farmacêutico

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farmacêutico
FARMACÊUTICO
SETOR
© Grupo Centroflora
OPORTUNIDADES PARA
BIOCOMÉRCIO ÉTICO NO SETOR
FARMACÊUTICO NA BOLÍVIA,
BRASIL, COLÔMBIA E PERU
A União para BioComércio Ético (UEBT, na sigla em inglês) é uma associação sem fins lucrativos que promove o
“Abastecimento com Respeito” dos ingredientes provenientes da biodiversidade.
O seu trabalho tem como base a aplicação de um sistema de verificação através do qual os seus membros se comprometem
a assegurar que suas práticas de abastecimento promovam gradualmente a conservação da biodiversidade, respeitem o
conhecimento tradicional e garantam a distribuição equitativa de benefícios ao longo da cadeia de abastecimento.
Para mais informação sobre a UEBT, seus membros, a Norma da UEBT, relatórios técnicos e novas atualizações, visite o
site www.uebt.org.
Equipe de especialistas que participaram do estudo:
UEBT em todos os países:
Cristiane Moraes
Rik Kutsch Lojenga
Rodrigo de Próspero
Claude René Heimo
María Julia Oliva
Natalia Freitas
Peru:
Bruno Sarmiento, Consultor independente
Fernando Zelada, Consultor independente
Lesly Vera, Consultor independente
Colômbia:
Andres Torres, Dantta Consultoria
Farrah Adams, Dantta Consultoria
Jose Andres, Dantta Consultoria
Bolivia:
Andrea Urioste, FAN
Paola Navarro, FAN
Brasil:
Cláudio Cuimar, Consultor independente
O estudo que dá base a este relatório contou com o suporte financeiro de:
Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês) - Multi Donor BioTrade Trust. Fundo apoiado pelos Governos
da Dinamarca e da Holanda.
® União para BioComércio Ético é proprietária marca registrada © União para BioComércio Ético (2014):
Reprodução proibida sem a autorização prévia por escrito da União para BioComércio Ético.
ÍNDICE
ÍNDICE3
INTRODUÇÃO4
MERCADO FARMACÊUTICO NA BOLÍVIA, BRASIL, COLÔMBIA, PERU 5
ESTRUTURA DE CADEIAS PRODUTIVAS DO SETOR FARMACÊUTICO 8
IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE NO SETOR FARMACÊUTICO 10
PRÁTICAS DE BIOCOMÉRCIO ÉTICO
13
ANÁLISE SWOT PARA BIOCOMÉRCIO ÉTICO
15
CONSIDERAÇÕES FINAIS
16
4
INTRODUÇÃO
Este resumo foi preparado pela União para BioComércio Ético (UEBT) com o intuito de oferecer insights
sobre oportunidades para BioComércio Ético no setor farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru.
Esses insights e informações serão utilizados pela UEBT para dar suporte as suas decisões estratégicas,
mas também podem ser úteis para os atores envolvidos neste setor ou que tenham envolvimento com o
tema de biocomércio nesses países.
Este relatório é um resumo baseado na pesquisa realizada pela UEBT para a Corporação Financeira
Internacional (IFC). O mapeamento de mercado foi elaborado para fornecer um conhecimento aprofundado
das principais oportunidades e desafios referentes às práticas de abastecimento no setor farmacêutico
nesses quatro países da América Latina (LATAM). As informações obtidas a partir do mapeamento se
destina a apoiar estratégias de transformação de mercado nestes países e espera-se facilitar ainda mais
o crescimento de práticas de BioComércio Ético nesses mercados.
A pesquisa incluiu revisão de literatura, contribuição de especialistas, entrevistas em profundidade e
workshops em vários países. O trabalho de campo foi realizado entre junho e dezembro de 2012, no
Brasil, Colômbia e Peru, e entre março e junho de 2013, na Bolívia. As análises e relatórios finais foram
concluídos em dezembro de 2013. Os relatórios completos submetidos ao IFC e que são base para este
resumo, estão disponíveis no site da UEBT (www.uebt.org).
Este resumo não substitui os relatórios completos de cada um dos países resultantes deste estudo. Para
informações detalhadas, por favor, leia os relatórios completos “Cosmetics, Food and Pharmaceutical
Sector Mapping for Biodiversity- Sourcing Companies final reports on Brazil, Colombia, Peru and Bolivia”,
disponíveis somente na versão em inglês no site da UEBT.
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
5
MERCADO FARMACÊUTICO NA BOLÍVIA,
BRASIL, COLÔMBIA, PERU
Em 2011, a indústria farmacêutica global cresceu 5,1%, com vendas em US$ 956 bilhões (de acordo com
dados da IMS Health). As empresas que produzem medicamentos genéricos agora se deparam com a
falta de moléculas para o lançamento de novos produtos, o que torna a biotecnologia e os medicamentos
à base de plantas uma excelente oportunidade para abrir novos mercados e fontes de geração de riqueza
para esse setor. Por essa razão, os grandes grupos farmacêuticos instalados no Brasil e que se dedicam à
produção de genéricos estão dedicando sua pesquisa e desenvolvimento (P&D) em ingredientes naturais.
O Brasil é o quinto maior mercado de medicamentos do mundo e o maior da América do Sul, com os maiores
centros de produção localizados em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás. O mercado farmacêutico brasileiro
cresceu 18,8% em 2011 – bem acima do PIB – alcançando uma receita total de R$ 43 bilhões (US$ 25,7
bilhões), de acordo com dados da IMS Health. Os 20 maiores laboratórios do setor de medicamentos
instalados no Brasil representam 60,7% do mercado brasileiro. Deles, 13 são multinacionais, que são
responsáveis por 65% do número total. Recentemente, as empresas multinacionais anunciaram mais
investimentos o que transformaria o Brasil em uma plataforma de produção para o mercado latinoamericano.
Além disso, o setor farmacêutico no Brasil foi escolhido como um setor de trabalho estratégico pelo
atual governo federal, com linhas diferenciadas de investimento e estratégias de desenvolvimento
em biotecnologia. O motivo principal por trás dessa seleção é o enorme potencial que representa a
biodiversidade no Brasil, com uma imensa fonte de diversidade de moléculas produzidas por plantas,
animais e microorganismos que podem resultar em bioativos, tanto para novos medicamentos como para
substituto aos já existentes. Contudo, o Brasil ainda depende altamente do mercado externo para comprar
medicamentos e equipamentos hospitalares, uma vez que a maior parte do setor farmacêutico brasileiro
não possui o know-how e a escala para produzir os seus próprios ingredientes, sendo essa uma fonte de
preocupação para o governo. A receita do segmento de medicina à base de plantas no Brasil é atualmente
superior a US$ 1 bilhão, com um crescimento médio de 20% impulsionado pela distribuição de fitoterápicos
através do programa do Sistema Único de Saúde do país a preços acessíveis.
Países como Bolívia, Colômbia e Peru adotam a fitoterapia como parte de sua cultura, o que deve facilitar
a implementação e o desenvolvimento de empresas de medicamentos à base de plantas. No entanto,
isso ainda não é uma realidade nesses países devido ao alto grau de informalidade no setor farmacêutico.
Extratos artesanais, chás e pomadas são bastante comuns nesses países.
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
6
No Peru, a receita de vendas de produtos farmacêuticos atingiu US$ 1,42 bilhões em 2011 e aumentou
para US$ 1,62 bilhões em 2012, o que representa uma taxa média de crescimento de 10,7% na moeda
local. A importação de medicamentos no Peru mudou drasticamente nos últimos anos, aumentando a
quantidade de medicamentos importados de países que são conhecidos pela fabricação de medicamentos
genéricos, principalmente da Índia, China e Colômbia, embora as importações da França e dos Estados
Unidos continuem dominando o mercado de medicamentos patenteados.
O setor farmacêutico representa um dos principais ramos de atividade econômica na Colômbia, que inclui
a fabricação de produtos farmacêuticos, substâncias químicas e produtos à base de plantas medicinais.
Ao longo dos últimos anos, a Colômbia tem experimentado uma crescente presença de multinacionais
farmacêuticas estrangeiras, como consequência da América Latina ter se tornado uma das regiões com
maior potencial de crescimento para o setor. O interesse na Colômbia não se limita às possibilidades no
mercado interno, mas também às oportunidades de exportação devido a um ambiente macroeconômico
e comercial muito favorável. Em 2011, o setor exportou US$ 387 milhões de produtos farmacêuticos para
países como Equador, Venezuela, Peru e Panamá.
As empresas colombianas que se dedicam à produção de medicamentos à base de plantas ou insumos
naturais enfrentam hoje grandes dificuldades para desenvolver a sua pesquisa e inovação, devido ao
grupo limitado de ingredientes aprovados pelo INVIMA (Instituto Nacional de Vigilância de Medicamentos
e Alimentos). Muitas empresas buscam apoio de fundos internacionais para ampliar o estudo de espécies
que não estão na lista aprovada, e assim gerar informações suficientes para plantas de uso popular, para
serem acrescentadas a essa lista e obter autorização para o seu uso.
Estima-se que o setor farmacêutico natural colombiano cresceu 50%, gerando aproximadamente US$
300 milhões em vendas anuais nos últimos anos. Acredita-se que o setor gera 100 mil empregos diretos,
entre laboratórios, lojas de produtos naturais, farmácias convencionais, farmácias homeopáticas e lojas de
grandes centros comerciais. Da mesma forma, estima-se que existam 9.500 lojas de alimentos saudáveis,
25 laboratórios para fabricação de produtos fitoterapêuticos sob licença pelo INVIMA, 40 laboratórios para
fabricação de produtos homeopáticos, 100 empresas processadoras de alimentos integrais, e cerca de
300 distribuidoras no país.
Na Bolívia, o setor farmacêutico é constituído por importantes laboratórios nacionais que têm a infraestrutura e a capacidade para atender, em sua maior parte, a demanda interna de produtos farmacêuticos.
Até dezembro de 2010 o mercado farmacêutico de varejo na Bolívia cresceu cerca de 3,5%, atingindo
US$ 195,9 milhões. Foi informado que, em janeiro de 2013, o setor econômico farmacêutico representou
US$ 241,2 milhões. Como os dados não diferenciam produtos fitoterápicos de medicamentos produzidos
com moléculas sintéticas, os dados sobre o valor real do mercado de produtos fitoterápicos não podem
ser estabelecidos com precisão. No entanto, organizações internacionais de saúde estimam a venda de
medicamentos fitoterápicos em 0,34% do total das vendas no setor ou em US$ 820 mil.
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
7
De acordo com dados fornecidos pela CIFABOL (Câmara da Indústria Farmacêutica Boliviana), o setor
público realiza 64% do seu abastecimento através de empresas nacionais e importa o restante. O setor
privado mostra uma situação oposta (essencialmente farmácias e outros centros de varejo), importam
até 74%. Apesar desses dados e de existirem importantes empresas nacionais (26 no total), o mercado
farmacêutico na Bolívia ainda depende de importações. Os medicamentos importados representam 42%;
os fabricados localmente, 33%; e 20% são provenientes do mercado informal. Os medicamentos genéricos
produzidos localmente representam apenas 13,5% do volume de mercado.
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
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ESTRUTURA DE CADEIAS PRODUTIVAS DO
SETOR FARMACÊUTICO
A estrutura das cadeias de abastecimento no setor farmacêutico varia de país para país e
de empresa para empresa. A figura a seguir descreve uma típica cadeia de abastecimento
de ingredientes naturais para o setor, desde os produtores até os consumidores, levando em
consideração que os canais de distribuição são distribuidores atacadistas que entregam os
medicamentos dos fabricantes para os varejistas e para o segmento institucional (hospitais,
centros de saúde e departamentos governamentais); e através de varejistas os medicamentos
chegam até as farmácias para a venda direta ao consumidor.
Os resultados da pesquisa indicam que as empresas farmacêuticas podem ser classificadas
como fabricantes de produtos acabados, e/ou como produtoras de ingredientes naturais e/ou
como distribuidoras de medicamentos. Na realidade, as empresas se identificam em mais de
um nível na cadeia de abastecimento.
BRASIL
A indústria farmacêutica no Brasil tem uma sólida cadeia de abastecimento
de ingredientes sintéticos, mas também conta com cadeias de ingredientes naturais, usadas
principalmente para a fitoterapia e medicamentos naturais. No entanto, hoje uma grande
parte dos ingredientes naturais utilizados pela indústria é importada da China e dos Estados
Unidos, devido à escassez de cadeias de abastecimento locais que apresentem um mínimo de
organização e com os níveis de serviço e qualidade exigidos para atender aos padrões deste
setor, o que faz com que algumas empresas desistam de investir recursos em pesquisa baseada
em ingredientes naturais adquiridos no mercado local, apesar das empresas considerarem
estes ingredientes uma importante fonte de inovação.
PERU
No Peru, as multinacionais que produzem medicamentos estão em uma posição
desfavorável, pois as políticas governamentais favorecem concorrentes locais, especialmente
os produtores de medicamentos genéricos. No entanto, o país oferece consideráveis benefícios
em longo prazo para as empresas estrangeiras, pois o governo vem gastando cada vez
mais em medicamentos. Especificamente no que diz respeito aos produtores de suplementos
nutricionais, podem ser observados dois grupos distintos no mercado. O primeiro deles, os
laboratórios, que adquiriram proficiência na extração de ingredientes naturais e exportam
para destinos como os Estados Unidos, Europa e Ásia, assim como para outros países da
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
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América Latina – alguns deles estão envolvidos na promoção do biocomércio. E o segundo
grupo, que corresponde a várias empresas de marcas conhecidas que contam com uma vasta
gama de produtos elaborados com ingredientes nativos, e que estão vendendo sua produção
em lojas próprias e em redes de farmácias.
COLÔMBIA
Todas as empresas farmacêuticas multinacionais instaladas na Colômbia
realizam sua pesquisa e desenvolvimento na Europa ou nos Estados Unidos. Os laboratórios
que produzem medicamentos fitoterápicos compram localmente ou importam extratos de
plantas medicinais, ou compram material vegetal para produzir seus próprios extratos usados
para a produção de xaropes, cremes, sabonetes, xampus medicinais etc – produtos que
podem ser encontrados em lojas de alimentos funcionais e supermercados. Sobre as matérias
primas que os laboratórios precisam, a metade das empresas entrevistadas mostra uma
elevada dependência de ingredientes naturais, afirmando que mais de 75% dos ingredientes
que compram são de origem natural.
BOLÍVIA
Na Bolívia, 90% dos produtos sintéticos ou naturais são importados. Os
produtos sintéticos, que são utilizados na medicina convencional, vêm do Chile, Argentina,
Paraguai, Europa, China, Coréia e Índia. Os ingredientes naturais tais como extratos vegetais
líquidos e sólidos que requerem eficácia, qualidade e segurança, também são importados,
principalmente da Alemanha, Brasil, Europa, porque há poucas cadeias de abastecimento
para os ingredientes medicinais no país.
Figura 1 - Etapas na cadeia de produção no Setor Farmacêutico
Cadeia de
abastecimento
Produtor local
•Agricultores (sistemas de
cultivo e agro-florestais)
•Extrativistas
•Associações de produtores
– a maioria dos produtores
que trabalham nesse setor se
organizam em associações
Comercialização
Farmácias
Intermediários
Normalmente, “entre” produtores
e processadoras locais é possível
a participação de intermediários
para facilitar a operação e a
logística,
principalmente
no
caso de commodities no setor
de produtos naturais, quando o
volume é um fator chave.
Empresa de produto
acabado (marca)
• Principalmente grandes
empresas internacionais
• Laboratórios
farmacêuticos
• Laboratórios artesanais
Empresas processadoras
de ingredientes
• Ingredientes naturais ativos
• Insumos de origem vegetal
• Extratos e chás
• Elo mais fraco da cadeia
de abastecimento por falta
de qualidade e volume
necessário
Distribuidores
Normalmente, “entre” processadoras
de ingredientes e empresas de
produto acabado encontramos os
distribuidores que podem facilitar a
distribuição e venda de ingredientes
naturais e misturas à base destes
ingredientes.
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
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IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE NO
SETOR FARMACÊUTICO
A indústria farmacêutica na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru atribui grande importância à
biodiversidade, especialmente como fonte de inovação. Isso foi amplamente demonstrado
durante as entrevistas em profundidade, não apenas pelas empresas de medicamentos à
base de plantas, mas também por empresas de genéricos que vêem a biodiversidade e os
ingredientes naturais como fonte de inovação para a geração de novas patentes nos próximos
10 anos. Embora as empresas desse setor acreditem na importância da biodiversidade
para o seu negócio e atribua uma potencial vantagem competitiva no contexto do comércio
internacional, poucas pensam nela como um dos pilares da sustentabilidade e que sua perda
pode trazer danos irreparáveis para a descoberta e desenvolvimento de novos medicamentos.
Mais de 80% dos entrevistados no Brasil e Bolívia descreveram a biodiversidade como
importante ou muito importante para os seus negócios. No Peru, os ingredientes naturais são
considerados muito importantes por mais de 60% das empresas pesquisadas e na Colômbia
este número está em 44%.
Empresas dos quatro países demonstraram ter um elevado percentual de ingredientes naturais
na sua carteira de ingredientes. No Brasil e na Colômbia, mais da metade das organizações
participantes nesta pesquisa afirmam que mais de 50% da sua carteira de matérias primas é
composta por ingredientes naturais. A situação é diferente no Peru, onde, de fato, 60% dos
entrevistados afirmam que menos da metade da sua carteira de ingredientes são naturais.
Já na Bolívia, metade dos entrevistados afirma que a porcentagem de ingredientes naturais
alcança mais do que 50% de sua carteira, e a outra metade afirma que representa menos de
50%.
Sobre o volume de ingredientes produzidos localmente, 80% das empresas peruanas indicaram
que mais da metade da sua carteira de ingredientes naturais é produzido localmente, seguido
pelo Brasil, Bolívia e Colômbia, com 46, 45 e 37,5%, respectivamente.
Na Bolívia, 60% das empresas necessitam importar derivados de plantas medicinais, tais
como extratos de tomilho, lavanda e camomila, embora existam empresas na Bolívia que
oferecem esses ingredientes.
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
11
Figura 2 - Mapeamento perspectivas do setor farmacêutico:
85%
92%
BRASIL
85%
39%
%
das
empresas
que
considera que os ingredientes
naturais são importantes para
os próximos 10 anos
44%
75%
COLÔMBIA
63%
38%
60%
60%
PERU
%
das
empresas
que
considera
que
a
biodiversidade é importante
para o negócio
%
das
empresas
que
considera a biodiversidade
como fonte de inovação
60%
80%
80%
65%
BOLÍVIA
85%
50%
%
das
empresas
que
implementam políticas de
biodiversidade
Respostas. Brasil 13, Colômbia 16, Peru 5, Bolívia 20 Ano: 2013
A seguir apresentamos uma lista de exemplos dos principais ingredientes vegetais utilizados
pela indústria farmacêutica e que são obtidos nos respectivos países.
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
Exemplos de ingredientes naturais obtidos
localmente, utilizados no sector farmacêutico
Brasil
Colômbia
Peru
Bolívia
Açaí
Alecrim
Abacate
Anis
Acerola
Alegría del monte
Açaí
Boldo
Alecrim
Algas
Arruda
Camomila
Algas
Alho
Bananeira
Carqueja
Aloe Vera
Anis
Camu camu
Erva-luísa
Arnica
Borojó
Copaíba
Eucalipto
Anis
Calêndula
Hortelã
Hortelã
Café verde
Camomila
Maca
Maca
Calêndula
Dente de leão
Maíz morada
Passiflora
Camomila
Folhas de abacate
Quebra-Pedra (Chanca piedra)
Stevia
Carqueja
Fumária
Sangue-de-dragão
Tília
Catuaba
Gergelim
Unha de gato
Unha de gato
Cogumelos
Goiabeira
Urucu
Valeriana
Copaíba
Guaba (Inga edulis)
Erva baleeira
Guaraná
Erva mate
Manjericão
Eucalipto
Melissa
Guaraná
Passiflora
Hortelã
Sálvia
Jaborandi
Vira-vira
Vira-vira
Jambu
Mulungu
Passiflora
Sálvia
Unha de gato
Esta tabela é um exemplo das espécies utilizadas nos países e inclui espécies que foram mencionados durante as entrevistas
ou observadas durante a revisão da literatura, e, portanto, não é exaustiva.
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
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PRÁTICAS DE BIOCOMÉRCIO ÉTICO
A experiência mostra que as oportunidades existem para BioComércio Ético junto as empresas
farmacêuticas naturais. Os ingredientes naturais de grau farmacêutico são necessários para
atender às especificações de alta qualidade e com rastreabilidade. Comumente se põem
muita atenção às boas práticas de cultivo e coleta em tais cadeias de abastecimento. Várias
empresas que trabalham com ingredientes naturais farmacêuticos ao redor do mundo já se
comprometeram com o BioComércio Ético.
BRASIL
No Brasil algumas empresas que fornecem ingredientes naturais para o setor
farmacêutico e de medicina natural têm adotado práticas de BioComércio Ético. A Anidro do
Brasil Extrações SA, uma unidade farmacêutica do Grupo Centroflora é uma das pioneiras,
e comprometeu-se com as práticas de BioComércio Ético em 2011 e adota estas práticas na
produção de pilocarpina extraídos das folhas do jaborandi, usado em medicamentos prescritos
para o tratamento de pacientes com glaucoma. A Bereca, outro membro da UEBT, também
produz alguns ingredientes de qualidade farmacêutica, provenientes da região amazônica.
Embora nenhum fabricante de medicamentos no Brasil tenha se comprometido com o
BioComércio Ético, algumas das empresas internacionais comprometidas com o tema, tais
como Laboratórios Expanscience ou Weleda, vendem seus produtos farmacêuticos no mercado
brasileiro.
Parece existir oportunidades para expandir o conceito de BioComércio Ético neste setor no
Brasil, especialmente se novas pesquisas sobre a biodiversidade brasileira é conduzida para
desenvolver novos remédios naturais. Por mais que dependa dos resultados do processo
de revisão da legislação brasileira para ABS, o que afeta os investimentos, as empresas se
mostram dispostas a fazer esforços em P&D para inovar através da biodiversidade local.
PERU
O desenvolvimento de práticas de BioComércio Ético no setor farmacêutico no
Peru ainda está em sua fase inicial e a consciência e interesse neste setor em geral é limitada.
Porém se observa algum interesse entre empresas envolvidas com produtos fitoterápicos.
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
Por exemplo, a divisão de naturais da Hersil, uma empresa farmacêutica líder peruana, que
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ingressou para a UEBT em 2012. A Hersil produz produtos farmacêuticos naturais para o
mercado nacional e para exportação e suas fontes de ingredientes atendem aos critérios de
BioComércio Ético.
No futuro, mais oportunidades para o BioComércio Ético podem resultar do Plano Peruano
para a Ciência, Tecnologia e Inovação, que apoia, entre outros, a pesquisa sobre plantas
medicinais da biodiversidade peruana.
COLÔMBIA
O nível de consciência colombiano sobre o conceito de BioComércio Ético está
praticamente restrito ao segmento natural e fitoterapêutico. O Laboratorio de Farmacología
Vegetal Labfarve, uma empresa conhecida no setor na Colômbia, tem o compromisso com as
práticas de BioComércio Ético desde 2007, e trabalha ativamente na conscientização sobre
BioComércio Ético.
Um fator limitante para a expansão do BioComércio neste setor tem sido o número restrito de
ingredientes naturais que são reconhecidos pelas autoridades de saúde da Colômbia. Poucas
plantas medicinais nativas da Colômbia estão autorizadas e tem sido difícil adicionar novos
ingredientes à lista. No entanto, agora que a norma de BioComércio Ético ampliou seu escopo
para além dos ingredientes nativos, novas oportunidades podem aparecer na Colômbia.
Na verdade, muitas das empresas fitoterapêuticas entrevistadas na Colômbia mostraram
interesse pelo tema.
BOLÍVIA
Como nos outros países, o segmento de medicina natural é o mais consciente
no setor farmacêutico e possível interessado em BioComércio Ético. Na Bolívia este segmento
é constituído principalmente por laboratórios de pequeno porte e tem participação de
mercado limitada em comparação com os medicamentos de moléculas sintéticas. Em 2013,
os Laboratorios Valencia, uma empresa boliviana que se abastece de mais de 20 plantas
nativas bolivianas de fornecedores locais, estão comprometidos com o BioComércio Ético.
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
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ANÁLISE SWOT PARA BIOCOMÉRCIO ÉTICO
Com base na pesquisa, a seguinte análise SWOT foi preparada para o setor farmacêutico no
Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru.
Forças
• A indústria farmacêutica é um setor promissor que tem se beneficiado do
aumento da renda do consumidor, do envelhecimento da população e
do subsequente aumento do consumo de medicamentos, bem como da
entrada de mais genéricos no mercado;
• O setor tem recebido o forte apoio de programas governamentais que
contam com ele no processo de inclusão social;
• As empresas farmacêuticas já atingiram a fase em que devem investir
para atender às expectativas e projeções da população;
• O potencial dos países em termos de plantas medicinais que podem ser
usadas como ingredientes naturais é enorme;
• O conhecimento tradicional no uso de plantas medicinais pela população
em geral (não apenas a população indígena ou rural), oferece verdadeiras
possibilidades de desenvolvimento;
• As grandes empresas farmacêuticas pretendem aumentar a quantidade
de ingredientes naturais na formulação de seus produtos, principalmente
para produzir produtos inovadores;
• As empresas, em especial os laboratórios de pequena escala,
desenvolveram experiência prática com a produção de medicamentos
fitoterápicos, com experiência no desenvolvimento de cadeias de
abastecimento e em colaboração com os produtores.
Oportunidades
• Crescente interesse em ingredientes naturais como fonte de inovação;
• Espera-se que as empresas farmacêuticas cada vez mais usem
ingredientes naturais para encontrar alternativas que permita manter seus
negócios, o que, por sua vez, deve fortalecer o mercado de ingredientes
naturais nas próximas décadas;
• A tendência de busca de novos medicamentos conduzirá, sem dúvida,
a um renovado apoio à conservação dos recursos naturais na América
Latina, principalmente os abrangidos por este setor;
• Um decrescente número de moléculas que deverão liberar suas patentes
para produção de genéricos nos próximos anos faz com que grandes
marcas farmacêuticas procurem formas alternativas para manter seu
faturamento;
• Algumas empresas relataram que os consumidores vêem os produtos
fitoterapêuticos como mais “naturais” e menos prejudiciais para a saúde,
por terem origem vegetal;
• Muitas empresas de fito-farmacêuticos expressaram grande interesse
em melhorar seus sistemas de gestão e em promover práticas éticas de
biocomércio ao longo de suas cadeias de abastecimento, uma vez que
já estabeleceram contato direto com produtores de insumos de plantas
medicinais;
• Aumento do consumo de produtos naturais provenientes de plantas
medicinais como complementares aos tratamentos convencionais, uma
vez que as decisões de compra não serão tomadas exclusivamente com
base no preço;
• As empresas expressam um interesse genuíno pelo desenvolvimento
de novos produtos à base de ingredientes naturais, especialmente
motivados pelo acesso aos mercados de exportação.
Fraquezas
•As moléculas químicas ainda são o principal foco da indústria;
•A produção de medicamentos à base de ingredientes naturais ainda
é pequena em relação à de medicamentos convencionais ou de
genéricos produzidos com ingredientes sintéticos;
•É preciso desenvolver teste de validação clínica e estudos de
toxicologia química e de farmacologia para ingredientes ativos
extraídos de fontes naturais;
•Há insuficiências nas normas vigentes sobre produção de ingredientes
nativos, o que não facilita e, de fato, impede a produção sustentável
de medicamentos naturais;
•Necessidade de implementar políticas de propriedade intelectual nos
campos de apropriação e proteção dos conhecimentos tradicionais e
os relacionados com a biodiversidade.
Ameaças
•Os procedimentos para registrar um produto à base de ingredientes
naturais ainda não catalogados podem levar anos;
•No entanto, a falta de acesso ao P&D constitui um fator limitador
que a indústria precisa resolver através do compromisso do governo
e dos empreendimentos conjuntos com instituições de pesquisas
internacionais;
•É preciso a regulamentação de produtos à base de plantas medicinais
e a capacitação dos profissionais vinculados à medicina à base de
plantas e dos profissionais convencionais da saúde;
•A percepção dos consumidores é que os produtos estrangeiros são
de melhor qualidade, apesar da ampla gama de produtos baseados
na biodiversidade que podem ser encontrados nesses países;
•As empresas afirmam que não se reconhece o valor da matéria prima
vegetal, aumentando assim o risco de bio-pirataria;
•Adotar apresentações padronizadas, tais como cápsulas moles. O
fornecimento de medicina convencional e de medicina natural na
mesma forma será necessário para garantir a aceitação da medicina
natural pelo mercado.
Oportunidades para BioComércio Ético no Setor Farmacêutico na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É fato que a Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru são países ricos em biodiversidade. Os
consumidores estão cada vez mais conscientes sobre a biodiversidade, interessados em
ingredientes naturais provenientes da biodiversidade e de origem ética.
O BioComércio Ético tem um grande potencial no setor fito-farmacêutico, dado que é um setor
que tem a sua inovação e desenvolvimento com base na biodiversidade, este necessita de
rastreabilidade, da instituição de boas práticas agrícolas e de coleta, e interesse em parcerias
de fornecimento a longo prazo.
Tendo em vista a rica biodiversidade dos países pesquisados e a longa história de uso
tradicional, era de se esperar um forte compromisso para com as práticas de BioComércio Ético
no segmento de naturais do setor farmacêutico desses países. No entanto, até o momento
apenas algumas empresas na Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru que operam neste setor, estão
comprometidas com o tema.
© Grupo Centroflora
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Para contatar a UEBT
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