Visualizar/Abrir - Portal Barcos do Brasil

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CAt'llÃES DE CORVETA
EVANDRO SANTOS
DA ESCOLA NAVAL
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IMPRENSA NAVAL
Rio de Janeiro
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1926-
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CAPITÃES DE CORVETA
EVANDRO SANTOS
DA ESCOLA NAVAL
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EUGENIO DA ROSA RIBEIRO
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•
IMPRENSA NAVAL
Rio de Janeiro
- 1926-
EXPLICAÇÃO NECESSAR.IA
A falta de um compendio que satisfaça ao actual programma d.e
marinharia, fez com que nos atravessemos a escrever estas noções.
No decorrer do trabalho não pequenas foram as duvidas e difficuldades encontradas, decorrentes da falta de technologia e da im·
precisão das definições dos varios compendios por nós consultados;
procurámos resolvei-as, porém é possível que muitas vezes a solução
não seja a mais adequada ou exacta, pelo que muito util será a critica
dos que se dedicam a assumptos de marinha.
O nosso fitel é contribuir, embora em pequena escala, para minorar os embaraços dos que estudam e se destinam ávida do mar, e si
o conseguirmos, ficarão compensados os nossos esforços.
Rio de Janeiro, 1S de Julho de 1923.
EV ANDRO SANTOS
EUGENIO DA ROSA RIBEIRO
•
--3-
INDICE
Explicação necessaria . . . . . . .
Nav:o e sua classificação . . . · . . .
Diversas applicações dos naY:os.
Características dos navios
Navios de madeira . .
Navios de ferro ou aço .
Navio composito . . . .
Navio de cimento armado
Lome . . . . . . . . .
l\1astreação . . . . . . .
Cl?ssificação dos navios pelo arvoredo
Apparelho. Poleame . .
. . . .
~1açame . . . .
. . . .
Velame . . . . . . .
Corte de velas . . .
Propulsores . . . .
Anteparas e portas estanques; fundos duplos ; paióes,
alojamentos e carvoeiras . . . . . . . . . . . . .
Serviço de aguada. Alagamento e esgoto de paióes e
fundos duplo!l. Installações e apparelhos : contra incendios . . . . . . . . . . . . .
. . . . .
Ventilação, aquecimento e refrigeração dos compartimentos de um navio . . . . . .
Embarcações miudas .
Apparelhos de içar e arriar escaleres
Ancoras e amarras .
Apparelhos de fundear e suspender . . .
I
,
-5-
3
9
11
15
19
23
26
27
29
31
35
37
39
43
45
47
49
Si
53
55
61
63
67
INDICE DAS GRAVURAS
Estampa
..
l
Estampa
Estampa
Estampa
I -
II -
III -
IV -
,,,
'
.
Estampa
V
Estampa
VI
Estampa
VII
,.
Estampa
Estampa
Estampa
VIII -
IX -
X -
Couraçado "São Paulo". Cruzador "Bahia".
Contra-torpedeiro "Santa Catharina". Submarino "F 1". Navio de recreio. Navio
mercante. Navio a vela.
1-1-
Secção longitudinal de navio. Marcas de seguro.
Marcas seguro, ele accôrdo com o Regulamento das Capitanias de Portos Brasileiros
18
Secção longitudinal de naYio de madeira. Secção
transversal ele navio de madeira. Boneca. Escoteira Vigia.
22
Secção longitudinal ele navio de ferro. Secção interna ele navio de ferro ( systema transversal).
Quilhas. Prôa de nariz. Cadaste de navio de
ferro a vapor. Fundo duplo cellular. Fundo
duplo com cavernas continuas. Interior de
navio de construcção Isherwood. Secção de
navio couraçado.
26
Secção transversal de navio composito.
26
Navio de cimento armado.
28
Leme commum. Leme compensado. Camarim do
passadiço. Transmissão do leme e roda. Leme
de fortuna .
30
Gurupés. Pêga. Cesto de gavea. Mastreação de
uma galera. Carangueja. Verga. Mastro.
Mastro de navio a vela. Mastro de paquete.
~lastro militar. Mastro de treliça. Mastro
de tripeça.
34
Galera. Brigue. Barca. Patacho. Lúgar. Hiate.
Escuna. Mastro de galera. 11astro ele barca.
l\1astro de escuna. ).lastro de polaca.
36
Bigota. Sapata. Lebre. Cassoilo. Moitão
desmontado. Moitão ferrado com gato. Cadernal de 2 gomes. Cadernal de 3 gomes.
Polé. Patesca. Gato com sapatilha. Gato de
. tesoura. Gato de tornei com sapatilha. Sapatilha. Catharina. Manilha. Macaco. Clips.
Tamanca. Olhal. Arganeo. Garruncho.
38
-- 7 --
Estampa
Estampa
XI -
XII -
Cabo de massa. Cabo com ~nadre. Cabo calabroteado. Cabo de arame. Teque. Talha singela.
Talha dobrada. Estralheira singela. Estralheira dobrada. Talha patente. Colhedor da
enxarcia. Cabos fixos da mastreação. Pé de
gallinha. Cabos fixos das vergas. Caranguejas. Retranca. Páu da sorriola. Machina
de mover vergas. . . . . . . .
42
V ela redonda. Vela latina triangular. Vela latina
quadrangular. Bolina. Briol. . .
XIII- Córte de latino triangular pelo processo da estaca. Córte de latino triangular pelo processo
do painel derrubado. Córte de latino triangular pelo processo de escala. Nó de
azelha . . . . . . . . . .
46
Estampa
XIV
Caixa de rodas. Helice. . .
48
Estampa
XV
Porta estanque horizontal. Porta estanque vertical . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
50
Canalisações.
52
Estampa
Estampa
XVI
Estampa
XVII
Estampa XVIII -
Estampa
Estampa
Estampa
Estampa
Val vula de Kingston.
Ventilação de um navio.
tanque. . . . .
Extractor.
Termo
54
Escaler. Canôa. Baleeira. Jangada. Bote de lona.
Gazolina. Out-rigger. Skill. Y ole. Canoa de
pesca . . . . . . . . . .
60
XIX- Partes internas de escaler. Tolete. Forquetas.
Leme. Meia lua. Canna. Remos. Croque.
Mastro. Guarda patrão Xadrez. Quartola.
Páu de toldo. Páu d~ flammula. Toldo.
Agulha.
. ............ .
60
XX- Turcos. Estropos. Picadeiros. Apparelho de esc~pe Robinson. Apparelho de escape amencano . . . . . . . . . . . . . .
62
XXI- Anco:a commum. Ancora Trotlman. Ancora Martm. Ancora Smith. Ancora Hall. Ancora Hall
m?dificada. Angulo ele presa de ancora. Fa~
te1xa. Busca vida. Arinque. Amarra. A.bita.
Patola. Escapamento. . . .
. . . .
. . .
66
XXII -
""'
44
Cabrestante. Mordentes. Anilho. . . . . . . . . .
68
NAVIO E SUA CLASSIFICAÇAO
Navio é o nome dado ás construcções fluctuantes, destinadas á navegação.
Os navios são classificados de accôrclo com o material de que são construidos,
com o fim a que se destinam e com os propulsores que utilizam.
Quanto ao material de construcção, pod.lm ser:
a) navios de madeira;
b) navios composito;
c) navios de ferro;
d) navios de aço;
e) navios de cimento armado.
Os navios de madeira são os mais antigos e até meiados do secttlo passado
eram os unicos existentes. São geralmente forrados de chapas de cobre e, raramente, de zinco; este fôrro tem por fim evitar que um certo verme, conhecido por
gusano, ataque a madeira.
N avias composito são os que têm o casco ( 1) de madeira e o cavername de
ferro (2) ; estão em desuso.
A necessidade cada vez mais intensa ele augmentar a capacidade dos navios,
sem grande accrescimo de peso, obrigou os constructor.:s a procurarem outro material para a construcção, surgindo então os navios de ferro e, posteriormente, os
de aço. Tal especie de material permittiu a construcção dos grandes navios modernos, colmo o "Imperator" e outros.
.
Os navios de ferro ou aço apresentam sobre os de madeira, além da vantagem
citada, as de maior impermeabilidade, maior facilidade ele construcção e de reparos,
maior segurança e menor perigo de incendio. Têm alguns inconvenientes que
actualmente estão quasi sanados; são elles :
a) perturbações nas agulhas magneticas, cujos males são attenuados ou destruidos pelos processos de compensação das mesmas agulhas e que não
existem nas agulhas gyroscopicas ;
b) peior condição de habitabilidade, problema resolvido nos grandes transatlanticos modernos ;
c) corrosões e incrustações no casco, inconvenientes estes que são evitados
pelas docagens periodicas e bôas tintas ;
d) facilidade de ruptura em caso de encalhe, o que se resolve pela sub-divisão
em compartimentos isolados e estanques.
·
O aço empregado para substituir o f erro, em condições identicas, tem um
quinto menos de espessura.
A construcção de navios de cimento armado teve grande incremento durante a
grande guerra, pela urgencia de material para navegação. A rapidez de construcção,
a_ccrescida pela facilidade de obter operarios, pois que não são necessarios especialistas, foi a sua principal vantagem; a superfície lisa e a maior duração, por não
soffrer corrosão d'agua, são outras tantas. O custo é superior ao dos de madeira,
ferro ou aço, e, é mais pesado para a mesma capacidade de carga.
(1)
(2)
-8-
Vide pagina 15.
Veja pagina 19.
-9-
DIVERSAS APPLICACÕES
DOS NAVIOS
_,
(Esta'm pa I)
Os navios, conforme o fim a que se destinam, podem ser :
a) de guerra ;
b) mercantes ;
c) de recreio.
Os navios ele guerra são destinados á defesa do paiz, garantia do c01mmercio,
ataque aos elo inimigo e para representação official ela nação. São divididos tendo
em consideração os seguintes elementos que nelles predominam : poder offensivo (1), poder defensivo (2), velocidade, raio de acção (3) e deslocamento (4).
Podem ser classificados, depois das lições ela grande guerra, de accôrdo com o
quadro abaixo :
couraçados
de batalha
cruzadores
esclarecedores
\
contra torpedeiros
torpedeiros
submarinos
monitor
navios fluviaes
De guerra
( canhoneira
j
~
navtos auxiliares
I
I
Mercantes
l
mmetro
transporte
tender
hospital
officina
carvoeiro
tanque
aerodromo
passagetros
carga
mixto
\
De Recreio
(1)
(2)
(3)
bustivel.
(4)
\
Poder offensivo é constituido pelo armamento do navio.
Poder defensivo é constituido pela couraça, compartimcntagem estanque, etc.
Raio de acção é o numero de milhas que o navio póde percorrer sem refazer comVide pagina 16.
-11-
Vejamos a distincção entre os typos principaes de navios de guerra.
Coztr~çado é o navio de batalha, com maximo poder offensivo e defens·
grande raw de _acção e vel_?cida?e, n~ limite de deslocamento; o ultimo typolVJ~
cou~aç~~o ~~lencano, que nao fm termmaclo, devido a conferencia de Washington
era e , .
t?neladas de deslocan~ento; é o denominado couraçado ra ido. 0 cou~
raçado e o naviO de combate propnamente dito elo qual todos os dem~ ·
0
Iiares; é o principal factor elas esquadras.
'
c
ais sao auxi-
Cruz~dor é o navio em que predomina o elemento velocidade em detrimento
1 '
d
dos demats; modernamente podemos considerai-o de dLl
b t Jh
c1 r ·
as c asses cruza or ele
ai a a e cn~za orl ~~eJro ou esclarecedor; o primeiro distinguinclo-s~ do couraçado
pe a sua maJor ve oCJclacle e menor couraçamento com canho-es c1
1·b
( 1) po '
'
o mesmo ca 1 re
gra~Je I~~~ â~l a~ç~:o~ ~~:~~e;~s; Je ~~N~;r:c~~~~'ri~~o~~si1~e~;u~e;~o~~~a dvael~~!~fhd~~
seu es oc~n-r:ento regula 5.000 toneladas (2). O cmzador '
~
~'
chefe_?e ?!visão_ cle_con~ra-torpedeiros, um por divisão, co~ ~ni1;:~a~~ ~~~o naviO
seu punCJpal objectivo e atacar os contra-torpedeiros e aos proprios cruzad~r:;: mas
cruza~~rc~~~~~~~es antigos eram elo typo cruzador couraçado,
cruzador protegido e
Torpedeiro é o navio em que a arm
· · 1,
finas; bôas qualidades evolutivas e gran~ep~~CIJ~~ ~ ~ torp~?o, dotado de fór~as
proxmlO á costa, utilizando seu e
.
~cl a ~' seu , Jm era atacar navios,
deiro de alto mar e modernamerfteq~~~~doe vulto' evolum, porem,_ p~ra o typo torpetorpedeiros ou destroyers.
a desapparecer, subshtUido pelos contraContra torpedeiro ou destro e ,
.
.
de grande velocidade . .
Y_ r e ~ navw CUJa arma principal é o torpedo
truição dos torpedeiroe" ~~~~sd~aacgçraaondnelaJOr :Jue fo torpec!eiro; foi creado para eles~
.
~,
guerra ez serv1ços de comb · d
·
mercantes; ultimamente teve sua arfll .
010 e naviOs
durante todo o combate
O
I la_na augment~da e acompanha as esquadras
34 milhas de velocidade .. possu!;'~~ti~a~~ mo~_erno mglez tem 1 . 400 toneladas e
pedos foi elevado a seis:
ana an I-aerea e o numero de tubos de torSubmarino é o navio cujo traço
t · · '
mergulhado n 'a ua. seu armamen
c~ra_c en~tJco e o de navegar completamente
Iharia e minas g Atting
t I to pnncipal e o torpedo, possuindo tambem artie ac ua mente a um deslocamento superio
2 000
1adas, com um · raio de acção
de 25 000 .!h
. r. a .
toneeste typo toma a denominação ele c~uzad~~~ s~~~n:r~~~~o de seis milhas horarias ;
o f. Ha varios dout~os typos especiaes de navios e seus eÍementos variam com
1m a que se estmam e o Jogar em que tê d
E
monitor, de pequeno calado (3) - provi·d d m e otperar.
~ ntre elles existem:
·
..
'
o e uma orre com grande pod d
f
enstvo, uhhsaclo em logar~s de pouco fundo; canhonei;,a, navio sem rote; ,.. :de pouco des~ocan:en_to, artilharia ele calibre reduzido, destinado a o ~ar c~a ),
~~ co~ta; navw mm~zro, destinado a lançar min'is; transporte, destinado a ctn~~~
dç o -~ t~pas ;dnavw base ?u tender, servindo para o aquartellamento de pessoal
1
n:~C:: ° ~ tu 0 que pr~~Isatrn gr_upos de pequenos navios, como submarinos:
.
wspztal, navw offzc~na: navzo carvoeiro, navio tanque e navio aerodrom;
cuJo emprego seus nomes md1cam.
1
Os navios mercantes são destinados ao transporte de passageiros e de car a.
~~uelles, que ;.er_vem_ para conducção quer de passageiros, quer de carga e sats~
zem_ asd co~ ~oes Impostas pelo Regulamento da Marinha Mercante e de N:tvegaçao e a otagem tomam a denominação de. "paquete", o que em compen-
( 1)
(2)
(3)
Calibre é o diametro da alma dos canhões.
A. confer~ncia de Washington limitou em 10000 tonelad:Js
Vtde pagma 16.
sação lhes dá vantagens importantes; geralmente só para os navios de passageiros
as companhias pedem as regalias de paquete, que são dadas por um decreto. ( 1)
Os navios de passageiros são dispostos de maneira que as pessoas que elles
conduzem tenham a maior commodiclade; sendo o gráo ele conforto relativo ás
dimensões. As accommodações melhores são - a meio navio - , seguindo-se-lhe
as da segunda classe, á ré, (2) e as de terceira, avante; ha navios que têm á bordo
alem do maximo conforto, recreações e commoclidades como tanques de natação e
jardins, etc. ; seus aposentos são dispostos como os dos mais luxuosos hoteis .
Os navios de passageiros tambem conduzem cargas, mas sem que os lbcaes
a ellas destinados prejudiquem á commoclidade daquelles.
Os navios têm compartimentos, denominados porões, que melhor pernnittem o
acondicionamento da carga. Ha typos especialmente construidos para determinadas cargas; dentre elles citaremos: os navios destinados a carga a granel, como
cereaes, aos quaes os inglezes chamam turrct-deck; nav;·o cisterna, para conducção
de oleo, cujos porões são tanques; navio carvoeiro, com apparelhos especiaes para
o desembarque de carvão; navio de pesca, com apparelhos adequados a esse fim.
Os navios destinados, á navegação em rio têm pequeno calado e dimensões
mínimas, devido, não só á pouca profundidade dos Iocaes onde navegam, como
as voltas que têm de dar; as dependencias são todas em cima, no Amazonas, sã0
conhecidos pela denominação popular de -gaiolas.
Os uavios de recreio, geralmente conhecidos por hiate de recreio, por caus~
ele sua mastreação ( 3), se destinam ao gozo dos millionarios; têm formas esguias que facilitam a corrida, e, internamente, são modelos de conforto para -seus
proprietarios. Gozam de certas regalias de na vi os de guerra.
Os navios segundo os seus propulsores, são divididos em:
a) navios a vela;
b) navios a motor mecanico.
Os primeiros têm movimento pela acção do vento sobre as velas; durante
seculos foi este o meio unico de propulsão adoptado .
Os navios de motor mecanico podem ser a vapor, a motor de combustão interna e electricos.
Nos navios a vapor, a machina trabalha pela acção do vapor e produz a
rotação de rodas ou de helices, devido as quaes dá-se o movimento. Navios
ha de duas, tres ou mesmo quatro helices, cada uma accionada por sua machina.
(1) Decreto n. 10.524, de 23 de Outubro ele 1913. Art. 157 - Os navios de passageiros ou somente de cargas, que fazem linhas regulares de navegaão, entre os portos ~!e
mais de um estado, gozarão, na qualidade de paquetes, das seguintes regalias, concedidas pe!o
Ministerio da Viação e Obras Publicas: 1." faculdade de sahir a qualquer hora do dia ou
da noite, observadas as disposições do presente regulamento; 2.• faculdade de serem admittidos a immediata descarga, após as visitas de entrada, independente de licença aduaneira e
da presença dos respectivos guardas; 3." isenção de impostos de pharoes; 4.• isenção de contribuições para casas de caridade, em todos os portos da Republica; 5." passaporte, servindo
emquanto não mudar o certificado de matricula e houver espaço para apostillas; 6." pas!:ies
ou despachos de sahida gratuitos de paquetes, apenas, sujeitos ao sello federal maximo de
1 000, que continuarão a ser dados pela Alfandega, Policia, Correio e Capitania do Porto;
7." concessão de abatimento de 50 % nas contribuições de doca, atracação no caes, carga e
descarga. a que estão sujeitos os navi os estrangeiros, respeitados os contractos vigentes, na
data da promulgação deste regulamento; 8." dispensa tio pagamento nos portos de despeza
dobrada de carga, descarga e estiva de mercadorias cm domingos e dias feriados, quando,
por tabella approvada pelo Governo, as embarcações forem obrigadas a escalar c permanecer
nos portos ne ~ses dias, respeitados os contractos vigentes, na data da promulgação deste
regulamento.
(2) Avante e á ré - vide pagina 15.
(3) Vide pagina 31.
-12-
-13-
Nos navios a motor de combus~ão interna o funccionamento do motor,
girando uma helice, produz o movimento necessario.
ESTAMPA I
Ha tambem navios mixto , a vela e a vapor ou a vela com um motor de
combustão interna para entradas e sabidas de portos ou para occasiões de calmarias ( 1 ) .
O Regulamento das Capitanias de Portos classifica os navios, para effeitos
de fisco, em quatro grupos:
0
1. ) navios para a navegação de longo curso, quando se destinam á navegação entre portos do Brasil e do estrangeiro;
.......
...
.~
0
2. ) navios para a navegação de grande cabotagem, quando fazem navegação entre os estados da Republica;
0
3. ) navios de pequena cabotagem, quando têm por fim a navegação entr.e
portos de uma circumscripção (2) ou de circumscripções visinhas, navios estes
que não excedem de 400 toneladas;
4.
( 1)
(2)
0
)
navios para navegação interior, isto é, em rios, canaes e lagoas.
Calmaria se diz quando não sopra vento.
Cada Estado constitue uma circumscripção.
Couraçado "São Paulo"
Cruzador "Bahia"
-14-
BSTAMPA I
'·
Co11tra-Torpcdciro "Santa Catliariua"
•
i.
Submarino '' F 1"
ESTAMPA I
Navio a vela
Navio de
1'ecre~o
•
Navio mercante
CARACTERISTICAS DOS NAVIOS
(Estampa II)
Damos em seguida algumas definições de partes do navio, indispensaveis
ao estudo de suas características.
Casco é o corpo do navio, constituído de suas varias partes, sem considerar
a mastreação e o armamento.
Proa é a parte anterior do navio.
Popa é a parte posterior do navio.
As expressões avante e á ré referem-se á collocação ele objectos que estão
elo meio do navio, para a proa ou popa; indicam-se pelas abreviaturas A V e AR.
Diz-se que um objecto está por ant'avante ou por ant'a ré elo outro quando
elle está pela frente ou por cletraz d'esse outro.
Boreste é o lado direito do navio, estando o observador na popa, olhando
para a proa; indica-se por BE; antigamente usava-se o termo estibordo em lugar
ele boreste; foi substituído para evitar a confusão om bombordo nas vozes de
manobra.
Bombordo é o lado esquerdo do navio, estando o observador na popa,
olhando para a proa; a abreviação é BB.
Meia náo é a parte do navio que fica mais ou menos igualmente distante
ela proa e ela popa.
Todo navio é dividido em duas partes sy1111etricas, por um plano vertical, que
vae de popa á proa e toma o nome ele plano longitudinal ou da -m ediana; um plano
vertical, perpendicular a este, e que vae de BB á BE, é um plano transversal.
A secção feita no navio pela superfície das aguas, denomina-se plano de
fluctuação.
Linha de fluctuação on linha d'agua é a intersecção da superfície das aguas
tranquillas com o casco .do navio.
Obras vivas· é a parte immersa elo naviO.
Obras mortas é a parte emersa elo navio.
Fundo é a parte inferior das obras vivas; quando o fundo é chato se diz
fundo de prato.
Os principaes elementos geometricos do navio são : comprimento, bocca,
pontal e deslocamento.
Comprimento é a dimensão do navio no sentido longitudinal ou de popa
a proa, e póde ser tomado de duas maneiras, segundo as quaes temos : comprimento entre perpendiculares, que é a distancia entre duas perpendiculares ao
-15-
saber se 0 navio' tem mais carga do que deve, marca~ _no. costado a linha de ~lu- ·
carga maxima · as marcas são bem vtstvets . Calculam para tsto
ctuaçao com a
'
"F
b c!" (b d
a altura da linha cl'agua ao convez, altura a que chamam
ree oar
or_ ~
livre) e em funcção clella marcam o costado (1), n~ altura da.cave~na(;)estt~,
universalmente empregadas, são os cltscos ele P!tmsol
e e
~~:~:sa~,,~~~~~~ indicam a qualidade e densidade d'agua, epocha e zona em que
plano de fluctuação, tiradas no extremo da carena ( 1) ; e comprimento de roda á
roda, que é a distancia entre as perpendiculares ao plano de fluctuação, uma
tangenciando o beque ou parte extrema da proa, e a outra, a popa; é o maior
comprimento do navio.
Bocca é a largura do navio; tem tambem dois modos de ser medida, donde
duas especies: bocca moldada, quando é tomada no meio do navio, na caverna
mestra (2) e no plano de fluctuação; e, bocca extrema, maior largura do navio.
tem valor.
A significação das lettras é a seguinte:
J
Pontal é a altura vertical que vae da quilha ao convez, tomada na caverna
mestra.
F W - Fresch water -agua doce.
I S _ India Summer - verão no mar das Inclias.
Calado é a altura vertical entrê o plano de fluctuação e a quilha ( 3) .
S ~ Summer - verão.
W - \Vinter - Inverno.
.
N A _ \Vinter North Atlantic - Atlantico Norte, no mverno.
·
e11tre os discos usados nos navios csAs figuras mostram a cl1'ff eremça
Quando a quilha do navio não é parallela ao plano de fluctuação o calado
varia, conforme o ponto em que é tomado; dahi temos o calado avante, o calado
a ré e o calado medio, que é a media arithmetica elo calado A V e AR. O calado é marcado na proa e á ré, por meio de numeros, que indicam metros ou pés,
contados de baixo para cima.
w
trangeiros e nos nacionaes.
Deslocamento é o peso total do navio, que por uma lei de physica, sabemos
ser igual ao peso do volume da agua deslocada. O deslocamento é expresso
em toneladas de peso, cujo valor é 1. 000 kilos.
Vide pagina 20 ..
e depois
Plimsol, 0 am'go dos marinheiros foi negociante de. car~ão em Londres
membro do parlamento inglez, onde se bateu par~ que os navws tivessem o limite maximo
de carga, afim de diminuir os riscos da navegaçao.
( 1)
(2)
E' claro que o navio descarregado pesa menos do que com a carga, de modo
que neste caso o deslocamento se diz completamente leve, e quando inteiramente
carregado toma o nome de em plena carga; a differença entre os dois deslocamentos é o expoente de carga.
Tonelagem de um navio é a capacidade do navto ou melhor o volume dos
espaços existentes dentro deli e. A tonelagem póde ser bruta, liquida e de registro; a primeira é o volume ele todos os compartimentos fechados do navio,
a segunda é o volume elos seus porões e paioes ele carga e a terceira é o volume
medido, de accôrdo com os regulamentos das alfandegas; na pratica as duas
ultimas se confundem.
A tonelagem é expressa tomando para unidade a tonelada de arqueação,
que é o volume de 100 pés cubicos ou 2mc,83; isto é, o numero de toneladas é o
numero de vezes que os seus porões contêm 2m c. 83 ou 100 pés cu bicos. A medida da tonelagem de um navto chama-se arqueação; arquear um navio é, pois,
calcular a sua tonelagem.
Existem sociedades que se incumbem do exame das condições de construcção e de navegabilidade elos navios; ellas examinam minuciosamente os
navios, quando é pedido o seu parecer e de tempos em tempos (geralmente ele
quatro em quatro annos) dão um attestaclo. Têm o nome ele Sociedade ou
Registres de Classificação e gozam ele confiança mundial. As companhias ele
seguros exigem que os navios estejam inscriptos nestas sociedades, de que as
principaes são o Lloycl's Register, inglez, o Bureau Yeritas, francez, o Rigisto
Italiano e o Registro Marítimo Brasileiro, ultimamente fundado.
Estas sociedades classificam os navios em classes, segundo o seu deslocamento e suas condições nauticas. Afim de que ellas possam, á primeira vista,
•
Carena é a parte immersa do navio.
Varias autores definem do mesmo modo carena e obras vivas, muito embora nos pareça
haver differença, em dadas circunstancias, dependentes das linhas do navio, e que consiste
em serem as obras vivas a parte immersa do navio, quando em fluctuação normal, cujo
limite é a linha d'agua, traçada no costado, e, carena a parte realmente immer!:a do casco do
navio. Ellas, porém, se confundem quando o navio está em fluctuação normal.
(2) Vide pagina 19.
(3) Vide pagina 19 . .
(1)
16
-17-
ESTRMPR
jE- -
II
-j(-:-: =~ -~_----: ~ =~--=--= -: -= =- : -= ;
~· .
- - - -- - - - - - - -- ---~
: . . . ---------------~!
c~~.~il..! . .:.l LI: I
s.. cção
!H E':!
1~
longifudtnal de "" V/0
a_ cornprt/77ento de rode a roda
b_ cornprim enio e:nlre perpendicu/ares.
Marca de se~uro
Marca da maxima carga para vapores.
Linha tle coberta principal
l
. :~:~:,tr:l:~:
!H
centro do disco
''
n
do u,::',_:·, ,
t
r~mp. linha
= O>o,4572 {
Grossura .... =0•,025-4
__t±Lo-.-,1--··Y.L.
C~P
~
.__-.J!AL
Dia metro ... . .... . - 0,.,9048
Grossura da linha = 0•,0254
Medidas tomadas desd e
o centro do
disco ate a
parte o lia de
cada linha .
o-,2286 de
comprimento
NOTA - E:rplicaçdo de cada uma das abrtuialuras :
CP- Capitania do Porto .
AD- Agua doce ou rio.
I - Inverno
VI - Verto na Jndia .
V - Verto .
IAN - Jn\'erno Atlantico Norte.
Tamanho das letr....-o-,115 (CP). Tamanho das ou.tres letras indicetivas de cada linha-0-,060
Marcas de :seguro. de aaordo com o regularnO!nlo
das Capilanias dos Por/os Bresil•iros .
NAVIOS DE MADEIRA
(Estampa III)
O casco de um navio tem uma forma toda especial, decorrente dos ensinada pratica de construcção; é composto de varias parte , qualquer .que seja
o mater ial empregado. Vamos estudar essas diversas partes no caso do navio de
madeira.
Quilha é uma forte e grossa viga ele madeira, situada no fundo do navio e que
lhe ~er-ve de base; é reforçada pela parte superior por uma peça que se chama
sobrcquitha e forrada pela inferior por outra, que se denomina sobrcsano ,· esta
a protege no caso de encalhe ou de bater em pedra ou banco.
As quilhas nem sempre são rectas : quando têm a curvatura para fóra são
chamadas tosadas e quando para dentro alquebradas.
Roda de prôa é uma cun·a, determinando a prôa do navio e é entalhada
110 patilhão, que por sua vez o é no extremo da quilha.
A peça que a reforça
externamente tem o nome de talha mar .
Cadastc é uma peça de madeira, cavilhada n'um extremo da quilha, onde
l~ calado ( 1) o leme (2) do navio . E' reforçada internamente pelo contra-cadaste .
mei~tos
Cavernas são peças curvas ele madeira, collocadas verticalmente ele um bordo
e outro ela quilha, e n'ella encaixadas, por um ele seus extremos.
As cavernas encaixam na quilha em um entalhe que se pratica nesta, de um
bordo e outro, no sentido longitudinal, e que se denomina alefris.
Ficam equidistantes; a que determina a maior secção do navio é a caverna
111estra .
r
As cavernas são prolongadas para cima por peças, ligadas aos seus extremos
livres, e que tomam o nome ele primeiros braços,· estes por sua vez prolongados
pelos segundos braços e assim successivamente até a altura conveniente; aos.
ultimos braços dá-se o nome de aposturas.
Dormentes são fortes vigas de madeira, cavilhadas nos ultimos braços e sobre
os quaes clescançam os váos.
V áos são tambem fortes vigas, que descançanclo suas extremidades nos dormentes, onde são cavilhados, vão de BB á BE.
Latas são peças ele madeira, semelhantés aos váos, e collocaclas entre estes,
de BB á BE.
Ossada do navio é o conjucto ela quilha, roda de prôa, caclaste, cavernas, ~om
os respectivos braços, dormentes, váos e latas; tem tambem o nome de esqu~leto
do navio .
C oral é a peça curva de madeira, que serve para reforçar internamente a roda
de prôa e o cadaste.
( 1)
(2)
Vide pagina 29.
Vide pagina 20.
-19-
Buçardas são peças curvas de madeira, que servem para reforçar a roda ele
proa e o caclaste ele BB á BE.
.
C,ostad.o é o ~abo~do exterior elo navio, cavilhado sobre a~ cavernas; as taboas
cJue ficar_n JLmto a qml~a, tomam o nome de taboas do resbordo. O taboado elo
costado e calafetacló, afim ele tornai-o estanque.
.
Os pavimentos elo navio tomam cli~ersos nomes, sendo que 0 primeiro, exposto
clObtempo, chama-se conve::,· os demais sãos a primeira segunda terceira etc
co ertas .
'
'
'
·'
. . O taboaclo destes paYimentos tambem descança sobre váos. Nos antigos
lla~IOS a parte c!~ convez entre o mastro grande e a popa tomava o nome ele tolda·
hoJe, por analogia, usa-se esta expressão para designar a parte elo convez a' ré.'
Pés de, carneir~ são colu.mnas ele madeira ou ferro, crue supportam verticalmente os vaos . A bordo ela-se este nome, em geral, a toda a columna vertical
c1ue serve de supporte.
c
Borda é a parte, que, em prolongamento elo costado, fica acima do convez;
é constituída pelo taboaclo pregado. por :Ien_tro e por fóra elos cabeços, que são
columnas verticaes fixadas em contmuaçao as cayernas.
. Am_urada é a parte interna ela borda.
.Entre a amurada e a borda em al uns
de trmchetra, e onde sao guardadas as maccas ( rêcles) da marinhagem.
0
11~ 111 ~
Quando a borda é constituída só pelo taboado externo toma a ele
· ele b01·da falsa.
'
nommaçao
Corrimíio da borda é o corrimão que corre por cima da borda.
Balaus_trada é o conjucto de columnas de ferro, ás vezes de metal, e correntes
ou vergalhoes que em alguns navios substitue a borda e protege a guarnição.
Trincani::: são grossas taboas que por cima dos dormentes servem de ·uncção
1
entre o taboado do convez e a borda.
'
Bochecha é a parte curva do costado junto á proa.
Amura é a parte da borda junto á proa.
. Alheta é a parte curva na popa elo navio, de um e outro bordo; nos navios
antigos formava um angulo bem determinado.
Clara do leme é uma abertura na popa, ao longo elo cadaste J)Or onde )assa
1
a madre elo leme.
'
Painel da popa é a parte elo costado que fica entre a clara do leme e as alhetas .
Grinalda é a parte superior elo painel da popa.
" . Lem_e é uma peça de m_a~!eira ou _ferro, que collocacla á popa, junto ao cadaste,
,tne pata manter ou modificar a direcção do navio.
. Escov_em é a a~ertura feita ra borda, que se destina a passagem ela amarra,
espi~ ou. VIr~~ ouro;_ e forrad? por ur:r tubo de ferro, que se lhe adapta exactamente
e CUJO fim e Impechr as avanas, devidas ao attricto da amarra .
Portinh~las _são abertt~ras quadrangulares no costado, para ventilação, trabalho de artJlhana ou serviço de carga; as que ficam proximo da linha d'agua
para carga, tomam o nome ele resbordo.
'
_ _ Vigias são ab~rturas c.irculares, feitas no costado para arejamento e illuminaça? dos co~partnnent?s mten:os; são fechadas por meio de tampas circulares,
p:o.vicla: de 'Iclro, que e denommaclo olho de boi. Em occasião de combate as
vigias tem seu fechamento reforç_aclo por t~mpas de aço, denominadas vigia; de
~o~ubate · O nome de olho ele boi tambem e dado aos vidros que tapam os furo~
leitos no convez e que servem para illuminação dos compartimentos internos.
-20-
Embornal é o furo praticado na borda, junto ao trincaniz e que serve para
escoamento das aguas do convez.
T ombadilho é o a soalho formando um plano aerma da tolda, á ré.
C onvez é todo o taboaclo, ele popa a proa, cavilhado nos váos.
iJaviO~ fie~ formada tu~a especie ele caixa, com cobertura de lona, que tem
Portaló é a abertura praticada na amurada e que serve para entrada ou sa·
biela do navio. Tem junto a elle no costado, uma escada que toma a denominação
de escada de portaló.
Castello é o assoalho acima do convez, avante.
.
Passadiço é a construcção elevada do convez, geralmente do meio elo navio para
vante, ele onde o com mandante dirige a manobra.
Nelle estão situados os apparelhos ele navegação e governo, protegidos por
<lllteparas ~ue formam a casa do leme.
Supcrstructuras são as construcções situadas, acima elo convez, destinadas
c1uer a carga, quer a clepenclencias de passageiros. Podem ir ele pÓpa a proa ou
t.erem clivicliclas em secções.
Ca'marins são as depenclencias destinadas aos instrumentos de navegação,
apparelhos de radiotelegraphia e signaes.
Escotilhas são aberturas rectangulares praticadas no convez e cobertas, que
servem para communicação entre os varias pavimentos elo navio .
As pequenas escotilhas tomam o nome ele escotilhão.
As escotilhas são guarnecidas em seu contorno por vigas de madeira. denominadas braço/as; as que se destinam ao serviço de carga, são cobertas por tampas
de madeira que tomam o nome ele quarteis. Havendo necessidade ele arejar a
carga são estes em partes substituídos por :radre::es ,· em occasião ele máo tempo
os quarteis são cobertos por pedaços de lona, conhecidos pelo nome ele c11cerados;
são fixados ás braço las por meio ele sarrafos ou barras ele ferro.
As escotilhas destinadas á passagem de pessoas são providas de escadas e de
uma armação, para evitar accidentes, aos que transitam no convez; esta armação
tem o nome de meia laranja. Em occasião de chuva são cobertas por capas
de lona.
As escotilhas cujo fim é o arejamento e illuminação dos compartimentos inferiores, são providas de gaiuta, armação especial que resguarda ela chuva, sem
escurecer; é uma caixa enviclraçacla, com duas meias tampas, denominadas abas .
Agulheiros são aberturas feitas no convez para communicação com as car-,.oeiras; é por elles que se encarvoa o navio; têm tampa, que engraza ou atarracha
na gola, que o guarnece.
Enom é a abertura praticada no convez para passagem do mastro.
Mesas das enxarcias são pranchões ele madeira, cavilhados no costado, horizontalmente, na altura do trincaniz, cujo fim é disparar as enxarcias. Na sua
parte superior são fixas as bigotas e ficam aguentadas para baixo por barras ele
ferro, denominadas fuzis,· as cavilhas que os atracam ao costado tomam o nome de
batoque e ao conjuncto della? e dos fuzis, o ele abotocaduras, modernamente em
desuzo.
Mesas das malaguetas são pranchas de madeira, cavilhadas horizontalmente
na amurada e providas de aberturas circulares, nas quaes são enfiadas as malaguetas, que servem para dar volta aos cabos.
Bonecas são peças de madeira collocaclas, parallela:tente e por ant'avante dos
mastros, tendo diversos gornes, ( 1) que servem para por elles passarem os cabos
de laborar; são tambem guarnecidas ele malaguetas para dar volta aos cabos.
Escoteiras são peças semel!mntes ás bonecas e que servem para a passagem
das escotas de gavea.
(1)
Vide pagina 64.
-21-
ESTAMPA !I[
~1·
3
7
3ecção longi1udinal de navio de madeira.
Escoteira
.Secção tran:sversal de navio de madeira .
!-(Jtltll?a. fa-11/e/r/s. Z-5o.Órél?utllta. 3-5o.bresano. -'1-/ibda d6' prôa.
5-Paftlhaõ . 6-lãlha mar. 7-cadasle. 8-Co/7/ra cadasle. 9-Cave;onas.
10-Prlme/ros braços. !!-Segundos .braços. !Z-1/posluras. 73-!Jormenles.
!7'-Ya'os . 15-Cora/. 16-Pé de carnetro. !7-llmirada. !8-Borda./9-Corrimão
da borda. ROJTrincam'z.. 2!-:-Meza das malaguf?!as . Zí?-!1alaguf?las.
V1gia.
1- Tampa com olho de boi. .2- Tampa de combate.
3- Borboleta.
'±- Orelh.:1
~-Borracha.
•
NAVIOS DE FERRO OU ACO
->
(Estampa IV)
Os navio!l de ferro ou aço não são todos construidos do mesmo rpodo, como
acontece com os de madeira; trataremos em primeiro lugar dos que mais se asse
melham a estes e depois apontaremos as di Herenças que existem entre os dois.
Vejamos as diversas partes de um navio ele ferro ou aço.
A quilha tem a mesma importancia que nos navios de madeira; póde ser
de tres especies: quilha massiça, ~1uilha de chapas ou quilha chata.
Quilha massiça é a formada por longas barras de ferrQ ou aço; é seme!han!{
á dos navios de madeira. Quilha dP chapas é a formada por chapas de ferro
ou aço, collocaclas verticalmente e cravadas umas ás outras; a elo meio tem maior
altura que as demais e sua parte mais alta toma o nome de sobrequilha. Quilh~
rhata é a formada por uma chapa, igual á elo costado, com maior espessura.
Afim de evitar grandes balanços são usadas quilhas b.tcraes, collocadas ne
bôjo do navio ( 1), denominadas bolinas.
As sobrequilhas são em numero maior e tomam os nomes, conforme a:
posição que occupam; assim, sobrequiiha central é a que fica sobre a quilha, por
cima das cavernas; sobrequilha lateral é a que fica de um bordo e outro da
central; algumas vezes a distancia entre o bôjo e a quilha é dividida em maior
numero ele partes e tem duas ou mais sobrequilhas; sobreqtúlha intercostal é
a constituída por chapas co!locadas entre as cavernas e ligadas a estas e ao fundo;
ellas variam tambem na forma, sendo as primeiras constituídas por barras.
A roda de proa é ligada ao extremo anterior da quilha e reforçada interior·
mente por chapas horizontaes, denominadas buçardas. Sua forma é geralmente
recta, com a parte superior recurvada para fóra, em navios mercantes, e de nariz,
nos de guerra, sendo nestes a parte mais saliente chamada ariete.
O cadaste differe em grande parte nos navios a vapor; compõe-se do cadaste exterior e cadaste interior; estas duas partes verticaes, são unidas nos
extremos superiores pela abobada e nos inferiores pela soleira, tomando o rectangulo assim formado o nome de clara da helice. O cadaste interior tem uma
abertura denominada ocu lo do tubo do eixo da helice, por onde passa o eix•).
O cadaste é tambem reforçado internamente pelas buçardas.
As cavernas são constituídas por laminas de ferro ou aço, que vão de um
bordo a outro; qua~do não têm interrupção, tomam o nome de cavernas continuas;
as que ficam na proa e popa, mais altas que as demais, são as cavernas altas,·
quando se trata de navios de construcção especial, de fundo duplo, são ellas
denominadas cavernas intercostaes.
Armaduras do bôjo são chapas ou cantoneiras, que á BB e BE, presas áSj
balisas, reforçam a estructura no sentido longitudinal. Acima dellas fica uma
outra, que toma de lateral.
(1)
Bôjo é a parte mais arredondada do navio.
-23
(Dicc. Marit.)
[STAMP/liV
Boeiros são furos praticados na parte inferior ela; cavernas para escoament•1
elas aguas. Os fundos elos navios, até a altura elos boeiros, são geralmente c1 ·
mentaclos.
E alisas são as peças que correspondem aos braços nos navios ele madeira;.
são constituídas por cantoneiras ele ferro, com a neces ar ia curvatura.
Contra-balisas são outras cantoneiras que reforçam as balisas pela parte
interna.
Os 'l'áos são presos á<; balisas por meio de cantoneiras ele ferro ou aço.
aguentados pela parte central, por pés de carneiro.
S:io
As chapas do costado são fixadas ás balisas e umas ás outras por meio d::
rebites. A borda é sustentada par~ dentro por um travessão ele ferro, deno
minado estay da borda. O costado é reforçado nos seus pontos mais fracos;
por cintas de reforço.
O convez é constituído por chapas de ferro ou aço, fixadas aos váos respectivos. As enoras e escotilhas são guarnecidas por chapas, que na primeira se
ajustam aos mastros e na segunda formam as braçolas.
Anteparas estanques são as anteparas que dividem compartimentos, de modo
que fiquem completamente isolados uns elos outros.
C ompartim('ntos estanques são os formados por anteparas estanques; o primeiro a contar ela proa toma o nome ele compari imcnto de collisão.
O systema de construcção que tomamos por base e que acabamos ele descrever
é o chamado transversal, sendo o usado na construcção de navios mercantes pequenos. Os navios de guerra e os grandes navios mercantes são construidos pelo
systema denominado mi.xto ou com fundo duplo, que tem sobre o primeiro varias
vantagens, como veremos depois de sua clescripção.
SecÇão lon~il:udinal de navio de ferro .
Fundo duplo é o espaço comprehendido entre o fundo do navio e chapas horizontaes, que descançam sobre as cavernas e supportes longitudinaes; tanto estas
como aquellas guardam entre si di<;taricias muito menores do que nos demais
navios e têm altura muito maior.
Plataforma do fundo duplo é o conjunto de chapas, que formam o tecto do
fundo duplo.
A disposição das cavernas e supportes é variavel; ora as cavernas são continuas, da sobrequilha central até o supporte do bôjo, ora os supportes são contínuos e as cavernas interrompidas; alguns supportes e cavernas são providos de
furos, conhecidos por ellipses, que permittem a passagem ele um homem.
b
DID
Fundo duplo cellular é o subdividido, pelos supportes ou cavernas, em pequenos
compartimentos ou cellulas; algumas vezes, determinado numero de cellulas forma
secções estanques, de modo que o fundo duplo fica constituído por varias compartimentos estanques. Estes fundos duplos são aproveitados para depositas
d"agua ou tanques de oleo.
c
Quilhas .
Fundo duplo parcial é aquelle que não occupa todo o fundo do navio.
Agulheiros são aberturas feitas na plataforma do fundo duplo para entrada
no mesmo.
Ftmdo duplo de ca~•r mas continuas é aquelle em que a plataforma descança
em supportes, que correm longitudinalmente sobre cavernas continuas; tal fundo
não tem divisão alguma.
Os fundos duplos têm as vantagens seguintes :
a)
augmentar a resistencia do navio no sentido longitudinal ;
b) augmentar a segurança do navio no caso de avaria, pois que a plataíorma do fundo duplo constitue um segundo fundo;
1
Secção interna de navio de ferro
1 - Quilha; a) mas~iças; b) de chap!ls; c) chata. 2 - Sobrequilha; a) central; b) lateràl:. 3 - Roda de prôa. 4 - Cada~t~; a) cadas~e e-:terno ; _b) cadaste · intern o.: c) abobad_a; d) iol~ira. 5 - Cavernas; a) ~ontmuas; ,b) ~ntercostal.
6 - Ca"v('rnas altas. 7 - Balisas. 8 - Armadura do bOJO. 9 - V aos. lO- Aytef!.E!.a estanque_. 11 - Buçarda. 12 - Clar~ da heli_ce. 13 - Owlo do tubo d~
eixo da helice. 14- Chapas do resbordo. 1:J - Boe~ro. 16 - Costado. 17 - Pe
de carneiro. 18- Borda. 19- Corrimão da borda. 20- Estay da borda. 21Plataforma -do fttndo duplo. 22- Supporte central. 23 - Supporte lateral.
-24-
•
EsrAMPA
IV
Cadaste de navio de ferro a vapor
Fundo duplo cellular.
ll
,,
\•
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fundo duplo com cavernas conl:inuas.
~r,'.)''
,
''), \
ESTAMPA IV
Interior de navio de construcção I sherwood
.!
I
!
'l
\1
~1
Proa de nariz
S ecção de navw couraçado
ESTAMPA IV
Navio de cimento armado
c) permitte a compensação do nav1o, enchendo cl'agua parte elos compartimentos, em que é elle subdividido;
d) servem, cheios d'agua, para lastrar o navio, com grande vantagem sobre
CJUalquer outra especie de lastro, pela facilidade de embarque.
O terceiro systema é o de construcção longitudinal, mais conhecido pelo
110me de seu inventor, Isherwood, e que tem cada vez maior applicação, principalmente nos navios que se destinam a conducção de oleo.
E' constituída a ossada do navio por uma serie de vigas de ferro longitudinaes, parallelas, semelhantes aos supportes, as quaes são travadas no sentido
transversal, por meios das cavernas; em seguimento a estas, no sentido vertical
i icam as balisas.
Os extremos das balisas são ligados pelos váos ,de maneira que as vigas,
cavernas, balisas e váos formam um conjuncto de travamento. Alguns supportes
~ão mais altos que os outros e sobre elles corre o convez do porão; os meios dos
yáos são aguentados por pés de carneiro.
O convez collocado por cima dos váos da coberta é reforçado, inferiormente,
por vigas de ferro, longitudinaes, denominadas armaduras.
Corre de popa á proa e a meio navio uma antepara estanque.
o travamento é bem forte, o que justifica o uso de tal systema.
Como se vê
Os navios de guerra são construidos, conforme já dissemos, pelo systema
mixto. Têm, porém, disposições especiaes para sua protecção contra torpedos e
projectis inimigos. A compartimentagem estanque do navio, bem assim a do
iunclo duplo, constituem elementos ele protecção; o numero desses compartimentos
é maior elo que nos navios mercantes.
O convez da coberta, nestes navios, é reforçado por uma couraça, horizontal
na parte central e inclinada junto aos bordos; parallelamente e proximo ao costado
corre uma antepara longitudinal, que forma com elle um espaço, chamado
cofferdam.
A parte elo costado que fica do convez couraçado para cima, tambem é couraçada. A espessura ela couraça varia não só com o typo ele navio como com o
local que ella protege; alguns navios têm couraça de pouca espessura ou somente
nas suas partes principaes e neste caso, tomam o nome ele protegidos .
•
-25-
EsTAMPA
V
NAVIO COMPOSITO
(Estampa V)
Este typo de navio não é mais usado, pelo que daremos delle apenas ligeira
noticia.
Navios composito são aquelles que têm as cavernas, sobrequilha e váos de
ferro e a quilha, sobresano, roda de proa, cadaste e costado de madeira.
As diversas peças são feitas de accôrdo com o material de construcção empregado e assim é facil pelos capítulos - navios de ferro e - navios de madeira dar as varias denominações. A estampa V melhor elucida este caso.
t·Qni~
2.-5obl"'i!qwll\a
1-SchN"'-'l"'I. 4--<CaWmu. 5·8oeiro
6-BÕliaa.. 7-Goalado . 6-V4o&- s-comau 10-Pé d~ cal't'Wtro.
-26-
NAVIO DE CIMENTO ARMADO
(Estampa VI)
Os navios de cimento armado são os de mais moderna construcção; appareceram com a guerra, em consequencia da falta de aço e pela impossibilidade
ele ser importado; todo o existente era exigido para o fabrico de armamento de
guerra . Começadas as construcções, verificou-se logo a rapidez com que eram
feitas, bem assim o resultado satisfactorio que apresentavam, pelo que foi crescendo o numero de navios desse typo.
A Noruega. foi o berço destas construcções, donde se propagaram para
Inglaterra, Italia, França e Estados Unidos. Antes ela guerra já havia sido o
systema empregado em pontões, então muito utilisados na construcção .elo canal
de Panamá .
Este systema consiste em uma armação ele ferro, constituindo a ossada, com
uma rêde ele ferro ela fórma do casco, a qual é coberta com um mixto ele cimento,
saibro e areia, misturados humiclos; depois· ele secco fica formado um bloco
monolithico que constitue o casco. As anteparas e convez, ora são de cimento
c.rmado, ora ele madeira.
A construcção do navio é feita por differentes processos. Um delles consiste em collocar a armação ele ferro, com a rêde ele arame, dentro de uma
fôrma de madeira, com a fórma do navio; e depois encher esta com o conglomerado de cimento; prompto assim· o casco, é lançado n'agua. Tal processo
tem o inconveniente de que o navio soffre muito na sua estructura na occasião
do lançamento, depois de tirado da fôrma. Procurou-se então um outro meio,
e resolveram os constructores fazer a construcção de quilha para cima; para isto
é a fôrma construída attendendo a esta circumstancia e só tem uma parte; sobre
ella são collocadas a armadura e a rêde, depois o conglomerado. Prompto o navio
é elle lançado invertido, após o que, introduz-se-lhe um pouco d'agua, de modo
a desequilibrai-o e por meio de um rebocador, ou uma espia alada de terra, completa-se a volta, sendo assim posto direito; é em seguida esgotado.
Afim ele diminuir este trabalho, os allemães experimentaram um systema,
que, além ele dispensar a fôrma, torna o lançamento mais facil; consiste em um
clique, cuja -fórma interna é a elo costado elo navio, tendo num elos extremos uma
antepara fixa e no outro uma movei; constroe-se o navio, aproveitando para fôrma
o proprio dique e quando prompto é retirada a antepara movei e ala-se-n'o
para fóra.
Taes navios têm tambem sido construidos com chapas de cimento armado,
semelhantes ás de aço; grandes espigões ele ferro são presos a ellas, em posição
normal; feita a estructura ele ferro são as chapas adaptadas e atracadas internamente pelos espigões ; corre-se depois uma camada de cimento por cima.
Os navios ele cimento armado apresentam as seguintes vantagens :
l.a
2."
maior rapidez de construcção;
evitar despezas de conservação do casco, que não é atacado;
-27-
3.a não exigir operarias especialistas de construcção naval;
4.n
superfície mais hsa, donde menor resistencia de attrito;
maior duração, pois que a parte atacavel ele ferro, ás vezes zincado. é
coberta pelo cimento;
6.a menor despeza de conservação.
s.a
A' par dellas tem as seguintes desvantagens:
1.•
maior peso para a mesma capaciclacie;
2.a maior despeza ele construcção; esta causa será superada em breve pela
diminuição que tem sido obtida;
3.a offerece menor resistencia ao choque.
A comparação das :rantagen~ e desvantagens pende mais para aquellas, haYenclo quanto a estas mews de mmoral-as; assim é que uma forte defensa semelhçmte a verdugo de escaler, amortece o choque.
'
O tem~o tem provad? possuírem a elasticidade sufficiente para supportar
choques, pois que em vanos casos as avarias têm sido menores do que era de
.esperar e ?,s co~c{.~~os foram rapiclos, além ele mais baratos do que os de aço.
E recente Revista traz alguns casos em que ficou provado que as avarias quer
p~r abalroam~nto, quer pela queda na occasião ele lançamento, quer pelo encalhe,
nao foram alem do que acontece com os de aço.
~ .rapidez .de constr~1cção e ~ possibiliciaclc ele emprego ele operarias não
especialistas,. aliJados a nao necessidade ele aço para sua construcção, foram as
causas que Ílzera.m .co~ que clu~ante a guerra o incremento fosse grande; terminada ella, tem. ci.Imi.mnndo sensivelmente e, pela preferencia de armadores pelo
<<ÇO, tend~ a dimmuJr.
Um engenheiro naval allemão aconselha a sua utilisação
para navws de cargas leves.
LEME
(Estampa VII)
Leme é um apparelho situado na pôpa junto ao caclaste, com o '11•n de manter
ou mudar a direcção que segue o navio.
O leme gira em torno do cadaste ou ele um eixo, parallelo a elle. Compõe-se
de madre e porta; a madre é a parte em torno ela qual gira; é, geralmente ligada
ao cadaste por meio de machos, que enfiam nas femeas, nelle fixadas; sua parte
superior, chamada cabeça, entra na clara do leme e termina em fórma cylinclrica;
chama-se porta ou safrão a superfície presa á madre e sobre a qual actua a agua.
A parte inferior elo leme tem o nome de patelha e o conjuncto de machos
e femeas o ele governaduras . O tamanho e fórma do leme variam não só com
a fórma do navio, como com o propulsor adoptado; assim, quando o navio tem
iórmas finas o leme é menor do que quando as tem largas; quando a helice gira
normalmente com rapidez, o leme é menor do que quando o faz lentamente.
Como exemplo disso temos as lanchas á gazolina, ele grande velocidade, nas quaes
o leme é muito pequer!o .
A acção do leme é obrigar a prôa do navio a ir para um bordo ou outro,
pelo effeito do impulso da agua sobre a porta, o que explica as considerações
acima, sobre o tamanho do leme e sua fórma.
Alguns lemes não têm a madre collocada na parte de vante da porta e sim
a uma distancia della, igual a um quarto da largura; chamam-se lemes CO'I'f!··
pensados.
Na cabeça do leme é encaixado um extremo da canna do leme, barra ele
ferro ou madeira, que serYe para movei-o para um bordo ou outro; no extremo
oppost6, tem a canna olhaes para os gualdropes; tomam este nome, os cabos que
ligam a canna á roda do leme e são fixos num extremo da canna; passam em roldanas (macarrões) collocaclas no convez e vão ter á roda.
fuitas vezes a
canna é substituída por um arco de cerca de quarenta gráos, ligado pelos raios
extremos ao centro, o qual encaixa na cabeça elo leme.
A roda do leme serve para dar-lhe movimento, por intermedio dos gualdropes;
compõe-se do tambor e da roda propriamente dita, que contem raios salientes
chamados malaguetas; no tambor são enrolados os gualdropes. Algumas vezes
as rodas são duplas, triplices e quadruplas, ligadas ao mesmo tambor, bem assun
a ligação do leme e da roda é feita por meio de engrenagens.
A operação de collocar o leme em seu lagar chama-se calar o leme e a de
tirar, descolar o leme .
A corrente ou cabo que prende a porta elo leme, afim de evitar que elle se
<!escalando vá á pique, tem o nome de fiel do le111 e .
A movimentação do leme é muito pesada, sendo necessario dois, quatro <,u
mais homens para tal serviço; o emprego de uma machina á vapor, hydraulica ou
electrica, collocada entre a roda e o leme, de modo que o movimento da roda a
faça Junccionar, facilita o trabalho; esta machina tem o nome de servo-motor.
-28-
-29-
EsrAMPAVJJ
Quando se trabalha com ella diz-se geralmente que se trabalha com leme a
1-·apor ( 1) e neste caso são desfeitas as ligações para o leme á mão.
Axiometro ou. indicador de leme é um apparelho que serve para indicar ao
timoneiro quantos gráos está carregado para um bordo ou outro; é collocado
junto a roda do leme.
O leme póde soffrer avarias na roda, na canna, nos gualdropes ou no leme
propriamente. Quando a avaria é na roda e tal que não se possa governar com
ella, recorre-se á roda collocacla em outro logar do navio; quando é na canna
pêa-se o leme e muda-se pela de sobresalente; quando nos gualdropes, collocam-se
duas talhas, uma de cada lado da canna, fixas a ella e ao costado, e de tal modo,
se governa o navio.
A avaria sendo no leme, procura-se tirai-o para substituir, si possível; em
todo caso emquanto se concerta ou na impossibilidade da substituição emprega-se
o leme de fortuna ou esparrela, aliás, hoje em dia de muito pouco uso, devido
ás grandes proporções dos navios, á facilidade de governo com duas helices e ao
auxilio efficaz da radiotelegraphia, num pedido urgente do soccorro.
Ha muitos modelos ele lemes de fortuna e sua confecção varia com os elementos de que se dispõe á .bordo; nos limitaremos a dar as figuras ele alguns
destes modelos, sem nos determos na descripção.
(1)
Transmissão do leme e roda
Esta phrase deve ser substituída pela de leme a motor.
l.eroe cornpensadc
1-H<KI~ 2-Porlt1 ou
.,q"N"õ .3-C..óeça "1-lf«//o
.5-..tbda 6 -C"dnmdek~
ar!tw14 dll 7-MI!IM§u«a 8-'kl~g!VJ;;Ito Ú8 m«<Nna 9-.81i4C'I.IIII
Camarim do passadiço
Leme de fortuna
-30-
,.,
MASTREAÇAO
(Estampa VJJI)
A mastreação comprehende os mastros, mastareos, vergas, curvatões, pegas
e accessorios .
Mastros são peças cylindricas de madeira ou ferro com ligeira inclinação
para ré, collocadas no plano longitudinal do navio e aguentadas em sua posição
por meio de cabos. Os mastros têm por fim, nos navios de vela, aguentar as
vergas, nas quaes são envergadas ( 1) as velas, de modo que sobre ellas actue
o vento, imprimindo ttnovimento ao navio. Nos navios á vapor os mastros servem para signaes, para supportar a antenna de radiotelegraphia, para movimentação dos páos de carga e para serem adaptados postos de observação, com a
fôrma de plataformas ou de tinas.
Vamos estudar em primeiro Jogar o typo classico de mastro de navio de
vela, com as suas peças e accessorios. Taes mastros não são feitos de Ulma só
peça, para não se tornarem muito pesados á manobra e por ser mais facil encontrar madeira de comprimento conveniente; são divididos em secções, fixadas
umas ás outras por meio de pegas e wnlzas. Contando de baixo para cima, a
primeira secção chama-se mastro e as demais tomam a denominação de mastareos.
O mastro real tem pé, romã e calcez; pé é a parte inferior, na qual fica a,
mecha, que encaixa na carlinga; romã é a parte mais grossa do mastro; calcez é
a parte superior á romã e mais delgada que ella; termina por uma mecha e seu
extremo superior tEim o nome de topo.
Curdatões são duas peças de madeira ou ferro assentadas sobre a romã, no
sentido de pôpa á proa.
V áos são duas peças de madeira, ou ferro que, de BB á BE, assentam sobre
os curvatões.
C esta de gavea é um semi-círculo ele madeira ou ferro, com o arco para
vante que assenta sobre os váos ; tem no meio uma abertura, para entrada do
calcez e cujo nome é clara da gavect. E' formado por xadrezes e o arco é chamado arco de gavea.
M astaréo é, colmo dissemos, o nome que tomam as secções superiores dos
mastros; os primeiros têm o nome generico ele mastaréos de gaveas. Possue
como o mastro, pé, romã e calcez; o pé cliffere em ter uma abertura vertical,
casa da cunha, afim ele passar a cunha, e não ser provido de mecha.
A ligação do mastaréo com o mastro é feita elo modo seguinte: o mastaréo
passa pela parte circular ela pega, que tem a sua parte quadrada encaixada no
calcez do mastro; o pé é atravessado pela cunha, a qual repousa sobre os váos.
( 1) Envergar é fixar o panno á verga, carangueja, etc., por melO de empunidouros
e envergues, que abraçam a verga e os vergueiros. (Dicc. MilriL)
-
31
A pega é uma peça de forma approximadamente elliptica, provida de dois
furos, um circular e outro quadrado.
O mastaréo de gavea não tem curvatões sobre a romã; os váos que sobre
elle descançam se chamam vá os de joa<nete e não têm cesto de gavea.
Os mastaréos de joanete seguem aos de gavea e têm as mesmas partes. Espigam depois os mastaréos de sobre ; compoem-se estes de pé, encapelladura e
galope; o ga•lope é o extremo superior, e, nelle emmecha uma peça circular, provida de tres furos, dencuninada borla,· a encapelladura é a parte mais grossa,
proximo ao galope.
Os mastaréos de joanete e sobre são muitas vezes feitos de uma só peça e
chamados inteiriços ou môchos ,· em tal caso se dividem em pé, duas encapelladuras e· galope.
Gurupés é uma grossa peça de madeira, que parte elo castello para vante e
tem uma inclinação sobre a horizontal ele 35°, proximamente; é semelhante a um
mastro. Compõe-se ele pé e topo; o pé fica no castello e tem uma mecha que
encaixa na trempe do guru pés; topo é o extremo opposto.
Pau da bujarrona é uma peça que, á setmelhança elos mastaréos, serve para
augmentar o guru pés e é e pigaclo no prolongamento deste; seu pé encaixa no
chapuz do guru pés, peça que termina a casa do guru pés ( 1) ; passa por uma
pega collocacla no topo do guru pés. A parte que fica acima da pega toma o
nome de topo; ha nelle um rebaixo feito para se fixarem os patarrazes (2) e no
extremo é collocaclo um aro.
Pau de giba é uma vergontea, que, a semelhança do mastaréo de joanete etm
relação ao de gavea, serve para augmentar o comprimento do pau da bujarrona;
clescança o pé neste pau, passa pelo aro que fica no topo e tem a encapelladura
proximo a outra extremidade, denominada !ais.
O gurupés tem mais, junto a pega e para baixo, em posição ligeiramenlt'
inclinada, o pau de pica-peixe, e para BB e BE, duas vergonteas horizontaes,
denominadas barbas de baleia ou vergas de cevadeira,· tanto mumas como noutras,
a parte que fica junto ao gurupés se chama pé e o outro extremo, la'is.
Terminado o estudo elo mastro typo, vejamos o elas vergas.
V ergas são peças que cruzam os mastros, ele BB á BE ou ele popa á proa;
no primeiro caso são denominadas vergas redondas e no segundo latinas.
As vergas redondas se dividem em cru:J, que é o meio, terços, partes mais
grossas á BB e BE, junto a cruz, cunhas, partes quadradas proximo aos extremos; as extremidades tomam os nomes ele laiscs.
As vergas são providas de ferragens, as quaes variam conforme ellas cruzam
mastros ou mastaréos .
As caranguejas têm bocca de lobo, cunho e penal; bocca de lobo é a extremidade que fica junto ao mastro, a qual tem uma disposição especial, de modo a
adaptar-se a elle; cunho é a parte quadrada jurito ao outro extremo, que toma
o nome ele penal. l\Iuitas vezes em lagar ele bocca de lobo a carangueja tam um
espigão de ferro, chamado garlindeo, que enf ia em uma peça fixa ao mastro,
denominada cachimbo ou pé de galli11ha.
Retranca é uma especie de carangueja, mais comprida que ella, collocada
horizontalmente, pouco acima da borda, no mastro de mezena, ou 1mesmo nos
outros mastros.
Paus da sorriola são duas fortes vigas ele madeira disparadas do costado,
perpendicularn~ente a quilha, na altura do mastro do traquete, e que servem
( 1)
(2)
Casa do guru pés é a abertura ·feita na roda de prôa, onde
Vide pagina 40.
32-
pas~a
para nelles serem amarradas as embarcaçõ,s miudas e para accesso de suas guarnições a bordo.
Os mastros e mastaréos são aguentados na sua posição conveniente por
cabos, que fica111 dispostos no sentido contrar;o áquelle em que se exercem
maiores esforços; este assumpto será e.·planaclo no capitulo referente ao maçame.
A mastreação nos n:l\'ios a vapor é di H e rente da dos navios de vela, attendenclo, como vimos, á diversidade de fim cl::! uma e de outra.
Os navios á vapor têm em cada mastro um ou do;s mastaréos; o mastro é
ele t11adeira ou ferro, mas os mastaréos são quasi sempre ele madeira, muito
menores que os já d, scriptos. Xão têm cesto de gav,a, nem curvatões.
O numero de mastros por navio é geralmente ele dois ou tres; os grandes
navios de guerra possuem só um.
·
Quando o numero é ele tres as denominações são: mastro de proa, mastro
grande e mastro ele ré; C!uanclo ele dois : mastro de proa e mastro de ré; quando
tem só um, não ha denominação.
Nos navios ele nm só mastro o ultimo mastaréo aguenta a verga da antenna
da tel egraphia e existe á r,; uma vergontea vertical, chamada mastro da telegraphia, cujo fim é supportar o outro extremo d:t antenna.
A disposição dos 111astaréos ás vezes permitte que elles sejam arriados com
facilidade outras não. Os na vi os de guerra modernos trazcll11 um terceiro mastaréo para o pavilhão ele almirante c uma ou duas lanternas.
Ka pôpa trazem os navios um pequeno mastro, para nelle ser içada 2. bandeira nacional e na proa outro para a handc:ira elo cruzeiro e são chamados páns
ela bandeira e elo cruzeilo.
Os navios ele guerra têm mastros de formas clifferentes; são os mastros
militares, os mastros de treliça e os mastros de tripeça, os quaes são beim apreciados na estampa YIII. ,_ elles a subida é p~la parte interna e ás vezes pela
externa.
Os mastros de navio mercante ~ão tamhem utilisaclos para clispôr os appárelhos para suspender pesos; os mais communs são os páus de carga, e apparelhos de içar escaler e carvoar.
Em navios de guerra ha mastros providos ele plataformas, para observação
e onde fica o offici:tl director elo fogo; ha navios C(l;n nm mastro especial para
tal fim.
Os mastros e mastaréos thn vergas pequenas, destinadas a adriças de signaes
e de bandeiras; seu ntlmt.ro varia ele dnas a tres; são geralmente ele madeira, de
secção octogonal.
Antes ele terminar este capitulo daremos alguns termos que interessam o
assumpto nelle tratado.
Arvoredo é o conjuncto de mastros, mastaréos e vergas elo navio.
lliastrcar é pôr os 111'\stros no navio; dcsmastrcar é tirai-os.
Enfurnar é introduzir os mastros pelas enóras até chegarem á carlinga .
Guinda é a altura elo mastro.
Palha é a grossura elo mastro ou verga.
Lais é o comprimento ele uma verga.
Navio em ttnastros reaes diz-se quando o nav1o tem só os mastros reaes en' furnados .
Espigar um mastaréo é collocal-o na sua respectiva posição no mastro.
.
Arriar um mastaréo ou uma verga é descei-os ao convez, muito embora
esta ultima continue muitas vezes cruzada rm posição inferior.
Antcmws são páus ele grancks dimensões, donde se tiram os mastros; tê1.11
tambem tal nome os mastaréos, vergas e páus de sobresale.nte.
T
o guru pés.
-33-
Mastro rendido é o que está rach2do ou quasi partido; o mesmo se diz de
um mastaréo ou verga. Rendidura é a racha ou fenda; concerta-se com chumeas, pranchas que são presas por meio de arreataduras.
Arreatar é a operação que tem por fm concertar com peças de madeira e
voltas de cabos, ou com arreatadura um mastro rendido.
Páus de co'J!nbate são os que espigam quando os navios estão em mastros
reaes, para se içar nelles bandeiras ou flammulas.
ESTAMPA
V//_/
Guru pés
1xe. 5 -
Gurupés. 2 - Pau de bujarrona. 3 --Pau da giba. 4 - Pau de pica-peiVerga da cevadeira. 6 - Figura de prôa. 7 - Pega. 8 - Arco. 9 Estay do galope de prôa. 10- Estay da giba. 11 - Estay de joanete de prôa.
12 - Estay da bujarrona. 13 - Estay do velacho. 14 - Estay do traquete.
15- Estribo. 16- Estay do pica-peixe. 17- Contra estay de pica-peixe. 18Patarraz da giba. 19- Patarraz da bujarrona. 20 - Patarraz do gurupés. 21 Patarra:.: do pau de pica-peixe. 22- Cabresto. 23- Contra cabresto. 24- Guarda wmcebo. 25 - Arco de gavea. 26 - Clara de gavea.
-34-
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3_2_ _--' 30
Mastreação de uma galera
1 -Pau da giba. 2 - Pm{ da bztjarrona. 3 -Pau de pica-peixe. 4 - Gurupés. 5 - M astaréo de sobre de prôa. 6 - V erga de sobre de prôa. 7 - MastÔ!réo de joanete de prôa. 8 - Verg2 de joanete de prôa. 9 - Mastaréo do velacho. 10- Verga do velacho. 11 -Mastro do traquete. 12 - Verga do traqztete. 13 - Carangueja do traqztetc latino. 14 - M astaréo de sobre grande.
15- Verga de sobre grande. 16- Mastaréo de joanete grande. 17- Verga
de joanetr grande. 18 - M astaréo de gavea. 19 - Verga de gavea. 20 - V erga
grande. 21 -Mastro grande. 22- Carangueja do latino grande. 23 - Mastaréo · de sobre gatinha. 24- Verga de sobre gatinha. 25 - Mastaréo de sobre
gata. 26 -- V erga de sobre gata. 27 - M astaréo da gata. 28 - V erga da gata.
29- Verga secca. 30- Mastro da gata. 31 - Carangueja da véla ré. 32 Retranca.
VIII
EsrfiMPR
carangueja .
9
I
L
!3
,1
/
-- - )
[i}ʧ;3--- ---
Ver~a .
- .---- t
---- 2
I
~--:
Mastro
1-Mecha 2-Calcez. . )-Romã . Lt-Pé do
ma:~tro .
,_Pé do mastareo.
6-Ca.sa da cunha . 7. -Terço. 8-Cunho. 9-l..ai:!.
10-Bocca de lobo. 11 -Penol.
v
ESTAMPA VIII
f;
i;
,'v!aslro de
JtaVtO
Mastro militar
a v ela
J.11 astro de paquete
Mastro de
treliça
Mastro da t1·ipeça
CLASSIFICAÇÃO DOS NAVIOS PELO
.3
ARVOREDO
(Estampa IX)
O numero cte mastros cte um navio de vela varia ele dois á sete, sem contar
com o guru pés, que existe em todos; o mais commum é terem clous ou tres.
Galera é o navio ele tres á cinco mastros, todos cruzando vergas, tendo cu r.
vatões e cestos ele gaveas; o gurupés tem o páu da bujarrona inteiriço com u
da giba e, geralmente, o mastaréo ele sobre é môcho com o ele joanete. A galera
tem todos os seus mastros completos. Diz-se tambem, que galera é o navio qut
tem tantas gaveas quantos mastros.
Brigue é o navio qnc tem dois mastros completos, ou é um navio de clua.o
gaveas.
Barca é o navio que tem o mastro da mezena somente com um mastaréo,
chamado ele gaff-top, no qual não cruza verga, e os demais mastros são cm~·
pletos; um ele seus mastros é o ele barra c os demais são ele galera. E' tamberr.
um navio de duas gaveas.
Patacho é a embarcação ele dois mastros, em que o do traquete tem mastaréos ·e vergas e no grande só espiga o mastaréo de gaff-top; um mastro é
de galera e o outro ele barca. E' um navio ele uma gavea.
Lúgar é o navio em que o mastro elo traquete é completo c os demais sc1
têm mastaréos de gaff-top; um mastro é de galera e os demais são ele barca:
só tem retranca no mastro de ré . Póde ter de tres á cinco mastros .
H iate ~ o navio que tem os mastros com mastaréo de gaff-top; todos sãu
mastros de barca, com retranca, e seu numero varia de dois á sete. O hiate
muitas vezes cruza no mastro do traquete uma verga, denominada redondo, que só
é içada por ocêasião de ser utilisada a sua vela.
Clypper é o navio de forma~ muito finas e grande superfície vellica; tem
mastros de h iate.
Polaca é o navio de dois á tres mastros, cada um delles inteiriço com o mastaréo de joanete; cruzam tres vergas por mastro e não têm cesto de gavea, nem
curvatões e váos.
Escuna é a embarcação de dois mastros, em que o mastaréo elo velacho é inteiriço com o do joanete e o mastro grande só tem mastaréo ele gaff-top; cruza tres
vergas no mastro do traquete, sendo que a verga do traquete é secca, isto é, não
tem vela. O mastro do traquete é mastro de escuna e o grande é de barca.·
Além destas embarcaçõe temos a sumaca e os typos combinados .
Sumaca é a embarcação cujo mastro do traquete é inteiriço com o mastaréo
do velacho e o grande é mastro de barca; crnza duas vergas no traquete.
Combinando os mastros característicos de cada especie temos : barca-escuna.
que tem o mastro do traquete de galera, o grande ele escuna, e o da mezena ele
-35-
barca, o lugar-escuna cruza vergas no mastro do traquete, tendo ap::nas o mastaréo de velacho, sendo a verga do traquete secca, e os mastros grande e da
mezena só têm mastaréos de gaff-top; o brig11c-esnma tem o mastro do traquete
de galera, e o grande de escuna.
Nos navios de quatro mastros os nomes são de vante para ré: traquete. grande,
mezena e de ré; nos de cinco : traquete, grande, central ou do centro, mezena e ele
ré; nos ele seis e sete são numerados, tambem ele vante para ré, e costuma-se dizer
um dois, etc . páus.
São estas as principaes embarcações; ha ainda as empregadas no trafego ela
costa, entre togares proximos, e no elo porto, que são em grande numero e cujos
IIomes variam com os togares e fins a que se destinam. Entre elles citaremos o
pathabote e a fatua.
Palhabote é a embarcação de dois ou tres mastros, sem mastaréos n em vergas
redondas .
Falúa é a embarcação ele duas proas, com dois ma ·tros, utliisacla no serviço
de barra dentro.
-36-
EsrAMP~
IX
Barca
Hiate
APPARELHO
(Estampa X)
Apparclho é o conjuncto de cabos, velas, poleame e ferragens necessarios á
<-egurança da mastreação, manobra do navio e a diversas fainas.
O apparelho é dividido em tres partes :
l.a
2."
3.'"
poleame;
maçame; e
velame.
Poleame é o conjuncto de peças de madeira, ferro ou outro metal com ou sem
roldana, por onde passam os cabos do apparelho.
Maçame é o conjuncto de cabos do navio.
Velame é o conjuncto de velas do navio.
O apparelho ainda se divide em fixo ou de laborar; é fixo o que serve para
aguentar e fixar a mastreação e velas. e é de laborar o que se destina a movimt>ntação dos mastaréos, vergas e velas.
POLEAME
O poleame se divide em poleame surdo e poleame de laborar; na pnme1ra
classe estão as peças que não têm roldanas e na segunda as que têm.
O poleame surdo comprehende bigotas, sapatas e cassoilos; e o de laborar,
moitões, cadernaes e patescas. Além destas peças ha varias outras, accessoria<;
como arganeos, gatos, macacos ou esticadores, etc.
O p leame é feito tanto de madeira como de ferro.
'O furo ou furos que tem o poieame surdo denominam-se olhos,· o emprego
de tal especie á bordo é para fazer com que os cabos da mastreação fiquem separad~s, uns dos outros, na sua descida, ou para fixação dos cabos fixos.
O poleame surdo é fixado por meio ele cabos, passa.dos em um rebaixo exislente nelle; seu nome é estropo e é algumas vezes substituído por ferragens, conhecidas por sapata ferrada, bir1ota ferrada, etc.
O poleame de laborar comprehende varias peças. Estudemos a mais simples,
o moitão, que consta de•caixa a, gorr:e b, roldana c, e perno d,· na caixa ha dois
rebaixas e e f, denominados goh·ados, os quaes servem para passagem do estropo.
Dois moitões ligados um ao outro tomam o nome de moitão duplo.
Cadernal é uma peça que differe do moitão em ter dois ou tres gomes, em
logar de um; tanto o moitão como o cadernal têm por fim a formação de apparelhos, que permittam suspender pesos, com um esforço mínimo.
Os moitões e cadernaes têm cabos ou ferragens nos quaes são presos os
objectos a suspender; conforme elles, os moitões ou cadernaes tomam denominações differentes; assim temos: moitão de rabicho, qúe tem o estropo passado
em tor1;10 da caixa; moitão alceado, cujo estropo termina numa alça, com uma
-37
ferragem denominada sapatilha,· esta ferragem tem por fim evitar que um cabo,
attrictanclo o outro, se parta; moi tão ferrado, quando provido ele ferragens em
lugar de cabo; moitão fnrado com gato, quando além ele ter ferragem, termina
por um gato; este gato pócle ser simples, ele tesoura ou ele tornei.
Os moitões e caclernaes ele ferro têm, mnitas vezes, a ferragem inteiriça com
a caixa; geralmente as roldanas são ele bronze, e muitas vezes trabalham sobre
hilhas, ou espheras ele aço.
No poleame de laborar encontramos mais: lebre, que é composta de dois
moitões unidos pela base; patcsca, moi tão alongado, tendo num extremo um gato
ele tornei e aberta a caixa para passar o seio elo cabo; é depois fechada com uma
chapa com dobradiça; tem por fim mudar a direcção de um cabo com que se trabalha; polé, patesca de tamanho reduzido, sem ferragem, que serve para auxiliar
o trabalho de suspender os prumos ( 1) ou pequenos pesos.
As ferragens que se utilisam junto com o poleame são: sapatilha, aro de
ferro circular com uma canelura na circumferencia; gato, gancho de ferro, e as
variantes, gato com sapatilha, gato ele tesoura e gato ele tornei; manilha, peça rurva
em forma de U, empregada para ligar elos de amarras; é composta da manilha
propriamente dita, cavirão a, que enfia nas extremidades desta e chaveta, a qual
atravessa um furo aberto no extremo do cavirão, afim de que este não recorra
(2). Ha manilhas cujo cavirão é de atarrachar.
Garnmcho é um annel ele ferro, em fórma de colchete, empregado no serviço
elas velas.
Olhal é um annel com ha!:ite, presa ao co1wez ou outra parte do navio e que é
utilisaclo para nelle serem engatados os apparelhos; no olhal ás vezes é fixa uma
argolla e neste caso tem o nome de arganéo.
Tamanca é uma armação ele ferro, fixa, com roldana, que serve para mudar
a direcção ele um cabo.
Nas embarcações destinadas a rebocar ha um gato grande, denominado gato
de reboque; este gato tem em algumas clellas forma especial, que facilita largar o
reboque; nada mais é que um dispositivo de escapamento.
Existe tambem um apparelho clips com o fim de prender dois cabos ele arame
4ue se partam ou formar a mão no chicote dos cabos.
Elo substitui<•el é aquelle composto de duas partes cada uma com um ou mais
pinos, para fixação, e que podem ligar dons pedaços ele amarra, quando partidos.
( 1)
Prumo é o instrumento que fornece a profundidade do Jogar.
(2)
Recorrer é escorregar o cavirão pelos furos da manilha .
ESTAMPA X
Bigota
Sapata
Cassoilo
Lebre
Moitão desmontado
a_ cmxa, b - gorne, c -·-1'aldana, d - perna, e, f - goivados
•
Moitão ferrado com gato
-
315-
Cadernal
Polé
Patesca
ESTAMPA X
Gato com
sapatilha
Catharina
Gato de tesourrz
Gato de tornel
com sapatilha
Manilha a- cavi1·ão
Sapatilha
Macaco
Clips
Q
Tamanca
Olhal
Garruncho
MA CAME
~
(Estampa XI)
Maçame é o conjuncto dos cabos do navio.
Cabo é o conjuncto de cordões torcidos, sendo cada um formado de substancias
/
filamentosas, transformadas em fios, tamhem torcidos. As substancias empregadas em seu preparo são canhamo, linho, manilha, juta, pita, piassava, couro
e arame. São usados na Marinha os de linho, maniíha ou arame, variando o seu
emprego com o fim a que se destinam. Os cabos devem reunir, na medida do
possível, as condições de flexibiliclacle, elasticidade, resistencia, pouco peso e superfície bem lisa.
Os cabos de linho podem ser ele massa ou calabroteados ; os de massa são
tormaclos de tres ou mais cordões simples e os calabroteados de tres ou mais cabos
ele massa; estes quando têm grande bitola, ( 1) qne é a circumferencia do cabo,
são acochados, torcidos, em torno de um, chamado madre. Os cabos de arame
tambem são formados por cordões, cada um delles composto ele fios e todos reuJJidos em torno da madre.
Os cabos podem ser divididos em fi:ros e de laborar, conforme servem para
aguentar os mastros, mastaréos e vergas ou para movei-os e reforçai-os. Os
cabos fixos de linho, geralmente são alcatroados, para melhor conservação;
1Jtrdem, porém, com isso % da resistencia. Os cab::>s de arame elevem ser forrados, para permanecerem expostos ao tempo, evitando a oxydação .
Os cabos merecem muito cuidado, nunca devendo ser guardados humidos; os
de: arame devem ser lubrificados , periodicamente com oleo especial.
Quanto á sua resistencia os cabos ele massa tem-n'a maior que os calabroteados,
~endo no entretanto preferidos estes, quando de grande bitola, por causa de seu
menor peso e maior alongamento que os de massa; os cabos de arame são mais
resistentes que os de linho, cuja bitola é tres vezes maior; e os de arame de
ferro substituem outros de massa com bitola duas vezes maior.
A humidade só produz alteração na resistencia do cabo de manilha; augmenta,
porém, a rigidez. Os cabos de linho quando molhados conservam sua elasticidade
porém, perdem um terço da resistencia.
Os cabos são classificados pela bitola; alguns tomam nomes especiaes; assim
temos o virador que é o cabo de maior bitola, utilisado para o serviço de ancoras,
reboque, etc. ; arre bem, o cabo ele massa mais delgado. O cabo que tem um chicote fóra do navio (2) e serve para atracação, amarração ou reboque, toma o nome
de espia; quando o cabo é ele bitola pequena, nas condições da espia, toma o nome
de retinida. A sondare:::a é uma linha calabroteada, isto é, uma linha cujos cordões
são cabos de massa, e que é empregada em sondagem.
(1)
A bitola póde ser medida por um apparelho proprio.
(2)
E' costume usar os termos espia e virador indifferentemente.
-39 - ·
A reuni ão de varios fios toma nomes espc>ciaes; temos: fio de vela, linha flexível composta de dois ou tres fios de linho mal torcidos; merlim, linha muito
delgada, composta ele dous ou tres cordões acochaclos; linha de barca, cabo delgado, composto ele dois ou mais cordões e destinado a adriças de bandeiras barquinha e prumo de mão.
'
~s cabos que existem a bordo, sem applicação determinada, chamam-se cabos
.soltezros.
Os cabos combinados com o poleame constituem apparelhos diversos; são
formados por duas peças ele poleamc e um cabo gurnido nellas; um chicote é fixo
muna peça do poleame e se chama arre igada e o outro é denominado tirador. O
nome ~lo ap1_:>a!elho varia . segundo as peças _elo poleame; assim são: teque, formado
por d01s m01toes; talha smgela, por um mo1tào e um cadernal de dois <Yornes · talha
dobrada, por dois cadernaes de dois gomes; estrallzcira si11gcla, por ~m ele dois e
outro de tres gornes; finalmente, estral/zcira dobrada, por dois cadernaes ele tres
gornes e ás vezes mais .
Os cabos de um navio tomam os nomes dos mastros, mastaréos ou vergas.
á que pertencem.
No !ais da retranca ha andorinhas para amarrar embarcações.
Bastardos ou :::arras são pequenos cabos munidos de cassoilos, que têm por
f;m aguentar as boccas de lobo elas caranguejas ou retrancas para o mastro.
CABOS DE LABORAR DOS
~lASTROS
E l\IASTARÉOS
Taes cabos servem para içar ou arriar os mastros e mastaréos e reforçai-os
em caso ele máo tempo.
Os amantes são empregados para içar ou arriar os mastaréos de gavea_, emquanto que o cabo que exerce a me;ma funcç~o nos de joan~te e sobre de~omma-se
andrebello ou at1darivello. Os paus da buJarrona e da g1ba tambem sao postos
fóra, alados (puxados) por anclarivello ou andrcbello; o cabo que põe dentro o gurupés é o amante.
Em occasião ela mau tempo o estay Jo traquete é reforçado por um .cabo,
chamado enque; as enxarcias o são pelas costa11eiras e os brandaes pelas plumas.
CABOS DE LABORAR DAS VERGAS
CABOS FfXOS DA ~i.\STREAÇAO
C01'oas são curtos e grossos cabos, encapellados pelo seio nos calcezes dos
mastros reaes, com as pernadas em mão ( 1 ) . Servem para suspender pesos,
engatando talhas ou estralheiras nas mãos .
Enxarcias são formadas por cabos, q.ue aguentam os mastros e mastaréos para
cs bordos. Os cabos encapellam pelo se1o no calcez do mastro ou mastaréo tendo
cada pernada o nome de ovem, menos o ultimo de ré, que se chama cnpez; os ovens
~ão_ cruzado~ por cabos fi~os, formando degráos, chamados e1z{rcchates; os primeiros degraos das enxarc1as dos mastros são ele ferro e se denominam mallzetes .
As enxarcias tomam o nome do mastro ou mastaréo a que pertecem, tendo as dos
1:1astros o :wme generico de en:rarcias reacs. Aos chicotes dos ovens e cupezes
uas enxarc1as reaes e de gaveas são presas os bigotas, onde trabalham os colhedores
das enxarcias.
Os mastaréos são tambem aguentados para os bordos pelos brandaes, e para
Yante pelos esta)'S. Os brandaes podem ser fixos ou Yolantes conforme estão
sempre tesos ou são tesados somente quando a barlavento.
'
O guru pés (estampa VIII) é aguentado para a roda de prôa por correntes,
chamad~s cabrestos e para os bordos por correntes ou cabos denominados patarra:::es; tem tambem este nome os cabos que aguentam os páus da bujarrona e da
giba yara os. bordos. O guru pés é atracado á roda de prôa por uma corrente deuommada trmca.
CABOS FIXOS DAS VERGAS
As vergas ~e papafigos são suspensas pelo terço por uma corrente com 0
~•om~ de baça, fixa a? calcez, ~ando n'elle_ uma volta. Têm as vergas pela parte
u:fenor, cabos em selO, denommados estrzbos, para os marinheiros collocarem os
pes quando trabalham nas velas; são fi xos nos laizes e terços, e o seio é formado
l,assando J?elos s~patilhos dos andorinhas; estes são cabos finos, fixos na verga
por um chicote, ficando o outro line para o sapatilha . Os estribos são calculados
de
modo que
os bhomens com
sobre a ver<Ya.
11.'
,
. os pés neiles ficJtH.m com a barri<Ya
o
o
HO gurupes tam em ha estnbos; os dos páus da bujarrona e giba são actualmente
substituídos pelas rêdes.
( 1) Mãos são alças bem forradas e, ás vezes abraçando um sapatilha, que ~e fazem
nos chicotes de cabos para diversos misteres.
·-40-
Troças são os cabos que servem para atracar as v~rg;as aos mastros ou mastaréos; nas vergas de papafigo e gavea são ellas substitt~Idas, m?dernamente por
apparelhos denominados pés de gallinha. As vergas tem movrmento no pla~o
vertical por meio dos amantilhos, com o auxilio dos qt~aes são conservadas ho~I­
zontaes; os cabos que as movem, no plano honzontal, sao os braços, e a ope_raçao
~e denomina bracear; a acção de horizontalizar uma verga chama-se amantzlhar.
As talhas ou estralheiras que auxiliam os amantilhos a içar os papafigos têm o
nome de tripas; os cabos para fim identico nas vergas de gavea são as os~agas e
nas de joanete e sobre, os andrebellos ou andarivellos; estes quando a_rnam as
vergas ao convez, tomam o nome de adriças. Quando as vergas _de JOanete _e
sobre são arriadas ao convez têm para guial-as um cabo, dado no la1s, e denmmnado "'Ctinida . As vergas dos navios a vapor são vestidas, do terço para o !ais,
com mo'tões pequenos, onde laboram as adriças de signaes.
Afim de evitar grande pessoal na movimentação das vergas póde s~r empregado um guincho de fórma especial, aos tambores do c~ual vã? ter_ os ch1cot~s dos
braços, depois de passarem em apparelhos, que lhes dao a d1recçao convemente.
A machina de bracear vergas póde ser movimentada por dois homens somente;
os braços neste caso são cabos de arame, o que é um inconveniente, porque puxa
muito pela verga, a menos que esta seja de f e~ro . A reducção do p~ssoal !em _de
ser limitada, pois que o trabalho das velas ex1g~ bast~nte gente. E tambem mdispensavel lubrificar sempre os braços, be~1 assim ~Uidar de que elles tenham seu
comprimento bem regulado, por ser o mov1m~nto smmltane~; ha casos em que a
machina apresenta grandes vantagens, como se)a quan~o se VIra ~e bordo em roda,
como o pa1mo sobre. (1) Na estampa XI ve-se a forma do gumcho.
As caranguejas são içadas por adriças, uma das quaes é dada na _bocca de
lobo e toma o nome de adriça da bocca, a outra no peno!, chama-se do pzque; por
mei~ desta dá-se a inclinação ou o repique conveniente. Elias são aguentadas para
um bordo e outro pelos guardins, que se compoem de 11ergueiros e talhas; aquelles
têm um chicote fixo no penol e no outro têm a mão, para receber o cadernal superior da talha, sendo o inferior engatado em olhaes das amuradas.
Na retranca temos: os amantillzos, que aguentam-na para cima, indo do !ais
á romã do mastro; as talhas de dentro ou escotas, que aguentam para barlavento
(lado de onde vem o vento) quando a vela está caçada (aberta ao vento) ; as
t~lhas de fóra ou burros da retranca, que servem para impedir que ella se parta,
(1) \tirar em roda é a manobra de mudar de amura, arribando com o navi o até que
fique mareado no outro bordo.
-
41-
•
ESTAMPA XI
rt)m os embates da vela ré, e vão do !ais para um e outro bordo. Além do andorinho existe na retranca, proximo do !ais por fóra da borda, u1na escada, por onde
são guarnecidos ( 1) os escaleres, amarrados ao andorinho.
O páu da sorriola é aguentado para o mastro pelo amantilho, para vante pelo
gaio e para ré pelo patarra::; parallelo ao páu e acima deli e mais ou menos um
metro, corre um cabo, que vae do amantilho para o costado do navio e se denomina
cabo de vae-e-vetn; existe uma escada de quebra peito (2) para subida das guarlJições de escaleres.
Não tratamos dos cabos das velas para fazei-o no Capitulo - velame.
11
1
l .ll
( 1)
Guarnecer é fazer os marinheiro,, occuparem seus respectivos logares no cscaler.
(2) .Escada de quebra peito é a constituída por dois cabos verticaes, com degráos de
madeira.
Cabo de massa_ Cabo com madre -
Teque
Cabo calabroteado- Cabo de amme
Talha singela' Talha dobrada Estralheira
singela
Estralheira dobrada
1. Arreigada 2. T iradvr
Talha patente -42-
Colhed.or da enxarcia
EsrAMPAXl
Cabos fí!{n.s da rnaslreação .
.3-Coroa. '1-EnXall:'la 5-0vem. 6 -Enírexate . 7Nalliek. éf-IJrandal. 9-éslay
10-fslrt.bos . .!l-Andorinho. /R-1/er,gliE'iro . !J-.1/mqn/1/ho. !"t·lldirça 1.5-Guar-
a'lns; a-ver$Ueiro; b·lalha. /6-f:scola da re/!12'..-x-a. 17-fscadacle we.brapeilo . /8-6aio. !9-Palarraz 20-cabo de.
vt~e-e-wm .
ESTflMPfl
XI
Cáransueja.
Cabos fic<.os das vergas .
Relran5:a .
o
Pau da .sorri ola .
EsrRMP~X/
Machina de mover ver;gas.
·VELAME
(Estampa XII)
Vela·me é o conjuncto de velas do navio, tendo tambem o nome generico ou
vulgar de pannó.
V ela é a reunião de tiras de brim ou lona, por costuras, formando uma
superfície sobre a qual actua o vento, imprimindo movimento ao navio. As
velas se dividem em redondas e latinas; as primeiras são as que envergam em
vergas redondas e as segundas em caranguejas ou estays, ficando portanto, clS
redondas de BB á BE e as latinas de popa á proa. As velas latinas que envergam
em caranguejas são quadrangulares e as outras triangulares. A maior altura
ele uma vela chama-se guinda.
A parte da vela que enverga na verga, carangueja ou estay tem o nome
de gurutil; os lados nas redondas e a parte que fica junto ao mastro nas latinas,
o de testa; e a parte inferior em todas as velas o de esteira; a parte de ré das
latinas se denomina valuma. Algumas velas redondas e as latinas quadrangulares têm, parallelamente á esteira, tiras de lona - forra de rizes - providas
de furos - ilhoses - com pedaços de cabos finos - ri:::es - para - rzzar o
panno, - diminuir a sua superfície.
As velas são guarnecidas, em seu contorno, de um cabo, chamado tralhu.;
nella ha anneis de cabos denominados garnmchos. A concavidade de esteira
das velas redondas tem o nome de aluamento e a convexidade da dos latinos quadrangulares, o de saia. Os angulos dos lados das velas são chamados punhos;
nas redondas, os formados pelo gurutil e testas são os punhos do gurutil e pela
esteira e testa, da escola ; nos latinos quadrangulares, o do gurutil e testa, toma o
nome de pzmho da bocca; o do gurutil e valuma, da penna; o da testa e esteir::t,
da amura·; e o da valuma e esteira, da escola. Nos latinos triangulares temos:
punho da adriça, formado pelo guru til e valuma; da amura, pelo guru til e esteira;
c da escota, pela valuma e estreira.
As velas de um navio constituem uma andaina de pawno; quando ha outra
á bordo, diz-se que esta é a andaina de sobresalente. As velas têm os nomes
das vergas onde são envergadas ou dos estays, salvo algumas excepções nas velas
triangulares d'entremastros e nas velas de tempo.
Alguns navios têm entre os mastros, envergadas, em estays, velas latinas
triangulares, denominadas velas dentre mastros; as principaes são a rabeca, formosa, cozinheira e escandalosa. As velas d'estay, bujarrona e giba são denominadas velas de proa; os nomes genericos de papafigos, gaveas, joanetes e sobres,
tambem se applicam ás velas.
Em occasião de máo tempo são utilisadas velas especiaes, como a mezena
de te·mpo e a polaca, a primeira quadrangular e a segunda triangular; ambas são
de menor tamanpo que as communs e trabalham em caragueja e estay especiaes.
As velas são fixadas ás vergas por meio de cabos chamados envergues; nos puuhos do guru til são presas pelos empunidouros.
-43-
CABOS DE LABORAR DAS VELAS
ESTf1111PAXJI
Os cabos empregados para caçar ( 1) as velas são : as esc o tas, que nas velas
redondas (excepto papa figos) passam nos laizes das vergas, que lhe ficam immediatamentc inferiores; são dadas nos punhos das escotas. As velas latinas
triangulares são içadas pelas adriças, nas occasiões em que são caçadas. A escota
da vela ré passa pela retranca.
Os papafigos, gaveas e joanetes, têm nas testas dois cabos, chamados bolinas; é tesada tão somente a ele barlavento. (2)
Os cabos que carregam ( 3) as velas são: os estingues, pelos punhos; brioe >_.
pelas esteiras dos papa figos, gaveas e joanetes; as apagas, pelas testas elos papafigos e as sergideiras, pelas testas ele gaveas. Alem destes cabos as gaveas têm
nos laizes elas vergas dois apparelhos: as talhas dos lai::es, que são tambem dadas
em garrunchcs das testas c servem para içai-as na occasião de rizar, e os teques
de ri::ar, os quaes Lvam as testas aos laizes.
Os latinos triangulares são carregados pelo punho da penna e arriados na
occasião de serem carregados; os quaclra_ngulares o são pelas carregadeiras, que
vão da valuma á carangueja ou aos mastros. Os papafjgos têm no punho de
barlavento um cabo que é a amura, que o leva para vante quando caçado; bem
assim os latinos têm um cabo com o mesmo nome, o qual aguenta o punho da
escota para sotavento.
(1)
(2)
(3)
1
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~
7-r
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Ir
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. Íflrl I ! I! I ! l1l1! I III I I li I I \ \ 11 \ li ~H~ s
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I! I! III r lt lt
I!
IIII
fT
[!i/l/lllllflll/1\111/[1111.1111111111111 III 11111 \ ; '
í)
Caçar é expôr a cuperficie da ve!a ao vento.
}
Bar!a,·ento é o lado donde sopra o vento.
Carregar o panno é abafai-o de encontro á verga, carangueja ou mastro.
Vela redonda
1-Gtm.dtl . 2-Tes!a. 3-Es!et/>a . 'f-Yalama. 5-Fomade l"izes . 6"/?ize.s
7- Ganwncho.5. 8-Pvnl?o do &amltl. 9-Panho da escola .10-Pólnho da .Óocca.
11-PI.mho da ,oena.- !Z-/Vnho da am<~ra. !3-Pvnho da adrtça . 14-Bo/ina .
/3-Jimanle. 16-Poa.
Bolina .
-44-
Briol.
CORTE DE VELAS
(Estampa XIII)
Dadas as denominações das diversas partes de uma vela, tratemos de noções
ligeiras sobre o modo de cortai-a.
Quando se pretende cortar uma vela o primeiro trabalho é tomar as suas
para tal fim emprega-se uma linha; com ella faz-se, á bordo e no
dimensões
local, o contorno de uma figura igual a vela . Para tomar a medida de uma
vela latina triangular dá-se um nó de azelha no seio da linha e faz-se fixo na
adriça da vela; iça-se até ficar na altura do punho da adriça; prolonga-se depois
uma pernada com o estay, até o ponto em deve ficar o punho da a1mura, ponto
no qual dá-se outro nó e fixa-se no lugar da amura; reunem-se depois os clous
chicotes, de maneira a obter a fórma da vela. Procede-se semelhantemente para
uma vela latina quadrangular ou uma vela redonda.
/
Para cortar as velas ha tres processos :
a) por estaca;
b) por painel derrubado; e
c) por escala.
O processo por estaca consiste em formar com uma linha, em lugar que
comporte, a figura medida da vela e depois por ella cortar os pa1mos, successivamente, principiando pelo ela valuma nos latinos e pelo do meio nas redondas.
Cortar por painel derrubado consiste em' coser diversos pannos, formando
um rectangulo, equivalente á figura da vela que se desejar e depois cortai-o
obliquamente, de modo que as duas partes se ajuntem, convenientemente, para
dar o feitio da vela pedida.
Cortar por escala consiste em cortar cada panno da vela separadamente c
por escala.
Vamos dar uma ideia como se corta um latino triangular, pelos tres processos.
C arte por estaca - Com uma linha marca-se no terreno a fig-ura ABC;
colloca-se o extremo da peça ele lona em CD e estende-se até AE; corta-se por
AE; vira-se a peça ele lona, faz-se coincidir o córte com E G e estende-se até DF;
corta-se novamente, e assim por diante. Cosem-se depois os pannos .
C arte por painel derntbado - Forma-se um rectangulo de pannos cosidos,
tendo para lados a guinda total DA da vela e a largura igual á metade da esteira;
toma-se o meio de BC, que é o ponto E, e une-se a ; cortam-se os pannos nessa
direcção. Cose-se <iepois EB com EC, e fica formado o latino pedido ADF .
Corta-se depois o aluamento da esteira.
Como vemos, este processo differe do anterior em que primeiro são cosidos
os pannos e depois cortada a vela.
Corte por escala - Traça-se a figura da vela latina, de accôrdo com :ls
dimensões tomadas; cortam-se depois os diversos pannos para em seguida co-
-45
sel-os. E' claro que a parte que corresponde á esteira é cortada horizontalmente
e o lado da valuma obliquamente.
Torna-se preciso calcular a inclinação de cada patmo do lado da valuma;
para isso divide-se a esteira peia largura da lona e obtem-se o numero de pannos
que leva a vela; dividindo o comprimento da valuma pelo numero de pannos
temos a quantidade a diminuir em cada panno.
Passemos a cortar a vela; toma-se sobre o lado be um comprimento igual á
AC e por e tira-se uma perpendicular ef á eb; de f para baixo marca-se uma distancia fg, igual á que se deve diminuir em ca<ia panno e obtem-se g ,· corta-se o
panno por eg ,· abeg será o primeiro panno.
Para cortar o segundo patmo toma-se de g para cima uma distancia gl, igual
á DE; por l tira-se uma perpendicular lm á gl e por esta perpendicular corta-se
o panno, ficando assim prompto o segundo. Procedendo-se do mesmo modo
cortam-se os demais pannos, que unidos constituem a vela.
EsTAMPA
XIII
C
Nó .de azelha.
D
C
B
Corte por estaca
F
Corte por painel derrubado
-- 46-
D F
b
Corte por
e~co.la .
PROPULSORES
(Estampa XIV)
Os propulsores são o vento, as rodas e a lzelice; os dois ultimos movidos por
machinas.
O primeiro faz parte elo estudo elas velas e elos effeitos elo panno.
As rodas são collocaclas a BB, e BE, e mais ou menos á meio navio; compoem-se ele pás, que são pranchas ele madeira articuladas ou fixas nos extremos
dos raios, os quaes são ligadas ao cubo, que é fixo ao eixo. As rodas ficam dentro
de uma cobertura, denominada caixa das rodas. Nos navios de rios as pás eram
fixas e nos de oceano articuladas.
1oclernamente são usadas só em navios ele rios
e algumas vezes collocaclas na popa em navios ele pequeno deslocamento para navegação em aguas ele pouco fundo.
As helices se compõetrn ele pás, bosso, eixo e pé de gallinha; as pás são ligadas
ao bosso e este ao eixo, o qual entra no oculo elo tubo telescopico; os pés ele gallinha
aguentam as helices para o costado, quando ellas ficam de um bordo e outro . A
disposição das pás faz com que o navio, ao ter movimento a helice, ande para vante;
a helice póde mover-se tanto para a direita como para a esquerda; o movimento
em sentido contrario ao disposto para a marcha avante faz andar para atraz.
Quando a helice tem movimento para direita dando adiante, chama-se destrosina e
para esquerda senistrosina.
Navios ha que têm duas, tres e quatro helices . O emprego ele duas helices veio da necessidade ele evitar o inconveniente elo navio, quando com o leme
a meio, tender para um bordo (contrario áquelle para o qual gyra a hei ice), bem
assim da possibilidade de diminuir o tamanho clella, distribuindo a força por duas
machinas.
Os navios ele tres helices, geralmente, empregam duas lateralmente e uma
no plano ela quilha, as dos bordos para marcha a toda a força e a do meio para
marcha economica. Quando a helice é accionada por motor, que não tem movimento reversivél, ou dá-se movimento ás pás, isto é, o eixo gyra sempre para
o mesmo bordo, e as pás occupam posição clifferente, conforme a marcha é para
avante ou para ré, ou divide-se o eixo em duas partes e conforme a ligação o movimento é para adiante ou para atraz.
No navio de duas helices o movimento ele ambas é para fóra ou para dentro;
as helices com movimento para fóra chamam-se divergentes e para dentro convergentes.
Chama-se passo da helice a distancia percorrida por um ponto de uma pá,
no sentido de pôpa á prôa, emquanto este ponto faz uma volta completa.
O navio a rodas foi substituído pelo navio a helice devido á grande preponderancia de vantagens de um sobre o outro propulsor. As rodas apresentam a vantagem de modificar rapidamente o seguimento do navio, pela resistencia
das pás, e exigem pequeno calado; têm, porem varios inconvenientes, taes como:
-47-
1." produzirem esforços designaes na machina, quando, com o jogo do navio,
fica uma roda fóra d'agua; 2.• permanecerem as rodas muito expostas ao embate
do mar, e a soffrerem com abalroamento ou tiros; 3. 0 serem de governo difficil
com o jogo do navio; 4. 0 terem um rendimento muito variavel, conforme a carga
que leva o navio e consequentemente a immersão das pás; 5.", finalmente, exigirem uma grande potencia de machina. Estes inconvenientes ficam eliminados
com o emprego da helice, a qual comtuclo exige muito calado e produz a tendencia para um bordo, tendencia que é evitada com o emprego de duas helices.
ESTAMPA XIV
Outr'ora havia navios a vela e a rodas, hoje inteiramente em desuso; actualmente os ha a vela e a bel ice; alguns são movidos pelo vento e têm um motor para
entradas e sabidas de portos, atterragens e calmarias.
O tamanho da helice varia com a força da machina e o numero de rotações
que ella dá por minuto.
Caixa de rodas
Helice
l-Pá. 2-Raio. 3 --Caixa de rodas. 4-Bosso. S-Eixo_
6- Pe de galhinha. 7- Oculo do tubo telescopico
-- -+8-
'
ANTEPARAS E PORTAS ESTANQUES; FUNDOS
DUPLOS; PAIÓES, ALOJAMENTOS E CARVOEIRAS.
I~
(Estampa XV)
Os navios de ferro são divididos na parte interna em diversos compartimentos, por meio ele anteparas transversaes e longituclinaes. Estas anteparas
impedem que a agua ele um compartimento passe para outro, pelo que são denominadas - antepares estanques - e os compartimentos que ellas separam compartimentos estanques - .
O fim principal da divisão ele um navio em compartimentos estanques é
evitar que elle, soffrenclo uma avaria nas obras vivas, se submerja, ou mesm:)
fique privado ele movimento, porquanto, uma avaria em um compartimento que
não seja ele machinas ou caldeiras não ilmpecle que o navio alcance o porto mais
proximo, com os seus proprios recursos. Alem disso, o alagamento que resultar,
pode ser mais facilmente circumscripto, como tambem a compartimentagem permitte equilibrar o navio quando tem algum compartimento avariado, alagando-seum outro ou outros com o fim ele evitar que fique aclernado (inclinado) para
um bordo.
As anteparas estanques são nos navios pequenos, só no sentido transversal
e, nos grandes, tambem no longitudinal.
O primeiro compartimento estanque, a contar da prôa, chama-se - compartimento de collisão--. O numero de compartimentos varia com as dimensões
do navio ou com a sua especie, si mercante, ou de guerra.
As anteparas estanques podem ter aberturas que permittam a communicação
ele um compartimento para outro, aberturas estas fechadas por - portas estanques-.
Devem vedar completamente e para isto, são providas de juntas ele borracha
e atracadores ou taramellas.
Quando o navio está em viagem algumas dessas portas devem ser fechadas:
outras porém, só o são quando se torna preciso isolar um compartimento.
As portas podem ser horizontaes, como as communs, de corrediça, ou verticaes, semelhantes ás atitigas de janellas de guilhotina. As portas de corrediça
e verticaes são geralmente manobradas de cima, do convez, por meio de haste com
volante, provida ·de parafuso sem fim no outro extremo, para mover a porta.
O conjuncto de volantes tem o nome generico de -piano de valvulas -, que, por
segurança, é fechado com cadeado.
Os fundos duplos elos navios são formados, conforme vimos no capitulo que
tratava do casco, por um segundo fundo e que eram utilisados não só para lastro
de agua, como tambem para equilíbrio do navio, quando adernado para um
dos b0rdos .
-49-
\
Os compartimentos em que são divididos os navios ou se destinam a habitação ou a transporte de carga ou a dependencias de serviços. Os compartimentos destinados ás pessoas são denominados : - camarotes --, quando para
moradia até de quatro pessoas, - alojamento - quando para maior numero, e
- camara - quando para o commandante do navio. As varias dependencias
do navio têm os nomes communs, de accôrdo com os fins a que se destinam, menos
o salão de jantar de navios de guerra que se denomina - praça d'armas - .
A parte dos compartimentos de machinas e caldeiras em que ficam habitualmente os homens que nellas trabalham são chamadas - praça das machinas c - praça das caldeiras - .
Os comprtimentos destinados á carga são os- porões - . Os deposites de
carvão tomam o nome de - carvoeiras - ; estas são geralmente collocadas de um
bordo e outro e na altura dos compartimentos de machinas e caldeiras; têm aberturas em cima, denominadas - agulheiros - e no costado - resbordos -,
ambas para entrada do carvão ; ha outras nas praças de caldeiras, para retirada do
combustível. As tampas dos agulheiros, ás vezes, são substituídas por outr-as
em fórma de grelhas para arejamento das carvoeiras. Navios ha que têm carvoeiras no sentido transversal.
Os deposites não destinados á carga são chamados
pawes - ; tomam
o nome dos objectos que nelles são guardados ou conservados, como: paiól da
amarra; paiól de mantimentos, para os generos alimentícios; paiól do mestre,
onde são guardados os objectos e material do Mestre do navio; paiól do panno - ,
para velas; paiól de tintas - para tintas e material de pintura, etc.
ESTAMPA XV
P orta cstau que horizontal
P orta estanque vertical
-50-
ALAGAMENTO E
SERVICO
DE AGUADA.
...
ESGOTO DE,., PAIÓS E FUNDOS DUPLOS.
INSTALLAÇOES E APPARELHOS CONTRA
INCENDIOS
(Estampa XVI)
No serviço de aguada de um navio tanto se utilisa a agua doce como a salgada, conforme o fim ao qual é ella destinada; prefere-se agua salgada, sempre
que esta tem applicação, pela facilidade de obtel-a . .
A agua doce é guardada a bordo em depositas ele aço, forrados internamente
com um revestimento de cimento ou betume, e denominados - tanques de
aguada - ; estes depositas são ligados entre si por meio de canalisações, providas de valvulas, que permittem interceptar as communicações.
A agua é levada por meio de bombas, dos tanques para depositas, situados em
nivel superior aos compartimentos a que ella é destinada; deste deposito é feita
a distribuição por meio ele canalisações.
A agua doce a bordo é obtida por meio de embarcações - barcas cl'agua - ,
que abastecem os navios, ou quando os navios atracados a um caes por meio de
canalisação especial, vinda elos reservatorios de terra. As barcas são providas
de bombas que tocam agua para os navios; outras vezes estes têm apparelhos
que sugam a agua da embarcação. Ha nos navios a machina, chamada - distillador - , que permitte aproveitar a agua salgada, distillada, para os mesmos
fins da agua doce.
A agua doce que um navio leva para viagem é calculada para o raio de
acção e de accôrdo com o numero de pessoas de lotação; actualmente, com o
uso do distillador, leva-se em conta a capacidade de producção deste, e o problema,
que tanto preoccupava os immediatos á bordo dos navios de guerra, tornou-se mais
facil de resolver. O consumo medio diario por pessoa é calculado em deseseis
litros.
A canalisação de agua doce deve ser de ferro. E ', como as demais canalisações de bordo, externamente pintada ele determinada côr, de modo que em um
compartimento onde haja muitas tubulações seja facil distinguil-as.
O serviço de agua salgada é feito por meio de canalisações e bombas especiaes.
Temos em primeiro lugar o pequeno collector, que é utilisado para o esgotamento
normal do fundo do navio, no qual corre um tubo de popa á prôa, de onde partem
varias derivações, que vão ter á parte mais baixa dos porões; estas derivações são
providas, no extremo inferior, de ralos que impedem a entrada de estopa ou
outros detrictos. A agua é esgotada por meio de bombas.
Os navios grandes têm, parallelamente a este, um outro tubo, de maior diametro, o - grande collector - , especialmente destinado ao esgotamento de grandes
massas dagua; corre, como o outro, por baixo e junto ao forro do fundo duplo.
-51-
E' ligado á possantes bombas e destina-se ao esgotamento no caso de entrada de
grande quantidade de agua no navio. Afim de poder esgotar um compartimento,
sem interessar os demais, é o collector provido de valvulas, que estabelecem e interrompem as communicações .
O grande collector é tambem ligado ás outras bombas de bordo, de maneira
que, quando se torna preciso, são ellas utilisadas, em conjuncto. O grande collector serve tambem para alagamento de compartimentos, no caso de incendio :1
bordo, em auxilio da canalisação propria de incendio.
O alagamento do fundo duplo é feito com tomadas dagua para o mar, providas de valvulas, manobradas do alto; estas valvulas são denominadas - valvulas de Kingston - e têm a propriedade de abrir de dentro para fóra, de modo
que no caso de avaria a propria agua as conserva fechadas. Para o esgoto dos
compartimentos do fundo duplo ha uma tubulação especial, permittindo por meio
de valvulas, o esgotamento de cada um.
Possuem ainda os navios bombas de mão para esgotamento dos compartimentos acima do plano de fluctuação; auxiliam as outras, quando insufficientes.
Tratemos agora das intallações contra incendio. H a á bordo uma canalisação especial para incenclio, ligada ás tomadas clagua elo collcctor. Esta canalisação tem varias ramificações que vão ter a differentes compartimentos, terminando em boccaes providos de valvulas; taes boccaes são denominados - tomadas
d'agua- e ahi são atarrachadas as mangueiras, com os esguichos. A canalisação
deve ter sempre agua sob pressão.
O serviço de apagar incendio é ainda feito por meio de bombas de mão
ou extincto'tes apropriados; estes variam conforme o systema adoptado por seus
fabricantes.
ESTAMPA XVI
Canalisações
"'
!'<
I
•
-52-
Valvula de Kingston
•
VENTILAÇÃO, AQUECIMENTO E REFRIGERACÃO
DOS COMPARTIMENTOS DE u~\1
_,
NAVIO.
(Estampa XVII)
A ventilação dos compartimentos elos navios antigos era feita por meio de
tubos cylindricos, chamados ventiladores, ele lona ou ferro, que os communicava111
com a parte superior. Os navios modernos, porém, necessitam de ventilação
especial devido as innumeras causas de aquecimento á bordo, como sejam o material ele que são construidos- o ferro-, a divisão em pequenos compartimentos
c suas innumeras machinas. Dahi o estabelecimento ela ventilação especial, afim
de evitar os perigos do aquecimento e do ar viciado.
A. ventilação dos navios se divide em natural e artificial. A primeira é
obtida por meio dos ventiladores a que nos referimos no começo deste capitulo;
são tubos ele ferro com um extremo recurvado, em forma ele pavilhão de orelha,
chamado bocca; começam na parte descoberta do navio e vão ter aos compa>timentos a ventilar .
Os ventiladores têm movimento de rotação em torno do eixo do tubo, movimento que pôde ser a mão, por engrenagem especial ou automaticamente pelo
proprio vento. Elle entra pela bocca, encana pelo tubo e vae ao compartimento
a ventilar. O ar viciado sahe pelas escotilhas ou é éxtraido por - extractores - ,
apparelhos collocados na parte alta dos compartimentos para facilitarem pela sua
disposição, a sahida do ar; podem ser semelhantes aos ventiladores ou com a fôrma
de uma chapeleta.
Ha tambem os ventiladores portateis, de lona, em fôrma ele cylindro, para
serem içados em adriças especiaes, ficando a parte inferior no local a ventilar.
A ventilação artificial é obtida por meio de ventiladores electricos ou a vapor;
estes, porém, têm pouco uso pelos grandes inconvenientes que apresentam. O
typo classico dos electricos é o ventilador a força centrifuga, composto de utrna
ventoinha, collocada em caixa de forma especial, com aberturas lateraes por onde
entra o ar. No centro de gyro da ventoinha forma-se um vasio, permittindo a
entrada de novo ar, que recalca o já existente e o obriga a seguir, por um tubo
adequado, para o compartimento a ventilar.
A· navegação em climas frios torna necessario o aquecimento dos compartimentos destinados a habitação. Este aqueciJmento é feito por meio de estufas a
carvão ou lenha, quando em navios pequenos; os grandes navios, geralmente, se
utilisam das estufas electricas.
Outro processo consiste em fazer passar pelos compartimentos a aquecer
uma canalisação, na qual circula vapor.
Estes systemas têm inconvenientes diversos, como sejam o deficiente e desigual arejamento no lugar; no caso dos conductores de vapor, dá-se a condensação
sobre o tubo, produzindo agua que, embora nnolhe o compartimento, tem a van-
-53-
tagem de evitar a seccura excessiva do ar, observada com os ventiladores electricos.
Modernamente ha um apparelho denominado - termo tanque - que serve
n~o só para aquecimento, como para o refrigeramento de um compartimento, bem
assim para sua ventilação. Compõe-se, em sua mais simples expressão, de uma
caixa M N, aberta em cima, provida de uma ventoinha B, que faz o ar entrado
por cima seguir para um compartimento contíguo P, onde ha uma tubulação;
depois de circular pela parte externa do tubo, passa o ar para uma tubulação R,
indo entrar no compartimento a ventilar, aquecer ou refrigerar. O tubo que
está collocado no segundo compartimento é percorrido por vapor ou mistura congelada,- brin-de modo que o ar em contacto com sua face externa fica aquecido
ou resfriado. O movimento se faz devido ao revolvimento produzido pela ventoinha B, accionada por um rÍ1otor electrico.
·
Os termos tanques pode~m tambem servir como exhaustores. desde que a ventoinha B trabalhe em sentido contrario.
este caso o tubo não tem liquido algum.
A refrigeração elos compartimentos de bordo é feita tambem por meio da
circulação de um liquido incongelavel, levado a elles por canalisação especial.
Este liquido sahe da installação frigorifica.
Ha a bordo uma installação frigorifica com os apparelhos accessorios, servindo para producção de gelo, liquido incongelavel e resfriamento dos compartimentos; os mantimentos e vitualhas são guardados na ante-camara frigorifica.
ESTAMPA XVII
Ventilação de um navw
,
I
Termo -tanque
-54-
r
-
EMBARCAÇOES MIUDAS
f
"(Estampa XVIII)
Hmbarcações miudas são as embarcações de pequeno porte, que servem para
o transporte de pessoas e pequenos volumes nos portos, trabalhos de ancoras e
salvamento. Dividem-se, de accôrdo com o motor, em:
embarcações a remos,
embarcações a vela
e embarcações a motor mecamco.
Estas ultimas ainda se subdividem em a vapor e a motor a explosão, tambem
conhecidas pelo nome generico de - ga::olina - .
As embarcações miudas têm diversos nomes conforme suas formas e fins
a que se destinam ; vamos dar os principaes typos, começando pelas movidas a
remos. Estas podem ser consideradas embarcações de voga ou de palamenta; 'lS
primeiras são as que têm um remador por banco e as segundas as que têm dois.
Escaler é uma solida embarcação, destinada ao transporte do pessoal, viveres, cargas leves e serviççs de ancoras. As dimensões de um escaler são muito
variaveis, conforme o navio a que pertencem e o fim principal a que se destinam;
designa-se-os pelo numero de remos.
São geralmente de madeira, havendo tambem de ferro e de lona; os de madeira têm o taboado liso ou trincado, segundo as taboas do costado se ajustam,
formando uma superficie lisa, ou ficam , na juncção sobrepostas umas ás outras.
Os de lona são utilisados nos submersiveis e seu emprego decorre de poderem
ser fechados e occuparem portanto pouco espaço.
O maior escaler de bordo toma o nome de lancha a remos e os pequenos, de
dois a quatro remos, são denominados botes.
Os escaleres, geralmente, são preparados para utilisarem. velas; modernamenfe se colloca tanto na lancha a remos como em escaleres grandes, motores a
explosão.
Ca~wa é um nome applicado a varias especies de embarcações ; em sua origem
o termo se refere ás que são feitas de um só páu, como as de pescadores; a
bordo dos navios de guerra tomam este nome os escaleres de formas muito finas, destinados ao serviço especial do commandante; devido a sua forma, tem
tambem este nome escaleres de regatas.
Baleeira é a canoa que tem duas proas; tal nome vem de ser ella empregada
nos navios baleeiros. As baleeiras são utilisadas no serviço de salvamento, é
claro que quando construirias com os requisitos necessarios a tal fim.
Chalana é uma embarcação pequena, de pouco pontal, fundo chato, destinada á limpeza do costado do navio; em Matto Grosso as chalanàs são maiores
do que as de limpeza de costado e servem para transporte de pessoas, bem assim
no Amazonas, onde tomam o nome de montaria.
-55-
'
<
1 angada é uma plataforma feita de varios paus, ligados fortemente uns aos
outros; esta embarcação é usada na costa elo Brasil, no serviço de pescaria; serve
tambem, no caso ele tm1 naufragio, para augmentar o numero ele embarcações de
salvamento, podendo ser feita com os recursos de bordo.
Os navios ele guerra usam jangadas de forma elliptica, de cortiça e· lona
c de grandes proporções.
Ha mu!tas o~tt~as ~mbarcações cujas formas variam com os lugares e emp_rego que tem; dJstin~Uiremos e~tre estas as destinadas ao sport nautico que são
tao ~o~nmuns entr~ nos. Infellzmente os nomes ele taes embarcações não são
Lraslle1ros, porem mglezes e france~es; seria de vantagem que os que se dedicam
aos sports procurassem termos naCJonaes para substituírem os actuaes.
,
Otd-riggcr é uma embarcação fina, leve e comprida, de costado liso, que tem
.orquetas collocadas em armações de ferro, disparadas de um e outro bordo. Os
bancos são de carrinho e têm leme. Cada remador fica com um remo variando
o numero de dois a oito.
'
Skiff é o out-rigger de dois remos e um só remador; não tem leme.
Double-scull é o skiff de dois remadores, com quatro remos.
Canoe é uma pequena canoa, fina, geralmente a dois remos com um só remador; não tem leme e o banco é movei. E· origina rio do Ca~aclá. Ha canoe
de quat~o remos e dois .remadores. O remo é disparado como o do out-rigger;
tem mais bocca que o sklf f.
Fwmy é uma variedade de skiff, de mais bocca do que este.
Yole é uma embarcação comprida, com o costado de taboas trincadas e bordos
rectos; as bancadas são ele carrinho. Tem leme e o numero de remadores varia ele
dois a oito.
As dimensões consideradas de t~ma embarcação 1miuda são: comprimento,
bocca e pontal; o comprimento é tomado sobre a quilha, a bocca é a maior largura e o pontal a altura da quilha á borda, tomada na perpendicular á quilha.
DIVERSAS PARTES DE UMA EMBARCAÇÃO MIUDA
(Estampa XIX)
Estudaremos em primeiro Jogar as partes de um escaler, typo classico, e
depois notaremos as que forem differentts nos de1mais; não entra~emos em
detalhes sobre as peças que tiverem nome commum com as dos navios.
Assim temos, com os mesmos nomes que nos navios, as seguintes: quilha,
roda de proa, alefriz, buçarda, cadaste, sobrequilha, lerue, taboas do resbordo,
cavernas e costado; além disso são do mesmo modo denominadas a proa, popa,
boreste, bombordo e fundo.
Tratemos daquellas em que ha particularidade ou differença.
Carro da popa é a taboa que forma a popa da embarcação.
Dormentes são fasquias, que correm sobre as cavernas, junto aos topos, para
sobre elles descançarem as bancadas.
·
Esc~as são as t~boas que ficam pregadas sobre as cavernas e que formam
o .forro mterno do escaler; protegem as ta boas do costado, evitando que, descmdadamente, se faça esforço sobre ellas, de dentro para fóra.
Bancadas são taboas que de BB á BE assentam sobre os dormentes e serVelt11 J?ara a guarnição do_ escaler se sentar; no meio são sustentadas por pés de
carneiros. As bancadas sao atracadas, nas suas extremidades, á borda por meio
de curvas de metal.
-56-
I t
Ha embarcações de regatas em que as bancadas são moveis, deslisando so~e
trilhos longitudinaes.
Coxias são as taboas que de popa á proa ficam entre as bancadas; nellas são
abertas as enoras dos mastros ; existem sobre as coxias e a meio das bancadas,
curvas de metal para descanço dos mastros, quando arriados.
Alcatrate é uma peça de madeira que cobre os topos do cavername.
C ocões são cabeços de ~11adeira, pregados nos alcatrates, para reforçar as
aberturas das falcas.
Falca é a taboa que forma a borda da embarcação; é fixa sobre os alcatrates e por fóra dos cocões.
Tabica é um sarrafo collocado sobre a borda da embarcação, de popa á
proa.
Chwmaceircts são peças de metal que guarnecem as aberturas feitas na
borda para os remos trabalharem.
Toleteira é a chapa de metal, com um furo no meio, pregada sobre a borda,
afim de nella trabalhar o tolete ou forc1ueta; nas embarcações de toleteira não
ha chuJmaceira ou corte na borda; muitas vezes chamam-se as aberturas feitas
na bor.da do escaler de toleteira, mas é improprio.
Tolcte é um espigão de madeira ou ferro, semelhante a malaguetas e enfiado na toleteira; serve para ponto de apoio na movimentação dos remos, que
lhe são presos por um pedaço de cabo ou couro; os remos trabalham entre dons
toletes, nas embarcações sem tabica.
Forque/as são hastes de !metal, terminando em forma de crescente, onde
trabalha o remo; são enfiadas nas toleteiras e têm um furo na parte inferior
onde se prende um cabo fino, denominado fiel, cujo fim é evitar que ellas se
percam, caso saiam da toleteira.
As embarcações de regatas têm as. forquetas de forma especial, como se
vê na estampa; nas denominadas out-rigger as forquetas descançam sobre armações de ferro, disparadas da borda.
Almofadas são os forros internos, entre os alcatratcs e a tabica, formando
uma especie de amurada; tal nome tambem é applicado a saccos de marroquim
, ou lona cheios d~ palha ou crina, com a forma do paneiro, para os passageiros
se assentarem.
Verdugo é unn friso de madeira, forrado ou guarnecido de metal, correndo
de popa á proa externamente, junto á parte inferior da falca; serve para defender e embellezar o escaler.
Cast-cllo é o pequeno taboado horizontal pregado junto á proa, do mesmo
modo que as bancadas; tem um furo forrado de metal para o pau de toldo.
Nas embarcações de grande velocidade ou de regatas o castello tem a forma
abaulada terminando por um quebra-mar, constituído por taboas verticaes; neste
caso dá-se-lhe o nome de tartaruga.
Escoras são pedaços de sarrafos, que de BB á BE, 'no fundo do escaler,
serV'eJm para os remadores apoiarem os pés; os extremos descançam nas castanhas, pregadas nas escoas. Nas embarcações de regatas são constituídas por
taboas finas e em alguns typos têm uma especie de sandalias, para firmar os
pés dos remadores, no caso de bancadas moveis.
Pane iro é a parte de ré da embarcação, onde ficam os passageiros; é guarnecido de bancadas no sentido de popa á proa, e na popa, no de BB á BE.
O assoalho do paneiro é formado por taboas ou por um xadrez de madeira;
por baixo delle ficam geralmente olhaes que servem para engatar o estropo de
içar o escaler.
Guarda-patrão é a taboa que se colloca no fundo do paneiro, junto ao travessão para encosto dos passageiros e separação do local destinado ao patrão.
57-
O pau de toldo avante tem um estay, fixado para proa, e local para collocação
do pharol.
As embarcações a motor têm o toldo arranjado de modo differente e especial; nesse caso toma o nome de capuchana.
Capa é uma peça de lona, que cobre a embarcação, envolvendo-a; serve para
protegei-a quando içada.
Quarto/a é um pequeno barril, achatado, para conducção de agua; ás vezes
é provido de uma torn eira; descançà sobre armação especial denominada
picadeiro.
Nos bancos do paneiro do escaler ou lancha collocam-se almofa?as de m~r­
roquim ou lona, cobertas por capas proprias ou por pannos de casemtra ou bnm.
Er;; muitas embarcações o paneiro é envernizado. O assoalho do paneiro é coberto com tapetes, adaptados á sua forma.
Afim de que não sujem o paneiro quando os passageiros embarcam ou
desembarcam ma-se um pequeno xadrez collocado sobre um tapete pequeno,
denominado pellego, o qual por sua vez é fixado á borda pelas pregadeiras.
Ancorote é a ancora do escaler; o typo modernamente usado é o de uma
pequena ancora do systema Hall.
Boça é o cabo que serve para amarrar o escaler a utma boia, caes ou navio
e para reboque; tem um chicote preso ao arganeo da proa. Na popa ha tambem
um cabo solteiro que serve para atracação; é a retinida da popa.
Plwroes são as lanternas destinadas á na.vegação; no escaler são brancas
mas nas lanchas a vapor têm as côres regulamentares, verde e encarnada, dispostas de modo a só se tornarem vis iveis de proa. Levam tambem os escaleres
uma lanterna para illunninação do paneiro.
D efensas são acolchoados de lona, cheios de estopa, que em forma de cordão
contornatm as embarcações; seu cliametro varia com o porte destas. Ha tambem
defensas de cabo forrado, que substituem as acima citadas, bem assim defensas
moveis, feitas de pedaços de cabo; quando estas têm a forma espherica tomam o
nome de balão.
As embarcações levam sempre uma bussola, conhecida por agulha de escaler.
O numero ele mastros no escaler é de um ou dois, não incluindo o pau da
buj~rrona, nem um mastro pequeno, que alguns possuem na popa; quando são
dois toma1111 os nomes de traquete e grande; o da popa é o da catita.
As partes mais notaveis do mastro são pé, parte inferior, encapelladura,
rebaixo quasi no extremo superior, e galope, que é o extremo; abaixo da encapelladura ha um gorne com roldana, o qual fica da popa á proa; no pé ha a
mecha, que encaixa na carlinga. Descançam na encapelladura as encapelladuras
elos brandaes; a adriça gurne pelo gorne, tendo um chicote fixo á urraca.
U rrctca é um aro de metal, que corre, com folga, ao longo do mastro, munido de um olhal para o chicote da adriça e um gato para o estropo da verga.
As vergas são geralmente içadas por um estropo dado a 113 ela parte que
fica para vante, de modo qu ~ a vela tem uma secção para vante do mastro. As
velas são, ás vezes, envergadas em caranguejas, e têm uma retranca.
As velas podem ser quadrangulares e triangulares; estas têm o guru til encostado ao mastro e em algumas a esteira á retranca; a bujarrona é envergada
em um estay que vae ao !ais ela bujarrona ou a Ulln arganeo dado na proa elo
escaler; as velas triangulares tomam o nom e de bastardos.
No pequeno mastro á popa, hoje sómente usado no cutter, é envergada uma
vela conhecida pelo nome ele catita.
Os botes mercantes usam uma vela quadrangular, esticada por uma vara,
a guiza ele verga, que tem um extwmo apoiado num estropo no meio do mastro
e outro no punho ela penna; é conhecida por vela de espicha.
As canoas e baleeiras usam geralmente velas triangulares. Para melhor
governo das embarcações a vela, é util substituir a meia lua pela canna de leme.
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-59-
Travessão é a peça de madeira forte, collocada na popa de BB á BE para
reforço da embarcação e para encostar o guarda-patrão.
Ko travessão é pregado um annel forte de metal, denominado chapa do
pau de toldo. O patrão se senta por ant'á ré do guarda-patrão, em pequena bancada de madeira, formada no angulo do carro da popa com a falca; o compartimento que lhe fica por baixo toma o nome de casa do cão.
Nos bordos do escaler são cavilhados pequenos cunhos de metal, para nelles
darem volta os cabos ou fixar o fiel do leme; este ten1 as suas diversas partes
como os de navios; tem movimento por meio de canna ou pela meia lua.
}v! eia lua é uma peça em forma de crescente, que encaixa pelo meio na
cabeça do leme, e tem furos nos extremos, nos quaes se enfiam os gualdropes,·
é dado este nome a dois cabos, que servem para mover a meia lua e cujos chicotes ficam no paneiro. O leme tem um cabo fino, que o prende a um cunho
existente na borda; é o fiel do le·m e e serve para evitar sua perda quando se
descale. O leme é fixo no carro da popa por meio de tmachos e femeas, constituindo as governaduras.
Boeiras são furos praticados no fundo do escaler, fechados por bujões, e
que servem para esgotai-o, quando é içado. A's vezes as boeiras são de metal e
o bujão de rosca.
Bolinas são pedaços de madeira collocados na parte de maior curvatura do
costado, do lado externo, com o fim de evitar a inclinação perigosa do escaler.
Nas embarcações de regatas em Jogar das bolinas lateraes, colloca-se uma
chapa de metal, por baixo da quilha (verdadeiro sobresano) ou uma bolina
presa á quilha, em toda a sua extensão ou s01mente em parte. Nos cutters a
bolina é movei e com uma disposição tal que póde ser collocada por dentro da
embarcação, de maneira a ficar saliente á quilha.
Remo é uma haste de madeira, achatada num extremo e torneada noutro,
para imprimir movimento á etrnbarcação. O remo se compõe de pá, haste e
punho; pá é parte chata, lzctste '\ cylindrica e punho a torneada; o forro de sola
ou lona da parte que descança na forqueta ou chumaceira tem o nome de ascoma.
A forma do remo varia com as embarcações; assim os das de regatas geralmente têm a pá levctmente recurvada; ha embarcações de pesca e de recreio
que os têm de duas pás, sendo estas em forma de colher; os peséadores usam-n'os
ás vezes com uma só pá de colher.
Os remos servem tambem, como fazem os pescadores, para governo da
embarcação, quer com movimento á popa, quer pelos bordos.
Croque é um gancho de metal, preso ao extremo de uma haste e que serve
para aguentar o escaler ao caes ou navio e para amparai-o; a haste toma o nome
de pau do croque '; ha tambem o croque duplo, isto é, com dous ganchos.
Flmmmda é um distinctivo de fileli, com a fortma de um triangulo isosceles
muito alongado; na marinha de guerra é azul com estrellas brancas e indica a
presença de commandante ou official superior na embarcação.
Pau de flammula e pau de bandeira são as hastes em que se envergam a
flammula e a bandeira.
Toldo é a cobertura de brim que serve para proteger a embarcação a guarnição e os p~ssage!ros,. O toldo é suspenso pelos extremos aos paus
toldo,
avante. pelo ftel e a re pela alça; tem de BB á BE algumas peças de madeira,
denommadas ca!J.cções, as dos extremos, e fasquias, as do meio. Pendem delle
na p~pa, tres sanefas, duas para os bordos e UJma para ré; dos extremos da~
fasqUJas cabem as arridas, pedaços de cabo fino, que mantêm o toldo horizontalmente, fixando os chicotes em cunhos dados na borda da embarcação.
de
I
,
.
•
As diversas partes ele velas têm os mesmos nomes que as de navios, havendo
nas quadrangulares só uma forra ele rizes. Os cabos das embarcações miudas
são branclaes, estays, adriças, aJmuras e escotas, cujos fins já sabemos.
A adaptação ele um motor em escaler é feita a meio, retirando-se uma a
duas bancadas; embarcações ha em que se colloca junto a elle uma roda de
leme, ele maneira que o proprio motorista é o patrão. Existe um typo especial
de mctor aclaptavel a qualquer escaler, na popa, sem alterar o madeiramento; é
o "motogoclille".
ESTAMPA XVIII
As lanchas a vapor são divididas, geralmente, em tres compartimentos : um
para caldeira avante, o de machinas em seguida e o paneiro na popa; muitas
vezes os dois primeiros constituem um só; lateraltmente ás machinas e caldeiras,
ficam as carvoeiras. Tem uma roda de leme avante; em lancha, a armação para
o toldo é fixa e dá-se o nome ele tolda.
O movimento ela lancha é produzido por uma helice ligada pelo eixo ao
motor; o tamanho varia c01111 o numero de voltas que dá o motor por minuto,
para uma mesma veloci dade, e é tanto menor quanto maior é este numero.
As lanchas a motor são providas de fortes defensas, pois que são mais
sujeitas a chocarem o caes ou navio. A transmissão de ordens do patrão para
o machinista, é feita por meio de tímpanos. Usaun para avisar sua presença ás
demais embarcações, de um apito ou buzina, aquelles nas a vapor e esta nas a
motor a explosão.
As embarcações destinadas a salvamento são de construcção especial, com
o costado liso; têm internamente caixas estanques, que impedem que ella se
submerja, quando assoberbada pela vaga; a agua que entra é escoada por elmbornaes especiaes, com tampas, que só abrem de dentro para fóra; têm na quilha
uma chapa de chumbo ou ferro, que faz baixar o centro de gravidade da embarcação e impede que ella vire, qualquer que seja o estado do mar.
A forma é de baleeira, com um leme alto e canna comprida; as defensas são
bem grossas e têm de popa á proa, por fóra da borda, um cabo tomado com
varias botões, que formam seios e que servem para os naufragas se agarrarem.
Outros salva-vidas têm, por fóra da borda, um cabo em diversos seios, cada
um com uma esphera de madeira.
T<tnto podem ser movidas a remo como a 1111otor a com.bustão interna; estas
têm o motor especial e adequadamente disposto; as helices são collocadas com
um tunnel de modo a ficarem protegidas dos embates no fundo. São providas
de colletes salva-vidas, boias, cabos e mais material de salvamento.
Estas embarcações nos postos de salvamento em vez de serem içadas em
apparelhos como os que vamos descrever em seguida, são lançadas em carreiras
e guardadas em galpões.
-60-
Esc aler
Baleeira
Gazolina
Chalaua
E mbarcação de salva11!en to com mo tor ·
As diversas partes de velas têm os mesmos nomes que as de navios, havendo
nas quadrangulares só uma forra de rizes. Os cabos das embarcações miudas
são brandaes, estays, adriças, amuras e escotas, cujos fins já sabemos.
A adaptação de um motor em escaler é feita a meio, retirando-se uma a
duas bancadas; embarcações ha em que se colloca junto a elle uma roda de
leme, de maneira que o proprio motorista é o patrão. Existe um typo especial
de mr·tor adaptavel a qualquer escaler, na popa, sem alterar o madeiramento; é
o "motogodille".
ESTAMPA XVIII
As lanchas a vapor são divididas, geralmente, em tres compartimentos : um
para caldeira avante, o de machinas em seguida e o paneiro na popa; muitas
vezes os dois primeiros constituem um só; lateralmente ás machinas e caldeiras,
ficam as carvoeiras. Tem uma roda de leme avante; em lancha, a armação para
o toldo é fixa e dá-se o nome de tolda.
O movimento da lancha é produzido por uma helice ligada pelo eixo ao
motor; o tamanho varia co1111 o numero de voltas q,ue dá o motor por minuto,
para uma mesma velocidade, e é tanto menor quanto maior é este numero.
As lanchas a motor são providas de fortes defensas, pois que são mais
sujeitas a chocarem o caes ou navio. A transmissão ele ordens do patrão para
o machinista, é feita por meio de tímpanos. Usam para avisar sua presença ás
demais embarcações, de um apito ou buzina, aquelles nas a vapor e esta nas a
motor a explosão.
As embarcações destinadas a salvamento são de construcção especial, com
o costado liso; têm internamente caixas estanques, que impedem que ella se
submerja, quando assoberbada pela vaga; a agua que entra é escoada por etmbornaes e'speciaes, com tampas, q,ue só abrem de dentro para fóra; têm na quilha
uma chapa de chumbo ou ferro, qne faz baixar o centro de gravidade da embarcação e impede que ella vire, qualquer que seja o estado elo mar.
A forma é de baleeira, com um leme alto e canna comprida; as defensas são
betrn grossas e têm de popa á proa, por fóra da borda, um cabo tomado com
varios botões, que formam seios e que servem para os naufragos se agarrarem.
Outros salva-vidas têm, por fóra da borda, um cabo em diversos seios, cada
um com uma esphera de madeira.
T<tnto podem ser movidas a remo como a rmotor a combustão interna; estas
têm o motor especial e adequadamente disposto; as helices são collocadas com
um tunnel de modo a ficarem protegidas dos embates no fundo. São providas
de colletes salva-vidas, boias, cabos e mais material de salvamento.
Estas embarcações nos postos de salvamento em vez de serem içadas em
apparelhos como os q,ue vamos descrever em seguida, são lançadas em carreiras
e guardadas em galpões.
-
60-
Escaler
Baleeira
,
4
Gazolina
Clwlaua
E mbarcação de salvamento com motor
ESTAMPA XVIII
Canoa de pesca
Jangada
Bote de lona
a ..
Out-rigger
Skiff
\
Yole
ESTAMPA XIX
Forqttetas
Forquetas
· Tolete
Le111e
Meia Lua
1 - Gualdropes.
2- Fiel do leme
Canna
I
I
1
'
I
,,
1't
I
I
8
2.9
I
2.1
Escaler>.
l-Quilho
Z-Rodo de prc>o. 3-Bur;:ordo Lt-Sobre 9u1lho. 5-Leme . 6-Toóoas do
r esbordo . 7- Cave r nas. 8 - Costado
IZ-Ba n codo. 13- Co x ias
f8 - '.Jerdu.5 o. /9-Cosfe//o
trõo. 24 - Tr ave5sõo.
tro
1-4--Fo/cas
9-Corro do popa . 10-JJormenles . /1- Esc.oos.
15-Toóica. 16- Churnacetr os 17- l'll.,.,o/odos.
,20-Enoro . 21- Escoras . 22-Poneiro . 2 3 - Guar d o- p a-
2.5 - C:hopo do poo de lo/do 26 -Cv.?ho _?7.ro r'lu e l o d omas.
28-úovvrnoduros . 29. Pi de cornetra
lO
Pau de F'lamula.
Pau
de toldo.
Toldo .
ESTAA1PA XIX
3
Remos
Craque
Agulha
Mastro
4 - Punho. 5 - Ascoma. 6 - Fiel. 7 - Alça. 8 - Cabeções.
9 - Fasquias. 10 - Sanefas. 11 - Arridas. 12 - Verga.
13- Urraca. 14 - Brandal. 15 - Adriça . 16 - Estay.
3 - Pá.
Guarda patrão
Xadrez
Quartola no picadeiro
APPARELHOS DE IÇAR E ARRIAR ESCALERES
As embarcações miudas a bordo são içadas em apparelhos proprios.
Turcos são peças de ferro, recurvadas na parte superior, dispostas ao longo
do costado, onde são suspensos os escaleres; para cada escaler é preciso um par
de turcos; a parte superior do turco chama-se cabeça e a inferior pé,· este encaixa
em uma castanha no costado, passando antes pela mão, aro de ferro com grosso
espigão, fixo ao costado. Os turcos são de movimento gyratorio e têm na
parte inferior da cabeça um olhal, onde é fixo o cadernal superior do apparelho;
são aguentados para vante e para ré por patarrazes, com um chicote fixo num
olhal da cabeça e o outro no costado; ha patarrazes que aguentam os turcos um
para o outro.
O cadernal inferior da talha engata no olhal do estropo do escaler e, em
algumas occasiões, no arganeo dado no proprio escaler; o estropo varia de forma,
mas geralmente é uma corrente, tendo um dos chicotes passado no fundo do
escaler e o outro no carro ela popa ou na proa; cott11 um arganeo no meio para
o engate do gato do cadernal.
Ha um cabo denominado cabo de cabeço, que é dado no olhal de cabeça do
turco e fica com o outro chicote no sentido da talha, servindo para reforçai-a,
quando içada a embarcação. O tirador ela talha do escaler fica para dentro do
navio e dá volta em um cunho fixo no turco. E' muitas vezes collocada uma
vergontea de madeira, de um turco a outro, na altura em que fica a borda do escaler,
quando içado; tem o nome de pau do contra-balanço e serve para melhor atracar
o escaler.
Os escaleres depois de içados são atracados ou mettido~ dentro do navio,
em picadeiros,· no primeiro caso empregam-se as fundas, trançados de cabo fino,
forrados ele lona, com um elos chicotes fixo na cabeça do turco e com um
sapatilha no outro, no qual é dado um cabo; passam por fóra do escaler, e
são alados, atracando-o ao turco ou aos páus de contra-balanço.
Picadeiros são peças de madeira com a configuração do fundo elo escaler,
onde este descança dentro do navio; a parte onde descança a embarcação é
forrada de couro.
A forma dos turcos que descrevemos é a commum; ella varia muito, bem assim
o modo de alar o tirador; ha turcos dispostos ele maneira a serem inclinados
para dentro, por meio de engrenagens ou talhas, não ficando parte alguma ela
embarcação, içada, saliente elo costado; neste caso seu pé descança no convez
ou atravessa-o; é o typo usado nos nossos contra torpedeiros.
O tirador, no caso ela embarcação pequena, é alado á mão, mas no caso de
grande, é passado no cabrestante ou guincho; alguns turcos têm um tambor
com ttnanivella no qual se enrola o tirador da talha e que facilita a operação
de içar o escaler; muitas vezes dá-se no tirador uma talha ou estralheira, afim
de diminuir o esforço. Navios ha em que os escaleres são içados ou por páus
de carga ou por guinchos, e postos dentro do navio; nesse caso só ha muitas
-61-
vezes um estropo, que é dado com um chicote na proa e outro na popa, sendo
içado pelo olhal do meio.
Em viagem, quando o numero de embarcações é grande e ha pouco espaço,
colloca-se uma dentro da outra; isto acontece geralmente em navios de guerra;
é conveniente e usual ter sempre duas embarcações içadas em turco, afim de
facilitar o serviço de salvamento.
A operação de arriar um escaler é feita arriando a talha, com o tirador
sob volta, conservando a proa sempre mais içada que a popa; quando a embarcação
fluctua, os cadernaes são desengatados. Esta operação com bom tempo é muito
simples mas com mau é difficil e demanda rapidez e precisão, afim de evitar
desastres, sendo regra importante que se desengata sempre a talha de ré primeiro e depois a de vante.
Procurou-se facil itar a operação nas embarcações de salvamento, e para
isto utilisam-se apparelhos de escape, que desengatam automaticamente, quando
a embarcação cabe n'agua e brandea a talha. V a rios são estes apparelhos; assim
temos: ele Clifforcl, ele Enell , Rottmer , Hill, Clark, ele Robinson, além elo
regulamentar na marinha americana. Descreveremos estes dois ultimos.
O apparelho ele escape Robinson compõe-se ele dois gatos A, ligados ao fundo
e á proa e popa elo escaler, constituindo os estropos F E ,· nos gatos são engatados
olhaes B, presos ao cadernal inferior da talha. Os gatos são moveis em
torno de um eixo, ficando, na posição vertical, com a abertura para baixo; são
mantidos·assim por uma alavanca L , cujo outro extremo está preso a uma corrente
M , no chicote da qual é dada uma talha N. Tezando a talha o gato fica na posição natural e o escaler suspenso pelo apparelho; folgando-a, a alavanca L , fica
na posição L' e o gato, livre, gyra, escapando o .olhal da talha .
O systema americano compõe-se de um gato em duas partes A e B, ligadas
uma á outra por dupla junta C,· a parte de fóra , que forma a ponta elo gato D,
é pezada e cahe quando livre, occupando a posição D e dando escapamento ao
olhal do estropo; isto tem lugar na occasião em que o escaler está arriado e a
talha folgada. Um fiel E. no extremo do gato, serve par·a garantir o apparelho,
quando içado o escaler.
E STAMP A X X
Turco de torpedeiro
3 - Castan ha . 4 - I' é. 5 -
T urco
1 - Cab eça.
2 -Mão .
Cunh o.
Picadeiro
Torna-se muitas vezes preciso calcular a capacidade elas embarcações miuclas
de bordo, não só para qualquer carga que se pretenda pôr nellas, como para
fixar a sua lotação. A formula que fornece esta capacidade em kilos, isto é,
o numero de kilos que a embarcação carrega, com bom tempo, é
comp. X bocca X pontal
..
"
"
A
7
na qual os elementos do numerador são dados em metros.
Si quizermos saber quantas pessoas ella comporta basta dividir o resultado
pelo peso medio de um homem, que é de 65 kilos.
Estropo
Apparelh o de escapr Robillson
-
62-
Apparelho de escape
a11!ericano
ANCORAS E AMARRAS
(Estampai XXI)
-
Ancora ou ferro é o instrumento destinado a prender-se no fundo do mar
para aguentar o navio elm determinado ponto, resistindo ás acções do vento,
ela corrente e ela maré . A ancora é geralmente de. ferro forjado, sufficientemente resistente para supportar o esforço de tracção, no sentido de sua haste;
tem o peso proporcional á tonelagem do navio e dependente da forma do casco.
Os navios a vela têm ancoras mais pesadas do que os de igual tonelagem
a vapor, devido á forma do casco. As diversas partes de uma ancora são denominadas: haste h, de forma cylindrica ou prismatica, tendo num extremo uma
forte manilha, chamada anête a, e no outro os braços b; pouco abaixo do anête
fica o cepo c, cylindrico ou em chapa, antigamente de madeira. A ligação do11
braços com a haste chama-se cruz ::: e a do cepo á haste noz n. Os extremos
dos braços têm o nome de patas p, que terminam em pontas chamadas unhas
ou bico de papagaio u, sendo os lados das patas denominados orelha.Sl.
Estudaremos os ferros mais usados presentemente, partindo da ancora
commum, typo almirantado. Como mostra a estampa XXI o cepo, de forma
cylindrica, passa por um furo na noz e é mantido perpendicularmente á haste por
meio de uma chaveta, sem poder recorrer para o lado opposto, devido a um
resalto ou dente; os extremos são boleados, sendo um recurvado em cotovello,
de maneira a perrnittir prolongar-se com a haste. Os braços b são rigidamente
ligados á haste e estão n'um plano perpendicular ao plano do cepo. Chama-se
angulo de presa o angulo formado pelo plano das patas com a haste.
A ancora commum, ao ser fundeada toca o fundo, com os braços na
horizontal e o cepo na posição vertical, o que se modifica quando a amarra fica
esticada ou teza, dando uma rotação na ancora. Os braços quando na vertical,
o inferior procura unhar no fundo e o outro fica saliente o que apresenta o
inconveniente de poder offencler o ca co das embarcações, fundeadas em logares
baixos, embora facilite a rocega. E' de manobra difficil para engatar o lambareiro e pôl-a na rapo a. TeJm ainda o inconYeniente ele entocar, - dar a amarra
voltas nos braços - e encepar, - dar a amarra voltas no cepo - , quando o navio
rabeia. (1)
Ancora Trotman. Assemelha-se ao typo almirantado, tendo os braços
moveis em torno de um forte eixo ou cavirão. Apresenta as vantagens seguintes :
1) unhar bem no fundo;
2) ficar com o braço superior prolongado com a haste, o q~te evita espetar
o navio, em pouca agua;
3) não entocar.
(1)
Rabear é o movimento do navio ao gyrar em torno de ferro ou boia.
-63-
-
As desvantagens são :
1) difficil manobra para engatar o lambareiro;
2) difficil rocega.
Ancora Martin. Typo de ancora de braços moveis, o que perrnitte as
patas unharem ao mesmo tempo. Os braços gyram sobre um forte cavirão de
ferro, que atravessa a parte extrema e reforçada da haste, de modo que ficam
no mesmo plano do cepo; a haste é facetada e o cepo de forma achatada e concava,
sendo as patas longas .
As suas vantagens são :
1) facilidade e presteza de unhar ao tocar o fundo;
2) não poder encepar;
3) não entocar;
4) apresentar grande resistencia, devido a unhar com as duas patas ;
5) não espetar o fundo do navio.
As desvantagens são :
1) si uma pata não unhar, a outra tambem não o fará;
2) partindo-se uma pata, a outra se desprenderá, inutilisando a ancora.
Ancora Smith. Typo de ancora sem cepo, com braços moveis e independentes
nos seus movimentos. Recebe na extremidade inferior da haste os braços, ahi
mantidos por um forte eixo; estes braços terminam eun dois eixos que, por sua vez,
recebem as patas, as quaes podem gyrar independentemente de um lado para
outro, com o angulo de presa maximo de 45°.
Tem as vantagens seguintes :
a) ser de extrema facilidade ele manobra, pois sua haste gurne - entra pelo escovem;
b) ter forte poder ele unhar devido ás suas patas serem lisas e de grande
superfície;
· c) não encepar ;
d) não entocar ;
e) no caso de se partir um eixo perde apenas uma pata;
f) quando unha entre pedras póde ficar com uma das patas livre, o que
permitte por ella se poder safar a ancora;
g) não espetar o fundo do navio.
Ancora Hall. E' muito semelhante á Smith, com a differença de ter os braços
e patas semelhantes á da ancora l\Iartin; apresenta por isso as vantagens tanto
de uma como de outra, com o inconveniente unico de não unhar quando encontra
obstaculo. Tem boa resistencia de pega em relação ao seu peso, e, hoje, é a
mais usada.
Além eles es typos já citados ha outros, embora menos usados e conhecidos,
como Kynaston, Latham, Tyzack, l\Iarrel-Risbec, \Vastency-Smith's; appareceu
em moderníssima revista technica um modelo pouco differente da Hall.
O numero de ancoras de um navio é commumente de duas a quatro; antigamente as duas que serviam para fundeai-o tomavam o nome de leva e as outras
duas, de roça; navios havia em que existia uma quinta ancora guardada no porão,
denominada caridade.
Para serviço de e:;caler, de porto e rocega, ha typos proprios de ancoras
que vamos descrever.
Gata é a ancot"a de uma unica pata, para o serviço de amarrações fixa-s
tendo uma manilha junto ao braço, para guiai-a ao logar conveniente.
Ancorotcs são ancoras pequenas para fundear embarcações miudas e geralmente têm o typo almirantado ou Hall; o peso é proporcional ao porte da embarcação.
Para o serviço de manobra dos navios usam-se ancoras, cujo peso é de um
quarto do da maior de bordo e que se denominam tambem ancorotes.
-64-
A fatcixa é propria para embarcações miudas; tem quatro braços com patas
e um arganeo no extremo da haste ; não tem cepo.
Busca vidas ou garatcia - é a fateixa sem patas, serve para o serviço de
rocega de amarras, ancoras ou outro qualquer objecto perdido.
Arinque é um cabo de bitola proporcionado ao f~rr? e de co}_nprimento
variavel conforme a 1)rofundidade do local onde o naYIO tunclea. I< 1xa-se um
extremo á cruz do ferro e o outro a uma pequena boia ou fluctuador.
O arinque serve para se poder Yigiar o ferro; marca sua posição como a de
qualquer objecto a pique.
Deu 0 nome a este apparelho unt nó e5pecial que se faz na cruz da ancora,
tendo o chicote prolongado com a haste e a ella abotoado.
Rocega é um cabo de massa, de bitola e comprimento proporcionaes ao
serviço a que se destina, tendo pesos para poder mergulhar e arrastar ~o
fundo. E' usado para procura ele objectos no fundo elo mar e a esta operaçao
dá-se 0 nome ele roccyar. Duas embarcações recebem os chicotes. da rocega e
navegam afastadas na direcção em que se suppõe estar a ancora ou obJecto percl1do,
procurando deixar a rocega em seio para arrastar ~o fundo. Qu_a~clo se
encontra o objecto, marca-se a sua posição com o annque, que servtra para
orientar o escaphanelrista ao descer para engatar os apparelhos. Estes dependem
elo peso elo objecto encontrado.
No caso de uma amarra, usa-se um busca-vielas em um só escaler, que navega
em posição perpendicular á direcção em que se suppõe estar a amarra, ou em
varios sentidos quando não se tem orientação.
A marras são correntes ou cadeias de ferro forjado, compostas ele elos, tendo
cada um o seu traves~ão ou estay de reforço; as secções de amarra, de extensão
em extensão, são ligadas por meio ele manilhas. Os travessões dos elos tem
por fim augmentar ele 114 a resistencia da amarra e evitar que elles se unam no
sentido elo eixo menor e que clêm cocas. ( 1)
As amarras têm geralmente um comprimento total de 120 braças e se
dividem em quarteis de 15 braças cada um, de maneira que oito quarteis formam
uma amarra; entre elles collocam-se as manilhas, que por sua vez são marcadas
com arame de latão ou cobre, ou pintadas de côres differentes.
Ha amarras graduadas em metros, tendo um total de 250 metros, divididos
em 10 quarteis de 25 cada um, tambem separados por manilhas. A amarra do
encouraçado ~Iinas Geraes tem 150 braças e cada um de seu ferros o peso ele 6
toneladas.
Bitola ele amarra é a circumferencia elo vagalhão do elo da amarra.
Tanto o comprimento como a bitola da amarra estão em relação com a
tonelagem elo nav:o e no Regulamento das Capitanias de Portos ha tabellas que
fornecem as dimensões exigidas.
A amarra tem um chicote fixo ao anête elo ferro e outro no paiol da amarra;
a manilha que a fixa ao paiol, toma o nome de 111allza. As manilhas da amarra
devem sempre trabalhar com a turva para vante.
As amarras e ancoras são pixadas, para evitar a oxyclação.
Ama1'retas são amarras de pequena bitola.
Correntes são amarras de pequena bitola e que não têm travessão nos elos.
Ao findar este capitulo damos a significação de alguns termos referentes
á manobra de ancoras e amarras.
Navio fundeado é o que está seguro com uma ancora.
Navio amarrado é o que está seguro por duas ou mais ancoras.
Unhar é enterrar a unha da ancora no fundo, para segurar o navio.
Espatilhar uma ancora é collocal-a sobre a borda, na raposa.
(1) Coca é a volta que um elo dá sobre o outro, ficando os dois embaraçados, em
posição tal, que se partem com grande facilidade.
-65-
ESTAMPA XXI
!II anilhar é a acção de fixar um quartel de amarra em outro, por me10 de
manilha.
Desmanilhar é a acção de desligar um quartel de amarra.
Talingar é fazer a amarra fixa no anête da ancora. A acção contraria chama-se
destalingar.
Abitar é passar uma volta de amarra na abita; a volta tem o nome de capello.
Desabitar é a operação contraria.
Suspender é arrancar a ancora do fundo e collocal-a em seu Jogar no navio.
Garrar ou ir á garra é o movimento do navio, quando o ferro é arrastado
no fundo.
F11ndear a pé de gallo é largar a ancora com pouco filame-porção de amarrade modo que aguente o navio, se faltar aquella com a qual está fundeado.
Ancora á pique de estay é quando sua amarra tem direcção parallela ao
estay do traquete.
Ancora á pique é quando tem a amarra na posição vertical.
Ancora pelos cabe/los é a que está suspensa pelo anête.
Ancora a olho é quando o seu anête apparece na superficie do mar.
Picar amarra é desmanilhar a manilha mais proxima do escovem quando o
navio precisa desligar-se della immediatamente.
Ancora commum
a - anête ; n b - braço; u -
no:::;
m~ha;
Mart in
Ancora Hall
-66-
h -
haste ; p - pata;
c - cepo.
z - cruz ;
Trotman
Smith
Ancora Hall m odificada
ESTAMPA XXI
Angulo
de presa
fat~1xa
Busca vida
de ancor.:.
A bita
'
Amarra
1-
Pato h
Manilha.
2 - Elo.
3 -
Travessão
Escapamento
APPARELHOS DE FUNDEAR E. SUSPEN DER
(Estampa XXIIj
Os r11odernos apparelhos de fundear e suspender variam tmuto dos antigos;
isto é devido terem os novos ferros diminuído de accessorios e ao desenvolvimento
dos motores modernos .
A amarra talingada ao ferro é mettida dentro, por meio de um dos dois
apparelhos, cabrestante ou bolinete; differem elles tlm essencia em que
um trabalha verticalmente e outro em posição horizontal. O cabrestante é composto de dois troncos de cones, unidos pelas bases menores - saia - ; é ligado
internamente a uma haste ele ferro - madre ou eixo - , cuja parte superior chapéo - tem furos quadrados e na inferior ha uma coroa dentada para a
amarra; descança em rodetes que correm sobre um prato, cuja parte externa é
uma cremalheira. Na parte inferior do cabrestante ha linguetes, para travai-o.
A madre é ligada a u1m motor que fal-a gyrar para um lado ou outro; afim
ele içar a amarra passa-se-lhe uma volta na parte dentada, - coroa de Barbotin - e com o movimento impresso pelo motor ella sobe.
Na falta de motor são enfiadas nos agulheiros barras de madeira - barrJ!S
- guarnecidas por homens; afim de que, por qualquer descuido ou esforço maior
elo ferro, não desande o cabrestante, os linguetes correm sobre resaltos dispostos,
de modo que o apparelho só gyra em um sentido.
A amarra depois ele subir pelo escovem passa pelo - mordente - destinado
a tel-a presa, e depois do cabrestante segue por um furo no convez - gateira para o paiól da alrnarra.
Quando se quer arriar o ferro, a amarra vem directamente da gateira para
o mordente; aberto este a amarra fica livre e corre devido ao proprio peso do
ferro. Isto apresenta em certos casos graves incovenientes e para evitai-os ha
typos ele cabrestantes em que a amarra fica na coroa de Barbotin - , que
desandando deixa a amarra correr.
O navio estando fundeado, a amarra é passada em um cylindro de ferro
vertical, especie de cabeço com abas, collocado entre o mordente e a gateira; é
denominado - abita - e tem abas - resaltos - afim de que ella não salte pela
parte superar.
)C
,) r.·
<
Tratámos até agora do ferro sem cepo, que içado gurne a haste pelo
escovem; quando, porém, a ancora é do systema Trotman, Martin ou outro com
cepo o caso muda de figura; o ferro descança sobre a mesa da raposa ou sobre
a borda. Afim de levai-o a tal posição existem os apparelhos denominados
do lambareiro e elo ferro; o primeiro é uma estralheira dobrada, que gurne pelos
gomes da cabeça de um turco e por um cadernal ferrado com gato, t · lo neste
um fiel pera engatai-o no anête da ancora; o segundo é uma estralheit Jobrada,
com o cadernal inferior igual ao do turco.
-67
.-
Quando o ferro chega com o anête á altura do escovem, procura-se engatar
os apparelhos e depois guiai-os de maneira que descance sobre a borda ou mesa
da raposa. Depois de estar em posição- conveniente passam-se as =- boças ~,
cabos ou correntes de bitola proporcional qu e, enfiando pelo anête e pela cruz,
ficaJm com os chicotes para dentro do navio.
Na occasião de largar o ferro, tiram-se as voltas da amarra da abita e abre-se
o mordente, ficando elle suspenso pelas boças; soltos os chicotes destas, cahe
nagua.
ESTAMPA XXII
Alguns navios têm os chicotes das hoças fixos a dentes dos extremos ele
uma haste horizontal, com movimento rotatorio, e cuja posição retem ou larga
as boças. São denominados - apparelhos de escape - .
O bolinete nada mais é do que um cabrestante horizontal, devidamente
disposto, conforme sua nova posição. Têm t11111 eixo fixo a um pedestal; neste
eixo ha uma roda para adaptação da amarra e dois tambores para serem gurnidos
cabos; dispositivo especial permitte que tanto um como outro fiquem ligados ao
eixo ou livres. Quando se iça a amarra torna-se-os solidarias; o eixo tem movimento a vapor ou electrico; quando se trata de arriai-a fica a roda louca, sendo
o movimento limitado ou detido por tVm freio. A amarra é conservada no boIinete mesmo com o navio fundeado.
Cabrestante
Mordente
Anilho
-68-
J
/
Trabalhos do Capitão de Corveta Eugenio da
Rosa Ribeiro
Lições de torpedos para Marinheiros.
Janeiro .
Imprensa • ·aval, Rio de
. O torpedo B R. 90 de nossos Submcrúz•cis. (Em collaboração
com o Capitão de Corveta Octavio Tacito de Carvalho). Imprensa
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Apparclho de pontaria para lançam entos de Torpedos.
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O Torpedo BR. 80. · (2.a Edição).
de J aaeiro, 1923.
O Torpedo BL. 1.
No
Im-
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p~lo.
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Trabalhos do Capitão de Corveta Evandro
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Estudos de navegação e signaes. ( Radiogoniometria, carta.;
piloto, nzodenzos instrumentos de JlG7'cgar;iio c signacs submarinos).
Jmp:cnsa Naval, Rio ele Janeiro, 1923. (E~gotado).
Diagramma para com•erscio de marcar;íies radiogoniometricas.
"Revista Marítima Brasileira", Julho de 1923.
Agulhas cm m•iar;ão.
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Xavegar;íio estimada. (Primeira e Segunda Partes). Imprensa
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Taboas de navegaçcio.
Imprensa Kaval, Rio de Janeiro 1925.
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