Reportagem Ocelots – Time de Futebol Americano

Transcrição

Reportagem Ocelots – Time de Futebol Americano
Nasce um esporte, nasce uma torcida
Do lado de fora do centro esportivo Benedito de Lima,
em Jundiaí, é possível ter uma visão muito ampla do que
se passa dentro de campo. As grades distantes e altas em
relação ao campo profundo permitiam que qualquer pessoa
que passasse pela rua e desconhecesse as regras do futebol
americano se assustasse com o número de jogadores dentro
do campo, cerca de 70 homens (50 se revezavam na partida
e pelo menos 20 outros se organizavam para o próximo
jogo), mais assustador ainda era perceber que existia mais
gente dentro do campo do que fora dele: na arquibancada
cerca de quarenta pessoas estavam dispersas, acompanhando o primeiro jogo do dia entre Leme Lizards e Paulínia
Maveriks.
O campo, localizado no Bairro do Retiro, havia sido
pintado horas antes pelos jogadores do Jundiaí Ocelots
(jaguatiricas em português, em homenagem ao animal que é
comum na cidade), o time da casa, que disputaria no mesmo
dia o tão esperado combate contra o Avaré Mustangs pela
Supercopa Paulista. Há quem diga que as marcações ficaram
muito boas, (e a opinião é de gente que assiste fielmente as
disputas da NFL - Liga Nacional de Futebol Americano, a
maior liga de futebol americano do mundo) e não é pra menos, já que os jogadores estão acostumados a fazer esse tipo
de adaptação nos campos da cidade que não dispõe de locais
específicos para a prática esportiva, ainda engatinhando no
país.
Por volta das 14h30 do domingo dia 07/04 após a vitória
do time de Paulínia por 12 a 4, foi hora de Ocelots e Mustangs ocuparem o campo para o aquecimento. Foi hora
também de perceber que mais lugares iam sendo ocupados
nas arquibancadas. O quadro se reverteu, o número de
torcedores superou o número de jogadores. Os “Oceloucos”
(como a própria torcida se define nas redes sociais) haviam
chegado.
O time de Jundiaí se aquecia sem os equipamentos, já que
os aproximados 8 quilos (Capacete de 3kg e colete de proteção de ombros, conhecido como shoulder pads em torno
de 5kg) provavelmente atrapalhariam toda a desenvoltura e
descontração do aquecimento que inclua gritos e brincadeiras entre os rapazes, tudo para animar e preparar jogadores e
torcida para a disputa que logo iria começar. E que, diga-se
de passagem, exigiria muito de ambos.
Não demorou muito tempo e a mesma animação fez o
time correr em peso em direção ao vestiário para trajar os
equipamentos que além de pesarem sobre o corpo pesaram
sobre o bolso, já que “cada atleta investiu entre R$500,00 e
R$2000,00”, segundo o Presidente do time e Right Guard
(jogador com a função de proteger o Quarterback quando
é uma jogada de passe ou abrir espaço para que o corredor
possa correr) na Offensive Line, Yuri Picardi.
Cinco minutos depois já era possível ver alguns jogadores
equipados fora do vestiário, mas com a espera pelos preparativos foram necessários cerca de vinte minutos para que o
Ocelots entrasse em campo, não sem fazer uma entrada com
estilo, é claro. “Nós queremos nos aproximar do estilo dos
jogos internacionais que promovem verdadeiros shows para
as torcidas”, explicou Emílio Netto, defensive tackle do time
(jogador que se posiciona no meio da linha de defesa). E foi
o que eles fizeram. Fumaça nas cores verde e laranja e fogos
anunciavam: As jaguatiricas estavam entrando em campo.
A torcida estava animada, cada ponto e passe correto desencadeava uma porção de gritos, cornetadas e comentários.
Mas nem tudo parecia ser compreendido pelos ocupantes da
arquibancada, que estavam ali, em sua maioria, a convite de
amigos.
“Elas nem sabem o
que está acontecendo”, o comentário foi
feito pela namorada
de um dos jogadores
do Avaré Mustangs,
em tom baixo e
indignado, enquanto
um grupo de pelo
menos quatro garotas
dava gritos e balaçava
chacoalhos a favor do
time de Jundiaí. Não
tinha sido ponto para
o Ocelots, na
verdade não tinha
sido ponto para ninguém.
Mas se engana
quem pensa que o
desconhecimento
em relação às
regras do futebol
Jundiaí Ocelots disputa partida contra o Avaré Mustangs em Jundiaí
americano era
exclusivo daquele grupo de garotas com
badulaques. Bruno e o pai, Aline e Juliano,
Letícia e suas amigas também tinham nenhum
ou pouco conhecimento sobre o que se
passava em campo. Estavam ali para
prestigiar o namorado, o amigo, o primo.
Letícia e as amigas, namoradas de jogadores
do Leme Lizards, confessaram que entendiam
pouco e que com o tempo estavam pegando o
jeito e conseguindo torcer.
Bruno tinha sido convidado para o jogo
anterior pelos amigos, mas tinha resolvido
aparecer desta vez, com o pai. “Pra quem não
conhece parece um esporte violento, né?!
É mais preconceito, Tipo MMA.” Bruno tentava explicar o porquê da arquibancada não
Fumaça colorida anuncia a entrada do Ocelots em campo
estar tão cheia quanto era possível.
de campo o clima ficava tenso. A preocupação em reverter o
Para Aline, a situação da arquibancada se
placar que não era dos melhores a favor do Ocelots aumenexplicava de outra forma, “acho que não é nem
tava cada vez mais.
preconceito, é o desconhecimento, as pessoas não
Após longos minutos de paralisação e uma substituição
conhecem o esporte aqui no Brasil e acabam não vindo,
(o número de substituições dentro do futebol americano é
porque pra quem não conhece acaba sendo um pouco
ilimitada) foi hora de voltar ao jogo e ao placar que regichato.”
strava a liderança dos visitantes desde o começo do embate.
Não parecia chato. O clima não indicava tédio ou incôE assim foi durante quase toda partida. E assim foi enquanto
modo em relação às jogadas aparentemente violentas: Um
faltava apenas um minuto para o fim da disputa: Ocelots
casal se protegia do sol escaldante sentado debaixo de uma
continuavam atrás no placar. Quarenta e cinco segundos para
sombrinha enquanto outros casais que talvez desconheceso fim do jogo. Só em filme mesmo é que quadros assim se
sem o fato da entrada ser gratuita estacionavam o carro do
revertem. Cory manda a bola em direção a end zone, Caio
lado de fora do centro esportivo e acompanhavam o jogo
Luiz Franco agarra a bola...e uma produção hollywodiana
em pé diante das grades, grupos de amigos gritavam a
parecia se desenrolar em campo: Touchdown, seguido de 21
puros pulmões a qualquer sinal de pontuação, um dos juízes
anunciava o que se seguiria no jogo (os juízes explicam para segundos de pura tensão para conter o adversário que ainda
a torcida (em alto e bom som o que acontecerá após as faltas resistia. Fim de jogo. O placar marcava 9 a 6 para os Ocelots,. A 3ª posição na divisão A estava garantida colocando
cometidas) segurando o riso enquanto um outro juiz gritava
a jaguatirica, “onça que escapole” em tupi, cada vez mais
ao fundo que ele tinha se equivocado, alguns torcedores
perto dos playoffs (final do campeonato) . Os “oceloucos”
caminhavam pelo centro esportivo com camisetas de jaguaenfim puderam respirar aliviados e talvez tenham aprendido
tiricas pintadas à mão.
um pouco mais sobre o jogo, quem sabe...e quem mesmo se
Não houve tempo para tédio. Euforia e paralisação por
importa? Essa foi por pouco.
conta de um jogador acidentado calaram a torcida. Dentro
Maneiras de se fazer pontos no Futebol Americano
Touchdown - Vale 6 pontos. O jogador tem que entrar na “end zone” (espécie de grande área) do adversário com o domínio
da bola. Cada touchdown dá direito a outro(s) ponto(s): pode-se escolher entre um chute de 1 ponto (gol extra) ou uma nova
tentativa de jogada para a endzone, que vale 2 pontos. Normalmente os times escolhem a primeira opção (gol extra).
Field gol - Pontos através de um chute de qualquer lugar do campo que deve passar entre as “pernas” da trave invertida.Vale
3 pontos.
Gol extra - chute de um ponto
Safety. - Quando o dono da bola é “nocauteado” (tackled) dentro da sua própria endzone.Vale 2 pontos.
Os jogadores
O famoso Quarterback é o responsável pela tática (junto ou recebendo ordens direta do técnico) de cada down e de cada
avanço. Faz parte do time de ataque.
Cada time tem uma formação de ataque (11 jogadores) e uma de defesa (outros 11 jogadores), além de um time especial e
do chutador (kicker), que faz os field gols.