manual de boas práticas para a produção em viveiro e

Transcrição

manual de boas práticas para a produção em viveiro e
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E PESCAS
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E
GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO (SANTALUM ALBUM)
EQUIPA DE PRODUÇÃO
Ministério da Agricultura e Pescas de Timor-Leste
Direcção Nacional da Extensão e Desenvolvimento Comunidade Agrícola
Direcção Nacional de Florestas e Gestão das Bacias Hidrográficas
RDP IV – Programa de Desenvolvimento Rural IV | Componente 1
Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P.
Eng.º Fernando Mota
Segunda edição | Setembro 2015
Este documento foi produzido com a assistência financeira da União Europeia. As opiniões nele expressas
não reflectem necessariamente a opinião oficial da União Europeia.
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
ÍNDICE
1
A importância do sândalo .............................................................................................................................1
1.1
Ecologia e distribuição geográfica ........................................................................................................1
1.1.1
1.2
Descrição botânica ...............................................................................................................................2
1.3
Habitats.................................................................................................................................................3
1.3.1
Solos..............................................................................................................................................4
1.3.2
Temperatura .................................................................................................................................4
1.3.3
Necessidades de água...................................................................................................................4
1.3.4
Radiação .......................................................................................................................................4
1.4
2
3
O sândalo em Timor-Leste ............................................................................................................1
Hemi-parasitismo do sândalo ...............................................................................................................5
Propagação ...................................................................................................................................................6
2.1
A regeneração natural ..........................................................................................................................6
2.2
Sementeira directa ...............................................................................................................................6
2.3
Produção de plantas em viveiros .........................................................................................................7
2.3.1
Recolha de sementes ....................................................................................................................7
2.3.2
Tratamento da semente ...............................................................................................................8
2.3.3
Preparação do alfobre ..................................................................................................................8
2.3.4
A repicagem ..................................................................................................................................9
2.3.5
Preparação do substrato ........................................................................................................... 11
2.3.6
Hospedeiros primários .............................................................................................................. 12
Instalação e gestão .................................................................................................................................... 13
3.1
Preparação do terreno ...................................................................................................................... 13
3.1.1
Estabelecimento de vedações ................................................................................................... 13
3.1.2
Abertura de covas...................................................................................................................... 15
3.2
Instalação........................................................................................................................................... 15
3.2.1
Sistemas agro-florestais............................................................................................................. 15
3.2.2
Exploração silvícola em pequena escala.................................................................................... 17
3.3
Gestão da plantação .......................................................................................................................... 17
3.3.1
Operações de rotina .................................................................................................................. 17
3.3.2
Podas de formação .................................................................................................................... 19
3.3.3
Desramas ................................................................................................................................... 20
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
3.3.4
Pragas e doenças ....................................................................................................................... 20
4
A formação do cerne e a riqueza em óleo (Santalol) ................................................................................ 22
5
Conclusão .................................................................................................................................................. 23
6
Referências ................................................................................................................................................ 24
7
Anexo I: Índice de imagens ........................................................................................................................ 25
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
PREFÁCIO
No quadro de declínio que vive a mais emblemática e a mais valiosa das espécies florestais de Timor-Leste, o
sândalo cuja exploração insustentável a colocou na situação de ruptura que é bem conhecida de todos os
timorenses, é particularmente nas comunidades rurais cuja percepção do valor, da nobreza da espécie e a
força da memória da tradição leva a que na pequena dimensão das suas terras e na grandeza do seu esforço
plantem e tratem estas árvores, conscientes de que assim para além de melhorarem consideravelmente as
receitas das famílias, serão uma ajuda decisiva para recolocar a ai-kameli no papel único do
desenvolvimento rural e económico de Timor-Leste.
Como resultado, a procura intensa de plantas de sândalo tem encontrado resposta segura na campanha
florestal do RDPIV, que assim possibilita a reposição anual de muitos milhares de árvores, para implantar nas
parcelas de terrenos de pequena escala de centenas de pequenos produtores.
O propósito deste manual, para além da pretensão de estimular a continuação da expansão do sândalo, será
o de aumentar a capacidade dos extensionistas e dos produtores das comunidades rurais na melhoria do
sucesso das suas plantações, bem como de despertar a consciência para a necessidade da gestão sustentável
deste precioso recurso renovável.
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
1
A IMPORTÂNCIA DO SÂNDALO
O sândalo (Santalum album), tem
para além do seu considerável valor
económico, uma valiosa importância
cultural para muitas comunidades da
região Ásia – Pacífico, em geral e
para Timor-Leste em particular.
A importância desta espécie para
Timor-Leste, faz parte da sua História
escrita e da memória dos
timorenses. As florestas de sândalo
do país foram vítimas da sua mítica
fama e valor e sujeitas a uma
exploração
tão
intensa,
que
colocaram a espécie na lista
vermelha das espécies em extinção.
Foto 1: Povoamento de sândalo. (Foto: Julião Aroso)
Por estas razões, a sua conservação e
expansão é para além duma afirmação cultural, social, económica e ambiental, uma questão de
identidade e de património dos timorenses, que deve ser assegurada dentro dos critérios da sua
gestão sustentável.
Para além do seu valor económico próprio, o sândalo deixa-se, ainda, cultivar em sistemas agroflorestais, sobretudo pelas comunidades rurais que o plantam em pequena escala, o que permite às
famílias rurais obter rendimentos intermédios enquanto esperam pela sua exploração, ao mesmo
tempo que preparam uma contribuição significativa para o desenvolvimento rural e para a
economia do país.
Outro aspecto importante do sândalo é o facto de não dever ser cultivado em regime de
monocultura por ser uma espécie hemi-parasita. Assim, a escolha do hospedeiro final pode e deve
ser feita preferencialmente dentro de um conjunto de espécies de madeiras valiosas, obviamente
respeitando as exigências específicas de solos e de clima (edafoclimatologia) de cada uma delas, as
quais acrescentarão em cada rotação do sândalo (se as silviculturas forem ajustadas), mais receitas
significativas, resultantes do produto do abate dos hospedeiros definitivos.
1.1 ECOLOGIA E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
1.1.1 O sândalo em Timor-Leste
A expressão actual da presença de sândalo no país reduz-se à presença de alguns “nichos”.
Conforme um censo recente, feito pela DNFRH nos Municípios de Bobonaro, Covalima, Lautem e
Liquiçá, existem pouco mais de 128 000 árvores (Tabela 1). A insustentável situação da espécie, a
prática de cortes ilegais e o potencial económico, social e ambiental, que a edafoclimatologia de
uma boa parte do território lhe reserva, obriga à responsabilidade de a proteger, estabilizando as
suas existências, ao mesmo tempo que deverá acontecer a sua re-expansão.
1
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
Tabela 1: Sensos sândalo (2003/2004). Fonte: DNF
Município
Número de sândalos
Bobonaro
Covalima
Lautem
Liquiçá
Total
43 800
37 000
36 000
11 500
128 300
A preocupante situação da espécie que continua ameaçada pelos cortes ilegais, pelo pastoreio livre
e pela prática da agricultura itinerante, bem como por algumas pragas e doenças, reforça a
urgência de que o “ataque” a este património tem que ser invertido, tirando partido das vantagens
comparativas da edafoclimatologia (solos e clima) que uma boa parte do território de Timor-Leste
reserva para a cultura do sândalo.
A expansão da Santalum album
(sândalo) tem, segundo Sales Luís, a
expressão
do
mapa
seguinte,
elaborado em função dos factores
temperatura, chuvas e altitude.
Segundo estes factores, foram
definidas
3
zonas
para
o
estabelecimento da espécie:



Zona óptima a cor verde;
Zona
intermédia
a
cor
castanha;
Zona marginal a cor branca.
Foto 2: Carta de patidão potêncial do sândalo em Timor-Leste. (Segundo
Sales Luis)
A importância da espécie e os riscos que continua a correr, aconselham todos os esforços, de todos
os interessados, na preparação e na execução dum programa de conservação e de expansão
nacional deste recurso genético único.
1.2 DESCRIÇÃO BOTÂNICA
O sândalo é uma espécie de folha perene que pode
crescer até aos 20m e atingir diâmetros (DAP)
superiores a 1,5m. As suas folhas são ovais a ovaiselípticas, verdes brilhantes e sem pêlos.
O sândalo em condições normais produz flores e
frutos duas vezes por ano, começando as árvores a
frutificar partir dos 3 anos de idade. As flores são
pequenas e vermelhas ou violetas e sem cheiro e o
fruto é uma drupa de forma elipsoidal, com
diâmetro de 5 a 8mm que quando maduro tem
uma cor preta azulada.
Foto 3: Frutos da S.album verde, em maturação e maduro
(cor preta azulada). (Foto F. Mota)
2
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
A produção de sementes é, normalmente, boa, pelo menos numa das frutificações anuais. Contudo,
algumas árvores apenas produzem sementes 1 vez por ano. A sua semente é castanha amarelada,
globosa com um diâmetro de 3mm a 5mm e pesando cerca de 0,16 gramas, existindo em cada kg
entre 5000 a 8000 sementes.
Foto 4: Sementes de sândalo (Prontas a secar). (Foto:
Fernando Santana)
Foto 5: Primórdios radiculares de sementes de sândalo
(Foto: Fernando Santana)
O cerne das árvores adultas é amarelo claro a acastanhado e fortemente aromático. A sua madeira
tem grão fino, sem desenhos nem brilho.
Trata-se de uma espécie hemi-parasita que pode parasitar mais de 300 espécies vegetais, desde o
estrato herbáceo até outras plantas de sândalo. O comportamento de hemi-parisitismo do sândalo
fá-lo depender dos haustórios que estabelece com as plantas hospedeiras, para satisfazer as suas
necessidades em azoto, fósforo e potássio, mas pode, ele próprio, prospectar (procurar) outros
nutrientes. As jovens plantas podem sobreviver sem um hospedeiro até cerca dos 3 anos mas,
passado este período, elas dificilmente sobrevivem. Sabe-se que, no processo de regeneração
natural, cerca de 2 % da população de plantas não produzem haustórios, pelo que não conseguem
auto alimentar-se e morrem até os cerca de 3 anos de idade. (Shobha N. Ral).
1.3 HABITATS
O Sândalo faz parte da vegetação indígena de Timor-Leste, em cujo território se pode regenerar
desenvolver bem, desde que as condições naturais lhe sejam favoráveis.
Em Timor, surge nas encostas mais secas e próximas do mar, até aos 1200 m. Nestas zonas, a
precipitação média anual é inferior a 1500 mm e a duração da estação seca pode ultrapassar os 6
meses.
A expansão do sândalo, à semelhança de outras espécies florestais valiosas, consegue-se por três
vias:

A regeneração natural;

A sementeira directa;

A regeneração artificial (plantações).
Difere, contudo, a expansão do sândalo, na sua natureza de hemi-parasita, pelo que, previamente a
qualquer dos 3 processos de expansão atrás referidos, precisa que lhe sejam disponibilizadas,
natural ou artificialmente, as condições para a criação de haustórios com outras plantas.
3
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
Timor-Leste ficou conhecido como uma região de habitat natural para o sândalo (Santalum album),
espécie que foi explorada durante séculos e que desempenhou um importante papel, económico e
político, na História de Timor-Leste.
A nobreza da espécie sândalo está, para além do seu valor económico, no facto de estar entre as
poucas espécies valiosas que podem sobreviver num ambiente hostil, de baixo índice
pluviométrico e baixa fertilidade do solo.
É uma espécie que teme as encostas de gramíneas propensas às queimadas anuais. Contudo,
quando estas áreas são poupadas aos fogos, o sândalo pode recolonizá-las, mas recua para
territórios mais secos quando as condições do meio se tornam mais húmidas (Shobha N. Ral).
1.3.1 Solos
O sândalo gosta de solos bem drenados, moderadamente férteis e pH entre os 5,5 e os 6,5. De
qualquer modo, com excepção dos terrenos pantanosos, os solos genericamente não são factor
que limite o desenvolvimento do sândalo em Timor-Leste. De facto, a melhor qualidade da
produção do cerne perfumado (óleo/santalol), a essência da nobreza do sândalo, acontece nas
árvores que vegetam nos solos pedregosos e mais pobres e mais sujeitos à falta de água. Já o
desenvolvimento e crescimento mais rápido das árvores têm lugar, como é natural, nos solos mais
ricos e húmidos.
1.3.2 Temperatura
O sândalo é uma espécie que vegeta numa grande amplitude de condições de solo e de clima,
suportando variações de temperaturas entre o 13°C e os 38°C e podendo ser encontrado em
altitudes dos 0 aos 2000 m.
Esta espécie encontra as melhores condições para o seu bom desenvolvimento nos territórios com
temperaturas entre os 20°C e os 26°C de temperatura média anual e com uma estação seca de 4 a
6 meses.
Vegeta melhor em locais com temperatura regular ao longo do ano, com características isotérmicas
enquadráveis com os valores já atrás referidos.
1.3.3 Necessidades de água
O regime de chuvas em Timor-Leste é caracterizado pela quantidade de precipitação anual
excepcionalmente elevada na estação das chuvas e desprezável na estação seca.
A consequência deste regime de chuvas é evidente, sobretudo na Zona Norte e montanhosa do
território: fortes chuvadas produzem pouco benefício à vegetação, dado que a maioria da água se
perde por drenagem superficial, provocando violentos processos erosivos, conforme a natureza do
terreno e as condições topográficas.
O sândalo suporta precipitações com mínimos de 400 mm, até aos máximos 3000 mm por ano e
uma estação seca que poderá durar dos 6 aos 7 meses.
1.3.4 Radiação
O sândalo é uma espécie de plena luz, pelo que o ensombramento não lhe permite o seu melhor
desenvolvimento. Este temperamento do sândalo, sendo verdadeiro, deve ser usado com
prudência, pois como todas as árvores agradece toda a luz de topo (que vem de cima), mas gosta,
sobretudo nas primeiras idades, da protecção que os matos e os hospedeiros intermédios e
definitivos lhe fazem dos lados quando “filtram” os raios solares em excesso, nomeadamente na
estação seca, ou reduzem a velocidade dos ventos nos locais mais expostos.
4
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
Salvaguardados os aspectos anteriores, o sândalo é, facilmente, dominado e eliminado pelas outras
árvores de crescimento mais rápido, pelo que é necessário realizar uma boa gestão da vegetação
nas plantações desta espécie.
1.4 HEMI-PARASITISMO DO SÂNDALO
O sândalo é um hemi-parasita de uma grande variedade de espécies de plantas, estando
referenciadas mais de 300 plantas que lhe servem como hospedeiras. Em condições naturais, o
sândalo parasita preferencialmente espécies fixadoras de azoto (Rai, 1990). Em plantações, o
sândalo também tem os melhores crescimentos quando forma haustórios com leguminosas, do que
com espécies não-leguminosas (Radomiljac et al., 1998c). Como vem sendo dito, devido à sua
natureza de hemi-parasita a espécie cresce melhor em associação com outras espécies, mas desde
que não fique dominado por elas. Por isto, para o seu bom desempenho, o sândalo requer a
presença de árvores que não sejam nem muito vigorosas que a dominem, nem muito frágeis que
fiquem esgotadas pelas suas necessidades.
Em estudos de comportamentos dos hospedeiros, no caso da Índia, a Cajanus cajan revelou-se o
melhor hospedeiro primário e concluiu-se que esta não deverá ter um ciclo de acompanhamento
do sândalo superior a 1 ou 2 anos, para evitar a concorrência entre eles. Em Timor-Leste também
se têm verificado resultados muito positivos com a utilização da Alternanthera sp.
O hospedeiro intermédio será plantado, para ser parasitado por cerca de 4 a 5 anos, cumprindo
assim o seu papel até à sua morte, entre as plantas de sândalo e as plantas do hospedeiro definitivo
(Radomiljac et al., 1998a). Os hospedeiros intermédios ideais deverão ser de crescimento rápido, da
família das espécies fixadoras de azoto e com períodos de vida curtos, pois uma vez iniciado o
parasitismo, o sândalo que permanece altamente heterotrófico, agradece a sequência de
hospedeiros para que seja conseguida e mantida uma boa produtividade das plantações.
De entre os hospedeiros intermédios, a Sesbânia (ai-turi) cumpre o seu papel de hospedeiro
durante cerca de quatro anos, depois do seu estabelecimento, após o qual, geralmente morre. A
partir daqui o sândalo dá sinais de stress, perde as folhas e muda de cor, enquanto as raízes
procuram outro hospedeiro.
O hospedeiro definitivo (de longo prazo), deve manter-se durante o período da sua rotação (25 a 30
anos) e a uma distância das árvores de sândalo que garanta os espaços vitais para os sistemas
radiculares e para as partes aéreas, de modo a evitar a concorrência entre eles.
O Pterocarpus indicus (ai-na), a Toona sureni (ai-saria) e a Schleichera oleosa (ai-dak) serão boas
opções de espécies nobres que podem ser escolhidas como hospedeiras definitivas. Por outro lado,
outras espécies de mais fácil produção e crescimento mais célere, como é exemplo a Casuarina
equisitifolia, também poderão ser utilizadas para obter bons resultados.
5
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
2 PROPAGAÇÃO
A propagação desta espécie é feita com e sem intervenção humana, essencialmente de três formas:
por regeneração natural, por sementeira directa, ou através da produção de plantas em viveiros.
Segue-se uma descrição de cada um dos métodos
2.1 A REGENERAÇÃO NATURAL
Em condições naturais se as árvores de sândalo tiverem tempo de iniciar a frutificação e houver
condições para disseminar (espalhar) as suas sementes, esta espécie tem a capacidade de
regenerar profusamente. Muitas vezes, os melhores agentes da regeneração natural do sândalo são
as aves, que assim se tornam essenciais para o processo da colonização e da recolonização dos seus
“territórios”.
Venkatesan afirma, como exemplo, que se o objectivo fosse reconstituir uma floresta de 100
hectares de sândalo, bastaria estabelecer 5 a 10 pequenas parcelas de 1 ha, dispersas pela área
total, as quais, após atingirem o estado de frutificação, seriam fonte de sementes suficiente para a
dispersão, pelas aves, pela área remanescente. Isto só será possível, caso as árvores de sândalo
sejam poupadas à violência dos fogos, ao pastoreio excessivo e a outros factores impeditivos. Será
também necessário que esteja naturalmente criada a “ambiência” (condições do local) para a
germinação das sementes, a existência de plantas hospedeiras no local, (preferencialmente
fixadoras de azoto), e protecção lateral de vegetação de acompanhamento, que poupe o sândalo
aos excessos de radiação solar e de temperatura.
É, de facto, muito importante para a sobrevivência das jovens plantinhas, que lhes seja garantida,
na fase inicial da sua vida, somente luz difusa. Depois, logo que atinjam a dimensão de cerca de 4
metros de altura, elas precisam da plena luz de topo.
Em processos de regeneração natural, são referidos até 50 pés de sândalo por hectare, ou cerca de
2% da composição de uma floresta embora, em condições óptimas para a regeneração natural do
sândalo as percentagens sejam mais elevadas.
2.2 SEMENTEIRA DIRECTA
Esta técnica de expansão do sândalo, não tem tradição em Timor-Leste e há razões que justificam o
desinteresse. A razão de fundo que justificaria a prática da sementeira directa – evitar, por todos os
meios, o desaparecimento do património genético da Santalum album de Timor-Leste - perde
força, porque exige grandes quantidades de sementes que de facto não existem e a falta de plantas
hospedeiras iniciais, intermédias e definitivas, poderia limitar a sua expansão naqueles solos.
Contudo, nalgumas situações de solos mais pobres e de baixa concorrência de herbáceas
(sobretudo gramíneas), a prática de sementeira directa, quando existe sucesso, aproxima-se das
condições da regeneração natural, desenvolvendo, em relação à plantação, melhor
desenvolvimento dos sistemas radiculares, maior resistência à seca estival e, apesar do seu
crescimento ser à partida lento, rapidamente poderá recuperar o das plantas saídas de viveiros.
Porque este processo é simples e resume-se à abertura de pequenas covas indica-se, a seguir, o
desenvolvimento das respectivas acções:

Preparação de condições do solo (abertura da cova de sementeira), que lhe facilite um
rápido desenvolvimento dos primórdios radiculares, que a salvaguarde de eventuais
condições climáticas adversas e, perto de plantas que possam ser hospedeiras do sândalo.
6
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM



Preparação de uma boa “cama” para a semente, que assegure um bom contacto
solo/semente para uma germinação equilibrada;
Limpeza da vegetação concorrente, sobretudo de gramíneas e manutenção da boa gestão
da vegetação de entre-ajuda;
A adequada localização da semente, ou seja, a sua localização, mais em superfície ou mais
em profundidade, conforme o solo é mais húmido ou mais seco.
2.3 PRODUÇÃO DE PLANTAS EM VIVEIROS
A boa morfologia da árvore, o seu bom desenvolvimento, o tronco direito e o aspecto da copa, são
herdados das árvores onde é colhida a semente. Depois de plantadas, são as condições do meio
(solos, clima e altitude) e os cuidados que lhes são dedicados, nomeadamente a boa escolha dos
hospedeiros intermédios e definitivos, os factores responsáveis pelo vigor das árvores de sândalo e
sobretudo, do seu potencial para produzir óleo (santalol) em quantidade e em qualidade. A este
conjunto de factores chamam-se de genéticos, do meio e de técnicas de silvicultura.
2.3.1 Recolha de sementes
O primeiro cuidado a ter na produção de plantas de sândalo em condições controlada é,
obrigatoriamente, procurar as árvores onde se podem recolher as sementes que respondam às
melhores características para a produção do valiosíssimo óleo de sândalo.
Essas árvores deverão ter, genericamente, as seguintes características:






A altura do tronco limpo até pelo menos 2,5 metros,
O diâmetro do tronco, deve ser superior ao de outras árvores que, eventualmente, estejam
próximas;
O tronco deve ser direito;
A copa deve ser uniforme, sem ramos muito grossos e não deve ser bifurcada (pontas
duplas);
Não deve ter sinais de pragas nem de doenças;
A árvore deve ser adulta (madura e produzir muitas sementes).
Outro cuidado muito importante é o do melhor momento para apanhar as sementes.
Em Timor-Leste o sândalo tem a seguinte fenologia:


1ª Floração: Maio/Junho, a que corresponde a 1ª frutificação em Setembro/Outubro.
2ª Floração: Dezembro/Janeiro, a que corresponde a 2.ª frutificação em Março/Abril.
As sementes de melhor qualidade são as da 2.ª frutificação em Março/Abril.
A apanha das sementes das árvores com boas qualidades será de mais confiança, quando aquelas
árvores já tenham produzido sementes saudáveis, em anos anteriores.
Para obtenção de semente, os frutos de sândalo que podem ser colhidos directamente das árvores,
são seguidamente despolpados, lavados em água e secos à sombra, para depois serem
armazenados em recipientes.
7
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
2.3.2 Tratamento da semente
Depois de cumpridos todos os cuidados referidos no ponto anterior relativos à recolha das
sementes, é necessário, imediatamente a seguir, tomar algumas medidas que assegurem a sua boa
conservação.
É, pois, indispensável que, uma vez terminada a apanha, se proceda conforme o a seguir indicado:
Fazer a despolpa dos frutos imediatamente a seguir à colheita;
 Proceder à lavagem das sementes logo a seguir;
 Submeter as sementes ao processo de secagem natural, à sombra, até a sua humidade
atingir os 5 a 8% (Setiadi et al). Nas sementes secas, directamente ao sol, verifica-se uma
redução significativa da viabilidade;
 Escolher, dentro das quantidades apanhadas, apenas as sementes com aspecto de
saudáveis e verdadeiramente maduras;
 Limpar o tegumento e remover todas as impurezas, bem como o lixo que com elas esteja
misturado;
 Guardar as sementes em sacos de juta ou recipientes porosos que permitam circulação de
ar.
Finalmente, dado que em Timor-Leste ainda não existe um bom processo de conservação de
sementes (câmara frigorífica) que permita a conservação em temperatura e humidade constantes,
a única maneira prática possível é conservar as sementes num meio seco e fresco.

2.3.3 Preparação do alfobre
Na preparação das camas de germinação (alfobre), a areia é considerada uma boa solução pois,
garante a drenagem e retenção de água imprescindíveis a uma boa germinação. Esta areia não
deve ser nem muito grossa, nem muito fina e não deve ter misturados material orgânico ou solo.
Depois, deve esterilizar-se a cama de germinação em que é feito o alfobre, por secagem ao sol e, se
possível, aplicar um remédio (nematodicida), para matar potenciais parasitas (nematóides).
Por outro lado, Shobha N. Ral (Status and Cultivation of Sandalwood in India), também defende que
pode ser usado um meio para o alfobre da Santalum album, composto por areia e terra vermelha,
numa proporção de 3:1, ao qual é misturado um nematodicida (Ekalux ou Thimet a 500 g por
canteiro de 10m por 1m).
Havendo possibilidade, as sementes podem também ser embebidas numa solução de 0,02 por
cento de Agallol (um composto organo-mercúrico), durante meia hora, para eliminar a
contaminação de superfície. Em seguida é feita a sementeira, uniformemente, sobre o alfobre,
sendo a sementeira coberta por cerca de 1cm de areia. São utilizados cerca de 2,5kg de sementes
de sândalo por canteiro de 10m por 1m. Finalmente, o canteiro semeado é coberto com palha, que
deve ser retirada logo que as primeiras folhinhas comecem a aparecer.
8
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
Foto 6: Preparação da sementeira tradicional com
serapilheira. (Foto: R. Monteiro)
Foto 7: Viveiro com a rede sombreadora e com as
sementes nos alfobres. (Foto: R. Monteiro)
Dada a actual falta de informação que existe em Timor-Leste, nomeadamente a relativa a pragas e
a doenças das árvores florestais em geral e aos viveiros em particular, salienta-se que as plantas de
sândalo, em viveiro, podem estar sujeitas a doenças causadas pela combinação da infecção por
fungos e por nematodes. O sintoma inicial é o murchar das folhas, seguido de clorose súbita e de
podridão radicular. Quando esta doença acontece a taxa de mortalidade é muito elevada, mas isto
pode ser controlado através da aplicação de um nematodicida e de um fungicida (Ekalux e Dithane),
como mencionado acima. Os canteiros devem ser pulverizados com o fungicida Dithane Z-78 (0,25
por cento), uma vez em cada 15 dias, para evitar o ataque do fungo, e com a solução Ekalux (0,02
por cento), uma vez por mês, para evitar a actividade do nematode.
Como indicações genéricas das sementes de sândalo, no caso da Índia, e segundo Srimathi e
Nagaveni, refere-se que: “As sementes têm um período de dormência de 2 meses e retêm a sua
viabilidade até 9 meses – são necessárias cerca de 6000 sementes para perfazer 1kg; as sementes,
quando plantadas, levam normalmente 4 a 12 semanas para germinarem, processo que pode ser
apressado pela imersão numa solução com 0.05% de ácido giberélico durante 12 a 16 horas”.
2.3.4 A repicagem
A repicagem é o processo de transplante de plantinhas do alfobre para contentores,
oportunamente após a sua germinação. Dada a fragilidade das pequenas plantas, sujeitá-las a uma
crise de transplantação é uma operação que requer prática e todos os cuidados. No caso das
plantas de sândalo, o processo de repicagem deve ser seguido com particular atenção, dada a
condição de hemi-parasita da espécie
que obriga à instalação, no mesmo
espaço, de uma planta hóspede. Assim,
deve proceder-se com redobrados
cuidados à análise e à confirmação do
bom estado das plântulas, sobretudo o
equilíbrio do sistema radicular, para
que sejam asseguradas as melhores
relações de dependência e de
interdependência entre as plantas do
sândalo e da planta hóspede. O
momento da repicagem para os sacos
de polietileno (polybags)
deve
acontecer logo que as plântulas Foto 8: Plântula de sândalo pronta para ser repicada. (Foto: Romeu
tenham 5 a 6 folhas e, oportunamente, Monteiro)
9
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
deve ser colocada semente ou estaca do hospedeiro primário (em Timor-Leste é normalmente a
Alternanthera nana R.Br.).
Foto 9: Arranque da plântula sem a
ferir. (Fonte: ICRAF)
Foto 10: Fazer furos profundos. Não colocar as raízes
enroladas. (Fonte: ICRAF)
Para alcançar bons resultados na repicagem, o responsável pelo viveiro deve assegurar que:






Seja bem regado o alfobre na noite anterior à repicagem;
Sejam rejeitadas todas as plantas que pareçam doentes ou enfraquecidas;
O local, para onde as plantas vão ser transplantadas, esteja bem sombreado, antes de
começar a repicagem;
No substrato do polybag, e bem no centro, seja feito um furo suficientemente fundo e largo
para acomodar as raízes da plântula a transplantar;
Não seja esquecido que ao lado da plantinha de sândalo (a meio da distância entre o pé do
sândalo e a parede do polybag) irá ser repicada (ou semeada) outra planta (eventualmente,
a Alternanthera nana) hóspede inicial do sândalo;
A plantinha seja colocada suavemente e bem verticalmente no furo, deitando depois o
substrato à volta das raízes, começando pelo fundo do furo, sendo aquele calcado
suavemente à volta da planta, com o dedo, para assegurar que a terra fica junto das raízes e
não deixa bolsas de ar.
Uma boa prática, necessária após a
repicagem é a do ensombramento nas
primeiras semanas que se segue a operação.
A rega deve ser feita diariamente, mas com o
cuidado de que não aconteça um excesso de
humidade. Durante o período de viveiro, na
fase inicial as plantas deverão ser regadas 1
ou 2 vezes por dia, até a plantinha ter 6 pares
de folhas. Depois da emissão dos 6 pares de
folhas, as plantas são regadas, de entre uma
vez por dia, até 3 vezes por semana.
Foto 11: Colocação correcta e errada
da planta no saco. (Sardinha R.)
Foto 12: Substrato mal
compactado. (Sardinha R.)
Por outro lado, nunca deve ser permitido:


Repicar as plântulas ao sol e sem as regar;
Repicar sob sol directo e quente;
10
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM


Transplantar plântulas enfraquecidas;
Que se coloquem as plantinhas com as raízes viradas para cima quando se colocam nos
sacos.
Foto 13: Planta de sândalo mal repicada (raiz principal deformada).
2.3.5 Preparação do substrato
Tendo já sido tratada de forma breve a questão da qualidade das sementes, a responsabilidade da
produção de plantas de qualidade de sândalo depende de vários factores e especificidades desta
espécie. De entre os factores controláveis e de importância decisiva para a qualidade da produção
de plantas em contentores, destaca-se o substrato, do qual as plantas dependerão nos primeiros
meses do seu crescimento.
Como foi dito atrás, a garantia do bom crescimento das plantas, depende da qualidade do
substrato. Este deve ter uma textura franco-arenosa ou franca e fértil. Deve utilizar-se para o
viveiro, a terra da camada superficial do solo, colhida de uma área florestal e, de preferência
quando possível por debaixo da copa de árvores de sândalo.
Segundo Shobha N. Ral, um bom substrato para enchimento dos polybags, deve ter uma
composição que resulte da mistura dos 3 seguintes elementos: areia, terra vermelha e composto,
na proporção de 2:1:1.
Foto 14, Foto 15: Preparação do substrato para o enchimento de polybags. (Foto: R. Monteiro)
11
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
Alternativamente podem também ser utilizados os seguintes substratos, consoante a
disponibilidade dos componentes:
Terra vegetal e composto, na proporção de 2 partes de terra vegetal para 1 parte de
composto;
 2 partes de estrume com 3 partes de terra vegetal;
 2 partes de composto com 1 parte de terra vegetal e 1 parte de palha de arroz.
Estes componentes devem ser bem misturados de forma a obter uma textura homogénea.

Caso seja possível, deve usar-se um fungicida para se criar um meio estéril para as plântulas. Para
evitar eventuais estragos provocados por nematodes, também poderá ser aplicado um
nematodicida (Ekalux), numa dosagem de 2g/polybag ou 200g para 1m 3 de substrato. Este
nematodicida deve ser bem misturado no substrato antes do enchimento dos sacos de polietileno.
A dimensão aconselhável dos polybags é de 30cm por 14cm; nessas condições, consegue-se uma
planta pronta a plantar, com cerca de 30 cm de altura, bom sistema radicular e com um caule de
bom diâmetro, num intervalo de tempo de 6 a 8 meses.
2.3.6 Hospedeiros primários
Obtém-se bons resultados com o estabelecimento da Alternanthera nana, plantando-a somente
quando a planta de sândalo no polybag já tem pelo menos 3 pares de folhas e está a iniciar-se a
emissão do 4º par de folhas. A colocação de uma estaca de Alternanthera nana é feita a meio da
distância entre o caulinho (colo) do sândalo e a parede do polybag (a meio do raio da circunferência
do polybag). Para garantir o equilíbrio entre o crescimento das plantas de sândalo e da planta
hóspede, esta deve ser podada, com a frequência necessária, para que não domine o sândalo e
impeça o seu bom desenvolvimento.
Ai-kameli + Alternanthera nana
Foto 16: Viveiro em Railaco. (RDP IV)
Foto 17: Viveiro em Maubara. (RDP IV)
12
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
3 INSTALAÇÃO E GESTÃO
O facto dos processos de expansão do sândalo,
atrás referidos (regeneração natural e
sementeira directa), não terem expressão visível
por parte dos pequenos produtores das
comunidades rurais de Timor-Leste, leva a que o
único caminho possível para superar a escassez
deste valioso recurso, seja socorrendo-se da sua
regeneração artificial, ou seja, através de
plantações artificiais. Conscientes do valor do
sândalo e, de que a sua procura garante um
bom valor no mercado, as comunidades rurais
não param de “procurar” e de plantar sândalos. Foto 18: Plantação de sândalo com o hospedeiro inicial
De facto, a oferta mundial de santalol (óleo de (Alternanthera) e composto. (Foto: Sales Luís)
sândalo) não satisfaz as necessidades de mercado e as projecções sobre a procura futura são
entusiasmantes. O valor do sândalo é tão elevado que é, talvez, a única espécie em que se justifica
plantar uma só árvore para obter rendimento futuro.
Como em todas as árvores, o bom desenvolvimento vegetativo do sândalo, a forma dos seus
troncos (morfologia) e a qualidade dos produtos que se pretendem produzir, são resultado de uma
mistura entre as características herdados das árvores mães onde é colhida a semente e das
condições do meio e os cuidados que são dedicados às árvores durante e após a sua implantação.
Os factores responsáveis pelo bom crescimento e pela possibilidade da árvore de sândalo expressar
o seu potencial de produção de óleo, em quantidade e em qualidade dependem em grande parte
destes últimos, ou seja da gestão florestal. Esta gestão consiste na execução de um conjunto de
acções que se descrevem de seguida, para que se consiga produzir as melhores árvores de sândalo,
com a melhor qualidade de óleo e com a maior quantidade, para ser vendido ao maior preço.
3.1 PREPARAÇÃO DO TERRENO
Na preparação do local de plantação é muito importante proteger as jovens plantas de sândalo e
criar condições para que as suas raízes possam rapidamente começar a procurar água e nutrientes.
Assim, ao realizar a plantação deve-se ter todos os cuidados com a construção de vedações e com a
abertura de covas de modo a beneficiar o sistema radicular, evitando ferir as raízes, não as
deixando enrolar e deixando-as bem aconchegadas com a terra.
3.1.1 Estabelecimento de vedações
Um dos maiores riscos que normalmente correm as jovens plantações é o pastoreio livre. Nas
comunidades rurais de vários sucos, há o problema das excessivas cargas de gado sobre as árvores
e sobre as florestas, pelo que deverão ser tomadas medidas para a redução da pressão do gado
sobre as áreas de plantações de sândalo, podendo para o efeito melhorar o controlo do pastoreio
livre, fazer sementeiras de leguminosas em lugares a seleccionar ou instalando vedações nas
plantações.
Dada a pequena escala das plantações, o estabelecimento de cercas poderá ser feito do modo e
com os materiais que as comunidades bem conhecem e dominam.
13
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
Foto 19: Plantação de sândalo protegido por cerca
tradicional (Palapa).
Foto 20: Acompanhamento do crescimento do sândalo
dentro de cerca tradicional.
Para reduzir a pressão dos animais sobre as parcelas plantadas e para a boa gestão do espaço, fora
da área de plantações pode ser feita a sementeira directa de espécies leguminosas como a
Leucaena leucocephala (ai-kafé) e a Sesbania grandiflora (ai-turi) bem como a plantação, por
estaca, da Ficus benjamina.
Foto 21; Foto 22: Preparação do terreno e sequência de instalação de cercas mais duradouras, contra o pastoreio
livre. (Foto: R. Monteiro)
Em alternativa podem estabelecer-se cercas de carácter mais definitivo: enterram-se postes bem
secos, directamente no solo, com cerca de 2 metros de altura e de 10 cm de diâmetro, de 4 metros
em 4 metros. Nestes serão fixados, com pregos ou grampos, 3 fiadas de arame simples, espaçadas
de 15cm a partir do nível do solo e uma fiada, a
mais alta, de arame farpado. Estas 4 fiadas de
arame serão esticadas o melhor possível. Dado
que a vida destes postes é limitada, enterrarse-ão, simultaneamente, estacas das espécies
Gliricidia sepium, Erythrina variegata, ou
Melodorum sp. (Amarefulk), que enraízam com
facilidade também, com cerca de 2 metros de
altura e 10 cm de diâmetro, espaçadas de 2
metros, nas quais serão refixadas as 4 fiadas de
arame, depois do apodrecimento dos postes
secos e logo que as taxas de fixação dos seus Foto 23: Cercas de plantação de sândalo duradouras (postes de
sistemas
radiculares
garantam
solidez ferro e arame farpado). (Foto: Julião Aroso)
suficiente.
14
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
3.1.2 Abertura de covas
A abertura das covas para a plantação deverá ser feita na época seca, cerca de 4 semanas antes da
plantação (que deverá coincidir com o início das chuvas), e as covas deverão ter um raio de, pelo
menos 60 cm e 40 cm de profundidade, mantendo a vegetação envolvente. Deve haver ainda o
cuidado, sobretudo nos solos que têm muitos materiais finos ou nos que têm elevados teores de
argila, de desfazer bem as paredes da cova para que as raízes possam sair com facilidade daquele
espaço de plantação e procurar as raízes
das plantas hospedeiras, para criarem os
haustórios que permitirão à árvore de
sândalo obter nutrientes assimilados por
outras plantas. O bloqueio das raízes nas
paredes das covas sendo desfavorável para
qualquer espécie, é particularmente
prejudicial ao sândalo, que depende muito
da rapidez com que as suas raízes vão
procurar raízes de outras árvores. Para
prevenir aquela possibilidade, que se agrava
na época seca, depois de colocada a planta
e as raízes cobertas de terra até 2cm acima
do colo da plantinha, as 4 paredes deverão
24: Cova para plantação (as setas indicam as paredes a desfazer).
ser bem desfeitas e toda a sua terra bem Foto
(Foto: Sales Luís)
misturada com a terra que já está dentro da
caldeira.
3.2 INSTALAÇÃO
A maior parte dos casos em Timor-Leste são plantações de pequena escala feitas por pequenos
produtores, cuja terra que têm disponível é sobretudo usada para a produção agrícola e que
procuram ainda, o aumento das suas receitas através da plantação de sândalo. No entanto, as
técnicas silvícolas a aplicar no caso do sândalo, pelas características de espécie hemi-parasita,
limitam as opções de uso da terra uma vez que é necessário contar, com a escolha e presença
sucessiva de espécies hospedeiras iniciais, intermédias e finais.
3.2.1 Sistemas agro-florestais
Implementando sistemas agro-florestais nos seus terrenos, os pequenos produtores de sândalo
poderão fazer a utilização simultânea da terra por diversas culturas agrícolas, estando só limitados
à existência ou à obrigação de instalação das espécies hospedeiras. Uma vez escolhidas as espécies
hospedeiras, são definidos os compassos e as densidades de plantação. Conforme as condições de
solos e a sua ocupação, os arranjos da plantação de sândalo podem ser vários, sendo comumente
utilizado o de 5m x 10m, o que ajustado ao hectare representam cerca de 200 plantas de
sândalo/ha. A imagem seguinte mostra uma pequena parcela de agro-floresta, onde foram
plantadas algumas árvores de sândalo, que exibem um excepcional estado vegetativo. As árvores
têm cerca de 3 anos de idade, e a cultura agrícola é uma leguminosa (feijão).
15
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
Foto 25: Impressionante vigor de plantação de sândalo com 3 anos. (Foto: F. Mota)
Na imagem as setas amarelas referenciam uma copa equilibrada e com a folhagem de uma cor
verde-escuro, que contrasta com a cor verde-amarelada da grande maioria dos sândalos que se
vêm por todo o Timor-Leste. Para além da disponibilidade de azoto que o feijão disponibilizará para
as árvores de sândalo, não é de
minimizar o facto de existirem árvores
hospedeiras finais envolvendo a parcela
de agro-floresta.
A seta de cor roxa acompanha um caule
perfeito onde, não faltaram os
cuidados de podas e de desramas
atempadas.
Igualmente, no sistema de agrofloresta, que se verifica na imagem
seguinte, é visível a boa conformação
das
árvores
(copa
e
tronco
equilibrados), bem como a existência
de espécies hospedeiras ao alcance das
raízes do sândalo.
Foto 26: Plantação de sândalo em agrofloresta (cultura de milho). (Foto:
Julião Aroso)
16
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
3.2.2 Exploração silvícola em pequena escala
Nas situações em que o pequeno
produtor opta por implantar nos seus
terrenos somente a cultura do sândalo,
têm
sido
praticadas
densidades
variáveis, mas com pouca preocupação
quanto à instalação das espécies
hospedeiras intermédias e finais.
Em plantações nos sucos de Balibó, de
Leolima, de Bobometo e de Leohat,
foram feitas plantações de sândalo com
densidades de 625 plantas /ha.
Uma solução, de plantação de pequena
escala, que poderá ter interesse, na
medida em que considera o conjunto de
preocupações que se colocam às
especificidades da espécie, é a que se
descreve a seguir:
Foto 27: Plantação de sândalo em pequena escala. (Foto: Julião Aroso)

Propõe-se a distribuição do risco de insucesso, para além da espécie principal, a Santalum
album, por outras espécies leguminosas produtoras de madeira de qualidade, como a
Pterocarpus indicus (ai-na), a Toona sureni (ai-saria) e a Schleichera oleosa (ai-dak). Cada
uma das espécies hospedeiras será escolhida em função do solo e do clima do terreno do
pequeno agricultor. Também outras espécies menos nobres podem ser escolhidas como
hospedeiras definitivas, como é exemplo a Casuarina equisitifolia;

A distribuição de plantas no terreno poderá ser feita na proporção de cerca de 416 plantas
de sândalo/ha e cerca de 416 plantas/ha, de um destes três hospedeiros definitivos
fixadores de azoto. Para desempenhar o papel de hospedeiro intermédio do sândalo,
durante os 4 a 5 primeiros anos, deverão ser plantadas mais cerca de 833 pl/ha, da espécie
Sesbania grandiflora (ai-turi). A densidade inicial será, assim, de cerca de 1665 pl/ha. A
plantação do sândalo será feita a 3mX4m, bem como a das espécies de hospedeiros
definitivos (3m na linha, por 4m na entrelinha).
A opção da distribuição do sândalo condiciona os compassos e as densidades das outras espécies
de hospedeiros intermédios e definitivos. Assim, distanciada de 1,5 metros de cada sândalo e em
cada linha, será plantada uma planta de Sesbania grandiflora. Os hospedeiros definitivos serão
estabelecidos de forma intercalada, em cada linha, com cada planta de sândalo.
3.3 GESTÃO DA PLANTAÇÃO
3.3.1 Operações de rotina
O conjunto de operações que não podem ser negligenciadas, se se pretende obter um bom
resultado final na exploração do sândalo são:


Reposição de falhas (retanchas) no início da época das chuvas do ano seguinte ao da
plantação;
Erradicação das comunidades de gramíneas nas caldeiras de plantação, no 1º ano pós
plantação;
17
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM


Erradicação das comunidades de gramíneas (se necessário) na área de toda a plantação, no
2º e 3º ano pós plantação;
Erradicação da vegetação de acompanhamento (abrigo lateral), logo que se anteveja
concorrência pela luz, pela água, pelos nutrientes e pelo oxigénio, com as jovens plantas.
Na Foto 28, nota-se o cuidado do corte
da vegetação concorrente (forte
presença de gramíneas), que depois são
deixadas no local do corte para
aproveitar o efeito mulching, reduzindo,
assim a concorrência com as árvores de
sândalo, bem como a evaporação da
água do solo, muito importante na
estação seca.
A imagem seguinte permite comparar o
vigor das árvores de sândalo, conforme a
proximidade da espécie hospedeira e a
protecção do excesso da radiação solar.
Assim, a seta amarela indica a árvore Foto 28: Eliminação da vegetação concorrente. (Foto: Fernando Santana)
com melhor vigor, densidade de
superfície de fotossíntese (folhas) e a sua coloração verde-escura, em contraste com as árvores
indicadas pelas setas vermelhas que, de facto, têm menos vigor e uma coloração verde-amarelada
(pálida), facto que poderá ser explicado pelo afastamento e pela falta de protecção do excesso de
radiação solar.
Foto 29: Plantação de sândalos (Maubara). (Foto: F. Mota)
Outra acção que deve merecer atenção permanente é o facto de as plantas hospedeiras tenderem
a crescer mais que o sândalo pelo que, sempre que isso aconteça, deverão ser podadas, eliminando
deste modo a competição pela radiação solar.
18
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
3.3.2 Podas de formação
As podas de formação no sândalo consistem na supressão de flechas duplas ou múltiplas ou de
ramos que ganharam dominância vertical e que podem vir a concorrer com o topo (flecha da
árvore) porque crescem demasiado depressa. O momento das podas de formação deve acontecer
logo que as árvores de sândalo apresentem sinais evidentes da actividade vegetativa. As podas de
formação, nas plantas ainda jovens, é o método
mais eficaz de poda, porque só é cortada apenas
uma pequena parte da superfície de fotossíntese.
As podas de formação, nestas idades jovens,
fazem-se cortando (até com a mão) todas as
partes finais dos ramos que têm tendência em
concorrer com a flecha (o ramo central e mais alto
da planta).
Note-se que, no caso do sândalo, deve ter-se o
cuidado permanente de acompanhar o
desenvolvimento das copas dos hospedeiros Foto 31: dentificação dos Foto 30: Identificação da
intermédios e definitivos, de modo a dosear ramos concorrentes com a flecha.
flecha.
sempre o desenvolvimento daquelas em função
da ajuda que podem prestar à espécie principal (o sândalo), intervindo também, sempre que a
proximidade dos seus ramos reduzam a entrada da luz de topo ou reduzam o espaço aéreo, vital
para o seu desenvolvimento equilibrado.
Foto 32: Corte dos ramos que competem com a flecha. (Fonte: ACIAR)
A necessidade de podas de formação deve ser verificada todos os anos e, até ao 3º/4º ano.
19
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
3.3.3 Desramas
A parte do cerne do sândalo com
maior valor comercial (maior
riqueza em óleo) está, geralmente,
localizada nos 2,5 metros da parte
inferior do fuste. Por isto, a desrama
das árvores deve fazer-se logo a
partir dos primeiros anos, pelo
menos até aquela altura, de modo a
que esteja garantido, no momento
da exploração (corte do tronco),
aquela
porção
do
fuste
completamente limpa de ramos.
Na Foto 33, a desrama deixou
inúmeros guilhotos (seta amarela) e,
mantem múltiplos caules (setas
vermelhas).
Foto 33: Falta de podas de formação e desramas tardias e mal executadas.
(Foto: Julião Aroso)
Também, a desrama das espécies hospedeiras do sândalo, deve fazer-se, sempre, quando os seus
ramos interferem, ou concorrem, com o espaço aéreo vital necessário ao crescimento das árvores
de sândalo.
A vegetação de acompanhamento limita o desenvolvimento dos ramos e facilita as podas e as
desramas.
Os ramos a desramar devem cortar-se rente à casca (sem nunca a atingirem), na base do ramo,
verticalmente e sem deixar guilhotos.
Foto 34: Cortes Correctos e mal efectuados nas desramas.
3.3.4 Pragas e doenças
Em Timor-Leste, enquanto no universo das pragas e doenças identificadas nos viveiros estão
sobretudo doenças causadas por fungos patogénicos, nas plantações a praga referida com maior
frequência é a “Spike disesase”.
As doenças que se verificam nos viveiros podem ser de duas naturezas. A primeira é o ataque por
parte de fungos como o Fusarium, a Alternaria ou o Aspergilus. Para controlar este factor, as
sementes de sândalo devem ser secas e armazenadas em local fresco e arejado (se armazenadas
em recipientes fechados assegurar que se permite o arejamento dos mesmos). Se houver
possibilidade, poderão ainda ser revestidas de um composto organomercurico (como por exemplo
o Cerasan ou o Algallol).
20
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
As restantes doenças são resultado de ataques
que têm como agentes causais fungos
patogénicos como o Fusarium, a Phytophtora ou
o Rhizopus spp. Estes ataques tornam-se ainda
mais graves quando aos mesmos se seguem
ataques de nematodes. Para controlar estes
ataques, além da selecção da semente dever ser
bem feita, de modo a utilizar sementes livres de
patogénicos, é necessário assegurar uma boa
drenagem nos contentores, uma vez que a
humidade
excessiva,
propricia
o
desenvolvimento destes agentes, e se possível
fazer aplicações de fungicidas cúpricos.
Foto 36: Sintomas de ataque da “spike” disease. (Foto: F. Mota)
Nas idades mais adultas, surge a “spike disease”
do sândalo, causada por um organismo
semelhante a um micoplasma, o qual é
transmitido de uma planta viva para outra,
através de insectos sugadores de seiva. Esta
doença provoca o encurtamento dos entrenós,
reduz o tamanho da folha, destrói os haustórios,
bloqueia os tecidos vasculares e pode levar à
morte das árvores.
A “spike disease” provoca mortalidade em todos
os grupos etários, em cerca de 1 a 1,5 por cento.
O abrandamento dos sintomas tem sido
conseguido pela aplicação, por gotejamento, de
tetraciclina no caule.
Foto 35: Sintomas de ataque da “spike” disease. (Foto: F. Mota)
Foto 37: A “spike” disease/produção de frutos. (Foto: F. Mota)
21
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
4 A FORMAÇÃO DO CERNE E A RIQUEZA EM ÓLEO (SANTALOL)
É no cerne da madeira do sândalo que tem
lugar a produção do santalol, óleo de perfume
distinto, que é usado principalmente na
indústria de perfumes, mas também com
muita utilização em medicina. A madeira é
usada para produzir artesanato e para o
fabrico de incenso.
A formação do cerne das árvores de sândalo
inicia-se, geralmente, entre os 10 e os 13 anos
de idade. Embora o processo que dá inicio à
formação do óleo ainda não esteja totalmente
explicado, dá-se como certo que alguns Foto 38: Cerne do sândalo com diferentes colorações. (Foto: F.
factores que normalmente estão associados a Mota)
períodos de stress das árvores de sândalo,
como a secura do solo combinada com o excesso de insolação solar coincidindo em altitudes
compreendidas entre os 500 e os 700m, sejam a mistura perfeita para a formação do cerne,
independentemente da dimensão do tronco depois dos 10 anos de idade. A riqueza do cerne em
óleo oscila ao longo das partes da árvore de sândalo. Assim, a partir de certa idade, a maior parte
das raízes são ricas em cerne/óleo. Contudo, a riqueza em óleo é variável ao longo do tronco,
podendo variar dos 90% da madeira, até teores insignificantes ou mesmo inexistentes.
Estas indicações são particularmente importantes, pois o valor do cerne depende do conteúdo em
óleo e da percentagem de santalol, os quais são mais elevados nas raízes, seguindo-se-lhe o maior
teor na parte do caule, junto ao nível do solo, diminuindo depois gradualmente até à extremidade
da árvore. Do mesmo modo, existe um gradiente de teor de óleo a partir do centro para a periferia
do cerne do tronco. As cores do cerne da madeira de sândalo percorrem os tons do amarelado até
ao castanho escuro. Estes tons são os indicadores dos teores em óleo. Assim, o cerne amarelado
tem teor em óleo de 3 - 4% e 90% de santalol; já no cerne de cor mais marrom, o teor em óleo é da
ordem dos 3 - 6%, contendo entre 90 – 94% de santalol. A cor de madeira castanho-escuro tem
apenas 2 – 5% de óleo com 85 – 90%de santalol. O cerne mais leve é o que tem qualidade superior.
22
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
5 CONCLUSÃO
Tendo em conta o valor económico e cultural que o sândalo tem em Timor-Leste, e sobretudo a
nível regional, o autor é da opinião que não se deve descansar apenas no esforço de plantações das
comunidades rurais, feitas em pequena escala, para garantir a manutenção do património genético
desta espécie. A incerteza quanto ao material genético que se reproduz pede que não se perca a
possibilidade da sua conservação ex-situ e in-situ - criação de um banco de germoplasma - de modo
a acautelar, logo que necessário, as possibilidades de melhoria de características ou identificar
genótipos superiores.
Os recentes avanços, na biotecnologia, na forma de cultura de células de tecidos da S.album,
sobretudo na Índia e na Austrália, têm-se revelado uma grande promessa para o processo de
multiplicação de massa in vitro desta valiosíssima espécie, bem como a produção de materiais
resistentes a doenças. Entretanto, vários pomares clonais foram estabelecidos para produção de
sementes em alguns países. Em Timor-Leste, foi estabelecido, em 2003, um pomar produtor de
sementes em Tilomar (Covalima), com a área de 6 hectares, com o objectivo do fornecimento de
sementes de qualidade controlada.
Sendo evidente que Timor-Leste, na sua actual realidade económica, não dispõe de meios para dar
este grande passo que a Santalum album justificaria, é porém possível, que na base dos acordos de
transferência de tecnologia e face às condições privilegiadas que a cultura da espécie mais
emblemática do país ainda mantém, realizar o acompanhamento de todo o melhoramento da sua
qualidade para que valha, de facto a pena a produção em quantidade, com o cuidado que a aikameli merece e que o país e os timorenses não podem perder.
23
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
6 REFERÊNCIAS
Proceedings of the Regional Workshop on Sandalwood Research, Development and Extension in
the Pacific Islands and Asia: 28 Nov-1 Dec. 2005.
Vanuatu sandalwood - ACIAR Australian Centre for International Agricultural Research.
A Cultura do Sândalo (Santalum album) em Timor-Leste (Jaime F. Sales Luís).
Current Sandalwood Seed Source in Timor Island.
Dedi Setiadi1, Tajudin Edy Komar.
Status and Cultivation of Sandalwood in India.
Sousa, E. A Pedologia e o Des. Agrícola das Regiões Tropicais. - O Caso de Timor- MEAU, Lisboa
1965.
Fretes, Y.; Lilley, G.; Monte, K. The Ecology of Tenggara and Maluku.
Gonçalves,M. –O Problema da erosão em Timor. MEAU, 1966.
Gomes,R.- Esboço Histórico do Sândalo no Timor Português Junta de investigações Coloniais,
Lisboa, 1950.
Leme, J. – Breve ensaio sobre a Geologia da Provincia de Timor.
Nott, T. – Sandalwood.
ITTO PD 459/07 Rev.1 (F), “Improving The Enabling Conditions For Sustainable Management of
Sandalwood Forest Resources In East Nusa Tenggara (ENT) Indonesia”.
Pests and diseases of sandalwood plants in nurseries and their management (O.K. Remadevi, H.C.
Nagaveni and R. Muthukrishnan).
24
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO EM VIVEIRO E GESTÃO DO POVOAMENTO DE SÂNDALO – SANTALUM ALBUM
7 ANEXO I: ÍNDICE DE IMAGENS
Foto 1: Povoamento de sândalo. (Foto: Julião Aroso) ........................................................................................ 1
Foto 2: Carta de patidão potêncial do sândalo em Timor-Leste. (Segundo Sales Luis) ...................................... 2
Foto 3: Frutos da S.album verde, em maturação e maduro (cor preta azulada). (Foto F. Mota) ....................... 2
Foto 4: Sementes de sândalo (Prontas a secar). (Foto: Fernando Santana) ....................................................... 3
Foto 5: Primórdios radiculares de sementes de sândalo (Foto: Fernando Santana) .......................................... 3
Foto 6: Preparação da sementeira tradicional com serapilheira. (Foto: R. Monteiro) ....................................... 9
Foto 7: Viveiro com a rede sombreadora e com as sementes nos alfobres. (Foto: R. Monteiro) ...................... 9
Foto 8: Plântula de sândalo pronta para ser repicada. (Foto: Romeu Monteiro) ............................................... 9
Foto 9: Arranque da plântula sem a ferir. (Fonte: ICRAF) ................................................................................. 10
Foto 10: Fazer furos profundos. Não colocar as raízes enroladas. (Fonte: ICRAF) ........................................... 10
Foto 12: Colocação correcta e errada da planta no saco. (Sardinha R.) ........................................................... 10
Foto 11: Substrato mal compactado. (Sardinha R.) .......................................................................................... 10
Foto 13: Planta de sândalo mal repicada (raiz principal deformada). .............................................................. 11
Foto 14, Foto 15: Preparação do substrato para o enchimento de polybags. (Foto: R. Monteiro) .................. 11
Foto 16: Viveiro em Railaco. (RDP IV)................................................................................................................ 12
Foto 17: Viveiro em Maubara. (RDP IV) ............................................................................................................ 12
Foto 18: Plantação de sândalo com o hospedeiro inicial (Alternanthera) e composto. (Foto: Sales Luís) ....... 13
Foto 19: Plantação de sândalo protegido por cerca tradicional (Palapa). ........................................................ 14
Foto 20: Acompanhamento do crescimento do sândalo dentro de cerca tradicional...................................... 14
Foto 21; Foto 22: Preparação do terreno e sequência de instalação de cercas mais duradouras, contra o
pastoreio livre. (Foto: R. Monteiro)................................................................................................................... 14
Foto 23: Cercas de plantação de sândalo duradouras (postes de ferro e arame farpado). (Foto: Julião Aroso)
........................................................................................................................................................................... 14
Foto 24: Cova para plantação (as setas indicam as paredes a desfazer). (Foto: Sales Luís) ............................. 15
Foto 25: Impressionante vigor de plantação de sândalo com 3 anos. (Foto: F. Mota) ..................................... 16
Foto 26: Plantação de sândalo em agrofloresta (cultura de milho). (Foto: Julião Aroso)................................. 16
Foto 27: Plantação de sândalo em pequena escala. (Foto: Julião Aroso) ......................................................... 17
Foto 28: Eliminação da vegetação concorrente. (Foto: Fernando Santana) ..................................................... 18
Foto 29: Plantação de sândalos (Maubara). (Foto: F. Mota)............................................................................. 18
Foto 30: Identificação da flecha. ....................................................................................................................... 19
Foto 31: dentificação dos ramos concorrentes com a flecha. .......................................................................... 19
Foto 32: Corte dos ramos que competem com a flecha. (Fonte: ACIAR).......................................................... 19
Foto 33: Falta de podas de formação e desramas tardias e mal executadas. (Foto: Julião Aroso) .................. 20
Foto 34: Cortes Correctos e mal efectuados nas desramas. ............................................................................. 20
Foto 35: Sintomas de ataque da “spike” disease. (Foto: F. Mota) .................................................................... 21
Foto 36: Sintomas de ataque da “spike” disease. (Foto: F. Mota) .................................................................... 21
Foto 37: A “spike” disease/produção de frutos. (Foto: F. Mota) ...................................................................... 21
Foto 38: Cerne do sândalo com diferentes colorações. (Foto: F. Mota) ........................................................... 22
25

Documentos relacionados