os problemas ambientais e seus desafios à humanidade

Transcrição

os problemas ambientais e seus desafios à humanidade
Organização
Maria Luisa Marigo
Leonora Arantes
2013
Volume V
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução
total ou em partes sem autorização prévia.
Índice
Apresentação ........................................................................................... 04
Dedicatória ............................................................................................... 05
Os Problemas Ambientais e Seus Desafios à Humanidade ................. 06
Professor Diogo Lamonica
Os Desafios da Alimentação: da Infância a Adolescência ................... 17
Professora Francielle P.da Silva
Química e os Sentido .............................................................................. 28
Professor Rodolfo Funfas
Desenvolvimento Infantil e Neuropsicologia ........................................ 35
Professora Isabela Dean Scolin
Basquetebol e Futebol ............................................................................ 48
Bem Estar do Idoso ................................................................................. 50
Professor José Eduardo Vicente
Cinema e Mitologia: Percy Jackson e o Mar de Monstros ..........................53
Professora Juliana Murari
Desenho, Arte, Criatividade e Processos de Criação ........................... 60
Professor Paulo Sergio Tio
Dna e Seus Mistérios – O Retorno .......................................................... 69
Professora Taciana Lopes Coppo
A Didática Musical no Ensino de Prática de Banda: Um Estudo de Caso
..................................................................................................................106
Professor Henrique Lima de Oliveira e Professor Tiago Jose Gonçalves
História das Mulheres: Possíveis Abordagens .................................... 113
Professora Vanessa Caroline da Cruz
Estações de Aptidão V
3
Apresentação
Com seres humanos temos muito a desvendar sobre
nós mesmos. Acreditamos que grandes descobertas ainda
estão por chegar. Outras já aconteceram e permeiam os nosso
dias auxiliando-nos na compreensão das capacidades física e
mental que estão em nós.
O Colégio Pontual transfere insformações e conhecimentos
para quem tem “pressa” de alcançar o melhor de si. Eis, aqui, a
função das Estações de Aptidão.
4
Estações de Aptidão V
Aos nossos alunos que, de
forma elegante e receptiva,
nos permitiram transferir o que
aprendemos com os nossos
mestres.
Professores das Estações de Aptidão
Estações de Aptidão V
5
Professor Diogo Lamonica
Graduado em Geografia – UEL.
Pós Graduado em Análise e Educação Ambiental
- UEL.
Professor de Geografia e Estudos Ambientais do
Colégio Pontual, no ensino fundamental e médio.
OS PROBLEMAS AMBIENTAIS E SEUS
DESAFIOS À HUMANIDADE
1 – PRIMEIROS MOMENTOS
“O homem vive da natureza - ou seja, a natureza é seu corpo
– e ele deve manter um diálogo contínuo com ela se não
quiser morrer. Dizer que a vida física e mental do homem está
ligada à natureza significa simplesmente que a natureza está
ligada a si mesma, pois o homem é parte da natureza” (Karl
Marx, séc. XIX).1
“Bradamos contra certos efeitos da exploração selvagem da
natureza, mas não falamos bastante da relação tecnicamente
findada, as forças mundiais que insistem em manter o mesmo
modelo de vida...” (Milton Santos, 1992).2
A história e evolução do homem sobre a Terra sempre
permitiu ao mesmo descobrir e redescobrir a natureza. As
descobertas e redescobertas, implicaram a natureza diferentes
significados e importâncias, que são de fato, a noção e
entendimento do homem sobre o mundo em que vive ou viveu.
Atualmente, acelerada pelo processo de mecanização e
tecnificação, presenciamos uma ruptura progressiva entre o
homem e seu meio, o que provoca um desencantamento pelo
mundo natural. Ora, se na antiguidade, entendíamos a natureza
como algo mítico, a quem venerávamos e temíamos, hoje,
1
2
Karl Marx. Economic and Philosophical Manuscripts, 1844.
Milton Santos. A redescoberta da natureza, 1992.
6
Estações de Aptidão V
na modernidade, imprimimos sobre ela a lógica dos recursos
naturais, transformando-a em mercadoria.
Num mundo assim feito, diante de nós, encontramos um
grande desafio, que também é uma grande empreita, o de
formar novos cidadãos, que tenham as capacidades cognitivas
para uma leitura do mundo de um ponto de vista ambiental, e
ou natural.
Em nossa leitura, a educação ambiental estimula no
sujeito a percepção dos danos causados ao meio ambiente,
devido às diversas ações humanas. Esse movimento conduz
o sujeito a uma reflexão sobre seu modo de vida e não
obstante, também desenvolve a percepção de que o homem
é pertencente à natureza, e que a realidade é o resultado das
interações naturais e humanas.
Procurando romper com o paradigma atual, nós, do
Colégio Pontual, localizado em Londrina-PR, introduzimos
em nosso cotidiano escolar a preocupação com educação e
conscientização ambiental em todos os níveis de ensino. Dessa
forma, trabalhando no espaço “Estações de Aptidão”3, realizado
nas dependências do colégio, nos foi dada a oportunidade de,
entre os anos de 2011 a 2013, executar o projeto: “Os problemas
ambientais e seus desafios à humanidade”.
Em nosso projeto, cientes de nossa responsabilidade e
missão enquanto escola e educadores, objetivamos a construção
de conhecimentos que forneceram aos alunos subsídios para
examinar, questionar e refletir sobre seu modo de vida. Esse
movimento cognitivo conduz o sujeito à formulação de uma
postura crítica, frente aos diversos problemas ambientais que
encontramos em nosso mundo.
Esse artigo tenta esboçar um pouco do que foi trabalhado
em nosso projeto.
Espaço destinado à realização de projetos pedagógicos com os alunos,
ministrados pelos professores da instituição. As Estações de Aptidão
ocorrem durante o horário normal de aulas, na sexta feira, da 11h00 as
12h00, a periodicidade de cada projeto é semestral.
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Estações de Aptidão V
7
2 – PROJETO EM AÇÃO
“Passou o inverno, passou o verão, veio outro inverno, e este
foi cheio de longas chuvas, mas o vento não deixou de correr
uma só noite”. (Jorge Amado, 1937)4
Nos três anos consecutivos em que o projeto foi ministrado,
obtivemos bons resultados. Devido à periodicidade semestral,
o projeto foi executado seis vezes, alcançando mais de cem
alunos.
Nesse ínterim, não trabalhamos com os alunos apenas
temas e atividades que pudessem sensibilizá-los, mas
também, enchê-los de conhecimento e senso crítico. O exame
das questões ambientais não se trata apenas de evidenciar
nossos laços eternos com a natureza, e nem somente debater
problemas como o aquecimento global ou a escassez de água
no mundo, mas também mostrar quão difusos podem ser os
interesses sobre essas questões.
Dado o grande desafio e a abrangência do título do projeto
“Os problemas ambientais e seus desafios à humanidade”,
a saída teórico metodológica para trabalhar as questões
ambientais, em nosso caso, foi o bom uso da escala geográfica
e a escolha dos temas apresentados.
Devido à nossa experiência no trato da educação
ambiental, procuramos trabalhar com nossos alunos questões
que inferissem em sua vida cotidiana, nas escalas globais
regionais e locais. Essa aproximação os envolveu diretamente
nos assuntos estudados, aumentando o resultado do processo
de aprendizado.
Nos subtítulos que seguirão, estão à mostra algumas das
atividades que trabalhamos com nossos alunos no decorrer do
projeto.
4
Jorge Amado. Capitães da areia, 1937.
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Estações de Aptidão V
2.1 – A EMERGÊNCIA DAS QUESTÕES AMBIENTAIS
O ambientalismo engajado, de cunho crítico, remonta as
últimas décadas do século XX e início do século XXI. Em seus
argumentos, estavam o caos e a completa deterioração da
qualidade de vida que, pela primeira vez, na história, puderam
ser comprovados.
Apoiados nas revoluções tecnológicas e científicas, os
ambientalistas puderam juntar provas suficientes de que seus
argumentos eram verdadeiros. Como resultado, comprovou-se
não somente o dano ambiental que nosso modo de vida estava
causando, mas também o quão grandioso era esse dano.
Nesse movimento nos anos 70 e 80, após a publicação de
estudos e relatórios5, as questões ambientais tornaram-se pauta
da política internacional, com a realização de conferências6
que, marcadamente, servem de horizonte para a promulgação
de tratados internacionais sobre o meio ambiente.
É sobre essa ótica que encontramos o desenvolvimento
da legislação ambiental brasileira, que visa à preservação e
conservação de nosso meio ambiente e recursos naturais.
2.2 – CRÍTICA À SOCIEDADE DE CONSUMO
A sociedade contemporânea tem nos mostrado que o
consumismo desenfreado tem provocado grandes danos ao
planeta e a nós mesmos. Os países industrializados, para
manter o sistema capitalista em curso, implantam a política do
consumo, através de métodos exploratórios e midiáticos.
Relatório Brundtland, nosso futuro comum. Publicado em 1987 é um ícone do
ambientalismo engajado. Pela primeira vez na história um documento publicado
pela ONU trabalhava as questões ambientais.
6
Conferencia de Estocolmo 1972. Sob tutela da ONU, primeira atitude mundial em
tentar organizar as relações entre o homem e meio ambiente. ECO 92, Rio de Janeiro.
Marco ambiental mundial, onde foi desenvolvido o conceito de desenvolvimento
sustentável, bem como as políticas da agenda 21.
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Estações de Aptidão V
9
Para iniciar o debate entre nossos alunos, primeiramente
apresentamos o documentário The Story of Stuff (2010) que
faz uma crítica à sociedade de consumo norte americana. Esse
documentário evidencia que o processo linear de extração
de matéria prima, industrialização e transformação, consumo
e descarte de mercadorias simplesmente é insustentável, e
colocou o homem em rota de colisão com a natureza.
Figura 1 – Documentário The Story of Stuff, 2010.
Municiados da crítica examinada no documentário, os
alunos são convidados a fazer uma reflexão sobre seu modo
de vida, debatendo sobre a frequência, quantidade e utilidade
dos produtos que consomem. Posteriormente, fechando a
discussão, os alunos devem interpretar alguns trabalhos
selecionados do artista plástico inglês Banksy.
Figuras 2 e 3. Obras sem títulos, autor Banksy. Fonte: Google imagens,
2014.
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Estações de Aptidão V
Figuras 4 e 5. Obras sem títulos, autor Banksy. Fonte: Google imagens,
2014.
O artista selecionado, Banksy, não expõe suas obras
em galerias. As imagens selecionadas, disponíveis no Google
imagens, são geralmente grafites encontradas nos muros de
muitas das cidades do mundo. As obras desse artista de rua têm
como objetivo fazer uma dura crítica à sociedade de consumo.
2.3 – RAPA NUI E AS LIÇÕES DA ILHA DE PÁSCOA
A história da Ilha de Páscoa não é a de civilizações
perdidas e conhecimentos esotéricos. Pelo contrário, é um
exemplo admirável da dependência das sociedades humanas
a seu meio ambiente e das consequências causadas pela
destruição irreversível desse meio ambiente.
A Ilha de Páscoa está localizada no oceano Pacífico, a
1300 km do Chile. Ela foi inicialmente ocupada por povos da
Indonésia, por volta do século V, que lá chegaram navegando.
Nela, desenvolveu-se uma complexa e avançada civilização,
com uma organização social e política envolta na adoração de
seus deuses e na construção dos moais.
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Figuras 5 e 6 – Moais da Ilha de Páscoa. Fonte: Google imagens, 2014.
Os moais são gigantescas estátuas feitas de rocha
basáltica, que estão distribuídos ao redor da ilha. Eles eram
talhados nas encostas dos vulcões inativos e transportados
por força humana. Para facilitar o transporte das estátuas que
pesavam cada uma mais de 10 toneladas, era utilizado um
sistema de rolagem com toras de madeira.
Figuras 7 e 8 – Moai ainda preso a rocha. Cenas do filme Rapa Niu, de
1994. Podemos observar o sistema de rolagem com troncos que facilitava
o transporte das gigantescas estátuas.
A história da civilização que habitou durante 300 anos a
Ilha de Páscoa nos foi contada pelo mundialmente famoso longa
metragem Rapa Nui, de 1994. Nesse filme podemos entender
como a construção e transporte dos moais levou a ilha a exaurir
completamente seus recursos naturais.
Com o uso intensivo da madeira para o transporte das
estátuas, ao longo de três séculos, todas as árvores e coqueiros
da ilha se esgotaram. Como consequência, desenvolveu-se
o processo de erosão e lixiviação do solo, o que inviabilizou
12
Estações de Aptidão V
a agricultura. Outro fato acarretado pelo desmatamento foi a
escassez de água potável, pois sem a interceptação da água
da chuva, a infiltração da água no solo diminuiu, secando os
aquíferos e nascentes.
Quando os europeus chegaram à Ilha de Páscoa, por volta
de 1750, encontraram apenas cerca de 300 nativos, num espaço
que chegou a abrigar 7000. Eles viviam em modos de vida
primitivos, moravam em cavernas e eram subnutridos. Muitos
se alimentavam de gaivotas e em outros casos, praticavam o
canibalismo.
2.4 – ESTUDO DOS FENÔMENOS NATURAIS EM TRABALHO
DE CAMPO
“Em todas as coisas naturais há algo maravilhoso”, (Aristóteles,
século IV a.C.)7.
Como parte dos trabalhos de senbilização da natureza,
estudamos com os alunos alguns dos processos de formação
do relevo e solo. Nosso objetivo foi o de utilizar esses processos
naturais para uma visão contemplativa, demonstrando como a
natureza em seu bojo é feita de etapas e ciclos complexos, mas
que combinados entre si nos dão um resultado maravilhoso.
Figuras 9 e 10 – Trabalho de campo. Nascente do córrego Água Fresca,
turmas: primeiro semestre de 2011 e segundo semestre de 2012.
Aristóteles, séculol IV a.C. “The Complete Woks of Aristotle”. Princeton
University Press, vol.2, p. 86, 1984.
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Estações de Aptidão V
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Figuras 11 e 12 – Trabalho de campo. Nascente do córrego Água Fresca,
turmas: Segundo semestre de 2012 e segundo semestre de 2013.
A contemplação dos fenômenos naturais em trabalhos
de campo é importante para romper com o movimento
de distanciamento da natureza, presente na sociedade
contemporânea. Em um mundo cada vez mais tecnológico, a
sensibilização dos fenômenos naturais nunca foi tão importante.
2.5 – NEM TUDO O QUE RELUZ É VERDE
A questão ambiental nunca esteve tão presente em
nosso cotidiano quanto hoje. Pauta da política internacional
e motivo para promulgação de códigos e leis, caminhamos
aceleradamente para a formação de uma sociedade guiada,
por força do meio político, econômico e midiático, em prol da
preservação do meio ambiente.
Nesse bojo, muito dos argumentos defendidos pelos
ambientalistas, como o a degradação ambiental causada
pela hegemonia mundial do modo de produção capitalista,
foram esquecidos. O discurso do ambientalismo crítico foi
deixado de lado e substituído por um discurso economicista
e desenvolvimentista, como o presente no debate sobre os
créditos de carbono.
Em meio a esse período sombrio, diferentes estratos
sociais encontraram um novo campo para buscar a atuação e
legitimação de seu poder. (É o que afirma o sociólogo português
Boa Ventura de Souza Santos, em artigo publicado em jornal
14
Estações de Aptidão V
de grande circulação no Brasil em 20078, quando cita o grande
engajamento de políticos, empresas, ONGs e da mídia nas
questões ambientais).
Em meio a esse universo, as questões ambientais
tornaram-se mais um aspecto da lógica de produção e
reprodução do capitalismo e da lógica social do poder. O lobby
feito no meio político pelas ecotransnacionais e pelo setor
dos agrocombustíveis distorce a noção de desenvolvimento
sustentável a seu favor. Ora se para essas indústrias a
sustentabilidade econômica não depende justamente
da manutenção da crise ambiental, em passo que os
agrocombustíveis avançam em direção à Amazônia.
Outro aspecto a ser levantado é o triunfo da apresentação
sobre a significação presente no discurso midiático. Esse
discurso, no trato das questões ambientais, ensombreia o
entendimento, exagerando certos fatos em detrimento de
outros. O alarmismo, facilitador da reprodução das notícias,
não faz a devida crítica ao sistema em curso, causador dos
desastres e nem conduz à reflexão sobre as reais origens dos
problemas ambientais.
3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos aspectos mais difíceis de trabalhar na educação
ambiental são as várias facetas que essa possui. Do referencial
teórico ao conhecimento prático à senbilização da natureza, a
educação ambiental apresenta-se de formas diferentes.
Em nosso projeto, ao longo de três anos, procuramos
cobrir os aspectos que considerávamos mais importantes da
educação ambiental. Dessa forma, caminhamos com nossos
alunos em direção à formulação de uma crítica geral a nosso
modo de vida e também, a contemplação da natureza e dos
fenômenos naturais.
Boa Ventura de Souza Santos. Nem tudo o que reluz é verde. Folha de São
Paulo, Caderno Opinião, 12/11/2007.
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Estações de Aptidão V
15
É necessário desenvolver um sentimento de pertencimento
profundo à natureza em nossos alunos, mas tal sentimento passa
pelo processo de admiração e contemplação dessa natureza.
Esse elo cognitivo é um começo para o reconhecimento do
homem como um ser natural, pertencente a esse sistema
complexo, mas maravilhoso.
Nesse artigo, procuramos transcrever em palavras um
pouco de nossa experiência e didática envolvida no trato da
educação ambiental. Vimos que educar jovens tão presos ao
mundo virtual e tecnológico aos preceitos ambientais é uma
tarefa árdua, mas extremamente necessária.
O desenvolvimento de cidadãos responsáveis, críticos
e sensíveis as causas ambientais é o novo desafio de nosso
mundo e, devido a esse fato, afirmamos aqui que nunca se
precisou tanto do professor e da escola.
Sentimo-nos honrados por fazer parte desse novo
movimento da educação e, desde já, agradecemos ao empenho
de nossos alunos e suporte dado por nossa instituição, Colégio
Pontual, pois sem vocês a execução e sucesso desse projeto
seria impossível.
4 - REFERÊNCIAS
Comissão mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento.
Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Editora da Fundação
Getúlio Vargas, 1991, 2ª ed.
MENDONÇA, Francisco de Assis. Geografia e meio ambiente.
São Paulo, Contexto, 1993.
MOREIRA, Ruy. O discurso do avesso. 2ed. Rio de Janeiro:
Dois Pontos Editora Ltda., 1988.
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Estações de Aptidão V
Professora Francielle P.da Silva
Licenciada em Ciências Biológicas pelo Instituto
Filadélfia de Londrina. Especialização em Gestão
e Educação Ambiental pela Esap. Professora da
rede particular de ensino na cidade de LondrinaPr.
OS DESAFIOS DA ALIMENTAÇÃO: DA
INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA
Os transtornos alimentares (TA) são cada vez mais foco da
atenção dos profissionais da área da saúde por apresentarem
significativos graus de morbidade e mortalidade. Tais aspectos
vêm impulsionando a multiplicação de estudos epidemiológicos
e de acompanhamento para observar a evolução das doenças
alimentares ao longo do tempo, bem como seus fatores.
Transtornos alimentares são doenças caracterizadas
por graves alterações do comportamento alimentar, podendo
originar prejuízos biológicos e psicológicos, sendo os principais:
Anorexia, Bulimia Nervosa, e Obesidade. (BORGES et al. 2006)
Appolinário & Claudino (2000), descreve o os transtornos
alimentares como:
“(...) síndromes psicossomáticas, cuja etiologia envolve um
modelo multifatorial no qual estão envolvidos fatores genéticos,
socioculturais, familiares e psicológicos que explicam sua
origem e manutenção”.
Segundo Botelho et. al.(2007) seja por questões
psicológicas, genéticas, culturais ou familiares, os distúrbios
alimentares são quadros clínicos relacionados à modernidade e
às exigências ou não do mundo globalizado. Estas mudanças,
que ocorrem desde a infância, podem resultar em conflitos
emocionais frente às novas descobertas.
Estações de Aptidão V
17
Os primeiros registros de transtornos alimentares surgiram
na idade média, com práticas de jejuns realizadas para
obtenção de milagres ou expulsão de entidades demoníacas.
Este comportamento era comum entre religiosas italianas, e
eram muitas vezes submetidas a estas práticas, como forma de
punição física relacionadas a sensações corporais (cansaço,
impulso sexual, e dores), chamando esta abstinência alimentar
de “anorexia sagrada” . Um dos casos mais conhecidos é da
Santa Catarina de Siena que, aos 15 anos, perdeu sua irmã, e à
frente de projetos de casamento, iniciou restrições alimentares
e práticas de autoflagelamento, a fim de ser liberada das
diversas propostas de casamentos futuros. Anos mais tarde,
veio a falecer por motivos relacionados à anorexia.
Ao contrário do que acontecia na Idade Média, nos dias
de hoje diversos são os fatores que levam mulheres ou homens
a desenvolverem TA, assim como relata diversos autores na
literatura.
Martins et al. (2009), relata que um destes fatores é:
“(...) a influência da mídia pode causar situações que levam
as jovens a sofrerem Bullyings, gerando conflitos internos e
insatisfação com o próprio corpo, a pessoa se vê de uma forma
distorcida podendo influenciar o surgimento de dietas radicais
e aparecimento de sintomas de transtornos como anorexia e
bulimia nervosa”.
Outro fator desencadeador dos problemas relacionados
à alimentação é o sedentarismo, uma característica do mundo
moderno. Meios de transporte cada vez mais acessíveis,
telefones celulares, controles remotos, entre outros, permitem
ao homem desenvolver ações com um gasto energético muito
menor comparado ao período anterior a essas inovações.
Além dessa inércia física, o estresse do dia a dia nos
impõe hábitos alimentares pouco saudáveis, principalmente
com o apelo da mídia ao chamado “fast food”.
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Estações de Aptidão V
Esse desequilíbrio energético, entre o que se ingere de
alimentos e o que se consome, entre outras causas, tem como
consequência, por exemplo, à obesidade.
Outro principal transtorno alimentar é a bulimia, quadro
clinico antes da anorexia nervosa, caracteriza-se por não se
restringir à alimentação, mas utiliza-se de métodos purgativos
ou indução do vômito ao final das refeições. Na anorexia
nervosa, a perda de peso é intensa, com o uso de dietas rígidas,
ou abstinência da alimentação regular. Seja a bulimia ou a
anorexia observa-se um quadro em busca do perfeccionismo,
evidenciando insatisfação com os seus corpos e, nestes casos,
se sentem obesas apesar de se encontrarem magras. Considerase esse fato uma alteração da sua percepção corporal. O medo
de engordar é uma característica permanente nessas pacientes
que passam a viver exclusivamente em função de dietas, da
comida, do peso e da forma corporal
O projeto objetivou que o aluno adquirisse conhecimento
teórico cientifico das ações de uma alimentação irregular,
resultando em distúrbios alimentares graves, como a bulimia,
anorexia, obesidade, analisando os fatores que levam o ser
humano a apresentar distúrbios alimentares e reconhecendo a
importância de uma boa alimentação.
Metodologia
A forma em que os alunos trabalharam para atingir
os objetivos propostos ao longo do ano foi peculiar a cada
semestre.
No primeiro semestre de 2013, o grupo do projeto era
composto, em sua maioria, por alunos do ensino médio, o que
fez com que a pesquisa, produção, interpretação, e debates
sobre os textos apresentados fossem cada vez mais complexas.
Os alunos foram divididos em grupos, os quais pesquisaram
conceitos em geral, dados estatísticos sobre a mortalidade
infantil em relação à obesidade e anorexia, consequências
sobre a péssima alimentação na infância que os brasileiros
Estações de Aptidão V
19
apresentam, causa e consequência da anorexia e bulimia entre
adolescentes, e como a mídia é percursora e incentivadora do
aumento de distúrbios alimentares. Ao final da pesquisa, cada
grupo teve o tempo de 45 minutos para apresentar em forma
de seminários os dados coletados a todos os alunos do projeto.
A partir destas informações teóricas obtidas, pontuamos
algumas questões relevantes para os debates, como:
1. O que é o distúrbio alimentar? Quais os fatores que
envolvem este tema?
2. Como a alimentação na infância pode interferir na
adolescência?
3. O que a mídia faz para atrair os consumidores mais
jovens?
4. Qual o grande problema dos “fast food” na alimentação
cotidiana?
5. Como pode-se incentivar uma boa alimentação?
6. A população sabe se alimentar direito? Como a
correria do dia a dia está influenciando na alimentação
do brasileiro?
7. Por que um dos países mais ricos e globalizados,
apresenta uma população com níveis de obesidade
altíssimos?
Os próprios alunos conduziram os debates, o que foi
enriquecedor para todo o grupo do projeto, pois a partir deste
ponto, observamos maturidade nas discussões dando ao
colega a oportunidade de discordar das opiniões citadas. Ficou
claro observar o poder de argumentação dos alunos diante de
um debate.
Logo ao final dos debates, houve a apresentação da
Mostra das Estações de Aptidão. Todos os alunos do projeto
se empenharam muito para este evento, pois através dele
puderam transmitir o conteúdo obtido, e até mesmo levantar
questionamentos e informações sobre como anda a alimentação
da comunidade escolar.
20
Estações de Aptidão V
A fim de despertar no aluno a iniciativa de ser questionador
e pesquisador, de forma a transmitir o conhecimento obtido
aos demais, os alunos foram a campo, onde entrevistaram a
população presente na Feira Livre da rua Santos e os próprios
feirantes
Após a pesquisa de campo, produziram textos, nos quais
concretizaram suas opiniões.
Fig. 1: Alunos integrantes do projeto no 1 semestre de 2013, em aula de
campo. Feira livre na Rua Santos.
Fig. 2: Aplicação de questionário com feirantes e com a população. Feira
Livre na Rua Santos.
Estações de Aptidão V
21
No segundo semestre, o projeto era composto em sua
maioria por alunos do ensino fundamental 2, o que permitiu a
mudança no rumo da pesquisa. Os alunos deram continuidade
à pesquisa iniciada no primeiro semestre, porém o foco desta se
baseou nos distúrbios alimentares na infância, principalmente
a Obesidade. Sendo assim, assistimos a dois documentários
fundamentais para o enriquecimento da pesquisa: Super
Size: “A dieta do palhaço”, o qual retratou os resultados de
uma alimentação de 30 dias à base de fast food e “Famintos
por Mudança”, que retrata a condição de alimentação da
criança brasileira, e como esta alimentação irregular conduz
à obesidade infantil. Foram, então, realizados novos debates,
e seminários com o objetivo de os alunos apresentarem suas
opiniões e soluções para este problema mundial.
Ao final do semestre, houve a visita ao Mc Donald’s onde
foi exposto como é realizado o trabalho de marketing para atrair
novos e jovens consumidores de “fast food” , e como tiveram de
adaptar-se às normas da Organização Mundial de Saúde(OMS),
a fim de não ser objeto indutor de uma alimentação irregular.
Fig. 3: Alunos integrantes do projeto no 2 semestre. Aula a Campo: Mc
Donald´s
22
Estações de Aptidão V
Fig.4: Alunos realizando pesquisa na hora do almoço e o estabelecimento
“fast food” cheio de consumidores.
Para conclusão do trabalho, ao final de cada semestre,
os alunos apresentaram seus conhecimentos para uma banca,
compostas por três professores que avaliaram e muito mais
puderam transmitir o conhecimento obtido.
Resultados
Os dados coletados, durante a execução do projeto, foram
relevantes para os dois grupos de alunos, tanto do primeiro
quanto do segundo semestre. Os alunos do primeiro semestre
puderam perceber que indivíduos com distúrbios alimentares
apresentam uma percepção corporal errônea e, normalmente,
não se veem como realmente se apresentam. A maioria de
casos relacionados à bulimia ou à anorexia está sujeito às
mulheres entre 12 a 23 anos. Outra característica encontrada é
que em todos os transtornos alimentares, ocorre a dificuldade
em aceitação ao tratamento do distúrbio, o que dificulta a
minimização deste problema. O corpo e a imagem corporal
são elementos principais, devido a distúrbios na habilidade de
reconhecer o que realmente se vê.
A bulimia e anorexia são recorrentes no mundo da moda,
e vemos que, cada vez mais, a mídia interfere e apresenta a
imagem corporal que todas modelos, ou não, devem apresentar.
Estações de Aptidão V
23
Nas pesquisas realizadas em aula campo na feira livre da
Rua Santos- Londrina/PR, obtivemos que 70% dos feirantes
não sabem a importância de um alimento ou outro para saúde
humana e que, de forma geral, obtêm informações apenas
superficiais. Outro ponto observado é que 100% acreditam que
uma alimentação saudável deve ser valorizada e iniciada dentro
das escolas, evitando a venda de produtos industrializados,
refrigerantes, lanches ou salgados, para que a criança desde
cedo, perceba os benefícios dos cuidados com a saúde a longo
prazo. Segundo os feirantes, a maioria dos consumidores
procura por verduras e frutas, sem muitas vezes se importar
com os alimentos compostos de proteínas e carboidratos, ou
seja, acreditam que comendo apenas vegetais e frutas estão
realizando uma alimentação saudável.
Durantes as pesquisas, vimos as mais diversas dietas
realizadas pelas mulheres, e notou-se que 98% não apresentam
em suas indicações de alimentos todos os nutrientes necessários
ao corpo, ou seja, a grande maioria induz a ingestão de apenas
fibras e proteínas, sem a presença dos carboidratos, elemento
responsável por fornecer energia ao corpo.
Outro resultado encontrado foi relacionado à obesidade
no Brasil, que apresenta dados alarmantes. Em um dos
documentários assistidos (“Famintos por Mudança”) vimos que
em vilarejos na Amazônia não chegam alimentos saudáveis
(verduras, frutas), contudo, toda semana, um barco leva a este
vilarejo, refrigerantes, salgadinhos, biscoitos e chocolates.
De acordo com a pesquisa realizada com a população local,
vimos que as crianças do vilarejo não sabem ou nunca viram
determinados frutos ou verduras, e se chocaram quando foi
apresentado a eles, a quantidade de gordura e açúcar presentes
em um pacote de biscoito recheado.
Em aula a campo ao Mc Donald´s, observamos a
estratégia de marketing utilizado por uma das maiores redes
de “fast food”. Ficou evidente que as estratégias são inúmeras,
como caixinhas coloridas, que dão a ideia de que é divertido
se alimentar destes produtos, promoções diversas, brinquedos
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Estações de Aptidão V
e embalagens exclusivas às crianças, enfim, uma infinidade
de cores e brinquedos que induzem a população a acreditar
que não haveria mal algum em se alimentar de produtos Mc
Donald´s.
Conclusão
Ao longo de muitas etapas, várias conclusões foram
citadas pelos alunos. Abaixo destacamos algumas:
“...a anorexia, bulimia, ou obesidade são casos de saúde
pública...”
Matheus França
“...é revoltante saber que mais da metade da população
brasileira já ingeriu coca-cola ou outro qualquer refrigerante
com menos de 1 ano de idade...”
Victória Silva
“...todas as redes de “fast food” deveriam ser mais conscientes
e inteligentes para fazer propagandas, e não apelarem nas
promoções e desenhos para adquirir novos e pequenos
consumidores ”
José Augusto D. Diamante
“Só podemos acabar com a obesidade infantil se forem criadas
maneiras de diminuir os preços dos produtos orgânicos,
integrais( produtos que favorecem a saúde), e aumentar o
preço de produtos industrializados que induzem a uma péssima
alimentação...”
Maria V. Dia Diamante
“...lamentável observar que a população brasileira não se
preocupa em ter uma boa alimentação, não se dando contas
dos riscos de saúde evidentes...”
Gabriela Pires
Estações de Aptidão V
25
Conclui-se que a obesidade é, hoje, uma das principais
causas do aumento do número de mortalidade no Brasil, sendo
as redes de “fast food” e a mídia as principais indutoras desta
falta de alimentação regular e saudável. A obesidade infantil
está cada vez mais evidente, e os problemas como pressão
alta, diabetes, e problemas relacionados à estrutura óssea
são recorrentes, o que, muitas vezes, são apresentados
durante toda a vida do indivíduo. È necessário programas
de valorização de uma boa alimentação, principalmente nas
escolas, pois hábitos saudáveis são levados durante toda vida,
ou seja, é fundamental que a criança perceba a importância
de se alimentar corretamente, a fim de ter uma saúde em
equilíbrio. Conclui-se, também, que se uma educação alimentar
de qualidade for ensinada desde a infância, não só problemas
com a obesidade serão reduzidos, como também a bulimia
e anorexia. A distorção da imagem corporal é, sem dúvida, o
principal fator para indução de outros transtornos alimentares,
porém vale lembrar que fatores não apenas psicológicos estão
envolvidos.
26
Estações de Aptidão V
Referências
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Rev Bras Psiquiatr, v.22, n.2, 2000.
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São Paulo 2007. Disponível em:< http//pepsic.bvsalud.org/
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publicidade dirigida as crianças no Brasil. Site: www.alana.org.
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sintomas de anorexia e bulimia em adolescentes. Disponível
em: <http:// WWW.scielo.br/pdf/rprs/v32n1/v32n1a04pdf>.
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Classificação de transtornos mentais e de comportamento da
CID-10. Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto
Alegre: Artes Médicas; 1993. p. 351.
Estações de Aptidão V
27
Professor Rodolfo Funfas
Graduando em Química. Sempre apaixonado
por ciências cursou Física por dois anos, na
Universidade Estadual de Londrina, onde foi
apresentado a Química; curso que o encantou
e começou a estudar, na mesma universidade.
Hoje, leciona a matéria, de Química, com intuito
de apresentar aos alunos conhecimentos sobre o
mundo que os cercam, sempre utilizando temas
relacionados com o cuidado ambiental e pessoal.
QUÍMICA E OS SENTIDOS
“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz
parte do processo da busca. E ensinar e aprender não podem
dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.”
Paulo Freire
Partilhando do pensar de Paulo Freire, resolvemos
apresentar a Química de uma maneira diferente, mais
interessante, mais profunda e muito mais lúdica, em dois
momentos diferentes, trabalhando com alunos de diferentes
séries (do 6º ano do fundamental à 2ª série do colegial) conceitos
químicos, a dinâmica e rotina de um laboratório e a amizade.
Interessante observar uma vez que as experiências
realizadas nas aulas, de alguma maneira, estimulavam os
sentidos, daí o nome do projeto do primeiro semestre “Reações
e os sentidos”. Profunda porque todas as experiências foram
explicadas, tanto quanto a sua realização como ensinando as
teorias que se aplicavam aos fenômenos observados. Lúdicas
pois o objetivo era se divertir com as experiências, e desta
forma, deixei a cargo dos alunos escolherem os nome para
as experiências que eram realizadas, é com estes nomes que
apresento as atividades.
28
Estações de Aptidão V
O título do projeto, no primeiro semestre, foi “Reações
e os sentidos”, fazendo referência às reações químicas e aos
cinco sentidos: tato, visão, paladar, olfato e audição (Figura 1).
Nas primeiras aulas, os alunos foram divididos em
5 grupos, e cada um escolheu um dos sentidos, sendo eles
responsáveis por apresentar como os sentidos funcionam, como
eles são estimulados e uma atividade que pudesse enganar os
sentidos.
Figura 1: Os sentidos, os órgãos e região responsável no cérebro
Após conhecerem todos os sentidos, começamos
as realizações de experimentos que estimulassem esses
sentidos ou não, como por exemplo, “A bala sem sabor”. Neste
experimento, os alunos aprenderam sobre as substâncias
chamadas flavorizantes e aromatizantes (substâncias artificiais,
responsáveis pelos sabores e aromas dos alimentos).A
experiência consiste em colocar uma bala de fruta, sem saber
o sabor, na boca, com o nariz tampado e dizer qual o sabor.
O que ocorre, nesse caso, é que a substância responsável
pelo sabor da bala, na verdade, é um estimulante do olfato e
não do paladar, assim sendo não é possível determinar o sabor
sem cheirar a bala.
Outro experimento que empolgou os alunos foi a “Pasta de
dentes de elefantes”. Uma experiência expansiva que além de
Estações de Aptidão V
29
envolver cores há liberação de calor, devido à reação catalisada
de decomposição do peróxido de hidrogênio (água oxigenada)
que libera gás oxigênio e, junto com detergente, produz uma
espuma espessa com consistência de creme dental (Figura 2).
Figura 2: Espuma produzida na decomposição catalisada de peróxido de
hidrogênio na presença de detergente.
A experiência intitulada “Psy Milk” serviu para demonstrar
as interações intermoleculares, responsáveis, por exemplo,
pelo elevado ponto de ebulição da água, e como o detergente
atua na quebra dessas interações forçando as moléculas se
locomoverem pela solução movimentando também as gotas de
corantes (Figura 3).
Figura 3: Espalhamento das cores devido à quebra das interações intermoleculares do leite causada pela adição de detergente no leite.
Em três ocasiões, os produtos dos experimentos puderam
ser levados pelos alunos para casa ou utilizados em trotes com
os amigos.
O primeiro deles foi chamado de “Sangue do diabo”, que
consiste em utilizar um indicador ácido-base (fenolftaleína) em
um limpador multi uso, de características alcalinas, fazendo
com que a mistura fique vermelha. Esta mistura colocada em
30
Estações de Aptidão V
um frasco propelente (Figura 4), quando acionado, liberava o
líquido vermelho que, momentaneamente, mancha a roupa.
Como o limpador multi uso é volátil a mancha diminui até sumir
completamente.
Figura 4: Mistura preparada pelos alunos para aplicar trote nos amigos.
Em seguida, fizemos um experimento para constatar a
diferença de densidade de líquidos imiscíveis (água e óleo),
porém na forma de um vintage que foi chamado de “Abajur de
lava”. Neste experimento, os alunos coloriram certa quantidade
de óleo com tinta óleo e colocaram em uma garrafa de vidro
na qual foi adicionado uma solução de água e álcool menos
densa do que a mistura óleo e tinta. Desta forma, o óleo ficou
depositado no fundo do recipiente. Ao ser aquecido, por uma
lâmpada incandescente, o óleo se expande, diminuindo sua
densidade, e se desloca para parte superior da garrafa onde,
trocando calor com o meio, fica frio, se contrai, aumenta a
densidade e se move para baixo novamente (Figura 5).
Figura 5: Abajur de lava feito com óleo, tinta óleo, água e álcool.
Estações de Aptidão V
31
E o terceiro foi a “Chuva de ouro”. A reação do iodeto
de potássio com o cloreto de chumbo produz um sal amarelo
e insolúvel em água à temperatura ambiente, porém quando
aquecido se solubiliza facilmente e, quando essa solução
aquecida é resfriada, ela forma cristais dourados que ficam
dispersos pela solução como partículas de ouro (Figura 6).
Figura 6: Reação com iodeto de potássio e cloreto de chumbo antes
(esquerda) e depois (direita) aquecimento com posterior resfriamento.
Para o segundo semestre continuamos o foco nos três
pontos destacados no começo do artigo (mais interessante,
mais profunda e mais lúdica), porém alterando o nome do
projeto para “O sentido das reações”.
Utilizando reações mais elaboradas e técnicas, pode-se
mostrar a existência de química em reações do cotidiano como
o processo mais utilizado para adquirimos energia térmica, a
combustão. Com esta temática realizamos dois experimentos:
a “Bolha de fogo” e a “Queima da vela” (Figura 7).
Figura 7: Aluno queimando a “bolha de fogo” e a vela queimando em
recipiente fechado consumindo o oxigênio.
32
Estações de Aptidão V
Na realização destes experimentos, focou-se o cuidado
que as crianças devem ter quando lidar com fogo, quais são as
três necessidades para haver a combustão e os conceitos de
consumo e produção de substâncias.
Além deste, realizou-se a galvanização de objetos de
metais com cobre, processo utilizado para evitar que objetos de
metais sofram oxidação e estraguem. Para este experimento,
escolheu-se o nome “Tinta de moeda”, uma vez que a fonte
de cobre, para o experimento, foram moedas de R$ 0,05.
Nesta reação, o cobre da moeda é retirado por um processo de
oxidação e depositado em outro por redução (Figura 8).
Figura 8: Reação de galvanoplastia.
Ao final de cada semestre, durante as apresentações das
bancas, notou-se quanto os alunos aproveitaram o projeto.
Alunos muito jovens do 6º ano falavam com propriedade e
segurança o que se passava, e ainda alunos da 2ª série do
colegial demonstravam o quanto estavam felizes por terem
participado do projeto. A diferença etária se mostrou um
fator agregador, uma vez que o diálogo entre os alunos e a
transferência de conhecimento foram características marcante
nos dois semestres.
Estações de Aptidão V
33
Referências
ATKINS, Peter, LORETTA, Jones; Princípios de Química,
Questionando a vida moderna e o meio ambiente, Porto Alegre:
Bookman, 2001.
MATEUS, Alfredo Luis; Química na cabeça;Belo Horizonte:
UFMG, 2008.
Imagens:
Figuras 2, 4, 6 (direita) e 8: acervo pessoal
Figura 1: http://www.afh.bio.br/sentidos/sentidos1.asp
Figura 3: http://socapimcanelas.com.br/videos/page/5
Figura 5: http://www.manualdomundo.com.br/2011/06/a-quaselampada-de-lava/
Figura 6 (esquerda): http://bloguedaritaa.blogspot.com.br/
34
Estações de Aptidão V
Professora Isabela Dean Scolin
Psicóloga formada no Centro Universitário
Filadélfia UNIFIL com Ênfase em Saúde e
Qualidade de Vida. Pós graduada em Psicanálise:
Curso Fundamental de Freud a Lacan, no
Inbrape. Formadora em Orientação Profissional,
pelo Portal Vocacional, Psicologa Hospitalar, pelo
Serviço de Psicologia do Hospital Universitário da
Universidade Estadual de Londrina e Especialista
em Neuropsicologia pelo EPSIC/USP, com
formação em Dez/2014.
DESENVOLVIMENTO INFANTIL E
NEUROPSICOLOGIA
Desenvolvimento infantil é o “processo que se inicia desde
a vida intrauterina e envolve múltiplas aquisições, tais como o
crescimento físico, maturação neurológica e a construção de
habilidades relacionadas ao comportamento, as habilidades
cognitiva, social e afetiva da criança” (Sigolo e Aiello, 2011). “É
o resultado da interação entre fatores genéticos, biológicos e
ambientais”. (Brito et al., 2011)
Estes fatores pela criança e suas interações devem
estar sempre em observação pelos que acompanham o
desenvolvimento, para que sejam estimuladas de forma
adequada e adaptada em cada fase vivenciada. A ausência
de estímulos e/ou a ausência de percepções de dificuldades
e atrasos apresentadas influenciam o desenvolvimento a curto
e longo prazo, em específico, os fatores biológicos, os quais
interferem na formação e maturação dos diversos sistemas do
ser humano.
Intervir no momento adequado, tanto em ambiente
domiciliar como em ambiente escolar, em cada fase do ciclo
de vida da criança, poderá definir diferentes competências por
Estações de Aptidão V
35
toda a vida. Por isso, tamanha preocupação com a atenção e
compreensão, por parte de pais/cuidadores e professores, das
etapas em que ocorrem o desenvolvimento.
Para Dworkin (1989), a vigilância do desenvolvimento é
um processo contínuo e flexível realizado por profissio¬nais e
destinado à promoção do desenvolvimento infantil e à detecção
de problemas durante os cuidados primários à saúde da criança.
Os componentes da vigilância do desenvolvimento incluem
eliciar e atentar para as preocupações dos pais sobre seus filhos,
obter uma história relevante sobre o desenvolvimento, realizar
observações precisas e informativas da criança e compartilhar
opiniões e interesses sobre a criança com outros profissionais.
Resegue Silva (2004) complementa ao dizer que a identificação
e a inter¬venção precoces são fundamentais, pois auxiliam no
prognóstico dos indivíduos, sendo indispensável avaliação em
toda consulta pediátrica, nas escolas e na própria casa pelos
pais.
Para auxiliar, são possíveis algumas formas na
identificação precoce dos problemas de desenvolvimento:
questionários para pais/cuidadores e professores; anotações
dos pais sobre o comportamento dos filhos; instrumentos de
triagem como auxílio para a vigilância do de¬senvolvimento
(Dworkin, 1993; Glascoe, 2000).
Assim, o papel dos que atuam na atenção pri¬mária é
praticar “a vigilância do desenvolvimento de todas as crianças,
identificar aquelas com necessidades especiais e en¬caminhálas oportunamente para tratamento” (Figueiras e cols., 2003, p.
1692), de forma a favorecer que estas intervenções auxiliem
numa adequação possível no desenvolvimento destas.
A idade em que esta identificação das alterações no
desenvolvimento ocorre tem grande importância para o
prognóstico que esta criança pode vir a apresentar. Seguindo
os princípios da plasticidade neuronal, os neurônios que
constituem o nosso sistema nervoso formam-se nas fases
iniciais da gestação, com o pico máximo de neurônios aos 04
meses de gestação.
36
Estações de Aptidão V
Porém, Villar et al. (1998) coloca que a existência de um
número excessivo de neurônios no início da vida, nas regiões
do encéfalo que estão envolvidas com a aprendizagem e a
capacidade de pensar, não garante em nada que o sujeito será
um gênio. Embora se tenha numerosos neurônios ao nascer, o
número de conexões que funcionam entre si (sinapses) é ainda
pequeno.
Estas sinapses aumentam com a utilização dos neurônios,
no desempenho de múltiplas funções (orgânicas e psíquicas),
com o estímulo para estabelecer um número crescente de
comunicações entre si, através da ativação ou da formação
de novas sinapses. Essas novas sinapses, o aumento da
existência destas, possibilitam o surgimento de novas vias
de comunicação interneuronal, ampliando e otimizando o
funcionamento do sistema nervoso.
Villar et al. (1998) afirma que é preciso ter em mente que
até o sexto ano de vida a plasticidade neuronal é máxima e
é nesta fase que os adultos que convivem com a criança
podem e devem, através de interações e mediações, favorecer
intensamente o desenvolvimento de seu cérebro. Ao nascer,
o primeiro grupo que irá estimular a criança são os pais; é
com estes que começa um aprendizado sobre o mundo. Na
sequência, esta criança passa para a pré-escola, e quem passa
a atuar de forma intensa e de grande responsabilidade é o
professor, pois atua junto a estas crianças num momento crucial:
máxima plasticidade neural. Ou seja, pode colaborar para que
a criança desenvolva grande riqueza de circuitos neuronais e
evite morte precoce de milhares de neurônios, os quais ficarão
de reserva para o futuro. Cada atividade realizada por este
professor, visando estimular a criança, pode resultar em novas
aprendizagens, as quais ficarão registradas na morfologia do
sistema nervoso. Os reflexos serão para a vida inteira.
Junto a esta ideia, surge a questão do determinismo
genético. Hoje, acredita-se que este não seja verdadeiro,
pois o sujeito que nasce com milhares de neurônios e
supostamente com uma carga genética para ser um gênio,
Estações de Aptidão V
37
se não for adequadamente estimulado, perde grande número
de neurônios, as novas sinapses não se formam no momento
adequado, deteriorando o desenvolvimento em todas as suas
áreas. E, por outro lado, um sujeito que tenha nascido com um
potencial genético para ter um desempenho mental e/ou físico
um pouco abaixo da média, através de adequada estimulação
(sensorial, motora, psíquica e social) pode reduzir a perda de
neurônio e aumentar o número de conexões entre neurônios.
Isso permite que a programação genética seja superada.
Mas, superar esta programação genética não é algo
simples, pois muitas condições estão envolvidas: uma relação
afetiva positiva com o adulto que estimula ao mesmo tempo
que media as aprendizagens da criança; condição nutricional
adequada; saúde física e mental; boa qualidade de sono.
Imagem 1: progressão das conexões interneuronais com estímulo sinapses (0 a 2 anos)
Uma forma de auxiliar os pais, familiares, pessoas que
cuidam de crianças e profissionais, é pela noção básica das
etapas do desenvolvimento infantil, as quais estão sintetizadas
nas próximas tabelas:
38
Estações de Aptidão V
Estações de Aptidão V
39
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Estações de Aptidão V
Estações de Aptidão V
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42
Estações de Aptidão V
Estações de Aptidão V
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44
Estações de Aptidão V
Frente aos estudos existentes e a realidade observada
referente ao desenvolvimento infantil, percebe-se uma falta de
conhecimento e entendimento das etapas pertencentes a este,
com estímulos adequados para cada área do desenvolvimento do
indivíduo. Há uma necessidade de ampliação do conhecimento
sobre cada etapa e função, quais estímulos são necessários
para que as estas possam ser desenvolvidas e estimuladas
na idade correta, viabilizando a percepção e o diagnóstico de
possíveis déficits existentes a tempo de serem trabalhadas,
visando o mínimo de danos para o indivíduo.
Este entendimento, junto aos alunos do projeto, com o
intuito de viabilizar um olhar ampliado sobre o conhecimento
desta etapa tão importante do ser humano; e auxiliar a
disseminar para a sociedade que não é só o bebê nascer que ele
já está “pronto”, e sim que as funções necessitam de estímulos
adequados, com pais/cuidadores e profissionais presentes e
ativos no processo de desenvolvimento.
Juntamente com esta ideia, o projeto também buscou
entender e reconhecer as limitações das síndromes e quadros
genéticos que ocorrem com mais frequência nas crianças e
como o estímulo nestes casos podem favorecê-las. Com as
pesquisas e o conhecimento de várias síndromes, e com a
visão de como o estímulo pode auxiliar de forma global e muitas
vezes de forma diretiva: no desenvolvimento físico cerebral das
crianças em desenvolvimento.
Com o projeto, alcançou-se o objetivo de despertar os
adolescentes para a realidade existente, e iniciou-se uma
possível reflexão sobre como auxiliar a sociedade a divulgar
e ter a compreensão de que não é somente a criança nascer
que ela já está “pronta”, esta precisa, sim, de muita atenção,
cuidados básicos e principalmente, estímulos que possibilitem
e favoreçam as conexões interneuronais, desenvolvendo assim
as partes do cérebro.
Estações de Aptidão V
45
REFERÊNCIAS
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antecedents científicos y perspectivas de desarrollo. Bol. Med.
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DWORKIN, P. H. (1993). Detection of behavioral, developmental
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acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil.
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e os distúrbios de aprendizagem. In: SCOZ, B. J. L.; BARONE,
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Porto Alegre: Artes médicas.
RESENGUE SILVA, R. F. (2004). Crianças com risco de
apresentar atraso do desenvolvimento e crianças com atraso
estabelecido: A experiência de um ambulatório multidisciplinar.
Tese de doutorado não-publicada, Escola Paulista de Medicina,
Universidade Federal de São Paulo, São Paulo.
TEODORO, Wagner L. G. O Desenvolvimento infantil de
0 a 6 anos e a vida pré-escolar. Uberlandia / MG. In: http://
pt.slideshare.net/wagnerlugate/o-desenvolvimento-infantil-de0-a-6-e-a-vida-prescolar#
VILLAR, M. J.; CAVAZZOLI, C.; BRUMOVSKY, P. (1998)
Capacidade adaptativa del sistema nervioso: mecanismos de
plasticidad neural. Acta psiquiát. Psicol. An. lat.
Estações de Aptidão V
47
Professor José Eduardo Vicente
Formado em Fisioterapia pelo Instituto de
Ensino Superior de Londrina-INESUL. Tem
Pós-Graduação em Treinamento Desportivo:
Preparação para Competição. No momento
atua como Fisioterapeuta de Ginástica Laboral e
como orientador das Estações de Aptidão, Ensino
Médio e Fundamental do Pontual Centro de
Ensino.
BASQUETEBOL E FUTEBOL
Hoje em dia as pessoas vêm deixando de lado as práticas
esportivas, o que muitas vezes leva a um estilo de vida sedentário
e provocam distúrbios como má alimentação, obesidade,
tabagismo, estresse, etc.Como reação a essa atitude, a ciência
do esporte vem desenvolvendo estudos e demonstrando a
importância que a prática constante de uma atividade física bem
planejada tem para que as pessoas possam ter uma vida mais
saudável. O esporte e a saúde são temas atuais e intimamente
ligados, pois corremos atrás de uma vida menos estressante e
com mais qualidade de vida.
A proposta para este tema foi levar aos alunos o
desenvolvimento das habilidades especificas para quando se
pretende tornar um atleta de alto nível. Através de exercícios
diretamente ligados ao basquete e futebol, visamos melhorar
as atividades motoras e os relacionamentos interpessoais.
Utilizando de corridas, passes e deslocamento com bola, os
alunos foram submetidos a exercícios que melhorem seu
desempenho, sua coordenação motora e equilíbrio, levando
uma melhora na execução da atividade proposta.
48
Estações de Aptidão V
Procuramos, através de exercícios específicos para
cada modalidade, levar um pouco do dia a dia na área do
esporte de alto nível. As atividades físicas eram realizadas na
quadra da escola, onde inicialmente os alunos tinham noções
teóricas básicas sobre o tema, faziam um leve aquecimento e
posteriormente eram divididos em grupos onde as atividades
eram propostas.
Ao final de cada módulo, havia jogos entre os grupos para
poder comprovar o que foi aprendido sobre cada modalidade.
Estações de Aptidão V
49
Não somente a questão da prática do basquetebol e do
futebol em si, mas a interação entre os alunos e principalmente
o trabalho em grupo foi um dos principais aprendizados durante
o projeto.Algumas discussões sobre ética no esporte também foi
abordado, como o exemplo do jogador de futebol DiegoCosta,
brasileiro, naturalizado espanhol, que definiu jogar pela seleção
espanhola na próxima Copa do Mundo.
Concluímos este projeto de forma positiva, já que os
objetivos de conhecer exercícios de basquetebol e futebol
foram alcançados. Assim, os alunos conseguiram entender na
prática as dificuldades de algumas habilidades e a importância
do treinamento para o aperfeiçoamento do mesmo.
BEM ESTAR DO IDOSO
A fisioterapia, técnica que utiliza a aplicação de agentes
físicos e mecânicos (como massagens, exercícios, águas, luz,
calor, eletricidade) no tratamento das doenças, tem um papel
muito importante nos cuidados com a saúde dos idosos. O
fisioterapeuta é um profissional responsável pelo diagnóstico,
prevenção, recuperação e tratamento das disfunções do
organismo humano, causadas por má formação genética,
acidentes ou posturas incorretas no dia a dia. O grupo de
pesquisadores que estuda qualidade de vida da Organização
Mundial da Saúde (OMS) define a fisioterapia como a percepção
do indivíduo no contexto da cultura e do sistema de valores em
que vive, relacionado aos seus objetivos, expectativas, padrões
e preocupações.
50
Estações de Aptidão V
O projeto “Bem Estar do Idoso” foi desenvolvido com
objetivo de levar aos alunos conhecimentos da fisioterapia em
relação ao idoso. Com este projeto, os alunos aprenderam a
diagnosticar algumas patologias relacionadas à terceira idade
e a converterem em exercícios, atividades físicas para o bem
estar destas pessoas.
Estações de Aptidão V
51
Em uma das aulas campo, a oportunidade de estar
diretamente em contato com aqueles que vivem lá (“Lar das
Vovozinhas e Vovozinhos”), levaram os alunos a descobrir a
importância do trabalho em grupo, fortalecendo os laços de
carinho, atenção, humildade (responsabilidade), fazendo os
idosos que ali residem, mesmo que por poucas horas, muito
mais felizes.
52
Estações de Aptidão V
Professora Juliana Murari
Licenciada em Filosofia pela Universidade
Estadual de Maringá. Mestre em Educação
por meio do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Estadual de Maringá.
Professora da rede particular de ensino de
londrina desde 2008. Especializada em estudos
relacionados à Grécia antiga e sobre as epopeias
homéricas.
CINEMA E MITOLOGIA: PERCY
JACKSON E O MAR DE MONSTROS
Introdução:
No segundo semestre de 2013, demos continuidade ao
projeto “Cinema e Mitologia.” Este tema poderia indicar diversas
abordagens, contudo o foco de nosso projeto era analisar o
filme “Percy Jackson e o mar de monstros” e ver como o filme
tinha se baseado na tradicional Mitologia grega.
Filmes como esse atingiram um público das mais diversas
idades. Crianças até pessoas idosas mostram-se interessadas
e gostam de filmes que seguem esta linha de aventura e
fantasia. A popularidade desses filmes, nos diversos estágios
do desenvolvimento humano, chamou a nossa atenção e
motivou a escolha do tema. Nos sentimos instigados a procurar
as causas desse interesse comum, queríamos saber por que
produções que contêm personagens ligados ao universo
fantástico e imaginativo, que transpassa as barreiras da
realidade e do cotidiano de todos, chamavam tanto atenção
e despertava, em nós, curiosidade. Em decorrência disso,
encontramos a problemática de nosso projeto: por que o
pensamento fantástico nos chama tanto atenção? Será que as
pessoas têm conhecimento de que esses filmes são baseados
em histórias muito antigas? Talvez o homem contemporâneo
não tenha noção de que gosta de Mitologia e, mesmo assim,
Estações de Aptidão V
53
ainda responda seus questionamentos por meio dela?
Nesse sentido, o objetivo do nosso projeto era investigar o
filme “Percy Jackson” e as lendas que ele apresenta, procurando
pesquisar se aqueles personagens, de que tanto gostávamos,
eram criados pela engenhosidade do autor do filme ou faziam
parte do imaginário de alguma sociedade antiga. Queríamos
descobrir, no caso de personagens existentes previamente,
quando foi a primeira vez na história que elas foram mencionas.
Especificamente, objetivávamos colaborar para que os
alunos descobrissem que o filme que tanto apreciam estão
ligados à poesia e à história antiga. Intencionávamos acrescer
neles o interesse principalmente pela literatura clássica,
pela cultura grega e pela história antiga, provocando nos
participantes do projeto, consequentemente, um apreço aos
estudos relacionados a temas do passado, pois, os períodos
mais antigos da história precisam ser valorizados, já que
nesse período ocorreram a criação e a fundamentação de
valores e conhecimentos importantes para o mundo ocidental
contemporâneo, e que se encontram hoje, por vezes,
esquecidos.
E para responder tais questões e atingir tais objetivos,
nossa estratégia de trabalho foi: 1) primeiramente investigar o
enredo do respectivo filme; 2) Descobrir a quais histórias da
Mitologia ele fazia menção; 3) Em seguida, procedemos com o
estudo específico sobre mitologia, procurando estudar o que é
mito, e qual a função dessas lendas na Grécia antiga; 4) Por fim,
comparamos as histórias originais com as recriadas e utilizadas
pelo filme, e descobrimos diversas discrepâncias entre elas.
5) Como produção final do projeto, criamos nossas próprias
lendas, a partir dos conhecimentos adquiridos, experimentando
quais os recursos necessários para contar, e dar sentido, hoje,
a histórias tão antigas.
54
Estações de Aptidão V
Mitologia grega:
O mito é essencialmente uma história, muitas vezes de
caráter tido como ilusório e fantasioso. Veja-se, por exemplo,
a obra Teogonia do poeta grego arcaico Hesíodo. Nos poemas
que compõem essa obra, Hesíodo relata como se deu a
passagem do caos para o mundo ordenado, ou cosmos, e a
formação de suas partes naturais identificadas com o mar, céu,
terra, astros, etc.
Na Teogonia, encontra-se uma tradição de procedência
diversa, misturada de maneira muito variada com aquilo que
Hesíodo concebeu como expressão do seu próprio pensamento.
A Teogonia descreve um desenvolvimento, que vai do caos até
o mundo organizado. Nesta obra, há um esforço de pensamento
pré-racional que é sustentado pela causalidade mítica e isto
abrirá caminho, posteriormente, para cosmologias filosóficas.
Teogonia significa nascimento ou origem dos deuses, é, portanto
um poema no qual se procura estabelecer a genealogia dos
deuses imortais e, ao fazer assim, o poeta identifica os nomes
dos deuses a partes do cosmos, preparando em uma linguagem
mítica os fundamentos da cosmogonia.
Quando se examinam estes e outros mitos, cosmogônicos
ou não, pode, em um primeiro momento, ter-se a impressão de
que tais histórias não passam de contos sem nenhuma base
intelectual. De fato, ao serem analisados mais a fundo, vê-se
que tais contos possuem uma lógica que lhes é própria. Por meio
desta, aventa uma explicação acerca dos questionamentos
que os homens daquele tempo tinham diante do mundo,
compreendem indagações um tanto quanto metafísicas, na
medida em que se preocupam com o ser e suas limitações,
assim como a alegria, a felicidade e a tristeza, coisas com as
quais o homem se depara durante a vida e que seriam objeto
de interesse, com outros pressupostos, pela nascente filosofia.
Os mitos foram uma forma de resposta, de resolução, para
os problemas encontrados pelos homens de então. (REALE:
1990, p.15)
Estações de Aptidão V
55
Em suma, pode-se dizer que o mito mais do que uma
simples narrativa fantástica era um relato de uma civilização,
ou seja, a estrutura mitológica tem uma grande importância
antropológica, paidética e pedagógica, já que demonstra a
cultura e o pensamento de um povo, no caso em questão, do
povo grego. Desse modo vê-se que essas histórias faziam parte
desse povo; e eram intrínsecas a ele e constituíam o caráter
básico daquela civilização. (BRANDÃO: 1999, p.183)
Mais importante do que o mito em seu caráter antropológico
é a relação que essas histórias têm para o surgimento da
filosofia; nos mitos hesiódicos e também homéricos, tem-se a
constante presença de seres de caráter “ilusório”, porém, podese perceber um grande esforço para uma explicação racional
das interrogações impostas pelo cotidiano daquele povo. Foi
justamente pelo interesse dos gregos de explicar e entender a
si e ao mundo à sua volta que surgiu a filosofia. É neste sentido
que tem que ser entendida a famosa expressão “do mito ao
logos”. (REALE: 1990, p.16)
Foi o ato dos gregos mais “primitivos” de se perguntarem:
por que e tentarem responder miticamente que foram abertas
as portas para a filosofia. A mitologia acabou ajudando a
nascer a filosofia e constituiu uma evolução, uma avanço, mas
esse avanço se deu a partir dos mitos. Estes estiveram sempre
presentes naquela.
A partir dessas formas de explicações “primitivas” é que
foi dada a largada para a explicação filosófica e sua teoria
“puramente” racional; o pensamento, foi aprimorando-se e se
desenvolvendo, renovando, mas isso não torna as cosmovisões
míticas menos sistemáticas, erradas ou piores, apenas as
tornam diferentes e anteriores. Os principais mitos expostos
por Hesíodo, por exemplo, apareceriam posteriormente, sob
outro enfoque, no pensamento filosófico.
Na Teogonia, observa-se que são os deuses individuais
responsáveis pelo surgimento e organização de todas as coisas
existentes no cosmos, no mundo organizado. Essa concepção
já remete a uma preocupação dos gregos em explicar o mundo,
56
Estações de Aptidão V
como tudo se originou, ainda que seja de forma mítica. Já
há, embrionariamente, um esforço para explicar e justificar
miticamente as coisas. É justamente esse esforço que será
levado em consideração pelos pré-socráticos, posteriormente
e, agora, racionalmente, e é deste esforço, como se sabe, que
nascerá a filosofia. A presença do mito pode ser encontrada
ao longo de toda a história da filosofia. Em muitos filósofos,
ao exporem o seu pensamento, não excluem o uso do mito
ou ao menos não o conseguem excluir totalmente. É possível
que assim seja porque o mítico esteja presente na estrutura do
próprio ser humano. Não se pode, então, dessa forma, fazer
filosofia sem certa dose de presença do mito. E o mito, através
dos poetas, especialmente Homero e Hesíodo, educou o povo
grego, e fundamentou-se como expressão máxima da cultura
grega.
A mitologia e o filme Percy Jackson:
No caso do segundo filme da saga Percy Jackson, o autor
usou tanto elementos presentes na obra Teogonia de Hesíodo,
quanto da Odisseia de Homero.
Segundo a mitologia grega, Cronos capou seu pai Urano
e assumiu o controle do Olimpo. Contudo, com medo de ser
destronado pelos filhos, os engolia, um a um. Até que foi
enganado por sua esposa e seu caçula Zeus. Este com ajuda
da mãe, deu um remédio a Cronos que causou vômitos e o
obrigou a expelir todos os filhos. Zeus, ao lado de seus irmãos,
Hades e Poseidon, decidem lutar pela soberania da morada
dos deuses e vencem.
Na aventura, o semideus Luke tenta ressuscitar o titã
Cronos e será impedido pelos semideuses Percy, filho de
Poseidon e Anabeth, filha de Atena. A produção cinematográfica
procura ressaltar uma nova guerra entre os titãs e a luta pelo
poder que existe entre os deuses.
A trajetória de Percy ao longo do filme também se parece
muito com a do Herói da Odisseia: Odisseu, também conhecido
Estações de Aptidão V
57
pelos romanos como Ulisses. Percy, assim como Odisseu,
precisa encarar um mar repleto de monstros, tal como Cila e
Caríbdis. Cila se trata de um monstro marinho que devorava
as pessoas que passavam por seu rochedo e Caríbdis um
redemoinho que sugava as embarcações e fazia com que
grandes navios sumissem no mar.
Percy também encontra Polifemo, um ciclope, filho de
Poseidon, que habitava uma ilha e devorava quem se atrevesse
a pisar nela. Na narrativa original da Odisseia, Odisseu foge de
Polifemo embriagando o gigante de um olho só e quando o
gigante perguntava que ele era, ele respondia: ninguém. Essa
passagem se tornou muito conhecida, por tornar o gigante
incapaz de contar quem o havia ferido ou de fazer queixas ao
seu pai.
Além disso, aparecem diversos deuses como Dionísio,
Hades, Hermes, que são pais dos semideuses responsáveis
por toda a trama do filme. Também destacam-se as criaturas
mitológicas: sátiros, centauros, ninfas, minotauro, entre outros.
Todos compondo um cenário moderno, mas, ao mesmo tempo,
completamente embasado na mitologia grega tradicional.
Conclusão:
Ao avaliar este projeto, acredito que ele tenha alcançado
seus objetivos, pois os alunos passaram a ler mais, sentiram-se
incentivados aos estudos literários, principalmente por assuntos
ligados à antiguidade. Além disso, aprenderam a refletir e a
investigar os filmes a que assistem, desenvolvendo, assim,
um pensamento crítico em relação às informações às quais
eles têm acesso. Discutimos diversas vezes a problemática
de nosso projeto, que queria desvendar o elevado interesse
por esses filmes, e chegamos à conclusão de que esse apreço
pelos filmes mágicos se dá porque o ser humano não é um
animal inteiramente racional, também há em nós uma parte
irracional, emotiva, sentimental, que tem necessidade de ser
privilegiada em vários períodos da vida.
58
Estações de Aptidão V
Compreendemos que apesar da história mudar, as
sociedades se desenvolverem, e os meios de produção e
subsistência se alternarem constantemente, a essência do
ser humano não muda, ainda temos os mesmos sentimentos
que tínhamos na antiguidade; reconhecemos facilmente as
sensações de sermos injustiçados, de estarmos tristes ou
felizes. Além disso, choramos e rimos e sonhamos como
fazíamos no período antigo, no medievo, na modernidade, e,
com certeza, será assim pelos séculos seguintes.
Em face disso, concluímos que é devido à própria maneira
de Ser dos humanos que produz em nós o interesse por esse
filme e tantos outros parecidos. O fantástico e o imaginativo
sempre nos intrigaram e continuarão nos intrigando, isso porque,
substancialmente, somos seres imaginativos e criativos.
Referências:
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega. 13. Ed. Petrópolis:
Vozes, 1999.
COMMELIN, P. Mitologia grega e romana. Trad. Eduardo
Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
HESÍODO. Teogonia. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo:
Roswitha Kempf, 1984.
Os trabalhos e os dias. Trad. Mary de Camargo Neves Lafer.
São Paulo: Iluminuras, 1989.
HOMERO. Ilíada. Trad. Odorico Mendes; pref. Augusto Magne.
Rio de Janiero / São Paulo / Porto Alegre: W. M. Jackson Inc.,
1950. (In: Clássicos Jackson, vol. XXI)
Odisséia. Trad. Odorico Mendes; org. Antônio Medina
Rodrigues, pref. Haroldo de Campos. São Paulo: Ars Poetica /
EDUSP, 2000.
REALE, Giovanni. História da filosofia: antiguidade e idade
média. São Paulo: Paulus, 1990.
VERNANT, Jean Pierre. Mito e pensamento entre os gregos.
São Paulo: Paz e Terra, 1990.
Estações de Aptidão V
59
Professor Paulo Sergio Tio
Arquiteto, urbanista, ilustrador, kirigamista,
cenógrafo, professor e artista plástico. Graduado
em Arquitetura & Urbanismo pela Universidade
Estadual de Londrina e Curso de Aperfeiçoamento
em Gerenciamento de Projetos pela FATEC/
CPLAN – SP.
DESENHO, ARTE, CRIATIVIDADE E
PROCESSOS DE CRIAÇÃO
APRESENTAÇÃO
O tema “Desenho, Arte, Criatividade e Processos de
Criação” teve a intenção de trazer às crianças um pouco do
universo das artes e seus processos de criação. Através da
teoria e da prática, foram oferecidas várias experiências em arte
relacionadas ao desenho, à pintura, escultura e fotografia. Além
disso, em todas as práticas também foi dada uma introdução à
história da arte.
Quando falamos em arte em suas várias subdivisões,
devemos ter em mente que todas possuem, de modo geral,
seus processos de criação. No entanto, cada um pode ter uma
visão diferente sobre cada assunto, seja em desenho, pintura,
escultura ou fotografia. A intenção é estimular sempre que a
criança crie seus próprios processos e demonstrar que a arte,
em tese, não tem função específica. Quem deve chegar a esta
conclusão, se tem ou não função, é a própria criança - talvez ela
a encontre ou simplesmente passe a vida inteira praticando-a
apenas por prazer. O que, convenhamos, não é uma dúvida
tão importante.
60
Estações de Aptidão V
JUSTIFICATIVA
Tendo o claro entendimento de que sempre aprendemos
a desenhar, antes mesmo de escrever o ensino do desenho, é
sempre uma boa oportunidade para que as crianças possam
descobrir e experimentar uma vivência criativa. É bom ressaltar
que não devemos direcionar sobre o que ela deve ou não
fazer e, sim, mediar a sua relação com as ações. Ressaltamos
aqui os ensinamentos de Mirian Celeste Martins, professora
e pesquisadora, quando afirma que a escola tem pautado o
ensino com base na racionalidade humana, sem considerar o
caráter simbólico do homem. As escolas, hoje em dia, visam
mais o ensino dos conteúdos do que a expressão artística da
criança. Ela ainda afirma que é sempre por meio da arte, do
desenho e de sua percepção, que a criança vive experiências
importantes em sua formação física, psíquica e social.
Outros pesquisadores também defendem a ideia de que
a arte pode sempre ser envolvida pelas diversas áreas da
educação e desta maneira formar cidadãos mais sensíveis e
eficientes, nos vários campos de atuação.
Quando ensinamos às crianças várias possibilidades de
criação em arte, seja através do desenho, pintura, escultura
ou fotografia, damos apenas ferramentas para que elas
possam exercitar suas potencialidades criativas. O intuito do
ensino da arte não é necessariamente formar artistas e, sim,
pessoas, cidadãos ativos, criativos e competentes. Assim como
a linguagem falada e escrita, a linguagem do desenho serve
para que as crianças mapeiem o seu mundo e se situem nele.
Com a fotografia isto também pode acontecer, mesmo que
não disponham de equipamento para fotografar (apesar de
dispormos de tantos dispositivos para isso atualmente). Elas
podem simplesmente fotografar com os olhos, com a imaginação
e, em conjunto com técnicas de desenho, “fotografá-las” com
lápis de cor, canetinhas ou pincéis.
Estações de Aptidão V
61
Em resumo, devemos encarar o mundo das artes como
algo extremamente necessário à nossa vida: não devemos ter o
errado e pejorativo entendimento de que ela é um passatempo.
Ela sempre existiu, desde as antigas pinturas rupestres, que
tinham alto significado para quem as fazia, até os dias de hoje
com a arte contemporânea. A arte conduz artista e expectador,
por vezes, para dentro da obra. Devemos entender ainda que,
apesar da arte sempre situar-se num plano movediço ela não
deve representar uma incerteza quando relacionada à educação
e muito menos à vida.
OBJETIVO GERAL
O objetivo do ensino da arte é sempre desenvolver
capacidades sensoriais latentes nos alunos, envolvendo visão,
tato e audição. Através de exercícios auditivos, fazer com que
percebam formas, cores e até cheiros e tudo isto se faz através
do afloramento de suas memórias, de suas experiências
vividas. Estimular a coordenação (tato) através de exercício
como desenhar sem ver, de ponta cabeça, espelhado ou com a
mão invertida (troca de mão para destros e canhotos). Através
de vários processos de criação, estimular outros com o intuito
da experimentação e investigação.
Desenvolver o senso crítico através da arte: uso da
história da arte para destacar as experiências aplicadas como,
por exemplo, relatar sobre a importância das pinturas rupestres
para os povos primitivos e para o entendimento de como se
deu o processo de formação intelectual e artística do homem.
É sempre através da arte que os homens se expressaram.
Devemos falar da pintura, da escultura, da fotografia, mas não
devemos nos esquecer da literatura, da música e de como tudo
isto se modificou através dos séculos.
Reforçando o que foi dito acima, todos nós temos muitas
capacidades latentes. O desenvolvimento delas é simplesmente
uma questão de prática e só aprendemos a desenhar bem se nos
esforçamos muito para isto, assim também é com a literatura,
62
Estações de Aptidão V
a música, a escultura. Sempre reclamamos que não temos
talento para isto ou aquilo. Será que, de fato, não abandonamos
nossas capacidades criativas e modo de nos expressarmos em
detrimento de uma educação que nos engessa, apenas nos
conduzindo ao mercado de trabalho? Deveríamos parar para
pensar em algumas questões: Como a arte me afeta? Como
posso me apropriar dela?
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Apresentar referências artísticas possibilita sempre uma
compreensão do fazer artístico. Através do conhecimento
dos diversos processos de criação artísticos, independente
do material oferecido (lápis, pastel, grafite em pó, monotipia,
escultura em argila ou em papel, fotografar com máquinas
artesanais, etc.), o aluno pôde experimentar e criar por si só,
expandindo cada vez mais o seu repertório artístico. O curso
não teve o intuito de criar artistas e devemos ressaltar que a
absorção do conteúdo dado é diferente em cada pessoa. A
condução dos conhecimentos para uma vida profissional futura
seja ela em qualquer área - nas ciências humanas, biológicas
ou exatas, poderá ou não ocorrer.
Foram apresentadas às crianças novas possibilidades de
visualizar algo. Talvez, em princípio, seja difícil de entender,
mas podemos ver algo sem realmente vê-lo. Para ver o que
não vemos (este é um exemplo de exercício sem modelo para
observação visual) podemos nos apropriar da escultura ou do
desenho, ativando a nossa memória através do tato.
Entender tais procedimentos, na raiz de seu significado, é o
que nos faz ter um repertório sensorial e de conhecimento artístico
maior. Volto a frisar que não precisamos, necessariamente, nos
tornar artistas, apenas estamos exercitando o nosso cérebro,
para que novas sinapses ocorram e novas conexões se formem.
Com isto, talvez consigamos mantê-lo mais ativo, no intuito de
favorecer nossas atividades do dia a dia ou simplesmente nos
ajudar a ter uma velhice melhor, mais cognitiva.
Estações de Aptidão V
63
REFERENCIAL TEÓRICO
A professora e pesquisadora Mirian Celeste Martins
possui vários estudos relacionados ao ensino da arte nas
escolas. Ela propõe duas ações fundamentais: o desvelar e o
ampliar. O desvelar, segundo a autora, é dar espaço para a
expressão da criança, em toda sua vazão, no que se refere ao
seu repertório sonoro, gestual, de falas e imagens. O ampliar
norteia o caminho para a criança enriquecer seu repertório
pessoal. O professor é importantíssimo neste processo e junto
com a criança compartilha das descobertas e fracassos. Sua
cumplicidade leva-o a elogiá-la e/ou incentivá-la em todos os
momentos em que for necessário.
Os artistas que seguem abaixo são as referências para
cada área:
• Desenho e pintura: Lygia Clark;
• Escultura: Alberto Giacometti e Lygia Clark;
• Fotografia: Sebastião Salgado e Evgen Bavcar.
METODOLOGIA
Em todas as aulas envolvendo poéticas como desenho,
escultura e fotografia, tentou-se encaminhar as ações de
maneira a não privilegiar o fazer por fazer. Para cada novo
tema, nova descoberta, aplicou-se uma técnica diferente, seja
através do modo de fazer ou com novas ferramentas.
Devemos ter a noção de que a criação nunca parte do
conhecimento aprimorado de uma ou outra técnica e o curso
não prezou pela formação de especialistas. O que se observou
foi que cada criança se apropriou de uma ou outra ferramenta de
modo bem particular e isto acabou por refletir em suas ações e,
por fim, estas foram traduzidas em novos processos de criação.
64
Estações de Aptidão V
Deixá-las livres para descobrir todos os processos
envolvidos nestas experimentações permitiram que elas
exercitassem a auto-expressão e assim potencializassem os
seus resultados.
REFERÊNCIAS E METODOLOGIA
Não podemos dizer que o ato de desenhar é inato ao
ser humano, é algo que se aprende, é cultural. No entanto,
o desenho acaba sendo uma das primeiras maneiras de nos
relacionarmos com o meio em que vivemos. Em nossa infância,
adotamos o desenho quase como algo essencial à nossa
comunicação. Devemos atentar para a correta mediação, pois
esta conexão com o mundo interno e externo da criança é
ainda muito tênue, ela necessita que se tome extremo cuidado.
Suas mensagens saem de sua alma, são frescas e cheias
de sentimentos. Ao longo de nossas vidas as sufocamos em
detrimento da linguagem escrita.
Por meio da arte é que podemos resgatar estas linguagens
esquecidas ou relegadas ao segundo plano – desenho, pintura,
escultura, fotografia e por vezes música e literatura.
Através de exercícios práticos com base teórica podemos
dar resignificado àquilo que, no início de nossa vida cognitiva
“entendíamos” e praticávamos (as relações sensoriais) com
mais frequência. Em suma, quando crianças, aprendíamos a
ser cada vez “mais humanos” através dos estímulos recebidos.
Esta correta mediação que vem, em primeira instância, de
nossos pais e depois com a escola (lembremos que muitas
outras coisas também são necessárias) é que em teoria irá
“formatar-nos”.
Vários exercícios de experimentação foram adotados para
que a criança tivesse contato direto com o fazer: confecção
de esculturas em papel, em argila, com massa fria, desenhos
com a técnica de “chiaroscuro” (claro e escuro), onde se obtém
o resultado através da subtração do grafite espalhado pelo
papel, com o auxílio de borracha e/ou mata-borrão. Através
Estações de Aptidão V
65
de técnicas em fotografia as crianças puderam “mapear” o
território em que atuavam, ao fotografar; assim conseguiam
significar cada imagem captada, ou seja, perceberam que uma
simples foto podia dizer muita coisa através da forma, da cor
ou da luz que incidia sobre ela. Outra coisa que perceberam é
que a fotografia também pôde ser usada como uma linguagem
narrativa – pequenas histórias puderam ser contadas a partir
de alguns clicks.
A partir do referencial neoconcreto de Lygia Clark, foram
propostas experimentações com desenhos bi e tridimensionais.
A experimentação de várias formas e objetos serviram para
parametrizar determinadas aulas, onde as crianças puderam
perceber que formas tridimensionais podem muito bem ser
representadas de maneira bidimensional e vice-versa.
A escultura de Alberto Giacometti nos diz muita coisa e
foge do padrão realista com o qual estamos acostumados. Suas
esculturas de pessoas filiformes, caminham, postam-se eretas,
são enormes e parecem mesmo quererem ser diferentes.
Estas características serviram para elaborar um trabalho com
as crianças, onde se procurou extrair o que estava contido
lá no fundo de suas almas e se materializasse sem prévio
planejamento, sem esboços, sem “muito pensar”.
Com a fotografia podemos criar um mundo à parte, viajar
por ele, nos inserir nele. Fotógrafos como o brasileiro Sebastião
Salgado nos dão a dimensão de quão poderosa é a fotografia.
Outro fotógrafo que nos traz o olhar da alma é Evgen Bavcar,
esloveno, ficou cego aos 12 anos. Ele apenas não podia ver
com seus olhos, mas fotografa com os ouvidos, com a mão e
principalmente com o coração.
CONCLUSÕES
A proposta foi desenvolver aulas teórico/práticas, quando
cada experimentação possibilitasse o contato das crianças
com atividades que não faziam parte do seu cotidiano. Retirálas de um campo e colocá-las em outro na qual não estavam
66
Estações de Aptidão V
acostumadas fez com que revisitassem seus parâmetros com
relação à arte. Com isso, a apreensão, tanto para os novos
quanto os antigos assuntos, tornaram-se mais eficientes.
Em resumo, ao experimentar um conteúdo diferenciado
puderam acrescentar novas formas de expressão em seus
repertórios individuais.
REFERÊNCIAS
FELDMAN, Edmund Burk. Uma Teoria Humanística na
Educação Artística. Becoming human through arts: aesthtic
experience in the school. Englewood Cliffs, New Jersey, Prentice
Hall, 1970. Trad. Edith Ponce, 1976. Revisão Terezinha Rosa
Cruz e Helena Ribeiro S. Barcellos. Universidade de Brasília,
IAU/Depto de Desenho.
READ, HERBERT. A Educação pela Arte. Lisboa: Edições 70,
1982
MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. Aprendiz da Arte:
trilhas do sensível olhar-pensante. Ed. Espaço Pedagógico,
São Paulo, 1993.
MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias; PICOSQUE, Gisa;
GUERRA, M. Terezinha Telles. Didática do ensino de arte: a
língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo:
FTD, 1998.
OSTROWER, Fayga – Criatividade e Processos de Criação,
Ed. Vozes, 1 ed., Petrópolis-RJ, 1977.
MINISTÉRIO, Cristiane. Lições para sair da fôrma! Revista
AMAE Educando, n. 333, p. 16-20, Belo Horizonte, agosto 2005.
JUBRAN, Alexandre – Desenho à mão livre – materiais e
anatomia, Ed. Criativo, São Paulo, 2011.
Estações de Aptidão V
67
ARNHEIM, Rudolf – Arte e Percepção Visual, trad. Ivonne
Terezinha de Faria, Livraria Pioneira Editora, 4ª ed.,São Paulo,
1986.
EDWARDS, Betty – Desenhando com o Lado Direito do Cérebro,
trad. Ricardo Silveira, Ediouro, 2ª ed.,Rio de Janeiro, 2000.
GENET, Jean – O Ateliêr de Giacometti, trad. Célia Euvaldo,
Editora Cosac & Neify, São Paulo, 2012.
BAVCAR, Evgen. O Corpo, Espelho Partido da História. In:
NOVAIS, Adalto (Org.) O homem-máquina. A ciência manipula
o corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
SALGADO, Sebastião – Êxodos. Companhia das Letras, São
Paulo, 2000.
FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta – Ensaios para uma
futura filosofia da fotografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará,
2002.
DUBOIS, Philippe. O Ato Fotográfico e outros ensaios.
Campinas, SP: Papirus, 1993.
MIRADAS, Projeto. Miradas: Oficina de imagens e Narrativas.
Revista Oikos, Vol. 6, Nº 2, 2007. Disponível em 10 de setembro
de 2012 em: http://www.revistaoikos.org/seer/index.php/oikos/
article/view/33/29.
Site sobre Lygia Clark - http://www.lygiaclark.org.br/biografiaPT.
asp
68
Estações de Aptidão V
Professora Taciana Lopes Coppo
Licenciada e Bacharel em Ciências Biologicas pela
Universidade Estadual de Londrina, Mestra em
Ciências Biologicas pela Universidade Estadual
de Londrina, Especialista em Gestão Ambiental
pelo ESAP, Professora no Colégio Pontual.
DNA E SEUS MISTÉRIOS – O RETORNO
Problemática e justificativa
O presente projeto é uma releitura do projeto DNA e seus
mistérios, um pouco de engenharia genética apresentado às
estações de aptidão no ano de 2010. Atendendo aos pedidos
de muitos alunos que não tiveram oportunidade de realizar a
primeira apresentação do projeto, foi proposta uma releitura do
mesmo.
Os avanços tecnológicos aplicados à Ciência estão
além do que se podia imaginar há alguns anos. Os estudos
da Biotecnologia, Genética e Biologia Molecular são exemplos.
Atualmente, palavras como clonagem, transgênicos, células
tronco estão em voga. Na escola, são abordados tais assuntos
especialmente nas disciplinas de Biologia e Ciências,
entretanto muitos dos avanços que tais áreas apresentam
não são mencionados. Assim é necessário trazer ao aluno
conhecimentos mais recentes, proporcionando contato de forma
mais prática, com análise de modelos e também realização de
técnicas laboratoriais, para que o aluno: compreenda como se
realiza uma pesquisa científica, qual o papel da ética nestes e
entenda o significado de tantos avanços obtidos pela Engenharia
Genética, enfocando seus pontos positivos e negativos.
Os avanços da ciência, especialmente na área biológica,
sempre ocorreram após a descoberta de novas tecnologias
e metodologias de investigação. Assim, à medida que os
avanços ocorrem o conhecimento científico se aprimora. Mais
Estações de Aptidão V
69
recentemente, tal incremento ocorreu na área da Biologia
Molecular e Genética, fato que propiciou um avanço na
compreensão das funções celulares e de processos vitais até
então pouco esclarecidos.
Como este progresso se deu de maneira rápida,
certamente houve dificuldade, no meio escolar, em manter
atualizado o processo ensino aprendizado englobando essas
novas descobertas. Desse modo, este projeto é uma forma de
atualizar e colocar os alunos mais em contato com o mundo
da engenharia genética, enfocando seus objetivos, técnicas e
principais contribuições para a humanidade, com base em uma
discussão ética.
Objetivos do Projeto
O objetivo maior desta releitura foi ampliar os
conhecimentos sobre a molécula de DNA a um maior número
de alunos, colocando os princípios e técnicas biotecnológicas
de maneira mais simples, enfocando estrutura e funcionamento
do DNA, bem como sua importância como molécula detentora
da vida e norteadora de diversos processos tecnológicos.
Além disso visou-se demonstrar os avanços da Engenharia
Genética no mundo atual e trazer para o conhecimento do aluno
as técnicas que são utilizadas nesta área da ciência. Colocar ao
mesmo, um panorama do mundo futuro com os avanços desta
ciência, enfocando os pontos bons e ruins da manipulação
genética.
Sendo os objetivos específicos os seguintes:
• Conhecer a molécula de DNA, sua localização,
estrutura e função;
• Construir modelos da molécula de DNA e compreender
os processos de transmissão de caracteres genéticos;
• Compreender o que é o código genético e quais suas
aplicações;
70
Estações de Aptidão V
• Compreender o que é Engenharia Genética e sua
atuação no mundo atual;
• Conhecer os processos biotecnológicos que existem
na atualidade e também os que se apresentam na
ficção, especificamente em filmes e seriados;
• Conhecer os avanços da Engenharia Genética e
realizar práticas laboratoriais para estudo do DNA;
• Discutir como será o mundo futuro com o crescimento
da Engenharia genética, quais serão os riscos e
benefícios da manipulação gênica;
Fundamentação teórica
DNA – ácido desoxirribonucléico – é uma molécula
presente nas células dos seres vivos, desde os mais
primitivos, até os considerados mais evoluídos. Ela contém
toda a informação genética
do organismo e controla,
através
de
mecanismos
específicos, todas as funções
e características do ser que a
contém.
Em abril de 2013,
celebrou-se os 60 anos da
descoberta da estrutura da
“molécula da vida”, o DNA.
Essa molécula, que tem
sido tão citada pela mídia
em artigos que tratam dos
avanços alcançados pelo
projeto genoma, dos testes de
Figura 1: Esquema de molécula
de DNA.
paternidade, da biotecnologia,
dos alimentos transgênicos e
da clonagem, é um tema que pode gerar um projeto escolar
muito rico, capaz de contribuir para a construção de um ensino
Estações de Aptidão V
71
significativo e que contemple aspectos envolvendo uma
interação entre a ciência, a tecnologia e a sociedade (Ferreira
& Justi, 2004).
A dupla hélice do DNA é, provavelmente, a estrutura
molecular mais representada na atualidade. Tem sido utilizada
como apelo para vendas em rótulos e em comerciais de vários
produtos e, também, apresentada como ícone da ciência,
desenvolvimento e modernidade nos mais diversos eventos.
Porém, grande parte da população mundial não compreende
esses conteúdos científicos e talvez essa dificuldade seja
decorrente da própria natureza abstrata desses conceitos,
como é por exemplo, o caso da estrutura da molécula de DNA,
sua duplicação e replicação, proteína ou gene, síntese de
proteínas, dentre outros (Jann & Leite, 2010).
Os conhecimentos na área de genética são de natureza
interdisciplinar e apresentam relação direta com o contexto social
contemporâneo (Ferreira & Justi, 2004). A sociedade necessita
ter acesso aos conhecimentos científicos desta área para que
possa se engajar em debates e opinar sobre grandes temas que
afligem a humanidade como, por exemplo, as pesquisas em
genética e suas aplicações na área da saúde e ambiente (Jann
& Leite, 2010). E é por meio da educação que conseguimos
esses avanços. Segundo Vigotsky (1991), a educação, como
tantas outras áreas de conhecimento, pode assumir “uma parte
ativa de um processo intelectual, constantemente a serviço da
comunicação, do entendimento e da solução dos problemas”.
Figura 2: Biotecnologia possibilitou o desenvolvimento de técnicas
laboratoriais de manipulação de genes.
72
Estações de Aptidão V
A Biotecnologia, área multidisciplinar composta de
conhecimentos da Biologia Molecular, Bioquímica e Engenharia
Genética, tem se desenvolvido rapidamente nos últimos
vinte anos constituída de técnicas científicas que permitem a
manipulação gênica. Seus legados têm sido um dos assuntos
científicos mais comentados pela mídia em todo o mundo em
função de suas importantes aplicações em diversos campos
como medicina, química industrial, agricultura (Ferreira & Justi,
2004).
Consequentemente, aspectos relacionados a essa área
passaram a fazer parte da maioria dos currículos propostos
para o ensino de ciências (AAAS, 1990; Brasil, 2000; DFEE,
1995; Ministerio de educación, cultura y desporte, 2001).
Embora
a
abordagem
predominantemente memorística
e estanque dos conteúdos da
Biologia venha sendo combatida, já
há algumas décadas, persiste ainda
em muitas salas de aula a utilização
de modelos, jogos e outros recursos
didáticos vêm modificando esta
situação (Benedetti et al., 2005).
Segundo Jann & Leite (2010) com Figura 3: Ovelha Dolly,
o desenvolvimento da Ciência e concebida através da técnica
Tecnologia, é fundamental dar de clonagem – uma das
técnicas mais controversas da
maior atenção ao estudo destas
Biotecnologia.
disciplinas nas salas de aula,
portanto, faz-se necessário buscar novos recursos didáticos
que facilitem o processo de aprendizagem, principalmente,
despertando o interesse dos alunos.
A compreensão dos conceitos básicos de DNA, genética
e Engenharia Genética, pode ser facilitada pela inserção de
recursos didáticos no processo ensino aprendizagem. Neste
ponto, técnicas e atividades lúdicas utilizadas pelos professores
em sala de aula são recursos valiosos. É desejável, entretanto,
que se assegure uma dinâmica de aula capaz de estimular o
Estações de Aptidão V
73
interesse dos alunos, por isso é necessário variar as técnicas
e as atividades de acordo com os conteúdos e as habilidades
que se pretendam desenvolver (Soncini e Castilho, 1990). Uma
das principais vantagens do uso de instrumentos didáticos
numa abordagem educacional é a de que os estudantes
são participantes ativos ao invés de observadores passivos,
tomando decisões, resolvendo problemas e reagindo aos
resultados das suas próprias decisões (Franklin et al., 2003).
Stortti e Pinhão (2007) mencionam que esta construção do
conhecimento pressupõe também o apoio daqueles que
detém o saber já sistematizado, ou seja, a mediação do que
sabe mais como ponto de apoio aos aprendizes. Desta forma,
segundo Benedetti et al. (2005), Konder (2006) e Jann & Leite
(2010), há uma ferramenta muito prática para resolver os
problemas apontados pelos educadores e alunos, onde a falta
de estímulo, a carência de recursos e aulas repetitivas podem
ser resolvidas com eficiência, pois associam as brincadeiras
e a diversão com o aprendizado. Os alunos são estimulados
e acabam desenvolvendo diferentes níveis da sua formação,
desde as experiências educativas, físicas, pessoais e sociais.
Gomes e Friedrich (2001) afirmam que práticas lúdicas
melhoram o desempenho dos alunos, pois propõe momentos
de aprendizado e diversão, além de estimulá-los a trabalhar em
equipe.
Segundo a argumentação de Konder (2006), a educação
precisaria aproveitar melhor a potencialidade do lúdico como
fonte de satisfação, divertimento, risos e mesmo de sátira,
possibilitando ao aluno a aprendizagem da crítica, inclusive
em relação a si próprio e ao professor. Para o autor, a maioria
dos professores, no entanto, esquiva-se, protegendo-se de tal
exposição. Ao não proporcionar ou restringir as oportunidades
do “brincar em sala de aula”, o professor pode estar reagindo à
dimensão crítica e lúdica do brincar, talvez tentando garantir a
segurança de seu saber que, assim, se manteria inquestionável.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o
estudo das Ciências Naturais deve utilizar diferentes métodos
74
Estações de Aptidão V
ativos, pois um estudo exclusivamente livresco deixa enorme
lacuna na formação dos estudantes. Macedo e colaboradores
(2005) apontam a influência da afetividade no desenvolvimento
e na aprendizagem, pois dificilmente se adquirem conhecimento
sem desejo, interesse e motivação.
Os PCNs trazem, assim, uma proposta de trabalho para
tornar o ensino efetivo, como parte essencial para a formação
cidadã. A interdisciplinaridade aparece nesse documento
como uma prerrogativa para a promoção de um aprendizado
integrador, com caráter prático e crítico, cujo objetivo é
desenvolver competências que possibilitem uma visão de mundo
atualizada, a capacidade de compreensão das problemáticas
abordadas pelos meios de comunicação e a ação e relação do
ser humano com seu meio social e suas tecnologias (BRASIL,
2000).
No âmbito das propostas dos PCN de ensino médio, o
DNA é um tema que pode ser amplamente trabalhado através
de uma abordagem interdisciplinar, integrando principalmente
as áreas de química e biologia, e promovendo uma relação
entre progresso científico e avanço tecnológico que, por sua
vez, pode imprimir mudanças de hábitos e mentalidade em
nossa sociedade.
Mais atualmente os modelos de ensino do Paraná também
expressam essa necessidade de um estudo mais atual e
aprofundado dos princípios e importância do DNA e processos
biotecnológicos (PARANÁ, 2008).
Os cadernos de expectativas de aprendizagem (PARANÁ,
2012) deixam claras a necessidade da descrição do material
genético em sua estrutura e composição, vinculada a uma
abordagem histórica que permita o desenvolvimento de um
posicionamento criterioso relativo ao conjunto das construções
e intervenções humanas no mundo, como nos processos de
clonagem e alterações genéticas, amplamente discutidos pela
Bioética.
Segundo Ferreira & Justi (2004) estudos realizados na
Europa têm evidenciado que estudantes na faixa etária de
Estações de Aptidão V
75
13-18 anos apresentam ideias confusas sobre temas na área
de genética como, por exemplo, função do DNA e dos genes,
transferência genética, projeto genoma, clonagem. (Lewis,
Leach, & Wood-Robinson, 2000; Lewis & Wood-Robinson,
2000; Martínez-Garcia, Gil-Quílez, & Osada, 2003). Alguns
poucos estudos desenvolvidos no Brasil (como, por exemplo,
Ripolli & Wortmanm, 2002) que investigam ideias de estudantes
brasileiros sobre tais temas, bem como a prática de professores
de química e de biologia aos quais temos tido acesso nos
últimos anos têm nos mostrado que tanto esses temas gerais
quanto temas mais específicos – como o DNA – são muito mal
compreendidos pelos nossos estudantes. Baseados nestas
constatações é apresentado o seguinte projeto.
Atividades realizadas e concepções dos alunos.
A dupla hélice do DNA tem sido apresentada como
ícone da ciência, desenvolvimento e modernidade nos mais
diversos eventos. Porém, com a realização do projeto DNA e
seus mistérios no ano de 2010 foi possível perceber um maior
interesse dos alunos para com esse tema dentro do colégio.
Ao ser lançado pela primeira vez, o tema DNA apresentavase desconhecido de grande parte dos alunos, dificuldade
decorrente da própria natureza abstrata desse conceito. Hoje,
com a presença de um projeto e a ascensão de estudos e
assuntos relacionados ao DNA, o tema ganhou um espaço,
antes diminuto.
Em conversas com vários alunos de séries diferenciadas
fica evidente que o assunto DNA – Genética, que antes sempre
ocupou um local distante, considerado de difícil compreensão
pelos alunos, agora desperta curiosidade nos mesmos,
principalmente nos assuntos que envolvem a Biotecnologia.
Baseados nestas constatações, os trabalhos deste projeto
foram realizados ao longo do ano de 2013, sendo as atividades
divididas em duas fases a saber:
A primeira foi realizada no primeiro semestre e constou
76
Estações de Aptidão V
de um estudo mais aprofundado sobre o DNA – sua estrutura,
localização e função.
A segunda, realizada ao longo do segundo semestre,
constou de um estudo sobre a Engenharia Genética e
Biotecnologia propriamente dita – definições, usos e ética na
prática destas técnicas.
Houve modificação dos alunos que compunham a turma
do primeiro para o segundo semestre.
1º Semestre
Conhecendo o assunto: DNA
As atividades do projeto se iniciaram com um questionário
de identificação dos alunos e que, entre outras indagações,
continha duas perguntas norteadoras para as atividades
seguintes. As perguntas foram: Você já ouviu falar em DNA?
Qual a importância do DNA?
Assim como ocorreu no primeiro ano do projeto, a maioria
dos alunos respondeu, entre outras palavras, que o DNA era
uma molécula que existia nas células, mas que não sabiam
qual a sua real função. Porém, a concepção de que o DNA
era base apenas para o teste de paternidade mudou, em 2010
quase 100% das respostas relacionaram a sigla DNA a teste de
paternidade, em 2013 esse percentual caiu para 68%, sendo as
demais respostas associadas a procedimentos como clonagem
e transgenia.
A segunda pergunta desta mesma atividade foi: O que é
Biotecnologia? Para que ela serve? Você acredita que ela traz
mais riscos ou benefícios à vida?
As respostas foram parecidas aos anos anteriores.
Aproximadamente 40% dos alunos responderam que não
conheciam este termo (Biotecnologia). Os demais apresentaram
variadas respostas, sendo a mais comum (34,5%) aquela que
associava engenharia genética à técnica que “mexia com os
genes” sendo as atividades de clonagem, transgenia, teste de
Estações de Aptidão V
77
paternidade e solução de crimes as mais citadas (100% das
respostas citaram ao menos uma dessas atividades).
A maioria dos alunos (66%) disse que há pontos bons
e ruins. Entre os bons, destacam a cura de doenças de
maneira mais específica e eficaz, aumento de produtividade
na agricultura sendo um passo importante no combate à fome.
Entre os ruins que a Biotecnologia é uma atividade de risco à
vida, pois pode gerar armas biológicas de destruição em massa
ou então alimentos e seres modificados que podem prejudicar
a saúde. Nos chama a atenção o seguinte relato:
Há ao perigo de tais técnicas caírem em mãos de pessoas
gananciosas e sem ética, desta forma seria um risco,
pois em nome da ganância grandes problemas poderiam
ocorrer.
Partindo deste ponto, verificou-se que os alunos ainda
apresentavam certa dificuldade com relação ao tema do
projeto, associando ao mesmo a apenas algumas técnicas
Biotecnológicas e sem a visão global sobre o tema, sendo o
ambiente de conhecimento sobre a molécula bem restrito.
Este desconhecimento deve-se em grande parte pela
faixa etária predominante dos alunos, que se encontrava
entre 11 e 14 anos. Nas etapas escolares onde se encontram,
este assunto ainda é pouco abordado. Muitas das respostas
apresentadas apontavam o tema como assunto complicado
e de difícil acesso, sendo sua compreensão complexa. Fato
concordante com os autores Ferreira & Justi (2004), quando
mencionam que estudantes na faixa etária de 13-18 anos
apresentam ideias confusas sobre temas na área de genética
como, por exemplo, função do DNA.
Após esta análise preliminar, foi iniciado o trabalho. Em
um primeiro momento os alunos foram apresentados ao tema
DNA através da interpretação de textos, vídeos e atividades
que visavam mostrar a localização, constituição e importância
da molécula.
78
Estações de Aptidão V
Foi apresentada a história da
descoberta da estrutura do DNA,
realizada pelos pesquisadores
James Watson e Francis Crick em
1953. Esta descoberta foi fruto de
muitas observações e a conclusão
final sobre a estrutura da molécula
foi realizada de forma inesperada,
onde o modelo de uma escada
em espiral foi a inspiração para a Figura 4: James Dewey
conclusão final sobre a estrutura do Watson e Francis Crick ao lado
do modelo de DNA.
DNA em dupla hélice.
A história da descoberta da estrutura foi de muita surpresa
para os alunos. Comentários em sala foram percebidos:
“Professora, quer dizer que os pesquisadores Watson e
Crick usaram os experimentos de outros pesquisadores
e levaram a fama?”
Maria Julia, 6º ano.
“Se os pesquisadores descobriram o modelo do DNA olhando
para uma escada, vou começar a prestar mais atenção ao meu
redor.”
João Vitor, 8º ano.
Estrutura do DNA
Após as explicações sobre localização e função do DNA
passou-se ao estudo da estrutura do mesmo. Para tal foi
realizada uma atividade na qual os alunos, divididos em grupos,
montaram moléculas espaciais de DNA utilizando materiais
simples como palitos de sorvete, modelo impresso de bases
nitrogenadas, barbante e canudinhos (modelo realizado com
base na atividade que consta em Sodré et. al., 1999).
A atividade simula uma molécula em tamanho ampliado.
É possível ver características distintivas como a organização
das bases e das cadeias de fosfato, como o DNA se enrola para
se condensar, enfim o modelo reproduz a estrutura presente
Estações de Aptidão V
79
em nossas células. Segundo Loreto e Sepel (2007), assim
como o emprego de modelos foi fundamental no processo de
descoberta da estrutura da molécula de DNA, a apresentação
dessa estrutura sob forma de modelo nos diferentes níveis
de ensino é um grande facilitador para a compreensão de
vários fenômenos relacionados ao funcionamento do DNA.
Algumas características da molécula de DNA são facilmente
representadas em figuras e outras exigem esquemas mais
elaborados e maior esforço de abstração.
Mais uma vez a montagem dos modelos foi uma das
atividades que mais atraiu os alunos, todos mostraram um
engajamento e participaram de maneira efetiva tanto na própria
atividade quanto nas explicações subsequentes. Esses fatos
podem ser vistos nas expressões dos alunos nas imagens a e
depoimentos a seguir:
Figura 5: Montagem dos modelos de DNA.
80
Estações de Aptidão V
“Professora, olha como parece realmente uma escada! Que
interessante saber que temos uma estrutura dessas dentro de
nossas células.”
Rafaela ossito 5ª série em 2010.
“Olha, parece uma hélice mesmo e completa uma volta a cada
10 bases, igual fala no texto. Agora, sim, consegui entender o
que significa essa tal dupla hélice.”
Vitor Miyada 5ª série em 2010.
Interessante observar que os pontos que mais chamaram
a atenção dos alunos foram parecidos mesmo três anos depois.
“É igualzinha ao que o texto dizia, cada parte do modelo
corresponde a um material da estrutura e no fim parece uma
escada mesmo!!”
Maria Julia 6º. ano.
Passagem da característica genética
Após finalizadas as atividades sobre a estrutura do DNA,
passou-se à explicação de como ocorre a transformação da
informação genética do DNA para a formação da proteína.
Desta maneira foi explicada a expressão “código genético” e o
como esse código controla e determina nossas características.
Foi exposto aos alunos que neste processo há primeiramente
uma etapa chamada transcrição do código que está no DNA, na
qual a parte do DNA que contém as informações da proteína de
interesse é literalmente copiada, formando uma nova molécula
que sai do núcleo para ser lida no citoplasma (momento
chamado de tradução), à medida que a molécula vai sendo
traduzida há a formação da proteína de interesse.
Estações de Aptidão V
81
Figura 6: Tabela do código genético utilizada pelos alunos para a realização
das atividades
Esta atividade foi realizada em sala de aula através de
um jogo de transcrição/tradução, no qual os alunos realizavam
a tradução de uma molécula de RNA com base na estrutura
do código genético. Os alunos deveriam interpretar a tabela
da figura 6 e compreender que a sequência de aminoácidos
que formam a proteína (por exemplo que expressa a cor do
cabelo) era determinada pela sequência de bases nitrogenadas
do DNA.
Tal atividade foi bem recebida pelos alunos e seus
resultados podem ser expressos nos seguintes trechos:
“Todas as características do nosso corpo estão escritas no
DNA e em código, a célula consegue ler essa mensagem e
formar a proteína correta.”
Gustavo, 8º ano.
82
Estações de Aptidão V
“Assim como a gente escreve em códigos a célula tem
seu código. Ele se baseia nas letrinhas A,T,C e G [bases
nitrogenadas. Elas formam um código que expressam uma
proteína. Nosso corpo é basicamente proteínas, assim o código
genético determina todas as nossas características.”
Nathan, 8ª série.
Jogo de DNA – Importância da leitura correta do DNA
Para complementar os conhecimentos da importância
dos processos de transcrição e tradução ocorrerem de maneira
os alunos foram levados ao laboratório de informática onde
puderam jogar online o jogo de DNA disponível em http://www.
clickjogos.com/jogo/mad-dna.html.
Figura 7: Página inicial do jogo.
O objetivo deste jogo foi mostrar a importância que o
procedimento de passagem de informação seja preciso e
extremamente correto. No jogo os alunos tinham que “fabricar”
um ser vivo misturando os compostos na sequência correta
apresentada pelo cientista, caso esta sequência fosse errada
ao final um monstro era formado.
Estações de Aptidão V
83
Assim como no jogo, qualquer erro de processamento do
código genético causa danos e má formações, surgem daí as
anomalias
“Eu errei uma cor apenas e apareceu um monstrinho que tinha
orelha de coelho, rabo de peixe e casco de tartaruga. Consegui
perceber que se a leitura do DNA for errada, sai tudo errado”.
Bárbara – 2º ano do Ensino Médio.
“Consegui perceber que se ocorrer alguma leitura errada
podem acontecer coisas ruins”.
Letícia – 6º. mat.
Como trabalhar o DNA na prática - Extração de DNA do
morango
Para finalizar o trabalho, foi realizada a extração caseira
de DNA do morango, seguindo o protocolo presente em: http://
genoma.ib.usp.br/educacao/Extracao_DNA_Morango_web.
pdf. Nesta, através de materiais do cotidiano é possível extrair
o DNA.
O objetivo foi mostrar como é realizado o primeiro
procedimento laboratorial para se trabalhar com DNA de
maneira mais simples e de certa forma cotidiana.
A cada procedimento era explicado o fundamento teórico
relacionado e, ao final do processo, foi possível perceber grande
quantidade de DNA.
“Para esta atividade, nós simulamos o procedimento de
extração do DNA com materiais que temos em casa. Primeiro
ralamos o morango, para romper as células e liberar o núcleo,
em seguida colocamos água morna e detergente para dissolver
as membranas do núcleo que são feitas de gordura, depois
colocamos o álcool e sal que ajudam a aglomerar as moléculas
de DNA. No fim, temos milhões de moléculas de DNA”.
Rafael – 9º. Ano – extraído do relato do portfólio.
84
Estações de Aptidão V
Figura 8: Imagens da aula prática realizada no laboratório de ciências do
colégio.
Divulgação dos resultados do 1º. Semestre – Mostra e
banca.
A primeira divulgação dos trabalhos desenvolvidos
ocorreu durante a mostra de trabalhos das Estações de Aptidão,
evento aberto aos pais e comunidade, no qual todos os projetos
participantes das estações apresentam seus resultados.
Durante o evento, os alunos se organizaram em grupos
e abordaram temas expressos durante o projeto. Houve
apresentação geral e respostas às duvivdas apresentadas
pelas pessoas que visitavam o espaço.
Estações de Aptidão V
85
Figura 9: Mostra de trabalhos do 1º semestre
Através desta atividade, foi possível perceber o crescimento
obtido pelos alunos acerca do assunto DNA. Foi gratificante
escutar crianças de 10 - 13 anos dizendo com propriedade:
“O DNA é a molécula da vida, tem a forma de hélice e é formado
por nucleotídeos: fosfato, desoxirribose e bases nitrogenadas
pareadas sempre Adenina com Timina e Citosina com Guanina.
Essas letrinhas formam um código”.
Rebeca, Letícia, Flávia e Victória – 9º ano.
Através destes depoimentos, percebe-se que o projeto
atingiu também o ambiente dos alunos.
Figura 10: Alunos durante a apresentação para a banca.
86
Estações de Aptidão V
O segundo ponto de divulgação do trabalho foi a Banca.
Ao final do semestre, oralmente, os alunos apresentaram o
trabalho a uma banca avaliadora, constituída por professores
do colégio e assistida por alunos de diferentes projetos.
Os alunos se organizaram e apresentaram o conteúdo
visto ao longo de todo o semestre passando do histórico da
descoberta do DNA até a explicação bioquímica da estrutura e
funcionamento do mesmo.
O ponto crucial foi a realização da prática da extração do
DNA do morango para a plateia. Essa atividade um ponto de
destaque da apresentação, também pela brilhante explicação
dada pelos alunos ao longo da técnica.
Ao final da apresentação, os grupos colocaram as
impressões que tiverem sobre o assunto trabalhado:
“O projeto foi legal para podermos perceber que o DNA
está presente no nosso dia a dia e também que ele é muito
importante”.
Maria Julia, Beatriz, Letícia e Isabella.
“A extração do DNA é o primeiro ponto a se fazer em um
laboratório, aqui conseguimos realizar essa prática de maneira
simples e fácil de entender”.
Nathan, João Vitor, Rodrigo, Gustavo.
Estações de Aptidão V
87
Equipe 1º semestre: Bárbara Guimarães Moro, Beatriz Garcia
de Araújo Moreira, Bianca Gorini, Enrico Secco, Flávia Ayumi,
Gabriel Armacollo, Giovana Gorini, Gustavo Fortes Pereira,
Isabela Wolff, Izabella Nonaca, João Vitor Peretti, Letícia
Katayama, Letícia Wendel, Maria Julia Barreiro Garcia, Nathan
Lopes Nakamura, Rafael Y. Tobaru, Rebeca Portello, Rodrigo
Eugênio Ferreira, Vitória Araúna.
88
Estações de Aptidão V
2º Semestre
Nesta etapa, foram trabalhados conteúdos relacionados
à Engenharia Genética. Assim como no primeiro semestre,
os trabalhos se iniciaram com o estudo teórico quando foram
apresentados aos alunos: O que é engenharia genética e
biotecnologia, sua abrangência e principais usos.
Os avanços da ciência, especialmente na área biológica,
sempre ocorreram após a descoberta de novas tecnologias
e metodologias de investigação. Assim, à medida que os
avanços ocorrem o conhecimento científico se aprimora. Mais
recentemente, tal incremento ocorreu na área da Biotecnologia,
com ênfase na Biologia Molecular e Genética. Tais avanços
foram apresentados aos alunos e deles foi possível perceber o
seguinte entendimento:
“A biotecnologia está presente nos dias de hoje e graças a
ela temos uma produtividade maior e a cura para algumas
doenças.”
Carla e Marília.
“A engenharia Genética é uma parte da Genética que
se desenvolveu muito (...) seus procedimentos visam a
manipulação dos genes. É empregada nos dias de hoje,
especialmente nas áreas da medicina, investigação criminal e
agricultura. Clonagem, transgenia e terapia gênica são alguns
exemplos.”.
Barbara, Nathan, Gustavo, João Daniel e João Ângelo.
Estações de Aptidão V
89
Jogo da eletroforese
A eletroforese
é
uma técnica usada para
separar moléculas com
tamanhos
e cargas
diferentes. Ela é bastante
útil quando queremos
analisar o tamanho das
moléculas
obtidas
ou
checar o resultado de uma
amplificação de DNA.
Basicamente
consiste em aplicar um
gel
que servirá como
matriz (algo semelhante
à um mingau de maisena)
para separar diferentes
moléculas através do seu
Figura 11: Cuba de eletroforese.
peso molecular por meio
da aplicação de um campo elétrico em uma máquina chamada
cuba de eletroforese. Cada mistura de DNA ou proteínas é
colocada em locais diferentes do gel, e este é submetido à
diferença de potencial elétrico.
Figura 12: Resultado da eletroforese, DNA em padrão de bandas.
90
Estações de Aptidão V
Moléculas de pequeno peso molecular irão migrar para o
pólo oposto mais rapidamente que moléculas maiores. Pense
no emaranhado de cordas em que os menores conseguem
atingir o outro lado mais rapidamente, pois ficam menos retidos
nos obstáculos formados à passagem.
Depois que a corrida das moléculas está terminada, gel é
exposto à luz UV e os fragmentos são vistos no gel em bandas,
que correspondem a diferentes tamanhos dos fragmentos
de moléculas utilizadas, revelando assim como uma foto da
molécula estudada (figura 12).
Este é um um procedimento básico em laboratórios de
genética, realizado após a extração do DNA.
Para entendimento do procedimento e compreender sua
importância foram realizados dois jogos. No primeiro, os alunos
tiveram que, com os dados oferecidos pelo exercício, montar
um padrão de eletroforese comum. Com isso, foi compreendido
o que significou os desenhos de padrões de bandas de DNA.
“A eletroforese é como uma foto do DNA e, quando comparamos
essas fotos, podemos encontrar semelhanças e é daí que vem
o teste de paternidade.”
Amanda 9º. ano.
Em seguida foi realizado o jogo do teste de paternidade, no
qual foi apresentado o perfil de quatro pessoas (criança, mãe,
pai, criminoso) de DNA eram apresentados em uma história
e através dos conceitos de eletroforese, os alunos montaram
os padrões de bandas. Ao final, por comparação, eles tinham
que ver quem seria o possível par da criança e quem seria o
possível criminoso da história. Houve grande participação dos
alunos.
“Professora, foi muito legal essa atividade, me senti
desvendando crimes, com as técnicas do CSI”.
João Daniel 8º. ano.
Estações de Aptidão V
91
Visita à UEL
Como atividade de conclusão sobre como se trabalha
com DNA, foi realizada uma visita ao laboratório de genética da
professora Dra. Silvia Helena Sofia da Universidade Estadual
de Londrina. Nessa ocasião, os alunos puderam participar da
realização de um procedimento de extração e análise do DNA
de uma abelha além de observarem as células de sua própria
boca no microscópio.
Também foram apresentados aos mesmos um laboratório
de genética, seus equipamentos, atividades, rotina.
A
B
C
92
D
Estações de Aptidão V
E
Figura 13: Visita ao Laboratório de Genética Molecular da professora
Dra. Sílvia Helena Sofia da Universidade Estadual de Londrina. As figuras
ilustram a extração do DNA de uma vespa (A e B) e a foto de um gel de
eletroforese real, preparado no laboratório (C) mostrando o DNA do inseto.
Vista geral do laboratório (D). Minutos antes da observação de células ao
microscópio (E).
Os alunos ficaram entusiasmados ao verem que o
processo de extração foi semelhante ao realizado com a prática
do morango no 1º. Semestre e que a eletroforese realmente
existe e é muito utilizada. Notou-se uma grande participação
dos alunos e também um interesse maior dos mesmos. Isso
pode ser visto pelas fotos e comentários:
“Na UEL, conhecemos o laboratório do DNA e vimos que as
técnicas que aprendemos no projeto realmente acontece, foi
muito legal”.
Maria Julia, Beatriz Hegeto 6º. Ano.
Estações de Aptidão V
93
Figura 14: Alunos no Centro de Ciências Biológicas da UEL.
Engenharia Genética no nosso dia a dia
Alguns conceitos de Engenharia Genética foram
apresentados aos alunos através de textos e imagens, porém
ao serem questionados se alguma técnica biotecnológica
estava presente em suas vidas os alunos, em sua maioria,
disseram que não que as técnicas de manipulação do DNA
eram presentes apenas em laboratórios.
Partindo deste ponto a professora levou os seguintes
materiais: lata de óleo, chicletes e mistura para bolo. Apresentou
aos alunos os materiais e questionou se eles eram ou não
transgênicos.
Figura 15: Campanha sobre alimentos transgênicos. O símbolo de
transgênicos no centro do prato.
94
Estações de Aptidão V
Ao final foi revelado que aqueles produtos eram
transgênicos e que eram identificados com o símbolo de um
triângulo amarelo com um T em seu centro. Esse símbolo é
previsto por lei e todos os produtos que contenham algum
ingrediente transgênico devem apresentá-lo em sua embalagem.
Figura 16: Alguns alimentos que apresentam ingredientes transgênicos
identificados com o símbolo.
De maneira geral, os alunos se mostraram espantados
ao perceberem que a biotecnologia, mais especificamente a
transgenia já se encontrava em alimentos comuns do dia a dia.
Muitos questionamentos surgiram no que se refere a segurança:
“Professora, existe algum risco?”
Beatriz Hegeto – 6º ano.
Estações de Aptidão V
95
DNA na Ficção
Foram apresentados episódios dos seriados Dr. House
e CSI – Investigação criminal. Nesses, várias técnicas de
engenharia genética foram discutidos nas áreas da medicina e
investigação criminal. Com esta atividade, os alunos perceberam
que a Engenharia Genética está realmente presente no
cotidiano dos mesmos seja no próprio entretenimento ou na
realidade, como no caso, por exemplo, de técnicas médicas e
medicamentos atuais
Figura 17: Análise das técnicas de engenharia genética aplicadas na
medicina e em casos criminais através de episódios de seriados CSI e Dr.
House.
Partindo dessa ideia foi proposta uma atividade na qual
os alunos separados em grupos teriam de pesquisar algum
filme, seriado ou desenho que apresentasse alguma técnica de
manipulação de DNA.
Os alunos apresentaram os seguintes filmes:
96
Estações de Aptidão V
Figura 18: Alguns filmes apontados pelos alunos.
Nessa atividade, os alunos conseguiram reconhecer
várias técnicas de engenharia genética e também mutações
que deram origem aos grandes heróis do cinema.
Ética na Engenharia Genética - Filme Gattaca – Experiência
Genética.
O filme Gattaca (1997) conta a história de uma sociedade
muito avançada tecnologicamente, onde não havia mais
classes sociais, mas, sim, a divisão da sociedade entre os
“geneticamente perfeitos” - concebidos em laboratório com
todas as características selecionadas e os “filhos de Deus” –
concebidos naturalmente, sem manipulação e com possíveis
defeitos. Estes considerados inferiores.
Estações de Aptidão V
97
Os “filhos de Deus”
nunca são aptos a subirem
de vida, pois para todas
as atividades a serem
desenvolvidas é analisada
a constituição genética, que
sempre os desfavorecia. Na
história, é apresentada a
luta de um desprivilegiado
filho de Deus que não
aceita
sua
condição
“inferior” para conseguir
vencer essa barreira e
preconceito e realizar seu
sonho de ascensão social e
profissional.
Figura 19: Cartaz do filme Gattaca
(1997).
O objetivo desta atividade foi realizar uma discussão sobre
a ética dentro da engenharia Genética, como seria o futuro do
mundo caso ocorresse na sociedade o mesmo relatado no
filme.
“Eu acho que um dia pode acontecer o que foi mostrado no
filme, se não existir um controle logo logo os seres humanos
serão produzidos em laboratório”.
João Ângelo 7º. ano.
“Não tínhamos parado para pensar, porém a Biotecnologia pode
ser um ponto bom ao proporcionar melhoria de vida e saúde
das pessoas, mas má pois pode ser motivo de separação entre
os homens, criando raças superiores”
Carla 2º. Ano Ensino Médio.
98
Estações de Aptidão V
Divulgação dos resultados segundo semestre - Painel e
Banca
Foi confeccionado um painel contendo as atividades
realizadas no segundo semestre e apresentadas as impressões
dos alunos sobre as atividades.
Figura 20: Cartaz confeccionado pelos alunos para divulgação dos
resultados do projeto
Estações de Aptidão V
99
Como atividade final, foi realizada a segunda banca, nos
mesmos moldes da realizada no primeiro semestre para mostrar
ao colégio as atividades realizadas no segundo semestre.
A grande mudança
percebida entre a primeira
banca e a segunda foi o
crescimento dos alunos,
um grande avanço no
que se refere à postura,
preparo,
consciência
e
comprometimento.
Não
havia mais alunos relaxados,
encostados
no
quadro, Figura 21: Apresentação dos alunos
sentados no chão, mas,
na banca – segundo semestre
sim, divulgadores de suas
pesquisas, com falas orgulhosas, estudantes preocupados com
o conhecimento e o domínio de suas falas comprometidos em
compartilhar com os demais colegas o que foi aprendido no
projeto.
Assim, desta atividade foi elaborada pelos alunos a
conclusão final do projeto. Esta foi expressa pelo aluno Arthur
em sua apresentação durante a banca:
“Aprendemos muitos conceitos que não conhecíamos, vimos
as atividades de um laboratório que trabalha com DNA e
estudamos sobre o que pode acontecer no futuro. Gostamos
bastante do projeto”.
Beatriz Garcia – 8º ano
100
Estações de Aptidão V
Trabalho que ficou.
Ao longo do projeto dois pontos ficaram, o primeiro foi uma
página no Facebook dedicado ao projeto que permitiu maiores
discussões sobre os assuntos relacionados ao tema do projeto,
além da integração entre os próprios alunos, que passaram a
ter uma convivência maior.
Figura 22: Capa do grupo do projeto no Facebook.
Outro ponto foi a conclusão do
portfólio. Cada aluno confeccionou
um relato de todas as aulas do projeto
contendo a impressão de cada conteúdo
e as avaliações de cada atividade
realizada. Com esse trabalho, o projeto
ficou registrado, podendo ser utilizado
para estudo por exemplo para as
disciplinas de Ciências e Biologia.
Além disso, o portfólio contendo
a estrutura de um trabalho científico
proporcionou aos alunos a realização
de um registro científico. Ponto que será
fundamental nas atividades escolares
atuais e futuras.
Figura 23: Capa do
portfólio confeccionado
pelos alunos.
Estações de Aptidão V
101
Equipe 2º semestre: Amanda Pohl Mazzucco, Anna Carolina
Pereira Lawin, Bárbara Guimarães Moro, Beatriz Garcia de
Araújo Moreira, Beatriz Hegeto Arantes, Carla Silveira Piblio,
Gustavo Fortes Pereira, João Angelo De Paula Baccarin, João
Daniel Andrade Bezerra , Maria Eduarda de Carvalho Rocha,
Maria Eduarda Hokamura, Maria Eduarda Plaza de Souza,
Maria Julia Barreiro Garcia, Marilia Kaori Ueda, Nathan Lopes
Nakamura, Paula Jordana de Castro Ultra, Sofia Araújo Loredo,
Vitória Batisata do Valle.
Considerações finais
De maneira geral, os objetivos do projeto foram atingidos.
Assim como ocorreu em 2010, o resultado foi satisfatório.
O início das atividades foi marcado por muitas dúvidas
porém ao longo do trabalho foi possível perceber sutis mudanças
nos alunos. Os mesmos já se mostravam capazes de analisar
notícias envolvendo descobertas genéticas, reconhecer
algumas técnicas e opinar criticamente sobre os benefícios e
malefícios que os avanços genéticos poderiam trazer.
Desta maneira, no projeto, percebeu-se que os alunos
entraram em contato e se envolveram com o tema. Muitos deles
102
Estações de Aptidão V
demonstraram a assimilação desses pensamentos e em alguns
momentos passaram a utilizar termos e conceitos até então
desconhecidos em seus discursos, demonstrando domínio do
assunto e também a capacidade de transmitir o conhecimento
adquirido à comunidade externa, especialmente aos familiares,
cumprindo o objetivo maior de todo projeto – envolvimento do
aluno e aplicabilidade da temática na sociedade.
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Estações de Aptidão V
105
Professor Henrique Lima de Oliveira
Graduado em Música pela Universidade Estadual
de Londrina (UEL) e Especialista em Produção e
criação para radio e televisão pela Faculdade
Pitágoras de Londrina.
Professor Tiago Jose Gonçalves
Graduado em Música pela Universidade Estadual
de Londrina (UEL).
A DIDÁTICA MUSICAL NO ENSINO DE
PRÁTICA DE BANDA: UM ESTUDO DE
CASO
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo apresentar
considerações e reflexões acerca do ensino de música no
contexto de sala de aula. É um tema que permeia o processo
didático para um ensino musical efetivo. Para tanto, serão
analisados os semestres em que houve a oficina de prática
de banda – parte integrante das estações musicais do colégio
Pontual de Londrina - . Pretende-se esmiuçar o processo a fim
de detectar o papel exercido pelo professor na compreensão
de conteúdos relacionados à música. A análise está calcada
em referenciais teóricos, visto que o presente artigo pretende
analisar as oficinas já mencionadas com base em um referencial
106
Estações de Aptidão V
teórico composto por nomes como Keith Swanwick e Luiz
Guarilha.
PALAVRAS-CHAVE: prática de banda, música, didática,
ensino, produção musical
INTRODUÇÃO
Apesar de a música estar presente no cotidiano da
maioria das pessoas, são poucas as que dominam a linguagem
musical e têm acesso a estas informações. Ter acesso a esta
manifestação artística desempenha um papel fundamental na
vida dos alunos, não apenas do ponto de vista da diversidade
artístico-cultural, mas também no que se refere à inclusão social,
resgate da autoestima, além do desenvolvimento cognitivo e
psicomotor.
Em Arte a Serviço da Transformação Social (2004),
Clarice Libânio e Ronaldo Silva avaliam que a música também
está relacionada aos sentimentos humanos, sendo que a
autoestima envolve a percepção que o sujeito tem de si, seus
sentimentos em relação à sua imagem. Essa imagem vinculase efetivamente ao sentimento que outrem desenvolve em
relação à sua pessoa e ao produto final de seu aprendizado,
no caso, no âmbito do campo da música. Em outras palavras,
constrói-se a autoestima, o gostar de si mesmo, a partir do
reconhecimento do seu próprio trabalho musical.
Muitos projetos sociais relacionados à área musical
são noticiados com frequência nos meios de comunicação,
mostrando resultados significativos de transformações sociais
em contextos de pobreza com pessoas que não tiveram acesso
à educação. Então por que não utilizarmos a música no contexto
escolar a fim de haver também esta transformação do indivíduo
preparando para as escolhas do futuro? Não precisamos ver a
música como a salvação da educação, mas sim como um meio
de auxiliar o indivíduo em seu crescimento como cidadão.
Estações de Aptidão V
107
Princípios da educação musical
Segundo o educador musical Keith Swanwick (2003),
há alguns princípios que devem nortear o ensino musical em
um contexto escolar. No primeiro princípio, o autor recomenda
considerar a música como discurso, trazendo a consciência
musical do último para o primeiro plano. A menor unidade
musical significativa é a frase ou gesto, não um intervalo,
tempo ou compasso, ou seja, não devemos ensinar de início as
relações intervalares e construção, mas sim a música como um
discurso; no caso, o resultado final de intervalos e tempos, para
posteriormente o professor dar o significado aos elementos
presentes na música.
O segundo princípio que o autor coloca é: considerar o
Discurso Musical dos Alunos. Nessa teoria não seria correto
basear didaticamente as aulas na premissa de que ensinaremos
música para pessoas que não sabem música. Todos já tiveram
um contato com música, cantando, apreciando, ou até mesmo
batendo o pé escutando uma canção ou batendo palmas nos
cânticos das igrejas e etc. Até as tribos mais isoladas têm suas
práticas musicais. Portanto não se ensina a música como algo
novo no sentido de que nunca tiveram o contato com música, o
papel do educador musical é dar suporte para uma continuidade
do aprendizado que já se inicia desde quando a mãe começa a
cantar para a criança dentro de seu próprio útero.
Portanto o aluno já vem com uma bagagem de
conhecimento musical, de onde o professor pode partir do que
o estudante já conhece e assim construir novos conhecimentos.
Essas premissas garantem uma grande ferramenta para
aceitação do conteúdo didático na sala de aula, pois o professor
inicia as aulas com um assunto do qual os alunos já possuem
um conhecimento prévio.
No terceiro princípio, o autor propõe que haja fluência
musical do início ao final. O educador que não planeja suas aulas
corretamente, dificilmente conseguirá alcançar como resultado
um aprendizado significativo. Uma aula bem planejada, além
108
Estações de Aptidão V
de beneficiar os alunos, dá uma maior segurança ao professor
na hora de lecionar. Mesmo que uma atividade não funcione,
se a aula foi bem planejada certamente o professor terá outro
recurso para dar continuidade ao assunto da aula.
Prática de Ensino
Uma das metodologias que pode ser empregada no
ensino é a pratica de banda em conjunto, muito difundida pelo
educador musical Luiz EduardoGuarilha, em que o professor
utiliza um repertório de músicas populares, sem ser exigido
qualquer domínio técnico do instrumento.
As músicas são, muitas vezes, rearranjadas em sua
estrutura rítmica e melódica, como por exemplo: um ritmo de
bateria, onde na canção original é executado por um único
músico, nesta prática é dividido em várias linhas, e cada linha
é tocada por um aluno, ou seja, um ritmo de bateria que muitas
vezes possui cinco linhas diferentes executadas por um único
músico é dividido para vários alunos, assim,o processo integral
é facilitado e o aluno consegue executar uma linha rítmica antes
complexa.
Nos instrumentos melódicos também é utilizado a
mesma prática, por exemplo: uma canção popular que possui
três acordes - tríades - na sua execução, tem os mesmos
fragmentados por notas e divididos entre os alunos, sendo que
cada nota da tríade é executada por um estudante, no violão,
piano, baixo ou qualquer instrumento melódico (neste caso o
ritmo também é reescrito para facilitar a execução).
Estações de Aptidão V
109
Considerações Finais
Durante o projeto das estações musicais, no ano de 2013,
foi feita a prática de banda e conjunto com a metodologia baseada
na proposta do educador musical Luiz Guarilha, em que são
executadas canções do
cotidiano dos alunos,
rearranjando as músicas
para facilitar ao máximo
a compreensão. As
aulas eram iniciadas
com a apresentação
da música, em seguida
eram distribuídos os
instrumentos
para
dar
seguimento.
Primeiramente,
era
tocada a música da forma que os alunos sabiam, para que
em um primeiro momento pudessem sentir o prazer de uma
execução imediata, desmistificando a crença de que para
tocar um instrumento a pessoa tem que ter certo “dom” certamente há pessoas com facilidades maiores que as outras,
por questões físicas, psicológicas, mas toda pessoa consegue
aprender, mesmo que umas demorem mais do que as outras
- em seguida, os acordes ou ritmos, que eram complicados
para quem está entrando em contato pela primeira vez com o
instrumento, eram alterados para facilitar o processo.
110
Estações de Aptidão V
Ao fim do semestre letivo, foi nítida a significativa evolução
musical dos alunos. Não se deve ter a ideia de que em uma
aula semanal com duração limitada o aluno vai alcançar
resultados expressivos técnico-instrumentais sem o estudo
em casa durante a semana. Contudo, é muito válido notar que
o pensamento musical, o papel de cada aluno no conjunto, e
tantas outras características de um bom instrumentista podem
sim ser compreendidas e trabalhadas com um resultado muito
satisfatório durante as aulas.
Estações de Aptidão V
111
Referências
LIBÂNIO, Clarice e Silva, Ronaldo. Guia Cultural das Vilas
e Favelas de Belo Horizonte, capitulo A Arte a Serviço da
Transformação Social, 2004.
SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Tradução.
Alda Oliveira e Cristina. Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.
DOMINGUES, Luiz Eduardo Guarilha. O ensino coletivo
de música a partir da formação de uma banda de garagem.
Monografia. Curso de Especialização em música Lato Sensu .
Universidade do Rio de Janeiro, 2009
112
Estações de Aptidão V
Professora Vanessa Caroline da Cruz
Graduada em História pela Universidade
Estadual de Londrina, atua como professora
na rede estadual de ensino e cursa disciplinas
do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu
(mestrado) em Ciências Sociais da referida
Universidade como estudante especial.
HISTÓRIA DAS MULHERES: POSSÍVEIS
ABORDAGENS
“Dizem que mulher é o sexo frágil,
Mas que mentira absurda! “
Erasmo Carlos
Os homens. Quando utilizamos esta expressão, podemos
ou não estar falando sobre as mulheres. Neste verbete,
pretendemos incluir também sua participação. Se invertêssemos
o gênero, no entanto, a conversa seria outra. Todos aqueles que
enxergam nas reivindicações femininas apenas despeito, não
tardam em defender que quando dizemos “os homens”, elas
também estão lá, é só porque esse é o “correto” ortograficamente
falando.1
Já, de começo, podemos perceber que até na escola é
difícil falar sobre o assunto, difícil também é ser menina, em um
mundo feito para meninos. Antes de se observar a dignidade
humana do ser, observa-se: “Parabéns, mamãe! É menino
ou menina?” Se for menino: roupas azuis, carrinhos, bolas
de futebol, armas, espadas. Se for menina: roupas cor-deApesar de reconhecer a deselegância de não fazer a flexão de gênero num
artigo que reflete justamente sobre esse tema, indicando o direcionamento
de nossas falas às mulheres, acrescentando, por exemplo, todos (as),
alunos (as), etc., manteremos a norma culta da língua portuguesa apenas
para atender à formalidade da ocasião da publicação.
1
Estações de Aptidão V
113
rosa, fogõezinhos, panelinhas e bonecas. Desde cedo somos
moldados para exercer certos papéis sociais que, muitas vezes,
colocam a mulher em desvantagem.
Diante dessas indagações e constatações, nosso projeto
propôs a discussão sobre a seguinte questão: qual o papel da
mulher na sociedade ocidental contemporânea? Ela é livre ou
cada vez mais subjugada por imposições patriarcais? Assim,
construímos nossa prática visando à edificação de um ambiente
propício para o tratamento destes temas, por vezes espinhosos,
por envolver uma série de questões que são pertinentes à
escola, mas que se encontram no estreito limite daquilo que é
considerado assunto de foro íntimo, portanto, de incumbência
exclusiva da família.
Através das contribuições trazidas pelo filão da história
social, muitas pesquisas historiográficas têm reivindicado para
si a tarefa de lançar luz sobre aqueles que sempre participaram
da construção da história, mas que por uma razão ou por outra
foram relegados a segundo plano no momento da elaboração
de narrações sobre o passado. Este aparato teórico foi nosso
guia neste trabalho (HUNT, 2001).
Nossos objetivos giravam em torno de fomentar nos alunos
a compreensão da construção sócio histórica da desigualdade
de gênero, sua função política, social, econômica, entre outras,
e a criação de condições de conscientização e relativização
das mesmas, com vistas à conquista, pelo educando, de uma
postura crítica, questionadora, que os capacite para conviver
com/superar esta ordem social. Entre eles também figuraram
o desejo de despertar a aptidão para a atuação na área das
ciências humanas e abrir portas para o aprendizado específico
no trato teórico-metodológico da pesquisa histórica.
Nossa metodologia consistiu em promover encontros entre
os estudantes e profissionais das áreas das ciências humanas
e de setores especializados no atendimento à mulher, criando
um clima de liberdade para a discussão de temáticas afins.
Contamos ainda com a realização de pesquisas, apresentação
de seminários, debates, análises de filmes, documentários,
114
Estações de Aptidão V
imagens, anúncios publicitários, músicas, brinquedos, dados
oficiais do governo (gráficos, planilhas, estatísticas, etc.), aulascampo, entre outras práticas definidas a partir do contato com
os discentes.
A questão do gênero em debate
O que torna homens e mulheres diferentes entre si? O
que a sociedade espera de cada um deles? A determinação
sexual pela biologia dita também aquilo que somos enquanto
seres sociais? Sexo é o mesmo que gênero? Afinal, o que é
gênero? Esta última pergunta norteou nossas abordagens
desde o início, uma vez que era necessário estabelecer estes
conceitos com clareza. De acordo com as discussões realizadas
pelo grupo, determinamos que sexo refere-se especificamente
a determinação biológica que recebemos ainda na concepção,
está ligada ao fato de termos órgãos sexuais masculinos ou
femininos.
A expressão gênero, no entanto, é mais abrangente e diz
respeito a uma série de atribuições sociais que o indivíduo deve
cumprir, de acordo com o sexo que possui, segundo a cultura
em que vive. Estas funções sociais são mutáveis, variando de
lugar para lugar, de época para época (GROSSI, s/d).
Para Guacira Lopes Louro, é preciso observar que a
“sexualidade não é apenas uma questão pessoal, mas é
social e política [...] a sexualidade é “aprendida”, ou melhor,
é “construída, ao longo de toda a vida, de muitos modos, por
todos os sujeitos” (LOURO, 2000, p. 5).
Dessa forma, a autora apresenta uma forte recusa ao
argumento do “eterno feminino”, espécie de essência que
acompanharia toda mulher que a tornaria meiga, dócil, submissa
e afeita aos cuidados da casa, dos filhos e do marido. Para
Simone de Beauvoir, toda essa construção simbólica é feita no
campo da cultura e não da biologia (BEAUVOIR, 1970, p. 17).
As conquistas femininas das décadas de 1960, 1970,
revolução comportamental e sexual que garantiu às mulheres
Estações de Aptidão V
115
o direito de, por exemplo, poder evitar a concepção através
da pílula, configuraram para nós, hoje, um mundo bastante
diferente daquele vivido pelas nossas mães e avós (ALVES,
PITANGUY, 1985). Sobre o assunto, podemos citar um exemplo
cotidiano:minha mãe, dona Rosângela, foi retirada da escola
pelo meu avô aos doze anos. Isso ocorreu porque, segundo
meu avô, saber ler e desenhar o nome era “o suficiente para
não ser boba do marido”. Hoje, depois das referidas conquistas
e de ter tido sete netas (dentre as quais quatro são formadas)
e dois netos (nenhum terminou o Ensino Médio), meu avô vai
com gosto às formaturas das netas e diz que o estudo é o maior
tesouro que um pai pode dar aos filhos.
Vivemos um momento histórico ímpar. Aparentemente,
nunca houve tanto espaço para que as mulheres possam gozar
de sua liberdade, mandar em suas próprias vidas, ter e exercer
seus direitos. Mas se examinarmos esse momento mais de
perto, com um pouco mais de atenção será que essa será a
realidade encontrada?
Nossa herança greco-romana, com sua carga
excessivamente misógina, tem raízes um pouco mais difíceis de
extirpar. Para essa sociedade, a mulher é um ser inerentemente
doméstico, sua condição biológica de progenitora a faz frágil e
vulnerável, incapaz de guiar-se e proteger-se a si mesma. Seus
dons e talentos “naturais” para o cuidado do lar, dos filhos,
da cozinha e do marido, de quem deve ser uma espécie de
empregada de cama, mesa e banho, a sujeitam à condição de
servidora que deve ansiar por sua atenção (BEAUVOIR, 1970).
Consagrada e auxiliada por um pano de fundo religioso,
que através da força espiritual de sua fala, trata de reforçar
ideias e pontos de vista que legam à mulher um papel
secundário, de coadjuvante na história de suas famílias, de sua
sociedade e de sua própria existência, essa herança segue. O
julgamento moral sobre o comportamento feminino está quase
sempre relacionado à visão que, no ocidente, o cristianismo
tomou a responsabilidade de construir: ou somos Maria, a
mãe abnegada, que renunciou à sua vida sexual e suportou o
116
Estações de Aptidão V
opróbrio de ser apontada como mãe solteira para gerar o filho
de Deus. Quando associadas a ela, estamos nos congregando
com a sociedade e com aquilo que ela espera de nós (BÍBLIA
SAGRADA, 1993; KRAMER, SPRENGER, 2007)
Quando, ao contrário, nos assemelhamos à imagem
de Eva, criatura rasteira, traiçoeira, cheia de artimanhas e
volúpias, estamos nos aproximando do próprio Satanás, e
somos culpadas pela perdição de toda a humanidade. Afinal, foi
ela quem ouviu a serpente e abriu as portas do paraíso para o
pecado, sendo castigada em sua própria carne e amaldiçoando
todas as demais mulheres com a submissão ao homem e as
dores do parto, castigo dos céus pela desobediência (RAGO,
1985; BÍBLIA SAGRADA, 1993; KRAMER, SPRENGER, 2007).
Assistimos, ao longo da história, a um violento processo
de dominação masculina construída à base de elogios ao
comportamento da mulher que seguiu a postura “correta” e
exortações, açoites, estupros “corretivos”, espancamentos,
banimentos, excomunhões, tortura, exorcismos, enforcamentos
e fogueira para as que não se enquadravam nesse padrão. Se
durante a Antiguidade a vida das mulheres não era um mar de
rosas, a Idade Média representa a catarse da misoginia, com
sua Inquisição e a caça às “bruxas”, pobres garotas que haviam
cometido o terrível crime de não ter um membro masculino
próximo em suas famílias, ou ter um gato preto e conhecimento
de ervas (KRAMER, SPRENGER, 2007).
Em Malleus Maleficarum – o martelo das Bruxas,
famoso manual de identificação e tortura elaborado pelos
monges dominicanos Heinrich Kramer e Jacobus Sprenger,
em 1484, para servir de guia durante as investigações feitas
pela Inquisição, lê-se que as mulheres são mais suscetíveis
aos crimes de bruxaria e cópula com o demônio, pois, de
acordo com textos bíblicos e outros, de autores consagrados
datados da antiguidade, podemos enxergar exortações contra
a “maldade natural da mulher”:
Estações de Aptidão V
117
Que outra coisa é uma mulher, senão
um inimigo da amizade, um castigo
inevitável, um mal necessário, uma
tentação natural, uma calamidade
desejável, um perigo doméstico, um
deleitável detrimento, um mal da
natureza pintado com alegres cores!
Portanto, se é um pecado divorciarse dela quando deveria mantê-la, é,
na verdade, uma tortura necessária.
Pois ou bem cometemos adultério
ao nos divorciar, ou devemos
suportar uma luta quotidiana.
Em seu segundo livro A Retórica,
Cícero diz: “Os muitos apetites dos
homens levam-no a um pecado,
mas o único apetite das mulheres
as conduz a todos os pecados, pois
a raiz de todos os vícios femininos
é a avareza”. E Séneca diz em
suas Tragédias: “Uma mulher ama
ou odeia; não há uma terceira
alternativa. E as lágrimas de uma
mulher é um engano, pois podem brotar de uma pena verdadeira, ou ser uma
armadilha. Quando uma mulher pensa sozinha, pensa o mal” (KRAMER;
SPRENGER, 2007, p. 51).
Na Idade Moderna, vemos a ativa participação feminina
em todas as esferas. Num tempo de grandes revoluções, as
mesmas lutaram lado a lado com os homens nas trincheiras,
nas fábricas, nas plantações de cana ou de algodão, no front de
batalha, orientadas pela mesma força e pela mesma ideologia,
qualquer que fosse ela. Ao receber o chicote do feitor ou a
lâmina da espada, estavam lá apostos, nas ruas, pelejando. No
momento de colher os frutos das vitórias, no entanto, a mais
antiga das formas de dominação entrava novamente em ação,
e as punha porta adentro em sua eterna prisão domiciliar, para
garantir a hegemonia masculina sobre a sociedade. Afinal,
todas as barreiras podiam ser quebradas, menos a mais natural:
118
Estações de Aptidão V
a soberania do homem sobre o “sexo frágil’, supostamente
constituída pelos deuses e pela natureza.
No decreto da Assembleia Nacional Francesa de 1795,
observa-se a seguinte ordem dada às mulheres para que voltem
aos seus lares após as lutas da Revolução Francesa, de 1789:
Decreta-se que todas as mulheres se retirarão, até ordem
contrária, a seus respectivos domicílios. Aquelas que, uma hora
após a publicação do presente decreto estiverem nas ruas,
agrupadas em número maior que cinco, serão dispersadas
por força das armas e presas até que a tranquilidade pública
retorne a Paris (ALVES apud FERREIRA, 2010)
Na Idade Contemporânea, tempo de “perturbações”
democráticas em todo o ocidente, o sufrágio “universal”
excluía simplesmente metade da população da participação
no pleito, como candidatas ou eleitoras (STUART MILL, 2006).
Enfrentando o deboche público dos companheiros com quem,
muitas vezes, dividiam a vida, o feminismo, agora constituído
em movimento social, lutou para que apenas no século XX nos
fosse permitido votar, salvo exceções.
Foi também necessário lutar por nosso próprio corpo.
Não precisar usar espartilhos sufocantes e cheios de ferros,
vestidos que pesavam toneladas, saltos que nos tiravam a
mobilidade, sutiãs apertados, poder viver nossa sexualidade
sem a supervisão de outrem, poder escolher ser mãe, poder
tomar um remédio que evitasse a gestação, entre outros
(ALVES; PITANGUY, 1985)
Pisando em ovos: abordando temas difíceis
Quem é professor sabe bem o sufoco que se torna tentar
tratar sobre temas como aids, eutanásia, pesquisas com célulastronco, dogmas religiosos e demais assuntos que possam ferir
o direito dos pais de transmitir seus valores aos filhos, sem que
influências externas os levem para um caminho muito distinto
daquele que sonharam para eles. Com o gênero não é diferente.
Estações de Aptidão V
119
Falar sobre questões consideradas tabu com meninas em fase
de formação tem sido uma experiência enriquecedora, ainda
que por vezes dolorosa.
No entanto, é preciso abordar tais temas. Discutir a
respeito, trocar ideias, relativizar conceitos há muito adotados
e refletir sobre o que queremos para nossas meninas hoje
e no futuro é uma tarefa que muitos organismos nacionais e
internacionais tomaram para si, como, por exemplo, o UNICEF
(Fundo das Nações Unidas para a Infância) . Segundo Fúlvia
Rosemberg, as cinco conferências internacionais realizadas
pela ONU (Organização das Nações Unidas), reúnem em
três tópicos as metas estabelecidas pela organização para a
educação das meninas:
• Assegurar ou garantir o acesso total, igual ao dos
homens, mais amplo e o mais cedo possível de meninas
e mulheres à educação em todos os níveis (primário,
secundário e superior) de educação, assim como à
educação profissional e ao treinamento técnico;
• Eliminar todos os estereótipos de gênero das
práticas, matérias, materiais, currículos e instalações
educacionais;
• Eliminar as barreiras que impedem o acesso à
educação a adolescentes grávidas ou mães jovens.
Buscando atender a estes requisitos, nosso projeto de
pesquisa contou com a participação de profissionais como a
socióloga Malú Marigo, que abordou sociológica, histórica e
mitologicamente a construção da condição feminina através
da leitura e interpretação de imagens e vídeos, devido à
importância de adquirir esta habilidade nos dias de hoje.
Nesta perspectiva, observamos a constituição de uma concepção de
projeto de resgate da dignidade feminina, a partir da consideração da
“dupladesvantagem de se ter nascido mulher e pobre”. Sobre o referido,
ver: ROSEMBERG, Fúlvia. Educação Formal, Mulher e Gênero no Brasil
Contemporâneo. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ref/v9n2/8638.pdf.
Acesso em 04/02/2014.
2
120
Estações de Aptidão V
Recebemos ainda o EVA Coletivo, representado pelas
militantes Mariane Hara e Rafaella Duarte que, na ocasião,
discutiu sobre a realização da Marcha da Vadias, manifestação
popular que tem acontecido anualmente em Londrina e em
diversas outras partes do país e do mundo, da qual o Coletivo
participa da organização. Nossas atividades com o grupo se
resumiram na relativização do nome adotado pela manifestação
que, na maioria das vezes, causa certo “estranhamento” em
quem o ouve pela primeira vez; na leitura de imagens e fotos
das passeatas realizadas na cidade e de orientações aos
adolescentes para que soubessem identificar e como agir
em caso de se envolver em relacionamentos abusivos que
pudessem levar a uma futura situação de agressão doméstica.
Por fim, mas não menos importante, contamos com a
ilustre presença de Elaine Galvão, socióloga auxiliar técnica da
Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres da Prefeitura
Municipal de Londrina. Com ela, tivemos um bate-papo acerca
da atuação do poder público no intuito de prevenir e coibir a
violência contra as mulheres, seja ela no âmbito doméstico,
social, médico ou institucional, isto é, a violência cometida
contra a mulher pelo poder público.
Com a socióloga, falamos ainda sobre a importância
de se acompanhar as leis e políticas propostas aos órgãos
competentes por nossos legisladores, devido à tentativa de
aprovação do Estatuto do Nascituro, proposta de lei que
concede ao feto, a partir de sua concepção, todos os direitos e
proteções legais de um ser humano já nascido, criminalizando
todo o tipo de aborto, inclusive aquele motivado por gestação
fruto de violência sexual, atualmente permitido por lei. O projeto
defende a concessão do pátrio poder aos estupradores e uma
ajuda de custo, conhecida de modo caricato como “bolsaestupro”, para que a mulher cuide da criança fruto de violência
até seus dezoito anos. O projeto prevê ainda pena de reclusão
às agressões contra o nascituro, que passam a ser consideradas
crimes hediondos (Projeto de lei, Estatuto do Nascituro, 2007).
Estações de Aptidão V
121
Contribuições discentes
Ao refletir e pesquisar sobre a experiência das mulheres
no tempo, nos deparamos com inúmeros dados interessantes e
passíveis de análise pelos pequenos pesquisadores. Uma das
experiências mais enriquecedoras que tivemos foi observar
ideias de grandes intelectuais do pensamento ocidental sobre
a mulher, onde encontramos as falas de Platão:“Se a natureza
não tivesse criado mulheres e escravos, teria dado ao tear a
propriedade de fiar sozinho” (PLATÂO, apud PERREIRA, 2004,
p. 229)
De Xenofonte: “que viva sob uma estrita vigilância, veja
o menor número de coisas possível, ouça o menor número de
coisas possível, faça o menor número de perguntas possível”
(XENOFONTE apud ALVES; PITANGUY, 1985); do apóstolo
e autor de grande parte das epístolas de compõem o Novo
Testamento, Paulo de Tarso: “que aprendam no silêncio a sua
sujeição”(SÃO PAULO APÓSTOLO apud ALVES; PITANGUY,
1985); de Jacobus Sprenger:
Terêncio diz: ‘No intelectual, as mulheres são como crianças’. E
Latâncio em Institutiones III: ‘Mulher alguma, entendeu a filosofia,
exceto Temeste’. Em Provérbios, XI como se descrevesse uma
mulher, diz: ‘Argola de ouro no focinho do porco é como uma
mulher formosa apartada da razão’. [...]. Mas a razão natural
é mais carnal que o homem, como fica claro analisando suas
muitas abominações carnais. E devemos apontar o defeito na
formação da primeira mulher, que foi formada de uma costela
curva, isto é, a costela do peito, que se encontra encurvada,
por assim dizer, em direção contrária a do homem. E devido a
este defeito é um animal imperfeito, sempre engana. Por isso
diz Catão: ‘Quando uma mulher chorar, fique preso na rede’.
E depois: ‘Quando uma mulher chora se esforça para enganar
um homem’ (KREMER, SPRENGER, 2007, p. 52).
122
Estações de Aptidão V
E ainda, de Jean-Jacques Rousseau, entre outros:
Toda a educação das mulheres deve ser relacionada ao
homem. Agradá-los, ser-lhes útil, fazer-se amada e honrada
por eles, educá-los quando jovens, cuidá-los quando adultos,
aconselhá-los, consolá-los, tornar-lhes a vida útil e agradável
– são esses os deveres das mulheres em todos os tempos e
o que lhes deve ser ensinado desde a infância (ROUSSEAU
apud PULEO, 2004, p. 17)
As pesquisas realizadas pelas discentes lançaramse também a outros campos, versando sobre a estética dos
personagens femininos em gibis3 e pin-ups, perfis que exaltam
o lado sexual das mulheres, excluindo suas demais facetas,
representando, ainda que de modo diverso daquele que fala
abertamente contra a mulher, o pensamento exclusivamente
masculino a respeito dela. Acompanhamos ainda discussões
sobre diferentes tipos de violência contra a mulher, a Lei Maria
da Penha, saúde feminina, movimento feminista, movimento de
mulheres, movimento sufragista, além de condição da mulher
homossexual e transexual e de políticas públicas especializadas
para as mulheres em nosso município, estado e país. Abaixo,
encontram-se algumas imagens coletadas pelos discentes
durante os estudos:
BARCELLOS, Janice Primo. O feminino nas Histórias em Quadrinhos.
Parte 1: A mulher pelos olhos dos homens. Disponível em: <http://www.
eca.usp.br/nucleos/nphqeca/agaque/ano2/numero4/artigosn4_1v2.htm>
Acesso em 05/03/14, às 18h44min.
3
Estações de Aptidão V
123
Betty Boop, famosa pin up norte-americana
Mulher Maravilha
124
Estações de Aptidão V
Mulher-gato em gibi do Batman.
Representação de Pandora, mito grego onde a mesma, a exemplo de Eva,
abre a caixa contendo todas as desgraças que há no mundo, espalhandoos.
Estações de Aptidão V
125
Galeria de fotos: aula-campo
Nossa experiência prática com aula-campo consistiu
numa visita à região central de Londrina. Nela, contamos com
a colaboração da tutora Michelle Munhoz, e orientamos o grupo
de alunos a observarem as lojas, manifestações culturais,
situações inusitadas e comemorações que se desenvolviam
neste espaço devido ao Dia Internacional da Mulher, na ocasião
do dia 08 de março de 2013.
A intenção era problematizar junto aos discentes qual o
tipo de celebração era proposta para o referido Dia e estabelecer
uma comparação com o histórico das lutas femininas pelo
reconhecimento de seus direitos e de seu espaço. Para tanto,
após a experiência, realizamos pesquisas em meio virtual para
buscar a origem desta festividade.
O descompasso era claro: enquanto os portfólios dos
alunos indicavam que haviam encontrado produtos como
fogões, máquinas de lavar, sabonetes íntimos, lingeries,
sapatos, joias, absorventes, produtos de limpeza, itens de
beleza e perfumaria,entre outros, sendo divulgados como
promoções especiais para o Dia 08 de março, e flores e
decoração exageradamente cor-de-rosa compunham o cenário,
a pesquisa, entretanto, revelava uma história menos rosada.
A origem desta festividade é controversa. Todavia,
grande parte das referências4 indicam a queima de cerca de
150 operárias adultas e outras tantas crianças no interior da
fábrica em que trabalhavam em 08 de março de 1857, em
Nova Iorque, nos Estados Unidos, que teria sido ordenada
pelos proprietários do empreendimento porque estas haviam
constituído um movimento para reivindicar seus direitos. Entre
as condições de trabalho que as tecelãs enfrentavam estavam:
jornadas de trabalho de cerca de dezesseis horas, salários até
Sobre este tópico ver: TADDEO, Luciana. Dia Internacional da Mulher: Por
que essa data é comemorada no dia 8 de março? In: Revista Aventuras na
História. Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/~barbosa/sbf-genero/Textos/
dia-da-mulher.pdf. Acesso em 03/02/2014, às 23:30.
4
126
Estações de Aptidão V
sessenta por cento menores que os dos homens pelo mesmo
trabalho, agressões físicas e sexuais (TADDEO, s/d).
Entretanto, essa versão não foi totalmente provada.
Estudos indicam que, nesta ocasião, a multidão foi violentamente
dispersada pela força policial, e a versão do incêndio teria se
originado da confusão com um acidente ocorrido em 25 de
março de 1911, em uma outra fábrica norte-americana. Nesta
variante da história, o grande número de mortos (por volta de
130 trabalhadoras entre 13 e 25 anos) deveu-se às péssimas
condições de segurança da fábrica e não do intento de seus
empregadores (Idem, s/d).
Controvérsias à parte, fato é que a criação de um dia
específico para a meditação a respeito do papel da mulher na
sociedade, estabelecido pela Organização das Nações Unidas,
em 1977, reflete séculos de lutas por melhores condições de
vida, trabalho e, sobretudo, por igualdade, como indica a sessão
pela construção da Igualdade de Gêneroda Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO,
2012), não constituindo, portanto, uma ocasião para a exaltação
de frivolidades ou do já velho “eterno feminino”.
Marcha feminina em prol de melhores condições de trabalho e vida, dia
internacional da mulher. (autoria desconhecida).
Estações de Aptidão V
127
Considerações finais
Nossa experiência ao abordar a temática de gênero foi
marcada por um certo ar risível da parte de vários alunos e
alunas e, principalmente, dos professores (nesse caso, faz-se
necessário enfatizar que se tratam dos homens). “Piadinhas”,
insinuações, observações feitas em tom irônico foram algumas
das situações que enfrentamos, inclusive dos alunos. Muitos
diziam, mesmo não entender qual a necessidade da realização
do projeto, já que hoje, “homens e mulheres têm iguais
condições...”
Porém, ao buscarmos investigar minimamente milênios de
história, minhas seis meninas, meu menino e eu encontramos
uma realidade tensa, culminada por um século XXI onde
ainda ocorrem estupros coletivos (Índia, 2013); tentativas
de assassinato de meninas que querem apenas ir à escola
(Paquistão, 2012); mulheres são queimadas com ácido jogado
em seus rostos por seus próprios parceiros e não encontram
atendimento médico por serem automaticamente consideradas
más esposas, pois esta é a punição destinada a elas (Paquistão,
hoje); açoitamentos em praça pública quando da acusação de
crimes de prostituição ou adultério (países islâmicos, hoje);
casamentos infantis pra evitar que as meninas “se percam”
(Índia, hoje).
No Brasil, a cada 100 mil mulheres, 586 morrem devido à
violência doméstica; no Paraná, uma mulher sofre feminicídioa
cada dia (isto é, ser morta única e exclusivamente por questões
ligadas à sua condição de ser mulher) e nosso estado é
considerado um dos que “têm pior desempenho em relação ao
tratamento dispensado às mulheres.”5
Dados retirados do Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito
da Violência Contra a Mulher no Brasil, de julho de 2013. http://www.senado.
gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=130748&tp=1. Acesso em 05/03/14,
às 01h42min.
5
128
Estações de Aptidão V
Vulnerabilidade à pobreza, tráfico de pessoas, esquemas
de prostituição, pedofilia, estupros, espancamentos, julgamentos
morais, desigualdades no mundo do trabalho, responsabilidades
unilaterais no tocante a evitar a concepção e também a cuidar
dos filhos desejados ou indesejados, mesmo quando frutos
de violência, são algumas das dificuldades enfrentadas pelas
mulheres ocidentais, em especial as brasileiras, nos tempos
hodiernos.6 Estes são apenas alguns dos itens que justificam
a realização desse projeto, que teve como objetivo trazer estes
debates à tona, propondo um espaço para sua discussão junto
às alunas e aos alunos, aqueles que poderão construir um
mundo melhor.
Por fim, ainda que isso não possa mudar o que aconteceu,
dedico carinhosamente este artigo à minha aluna Letícia
Monique, assassinada a tiros aos 17 anos pelo ex-namorado,
em seu trabalho, em novembro de 2013. Ela estava ali, na
minha frente, todos os dias, com seu sorriso doce. Mesmo com
toda a informação, com todo o aparato de proteção à mulher
que conheço, com todo o esforço em disseminar discussões a
respeito, ela morreu, ao meu lado, sem que eu pudesse fazer
nada pra evitar.Vou carregar essa culpa para o resto da vida.
Eu sinto muito!
Dados retirados do Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito
da Violência Contra a Mulher no Brasil, de julho de 2013. http://www.senado.
gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=130748&tp=1. Acesso em 05/03/14,
às 01h42min.
6
Estações de Aptidão V
129
Referências
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São Paulo: Abril Cultural: Brasiliense, 1985. (Coleção primeiros
passos).
BARCELLOS, Janice Primo. O feminino nas Histórias em
Quadrinhos. Parte 1: A mulher pelos olhos dos homens.
Disponível
em:
http://www.eca.usp.br/nucleos/nphqeca/
agaque/ano2/numero4/artigosn4_1v2.htmAcesso em 05/03/14,
às 18h44min.
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http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.
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Estações de Aptidão V
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na abordagem das relações entre homens e mulheres na
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Estações de Aptidão V
131
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http://www.unesco.org/new/en/unesco/themes/gender-equality/
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2h20min.
132
Estações de Aptidão V
Estações de Aptidão V
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134
Estações de Aptidão V
Estações de Aptidão V
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Ficha Técnica
Apresentação: Estações de Aptidão V
Autores
•Diogo Lamonica
•Francielle P.da Silva
•Rodolfo Funfas
•Isabela Dean Scolin
•José Eduardo Vicente
•Juliana Murari
•Paulo Sergio Tio
•Taciana Lopes Coppo
•Henrique Lima de Oliveira
•Tiago José Gonçalves
•Vanessa Caroline da Cruz
Organização: Maria Luisa Marigo
Leonora Arantes
Capa: Lucas Magalhães Benossi
Projeto Gráfico: Lucas Magalhães Benossi
Revisão: Leonora Arantes
Tipologia: Arial, 12
Número de Páginas: 136
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Como entender o Homem que trafica animais selvagens, extraindolhe a vida na natureza mas prega a preservação do meio ambiente?
Por que o desejo incontínuo de saborear os mais diferentes tipos
de acúcares? O que há entre combustíveis fosseis e o lixo que as cidades
produzem?
Isto tudo está aqui, ao seu dispor.
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