No ar, com a JetBlue

Transcrição

No ar, com a JetBlue
do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
No ar, com a JetBlue
Arquivo Pessoal
Prezado Gary
Impossível deixar de me referir
ao nosso reencontro de 10 dias atrás,
quando você e Rose, por intermédio
de nosso bom Júlio Moreno, permitiram-nos algumas horas de convívio. Aos leitores quero apresentá-los:
Rose e Gary Neeleman, casal norte-americano que nos privilegia com
sua amizade. A cada reencontro falamos de tudo - dos negócios, de
casos recentes, sobretudo da família. Para mim em especial, é muito
grata a história de seu filho David,
paulistano de 45 anos de idade que
hoje dirige a JetBlue, a mais bem
sucedida empresa de aviação regional dos Estados Unidos. A história
do rapaz de classe média que, formado em Contabilidade, decidiu ingressar no transporte aéreo é impressionante. Começou agenciando
passagens para o Havaí. Ganhou
muito dinheiro e perdeu outro tanto:
ele tinha mais de mil passageiros na
ilha do Pacífico quando o Boeing que
ele arrendava foi arrestado por causa da falência de seus proprietários.
A família de David, então um rapaz
com pouco mais de 25 anos, teve de
dispor de quase todos os bens pessoais para trazer de volta os passageiros sitiados. David não desistiu.
Virou sócio da Morris Air, empresa
aérea baseada em Utah, vendida
para a South West Airlines em 1993.
Depois, trabalhou como consultor da
canadense WestJet Airlines, empresa área com foco em passagens ba-
que começar uma nova companhia
aérea com o maior investimento da
história da aviação doméstica dos
Estados Unidos. Minha euforia é tanta, que me sinto sob efeito de drogas,
mas não bebo nem Coca-Cola". A
síndrome - S D A - a que se referiu
David é uma doença que provoca
falta de atenção ou entusiasmo excessivo em relação a determinados
assuntos. ,
"Meu irmão tem a doença. Aos
poucos percebi em mim algumas das
20 características mais comuns, mas
não chego a tomar remédios. Sentimos uma eterna sensação de insatisfação. Nunca chegamos ao limite dos
nossos objetivos. E como se bebêssemos água mas a sede continuasse". Uma de suas crises aconteceu
logo após a venda da Morris Air para
a South West. Numa reunião com os
novos controladores da empresa,
David começou a falar compulsivamente. "Eu dizia que todas as idéias
apresentadas por eles eram tolas. Foi
uma catástrofe".
Nem tanto, nem tanto: hoje, David
administra investimentos de milhões
de dólares em sua companhia, feitos
por gente como George Soros, o
Weston
Presidio
Capital,
BankBoston, B a n k A m e r i c a e o
Chase Capital. Dinheiro suficiente
para assegurar o início de pagamento dos 82 Airbus A-32 comprados
pela JetBlue por US$ 4 bilhões. No
seu primeiro ano a empresa recebeu
10 aviões. Hoje, beira 50 aeronaves,
David Neeleman, o paulistano de 45 anos que dirige
a JetBlue - filho dos bons Rose e Gary Neeleman
ratas. A South West, sediada no
Texas, foi o grande modelo adotado
por David para a criação da JetBlue.
A empresa voa para 55 cidades de
29 estados norte-americanos, opera
em pequenos e médios aeroportos e
faz reserva on-line.
David veste camisa pólo para trabalhar e não pára quieto, fala com
diversas pessoas ao mesmo tempo e
anota números de telefone na palma
da m ã o . "Para uma pessoa com
Síndrome de Déficit de Atenção - diz
David - , não há estímulo maior do
Arquivo Pessoal
Lugares
cada uma com capacidade para 162
passageiros. De seu escritório em
Manhattam, o paulistano D a v i d
Neeleman administra não apenas a
JetBlue, mas também uma família de
nove filhos, com idade entre 23 e 5 e
a esposa Vicky. "No Brasil - contou
ele - minha mulher ganhou o apelido
de Vicky-Vaporub. Gostei tanto que
passei a chamá-la assim. A opção de
ter tantos filhos é da minha mulher.
Eu sou mais voltado para o trabalho."
Na mesma noite em que jantávamos com Gary e Rose, o filho David
tomava um avião de volta aos Estados Unidos. Veio ao Brasil para uma
palestra em seminário da Confederação do Comércio e uma rápida visita à Embraer, em São José dos
Campos, onde vistoriou a fabricação
dos primeiros dos 100 aviões que adquiriu da empresa brasileira. Por US$
2 bilhões. E disse que espera, ainda
este ano, confirmar a encomenda de
outras 100 aeronaves. Mais US$ 2
bilhões.
Pois é, Gary: vibro com essas histórias e outras tantas que vocês já me
contaram por aqui ou por onde nos
tenhamos encontrado - em Santiago, Miami, Jamaica e Buenos Aires.
Não deixe de me avisar quando
retornarem. E felicidades, para vocês,
seus filhos e os 30 netos - incluindo
os quádruplos que acabam de nascer.
Grande abraço do
Chico
inesquecíveis
O Restaurante Pinóquio, em Lisboa. Fica na Praça dos
Restauradores, 79-80, do lado oposto da estação do metrô,
muito próximo da Praça do Comércio e do Rocio, o Bairro
lisboeta que quase desapareceu em um terremoto. Não
espere um restaurante luxuoso, de garçons com impecável
blazer branco. Os garçons usam um uniforme verde, que é a
cor predominante no ambiente. O restaurante fica na quina
esquerda da Praça dos Restauradores, para quem vai da
Praça Marquês de Pombal em direção ao Rocio. Tem a boca
de uma estação do metrô bem à sua frente e é freqüentado
basicamente pelos nativos. Nada de turista às pencas. O
serviço é correto e rápido; os preços acessíveis. Lá, peça o
Arroz de Marisco. E, se encontrar, um Monforte, branco de
12% do Alentejo, algo frutado e que cai tão bem quanto
aquele prato imperdível.
Natal da Portela, um mogiano de nascimento
Não há porque duvidar da informação que
me foi passada, há algum tempo, por um amigo de muitos anos, também mogiano: Aurélio
Prieto descobriu que Natalino José do Nascimento, o lendário Natal da Portela que comandou o samba e o Jogo do Bicho, por muitos
anos, lá para os lados de Madureira e Oswaldo
Cruz, nasceu em Mogi das Cruzes.
Pois Natal da Portela, o crioulo que perdeu
um braço em um acidente de trem, nasceu
mesmo por aqui e só foi para o Rio de Janeiro
quando tinha 4 anos. E bem verdade que seus
pais descuidaram de registrar seu nascimento
em Mogi e só foram fazê-lo anos mais tarde,
já na Rio de Janeiro.
A prova de que Natalino José do Nascimento é de Mogi das Cruzes está na página 68 do
livro "As Escolas de Samba", de Sérgio Cabral
(Editora Fontana Ltda71974). Revela ele: "Tudo
aquilo que o samba de Jorge Moraes diz é verdade, menos que é carioca, pois nasceu na cidade paulista de Mogi das Cruzes, vindo para o Rio
com 4 anos de idade, quando foi registrado".
Fundador e presidente de honra da Portela
até a sua morte, em 5 de abril de 1975, Natalino José do Nascimento foi, sobretudo, um
cultuador do samba. Durante muitos anos dedicou todos os fundos de sua atuação como
bicheiro para construir o patrimônio da sua
escola de samba e sustentar obras sociais nos
bairros onde morava. Até mesmo quando enfrentou problemas com a Justiça, Natal continuava dominando a sua Portela e era consul-
Viver na Serra do Itapety. É
privilégio de poucos a convivência
Arquivo Pessoal
com a maior reserva ecológica da
região Leste da Grande São Paulo.
Há verdadeiros pedaços do paraíso
Natalino José do Nascimento na área distante não mais do que
cinco quilômetros do centro da
(Natal da Portela- 1904/
1975), o mogiano que
cidade, onde algumas famílias
comandou o samba e o Jogo convivem em harmonia
do Bicho lá para os lados de
Madureira.
0 PI OR DE MOGI
tado, na prisão, por seus seguidores. Foi assim, por exemplo, no carnaval de 74, o penúltimo que assistiu.
Natal havia se desentendido com um empregado que resolvera transformar em sócio. David,
o empregado, mais jovem e mais forte que Natal, já não se entendia com o antigo mestre. Um
dia cruzaram-se. Natal sacou um revólver e disparou três vezes. Acertou todas; acabou preso.
Foi por essa época, já livre, que Natal da
Portela voltou a ter problemas com a polícia.
Chamado a depor por causa de uma entrevista concedida ao "Pasquim", não aceitou de
forma alguma as novas acusações.
"Está certo que eu seja chamado de
contraventor. Mas de subversível, não", disse ele ao próprio Sérgio Cabral, também autor
da entrevista censurada.
A avenida que sai da rotatória da
Francisco Rodrigues Filho junto ao
Shopping e corre paralela ao
Depósito Municipal, no bairro do
Mogilar. É uma avenida de fundo
de vale na qual a omissão
preservou apenas um lado do
córrego à sua direita. Resultado: ou
nasce ali mais um Rio Negro que
vai inundar casas em muito pouco
tempo; ou a Prefeitura terá de
desapropriar os incautos
proprietários que construíram à
beira do rio. Vale uma CPI