ressonadores, os cuidados na escolha

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ressonadores, os cuidados na escolha
 RESSONADORES, OS CUIDADOS NA ESCOLHA Este é também um tema tão polêmico quanto à influência do desplacamento no som abordado em artigo anterior. As opiniões são diversas e em alguns casos, totalmente opostas. Certo dia um cliente pediu para trocar os ressonadores para metálicos. Perguntei por qual motivo e ele respondeu que era para ter mais projeção. Explorei o assunto para tentar saber de onde ele tirou tal conclusão e não demorou muito para perceber que ele “escutou” alguém falar que ressonadores metálicos projetam mais o som. Argumentei que não era verdade e coloquei ressonadores de plásticos que atenderam perfeitamente o seu desejo. 1. A ORIGEM DOS RESSONADORES Há muito tempo li um artigo sobre as primeiras sapatilhas fabricadas. Basicamente a única diferença existente em relação às atuais está nos ressonadores, pois naquela época eles eram rebites centrais com duas funções: a) Manter o couro preso no material de baixo (feltro) de forma não haver flutuações do couro. Rebite Couro
feltro
Componentes padrões das sapatilhas papelão
Sapatilha
b) Fixar a sapatilha na panela. E isso é fato, pois já reformei instrumentos muito antigos cujas sapatilhas ainda eram originais e no meio das panelas das chaves existiam as “fêmeas” soldadas para os encaixes dos rebites. Em comparação, eram iguais as atuais sapatilhas das flautas, só que essas em vez de rebites são parafusos. Fêmea do rebite
Com o desenvolvimento das colas, a função “fixação” deixou de existir, mantendo‐se o rebite apenas para a união do couro com o feltro. Rebite
Posteriormente, e aí existe um “elo perdido”, pois não consegui identificar quem e quando, os ressonadores passaram a ser feitos de metal bem maiores. Tempos depois com o advento da tecnologia dos plásticos, os ressonadores passaram a ter custos menores de fabricação (processo de injeção) se comparados com os metálicos (estampados). Ressonador de Metal Ressonador de Plástico
E aqui está a grande polêmica: o que é melhor? Ressonadores de plástico ou de metal? Mas antes da evolução do tema vamos rever alguns conceitos simples e importantes para as conclusões. Não temos qualquer intenção de aprofundar a matéria “acústica” em saxofones (tubos cônicos), até porque os modelos matemáticos são complexos, o que fariam perder o foco desse artigo. Algumas propriedades do Som: Intensidade é o que por sensibilidade chamamos de volume. Um som alto possui a intensidade alta e vice versa. É medido em decibéis. Graficamente temos: Som alto Som baixo Altura é o que por sensibilidade chamamos de sons graves e agudos. Graficamente é representado pela frequência da onda. Som agudo Som grave Timbre É a característica que permite identificar o instrumento, ou para um mesmo tipo de instrumento, a sua marca, modelo, ano, etc.. É a assinatura do instrumento. Quando escutamos a voz de uma pessoa do nosso meio já sabemos de quem se trata. É o timbre da voz que a identifica. O timbre é o mais preponderante para a escolha de uma determinada marca de instrumento. Graficamente o timbre é identificado pela forma da curva. Vejamos alguns exemplos: http://raquellima16.wordpress.com/2011/01/27/caracteristicas‐do‐som‐frequencia‐amplitude‐e‐timbre/ Vale destacar que cada instrumento pode ter o seu timbre modificado em função das alterações de algumas características peculiares. No saxofone o timbre pode ser alterado mudando a boquilha, palheta, embocadura, ângulo do tudel, ressonadores e outros mais. Vejam nas figuras abaixo as ondas de três saxes tenores da nota SI grave (sax todo fechado). Reparem que as curvas possuem traçados semelhantes, porém não iguais. Essas diferenças são as responsáveis pelos timbres de cada instrumento. É uma comparação grosseira, pois o certo seria analisar as curvas de todas as notas, mas para a compreensão do leitor atende perfeitamente Cleveland 1940 Julius Keilwerth – H Couf Buescher Fizemos a seguinte experiência: Em um sax soprano medimos a intensidade do som da nota mais grave – Si bemol (tubo todo fechado) com um microfone direcional colocado na boca do instrumento. Utilizamos as seguintes configurações das sapatilhas: Ressonadores metálicos convexos; Ressonadores de plástico convexos; Ressonadores de plástico tipo chapéu chinês. Os resultados foram: a) RESSONADORES CONVEXOS ‐ METÁLICOS E DE PLÁSTICO, ou seja: Materiais diferentes; Formatos iguais. Sapatilhas com ressonadores Sapatilhas com ressonadores de metálicos convexos plástico convexos Os valores máximos e as suas formas são praticamente iguais, o que nos permitem concluir que as diferenças entre as intensidades e os timbres são desprezíveis. As pequenas diferenças existentes são insignificantes aos nossos ouvidos o que atribuímos às convexidades dos ressonadores não necessariamente iguais, aos níveis de reflexão dos materiais e às variações do sopro. 1ª CONCLUSÃO: As alterações do timbre e da intensidade em função do material do ressonador (plástico ou metal) são desprezíveis às nossas percepções. O material do ressonador não representa parâmetro relevante para a escolha do timbre ou projeção. b) RESSONADORES DE PLÁSTICO ‐ CONVEXOS E CHAPÉU CHINES, ou seja: Materiais iguais; Formatos diferentes. Sapatilhas com ressonadores de plástico tipo chapéu chinês Sapatilhas com ressonadores de plástico convexos A diferença entre os valores máximos é desprezível (insignificante aos nossos ouvidos) e as suas formas, bastante diferentes, permitem concluir que a grande alteração é do timbre. 2ª CONCLUSÃO: A alteração da intensidade em função do formato do ressonador é desprezível à nossa percepção, porém ele é o maior responsável pela mudança do timbre. Importante registrar que as medidas realizadas se limitaram a apenas a nota Si grave (sax todo fechado). O correto seria fazer em todas as notas, uma vez que as respostas dos saxofones variam em função das notas (freqüências). Entretanto, considerando os vários instrumentos que já passaram na nossa oficina os quais alteramos ou corrigimos os timbres de acordo com os desejos dos seus proprietários, podemos afirmar sem erro que o resultado obtido para a nota SI grave não difere muito das demais notas. Chamou‐nos a atenção a questão da afinação. No sax tenor a alteração da frequência em função do formato do ressonador, que se traduz pela mudança da afinação, foi nítida, o que não foi verificado no sax soprano. Apesar de não apresentamos os gráficos, fizemos também medidas em um sax alto alterando os formatos dos ressonadores em algumas chaves e as variações das afinações foram bem inferiores ao do sax tenor. Existem explicações técnicas para isso acontecer, mas conforme comentado no início sairíamos da intenção maior deste artigo. Por outro lado, se juntarmos as experiências realizadas com as observações do dia a dia, podemos concluir sem grandes erros: 3ª CONCLUSÃO: O formato do ressonador altera a afinação, sendo mais significativa nos saxofones graves e praticamente desprezíveis nos saxofones agudos. O leitor certamente já percebeu que trocar os ressonadores de um instrumento, dependendo da alteração, poderá provocar mudanças indesejadas de timbre e afinação. Já vimos em artigos anteriores que o saxofonista quando emite o sopro, provoca uma onda estacionária longitudinal chamada de “coluna de ar”. Essa onda emitida em ambiente perfeito (superfície lisa, ausência de furos, curvas, etc.) mantém uma constância e suavidade. Entretanto, a realidade é outra. Um saxofone possui curvas, golas, ressonadores, aberturas das chaves e outros mais que interferem na onda estacionária influenciando o resultado final do som. E os FORMATOS dos ressonadores têm grande participação nessas interferências: provocam uma verdadeira “bagunça” na onda estacionária cujas conseqüências são totalmente imprevisíveis. Não há qualquer método científico conclusivo que permita conhecer antecipadamente os resultados em função de formatos dos ressonadores. O assunto ainda é tratado empiricamente. Ondas sonoras Desorganização das ondas sonoras 2. CONCLUSÃO FINAL Voltando à pergunta inicial: o que é melhor? Ressonadores de plástico ou de metal? Se estivermos nos referindo ao material envolvido, plástico, alumínio, latão, ouro, prata e outros menos comuns são melhores, pois não enferrujam com o tempo. Por outro lado, se estivermos nos referindo ao resultado do som (projeção ou timbre), não há diferenças significativas às percepções do ouvido humano. O grande vilão no resultado do som de um saxofone é o FORMATO do ressonador. É ele quem altera significativamente o timbre do instrumento. É muito comum encontrarmos sapatilhas a venda no mercado já com os ressonadores instalados, que aparentemente são iguais aos originais, mas se olhados com mais cuidado, possuem convexidades diferentes. Escutamos várias vezes alguns saxofonistas dizerem que os seus instrumentos nunca mais foram os mesmos após as trocas das sapatilhas e em certos casos, as alterações dos ressonadores eram nítidas e “gritantes”. As alterações dos formatos dos ressonadores sem critérios poderão acarretar, entre outros: Mudança do timbre; Alteração da afinação de todo o instrumento; Alteração da afinação de algumas notas; Dificuldade de emissão dos graves, principalmente os subtônicos. Assim, aconselhamos aos prestadores de serviço e aos saxofonistas muita atenção no tipo de ressonador que será utilizado quando do serviço de sapatilhamento, ou quando da troca de uma ou mais sapatilhas ao longo das revisões. Abraços a todos. Marcelo Teixeira Luthier Em: 30/11/2013 

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