Suely Sousa - Água, Mulheres e Desenvolvimento

Transcrição

Suely Sousa - Água, Mulheres e Desenvolvimento
Universidade Federal de Ouro Preto
Centro de Educação Aberta e a Distância
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
COM FOCO
EM RAÇA E GÊNERO
SUELY PINHEIRO DE SOUSA
HISTÓRIA, IDENTIDADE, ASPECTOS SOCIAIS E
ECONÔMICOS: UMA ANÁLISE DA COMUNIDADE
QUILOMBOLA MOCÓ
JUNHO-2012
ARAÇUAÍ – MG
Universidade Federal de Ouro Preto
Centro de Educação Aberta e a Distância
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
COM FOCO
EM RAÇA E GÊNERO
SUELY PINHEIRO DE SOUSA
HISTÓRIA, IDENTIDADE, ASPECTOS SOCIAIS E
ECONÔMICOS: UMA ANÁLISE DA COMUNIDADE
QUILOMBOLA MOCÓ
Trabalho
apresentado
à
Universidade Federal de Ouro
Preto como requisito para a
obtenção de Grau de Especialista
em Gestão em Políticas Públicas
com foco em Gênero e Raça.
Orientadora: Amanda Dutra Hot
JUNHO-2012
ARAÇUAÍ – MG
Dedico este trabalho aos negros
que lutaram para conquistar um
espaço na sociedade.
Araçuaí, 20 de junho de 2012
.
“Podemos
escolher
recuar
em
direção à segurança ou avançar em
direção ao crescimento. A opção
pelo crescimento tem que ser feita
repetidas vezes. E o medo tem que
ser superado a cada momento”.
Abraham Maslow
SOUSA, Suely Pinheiro de. História, identidade, aspectos sociais e
econômicos: uma análise da Comunidade Quilombola Mocó 2012.
Trabalho de Conclusão de Curso Especialista em Gestão Pública com
foco em Gênero e Raça Universidade Federal de Ouro Preto, Araçuaí,
2012.
RESUMO
O presente trabalho está fundamentado em uma pesquisa realizada para
conclusão do Curso de Especialista em Gestão Pública com foco em
Gênero e Raça e tem por objetivo discutir a luta das comunidades
quilombolas, destacando a Comunidade quilombola do Mocó situada no
município de Francisco Badaró Minas Gerais, assunto que emergiu a
partir da vivência com a mesma. O estudo busca contextualizar
historicamente a luta dos negros no processo de conquistas culturais,
sociais e territoriais a partir de diferentes compreensões histórico-teóricas,
bem como a importância cultural do negro para o Brasil e os desafios
encontrados ao longo dos anos. Como referência para o presente estudo
foi utilizada a pesquisa qualitativa fundamentada na técnica de entrevista
semi-estruturada, revisão bibliográfica, observação participante e estudo
documental, seguida de análise de dados. Dentre as categorias
emergentes na análise dos dados destaca-se história sócio-cultural do
negro no Brasil e particularmente na comunidade de Mocó, visando o
fortalecimento da construção da cidadania da população negra e os
fatores impulsionadores deste processo e suas conseqüências. O
presente artigo é uma pesquisa de causas e conseqüências dessa
demanda na Comunidade Quilombola do Mocó município de Francisco
Badaró.
Palavras-chave: Trabalho; Quilombola; Cultura; Escravidão.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01 – Local onde ficavam os animais Mocó...........................,,,.....23
Figura 02 – Casa de pau-a-pique.............................................................23
Figura 03 – Motor e maquinário do galpão para a produção de farinha...27
Figura 04 – Cisterna.................................................................................28
Figura 05 – Igreja local.............................................................................29
Figura 06 – Vegetação Local....................................................................30
Figura 07 – Coberta de Algodão..............................................................30
Figura 08 - Ervas medicinais (tradicionais)..............................................31
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO............................................................................................
7
2
OBJETIVO GERAL....................................................................................
10
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................
10
3
METODOLOGIA........................................................................................
11
4
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
13
4.1 CAPITULO 1 – A ESCRAVIDÃO NO BRASIL, O CONCEITO DE 13
QUILOMBO E SUAS FORMAÇÕES TERRITORIAIS BRASILEIRA ........
4.2 CAPITULO 2 – A QUESTÃO DE TERRITORIALIDADE QUILOMBOLA 16
EM MINAS GERAIS.
4.3 CAPITULO 3 – A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA COMUNIDADE 20
REMANESCENTE DE QUILOMBO MOCÓ...............................................
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................
37
6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................
39
HISTÓRIA, IDENTIDADE, ASPECTOS SOCIAS E ECONÔMICOS: UMA
ANÁLISE DA COMUNIDADE QUILOMBOLA MOCÓ
1. INTRODUÇÃO
A escravidão que perdurou no Brasil durante séculos, teve
início com a produção canavieira na primeira metade do século XVI.
Durante muito tempo ela foi praticada e aceita, e muitos chegavam a
justificá-la, já que, para vários senhores, esse era um favor que faziam
para os escravos, e àqueles que se opunham eram castigados.
Sobre esse assunto, Sousa (s/d) diz que:
a rotina de trabalho desses escravos era árdua e poderia
alcançar um turno de dezoito horas diárias. As condições de
vida eram precárias, sua alimentação extremamente limitada e
não contava com nenhum tipo de assistência ou garantia. Além
disso, aqueles que se rebelavam contra a rotina imposta eram
mortos ou torturados. Mediante tantas adversidades, a vida
meia de um escravo de campo raramente alcançava um
período superior a 20 anos.
Diante de tanta dificuldade e tamanha perversidade, os negros
se refugiaram, formando os quilombos que eram territórios independentes
da situação colonial, onde a liberdade e o trabalho em conjunto eram a
base de sustentação destas comunidades. Diante disso, a ideia de se
viver em um território livre se disseminou rapidamente entre os escravos e
milhares de quilombos foram surgindo no país, abrigando negros fugidos,
alforriados e até mesmo brancos pobres. Assim, se formaram diversos
quilombos, onde a cultura africana era preservada, seus costumes, suas
crenças, seus meios de alimentação e viver.
Segundo Nascimento (1980, p. 32),
quilombo é um movimento amplo e permanente que se
caracteriza pelas seguintes dimensões: vivência de povos
africanos que se recusavam à submissão, à exploração, à
violência do sistema colonial e do escravismo; formas
associativas que se criavam em florestas de difícil acesso, com
defesa e organização socioeconômica e política própria;
sustentação da continuidade africana através de genuínos
grupos de resistência política e cultural.
8
Neste sentido, no processo de escravidão e de resistência a
ela, tem-se a formação de comunidades quilombolas, que são
comunidades povoadas por negros de origem africana, onde mantinham
seus costumes e crenças.
A comunidade quilombola Mocó, localizada no município de
Francisco Badaró, estado de Minas Gerais, estudo desta pesquisa, é uma
comunidade de escravos. Isso significa que a população ali residente se
refugiou naquele local para escapar dos trabalhos escravos impostos
pelos senhores, formando uma comunidade onde o cooperativismo e a
solidariedade prevalecia.
Buscar estes desbravamentos é descobrir a origem do povo
local, sua crença, sua realidade, seus costumes, sua religiosidade, além
de entender a construção da comunidade local e seu papel na sociedade
atual.
Dessa forma, foi realizada uma pesquisa de campo com os
moradores locais para descobrir a origem e o desenvolvimento desse
núcleo quilombola, abordando todo o processo de formação e
desenvolvimento da comunidade, perpassando pelos seus costumes,
crenças, e seus desdobramentos, em ascensão ao desenvolvimento
comunitário.
Através
da
pesquisa,
percebeu-se
que
a
comunidade
quilombola Mocó a princípio enfrentou dificuldades, mas atualmente a
mesma se encontra em crescente desenvolvimento, através do auxílio de
entidades e ações governamentais.
Compreendendo a realidade da comunidade de Mocó, veem-se
claramente as dificuldades enfrentadas pelo povo negro. Um povo
humilde, simples, que busca sua valorização cultural e social, sendo
protagonistas da realidade brasileira, onde os méritos eles não levaram,
mas deixaram um legado memorável que deve ser respeitado e
valorizado por todas as raças e gerações.
As comunidades quilombolas são originadas de um processo
de escravidão, onde as maiores valorizações que tiveram foram a mão-
9
de-obra, assim buscaram refugiar-se em quilombos, comunidade de
origem negra, onde as suas identidades eram valorizadas e seus
costumes preservados.
Neste sentido, Linhares (2002) diz que:
Os debates em torno destas designações ganham sentido,
sobretudo, para efeito de medidas legais, jurídicas ou definição
de direitos sociais, econômicos, políticos para os quilombolas e
seus descendentes. Por exemplo, direito à legalização da terra,
à moradia, à educação, à saúde, ao lazer (LINHARES, 2002).
E estas questões que tangem a vida em quilombo são
destacadas nesse trabalho, bem como caracterizar a comunidade
envolvida, levantando dúvidas e buscando descobrir o porquê se
refugiaram e como conseguiram manter viva esta cultura, que atualmente
encontra-se estagnada devido aos meios de comunicação.
E neste contexto, o presente trabalho faz-se fundamental e de
significativa importância para compreensão histórica do desenvolvimento
da comunidade de Mocó, desbravando o seu contexto social, cultural e
político, bem como suas interferências na construção da realidade do
cotidiano dos povos negros, em especial da comunidade de Mocó.
A interpretação de conceitos e análise dos resultados se
encontra distribuída em três capítulos.
Com base nos referenciais teóricos e conceituais, o primeiro
capítulo aborda a escravidão no Brasil, o conceito de quilombo e sua
formação no país, onde se espera destacar os conflitos sofridos.
O segundo capítulo se refere à questão da territorialidade, que,
nesse caso, implica o espaço em que a comunidade está inserida,
verificando a origem dos quilombos.
O capítulo três refere-se às questões sociais e econômicas, a
qual
objetiva-se
conhecer
a
trajetória
histórica
da
comunidade
remanescente de quilombo Mocó, identificando a construção de suas
casas, seu modo de vida, alimentação, costumes e o que produziam o
que perdura dos antepassados até hoje, além de buscar compreender os
aspectos sociais e culturais da comunidade de Mocó, bem como as
10
discriminações sofridas através de histórias contadas pelos moradores da
comunidade.
2. OBJETIVO GERAL:
Observar a vivência dos moradores da comunidade Mocó, localizada no
município
de
Francisco
Badaró,
bem
como
seu
processo
de
reconhecimento como remanescente de quilombo – Comunidade
Quilombola.
2.1.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
I – Propiciar conhecimentos relacionados à formação inicial da
comunidade;
II – Desenvolver estudos e pesquisas sobre a história sócio
cultural do negro no Brasil e particularmente na comunidade de Mocó,
visando o fortalecimento da construção da cidadania da população negra;
III – Assessorar e incentivar a população negra rural na
conquista dos seus direitos como comunidade quilombola.
11
3. METODOLOGIA
A presente pesquisa de cunho qualitativo se refere a uma
pesquisa bibliográfica, documental e de campo, tendo como principal
finalidade fornecer embasamento teórico, para confirmar a idéia de que
quando conhece a identidade dos negros eles se tornam mais
valorizados.
A primeira etapa, após a orientação de qual seria o trabalho de
conclusão de curso foi a delimitação do tema, uma vez que o tema já
tinha sido escolhido, essa etapa foi muito importante, pois ela é o primeiro
passo para se definir o que quer pesquisar.
Num segundo momento foi feita uma pesquisa na internet para
localizar trabalhos sobre o assunto, para isso foram usadas palavras
chaves como comunidades quilombolas, com essa pesquisa deu para
perceber que esse é um assunto que vem sendo constantemente
abordado, já que são vários trabalhos publicados sobre o tema, diante
dessa pesquisa foi separado alguns artigos que mais se assimilava com o
tema, onde foi detectado quais autores, se dedicaram a estudar sobre a
proposta levantada nesse trabalho.
Concluída essas etapas de seleção das pesquisas, foi
elaborada uma tabela com os seguintes tópicos: autor, ano, nome do
artigo e do livro, metodologia e resultados, com o intuito de facilitar o
processo de registro do material. Dos autores pesquisados mereceram
destaque:
MOURA
(1981),
PILETTI
(2000),
LINHARES
(2002),
NASCIMENTO (1980), entre outros.
Após seleção do material a ser utilizado foi feito o fichamento
dos artigos e dos livros a serem utilizados, destacando o assunto
principal.
A segunda parte do trabalho é a pesquisa de campo realizada
na comunidade quilombola Mocó para colher informações a respeito da
formação do quilombo, como foi fundada e como vivem essas pessoas,
que tiveram tantas dificuldades para sobrevirem a tantos maus tratos.
Essa deverá acontecer em forma de entrevistas com os líderes
comunitários e com pessoas que trabalham em prol do bem estar da
12
comunidade, terá a função de informar quantidade de famílias que
residem nessa comunidade identificando homens, mulheres e crianças,
atividades econômicas desenvolvidas, aspectos sociais, e os valores
culturais que existiram e ou que ainda permanecem entre os moradores,
bem como a visão dessas pessoas depois de receber o título de
Comunidade Remanescente Quilombola resumindo a vivência desse
quilombo.
Para efetivação da pesquisa, o diálogo deve ser utilizado como
principal ferramenta de pesquisa, estimulando a troca de saberes entre a
comunidade local e o pesquisador, respeitando as experiências, costumes
e as crenças dos sujeitos.
Em subsequência deverão
ser condensados os dados
coletados e montados a proposta do projeto. Assim, será realizada uma
pesquisa bibliográfica e de campo do referido tema, perpassando pelos
seus objetivos e metas, bem como a descrição do mesmo.
Após essa pesquisa deverá ser proposto uma reunião com a
comunidade para discutir essas questões citadas acima, na qual deverá
ser feito um condensado sobre as informações coletadas, destacando os
direitos de uma comunidade quilombola e o amparo legal dessa pela
Constituição, gerando assim uma reflexão crítica,
Após a conclusão desse processo deve se fazer a análise para
verificar se a os resultados obtidos estavam em consonância com o tema
proposto,
o
que
pode
originar
conceitos
importantes
para
o
desenvolvimento deste trabalho, tais como “quilombos” “discriminação” e
“preconceito”.
13
4.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.1 Capítulo 1 - A escravidão no Brasil, o conceito de
quilombo e suas formação no território brasileiro.
A escravidão no Brasil é o grande sustentáculo do processo de
colonização, a partir do século XVI. Longe de se ater a uma forma
homogênea de relação de trabalho, a escravidão brasileira fora marcada
pelas mais diferentes caracterizações do período colonial.
Para contornar a crescente demanda por força de trabalho,
Portugal resolveu então investir no tráfico de escravos vindos diretamente
da costa Africana. Tal alternativa se tornava viável por dois motivos: o
domínio que Portugal já possuía em regiões da África e as possibilidades
de lucro que a venda desses escravos traria aos cofres da Coroa
Portuguesa.
Sendo assim, população negra no Brasil sofreu quase quatro
séculos de escravidão e chega a ser considerada por ¹muitos
historiadores como a mais cruel de toda história da humanidade. Os
africanos que chegavam ao Brasil eram obrigados a modificar totalmente
seu modo de vida e seus costumes isso fez com que muitos africanos
resistissem à escravidão fugindo, lutando e morrendo ou se libertando.
Quando conseguiam fugir, reuniam-se em comunidades chamadas
quilombos. Os senhores de escravos e o governo não admitia a fuga e a
organização dos negros. Por isso faziam de tudo para destruí-los.
Com a escravidão, criou-se na sociedade brasileira um modo
de agir e de pensar que tem reflexo até hoje, pois o preconceito contra
negros continua.
A partir da Guerra do Paraguai (1865 – 1870) começa a ganhar
força no Brasil o movimento abolicionista, pois D. Pedro II baixou um
decreto que alforriava todos os escravos que servissem na guerra e
voltassem vivos, como uma forma de incentivá-los a servirem. O Brasil
sofria grande pressão interior e exterior e isso acarretou a assinatura da
Lei Áurea pela Princesa Izabel. Entretanto, a lei não incorporou os
14
escravos à sociedade, expulsos das fazendas acabaram nas periferias ou
nas matas formando os quilombos.
Sendo o quilombo parte do conjunto de contradições geradas
no âmbito da sociedade escravista, seu estudo se torna necessário para a
compreensão das posteriores transformações por esta sociedade.
¹ João José Reis, Manolo Florentino, Flávio dos Santos Gomes, etc.
Segundo o dicionário Aurélio, a palavra "Quilombo" tem origem
nos termos "kilombo" (Quimbundo) ou "ochilombo" (Umbundo), presente
também em outras línguas faladas ainda hoje por diversos povos Bantus
que habitam a região de Angola, na África Ocidental. Originalmente,
designava apenas um lugar de pouso utilizado por populações nômades
ou em deslocamento; posteriormente passou a designar também as
paragens e acampamentos das caravanas que faziam o comércio de
cera, escravos e outros itens cobiçados pelos colonizadores.
A formação de grupos de escravos fugitivos se deu em toda a
parte do Novo Mundo onde houve escravidão. No Brasil, estes grupos
foram chamados de quilombos ou Mocambos. Alguns conseguiram reunir
centenas de pessoas. O grande quilombo dos Palmares, na verdade uma
federação de vários agrupamentos, tinha uma população de alguns
milhares de almas, embora, provavelmente, não os quinzes, vinte e até
trinta mil habitantes que alguns contemporâneos disseram ter.
Com isso a Metrópole sentiu-se ameaçada com dimensão que
estava se tornando Palmares, então buscaram combater os quilombos.
Para senhores e governos, o problema maior estava em que, na sua
maioria, os quilombos não existiam isolados, perdidos no alto das serras,
distantes da sociedade escravista. Embora em lugares protegidos, os
quilombos amiúde viviam próximos a engenhos, fazendas, lavras, vilas e
cidades. Mantinham redes de apoio e de interesse que envolvia escravos,
negros livres e mesmo brancos de quem recebiam informações sobre
movimentos de tropas e outros assuntos estratégicos. Com essa gente
eles trabalhavam, se acoitavam, negociavam alimentos, armas, munição e
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outros produtos; com escravos e libertos, podiam manter laços afetivos,
de parentesco e de amizade.
É claro que houve muitos casos de quilombos isolados, às
vezes encontrados por expedições que até desconheciam sua existência.
Mas as evidências do próprio Palmares, e mais ainda dos quilombos que
lhe sucederam Brasil afora, indicam uma relação muito mais intensa entre
quilombolas e outros grupos sociais.
São numerosos os relatos que dão conta da destruição de roça
de milho, frutas, algodão, cana e outros produtos cultivados pelos
quilombolas. Cultivavam, sobretudo, a mandioca, com que faziam para
não tornarem a servir de “Criminozo azilo”, como escreveu o capitão-mor
que destruiu os quilombos do Orobó e Andaraí, na Bahia, em 1796.
(Ameaça negra, 2009).
As comunidades quilombolas são populações negras que
vivem no meio rural e se auto-identificam como Comunidades Negras
Rurais, Terras de Preto, Quilombos, Mocambos e outras designações
correlatas. Elas são um segmento de população negra brasileira marcada
pela resistência, organização e, principalmente, pela luta em defesa de
direitos sagrados: Terra, Liberdade, Cidadania e Igualdade.
Ao longo da sua trajetória neste país, esse segmento resistiu
de várias formas a um processo constante de tentativa de retirar seus
direitos enquanto cidadãos. A principal é a tentativa de negar o direito aos
territórios em que efetivamente moram e trabalham. Contudo, apesar de
negados pela história oficial, os quilombos existem em todo o país,
construindo assim um marco de resistência da população negra contra a
opressão.
As comunidades quilombolas podem ser consideradas como
um dos segmentos sociais mais pobres, esquecidos e desconhecidos da
nossa sociedade. No início dos anos 2000, pouco se sabia sobre quantas
eram, como viviam e onde se encontravam. Novas políticas foram
implantadas a partir de 2003 como os Projetos Quilombo Gerais, que
trabalha em defesa do negro.
16
As comunidade quilombolas são originados de um processo de
escravidão, onde as maiores valorizações que tiveram foram a mão-deobra, assim buscaram refugiar em quilombos, comunidade de origem
negra, onde as suas identidades são valorizadas e seus costumes. Assim,
buscaram valorizar a vida do campo, enfrentando todas as dificuldades e
problemas.
4.2 - CAPITULO 2 A questão da territorialidade quilombola
em Minas Gerais
Fruto da intensa mobilização social, o texto da Constituição
Federal de 1988 é o primeiro a reconhecer a diversidade étnica e cultural
que rompe com a idéia de uma nação homogênea pautada por uma única
língua, um mesmo credo, etc.
A
instituir o
Constitucionais
Artigo
Transitórias
68
de
(ADCT)
seu
Ato das Disposições
estabelecendo
que:
“Aos
remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando
suas terras e reconhecida à propriedade definitiva, devendo o estado
emitir-lhes os títulos respectivos”, a Constituição Brasileira também
reinstituiu pela primeira vez no período republicano a categoria jurídicolegal de quilombo. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1998. Art. 216).
Segundo Brito Pereira (2000), ao tratar de quilombos, o ADCT
68 remete diretamente, no corpo da Constituição, ao Artigo 216, que, por
sua vez, insere-se na seção da Constituição dedicada a cultura, a qual
tem um principio retórico, a nacionalidade brasileira se forma a partir de
grupos étnicos diferenciados, grupos com histórias e tradições diversas,
cabendo ao estado protegê-los e garantir espaço e permanência para
essa diferenciação.
Pelo direito de propriedade, que neles tem, pode o senhor
aluga-los, empresta-los, vende-los, dá-los, aliená-los, lega-los,
constituí-lo em penhor ou hipoteca, dispor dos seus serviços,
desmembrar da sua propriedade o usufruto, exercer enfim
todos os direitos legítimos de verdadeiro dono ou proprietário.
Como propriedade é ainda o escravo sujeito a ser sequestrado,
embargado ou arrastado, penhorado, depositado, arrematado,
adjudicado; correndo sobre ele todos os termos sem atenção
17
mais do que à propriedade no mesmo constituída.” (Perdigão,
Malheiro,
2003,
p.54)
Segundo o Art. 17 da Constituição Brasileira, a regularização
das terras é feita mediante título coletivo às comunidades.
O Movimento Nacional das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas é um dos mais ativos agentes do movimento social negro no
Brasil. Unidos pela força étnica, os quilombos construíram e defendem
seu território.
A criação do CONAQ (Comissão Nacional de Articulação das
Comunidades
Negras
Rurais
Quilombolas).
O
Programa
Brasil
Quilombola, a Fundação Cultural Palmares, o CEDEFES (Centro de
Documentação Eloy Ferreira da Silva) dentre outros são órgãos que lutam
pela regularização e reconhecimento dessas comunidades como
quilombos, fazendo valer a Constituição Federal.
Um aldeamento ou conglomerado de casebres cobertos de
palha ou folhas de palmeiras, embora sem nenhuma
ordenação, com alguma separação entre eles, e situados no
meio das árvores e das matas, tudo na conformidade dos usos
africanos. (Pedro Thomas, 2000, p. 43).
Eram assim que ficaram conhecidos os quilombos formados
pelos negros refugiados.
Diversos livros mostram a história dos escravos negros com
detalhes e números impressionantes. Carneiro (1985) consta que o
primeiro negro que chegou ao Brasil, veio na armada de Martim Afonso
(1532). Negros e mulatos, uns ainda escravos, outros já forros,
acompanharam o governador Tomé de Sousa na edificação da cidade de
Salvador. Eram percussores de milhões de negros africanos que durante
dois séculos e meio foram carregados pelo tráfico para o trabalho da nova
terra.
Em Minas Gerais, muitos pequenos quilombos se fixaram nos
arredores das vilas, centros urbanos e fazendas. Minas Gerais foi um dos
estados brasileiros que possuiu maior população negra escrava no país.
18
A mineração atraiu pessoas de vários lugares para essa região, que
prometia enriquecimento fácil e rápido. Muitos foram os que trouxeram ou
adquiriram escravos para o trabalho pesado nas minas. Hoje, são mais de
400 comunidades quilombolas que lutam por seus direitos em Minas
Gerais, sendo que a maioria delas localiza-se na zona rural e algumas em
centros urbanos. As regiões do estado com maior concentração de
comunidades quilombolas são a região norte e a nordeste, com destaque
nesta última para o Vale do Jequitinhonha.
Em Minas Gerais, existiu um celeiro de quilombos. No fim do
século XVII, no momento em que o Quilombo de Palmares
estava sendo destruído, descobriram-se em Minas Gerais as
jazidas de ouro e diamante. Desde então, até o fim do século
XVII, a região das Minas constituiu-se a base geográfica e
econômica do escravismo colonial brasileiro. (SIQUEIRA;
CARDOSO, 1995, p.45).
Como o curso do Jequitinhonha e a estrada real que marginava
o Rio São Francisco facilitavam a imigração vinda da Bahia para o norte e
nordeste de Minas, é provável que quando em Sucuriú chegaram os
colonizadores em 1728, já haviam escravos pertencentes a pessoas
provenientes dessa migração.
O tráfico negreiro deixava os aprisionados africanos na Bahia
onde as pessoas de recursos financeiros iam comprá-los como se fossem
bois ou cavalos.
As primeiras casas de Francisco Badaró foram edificadas por
escravos. Estes a princípio foram utilizados na mineração. Esgotando os
depósitos auríferos foram sendo utilizados na agropecuária. Em 1817,
apenas alguns negros iam faiscar no rio Sucuriú.
A situação do negro de campo esteve mais que os outros
sujeitos a “caprichos” do senhor; pois era este, quem dispunha de sua
alimentação, moradia, do seu tempo e mesmo das suas relações sexuais.
Os castigos mais atrozes e aviltantes – tronco, vira-mundo,
cepo, libando, ganilha – e as brutalidades mais terríveis – pontapés no
ventre das escravas gestantes, olhos vazados e dentes quebrados a
19
martelo, empareda mentos, mutilações e aleijões, o quinhão do negro de
campo,
em
especial
enquanto
o
tráfico
não
sofreu
limitações
internacionais.
Durante o período da escravatura, negros cativos, fugindo da
prisão e dos maus tratos dos senhores, esconderam-se nas matas.
Quando o número de fugitivos era suficiente, formavam comunidades,
compostas por homens e mulheres, jovens e crianças que garantiam a
sobrevivência do grupo, e a defesa contra a investida dos proprietários de
escravos e de seus mandantes. Comunidades, também foram formadas
por negros libertos.
Essas comunidades de ex-escravos organizavam-se de
diversas formas e tinha proporções e duração muito diferentes.
Havia pequenos quilombos, compostos de oito homens ou
pouco mais; eram praticamente grupos armados. No recesso
das matas, fugindo do cativeiro, muitas vezes eram
recapturados pelos profissionais de caça aos fugitivos. Criou-se
para isso uma profissão específica. Em Cuba chamavam-se
rancheadores; capitães do mato no Brasil; coromangee ranger,
nas Guianas, todos usando táticas mais desumanas de captura
e repressão. Em Cuba, por exemplo, os rancheadores tinham
como costume o uso de cães amestrados na caça aos
escravos negros fugidos. Como podemos ver, a marronagem
nos outros países ou a quilombagem no Brasil eram frutos das
contradições estruturais do sistema escravista e refletiam, na
sua dinâmica, em nível de conflito social, a negação desse
sistema por parte dos oprimidos (Moura 1987: 12-13)
Estas comunidades apresentavam características de origem
africana, receberam então o nome de quilombos ou mocambos. Ao longo
de séculos foram surgindo em todas as regiões do país, algumas se
transformaram em grandes comunidades, com os famosos quilombos de
Palmares, em Alagoas, e o do Ambrosio em Minas Gerais.
A alimentação das comunidades do Norte de Minas Gerais e do
Médio e Baixo Jequitinhonha é semelhante à do sertanejo nordestino. O
charque ou carne de sol e a farinha são largamente usados. Os
vestuários quilombolas mais significativos são as calças e camisas de
algodão. O uso de chapéu entre os homens e de lenço entre as mulheres
20
é muito comum. A prática do tear ainda é corriqueira entre as mulheres
quilombolas, mas não foram observados jovens exercendo esta atividade.
A construção e formação da comunidade de Mocó, um local onde 100%
da população existente é negra, e seu local identifica-se como um
pequeno
quilombo,
segundo
característica
e
documentação
do
CEDEFES.
A Equipe Quilombos Gerais, pela CEDEFES divulgou a
seguinte lista de comunidades quilombolas já identificadas através de
visitas e as comunidades quilombolas ainda não visitadas, mas préidentificadas.
O número atualizado em 24/08/06 consta o número de 366
quilombos.
4.4 Capítulo 3 - A trajetória histórica da comunidade
remanescente de quilombo Mocó
O Brasil escravista foi essencialmente rural. Durante a
escravidão o mundo rural dominou o urbano, as cidades nasciam para dar
suportes à sociedade escravista, mesmo os grandes centros urbanos
desempenhavam apenas funções administrativas, sociais e comerciais
nessa época.
No contexto desta sociedade escravista, também surgiram
várias formas de resistência dos escravos negros. Eram comuns os
suicídios, as fugas para o mato, as rezas e os rituais. Mas a principal
forma de resistência era a fuga para os quilombos organizados por negros
que lutavam contra a escravidão, onde se uniam em pequenos grupos
que formavam as comunidades quilombolas, compostas por homens e
mulheres, jovens e crianças que garantiam a sobrevivência do grupo, e a
defesa contra a investida dos proprietários de escravos e de seus
mandantes. Muitas comunidades, também foram formadas por negros
libertos. Ao longo de séculos estas se espalharam em todas as regiões do
21
país, algumas se transformaram em grandes comunidades, como os
famosos quilombos de Palmares, em Alagoas, e o do Ambrosio em Minas
Gerais, aqui citados anteriormente, outras não menos importantes, mas
sem grandes reconhecimentos são aquelas que lutam pelos seus direitos
destacando neste trabalho o quilombo de Mocó situado em Francisco
Badaró no Vale Jequitinhonha.
O Vale Jequitinhonha é uma região de história sofrida, que
surgiu a partir da mineração, com a chegada de vários imigrantes. Foi
com a diminuição da extração de ouro e pedras preciosas, que a
agricultura, principalmente a cultura de algodão, passou a absorver uma
grande parte da população do vale.
O Vale do Jequitinhonha, situado em grande parte no nordeste
de Minas Gerais, é considerado uma das regiões mais pobres e sofridas
do país. De acordo com Maria Luzia Lamounier, o Vale Jequitinhonha é a
quarta região mais carente do mundo. Esta Mesorregião, segundo
Rezende (2002), tem sobrevivido devido a algumas atividades como
agropecuária, extrativismo mineral e vegetal. Marcada pela desigualdade
socioeconômica, sua população, independentemente das raças que a
compõem – branca, negra, parda ou indígena – passa por diversas
dificuldades e necessidades.
O município de Francisco Badaró localizado no Nordeste
Mineiro – Vale do Jequitinhonha a 700 km de Belo Horizonte pela BR116.
Tendo seus limites geográficos os municípios de Araçuaí (49 km), Berilo
(18 km), Chapada do Norte (22km), Jenipapo de Minas (17 km) e Virgem
da Lapa (22 km).
Francisco Badaró possui uma população de 10.309 habitantes,
sendo que 75% encontram-se residindo na Zona Rural. O Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) corresponde a 0.64. A população
Badaroense, em sua maior parte possui grau de estudo de ensino
fundamental incompleto. A taxa de analfabetismo é ainda significativa na
população adulta, entretanto se somarmos com os cidadãos que somente
escrevem o nome essa taxa ganha porcentagens com mais significância.
22
A renda per capta varia entre 0.5 (meio) a 1.0 (um) salário
mínimo. A economia permeia em torno de agricultura e pecuária de
subsistência, sendo que a parte não consumida pelas famílias é
comercializada de forma artesanal na feira local.
Devido a fatores naturais, o desmatamento, dentre outras
ações humanas, a produção agrícola e pecuária vem diminuindo, com
isso intensifica-se a migração da população para o interior de São Paulo e
Sul de Minas, ou mesmo para os grandes centros, na esperança de ir em
busca de alternativas de emprego e renda. Outra característica relevante
que vem ampliando, corresponde às mulheres que também estão se
tornando migrantes, na tentativa de conseguirem o sustento familiar.
Diante disso, os filhos estão sendo criados pelos avós, que dividem a
aposentadoria com o sustento de várias pessoas, caracterizando, assim,
o modelo de família extensa.
Outro dado relevante do município de Francisco Badaró, é que
cada vez mais os jovens estão seguindo este caminho, deixando assim os
estudos em segundo plano. Não é raro encontrar adolescentes de 16
anos viajando para o corte-de-cana, colheita de café e laranja, e as
meninas indo para as capitais na tentativa de trabalharem como
empregadas domésticas, na maioria das vezes sem os direitos
trabalhistas garantidos.
Uma
fonte
de
renda
significante
são
os
benefícios
previdenciários que representam o sustento de várias famílias, ou seja, o
idoso sendo chefe de família, além dos benefícios oriundos de programa
do Governo Federal.
A região do município de Francisco Badaró é semiárida,
caracterizada por predominância de altas temperaturas e escassez de
água, com índices pluviométricos de 800 a 900 mm anuais. No meio rural
encontra-se homens, mulheres, crianças e animais partilhando da mesma
fonte hídrica, comprometendo não só a qualidade da água para o
consumo familiar, mas, como também agravando o problema da
escassez, pela competição.
23
A comunidade de Mocó está localizada no Município de
Francisco Badaró, Vale do Jequitinhonha, a 15 km da sede do município,
e 03 km do distrito de Tocoiós de Minas, situado no município de
Francisco Badaró, no estado de Minas Gerais.
Como o curso do Jequitinhonha e a estrada real que marginava
o Rio São Francisco facilitavam a imigração vinda da Bahia para o norte e
nordeste de Minas, é provável que quando em Sucuriú (atual Francisco
Badaró) chegaram os colonizadores em 1728, já haviam escravos
pertencentes a pessoas provenientes dessa migração.
O tráfico negreiro deixava os aprisionados africanos na Bahia
aonde as pessoas de melhores recursos financeiros iam comprá-los como
se fossem bois ou cavalos.
As primeiras casas de Francisco Badaró foram edificadas por
escravos. Estes a principio foram utilizados na mineração, esgotando os
depósitos auríferos foram sendo utilizados na agropecuária.
Mocó é uma comunidade de remanescente de quilombo, que
significa que a população residente naquele local refugiou-se, para
fugirem dos trabalhos escravos impostos pelos senhores. Assim foi
realizada uma pesquisa oral com os moradores locais para descobrir a
origem e o desenvolvimento da mesma, que aborda todo o processo de
formação e desenvolvimento da comunidade, perpassando pelos seus
costumes,
crenças,
e
seus
desbravamentos,
em
ascensão
ao
desenvolvimento comunitário. E neste contexto de desenvolvimento
comunitário, a comunidade de Mocó enfrentou dificuldades, mas
atualmente a mesma encontra em crescente desenvolvimento com ajuda
de entidades e ações governamentais,
Mas
ainda
tem
a
relação
produzida
pelo
racismo
e
discriminações, sensíveis e capazes de conduzir a reeducação das
relações
entre
diferentes
grupos
étnico-raciais,
ou
seja,
entre
descendentes de africanos, de europeus de asiáticos, e povos indígenas.
A comunidade de Mocó se formou na segunda metade do
século XIX, e segundo um dos entrevistados, o Senhor José Moreira
Leite, popularmente conhecido como José Miúdo, o seu bisavô chamado
24
Jerônimo, ganhou as terras de seu senhor, o Senhor Manoel Pinheiro,
que o havia vendido para Mata do Rio (atual São Paulo). Porém ele fugiu
e veio atravessando rios, passando em matas e comendo bichos até
chegar aqui, na comunidade de Mocó. O Senhor Manoel Pinheiro era um
Senhor bom, e por isso escondeu o seu ex-escravo em Mocó, que
naquela época era uma mata bruta. Conta ainda que a alimentação do
mesmo se dava através de alimentos vindos da Fazenda do Senhor
Manoel Pinheiro. E quando surgiu a abolição o Senhor Jerônimo saiu do
esconderijo.
Grande parte da população atual se origina da localidade de
Capivari, no município de Minas Novas; do Córrego da Mariana, lugar
próximo à comunidade; e de cabeceiras, também no município de Minas
Novas; das margens do rio Sucuriú e de outras localidades de Chapada
do Norte.
O nome da comunidade se originou de um mamífero que
existia na região em grande quantidade, denominado Mocó. Atualmente
ele é raro, pois as pessoas da comunidade e de outras regiões
praticamente acabaram com a espécie.
Figura 01 – Local onde ficavam os animais Mocó.
Foto autorizada pelos moradores
1
1
CF: Arquivos da Associação de Moradores
25
Segundo o Senhor, José Moreira Leite, até 1954, todas as
construções eram de pau-a-pique. Dormiam-se em esteiras de bananeiras
e as pessoas trabalhavam na roça no sistema de maromba ou mutirão.
Figura 02 – Casa de pau-a-pique.
Foto autorizada pelos moradores
2
A casa de pau-a-pique, que mal protegia dos ventos, em
épocas de grandes chuvas não eram seguras, pois o barro poderia
derreter, e as folhas de coqueiros poderiam sair com o vento. Mas, eram
uma fonte de riqueza para muitos.
Até o início do século XX, permaneceram na comunidade
aproximadamente trinta habitantes. Com o passar do tempo foram
chegando outras famílias a procura de trabalho (lavoura e ouro) e
povoaram o sítio, eram ex-escravos e indígenas.
Segundo os relatos, os homens tinham de trabalhar para os
fazendeiros de outras regiões, caminhando até vinte quilômetros, em
troca de alimentos. Segundo eles a mão de obra era explorada, pois eles
não recebiam dinheiro e sim alimentos estragados e muitas crianças
morriam de fome.
Para que se formar um coletivo? As respostas incluem: o
formato coletivo facilita a produção do comum e sua apropriação pública e
não privada; facilita a troca de estratégias e táticas de resistências e
autonomia com outros atores sociais em tempo real; aumenta o alcance
2
CF: Arquivos da Associação de Moradores
26
de ferramentas poéticas e afetivas de relação com o mundo; cria um
espaço de investigação poética alternativo às estruturas do mercado;
realiza uma cartografia compartilhada da cidade, dos poderes, dos
movimentos sociais, da aliança e das práticas artísticas.
Cidadania é a consciência de si mesmo como ser social, que
capacita o indivíduo a perceber como sujeito histórico, condutor do seu
próprio destino. Nesse processo há um desvencilhar-se do individualismo
e do espírito de pequenez, para tornar-se cidadão consciente,
organizando-se em associações, que falam a mesma língua, com
costumes e hábitos idênticos, história e tradição comuns.
O cidadão brasileiro que se descobre sujeito histórico do seu
processo de desenvolvimento social e humano, adquire consciência
critica, deixando de ser apenas um cidadão de papel. No papel, os
brasileiros têm uma cidadania garantida. Contudo, o que se observa na
prática é a sua inexistência em todo o país: desemprego, falta de escola,
preços abusivos, migração, desnutrição, desrespeito sistemático aos
direitos humanos.
Os direitos do cidadão passaram por processos de luta, sonho,
e busca do principal direito, a Igualdade, conforme Constituição Brasileira,
que foi uma luta constante das mulheres, e continua sendo diariamente.
Na luta por estes direitos, os negros buscaram se organizar e
formar uma corrente em prol de um sonho; não foram diferentes no Vale
do Jequitinhonha, os negros do Município de Francisco Badaró, também
buscaram se organizar e formar um grupo significativo no município, que
dedicam tempo, e trabalham unidos.
Os movimentos sociais são uma forma de energia que
vem da sociedade civil. Podem sofrer reveses e
momentos de estagnação, mas o mais importante é que
existiam, sejam permanentes, capazes de encontrar um
caminho. Esse grande movimento não ondas. As
grandes ondas não se formam a todo o instante. Existe
um tempo, às vezes curto, em que a onda eclode a
mostra toda a sua força.
(Herbet de Souza)
27
As associações de moradores, os sindicatos, os movimentos
dos sem casa, dos sem terra, dos trabalhadores, dos pais de alunos, de
professores, são movimentos civis. Os cidadãos relacionam-se entre si
através das normas do direito civil, para lutarem contra os políticos do
Estado que limitam os seus direitos.
A busca de soluções para os problemas de emprego,
educação, saúde, moradia, transporte, alimentação, violência, entre
outros deve ser feita de forma coletiva e organizada e para terem poder
de pressão, os movimentos sociais e as associações necessitam de
participação ativa e constante do povo. As Associações de Bairro são
muito importantes para que as pessoas consigam resolver muito de seus
problemas. Um vereador, um prefeito, pode às vezes ignorar o pedido de
uma pessoa individualmente, mas torna-se mais difícil ignorar o pedido de
grupo de pessoas organizadas, de uma associação. O que é uma
Associação?
Associação, em um sentido amplo, é qualquer iniciativa formal
ou informal que reúne pessoa física ou outras sociedades jurídicas com
objetivo comum, visando superar dificuldades e gerar benefícios para os
seus associados. Formalmente, qualquer que seja o tipo de associação
ou seu objetivo pode dizer que a Associação é uma forma jurídica de
legalizar a união de pessoas em torno de seus interesses e que sua
constituição permite a construção das condições maiores e melhores do
que a que os indivíduos teriam isoladamente para a realização do seu
objetivo. A associação em suma é a forma mais básica para se organizar
juridicamente um grupo de forma de pessoas para a realização de
objetivos comuns.
“Buscando satisfazer suas necessidades, o ser humano
percebeu que estas poderiam ser alcançadas com maior facilidade
quando ele se organiza em grupo”. (BONETTE & SILVA, 2006)
Nesta linha temos o Associativismo, que é qualquer iniciativa,
formal ou informal, em que pessoas, grupo ou entidades reúnem esforços,
vontades e recursos, com o objetivo de superar dificuldades, resolver
problemas e gerar benefícios comuns.
28
Essa dinâmica supera limites e tem o poder de transformar a
sociedade, permite a conquista de direitos sociais, culturais e econômicos.
Sendo também uma maneira de participar da sociedade de forma mais
igualitária e competitiva.
As ações associativas dependem de comportamentos e
atitudes relacionadas à cooperação e a participação sendo que alguns
valores norteiam a sua prática.
As associações têm como objetivo:

Representar e defender os interesses do associado;

Estimular a melhoria técnica, profissional e social dos
associados;

Reunir esforços para reivindicar melhoras em sua atividade e
comunidade;

Melhorar na qualidade de vida;

Participar do desenvolvimento local e regional.
Princípios que regem o Associativismo:

Solidariedade;
interdependência;
confiança
reconhecimento
das
participação
lideranças;
mútua;
direta;
multiplicidade; sinergia; aprendizagem coletiva; fraternidade.
Características das Associações:

Reúnem duas ou mais pessoas físicas e/ou jurídicas para a
realização de objetivos em comuns;

Têm seu patrimônio construído por taxas pagas pelos
associados, doação, fundo, reservas, subvenções, etc.

Não possuem capital social;

Tem seus fins alterados pelos Associados, em assembléia
geral;

Seus associados deliberam livremente em assembléia geral,
tendo cada associado direito a um voto;
As associações assumem os princípios de uma doutrina que se
chama associativismo e que expressa à crença de que juntos, nós
podemos encontrar soluções melhores parta os conflitos que a vida em
sociedade nos apresenta. Esses princípios são reconhecidos no mundo
29
todo e embasam as várias formas que as associações podem assumir:
cooperativas, sindicatos, fundações, organizações sociais, clubes, entre
outros. O que irá diferenciar de forma jurídica de cada tipo de associação
são basicamente os objetivos que se pretende alcançar.
Nesta logística temos a luta dos negros de Francisco Badaró,
que buscaram constituir a Associação Comunitária no quilombo do Mocó.
A comunidade de Mocó encontra-se atualmente organizada por
uma entidade não governamental, sem fins lucrativos, criada para o
desenvolvimento, denominada Associação Comunitária Representativa
Mocoense, fundada em 08/02/2004, onde existe uma diretoria atuante e
organizada que coordena as ações da comunidade, além de controlar os
bens móveis e imóveis, conforme estatuto da mesma. Os moradores
também fazem partes de entidades ligadas as questões culturais, como
Irmandade do Rosário dos Homens Preto do Sucuriú e Associação dos
Artesãos de Francisco Badaró.
Na Comunidade remanescente Quilombola de Mocó, moram
atualmente cerca de 45 famílias, divididas entre três grupos: os Miúdos,
os Velhos e os José Dinás.
A alimentação das comunidades do Norte de Minas Gerais e do
Médio e Baixo Jequitinhonha é semelhante à do sertanejo nordestino. O
charque ou carne de sol e a farinha são largamente utilizada na culinária
dessas famílias.
Atualmente a economia da comunidade Mocó gira em torno da
produção de farinha, com o cultivo de mandioca. As famílias cultivam o
produto e na época da produção eles se ajudam através da troca de dias,
ou seja, cada semana é própria para determinada família, mas todos
ajudam, sendo que uma parte é deixada para o comércio onde o dinheiro
arrecadado é para a manutenção.
Esta produção é realizada na tenda comunitária, construída em
17 de Abril de 1985, com ajuda do Governo Municipal e Entidades, e
posteriormente ampliada e adaptada com maquinário industrial.
Figura 03 – Motor e maquinário do galpão para a produção de farinha
30
Foto autorizada pelos moradores
3
Outra fonte de renda é o engenho comunitário, utilizado para a
fabricação de rapadura, realizada com o plantio da cana de açúcar feita
pela própria população da comunidade.
A comunidade também desenvolve o cultivo de hortaliças e
verduras. Utilizam água das cisternas para molhar as plantas e os adubos
produzidos na própria região com a ajuda do gado.
As cisternas de onde captam água para o uso diário em todas
as atividades, são localizadas longe das casas próximas as vazantes.
Figura 04 – Cisterna
Foto autorizada pelos moradores
3
4
CF: Arquivos da Associação de Moradores
31
As vendas das hortaliças são realizadas na sede do município
e no distrito de Tocoiós, por mulheres. Elas vendem de porta em porta,
durante a semana e no domingo no mercado municipal, mas essas fontes
de renda não são suficientes para o sustento familiar, pois com a
escassez das chuvas as plantações diminuem, o que está provocando um
decréscimo da população.
A comunidade sofre com o processo de migração, onde a
maioria da população viaja para o corte de cana que dura 8 messes
aproximadamente, e a colheita de café (inicia em abril e vai até julho), no
interior de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Mato Grasso, além
de migrarem para os grandes centros urbanos, muitas mulheres também
migram para São Paulo e Belo Horizonte para o trabalho doméstico.
A
comunidade
de
Mocó
está
sofrendo
decréscimo
populacional, pois, segundo outra entrevistada, Maria Aparecida Rocha,
aproximadamente 15 anos atrás havia mais de 70 famílias morando na
comunidade. É visível a falta de jovens na atualidade. Assim a
comunidade atualmente sobrevive basicamente com pessoas idosas, e
crianças,
que
na
maioria
sobrevivem
da
aposentadoria
como
trabalhadores rurais.
Segundo Maria Aparecida, antes, na época de estiagem, havia
rezas e penitências para pedir chuva. Uma das penitências era carregar
uma pedra na cabeça e depositar no pé de um cruzeiro para pedir a
chuva. Hoje essa tradição não existe mais.
As comunidades quilombolas de Minas Gerais possuem forte
religiosidade cristã, fundada no catolicismo popular mesclado com
práticas de matriz africana, que se expressa em inúmeras festas e
celebrações. Os moradores mais antigos pertenciam a Irmandade dos
Homens Pretos do Rosário de Sucuriú, fundada em 1847, em Francisco
Badaró. Segundo José Miúdo, todo ano ele brincava o candango na festa
de nossa Senhora do Rosário.
A riqueza das fusões de elementos africanos, europeus e
indígenas criou esse caldo cultural nos quais os grupos quilombolas estão
4
CF: Arquivos da Associação de Moradores
32
inseridos. Hoje, a festa do Rosário continua, mas os moradores não
fazem mais parte da irmandade, mas muitos participam das festividades.
Na comunidade hoje tem a tradicional festa de Santo Antônio, que é
realizada no mês de junho, com novenas animadas pelas comunidades
vizinhas e a subida da bandeira no nono dia da novena, que geralmente
acontece no fim de semana mais próximo ao dia em que se comemora o
dia do santo (13 de junho), a subida da bandeira acontece em frente à
igreja local.
Figura 05 – Igreja local
Foto autorizada pelos moradores
5
A geografia da região é marcada pela seca. A vegetação é
predominante de cerrado, com manchas de caatinga e capoeiras em
encostas de morros. Segundo o morador Antônio Vellho, havia muita caça
antigamente, mas hoje os animais desapareceram, devido a vegetação e
exploração das terras.
Nunca houve conflitos explícitos de terra na comunidade, pois
a terra da região não é muito propicia para a agricultura, apesar de ser
ainda uma importante fonte de renda das famílias.
Apenas uma família possui o título da terra, emitido pela Rural
Minas. A moradora e proprietária se chama Raquel Sales Pereira.
Segundo os moradores, a terra da comunidade pertence à família do
padre Barreiro desde o final de século XIX.
Figura 06 – Vegetação Local
5
CF: Arquivos da Associação de Moradores
33
Foto autorizada pelos moradores
6
Os vestuários quilombolas mais significativos são as calças e
camisas de algodão. O uso de chapéu entre os homens e de lenço entre
as mulheres é muito comum nos dias atuais. A prática do tear ainda é
corriqueira entre as mulheres quilombolas, as cobertas de algodão são
produzidas na própria comunidade, em teares manuais, que exigem
sacrifício e determinação, mas não foi observado que os jovens exercem
esta atividade.
Figura 07 – Coberta de Algodão
Foto autorizada pelos moradores
7
As dificuldades eram muitas, quando as pessoas adoeciam,
elas tomavam remédios caseiros e quando estes não resolviam os
problemas de saúde, a pessoa doente era levada, carregada em um catre
(cama) pelos moradores da comunidade até uma cidade que tinha
atendimento médico.
6
7
CF: Arquivos da Associação de Moradores
CF: Arquivos da Associação de Moradores
34
Figura
08
-
Foto autorizada pelos moradores
Ervas
medicinais
(tradicionais)
8
E, quando uma pessoa falecia, era carregada a 12 km pelos
moradores para o sepultamento, hoje esse é feito na comunidade vizinha
Tocoiós e o transporte acontece em carro.
Não havia escola na comunidade e os negros eram
considerados inferiores e não podiam frequentar as aulas. Por isso há um
grande número de analfabetismo na região. Mas, mesmo assim,
continuam caminhado rumo ao progresso, ao desenvolvimento e
concretização de sonhos dos moradores, que lutam por melhor qualidade
de vida, buscando aos órgãos competentes meios para alavancar a
comunidade, porém com a falta de meios de comunicação inexistentes na
comunidade, como telefone, emprego, água tratada, posto de saúde, rede
de esgoto, salão comunitário, entre outros bens móveis e imóveis que
tornam uma comunidade acessível a todos.
A comunidade conta com rede de energia elétrica e água
encanada, mas ainda há a prática de coleta de água em açude e
cisternas. Outro morador, Antonio Velho, também disse que sua bisavó
era indígena e foi pega no laço. Esses relatos demonstram a grande
miscigenação ocorrida na região do Jequitinhonha entre indígenas e
afrodescendentes. A população da comunidade Mocó é de 100% de
afrodescendentes.
8
CF: Arquivos da Associação de Moradores
35
As informações extraídas de
entrevistas realizadas na
comunidade local, com pessoas idosas, vêm somar a investigação sobre
a realidade da comunidade, bem como se deu o processo de formação da
mesma.
A elaboração, com entrevistas informais, abriu as portas para
uma série de debates e questionamentos, junto aos moradores da
comunidade. Todas as pessoas entrevistadas focam a família José
Moreira Leite, onde foi possível notar que os ensinamentos culturais são
passados de geração para geração. A mãe ensina a filhar a cuidar da
casa, as ervas medicinais, o cuidado com as roupas, os grãos, e as
hortaliças. Os meninos são seguidores dos pais, onde aprendem a cuidar
da terra e preparar para as plantações.
Os antigos moradores não possuem conhecimento com escrita
e a leitura, mas contam história memoráveis de luta e sofrimento, do
período das chuvas e como tudo começou. Parece realmente um sonho,
um ato de liberdade, como se deu em Palmares. Porém, a realidade local
é outra.
A comunidade guarda memórias físicas como possível notar
nas visitas realizadas, onde tem o fogão a lenha, construído de barro, que
é adquirido nas proximidades.
Assim, diante desta memória física e conversa informal com os
moradores sobre a origem do local, acoplando-se os dados de órgãos e
entidades, nota-se o quanto culturalmente esta comunidade é importante
e como ela caminha para o resgate e valorização, onde os moradores
mantêm acessa esta chama de cultura de amor por sua identidade.
A escravidão deixou como herança a marginalização do negro,
a discriminação e as ideias racistas que ainda predominam no nosso
convívio social. O preconceito racial pode ser constatado de forma clara e,
às vezes, disfarçada no nosso cotidiano, na organização da sociedade e
até mesmo nos provérbios populares.
Os movimentos e organizações da raça negra lutam,
permanentemente, pelo fim da discriminação racial e pela igualdade,
porém essa luta só será realmente significativa no momento em que todos
36
abraçarem essa causa em busca de respeito e direitos iguais para toda a
sociedade.
Este texto foi construído tendo como referência o depoimento
de um morador do Município de Francisco Badaró – Comunidade de
Mocó - José Moreira Leite, 85 anos, popular Zé Miúdo, bisneto dos
escravos Jerônimo e Inês que foram os primeiros moradores da
comunidade de Mocó, considerado braço de um quilombo de Chapada do
Norte, devido a população ser negra.
Ele afirmou que sua vida foi muito difícil, pois tinha que
trabalhar para ajudar no sustento, e tentava estudar a seis quilômetros de
casa. Aprendeu a ler e escrever com uma professora de Minas Novas que
era de sua cor, ele estudou na comunidade de Passagem. Abertamente
ele nunca sofreu nenhum tipo de discriminação ou preconceito.
Ele contou que participava das festas e essas duravam três
dias, tinha a dança dos escravos que chamava de candango.
Relatou o fato de que Manoel Pinheiro era um senhor que tinha
vários escravos, dentre eles existia um chamado Adão que era muito
malvado, assim, Manoel Pinheiro teve de vendê-lo na Mata do Rio (atual
São Paulo), o escravo fugiu e veio atravessando rios, passando em matas
e comendo bichos até chegar aqui.
Manoel Pinheiro, por ser muito bom, o escondeu no Mocó –
que nessa época era mata bruta – tratava dele, mandava levar comida e
água, até que surgiu a abolição e ele pode sair do esconderijo.
37
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A substituição da mão de obra escrava indígena pela africana
no Brasil colônia ocorreu, progressivamente. As principais formas de
resistência indígena à escravidão foram as guerras, as fugas e a recusa
ao trabalho, além da morte de uma parcela significativa deles.
A descoberta de ouro e posteriormente de diamante provocou
um intenso fluxo migratório para Minas Gerais em fins do século XVII. A
promessa de enriquecimento rápido atraiu pessoas de vários lugares do
Brasil.
Uma das maiores importantes formas de resistência à
escravidão,
os
quilombos
formaram-se
em
regiões
de
grande
concentração de escravos, durante o período mais intenso do tráfico.
Embrenhados nas matas e terras virgens, os núcleos se transformavam
em prósperas aldeias.
Os quilombos marcaram esse período da história de Minas
Gerais. A formação de quilombos foi intensa na região. Muitos foram os
negros que lutaram contra o cativeiro.
Foi contra o cativeiro e pela liberdade que os negros levados
para Minas Gerais lutaram. Por meio de diferentes formas de resistência,
os negros conquistaram seu espaço em terras mineiras. A fuga, a
ocupação de áreas não povoadas após a abolição ou mesmo o
recebimento de glebas de terra de seus (antigos) proprietários por doação
ou herança foram as formas de conquista e consolidação dos territórios
negros em Minas Gerais.
Não foi diferente com a comunidade quilombola Mocó, situada
no município de Francisco Badaró, em Minas Gerais. Nessa comunidade,
também estão presentes os movimentos e organizações da raça negra,
que lutam, permanentemente, pelo fim da discriminação racial e pela
igualdade, porém essa luta só será realmente significativa no momento
em que todos abraçarem essa causa em busca de respeito e direitos
iguais para toda a sociedade.
38
Dessa forma, esse trabalho foi bastante significativo, pois
proporcionou um estudo novo sobre a comunidade quilombola Mocó.
Mas, não se finda aqui este assunto, podendo harmonizar outras
pesquisas que terá como tema a comunidade quilombola Mocó.
A população negra tem hoje na sociedade uma participação
mais ativa, desenvolvendo atividades profissionais que exigem dedicação
e responsabilidade na concorrência dentro do mercado de trabalho e nas
lutas pelas suas conquistas no espaço público, percebe-se que muitos
estão lutando pela transformação de uma sociedade demarcada pela
escravidão, que ela herdou.
São várias as conquistas, mas ainda tem muito que conquistar.
As comunidades quilombolas não querem competir, querem que sejam
respeitadas e valorizadas. Homens e mulheres precisam somar esforços
e competências na construção de um mundo melhor, com igualdade
naquilo que se vive.
Tendo em vista tudo o que foi explanado neste trabalho é que
se pode concluir a necessidade de uma política mais efetiva, com mais
recursos disponibilizados à manutenção e ampliação de ações que
possam atender às demandas da população quilombola, oferecendo de
fato uma melhor qualidade de vida a todos que nela se integrar.
Analisando a realidade da política social no município,
percebe-se que há necessidade de melhoria em todos os aspectos, mas
existem os entraves diante a localização do município, a falta de estrutura,
condições climáticas e vontade política, aliada à falta de recursos
disponibilizados.
O crescimento econômico e o desenvolvimento tecnológico são
visíveis e necessários nos dias atuais. Contudo, precisamos compreender
que devemos substituir o modelo predatório por outro que promova o
desenvolvimento com responsabilidade social e ambiental. Um modelo
não cumulativo de riquezas, mas distribuidor de justiça, no qual todos
possam ter acesso aos bens produzidos.
39
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANJOS, Rafael S. A. dos. Territórios das comunidades Quilombolas
do Brasil. Brasília: Mapas Editora e Consultoria, 2005.
AURÉLIO,Dicionário.http://74.86.137.64-static.reverse.softlayer.com/.Acesso em
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Federativa
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CEDEFES – Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – Cartilha: O
direito à terra e um direito quilombola.
KOSHIBA, Luiz & PEREIRA, Denise Manzi F. História do Brasil / pg. 34
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