Do real ao subjetivo – sobre Lucila Wroblewski

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Do real ao subjetivo – sobre Lucila Wroblewski
Do real ao subjetivo – sobre Lucila Wroblewski
Por Carol Gherardi
Por volta dos anos 80, Lucila Wroblewski, aprendeu a gostar dos espaços, tanto
naturais quanto construídos. A partir de então, decidir em cursar a faculdade de
Arquitetura e Urbanismo foi apenas mais uma etapa.
No entanto, no meio do curso, a estudante de arquitetura descobriu a fotografia.
Além de criar (“ou melhor, recriar”) espaços, Lucila acreditou que de alguma
misteriosa maneira, a fotografia era capaz de projetar emoções.
Segundo a fotógrafa, nesta época, o momento era intenso. “ que eu via e induzia
que os outros vissem através do meu olhar, a surpresa de acrescentar esses outros
olhares e perspectivas ao já visto, e, em algum lugar, a materialidade do que de
fato existe”.
Em seus primeiros trabalhos, Lucila registrou paisagens urbanas e cenas da natureza. “Neles eu explorava o que desde sempre me prendeu a atenção, ou seja,
como era possível compor com os elementos do que via como se fôsse um jogo,
construindo também com linhas, sombras e texturas,criando esse mundo mais
meu”.
Segundo a fotógrafa, anos se passaram e Lucila conservava o formato para fotografar, desta vez sem utilizar o tripé, porém mantendo o equipamento Hasselblad e o negativo preto e branco, além da utilização total do fotograma.
“O prazer sendo também esse, desenhar a imagem como imaginei, no instante
dinâmico do universo. O ‘momento decisivo’. Sem corrigir, o que não aconteceu
não era para ser”.
Esta serie de fotografias é considerado o primeiro corpo de seu trabalho, denominado ‘Paisagens’. “Nele eu atuava em toda extensão do processo, desde a hora
de tirar a foto, prosseguindo com a revelação do filme e ampliação das imagens.
Sempre buscando uma excelência técnica e utilizando processamento archival em
um laboratório no meu estúdio”.
No ano de 1991, Lucila procurou a Oficina Foto de Autor, a qual realizada no Museu da Imagem e do Som, coordenada por Gal Oppido, Eduardo Castanho e Carlos Fadon Vicente. Ao longo de três anos de participação, desenvolveu seu novo
trabalho. Este chamado ‘Paisagens Silenciosas’, fruto do desejo de lidar diretamente com a emoção.
“Percebi que no meu trabalho anterior estava sempre em busca de situações no
mundo concreto que pudessem ser veículos para estados internos, que sempre
procurava algo onde projetar minha visão. Então eu decidi criar uma realidade
fotográfica que fosse um veículo direto para essas emoções internas”.
A fotógrafa acredita que o trabalho Paisagens Silenciosas eram Fotografias que,
ao invés de terem uma correspondência com a realidade factual, tivessem essa
direta correspondência com a sua inspiração.
Neste contexto, Lucila conheceu a técnica de iluminação light-painting e decidiu
absorver ao seu trabalho, pois segundo a fotógrafa, esta técnica permite manipular o momento do registro fotográfico. Assim, Lucila começou a criar configura-
ções para a película do filme, após desenhá-las na mente e no papel.
Em 1993, desde que começou a explorar as possibilidades da técnica “light painting”, Lucila se dedica a um aprofundamento da concepção das imagens que quer
produzir. Isto é, “associo agora emoções com desdobramentos visuais planejados
de antemão. Assim, componho essas imagens em um espaço reflexivo, desenhando e pensando, faço sequências, conto estórias”.
Lucila se identificou a técnica do light painting, após conhecer melhor o trabalho
do fotógrafo esloveno Eugen Bavcar, este Cego desde os 12 anos. Para a fotógrafa
Lucila Wroblewski, utilizar a técnica do light painting é uma forma de enganar o
tempo e o espaço.
Ímã- Lucila, como é o desenvolvimento do seu projeto?
Lucila- Me aproprio do campo visual todo, escrevo e rabisco nele, superponho
imagens (paisagens e pessoas), exploro distâncias, ilusões de ótica, trocadilhos
visuais. Me abro para aquele momento pleno de possibilidades como a câmera se
abre para a noite e aí, vejo que todo planejamento nada mais é que uma escada
para o imprevisível. O imponderável, o acaso, isso que sempre aparece, basta estarmos prontos e querer. Afio a técnica para ter um bom canal, instrumento que
sou, e com grata aceitação, materializo esse acontecer.
Ímã- O que você procura desenvolver?
Lucila- A observação sobre qual marca deixamos, em qual dimensão existimos, o
que mais está aqui.
O que vemos, o que é o olhar...
Um instante de contemplação.
Via dupla, para dentro e para fora, superposição de vivências, frutificação no
momento que concentra o existir.
Lucila- Como mostrar isso em um meio do qual se diz ser apenas espelho da
realidade?
Ou melhor, o que é real?
Para mim é real meu tempo pessoal, onde ao abrir o diafragma da câmera, altero
o espaço brincando com o tempo.
Iludir o tempo com a mesma pessoa em dois lugares?
Alterar o espaço com diferentes tempos?
Onde está a porta que se abre para o além, a porta do meio intuído, imaginado,
passado de esbarrão.
Aí, onde quase perco o que antevejo.
Em cada átimo/foto essa porta abre e fecha.
A pergunta é: será que conseguirei florescer isso que passa por mim?
Um pouco mais de Lucila Wroblewski
Além de inspirara a essência da fotografia, Lucila Wroblewski é uma pessoal sensível e perceptiva. Seus trabalhos são desenvolvidos com a dedicação e o amor de
uma mulher, que após experimentar a sensação de ser mãe, consegue passar ao
leitor de suas fotografias a emoção, a inocência, pureza, naturalidade e simplicidade do momento inesperado.
Para os fotógrafos que desejam aperfeiçoar a sua obra, é fundamental e gratificante a oportunidade de conhecer os registros de Lucila Wroblewski, pois Lucila desenvolve em seus trabalhos a intervenção do homem misturado em uma
energia criativa (ou a própria criação divina). Isto é, Lucila utiliza elementos da
própria natureza, da energia construtiva junto à construção humana, criando
uma situação real e emocionante.
A técnica do light painting – pintar com a Luz, quase exata da combinação do
latim Photo e Graph(y) - consiste em iluminar a cena, geralmente com uma lanterna. “Por exemplo, a pessoa fica transparente quando você ilumina o ambiente
e a pessoas saí do lugar marcado, ao ocupar aquele espaço e a luz não entra ali”.
Segundo Lucila Wroblewski, como o diafragma permanece aberto, a luz continua
registrando. Ou seja, o que for feito/iluminado naquele espaço de tempo, ficará
registrado no mesmo negativo.
“Este trabalho não tem nada modificado no computador”, diz Lucila e completa
“com o equipamento digital, a luz no sensor da câmera atua com diferença”. A
fotógrafa afirma que ainda tentará utilizar a câmera digital em testes, mas ainda
hoje seu equipamento é produzido com Hasselblad, negativo 6x6, atualmente,
colorido.
Lucila acredita que seus mestres influenciaram sua formação fotográfica, tal
como, Dieter Appelt; Horst P. Horst; Elliott Erwitt; Josef Sudek; Eugen
Bavcar; Andre Kertesz; Edward Steichen; Bernd e Hilla Becher; Marcel Gautherot.
A fotografa que, desde menina sempre gostou de olhar e podia ficar horas sentada com os mais velhos na calçada, olhando as cenas que aconteciam, hoje
acredita que a sua fotografia é muito mais interna do que externa.
“A fotografia começa com uma reflexão interna. Uma percepção minha, comigo
mesma. Interior.”
Confira algumas fotos de , Lucila Wroblewski na Ímã Foto Galeria
Galeria – Lucila Wroblewski