimula a prática do empreendedorismo e capacita e qualifica profissionais para atender à demanda do mercado. INDÚSTRIA ............................................................................................................. 149 Das primeiras empresas às indústrias atuais, que conferem a Piracicaba posição de destaque no desenvolvimento do estado e do país. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 180 6 Palavra do presidente Acipi: 80 anos de empreendedorismo e engajamento Penso que um sentimento resume o que vivemos neste momento: orgulho. Afinal de contas, não é todo dia que uma entidade chega aos 80 anos de existência. Diante de nossos olhos, desfila uma história de luta, uma história marcada pela união e pelo desejo de avançar, de fazer acontecer. O legado da Acipi inspira a todos. Tanto, que entendemos que seria importante documentar essa trajetória, resgatar e perpetuar o que a energia transformadora conseguiu fazer. De tal desejo, nasceu este livro. Curioso que a base de tudo vem de palavras muito modernas, mas de conceituação milenar. O empreendedorismo e a livre iniciativa são elementos fundamentais na construção de um país democrático, desenvolvido socialmente e economicamente. Esses valores pautaram a origem das associações comerciais e acompanham a trajetória dessas entidades desde os seus primórdios. Pautaram a origem da nossa Acipi. 7 Para nos situar nesse contexto, apelo para um breve passeio pela história, para que possamos entender o quanto a origem e a trajetória dessas organizações impactaram na própria história do nosso país. Tudo começa com as primeiras Praças de Comércio, como foram denominadas as precursoras das Associações Comerciais. Elas surgiram no Brasil Colonial. Nelas, os comerciantes se reuniam com o objetivo de fortalecer, dignificar e proteger os que viviam no entorno das áreas comerciais, além de defender a liberdade e cidadania. A formação dessas praças era, inclusive, estimulada pelos governos, que viam nelas um importante indutor do desenvolvimento econômico. O modelo evoluiu a partir de 1808, com a vinda da família real para o Brasil. A transferência do centro do poder de Lisboa para o Rio de Janeiro exigia adequações e, na primeira delas, D. João VI abriu os portos às nações amigas, este o marco histórico da abertura comercial brasileira e seu consequente crescimento econômico. Três anos depois, o Brasil ganhava oficialmente sua primeira entidade empresarial. Em 15 de julho de 1811, era fundada em Salvador a Associação Comercial da Bahia, na época Praça de Comércio. A ideia frutificou. Em 1819, foi fundada a Associação Comercial do Pará e, em 1820, a Associação Comercial do Rio de Janeiro. Apesar de ser a terceira entidade a se instalar no Brasil, ela já fazia parte dos anseios da sociedade fluminense, já que, em 1809, por meio de alvará, o príncipe regente D. João VI oficializou a vontade de construir a Praça do Comércio, cujas obras tiveram início apenas no ano de 1819. Em meio à emancipação política do território brasileiro e à vigência do segundo reinado do Império, a quarta entidade empresarial nasce no Nordeste do país. Em 1839, é fundada a Associação Comercial de Pernambuco. Três décadas depois, já em um período de intensa atividade portuária nos litorais do Brasil, em 1870, é constituída a Associação Comercial de Santos, primeira entidade empresarial paulista e a quinta no país. Pouco mais à frente, em outro momento político, marcado pelas profundas mudanças trazidas no fim do século 19 com a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República, e já no mandato do terceiro presidente civil do Brasil, Prudente José de Moraes Barros, surge, em 1894, a Associação Comercial de São Paulo. Formada por fazendeiros de café, empresários e homens ligados a todos os tipos de atividades comerciais, é criada justamente para construir relações no âmbito econômico necessárias aos novos modelos de administração pública. Depois vieram as Associações Comerciais de Ribeirão Preto (1904), Lorena (1917), São José do Rio Preto, Mogi das Cruzes e Campinas (1920), Sorocaba, Rio Claro e Jaú (1922), Jundiaí e Araras (1923), Bariri e Botucatu (1924), Presidente Prudente (1927), Araçatuba e São Miguel (1929), Catanduva e Mirassol (1930). 8 Já no regime do presidente Getúlio Vargas, as associações paulistas tiveram papel relevante, inclusive na condução da Revolução Constitucionalista de 32 - que reclamava a promulgação de uma nova Constituição para o Brasil. Elas cuidaram da captação de recursos e infraestrutura para os combatentes, o que redundou no fortalecimento das entidades e do espírito associativista. Nesse clima, surge a Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba), no dia 9 de julho de 1933, um ano após o histórico movimento cívico. O nascimento de nossa entidade neste momento tão expressivo, na comemoração do primeiro aniversário de uma revolução - que materializou o descontentamento do povo paulista, por extensão do povo piracicabano, com um regime de ditadura e censura -, marca a condução da nossa associação e sua brilhante trajetória. A Acipi se estabelece em ambiente e momento propícios à defesa da livre iniciativa, liberdade de expressão e a luta voluntária pelo ideal da liberdade de empreender. A partir dessa perspectiva, empenha os esforços no incentivo ao empreendedorismo e, nos últimos 80 anos, tem colhido os frutos das ações dos principais protagonistas de sua história, associados dedicados e imbuídos em fazer a cidade avançar. A cultura progressista das associações comerciais ganha asas e invade todo o país. Hoje, somos uma força porque descobrimos que, juntos, podemos mais. Integramos uma rede nacional que reúne 2 milhões de empresários, ligados a 2.300 associações comerciais reunidas em 27 federações estaduais, todas representadas pela CACB (Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil). Essa entidade é presidida por José Paulo Dornelles Cairoli (RS) e tem como 1º vice-presidente Rogério Amato (SP). Isso quer dizer que, dos 5.564 municípios brasileiros (IBGE/2007), os 2.300 maiores contam com associações comerciais. Em São Paulo, o Estado mais rico do país, responsável por 33% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro (Seade/2010), a Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo), atualmente presidida por Rogério Amato, reúne 420 associações comerciais, em um universo de 645 municípios. Em Piracicaba - cidade do interior paulista que impulsiona a economia nos âmbitos nacional e regional e é responsável pela geração de um PIB de pouco mais de R$ 10,9 milhões –, nossa entidade, a Acipi, é positivamente reconhecida por sua atuação junto aos seus 4.000 associados, dos setores da indústria, comércio e prestação de serviços. Com trabalho incansável, ganhamos o respeito e a credibilidade dos piracicabanos, deixamos nossa marca em importantes conquistas e colaboramos com a elaboração de políticas públicas, que têm contribuído com o desenvolvimento de nossa cidade. 9 Em 2013, no período em que celebramos os 80 anos de fundação da Acipi, recebemos diversas manifestações em reconhecimento a nossa representatividade. Em pronunciamento na Câmara dos Deputados, no mês de julho, o deputado federal Antônio Carlos Mendes Thame compartilhou a comemoração histórica em sessão da Casa. No mesmo mês, em cerimônia que marcou o aniversário da entidade, na sede da associação, tivemos a participação do empresário Francisco Munhoz, 102 anos - que presidiu a Acipi entre os anos de 1953 e 1955 –, que conosco compartilhou inúmeros cumprimentos de autoridades, dos poderes constituídos do município, da imprensa, de associados e de cidadãos piracicabanos. Neste encontro, a entidade foi homenageada pelo vereador André Bandeira com “Moção de Aplausos”. Em agosto, por solicitação do deputado estadual Roberto Morais, nossa entidade foi homenageada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em sessão especialmente realizada no Plenário “Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira”. No mesmo mês, durante sessão requerida pelo vereador Pedro Luiz da Cruz, a Câmara de Vereadores de Piracicaba concedeu à Acipi o “Diploma de Mérito” em reconhecimento a nossa atuação. Pelas ações de incentivo ao empreendedorismo, homenagem também nos foi prestada pela EsalqTec (Incubadora de Empresas de Tecnologia da Esalq), em outubro, durante evento realizado nas dependências da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”). Para dar continuidade às comemorações alusivas aos 80 anos da Acipi e garantir o registro histórico de uma data sem precedentes, temos a honra de apresentar este livro. Além de resgatar a trajetória bem-sucedida da entidade, em meio a tantas mudanças no cenário nacional e ao desenvolvimento empresarial de nossa cidade, este livro apresenta relatos sobre o posicionamento transparente que sempre norteou nossa história, inclusive nossa proposta de ser ponte de aproximação entre o empresariado, o mercado e as atividades que influenciam no desempenho de seus negócios. Nas páginas que se seguem, os leitores poderão conhecer os fatos que construíram a reputação da nossa querida Acipi, entidade que, formada por homens e mulheres comprometidos com o aprimoramento da atividade empresarial, possui uma extensa folha de serviços prestados em benefício do desenvolvimento socioeconômico de nossa cidade, um orgulho para todos nós que fazemos parte dessa história. Angelo Frias Neto Neto, presidente da Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba) 10 Foto: Luiz Prado O significado do 9 de julho No dia 9 de julho comemora-se o Movimento Constitucio-nalista que São Paulo deflagrou, em 1932, para defender a autonomia do estado e a reconstitucionalização do país. As associações comerciais paulistas participaram ativamente desse movimento, que lutava pela defesa dos valores que sempre nortearam nossas entidades. Em manifesto divulgado em 17 de fevereiro de 1932 e lideradas pela Associação Comercial de São Paulo, associações pediam “a restauração do regime constitucional, mediante a decretação imediata de uma nova lei eleitoral, que assegurasse a moralidade e a verdade do sufrágio e consequente convocação de uma Constituinte em moldes liberais, de acordo com o sentimento público, com as tradições nacionais e com o grau de adiantamento da civilização brasileira”. E foi exatamente num 9 de julho que a Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba) foi fundada, em 1933. Não há data mais propícia. Com 80 anos de idade, a Acipi se consagra como uma entidade com tradição, numa região estratégica e fundamental para o estado – e também muito promissora. Para quem é de fora, uma das referências sobre Piracicaba é o seu polo 11 educacional, com universidades e centros de estudos de ponta e de alta tecnologia. Também chamam a atenção a sua vocação agrícola e a imensidão dos canaviais a se perder de vista. Mas o município se destaca, também, em mais um quesito: tornou-se um dos principais centros industriais da região. A sua população tem vocação para o empreendedorismo - e tem o privilégio de contar com o apoio da Acipi. A entidade faz isso de forma inovadora, com criatividade, olhando para a frente, com a realização de cursos, debates e palestras sobre temas de interesse de seus quatro mil associados. E o faz em parceria com universidades e entidades - como o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) - e prezando, sempre, pela troca de experiências. Projetos como a Escola de Negócios e um memorial que conta a história do empreendedorismo em Piracicaba são alguns dos exemplos de sucesso das empreitadas da Acipi. Diante de tudo isso, parabenizo a Acipi pelo trabalho em favor dos empresários e consumidores piracicabanos, da livre iniciativa, do desenvolvimento sustentável da economia de sua terra natal, do seu estado e do seu país. As associações comerciais têm a tradição de participar profundamente da vida das nossas cidades, tanto no campo econômico, como nos planos político e social. E com a Acipi não é diferente. A entidade pode contar sempre conosco e com a Facesp (Federação das Associações do Estado de São Paulo), pois juntos somos mais fortes. Rogério Amato Amato, presidente da Associação Comercial de São Paulo e da Facesp. 12 Apresentação Acipi grandiosa Ao mesmo tempo em que foi prazeroso, escrever a história dos 80 anos da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi) foi uma experiência enriquecedora, um mergulho apaixonante no passado de Piracicaba na busca por memórias, fatos e ações de gerações que deixaram um legado de ensinamentos, valores, tradições e costumes. Este livro é resultado de vigorosas pesquisas em atas e documentos, livros, jornais, entrevistas com pesquisadores, historiadores, economistas, professores, presidentes e ex-presidentes da Acipi. Enfim, uma somatória de importantes e ricas informações - muitas delas colhidas para a produção do livro dos 75 anos da entidade - que me permitiram traçar não somente a trajetória da associação, como também a do comércio e da indústria a partir da fundação de Piracicaba, uma cidade que nasceu com o DNA do empreendedorismo, que teve em sua história personalidades de grande dimensão visionária que fizeram dela um importante município. Entre elas, homens que cruzaram o oceano em busca de uma nova vida, que escolheram para viver “o lugar onde o peixe para” (significado indígena de Piracicaba). Aqui, transformaram a coragem, o conhecimento e a esperança que traziam na bagagem em prósperos negócios que passaram a compor a paisagem da cidade. Os imigrantes impulsionaram o desenvolvimento de Piracicaba. O comércio crescia e as indústrias também. Empresários sentiram a necessidade de se organizar para formar uma entidade que representasse a classe. Nasce, então, a Acipi, que estende os braços para acolher a cidade, defendendo as causas e necessidades de seus moradores, buscando soluções para os problemas. Com o passar do tempo, a entidade foi se tornando uma senhora madura e moderna, arrojada, eu diria, ousada. É assim que ela chega aos 80 anos. Na vanguarda de seu tempo, acompanha as rápidas transformações e se rejuvenesce para atender às demandas que lhe são colocadas pelos associados. 13 A realização deste trabalho foi possível graças à colaboração de muitas pessoas, entidades e empresas. O meu agradecimento a todas. Agradeço especialmente ao presidente Angelo Frias Neto e diretores por terem confiado a mim essa importante tarefa de dimensionar a importância da grandiosa Acipi, que sempre teve à frente homens que fizeram valer seus ideais em defesa dos interesses do comércio e da indústria, com desempenhos relevantes. Homens que fizeram e fazem ecoar as vozes de seus representados, sempre confiantes no futuro. O pulsar forte da veia jornalística, para a qual me rendo diariamente, e a paixão que sinto pela história, tão importante para a compreensão do hoje, compuseram o enredo dessa obra, a qual dedico aos meus pais (in memoriam), aos meus irmãos e ao meu querido filho, Matheus. Angela Furlan, jornalista e graduada em História. 14 Uma história de sucesso 15 Acipi contemporânea A o longo de seus 80 anos, a Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi) transformou-se em uma das mais importantes entidades empresariais do interior do Estado de São Paulo e modelo para outras associações comerciais. A história mostra que respeitando os princípios que nortearam a fundação da entidade, os presidentes imprimiram seus ideais, apostando na eficiência da prestação de serviço e de informações. Com o passar do tempo, a entidade incorporou novos objetivos. Com as exigências da sociedade moderna e as transformações no mercado de trabalho, não bastava defender os interesses e expressar a opinião do empresariado do comércio e da indústria. Era preciso participar, agir, realizar, formar, qualificar, reinventar. “A Acipi tem esse papel, precisa estar atenta ao fato de termos uma sociedade cada vez mais crítica. Vivemos um momento de mudanças em que os clientes exigem mais e as atualizações devem ser constantes”, observa o presidente Angelo Frias Neto, 56 anos, empresário do setor imobiliário, ao falar do perfil arrojado da entidade, sempre atenta às demandas. 16 A Acipi passou por transformações importantes a partir de 2001, quando assume, com mais ênfase, seu papel articulador na sociedade piracicabana, contribuindo com ações para o desenvolvimento da cidade e bem-estar dos moradores. A formação e a atualização profissional passaram a fazer parte dos planos dos presidentes. Vieram os cursos, workshops, congressos e palestras dirigidos a empresários, executivos e funcionários. “Com o mundo globalizado e o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, surge a necessidade de qualificar e preparar para o futuro cada vez mais”, afirma Frias Neto. Assim, a Acipi surpreende com a instalação da Escola de Negócios, inaugurada em 2012 e que coloca a entidade à frente de seu tempo. Angelo Frias Neto, que assumiu a presidência em julho do ano passado, tem o grande desafio de consolidar este e outros projetos ousados. Em parceria com instituições de ensino renomadas, a Acipi oferece cursos que auxiliam na preparação das pessoas para o trabalho. “Educação é a base de tudo. Conhecimento é a maior riqueza do ser humano e das empresas. Ao melhorarmos a capacitação técnica e intelectual mudase a forma com que vemos o mundo. Isso é uma grande necessidade das empresas”, afirma. Para Frias Neto, proprietário da Frias Neto Consultoria Imobiliária, repensar o momento faz parte da filosofia da Acipi. “Não podemos nos acomodar, precisamos buscar sempre algo a mais que trará benefícios para a comunidade. Os seminários, cursos e palestras ajudam a preparar os executivos para planejamentos estratégicos. É necessário sempre pensar na evolução da sociedade. O país está passando por transformações. Apoiamos e precisamos acompanhar”, disse, referindo-se às manifestações populares que tomam conta das ruas das cidades e capitais. Contemporânea, a Acipi atua para dar mais inteligência à área de gestão das empresas, de forma a fomentar o empreendedorismo e a boa administração dos mais diferentes negócios. Os tempos de hoje exigem agilidade e eficiência. A evolução tem como uma das suas principais características a digitalização e as oportunidades proporcionadas pela internet, um poderoso instrumento de marketing e vendas. Por isso, a Acipi trabalha, também, para disponibilização da plataforma web de negócios. 17 Lançado em 2012, o Portal de Negócios permite que as empresas associadas à Acipi veiculem seus serviços na rede social. “A internet tem uma vantagem significativa, que é a expansão do espaço físico, proporcionando maior visibilidade aos produtos”, avalia o presidente. Muitos consumidores têm preferência pela compra digital, mesmo estando ao lado da loja, pela comodidade e conforto desse tipo de compra. “A Acipi trabalha para oferecer essa possibilidade a uma quantidade maior de empresários, que em condições normais teriam uma série de dificuldades para implementação da plataforma web”. Os pequenos e médios associados também contam com o programa ISO em Grupo, pelo qual podem ser certificados pela norma ISO 9001: 2008, referência mundial para atestar a boa gestão de procedimentos de uma determinada empresa. “Muitos fornecedores exigem ISO e, por meio do programa da Acipi, fica mais em conta obter as normas”. Voz ativa A Acipi representa as vozes dos seus quatro mil associados ligados à indústria, ao comércio e aos serviços, mas se consolidou como uma força ativa da sociedade civil organizada do município na busca por melhorias nas mais diferentes áreas. A entidade procura fomentar o desenvolvimento de Piracicaba, que hoje conta com cerca de 385.287 habitantes, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Assim, participa de várias ações que contribuem com o bem-estar da cidade, tornando os cidadãos mais felizes. Campanhas para arrecadar agasalhos, brinquedos, alimentos; para conscientizar sobre o câncer de mama; pela duplicação da rodovia SP-304, que liga Piracicaba a São Pedro; por melhor segurança. “Somos parceiros dos poderes constituídos (Executivo, Legislativo, Judiciário) e da polícia, sempre lutando pela livre iniciativa e ao lado da liberdade de expressão e pela justiça. Trabalhamos para dar uma qualidade de vida melhor às pessoas”, afirma o presidente Frias Neto. A Associação Comercial participou de projetos importantes para a dinâmica da cidade, que fizeram a diferença, como o Cidade Limpa, que disciplina a instalação de placas de publicidade nas fachadas dos estabelecimentos - o que possibilitou a diminuição da poluição visual e o resgate da arquitetura dos prédios comerciais -; do Centro Vivo, de revitalização da área comercial; e da implementação da Zona Azul Digital, que passou a valer no final de 2011 e colocou um ponto final em uma série de reclamações relacionadas à falta de vagas ou ao sistema de pagamento do estacionamento nas áreas centrais. De acordo com Pesquisa de Opinião Pública, realizada pelo Centro Abril 18 Pesquisas, um ano após a instalação dos parquímetros, 75,13% dos usuários mostraram-se satisfeitos com o sistema. Implantada inicialmente na área central, em 2013 a Zona Azul chegou aos bairros: Paulista, Bairro Alto e Vila Rezende. A entidade esteve representada nas discussões e audiências públicas sobre a instalação da Aglomeração Urbana de Piracicaba para o desenvolvimento regional. “A Acipi acaba tendo um papel fomentador de ações para o município. A aglomeração é um embrião de uma futura região metropolitana de Piracicaba”, diz o presidente. O comércio Angelo Frias Neto vê o comércio piracicabano com otimismo. Aos corredores comerciais da área central, como a rua Governador, rua do Rosário, Alferes José Caetano, Benjamin Constant, somam-se novas ruas em regiões como Santa Teresinha, Paulista, Paulicéia, Vila Rezende, avenidas Dois Córregos, Rio das Pedras, Carlos Botelho, Cássio Paschoal Padovani, Sandanha Marinho, Rui Brabosa e praça Takaki. “O comércio está aumentando cada vez mais. Está distribuído pela cidade. Os corredores comerciais se multiplicam, estão se espalhando por toda a extensão de Piracicaba”. 19 Com a correria do dia a dia e escassez de tempo, o consumidor busca facilidades na hora da compra, optando, muitas vezes, pelas lojas que ficam próximas às suas casas, dinamizando o comércio de bairro. “Na aquisição de produtos, esse tipo de vantagem é bastante precioso, o que estimula o desenvolvimento”. Pelo crescimento do setor nas últimas décadas, o presidente não tem dúvidas de que a cidade é um polo comercial regional. “Piracicaba tem esse papel de liderança na região e isso acaba encontrando eco na questão comercial. A cidade recebe pessoas das mais diferentes cidades localizadas nas proximidades. Por isso os trabalhos de atualização precisam ser constantes, a fim de reforçar essa vocação para o comércio e o empreendedorismo que a população piracicabana carrega consigo”. Gestão Angelo Frias Neto assumiu a Acipi em solenidade realizada no dia 12 de julho de 2012 para uma gestão de três anos. Com o lema “Acipi lado a lado com você”, Frias Neto quer estar mais perto dos empresários e atender aos seus anseios. Tem como meta aumentar em 20% o número de associados da Acipi e quer desenvolver parcerias com as associações comerciais das cidades que integram o Aglomerado Urbano de Piracicaba, para o fortalecimento do comércio e das indústrias, garantindo novos serviços aos associados e ações para o crescimento dos empresários locais, com maior facilidade de acesso ao conhecimento que a entidade vem buscando com a Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp). Frias Neto quer, junto aos demais presidentes, elaborar uma agenda que reflita os municípios e contribua para o desenvolvimento econômico, social e ambiental da região. A Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano destaca que a Aglomeração Urbana de Piracicaba ocupa território de 6.998,15 quilômetros quadrados. Abrange 22 municípios de uma das regiões mais desenvolvidas do Estado de São Paulo. São cerca de 1,4 milhão de habitantes. A aglomeração é polarizada por Piracicaba e, secundariamente, por Limeira, Rio Claro e Araras, que possuem manchas urbanas interligadas pelas rodovias Anhanguera, Bandeirantes e Washington Luiz. É constituída pelos municípios de Águas de São Pedro, Analândia, Araras, Capivari, Charqueada, Conchal, Cordeirópolis, Corumbataí, Elias Fausto, Ipeúna, Iracemápolis, Leme, Limeira, Mombuca, Piracicaba, Rafard, Rio Claro, Rio das Pedras, Saltinho, Santa Gertrudes, Santa Maria da Serra e São Pedro. Piracicaba, sede dessa unidade, polariza diretamente os municípios de 20 Rio das Pedras, Saltinho, Águas de São Pedro, São Pedro, Charqueada, Iracemápolis, Rafard, Mombuca e Capivari, com os quais tem ligação funcional direta e um significativo processo de conurbação. Além disso, mantém intensos fluxos econômicos e de pessoas com Limeira, Rio Claro e Araras, cidades de porte médio na mesma unidade regional, Americana, Santa Barbara D’Oeste e Campinas, na Região Metropolitana de Campinas, Tietê e Sorocaba e, numa abrangência macrorregional, com as próprias Regiões Metropolitanas de São Paulo e da Baixada Santista. A localização desse agrupamento, por suas características ambientais com a presença relevante de recursos hídricos estratégicos - e econômicas - impulsionadas pelo transporte hidroviário em expansão e investimentos no sistema viário e na área social -, demanda planejamento integrado e ações conjuntas para um desenvolvimento econômico e social equilibrado. Campanhas promocionais A moderna gestão Frias Neto conjuga com ênfase o verbo interagir. Em abril de 2013, o presidente anunciou o novo modelo de campanhas promocionais, desenvolvidas nas principais datas comemorativas do comércio, como Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia dos Pais e Dia das Crianças: os concursos culturais. O objetivo é a interação com a população. “Queremos marcar as datas comemorativas envolvendo as empresas associadas e a população com foco no entretenimento e na criatividade. Gestos que manifestam o apreço e a troca de presentes são também formas de declarar a importância do outro em nossa vida”, dizia Frias Neto. Duas datas foram incluídas no calendário de comemorações da Acipi: Mês do Associado, em julho, e Dia do Cliente, em setembro. O primeiro concurso cultural foi o Dia das Mães. O tema “Sua mãe bem na foto” incentivava os filhos a fotografar suas mães, de forma a destacar as suas qualidades. No Dia dos Namorados, os participantes responderam a frase: “O meu amor por você vale...”, com até 10 palavras. No Dia dos Pais, os filhos fotografaram os seus pais inspirados no tema: “Esse cara é meu pai!”. No mês de outubro, as crianças de até 10 anos desenharam e pintaram o tema “O mundo ideal para se viver”. Os ganhadores dos concursos foram escolhidos por comissões integradas por profissionais da área de comunicação e marketing, fotógrafos, educadores e empresários. 21 Comemoração Os 80 anos da Acipi foram comemorados com programação especial, que teve início em abril, com o lançamento do carimbo postal e o selo personalizado, alusivos à data, e se estendeu até dezembro com homenagens, jantar festivo e lançamento do livro comemorativo. Em solenidade no dia 10 de abril, na sede da associação, o presidente Angelo Frias Neto deu início às comemorações com o lançamento das peças confeccionadas pelos Correios. O empresário realizou as primeiras obliterações – ato de carimbação. “Para a nossa entidade, trata-se de um dia muito especial e escolhemos o selo e o carimbo para perpetuar esta efeméride. Por meio dessas marcas, os 80 anos da associação serão divulgados por todo o país e o mundo”, disse o presidente. O selo foi utilizado nas correspondências oficiais da Acipi e o carimbo, durante o período de 10 de abril a 9 de maio de 2013, foi impresso pelos Correios nas postagens enviadas para o Brasil e exterior. O carimbo traz, no centro, o logo comemorativo, alusivo aos 80 anos da associação, e os anos 1933 - 2013. Em cima está a sigla ACIPI e, embaixo, a inscrição Correios - Piracicaba - SP - 10.04 a 09.05.2013. O selo personalizado é composto por duas partes: na primeira, a bandeira nacional, tremulando ao vento, compõe o plano secundário e emoldura o mapa do Brasil, preenchido pelas flores do ipê amarelo, árvore símbolo nacional. Na segunda parte, a peça apresenta o logo comemorativo dos 80 anos da associação. 22 Aplausos à Acipi No dia 10 de julho, cerca de 180 convidados participaram da solenidade que marcou as oito décadas de fundação da Acipi. O presidente Angelo Frias Neto prestou homenagem especial aos ex-presidentes, destacando a importância do trabalho realizado em suas gestões. Francisco Munhoz, 102 anos, que presidiu a associação de 1953 a 1955, participou da reunião solene e recebeu, de Frias Neto, um troféu. O público aplaudiu em pé. Na ocasião, a Acipi recebeu Moção de Aplausos de autoria do vereador André Bandeira e homenagens das entidades parceiras: Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Sindicato do Comércio Varejista de Piracicaba (Sincomércio). “Estar à frente da Acipi no ano em que a entidade completa o seu 80 o. aniversário é um desafio, o qual pode ser mensurado pelo impacto da associação ao longo das suas oito décadas de atuação nas questões importantes para o desenvolvimento da classe empresarial, da economia e da geração de empregos na cidade”. Durante a cerimônia, os convidados assistiram, por Frias Neto meio de link, ao pronunciamento do deputado federal recebe Moção Antonio Carlos de Mendes Thame, em homenagem à de Aplauso entidade, na Câmara dos Deputados, em Brasília. “Deixo do vereador aqui registrado nos anais desta Casa, André Bandeira os quais, via de regra fazem o importante papel de ‘arquivo nacional’, parabéns pelo trabalho de todos da Acipi nessa comemoração de 80 anos de história”. Mendes Thame lembrou que a associação foi fundada em 9 de julho de 1933, quatro anos após a grande depressão de 1929. “Nesse cenário desfavorável, nasceu a Associação Comercial e Industrial de Piracicaba, sob a égide da inovação e do enfrentamento das dificuldades, conceitos que nortearam as atividades da Acipi até hoje. Inovação significa criar algo que rompa ou supere os padrões anteriores. Quando há este rompimento, aliado à persistência e trabalho inteligente, desenvolve-se o 23 poder de mudar a vidas das pessoas. E foi isso que aconteceu na cidade e região a partir de uma atuação séria, crédula e com estratégias bem definidas, descortinando oportunidades e sabendo aproveitar o que temos de melhor em nossa região. Foi com o olhar sempre à frente que se consolidou esta instituição. Por isso é enorme a nossa alegria ao celebrar oito décadas de concretos avanços.” Homenagem na Câmara de Vereadores de Piracicaba 24 Homenagem de Vladir Passini, do Sincomércio Antonio Pedro Carvalho, da CDL, entrega placa alusiva aos 80 anos 25 Frias Neto e Roberto Morais na Assembleia Legislativa OUTRA HOMENAGEM - A Acipi foi homenageada também no Palácio 9 de Julho, sede da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em sessão solene prestigiada por diversas autoridades, entre elas o prefeito Gabriel Ferrato. A iniciativa foi do deputado Roberto Morais (PPS). O parlamentar destacou que a Acipi é parceira de Piracicaba. “A Acipi mantém uma proposta de contribuição com a cidade, que é motivo de orgulho aos piracicabanos”. Angelo Frias Neto falou sobre a honraria. “Estendemos nossos agradecimentos ao presidente da Assembleia Legislativa, deputado Samuel Moreira (PSDB) e, por meio dessa solenidade, reforçamos o nosso papel de entidade representante de classe, ao mesmo tempo em que mostramos nossa sinergia com o Poder Público, na busca pelo desenvolvimento e crescimento dos nossos segmentos e de nossa cidade”. Agradeceu ainda aos presidentes, diretores, membros do conselho, equipe executiva e aos piracicabanos, que “nos enobrecem pelo seu caráter receptivo e empreendedor”. “Estar à frente da entidade, em 2013, ano do seu aniversário simbólico mais importante, 26 até aqui, é mesmo um desafio que exige força e determinação, características que são essenciais para um empreendedor, a classe a qual representamos”, disse. O prefeito Gabriel Ferrato elogiou a participação da entidade no debate político e nas ações de melhorias para a cidade. “Foi na Acipi que começaram a surgir os primeiros debates sobre o Aglomerado Urbano de Piracicaba. A entidade debate questões da cidade, ajuda a formular preposições. É um importante espaço democrático, que ao mesmo tempo consegue se diversificar e acompanhar o mundo moderno. A entidade chega aos 80 anos moderna, dinâmica e ágil”. O presidente do Legislativo, João Manoel dos Santos, ressaltou a atuação social da associação empresarial e o vicepresidente da Região Administrativa (RA7), Jorge Aversa Jr., representando a Federação das Associações do Estado de São Paulo, enfatizou o importante papel da entidade no desenvolvimento do município. No dia 6 de agosto, foi a vez da Câmara de Vereadores de Piracicaba congratular-se com a associação, fazendo a entrega do Diploma de Mérito ao presidente Angelo Frias Neto e ao vice Fernando José Nardotto Kroll. A iniciativa foi do vereador Pedro Cruz (PSDB). “A associação é uma entidade que representa muito bem a cidade em nível estadual e federal. Tem participado muito das decisões e feito parte do desenvolvimento do município”, disse. Definiu a Acipi como sinônimo de credibilidade e inovação, referência regional, estadual e nacional. Frias Neto agradeceu e se referiu à Câmara como “parceira de discussões de temas importantes e dos problemas da cidade, na busca pelo bem-estar comum e o desenvolvimento da comunidade”. O empresário destacou que, ao longo desses anos, a Acipi cresceu e se solidificou, sempre em transformação e inovando. O secretário municipal de Trabalho e Renda, Sérgio Furtuoso, que é membro da associação há 18 anos, ressaltou a importância da Acipi ao observar que nela discutem-se os valores éticos e morais em benefício de todos. Durante a sessão solene na Câmara, a Associação Comercial e Industrial de Piracicaba foi homenageada também pela Unimed. Em nome de todos os médicos cooperados, o presidente Carlos Alberto Joussef entregou uma placa alusiva aos 80 anos ao presidente Frias Neto. Em outubro, durante a entrega do prêmio Empreendetec, edição 2013, na Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), às empresas que se destacaram na consolidação de empreendimentos de inovação e tecnologia em Piracicaba e região, a EsalqTec homenageou a Acipi pelos 80 anos com uma placa comemorativa. 27 Jantar comemorativo O jantar festivo em celebração aos 80 anos da Acipi ocorreu no dia 28 de setembro, no Clube de Campo, onde membros da Diretoria Executiva e do Conselho Consultivo receberam associados, autoridades e convidados. Na ocasião, o presidente Angelo Frias Neto falou sobre a data: “A Acipi nasceu em ambiente e momento propícios à defesa da livre iniciativa, liberdade de expressão e luta voluntária pelo ideal da liberdade de empreender. É a partir dessa expectativa que empenhamos nossos esforços no incentivo ao empreendedorismo e, nos últimos 80 anos, colhemos frutos de ações dos principais protagonistas de nossa história”. Naquela noite de festa, o livro comemorativo, que narra a história da entidade, foi apresentado ao público. 28 ACIPI EM NÚMEROS 4.000 associados comércio, indústria e prestação de serviço 2.400 comércio 400 indústrias 1.200 prestação de serviços 25 diretores 27 conselheiros 03 conselhos da Mulher Empresária, do Jovem Empresário e de Ex-presidentes 26 presidentes ao longo nos 80 anos 03 parcerias Unimep, ESPM e Boa Vista Serviços 01 regional, localizada no distrito de Santa Teresinha 29 Diretoria Executiva da Acipi Angelo Frias Neto Paulo Roberto Checoli Fernando José Nardotto Kroll Antonio José Miotto Irandir Cardinalli Doracy Piva Davanzo Antonio Carlos Schievano Ramon Rodrigues Vidal Netto José Antonio de Godoy Aldano Benetton Filho Eliana Caneva Aguileira Waldomiro Scarpari Maurício Benato Luiz Carlos Furtuoso Luís Guilherme Schnor Lourenço Jorge Tayar Flávio Henrique Salles Camargo Orlando José Berto Marcelo Delfini Cançado Luis Francisco Schievano Bonassi Dairo Bicudo Piai Luiz Andreello Filho Luiz Carlos Calil Sérgio Luiz Bazzanelli Sueli Lopes Garcia Presidente 1° Vice Presidente 2° Vice Presidente 3° Vice Presidente 1° Secretário 2ª Secretária 1° Diretor Financeiro 2° Diretor Financeiro Diretor Administrativo Diretor de Relações Públicas Diretora de Eventos Diretor de Patrimônio Diretor de Promoções Diretor de Gestão de Crédito e Conselho Diretor da Escola de Negócios Diretor de Gestão de Negócios Diretor de T.I. Diretor Cultural Diretor de Convênios Diretor Jurídico Diretor Adjunto Diretor Adjunto Diretor Adjunto Diretor Adjunto Diretora Adjunto 30 Conselho Consultivo Jorge Aversa Junior Euclides Baraldi Libardi Nelson Roberto Quartarolo Adenir José Graciani Adilson Sartori Anselmo Borges da Silva Filho Carlos Eduardo Guidotti César Lásaro Ferreira Costa Cezário de Campos Ferrari Cláudio Luiz Monte Bello Cláudio Roberto Zambello Flávio Luis Cópoli Gabriel de Oliveira Duarte Giácomo de Mattos Inforzato João Carlos Antonio Rodrigues Joaquim Mario Pires Ferreira José Cione Filho José Maria Saes Rosa José Rosário Losso Neto Mario Dresselt Dedini Moacir José Lordello Beltrame Pedro Isamu Mizutani Pedro Luiz da Cruz Reinaldo Lopes Belardin Roberto Guerino Roncato Sônia Luzia Gonsalves Vera Lúcia de Almeida Pizzinatto Presidente do Conselho Vice-Presidente Secretário do Conselho Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheiro Conselheira Conselheira Rodrigo Mario dos Santos Coordenador do CJE – Conselho do Jovem Empresário Coordenadora do CME – Conselho da Mulher Empresária Damaris Verderame 31 Funcionários da Acipi Adenise de Oliveira Rosa Adolfo João Sartini Libardi Adriana Fernandes da Silva Adriana Renata Rocha Ibanez Ailton Sabino de Camargo Antonio Marcos da Silveira Bruno Bianchim Martim Caiquy Wellington Santos de Souza Carla Melina Forti de Oliveira Caroline Cerignori Negri Cleusa Faganello Caputo Daiane Cristina Caldana Daniele Correa de Godoy Edirlei Carlos Rosa Elisete de Fatima Sterzeck de Melo Flavia Provenzano Coleta Buzatto Hellen Silva dos Vales João Visentim da Silva Jonattan Felipe Morais Cação José Reinaldo Bistaco Joselaine Aparecida de Oliveira Juliana de Fátima Lopes Barrios Juliana Macário Ferraz Silva Juliane Cardelli Gomes Leandro Bettiol Leila Aparecida dos Santos Leite Letícia de Assis Moraes Lucas Lopes Magioli Luciana Gimenez Margarete Batista de Lima Patrícia de Oliveira Jarra Rafael Salmazzi Rodrigo Ribeiro Marioto Salen Nascimento Silva Samuel Oliveira Cardoso Sandra de Castro Queiroz Cruz Sergio Antonio Fortuoso Simone de Souza Camargo Talita de Oliveira Fortuoso Tatiane dos Santos Fonseca Vanessa Brugnaro Barbosa Vânia da Silva Porta Viviane Aparecida Ciriaco de Camargo Washington José Pereira Marciano 32 O início 33 Ponto de partida A história na qual a Acipi está inserida há 80 anos teve início quando Piracicaba era um simples povoado, uma parada do lado direito do rio, que se encontrou com o desenvolvimento ao vencer as águas, instalando-se do outro lado, no alto da colina. De lá para cá, cruzaram essa história homens que atuaram de forma decisiva para o progresso da cidade, entre eles Luiz de Queiroz, que instalou a primeira fábrica de tecidos na cidade, e Estevão Ribeiro Souza, o Barão de Serra Negra, um dos fundadores do Engenho Central. E também os Krähenbühl, Diehl, Dedini, Martini, D’Abronzo, Chaddad, Cury, Salum, Maluf, Morganti, Almeida, Müller, Becker, Carmignani, Botene, Gobin e tantos outros imigrantes ou descendentes deles que, atuando no comércio e nas indústrias, inovaram e ajudaram a fazer de Piracicaba um dos municípios mais progressistas do Brasil. 34 De simples parada a centro urbano A história do centro urbano de Piracicaba começa no período colonial, quando o povoado é transferido para o lado esquerdo do rio e sobe a colina para avizinhar-se da fronteira agrícola que avançava naquela direção nos últimos anos do século XVIII. O projeto de fabricação de canoas, utilizando as árvores que existiam ao longo do Piracicaba, que desde a fundação oficial da cidade (1767) gerava riquezas e dava retaguarda para o Forte Iguatemi, na fronteira do Paraguai, havia sucumbido. As primeiras ruas começaram a ser delineadas em 1784. O terreno que o capitão-povoador Antônio Corrêa Barbosa havia adquirido da sesmaria de Felipe Cardoso, para torná-lo rocio da freguesia, ficava entre o rio Piracicaba e o ribeirão Itapeva. Segundo o historiador Guilherme Vitti, do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP), estudos mostram que nele foram demarcados o pátio para a construção da matriz, duas ruas e duas travessas, nas quais os habitantes ergueriam suas moradas. O primeiro arruamento, propriamente dito, esboçado em 1808, consistia em ruas, pátio da igreja e praça destinada para cadeia. O simples desenho já revelava a preocupação com o sítio urbano. Eram cinco ruas e cinco travessas que terminavam em terrenos que circundavam a área, mas apenas uma delas chegava até o rio: a estrada do Picadão do Mato Grosso (hoje rua Moraes Barros), também conhecida como Caminho do Oeste. Por ele era feito o escoamento da produção da região - chá, café, algodão, açúcar e milho – no final do século XVIII e início do século XIX. A carga era levada em carroções de boi e lombo de animais até Itu e Porto Feliz e, de lá, para São Paulo e Santos. A terra roxa e fértil era um atrativo para os agricultores e proprietários de engenhos. Iniciou-se a cultura da cana-de-açúcar e do chá e, por volta de 1850, chega o café. Surgiram as grandes fazendas. Em 1816, a Freguesia de Piracicaba (desde 1774) somava dois mil habitantes, 18 engenhos, sendo 14 de açúcar, quatro de aguardente e muitas terras cultivadas. Em 1822, Piracicaba era elevada à categoria Vila, sendo denominada de Vila Nova da Constituição. Deu-se também a eleição da primeira Câmara de Vereadores. A planta da cidade daquele ano não difere do projeto pioneiro, de 1808, com exceção feita a detalhes, como prédios, objetos e símbolos. Com a colaboração do projetista Menotti Lucchesi, no bicentenário de Piracicaba, o historiador Guilherme Vitti montou uma maquete na qual se identificam a matriz, o pelourinho - símbolo da independência administrativa -, a rua, que mais tarde viria a ser rua do Commercio (João Pessoa e atual Governador Pedro de Toledo), e as fazendas das sesmarias ao redor. 35 Vila Nova crescia, empurrando as propriedades para mais longe. Os números da economia, referentes a 1837, revelam um lugarejo em pleno desenvolvimento, com uma produção de 115.600 arrobas de açúcar e 17.078 canadas (antiga unidade de medida de capacidade de líquidos equivalente a quatro quartilhos, ou seja, 2.622 litros – Aurélio - p. 331) de aguardente, além de café, arroz, feijão, milho, fumo, algodão, porcos e gado. O excedente era exportado para outras localidades. A elite da Vila Nova da Constituição era formada pelo Juiz Municipal, Promotor, Juiz de Paz, pelo Juiz de Órfãos, por 155 jurados, um advogado, um tabelião, um escrivão, um vigário, um coletor, 93 comerciantes e 395 pessoas que sabiam ler e escrever (Manual de História Piracicabana, 1966). Em 1843, o lugar já contava com o prédio da Câmara Municipal. Em consequência do crescimento da Vila, foram elaboradas algumas leis para disciplinar a convivência dos moradores. “O trânsito das tropas e boiadas pelas ruas principais teve de ser regulamentado, ninguém podia falar palavrões em voz alta em lugares públicos e particulares, os proprietários de prédios eram obrigados a limpar e consertar as frentes nas ruas e os negociantes que falseassem os pesos eram penalizados com multas que variavam de 6 a 12 mil réis, perda dos gêneros ou prisão de oito dias”, segundo Guilherme Vitti. A população, diz o historiador, divertia-se frequentando quermesses e assistindo a apresentações de teatro em um rancho construído ao lado do sobradão da Câmara, que abrigava também a Guarda Civil e a cadeia. Em um coreto, localizado próximo ao salto, a banda de música animava senhoras e cavalheiros ao cair da tarde. No início de 1883, a Gazeta cobrava dos vereadores a colocação de bancos e a arborização do local. Nessa época, o jornal anunciava a realização de “corrida” de touros em Itu, Capivari e Piracicaba: “Os emprezarios tem a honra de apresentar ao ilustrado publico de Piracicaba, uma boiada escolhida ao capricho na fazenda do exmo. Sr. Visconde do Pinhal, tendo contratado os muitos conhecidos artistas que tantos applausos receberão nesta cidade”. Vapores transportavam mercadorias Desde o começo, a povoação era frequentada pelos sertanejos que chegavam pelo rio. Vinham de Paranaíba, Botucatu, Jaú e Lençóis e traziam seus gêneros. O historiador Guilherme Vitti ressalta que, na verdade, o comércio da povoação, quando ainda situava-se à margem direita, foi favorecido indiretamente com o desenvolvimento de Porto Feliz no rio Tietê, ponto de passageiros e cargas para a capitania de Mato Grosso. O transporte fluvial era alternativa à má situação das estradas. Pelo caminho das águas 36 O Picadão do Mato Grosso A rua Moraes Barros, a mais antiga de Piracicaba, já foi chamada de “Ladeira do Picadão” por ter constituído o caminho terrestre para um centro de mineração localizado em Cuiabá (Mato Grosso). Esse caminho também atravessava os sertões dos rios Tietê e Capivari e foi idealizado por Rodrigo de Menezes, que, em 1721, chegou ao Estado do Brasil para governar a capitania de São Paulo. Sua incumbência era a abertura de caminhos coloniais. O caminho foi completado em 1724 e colaborou para que o porto do Piracicaba se tornasse essencial para o transporte, abastecimento de comboios, hospedagem e todo tipo de assistência aos viajantes. (Marly Therezinha Germano Perecin revista do IHGP - ano III, nº 3, 1994) 37 escoavam também a cana e o açúcar dos engenhos. Todos os dias, os moradores ouviam o silvar alegre das “macchinas” no rio. Chegavam mercadorias e passageiros. Em janeiro de 1886, por exemplo, a Gazeta de Piracicaba anunciava “o animado movimento de cinco vapores, os quais quatro chegaram de Lençóis...”. Em 1873, criou-se a Companhia de Navegação Fluvial, que fazia o trânsito de passageiros e mercadorias pelas águas do Piracicaba. A cidade foi a segunda do Brasil a ter navegação oficializada pelo governo. Uma outra notícia importante foi a chegada do vaporzinho “Explorador”, com o objetivo de regularizar o transporte que era interrompido na época de seca. Deu-se o início à navegação comercial pelo rio Piracicaba. Sob protesto, a navegabilidade foi interrompida no início do século XX, retomada mais tarde, para acabar de vez na década de 50. Em 1877, o impulso ao desenvolvimento social e econômico da região chegava pelos trilhos da Companhia Ituana de Estrada de Ferro. No dia 20 de fevereiro daquele ano, a cidade parou para acompanhar a chegada da primeira locomotiva, que marcou a inauguração da estação instalada onde hoje fica a Escola Estadual Dr. Alfredo Cardoso, no Bairro Alto. Em janeiro de 1885, a estação foi transferida para a avenida Armando de Salles Oliveira. Em 1922, acontecia a inauguração da Estação da Companhia Paulista, “ligando Piracicaba aos caminhos do comércio”. A professora Eliana Terci, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), e a pesquisadora colaboradora do Departamento de História da Unicamp, Maria Beatriz Bilac, afirmam que a Ituana já era considerada ultrapassada para os padrões modernos alcançados pela cidade, que reclamava da má administração, atrasos constantes e greves dos funcionários da Cia. Ituana. 38 ATUALIDADE O Porto de Piracicaba Para incrementar a logística do transporte das riquezas piracicabanas está O porto do Rio Piracicaba, sendo implementado o estabelecido ao pé do salto, era projeto de ampliação da referência geográfica nos anos de navegabilidade da hidrovia 1723, especialmente para os Tietê/Paraná, que inclui a entradistas vindos de Itu, que se construção da barragem de utilizavam dos caminhos fluviais dos Santa Maria e o redesenho do rios Tietê e Paraná. trecho navegável do rio Marly Therezinha Perecin, no texto Piracicaba, atualmente restrito “Boca de Sertão: o Porto, a Paragem, a embarcações de pequeno a Sesmaria, a Povoação (1723porte. O consórcio contratado 1767)” (Revista do IHGP - ano III, nº pelo Departamento Hidroviá3, 1994), afirma que o porto era rio do Estado de São Paulo “considerado um marco nas rotas de para construir a barragem de penetração aos Morros de Araraquara Santa Maria da Serra iniciou (São Pedro) onde a tradição em 2012 os estudos geológicos bandeirante dizia existir ouro”. na área a ser inundada. A construção da barragem e do porto de Ártemis está orçada em mais de R$ 400 milhões. A barragem deve ter um desnível de 13,5 metros. O Departamento Hidroviário calcula que a extensão da navegação deverá triplicar o volume de cargas que passam pela hidrovia, dos atuais sete milhões de toneladas para 21 milhões de toneladas ao ano. A construção da barragem de Santa Maria da Serra, sonho antigo da região, vai ampliar a navegação da hidrovia Tietê-Paraná em 55 Km até o distrito de Ártemis. 39 Movimento do comércio atesta o progresso Vinte e quatro de abril de 1856. Piracicaba é elevada à categoria de cidade por lei provincial. Não houve festa nem fogos. Dois anos depois, foi criada a Comarca. Até 1877, a cidade denominava-se Constituição, o que não agradava a população. Por iniciativa de Prudente de Moraes, então vereador, é restituído o nome – Piracicaba, que na língua indígena significa lugar onde o peixe para. Desta vez, o povo comemorou. A nova cidade tinha nove mil habitantes, sendo cinco mil escravos, e 1.600 casas. No município (zonas rural e urbana) somavam 22 mil pessoas. “A preocupação central da edilidade residia na comercialização da produção local com outras localidades, através de construção e melhorias de estradas, da vinda de estrada de ferro e melhoria dos transportes fluviais”. (Marly Therezinha Germano Perecin - Revista do IHGP). Após visita em 1860, o Barão Tschudi, ministro suíço, ressaltou a importância da cidade como entreposto, principalmente do sal, que vindo de Santos era distribuído por todas as fazendas e vilas do interior do Estado e muito usado para a salga dos peixes, apanhados por profissionais da pesca nos rios Tietê e Piracicaba. O ministro citou ainda uma fábrica de cal, perto da embocadura do Corumbataí, como única indústria, quatro grandes fazendas de cana, 29 de café, seis de chá e quatro de criar. Consta da descrição a localização do cemitério no centro da cidade, na atual praça Tibiriçá, as péssimas condições do teatro, a largura das ruas, a simetria das praças, a solidez e beleza de algumas casas, estranhando, contudo, que a população se servisse de água do rio (Guilherme Vitti – Manual de História Piracicabana). A água era transportada do rio Piracicaba em carroças para ser vendida aos moradores, situação regularizada em 1887. A cidade comemorou com baile a inauguração do serviço de abastecimento de água. A praça foi tomada pelos moradores que viram, pela primeira vez, a água jorrar a uma altura de 12 metros no chafariz em frente à matriz. Desde 1883 o lixo era recolhido regularmente por carrocinhas, mesmo aos domingos e dias santos. Em 1893, graças ao pioneirismo de Luiz de Queiroz, a luz fraca dos lampiões alimentados com querosene, implantada em 1874, começava a se apagar de vez com a inauguração oficial da iluminação pública, com 120 lâmpadas sendo acesas. Ele também foi pioneiro ao instalar o telefone na cidade. Em 1898, teve início o serviço de esgoto. Ainda nos anos 80 e 90, surgiam as entidades representativas dos imigrantes italianos, espanhóis, portugueses e árabes. Artigo publicado na Gazeta de Piracicaba, em 20 de outubro de 1882, 40 Piracicaba comemorou a inauguração do chafariz na praça central fazia referência ao progresso local: “Marchamos progressivamente, não há duvida, e isto attesta-o o movimento de nosso commercio, os emprehendimentos postos em pratica ultimamente, e constante entrada de pessoas de fora, que vêm engrossar nossas fileiras”. Piracicaba gozava, segundo o mesmo jornal dois meses depois, da denominação de “adiantada”, sendo classificada como “a terceira da província, por seu desenvolvimento constante e animador...” Mas as ruas de terra batida irritavam moradores e visitantes. Na época de seca o pó era tanto que um visitante fluminense escreveu, em 1886: “Piracicaba, como todas as cidades assentes em chão de terra roxa, é de tristonho aspecto, devido isso a cor dominante de roxo-terra, que não só assombra todos os objectos exteriores, mas intromette-se pelas casas, pelos moveis, dando-lhes a nuance terrena que tão desagradavelmente impressiona os forasteiros visitantes” (Gazeta de Piracicaba – 22/5). No ano seguinte, as ruas começaram a receber pedregulhos. Ares de província Nos anos 80, do século XIX, a dobradinha cana-café impulsionava o desenvolvimento de Piracicaba, que aos poucos perdia o jeitão de boca do 41 Club sertão para ganhar ares de núcleo urbano. O número Piracicabano, de residências aumentava, a praça da matriz recebia lugar de ajardinamento, a cidade ganhava um coreto e era feito encontro o primeiro calçamento da cidade, na rua da Quitanda, da elite (hoje, 15 de Novembro). A elite passava a contar com o Club Piracicabano, que deu origem ao fidalgo Coronel Barbosa, e as novidades tecnológicas ficavam por conta da instalação de 21 telefones públicos na cidade. As casas e ruas começaram a ser identificadas com placas. Os nomes eram ligados ao cotidiano: da Praia (Rua do Porto), do Sabão (Antonio Correa Barbosa), da Palma (rua Tiradentes), da Matriz (rua Boa Morte), das Flores (13 de Maio), da Quitanda (15 de Novembro) e da Estrada para Mato Grosso (Moraes Barros). As lojas se concentravam principalmente na rua Commercio (hoje, a Governador Pedro de Toledo), que no século XX foi símbolo de status ao abrigar o comércio mais elegante de Piracicaba. Na antiga rua ficavam, entre outras, a Loja do Sol, com seus “preços moderados” - anunciada como o estabelecimento mais antigo da cidade -; À Porta Larga, sempre com “explendorosas novidades”; Casa do Gottlob, com “preços commodos”; Casas do Eugenio Rozo, que desejava “vender muito, porem só a dinheiro”; e outras, como Dois Martelos, Duas Ancoras, Alfaiate a Tesoura D’Ouro, a Thezoura Sem Rival e a Casa Krähenbühl, que, no final do século XIX, anunciava o atendimento da clientela por “operarios habilissimos”. A oficina construía carros, troles e carroças. Na Loja dos Lavradores, à rua do Commercio, esquina com a rua da 42 43 Quitanda (15 de Novembro), encontravam-se chapéus, miudezas de armarinhos e calçados. A poucos quarteirões dali, na rua dos Pescadores (Prudente de Moraes), no Largo São Benedito, ficava a Loja da Gaiola, que, contrário do que possa sugerir o nome, vendia “casemiros de cores, chitas, lãns, colchas de malha, toalhas felpudas, flanellas, sabonetes em barra, chinellos charlot e brinquedos para crianças”. Na rua Direita (Moraes Barros) ficava Ao Rei dos Barateiros, que dominava a praça no final do século XIX e início do século XX, mantendo o estoque de fazendas, louças, ferramentas, calçados continuamente renovados, e na rua dos Pescadores, a Loja do Carlos, de Carlos Aguiar, já falava em pechincha dos preços. Na alfaiataria Ao Chic Piracicabano, de Manoel dos Santos, no Largo do Jardim, os fregueses podiam ter as últimas novidades em tecidos importados trazidos do Rio de Janeiro e até comprar coroas para finados. O anúncio, no Almanaque de 1900, lista os produtos, revelando o que ditava a moda: “... casemirois inglezas de varias côres, diagonaes francezes e inglezes, tudo de pura lã, (o que há de chic); córtes de fustão para colletes, puro linho, (mimosos padrões); explendido sortimento de brins de linho e algodão; infinidade de camisas de linho, brancas e de cores: ditas de meias; suspensórios para homens, punhos e collarinhos de linho; lenços de seda, brancos e de côres; magnífico sortimento de chapéus pretos e de cores, para homens; gravatas de plaston, regatas, laços, etc. Sortimento completo de chapéus de palha para senhoras e meninas, enfeitados a gosto do freguês; corôas para finados e para anjos, grinaldas para noivas, fitas roxas, lettras douradas para dísticos em coroas...” A padaria Nova América, de Jacob Bruner Filho, satisfazia o paladar dos consumidores com biscoitos para chá, roscas de ovo e manteiga. Os fregueses tinham a comodidade de receber os produtos em casa, por meio dos quatro carrinhos que Bruner Filho mantinha circulando pela cidade. A padaria vendia ainda velas, especiarias e açúcar refinado. Para acabar com as “violentas” dores de ouvido ou de dentes nada melhor do que as “Gottas verdes”, que integravam a lista dos “Preparados Chaves”, na Pharmacia Central, à rua Direita (rua Moraes Barros), próximo ao Jardim. O “Xarope peitoral” era recomendado como “calmante e expecctorante de proveito incontestavel nas tosses simples, bronchites agudas e chronicas, rouquidão, accessos asthmaticos etc.” e o “Collyrio amarello” era soberano “na cura de ophtalmia ou conjunctivite catarrhal (vulgarmente dor d’olhos)”. As mulheres interessadas em branquear o rosto e extinguir espinhas e sardas encontravam a solução na “Água de Beleza” vendida no Salão Commercial, à rua Direita. O movimento comercial e industrial, em 1885, era bastante ativo com 44 23 lojas de fazendas, calçados e armarinhos, 170 armazéns de secos e molhados, cinco restaurantes e botequins, sete açougues, duas tipografias, uma confeitaria, três padarias, seis farmácias, uma refinadora de açúcar, oito sapatarias, três lojas de couros e arreios, uma chapelaria, cinco fábricas de cerveja, três fábricas de torrar café e descascar arroz, uma fábrica de tecido, um engenho central e uma fábrica de louça de barro. (Almanaque de 1900). A imprensa cobrava a instalação de um gabinete de leitura, a reconstrução do edifício da cadeia, o conserto do chafariz no córrego Itapeva, à rua Direita, e as construções de um matadouro em local apropriado e de um mercado municipal. Até então, os comerciantes contavam com “as casinhas” construídas em 1858, destinadas à venda da produção agrícola. “Em relação ao mercado, os beneficios que lhe advêm augmentando sem dúvida a importação, em vista da facilidade e ordem estabelecidas para a venda das mercadorias, demonstrando a differença no movimento commercial”. (Gazeta de Piracicaba - 22 de setembro de 1882). Os produtores efetuavam a venda de seus gêneros na praça, não oferecendo aos compradores a vantagem da estabilidade de preços, que resultaria o mercado. “Aquelles que trazem as producções de sua lavoura para a cidade, estacionam em quartos situados em diversos pontos, effectuam ahi as vendas que podem, e outros sahem pelas ruas offerecendo os gêneros de casa em casa, vendendo-os pelo maior preço que na occasião alcançam”. O mercado era tido como um símbolo de progresso de uma localidade, um termômetro das atividades comerciais. “O mercado é expressão viva e característica do movimento da industria e do commercio, e, portanto, um dos elementos de progresso material e moral das cidades populosas em que a concorrência de nossas habilidades faz augmentar de dia em dia”. (Gazeta 12/08/1882). Apenas quatro anos depois, em janeiro de 1886, a Câmara de Vereadores se sensibilizava e aprovava a construção do Mercado Municipal, inaugurado em julho de 1888. No início do século XX, todos os produtos originários de sítios eram levados para o Mercado Municipal para vistoria e liberação, antes de serem comercializados. A determinação constava em lei e o aval para as vendas valia apenas para um dia. A única exceção era para os gêneros produzidos destinados à exportação, que poderiam ser entregues diretamente na estação de trens (Memorial de Piracicaba – julho/2002). A administração do Mercado publicava na imprensa a tabela de preço dos produtos comercializados. 45 Transporte da carne verde “...acham-se desde 1º de outubro trabalhando com perfeita regularidade, dois auto-caminhões “Federal” com capacidade de transporte para 2 a 2 ½ toneladas, montados com carrosserias apropriadas para 12 a 15 rezes, toda forrada com chapa de ferro galvanisado. O pessoal necessario ao serviço é diminuto: além do chauffeur, cada vehiculo tem um carregador, vestido de capa impermeável, gastando-se apenas duas horas para a carga e descarga de carne a ser distrubuida aos 32 açougues da cidade.” (Jornal de Piracicaba 11/01/1930) Antes dos veículos, o transporte de carne verde em Piracicaba era feito por meio de grandes carroções, puxados por quatro a seis animais, conforme exigiam as condições de conservação da estrada, já que o Matadouro ficava a dois quilômetros do perímetro urbano. A distribuição era morosa e a parte higiênica deixava muito a desejar. 46 Caminhão de transporte de massas Farmácia Coração de Maria 47 Mercado Municipal, inaugurado em julho de 1888 Mercado é pura história Por muita insistência, o vereador Manoel de Moraes Barros conseguiu fazer com que a Câmara Municipal aprovasse indicação para “a construção de um Mercado Público em que se reúnam, com vantagem recíproca, todos os vendedores e os compradores de gêneros alimentícios”. A localização inicial seria o chamado Largo do Gavião (praça da Pinacoteca), mas a necessidade de desapropriar e aterrar o terreno de propriedade particular aumentaria o custo da obra. Optou-se, então, pela área localizada na rua do Commercio (Governador Pedro de Toledo) com a rua Esperança (Dom Pedro I). O responsável pela construção do prédio foi o engenheiro Miguel Asmussen, que o entregou pronto em março de 1887, mas o Mercado só poderia ser aberto ao público após a regulamentação ser aprovada pela Assembleia Provincial. Em maio, Prudente de Moraes apresentou à Câmara o regulamento e a inauguração deu-se em 5 de julho de 1888, sem solenidade. Para o coordenador do Banco de Dados Socioeconômicos da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), Francisco Constantino Crocomo, a organização da comercialização de hortifrutigranjeiros em Piracicaba começa a ser delimitada historicamente na fundação do Mercado. Entende-se por 48 organização a concentração e arrumação disciplinada dos produtos, em local estratégico, não espalhado pela cidade. Até então, aponta o professor, as principais vias da cidade - rua da Palma (Tiradentes) e rua dos Pescadores (Prudente de Moraes) - eram as preferidas dos sitiantes, que levavam suas mercadorias nos lombos dos burros para comercialização. Havia também transações de porta em porta, uma espécie de mascateação, considerado um sistema primitivo, sem estabilidade dos preços. Os problemas constatados na época eram a falta de higiene na manipulação dos produtos, monopólio de alguns produtores e fluxo de comerciantes que causava transtornos à circulação nas ruas. O Mercado passou a funcionar como centralizador das atividades de abastecimento e comercialização. As feiras livres, apesar de regulamentadas em 1923, só começaram a funcionar em 1957, o que fez do Mercado essencial no varejo, por anos seguidos. As vendas no atacado - que abasteciam as próprias feiras e quitandas da cidade - só deixaram de ser feitas no local em 1974, quando a Prefeitura montou um entreposto municipal em Santa Teresinha (bairro localizado a cerca de oito quilômetros do Centro) para minorar o movimento intenso de caminhões da praça em frente ao Mercado. Em 1982, o poder público local implantou sistema de varejões e, três anos após, foi criado o Ceasa (Centro de Abastecimento S/A), que por muito tempo se ressentiu da atividade de atravessadores que continuavam comercializando produtos em frente ao Mercado. “Com o crescente movimento comercial, o Largo do Mercado se tornou um atraente entreposto de mercadorias de primeira necessidade, facilitando a presença de intermediários que exploravam os produtores sob a desculpa de que permitiam que eles se livrassem das mercadorias bem cedo e voltassem aos seus penates, para continuar sua jornada de trabalho”, salienta Maria Thereza Miguel Peres, professora de Economia da Faculdade de Gestão e Negócios da Unimep. Ela observa que os animais que circulavam livremente pela cidade incomodavam mesmo no final dos anos 50 e que na área do Mercado havia estrume por toda parte. ATUALIDADE O Mercado Municipal de Piracicaba é considerado referência histórica por ser um dos mais antigos do Estado de São Paulo. O prédio do Mercadão, como é chamado, foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba (Codepac), em 1987, como Patrimônio Cultural. Alguns dos boxes são, há décadas, administrados pelas mesmas famílias, passados de 49 geração para geração. Lá, o tradicional e o moderno se harmonizam. O Mercadão, que completou em julho 125 anos, vem sofrendo uma série de intervenções que tem garantido a ampliação e a modernização para atender à exigência dos clientes. São 152 boxes, 62 permissionários que oferecem verduras, frutas, massas, doces, condimentos, carnes, peixes e frios, material de pesca, utensílios, flores, artesanato, entre outros produtos. Além de produtos de boa qualidade, no Mercadão pode-se saborear um bom café, acompanhado de pão de queijo, salgados, pastéis. O funcionamento é de segunda a sextafeira, das 6 às 17h30, aos sábados, das 6 às 13 horas, e aos domingos, das 6 às 12 horas. O mercado está localizado na praça Alfredo Cardoso, à rua Governador Pedro de Toledo, 1.336. A dinâmica do comércio Piracicaba chega ao século XX como berço das principais figuras republicanas do país, entre elas o primeiro presidente civil, Prudente de Moraes, o senador Moraes Barros e o administrador público Paulo de Moraes Barros. Com a abolição da escravatura (1888) e a Proclamação da República (1889), a cidade passa por um processo de modernização intenso, resultando na diversificação e crescimento das atividades comerciais. Os republicanos disciplinam o espaço urbano, instituindo o passeio público. Até então caminhavam pelas ruas os escravos que vendiam quitutes, aqueles que haviam fugido e ficavam vadiando de um lado para outro, e pessoas pobres. A República inaugura a cidade moderna. A rua não deveria ser mais um lugar de aglomeração e de vendas, e sim de passagem, um cartão de visita. A ordem era modernizar. “Tornar o Brasil moderno significava romper com o atraso, a doença, a epidemia, a vadiagem, a ignorância, as tradições, enfim, adotar os modos de vida e costumes europeus”, observa a professora Eliana Terci. A concepção do novo é colocada em Piracicaba pelos Moraes Barros, que passam a nortear ações disciplinadoras e saneadoras. As consequências dessa onda modernizante, segundo Eliana, podiam ser evidenciadas na alteração total da paisagem urbana, principalmente nos grandes centros. Casarões foram demolidos, população pobre e mendigos foram expulsos das ruas e das praças centrais. “A mendicância nas ruas estava estreitamente relacionada ao processo de formação do mercado de trabalho e à urbanização crescente que atraía a população pobre para as cidades em busca de melhores oportunidades” (Piracicaba – De Centro Policultor a Centro Canavieiro – 1930-1950). Convulsionada pelas novas ideias, Piracicaba vai se tornando polo de atração. A partir de 1915, o centro urbano já tinha dinâmica própria, 50 Luto pela morte do presidente O comércio de Piracicaba não abriu as portas no dia 3 de dezembro de 1902. A cidade amanheceu de luto pela morte de Prudente de Moraes Barros, primeiro presidente civil da República. Prudente faleceu a uma hora da madrugada e a notícia se espalhou rapidamente. As bandeiras foram hasteadas a meio pau nas Sociedades e em muitas casas comerciais. As ruas ficaram vazias. Uma multidão se aglomerava em frente ao casarão da Santo Antonio (hoje Museu Histórico), onde Prudente residia. O Jornal de Piracicaba descreveu: “Só via aqui, ali, grupos de homens que lastimavam o fato”. Milhares de pessoas acompanharam o cortejo até a Matriz e dali para o cemitério da Saudade, debaixo de muita chuva. Uma semana depois, a cidade parou novamente para homenagear a memória do ex-presidente. Representantes de várias entidades de Piracicaba e região, Senado da Câmara e do Tribunal de Justiça, prefeitos, estudantes, comerciantes, industriais, advogados e outros profissionais participaram do cortejo que saiu da matriz em direção ao jazigo da família Moraes Barros. “Todos os estabelecimentos nas ruas por onde passou a romaria tinham as portas cerradas e os postes electricos, de lampadas accesas, estavam envoltos em crepes” – descreveu a Gazeta de Piracicaba. No dia 19 de janeiro de 1903, Piracicaba participa de um novo cortejo. Desta vez, a homenagem é para o senador Moraes Barros, irmão de Prudente que havia falecido um mês antes. Além da romaria ao cemitério da Saudade, houve missa e sessão cívica. 51 com prestações de serviços e de lazer implementadas pelos imigrantes que não se adaptavam na lavoura e se incorporaram à vida urbana, dando novo impulso ao comércio com barbearias, confeitarias, farmácias, restaurantes, marcenarias, carpintarias, tabacarias, bares e padarias. A cidade ganha ar cosmopolita. A força dos imigrantes Os imigrantes imprimiram suas marcas no comércio e indústria de Piracicaba, introduzindo novos hábitos, costumes e padrões alimentares. Na bagagem, eles traziam otimismo e o jeito europeu de fazer as coisas. Eles atuaram em vários ramos de atividades. Os judeus, no comércio de móveis e tapeçarias; os italianos, nas mercearias, pastifícios e panificadoras, mas também no comércio de ferragens e comércio de aguardente; enquanto os portugueses e os espanhóis, segundo texto do memorista Waldemar Iglesias Fernandes, comercializavam frutas, hortaliças, ovos e frangos. “Notáveis os ibéricos, precedendo dos japoneses, só chegados ao Brasil em 1908. Eles penderam muito para as lavanderias, enquanto os chineses foram para as pastelarias e restaurantes”, observa Fernandes. Os sírios libaneses dedicavam-se ao comércio de tecidos e armarinhos, “constituindose, nos anos 30 e 40, na grande força da rua do Commercio”. Os alemães, de acordo com o texto “Rua do Commercio” (Tribuna Piracicabana 5/7/1978), de João Chiarini, comercializavam da rua 15 de Novembro para o Mercado. Lá ficavam Mutschelle (selaria), Wolghemut (chapelaria e relojoaria) e Müller (ferragens), mas publicidades da época apontavam a presença de alemães e franceses também no ramo de padarias e confeitarias. A primeira referência sobre a chegada dos alemães em Piracicaba é de 1853, com os médicos Hermann Kupper e Hermann Melchet. Mais tarde, os Stipp se fixaram na povoação, abrindo uma venda em 1885. Vieram ainda os Vollet, Ritter, Diehl, Fischer, Schmidt, Graner, Krähenbühl, entre outros. Chegaram também os suíços franceses (Martin, Gobeth e Gerdes), os italianos, espanhóis, portugueses, judeus, sírios e libaneses, turcos, japoneses. A partir de 1888, as notícias sobre a imigração eram mais frequentes. Em fevereiro daquele ano, a imprensa anunciava a chegada de quatro famílias de italianos, compostas por 18 pessoas. Até aquele mês, Piracicaba tinha recebido 1.600 imigrantes (Gazeta de Piracicaba). Faltavam braços para o trabalho na lavoura. “Precisa-se de trabalhadores na fazenda de café do coronel Carlos Botelho”, dizia o anúncio. Criou-se a hospedaria italiana especializada em atender imigrantes, já que muitas fazendas não tinham casas de colonos. 52 Em 1889, a cidade já contava com farmácias, confeitarias, relojoarias, cafés, alfaiatarias, fábricas de calçados, chapelaria, oficina de serralheiro, linguiçaria, fábrica de sabão, fábrica de massa que anunciava a venda a quilo ou em caixa -, fábricas de cerveja. E também máquinas de beneficiar arroz, torrar café e secadora de grãos. Os estabelecimentos misturavam-se às residências, aos hotéis, restaurantes e bares, principalmente nas ruas do Commercio (Governador), da Direita (Moraes Barros), dos Pescadores (Prudente de Moraes), da Constituição (Alferes José Caetano), da Palma (Tiradentes), Largo do Theatro, Largo da Matriz e Largo de S. Benedito. Crescia o número de armazéns de secos e molhados, nos quais a população encontrava alimentação, tecidos, produtos agrícolas e pequenas ferramentas. Os estabelecimentos vendiam produtos variados, a exemplo da Á Napolitana, de Geraldo Lopes dos Santos, onde se comercializava “musicas, instrumentos, brinquedos, livros, tintas, armas de fogo e papel”. A padaria Francesa anunciava uma novidade: a venda de “batatinhas brotadas para plantação”. DOCES CASEIROS - Jacques Wolf abriu em sua casa à rua dos Pescadores, um negócio de venda de doces caseiros: “Doces para chá, sobremesa em caldas, fructas crystalizadas para presentes, assados, e as afamadas empadas de galinha e camarões” -, conforme anúncio na Gazeta de Piracicaba, em 16 de janeiro de 1889. A casa de Wolf tinha o perfil das rotisserias de hoje e recebia encomendas para festas. “Aceita-se encommendas para soirées, baptisados e casamentos”. “Preparam-se assados de toda a qualidade, com asseio e promptidão”. O proprietário observava que no preparo dos doces não substituía “os ovos pelo carbonato de ammoniaco”. Um ano depois, Wolf abriu um restaurante em sua casa. Recebia pensionistas e enviava comida a casas particulares, fazendo o serviço de pronta entrega, como atualmente. Negócio próspero. No mesmo ano, inaugurou uma confeitaria no Largo do Theatro. Ele era o único “depositário” da cerveja Antarctica na cidade. 53 Entre as lojas de tecidos e armarinhos, destacavam-se no período de 1887 a 1899: A Loja do Sol, da Gaiola, do Veado, da Lealdade, Au Bom Marché, Empório das Novidades, dos Lavradores e do Moraes, Casa de Modas Elegantes, do Barateiro, Notre Dame e A Porta Larga - a única que resistiu ao tempo, cruzou o século. Foi fechada em 2006. A partir de 1884, os comerciantes começaram a anunciar pelo jornal a venda somente à vista e cobravam os devedores, a exemplo de Candido da Cunha Nepomuceno, que publicou na Gazeta de Piracicaba: “O abaixoassinado, proprietário do Chalet Victorio, roga a todos os senhores que lhe são devedores o obséquio de mandarem quanto antes saldar suas contas, pelo que desde já agradece”. Quatro anos depois, Francisco Arieta é mais enfático ao cobrar a freguesia. Com o título “Liquidação forçada”, a nota dizia: “O abaixo assinado pede aos seus devedores para Piracicaba: virem saldar sua conta no praso de 30 dias, integralmente, e avisa-os que no final d’esse tempo, contra os que não o attenderem ver-se-á obrigado a proceder judicialmente, suspendendo desde já as contas, vendas a praso, sem excepção de pessoa alguma”. As liquidações eram feitas por 30 dias. No final dos anos 90, algumas lojas liquidaram o estoque para fechar o estabelecimento. Motivos: problemas de saúde, entrega do imóvel ao proprietário ou por que o comerciante estava deixando a cidade, como Leopoldo Lagreca, que viajaria para a Itália. A Casa da Lealdade associou o pavor e o pânico pelo fim do mundo na virada do século com uma liquidação, em 1898: “Visite a Loja da Lealdade e encontrareis a verdade”. Na porta, mantinha uma bandeira vermelha. No ano seguinte, em outro anúncio, comunicava: “A Loja da Lealdade tendo que se acabar, como tudo, na rua 15 de Novembro, resolveu fazê-lo antes do fim”. OUTROS SETORES – Em 1894, a Casa Comercial de Cruzeiro do Sul oferecia uma série de serviços à população, como compra e venda de imóveis, móveis, fazendas, sítios e fazia cobranças “amigáveis”. No setor empresarial estavam estabelecidos: Fábrica de Chapéus, de Henrique Wolghemut (rua 13 de Maio); Moderna Serraria Santa Rita, de Mendes & Comp. (rua da Glória esquina com a Ypiranga); Fábrica de Fogos de Artifícios, de Gaspare Greco (rua 15 de Novembro); Fábrica de Confeti Nacionais (rua do Commercio, 111); Fábrica de Malas, de Luiz Bion, (rua da Glória); Fábrica de Carros e Oficina Mecânica, de João Krähenbühl & Irmão (rua do Commercio, 103); Fábrica de Massas, de João Dati (rua Prudente de Moraes); Granja, Salles & Comp; Serra a Vapor, de Jacob e Bento Diehl; Fábrica de Gelo; Fábrica de Moveis a Vapor, de Bertholdo Graner (rua Prudente de Moraes); La Saison 54 Wolghemut (chapelaria), na antiga rua do Commercio (oficina de costura); Oficina de Marceneiros e Carpinteiros, de Claes & Com. (rua da Palma, esquina com a São José); Olaria Espanhola, na Rua do Porto. A partir de 1895 surgem novos profissionais: pedreiro, carpinteiro, serralheiro, tintureiro e ferreiro. E são observados os anúncios de advogados, cobradores, casas de empréstimos, comissários, fotógrafos, dentistas, médicos, engenheiros civis, agrimensor, pessoas se oferecendo para vender o imóvel de outro (corretores) e professores de música e piano. Essas eram as características da sociedade piracicabana depois de um século de existência. Comerciantes criam a guarda-noturna Desde o século 19, os comerciantes preocupavam-se com a segurança. Tanto que, em fevereiro de 1900, segundo o historiador Noedi Monteiro, organizaram a guarda noturna para vigiar as ruas centrais da cidade. Manoel Gonçalves Lima, Pedro de Camargo (As Duas Ancoras), João Batista de Camargo (A Porta Larga - 1887), Domingos A. de Carvalho, Pinto de Almeida (Loja do Sol -1851), e João de Brito & Filhos, comerciantes da Rua do Commercio, transformavam-se em vigilantes, fazendo revezamento à noite. Ainda de acordo com o historiador, em 1938, surge o Corpo de Vigilantes Noturnos de Piracicaba, transformado em Guarda Municipal em janeiro de 1969. 55 O bonde e os chapéus Artigo publicado no Jornal de Piracicaba em 9 de fevereiro de 1916, escrito por uma mulher de iniciais LGW, aponta o chapéu como um artigo de luxo e critica o não uso nos bondes e na cidade. Seguem alguns trechos: “Ora, nós não vamos a qualquer das cidades mais adeantadas do Brasil, que logo não nos salte agradavelmente a vista o uso do chapéu entre senhoras e senhoritas de todas as edades, até entre as meninas que ainda são botões de flores. No próprio cinema encontramos o attestado vivo indiscutível, das cidades mais cultas do mundo inteiro: é o chapeu a servir de remate e complemento indispensável de todo o seu próprio quadro. Não se trata apenas de um artifício fantasia e esquipatico. O chapéu numa senhora bem vestida é do bom tom, em passeio, é necessario como a moldura para um quadro como um capital para uma columna. (...) Entretanto, não sei porque minhas companheiras da elite picacicabana crearam tamanha ogerisa contra o chapéu feminil! Será por economia? O argumento traria desde logo a nota cômica do ridículo. (...). Em que é que vão augmentar a despeza de um anno mais 3 ou 4 chapéus? (Está claro que incluo até chapeus para meninas) Em que?....Não compensamos taes despezas com a administração da cozinha, da roupa, da dispenza? Não compensamos poupando diariamente aquillo que um homem não seria capaz de fazer? Bem se vê que não me refiro a um chapeu qualquer, isto é, a uma congene de extravagâncias amontoadas, mas a chapeu moderno, elegante, discreto e cujas cores e combinações não afugentem o espirito de seriedade que se exige, não só em chapeu, mas em tudo mais. Porque só em Piracicaba seremos japonezas? Ora, no Japão, si as mulheres não fazem uso do chapeu, os homens também não o fazem: os hábitos lá são outros. Se a tivessemos de imitar... os banhos públicos diriam o resto. Não somos japonezas, felizmente, por isso que repugna que só Piracicaba, cidade que vive a fazer praça do seu adeantamento, repilla a instauração de um habito moderníssimo, hygienico, indispensável para belleza da cútis, necessario para a vista do clima em que vivemos, muitíssimo elegante, quando mais não seja, revelador ao menos de bom gosto e de educação. O luxo, disse Guilherme Ferraro, não é prova de decadência moral, ao contrario - é uma das manifestações vivas de progresso. Onde já se viu progresso sem embellezamento?” 56 57 Porta Larga A Portalarga foi uma das lojas que venceu o tempo como protagonista do desenvolvimento do comércio local, consolidando-se como uma das principais lojas de Departamentos de Piracicaba até 2006, quando suas portas foram fechadas. O nome Porta Larga (original) surgiu em fevereiro de 1884, quando Eduardo de Paula Carvalho abriu uma sapataria na rua do Commercio (Governador) canto com a rua Direita (Moraes Barros). O anúncio na Gazeta referia-se à loja como Lê Grand Pschuttisme. O proprietário trazia as últimas novidades das melhores lojas da Corte: calçados e também armarinho, chapéus de sol e “lindíssimos artigos da moda”. Em 10 de fevereiro de 1886, a mensagem era para os foliões: “Brevemente chegará um grande sortimento de roupas, máscaras, bisnagas e muitos outros objectos próprios para o carnaval. Em roupas vem o que foi encontrado na Corte de mais chic e que se alugará por preços os mais razoáveis possíveis. O proprietário desta casa avisa, portanto, a rapaziada do bom gosto que espere o sortimento que mandar vir, afim de então munir-se da roupa e mais objectos que possa precisar para os folguedos do pandego Deus Momo.” No final de 1887, Carvalho promove uma grande liquidação na loja. Durante vários dias, anúncios de meia página na Gazeta convidavam o público a aproveitar os preços baixos. No mesmo ano, José Basílio (ou Baptista) de Camargo compra loja e participa seus fregueses que estava mudando seu depósito de secos para o prédio onde ficava a Porta Larga. O anúncio na imprensa comunicava: “Abriu-se o grande deposito de seccos e molhados, por atacado e a varejo. Exposição completa de vinhos, cervejas, licores, conservas, doces, kerozene, sal, assucar, carne secca, presunto, salame, banha e formicida”. Em 1895, a loja passa por reforma e o proprietário começa, também, a vender ferragens e em 1921, quando foi comprada por Phelippe Zaidan Maluf, com a ajuda de Elias Zaidan, Jorge e Hide Maluf, era uma loja de tecido. O novo proprietário, ao longo dos anos, inova o setor, expande o estabelecimento e, com o tempo, a A Porta Larga tornou-se o mais tradicional e elegante magazine de Piracicaba. Em 2006, encerrou as suas atividades, deixando saudades a muitas famílias piracicabanas. 58 A Porta Larga surgiu em fevereiro de 1884 e encerrou as atividades em 2006 59 Mascates encurtavam distâncias Sem experiência para lidar com a terra, os sírios e libaneses vieram para Piracicaba com o firme propósito de se dedicar aos negócios. Estimularam o comércio com as vendas de mercadorias nas ruas, sítios e fazendas. Com a atividade de mascate, encurtaram distância entre as zonas urbana e rural, facilitando a vida de quem morava longe da cidade. Levavam informações, cultura, cartas e até o pão do café da manhã. A história é contada pelo presidente honorário da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa, Elias Salum. “Os mascates entregavam as cartas de amor dos namorados, que moravam em bairros diferentes e tinham hábito de acertar casamento”, relembra. Quando criança, ele acompanhava o pai, Issa Salum, que percorria os sítios vendendo mercadorias. O dia começava muito cedo, por volta das 4 horas. Com a carroça carregada de mercadorias, Issa seguia em direção aos bairros Boa Vista, Bela Vista, Batistada, Taquaral e outros. A viagem era demorada, cerca de três horas. No lento andar da carroça, o pai de Elias aproveitava para lhe ensinar filosofia, orações e idioma árabes. Orientava-o a ser independente e criativo. Os filhos acompanhavam os pais para anotar na caderneta as compras, uma vez que eles não sabiam ler nem escrever. Além de ser “correio sentimental” dos apaixonados dos sítios, o pai de Elias Salum ainda oferecia a casa na cidade para as festas de casamento, de batismo e de crisma dos filhos dos fregueses, e até para se recuperarem de alguma cirurgia, que era realizada na Santa Casa. “Minha casa era o prolongamento da casa deles”, conta. Desta forma, mantinha a fidelidade dos consumidores. Os mascates faziam a troca de mercadorias, como meias e tecidos por galinhas e outros produtos, e levavam para a zona rural o saldo não vendido dos estoques das lojas. “A carroça ia e voltava lotada”, conta Salum. Seu pai comprava frangos, ovos, cabritos, cabras, galinhas e, na cidade, vendia tudo para Fernando Gutierrez, que, por sua vez, revendia para comerciantes de São Paulo. CHEGADA – O primeiro grupo de libaneses chegou a Piracicaba em 1880. No início do século XX, em uma casa na rua 13 de Maio, é instalada a Sociedade Síria para amparar os novos patrícios que viriam. “Era um lugar onde eles podiam dizer: estamos na nossa casa”, comenta Elias. Mais tarde, a entidade foi transformada em Sociedade Sírio-Libanesa, com sede, hoje, na rua Governador Pedro de Toledo. 60 Em 1919, depois da Grande Guerra, chegavam outros árabes, entusiasmados por virem morar na cidade do primeiro presidente civil da República, Prudente de Moraes. Em 1938, Piracicaba recebeu novo grupo. Os sírios e os libaneses concentravam-se próximo ao Grupo Escolar Moraes Barros. As lojas ficavam nas ruas do Rosário, 13 de Maio, Alferes José Caetano, percurso dos ônibus que vinham da zona rural. A saída e chegada eram no Largo São Benedito. Eles esperavam os sitiantes descerem dos ônibus e os convenciam a entrar em suas lojas. Quando o trajeto dos ônibus foi transferido para a rua Governador Pedro de Toledo, eles acompanharam e se instalaram ao longo daquela rua, com o comércio de armarinhos e tecidos na Loja Central, Casa da Paz, Casa da Liberdade, Casa da Confiança, Casa Vermelha, Casa Espéria, Estrela do Oriente, Loja Ingleza, Loja da Lua. “Na década de 20, cerca de 60% das lojas eram de árabes”, estima Elias Salum, que escreveu a história da Sociedade e de homens como Zaiden, Jumha, Cury, Hamot, Primeiros Nassin, Salum e tantos outros que participaram diretores da do desenvolvimento do comércio de Piracicaba. Sociedade Sírio-Libanesa Fonte: Almanaque 2000 61 Krähenbühl inovou o transporte O sonho de consumo das damas e dos cavalheiros da elite da então Vila Nova da Constituição, pelos anos de 1870, era possuir uma das carroças fabricadas pela família Krähenbühl numa oficina localizada na antiga rua do Commercio (Governador Pedro de Toledo), onde também funcionava um comércio de ferragens, a Casa Krähenbühl. Os veículos movidos a tração animal eram conhecidos pela elegância, leveza, estabilidade e segurança, item essencial, já que eram comuns as derrapagens nas pedras e atolamentos na lama. Carroças e carros de praça, por exemplo, tinham lanternas a carbureto, com capotas e assentos forrados com couro russo. Conhecida como a mais antiga oficina mecânica do Estado, a empresa foi responsável pelos troles, charretes, jardineiras (ônibus puxados por animais), carros fúnebres e carroções para o comércio e a lavoura. Representou, ainda, uma importante opção de trabalho, criando mão de obra especializada, especialmente quando se tornou fábrica. Com a Primeira Guerra Mundial, a dependência externa acabou diminuindo e o produto tornou-se totalmente nacional. A empresa já estava modernamente dividida em setores: serralheria, estufa para maturação da madeira, seção mecânica, ferraria, fundição para ferro e bronze, carpintaria, marcenaria e pintura, e tinha à frente Peter Krähenbühl. A família teria sido a primeira de origem suíça a morar na cidade, aportando no Brasil em 1854 para fugir das más condições de vida da terra natal e estimulada pelos movimentos de imigração. Peter atravessou a serra de Santos e cortou a Província de São Paulo no lombo de um burro para chegar à região. Veio para trabalhar na lavoura, para dedicar-se à agricultura, mas ficou decepcionado com o primitivismo da Vila. Também imigraram seus irmãos Samuel, Christian e Nicolaus, que acabaram se mudando para a região de Campinas. O mais novo, Ulrich, permaneceu na Suíça. Em Piracicaba, Peter comprou uma área nas proximidades do riacho Itapeva e fundou uma pequena oficina de fundição e serralheria, que viria a dar origem à fábrica de troles Krähenbühl. Tornou-se amigo de Luiz de Queiroz, com quem discutia ideias abolicionistas. Em 1882, os filhos mais velhos de Peter, Frederico e João, compraram parte da oficina, passando a administrá-la. Deram um novo impulso aos negócios, tornando os veículos de tração animal Krähenbühl famosos também fora do país. Peter faleceu em 1887, aos 63 anos. Os trolleys conquistaram medalhas de ouro em exposições europeias 62 Trabalhadores em frente à oficina Krähenbühl nas cidades de Roma, Turim e outras, bem como numa exposição realizada no Rio de Janeiro. “Atravessaram fronteiras e levaram o nome de Piracicaba para além-mar”. (Nizze Krähenbühl Ferraz de Moraes - Jornal de Piracicaba de 11/4/1970). Em 1993, João vendeu a sua parte da oficina para o irmão. ATUALIDADE A Krahenbuhl dos tempos modernos não só aboliu os tremas do sobrenome da família, mas soube sobreviver aos altos e baixos da economia, modificando seu ramo de atuação. Hoje, a Krahenbuhl S/A Comércio e Importação dedica-se à distribuição de produtos para manutenção industrial, atendendo especialmente empresas do setor sucroalcooleiro. Está instalada na rua Santa Cruz, próxima ao Teatro Municipal Dr. Losso Netto. Na administração, membros da quinta geração da família. 63 Em cena, os veículos motorizados Trens, bondes, eletricidade, água encanada, telefones, automóvel. Piracicaba do início do século XX oferecia conforto aos seus moradores. O barulho dos motores é incorporado à rotina da cidade a partir de 1910, quando os carros já circulavam pela cidade, segundo a historiadora Marly Therezinha Perecin. Em 1913, como observa, podiam ser vistas marcas como Rambler, Landaulet, Soower, Jackson, Ford e Motobloc. Em 1916, a Gazeta de Piracicaba chamava atenção para “o perigo dos autos”, noticiando um “abalroamento” entre dois veículos no cruzamento das ruas Moraes Barros e Glória. “Ao desviar o carro, para evitar o grande encontro que seria violento dado á marcha dos dois carros, bateu em um poste telefonico. Nenhum dos choufeurs fez uso da corneta de aviso”. Os moradores podiam alugar carros nas chamadas “garages” para viajar. A Garage Esperança anunciava a redução de preço das viagens de automóveis de Piracicaba para Limeira e Rio Claro, e a Piracicabana oferecia a linha autojardineira com 12 lugares, diariamente, entre Limeira e Piracicaba. Victorio Faganello oferecia viagens até Rio Claro. No início do século XX, famílias abastadas já exibiam seus carros 64 Ford, a primeira agência de veículos em Piracicaba Em 1920, a Ford realizou uma excursão de 8 horas e 40 minutos de São Paulo a Piracicaba, passando por Barueri, Pirapora, Itu, Porto Feliz, Boituva, Cerquilho e Tietê. Garages, como a Müller (rua do Commercio) e a Brasil, de Esmeraldo Müller & Cia, anunciavam nos jornais a venda e o aluguel de automóveis. Em 20 de outubro de 1921, Piracicaba passa a contar com a primeira agência de veículos: a Ford Piracicaba, de Loprete & Müller, aberta com autorização da Ford Motor Company. Em 1927, Esmeraldo Müller era proprietário da agência Chevrolet. A cidade, em 1928, tinha 647 veículos circulando pelas ruas ao lado dos troles e outros carros de tração animal. Um salto para o final dos anos 30 e década de 40. Surgem os pontos de automóveis, que atendiam a qualquer hora do dia e da noite. Os números, em 1948, indicavam 561 automóveis, 638 caminhões, 531 carroças, três ônibus e seis motocicletas (Memorial de Piracicaba - setembro/2002). Nos anos 50, Piracicaba já contava com as concessionárias Ford, de Gerolamo Ometto; Chevrolet, da família Petrocelli; GMC, de Luciano Guidotti; e Agência Dodge, de Antonio Schavinatto. Nas ruas rodavam o Dodge, Fago, Jaguar e o imponente Buick. Em 1959, no final do governo de Juscelino Kubitschek, a Volkswagen lança o Fusca, que invade as ruas. 65 ATUALIDADE Desde a Ford, primeira agência especializada na venda de carros, em 1921, até os dias atuais, o segmento tem crescido de forma significativa em Piracicaba. O aquecimento do mercado automotivo local pode ser verificado pela quantidade de concessionárias. São 50 estabelecimentos que atuam no comércio a varejo e por atacado de veículos automotores, de acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais. Trabalham na área 1.140 pessoas. Boa parte dessas concessionárias está localizada na avenida Cássio Paschoal Padovani - Stefanini (Fiat), West Motors (GM Chevrolet), Caminho (Ford), Caoa (Hyundai), Aversa (Honda), Nippokar (Toyota), Sansul (Nissan), Le Mans (Citroën), Pirasa (Mercedez Benz). Antes, nesta avenida, ficavam o grupo Pirasa e diversas chácaras. Os terrenos muito largos e fáceis de serem vistos ao longe atraíram as agências. União Vecol (Volkswagen), Marché (Peugeot), Aversa (Kia) e Andreta (Renault) são outras lojas presentes em outros pontos da cidade. Espalhados por Piracicaba há, ainda, estacionamentos que vendem carros usados e seminovos. A cidade conta hoje com uma frota de cerca de 268.223 veículos, incluindo carros, motos, ônibus, caminhões e outros. Os dados são do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo. 66 Voluntários da Revolução Constitucionalista de 1932 O comércio e os conflitos Uma multidão saiu às ruas para se despedir do 1º Batalhão Patriótico que partiu, em trem da Paulista, para a luta contra o governo Getúlio Vargas, na Revolução de 1932. Durante os meses que durou o conflito, a cidade se mobilizou realizando campanhas como “Tostão do Soldado” – em que as mulheres recolhiam auxílio aos soldados constitucionalistas. Piracicaba também aderiu à Cruzada do Ouro, para possibilitar que o governo mantivesse as operações financeiras. Atendendo apelo da Cruz Vermelha, os comerciantes doaram algodão, lenços, meias e suprimentos que foram enviados para o campo de batalha. Comissão de “moças syrias” conseguiu capas impermeáveis para os soldados. No item consumo, algumas medidas atingiram os comerciantes, principalmente os proprietários de padarias que se viram obrigados a fabricar o “Pão de Guerra”, adicionando 10% de fubá à farinha de trigo tipo única e 15% à farinha tipo antigo. Preço máximo comercializado era de 900 réis o quilo do tipo “panhoca” e de 1.300 réis o quilo para o tipo “filão”. Em setembro de 1932, o prefeito Luiz Dias Gonzaga baixou decretos autorizando a fabricação e venda de apenas um tipo de pão, o “pão typo único”, redondo, fabricado com farinha de trigo, fubá e mandioca em três 67 tamanhos: 200, 400 e 1.000 gramas, vendido ao preço de $900 o quilo. A fabricação do pão à tarde era permitida apenas às segundas-feiras. Outra medida proibia a fabricação de macarrão e de qualquer tipo de pão doce e pastelaria em geral, quando manipulados com a farinha de trigo, “ficando os infratctores sujeitos ás penalidades estabelecidas pelos decretos estaduaes que criaram commissão Pão de Guerra”. (Gazeta de Piracicaba, setembro de 1932). A venda da farinha de trigo era autorizada apenas para os depositários do produto com prévia autorização da Prefeitura. A determinação publicada pela administração proibia aumento nos preços dos produtos alimentícios e obrigava os comerciantes de colchões, travesseiros e cama a seguirem tabela de preço máximo. Durante a Primeira Grande Guerra (1914-1918), a preocupação era com o consumo, já que a importação se tornava escassa e com custo muito elevado. Em 1915, a Alemanha era o único país que cumpria os compromissos comerciais com o Brasil. Dois anos depois, era a hipótese de os EUA entrarem na guerra que preocupava. Explica-se: o mercado europeu estava em dificuldades e muitos produtos passaram a ser importados do país americano: carvão de pedra, cimento, trilhos, canos, tubos, papel para impressão, aparelhos para eletricidade, ferramentas, máquinas, locomotivas, medicamentos, gasolina, querosene e outros. Entre 1914 e 1915, por exemplo, o carvão era quase em sua totalidade importado. Dia 7 de agosto de 1924, Piracicaba acordou sem o pão nosso de cada dia, por causa da greve dos padeiros. Eles reivindicavam aumento salarial e outros benefícios, como o cumprimento à lei de férias e pagamento até o dia 10 de cada mês, no máximo. Pararam os aprendizes, ajudantes e mestres de mesa, entregadores, trabalhadores de “machinas” e forneiros. A paralisação terminou no dia 12 de agosto. Em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial (1938-1945), notícia alertava sobre a ameaça de Piracicaba ficar sem pão. Uma comissão de padeiros solicitava providências para a escassez do sal e açúcar, cujas reservas estavam no final. Reduziu-se a cota individual de açúcar à população para 750 gramas. A falta de transportes impossibilitava a vinda de novos suprimentos do Norte. 68 O Ano | 1933 69 9 de Julho O ano transcorre num clima de incerteza e expectativa depois da crise do café que atingiu profundamente o Brasil. O país está sob o comando do governo provisório de Getúlio Vargas, após golpe que derrubou Washington Luís, colocando fim na chamada República Velha, e deixa sua vocação agrária para vislumbrar uma etapa modernizadora voltada para a industrialização e desenvolvimento urbano. São Paulo ainda tem à flor da pele os ideais liberais que mobilizaram 135 mil soldados e voluntários paulistas na Revolução Constitucionalista contra o governo de Vargas e vive a agitação política com a convocação da Assembleia Constituinte, principal causa do levante. No mundo da literatura, o sociólogo Gilberto Freyre provoca críticas com a obra “Casa Grande & Senzala”, que trata da formação cultural e racial do povo brasileiro. Tarsila do Amaral pinta o quadro “Os Operários”, marcando o início da pintura social no Brasil. Na moda, os vestidos justos valorizam as curvas das mulheres que têm como modelo de beleza a atriz Greta Garbo. Nos rádios, as vozes de Francisco Alves, Noel Rosa, Silvio Caldas e Carmem Miranda. Piracicaba conta com cerca de 73 mil habitantes que se divertem no 70 Theatro Santo Estevam e nos dois cinemas, São José e Politeama. É grande a expectativa para a exibição do filme Tarzan, com Johnny Weissmuller, “o homem mais perfeito do mundo”. A cidade cresce. A economia reage bem à depressão de 29. Os produtores se beneficiam do fato de não terem trocado totalmente a cana pelo café, optando pela dupla cultura. O perfil monocultor do município começa a ser delineado. Piracicaba conta com 361 estabelecimentos ligados à área industrial, entre eles as fábricas de açúcar, de aguardente e de calçados, ferrarias, serrarias e carpintarias, na pesquisa da economista e professora Eliana Terci, da Esalq/ USP. No comércio, são 1.211 negócios, destacando-se armazéns de secos e molhados, botequins, barbearias, sapatarias, padarias, açougues e bombas de gasolina. Trabalhadores das indústrias e do comércio movimentam-se na formação de sindicatos e associações. Neste cenário, no dia 9 de julho de 1933, em reunião no Theatro Santo Estevam, na praça 7 de Setembro (hoje praça José Bonifácio), nascia a Associação Commercial de Piracicaba para defender os interesses e expressar a opinião do empresariado do comércio e da indústria. Uma entidade que chega aos 80 anos moderna, arrojada, pontuando o fortalecimento da classe e crescimento da cidade, promovendo a integração de empresas e comunidade e destacando-se pela excelência dos serviços prestados. Theatro Santo Estevam, onde foi fundada a Acipi 71 Nasce a Acipi Cento e seis pessoas atenderam à convocação feita pela imprensa e compareceram ao Theatro Santo Estevam para a reunião que efetivou a fundação da Associação Commercial de Piracicaba, naquela tarde de 9 de julho de 1933. A entidade nascia com fôlego: 230 comerciantes e industriais já estavam inscritos para integrar o quadro de sócios. A assembleia foi presidida pelo comerciante de café Luiz Coury, que expôs a necessidade de organizar a associação com “presteza e segurança”, nos moldes das existentes em outras localidades do estado e do país. Integraram a mesa diretora dos trabalhos Luiz Delfine, Elias Daibes, Henrique Nehring, Luiz Dias Gonzaga e Joaquim Rodrigues de Almeida – membros da comissão responsável pelos preparativos da assembleia. Também fizeram parte, como convidados, Moacyr Amaral Santos e João de Oliveira Bueno, que não integravam a classe, mas colaboraram para a efetivação da meta dos comerciantes e industriais. Foi o advogado Moacyr Amaral Santos, diretor do jornal O Momento, que delineou os objetivos das associações congêneres, justificando o anteprojeto de Estatutos que havia redigido a pedido de alguns membros da comissão. Luiz Coury passou a presidência a Amaral Santos. Este acentuou que se deveria nomear ou eleger uma comissão ou uma diretoria que desse os fundamentos à Associação e que a mesma seria aclamada. Proposta aprovada. A dúvida era sobre o número de integrantes. Após muito debate e sugestões apresentadas por Egydio Stolf, Elias Maluf, Esmeraldo Müller, Luiz Gonzaga de Lima, Atílio Barrilli, Luiz Dias Gonzaga, Henrique Nehring, Elias Daibes, venceu a proposta de nove membros. A reunião foi suspensa por 15 minutos para a definição da diretoria provisória que se encarregaria de traçar os primeiros fundamentos da entidade. Reaberta a sessão, o presidente propôs que prestassem homenagem aos “soldados que tombaram no campo de luta, na revolução constitucionalista, com um minuto de silêncio, permanecendo por espaço de um minuto a assembléia toda de pé, em silencio.” 72 Primeiros diretores da Acipi Em seguida, foram anunciados os nomes dos primeiros dirigentes da Associação Comercial, indicados pela assembleia: Luiz Dias Gonzaga, Luiz Coury, Vicente Rando, Henrique Nehring, Justo Moretti, Luiz Delfini, Elias Maluf, Esmeraldo Müller e Moacyr do Amaral Santos. A diretoria provisória teve prazo de um mês para concluir o trabalho de organização da entidade e eleição da diretoria definitiva pelo voto secreto. VOTAÇÃO – A eleição da diretoria e conselho consultivo da Associação Comercial de Piracicaba aconteceu no dia 30 de julho daquele ano, na sede da Sociedade Beneficente Syria, à rua João Pessoa (Governador Pedro de Toledo). A sessão foi aberta às 14 horas sob a presidência de Terênzio Gallese, com colaboração de Antonio Toledo Godinho (secretário), Joaquim Rodrigues de Almeida, Jorge Daibes e Octavio Amaral Gurgel (mesários). Dois “gabinetes indevassáveis” estavam preparados para o pleito. Foram 92 votantes. Às 18h10, o último votante depositou a cédula na urna. Era Manoel Silveira. 73 Os primeiros diretores Luiz Dias Gonzaga Agricultor, comerciante, exportador de café, primeiro presidente da Associação, reeleito cinco vezes. Foi prefeito de Piracicaba e era uma das maiores forças políticas da região. Terênzio Gallese Possuía a Casa Gallese, de comércio em geral, e também uma das mais destacadas agências bancárias da região, que funcionava na rua Prudente de Moraes. Vice-presidente da primeira diretoria. Luiz Coury Comerciante de café. Por indicação da Associação, integrava o Conselho Consultivo Municipal. Eleito presidente da entidade em 1938. Coronel Manoel Ignácio da Motta Pacheco Era proprietário de uma farmácia na Vila Rezende, foi vereador e figurou no Conselho Consultivo Municipal, representando a Associação. Era tido como um dos homens mais dinâmicos e influentes da época. André Ferraz Sampaio Teve efetiva participação na Associação, ocupando o cargo de presidente de 1939 a 1940. Teve destacada influência na política. Foi vereador. 74 Luiz Gonzaga de Lima Comerciante, proprietário de uma loja de tecidos na rua do Commercio (Governador Pedro de Toledo). Foi vereador e atuou como secretário em várias gestões. Ermelindo Del Nero Proprietário de um depósito de bebidas, situado à rua Boa Morte. Foi presidente da Associação no período de 1940 a 1944. Elias Daibes Comerciante, proprietário da Casa Daibes, que trabalhava com secos e molhados. Seu armazém ficava na rua do Commercio. Participou ativamente da fundação da Associação, atuando como tesoureiro. Esmeraldo Müller Proprietário de posto de gasolina, oficina mecânica, agência de automóveis, relojoaria, restaurante “O Ponto” e escritório de contabilidade. Acompanhou a Associação desde a fundação, exercendo a função de secretário executivo de 1938 a 1964. Mário Lordello Comerciante, tinha uma loja na rua Moraes Barros, antigamente chamada de rua Direita. Participou ativamente na política dos anos 30. Foi vereador. Na Associação, ocupou o cargo de tesoureiro. Henrique Nehring Formado em agronomia pela Esalq, trabalhava no ramo da agricultura. Colaborou muito com a parte burocrática da Associação. Ocupou o cargo de 1º secretário. Fonte: Revista da ACIPI – agosto de 1979 75 Para apuração dos votos, constituíram-se duas juntas. A primeira integrada por Terênzio Gallese, Octavio Amaral Gurgel, Joaquim Rodrigues de Almeida, Luciano Guidotti e Manoel Silveira. A outra era formada por Antonio Toledo Godinho, Jorge Daibes, José Guerra, Aurélio Spotto e Phelippe Maluf. Os 10 nomes mais votados para a diretoria foram Luiz Dias Gonzaga, com 97 votos; Elias Daibes (87); Luiz Coury (85); Terênzio Gallese (84); Henrique Nehring (83); Vicente Rando (74); Luiz Dias Gonzaga, Esmeraldo Müller (65); Manoel Ignácio primeiro presidente da Motta Pacheco (47); André Ferraz Sampaio (45); e Primo Falzoni (41). Para o Conselho Consultivo, os 11 mais votados foram: Elias Maluf, com 88 votos; Ermelindo Del Nero (79); Antonio Toledo Godinho (72); Luiz Gonzaga de Lima (72); Luiz Delfini (66); Joaquim Rodrigues de Almeida (63); Luciano Guidotti Almeida (63); Phelippe Maluf (62); Luciano Guidotti (62); José Monteiro (58). Com 57 votos ficaram Sebastião Ferraz de Barros e Nathan Mitelman. A posse dos eleitos deu-se no dia 6 de agosto de 1933, em assembleia geral. A primeira diretoria da Associação ficou assim constituída: Luiz Dias Gonzaga (presidente), Luiz Coury (1º vice-presidente), Henrique Nehring (1º secretário), Luiz Gonzaga de Lima (2º secretário), Vicente Rando (1º tesoureiro), Elias Daibes (2º tesoureiro). 76 No dia da Revolução de 32 Não há referência nas atas sobre a fundação da Acipi no dia 9 de julho com a comemoração da Revolução Constitucionalista, a chamada Guerra Paulista, mas para o presidente Angelo Frias Neto a data não foi escolhida por acaso. O sentimento de patriotismo tomava conta do Estado de São Paulo, que lutou pela liberdade e por um Brasil melhor no ano anterior, em 1932. “Simboliza a posição contrária dos comerciantes e empresários locais à censura, a favor da liberdade de se expressar e empreender”, afirma. O anteprojeto da associação foi elaborado pelo advogado Moacyr Amaral Santos, diretor do jornal O Momento, de 1931 a 1936, a pedido da comissão responsável pela organização da entidade. Moacyr Amaral, com menos de 30 anos, era um dos conspiradores contra o governo de Getúlio Vargas e quando eclodiu a revolta foi um dos primeiros a se alistar e partir para frente de batalha. Jurista respeitado, em 1967, assumiu o ministério do Supremo Tribunal Federal. Amaral também foi professor das universidades Mackenzie e São Francisco/USP (Universidade de São Paulo). A história mostra que os comerciantes e a comunidade de Piracicaba se engajaram na luta, dando suporte aos seus combatentes. Em São Paulo, a Associação Comercial teve intensa participação na Revolução contra o governo de Vargas. Em sua sede, meses antes, eram realizadas as reuniões pela elite financeira e intelectual paulistana. Após a guerra, todos os integrantes da diretoria da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) foram exilados pelo governo federal. Por decreto, Vargas tentou acabar com a associação. Sem sucesso, acabou importando o modelo italiano sindical corporativista. 77 A trajetória Desde o começo de sua fundação, a Associação Comercial de Piracicaba se tornou um fórum de discussão dos problemas dos comerciantes, dos industriais e da sociedade piracicabana. Participou de decisões importantes para o município, como a elaboração do Orçamento Municipal, sendo, em 1933, representada no Conselho Consultivo da Câmara por Manoel Ignácio da Motta Pacheco. Chamada a se posicionar frente a problemas que interferiam na rotina da cidade, não se intimidou: denunciou, cobrou, agiu em favor do bem-estar de seus associados e dos moradores, como no movimento contra o abusivo preço cobrado pela empresa responsável pelo fornecimento de energia elétrica, que marcou o mandato do primeiro presidente da entidade, o agricultor, comerciante e exportador de café Luiz Dias Gonzaga , reeleito cinco vezes para o cargo. Ele foi prefeito de Piracicaba em quatro mandatos. Nem bem a diretoria assumiu e já recebeu uma enxurrada de reclamações e reivindicações. Os comerciantes queriam da prefeitura ação contra os ambulantes e atravessadores de negócios; Luiz Coury pedia solução para o “imposto capitalista” que havia sido aprovado naquele ano; os comerciantes de ovos reclamavam da cobrança de impostos sociais e outros reivindicavam medidas enérgicas Vista geral da e imediatas que coibissem a vinda de praça central, “forasteiros”, que prejudicavam o comércio local tendo ao fundo o Theatro Santo Estevam 78 com a realização de leilões. Os varejistas denunciavam a falta de fiscalização municipal; Vicente Rando expunha o prejuízo que vinha acarretando ao comércio a proibição do prefeito, coronel Joaquim Norberto Toledo, de transportar pequenos volumes de compras nas jardineiras. Em 1933, a segurança já preocupava: donos de lojas queriam aumento no número de guardas noturnos em “virtude dos últimos roubos”. Mas a gritaria maior era contra os preços exorbitantes da energia elétrica fixados pela The Southern Brasil Electric Company Limited. Por meio de documentos, industriais solicitavam que a Associação intercedesse para obter “modificação nos preços”, para que “as indústrias não desaparecessem em virtude das taxas exorbitantes que eram cobradas”. A diretoria nomeou uma comissão para se “entender” com o gerente da empresa. O resultado do encontro foi uma redução nos preços enquanto perdurasse a crise. ANO SEGUINTE - No segundo mandato de Luiz Dias Gonzaga, reeleito à presidência com nove votos, contra um obtido pelo coronel Manoel Ignácio Motta Pacheco, a reclamação contra a empresa Electric continuava. A diretoria - integrada por Luiz Coury (1º vice-presidente), Terênzio Gallese (2º vice), Henrique Nehring (1º secretário), Luiz Gonzaga de Lima (2º secretário), Elias Daibes (1º tesoureiro) e Ermelindo Del Nero (2º tesoureiro) - intensifica o movimento para “suavizar” as taxas que estavam levando as indústrias a fechar. Uma comissão vai a São Paulo cobrar maior controle do interventor federal, Armando de Salles Oliveira, nomeado após a Revolução de 1932. Em Piracicaba, as associações de classe são convocadas para um debate e estudo da revisão do contrato da empresa Electric. No encontro, Luiz Coury ressalta a importância da união em torno do mesmo ideal, uma vez que a Assembleia Constituinte havia aprovado a extinção da taxa e a revisão dos contratos das usinas hidroelétricas. O médico Paulo de Moraes Barros é convidado a defender os interesses de Piracicaba, como delegado, na Comissão de Estudos dos Contratos da empresa Electric, nomeada pelo estado. Naquele ano, a Associação Comercial sugere ao prefeito coronel Joaquim Norberto de Toledo a doação de um terreno para a construção do prédio da Agência de Correios, a exemplo de outras cidades, como Campinas. Solicita a nomeação de uma pessoa estranha ao corpo fiscal para que o fechamento do comércio nos feriados fosse fiscalizado com rigor e maior atenção às instalações de depósitos de inflamáveis localizados no perímetro urbano, mesmo com a proibição da lei. Na cidade, a atenção estava voltada à Assembleia Nacional Constituinte, que discutia a elaboração da nova Constituição, um dos ideiais da Revolução 79 de 1932, que substituiria a de 1891. A promulgação foi em julho de 1934 e ao receber a notícia, em Piracicaba, estabelecimentos estaduais e municipais suspenderam o expediente às 15 horas e hastearam a Bandeira Nacional. Nessa mesma hora, as aulas foram suspensas e, à noite, no coreto da praça José Bonifácio, a Corporação Musical Luiz Dutra tocou por determinação da prefeitura. Por iniciativa dos partidos políticos e terceiros, “espocaram no ar muitos foguetes”. Em fevereiro de 1935, a reclamação era sobre o mau funcionamento do serviço telefônico. Iniciava-se a discussão para a criação de uma “pequena corporação para extinção de incêndios”. No mesmo mês, a Associação recebe abaixo-assinado dos moradores da Rua do Porto e do Porto João Alfredo, solicitando energia elétrica. Em meados daquele ano, estudantes da escola de Agronomia, chamados agricolões, esperavam o bonde na rua Moraes Barros, esquina com o largo da Matriz (praça José Bonifácio), quando ficaram sabendo da morte do ex-governador Pedro de Toledo pelos jornais de São Paulo. Virgílio Lopes Fagundes, que sempre se referia à atual rua Governador como rua do Commercio, por entender que o paraibano João Pessoa, que dava nome à via, não tinha nada a ver com Piracicaba, teve a ideia de homenagear Pedro de Toledo. Contou com a ajuda dos colegas, confeccionou as placas de identificação utilizando tábuas de caixa de querosene e nanquim. Às 11 horas da noite, ele e um grupo de nove amigos se reuniram em uma república de estudantes, que ficava na rua São José, esquina com o Largo da Santa Cruz, onde definiram a ação. Virgílio e mais dois amigos se encarregaram de substituir todas as placas no trecho entre o Mercado Municipal e a estação da Paulista; os demais ficaram de fazer o mesmo nos quarteirões centrais. Trabalharam noite adentro e a rua amanheceu com outro nome: Governador Pedro de Toledo. A iniciativa foi bem recebida. Ninguém reclamou, nem protestou. A Câmara Municipal demorou para votar a mudança, mas acabou confirmando a nova denominação. HORÁRIO DO COMÉRCIO - Em agosto de 1935, Luis Dias Gonzaga é, novamente, reeleito. O Conselho Consultivo Municipal propõe à Associação Comercial patrocinar um plebiscito a fim de solucionar de vez a questão do fechamento das casas comerciais aos domingos. A consulta popular foi realizada no dia 7 de setembro. Tiveram direito ao voto os negociantes atingidos pela lei do fechamento do comércio, sócios ou não da Associação. Foram 222 80 Rua Governador Pedro de Toledo na década de 1940 votantes. A votação secreta apontou 112 a favor do fechamento e 110 contra. Foi solicitada à prefeitura outra denominação ao bairro Corumbatay, a fim de evitar confusão na distribuição das correspondências pelos Correios, com outra localidade de mesmo nome. O bairro passa, então, a se chamar Santa Teresinha. Uma outra conquista da entidade refere-se à suspensão da carta de habilitação para os condutores de veículos a tração animal. O trabalho da diretoria prossegue. A visita do governador Armando de Salles Oliveira - que estava na condição de interventor federal no Estado de São Paulo -, em 13 de março de 1936, é uma oportunidade para acabar com os abusos da empresa responsável pela energia elétrica. O porta-voz da associação, Luiz Coury, em solenidade na sede da associação, à rua João Pessoa, saudou o visitante pela “larga visão administrativa, a energia e a firmeza de atitudes e coragem e audacia de emprehendimentos, homem de ação”. Chamando o chefe de Estado de “defensor do povo piracicabano”, cobrou solução para o problema da energia elétrica, revelando a preocupação da entidade com a grave situação que se arrastava há anos, com reflexos negativos à economia da cidade. Em julho de 1936, Luiz Dias Gonzaga é eleito para mais um ano de mandato como presidente, ficando Luiz Coury com a vice-presidência, Cel. Manoel Ignácio da Motta Pacheco, 1º secretário; Henrique Nehring, 2º secretário; Esmeraldo Müller, 1º tesoureiro; e Mário Lordello, 2º tesoureiro. 81 Luiz Coury cobra posição de governador “Senhor governador: antes de entrar neste recinto, V.Exa. visitou o célebre salto que constitui a beleza, a riqueza, o orgulho da Noiva da Colina; ali tem, admirado a grandiosa cachoeira capaz de gerar milhões de kilowats de energia elétrica. Pois bem, sr. governador, este salto, capital inestimável no coração da cidade, foi em 1927 entregue, mediante um contrato infeliz, a uma Empresa, para explorá-lo durante 30 anos, fornecendo força e luz à população por preços excessivos e intoleráveis. Povo: um motor de 25HP, antes do contrato, era taxado à razão de 250$000 mensalmente, com o direito de trabalhar dia e noite. Hoje, o mesmo motor, funcionando 10 horas diárias apenas, gasta no fim do mês 1:200$000. Resultado: o preço decuplicou. E, portanto, os municípios vizinhos, como Limeira, Rio Claro e Campinas, possuem taxas muito mais baixas. Desde aquela época, as conseqüências foram desastrosas: o povo vive murmurando e protestando, tendo, latente, uma injustificável revolta contra este estado de coisas. A indústria, que era o fator de progresso de Piracicaba, paralisou-se consideravelmente. Algumas pararam, outras abandonaram a força elétrica para substituí-la, por motores a óleo e vapor. E desde 1927, nenhuma indústria nova surgiu por pequena que seja. Em conseqüência, a cidade foi perdendo aos poucos centenas de operários, que demandaram para outros centros para os seus sustentos, e assim, a população foi decrescendo. E o comércio foi o principal prejudicado. Diante desse quadro sombrio, a Associação Comercial, fundada em 1933, patrocinou a causa do Comércio, da Indústria e do povo, em geral, apelando para a boa vontade da Empresa, a fim de suavizar os preços da luz da força principalmente: mas foi em vão, alegando a empresa que as cláusulas contratuais eram intangíveis. Fracassada esta tentativa conciliatória, apareceu o decreto federal, nº 29.501, de 27 de novembro de 1933, anulando a cláusula ouro e prometendo a revisão dos contratos imediatamente, o povo piracicabano exultou, certo então, que o peso lhe seria aliviado, esperando melhores dias. Mas, uma amarga decepção não tardou a invadir a sua alma, causada pelo despacho do sr. secretário da Interventoria, em 29 de janeiro de 1934, estabelecendo um acordo provisório que perdura até hoje. Foi justamente um mês depois, que a Associação Comercial de Piracicaba levou ao conhecimento de V. Excia., as reivindicações da população piracicabana, apelando para o espírito esclarecido e o critério judicioso de V. Excia., a fim de solucionar com equidade e justiça o problema da força e da luz, de cuja solução dependiam como dependem ainda o progresso e o bem estar de Piracicaba. V.Excia. manifestou boa vontade para atender à solicitação, criando em seguida uma comissão especializada para fazer a revisão dos contratos: mas até hoje, a comissão encarregada não se pronuncia a respeito do contrato de Piracicaba. Por isso, aproveitando a presença de V. Excia. nesta casa, a Associação Comercial, por minha vez, reitera o seu pedido feito em 27 de janeiro, no Palácio do Governo, depositando nas mãos de V. Excia., esse problema de vida e de morte para Piracicaba, constituindo V. Excia. o melhor defensor do povo piracicabano, desse povo que, com a maior espontaneidade acorreu ontem para receber V. Excia. com vivas entusiásticas”. (Discurso de Luiz Coury durante visita a Piracicaba do governador Armando de Salles Oliveira) 82 Naquele ano ainda, ofícios do Conselho Consultivo Municipal e do prefeito Joaquim Norberto de Toledo informavam a redução do imposto de licença de 10% para 7%, conforme havia sido solicitado pela associação. O prefeito também anunciava, pela imprensa, sua preocupação com a rede de esgoto projetada há quatro décadas. Carta de Luiz Abrahão pedia interferência da entidade contra guardas civis que estavam fiscalizando as estradas e multando lavradores por não possuírem carteiras de habilitação, exigência que havia sido suspensa pela prefeitura. Abrahão comenta ainda sobre a solenidade de instalação da Câmara Municipal “a se reunir em breves dias” e a sugestão do prefeito para o fechamento do comércio às 12 horas naquele dia. Luiz Coury é encarregado de “saudar a nova edilidade”. A diretoria decide oficiar à administração municipal a inexatidão de preços da tabela do Mercado Municipal e solicitar a intervenção à empresa elétrica em virtude do mau funcionamento dos aparelhos de rádio, os principais meios de comunicação que sofriam interferências da corrente elétrica “muito variável”. É nomeada uma comissão para elaborar projeto sobre redução dos preços de energia elétrica. A diretoria congratula-se com o presidente Luiz Gonzaga, que se tornará prefeito, e com Jorge Pacheco Chaves, presidente da Câmara. Os açougueiros da cidade também recorreram à associação para obter a elevação do preço da carne. Os diretores da entidade reclamaram na prefeitura contra manutenção do gado, sem condições de ser consumido e comercializado no Matadouro Municipal. Eles solicitaram a criação de cargo de veterinário para fiscalizar e orientar o abate. Em setembro daquele ano, a diretoria envia ofício à prefeitura solicitando a criação de um “pequeno” CB (Corpo de Bombeiros) ou a “disponibilização de materiais destinados a facilitar a extinção de incendios”. E ainda: exigiu esclarecimentos sobre cobrança de taxa sanitária em ruas sem redes de esgoto. O diretor Henrique Nehring reivindica aos “illustres vereadores”, presentes à reunião da diretoria, que representem a Associação Comercial de Piracicaba, apresentando projeto que autorizasse o prefeito a desapropriar os terrenos necessários para a ampliação do campo de aviação já existente, na ocasião, em frente à Escola Agrícola (atual Esalq/USP). A aviação comercial, segundo ele, estava “fadada grande perspectiva”, e diversas cidades do interior, “menos importantes que Piracicaba, cogitavam a construção de campo de aterrisagem”. VIGILANTES NOTURNOS - Em abril de 1937, Luiz Dias Gonzaga pede afastamento de seu cargo na associação para assumir a prefeitura de Piracicaba. 83 Combater a elevada taxa da energia elétrica foi uma das lutas da Acipi Responde pela presidência o comerciante de café Luiz Coury. Na eleição de julho, Dias Gonzaga, mesmo exercendo o cargo de prefeito, é escolhido para a presidência. Solicita, mais uma vez, afastamento e, Coury, primeiro vice-presidente, assume novamente. Ele reassume em 6 de julho de 1938. Em reunião extraordinária os comerciantes e industriais deliberaram sobre uma representação assinada por 25 sócios, solicitando a intervenção da entidade para impedir que a Coletoria Estadual local fizesse revisão em grande escala dos impostos de indústrias e profissões, elevando consideravelmente as taxas. Coury ressaltava que “o comércio piracicabano, sabidamente pobre, não suportaria o aumento”, projetado entre 50% a 200% sobre os impostos em vigor. Nomeou-se uma comissão para ir a São Paulo solicitar ao diretor geral da Receita Federal e ao secretário da Fazenda a sustação da cobrança da majoração dos impostos até o término das negociações. Nova eleição e, em agosto de 1938, Luiz Coury é reconduzido à presidência da associação. Na primeira reunião, comunica aos diretores sobre a organização de um Corpo de Vigilantes Noturnos, uma iniciativa do Chefe do Executivo, que solicitava apoio para a compra de fardas e munições. Ângelo Palma foi indicado para compor a diretoria e Esmeraldo Müller para a secretaria. A corporação foi extinta em 1956 com a criação da Guarda Municipal. 84 O presidente participava de reuniões promovidas pelo Delegado de Polícia para a elaboração de um plano para melhoria do trânsito na cidade. Este plano foi aprovado conforme ofício da Associação Comercial enviado ao prefeito, sugerindo a criação de mão de direção para os veículos que trafegavam pela rua Governador Pedro de Toledo, subindo em direção à Paulista, a partir da rua São José até o Largo do Mercado, e descendo a rua Boa Morte até a São José. Dois meses depois de assumir a presidência, Coury comunica sua impossibilidade de continuar à frente da entidade. O 1º vice-presidente, André Ferraz Sampaio, fundador da Casa Krähenbühl na rua do Commercio, assume o cargo e uma de suas primeiras medidas foi solicitar à prefeitura providência para coibir o abuso de vendedores ambulantes sem licença, que percorriam a cidade e, especialmente, a zona rural “em prejuízo do comércio legalmente estabelecido”. O problema da taxa elevada da luz persistia, conforme protesto de Henrique Nehring, do ramo da agricultura: “Piracicaba nunca poderá ser um município industrial devido à taxa elevada de energia elétrica. São ironias do destino: Piracicaba com um salto em sua coluna vertebral e ter que se curvar à inércia e à inaptidão”. Pautando-se em uma administração transparente, Ferraz Sampaio determina à secretaria da associação a elaboração de boletim mensal, a ser distribuído aos sócios e demais interessados com as notícias e indicações de interesse da classe comercial e industrial, a exemplo de outras associações comerciais. No mesmo mês, a diretoria constitui uma comissão para representar a entidade dos festejos de 3 de dezembro, quando o interventor Adhemar de Barros estaria na cidade. Ficou decidido que seria entregue ofício ao visitante, solicitando a instalação de uma Escola Profissional em Piracicaba. Na ocasião, os diretores manifestaram-se: “A Associação Comercial, como é sabido, não é uma agremiação política. Pelo seu estatuto, se poderá notar que a sua esfera de ação se limita apenas aos interesses das classes comercial e industrial. No entanto, está ela imbuída de cooperar com os poderes constituídos, em prol das boas e justas causas. De fato, a criação e instalação da Escola Profissional é uma aspiração antiga dos piracicabanos”. O ano seguinte começa com a nomeação de mais uma comissão para “se entender” com o prefeito Ricardo Ferraz de Arruda Pinto sobre a nova taxa de conservação das estradas municipais e o fornecimento de energia elétrica. O problema das estradas volta à tona no meio do ano, quando o prefeito é cobrado pelo mau estado das vias, que causava prejuízo aos comerciantes. Outra reclamação era relativa aos serviços dos Correios e Telégrafos: apenas três carteiros atendiam os moradores. 85 De bonde, os piracicabanos iam até a Vila Rezende A pacata Piracicaba Década de 40. A economia da cidade era ritmada pelo Engenho Central, a Fábrica Arethuzina Boyes, o Grupo Dedini e a Usina Monte Alegre, além de várias usinas de açúcar. Os limites da cidade eram a Estação Paulista, Rua do Porto e Cemitério da Saudade. As ruas eram de terra. Paralelepípedos apenas em algumas vias centrais. O menino de nove anos, Jayme Rosenthal, conhecia essa cidade como ninguém. Era ele que no dia de pagamento das empresas percorria as residências para receber as prestações feitas pelos trabalhadores na Casa Rosenthal - de móveis e roupas feitas, situada à rua Governador Pedro de Toledo, ao lado da Igreja Metodista. Rosenthal, hoje com 80 anos, proprietário da Rosenthal Veículos, lembra que seu pai, Pedro, comprava estopa na Arethusina para fazer colchões. “Ele forrava a armação de mola, com estopa, algodão piolho (tecido de terceira categoria), uma manta de algodão limpo e a revestia com tecido”, conta. Como as casas eram pequenas, sempre alguém da família dormia na sala e, os colchões, que serviam de cama à noite, durante o dia viravam sofás. A relação entre os proprietários de lojas e os fregueses era de pura confiança. Não havia crediário, carnês ou promissórias. Sequer um papel assinado. O pai sabia quando as empresas realizavam o pagamento. Assim, todos os dias 13 Jayme ia até a Vila, onde moravam os funcionários da Boyes, para receber. “O caminho até lá era pelo mato, não existiam casas naquela região. Onde está o Clube de Campo ficava a Chácara do Conde 86 Lara, que, como o meu pai, tinha os cavalos mais bem cuidados da cidade”relembra. Dia 16 de cada mês, de bonde, o menino ia receber dos trabalhadores da empresa Dedini, na Vila Rezende. “Cerca de 70% dos moradores da Vila trabalhavam ou prestavam algum tipo de serviço para a Dedini”, observa. Dias 25, ele batia nas portas dos fregueses do bairro Monte Alegre. No bolso, levava um cartão com o nome e o valor da compra. “Às vezes eu chegava lá e a pessoa dizia que não tinha dinheiro naquele mês”. Na Vila Rezende, a maioria dos proprietários de lojas de móveis era judeus, “introdutores das vendas à prestação no país”. Ele conta que o primeiro judeu chegou a Piracicaba por volta de 1896. Chamava-se José Kardonski. A dificuldade na pronúncia levou-o a pedir mudança do sobrenome para Cardoso e ficou conhecido como José Cardoso. Em 1912, Piracicaba recebeu os proprietários da casa Nova York: Natan (que emprestava dinheiro a juros menores que os bancos), Salomão e Kraner. Dois anos depois, David Becker abria a Casa Inglesa. Pedro Rosenthal, acompanhado da esposa Ana e seis filhos, veio de Barretos, em 1940. Transporte era uma dificuldade. Em 1946, Atílio Gianetti inaugurou a linha Piracicaba-São Paulo. A viagem, uma aventura que durava cerca de quatro horas, era feita em uma perua Ford, com carroceria de madeira. Os passageiros vestiam guarda-pó para se proteger da poeira. O único meio de transporte eficiente era o trem, pelo qual chegavam de São Paulo as mercadorias das lojas e seguiam as compras dos moradores de Charqueada, São Pedro e Rio das Pedras. Na cidade, o carreto era feito por caminhão ou carrinho de tração animal. A Estação da Paulista era ponto dos carroceiros. A casa de Rosenthal fazia a entrega das compras num Ford 36. “Meu pai cortava a parte de trás do carro, a partir da porta traseira, e adaptava uma carroceria”, conta. Na Acipi, a movimentação era para a nova eleição. No final de julho de 1940, Ferraz Sampaio é reeleito para mais um ano de mandato. Atende à solicitação dos moradores para dar fim ao problema das jardineiras e autocaminhão que permaneciam estacionados na rua Governador Pedro de Toledo, entre as ruas São José e Prudente de Moraes, dificultando o trânsito naquele trecho. Com aprovação da diretoria, indica Antonio Corazza para resolver o caso com o delegado de Polícia. Para cumprir a lei federal 1.402, de 5 de julho de 1939, que tratava da organização de sindicatos pelas categorias patronais, o presidente tomou as 87 primeiras medidas para a constituição da Associação Profissional dos Comerciantes Varejistas de Piracicaba, registrada no Departamento Estadual do Trabalho em 2 de abril de 1941 e, depois, transformada em Sindicato do Comércio Varejista, atual Sindicato do Comércio (Sincomércio). Ferraz Sampaio indica um grupo de diretores para coletar assinaturas dos comerciantes varejistas para a organização da nova entidade e o encaminhamento do processo de fundação. Posteriormente, seriam formados outros grupos, como de Turismo e Hospitalidade da Indústria da Alimentação. A resposta à consulta do prefeito Ricardo Ferraz de Arruda Pinto sobre abertura do comércio indicava que não havia consenso sobre o funcionamento das lojas aos domingos até as 12 horas. Parte era de opinião que continuasse em vigor o fechamento total, mas com referência aos dias de feriados e dias santos de guarda, a totalidade era contra o fechamento o dia todo, porém deveria ser respeitada a relação de dias do governo federal, decretados para todo o país. Em agosto de 1941, é a vez de Ermelindo Del Nero assumir a presidência. Continuava em evidência o deficiente serviço de distribuição de energia elétrica, que tanto prejudicava o comércio e a indústria. Esgotadas as tentativas de se resolver o problema com a companhia, deliberou-se oficiar ao interventor federal para apelar por providências. Em setembro do mesmo ano, os moradores do Bairro Alto queriam mudança no plantão das farmácias, para que todo domingo ficasse uma aberta. E mais: pediam melhor iluminação na rua Governador Pedro de Toledo. Del Nero recebe ofício da Secretaria da Interventoria Federal no Estado informando sobre a decisão do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica de autorizar a Light and Power a fornecer energia elétrica à empresa local para suprir a falta em virtude da prolongada seca. No ano seguinte, em 1942, a presidência da associação local pede à Associação Comercial de São Paulo que interceda junto ao governo estadual para autorizar o Centro de Saúde local a conceder maiores prazos para os comerciantes revestirem com azulejos as paredes internas dos armazéns, padarias e outros estabelecimentos. Em maio, a prefeitura comunica que as modificações no trânsito já estavam valendo: os automóveis deveriam parar de um só lado das ruas de maior movimento, alternando de acordo com os dias pares e ímpares. Era permitida a parada de carga e descarga. O presidente Del Nero não se acomoda diante da falta de gasolina, ocasionada pelo racionamento imposto pelo governo durante a Segunda Grande Guerra, que prejudicava o transporte da safra de algodão, laranjas e cereais. Telegrafa 88 Modificações do estatuto No dia 30 de abril de 1944, numa reunião extraordinária presidida por Del Nero, optou-se pela reforma dos estatutos sociais da entidade, que deixou de ser Associação Comercial de Piracicaba para se tornar Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Piracicaba. O quadro de sócios passou a contar também com invernistas, criadores, barqueiros, proprietários, corretores, agentes comerciais, capitalistas, empresas mercantis e industriais, os que exerciam profissões dirigidas às atividades econômicas, associações de classe ou representativas de atividades econômicas e ex-diretores de associações. Só em 14 de outubro de 1966 apareceu a sigla Aciap, pelo menos em ata. Em 26 de maio de 1967, o termo “Agrícola” foi retirado do nome da Associação e excluídos todos os sócios que haviam ingressado na entidade quando de sua inclusão (invernistas, criadores, etc). A justificativa era de que a classe estava amparada na cidade por órgãos específicos. Foi aprovada a aceitação de profissionais liberais. Em 14 de junho do mesmo ano, a denominação Acipi aparece nos documentos da entidade. 89 para o Conselho Nacional do Petróleo sugerindo permissão para as usinas locais venderem o álcool comum desnaturado, que gozava de isenção de imposto para abastecimento de veículos. Em 1943, a entidade recebe ofício da Associação Comercial de São Paulo comunicando o controle do sal e pedindo a indicação de um nome de diretor para compor a comissão local, que regularia o fornecimento na cidade. Em 1944, a exemplo de outras localidades, a cidade vivia a escassez de produtos como o sal, o açúcar e o trigo. As panificadoras alertavam para o risco da falta de pão. Os estoques estavam baixos e as indústrias paradas, com grande dano para a economia da cidade. Essa situação aflitiva levou Del Nero a telegrafar para a Federação das Indústrias e à Comissão de Abastecimento, sendo informado que o problema estava na falta de transporte para escoamento de produtos. O setor vivia um colapso. A sede própria já era preocupação. A presidência manteve contato com proprietários da usina Monte Alegre, por intermédio do empresário Mario Dedini, para conseguir, por compra ou doação, terreno localizado na praça José Bonifácio para construir o prédio da sede da associação. Da Cia Paulista de Estradas de Ferro cobrava providências aos constantes e persistentes roubos de mercadorias verificados nos despachos. O presidente Ermelindo Del Nero permaneceu no cargo até julho de 1944, quando foi eleito Calvet Guariglia, que era ligado à Estação Ferroviária Sorocabana. Também reeleito, permaneceu à frente da entidade até julho de 1948. De olho no bem da saúde pública, a àssociação posicionava-se contra a venda de carne verde ou carne de vaca pelo sistema contrabando generalizado na cidade e reivindicava enérgica e necessária fiscalização da prefeitura. Outubro daquele ano foi marcado pela falta de leite para a população. Estação Ferroviária Sorocabana 90 POSTO ELEITORAL - O presidente Calvet Guariglia insiste com a Cia Paulista de Estradas de Ferro sobre a aflitiva situação do exportador em função do acúmulo dos produtos na Estação da Sorocabana pela falta de vagões. Cerca de 18 mil sacas estariam acumuladas, em decomposição, situação exposta ao diretor da estação e ao chefe de tráfego. Em maio de 1945, pede ao delegado de polícia tabelamento de serviços de carreto de carroças de aluguel e intervenção na empresa de ônibus responsável pelo serviço de transporte à Santa Casa e ao cemitério, que vinha prejudicando os usuários pela “inobservância de horários e, algumas vezes, interrompendo o serviço sem qualquer aviso à população que se serve desse único meio de transporte”. Em agosto, a Associação pleiteia à Companhia Telefônica Brasileira (CTB), concessionária dos serviços locais, a remodelação do seu atendimento em Piracicaba, com a instalação de aparelhos automáticos. No mesmo mês, a diretoria opta por instalar um ponto de alistamento eleitoral na sede, sem qualquer caráter partidário. No ano seguinte, Henrique Nehring, representando a Associação, participa da reunião extraordinária do Conselho das Associações filiadas à Associação Comercial de São Paulo, que decidiu pleitear ao governo federal a plena liberdade de comércio e extinção de todas as restrições então em vigor, principalmente o racionamento, estabelecimento de preços de gêneros alimentícios e utilidades de primeira necessidade. Em 1948, assume a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Piracicaba (Aciap), Cássio Paschoal Padovani, proprietário da padaria Aliança. Naquele ano, uma solenidade marcou a inauguração do abrigo de bondes atrás da Catedral. Reeleito em 1949, Padovani permanece à frente da entidade até julho de 1950. Durante a sua gestão, cedeu uma sala ao Departamento do Estado do Trabalho para o funcionamento de um posto para emissão de carteiras profissionais, registro de livro de empregados e outros serviços atinentes às Leis do Trabalho. Com apoio do Jornal Diário de Piracicaba e do Rotary Club, constituiu uma comissão para levantar fundo para sinalização do trânsito local, considerado precário. TELEFÔNICA PIRACICABA - Em julho de 1951, eleição aponta o diretor da Telefônica Piracicaba Ltda., Laymert Garcia dos Santos Neto como vencedor. Laymert é reeleito em 52. Seu trabalho, considerado muito importante, foi o empenho para melhorar o serviço telefônico na cidade. Trouxe para Piracicaba o engenheiro técnico da Secretaria da Viação e um diretor da Companhia Ericson do Brasil para tratar da reforma dos serviços 91 Lei institui a Semana Inglesa A Semana Inglesa foi instituída em Piracicaba, em 1949, pela Lei nº 48, assinada pelo prefeito Luiz Dias Gonzaga no dia 1º de outubro. Os artigos 1º e 2º estabeleciam o horário de funcionamento do comércio aos sábados, das 8 às 14 horas, com exceção aos salões de barbeiro, cabeleireiros, institutos de beleza e estabecimentos congêneres. Estes, de acordo com a lei, fechariam às 18 horas, enquanto as farmácias funcionariam em regime de plantão. A lei foi resultado de um movimento na cidade, liderado por Álvaro Azevedo, Francisco Silva Caldeira, Abelardo Libório e Elias Salum. Álvaro Azevedo, 79 anos, explica que, como na prática esse horário não dava certo por causa da hora do almoço, conseguiram antecipar o fechamento para as 12 horas. O movimento rendeu muita discussão entre os comerciantes, uns contra, outros a favor. Em outubro de 1945, Antonio Romero e um grupo de comerciantes solicitavam à prefeitura, através de abaixo-assinado, apoio à proposta. O prefeito decidiu consultar a Associação Comercial, que, por sua vez, foi ouvir a classe. Em novembro já tinha o resultado: uma lista com 100 nomes a favor e outra com 141, contrários. Em reunião de diretoria, o presidente Calvet Guariglia dizia que, apesar de pessoalmente ter manifestado simpatia à comissão de comerciários próSemana, empenhava-se junto ao prefeito municipal para que nada fosse resolvido sem que fossem ouvidas as associações de classe e os mais interessados na questão, que eram “os comerciantes varejistas e os consumidores, especialmente os lavradores”. O movimento continuava. Antonio Stolf buscava esclarecimentos sobre a ação da associação, uma vez que, em ofício lido em sessão da Câmara Municipal, a entidade manifestava-se contra a adoção da Semana Inglesa. Um grande número de associados solicitava interferência da entidade para que a proposta não fosse aprovada, pois traria muitos prejuízos. Assim, convenceuse de que a maioria absoluta era contrária à inovação. O projeto de lei “Semana Inglesa” acabou sendo rejeitado pela Câmara em 9 de setembro de 1948, mas, no ano seguinte, os vereadores aprovaram a proposta. Aos poucos os comerciantes foram se adaptando ao novo horário de atendimento. Em 18 de setembro de 1962, um comunicado publicado no Jornal de Piracicaba informava “amigos e fregueses”, que, a partir do dia 22, o expediente no comércio encerraria às 12 horas. Assinavam o documento 32 lojistas. 92 telefônicos. Sua proposta era a instalação dos telefones automáticos, uma vez que havia constatado que a Companhia Telefônica Brasileira não poderia fazer qualquer coisa em benefício dos serviços. Seu empenho resultou no surgimento da Telefônica Piracicaba Ltda, transformada em Sociedade Anônima e, que poucos anos depois, contava com 1.800 acionistas. Em 6 de novembro de 1951, a diretoria recebe uma notícia importante: a promulgação da lei nº 1.266, declarando de utilidade pública estadual a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Piracicaba. A lei foi publicada no Diário Oficial do Estado em 8 de novembro de 1951. Durante a gestão de Laymert, foram aprovadas mudanças no estatuto da entidade. A duração do mandato da diretoria passou para dois anos e pequenos comerciantes e industriais eram isentos da taxa de inscrição. O primeiro presidente a ter mandato de dois anos foi comerciante Francisco Munhoz, proprietário da Casa Munhoz - secos e molhados, eleito em julho de 1953. Quando assumiu o cargo, a entidade contava com apenas 70 sócios. Por isso, seu principal trabalho foi organizar uma campanha para aumentar o número de associados. Mapeou a cidade e atribuiu aos diretores a responsabilidade de conseguir um determinado número de novos sócios. Deixou a diretoria com 700. Munhoz não aceitou concorrer à reeleição porque estava se mudando para São Paulo. Assim, em 9 de julho de 1955, é eleito Eduardo Fernandes Filho, gerente da Usina Monte Alegre e proprietário da Casa Mercantil. Ele movimentou o comércio ao solicitar aos lojistas que ornamentassem as vitrines com bandeiras, flâmulas e bandeirolas para as festividades dos 188 anos de Piracicaba. Para “maior brilhantismo”, enviou ofício ao Departamento de Água e Energia Elétrica pedindo a suspensão do racionamento de energia durante a semana do aniversário, de 30 de julho a 6 de agosto. Premiou com medalhas os melhores indicados por uma comissão integrada por artistas da cidade: Elmo Magazine e Mercantil Piracicaba ficaram com prata, e A Nacional, Casa Maracanã e Caruso, com bronze. Fernandes Filho hipotecou integral apoio à campanha lançada pelo Diário de Piracicaba, para dotar a cidade de um Corpo de Bombeiros. Em ofício encaminhado aos Irmãos Munhoz, lamentou o incêndio que destruiu o armazém, localizado na avenida Armando de Salles Oliveira, e garantiu esforços da Associação para aparelhar a cidade com equipamentos contra fogo. Em 1º de agosto de 1956, na gestão de Luciano Guidotti, aconteceu a inauguração do primeiro Corpo de Bombeiros de Piracicaba, instalado na avenida Dr. Paulo de Moraes, na Paulista. Naquele dia, a cidade festejava o 189o. aniversário. 93 Professoras analisam o comércio Análise sobre o comportamento do comércio entre 1930 e 1950, elaborada pelas professoras Eliana Terci e Maria Beatriz Bilac, indica um crescimento considerável de estabelecimentos que comercializavam produtos de primeira necessidade nesse período. A população crescia e os armazéns secos e molhados também. “Eram pequenos e atendiam praticamente a todas as necessidades básicas da população”. Neles, a população urbana e rural encontrava desde alimentação, tecidos, produtos agrícolas até aguardente e pequenas ferramentas. As professoras citam outros gêneros de comércio: venda de produtos alimentícios, bebidas, cigarros, fumo e artigos de tabacaria, que “teve participação crescente no setor em número de estabelecimentos”, comércio de tecidos - artigos de vestuário - e de armarinho, comércio de móveis, artigos de colchoaria e tapeçaria, comércio de artigos diversos, que incluem artefatos de borracha e de plásticos. Neste último item, elas agruparam os estabelecimentos que comercializavam aparelhos elétricos, areia, bebida, bicicleta para aluguel, cinema, depósito de materiais, gramofone, licores, pianos, serraria, torrefação, laticínios e farmácias. Outros gêneros comerciais elencados pelas professoras: o comércio de ferragens, produtos metalúrgicos, material de construção, artigos sanitários, artigos de cerâmicas, vidros e louças. Elas destacam também o ramo de farmácia. No período estudado, Piracicaba contava com a Farmácia Popular, São Paulo, Nossa Senhora das Graças, Coração de Maria e Farmácia do Povo (Drogal S/A). 94 A crise de energia elétrica persiste e leva uma comissão até o escritório da Companhia de Energia Elétrica, em outubro, para protestar contra o racionamento. Fernandes Filho, acompanhado do prefeito, presidentes de Lions Club, Rotary e representantes da imprensa, ouviu do gerente que a situação era resultado da falta de chuva na região e no Estado. Outra medida foi solicitar aos Correios e Telégrafos a construção da Agência Postal no terreno cedido pela municipalidade, no Largo São Benedito. A Telefônica Piracicaba inaugura na cidade os serviços telefônicos automáticos. Em janeiro de 1956, Fernandes Filho pede licença do cargo por tempo indeterminado, porque estava transferindo residência para São Paulo. Assumiu o 1º vice-presidente, Lineu Siqueira, que saiu em defesa da cidade e apoiou a campanha do Diário contra a supressão do ramal da Sorocabana, São PedroÁrtemis. A extinção foi denunciada pelo vereador Antonio Stolf. O comerciante Lineu Siqueira, proprietário da Casa Siqueira, foi eleito em 30 de junho de 1957 e se ausentou do cargo durante os três meses em que esteve viajando pela Europa, e não pode acompanhar, em agosto daquele ano, a inauguração do Museu Prudente de Moraes, instalado no casarão em que residiu o primeiro presidente civil da República. Em sua ausência respondeu pela presidência Álvaro Azevedo Ribeiro. De volta ao cargo, coube a Siqueira preparar as comemorações dos 25 anos da Aciap. Durante o seu mandato, fez um trabalho intenso de divulgação dos serviços prestados pela entidade. PROTEÇÃO AO CRÉDITO - Em 4 de agosto de 1959, foi a vez de Fued Helou Kraide , da Kraide Magazine e Confecções, assumir a responsabilidade de dirigir a associação. Ele se dedica a reestruturar o quadro social, dividindo os sócios em categorias de pagamento de mensalidades. Kraide deu início ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) ao solicitar às firmas locais que enviassem à Aciap a relação de seus fregueses negativos. Ele também desenvolveu campanha para conseguir das empresas e comércio bancos para serem colocados nos jardins públicos da cidade. Reeleito para o biênio 61/63, abre o “Livro de Ouro” para angariar fundos para a aquisição da sede própria. Em 18 de maio de 1962, em reunião geral, os sócios deliberaram sobre a compra de um prédio. Em julho, durante assembleia extraordinária na sede da rua 15 de Novembro, no.744, também ficou deliberada a venda de títulos de propriedade da futura sede social. Sócios contribuiriam com donativos ou compra desses títulos, com valor e número variáveis, pagos à vista ou em prestações, transferíveis de um sócio 95 para outro, mediante notificação por carta à associação. Poderiam ser resgatados pela entidade, após o quinto ano de construção ou aquisição da sede, por meio de doação ou compra, a preço nunca inferior ao seu valor nominal. Proposta aprovada: fixar em 400 o número de títulos, valendo Cr$25mil pagáveis em 25 prestações iguais. Durante a sua gestão, Kraide requereu do governador do Estado a execução imediata do Plano Bandeirante, elaborado para ampliar os serviços telefônicos no interior do Estado. Solicitou ao prefeito providências para facilitar o trânsito no centro da cidade, determinando que o estacionamento de motocicleta, lambreta e bicicletas fosse do lado oposto ao estacionamento dos automóveis. Ao prefeito, ainda, reivindicou maior rigor na fiscalização do funcionamento do comércio fora das horas regulamentares, principalmente aos domingos, e redução de 40% do adicional criado sobre o imposto de Indústria e Profissões e 5% sobre o de licença. Do governo do Estado cobrou a demora nas obras de pavimentação das estradas Piracicaba-Tietê. 96 A cidade se renova Nos tempos do rock and roll, vestidos e saias rodadas, rabos-de-cavalo e penteados fixados com laquê, Piracicaba ganha cara nova com a intervenção urbanística do prefeito Luciano Guidotti. Nos anos 50 e 60, a cidade se renova, os prédios antigos dão lugar aos de fachadas modernas. “Devido ao alargamento da Praça 7 de Setembro (atual praça José Bonifácio), várias lojas foram desapropriadas e tiveram que se mudar, como a Luzitana e a Casa Bonilha” (Jornal de Piracicaba, em março de 1950). “As demolições e as construções vão imprimindo expressões grandiosas na arquitetura da cidade, instituindo novas memórias, destruindo espaços que foram marcos de referência, alterando a planta física da cidade”, afirma a professora Maria Theresa Miguel Perez. A preocupação do prefeito Guidotti com o espaço urbano incluía largas avenidas, pavimentação asfáltica e construção de edifícios, a exemplo do conjunto arquitetônico na praça, o mais importante empreendimento da renovação da cidade. A construção foi assumida pela Comurba (Companhia de Melhoramentos Urbanos S/A). Piracicaba dá a largada para o crescimento vertical com a inauguração, em 1958, do edifício Georgete Dias Brasil, de sete andares, abrigando no térreo ampla galeria, conhecida como Galeria Brasil. Ganha fonte luminosa, modernas construções e as avenidas Armando de Salles Oliveira, Independência e Saldanha Marinho. “Com Guidotti acontecia a primeira grande transformação urbana de Piracicaba”, observa Maria Theresa. A cobertura do Itapeva, riacho genuinamente piracicabano, conforme define o historiador Guilherme Vitti, é concluída e anunciada pela imprensa como “a maior obra urbanística de Piracicaba”. Nas ruas, as moças da sociedade desfilavam as últimas novidades da moda na “calçadinha de ouro”, localizada entre as ruas São José e Moraes Barros, na praça José Bonifácio, onde hoje fica o Banco Bradesco. José Passarella abriu, em 1935, a primeira bonbonnière da cidade, que viveu o seu auge na década de 50. Era ponto de encontro dos estudantes da escola do Commercio, que funcionava ao lado. Nos anos 40, a cidade contava com as concessionárias Ford, Agência Chevrolet. Em 1959, Jayme Rosenthal e Ibrahim Daibes decidiram abrir uma loja de automóveis na parte de baixo da Rádio Difusora, então PRD-6, com apenas três carros – Simca Chambord, Gordini e Fusca. Com o sucesso, acabaram transferindo o negócio para um espaço maior, na rua Governador, onde hoje está instalada a Demanos. Naquele quarteirão ficavam a padaria Inca - ponto de encontro dos jovens, Supermercado Brasil, Relojoaria Gatti, Bazar Modelo, entre outras. “Nossa loja virou atração”, relembra Rosenthal. 97 No comércio, a revolução ficava por conta da roupa em série (prêt-àporter - pronto para vestir), que popularizou a moda, principalmente nos anos 60/70, preocupando os alfaiates e costureiras que executavam os pedidos dos clientes. Piracicaba contava com o Rei das Roupas Feitas, Popular Magazine, Metidieri, Camisaria Carbon, A Nacional, Casa Neusa, Kraide Magazine. A exemplo da Portalarga, com o tempo, muitas lojas deixaram de vender tecidos para comercializar roupas feitas. Nas ruas, vestidos tubinhos, saias evasés, calças saint-tropez que já deixavam os umbigos à mostra. Botas de cano longo acompanhavam a minissaia, que reinava e arrancava assovios a partir de 1964. Nas tardes de domingos, a Jovem Guarda, sob o comando de Roberto Carlos, era assistida nas televisões em preto e branco. Cabelos lisos, olhos evidenciados por rímel e delineador. Ainda na década de 60, o jeans - as chamadas calças Lee – sinônimo de liberdade, era a novidade vendida com exclusividade na loja Ao Zequita. Mais tarde era encontrada também na loja Germano. Na área de serviços, Lélio Ferrari, que desde 1936 mantinha um empório na rua Governador, transforma o negócio na primeira loja pegue-pague no interior de São Paulo, inaugurando no coração de Piracicaba, em 1962, o Supermercado Brasil. Curiosidade A “jupe-culotte” Em maio de 1911, uma senhora foi vaiada, aplaudida e fotografada ao desfilar na cidade trajando “jupe-culotte” (saia-calça que realçava as formas femininas). A mulher percorreu diversas ruas, passou pela Matriz e pelo jardim que estava lotado. “Durante todo o tempo que permaneceu naquelle local a arrojada modista, grande numero de rapazes prorompiam em palmas e acclamações vibrantes”.(Gazeta de Piracicaba - 23/5/1911) 98 Sistema pegue-pague Empreendedor e audacioso, o empresário Lélio Ferrari surpreendeu a cidade, deixando os pessimistas de plantão de queixo caído, com a inauguração, em 1962, do primeiro supermercado do sistema peguepague no interior de São Paulo. Muita gente dizia que não daria certo por acreditar que Piracicaba não comportaria um estabelecimento daquele porte. Lélio começou, em 1934, montando uma torrefação de café. Dois anos depois, abriu um empório na rua Governador Pedro de Toledo e, em 1957, já formava uma sociedade com os irmãos Oswaldo e Orlando, denominada Lélio Ferrari e Irmãos, que chegou a instalar 10 lojas em Piracicaba, uma em Limeira e uma em São Pedro. Em São Paulo, Lélio conheceu alguns americanos interessados em implantar na capital uma rede de lojas de autosserviço, know-how já conhecido dos americanos. Informou-se sobre a novidade e acabou transformando o empório em um moderno e arrojado supermercado - o Supermercado Brasil. O novo sistema tirou de cena as velhas cadernetas de compras, substituindoas pelas caixas registradoras, sem, no entanto, prejudicar a filosofia dos irmãos de sempre “servir bem os nossos clientes”. Acreditavam que o consumidor gostava de ser atendido “por quem manda” e “faziam relações públicas junto aos check-outs todos os sábados pela manhã”. (Revista de Promoção de Vendas e Merchandising do Comércio Varejista - fevereiro/ 74). Reportagem de capa, intitulada “Uma lição para sair do vermelho”, relatava como, após dois anos trabalhando no prejuízo, os irmãos deram a volta por cima graças a uma reestruturação administrativa. Em 1974, Piracicaba já contava com cinco lojas da Rede de Supermercados Brasil S/A, que serviam, segundo estimativa de Lélio Ferrari na época, a 40% dos 160 mil habitantes da cidade. Sem contar os consumidores que vinham das cidades da região. Os estabelecimentos ficavam no Centro, Bairro Alto, Paulista, Vila 99 Rezende e São Dimas. Esta última, a menina dos olhos dos Ferrari, era ampla, contava com uma grande área frigorificada e uma inovação: uma butique. A grande preocupação era com a arrumação das lojas. Mantinham uma seção de frutas e verduras - o chamariz para a venda de outros produtos -, laticínios, importados, massas, latarias, frios em geral e outras, chegando a um total de quase oito mil itens. Nem mesmo a chegada da concorrente Eletroradiobraz, “a baleia de Piracicaba”, que se instalou no Bairro Alto com uma loja que ocupava um quarteirão, intimidou os Ferrari. Quando Lélio faleceu, em agosto de 1974, empregava cerca de 160 pessoas nos cinco estabelecimentos. A Rede continuou a crescer e foi ao encontro dos consumidores de outros bairros, com a instalação de supermercados menores, chegando a 10. No início dos anos 80, a Rede de Supermercados Brasil foi vendida para a Rede Catarinense. ATUALIDADE Em 1965, Piracicaba era servida também pelo supermercado Serv-Só, o primeiro do Estado com panificadora, segundo anúncio que destacava: “Nossos preços são marcados uma só vez, preço justo, preço real, honesto acima de tudo. A comunidade não merece ser iludida. Para não aumentar a inflação”. Em 1973, os piracicabanos tinham como opção de compra os supermercados Brasil, Guerra, Pão de Açúcar, Jumbo, Vendero e Moral. Atualmente, grandes redes e pequenos mercados de bairro formam uma cadeia de abastecimento que compreende a totalidade da área urbana do município. São 172 mercados, além de 154 rotisserias, 37 estabelecimentos ligados ao comércio de hortifrutigranjeiros, 62 açougues e peixes, com 40 mercados sem predomínio de produtos alimentícios, os populares armazéns. Entre as grandes redes presentes em Piracicaba estão o Pão de Açúcar, Carrefour, Extra, Delta, Beira Rio, Walmart e Jaú. Os mercados de bairros são menores, mas essenciais para o consumo de famílias que estão em localidades mais afastadas do centro. Há, ainda, os estabelecimentos atacadistas, entre os quais estão o Atacado Munhoz, Makro e o Atacadão. 100 SEDE PRÓPRIA - Na eleição da Acipi, de julho de 1963, Lélio Ferrari e Arnaldo Ricciardi obtiveram quatro votos cada um. Prevaleceu a determinação do Estatuto da época: no caso de empates, na composição dos cargos, a decisão seria pelo critério da idade. Assumiu Lélio Ferrari, o mais idoso. Como primeira medida, nomeia uma comissão para planejar e executar o projeto da sede própria. Já em agosto, assembleia geral aprovava empréstimo bancário de seis milhões de cruzeiros para a construção. Reunião no dia 6 de dezembro decide pela venda do terreno na rua Alferes José Caetano, 1.112. A partir de março de 1964, a sede da associação é transferida para a praça da Catedral, 1.023, no Edifício Gianetti. Em 1964, a Aciap protestava contra a pretensão do governo de liberar a importação de equipamentos para usinas de açúcar, visto ser Piracicaba o grande centro produtor. É sugerida à prefeitura modificação do serviço de trânsito na parte central, a fim de permitir estacionamento de veículos em ambos os lados das ruas. Outra crítica era dirigida à Companhia Telefônica Brasileira em razão do deficitário serviço interurbano. Ao governo do Estado, à Secretaria da Fazenda, ao deputado Domingos Aldrovandi e a Luiz Guidotti, presidente do diretório do PSP, reivindicava a instalação da Delegacia Regional de Fazenda e Instituto Adolfo Lutz, já criados por lei. Naquele ano, no dia 9 de abril, o comércio e as indústrias de Piracicaba suspenderam as atividades às 15 horas para engrossar a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade. O movimento marcou “repúdio ao comunismo, reafirmando inequivocadamente sua vocação democrática”, conforme noticiou o Jornal de Piracicaba no dia seguinte. Foi a maior concentração popular realizada, até então, na cidade. “Piracicaba mostrou ao Brasil que é digna de guardar em seu seio o mausoléu do grande primeiro presidente civil da República, Prudente de Moraes”, destacava a imprensa. A concentração foi na Estação da Paulista. Uma multidão tomou conta da rua Boa Morte, descendo até a praça da Catedral. Nas faixas, os apelos: “São Paulo de pé, pela Lei”, “A mulher cristã, pela Liberdade”, “Conservemos sem macula nossa herança democrática”, “Salve Caxias, patrono do Exército”, “Uma nação não subsiste sem fé”, “Antes morrer que viver escravo”. As fanfarras da Escola Industrial Cel. Fernando Febeliano da Costa e do Colégio D. Bosco marcavam um ritmo marcial à passeata, enquanto as corporações musicais, União Operária e Pedro Sérgio Morganti davam o tom mais alegre, tocando dobrados e marchas. A marcha terminou na praça central, onde muitas pessoas discursaram exaltando a democracia e a “vocação cristã dos brasileiros”. 101 O imponente Comurba ficava na praça José Bonifácio E foi na mesma praça que aconteceu uma das maiores tragédias da cidade. Naquela época, o setor imobiliário delirava com a febre da renovação que, nos anos 50 e 60, modernizava Piracicaba, uma das cinco cidades mais progressistas do Brasil, segundo concurso da revista O Cruzeiro, em 1958. O centro urbano passava por uma verdadeira revolução arquitetônica com o novo substituindo prédios antigos. A cidade se orgulhava de ver, na praça central, o mais importante conjunto arquitetônico do interior do Estado de São Paulo - o Comurba -, que acabou se transformando em um amontoado de entulhos e ferros retorcidos. Era 6 de novembro de 1964. O início de tarde estava tranquilo quando, às 13h40, parte do prédio voltada para a rua Prudente de Moraes desabou. Uma densa nuvem de poeira tomou a área central. Correria, gritos, gemidos. Pessoas se aglomeravam. Os bombeiros isolaram a área e com ajuda de voluntários iniciaram o trabalho de resgate aos feridos. Formou-se uma corrente de solidariedade, envolvendo indústrias, comércio, entidades, voluntários e prefeitura. As indústrias enviavam máquinas para remover os escombros e os operários faziam fila para doar sangue. A cidade fornecia alimentos para que fossem preparados para soldados, bombeiros e voluntários que trabalhavam incansavelmente na busca por sobreviventes. O socorro vinha, também, de várias cidades da região. Os comerciantes lamentavam as mortes, entre elas, a família do dono da Casa Portuguesa, Francisco Candeias Coroa, soterrado na casa onde morava. 102 O edifício contava com escritórios, clube e galeria de lojas, apartamentos, cinema e garagem no subsolo. Estava em fase final de construção, mas o cinema - Plaza – já havia sido inaugurado. O prédio ocupava 22 mil metros quadrados em área desapropriada na administração de Samuel Neves para reforma da praça. Comurba era a sigla da Companhia de Melhoramentos Urbanísticos, integrada por 100 acionistas e formada para construir o monumento denominado “Luiz de Queiroz”, personagem considerado pela elite local como “o maior benfeitor de todos os tempos”. (Piracicaba - A Aventura Desenvolvimentista 1950-1970 – Eliana Terci e Beatriz Bilac). Inicialmente, o prédio foi projetado para 12 andares, mas chegou a 15. Durante anos, enquanto se apurava a responsabilidade do acidente, parte do prédio que restou em pé, com as lajes penduradas, não deixava os piracicabanos esquecerem da tragédia. Em 21 de novembro de 1965, a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Piracicaba solicitava à Secretaria de Segurança Pública providências para o problema Comurba, “que vem se tornando quase insolúvel”. A cidade pedia providências e a construção foi derrubada à picareta por homens contratados na administração Cássio Paschoal Padovani. O trabalho foi concluído em novembro de 1971 e os culpados nunca apareceram. Segundo as professoras Eliana e Beatriz, o laudo pericial do Instituto de Polícia Técnica indicou que o “desabamento aconteceu por deficiência do projeto de reforço para aumento de três andares...”. Reportagem publicada no Jornal de Piracicaba, em 8 de outubro 1996, afirma que “a queda provocou na cidade um verdadeiro hiato em seu crescimento”. A construção civil ficou estagnada nos anos seguintes. Na época, a construtora de Virgílio Fagundes estava concluindo o edifício D. Mimi Lopes Fagundes, na esquina da rua Governador Pedro de Toledo com a São José. Dos 46 interessados na compra de apartamentos, apenas um acabou confirmando. 103 Novas mudanças no Estatuto DENOMINAÇÃO ACIPI O comerciante Salim Phelippe Maluf , um dos proprietários da Em 1967, a diretoria passa a concorrer Porta Larga, chega à presidência através de chapas, não mais da Associação em julho de 1965, individualmente, que deveriam ser dois meses antes da inauguração registradas para poder participar do pleito. do Estádio Barão de Serra Negra. Cada chapa teria 15 nomes (não mais 12) Durante a sua gestão, foram e cinco suplentes. Em caso de empate, era realizadas importantes mudanças convocada nova assembleia. Os cargos . . . no estatuto da entidade e são: presidente, 1° , 2° e 3° vicecampanha de apoio às entidades presidentes; 1°. e 2°. secretários, 1°. e . assistenciais, para evitar a doação 2° tesoureiros; um diretor e um vicede esmolas aos pedintes. diretor do Serviço de Proteção ao Em agosto de 1965, Crédito, um diretor de Relações Públicas acontecia o primeiro jantar de e quatro diretores sem pasta. Também confraternização entre diretores, passou a contar com 15 membros, o conselheiros da entidade, Conselho Consultivo. representantes da imprensa, vereadores, comerciantes, convidados e um grupo da classe farmacêutica. A finalidade da reunião era demonstrar o trabalho que a Associação Comercial vinha realizando para o progresso da Noiva da Colina. Outras deliberações durante a sua gestão: pedido de emplacamento de ruas da periferia e numeração de casas; alerta sobre o comportamento de estudantes estrangeiros que, depois de formados na Escola de Agricultura Luiz de Queiroz, efetuavam suas compras e desapareciam, dando avultados prejuízos às lojas. Outra preocupação era com o grande número de cheques sem fundos emitidos à praça. Em contato com os bancos, solicitou medidas “acauteladoras”, especialmente no que se referia à entrega e emissão de talões, à Câmara de Compensação do Banco do Brasil, a relação de contas de clientes canceladas a fim de se evitar mais prejuízos. A educação também era preocupação da entidade. Por isso, solicitou ao governador Laudo Natel a instalação da Faculdade de Engenharia de Piracicaba, que iniciou suas atividades em 1969 com o curso de Engenharia Civil. Foi ele quem propôs a mudança no nome da entidade para Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi). Para isso, o estatuto passou por nova reforma. 104 DIRETORIA POR CHAPA – Em 1967, ano em que a prefeitura municipal criava, por decreto, a Fundação Municipal de Ensino de Piracicaba (Fumep), na Acipi era eleita a primeira diretoria constituída por meio de chapa - a II Centenário, uma homenagem a Piracicaba, que completava 200 anos de fundação. Chapa única, dos 60 votos depositados na urna obteve 59. Um foi voto em branco. Encabeçava a chapa Pedro Pereira dos Santos Júnior, da Elmo Magazine, que assumiu a presidência. Em agosto de 1967, Pedro Pereira propõe a transformação do SPC em Departamento de Proteção ao Crédito. Justificativa: propiciar o bom funcionamento do serviço com maior amparo da Acipi. Em janeiro de 1968, passa a integrar o Conselho Municipal de Trânsito, órgão criado pelo prefeito para estudar a organização e disciplinar o trânsito de Piracicaba. Durante reunião de diretoria, o vice Salim Maluf comentou sobre as deficiências do Corpo de Bombeiros e dos planos para colocar na área comercial dispositivos de emergência para combate a incêndios, que poderiam ser acionados por populares. Diversas firmas instalaram mangueiras por conta própria. Ficou acertado, também, reivindicar à prefeitura melhor serviço de limpeza das ruas centrais. A Acipi colaborou para a criação da Delegacia Regional da Fiesp/Ciesp e ampliou o serviço telefônico para maior eficiência dos trabalhos do Departamento de Proteção ao Crédito. Apoiou a campanha do Lions de exaltação à Pátria. Em agosto de 1968, Guerino Morini & Cia. Ltda. ganha um distintivo de ouro como o sócio de número mil. O sorteio foi realizado entre os últimos 23 inscritos. Em dezembro, uma comissão integrada por membros da Acipi esteve em São Paulo em audiência com o secretário dos Transportes para solicitar a construção de uma rodovia ligando Piracicaba-Capivari, Salto e estrada D’Oeste. Em julho de 1969, Pedro Pereira foi reeleito para os anos 1969 a 1971, com o total de votos colocados na urna: 39. A chapa Expansão foi a única a concorrer. Durante a sua gestão, foi realizada a campanha de limpeza das ruas, uma vez que os próprios comerciantes deixavam suja a frente de suas lojas, e elaborada uma pesquisa sobre abertura do comércio às sextas-feiras à noite, que apontou 54 contrários e 27 favoráveis. A diretoria discutia também a realização de campanha para esclarecer os consumidores sobre o Departamento de Proteção ao Crédito. Em 1970, solicitou ao Banco Central providências para que o comércio fosse abastecido de moedas. A população reclamava que por causa da falta de troco as tarifas dos transportes coletivos urbanos, que eram NCr$ 0,18, acabavam custando NCr$ 0,20 ao usuário. 105 106 Modernização 107 Anos 70/80 N o final da década de 70, os jovens curtiam “Os Embalos de Sábado à Noite”, com John Travolta, que usava calça boca-de-sino e muita brilhantina nos cabelos. Estampas psicodélicas davam tom à moda. Também as saias muito curtas e maxissaias, jeans surrados, túnicas, camisetas coloridas. Nas sapatarias, a procura era pelos saltos plataforma. Tempo das discotecas, sandálias de salto alto com meias, de preferência com brilho, influência da novela Dancing Days, da Rede Globo. Na Acipi, em outubro de 1970, Pedro Pereira licencia-se da presidência, que é ocupada por Salim Maluf, segundo vice-presidente, uma vez que o primeiro vice, Cássio Paschoal Padovani, era prefeito do município. Em janeiro de 1971, Pereira apresenta ofício pedindo demissão e, Salim Maluf, impossibilitado de assumir, é substituído pelo advogado Nelson de Oliveira Bueno, prestador de serviços nas áreas de direito e contábil, que permanece no cargo até julho, quando ocorre nova eleição. A chapa única, Situação, encabeçada por José Luz Júnior, conseguiu 73 votos de um total de 75. Sua administração modernizou a Acipi com a 108 aquisição de máquinas de escrever elétricas. Luz Júnior havia adquirido de Cássio Padovani a padaria Aliança. Em dezembro de 1971, o Departamento de Proteção ao Crédito fornece mais de 20 mil informações. Os bancos começam a usufruir do serviço para aberturas de contas e de créditos. Para tornar a rua Governador mais atrativa à noite, Francisco Raya apelava aos comerciantes para que deixassem as vitrines das lojas acesas aos sábados, domingos e feriados. A Acipi já se preocupava com o mercado de trabalho, oferecendo seminários e cursos, como o de análise de balanço e administração de empresas, de aperfeiçoamento de mão de obra destinado ao pessoal das panificadoras - psicologia, técnicas de vendas e administração comercial. Em agosto de 1972, é realizada pela primeira vez, em Piracicaba, a Convenção das Associações do Estado de São Paulo e instalada a Feira Exposição Expo-7, com a participação de empresas locais e de todo o Estado. Outra preocupação era com o fato de as indústrias estarem se transferindo para outras cidades, por falta de apoio da municipalidade. De 28 de fevereiro a 3 de maio, responde pela presidência o primeiro vice-presidente, Jorge Perina, da Casa Standard. Luz Júnior retorna à presidência no dia 4. CURSO INTENSIVO - O ano de 1973 é marcado com a inauguração, no Bairro Alto, da Eletroradiobraz, “A Baleia de Piracicaba”, instalada em 12 mil metros quadrados, divulgada como “um dos maiores centros de compras da região”. O anúncio dizia ainda que o novo empreendimento englobava “todas áreas de comercialização, supermercados, eletrodomésticos, centro de moda, lanchonete e veículos, móveis e lazer de variedades”. A Acipi também estava em festa com a posse do comerciante José Macluf, da Woltzmac Art. Cimento Ltda., no dia 9 de julho, após pleito com chapa única. A associação do presidente Macluf realizou campanha para ajudar o jovem Lélio Marcos Lacerda a viajar para os Estados Unidos, onde participou do Campeonato Internacional de Damas. Foram arrecadados cinco mil cruzeiros. Lacerda conquistou o sétimo lugar. O presidente solicitou à Empresa de Correios e Telégrafos autorização para o uso de um carimbo comemorativo dos 40 anos de fundação da entidade e providências à prefeitura para a regulamentação do estacionamento de veículos no centro. Em 1974, a Associação Comercial firmou parceria com a Escola Superior de Administração de Negócios para o desenvolvimento do curso intensivo de aperfeiçoamento em Administração de Empresas (Gestão Global de Empresas). Objetivo: preparar mão de obra especializada, atender 109 e promover os interesses do comércio. À Telesp, reivindicou a instalação do Sistema DDD (Discagem Direta a Distância). No final de 1973, a empresa de telefonia havia inaugurado novo Posto Público, considerado o mais moderno do Estado, com sete cabines para ligações interurbanas e dois aparelhos do tipo “moedeiro” para ligações locais. Em agosto de 1974, a cidade soltava o riso com a realização do 1º Salão Internacional de Humor de Piracicaba e, na Acipi, José Macluf intensificava discussão em torno da construção da sede própria da associação. Em 1975, quando Piracicaba recebe a notícia da criação da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), ele é reeleito. Neste ano aconteceu também a inauguração do atual prédio da Câmara e da rodovia do Açúcar. No ano seguinte, os comerciantes estavam bem atentos: eleito, o prefeito João Herrmann Neto tinha em mãos um plano para reformulação total da área central da cidade. Em julho de 1977, Macluf é substituído por Telmo Otero, proprietário da Casa Triângulo, materiais de construção. A descentralização do comércio O comércio de Piracicaba se fortaleceu e expandiu para vários bairros, tornando-se novas alternativas para os consumidores. A rua Governador Pedro de Toledo, que concentrava o maior número de lojas da cidade, considerada o coração do setor, começou a sentir mudanças a partir de 1975 com os empresários locais negociando a venda de seus pontos e chegada de empresas de fora. A descentralização do comércio ocorreu da década de 80 para cá. O empresário Luiz Carlos Furtuoso conta que a rua Governador deixou de ser referência única e o tímido comércio de bairro foi turbinado com novos investimentos, lojas, serviços e diversidades de produtos, conquistando e fidelizando os clientes. Destacam-se os corredores comerciais da Vila Rezende, rua do Rosário, avenida São Paulo, Bairro Alto, Dois Córregos e Santa Terezinha. Também contam com comércio rua Benjamim, São Dimas e Vila Sônia. O Shopping Piracicaba, inaugurado em 1987, trouxe a proposta de descentralização. O setor continua se expandido, pulverizado em vários pontos da cidade com pequenos centros comerciais e o comércio de Piracicaba tornou-se referência na região. Os empresários acompanham as tendências do mercado e oferecem aos clientes as últimas novidades, comodidade, produtos de qualidade e preços competitivos. O piracicabano conta também com lojas de grandes redes para fazer as suas compras. A história mostra que os primeiros corredores comerciais surgiram na Vila Rezende, na Paulista e no Bairro Alto. O interesse maior de alguns comerciantes em se estabelecerem na Vila Rezende teve início em 1916, 110 quando o bairro começa a receber benfeitorias, como a chegada da linha do bonde e a inauguração da empresa Dedini, na década de 20. Miguel Tacla e Célio Cardinali são dois exemplos: o primeiro se estabeleceu na avenida Rui Barbosa, vendendo armarinhos e tecidos, enquanto Cardinali montou uma padaria, que com o tempo foi transformada no Bar do Gustinho, ponto de encontro dos moradores da Vila e de bairros rurais. Vendiam sorvetes de frutas, doces e lanches. A memória de Irandir Cardinali, 82 anos, revela uma Vila pacata, com poucas lojas na avenida Rui Barbosa, onde hoje se concentra um comércio pujante e diversificado. Destacavam-se o Restaurante Papini, Casa Valler, Armazém Giovanetti, Bazar Santos, Móveis Zanin, Loja do Valdomiro Scarpari, Loja do Lala, Loja do Bertine - que confeccionava ternos e vendia tecidos - e uma farmácia. Irandir Cardinali era criança e já ajudava o pai, Augusto, a atender a freguesia. “Para fazer os sorvetes a gente pegava milho verde na roça, o abacaxi era descascado na hora e o coco ralado pelo Martini”, conta. O Bar do Gustinho vendia sanduíches e doces. Mário Dedini encomendava os lanches que servia aos funcionários que faziam hora extra. Por volta de 1949, a família abriu uma casa de presentes ao lado do bar. Dois anos depois instalou uma filial na rua Governador, no quarteirão em que se encontra atualmente, entre as ruas São José e Prudente de Moraes. Com o tempo, o bar e a loja na Vila foram fechados. Atualmente, o comércio da Vila Rezende é pujante, com maior concentração na avenida Rui Barbosa. BAIRRO ALTO - No alto da rua Moraes Barros, o barbeiro José Ortiz Sobrinho instalava, no final da década de 40, a primeira loja do comércio do Bairro Alto. Era a Ao Zequita, que nasceu dentro da barbearia Bom Jesus. José Ortiz enfrentava longas jornadas diárias de trabalho, que começavam às 6 horas – quando os sinos da igreja Bom Jesus tocavam a Ave Maria - e se prolongavam até a madrugada. Ele tinha muitos fregueses e montou uma pequena perfumaria na barbearia e, com o tempo, incluiu armarinhos. Era ele quem preparava as loções de barbear. Em 1949, vendeu a barbearia e comprou o terreno onde construiu o primeiro prédio de Ao Zequita. A rua era de paralelepípedo e existiam apenas farmácia, açougue, padaria, alfaiataria e bares. Ao Zequita (nome originado do apelido Zé) diversificou sua venda com brinquedos, eletrodomésticos e roupas, conquistando os consumidores e transformando a loja em uma das mais tradicionais daquela região e da cidade. 111 A freguesia encontrava desde uma agulha até geladeira em sua loja. Foi a primeira a vender televisão Empire e as calças jeans, as conhecidas Lee importadas, que viraram febre da juventude nos anos 60. No início de 1979, sob a direção de Luiz Carlos Furtuoso, passou por uma reestruturação. A loja ganhou novo perfil com confecções, presentes e perfumaria. Com o tempo, especializou-se em confecções e se expandiu. O atual endereço é um moderno prédio, à rua Moraes Barros, esquina com a São João. A loja, hoje, dedica-se à venda de cosméticos. A cinco quarteirões dali fica a loja São Luiz, de Itacir Nozella, a segunda instalada no comércio do Bairro Alto. O proprietário conta que o bar de seu pai, na esquina da rua Moraes Barros com a Manoel Ferraz de Arruda Campos, foi o embrião da loja de tecidos de seu irmão Antonio Nozella. Por volta de 1962, Itacir e o cunhado Carraro decidiram também entrar no comércio, abrindo uma loja de artigos para presentes, roupas, tecidos e brinquedos em um pequeno salão. Três anos depois, Itacir comprou a parte da sociedade e, em 1966, adquiriu a loja do irmão. Ele se recorda: “O relacionamento dos comerciantes e fregueses naquela época era de fidelidade. Compravam a mãe, o pai e os filhos. Algumas famílias faziam suas compras duas vezes ao ano, no inverno e verão”. Hoje, o comércio da rua Moraes Barros é bastante diversificado. Ao Zequita, a primeira loja comercial instalada no Bairro Alto 112 PAULISTA – A Estação da Paulista impulsionou o crescimento do bairro e atraiu para suas imediações a elite da época, que construiu “as casas mais modernas e suntuosas” de Piracicaba dos anos 20, conforme estudos da professora Eliana Terci. Vislumbrando bons negócios, comerciantes se instalaram na rua do Rosário, atualmente um importante corredor comercial da cidade. A comerciante Antonietta Valverde, proprietária da butique Antonietta, instalada no bairro há 52 anos, comenta: “O comércio se resumia em um açougue, um bar, um homem que fazia garapa, um circo e a Casa dos Presentes. De anos para cá, este trecho virou centro comercial, onde o consumidor encontra de tudo para satisfazer as suas necessidades”. 113 Shopping Piracicaba, inaugurado em outubro de 1987 Shopping chega no final dos anos 80 A inauguração do Shopping Piracicaba, à margem direita do rio Piracicaba, em outubro de 1987, foi um acontecimento que alvoroçou a cidade e região. Até então, o piracicabano frequentava os shoppings de Campinas e São Paulo. Isso mudou. O Shopping Piracicaba conta com 145 lojas, que formam um mix bem equilibrado de grifes consagradas, entre elas: Fórum, Zoomp, Lacoste, Ópera Rock, M.Officer, TNG, Guaraná Brasil, World Tennis, Levi’s, Hering Family Store e Lojas Marisa. A praça de alimentação conta com Mc Donald’s, Pizza Hut, Bob’s, Via Canova e outras marcas conhecidas. Instalado em 27.248 mil metros quadrados de Área Bruta Locável (ABL), o empreendimento possui ainda cinco salas de cinema, área de lazer e lojas de serviços. Está ancorado pelas Casas Bahia, C&A, Centauro, Dicico, Lojas Americanas, Marisa, Nobel Mega Store, Ponto Frio e Renner. Cerca de 600 mil consumidores passam pelo centro comercial mensalmente, sendo 70% dos frequentadores das classes A e B. Pesquisa realizada pela administração indica predominância do sexo feminino, com 63%, e a faixa etária dos frequentadores entre 24 e 45 anos. Constatou-se ainda que a maioria vai ao shopping pelo menos duas vezes por semana. 114 Atualmente, o Shopping Piracicaba passa por obras de expansão e em abril de 2014 entregará aos seus clientes mais 103 novas lojas, novos restaurantes, mais uma sala de cinema, com tecnologia inovadora, além de ampliação do estacionamento, que contará com vagas cobertas. A ABL passará para 43.220 metros quadrados. De acordo com a Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), o primeiro shopping foi inaugurado no País na década de 60 e houve um boom entre meados das décadas de 80 e 90, com concentração nas metrópoles, que detinham maior poder aquisitivo. NOVO EMPREENDIMENTO - A construção do segundo shopping em Piracicaba está no início, mas já começa a gerar impactos na região. O Praça Taquaral Shopping Center - resultado da sociedade entre a 5R Shopping Centers e a THCM - faz projeções sobre a área de influência que, de acordo com a administração, é de cerca 539 mil pessoas. Após a inauguração, o Praça Taquaral deve gerar dois mil empregos diretos e 2.300 indiretos. O shopping está sendo construído em um terreno de 70 mil metros quadrados e contará com 176 lojas. São oito âncoras, um hipermercado, um home center, duas semiâncoras, um complexo de cinema com seis salas totalmente digitais e outro de lazer infantil, 136 lojas satélites, além de praça de alimentação com dois restaurantes e 21 operações de fastfood. A ABL será de 30.100 metros quadrados. O estacionamento terá capacidade para 2.200 vagas, sendo 1.300 cobertas. O empreendimento é âncora do projeto multiuso - Park Unimep Taquaral, que inclui a construção de hotel, residenciais planejados, centro de convenções e edifícios corporativos em um único lugar. O Praça Taquaral traz no projeto arquitetônico uma essência genuinamente piracicabana. Por meio de uma análise detalhada do terreno, de um estudo aprofundado das referências históricas e culturais do lugar e um longo processo de criação nasceu o conceito arquitetônico inspirado no nome da cidade, cujo significado “o lugar onde o peixe para” permitiu a ligação com outras referências, tais como o salto do rio, as rochas, o peixe. 115 Boicotes e protestos Em Piracicaba, a década de 80 começou com as donas de casa liderando um boicote à carne, movimento que teve repercussão em todo o Brasil e foi notícia no New York Times com título “Brazilian Boycott Fightes Meat Prices”. Pelo telefone, as mulheres ligavam umas às outras solicitando que deixassem de comprar o produto até que os preços fossem reduzidos. Em 1985, os panificadores de Piracicaba desafiaram a Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab) e reajustaram o preço do pão. A população reclamava e as donas de casa colocavam em prática, mais uma vez, a tática infalível: boicotaram o pão, fazendo o produto em casa. O governo, por sua vez, agiu com rigor tabelando o preço do pão em Piracicaba. O país convivia com uma inflação de 255%. O presidente José Sarney anunciou, em 1986, o Plano Cruzado. Substituiu o cruzeiro pelo cruzado e congelou os preços e salários. Os brasileiros viveram um clima de guerra contra a inflação, com as donas de casa transformando-se em verdadeiras “fiscais do Sarney”. Remarcação de preço era caso de polícia. O momento era de muita euforia. O consumo aumentou, as mercadorias desapareceram das prateleiras e o ágio apareceu, fazendo voltar a inflação. Para combatê-la, é lançado o Cruzado II, que instituiu o Cruzado Novo e congelou, novamente, preços e salários. Não deu certo. Em 1988, a Acipi apelava aos empresários que fortalecessem o pacto social vigente para evitar um processo hiperinflacionário. Telmo Otero observava: “No momento é, talvez, a única alternativa para se dar um mínimo de estabilidade política e econômica ao país”. Preocupação justificada. Em 1989, com a inflação fora de controle, é anunciado o Plano Verão. Em Piracicaba, o comércio tentava incentivar os consumidores a irem às compras com a 1ª Grande Liquidação, promovida pela Acipi e Clube dos Diretores Lojistas (CDL). Participaram lojas da Cidade Alta e do Shopping Center. Consumidores concorreram a prêmios. Em 1990, mais um impacto na economia: o Plano Collor congelava temporariamente os preços e salários e surpreendia com o confisco monetário. Naquele ano, outra grande preocupação era com a insegurança na cidade. O comércio protestou fechando as suas portas em 13 de março. Foi uma decisão inédita que envolveu lojistas do Centro, da Paulista, Vila Rezende e dos shoppings Piracicaba, Ziliat e Cidade Alta. As indústrias acionaram as sirenes e as igrejas repicaram os sinos. Telmo Otero ressaltava à imprensa: “As forças vivas de Piracicaba estão se levantando para exigir do governo algo a que temos direito: a segurança pública”. 116 COBRANÇA ILEGAL - Telmo Otero presidiu a Acipi de 1977 a 1991. Foram 14 anos de dedicação que contribuíram para o amadurecimento da entidade que manifestava, de maneira contundente, sua posição diante de medidas contrárias aos interesses da classe e da população. Um exemplo era a cobrança ilegal do Imposto Predial e Territorial, em 1978, na administração de João Herrmann Neto. “O prefeito elevou o imposto sem a publicação no Diário Oficial do Município, do decreto que regulamentava o aumento”, denunciou a Acipi. O assunto ganhou manchetes nos jornais locais. Respaldada por um estudo elaborado por uma comissão de advogados - José Gorga, Paulo Checoli e José Roberto Caldari -, a Acipi, em defesa dos associados e da comunidade, entrou na Justiça contra a Prefeitura Municipal. O resultado foi o cancelamento de duas parcelas do imposto. A gestão de Telmo Otero começa com a discussão sobre a abertura do comércio à noite. Reuniões na Câmara, na prefeitura, na Acipi. Os vereadores aprovaram projeto de lei de Elias Domingos da Silva, regulamentando o horário do funcionamento do comércio das 8 horas às 18 horas. Apesar de ter recebido manifestações favoráveis de comerciários e comerciantes, não faltou polêmica, já que inviabilizava a proposta do hipermercado Eletroradiobrás de atender à noite. Pelo projeto também não poderia abrir aos domingos e feriados. Em janeiro do mesmo ano, a lei nº 2.111 é revogada, restabelecendo o funcionamento noturno dos supermercados e similares. Protesto. Em 1977, a Acipi e o CDL (Clube dos Diretores Lojistas) organizaram um movimento contra o desinteresse, “da parte de quem de direito”, em solucionar o problema de estacionamento de veículos no centro da cidade. Dia 31 de outubro daquele ano, o comércio protestava fechando suas portas às 17 horas. Os comerciantes prestigiaram, em 1978, palestra do diretor do Instituto de Economia “Gastão Vidigal”, da Associação Comercial de São Paulo, sobre “Preços, etiquetagem e visualização de preços em vitrines – conceitos de marcação em mercadorias”. Na época, Lei Federal obrigava a colocação de etiquetas visíveis nos preços à vista e a prazo nos produtos. A palestra aconteceu na Câmara de Vereadores. Em 1978, como parte da programação dos 45 anos de fundação da Acipi, foi realizado o I Seminário de Apoio à Exportação, que reuniu em Piracicaba dirigentes da Carteira de Comércio Exterior e representantes dos governos estadual e federal, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. O encontro abordou vários temas, entre eles o “Engajamento do Comércio no Processo de Exportação”, “Incentivos e Formação de Preços” e “Canais de Comercialização”. Um dos pontos destacados foi o fato de o 117 encontro ter tirado dos grandes centros a discussão sobre o tema “exportação”. Participaram empresários de Piracicaba e região. Para despertar a consciência da classe em defesa de interesses comuns, a Acipi constituiu, em 1979, o Conselho de Apoio a Pequenas e Médias Empresas da Região de Piracicaba. A Secretaria Estadual dos Negócios da Fazenda sugeriu a criação de um fundo especial para empréstimo, a juros módicos, aos pequenos e médios empresários que não tivessem condições de pagar o ICM (Imposto de Circulação de Mercadorias). A entidade lançou ainda uma campanha milionária para promover o comércio local. O objetivo era incentivar os consumidores a comprar em Piracicaba, com sorteios de carros, televisores, geladeiras, entre outros objetos. A campanha Contribuinte do Futuro movimentou o comércio e premiou, com cadernetas de poupança especiais, crianças de 10 a 14 anos. “Vamos Construir Juntos” contou com a participação de mais de 300 trabalhos sobre impostos, apresentados por estudantes das quartas e quintas séries das escolas de Piracicaba. 118 AUTOMAÇÃO - Em setembro de 1987, a Acipi iniciava luta pela volta do horário antigo dos bancos – das 9 horas às 16 horas - em nome da “classe econômica e do povo em geral”. Depois de quatro anos de discussão e estudos, em outubro, assembléia geral aprovava a automação na Associação. A implantação do sistema de informática custaria à entidade CZ$ 7 milhões. Os motivos que levaram à efetivação do programa foram a construção do Shopping Center Piracicaba e o aumento das consultas no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Com a informatização, o tempo para obter informações seria reduzido para 30 segundos. Até então demorava um minuto e 20 segundos. Na época eram atendidas 60 mil consultas e a previsão era de aumento para 80 mil com a vinda do shopping. O sistema de fichas, manipuladas por 12 funcionários, seria substituído por 14 terminais de computadores. Dia 10 de novembro, a Acipi assinava contratos com as empresas SID e PDI fornecedoras dos equipamentos e programas ao SPC. “É um momento histórico para a Acipi e para Piracicaba. É um novo tempo”, dizia Telmo Otero. A inauguração do sistema deu-se em abril de 1988, fornecendo, em poucos segundos, informações sobre cheques sem fundos, crédito na praça e protestos de pessoas jurídicas. Em outubro de 1990, novo serviço é implantado na Associação, depois de quase dois anos de testes: o Telecheques, um cadastro em nível nacional de emitentes de cheques sem fundos ou com contas encerradas, tanto de pessoas físicas como jurídicas. Por este sistema, o lojista pode ter informações de cheques roubados ou extraviados. CHAPA OPOSIÇÃO - Pela primeira vez na história da Acipi, em 1991, mais de uma chapa disputava a presidência. A eleição foi realizada no dia 27 de junho, na nova sede da entidade, “uma boa ocasião para mostrar aos associados onde o dinheiro foi gasto”, conforme observou à imprensa Osvaldo Palma, um dos candidatos. A chapa de oposição “Acipi Viva”, encabeçada por Mário Antônio Sturion venceu as eleições por 241 votos contra 191. No dia da posse, em 10 de julho de 1991, antes de transmitir o cargo, Telmo Otero descerrou a placa inaugural do prédio com os dizeres: “Querer é poder. A obra perpetua no tempo os que quiseram”. Em novembro daquele ano, a Acipi entrou na Justiça contra o Finsocial. A notícia era de que a entidade coordenaria a entrada de uma ação coletiva na Justiça Federal, em São Paulo, contra a cobrança do Fundo, criado no início da década de 30, com alíquota de 0,5%, sobre o faturamento de estabelecimentos 119 comerciais e industriais e folha de pagamento das empresas prestadoras de serviços. A reclamação era contra o aumento no índice para 2%. Pela imprensa, a diretoria repudiava a forma pela qual a Prefeitura Municipal desencadeou a campanha Fiscalização do ICMS, “taxando todo comerciante de sonegador”. Apoiou vários eventos, entre eles a Feira de Exposição, realizada pelas empresas Morales Promoções e Montagens, o novo traçado da rodovia dos Bandeirantes, passando perto de Piracicaba, o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e a Feira de Saldos. Em reunião com o prefeito José Machado e secretário de Planejamento, Eduardo Gianetti, o presidente Sturion reivindicou a troca da iluminação pública no centro da cidade de vapor de mercúrio para vapor de sódio. A Zona Azul foi outro assunto muito discutido a partir daquele ano. Os jornais publicavam: “Acipi quer explorar a Zona Azul”; “Acipi quer ser responsável pela organização e reestruturação da Zona Azul”; “Acipi cobra solução para a Zona Azul”. A discussão em torno do problema se arrastou até dezembro de 1992, quando a prefeitura abriu concorrência para o gerenciamento do serviço. Em contato com a presidência do Sindicato dos Motoristas, Sturion tenta sensibilizá-la no sentido de que o momento não era oportuno para a greve que estava sendo cogitada. Na reunião de 10 de fevereiro de 1992, Luiz Carlos Furtuoso sugere que a Acipi faça um convite aos supermercados para um pacto na cesta básica, com congelamento de preços por tempo determinado. Ele participava do Fórum de Combate à Crise e à Recessão e conseguiu que alguns supermercados mantivessem o preço inalterado por uma semana. A inflação naquele ano ultrapassou os 1.000%, segundo o IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado). Em abril, a campanha RaspACIPI envolveu 230 lojas, que distribuíram mais de 90 mil raspadinhas. Durante 15 dias, o consumidor que atingisse certo valor de compra concorria a prêmios. Outros trabalhos: lançamento da campanha Telecheque; associação da Acipi a Sophus faz surgir a ACIPI&Sophus Informática, um novo departamento para criação de software e comercialização; homenagem à Sociedade Beneficente Sírio-Libanesa pelos seus 90 anos de fundação; apresentação da nova sede a representantes de entidades de classe, universidades e prestadoras de serviço; envio de ofício à Polícia Militar para reclamar da falta de segurança no centro da cidade. Em 1993, Piracicaba se engajava no movimento nacional contra o IPMF (Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira). Mário Sturion, que presidia a Acipi, questionava a legalidade do imposto e clamava pela união das entidades. “O país não suporta mais tributações” - dizia. Vigoravam 120 58 impostos. A inflação brasileira bateu recorde naquele ano: ultrapassou a 2.400%. O presidente Itamar Franco criticava o movimento de empresários e trabalhadores dizendo que a intenção era a de prolongar a crise econômica. Mário Sturion não terminou o seu mandato e deixou a presidência da Acipi em abril de 1993.. Ricardo Caruso, proprietário das Joias Caruso, assumiu. VINDA DO SEBRAE - Em 9 de julho de 1993, a nova diretoria toma posse em reunião festiva que comemorou os 60 anos de fundação da entidade no clube de Campo de Piracicaba. Assumiu a presidência Oswaldo Palma, da Palmaq e loja Palma Computadores, para mandato até 1997. Uma das primeiras medidas tomadas pelo novo presidente foi reivindicar a instalação do escritório do Sebrae em Piracicaba. A inauguração aconteceu no início de 1994. No mesmo ano, dia 18 de outubro, oficializou a mudança da Acipi para a sede própria, à rua do Rosário, 700. E mais: inaugurou a cozinha e o refeitório da Associação; promoveu palestra para as esposas dos diretores sobre o Dia Internacional da Mulher - tema abordado por Eliana Zocoli; doou ao Centro de Reabilitação um sistema telefônico; realizou o seminário de Modernização de SPC’s, com apoio da Itautec e participação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo; reivindicou um posto de atendimento da Unimed na Acipi; e colaborou com a campanha do Conselho Coordenador das Entidades Civis de Piracicaba doando dois hidrantes para serem instalados na cidade. Oswaldo Palma fez parceria com o Sebrae para a realização de dois cursos: “Qualidade no Atendimento” e “Custos na Indústria”; promoveu a campanha “Presentão pro Meu Paizão” para alavancar as vendas no Dia dos Pais; doou máquina fotográfica ao 1º Distrito Policial; abriu espaço para o artista Eduardo Borges Araújo expor “Retratos de Piracicaba” no hall do auditório “Antonio Perecin”. Em conjunto com o Sebrae e Ciesp, Palma realizou o I Fórum Empresarial sobre Hidrovia; lançou o Acipi-Seguros, acordo operacional com a Finasa Seguradora e a SAG - Corretora; e discutiu o traçado da rodovia dos Bandeirantes, passando próximo de Piracicaba. Atendendo ao pedido de Barjas Negri, do Ministério da Educação, Acipi doou ao Fundo Nacional de Educação um vídeo, uma TV e antenas, no valor de R$ 1.500,00. Palma inaugurou a galeria dos ex-presidentes. INFORMATIZAÇÃO - Há mais de 30 anos, Paulo Checoli, da Advocacia Checoli, participa como membro da Diretoria ou do Conselho Consultivo da Acipi. Em 1997, por insistência de alguns amigos, dentre eles Telmo Otero e Oswaldo Palma, acabou aceitando candidatar-se a presidente da 121 Atualmente, todos os departamentos da Acipi estão informatizados Acipi, cargo que exerceu por dois mandatos: 1997/ 1999 e 1999/2001. À frente da entidade,, Paulo Checoli inaugurou a Unidade de Resposta Audível (URA) para as consultas dos associados ao SCPC. Marcou, assim, o início da era da informatização da Associação. O presidente inaugurou também o auditório “Antonio Perecin” e delegou atribuições aos diretores, imprimindo uma gestão descentralizadora. Por sua iniciativa, a Acipi passou a contar com a “transparência diretiva”, com o registro em Cartório de Títulos e Documentos das atas das reuniões plenárias da diretoria, o que possibilitou ao associado ou não sócio obter, oficialmente, tudo o que fosse aprovado pelos diretores da entidade. Com a aprovação unânime da diretoria, ele deu ênfase à participação em programas e atividades sociais da comunidade. Dessa deliberação, resultou a criação do Conselho da Mulher Empresária (CME) e intensificou a realização de cursos, palestras e seminários. Em setembro de 1998, o gerente administrativo Oswaldo Palma sugeriu a distribuição de folhetos para incentivar a população a votar em candidatos de Piracicaba e orientá-la a fazer cola dos números dos candidatos. Foi lançada a campanha Vote por Piracicaba, com apoio da CDL e Sindicato do Comércio Varejista de Piracicaba (Sicovapi). 122 No período 1999/2001, registrou-se a participação de 6.209 pessoas nas atividades promovidas pela entidade, sendo 3.244 em palestras. No primeiro semestre de 2001, a entidade promoveu, no Teatro Municipal, palestra com o professor Luiz Marins, assistida por 676 pessoas, enquanto 200 ficaram em “fila de espera”. Durante mandato de Checoli, houve a formalização de convênio com a Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo para a centralização das informações e consultas do SCPC. O número total de 649.615 ligações em 1999 passou para 818.412 em 2000, com acréscimo de 26% “graças à eficiência dos serviços e aumento no número de associados”. O quadro associativo cresceu de 1.320 associados em julho de 1997 para 1.756 em junho de 2001 (acréscimo de 33% no quadriênio). A Acipi participou de várias campanhas, como a do Alimento e Piracicaba Contra a Fome e o Frio. Foi a primeira Associação Comercial do Brasil a receber o diploma “Empresa Amiga da Criança” e teve uma efetiva participação nas comemorações dos 500 anos do Brasil. No quadriênio 1997/2000, a Acipi registrou um superávit financeiro de R$ 822.416,17, o que proporcionou investimentos em construções, móveis, utensílios e equipamentos. Um exemplo é o auditório, com capacidade para 201 pessoas, confortavelmente sentadas e com bom espaço entre as poltronas, com mesa retrátil em cada uma delas e, ainda, com duas cabines para tradução simultânea, além de equipamentos de ar condicionado e de projeção. A inauguração oficial do atual prédio da Acipi, à rua do Rosário, deuse no mandato de Checoli. Durante a sua gestão, foi indicado o diretor Orlando José Berto como secretário da Indústria e Comércio. A indicação foi uma conquista das entidades empresariais. Paulo Checoli deixou a presidência em 2001, quando assumiu o cargo Luiz Carlos Furtuoso, da A&Z ao Zequita. INOVAÇÕES - A gestão de Luiz Carlos Furtuoso, iniciada em julho de 2001, foi marcada por inovações. As diretorias passaram a contar com dotação orçamentária anual, iniciativa que dinamizou as respectivas áreas de atuação dos diretores, e investiu na qualificação dos funcionários da Acipi, oferecendo-lhes bolsa de estudo de 50% do valor do curso técnico ou superior nas áreas de interesse da entidade. Pela primeira vez, em 2005 concedeu abono especial aos funcionários. Foram criados departamentos de Estágios, Cultural, Comércio Internacional e Gestão de Sócios. Destacam-se a ligação em rede do sistema 123 Luiz Carlos Furtuoso priorizou a atualização profissional administrativo e de informações e a mudança de todo o sistema de telefonia para digital. Nos quatro anos da atuação de Furtuoso, duas áreas ganharam grande impulso: comunicação e treinamento. Pautado em uma administração transparente, também criou o Departamento de Comunicação para estreitar o relacionamento com os associados, meios de comunicação e a comunidade. Uma das iniciativas foi a publicação do informativo da Acipi com a tiragem de três mil exemplares. O Departamento de Comunicação é responsável também pela “Coluna da Acipi”, publicada semanalmente no Jornal de Piracicaba, Gazeta de Piracicaba e pela “TV Acipi” no programa “Piracicaba em Destaque”, apresentado pelo jornalista César Costa, na TV Beira Rio. A formação e atualização profissional foram pontos fortes de sua presidência, por meio do Departamento de Cursos e Formações. Em quatro anos, cerca de 12.850 pessoas - empresários, executivos e funcionários passaram por cursos, palestras, congressos e workshops, nas diversas atividades realizadas na sede da Acipi e em outros espaços da cidade. Apresentaram-se nos eventos nomes como Arnaldo Jabor, Alfredo Rocha, Marcos Cintra, Dorothea Werneck, Leila Navarro, J. R. Gretz, Maria Carolina de Souza, Gianmarco Basaglia, João Bassi, Ludivico Novaes e Silva, Tarso Genro, Aylza Munhoz, Hamid Charad Bdine Júnior, Waldez Ludwig, Paulo Checoli, Clarisse Leal, David Mendonça, Paulo Botelho, Professor Marins, Roberto Shinyashiki, Joelmir Beting, Sérgio Azevedo e J. D. Zanco. As atividades do departamento incluíram ainda videotreinamentos com 124 objetivo de qualificar funcionários dos associados da Acipi. Os temas são voltados à gestão empresarial, motivação, venda, atendimento e relações humanas. As turmas são formadas de acordo com as necessidades das empresas. Em parceria pioneira de uma associação comercial com uma universidade, em abril de 2003, teve início o curso Sequencial Superior de Complementação de Estudos em Administração no Varejo, realizado pela Acipi/Unimep. Empresários, sucessores e gerentes são o público-alvo. Outra parceria desenvolvida com a Unimep permitiu a implantação do curso Tecnologia em Administração de Marketing no Varejo. O Curso de Ciências Contábeis, também da Unimep, iniciou consultoria para empresas associadas em março daquele ano. Com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Acipi implantou a pós-graduação em Administração FGV - Júnior a partir de julho de 2003 e lançou, em 2005, o curso de MBA em Gestão Empresarial. Também ofereceu, em 2005, curso gratuito voltado para afrodescendentes sobre Gestão Sistêmica Baseada em Valores Humanos. Iniciativa de vanguarda, o 1º Congresso Empresarial realizado em abril de 2003, no Teatro Municipal Dr. Losso Netto, com a presença de convidados de renome que integraram os associados e a comunidade num contexto de reflexão, analisou assuntos importantes do mercado e economia. O 2º Congresso reuniu, em abril de 2004, cerca de 300 empresários de Piracicaba e região, também no Teatro Municipal. Em abril de 2005, a Acipi sediou o 3º Congresso Empresarial, com a presença dos palestrantes professor Marins, Sérgio Azevedo e J. D. Zanco, e técnicos do Sebrae-SP, que ministraram atividades complementares. O Curso Sequencial e o Congresso foram incluídos no programa de atividades em comemoração dos 70 anos da Acipi, completados em julho de 2003. Constaram ainda lançamento do carimbo comemorativo, homenagens aos ex-presidentes, à Diretoria Executiva, ao Conselho Consultivo e ao Conselho da Mulher Empresária (CME), realização de sessões solenes na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa de São Paulo, propostas pela então vereadora Cida Abe e pelo deputado estadual Roberto Morais. As comemorações foram encerradas com um jantar e posse da nova diretoria e conselho eleitos para o biênio 2003/2005. Com a criação do Departamento Cultural, a Acipi promoveu, nesse período, várias atividades culturais aos associados, incluindo exibições de filmes, apresentações de dança e de música, exposições de arte, passeios culturais, espetáculos teatrais e o I Encontro de Arte no Cotidiano. A Associação adquiriu um piano de cauda, estreado em abril de 2005, com apresentação de Cecília Bellato e Cidinha Mahle. 125 Campanhas Para incentivar os consumidores de Piracicaba e região a comprar no comércio local, a associação realizou, no final de 2002 e durante 2003, a campanha de vendas “O Comércio de Piracicaba tem tudo o que você procura”. No mesmo ano promoveu a campanha “Um sonho de Natal”. Foram 650 mil cupons preenchidos pelos compradores que participaram de sorteios de inúmeros prêmios, incluindo um carro zero quilômetro, uma Motocicleta Honda BIZ e viagens para Natal. Com o sucesso da promoção, repetiu-se a campanha em 2004, desta vez com o slogan “O seu melhor Natal é aqui”. Foram sorteados um carro Honda Civic Sedan, uma Motocicleta Honda CG Titan, um computador e mais 13 prêmios. No ano seguinte, a campanha teve o slogan “Ano Premiado Acipi 2005 – Uma campanha daqui!!!”, contemplando as principais datas comemorativas do comércio: Dia das Mães, dos Pais, dos Namorados, das Crianças e Natal. A campanha teve apoio da CDL, Sincomércio e Prefeitura Municipal. Potencial exportador Levantamento feito pelo Departamento de Comércio Internacional (DCI), em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), constatou em 2004, a partir de consultas a 1,6 mil empresas do comércio, indústria e prestação de serviços, a existência de 84 empresas de vários ramos de atividades exportando regularmente ou que já haviam exportado, e outras 173 interessadas no mercado externo. Potencialmente, seriam 257 empresas dos setores metal-mecânico, equipamentos hidráulicos, máquinas agrícolas, artigos funerários, produtos químicos, construção civil, confecção têxtil, móveis, biotecnologia, aguardente, alimentos, autopeças, gráfica, artigos em madeira, equipamentos eletrônicos, cerâmicas, pisos e revestimentos, em condições de participarem de um programa voltado à conquista do mercado externo. O DCI presta orientações gratuitas às empresas que se interessam pela inserção no mercado externo. Informa sobre legislação e emite documento indispensável para ingresso em outros países, o Certificado de Origem. Em 2003 e 2004 foram realizados vários eventos importantes, como: palestra com a presidente da Apex (Agência de Promoção de Exportações), Dorothea Werneck; seminário “Exportar para Crescer – Novos Caminhos para o Mercado Externo”; projeto “Pool de Comércio Exterior”; Workshop de Comércio Exterior e Rodada de Negócios Internacionais. Em abril, a Acipi movimentou diversos setores da cidade com o 77º 126 Encomex (Encontro de Comércio Exterior), que levou 900 pessoas ao Teatro da Unimep. Sob a coordenação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o evento teve como meta estimular a cultura exportadora em Piracicaba e região. O secretário de Comércio Exterior, Ivan Ramalho, recebeu das entidades locais documento expressando a preocupação com a logística de exportação. “Face ao notável crescimento das exportações brasileiras, aliado ao fato de que o nosso país não está preparado para um escoamento tão grande de mercadorias destinadas ao mercado exterior, nota-se que as estradas, portas e aeroportos não estão adaptados para tal demanda”, destacava o texto. O encontro foi realizado pela Acipi, em parceria com diversas instituições e órgãos municipais e estaduais. Foram parceiros: Abimaq, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Câmara Italiana, Câmara Temática de Negócios Internacionais de Piracicaba, Caterpillar Brasil, Correios, Fiesp/Ciesp, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo e Estado de São Paulo, Semic, Simespi, Simtec e Unimep. Para melhorar o desempenho empresarial e abrir o mercado de trabalho para estudantes, criou-se também o Departamento de Estágios, ligando empresas e o conhecimento técnico-científico das universidades. No ano de 2005, foi constituída a diretoria de Gestão de Negócios com o objetivo de estabelecer, coordenar, controlar e promover a gestão de negócios dos serviços prestados pela associação e a captação de novos associados. O número de sócios foi elevado de 1.750 para 2.693. Na presidência de Furtuoso, o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) foi agilizado com a implantação de terminais de consultas portáteis nas lojas, consultas pela internet e investimentos na área de informática, sistemas e equipamentos. A Acipi conta com a Rede de Informação e Proteção a Crédito (RIPC), o mais completo banco de dados em âmbitos estadual e nacional, criado pela Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp). Essa sofisticação contribui para a redução de um dos maiores vilões da atividade econômica: a inadimplência. 127 Acipi participativa A Acipi teve participação importante nas eleições de 2002, quando realizou, em parceria com o Jornal de Piracicaba, a campanha “Eleitores Unidos pela Região de Piracicaba”, incentivando eleitores a votar nos candidatos da cidade. Promoveu encontros com os candidatos a deputado estadual e federal, distribuiu cartazes, adesivos, faixas, banners e materiais informativos sobre como votar. Foram realizadas simulações de voto nos terminais de ônibus e na prefeitura e a associação disponibilizou orientadores para a utilização das urnas eletrônicas, que seriam novidade para muitos eleitores. Foram eleitos o deputado estadual Roberto Morais e dois federais – João Herrmann Netto e Antonio Carlos de Mendes Thame. A Acipi recebeu moção de aplausos da Câmara de Vereadores. 128 SEGURANÇA - José Antonio de Godoy, da Perecin Godoy Auditores Independentes S/C Ltda., assumiu a presidência em julho de 2005 e durante a sua gestão deu ênfase ao treinamento dos associados e funcionários; iniciou o convênio com o Curso de Ciências Contábeis, da Unimep, para fazer diagnóstico gratuito para associados da Acipi; participou do processo de instalação do Fundo de Segurança (Funseg) na cidade; iniciou e concluiu a construção do Anexo Salim Maluf; implantou a Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Empresários de Piracicaba (Coopcred), que já vinha em estudo, junto ao Banco Central, nas gestões anteriores; deu prosseguimento à modernização administrativa da entidade e apoiou a requalificação da praça José Bonifácio. Godoy destaca que o Sicoob Coopcred é uma cooperativa de crédito para o desenvolvimento dos negócios dos empresários ligados à Acipi. O objetivo é gerar mais trabalho e renda para Piracicaba e microrregião. A Coopcred iniciou as suas atividades no dia 1º de março de 2007. Podem associar-se à cooperativa todas as pessoas físicas que estejam na plenitude de sua capacidade civil, concordem com o Estatuto da Cooperativa, preencham as condições nela estabelecidas e pertençam às categorias de empresários nas áreas de comércio, indústria ou prestação de serviços, previstas no estatuto. O Fundo de Segurança de Piracicaba (Funseg) foi um trabalho de destaque de sua gestão. O órgão foi criado em 2006 com a participação da Acipi, Ciesp/Regional Piracicaba, Câmara de Dirigentes Lojistas de Piracicaba (CDL), Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Eletrônico, Siderúrgicas e Fundições de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras (Simespi), Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana) e Sindicato do Comércio Varejista de Piracicaba (Sincomércio). A proposta do Funseg é arrecadar, por meio de doações de pessoas físicas e jurídicas, recursos financeiros, materiais, produtos e serviços para serem aplicados na manutenção, aquisição de equipamentos, veículos, dentre outras necessidades apresentadas pela Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Guarda Civil e Polícia Federal. As doações são feitas de forma voluntária. As necessidades de cada corporação são apresentadas e analisadas pelo Funseg. Os diretores estão sempre em contato com os responsáveis e com os comandantes da polícia de Piracicaba. O Funseg também realiza pesquisas para identificar quais áreas necessitam de maior atenção. O Fundo participa no desenvolvimento de campanhas e ações educativas e oferece treinamentos educativos e motivacionais às corporações. Foi no mandato de Godoy que o viaduto localizado no quilômetro 134 129 da rodovia dos Bandeirantes (SP-348), entroncamento com a rodovia SP304, em Santa Bárbara D’Oeste, passa a se chamar viaduto “Acipi Piracicaba”. O governador do Estado de São Paulo, José Serra (PSDB), promulgou no dia 19 de maio a lei nº 1405/07, proposta pelo deputado estadual Roberto Morais (PPS). O descerramento da placa fez parte das festividades dos 75 anos da entidade, em 2008. Segundo justificativa do projeto de lei, o nome foi escolhido porque a associação tem demonstrado ao logo de sua história ser “peça de grande importância no desenvolvimento econômico de Piracicaba e região”. A honraria foi um reconhecimento pelo fato de a Acipi, nos seus 75 anos de existência, ter sido parceira da sociedade paulista na busca de soluções que auxiliam o desenvolvimento econômico do Estado, sem perder, nem por um único instante, o senso aguçado de responsabilidade social. Sob gestão de José Antonio de Godoy, a Acipi participou do processo de revitalização da praça José Bonifácio, entregue no final de 2005. Foram feitas aberturas de acessos, renovação do paisagismo e reurbanização da área para melhorar o trânsito de pedestres e motoristas. O projeto contemplou também a pavimentação asfáltica de ruas, abertura e pavimentação de acessos, construção de rotatória, José Antônio de Godoy ficou à frente da Acipi de 2005 a 2009 godoy 130 modernização da iluminação, implantação de estacionamentos, reforma dos sanitários, coreto e fonte luminosa, recuperação do paisagismo e sinalização (vertical e horizontal). Desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba (Ipplap), com apoio da população e das entidades ligadas ao comércio, o projeto criou 100 vagas de estacionamento e delimitou espaço para os deficientes físicos e idosos. Agências bancárias investiram na modernização da iluminação para melhorar a segurança dos frequentadores e proporcionar um ambiente mais moderno. Houve a troca de aproximadamente 120 lâmpadas de vapor de sódio pelas modernas de vapor metálico. DINAMISMO - Foi a marca da gestão do empresário Jorge Aversa Junior, da Aversa Automóveis, que assumiu a Acipi em julho de 2009, para um mandato de três anos, após permanecer oito anos na vice-presidência. Sua missão: implantar a ISO 9001-2008, normas técnicas que estabelecem modelo de gestão de qualidade e conferem às empresas maior organização, produtividade e credibilidade. Sua meta: transformar a Acipi em uma grande escola para formar e reciclar líderes, atendendo às necessidades das empresas. Para isso, manteve parceria com duas instituições renomadas de ensino: Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Dessa união nasceu a Escola de Negócios Acipi, que tem como objetivo qualificar empresários e profissionais de Piracicaba e região. Outro projeto desenvolvido na gestão de Aversa Jr. e que coloca a associação na vanguarda é o Memorial do Empreendedorismo. O espaço resgata a história de Piracicaba e de homens que contribuíram com o seu desenvolvimento, empreendedores que colocaram a Noiva da Colina em destaque no cenário estadual e nacional. “Não existe futuro sem passado, não tem como a sociedade se desenvolver sem respeitar o passado. A realidade é resultado do trabalho de grandes homens”, enfatiza Aversa Jr. A trajetória desses personagens da história de Piracicaba é contada de forma interativa no Memorial, que tem um caráter didático e educacional. Desafios não faltaram em sua gestão. Entre eles, a implantação dos projetos Cidade Limpa e de Requalificação do Centro, de autoria do Executivo. A ação redescobriu a história arquitetônica da cidade e tornou a rua Governador Pedro de Toledo e o comércio mais atraentes. “Era um anseio antigo da população e conseguimos fazer com que o prefeito entendesse a importância. A Governador foi planejada para andar com carros de bois e, hoje, temos uma via estreita e com muitos carros”, observa. Com a intervenção, as esquinas tiveram as calçadas alargadas e ganharam espaços de convivência, onde vasos e bancos 131 enfeitam e servem de descanso para população. A acessibilidade foi garantida com a construção de rampas em todos os cruzamentos e sinalização tátil. O Cidade Limpa veio evidenciar o novo perfil da rua Governador. O projeto disciplina a colocação dos letreiros, outdoors e placas luminosas em frente a estabelecimentos comerciais. Antes, a poluição visual confundia o consumidor e escondia parte da história da cidade. Atualmente, com um visual mais leve, pode-se observar a beleza da arquitetura de alguns prédios do século 19. Ir às compras no centro tornou-se mais agradável. Reivindicação antiga dos piracicabanos e pauta da maioria dos presidentes da Acipi, o estacionamento na área central ganhou atenção especial de Aversa Jr. A implantação do parquímetro eletrônico, no qual o usuário usa dinheiro ou cartão, colocou fim à falta de vagas e abordagem constrangedora e abusiva dos guardadores de carros, chamados de “flanelinhas”. “Nosso objetivo foi o de melhorar a eficiência das áreas demarcadas pela Zona Azul e minimizar os desgastes gerados com as multas”, comenta. Até chegar à instalação do sistema foram realizadas reuniões com associações, sindicatos, igrejas, prefeitura. Temia-se o problema social que poderia ser gerado com os guardadores de carros que atuavam na área da Zona Azul, o que não ocorreu. O controle do estacionamento, antes feito com talões de papel, deu lugar ao sistema eletrônico e as reclamações praticamente acabaram. O sistema oferece a facilidade da compra do tíquete pela internet e celular. Jorge Aversa Junior idealizou o Memorial do Empreendedorismo 132 Zona Azul digital foi implantada no final de 2011 Ao lado de outras unidades de classe espalhadas pelo País, a Acipi participa de movimentos importantes, como a luta contra a cobrança abusiva de impostos em todas as esferas. No dia 13 de setembro de 2011, em frente à sede da entidade, Aversa Jr. comandou um apitaço contra os impostos abusivos. “Somos veementemente contra a sonegação. A exemplo do que acontece em outros países, queremos saber o destino de tudo o que pagamos. Cerca de 70% do volume de R$ 1 trilhão fica em Brasília. E os municípios, onde as coisas de fato acontecem?”, disse na ocasião. O manifesto reuniu várias lideranças e empresários. Foram distribuídos bandeirinhas verde e amarelo e panfletos destacando a força da união no sentido de lutar contra o excesso de impostos. No Feirão do Imposto, o piracicabano podia observar os impostos pagos sobre vários produtos usados no dia a dia. Na gestão Aversa Jr., a Acipi, em parceria com a Diretoria Regional de Ensino e as Secretarias Municipais de Educação e do Governo, lançou a cartilha “Administre Bem seu Orçamento Doméstico”, a fim de orientar o piracicabano sobre a forma correta de gerir as finanças pessoais e domésticas. Os 50 mil exemplares foram distribuídos em escolas, empresas, centros comunitários e residências. A Acipi participou da campanha pela duplicação da SP-304, trecho que 133 liga Piracicaba a Águas de São Pedro, realizada pela Gazeta de Piracicaba e Rádio Onda Livre FM. Foram reunidas cerca de 42 mil assinaturas entregues pelas lideranças da cidade ao governador José Serra em dezembro de 2007. Aversa Jr., então vice-presidente da Acipi, representou a entidade. A duplicação foi autorizada em 2012 pelo governador Geraldo Alckmin, com previsão de início em 2013. Em 2009, em parceria com a Prefeitura, lançou o projeto Luz & Arte, que todo final de ano, no mês do Natal, transforma Piracicaba na cidade-luz. A ideia é resgatar o espírito de Natal. Em 2012, já na gestão de Frias Neto, mais de um milhão de lâmpadas do tipo led enfeitaram lugares representativos de Piracicaba. A iluminação da passarela pênsil e das árvores que ficam em sua entrada, na avenida Beira Rio, foi o pontapé inicial para iluminar a frondosa Sapucaia, a fonte da praça José Bonifácio, o estacionamento da Estação da Paulista, armazéns do Engenho Central, Centro Cívico, Casa do Povoador e o Casarão do Turismo. Uma série de atrações culturais reforça o clima natalino com o que há de melhor na cultura local, incluindo corais, teatro, música, dança. As lojas, com promoções e ações voltadas para a data, têm no projeto Luz & Arte uma oportunidade de incremento das vendas naquele que é o período em que há a maior procura por presentes. Aversa preside a RA-7 Em 2013, Jorge Aversa Junior assumiu a presidência da Região Administrativa de Campinas (RA-7), a maior das 20 regiões que compõem a Federação do Estado de São Paulo (Facesp). A RA-7 é integrada por 38 cidades e considerada a mais importante, inclusive com o maior PIB paulista. É a primeira vez na história da Federação que um piracicabano assume o cargo. Aversa Junior, empresário do ramo automobilístico, foi eleito por unanimidade. “Isso é gratificante, mas de uma grande responsabilidade”, disse. Na presidência, Aversa pauta o seu trabalho em dois pilares: no associativismo e coletivismo. Desenvolvendo uma “gestão compartilhada”, o empresário disse que, junto aos presidentes das entidades ligadas à regional, buscará recursos para capacitar, orientar e trazer novos produtos para o comércio, indústria e serviços da região. 134 Conselho do Jovem Empresário Eles são dinâmicos, movidos pelo desafio, vislumbram o sucesso e dominam a tecnologia. É neles, nos jovens empreendedores, que a Acipi está focada. São o futuro, a renovação, a inovação. “Nossa proposta é despertar o empreendedorismo e o interesse dos jovens para a sucessão da empresa familiar”, observa Rodrigo Santos, coordenador do Conselho do Jovem Empresário (CJE). O Conselho tem esse papel de agregar à Acipi o espírito do jovem empreendedor. Criado em 2002, o Conselho realiza reuniões e palestras para discutir sobre a gestão, incentivar o empreendedorismo, despertar lideranças e promover a troca de experiências. O CJE está sendo reformulado para tornar ainda mais eficaz na proposta de ser o canal da associação com os jovens, filhos de empresários que se preparam ou já assumiram os negócios, ao lado dos pais. O coordenador diz que os trabalhos serão retomados em um novo formato, que vai envolver os jovens em conversas com empresários e profissionais de diversas áreas. Novos temas devem ser incluídos nos debates como a livre iniciativa, democracia, gastômetro, entre outros. A ideia é proporcionar informações. Há quatro anos, o desenvolvimento sustentável passou a ser um dos focos do CJE, que inseriu a Associação Comercial e Industrial na luta por um mundo mais limpo, de respeito à natureza. O meio ambiente ganhou um aliado em potencial. “Nós, jovens, temos a obrigação de fazer alguma coisa para mudar, reverter esse quadro de degradação que nosso planeta está vivendo. Aqui é a nossa casa e temos que cuidar bem dela”, diz Rodrigo. É com essa filosofia que o CJE firmou parceria com várias entidades e empresas da cidade para elaborar a série de cartilhas “Meio ambiente, cuidando ele fica inteiro” com os temas: resíduos sólidos, água, solo e ar. É um guia para a indústria, agricultura, prestação de serviço e cidadãos piracicabanos entregue nas escolas, entidades, bibliotecas, empresas. “Precisamos despertar para a questão ambiental. Ações simples no dia a dia fazem a diferença”, observa o coordenador. A Acipi, por intermédio do CJE, também orienta a população sobre o destino correto de resíduos por meio de panfletos que ensinam o que fazer com óleo de frituras, material de construção civil, pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes e pneus. “Dessa forma, estamos cumprindo nosso papel de responsabilidade social e ambiental”, afirma Rodrigo Santos. O primeiro coordenador do CJE foi o empresário Giacomo Inforzato. 135 Conselho das Mulheres O Conselho da Mulher Empresária (CME) reúne profissionais e mulheres que vivenciam a rotina de negócios para discutir temas do universo empresarial e proporcionar a ampliação da rede de relacionamentos. A Acipi foi uma das primeiras associações a integrar o projeto do Conselho das Mulheres Empresárias, idealizado pela Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp). Criado em 2000, o CME nasceu com caráter filantrópico e com a evolução das atividades o foco passou a ser a integração das mulheres empresárias com a realização de encontros e palestras. O diretor de Conselhos, Luiz Carlos Furtuoso, explica: “Com o passar dos anos, o Conselho tomou dimensão maior. Além do social, ainda presente na realização dos encontros com a arrecadação de donativos para entidades assistenciais, a atualização das mulheres tornou-se a preocupação central do CME. Os temas das palestras passaram a ser direcionados não apenas às mulheres que possuem uma empresa, mas também às suas colaboradoras ou àquelas que vivenciam o empreendedorismo, pois a família é de empreendedores”, afirma Furtuoso. Os encontros promovidos pelo CME ganharam um novo formato para melhor interação com as mulheres. A nova concepção traz espaço maior para discussão e troca de ideias, e também proporciona maior amplitude aos temas apresentados. Dispostos em uma “sala de visitas”, dois profissionais convidados, na presença de uma conselheira mediadora, opinam sobre assuntos do universo empresarial, como economia, recrutamento e seleção, finanças, empreendedorismo. A coordenadora do CME, Damaris Verderame, ressalta que o Conselho conta com um time de conselheiras experientes, conhecedoras do mercado e das tendências para uma mulher de negócios. O CME já teve como coordenadora: Ivone Maluf, Marcia Dedini, Cristina Amalfi e Damaris Verderame. 136 Uma sede moderna e funcional A Associação Comercial e Industrial de Piracicaba está instalada em um moderno prédio, localizado bem no centro da cidade, na rua do Rosário, de onde testemunha o crescimento da Noiva da Colina, hoje com 385.287 habitantes e um dos principais municípios do Estado de São Paulo. Funcional, o prédio foi construído dentro de um conceito que possibilita a extrema mobilidade na ocupação do espaço, que corresponde a 3.653,74 metros quadrados de área construída. A construção teve início em abril de 1985 e o projeto de Luis Egidio Simoni e Renata Leme contemplou a funcionalidade, favorecendo o layout interno. Em 1991, Telmo Otero inaugurava parte do prédio. Quando a obra foi concluída, com 2.536,41 metros quadrados, uma segunda inauguração aconteceu na gestão de Paulo Checoli e, em 18 de outubro de 1994, foi oficializado o novo endereço da Acipi: rua do Rosário, 700. Um jardim e o espelho d’água contrastam com a estrutura do prédio e levam o visitante até a porta de vidro escuro da entrada. No térreo fica o atendimento ao público, consulta ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) gratuita ao consumidor, certificação digital, estágios (CIEE), emissão de guias pela Unimed e o setor administrativo. No subsolo, cujo acesso pode ser pelas escadas ou elevador, fica o auditório para 201 pessoas, com sala de projeção e programação de tradução simultânea para quatro idiomas. A acústica foi estudada pelo engenheiro russo Igor Sresnewsky. O espaço foi equipado com revestimento acústico, sistemas de áudio e vídeo, internet wi-fi e hall para coffes e coquetéis. As instalações da Acipi foram ampliadas em 1.117,33 metros quadrados com a construção do anexo, onde ficam a Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Empresários de Piracicaba (Coopcred), Escola de Negócios e seis salas para aulas e reuniões, sendo uma com capacidade para 50 pessoas, com sistema de som, iluminação e lousa digital, onde são realizadas as plenárias da diretoria e dos Conselhos. No anexo fica também a sala da presidência, o Memorial do Empreendedorismo e Região Administrativa de Campinas (RA-7), da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo. A Acipi adquiriu também uma área para estacionamento com vagas para 25 carros. 137 Auditório Antônio Perecin Hall do auditório Recepção da Acipi 138 Serviços 139 Memorial do Empreendedorismo A voz portentosa de Cid Moreira dá as boas-vindas aos visitantes do Memorial do Empreendedorismo, inaugurado em 2012 pela Associação Comercial e Industrial de Piracicaba. Logo na entrada, o locutor global explica, em um vídeo, o intuito do projeto, que resgata a história dos empreendedores do município, a partir do povoador Antonio Corrêa Barbosa, passando por séculos de história até chegar a empreendimentos que acabaram de se instalar no município, como a montadora coreana Hyundai. Ao adentrar-se no espaço, as águas projetadas ao chão criam a ilusão de que o rio Piracicaba passa por ali. Peixes nadam e encantam os visitantes. No auditório localizado em uma das laterais do memorial, um vídeo com duração de oito minutos resume a proposta do Memorial. Nele, Jorge Aversa Junior, idealizador do projeto, e a historiadora Marly Therezinha Germano Perecin, que coordenou os trabalhos, destacam o fato de Corrêa Barbosa ter iniciado, assim que a cidade foi fundada, à margem direita do rio, uma fábrica de canoas, aproveitando a madeira das árvores então existentes. Nascia ali o 140 espírito empreendedor que acompanha Piracicaba até os dias atuais. Cerca de 90% do acervo do memorial é virtual. Painéis com a linha do tempo traçam, de forma resumida e didática, a história do empreendedorismo de Piracicaba. Revelam fatos importantes, como a instalação da cidade em 1767 ao lado direito do rio, a chegada dos imigrantes, a vinda de grandes empresas, pontuando os principais acontecimentos que contribuíram para o desenvolvimento da cidade e apresentando o contexto da história geral do país. Personalidades da história local, entre elas, Mário Dedini, Luciano Guidotti, Luiz de Queiroz e o Barão de Rezende, são evidenciadas. Em telas de vídeos disponibilizadas nas paredes, é possível ouvir, utilizando os fones, explicações mais detalhadas sobre momentos emblemáticos para a história local. Monitores com telas sensíveis ao toque permitem o acesso a arquivos digitais de páginas de jornais com história do município e da Acipi, que surgiu em 1933 e, desde então, tem auxiliado o comércio local na adoção de medidas empreendedoras, em busca da inovação. O Memorial do Empreendedorismo, que integrou a programação da Semana Nacional de Museus 2013, tem o caráter pedagógico. Grupos de estudantes fazem visitas monitoradas e conhecem não só a história dos empreendedores como também as transformações geográficas que mudaram a paisagem da cidade ao longo O acervo do Memorial da Acip é virtual 141 de seus 246 anos. Ao fundo, o som de uma viola torna o ambiente lúdico, genuinamente piracicabano. BLOG - Em agosto de 2013, o presidente Angelo Frias Neto lançou o blog oficial do Memorial do Empreendedorismo. “Acreditamos que a disseminação desse conteúdo na internet ajudará a estimular as práticas do empreendedorismo e possibilitará ao internauta conhecer mais sobre a nossa história”. Pelo endereço memorialacipi.wordpress.com pode-se consultar detalhes e registros sobre o desenvolvimento econômico e social da cidade, além de informações sobre a associação. O site tem espaço para repercussão e discussão que fazem parte da rotina da entidade e de Piracicaba. 142 Portal de Negócios Uma oportunidade de negócio com apenas um clique no computador. Assim pode ser resumida a filosofia do Portal de Negócios da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba, lançado em 2012, com informações das cerca de quatro mil empresas associadas à entidade. Este foi o primeiro passo para que o empresariado local veicule, de forma gratuita, seus serviços na rede virtual. O objetivo é fazer com que as empresas recebam treinamentos e possam realizar operações de venda por meio do site. Para a Acipi, o lançamento busca alcançar todos os perfis de empresas. Dos micros aos grandes empreendedores. O objetivo é disponibilizar nova ferramenta, principalmente aos pequenos e médios empresários que ainda não têm um portal na rede, como o E-commerce, modalidade de vendas online. Por meio da internet, elas ganham visibilidade com o site e podem vislumbrar, a um curto prazo, um volume de venda maior. Essas empresas podem ganhar mais competitividade. Os associados de grandes empresas que já tiverem o sistema E-commerce poderão postar um link no Portal de Negócios da Acipi. “Nós queríamos oferecer uma ferramenta que quebrasse qualquer resistência em relação ao E-commerce, que é uma tendência mundial. Traçamos então um caminho para aqueles que não sabiam como resolver essa dificuldade sozinhos”, afirmou Jorge Aversa Junior. A parceira no desenvolvimento do serviço, Balaminut, disse que a segurança foi o item que demandou mais tempo na elaboração do portal. Foram dois anos de trabalho para o desenvolvimento de site que ofereça total segurança aos seus associados. O volume de vendas online vem crescendo e, hoje, o Brasil é o quinto país no mundo com o maior número de navegantes virtuais. No total, são cerca de 80 milhões. Uma realidade que o Portal de Negócios ajuda a disseminar. 143 Escola de Negócios A busca constante pelo aperfeiçoamento, o foco na capacitação e a necessidade da qualificação da gestão empresarial levaram a Acipi a criar a Escola de Negócios, em parceria com a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), que passaram a oferecer cursos de capacitação. A direção da Escola é do professor Clóvis Pinto de Castro, profissional com longa experiência na área de gestão educacional e que ocupou cargos de relevância em instituições de ensino renomado, entre eles, a vice-reitoria da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e a reitoria da Unimep. Segundo ele, a meta é fazer da Escola de Negócios a principal referência regional na formação de líderes com competências e habilidades para inovar e enfrentar as mudanças geradas por uma sociedade complexa e globalizada. “Queremos fortalecer a área de capacitação e qualificação profissional, que sempre foi uma demanda da instituição”, observa o diretor. Para atingir o objetivo, Clóvis Castro conta com a credibilidade da marca Acipi, com uma excelente infraestrutura física e a qualidade da atual equipe para projetar um futuro promissor. As aulas acontecem em oito salas de aula instaladas no primeiro andar do prédio da Acipi, com capacidade para receber entre 40 a 80 alunos, cada uma. O projeto atende a um dos pilares da entidade comercial, que é a capacitação. A Acipi sentiu necessidade de uma nova demanda por uma escola que tivesse como objetivo a gestão, não só para o empresário, mas também para os seus sucessores. E aproveita um nicho de mercado para consolidar o novo empreendimento, apostando na qualidade e inovação. Entre os primeiros cursos estão um MBA em Varejo e Serviços, que é oferecido pela Unimep, e uma pós-graduação em Gestão de Negócios com Ênfase em Marketing, por parte da ESPM. O público-alvo: empreendedores, gestores e colaboradores dos setores do comércio, indústria e prestação de serviços. Outros cursos de curta duração e também na modalidade in company são oferecidos pela escola. O diretor diz que estuda, junto à direção da Acipi, a ampliação dos cursos de lato sensu, de curta duração, ensino a distância. A Escola de Negócios nasceu com um conceito inovador na capacitação de empresários e demais profissionais. O foco na qualificação proporciona a oportunidade de atualização e conhecimento em diversas áreas de gestão e desenvolvimento humano por meio de cursos. Na Acipi, o aluno tem acesso a uma variedade de temas exclusivos com o melhor custo, benefício e localização. Há anos, a Acipi desenvolve projetos e parcerias com o objetivo de 144 A Escola de Negócios tem foco na qualificação e formação de líderes preparar as empresas para os desafios do mercado, cada vez mais competitivo. A Escola de Negócios vem consolidar o compromisso da entidade com o desenvolvimento de Piracicaba e região, tendo como principal ferramenta o ensino. Um dos objetivos traçados é o fortalecimento das atuais parcerias e a busca de outras que ofereçam cursos, tecnologias ou serviços que ampliem a possibilidade de atuação da escola, especialmente por meio da Educação a Distância (EAD), em níveis nacional e internacional. 145 Posto da Jucesp A Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) inaugurou em junho de 2012 um novo posto de serviços em Piracicaba. A unidade, que era administrada em convênio com a Associação Comercial e Industrial de Piracicaba, foi transferida para a Prefeitura Municipal dentro do Programa Via Rápida Empresarial, implantado pelo governo estadual em maio de 2013, que possibilita a abertura de empresas em até cinco dias úteis pelo Sistema Integrado de Licenciamento (SIL). Trata-se do 72º posto da Junta Comercial no Estado. Vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, a Jucesp é responsável pelo registro público de empresas mercantis e atividades afins, dando garantia, publicidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos submetidos a registro. A Junta Comercial efetua ainda a autenticação de livros contábeis e a matrícula de armazéns gerais, leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais. Conta com 5,6 milhões de empresas registradas atualmente. Compete ao posto de serviços da Jucesp receber, protocolar e devolver documentos; informar sobre a existência de nomes empresariais idênticos ou semelhantes; emitir ficha cadastral das empresas registradas; encaminhar aos escritórios regionais ou à Junta Comercial os documentos para análise singular e os requerimentos de certidão simplificada; encaminhar à Jucesp os documentos para análise colegiada e os requerimentos de fotocópia, certidão específica e Ficha de Breve Relato. Proteção ao crédito Um dos principais serviços oferecidos pela Acipi é o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), administrado pela Boa Vista Serviços, e que possibilita a consulta no maior banco de dados de inadimplentes do Brasil, uma vez que armazena registros de débito em nível nacional, oferecendo maior segurança nas operações de crédito. O serviço permite obter informações relevantes para avaliação e concessão de crédito e previne a ação de golpistas e falsificações de documentos, contribuindo para a redução da inadimplência. As consultas ao SCPC são usadas como indicador de consumo pela entidade. O serviço foi criado há 54 anos, em 1959, com o objetivo de proteger o comerciante de pessoas que recebiam o crédito e não cumpriam seus compromissos para quitar a dívida. O sistema da Acipi é integrado à Rede Nacional de Informações Comerciais (Renic), que conta com banco de dados de 150 milhões de informações sobre negócios efetuados a crédito. 146 A população pode consultar gratuitamente o SCPC na rua do Rosário, 700. A consulta é feita mediante apresentação de documentos (CPF e RG) e o serviço é feito somente para o próprio solicitante. Não são autorizadas consultas em nome de terceiros. Coopcred A Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Empresários de Piracicaba (Coopcred) existe desde 2007 quando 29 entusiastas se uniram para abrir a instituição, com apoio do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob). Seis anos depois, mais de 400 sócios usufruem das vantagens de ser um cooperado: facilidade de acesso ao crédito e juros reduzidos. Na moderna sede, prédio anexo à Acipi, eles são atendidos com conforto e segurança. O prédio facilita a acessibilidade com rampas e banheiros para deficientes físicos e tem porta giratória com detector de metais e câmeras. Os clientes contam com três caixas, sala de reunião e guarita de orientação e monitoramento. O objetivo da Coopcred é oferecer oportunidades de crédito aos empresários do comércio, indústria e serviço do município, especialmente pequenos e médios, ligados à Acipi e ao Simespi (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Eletrônico, Siderúrgicas e Fundições de Piracicaba). Fiscalizada e autorizada pelo Banco Central, a Cooperativa possui todos os serviços regularmente oferecidos pelas demais 147 instituições financeiras tradicionais, como conta corrente, aplicações financeiras, seguros, cobrança bancária manual e automatizada, descontos de cheques e duplicatas, cartões de crédito e débito e empréstimos com taxas de juros diferenciadas das praticadas no mercado. Convênio firmado com a Prefeitura Municipal permite também o recolhimento de receita e tributos municipais. No sistema cooperativista o voto é igualitário e atua de forma organizada e coletiva. As taxas são mais baixas nas operações, comparadas às do mercado. Índice de Confiança do Varejo A Acipi e a Ejea (Esalq Jr. Economia e Administração) firmaram, em setembro de 2013, parceria para divulgação do ICV-P (Índice de Confiança do Varejo de Piracicaba) aos empresários, ao setor público e à sociedade. O índice mede as expectativas dos lojistas em relação à economia, ao segmento em que atuam e as suas próprias empresas. O indicador é importante para verificar a confiabilidade deles em novos negócios, possibilitando a definição de estratégicas para alavancar as vendas. Em datas comemorativas como Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia dos Pais, Dia das Crianças e Natal, a Acipi realiza, em parceria com a CW7 Pesquisas, pesquisas de intenção de compra e venda para subsdiar os empresários com dados gerados pela economia local. O ICV-P é tido como um termômetro do comércio da cidade. Os dados são coletados todo final do mês com os comerciantes e divulgados no início do mês seguinte. A partir dessas informações, os empresários poderão planejar o melhor momento para fazer investimentos ou conter despesas. “Ao associarmos nossa entidade à divulgação do ICV-P, cumprimos com nossa missão de promover o fortalecimento do comércio, fornecendo conhecimento e tecnologia sustentável aos nossos associados”, afirma o presidente Angelo Frias Neto. 148 Indústria 149 Produção de canoas A produção de canoas nos arredores do rio, fabricadas com as frondosas árvores tamboril, símbolo de Piracicaba, é considerada o marco inicial da industrialização da cidade. A presença de estaleiros, desde o início da povoação, tornava a cidade um dos escoadouros dos produtos agrícolas da região. A importância dessa atividade era tamanha que, em 1873, o Barão de Rezende criou uma companhia de navegação fluvial para disciplinar as operações. Até as primeiras décadas do século XX, o movimento de embarcações e vapores foi intenso, transportando principalmente café e madeira vindos do porto de João Alfredo (atualmente, Ártemis). Enquanto o café era embarcado na estrada de ferro com destino ao porto de Santos, a madeira era entregue nas serrarias. A energia fornecida pelo salto do rio Piracicaba também facilitou e estimulou o desenvolvimento das atividades urbanas industriais, especialmente dos engenhos e das primeiras fábricas, como a de tecidos Santa Francisca – fundada em 1876 por Luiz de Queiroz, à margem esquerda 150 do rio, e que alterou a planta da cidade com o fechamento de algumas ruas, despertando resistência da população. Também pode ser citada a Empresa de Luz Elétrica, outra que teve Queiroz à frente: ele conseguiu um contrato com o poder público local, válido de julho de 1891 a setembro de 1928, para o fornecimento de energia elétrica destinada à iluminação pública e particular. As atividades manufatureiras já existiam em Piracicaba desde o final do século XIX, constituindo uma pequena produção mercantil com fortes características de empreendimentos familiares, segundo a professora Maria Thereza Miguel Peres. “Diferenciam-se apenas a Companhia Agrícola e Industrial Boyes e as duas grandes usinas - Engenho Central e Monte Alegre - que já representavam grande potencialidade de expansão comercial”, afirma. Exemplar da árvore Tamboril 151 Primeira grande indústria A fábrica de tecidos Santa Francisca, que posteriormente ganhou o nome de Arethusina e, mais tarde, Boyes, é considerada como o primeiro grande estabelecimento industrial de Piracicaba e dos maiores do interior paulista. Nas suas atividades de fiação e tecelagem, ela chegou a empregar 420 pessoas ainda no início do século passado, número expressivo para a ocasião. A Santa Francisca foi criada por Luiz de Queiroz em 1876, com 50 teares e 70 operários. Os mais especializados eram todos europeus. A produção anual de 600 a 700 mil metros de algodão era enviada para São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. A matéria-prima era buscada em Santa Bárbara D‘Oeste, Sorocaba, Tietê e Tatuí, enquanto Queiroz tentava incrementar o cultivo do algodão na própria cidade. De acordo com o economista e pesquisador Renato Maluf, desde 1898 a Santa Francisca esteve hipotecada ao Banco do Brasil, Buarque de Macedo. Este vendeu o estabelecimento para Rodolfo Nogueira da Rocha Miranda, que o batizou de Arethusina em homenagem à sua mulher, Arethusa Pompéia de Miranda. Em 1918, a fábrica passou para as mãos da empresa Boyes Irmãos e Cia, dirigida pelos ingleses Herbert James Boyes e Alfred Simenson Boyes. Nessa época, atingiu o número de 2,5 mil funcionários, o que representava 6% do operariado do setor têxtil Fábrica de Tecido do Estado. Arethusina, à margem esquerda do rio Piracicaba 152 Visita à Arethusina Em julho de 1903, a fábrica de Tecidos Arethusina, à margem esquerda do Piracicaba, empregava 250 pessoas, homens e mulheres, e produzia mais ou menos 5600 metros de tecidos, ou 900 quilos. A empresa apresentava edificações espaçosas, sólidas, bem iluminadas e ventiladas. Em uma visita que redatores do Jornal de Piracicaba fizeram à fábrica dia primeiro daquele mês, observaram o espírito republicano e o bom relacionamento do industrial Rodolpho Miranda com os empregados. Seguem trechos do relato da visita: “À margem esquerda do nosso deslumbrante e encantado Salto, funcciona a Fabrica de Tecidos Arethusina, que é um incontestavel elemento de prosperidade para Piracicaba. Visitamos hontem aquelle estabelecimento em companhia do seu hábil guarda-livros sr. capitão Octaviano Pinto César. Um belo jardim acaba de ser construido na frente do edifício da fabrica, não tendo deixado o sr Rodolfpho Miranda, os seus conhecidos sentimentos de patriotismo e de religião, pois à entrada principal do mesmo edifício acham-se inscriptas estas palavras: “Deus, Pátria e Familia – Tudo pela Republica”. Em tudo, como já dissemos, que o visitante alli vê, nota-se que o espírito dirigente da Fabrica de Tecidos Arethusina, que é um estabelecimento que honra Piracicaba e a industria nacional – é atilado e observador, procurando unir as coisas úteis, tudo quanto é agradável aos olhos e à commodidade. Há entre os operários dalli a maior cordialidade e admirável disciplina, correndo o serviço em boa ordem. Cada operário tem consigo um regulamento empresso e nesse folheto, criteriosamente redigido tem um artigo, que é o que trata da liberdade do voto operário. É livre o pensamento do operário da Fabrica de Tecidos Arethusina. Cada um deles, é um eleitor livre, que sem prejuízo absolutamente de seus interesses e dos de seu patrão votará em quem bem lhe parecer. O edifício principal foi construido especialmente para o fabrico de tecidos de algodão, com fiação própria. Em seu interior são movimentadas as secções de fiação, cardas, tecelagem e preparação por perfeitas machinas de Plat & Brothers. Ao fundo, nos baixos deste edifício, vêm-se, de um lado, a grande turbina de fiação, e, de outro, completa officina mechanica, dividida com o assentamento de um novo dynamo com capacidade para 100 ampers. Ligado ao edifício principal, por uma ponte, vê-se o magnífico predio da tinturaria com alta torre em que descança grande caixa d’ágúa elevada por bomba hydraulica – funcionando, no pavimento superior, duas engommadeiras e três machinas remettentes de rolos, e, no pavimento térreo, com machinismos e todos os acessórios apropriados. Destacadamente está o edificio dos descaroçadores onde tambem funccionam uma possante machina de transformar estopa com 6 tambores, e ao fundo a carpintaria, iluminação electrica em todo o edifício.” 153 Patrimônio histórico O Engenho Central de Piracicaba, que hoje é um dos pontos turísticos e culturais mais relevantes do município, foi uma das principais indústrias situadas às margens do salto do rio Piracicaba, junto à antiga fábrica Arethusina. Líder no processamento de cana-de-açúcar durante sua existência, impulsionou o desenvolvimento industrial da cidade e foi um grande gerador de empregos diretos e indiretos, especialmente para trabalhadores das fazendas que forneciam matéria-prima. O Engenho foi fundado em 19 de janeiro de 1881 por Estevão Ribeiro de Souza Rezende, conhecido como Barão de Rezende, e empresários que se mobilizaram para formação do empreendimento, que “mal chegou a funcionar devido às más condições do mercado e pela dificuldade de matériaprima” (Jornal de Piracicaba 24/11/1983). O próprio Barão de Rezende comprou o estabelecimento dez anos depois, dando-lhe o nome de Companhia Niagara Paulista. Em julho de 1899, no entanto, acabou vendendo-a para a empresa Societé Sucrèries de Piracicaba, que conseguiu um salto na produção, conquistando o primeiro lugar no Estado. Em dezembro de 1907, com a incorporação de seis usinas - Piracicaba, Vila Raffard, Porto Feliz e Lorena, Engenho Central, em São Paulo; Cupim e Paraíso, no Rio de Janeiro -, patrimônio transformou-se em Societé Sucrèries Brésiliennes. histórico de A prosperidade não durou muito: fortes geadas Piracicaba 154 no ano de 1918 causaram prejuízos. Além disso, o crescimento da Vila Rezende foi dificultando cada vez mais as operações do engenho. Ao longo dos anos foi se tornando um inconveniente, já que os caminhões de cana tinham de atravessar a cidade dividindo espaço com automóveis, caminhões, ônibus e bondes. Paulatinamente, as leis de urbanização foram impondo limites para as atividades e não havia como concorrer com outras unidades produtoras. Em novembro de 1970, o Engenho foi vendido para as Usinas Brasileiras de Açúcar S/A (Ubasa), do empresário paulista José Adolfo da Silva Gordo, que o desativou quatro anos depois. Quase todas as fazendas que compunham a propriedade foram loteadas e vendidas, restando apenas o próprio Engenho, devido a um acordo com a prefeitura. Em março de 1982, o então prefeito João Herrmann Neto declarou o Engenho como de utilidade pública para fins de desapropriação, processo concluído em 1989, durante a gestão José Machado. O tombamento veio em 11 de agosto daquele ano e, em 1º de maio de 1990, o local foi aberto ao público com uma festa em homenagem ao Dia do Trabalho. Reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo, em 22 de novembro de 1990, classificava a criação do Engenho Central como um projeto ousado: “O Brasil nem conhecia as estradas de ferro e a Lei Áurea só viria em 1888”, registrou. De acordo com o texto, o objetivo do empreendimento foi o de mecanizar o processo de fabricação do açúcar e substituir o trabalho escravo pelo assalariado. Teria contribuído para o fracasso da ideia a falta de mão de obra especializada e os custos com a reposição de peças, que tinham de ser importadas uma vez que o maquinário era francês. Para os profissionais do setor da construção civil, os 12 mil metros quadrados de área construída do engenho, sem similar no País, os cerca de 80 mil metros quadrados de área verde e, principalmente, o fato de os prédios terem sido erguidos com tijolos de barro, sem uma única peça de concreto, provocam curiosidade e admiração. São os antigos armazéns e residências dos empregados. O barulho das moendas engolindo a cana, o apito que anunciava o começo e fim da jornada e o cheiro da cana no ar viraram lembranças e histórias do tempo em que a água do Piracicaba era utilizada para resfriar as colunas de destilação, acionar as turbinas de geração elétrica e encaminhar o restilo. O Engenho Central foi transformado em um espaço cultural que sedia eventos de projeção nacional e internacional, como a Festa das Nações, Paixão de Cristo, Salão Internacional de Humor, Simpósio Internacional e Mostra de Tecnologia e Energia Canavieira (Simtec). Nele, está localizado o Teatro Municipal Erotídes de Campos. 155 Italianos empresários Quase 50% dos empresários que operavam de forma regular em Piracicaba, entre 1889 a 1930, eram italianos, de acordo com estudo realizado a partir de uma amostragem de 69 empresas de capital totalmente nacional. Na distribuição dos empresários de acordo com a origem étnica, a pesquisa mostra ainda que 13% eram brasileiros, 1,5% austríaco, 1,5% espanhol, 1,5% tiroles e 1,5% alemão. Não foi apurada a proporção das demais nacionalidades. A professora Ana Maria Romano Carrão, do Centro de Estudo e Pesquisa em Administração da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), realizou o trabalho em parceria com a pesquisadora colaboradora da Unicamp, Maria Beatriz Bianchini Billac. Ela acredita que esse número pode chegar a 86% se forem considerados os sobrenomes que, embora supostamente italianos, não puderam ser confirmados como tais. As empresas dos imigrantes se caracterizavam pelo pequeno porte. Juntas, elas empregavam aproximadamente 8% da mão de obra, seguidas pelas Oficinas Dedini (6%), a Refinadora Paulista, Monte Alegre (39%), Companhia Industrial e Agrícola Boyes (34%) e Societé Sucrèries Brésiliennes, Engenho Central (12%). O período de mais acentuado crescimento no número de empresas foi de 1921 a 1930, com destaque para os anos de 1924 (quando foram abertas 12), 1926 (nove) e 1930 (oito firmas novas). Das 12 instaladas em 1924, nove eram destinadas à produção e comercialização de açúcar e aguardente, com predominância para as italianas. Sobre as áreas de atuação nas quais os imigrantes das diversas origens atuaram e os locais em que eles acabaram se instalando na cidade, a professora Ana Maria disse que há somente indícios de que os imigrantes estiveram fortemente ligados às áreas de alimentação (açúcar, aguardente, pães, beneficiamento de fubá e arroz), vestuário (ternos e chapéus) e produção de calçados. Descendentes Estima-se em torno de 55% a 65% os descendentes de italianos em Piracicaba, segundo o Memorial do Imigrante. Seus antepassados viram na imigração para o Brasil a solução para a onda de desemprego que assolava a Itália. Os fazendeiros brasileiros, por sua vez, tiveram de buscar alternativas a partir de 1850, quando a Lei Eusébio de Queiroz passou a proibir o tráfico negreiro e os preços dos escravos subiram muito. O governo colaborou na atração de imigrantes ao criar, em 1871, uma 156 Società Italiana Mútuo Di Soccorso, fundada em novembro de 1887 lei que permitia a emissão de apólices de dinheiro para ajudar a pagar a passagem e instalação das famílias. As sociedades de mútuo socorro foram sendo organizadas pelos italianos que já estavam instalados no país para garantir a subsistência, orientação e união dos conterrâneos recém-chegados. Em Piracicaba, foi criada, em 13 de novembro de 1887, a Società Italiana Di Mútuo Soccorso. Os estrangeiros que chegaram com conhecimentos tecnológicos ou algum capital investiram em pequenos comércios e nas primeiras indústrias, sempre voltadas para a agricultura canavieira, de acordo com Evaristo Marzabal Neves (Revista do IHGP - novembro/1999). Grande contingente deles, no entanto, permaneceu por muito tempo trabalhando duramente no campo como empregado, especialmente a partir do século XX. Não foi só essa a dificuldade para os imigrantes. No início da SOCIEDADES BENEFICENTES EM ATIVIDADE década de 40, por exemplo, cidadãos de origem alemã e • Societá Italiana di Mútuo Soccorso - 1887 italiana eram atacados nas ruas. • Sociedade Beneficente Espanhola - 1898 No Jornal de Piracicaba • Sociedade Sírio Libanesa - 1902 de 23 de setembro de 1942, a • A Sociedade Beneficente 13 de Maio, 1901, Associação Comercial de que surgiu nos mesmos moldes das imigratórias, mas prestando assistência 157 aos negros contra a repressão. Piracicaba comunicava que os “súditos” alemães, italianos ou japoneses que tivessem ou fossem sócios de empresas tinham de comunicar à Junta Comercial ou ao Cartório de Registro Geral qual o gênero do negócio ou objeto de comércio, o capital ou parte dele que detivessem, o nome e a nacionalidade de pessoas físicas e jurídicas estrangeiras, seus sócios ou acionistas e o número e valor das quotas e ações. A medida tinha uma explicação: o mundo vivia a Segunda Guerra e todo cuidado com eventuais “traidores da Nação” era considerado essencial. Quatro anos depois, ainda no Jornal, era citado o texto de Geraldo Rezende, um representante das classes patronais brasileiras na Conferência Internacional do Trabalho em Paris (França), que destacava o “quão vantajoso era dispor da mão de obra europeia naquele momento de fragilidade do Velho Mundo”. Além de conseguir braços para a lavoura, na opinião do articulista, o Brasil baratearia seu custo de vida e ganharia projeção mundial “enorme” caso conseguisse “dar de comer ao mundo”. Na Europa, segundo ele, faltava adubo, as colheitas eram muito pequenas e, comparada à sua extensão territorial, a população de 45 milhões de pessoas era insignificante para a época. O próprio Jornal de Piracicaba noticiava, dias depois, que estrangeiros “imbuídos de ideias políticas” eram indesejáveis e que os demais deveriam vir aos poucos e ser escolhidos “a dedo”. Além de apresentarem uma conduta que não perturbasse “a ordem vigente e a harmonia”, os estrangeiros não poderiam estar acometidos dos flagelos causados pela guerra e pela miséria. OUTRA VISÃO - O fato de o mercado de trabalho não ter se desestabilizado com a vinda dos imigrantes fez com que, já nos anos 50, passassem a ser vistos pela população local de uma outra maneira. De acordo com a professora da Unimep Maria Thereza Miguel Peres, as crônicas demonstravam admiração por eles ajudarem a cidade a prosperar e a projetar-se no Estado como importante centro de progresso agroindustrial. Nesse período, segundo ela, surgiram os comendadores, quase todos de famílias italianas, bem-sucedidos e ricos: Mário Dedini, Morganti, Antonio Romano, Almeida, entre outros. O título, inicialmente, era distribuído pela Igreja Católica aos que se destacavam nas obras assistenciais e similares. No Memorial dos Imigrantes, com sede em São Paulo, é extensa a lista com os nomes de italianos relacionados a Piracicaba. Entre os empresários estão Pedro Morganti e o império industrial que construiu; Vincenzo Orlando, Carlo Carmignani, DeI Nero e Cia. e Pasquale D’Ambrosio, com fábrica de cerveja; Emilio Bertozzi e Cia. e Giovanni Batista Cardinali, com 158 fábrica de macarrão; Giuseppe Petrin, com fábrica de doces; Antonio Monaco, Cesare Bortolazzo, Umberto Cosentino, Fratelli Negri, Giuseppe Schiavinato, Alessandro Balistiero, Luigi Sangelmie, Mario Dedini, com fábrica de construção e reparação de carroças. Vittorio L. Furlan, Alfonso Senofonte Pecorari, Pasquale Guerrini, com serraria e fábrica de móveis; Alcibiade Bottene, Dino Corazza, Fratelli Paterniani e Guerino Bottene, com oficina mecânica; Abramo Manfrinato, Antonio Nardi e Figli, e Fratelli Sansigolo, Giuseppe Simoni, Margherita Zarac Vincenzo Mauro e Fratelli, com fábrica de móveis; Antonio Bellini, com fabbrica di colchões; Cesare Brozzi, Delmo Brozzi e Fratello, com fábrica de sabonetes; Settimo Giustic e Figli, com fábrica de meias; Luigi Leonardi, com marmoraria; Emilio Adamoli e Figli e Fratelli Peresin, con fabbriche di vassouras de palha; Carlo Cossa e Figli, com fábrica de couro; Augusto Baldo e L. Bottene, com fábricas de artigos de couro; Nicola Labate e Spoto e Cia, com fábrica de calçados. Como comerciantes ou negociantes, os italianos lembram Olimpio Consolmagno, Mazzonetto e Cia, Domenico Vizioli, Giuseppe Appezzato, Antonio Testa, Enrico Umberto, Olimpio Barsotti, Natale Boldrini, Vincenzo Rondo, Giuseppe Dommarco, Vincenzo Rigitano, Primo Falzoni, Francesco Maiolino, Giuseppe Fasanaro, Michele Zilio, Antonio Cardinali, Umberto Al drovandi, Antonio Bcrgamini, Aldo Benatti, Francesco Mitidieri, Giulio Scalanari, Francesco Nucci, Fratelli Cofani, Luigi Verderesi, Pasquale Gatti, Pietro Chiarini, Battista Signorelli, Giuseppe Testa, Pasquale Casale, Giocondo Bandiera, Agostino Antonucci, Giovanni Moretti, Giuseppe Rosário Losso, Ermínia Lagato, Raffaele ltali, Pucci e Fratelli, Frediano Giovannetti, Santo Belloni, Ludovico Pevatelli, Antonio Botti, Antonio Sciarantola, Vincenzo Nardi. Como profissionais, os italianos lembram Rosário Averna Saccà, Lucia Manica, Inês Fraschini e Maria Testa, Enrico Trotta, Ottavio Dalla Libera e Mario Schraider. Entre as famílias de italianos que contribuíram para o crescimento de Piracicaba estão os Martini, com os “Doces Martini”, e os Orlando, com a tradicional Gengi-birra. As histórias são marcadas pelo trabalho árduo e persistente da italianada. De volta ao tempo, na pacata Piracicaba daquela época, o som da Ave Maria anunciava a aproximação da ximbica do Neguinho que adoçava a vida dos moradores diariamente. O Neguinho era o italiano Agostinho Martini Neto, proprietário da indústria de “Doces Martini”, que teve início muitos anos antes, no fundo de quintal de sua casa, onde sua mãe fazia, em um tacho, as cocadas que ele vendia pela cidade, quando menino. Com uma cesta debaixo do braço, ele percorria as casas e conquistava a freguesia. A fábrica propriamente dita teve início em 1930, na rua Moraes Barros, 159 Agostino, ao lado da ximbica, uma relíquia da família Martini em uma casa que existia em frente a um bosque que ficava onde hoje é o estádio Barão da Serra Negra. Dois anos depois, foi transferida para a rua Boa Morte, na esquina com a rua Gomes Carneiro. Os negócios prosperavam e a família decidiu comprar uma chácara na rua Ipiranga, onde até hoje está instalada a indústria que ganhou expressão nacional. Os doces eram feitos em tachos e mexidos com espátulas de madeira. Não havia água encanada e luz. No início as vendas eram feitas de charrete, mas, em 1939, melhorou com o Fordinho 28, comprado de Lélio Ferrari, que o havia transformado em um furgão. Agostinho chamava o veículo de ximbica, uma relíquia da família até hoje. As vendas cresciam e a ximbica logo foi substituída por uma frota de furgões que permitiu a venda dos doces para fora de Piracicaba. A primeira cidade foi Iracemápolis. Na empresa, a família exibe, com orgulho, um dos carros utilizados na entrega dos doces e os três tachos do início da indústria. Os doces Martini são vendidos para todo o Estado de São Paulo. São cocadas, pés-de-moleque, queijadinhas, paçocas, doces de mamão, doces de batata-doce, doces sírios de goma, além de compotas e geleias. 160 Dupla irresistível Espumoso e com gostinho de limão, aquele refrigerante incolor caiu no gosto do povo, principalmente das crianças, logo que foi lançado no início do século XX. Na verdade, a gengi-birra surgiu em São Paulo, em 1870, e foi trazida a Piracicaba 28 anos depois, em 1898, pela família Andrade. Mas foi há 100 anos, com Vicente Orlando e sua família, que o refresco gasoso passou a ser a bebida da família piracicabana a partir de 1913, quando teve início a produção numa fábrica de bebidas instalada no Bairro Alto, à rua 15 de Novembro, onde permaneceu dois anos, antes de ser transferida para a rua Benjamin, antiga rua da Glória. Em 1920, os Orlando iniciaram a produção da etubaína, à base de banana, pêssego, morango e pera. No começo, a gengi-birra e a etubaína chegavam aos bares e residências em carroça ou carrinho de mão. Os entregadores enfrentavam as ruas de terra batida. Em 1937, Vicente e os filhos Caetano e José compraram um caminhão Chevrolet para atender Piracicaba, que se expandia, e levar os sabores da marca até cidades vizinhas. Eram vendidas cerca de 100 dúzias de gengi-birra por dia, mas no final do ano, durante as festas, a procura aumentava muito. Para não deixar os Rótulo de identificação da Gengi-birra 161 fregueses na mão, os funcionários produziam durante o ano todo para estocar. Aquele refresco fermentado à base de gengibre, açúcar e limão cortado com casca ganhou tanta fama que em muitas residências, antigamente, os domingos eram dias de macarronada, frango e gengi-birra. A etubaína também dava sabor especial às reuniões das famílias. O auge foi nos anos 60 e 70, época de boas vendas. Com o surgimento das marcas famosas, os bares e restaurantes deixaram de vender apenas os refrigerantes regionais. Em 1987, as máquinas da fábrica Orlando silenciaram. Findou-se a fabricação própria, mas a força da marca Orlando, sob a administração de Renato e seus filhos Maria Elisa e Eduardo Orlando, resistiu aos tempos e completa 100 anos, mantendo o sabor inigualável da dupla etubaína e gengi-birra. Dedini consolida perfil açucareiro A empresa Dedini é um capítulo à parte na história de Piracicaba. Nos anos 50, por exemplo, a cidade era considerada rica por causa do dinamismo da indústria Dedini. Tudo começou em 1920, quando Mário Dedini instalou uma modesta oficina de carpintaria e ferraria para consertos de carroças e charretes. Paulatinamente, passou a fazer reparos em engenhos nos períodos Complexo de entressafras da cana-de-açúcar. metalúrgico Em 1929, com a crise do café e o crash na Dedini, na Vila Rezende, na década de 50 162 Bolsa de Valores de Nova York, o que dificultou a importação de equipamentos, os irmãos Armando e Mário Dedini passaram a produzir peças, aceitando os engenhos usados como forma de pagamento. Para ter acesso à tecnologia importada, Mario Dedini desmontou um engenho que havia adquirido no Rio de Janeiro, transportou-o em lombo de boi até Piracicaba, onde estudou a tecnologia utilizada no processo de montagem. A partir daí, os empresários brasileiros não precisaram mais comprar, no exterior, equipamentos para o complexo canavieiro. A empresa começou a se destacar, também, na fabricação de moendas e caldeiras e a pequena oficina se tornou decisiva no desenvolvimento da indústria sucroalcooleira da cidade e acabou resultando na criação da M. Dedini S/A Metalúrgica. A partir de então, o grupo amplia o mercado de atuação, diversifica os produtos e instala novas unidades. Em seu livro Concentração e Desconcentração Industrial em São Paulo (1880-1990), o economista Barjas Negri afirma que a “Dedini foi fundamental na formação de um proletariado local fundamentalmente metalúrgico”. Sua afirmação demonstra a relevância da empresa no aspecto da organização industrial do município. Economia doce A cana-de-açúcar sempre esteve presente na economia de Piracicaba, mesmo quando o café se tornou a principal cultura do país, transformandose em riqueza nacional e enriquecendo muitos fazendeiros. Ao lado de Jundiaí, Mogi das Cruzes e Sorocaba, Piracicaba integrava o chamado “quadrilátero do açúcar”, que se tornou o maior centro produtor de açúcar do Estado de São Paulo e foi desfigurado com a chegada do café. O economista Pedro Ramos conta que os municípios, com exceção de Piracicaba, abdicam-se da cana, substituindo-a totalmente pela planta de aroma e sabor inconfundíveis. Precavidos, os fazendeiros locais aderem à euforia do café, sem, no entanto, abandonar de vez a cana-deaçúcar, promovendo a convivência das duas culturas no período entre 1850 a 1880. Depois disso, segundo Ramos, as atividades ligadas à cana voltam a predominar. A importância e o impacto da introdução e da concentração da produção açucareira em Piracicaba e áreas mais próximas são avaliados pelo economista com base no número de engenhos existentes: em 1798 havia apenas três; um ano depois, nove; e em 1816 eram 18 engenhos e mais 12 em construção. Já em 1836, a então Vila Nova da Constituição destacava-se como uma das principais produtoras de açúcar para exportação no Estado de São Paulo, 163 Engenho Monte Alegre foi fundado em 1887 com 78 engenhos. Proliferam-se as oficinas mecânicas para consertos dos engenhos, até a chegada dos Dedini, no século XX, que viria a ser “a matriz geradora da indústria local”, como define a professora Eliana Terci. Segundo ela, a dupla cana-café teve uma convivência saudável no município, que entrou na contramão do contexto da época, quando o café estava em alta, modernizando a produção açucareira com a fundação do Engenho Central (1881) e do engenho de Monte Alegre (1887), fundamentais para a economia local. Com a quebra do café, em 1929, a cana toma conta das terras de Piracicaba, consolidando o perfil canavieiro que se mantém em destaque até os anos 40. Em 1926, o prefeito Luiz Dias Gonzaga já reclamava, em entrevista ao Jornal de Piracicaba, da compra crescente de terras por proprietários de engenhos. As usinas, consideradas os embriões da indústria atual em Piracicaba até a década de 30, produziram açúcar num ritmo superior ao do estado. Segundo trabalho coordenado pelo economista Renato Maluf, relacionado ao desenvolvimento do mercado e trabalho no município, é a partir de 1930 que a região e a cidade vão viver singular processo de desenvolvimento capitalista, incrementado pelas usinas. A partir da segunda metade da década de 40, Piracicaba alcançava 164 significativa posição na expansão da produção açucareira e canavieira nacional, que representou “o início de um processo irreversível de transferência de hegemonia da região nordestina para a região Centro Sul, com destaque para a posição que o Estado ocuparia”, afirma a professora Maria Thereza Miguel Peres. Das décadas de 40 a 60, Piracicaba registra o gradativo desaparecimento das chamadas engenhocas. As unidades que processavam a cana tiveram de se transformar em usinas e, as que não se adaptaram, acabaram fechando as portas. Os produtores de alambiques, que também eram muitos, não resistiram à modernidade. Para se ter ideia das modificações, nos anos 30, em São Paulo, 79% do açúcar era proveniente de usinas e 21% de engenhos. Em 1940, esses números foram para 85% e 15%, respectivamente. Em 1950, quando Juscelino Kubitschek promove a industrialização e a modernização da economia do país, Piracicaba está embalada no dinamismo da indústria Dedini, que tinha sua atividade voltada para o complexo canavieiro. Em novembro de 1950, o Jornal de Piracicaba referia-se à cidade como o maior município açucareiro do Estado, destacando a produção de aguardente pela família D´Abronzo, com a empresa Tatuzinho. Foi o jingle da empresa que deu a Piracicaba a fama de terra da pinga boa. O recenseamento de 1953 constatou que Piracicaba era de fato o maior município produtor de cana do Estado, com cerca de 16% do total produzido. Na produção nacional, ficou somente atrás de estados como São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. Ao lado do açúcar, destacava-se a produção de álcool, aguardente, tecidos de algodão, 165 tijolos e telhas. Em 1958, o editorial do Jornal declarava a cidade como “Capital açucareira do Brasil”. O Proálcool impulsiona a economia Não há como falar da economia piracicabana sem mencionar o Proálcool (Programa Nacional do Álcool), criado pelo Governo Federal na década de 70, quando o mundo vivia a crise do petróleo, com redução da produção e elevação dos preços. O programa teve duas fases: de 1975 a 1979, quando o álcool anidro era misturado com a gasolina; e de 1980 a 1985, de consolidação, quando o álcool hidratado passou a substituí-la. O carro a álcool foi lançado em 1979. Cinco anos depois, quase 95% da frota nacional era movida por este combustível, que se tornou alternativa às oscilações do preço do petróleo. Na primeira fase do Proálcool, a indústria açucareira passava por uma crise provocada pela queda acentuada nos preços internacionais do produto, perda de mercados preferenciais, expansão da produção de açúcar de beterraba por outros países e pelo processo de substituição do açúcar de cana por outros adoçantes. A solução para os usineiros foi anexar destilarias de álcool às unidades produtoras de açúcar, o que permitiu ao setor livrar-se da crise. A segunda fase privilegia a instalação de destilarias autônomas. Estimase que o programa tenha gerado 600 mil empregos diretos e indiretos, dois 166 Primeiro carro a álcool Na década de 30, o piracicabano João Bottene, chamado de “gênio mecânico”, percorreu cerca de oito quilômetros de terra batida, que ligavam a cidade à usina de açúcar, no bairro Monte Alegre, com um Fordinho 29 movido a álcool. Bottene teria iniciado suas experiências com o uso de álcool em motores de explosão estacionários e em seu Fordinho, numa oficina mecânica que ficava na rua 13 de Maio com o córrego Itapeva, hoje avenida Armando de Salles Oliveira. Segundo o seu filho Artemio, na primeira metade do século o pai utilizava o seu carro com êxito. Ele chegou a ir a São Paulo com o seu Fordinho movido a álcool. Informações levantadas por Artemio indicam que o veículo resistiu por muitos anos, superando o gasogênio de 1942. Ainda na década de 30, na Usina Monte Alegre, de propriedade de Pedro Morganti, que o contratou como gerente técnico da oficina de manutenção de equipamentos, João Bottene prosseguiu com suas experiências adaptando os motores dos automóveis e caminhões para o consumo do álcool. E não parou aí: construiu barcaças fluviais para o transporte de cana, acionadas por motores de caminhão também transformados para o uso de álcool e chegou a realizar testes com o seu avião Piper Club PP-TXT, utilizando o álcool com combustível. Em 1980, o ex-folclorista e advogado João Chiarini publicou, no Diário de Piracicaba, que as companhias americanas, fornecedoras de gasolina, “boicotaram e bloquearam o nascedouro do empreendimento que se antecipara 47 anos aos modelos contemporâneos de carros a álcool”. Ele escreveu ainda que José Vizziolli, graduado pela Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, criou o motor a álcool e que João Bottene condicionou o veículo ao combustível. 167 terços no Estado e, grande parte, durante a crise que durou de 1981 a 1983. Entre as safras de 1975/76 e 1979/80, a produção no interior cresceu sete vezes, representando 70% da produção nacional. Economistas afirmam que o Programa Nacional do Álcool impulsionou as atividades das indústrias de equipamentos para agroindústria canavieira. “O município pode ser considerado o grande centro de produção nacional de destilarias, já que nele estão localizadas as duas principais empresas produtoras - a Codistil S/A e a Conger”, afirma Eliana Terci, citando ainda o Grupo Dedini e a Zanini como as duas indústrias beneficiadas pelo Proálcool. Em 1983, tem início o declínio do programa. Em 1989, há crise de abastecimento e, nove anos depois, o Proálcool foi abandonado pelo governo, culminando, em 1999, com uma crise aguda: sobra de álcool, excedente de açúcar, baixos preços e restrições à queimada de cana. Naquele ano ocorreu a desregulamentação do setor por parte do governo. Piracicaba torna-se cidade industrial Nos anos 40, Piracicaba já apresentava aspectos socioeconômicos que expressavam de forma mais definida “a imagem de uma cidade industrial com amplas disposições para o progresso”. A avaliação é da professora Maria Thereza Miguel Perez. Após a Segunda Guerra, segundo ela, ocorreram transformações que suscitaram imagens veiculadas pela imprensa de cidade moderna, em consonância com o que ocorria no país. Os indicadores dessa modernidade eram a produção industrial, a redefinição e ampliação de áreas residenciais e comerciais com ruas largas e avenidas, os arranha-céus, o automóvel, a televisão e o telefone. Na relação dos municípios mais populosos do estado, em 1950, Piracicaba aparece em sétimo lugar, com 87.835 habitantes, tendo somente Sorocaba e Ribeirão Preto à sua frente no interior. Apenas 22 dos 369 municípios, na ocasião, tinham mais de 50 mil habitantes e somente quatro mais de 100 mil. Além da evolução populacional, a taxa de urbanização e a densidade demográfica eram significativas, próximas à tendência geral do estado. Em termos comparativos, na década de 40/50, a taxa média anual de crescimento em Piracicaba foi 0,68%. No estado, 2,71%. De 50 para 60, cresceu para 4,05% na cidade e 3,84% no Estado. Os cálculos são do economista Renato Maluf. Entre 1936 e 1956, as rendas federais de Piracicaba aumentaram 5.001%, revelando percentuais significativos de progresso que conferiu à cidade, em 1954, 38o. lugar entre as cidades brasileiras de maior renda. Entre as paulistas, ela ficou em 15o.". (Jornal de Piracicaba – 10/04/1957). 168 A cidade ganha nova cara com o alargamento das avenidas Armando de Salles e Centenário Para “coroar” o boom da expansão industrial, verificado entre 1950 e 1960, em 1957 o prefeito Luciano Guidotti recebeu, do então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, o prêmio “Município mais Progressista do Brasil”, conferido pelo concurso de grande repercussão política nacional, promovido pela revista O Cruzeiro e pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam). Na época, o governo estadual de Jânio Quadros dava total apoio a Piracicaba. O Brasil estava inserido no contexto internacional monitorado pela ideologia do nacional desenvolvimentismo, iniciada nos anos 40 com Getúlio Vargas e que marcaria a gestão de JK. Guidotti, apesar de descrito por historiadores como “inculto e semialfabetizado”, tornou-se um empresário rico e de sucesso com uma concessão da General Motors. Foi na sua época, como prefeito, que a cidade viveu uma grande transformação urbanística, com alargamento de avenidas, asfaltamentos, construções de edifícios e loteamentos em bairros distantes. 169 CONCENTRAÇÃO - Perto da década de 40, as indústrias apresentavam tendência para se concentrar nas proximidades da Estação Sorocabana. Na região ficavam as serrarias Guerrini e Kock, a fábrica de filtros e a fundição do Doutor Otavio Teixeira Mendes, a fábrica de ladrilhos Carracedo, os “estabelecimentos de João Bottene” de fabricação dos pregos dos trilhos e de consertos das locomotivas e a fábrica de balas Nechar. “Para muitos empreendedores, lá estava o local ideal para a expansão industrial. Mas, a partir de 1941, com a construção da Estação Sorocabana, a seção de reparos e consertos da empresa foi transferida para Sorocaba, deixando ocioso o prédio recém-construído e a indústria foi-se expandindo no sentido horizontal da cidade, pela Cidade Alta ao longo da rua Santa Cruz, esvaziando tal expansão junto à estação”. (Jornal de Piracicaba – 1/5/1957) As atividades comerciais e parte das industriais ainda se mantinham na área urbana, próximas às ruas centrais, e já desencadeavam problemas pelo movimento de chegada e saída dos veículos nas fábricas, dificultando a circulação dos demais veículos e pessoas nessas ruas. Os ruídos, a fumaça e a poeira industrial obrigaram a revisão no zoneamento da cidade. Na Vila Rezende estava a segunda concentração industrial, com a presença específica de atividades mecânicas e metalúrgicas expandidas a partir da iniciativa do Grupo Dedini, ou seja, a siderúrgica, a Codistil e a Metalúrgica Dedini. Parque industrial A monocultura da cana predominava na economia de Piracicaba na década de 70, mais precisamente em 1973, quando o então prefeito Adilson Maluf criou o primeiro distrito industrial de Piracicaba - o Unileste, instalado às margens da rodovia SP-304. Na época, estudos apontavam as terras próximas de Anhembi, consideradas impróprias para a cultura agrícola, como local ideal para a instalação de um Distrito Industrial. Sem dar ouvidos àqueles que, segundo o jornalista Cecílio Elias Neto, alertavam para os problemas imediatos que a “industrialização desorganizada” poderia trazer, como o “acréscimo excessivo da população, falta de empregos, de habitação, de escola, com o consequente processo de favelização, aumento de criminalidade, insegurança etc”, Maluf anunciava a vinda da Caterpillar e, pouco tempo depois, da Phillips do Brasil. Uma reportagem no jornal O Estado de São Paulo de 1º de agosto de 1974, intitulada “Piracicaba opta pelas indústrias”, revelava um pouco da euforia que a ampliação do setor industrial causava. Só a Caterpillar, que estava em fase de instalação no Unileste, geraria cinco mil empregos. 170 Unileste, às margens da rodovia SP-304 “Desde a criação do distrito Unileste, a Prefeitura vem investindo maciçamente no desenvolvimento industrial, ao mesmo tempo em que procura atrair grandes empresas nacionais e estrangeiras”, afirmava O Estado. Especificamente sobre o distrito, o jornal registrou que a Prefeitura preparava a área, dotando-a de infraestrutura para a implantação de cinco grandes empresas que haviam tido seus projetos aprovados. Quarenta anos depois de sua criação, o Unileste conta com cerca de 120 empresas, entre elas, companhias tradicionais e algumas das maiores fontes de arrecadação de impostos para a cidade, como Caterpillar Brasil, Case, Delphi, Bom Peixe, Café Morro Grande, Candura, Elring Klinger, Transportadora Rodomeu, Weidmann, Fundiart, Stork. São em torno de 15 a 20 mil funcionários. O Distrito Unileste foi o precursor de todos os conceitos de empreendedorismo e de geração de empregos, nas últimas décadas, para Piracicaba. Foi a partir da construção do núcleo industrial que as projeções de outros distritos foram intensificadas. 171 Distrito Industrial Uninorte foi criado em 1998 UNINORTE – Criado em 1998, somente em 2009 a Prefeitura concedeu alvará para o distrito industrial Uninorte. O loteamento também recebeu licença de instalação da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Atualmente, são cerca de 75 empresas associadas em quase um milhão de metros quadrados estrategicamente localizados. O Uninorte fica próximo ao anel viário e de várias rodovias importantes que margeiam a cidade, o que facilita o escoamento dos produtos, além de transformar o distrito em ponto econômico estratégico. O Distrito dispõe de pavimentação asfáltica de alta qualidade e estação autônoma para tratamento de esgoto e de redes de água e energia elétrica adequadas. No Uninorte, estão empreendimentos como Dedini, Acemil, Faromar, Ananda Metais, Aroma Biocombustíveis, Biocane, Rezentrac, Unimil, Supricel Logística, Puma Tambores e Transportadora Courier. O último dos distritos industriais é o Uninoroeste. Criado pela Lei Complementar nº 175 de 2 de agosto de 2005, o Distrito Industrial localizado na região noroeste de Piracicaba possui cinco milhões de metros quadrados. Lá estão instaladas as empresas CJ do Brasil e Biomim Brasil Nutrição Animal. Em 2012, teve início em Piracicaba uma das iniciativas mais arrojadas das últimas décadas com a chegada do Parque Automotivo. A Hyundai passou a fabricar, em Piracicaba, o HB20, mudando de maneira radical o perfil industrial do município. 172 O total de colaboradores na planta brasileira da Hyundai fica em torno de 2,7 mil pessoas. Além dos funcionários que estão na montadora de veículos, há os trabalhadores que atuam nos fornecedores automotivos coreanos, que também estabeleceram unidades produtivas no Distrito. Isso representa mais três mil empregos diretos para economia local. O Parque Automotivo em Piracicaba gera mais de cinco mil empregos diretos e outros 22 mil indiretos. Do total de funcionários da montadora coreana, cerca de 80% é de Piracicaba e região. Isso se deve à preocupação da empresa de estimular a economia local, com aquecimento na quantidade de empregos com alto grau de qualificação, o que também diversifica o ambiente econômico de toda a região. A montadora coreana fabrica cerca de 150 mil veículos por ano, capacidade da planta industrial de Piracicaba. O valor do investimento da unidade chega a US$ 600 milhões, além de outros US$ 300 milhões na construção das empresas fornecedoras. O HB20 representa a chegada da montadora coreana à fatia do mercado automobilístico, maior e mais competitiva, responsável por 60% das vendas: os compactos. O modelo tem como principais concorrentes carros como o Novo Gol, Novo Palio, Novo Uno e o Fox. Indústrias diversificadas Falar sobre a indústria em Piracicaba é relembrar uma história marcada pelo empreendedorismo e inovação. De empreendimentos como a fábrica de canoas de Antonio Corrêa Barbosa no século XVIII, passando pelo Engenho Central e Arethusina, até a chegada das grandes multinacionais na metade do século XX, a cidade modernizou seu parque industrial, tornandose referência em desenvolvimento e tecnologia. O parque industrial de Piracicaba conta com 1.219 empreendimentos que atuam e recolhem tributos no município e que respondem pelos seguidos superávits na balança comercial de Piracicaba. São mais de 40 mil pessoas empregadas na área industrial local. Os dados são do Ministério do Trabalho. O setor de produção de açúcar e álcool representa um capítulo à parte na economia de Piracicaba. A vocação para este mercado está ligada à história do município com as grandes propriedades de terra e os engenhos que marcaram o desenvolvimento do município. Desde o início de sua história, a cidade se destacou pelas grandes marcas na produção de aguardente, como Tatuzinho e a Cavalinho. Atualmente, as atividades ligadas ao setor são realizadas em usinas, refinarias e terminais portuários. O Grupo Raízen, um dos mais importantes do país, é uma joint venture criada a partir da fusão de negócios da Shell e Cosan, em junho de 2011, para impulsionar o desenvolvimento sustentável 173 no mercado de energia, para fazer do etanol uma commodity, sem perder de vista o compromisso com o meio ambiente e com a qualidade de vida das pessoas. São cerca de 40 mil funcionários. Com 24 unidades, a Raízen produz dois bilhões de litros de etanol por ano, quatro milhões de toneladas de açúcar, gera 940 MW de energia elétrica a partir do bagaço da cana-deaçúcar e comercializa 22 bilhões de litros de combustíveis em todo o país. Atualmente, o conglomerado Raízen atua nos mercados de distribuição de combustíveis, produção de açúcar, etanol e bioeletricidade e trading. Além das unidades produtoras de álcool e etanol, o setor conta com a força dos produtores agrícolas ligados à Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana), referência para quem vive do plantio da cana e da agricultura. Presidida por Arnaldo Bortoletto, a entidade de 65 anos conta com cerca de nove mil produtores associados, que contam com serviços de assistência e assessoria agronômica e veterinária de altíssima qualidade. Além de acompanhar o desenvolvimento dos produtores rurais e incrementar a diversificação de culturas, a entidade tem o compromisso de subsidiar as demandas sazonais e lutar por política justa. A Coplacana oferece mais de 12 mil itens utilizados na agricultura. O atendimento é feito nas lojas na matriz e nas 21 filiais espalhadas pelo Brasil. O crescimento na produção de açúcar e álcool fez o município se tornar referência no setor sucroalcooleiro, com o surgimento da agroindústria. A nomenclatura abrange não só as usinas de açúcar e álcool, mas evidencia a existência de empresas com produção relacionada à cadeia produtiva do açúcar e, principalmente, do álcool utilizado como combustível – o etanol. O Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla) foi criado para intensificar a expressão mercadológica das empresas piracicabanas do setor em um contexto internacional. O Apla reúne destilarias, indústrias, instituições e centros de pesquisa. A articulação do arranjo integra o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura de Piracicaba. O Arranjo discute alternativas da cadeia produtiva do setor sucroalcooleiro, com diminuição dos custos de produção e aumento da competitividade. Entre os parceiros estão a Associação Comercial e Industrial de Piracicaba, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), sindicatos e empresas relacionadas ao setor sucroalcooleiro. No bairro Santo Antonio, próximo ao Monte Alegre, está o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), criado em 2004 quando a então Coopersucar abriu o seu capital e deixou de ser a mantenedora dos programas de pesquisas. Foram 25 anos de atuação do Centro de Tecnologia Coopersucar, que ficou reconhecido internacionalmente como referência em tecnologia da 174 agroindústria da cana-de-açúcar. Com a reestruturação, tornou-se uma associação civil de direito privado, formada por produtores de cana, açúcar e álcool do Brasil, com o objetivo de investir no desenvolvimento de variedades de cana mais produtivas e agregar qualidade à produção de açúcar e álcool. O CTC tornou-se o principal centro mundial de desenvolvimento e integração de tecnologias da indústria sucroenergética. Em 2011, foi transformado em Sociedade Anônima (S.A). Para se manter na vanguarda das pesquisas ligadas ao setor canavieiro, Piracicaba conta com o Parque Tecnológico, que tem como objetivo incentivar a pesquisa de biocombustíveis e bioenergia, com a integração entre educação e mercado. Lá estão instados a Faculdade de Tecnologia de Piracicaba (Fatec), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), a Esalqtec, incubadora de tecnologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, o Centro de Apoio ao Negócio (CAN) central administrativa da Raízen, o Arranjo Produtivo do Álcool (Apla). Há ainda uma série de empreendimentos paralelos, particulares, como condomínios, hotéis e centros de convenções em andamento. A iniciativa do Parque Tecnológico é uma parceria entre a prefeitura e a Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo. Caterpillar Brasil foi instalada em Piracicaba na década de 70 175 Outras empresas Apesar da vocação para os setores açúcar e álcool, agroindústria e máquinas, o parque industrial de Piracicaba conta com grandes e importantes empresas. Instalada em Piracicaba desde a década de 70, a Caterpillar Brasil vem investindo em alta tecnologia, adotando modernos conceitos para flexibilizar suas operações e oferecer produtos e serviços da mais alta qualidade. Esses investimentos permitiram-lhe desenvolver forte perfil exportador de produtos, como escavadeiras hidráulicas, compactadores, carregadeiras de rodas, motoniveladoras, retroescavadeiras e tratores de esteiras. Em novembro de 2013, a Caterpillar inaugurou uma unidade no Distrito Unileste: a fábrica de Remanufatura & Mangueiras. A indústria de base em Piracicaba se destaca no parque industrial local, com a participação de empresas como a Dedini, NG Metalúrgica, Femaq, Mausa e a ArcelorMittal. O conceito desse tipo de empreendimento é simples: toda indústria que produz matéria-prima para outra empresa é classificada como indústria de base. O segmento industrial também é conhecido como indústria de bens de produção (ou indústria pesada) e diz respeito principalmente aos ramos siderúrgico, metalúrgico, petroquímico e de cimento. A NG Metalúrgica planeja projetos para os segmentos de papel e celulose, química e petroquímica, alimentos e equipamentos para produção submarina de petróleo. A empresa também atua na fabricação de peças e equipamentos sob desenho para diversos segmentos da cadeia de bens de capital. A Mausa S/A Equipamentos Industriais, fundada por João Bottene e Romeu de Souza Carvalho para construir centrífugas para açúcar e filtros rotativos a vácuo, fornece equipamentos para diversos setores, como sucroalcooleiro, alimentício, químico, farmacêutico, papel e celulose, mineração, siderúrgico, hidroelétrico. Sua linha de fabricação é composta principalmente por centrífugas automáticas, contínuas, filtradoras e separadoras; filtros rotativos a vácuo, de pressão, autofiltros e filtros prensa; bombas de vácuo e pontes e pórticos rolantes. A Femaq tem como clientes empresas dos ramos da indústria automobilística, geração de energia, indústria de papel e celulose, naval (offshore), petrolífera, alimentícia, entre outros. A Dedini S/A Indústrias de Base é um dos mais importantes grupos empresariais do país, que se destaca como líder mundial no fornecimento de equipamentos e plantas completas para o setor sucroalcooleiro. Atualmente, possui fábricas em Piracicaba, Sertãozinho e Maceió. Outra empresa do grupo é a Codistil Nordeste, localizada em Recife. A empresa mantém comércio na América do Sul, América do Norte, América Central, 176 Caribe, Ásia, Oceania e Sudeste Asiático. A Dedini surgiu há 93 anos, por iniciativa de Mário e Armando César Dedini, em uma pequena oficina instalada na Vila Rezende. Sua forte atuação contribuiu para consolidar o perfil açucareiro de Piracicaba. Em 1943, foi fundada a Codistil (Construtora de Destilarias Dedini), que iniciou suas atividades reformando alambiques e, posteriormente, especializou-se na produção e instalação de destilarias de álcool e aguardente. Em 1955, é criada a Dedini S/A Siderúrgica, hoje ArcelorMittal. A ArcelorMittal, antigas Belgo e siderúrgica Dedini, foi constituída em 2006 pela fusão da Mittal Steel e da Arcelor. A empresa tornou-se a maior siderúrgica do mundo, com aproximadamente 300 mil empregados em 61 países e produção de 1032,3 milhões de toneladas de aço (dados de 2009). A unidade de Piracicaba dedica-se à produção de vergalhões para a construção civil, utilizando sucata metálica como principal insumo em sua aciaria elétrica. A diversidade da indústria local engloba também o ramo de papel e celulose. A Oji Papéis Corporation, fábrica de papéis especiais e líder mundial no segmento, está localizada no tradicional bairro Monte Alegre, cuja história teve início em 1804, quando o latifundiário padre Joaquim Amaral Gurgel fundou a fazenda de mesmo nome. O Engenho Monte Alegre foi criado com a união das fazendas Taquaral e Monte Alegre, em 1824, sendo desativado em 1980. Italiano da província de Lucca, região da Toscana, Pedro Morganti entra para a história do bairro em 1910. Ele comprou Monte Alegre e, anos depois, em 1924, instalou a Refinadora Paulista. Sua trajetória de vida revela que ele chegou ao Brasil pobre, mas que graças à sua visão empreendedora construiu um dos maiores patrimônios de Piracicaba ao ingressar para a indústria açucareira, numa época em que o setor vivia uma fase de ouro. Ele constituiu a “família montealegrina”, segundo a doutora em História, professora Maria Thereza Miguel Peres. Seus estudos sobre Pedro Morganti constataram que para seus ex-empregados e os descendentes deles, o usineiro ainda ocupa o espaço similar ao de um pai. Envolvia-se nos variados aspetos das vidas das famílias que trabalhavam para ele. A comunidade organizada pelo italiano chegou a ter cinco mil pessoas, que contavam com padaria, armazém, farmácia, barbearia, ambulatório médico, bar e até cinema. Com os filhos de Morganti, o tradicional bairro viu surgir, em outubro de 1953, a fábrica de papel e celulose utilizando o bagaço da cana. Com o passar dos anos, vieram as vendas das usinas, fábrica, fazendas. A Refinadora Paulista foi vendida para a família Silva Gordo em 1971 e, nove anos depois, 177 surge a Indústria de Papel Piracicaba (IPP), sob o comando do Grupo Simão. Em 1992, a unidade é incorporada pela Votorantim Celulose e Papel (VCP). Nova negociação e da fusão da VCP com a Aracruz Celulose S/A surge a Fibria Celulose S/A, em setembro de 2009. Após dois anos, em 30 de setembro de 2011, a fábrica é adquirida pela Oji Papéis, que ajuda a preservar e a difundir a história do bairro Monte Alegre. As construções históricas do lugar, muitas em ruínas, são testemunhas da grandeza do império construído por Morganti. Os mais antigos relembram, saudosos, dos tempos em que Monte Alegre pulsava forte, como uma verdadeira cidade. Agora, o empresário Wilson Guidotti Junior, o Balu, quer que o bairro renasça como polo turístico e cultural. Ele está recuperando as casas da antiga Vila Heloisa. Ainda no ramo de papel e celulose, a unidade da Klabin de Piracicaba foi incorporada em 1967 com a aquisição da Cia. Manufatura de Papel Embalagens, do grupo Dedini. A unidade de Piracicaba é recicladora de papéis do Brasil, além de ser considerada a mais moderna unidade produtora de papéis reciclados da companhia, com fornecimento de matéria-prima para a confecção de caixas de papelão ondulado. O setor industrial de alimentação é desenvolvido em Piracicaba com empresas de destaque não só no Brasil, mas também em nível internacional. Localizada no distrito industrial Unileste, o Café Morro Grande trabalha intensamente para levar aos consumidores uma bebida que proporcione benefícios ao corpo e à mente. O objetivo da empresa é oferecer produtos com padrão internacional de qualidade. A história do Café Morro Grande começou a ser escrita em 1930 e, até hoje, mantém-se atualizada, sempre acrescida de novos capítulos que detalham conquistas como a modernização fabril, as certificações de qualidade e as ações de responsabilidade social. Desde 1981, a Bom Peixe Indústria e Comércio atua no mercado de atacado de pescados e frutos do mar, oferecendo uma ampla variedade de produtos e atendendo todo o território nacional. Atualmente, a Bom Peixe é uma empresa de marca forte, que conquistou a confiança de clientes e consumidores. Com instalações industriais de última geração, as máquinas e equipamentos proporcionam maior segurança e qualidade desde a manipulação, congelamento, embalagem e armazenamento dos produtos. Outra empresa conhecida pela fabricação de alimentos industrializados é a Mondeléz Internacional, antiga Kraft Foods, localizada na avenida Cássio Paschoal Padovani. A marca Kraft, presente no Brasil desde 1993, ano em que adquiriu a Q-Refreski, foi substituída em outubro de 2012, com a cisão 178 do negócio norte-americano. Em Piracicaba, a Kraft havia adquirido a Nabisco em julho de 2000 e se tornado a segunda maior empresa de alimentos do mundo e a primeira em lucratividade. A fábrica Nabisco funcionou muitos anos no Bairro Alto, onde eram produzidos o macarrão Aurora e as famosas bolachas Júpter. Construção civil O setor imobiliário vive um momento de plena expansão. A cidade cresce por todos os lados. São obras residenciais, comerciais e industriais. Na zona rural e área urbana, surgem os condomínios horizontais e verticais. São empreendimentos para atender todas as classes sociais, construções de alto padrão, menores e mais populares. Atualmente, estão em construção, em Piracicaba, cerca de 20 mil unidades habitacionais. A Prefeitura Municipal tem, por meio de convênio com a Caixa Econômica Federal e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU), incentivado a habitação popular com a entrega de casas, reduzindo o déficit habitacional estimado, em 2013, em cerca de seis mil moradias para famílias de baixa renda. Preocupado em reordenar e planejar o crescimento da cidade, a partir de 2014, o Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba (Ipplap) começa a escrever o novo Plano Diretor do município, que vem sendo discutido e delineado em fórum aberto com a sociedade e lideranças de vários setores. A proposta é criar “regiões satélites” para dar autonomia aos bairros distantes do centro, que terão acesso à mobilidade, às escolas, às compras, ao trabalho e lazer. O objetivo é o desenvolvimento ordenado e sustentável de Piracicaba. 179 180 Referências Bibliográficas BILAC, Maria Beatriz Bianchini. Piracicaba – A Aventura Desenvolvimentista (1950-1970). MB Editora, 2001. CAMPOS, Raymundo. História do Brasil. Atual Editora, 1983. CARRADORE, Hugo Pedro. Engenho Central de Piracicaba. In Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP), número 8, 2001. __________. Ilha do Sol. Shekinah Editora, 1996. CROCOMO, Francisco Constantino. A administração pública municipal e o abastecimento de hortigranjeiros: o caso dos varejões municipais de Piracicaba. Dissertação de mestrado em Agronomia, área de concentração Economia Agrária. Esalq, 1992. ELIAS NETTO, Cecílio. Memorial de Piracicaba - Almanaque 2002-2003, fascículo 9, janeiro de 2003. 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