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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS GRUPO DE ESTUDOS: DESENVOLVIMENTO, MODERNIDADE E MEIO AMBIENTE - GEDMMA Fonte: Grupo Tático Aéreo – GTA, Maranhão, 2005. PROJETO DE EXTENSÃO O PÓLO COROADINHO: Diagnóstico preliminar São Luís-MA fevereiro/2006 EQUIPE Horácio Antunes de Sant´Ana Júnior Coordenador Ana Caroline Pires Miranda Pesquisadora graduanda Bartolomeu Rodrigues Mendonça Pesquisador graduando PROJETO DE EXTENSÃO O PÓLO COROADINHO: Diagnóstico preliminar Relatório final do diagnóstico sócioeconômico preliminar do Pólo Coroadinho, apresentado ao Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão ICE. São Luís-MA fevereiro/2006 SUMÁRIO LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................................... 2 LISTA DE SIGLAS ............................................................................................................................................... 4 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 5 2.1 HISTÓRICO DE FORMAÇÃO ............................................................................................................... 13 2.2 SITUAÇÃO ATUAL ............................................................................................................................... 17 2.3 AS LINHAS DE TRANSMISSÃO DA ELETRONORTE...................................................................... 19 3 ASPECTOS DEMOGRÁFICOS..................................................................................................................... 22 3. 1 INSTITUTO DE PESQUISA E PLANIFICAÇÃO DA CIDADE (IPPC) – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE) ................................................................................................ 23 3.2 COORDENADORIA DO CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOZES ............................................... 24 3.3 UNIDADE MISTA DO COROADINHO ................................................................................................ 26 3.4 COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS SAÚDE DA FAMÍLIA E AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE .......................................................................................................................................................... 27 4 SERVIÇOS PÚBLICOS .................................................................................................................................. 28 4.1 EDUCAÇÃO ............................................................................................................................................ 28 4.2 SAÚDE .................................................................................................................................................... 32 4.3 HABITAÇÃO .......................................................................................................................................... 35 4.4 ÁREAS DE LAZER ................................................................................................................................. 36 4.5 SEGURANÇA PÚBLICA ....................................................................................................................... 38 4.6 SERVIÇOS DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO ....................................................................... 39 5 ORGANIZAÇÕES SOCIAIS LOCAIS .......................................................................................................... 40 5.1 ASSOCIATIVAS E COMUNITÁRIAS .................................................................................................. 40 5.2 CENTROS COMUNITÁRIOS ................................................................................................................ 42 5.3 CLUBES DE MÃES, DE DONAS DE CASA E DE MULHERES ........................................................ 42 5.4 CONSELHOS .......................................................................................................................................... 43 5.5 CULTURAIS ........................................................................................................................................... 43 5.6 RELIGIOSAS........................................................................................................................................... 44 6 REDES SOCIAIS QUE ATUAM NA REGIÃO ............................................................................................ 46 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 52 ANEXO ................................................................................................................................................................ 54 LISTA DE TABELAS Tabela 1: População absoluta e relativa do Pólo Coroadinho, por sexo, 2001.................... 24 Tabela 2: População absoluta e relativa do Pólo Coroadinho, por faixa etária, 2001......... 24 Tabela 3: Localidades do Distrito Coroadinho, por categoria, número de prédios e de habitantes, 2004................................................................................................................... 25 Tabela 4: Localidades do Distrito Coroadinho e do Pólo Coroadinho assistidas pelo PACS, por número total de habitantes, 2005....................................................................... 26 Tabela 5: População absoluta e relativa de localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por sexo e faixa etária, 2005...................................................................... 27 Tabela 6: Escolas que atendem ao Pólo Coroadinho, por categoria e localidade, 2005..... 29 Tabela 7: Matrícula inicial de alunos na faixa etária de 07 a 14 anos por nível de ensino, 2005..................................................................................................................................... 30 Tabela 8: Matrícula inicial de alunos na faixa etária de 15 a 17 anos por nível de ensino, 2005..................................................................................................................................... 31 Tabela 9: Escolas por quantitativo de alunos e nível/modalidade de ensino, 2005............. 31 Tabela 10: População cadastrada em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por assistência dos programas PACS/PSF e plano de saúde, 2005................ 33 Tabela 11: Famílias cadastradas em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por abastecimento de água, 2005.................................................................... 33 Tabela 12: Famílias cadastradas em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por tratamento de água no domicílio, 2005.................................................... 34 Tabela 13: Famílias cadastradas em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por destino das fezes/urina no domicílio, 2005.............................................. 34 Tabela 14: Famílias cadastradas em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por destino do lixo no domicílio, 2005........................................................... 35 Tabela 15: Famílias cadastradas em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por tipo de casa, 2005..................................................................................... 35 Tabela 16: Serviços policiais na área Pólo Coroadinho, 2005............................................ 39 Tabela 17: Serviço de transporte coletivo urbano no Pólo Coroadinho por linha, empresa frota e total de passageiros por mês, 2005............................................................ 39 Tabela 18: Entidades associativas e comunitárias do Pólo Coroadinho, por endereço e 2 representante, 2005.............................................................................................................. 40 Tabela 19: Centros Comunitários do Pólo Coroadinho, por endereço e representante, 2005..................................................................................................................................... 42 Tabela 20: Entidades de Donas de Casa e de Mulheres e Clubes de Mães do Pólo Coroadinho, por endereço e representante, 2005................................................................ 42 Tabela 21: Conselhos do Pólo Coroadinho, por endereço e representante, 2005............... 43 Tabela 22: Entidades culturais do Pólo Coroadinho, por endereço e representante, 2005.. 43 Tabela 23: Comunidades que compõem a Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coroadinho, por localidade, 2005........................................................................................ 44 Tabela 24: Entidades religiosas do Pólo Coroadinho, por endereço e representante, 2005..................................................................................................................................... 45 Tabela 25. Número estimado de jovens por gangues – Coroadinho – 2005....................... 48 3 LISTA DE SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas CAC – Centro de Atendimento Comunitário CCN – Centro de Cultura Negra CCZ – Centro de Controle de Zoonozes CEPC – Centro Educacional e Profissional do Coroadinho DRT – Delegacia Regional do Trabalho ESF – Equipes de Saúde da Família FUMC – Fundação Municipal de Cultura GDH – Gerência de Desenvolvimento Humano GEDMMA – Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente GERUR – Grupo de Estudos Rurais e Urbanos IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICE – Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão IFAN – Instituto da Infância IPPC – Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade ONG – Organização Não-Governamental PACS – Programa Agentes Comunitários de Saúde PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PSF – Programa Saúde da Família SEMED – Secretaria Municipal de Educação SEMSUR – Secretaria Municipal de Serviços Urbanos SEMTHURB – Secretaria Municipal de Terras, Habitação e Urbanismo SEMTUR – Secretaria Municipal de Transportes Urbanos SEMUS – Secretaria Municipal de Saúde SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica SINEST – Supervisão de Informação Estatística UFMA – Universidade Federal do Maranhão UMC – Unidade Mista do Coroadinho UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância UNICEUMA – Centro Universitário do Maranhão 4 INTRODUÇÃO O relatório aqui apresentado refere-se ao trabalho de extensão realizado no âmbito do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente, que consistiu em uma assessoria prestada ao Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão – ICE. O trabalho foi realizado entre os meses de dezembro de 2005 e março de 2006 e teve como resultado o presente diagnóstico preliminar da região1 conhecida genericamente em São Luís como Coroadinho ou Pólo Coroadinho. O Pólo Coroadinho é uma região da cidade formada por várias vilas e aglomerados urbanos que, ao contrário da imagem uniformizadora apresentada pelos meios de comunicação e documentos de agências públicas e privadas que atuam na área, é constituída por particularidades e diferenças. A despeito de características comuns (como, por exemplo, a ocupação irregular dos terrenos, na forma de posse urbana), constitui um complexo de realidades locais e, desta forma, um desafio para quem procura atuar na área e necessita, portanto, conhecê-la. O Pólo Coroadinho, não raro, é apresentado nos jornais locais como sendo lugar de violência e de abrigo de marginais, que se articulam em grupos (geralmente juvenis) denominados de gangues que desestabilizam a ordem do lugar e atormentam a paz daqueles que ali residem e trabalham. Associada à violência, outra característica normalmente vinculada ao Coroadinho é a carência de infra-estrutura básica, como rede de esgoto, asfaltamento da maior parte das ruas, abastecimento regular de água, bem como, de outros aparelhos urbanos como áreas de lazer, escolas de ensino fundamental e médio, postos de assistência à saúde. Perpassando estas características, a imagem do Coroadinho está normalmente associada à pobreza de sua população e à dificuldade de sua inclusão social. Este relatório traz à tona elementos desta realidade, foco de atuação de organizações e instituições estatais, religiosas, civis que objetivam, cada uma a seu modo, segundo suas características e interesses, apresentar soluções para uma situação geral que é percebida como um grave problema humano e social. Como o conhecimento da área de atuação normalmente é superficial, a atuação de organismos exteriores à região, em geral, acontece de forma assistemática e, muito raramente, conta com a participação da população alvo no 1 Em acordo com o sociólogo francês Pierre Bourdieu, região é pensada, aqui, como uma representação dependente de conhecimento e reconhecimento e, mais do que fruto de determinadas condições geográficas, é resultante de uma construção histórica e social (BOURDIEU, 1998, p.108-115). 5 planejamento e tomada de decisões referentes às ações a serem realizadas. Neste sentido, o presente diagnóstico visa servir como um primeiro instrumento que favoreça os processos de planejamento da atuação local das instituições empresariais articuladas no Instituto de Cidadania Empresarial, financiador da pesquisa. Na formulação do projeto orientador do trabalho de investigação, estabeleceu-se como objetivo geral da pesquisa “elaborar um diagnóstico preliminar e geral do Pólo Coroadinho”. Para tanto, buscou-se atingir os seguintes objetivos específicos: - estabelecer as delimitações geográficas do Pólo Coroadinho e das várias vilas e aglomerados urbanos que o compõem; - recuperar o histórico de ocupação urbana da área; - reunir dados estatísticos e estabelecer estimativas relativas à população da região (população absoluta, número de famílias, faixas etárias, sexo, escolaridade); - levantar quantitativos de hospitais e postos de saúde, escolas, centros comunitários, igrejas, postos policiais e demais presenças institucionais. - levantar as redes sociais (primárias e secundárias) que atuam na região; - levantar as organizações sociais locais e suas lideranças. Ao se estabelecer o alcance dos objetivos propostos, a equipe de pesquisadores teve que considerar algumas limitações em função do tempo de sua realização (três meses) e dos recursos (humanos e financeiros) disponíveis para tal, justificando-se, assim, a elaboração de um diagnóstico “preliminar e geral”. A elaboração deste relatório em tempo tão exíguo, somente foi possível porque os pesquisadores estavam envolvidos na realização de uma pesquisa anterior na parte do Pólo Coroadinho pela qual passam as linhas de transmissão de energia elétrica da Eletronorte (Conjunto Residencial Salinas do Sacavém, Vila Conceição e Vila São Sebastião). Esta pesquisa permitiu uma inserção parcial na região, o conhecimento geral de sua geografia, a obtenção de contatos e o mapeamento preliminar de entidades com atuação local. Utilizamos, pois, diversas informações que coletamos para a pesquisa “Estudo sócio-antropológico sobre a presença de comunidades em faixas de servidão de linhas de transmissão da Eletronorte”, realizada pelo Grupo de Estudos Rurais Urbanos da Universidade Federal do Maranhão e financiada pela Eletronorte. Devido ao caráter preliminar da investigação aqui apresentada, a mesma pode ser complementada por estudos posteriores, segundo os interesses e necessidades da instituição que a demandou. 6 A equipe de pesquisa é composta pelo Prof. Horácio Antunes de Sant‟Ana Júnior, doutor em Ciências Humanas (Sociologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e pelos graduandos em Ciências Sociais Ana Caroline Pires Miranda e Bartolomeu Rodrigues Mendonça. A equipe é vinculada ao Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente – GEDMMA –, do Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão. Para a apresentação dos resultados obtidos na investigação, o presente relatório está dividido em seis itens. No item 1, são explicitados os métodos de trabalhos utilizados no correr da pesquisa. O item 2 é dividido em três subitens, nos quais encontra-se uma descrição geral do Pólo Coroadinho, com destaque para o processo histórico de ocupação da região, sua situação atual e a presença das linhas de transmissão de energia elétrica da Eletronorte. No item 3, em quatro subitens, são apresentados os indicadores demográficos da região, a partir das diferentes fontes que os elaboraram. Os serviços públicos referentes a educação, saúde, habitação, lazer, segurança pública e serviços de transporte coletivo urbano são apresentados no item 4. As organizações sociais locais constam do item 5 e estão classificadas em entidades: associativas e comunitárias; centros comunitários; clubes de mães, de donas de casa e de mulheres; conselhos; culturais; religiosas. No item 6, reflete-se sobre as redes sociais que atuam na região estudada. 7 1 MÉTODO DE TRABALHO A pesquisa foi realizada a partir de dois procedimentos básicos: a coleta de dados secundários e o trabalho in loco. A coleta de dados secundários foi realizada em instituições públicas como: Secretaria Municipal de Saúde (SEMUS), Secretaria Municipal de Educação (SEMED), Gerência de Desenvolvimento Humano do Governo do Estado do Maranhão (GDH), Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SEMSUR), Secretaria Municipal de Terras, Habitação e Urbanismo (SEMTHURB), Secretaria Municipal de Transportes Urbanos (SEMTUR), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Conselho Tutelar do Pólo Coroadinho, Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade (IPPC), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Buscaram-se dados, também, junto aos arquivos de entidade de organização local, como: Conselho de Saúde da Unidade Mista do Coroadinho, Conselho Comunitário das Entidades Comunitárias da Área do Pólo Coroadinho, Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho. Os dados secundários foram utilizados na delimitação geográfica da área de estudo, na recuperação de seu histórico de ocupação, na obtenção de dados populacionais, no levantamento de instituições públicas e privadas que tenham atuação local, no levantamento das organizações locais. Ao ser composto por uma série de iniciativas de ocupação urbana irregulares, no tempo e no espaço, e devido às características gerais de carência e abandono por parte dos poderes públicos, os dados existentes nas diferentes agências estatais que atuam na área são, na maior parte das vezes, divergentes e até mesmo contraditórios, apontando para uma grande dificuldade na obtenção de estatísticas confiáveis que ajudem a entender a realidade da região. Além disso, o dado estatístico, mesmo sendo uma ferramenta fundamental para qualquer aproximação com realidades populacionais, apresenta limitações quando se busca compreender com maior fidedignidade quaisquer destas realidades. As ciências sociais têm buscado, de forma majoritária, aliar a utilização de dados estatísticos e a aproximação do pesquisador com a realidade pesquisada, permitindo que a “objetividade” do dado estatístico seja balizada pelo contato direto com pesquisado, que passa a ser visto não mais como mero “objeto de pesquisa”, mas como “sujeito de ação”, que pensa, analisa, interpreta, reinterpreta e transforma, permanentemente, a própria realidade, tendo muito a dizer sobre ela e sobre as relações estabelecidas entre sua realidade local e a sociedade envolvente. De “objeto de estudo” o pesquisado passa a ser visto como “agente social” portador de representações sobre 8 suas relações com os demais “agentes” e com o meio. Assim, as ciências sociais têm apontado para a pertinência de aliar o levantamento estatístico às análises de cunho qualitativo, aproximando-o da observação direta, da fala e das representações formuladas pelos pesquisados, permitindo uma aproximação mais qualificada da realidade que se pretende conhecer e na qual se pretende atuar. Conforme o antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira (2000), a apreensão e interpretação das relações empíricas que os pesquisadores tomam para investigação são também realizadas a partir do “ver” e “ouvir”, o que subsidia a compreensão e contraposição dos dados estatísticos produzidos por organismos oficiais do Estado. Em função da dimensão da área a ser estudada e de sua complexidade, a obtenção de dados estatísticos primários (do tipo censitário, por exemplo) exigiria a mobilização de uma grande equipe de trabalho, a disponibilidade de um tempo maior e, conseqüentemente, o aporte de uma significativa quantidade de recursos financeiros e materiais. Assim, quanto aos dados estatísticos, limitou-se ao uso de dados secundários produzidos por agências públicas ou comunitárias, procurando trabalhar com a comparação dos dados obtidos e a elaboração de estimativas, segundo técnicas e procedimentos produzidos no âmbito da tradição sociológica e largamente testados em pesquisas semelhantes. Os dados estatísticos obtidos, contudo, foram balizados pelo trabalho de campo e pela observação in loco, imprimindo assim o caráter qualitativo na pesquisa. Ainda com relação à obtenção de dados secundários, faz-se necessário destacar algumas dificuldades encontradas pela equipe de pesquisa. A busca de dados censitários relativos às localidades estudadas foi frustrada pela inexistência dos mesmos no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo os funcionários que nos atenderam, não existe legislação referente ao Município de São Luís que apresente claramente as delimitações geográficas dos bairros que compõem a cidade. Por isso, para realizar o censo, o IBGE estabelece, a partir de critérios próprios, setores censitários que não correspondem às delimitações das localidades existentes no Município e, no caso do Pólo Coroadinho e suas localidades, não há possibilidade de extrair dos últimos censos seus quantitativos populacionais e demais dados que interessam ao presente trabalho. Esta impossibilidade se deve ao fato do mesmo pertencer ao setor censitário 780, que corresponde a uma área geográfica bastante superior às localidades que o compõem. Outra dificuldade foi encontrada na tentativa de estabelecer a relação das instituições e entidades existentes na região estudada. Fomos informados, por uma liderança local, de que 9 todas elas, para garantir sua existência legal, devem buscar seu registro de pessoa jurídica junto ao Cartório Cantuária de Azevedo. Dirigimo-nos, então ao Cartório na tentativa de confirmar esta informação e obter a relação e demais dados das mesmas. A advogada do Cartório que nos atendeu informou que os arquivos do mesmo não são disponibilizados para pesquisa de terceiros e que quaisquer dados referentes às instituições nele registradas somente seriam fornecidos através da emissão de certidões, com estatutos e regimentos, que sairiam ao custo médio de R$ 46,00 (quarenta e seis reais) cada. A grande quantidade de instituições e entidades existentes no Pólo Coroadinho e o limite dos recursos disponibilizados para a pesquisa inviabilizaram a obtenção de dados mais precisos sobre elas. Nos órgãos públicos da municipalidade, deparamo-nos, ainda, com a dispersão e divergência de informações sobre a região estudada, o que causou, também, dificuldades ao trabalho de investigação e provocou a necessidade de comparar as informações existentes nos vários órgãos e de estabelecer algumas aproximações que permitissem uma interpretação mais aproximada das situações empíricas examinadas. O trabalho in loco foi realizado através de visitas à área de estudo, seleção de informantes e realização de entrevistas. Visou reunir informações sobre as redes sociais que atuam na região, as organizações sociais locais e suas lideranças. Visou, também, compatibilizar os dados secundários obtidos com a realidade local e esclarecer dúvidas surgidas no exame destes dados. Após um breve exercício de compreensão da geografia do Pólo Coroadinho, os pesquisadores se detiveram em tecer a construção das relações sociais, procurando identificar lideranças, associações, grupos religiosos, grupos de ação comunitária, moradores antigos. A equipe participou de reuniões de lideranças e visitas ao local. Intensificaram-se os contatos com associações de moradores e comunitárias, bem como com agentes de saúde, que contribuíram significativamente para a realização do trabalho de campo, pois, uma vez que são moradores das localidades investigadas, conhecem-na muito bem, passando a constituir um grupo estratégico de sujeitos da pesquisa. Outros agentes sociais, também, colaboraram para a realização desta pesquisa, principalmente através da concessão de entrevistas, conversas e depoimentos. Também acompanharam os pesquisadores em alguns momentos de reconhecimento da região a ser pesquisada. As localidades investigadas são marcadas por uma situação recorrente de violência e, além disso, boa parte dos nossos colaboradores é composta de pessoas envolvidas nos processos de organização comunitária, o que as tornam pessoas públicas no âmbito local. 10 Por estes motivos, ao relatarmos as entrevistas e os depoimentos, optamos por manter sob sigilo as identidades daqueles que os emitiram, que passaram, assim, a ser identificados por letras maiúsculas. 11 2 PÓLO COROADINHO O Pólo Coroadinho é uma ampla região que agrega no seu interior distintas configurações espaciais, determinadas por dinâmicas sociais de ocupação diferenciadas, que definem identidades, fronteiras e limites nem sempre visíveis ou facilmente identificáveis. A apreensão dessas dimensões, por meio do trabalho de campo, revela imediatamente que no interior dessa região predomina uma dinâmica social e espacial que articula diferenças, estratégias, necessidades e conflitos, configurando assim um quadro complexo. Nos primeiros passos da pesquisa, deparamo-nos com uma questão de natureza geográfica, pois, logo percebemos que aquilo que se denominava de “Coroadinho” era na verdade “um complexo urbano” distribuído num espaço que ora parecia contínuo, ora parecia descontínuo. Diante de nós, surgiam localidades com denominações variadas, mas identificadas genericamente como Coroadinho. Os diversos processos de ocupação territorial que marcaram a região são um ingrediente importante para a conformação da complexidade que presenciamos. Por meio deles nos foi possível perceber também as origens das dificuldades encontradas na nomeação, classificação e estabelecimento de fronteiras da região e de seus vários lugares. Segundo a Lei Municipal 3.253, de 29 de dezembro de 1992, que dispõe sobre o zoneamento, parcelamento, uso e ocupação do solo urbano de São Luís, o Coroadinho é definido como pertencente à Zona de Interesse Social 1 – ZIS 1. Esta Zona é composta por “áreas ocupadas espontaneamente por assentamentos habitacionais da população de baixa renda, onde existe interesse social em se promover a regularização jurídica da posse da terra e a sua integração na estrutura urbana” (grifo nosso). O texto da lei descreve o Coroadinho da seguinte maneira: Inicia-se no ponto de interseção do prolongamento da Av. Presidente Médici 2 com a Rua 13, seguindo pela última até encontrar o limite da linha de Alta Tensão (A.T.), seguindo por esta rumo à direita até o encontro do prolongamento da Rua Santa Isabel, donde prossegue rumo à esquerda, até atingir a Rua São Nonato, prolongandose por esta à direita até interceptar a Rua do Muro; daí prossegue à direita até atingir a Rua Boa Esperança; dobrando à direita, segue pela mesma até atingir novamente o limite da linha de Alta Tensão (A.T.), seguindo pela mesma com orientação à esquerda até encontrar o prolongamento da Rua Epitácio Cafeteira, dobrando à direita, e seguindo pela mesma até atingir a Rua Risoleta Neves, donde prossegue rumo à esquerda, passando pela Rua Menino Jesus e Rua da Reforma Agrária até encontrar a Av. Brasil, dobrando à esquerda e seguindo pela mesma até encontrar a Rua Gardênia, donde segue rumo à esquerda, passando pela Rua Isabel Lima, até encontrar novamente a Av. Brasil, seguindo por esta com orientação à direita, até 2 A Avenida Presidente Médici atualmente recebe o nome de Avenida dos Africanos. 12 atingir a Rua das Cajazeiras, seguindo por esta rumo à esquerda até alcançar o limite da Zona Residencial-2 (Pindorama), seguindo este até atingir o ponto de interseção deste com a Rua Vicente da Mata e Av. Vicente Queiroga, seguindo pela última até atingir a Av. Presidente Médici, donde se prolonga rumo à direita até atingir o ponto inicial deste perímetro (Lei 3.253 de 29 de dezembro de 1992). Segundo o texto oficial, a área do chamado Coroadinho está compreendida entre a Zona Residencial 2 – Pindorama – e a Linha de Alta Tensão, que delimita oficialmente a Zona de Reserva Florestal – ZRF. No trabalho de campo, constatamos que, em função das dinâmicas de expansão da ocupação urbana em São Luís, as delimitações estabelecidas pela Lei elaborada em 1992 foram alteradas de forma significativa, extrapolando o perímetro estabelecido enquanto ZIS 1, indo além das linhas de transmissão e fazendo-se presente nos limites da Zona de Reserva Florestal3. O transbordamento desses limites permite identificar uma ordem de problemas referida ao termo Coroadinho: ora ele designa uma localidade específica, ora sugere tratar-se de um espaço mais amplo no interior do qual se agregam outras localidades. Em outras palavras, o Coroadinho pode ser identificado, ao mesmo tempo, como uma grande região que congrega distintos aglomerados urbanos ou, também, como um desses aglomerados específicos. 2.1 Histórico de formação Para melhor entender a dubiedade relativa ao uso da denominação Coroadinho, é necessário recuperar seu processo histórico de constituição. O Coroadinho é uma forma de ocupação urbana não planejada por organismos estatais ou empresariais, assim como boa parte das áreas de ocupação da capital. Pode ser representado, assim, a partir da categoria periferia. Segundo Pallone (2005, p.11), esta categoria está referida a um fenômeno urbano típico do processo de metropolização de grandes cidades e é utilizada para designar loteamentos clandestinos ou favelas, nos quais vivem grupos humanos formados, principalmente, de pessoas com baixa renda familiar. As regiões de periferia são resultantes dos acelerados processos de urbanização que marcam as sociedades modernas e são portadoras de inúmeros problemas estruturais, sociais e humanos, com conseqüências que extrapolam seus limites geográficos e atingem a cidade como um todo. 3 Também conhecida como Parque Estadual do Bacanga e Reserva Florestal do Batatã. 13 Conforme sugere Ribeiro Júnior (1999): O quadro habitacional da ilha de São Luís apresenta (...) graves problemas caracterizados pelo elevado número de pessoas vivendo em moradias consideradas subnormais. Segundo pesquisa realizada em 1978 pelo SEPLAN-MA, com o apoio das Organizações das Nações Unidas, 58% dos domicílios urbanos da ilha de São Luís foram classificados como „duráveis‟ e os 41,3% restantes considerados „rústicos‟ e „improvisados‟. Dessa maneira, quase metade das habitações urbanas (ou o equivalente a mais de 37.000 famílias) estaria em condições deficientes, concentrando-se na periferia de São Luís mais especificamente nas áreas de manguezais entre os rios Anil e Bacanga e nas áreas de „invasão‟ em terra firme. Em determinadas áreas de maior população de baixa renda da ilha, verifica-se que mais de 30% do total dos domicílios da ilha estão localizados em terrenos „invadidos‟. De acordo com informações de um jornal da capital (Veja Agora), o bairro do Coroadinho originou-se na década de 1980, devido à superlotação do bairro Coroado, próximo à atual Avenida dos Africanos. Segundo tal reportagem: “Na época, o bairro (Coroado) não tinha mais terreno para se construir. Aí, os moradores viram uma área próxima e começaram a fazer casas. Como eram oriundos do Coroado, resolveram chamar o novo bairro de Coroadinho", conta a moradora mais antiga do lugar, Graça Rebouças. Como não havia transporte coletivo, os moradores tinham que andar três quilômetros para chegar à parada de ônibus mais próximo, na Avenida Médici 4. "A gente chegava imundo ao trabalho ou ao colégio. As coisas só melhoraram de alguns anos para cá. Mas os ônibus não são dos melhores", relata (Jornal Veja Agora, 25 ed., 21ago 2005). Já de acordo com a pesquisadora Antonia Mota, a ocupação da região se dá desde a década de 1940, quando os primeiros moradores, oriundos do interior do estado, começam a chegar. Conforme indica, baseando-se nos relatos dos primeiros moradores, “os terrenos (...) começam a sofrer a interferência do espaço urbano no final da década de 60 (...) quando diversas obras são realizadas em suas proximidades, de parte de uma iniciativa maior do governo, na tentativa de modernizar o estado” (MOTA, 1990, p.14). Ainda de acordo com a autora, a década de 1980 foi marcada por conflitos dos moradores com a polícia e com o poder público, uma vez que muitas “autoridades públicas” reivindicaram a propriedade das terras ocupadas pelos moradores da região. Joseane F. Fróes (2004), caracteriza o Coroadinho como um bairro formado por um conjunto de vilas e aglomerações, compondo a periferia urbana da capital. Com relação à localização geográfica do Coroadinho, assinala a autora: O bairro do Coroadinho encontra-se situado no curso superior do rio das Bicas, subafluente do Rio Bacanga. Limita-se com os seguintes bairros: Norte, Outeiro da Cruz; ao Sul, com a Avenida Presidente Médice; a Leste, com o bairro do Sacavém e a Oeste, com o bairro do Filipinho (FRÓES, 2004, p.55). 4 Atual Av. do Africanos. 14 Conforme destaca em seu trabalho, a topografia do bairro pode ser considerada da seguinte forma: uma parte mais ou menos plana, onde se desenvolveu a rua principal, denominada Amália Saldanha; as ruas transversais, em uma parte mais baixa, sujeitas a alagamentos por ocasião das chuvas e, seguindo na direção Sul-Norte, encontra-se uma área de nível bem mais alto. Esta região é caracterizada por Fróes como de ocupação mais recente “onde as habitações estão assentadas... numa área onde a vegetação original foi retirada para facilitar a ocupação da mesma” (FRÓES, 2004, p.57). Ainda de acordo com a autora: O Coroadinho surgiu por volta do ano de 1976, durante o governo de João Castelo. O terreno é pantanoso, com uma grande mata secundária, da qual os primeiros ocupantes tiveram que retirar a madeira. O bairro se forma à margem do rio das Bicas. As famílias, em sua maioria, vindas do interior do estado em busca de melhores condições de vida. (...) Após a ocupação, a população começou a se expandir e outras áreas foram ocupadas dando origem a 16 (dezesseis) vilas e aglomerações que formam o bairro, os quais são: Coroadinho, Vila dos Frades, Bom Jesus, Primavera, Sítio do Pica Pau Amarelo, Vila Conceição, Vila dos Nobres, Vila Natal, Vila Atêncio Queiroga, Vila São Sebastião, Terra Preta, Alto da Bela Vista, Alto do São Francisco, Alto do Parque Timbiras, Vila Maruim e Vila Nice Lobão (FRÓES, p. 57-58, 2004). Conforme podemos observar no fragmento acima, o termo Coroadinho, é utilizado pela autora com dois significados diferentes. Quando se refere ao bairro Coroadinho, trata de uma região que congrega diferentes “vilas e aglomerações”. No entanto, Coroadinho pode estar referido, também, a uma localidade específica. O Centro de Controle de Zoonozes da Secretaria Municipal de Saúde (CCZ/SEMUS, 2004), toma-o como uma localidade específica, classificando-o como um bairro, que está localizado na Zona Urbana de São Luís e possui 5.665 prédios e 16.001 habitantes. Este mesmo Centro também classifica o Coroadinho como sendo um Distrito Sanitário5, totalizando 47 localidades, nomeadas como bairro ou sítio. Partindo destas diferentes classificações, deparamo-nos novamente com as dificuldades em nomear, classificar e delimitar um espaço geográfico cuja ocupação ocorre de forma dinâmica e complexa. Para efeitos da elaboração deste relatório, procuramos compreender como os moradores locais identificam seu próprio espaço. A moradora A., quando perguntada sobre a denominação de seu local de moradia, lembra que reside na Vila Conceição, mas que esta 5 Neste mesmo relatório apresentaremos a tabela completa da Secretaria Municipal de Saúde, na qual estão inseridos os sítios e bairros do Distrito Sanitário do Coroadinho. 15 Vila faz parte do Coroadinho e, fazendo um amplo movimento circular com o braço, diz: “isso tudo aqui é Coroadinho, o Coroadinho é muito grande, a Vila São Sebastião, o Alto de São Francisco, a Vila dos Frades, o Bom Jesus, também, fazem parte do Coroadinho”. Já a moradora da Vila São Sebastião, E., quando perguntada sobre onde morava anteriormente, respondeu “na Primavera”, e ao perguntarmos onde fica a Primavera, disse “aqui mesmo no Coroadinho”. E. demonstra na sua fala o reconhecimento de que existe uma região mais ampla que unifica várias localidades próximas umas das outras. A. lembra que surgiu primeiro o Coroadinho e depois “sabe como é, as pessoas aumentam e precisam de lugar para morar, aí vão fazendo casa e vão aparecendo outros lugares, mas tudo é Coroadinho”. Referindo-se a uma nova ocupação de terreno, chamada de Invasão do Milton6, F. diz “o povo precisa de moradia, não tem espaço para todo mundo e vão ocupando os espaços livres, ali tinha um campinho de futebol e foi ocupado”. Estas duas falas confirmam para a equipe de pesquisa a existência de uma conformação geográfica surgida a partir de um núcleo inicial, denominado Coroadinho7, mas que se expande em processos permanentes e irregulares de ocupação de novos terrenos. Estes ganham nomes próprios, mas continuam sendo identificados pelos agentes desta expansão como componentes de uma grande região que, por derivação, continua a ser chamada de Coroadinho. Numa fala espontânea de A., surgiu para nós pesquisadores, pela primeira vez, a denominação “Pólo Coroadinho” para designar a região como um todo. Ao ser perguntada sobre quais localidades compõem o “Pólo Coroadinho”, A. citou: Bom Jesus, Vila São Sebastião, Vila Conceição, Vila dos Frades, Coroadinho. No entanto, não soube precisar qual a abrangência do mesmo. Segundo G., funcionário do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente do Coroadinho, as entidades locais adotam a denominação Pólo Coroadinho para se referir à região como um todo. Esta denominação tem sido adotada, também, por organismos públicos como, por exemplo, o próprio Conselho Tutelar. Por sempre conseguir escapar às classificações rígidas e objetivas, já que se caracteriza por uma dinâmica de utilização do espaço e de relações sociais muito fluídas, contingentes e vivenciadas sob constantes mudanças, no Pólo Coroadinho nos deparamos com 6 A Invasão do Milton é uma ocupação iniciada neste ano de 2005, ficando ao lado da Vila Conceição e muito próxima das faixas de servidão das linhas de transmissão. 7 Para efeito deste trabalho, quando nos referirmos à este núcleo inicial, usaremos a expressão localidade Coroadinho. 16 denominações (bairro, aglomerações, pólo) diferenciadas e pouco precisas quanto a classificações, delimitações de fronteiras e abrangência. Essas denominações são acionadas por agentes (moradores, trabalhadores, lideranças comunitárias, representantes políticos) e instituições sociais (agências governamentais, ONGs, igrejas, entidades empresariais, meios de comunicação) de forma particularizada, segundo suas necessidades e interesses. Para designar a região como um todo, e em consonância com as necessidades deste trabalho, sem deixar de reconhecer a pluralidade de classificações existente, sua dubiedade, sua ambivalência, optamos por assumir aquela denominação acionada pelos agentes locais, ou seja, Pólo Coroadinho. Quanto à delimitação das localidades que compõem o Pólo, utilizamos aquelas realizadas pelo Conselho Comunitário das Entidades Comunitárias da Área Pólo Coroadinho e do Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho, e chegamos à seguinte definição: Coroadinho, Vila Conceição, Alto São Francisco, Vila São Sebastião, Vale Verde, Vila dos Frades, Vila Nazaré, Sítio do PicaPau Amarelo, Flor do Cinto, Santa Luzia, Vila Natal, Vila Atêncio Queiroga, Vila Nice Lobão, Parque Timbira, Parque dos Nobres, Pindorama, Primavera, Bom Jesus, Rio da Prata, Laranjal, Mangalho, COHEBE, Sítio do Mamão, Sítio do Físico, Km 07 (Túnel do Sacavém), Salinas do Sacavém, Vila Braide e Alto da Bela Vista. 2.2 Situação atual O Pólo Coroadinho, como afirmamos na Introdução, não raro, é veiculado nos meios de comunicação locais como sendo lugar de violência, de marginais, de gangues juvenis que, segundo relato de alguns moradores (A., H., J., K.), desestabilizam a ordem do lugar e atormentam a paz daqueles que ali residem e trabalham. A jovem I., porém, discorda desta concepção generalizada de “ordem”, ao afirmar que a presença das chamadas gangues em sua rua é um fator que garante a “ordem” do lugar, “na minha rua não tem roubo... lá os meninos da gangue não deixam ninguém roubar nada lá não... os próprios meninos botam ordem...”. Para esta moradora, a noção de ordem aparece associada à noção de segurança que, na região, não tem sido garantida pelos serviços públicos. Portanto, o significado de “ordem” varia, conforme o ponto de vista, sendo resultado de relações sociais estabelecidas e dos conflitos presentes nestas (WEBER, 2004). 17 O fenômeno da violência urbana revela as contradições de regiões da cidade de São Luís classificadas etnocentricamente como focos de marginalidade por aqueles que vivem fora desses espaços. O Pólo Coroadinho, como uma generalidade, acaba configurando-se como uma delas. Como sugere o depoimento de I., na rua onde mora, não ocorre roubos porque o código moral das chamadas gangues não os permite. A ineficiência do poder público na coibição de roubos abre espaço para que os próprios agentes definam formas particulares de ação segundo valores por eles partilhados. Nesse caso, a ação das denominadas gangues subverte a perspectiva da violência legítima como monopólio do Estado (WEBER, 1999). A violência é legitimada a partir de códigos e valores sociais específicos. As palavras da moradora delimitam e contextualizam de forma positiva a ação que outros poderiam designar como negativa e própria de marginais. Os constantes embates entre as várias gangues (que normalmente têm uma determinada localidade como sua base territorial), contudo, geram insegurança e medo, pois a “ordem” possibilitada pela atuação das mesmas está fundada em bases muito instáveis. A própria I. lembra que os membros de um destes grupos juvenis não podem passar pelo território de outro grupo, nem mesmo por motivos de saúde, pois, ao fazê-lo, tornam-se vítimas de agressões que resultam, normalmente, em futuros confrontos entre as gangues. Segundo I. “outro dia, quando um deles vinha descendo no ônibus, porque estava doente, os daqui de baixo viram e começaram a jogar pedras no ônibus. Foi um desespero, as crianças gritavam. Uma pedra quebrou a janela do ônibus e gente acabou machucada”. Depois disso, a gangue do rapaz agredido desceu para fazer um acerto de contas. Diz I. “foi uma briga de doido, usavam pedras, paus, chuchos, tudo que tinham na mão, uma violência horrível”. Estas cenas são recorrentes e os confrontos entre as gangues, segundo L., “são anunciados por foguetes”, referindo-se a fogos de artifício. A divulgação de fatos violentos associados ao Pólo Coroadinho nos meios de comunicação cria uma situação que estigmatiza8 seus moradores. P. acentua que “o pessoal do Coroadinho é discriminado, não consegue emprego quando diz que é do bairro. Quando pedem o endereço, dizem que moram em outro lugar, se não, é marginalizado mesmo”. E acrescenta, “as crianças que estudam em outros lugares são discriminadas por seus colegas. Meus filhos sofrem muito com isso. Eu posso fazer o quê?”. A percepção da violência como elemento marcante no cotidiano do Pólo Coroadinho gera uma mobilização de parte dos moradores no sentido de buscar estratégias de minimizar 8 Uma interessante discussão sobre o estigma social pode ser encontrada em Goffman, 1998. 18 seus impactos estigmatizantes. Nesse sentido, no ano de 2005 foi criado o Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho – CONCDESPC. Segundo seu estatuto, o Conselho reúne associações e uniões de moradores, entidades culturais e esportivas, igrejas e outras organizações populares e comunitárias. O principal objetivo da entidade é conquistar maior segurança para a região, mas também visa lutar por melhores condições de saúde, educação, moradia, saneamento básico. Em pesquisa realizada em 2004, Fróes chama atenção em seu trabalho para as condições de precariedade observadas localmente: inexistência de rede de esgoto no bairro (o escoamento é feito a céu aberto e, embora a maioria das casas possua banheiros domésticos, os dejetos humanos são destinados, em boa parte, à fossa séptica ou à “fossa negra”); o não asfaltamento das ruas paralelas às principais, que, além de cheias de buracos, se tornam intrafegáveis no período chuvoso. Além disso, em toda a região é possível constatar a falta de abastecimento regular de água. Outro elemento a ser destacado é a ausência de áreas de lazer. 2.3 As Linhas de Transmissão da Eletronorte As faixas de servidão das linhas de transmissão de energia elétrica da Eletronorte 9 são elementos que compõem a complexidade característica do Pólo Coroadinho. Estas faixas tangenciam o Pólo Coroadinho em sua intersecção com a Reserva Florestal do Batatã. Apesar da proibição legal de sua ocupação predial (ABNT/NBR 5422/2003), no percurso das faixas de servidão e em suas imediações constatamos a presença de moradias, casas comerciais ou áreas de lazer nas seguintes localidades: Salinas do Sacavém, Coroadinho, Vila Conceição, Alto de São Francisco e Vila São Sebastião. Um aspecto de destaque é o fato das localidades acima, à semelhança de praticamente todas as localidades do Pólo Coroadinho, terem se originado de ocupação irregular e sem planejamento estatal ou privado. No entanto, a ocupação das faixas de servidão da Eletronorte foi facilitada em função de ser uma área limpa e de fácil acesso. Apesar de a Eletronorte tomar as medidas legais cabíveis para impedir esta ocupação (recurso à Justiça), estas não se 9 Segundo regulamentação da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), através da NBR 5422/2003, as faixas de servidão das linhas de transmissão, correspondem a uma distância de 30 m, partindo do centro da torre, para torres de 138 kV, 40 m para torres de 230 kV e 60 m para torres de 500 kV. No caso do Pólo Coroadinho, trata-se da instalação de torres do segundo tipo, isto é, de 230 kV, correspondendo, portanto, às faixas de servidão de 40 m, relativas às duas linhas de transmissão que ligam as Subestações São Luís I (COHEBE) e São Luís II (Pedrinhas). A legislação citada prevê sérias restrições à ocupação e uso das faixas de servidão, visando garantir as condições necessárias para a manutenção dos equipamentos de transmissão de energia elétrica e a segurança das pessoas localizadas em suas imediações. 19 mostraram eficientes, pois além da resistência dos ocupantes, entrou em jogo a influência de agentes públicos que utilizaram o processo como forma de criação e manutenção de clientelas políticas e sociais. As localidades por onde passam as linhas de transmissão podem ser distinguidas, entre si, por modalidades diferenciadas de ocupação do espaço. Na Vila São Sebastião, é possível constatar a presença, privilegiadamente, de pequenos comerciantes, sendo que alguns moram junto aos seus estabelecimentos comerciais e outra parte deles reside em outros lugares, quase sempre nos bairros próximos. Na Vila Conceição, no Coroadinho e no Alto de São Francisco as faixas de servidão são ocupadas basicamente por moradias. Já o Conjunto Residencial Salinas do Sacavém é resultante do remanejamento dos moradores do Salinas do Sacavém que viviam nas faixas de servidão, através de uma ação que envolveu os poderes públicos estadual e municipal e a Eletronorte, a partir de mobilização dos moradores. Boa parte dos entrevistados que moram/trabalham ou moraram/trabalharam nas faixas de servidão, ou proximamente a elas, afirma que: a sua ocupação ocorre em função de necessidades de ordem material/financeira (terrenos doados por organizadores da ocupação ou comprados por preços baixos); gostaria de morar em outros lugares; tem consciência dos riscos que corre (além das placas afixadas em várias torres que informam a proibição de construir moradias nas faixas de servidão, todos receberam uma advertência oficial da Empresa). Porém, estes moradores alegam que não têm condições de morar em outros lugares, por serem mais caros e mais distantes do trabalho ou de onde possam fazer serviços que lhes garantam alguma remuneração. Principalmente na Vila Conceição e no Alto de São Francisco, é possível constatar a presença de casas muito próximas das torres que, muitas vezes, são utilizadas como varal para estender roupas ou como lugar para brincadeira das crianças. A proximidade das casas com as torres cria situações que dificultam o acesso para o trabalho de manutenção que é feito, periodicamente, pelos técnicos da Eletronorte. Já a Vila São Sebastião chama a atenção pela presença de equipamentos urbanos (ruas asfaltadas, ponto final de duas linhas de ônibus, delegacia de polícia) e de estabelecimentos comerciais que dispõem de alvarás de funcionamento concedidos por órgãos públicos nas faixas de servidão, o que leva à constatação de que há uma ação dúbia dos organismos estatais, oscilando entre a proibição, a permissão e o incentivo à ocupação das faixas de servidão. 20 Principalmente na Vila São Sebastião, Alto de São Francisco e Vila Conceição, são facilmente constatáveis a falta de saneamento básico, escolas, áreas de lazer, segurança. A presença de organismos estatais, portanto, é seletiva e provavelmente vinculada a interesses imediatos de agentes políticos locais ou que possuem vínculos com a localidade. 21 3 ASPECTOS DEMOGRÁFICOS Os dados utilizados para a elaboração deste item, foram obtidos junto aos seguintes instituições: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade (IPPC), Coordenação do Centro de Controle de Zoonozes (CCZ), Unidade Mista do Coroadinho (UMC), Coordenação do Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS), Coordenação do Programa Saúde da Família (PSF), sendo que as quatro últimas são vinculadas à Secretaria Municipal de Saúde (SEMUS). Percebemos, no tratamento das informações obtidas, que cada uma dessas instituições opera com uma lógica própria de quantificação, na qual diversas questões – como demandas e formas de ordenação de espaço específicas, número insuficiente de funcionários, liberação ou não de verbas, dentre outras – acarretam heterogeneidade estatística. Cabe ressaltar, ainda, que a discrepância dos dados populacionais apresentados neste relatório deve ser justificada, também, pelo fato de terem sido elaborados em períodos distintos (IPPC/IBGE 2001; SEMUS/CCZ, 2004; SEMUS/SIAB, 2005; SEMUS/UMC, 2005). Assim sendo, ressaltamos que os números aqui expostos não devem ser absolutizados ou vislumbrados como tradutores fiéis da realidade, pois, além das limitações de operacionalização das pesquisas estatísticas dos institutos responsáveis pelas quantificações populacionais, existe uma complexidade e uma dinamicidade inerente à delimitação espacial e populacional do Coroadinho, conforme discutimos em itens anteriores. O sociólogo Max Weber chama atenção para os limites inerentes à produção de conhecimentos sobre a realidade social. Segundo este autor, a realidade social é sempre mais complexa, diversificada e ampla do que a capacidade do pesquisador de apreendê-la. Esta perspectiva teórica nos ensina que os dados empíricos obtidos e trabalhados numa pesquisa são indicadores que permitem uma aproximação com o real e constituem-se em instrumentos importantes para a tomada de decisão, no entanto, não podem ser tomados como sendo o próprio real, mas sim, como uma compreensão do mesmo. (WEBER 2004; JASPERS, 1977). Assim, as considerações e ponderações acima referidas não devem ser interpretadas no sentido de descartar, desprezar ou inutilizar as informações, mas, tão somente, para deixar o leitor ciente que os processos de codificação e decodificação, interpretação e classificação realizados por instâncias oficiais, na perspectiva de traduzir “fielmente” a realidade, terminam 22 por desconsiderar aspectos outros que dizem muito a respeito das localidades e agentes pesquisados. Feitas as ponderações devidas, ressaltamos que as informações aqui apresentadas são de grande valia para o processo de construção e análise deste trabalho, bem como, para os agentes sociais ou políticos que carecem de dados mais quantitativos para justificar suas ações no Pólo Coroadinho. Ressaltamos ainda que os dados apresentados no item 3.1 podem ser adotados como referência privilegiada, pois foram construídos a partir de dados gerais coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com objetivos censitários, e adaptados à realidade local estudada com apoio do Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade (IPPC) da Prefeitura Municipal de São Luís, o que indica uma maior confiabilidade. No entanto, mantemos aqui os dados apresentados nos demais itens, pois, mesmo tendo sido elaborados a partir de interesses específicos de órgãos da Secretaria Municipal de Saúde, são mais atualizados e podem ser utilizados como instrumento de comparação. 3. 1 Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade (IPPC) – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Conforme destacamos anteriormente, não nos foi possível obter, junto à sede local do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informações especificamente coletadas sobre o Pólo Coroadinho, devido, dentre outros fatores, aos critérios particulares adotados por este instituto para delimitar as localidades do município de São Luís, fato esse que inviabiliza um recorte exato da área pesquisada. O Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade (IPPC), órgão vinculado à Prefeitura Municipal de São Luís, contudo, informa que a população residente na área referida ao Pólo Coroadinho pode ser estimada em 44.223 habitantes. Esta estimativa é obtida a partir do cruzamento dos dados do IBGE com as delimitações geográficas do espaço urbano de São Luís, estabelecidas por este Instituto (ver anexo I). A seguir, nas Tabelas 1 e 2, apresentamos dados estimados obtidos segundo a mesma sistemática e referidos à população absoluta e relativa, por sexo e faixa etária, do Pólo Coroadinho. 23 Tabela 1: População absoluta e relativa do Pólo Coroadinho, por sexo, 2001. SEXO HABITANTES 23.973 20.250 44.223 Mulheres Homens TOTAL % 54,21 45,79 100,00 Fonte: IPPC/IBGE, 2001 Tabela 2: População absoluta e relativa do Pólo Coroadinho, por faixa etária, 2001. FAIXA ETÁRIA 0 a 03 anos 04 anos 05 a 06 anos 07 a 09 anos 10 a 14 anos 15 a 17 anos 18 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 64 anos 65 a 69 anos 70 a 74 anos 75 a 79 anos 80 e mais anos TOTAL HABITANTES 3.414 884 1.725 2.476 4.944 3.361 2.282 5.050 4.104 6.660 4.365 2.437 818 615 423 314 327 44.223 % 7,72 2,00 3,90 5,60 11,18 7,60 5,16 11,42 9,28 15,06 9,87 5,51 1,85 1,39 1,00 0,71 0,74 100,00 Fonte: IPPC/IBGE, 2001 3.2 Coordenadoria do Centro de Controle de Zoonozes Obtivemos, junto à Coordenadoria do Centro de Controle de Zoonozes da Secretaria Municipal de Saúde (CCZ/SEMUS), a relação das localidades listadas como integrantes do Distrito Sanitário do Coroadinho, bem como seus respectivos números de prédios e de habitantes relativos ao ano de 2004. Constatamos que algumas localidades – tais como Alto São Francisco, Sítio do PicaPau Amarelo, Vila Atêncio Queiroga, Vila Braide, Alto da Bela Vista, Santa Luzia e Vila Nazaré – elencadas como integrantes do Pólo Coroadinho, conforme nos informaram líderes de movimentos sociais e moradores do referido pólo, não constam no Distrito Coroadinho, ao passo que diversas outras localidades que não são identificadas pelos Conselhos Comunitários enquanto integrantes do pólo são referidas ao chamado Distrito. Conforme havíamos explanado anteriormente, diferentes critérios de classificação e ordenação são acionados para categorizar as localidades como integrantes ou não do Coroadinho, de forma que acreditamos ser importante expor todas as informações obtidas 24 sobre o Distrito, o Pólo e o bairro Coroadinho, buscando, na medida do possível, esclarecer as diferentes nomenclaturas utilizadas pelos mais diversos agentes no que se refere à localidade em questão. Dessa forma, na Tabela 3, apresentamos a relação completa das localidades que compõem aquilo que a Secretaria Municipal de Saúde classifica como Distrito Sanitário do Coroadinho, destacando, em negrito, as localidades pertencentes ao Pólo Coroadinho. Tabela 3: Localidades do Distrito Coroadinho, por categoria, número de prédios e de habitantes, 2004. LOCALIDADES 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 ALEMANHA ALTO DO PARQUE TIMBIRA AREINHA BARÉS BARRETO BATATÃ BOM JESUS CARATATIUA CHACÁRA SANTO ANTÔNIO CONCEIÇÃO CONJ. SALINA DO SACAVEM COROADINHO COROADO COHEBE DO SACAVÉM FÁTIMA FILIPINHO FÍSICO FERVENTA FLOR DO CINTO JÕAO PAULO JORDÔA LAPA LARANJAL MAMÃO OUTEIRO DA CRUZ PARQUE AMAZONAS PARQUE DOS NOBRES PARQUE NICE LOBÃO PARQUE PINDORAMA PARQUE TIMBIRA PEDREIRAS PIRANINGA PORTO GRANDE PRIMAVERA REDENÇÃO RIO DA PRATA SACAVEM SALINA DO SACAVÉM TÚNEL DO SACAVÉM VENEZA VILA DOS FRADES CATEGORIA BAIRRO BAIRRO BAIRRO BAIRRO BAIRRO SÍTIO BAIRRO BAIRRO SÍTIO BAIRRO BAIRRO BAIRRO BAIRO BAIRRO BAIRRO BAIRRO SÍTIO SÍTIO SÍTIO BAIRRO BAIRRO SÍTIO SÍTIO SÍTIO BAIRRO BAIRRO BAIRRO BAIRRO BAIRRO BAIRRO SÍTIO SÍTIO SÍTIO BAIRRO BAIRRO SÍTIO BAIRRO BAIRRO BAIRRO BAIRRO BAIRRO PRÉDIOS 2.115 497 2.619 1.553 1.802 15 2.714 859 01 1.090 72 5.665 1.676 1.465 5.195 534 25 45 134 3.325 548 02 02 02 118 714 458 820 273 257 20 23 18 914 704 18 1366 676 958 1.385 1.638 HABITANTES 5.974 1.404 7.398 4.388 5.091 43 7.666 2.431 03 3.079 203 16.001 4.734 4.138 14.674 1.508 71 127 378 9.392 1.548 06 06 06 333 2.017 1.294 2.316 771 726 56 65 51 2.582 1.989 51 3.858 1.909 2.705 3.912 4.627 25 42 43 44 45 46 47 VILA DOS NOBRES BAIRRO VILA IVAR SALDANHA BAIRRO VILA NATAL BAIRRO VILA SÃO JOÃO BAIRRO VILA SÃO SEBASTIÃO BAIRRO RESIDENCIAL VALE VERDE BAIRRO TOTAL DO PÓLO COROADINHO TOTAL DO DISTRITO COROADINHO 1.063 1.071 200 260 604 384 17.777 45.897 3.003 3.025 565 734 1.698 1.085 51.925 129.641 Fonte: SEMUS/CCZ, 2004. 3.3 Unidade Mista do Coroadinho A Unidade Mista do Coroadinho da Secretaria Municipal de Saúde também trabalha com a categoria Distrito Sanitário do Coroadinho e apresenta o quantitativo populacional absoluto do Distrito como sendo de 105.655 habitantes (SEMUS/UMC, 2005). Os agentes comunitários de saúde trabalham com o cadastramento de algumas famílias que residem no referido Distrito, contudo, segundo fomos informados na Unidade Mista do Coroadinho, o número de funcionários é insuficiente para assistir todas as famílias das localidades, de forma que muitas ficam fora do cadastro. As localidades cobertas pelos profissionais estão relacionadas na Tabela 4, bem como o número de habitantes de cada localidade. Tabela 4: Localidades do Distrito Coroadinho e do Pólo Coroadinho assistidas pelo PACS, por número total de habitantes, 200510. LOCALIDADE Coroadinho Vila Conceição Parque Nice Lobão Coroado Barés Vila dos Nobres Alegre Redenção Vila dos Frades Bom Jesus Primavera Flor do Cinto Bairro de Fátima Areinha TOTAL DO PÓLO COROADINHO TOTAL DO DISTRITO COROADINHO POPULAÇÃO 17447 4767 1824 4943 3332 3306 54 2204 3306 6939 2497 231 17663 8117 40317 74133 Fonte: SEMUS/UMC, 2005. 10 As localidades em negrito compõem o Pólo Coroadinho. 26 3.4 Coordenação dos Programas Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde Os dados aqui apresentados foram obtidos junto à Coordenação dos Programas Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde e são referentes ao ano de 2005. Com relação ao processo de obtenção de dados, fomos informados pelos funcionários que os mesmos são coletados pelas Equipes de Saúde da Família (ESF), que são compostas por médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde, vinculados ao Programa Saúde da Família ou ao Programa Agentes Comunitários de Saúde, todos estes pertencentes à Secretaria Municipal de Saúde. Cada equipe deve acompanhar de 600 a 1.000 famílias, sendo que as equipes que cobrem o Distrito Coroadinho totalizam, apenas, cinco: duas do Programa Saúde da Família (PSF) e três do Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS), funcionando em número insuficiente para cobrir todo o contingente populacional existente no Distrito que, conforme documento utilizado por esses Programas, seria, em 2005, de 137.871 habitantes (SEMUS/PACS-PSF, 2005). Apesar de diversas unidades domiciliares estarem fora do cadastramento das ESF, os dados existentes servem de amostragem e são significativos para visualizarmos, ainda que de forma parcial, os diversos problemas existentes nas localidades integrantes do Pólo Coroadinho, bem como, as demandas que carecem intervenções do poder público e de uma efetiva organização interna dos agentes sociais locais. Tabela 5: População absoluta e relativa de localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por sexo e faixa etária, 200511. FAIXA ETÁRI < 01 ano 01 a 04 anos 05 a 06 anos 07 a 09 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos 20 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos > 60 anos TOTAL MASCULINO HAB. % 03 0,01 1143 2,40 1322 2,77 1931 4,05 2678 5,62 2750 5,77 8105 17,00 2202 4,62 1259 2,64 1024 2,15 22417 47,02 FEMININO HAB. % 06 0,01 1156 2,42 1209 2,54 1905 3,90 2849 5,98 2963 6,22 9664 20,27 2655 5,59 1449 3,04 1397 2,93 25253 52,97 TOTAL HAB. 09 2299 2531 3836 5527 5713 17769 4857 2708 2421 47670 % 0,02 4,82 5,31 8,05 11,59 11,98 37,27 10,19 5,68 5,08 100,00 Fonte: SEMUS/SIAB, 2005. 11 Dados referentes às localidades do Coroadinho, Vila Conceição, Parque Nice Lobão, Coroado, Barés, Vila dos Nobres, Alegre, Redenção, Vila dos Frades, Bom Jesus, Primavera, Flor do Cinto e Vila São Sebastião e não ao Pólo Coroadinho como um todo. 27 4 SERVIÇOS PÚBLICOS No Pólo Coroadinho, podemos observar uma presença seletiva de organismos estatais (nas suas esferas federal, estadual e municipal). Esta presença é seletiva, pois serviços e obras estruturais são, majoritariamente, alocados de forma pontual e pouco sistemática, fazendo com que a estrutura urbana permaneça insatisfatória. Segundo D1., que é líder comunitário, boa parte das ações governamentais na região são efetivadas a partir de forte pressão das entidades populares e não de um processo planejado e de longo prazo para superação dos problemas e carências estruturais. Assim, em matéria de serviços públicos, prestados aos moradores do Pólo Coroadinho, há uma perceptível inoperância dos órgãos governamentais que vai desde a má qualidade de suas atuações até a falta de fiscalização mais rigorosa aos concessionários de serviços de utilidade pública. Esse quadro favorece uma rede interna de articulação dos moradores para garantir serviços básicos de educação, saúde, habitação, lazer, segurança pública e transporte urbano coletivo. Alguns desses serviços públicos são realizados pelos próprios moradores quando, por exemplo, se organizam para manter uma escola comunitária, fazer mutirões para melhorar as ruas esburacadas e/ou construir moradias, ou mesmo quando se articulam para pressionar os organismos estatais no intuito de resolver problemas como o da segurança pública e do saneamento básico. 4.1 Educação De acordo com informações obtidas junto à Gerência de Desenvolvimento Humano, nas localidades pertencentes ao Pólo Coroadinho existem 32 escolas com serviços de creche, pré-escola, educação fundamental, ensino médio, educação especial, educação profissionalizante e ensino de jovens e adultos, que atendem a 12.260 vagas (Tabela 9) de uma demanda de, aproximadamente, 19.086 pessoas, entre 0 e 19 anos (Tabela 5). Em termos proporcionais à demanda por vagas oferecidas, estas escolas atingem 64,23% dos jovens que moram no Pólo, em idade escolar. Levando em conta a possibilidade de alguns moradores manterem seus filhos em escolas privadas ou públicas fora da área Pólo Coroadinho, os números parecem informar que a situação é favorável. 28 Entretanto, ao fazermos uma interpretação e leitura mais detida das informações, tivemos a oportunidade de verificar que a educação oferecida aos jovens moradores do Pólo Coroadinho é, na sua maioria, mantida pela própria organização dos moradores. Das 32 escolas existentes nesta região, 22 são comunitárias12 ou filantrópicas e somente 07 são públicas (06 da Prefeitura de São Luís e 01 do Governo do Estado do Maranhão). Das outras 03 escolas restantes, 01 é particular, a outra é comunitária empresarial e a última é filantrópica empresarial, sendo esta a única que oferta ensino médio. Ainda analisando os dados fornecidos pela GDH/SINEST, 2005, pudemos verificar que a maioria das escolas do Pólo Coroadinho oferece apenas o ensino fundamental. A oferta das últimas séries do ensino fundamental (5ª à 8ª) é feita por apenas 7 das 32 escolas e somam somente 2.916 vagas das 12.260 oferecidas no Pólo Coroadinho. As 412 vagas do ensino médio são oferecidas, exclusivamente por uma escola. O ensino profissionalizante tem sido tarefa do Centro de Educação Profissional do Coroadinho (CEPC), uma instituição não governamental que mantém suas atividades a partir de projetos financiados por organismos públicos ou empresariais. Importante ressaltar que existem escolas que estão em funcionamento no Pólo Coroadinho, mas não constam nos cadastros da GDH/SINEST, dentre elas podemos citar as creches comunitárias Semente da Esperança, Alegria de Viver e Cepequinho. Tabela 6: Escolas que atendem ao Pólo Coroadinho, por categoria e localidade, 2005. Categoria Comunitária (09) Comunitária / Empresarial (01) Estadual (01) Filantrópica (13) 12 Escola C.E. Profissional do Coroadinho E.C. Felipe de Sousa E.C. Ursinhos Carinhosos E.C. Coração de Mãe E.C. Criança Feliz E.C. Criança Feliz E.C. e Clube de Mães São Cosme e Damião E.C. N. Srª da Guia Esc. Menino Jesus de Praga Creche e Esc. Com. Primavera / JI. Primavera U.I. Estado do Ceará E.C. Santa Maria Bertilla E.C. Carla Rosa E.C. Nsrª. da Conceição Localidade Coroadinho COHEBE – Sacavém Bom Jesus – Coroadinhho Coroadinho Coroadinho Sacavém de Baixo Coroadinho Coroadinho Sacavém Primavera -Bom Jesus COHEBE - Sacavém Coroadinho Coroadinho Coroadinho As categorias comunitárias, filantrópicas, empresarial, estadual, municipal e particular são adotadas pela própria Gerência de Desenvolvimento Humano no intuito de proceder a uma classificação das diferentes formas de financiamento das instituições educacionais, quais sejam, respectivamente, doações e trabalhos dos agentes sociais da própria localidade, financiamento de agentes externos à localidade em questão, financiamento público do governo estadual, financiamento público da prefeitura e financiamento de particulares. 29 Filantrópica / Empresarial (01) Municipal (06) Particular (01) Total de Escolas: 32 E.C. Quatro Estações E.C. Rosa de Sahron E.C. São Sebastião III E.C. Stª Luzia E.C. Unidos Venceremos Esc. Paroquial Frei Alberto Esc. Peixinho Dourado J.D. Criança Futuro do Amanhã J.I. Frei Osvaldo J.I. São Jorge Esc. de Educ. Básica e Prof. Fund Bradesco U.E. Josué Montello U.E.B. Darcy Ribeiro13 U.E.B. Maria Amélia Profeta U.E.B. Vera Macieira U.I. Darcy Ribeiro U.I. Prof. Rubem Almeida Coop. Educ. de São Luís COEDUC Coroadinho Salina do Sacavém V. São Sebastião Coroadinho Coroadinho Túnel do Sacavém Coroadinho Salina do Sacavém Coroadinho V. dos Frades Coroadinho Sacavém Coroadinho COHEBE - Sacavém Sacavém Coroadinho Túnel do Sacavém Sacavém Coroadinho Parque Timbira Fonte: GDH/SINEST, 2005. Tabela 7: Matrícula inicial de alunos na faixa etária de 07 a 14 anos por nível de ensino, 2005. Escolas C.E. Profissional do Coroadinho E.C. Felipe de Sousa E.C. Ursinhos Carinhosos E.C. Coração de Mãe E.C. Criança Feliz E.C. Criança Feliz E.C. e Clube de Mães São Cosme e Damião E.C. N. Srª da Guia Esc. Menino Jesus de Praga Creche e Esc. Com. Primavera / J.I. Primavera U.I. Estado do Ceará E.C. Santa Maria Bertilla E.C. Carla Rosa E.C. N. Srª. da Conceição E.C. Quatro Estações E.C. Rosa de Sahron E.C. São Sebastião III E.C. Stª Luzia E.C. Unidos Venceremos Esc. Paroquial Frei Alberto Esc. Peixinho Dourado J.D. Criança Futuro do Amanhã J.I. Frei Osvaldo 13 PreEsc. Fund. Médio 0 0 35 35 10 0 25 0 87 33 0 90 80 0 0 0 0 0 0 0 0 Educ Especial 0 0 0 0 0 0 0 40 15 07 159 16 0 0 0 0 264 0 0 0 0 0 70 10 13 62 20 25 26 0 105 25 60 37 130 151 0 69 542 150 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 EJA TOTAL 0 0 0 0 0 0 0 0 87 68 35 100 80 25 0 0 0 0 0 0 199 31 07 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 271 105 25 60 37 130 221 10 82 604 170 25 26 A Unidade Integrada Darcy Ribeiro e a Unidade de Ensino Básico Darcy Ribeiro funcionam no mesmo prédio, contudo, de acordo com informações da GDH/SINEST, são instituições escolares diferenciadas, possuindo administrações próprias. 30 J.I. São Jorge Esc. de Educ. Básica e Prof. Fund Bradesco U.E. Josué Montello U.E.B. Darcy Ribeiro U.E.B. Maria Amélia Profeta U.E.B. Vera Macieira U.I. Darcy Ribeiro U.I. Prof. Rubem Almeida Coop. Educ. de São Luís COEDUC 13 31 0 625 0 4 0 0 0 0 13 660 516 0 0 0 0 0 0 1217 0 48 24 31 572 1845 207 5086 0 0 0 0 0 0 0 4 0 0 0 0 0 0 0 6 2 0 0 0 2 1 0 6 518 48 24 31 574 1846 207 6319 Fonte: GDH/SINEST, 2005. Tabela 8: Matrícula inicial de alunos na faixa etária de 15 a 17 anos por nível de ensino, 2005. Escolas U.I. Estado do Ceará E.C. São Sebastião III Esc. Paroquial Frei Alberto J.I. Frei Osvaldo Esc. Edu. Básica e Prof. Fund. Bradesco U.E.B. Josué Montello U.I. Darcy Ribeiro U.I. Prof. Rubem Almeida Coop. Edu. De São Luís COOEDUC Fund. Médio 66 10 06 0 57 153 227 304 18 841 EJA 0 0 0 0 248 0 0 0 65 313 0 0 0 4 0 0 0 0 0 4 TOTAL 66 10 06 4 305 53 227 304 83 1.158 Fonte: GDH/SINEST, 2005. Tabela 9: Escolas por quantitativo de alunos e nível/modalidade de ensino, 2005. Escola C.E. Profissional do Coroadinho E.C. Felipe de Sousa E.C. Ursinhos Carinhosos E.C. Coração de Mãe E.C. Criança Feliz E.C. Criança Feliz E.C. e Clube de Mães São Cosme e Damião E.C. N. Srª da Guia Esc. Menino Jesus de Praga Creche e Esc. Com. Primavera / JI. Primavera U.I. Estado do Ceará E.C. Santa Maria Bertilla E.C. Carla Rosa E.C. N. Srª. da Conceição E.C. Quatro Estações E.C. Rosa de Sahron Creche 0 PreEsc 150 Fund. 0 Médio 0 EduEsp 0 EJA 0 EduProf 0 Total 150 40 0 100 68 120 33 0 0 0 0 0 0 0 0 260 101 0 25 20 26 96 100 60 25 0 90 80 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 96 215 160 51 0 0 160 45 159 16 0 0 0 0 60 0 0 0 379 61 55 42 0 0 0 0 0 97 0 22 0 59 337 105 0 0 06 0 60 0 0 0 403 186 0 40 60 20 25 60 0 0 0 0 0 0 0 0 85 120 0 50 20 100 37 130 0 0 0 0 0 0 0 0 57 280 31 E.C. São Sebastião III E.C. Stª Luzia E.C. Unidos Venceremos Esc. Paroquial Frei Alberto Esc. Peixinho Dourado J.D. Criança Futuro do Amanhã J.I. Frei Osvaldo J.I. São Jorge Esc. de Educ. Básica e Prof. Fund Bradesco U.E. Josué Montello U.E.B. Darcy Ribeiro U.E.B. Maria Amélia Profeta U.E.B. Vera Macieira U.I. Darcy Ribeiro U.I. Prof. Rubem Almeida Coop. Educ. de São Luís COEDUC 180 30 50 153 90 107 184 0 70 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 517 120 227 0 422 684 0 0 0 0 1106 0 0 180 75 175 0 0 0 0 0 0 0 0 0 355 75 0 0 0 150 107 70 0 0 682 0 0 345 0 0 0 50 0 290 0 0 50 200 107 1437 0 30 0 0 167 136 337 104 68 0 0 0 0 0 0 39 0 0 0 0 0 772 301 204 0 0 0 127 0 0 76 961 2314 0 0 0 0 0 0 0 114 227 0 0 0 203 1075 2541 0 27 225 67 0 0 0 319 Total 568 2916 7468 412 06 840 50 12260 Fonte: GDH/SINEST, 2005. 4.2 Saúde No Pólo Coroadinho, no que concerne à assistência pública à saúde, a Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de São Luís mantém os seguintes centros de atendimento: Unidade Mista do Coroadinho, que presta atendimento de urgência, emergência e ambulatorial; Unidade de Atendimento à Saúde da Família “Antônio Guanaré”, voltada a apoiar os programas PACS/PSF; Posto de Saúde da COHEBE do Sacavém. As duas primeiras unidades de saúde estão situadas na localidade Coroadinho. Pelos dados apresentados, até aqui, poderíamos supor que a população do Pólo Coroadinho tem boa assistência à saúde, inclusive com acesso a programas pautados na prevenção, a exemplo do PSF e PACS. Entretanto, no Distrito Sanitário do Coroadinho como um todo, há uma população estimada pelo órgão de saúde da Prefeitura em 137.871 habitantes, dos quais somente 19.651 estão cadastrados nos referidos programas e apenas 299 possuem plano de saúde privada (Tabela 10). Além destes dados estatísticos, a observação direta no trabalho de campo nos demonstrou que as Unidades de Saúde estão permanentemente cheias de pacientes, em grandes filas para o atendimento, o que, 32 seguramente, interfere negativamente tanto na saúde dos pacientes quanto dos profissionais que os atendem. Tabela 10: População cadastrada em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por assistência dos programas PACS/PSF e plano de saúde, 200514. Assistência PACS/PSF Cobertura por plano saúde Total das localidades assistidas por PACS/PSF Total do Distrito Sanitário do Coroadinho POPULAÇÃO 19651 299 74133 137871 % 14,25 0,22 53,77 100,00 Fonte: SEMUS/SIAB, 2005. Com relação ao abastecimento de água, o Pólo Coroadinho é servido por uma rede de canalização de água que atende perto de 88% das unidades domiciliares. Juntando as formas de abastecimento “rede pública” e “poço ou nascente”, esse número fica perto do ideal, acima de 95% (Tabela 11). No entanto, ao confrontarmos essas informações com a realidade cotidiana das diversas localidades que compõem esta região, percebemos que, de fato, existe a rede de água, mas falta o principal: a água. Diversos moradores, principalmente nas Vilas São Sebastião, Conceição, dos Frades (mas não só), carregam, em latas e baldes, a água de poços perfurados em quintais de seus vizinhos. Não é raro também ver e ouvir que muitos moradores pagam ao vizinho uma quantia mensal para assegurar-lhe o abastecimento, mais ou menos, regular de água (ver também, SILVA, 2001). Sobre a labuta diária para garantir o abastecimento de água C1, moradora da Vila São Sebastião, afirma: a água aqui é difícil de conseguir. Mas já foi pior, pelo menos agora a moça do lado tem um poço e a gente pega água todo dia lá; eu pago uma quantia por mês porque você sabe né, o vizinho não tem obrigação de dá água todo dia pra gente, eles também têm muitos gastos com a limpeza do poço e a bomba. Tabela 11: Famílias cadastradas em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por abastecimento de água, 200515. ABASTECIMENTO DE ÁGUA Rede pública Poço ou Nascente Outros TOTAL Famílias 8.014 2.532 201 10.747 % 74,57 23,56 1,87 100,00 Fonte: SEMUS/SIAB, 2005. 14 Dados referentes às localidades do Coroadinho, Vila Conceição, Parque Nice Lobão, Coroado, Barés, Vila dos Nobres, Alegre, Redenção, Vila dos Frades, Bom Jesus, Primavera, Flor do Cinto e Vila São Sebastião e não ao Pólo Coroadinho como um todo. 15 Dados referentes às localidades do Coroadinho, Vila Conceição, Parque Nice Lobão, Coroado, Barés, Vila dos Nobres, Alegre, Redenção, Vila dos Frades, Bom Jesus, Primavera, Flor do Cinto e Vila São Sebastião e não ao Pólo Coroadinho como um todo. 33 Tabela 12: Famílias cadastradas em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por tratamento de água no domicílio, 200516. TRAT. ÁGUA NO DOMICÍLIO Filtração Fervura Cloração Sem tratamento TOTAL Famílias 9.096 142 330 1.179 10.747 % 84,64 1,32 3,07 10,97 100,00 Fonte: SEMUS/SIAB, 2005. Quanto ao esgotamento sanitário, o quadro não é catastrófico graças ao PROSANEAR, um programa nacional de saneamento básico realizado em parceria com a Prefeitura de São Luís que foi operacionalizado no Pólo Coroadinho a partir do ano de 199217. Segundo a liderança comunitária D1, a efetivação do PROSANEAR no Pólo Coroadinho foi resultado da mobilização e solicitação de associações de representação local em articulação com movimentos mais amplos, como a União Nacional por Moradia e o Fórum Nacional de Moradia. Contudo, ainda é tímida a ação nesse sentido, sendo registrada apenas uma coleta de 37% de dejetos humanos por sistema de esgotamento sanitário (Tabela 13). Os demais domicílios mantêm fossas sépticas (48,54%) ou descartam os detritos a céu aberto (14,20%), o que compromete a qualidade da água que advém de poços ou fontes naturais, sobretudo no período chuvoso, propiciando moléstias como dengue, dermatites, leptospirose. Tabela 13: Famílias cadastradas em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por destino das fezes/urina no domicílio, 200518. DESTINO FEZES/URINA Sistema de esgoto Fossa Céu Aberto TOTAL Famílias 4.004 5.217 1.526 10.747 % 37,26 48,54 14,20 100,00 Fonte: SEMUS/SIAB, 2005. Novamente, confrontando o ver e ouvir com as informações disponibilizadas por setores da saúde pública, podemos perceber o descompasso entre os números de domicílios 16 Dados referentes às localidades do Coroadinho, Vila Conceição, Parque Nice Lobão, Coroado, Barés, Vila dos Nobres, Alegre, Redenção, Vila dos Frades, Bom Jesus, Primavera, Flor do Cinto e Vila São Sebastião e não ao Pólo Coroadinho como um todo. 17 Informação prestada pelo Setor Social da SEMUS. 18 Dados referentes às localidades do Coroadinho, Vila Conceição, Parque Nice Lobão, Coroado, Barés, Vila dos Nobres, Alegre, Redenção, Vila dos Frades, Bom Jesus, Primavera, Flor do Cinto e Vila São Sebastião e não ao Pólo Coroadinho como um todo. 34 atendidos por coleta de lixo da prefeitura. Dos 82,67% de unidades domiciliares informadas como sendo atendidas por coleta pública (Tabela 14), talvez boa parte não tenha deveras acesso a esse serviço, uma vez que há um grande número de ruas inacessíveis aos veículos de coleta. Aliado a esse fator, a presença de diversos focos de lixões nas localidades pesquisadas denunciam a pouca eficiência da coleta de resíduos sólidos na área Pólo Coroadinho. Tabela 14: Famílias cadastradas em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por destino do lixo no domicílio, 200519. DESTINO DO LIXO Coleta pública Queimado / Enterrado Céu aberto TOTAL Famílias 8.885 308 1.554 10.747 % 82,67 2,87 14,46 100,00 Fonte: SEMUS/SIAB, 2005. 4.3 Habitação Se o leitor olhar apenas a Tabela 15 e não correr os olhos no texto que segue, ficará com uma visão extremamente superficial dos dados nela apresentados. Afirmamos isso, tão somente, por duas razões: primeiro porque 840 famílias, de um universo de 10.000, só se torna insignificante aos olhos de estatísticas que facilmente transforma pessoas e angústias de grupos sociais em um número insignificante. Depois, porque, o fato de a tabela apresentar 92,18% de famílias morando em casas construídas em alvenaria/adobe, não garante que estas tenham moradia digna nos paradigmas da boa moradia urbana. Este dado é, em si, pouco elucidativo, pois, ao juntar informações sobre casas construídas com tijolos e com adobe, uniformiza categorias que são de naturezas diferentes, pois o adobe é um material de construção de resistência bastante inferior ao tijolo e as construções prediais resultantes de um ou de outro são de qualidade bastante distintas. Tabela 15: Famílias cadastradas em localidades pertencentes ao Distrito Sanitário do Coroadinho, por tipo de casa, 200520. TIPO DE CASA Tijolo/Adobe Taipa Revestida 19 Famílias 9.907 193 % 92,18 1,80 Dados referentes às localidades do Coroadinho, Vila Conceição, Parque Nice Lobão, Coroado, Barés, Vila dos Nobres, Alegre, Redenção, Vila dos Frades, Bom Jesus, Primavera, Flor do Cinto e Vila São Sebastião e não ao Pólo Coroadinho como um todo. 20 Dados referentes às localidades do Coroadinho, Vila Conceição, Parque Nice Lobão, Coroado, Barés, Vila dos Nobres, Alegre, Redenção, Vila dos Frades, Bom Jesus, Primavera, Flor do Cinto e Vila São Sebastião e não ao Pólo Coroadinho como um todo. 35 Taipa não Revestida Madeira Material Aproveitado Outros TOTAL 529 36 19 63 10.747 4,92 0,33 0,18 0,59 100,00 Fonte: SEMUS/SIAB, 2005. Ao realizarmos os trabalhos de campo, pudemos observar que, realmente, há um bom número da casas construídas em alvenaria, com acabamento interno (paredes rebocadas, piso impermeável), telhado com estrutura compatível ao peso e resistente às intempéries e localização do lote em terreno plano e livre de alagamentos. No entanto, havia um mesmo ou maior número de casas construídas em alvenaria e adobe, mas desprovidas de quaisquer acabamentos; grande parte destas com piso de chão batido, paredes sem revestimento, telhados improvisados, localizadas em terreno acidentado ou de fácil alagamento em período chuvoso. Outra menção necessária é relativa ao programa de moradia popular intitulado PróMoradia (implementado na mesma época do PROSANEAR). Este programa foi executado pela SEMUS e previa construção, remanejamento e/ou restauração de 920 unidades residenciais na área do Pólo Coroadinho, abrangendo um total de 4.600 habitantes das localidades Coroadinho, Vila dos Frades, Alto de São Sebastião, Flor do Cintra, Sítio do PicaPau Amarelo, Parque Primavera, Vila Conceição, Salinas do Sacavém e Bom Jesus (SEMUS, 1995). Entretanto, a funcionária da SEMUS, E1, afirma que os resultados não foram muito satisfatórios, uma vez que somente se efetivou a construção de 300 casas e não houve qualquer remanejamento ou restauração de moradias. A equipe de pesquisa constatou que não foram elaborados os relatórios finais do Programa, o que dificulta confirmar esta informação. E1. lembra ainda que houve uma grande frustração dos moradores, pois a expectativa era muito grande com relação à melhoria de suas condições de moradia. 4.4 Áreas de Lazer A região do Pólo Coroadinho, praticamente, não dispõe de estruturas construídas especificamente para esporte e lazer, como ginásios, quadras esportivas, clubes sociais. O lazer é oferecido pelos clubes privados de reggae ou pelas festas realizadas por associações comunitárias (SEMUS, 1996). As poucas áreas disponíveis para o uso coletivo vinculado ao lazer são convertidas pelos moradores, normalmente, em campos de futebol e, em menor 36 quantidade, de voleibol. Alguns campos de futebol estão sob as linhas de transmissão de energia elétrica da Eletronorte. Estes espaços, além do uso mais permanente para o futebol, podem, também, ser utilizados para instalação temporária de parques de diversão, arraiais para as festas juninas, eventos religiosos, gincanas escolares e comícios políticos nos períodos eleitorais. Sobre estes usos, I. revela que “ali no campinho eles colocam arraial, fazem gincana, tem show gospel...”. O campo de futebol mencionado por I., localiza-se na Vila Conceição, sob as linhas de transmissão da Eletronorte e nele há uma placa indicando que se trata do Estádio Novo Tempo21, fundado em 1981 e reformado em 1996, quando recebeu este nome. A escassez de áreas de lazer na região resulta da ocupação irregular dos terrenos e do grande adensamento de construções habitacionais e comerciais, que leva os moradores a ocupar as faixas de servidão da Eletronorte também para este fim, embora seja uma prática não permitida pela legislação (ABNT/NBR 5422/2003). No terreno do campo de futebol acima mencionado, em junho do ano de 2005, foi erguido um arraial para as festas juninas. Segundo o barraqueiro Q., um dos responsáveis pelo arraial, “este local foi escolhido, pois o Ministério Público proibiu a realização do arraial na Praça do Coroadinho, que fica ao lado do Colégio dos Padres e da Fundação Bradesco, por se tratar de uma área de escolas”. Ainda segundo Q., como não existem outras áreas livres nas redondezas, escolheram o campo de futebol: “esta escolha foi cheia de polêmicas, pois a Eletronorte não deu o documento liberando a área. Aí, nem a prefeitura nem o corpo de bombeiros liberou os alvarás”. Os organizadores do arraial resolveram erguê-lo, mesmo confrontando disposições legais, já que era a única alternativa de terreno disponível. O fato de não contarem com permissão oficial acarretou a perda de patrocínios normalmente fornecidos pela Fundação Municipal de Cultura (FUMC), implicando na ausência de seguranças municipais e das brincadeiras22 financiadas pelo órgão público. Q. lembra, ainda, que apesar de não conseguirem o alvará de funcionamento, contaram com o apoio de um vereador municipal para a instalação do palco e da aparelhagem de som. 21 O nome atribuído ao campo de futebol é uma referência ao slogan utilizado pelo governo estadual da época, sob comando da Governadora Roseana Sarney. Esta placa é mais uma indicação da atuação do poder público na manutenção de práticas de uso das faixas de servidão não permitidas pela NBR 5422, da ABNT. 22 São chamadas de brincadeiras as várias modalidades de manifestação cultural presentes nas festas juninas ou no carnaval (bumba-meu-boi, cacuriá, dança portuguesa, blocos tradicionais, dentre inúmeros outros). Nas festas juninas, a Prefeitura Municipal patrocina os grupos que realizam estas brincadeiras e garantem o transporte dos mesmos para os vários arraiais. 37 4.5 Segurança Pública Conforme destacado na Introdução, o Pólo Coroadinho comumente é associado a um local violento. A falta de segurança remete à questão da violência no cotidiano como primeiro tema a ser apontado pelos moradores entrevistados. A existência de inúmeras gangues juvenis que se enfrentam cotidianamente e do histórico de diversos crimes no local faz com que a noção de violência seja parte integrante do arcabouço simbólico dos moradores da região. D1., morador do Pólo desde a ocupação da localidade Coroadinho, se refere à violência nos seguintes termos: Sabe quando foi o primeiro assassinato do Coroadinho? Foi no dia da sua ocupação. De lá pra cá, todo mês morre pelo menos um. Há uns dois ou três anos as coisas pioraram por aqui e a população fez uma passeata pedindo justiça pelas vidas tiradas de pessoas trabalhadoras e inocentes. A questão de segurança pública, assim, pode ser percebida como sendo a demanda mais urgente levantada pelas organizações locais com relação às políticas públicas. Segundo D1., as lideranças do Pólo Coroadinho resolveram reivindicar, da Secretaria de Segurança Pública, medidas que resolvessem a situação de violência urbana em que vivem os moradores do Pólo. N., outro morador de uma das localidades do Pólo e liderança local, nos informou que os moradores resolveram, a partir de sugestão do Comandante da Polícia Militar, fundar um conselho que reivindicasse, prioritariamente, dentre outras políticas públicas, segurança para os moradores do Pólo Coroadinho. Esta liderança afirma: após a fundação do Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho, houve uma perceptível melhoria na segurança pública do bairro, já que o policiamento está mais próximo das pessoas de bem, e os policiais que passaram a atuar nas localidades são todos treinados e capacitados para dialogar com os moradores. Hoje, o Pólo Coroadinho conta com uma Delegacia de Polícia Civil, além de um contingente de 69 policiais militares atuando em um Centro de Atendimento Comunitário (CAC) e um Posto de Polícia Militar. A Polícia Militar conta com cinco viaturas, sendo três carros e duas motos que realizam rondas nas localidades do Pólo Coroadinho (Tabela 16). Em função da mobilização e ação conjunta com os Conselhos Comunitários locais, está programado para ser inaugurada, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2006, uma Companhia de Polícia Militar, a ser instalada no prédio do Conselho Comunitário das Entidades Comunitárias da Área do Pólo Coroadinho, que está sendo reformado para este fim (Tabela 16). 38 Tabela 16: Serviços policiais na área Pólo Coroadinho, 2005. SERVIÇO Centro de Atendimento Comunitário Posto de Polícia Militar Delegacia de Polícia 1ª Companhia de Polícia Militar23 Viaturas da Polícia Militar (carros) Viaturas da Polícia Militar (motos) COMPETÊNCIA Polícia Militar QUANTIDADE 01 LOCALIDADE Coroadinho Polícia Militar Polícia Civil Polícia Militar 01 01 01 Vila São Sebastião Bom Jesus Coroadinho Polícia Militar 03 Rondas em todo o Pólo Polícia Militar 02 Rondas em todo o Pólo Fonte: 1ª Companhia de Polícia Militar do 1º Batalhão de Polícia Militar do Maranhão, 2005. Apesar de relativamente assistido em termos de segurança pública, o Pólo Coroadinho carece de mais serviços – sobretudo de caráter preventivo e educativo, pois, os métodos repressivos utilizados para reduzir o índice de criminalidade, embora não possam ser considerados de todo ineficazes, ainda estão longe de se constituírem em satisfatórios para a população local. 4.6 Serviços de Transporte Coletivo Urbano De acordo com informações obtidas junto à Secretaria Municipal de Transportes Urbanos (SEMTUR), o Pólo Coroadinho é assistido por seis linhas regulares de ônibus, com atuação de seis empresas do ramo de transporte regular urbano e um total de 27 veículos. Tendo como referência o mês de novembro de 2005, essa frota é capaz de atender a 352.085 passageiros. Tabela 17: Serviço de transporte coletivo urbano no Pólo Coroadinho por linha, empresa frota e total de passageiros por mês, 2005. LINHA EMPRESA FROTA 212 – V. dos Nobres/Parque Pindorama 612 – Coroadinho/B. Jesus 209 – Parque dos Nobres 617 – Coroadinho/Vila Conceição Coroadinho/Beira Mar Parque Timbira/Bom Jesus TOTAL 28 – Autoviária Matos 43 – Solemar 28 – Autoviária Matos 28 – Autoviária Matos 26 – Gonçalves/ 43 Solemar 26 – Gonçalves/ 43 - Solemar 06 02 10 03 05 02 05 27 TOTAL DE PASS/MÊS 27.905 192.925 44.414 41.575 3.860 41.406 352.085 Fonte: Secretaria Municipal de Transportes Urbanos, nov. 2005. 23 Em fase de instalação. 39 5 ORGANIZAÇÕES SOCIAIS LOCAIS De acordo com informações obtidas junto a líderes comunitários e pessoas que atuam nos movimentos sociais locais, no Pólo Coroadinho existem cerca de sessenta entidades, como: centros comunitários; clubes de mães; uniões e associações de moradores; escolas comunitárias; associações religiosas, culturais, recreativas e esportivas; conselhos municipais de educação, de saúde, da criança e adolescente; conselhos de articulação de entidades locais. Neste item, expomos tabelas com informações sobre entidades que integram a região. É importante destacar, no entanto, que essas tabelas não pretendem ser completas, pois não foi possível à equipe de pesquisa obter todos os dados relativos às entidades que compõem o Pólo. Isso devido, dentre outros fatores, ao curto tempo destinado para a realização do trabalho de campo e à indisponibilidade dos dados de registro de pessoa jurídica existentes no Cartório Cantuária de Azevedo (ver item 1). As principais fontes de informação foram: SEMSUR; SEMUS/UMC; Conselho Comunitário das Entidades Comunitárias da Área do Pólo Coroadinho, Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho. As catalogações fornecidas por estas instituições são parciais, pois são elaboradas segundo as necessidades específicas de cada uma delas e não visam enumerar todas as entidades existentes na região. Nestas tabelas foram acrescentadas informações obtidas por meio de conversas informais e também através da participação dos pesquisadores em reuniões realizadas com líderes comunitários do Pólo Coroadinho. 5.1 Associativas e Comunitárias Tabela 18: Entidades associativas e comunitárias do Pólo Coroadinho, por endereço e representante, 2005. ENTIDADE Associação Comunitária da Vila dos Nobres ENDEREÇO/TEL. Rua dos Duques, s/n°, Vila dos Nobres 02 Associação Comunitária da Vila São João Rua da Manga, nº178, Vila São João, Coroadinho 03 Associação Comunitária dos Moradores da Salina do Sacavém Associação Comunitária dos Moradores da Vila dos Frades Rua Boa Esperança, nº42, Salina do Sacavém 01 04 Rua São Jorge, nº47, Vila dos Frades REPRESENTANTE/TEL. Esmeralda da Silva Moreira Dias - Repres. no Conselho de Saúde em 2001. (3243 5632) Rosete - Secretária da Associação (3275 1735) Manoel Benedito Santos Repres. no Conselho de Saúde em 2001 Eduarda Costa Soares Antonio Marcos 40 05 Associação Comunitária dos Moradores do Pólo Coroadinho Informação não obtida 06 Associação de Moradores da Vila Atêncio Queiroga Associação de Moradores do Bairro da Primavera Rua Principal, nº10, Vila Atêncio Queiroga Rua da Estrela, nº18, Primavera Associação dos Moradores da Vila Braide Associação dos Moradores da Vila Conceição Associação dos Moradores da Vila Natal Associação dos Moradores da Vila Pica-Pau Amarelo Associação dos Moradores da Vila São Sebastião Associação dos Moradores da Vila Vale Verde Associação dos Moradores do Alto do Parque Timbira Associação dos Moradores do Bairro do Coroadinho Associação dos Moradores do Bom Jesus Grupo Comunitário Semente da Esperança União de Moradores do Bairro Primavera União de Moradores do Sítio do Pica-Pau Amarelo Informação não obtida José Franca - Repres. no Conselho de Saúde em 2001 (3243 9101 / 9115 4783) Ismael Pinto Ferreira - Repres. no Conselho de Saúde em 2003 (3243 9101) Informação não obtida Informação não obtida Informação não obtida Av. Natal, nº100, Vila Natal Jackson Gonçalves – Repres. no Conselho de Saúde em 2001 Informação não obtida União dos Moradores da Salina do Sacavém União dos Moradores da Vila Atêncio Queiroga União dos Moradores da Vila Braide União de Moradores da Vila Conceição União dos Moradores da Vila dos Frades Informação não obtida Josete Coelho Diniz – Repres. no Conselho de saúde 2001 Lilía Maranhão Santos – Repres. no Conselho de Saúde em 2003 (3253 1720) Informação não obtida Rua Principal, nº10 Maria das Graças Silva Informação não obtida Informação não obtida Rua 13 de maio, nº35, Vila Conceição Rua Frei Osvaldo, s/nº, Vila dos Frades Maria Verde 25 União dos Moradores da Vila dos Nobres Informação não obtida 26 União dos Moradores da Vila Natal União dos Moradores da Vila Nice Lobão União dos Moradores da Vila São Sebastião União dos Moradores da Vila Vale Verde Informação não obtida Maria Gorete Soares - Repres. no Conselho de Saúde em 2001(3253 3762) Irinaldo Costa Rodrigues Repres. no Conselho de Saúde 2001(3275 20 21) Informação não obtida Informação não obtida Informação não obtida Informação não obtida Informação não obtida Informação não obtida Informação não obtida 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 27 28 29 Informação não obtida Raimunda Belfort Dias Repres. no Conselho de Saúde (3253 1873) Maria José Rua São Francisco, nº25, Vila São Sebastião Informação não obtida Aluízio Ferreira dos Santos Informação não obtida Informação não obtida Rua da Juçara, nº09, Coroadinho Qd. 04, nº 03, Bom Jesus José Maria Borges Silva Tv. Nossa Senhora Aparecida, nº13, Vila dos Frades Rua Deputado Sarney Filho, nº03 Rua Principal, Rua Principal, nº302 Rosilene Informação não obtida Informação não obtida 41 30 31 32 33 União dos Moradores do Alto do Parque Timbira União dos Moradores do Bairro Coroadinho União dos Moradores do Bairro Primavera Informação não obtida Informação não obtida Rua da Palestina, nº55 Dulcimar Silva Castro Rua Deputado Sarney Filho, nº03, Primavera União de Moradores do Bairro Bom Jesus Av. Presidente José Sarney, nº01, Bom Jesus Josete Coelho Diniz - Repres. no Conselho de Saúde em 2001(3275 3545) Claudilene Ferraz - Repres. no Conselho de Saúde em 2003 (3249 0092) Maximiano Cantanhede Nogueira - Repres. no Conselho de Saúde em 2001 (3253 3668) Fontes: SEMSUR, 1996; SEMUS/UMC, 2005; Conselho Comunitário das Entidades Comunitárias da Área do Pólo Coroadinho, 2005; Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho, 2005. 5.2 Centros Comunitários Tabela 19: Centros Comunitários do Pólo Coroadinho, por endereço e representante, 2005. 01 02 03 04 05 06 ENTIDADE Centro Beneficente das Crianças Carentes do Coroadinho Centro Comunitário Área Pólo Coroadinho Centro Comunitário da Vila Bom Jesus Centro Comunitário do Coroadinho Centro de Apoio Comunitário (Escola Trabalhista) Centro Recreativo Beneficente do Coroadinho ENDEREÇO/TEL. Travessa da Prata, nº12, Coroadinho REPRESENTANTE/TEL. Maria Valentina Pereira Rua da Juçara, nº14, Coroadinho Rua Santa Maria, quadra 08, casa 02 Rua da Felicidade, s/n Informação não obtida Informação não obtida Maria da Conceição Santos Batista Raimundo Nonato Coelho Lopes Informação não obtida Rua São Sebastião, nº12 Maria Inês Araújo Pacheco Fontes: SEMSUR, 1996; SEMUS/UMC, 2005; Conselho Comunitário das Entidades Comunitárias da Área do Pólo Coroadinho, 2005; Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho, 2005. 5.3 Clubes de Mães, de Donas de Casa e de Mulheres Tabela 20: Entidades de Donas de Casa e de Mulheres e Clubes de Mães do Pólo Coroadinho, por endereço e representante, 2005. 01 02 03 04 ENTIDADE Associação Beneficente das Donas de Casa Associação Beneficente das Donas de Casa Carentes do Pica-Pau Amarelo Associação Beneficente das Donas de Casa da Vila Conceição Associação Beneficente das ENDEREÇO/TEL. Rua Mauro Fecury, nº 17 e 30 REPRESENTANTE/TEL. Domingas Martins Pinheiro Rua São Sebastião, nº26 – B, Sítio do Pica-Pau Amarelo Joana de Souza Nóbrega Rua das Flores, nº16, Vila Conceição Antonia Garcia de Jesus Rua Mauro Fecury, nº 17, Domingas Martins Pinheiro 42 Donas de Casa de São Domingos Associação das Donas de Casa do Alto do Coroadinho Associação das Donas de Casa do Bairro Salina Associação das Mães Carentes da Vila São Sebastião Casa das Mães Maranhenses Coroadinho 09 Clube das Mães Nossa Senhora da Vitória Rua da Juçara, nº 02, Coroadinho (2532 2989) 10 Clube de Mães Coração de Maria Clube de Mães Cosme e Damião Clube de Mães Flor do Cintra Rua Juscelino Kubitschec, n°30 05 06 07 08 11 12 13 União da Boa Vontade das Mulheres do Coroadinho Rua 1º de maio, nº 01, Coroadinho Rua Esperança, nº 18, Salina do Sacavém Rua São João, nº30, Vila São Sebastião Rua Duque de Caxias, nº 14, Coroadinho Rua da Vitória, nº 10, Coroadinho Rua São João, s/nº, Flor do Cintra. Rua de São Sebastião, nº 11- A Orenildes Vieira Costa Telma Marques Arouche Anastácia Pinto Antonio Augusto Moraes Pinheiro - Presidente (9964 3402) Maria do Espírito Santo C. Pereira (2532 2989) Lusmar Lopes Correia - Repres. no Conselho de Saúde em 2003 (3253 2757 / 8112 4244) Maria José Fonseca dos Anjos Maria de Jesus Ferreira Santos Ubiracy Durans Soares (3223 3825) Carlos Alberto Sousa Santos Fontes: SEMSUR, 1996; SEMUS/UMC, 2005; Conselho Comunitário das Entidades Comunitárias da Área do Pólo Coroadinho, 2005; Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho, 2005. 5.4 Conselhos Tabela 21: Conselhos do Pólo Coroadinho, por endereço e representante, 2005. 01 02 03 04 ENTIDADE Conselho Comunitário das Entidades Comunitárias da Área do Pólo Coroadinho Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho Conselho de Saúde da Unidade Mista do Coroadinho Conselho Tutelar Área Coroadinho ENDEREÇO/TEL. Rua da Juçara, n° 14, Coroadinho REPRESENTANTE/TEL. José Maria Borges (91197286) Rua da Vitória, n° 16, Coroadinho (3223 1591) Antonio Alves / Branco (3223 1591) [email protected] Informação não obtida Informação não obtida Av. Amália Saldanha, s/n°, Coroadinho Informação não obtida Fontes: SEMSUR, 1996; SEMUS/UMC, 2005; Conselho Comunitário das Entidades Comunitárias da Área do Pólo Coroadinho, 2005; Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho, 2005. 5.5 Culturais Tabela 22: Entidades culturais do Pólo Coroadinho, por endereço e representante, 2005. 01 ENTIDADE Associação Cultural Beneficente Santa Luzia ENDEREÇO/TEL. Rua Frei Osvaldo, nº56, Vila dos Frades, Coroadinho REPRESENTANTE/TEL. Analice Ferreira da Silva 43 02 Sociedade Bumba Meu Boi do Sítio do Pica-Pau Amarelo Rua de São Sebastião, nº05, Coroadinho Pinto Fontes: SEMSUR, 1996; SEMUS/UMC, 2005; Conselho Comunitário das Entidades Comunitárias da Área do Pólo Coroadinho, 2005; Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho, 2005. 5.6 Religiosas O trabalho de campo nos permitiu perceber a presença de várias instituições de caráter religioso no Pólo Coroadinho. No entanto, o acesso a informações catalogadas e abrangentes sobre entidades e instituições religiosas não nos foi possível e o levantamento direto exigiria um extenso trabalho de campo, inviável no âmbito da presente investigação. Fróes (2004), em seu trabalho monográfico, verificou a existência de diversas Igrejas Católicas e Evangélicas, dentre as quais destaca Batista, Assembléia de Deus, Adventista do 7º Dia e Universal do Reino de Deus. Em conversas com moradores e andando pelas ruas do Pólo, constatamos, também, a existência de terreiros de religiões afro-brasileiras. A presença da Igreja Católica Apostólica Romana se dá através da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coroadinho, que atende todo o Pólo e adjacências. Segundo informações obtidas na Secretaria da Paróquia, a mesma está subdivida em comunidades organizadas em torno de Capelas (ver Tabela 23) e conta com grupos de Pastoral Familiar, Pastoral da Juventude, Pastoral da Criança, Catequeses. Tabela 23: Comunidades que compõem a Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coroadinho, por localidade, 2005. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 COMUNIDADE Nossa Senhora de Nazaré Santa Luzia Nossa Senhora do Carmo Nossa Senhora das Graças Nossa Senhora de Fátima São José São Luís Rei de França São Vicente São Francisco São Francisco (Alto) Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Coroadinho LOCALIDADE Vila Nazaré Coroadinho Coroadinho (Feira) Km 7/COHEBE Vila dos Frades Vila São Sebastião COHEBE/Sacavém Sacavém/COHEBE de Cima Salinas do Sacavém Alto de São Francisco Vila Conceição Fonte: Secretaria da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Coroadinho, 2005. Nos documentos dos Conselhos de Saúde da Unidade Mista do Coroadinho, Comunitário das Entidades Comunitárias da Área do Pólo Coroadinho e Comunitário de 44 Defesa Social do Pólo Coroadinho somente encontramos registro das entidades de cunho religioso que constam da Tabela 24. Tabela 24: Entidades religiosas do Pólo Coroadinho, por endereço e representante, 2005. 01 02 03 ENTIDADE Associação Beneficente Nossa Senhora do Amparo Coral Paz e Bem 05 Igreja Católica Alto São Francisco Igreja Nossa Senhora do Carmo Igreja Santa Luzia 06 Pastoral Familiar 04 ENDEREÇO/TEL. Avenida Progresso, nº 55, Coroadinho Rua Nossa Senhora do Carmo, Coroadinho Rua São Francisco, n° 114, Alto São Francisco Rua Nossa Senhora do Carmo, s/n°, Coroadinho Rua José de Alencar, s/nº, Coroadinho Rua Nossa Senhora do Carmo, s/nº, Coroadinho REPRESENTANTE/TEL Informação não obtida Maria do Carmo Alves (325302351) Ivaldo Ramos Pereira Raimundo de Jesus Marlon de Jesus Cutrim dos Santos (3253 2945 / 9135 4126) Antonio S. P. Serra (9115 1625) Fontes: SEMSUR, 1996; SEMUS/UMC, 2005; Conselho Comunitário das Entidades Comunitárias da Área do Pólo Coroadinho, 2005; Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho, 2005. 45 6 REDES SOCIAIS QUE ATUAM NA REGIÃO O Pólo Coroadinho, concebido como área de periferia (PALLONE, 2005), conforme item 2.1 deste relatório, vem sendo representado, por organismos governamentais, nãogovernamentais e empresariais, como espaços urbanos que demandam um conjunto de ações destinadas a melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. Um dos projetos de atuação junto aos jovens da região é fruto de uma iniciativa do Governo Federal, através do Consórcio Social da Juventude e da Delegacia Regional do Trabalho, que tem como entidade âncora, em São Luís, o Centro de Cultura Negra (CCN). Este projeto consiste no fornecimento de cursos profissionalizantes para jovens, normalmente, com turmas de trinta alunos, dos quais nove devem ser jovens em situação de “conflito com a lei”24. No Pólo Coroadinho, a equipe de pesquisa constatou que o Centro Educacional e Profissional do Coroadinho (CEPC) oferece quatro cursos: de confeiteiro, de cozinheiro e de cabeleireiro, no Bairro Coroadinho, e de mecânica de automóveis, na Vila dos Frades. Além destes, a Associação das Donas de Casa do Salinas do Sacavém oferece o curso de serigrafia no Salinas do Sacavém. Sobre este último curso, C. (lembrando que para a seleção dos trinta alunos que compõem a turma, apareceram noventa candidatos) afirma que “aqui no bairro, nós temos muito mais jovens em situação de conflito com a lei. O curso não consegue incluir todos, precisamos de mais iniciativas como esta, que dêem oportunidades para os outros jovens que estão na mesma situação”. D. complementa esta fala, afirmando: “os jovens em conflito com a lei são os mais animados do curso, não faltam, participam de todas as atividades e parecem querer mudar de vida. Eles já pensam em montar uma cooperativa para terem alguma forma de geração de renda”. Por outro lado, B. que atua como liderança no CEPC, afirma que nos cursos oferecidos através desta organização, os jovens em conflito com a lei envolvem-se pouco com as atividades realizadas, demonstrando-se apáticos e desinteressados. Afirma, ainda, que este tipo de curso somente terá significado na vida dos jovens se forem seguidos de programas de geração de renda que permitam a aplicação dos conhecimentos obtidos. O Governo Federal ainda mantém, em convênio com entidades locais, várias turmas de alunos vinculadas ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). 24 São considerados jovens em conflito com a lei, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, aqueles, menores de 18 anos, que praticaram ato infracional. 46 Instituições universitárias como a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e o Centro Universitário do Maranhão (UNICEUMA) realizam projetos de extensão acadêmica. A UFMA, através do Departamento de Artes, mantém o Projeto de Extensão “Arte e educação na vida da criança e do adolescente”, coordenado pela Profª Ana Tereza Desterro Rabelo, conhecida como Estrelinha. Segundo esta professora, o Projeto originou-se de uma experiência anterior, realizada por jovens ligados à Igreja Católica que, a partir do início dos anos 1980, trabalharam com o incentivo à organização comunitária, acompanhando os moradores da Vila Conceição desde a ocupação da área. A partir de 1995, com a nomeação da referida professora pela UFMA, tornou-se um projeto de extensão institucionalmente reconhecido, que tem como público alvo crianças de 08 a 12 anos (uma turma de aproximadamente 25 componentes) e adolescentes de 13 a 18 anos (uma turma de aproximadamente 15 componentes), da localidade Vila Conceição e adjacências. As atividades são realizadas aos sábados, no Centro Comunitário da Vila Conceição 25. O Projeto desenvolve atividades de linguagem voltadas para a educação: dança; teatro de bonecos; literatura infanto-juvenil; palestras; passeios culturais, ecológicos e de lazer. Conta, além do trabalho da professora coordenadora, com a monitoria de um aluno bolsista do Curso de Educação Artística (para mais detalhes sobre o Projeto, ver SILVA, 2001). O UNICEUMA, segundo depoimento de N., esporadicamente, presta serviços de atendimento à saúde, atendimento odontológico, atendimento jurídico. Uma Organização Não-Governamental (ONG) que atua no Pólo Coroadinho é o Instituto da Infância (IFAN), que tem sede em Fortaleza e atua no Nordeste brasileiro, nos estados do Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte. Segundo nos informa a professora Claudett Ribeiro, coordenadora do escritório da ONG no Maranhão, “o IFAN tem como missão fomentar o desenvolvimento integral da criança, favorecendo a sua participação, integração e competências no âmbito familiar e comunitário priorizando a região Norte do Nordeste do Brasil”. No Maranhão, o IFAN coordena o Projeto denominado Paz Juvenil, que visa criar uma cultura de paz entre as gangues juvenis do Pólo Coroadinho, a partir de uma abordagem metodológica que prima pela educação pelos pares, com vista a estimular a atitude intencional dos jovens integrantes de gangues em influenciar outros, em especial as crianças. Segundo Profª Claudett, as ações sócio-educativas estão focadas na convivência inter-pessoal e são desenvolvidas através do ateliê de escrita. A linguagem escrita é o 25 O Centro Comunitário cede suas dependências para realização do projeto, mas não existe qualquer convênio formal com entidades locais. 47 instrumento que envolve o saber e o pensar sobre a realidade. Promove o auto-conhecimento e a expressão de consciência de si e do mundo. Dessa forma, o ateliê de escrita é o espaço da convivência social, do fortalecimento da auto-estima, da participação solidária, da melhoria das relações inter-pessoais e da disseminação de informações para influenciar a maioria. O propósito é o de envolver diretamente nas atividades sócioeducativas, promovidas pelo Ateliê de Escrita, com foco nas práticas culturais, jovens de ambos os gêneros, na faixa etária de 12 a 21 anos, integrantes das nove gangues identificadas no Coroadinho (tabela 25). Está sendo prevista uma meta de 90% (97) do total estimado de 108 jovens participantes desses agrupamentos. Tabela 25. Número estimado de jovens por gangues – Coroadinho - 2005 01 02 03 04 05 06 07 08 09 GANGUES Grupo sem denominação (Rua do Muro) Grupo sem denominação (Vila Conceição) KVF – Keimadores da Vila dos Frades GVF – Galera da Vila dos Frades KDM – Kebradores do Morro ODA – Detentores da Área CN – Comando Negro OM – Organizadores da Mente MS – Mensageiros Satânicos TOTAL NÚMERO ESTIMADO DE JOVENS 15 10 10 11 18 11 11 12 10 108 Fonte: Relatório da Pesquisa Gangues em São Luís – IFAN 2004 Ainda segundo a professora, atualmente, o número de pessoas envolvidas, por categoria, é: jovens integrados: 71; jovens em fase de integração: 78; moradores: 1.524; professores: 22; diretores de escola: 4; alunos matriculados em escolas da localidade: 945. Para a execução de suas atividades, o IFAN conta com parcerias internacionais com entidades como a Fundação Bernard van Leer e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e, no âmbito local, no Coroadinho, com o Conselho Comunitário de Defesa Social do Pólo Coroadinho e com a participação de voluntários. O Batalhão de Polícia Florestal realiza, freqüentemente, campanhas de educação ambiental junto às escolas e, anualmente, a campanha “Natal Solidário”, que distribui cestas básicas e brinquedos coletados através de doações de empresários, políticos, funcionários de órgãos governamentais e dos próprios policiais florestais. Estas atividades são implementadas com vistas à conservação do Parque Estadual do Bacanga, localizado nas imediações do Pólo. A caracterização do Pólo Coroadinho como uma região marcada pela pobreza tem despertado o interesse de atuação de várias Empresas que operam com a noção de responsabilidade social. A equipe de pesquisa constatou a existência do trabalho vinculado à educação formal realizado pela Fundação Bradesco e pela Fundação C&A. A primeira 48 mantém a Escola de Educação Básica e Profissionalizante Fundação Bradesco, localizada na Av. dos Africanos, na entrada do Coroadinho. Segundo D., quando esta Escola foi criada, havia o discurso de que seria destinada a atender à população da região, mas isto não se efetivou e a maior parte de seus alunos são oriundos de outras localidades da cidade. Já a Fundação C&A mantém a Creche e Escola Comunitária Jardim Primavera/Jardim de Infância Primavera, na localidade Primavera. Algumas instituições empresariais, como Alumar, Eletronorte, Atlântica Serviços Gerais, Banco da Amazônia, atuam na região, normalmente, através do voluntariado de seus funcionários ou através do financiamento de projetos pontuais elaborados por entidades populares. O Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão (ICE), da mesma forma, escolheu o Pólo Coroadinho como área alvo de suas ações de responsabilidade social. Atualmente, mantém três Brinquedotecas que estão localizadas nas creches comunitárias Semente da Esperança (Vila dos Frades), Alegria de Viver e Cepequinho (ambas no Coroadinho). No ano de 2004, nas dependências do Cepequinho, o ICE implementou o Projeto Gera Renda, destinado a jovens de todo o Pólo. Como resultado do Projeto, no ano de 2005, foi criada a Associação dos Jovens Empreendedores do Pólo Coroadinho, que conta com o apoio e assessoria do ICE. Como exemplo empírico da relação entre empresa e organização social no Pólo Coroadinho, podemos citar aquela existente entre a Eletronorte e o Salinas do Sacavém, que tem sido apresentada tanto por técnicos da empresa como por moradores da localidade como sendo de adoção. C. e D., que ocupam posição de liderança na Associação das Donas de Casa do Salinas do Sacavém, ao serem perguntadas sobre a “adoção da comunidade” pela empresa afirmam que realmente existe uma parceria efetiva e reconhecem a importância do apoio que recebem. D. lembra que recebemos emprestado da Eletronorte alguns computadores usados, para cursos de inclusão digital. Os funcionários da empresa sempre fazem campanhas para coletar alimentos para a merenda das crianças da escola comunitária e, além disso, uma vez por mês os voluntários trazem o sopão para distribuir na comunidade. O. nos revela que “a Eletronorte tem muito projeto com a comunidade... Lá tem curso de futebol, caratê, jovem aprendiz... É tudo dado lá na sede da Eletronorte. Minha filha faz caratê lá”. Segundo informações obtidas junto a funcionários da Eletronorte (NEVES et al., 2006), a empresa tem, desde 2003, um Comitê de Responsabilidade Social, coordenado pela 49 área de serviço social e orientado por políticas nacionais destinadas a promover a integração da empresa ao conjunto das políticas sociais do Governo Federal. Este absorveu as ações do Comitê de Voluntariado, criado em 2001. As atividades voluntárias realizadas por funcionários e destinadas às crianças do Salinas do Sacavém e redondezas são: escolinha de futebol “Criança Feliz” e escolinha de “Karatê-Dô Tradicional”, que funcionam no prédio da Subestação São Luís I, localizada no Pólo Coroadinho. Outras ações do Comitê são frutos de parceria da empresa com lideranças do Salinas do Sacavém e destinam-se a adolescentes. São elas: Programa “Adolescente Aprendiz” (e não jovem aprendiz, como afirmou a moradora), que realiza atividades de reforço escolar e orientação profissional; Programa “Segundo Tempo”, que promove atividades de complementação escolar orientadas para prática de esporte; apoio à participação de jovens da localidade no Conselho Estadual da Juventude. Estes programas são de orientação federal e o último inclui parceria entre o SESI e o Governo Federal. O Comitê de Responsabilidade Social ainda coordena a distribuição das doações de vales refeições realizadas pelos funcionários da Eletronorte, destinado-as a instituições de caridade ou à preparação do sopão (referido por D., acima), que é uma refeição preparada pelas lideranças do Salinas do Sacavém e distribuída entre os mais “necessitados” da localidade. C. lembra que “a Eletronorte recebe muitos prêmios por conta dessa parceria e nossa comunidade é referência até em Brasília”. Essa afirmação demonstra que as lideranças locais têm consciência das vantagens obtidas pela empresa com suas ações de responsabilidade social. Da mesma forma, estas lideranças destacam suas próprias ações como sendo úteis na garantia da manutenção dos interesses da empresa na localidade. Conforme afirma D., aqui nós assumimos o compromisso de vigiar a faixa, de não deixar construir novas casas. Vigiamos também para não deixar danificarem as torres nem tirar barro do pé delas, não deixamos jogar pedra, nem ficar soltando pipa debaixo da rede. Além disso, fazemos reuniões com os moradores e ensinamos as crianças como devem zelar das torres, por isso mesmo achamos que o retorno da Eletronorte poderia ser maior. Dessa forma, a relação entre Salinas do Sacavém e Eletronorte merece uma reflexão mais aprofundada. Por um lado, as lideranças locais afirmam ser parceiras e cuidar dos equipamentos da Eletronorte, o que, para elas, é uma contrapartida para a ação da empresa na localidade. Por outro, estas mesmas lideranças deixam evidente que a empresa poderia sistematizar melhor sua atuação na localidade, tornando suas ações mais permanentes. D. revela: 50 fizemos um projeto para a Eletronorte com o objetivo de garantir a manutenção da escolinha, através do pagamento de professores e funcionários e da conta de energia elétrica. Até hoje, não tivemos resposta desse projeto. Achamos que seria uma forma de tornar o compromisso da empresa mais forte. Até agora eles adotaram a escola só verbalmente, mas não oficialmente. Outro aspecto da contrapartida apresentada pelos moradores de Salinas do Sacavém é a divulgação que suas lideranças fazem da ação empresarial nos fóruns locais, regionais ou nacionais próprios da organização popular, o que ajuda a manter uma imagem positiva da empresa. Segundo C., o contrário não ocorre, “a empresa parece ter vergonha da gente, ela nunca leva o nome da Associação, nunca diz que nós somos parceiros, parece que age sozinha”. Mesmo fazendo essas ponderações, D. afirma que “nos últimos anos a relação da empresa com a comunidade melhorou muito, mas sabemos que ainda depende da boa vontade de alguns funcionários que fazem trabalho voluntário. Achamos que deveria ser uma política oficial da empresa”. Este exemplo empírico é útil para ajudar a pensar as ações de responsabilidade social de empresas. Ao invés de ações pontuais e pensadas como assistência a “carentes e desprovidos”, estas podem ser fruto de um planejamento amplo e inclusivo. Neste sentido, as ações de responsabilidade social devem ser balizadas a partir do envolvimento dos gruposalvo no próprio processo de planejamento, de tal forma que, além das ações da empresa, sejam previstas, também, contrapartidas dos grupos sociais. 51 REFERÊNCIAS ANDRADE, Adriana Alves Santos. Estado Atual de Conservação do Parque Estadual do Bacanga, São Luís – MA: biodiversidade, unidades de conservação, indicadores ambientais. 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