deriva na chapada diamantina

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deriva na chapada diamantina
DERIVA NA CHAPADA DIAMANTINA:
Mapeamento multimídia da cidade de Lençóis-BA
Maruzia Dultra1
Karla Brunet 2
Resumo
Ruas de pedra, um rio cortando a cidade, casebres de arquitetura histórica. Esse foi o
cenário do projeto artístico de mapeamento e experimentação urbana Lençóis.art.br.
Com o objetivo de despertar o olhar para o espaço geográfico de Lençóis, município
localizado na Chapada Diamantina-Bahia, o projeto disponibilizou recursos analógicos
e digitais para diversas pessoas “remapearem” a cidade. Nesta comunicação propomos
uma reflexão do projeto Lençóis.art.br tanto por seu conteúdo artístico de obra
colaborativa e experimentativa, quanto em relação ao uso do espaço urbano, tecnologia
móvel, internet e implicações sócio-políticas de criações de mapas.
Palavras-chave: Mapeamento, Deriva, Situacionismo.
Introdução
O projeto Lençóis.art.br foi criado pela motivação de praticar a deriva situacionista
usando a tecnologia móvel para fazer anotações. A idéia era criar uma visão psicogeográfica da cidade de Lençóis, fazer com que as pessoas “se perdessem” pela cidade,
descobrindo novos caminhos e situações. Como Guy Debord (1955) afirma:
A psicogeografia se propunha ao estudo das leis precisas e dos efeitos exatos
do meio geográfico, conscientemente organizado ou não, em função de sua
influência direta sobre o comportamento afetivo dos indivíduos. O adjetivo
1
Graduanda de Comunicação Social – Jornalismo na Universidade Federal da Bahia. Bolsista de
Iniciação Científica do Grupo de Pesquisa Poética Tecnológica na Dança durante 03 anos. Colaboradora
do Projeto. [email protected]
2
Professora Colaboradora do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas
da Facom/Ufba. Pos-doutoranda do Grupo de Pesquisa em Cibercidade (GPC)/Ciberpesquisa com bolsa
Fapesb. Doutora em Comunicação Audiovisual (UPF - Espanha) e mestre em Artes (AAC – Estados
Unidos). Criação e coordenação do Projeto. [email protected]
psicogeográfico, que conserva uma incertidão bastante agradável, pode então
ser aplicado às descobertas feitas por esse tipo de investigação, aos
resultados de sua influência sobre os sentimentos humanos, e inclusive de
maneira geral a toda situação ou conduta que pareça revelar o mesmo
espírito de descobrimento. (DEBORD, 1955)
Neste projeto de mapeamento, o importante não é criar um mapa fiel da cidade, mas um
mapa dos percursos por esta cidade. Um mapa de derivas, devaneios, e não um mapa de
ruas.
Lençóis, o lugar
O município de Lençóis está localizado na Chapada Diamantina, região baiana marcada
pela exuberância natural. Morros, grutas, cavernas e cachoeiras são fortes atrativos para
turistas de toda parte do Brasil e do mundo. A “Chapada”, como é comumente chamada,
possui uma importância econômica histórica, tendo sido pólo de extração mineral no
Brasil-Colônia.
Em
decorrência
da
atividade
mineradora,
alguns
povoados
estabeleceram-se na região; entre eles, destacou-se Lençóis, que serviu como ponto de
convergência na economia do diamante.
A cidade, cujo nome refere-se aos explorados lençóis freáticos da Chapada, tem hoje X
habitantes. A arquitetura colonial está preservada em algumas áreas, incluindo ruas de
pedra que resistem à soberania do asfalto. A principal atividade econômica do
município atualmente é o turismo, sendo intensa a capacitação de guias especializados e
a abertura de agências de ecoturismo. Lençóis funciona como uma cidade-sede para
quem vai conhecer a região da Chapada, concentrando somente alguns pontos turísticos
no entorno. Os lugares mais cotados para passeio têm que ser acessados por transporte
viário ou pela realização de trilhas.
Diferente de uma grande cidade, Lençóis não possui um mapa preciso de suas ruas
disponível ao público. Se pesquisar em sites de mapas como GoogleMaps, MapQuest e
Yahoo!Local, não encontramos um mapa detalhado da cidade, somente algo da região
onde se localiza. Nem mesmo a Secretaria de Turismo do município possuía tal
material. O que seria um elemento de dificuldade para a realização do projeto,
significou mais uma motivação para a realização do mesmo.
Neste artigo, falamos do local de realização do projeto como sendo um lugar, em
contraposição com o termo espaço. Tomando como base a teoria Steve Harrison e Paul
Dourish (1996) que diferencia os conceitos de espaço e de lugar, podemos dizer que
Lençóis.art.br transcorreu num lugar urbano, e não somente num espaço urbano. Sobre
as terminologias, os autores afirmam:
Physically, a place is a space which is invested with understandings of
behavioural appropriateness, cultural expectations, and so forth. We are
located in “space”, but we act in “place”. Furthermore, “places” are spaces
that are valued. The distinction is rather like that between a “house” and a
“home”; a house might keep out the wind and the rain, but a home is where
we live.3 (HARRISON e DOURISH, 1996)
Neste sentido, o lugar é o espaço com os significados sociais, culturais e funcionais. O
comportamento dos
colaboradores do projeto aconteceu neste lugar e, ao mesmo
tempo, contribuiu para a composição deste.
Experiências artísticas anteriores
A proposta do Lençóis.art.br teve como motivação artística experiências similares feitas
em vários países. Esses trabalhos aproximam-se pela estrutura colaborativa e pelo
diálogo multimídia com espaços urbanos.
Um exemplo destes projetos é o Urban Sensoria (http://urbansensoria.com) criado pelo
artista Alejandro Jaimes-Larrarte. No projeto, os participantes são convidados a saírem
pela cidade experimentando suas sensações, cultura e memória. Nesta experimentação
do “eu e a cidade”, os participantes coletam diferentes materiais (fotos, vídeos, áudios,
panfletos, objetos, sinais) para no final criarem um mapa dessa vivência.
Outro tipo de mapeamento, já não tão conceitual e muito mais exato, é o projeto
Tracemap (http://tracemap.net) onde os participantes andavam pela cidade carregando
um PDA com o software do projeto. No trajeto, eles criavam mapas de lugares com
acesso wifi ou não; estes mapas possuem diversas formas de visualização, desde um
modelo cartesiano a formas mais orgânicas.
3
Nossa tradução: “Fisicamente, um lugar é um espaço que é reforçado de entendimentos de apropriação
comportamental, expectativas culturais e assim por diante. Nós nos localizamos no “espaço”, mas agimos
no “lugar”. Além do mais, “lugares” são espaços que possuem valor. A distinção é mais ou menos como
entre a de “casa” e de “lar”, a casa nos mantém abrigados do vento e da chuva, mas o lar é onde
vivemos.”
No Peripato Telematikos (http://www.peripato.net), um projeto realizado na Austrália,
as imagens e textos foram coletados por celulares em caminhadas de derivas pela
cidade. Como o próprio site do projeto diz: “O público é convidado a participar e fazer
contribuições através de oficinas. Tudo o que é requisitado é um telefone celular com
capacidade de enviar MMS e/ou SMS, e tempo para sair a caminhar”4. Enviado por
MMS para o site do projeto, este material cria mapas interativos em Java, no qual se
pode navegar de diversas formas pelas imagens e textos produzidos na caminhada.
Usando o mesmo tipo de tecnologia e modelo de colaboração dos projetos descritos
anteriormente, o projeto AIR – Preemptive Media Project (http://www.pm-air.net/) tem
uma preocupação ambiental. Nele os participantes são convidados a perambular pela
cidade com um aparato fornecido por AIR e medir o grau de poluição do ar. Os dados de
poluentes e localização marcados no GPS podem ser visualizados no site do projeto.
Esta visualização dos dados forma um mapa fluído que contribui para a conscientização
da poluição em determinado local.
Outro projeto que também trabalha com a colaboração de envio de imagens em
mapeamento
é
One
Block
Radius
(http://oneblockradius.org).
Intitulado
de
documentário psicogeográfico, o projeto convida o público a enviar material para
mapeamento da quadra onde vai ser construído o Novo Museu de Arte Contemporânea
de Nova Iorque (New York's New Museum of Contemporary Art). A maior parte do
material enviado são fotos de documentação visual da quadra, no entanto, na camada
“resposta” existem alguns vídeos e áudios.
Lençóis.art.br
Lençóis.art.br é um projeto artístico de mapeamento e experimentação urbana da cidade
de Lençóis, que foi realizado durante o evento Submidialogia#35. A proposta deste
4
Nossa tradução do original: “The public is invited to participate and make contributions through
workshops. All that is required is a mobile phone with MMS and/or SMS capabilities, and time to go for
a walk”.
5
URL: http://submidialogia.descentro.org
encontro é ser um espaço crítico multidisciplinar de arte, mídia e tecnologia
participativas e, na sua terceira edição, teve como slogan: “Submidialogia#3: a arte de
re:volver o logos do conhecimento pelas práticas e desorientar as práticas pela imersão
no sub-conhecimento”.
Durante três dias (8-10 de dezembro de 2007), participantes do encontro e habitantes da
cidade foram convidados a saírem à deriva pela cidade experimentando e fazendo
anotações de seu percurso. Anotações analógicas (riscando no mapa) e digitais
(produzindo fotos, áudios e vídeos). O convite foi feito através de panfletos impressos
de divulgação (Figura 1), entregues pessoalmente aos moradores e turistas nas ruas da
cidade e também deixados em locais considerados estratégicos, como bares, mercearias
e restaurantes.
Figura 1. Panfleto de divulgação do projeto.
Cada deriva contou com um mapa de Lençóis (Figura 2), uma caneta-hidrocor para
traçar o percurso no papel e um celular com funções multimídia (gravador de áudio,
câmera fotográfica e filmadora). Os participantes tinham entre 30 minutos e 2 horas
para percorrer caminhos e registrar eventos/paisagens que lhes chamassem a atenção.
Figura 2. Mapa base onde os colaboradores desenhavam sua deriva
O processo colaborativo de mapeamento foi compilado num mapa digital produzido em
Flash (Figura 3), onde foram inseridas as peças multimídias produzidas durante os
percursos. Cada participante teve a sua rota destacada por uma cor específica neste
mapa, sendo possível, portanto, acompanhar a deriva de cada um. O resultado encontrase disponível em: http://lencois.art.br/.
Figura 3. Mapa interativo na web.
Diversos autores fazem uma taxonomia de projeto artísticos que utilizam tecnologia
móvel e mídia locativa. Uma classificação pertinente a este estudo é a proposta por
Maria Miranda (2007) que sugere uma divisão focando nas práticas artísticas. Para a
autora (MIRANDA, 2007) existem três categorias relacionada ao espaço urbano e seu
uso por artistas: relacional, mapeável e hertziano. Relacional refere-se ao espaço
determinado pelas relações sociais e políticas, onde as posições são temporariamente
ocupadas por um sujeito ou outro e estas relações são relativas. Mapeável é o espaço
usado por diversas práticas de mídia locativa para construções de mapas. A terceira
categoria proposta por Maria Miranda é a do espaço hertziano, este espaço invisível ou
visível dos campos eletromagnéticos.
No caso do projeto Lençóis.art.br, o espaço urbano é mapeável, a construção de um
mapa no final da deriva foi um objetivo fundamental. Ao mesmo tempo, , Marc Tuters e
Kazys Varnelis (2006), em “Beyond Locative Media”, dividem os projetos de
mapeamento em dois tipos: anotativo e fenomenológico.
Generalizando, projetos com mídia locativa podem ser categorizados sob um
dos dois tipos de mapeamento, ou anotativo – virtualmente etiquetando o
mundo – ou fenomenológico – rastreando a ação de um sujeito no mundo.
Aproximadamente, estes dois tipos de mídia locativa – anotativa e rastreadora –
correspondem a dois pólos arquétipos seguindo seu caminho pela arte do final
do século 20, a arte crítica e a fenomenologia, talvez senão figuradas como as
práticas gêmeas do situacionismo, o détournement e a deriva.6 (TUTERS e
VARNELIS, 2006)
No caso do projeto Lençóis.art.br, o mapeamento feito foi fenomenológico, o mapa
final apresenta os traços/rastreamentos da deriva feita por cada colaborador na cidade.
Eles não fizeram anotações sobre a cidade, entretanto, usaram a cidade para senti-la.
Outro ponto a ressaltar quanto aos tipos de mapeamento é a questão da visualização dos
dados. Independente do tipo de mapeamento ou classificação, Chris Bowman (2008)
divide a visualização dos dados de localização em dois tipos de conteúdo visual:
primeiramente, os dados do GPS e segundo, dados contextuais coletados pelo
caminho (fotos, anotações pessoais, sons, etc.). O primeiro é uma transcrição
literal – uma representação estática, unidimensional renderizada em um formato
gráfico simples como coordenadas XY e Z e/ou um mapeamento ponto-a-ponto
que rastreia a jornada. O último, sendo conteúdo interpretativo, é representativo
6
Nossa tradução do original: “Broadly speaking, locative media projects can be categorized
under one of two types of mapping, either annotative—virtually tagging the world—or
phenomenological—tracing the action of the subject in the world. Roughly, these two types of locative
media—annotative and tracing—correspond to two archetypal poles winding their way through late 20th
century art, critical art and phenomenology, perhaps otherwise figured as the twin Situationist practices of
détournement and the dérive.”
do local e do viajante, e por extensão, dos aspectos socioculturais da
comunidade ou ambiente.7 (BOWMAN, 2008, p. 70)
O projeto Lençóis.art.br não possuía um GPS para fazer a coleta dos dados de
posicionamento por satélite; somente dados conceituais, como fotos, áudios, vídeos e
textos, foram coletados. Desta forma, o mapeamento foi menos exato e muito mais
interpretativo.
Perfil dos colaboradores
A iniciativa não teve muita repercussão entre os integrantes do evento Submidialogia#3.
Além das coordenadoras do projeto, apenas duas pessoas do encontro aceitaram o
desafio de remapear a cidade. Já para as crianças nativas, a experiência mostrou-se
bastante atrativa. A faixa etária predominante dos colaboradores do projeto foi de 10 a
13 anos, muitos deles com laços de parentesco ou amizade entre si. Ao todo, somaramse 26 participantes, que saíram à deriva em duplas, trios, quartetos ou individualmente.
Foram produzidas 50 fotografias, 30 vídeos e mais de 20 arquivos de áudio; a qualidade
do material produzido foi surpreendente. Nas fotos, as crianças mostraram noções de
composição, enquadramento e profundidade de campo. Um possível fator que
contribuiu para este diferencial no olhar do grupo é que a maioria dessas crianças já
participou de oficinas de fotografia, retalho, computação e papel reciclado em duas
Organizações Não-Governamentais (ONGs) locais: Avante Lençóis8 e Projeto Grão de
Luz e Griô9. Já nos vídeos, muitos assumiram o papel de repórter, reproduzindo o
modelo televisivo para documentar as características dos lugares por onde passavam.
7
Nossa tradução do original: “firstly, the GPS data and secondly, contextual data collected along the
journey (photographs, personal notes, sound, etc). The former is a literal transcript — a static, onedimensional representation rendered into a simple graphic form such as XY and Z coordinates and/or a
point-to-point mapping which traces the journey. The latter, being interpretive content, is representative
of the location and the traveller and by extension, the social/cultural aspects of the community or
environment.”
8
URL: http://www.avantelencois.com.br/
9
URL: http://www.graosdeluzegrio.org.br/
Estar à deriva
As práticas situacionistas de deriva foram popularizadas em uma cidade européia
cosmopolita, mas percebeu-se que sua proposta de deriva também pode ser aplicada em
outros lugares. Lugares estes com diferentes referenciais sócio-culturais dos de cidades
européias nos anos 60.
A proposta de Lençóis.art.br é baseada nestas práticas: de sair à deriva pela cidade,
experimentando, desconstruindo, interpretando e anotando. A motivação veio do
interesse em misturar estas práticas com tecnologias como celular e internet, num lugar
com pouca infra-estrutura. Uma cidade pequena, mesclando experiências dos visitantes
de fora, de grandes centros urbanos, e habitantes da cidade.
O projeto utilizou estratégias de low e high tech. O low tech está no fato do projeto
disponibilizar precários mapas fotocopiados em papel A3, onde o errante desenha o
caminho com canetas coloridas (Figura 4). O high tech seria aqui o uso de telefone
celular como meio de registro audiovisual, além da criação de um mapa animado para
web. Analógico e digital se encontram para compor um novo desenho da cidade.
Figura 4. Registros analógicos dos colaboradores.
A ausência de direcionamento prévio do percurso proporcionou a cada um rumos
inusitados. Mesmo nos locais repetidos por alguns errantes, os ângulos e detalhes
ressaltados foram distintos.
A forma utilizada em Lençóis.art.br de realizar uma psicogeografia na cidade foi através
da deriva, uma prática encorajada pelos situacionistas nos anos 50 e hoje ainda usada
como uma maneira de se encontrar com o espaço urbano e experimentá-lo de forma
diferente da que estamos usualmente acostumados a fazer. Como Guy Debord (1958)
afirma em “Teoria da deriva”:
O conceito de deriva está ligado indissoluvelmente ao reconhecimento de
efeitos da natureza psicogeográfica, e à afirmação de um comportamento
lúdico-construtivo, o que se opõe em todos os aspectos às noções clássicas
de viagem e passeio. (DEBORD, 1958)
Vários dos colaboradores do projeto que se propuseram a fazer uma deriva pela cidade
foram crianças e a maioria delas nunca tinha usado anteriormente um telefone celular
para produzir conteúdo. Alguns, depois de poucos minutos de explicação se sentiram
confortáveis com a mídia, outros tiveram um pouco de dificuldade especialmente em
como usar o botão circular para direcionar as escolhas no celular.
Por não serem expertos com a ferramenta, muitas crianças fizeram vídeos pensando que
estavam fazendo fotos, outros não lembravam onde parar a gravação de um vídeo e
seguiram gravando até terminar a bateria ou memória do celular. Estas “fotos vídeos”
podem ser consideradas como um tipo de détournement de uma produção por celular.
Como Guy Debord and Gil J. Wolman (1956) disseram que “o desvio se torna menos
efetivo à medida em que se aproxima de uma resposta racional”. As distorções destas
imagens criadas pelas crianças estão longe de serem uma resposta racional, elas são
ordinárias expressões de um ensaio pela cidade.
A construção do Lençóis.art.br também pode ser analisada do ponto-de-vista da
performance. Neste sentido, o projeto seria uma “obra-proposição”, que oferece
“instruções” para que seja constituída. Propor a ação de derivar e anotar seria o
correspondente, na experiência aqui descrita, do que Regina Melim (2008) diz sobre a
arte performativa: “ (...) a supremacia do ato diante de uma possível perenidade do
objeto”.
Considerações finais
A reflexão sobre o projeto Lençóis.art.br deve ser feita tanto por seu conteúdo artístico
de obra colaborativa e experimentativa, quanto em relação ao uso do espaço urbano,
tecnologia móvel, internet e implicações sócio-políticas de criações de mapas.
Do ponto de vista artístico e tecnológico, apesar dos colaboradores não terem um
domínio completo no uso do aparelho celular enquanto gravador de arquivos, as
produções foram embebidas de criatividade diante da necessidade de improvisar e
superar obstáculos. Desta forma, o projeto atuou também no campo do imaginário da
comunidade de Lençóis no que diz respeito à alta tecnologia.
Os colaboradores tiveram acesso a um instrumento tecnológico inusitado para os
nativos da região e puderam, com este aparelho, produzir partes da obra. Além disso, o
uso público do artefato por moradores da cidade gerou curiosidade em torno do evento,
e o relato de experiência dos colaboradores causou repercussão nas famílias e
vizinhança.
Entendendo que o registro audiovisual do espaço urbano desperta o olhar dos indivíduos
para situações ordinárias, o projeto possibilitou a tomada de consciência em relação a
aspectos da realidade mapeada. Lugares reservados para turistas, estabelecimentos
comerciais tradicionais, locais ligados a fatos históricos da cidade, transformações
sociais impressas na arquitetura – foram alguns dos referenciais geográficos apontados
pelos colaboradores durante o processo de criação.
Referências Bibliográficas
BOWMAN, C. Visualising the Locative Experience. ISEA 2008 -14th International
Symposium on Electronic Art. Singapore: ISEA 2008, 2008.
DEBORD, G. Introdução a uma crítica da geografia urbana. Acessado. Disponível em
http://www.rizoma.net/interna.php?id=143&secao=anarquitextura 1955.
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http://br.geocities.com/anopetil/teoriaderiva.htm 1958.
DEBORD, G. e WOLMAN, S. J. Um guia prático para o desvio. Acessado 2008.
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MELIM, Regina. Performance nas artes visuais. Rio de Janeiro: Zahar, 2008
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Public Space. Scan Journal. Acessado 2008. Disponível em
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TUTERS, M. e VARNELIS, K. Beyond Locative Media. Networked Publics. Acessado
2008. Disponível em
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