Que é Verdade - Maio de 2012

Transcrição

Que é Verdade - Maio de 2012
Curitiba, 01/06/12.
Ney Lisboa de Miranda 33º
Assessor Especial do Grande Inspetor Litúrgico
1ª Inspetoria Litúrgica do estado do Paraná
QUE É VERDADE
“Em todo o novo Testamento“, diz brutalmente o suave e santo
Nietzsche, só aparece uma figura digna de homenagens: Pilatos, o vice-rei
romano. . . O nobre desprezo dum romano, diante do qual a palavra
“verdade” era vergonhosamente manipulada, enriquece o Novo Testamento
com o único valor que nele existe: a pergunta - “Que é a verdade ?” Também
Anatole France considerou essa interrogação a mais profunda que ainda se
formulou na terra. Na realidade todas as demais questões dependem dela.
A essa inquirição se dirigida ao homem do mundo moderno, este não
saberá apontar dignamente uma resposta satisfatória, porquanto, de há muito
está divorciado da Mãe das Ciências, a “Filosofia”. Semelhante suas filhas,
depois de repartirem entre si a herança do saber, voltam-lhe as costas, como
filhas indignas após dividido o reino do conhecimento, esquecem-na por
completo e não mais lhe reconhecem o inestimável valor como sustentáculo da
cultura de todos os tempos.
- Mas o que é a “verdade”?
Anatole France considerava essa interrogação a mais profunda que
ainda se formulou na terra. Na realidade, todas as demais questões dependem
dela.
‘Na juventude decoramos todas as regras do perfeito pensar’ mais
amadurecidos, porém, acabamos por admitir que a “verdade” e a sabedoria
refogem do elegante e bem arrumado reino da lógica. Para prosseguirmos a
investigação da verdade filosófica é mister primeiramente determinarmos o que
temos em mira, que caminhos nos levam para lá e como reconheceremos a
coisa procurada, quando virmos surgir diante dos olhos. Qualquer outra ordem
de exposição não seria lógica.
O conhecimento provém unicamente dos nossos sentidos: por essa
razão o teste da “verdade”, resposta à pergunta de Pilatos, seria a sensação:
ou seja, tudo o que “tocamos, cheiramos, saboreamos, ouvimos e vemos”, logo
ela somente será obtida pela ativação dos cinco sentidos físicos do corpo
humano.
- Será?
Na dúvida que me assola o espírito, decidi, como de outras vezes, e
encontrando-me diante de uma encruzilhada sem saber qual a direção a tomar;
despir-me da vaidade, porquanto me aflora no pensamento o aforismo de
“Descarte” no seu discurso do método, e a sua expressiva afirmação,” Penso
logo sou” encorajando-me a reconhecer a minha pobreza intelectual diante do
meu propósito de conhecer a “verdade”, recorro ao inestimável auxílio dos
grandes “Pensadores”, Filósofos e Entidades mitológicas.”
O primeiro personagem mitológico com que deparei, para gloria e alegria
do meu entusiasmo, foi Orfeu, pois pela sua história de músico e poeta poderia
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orientar-me, considerado, segundo alguns estudiosos, ser filho do rei Eagro, e
para outros, filho de Apolo e da ninfa Caliope, exatamente por tratar-se do seu
pai, o condutor do carro solar, que se desloca dentro do zodíaco acompanhado
por “sete musas”, com a missão de visitar um a um os “Sete Planetas” corpos
iluminados pelo Astro Rei, cuja claridade resplandecia em toda direção,
marchando das trevas para a Luz - “ex tenebris lux”.
Pensei; ele como nauta do oceano “estelar” poderá indicar-me o
caminho para atingir o meu propósito.
- A dúvida me assalta o espírito; existe relação com o que pretendo
saber?
- Apolo, ou Orfeu poderá ajudar-me?
- Qual deles? Nenhum?
- Mas não esmoreçamos. Aproveitemos o “Carro do Sol” conduzido por
Apolo e com ele sigamos até a localidade de Fogia, subamos o monte Parnaso,
lá com certeza encontraremos “Orfeu” dedilhando a sua lira de “sete” cordas,
descansando da sua intrépida aventura como partícipe da expedição dos
Argonautas, tendo aos seus pés Eurídice a musa do seu coração com quem se
casara após intensas juras de amor eterno.
Apolo com um golpe seguro nas rédeas douradas, docemente os corcéis
estancaram obedientes ao desejo do condutor, e mostrou-me o Monte
Parnaso, morada de Orfeu.
Encetamos a subida, ouvia-se ao longe uma melodia, era o som alegre
produzido pelo dedilhar suave do contato das mãos divinas do artista que em
êxtase se deixava contagiar pela belíssima composição extraída do seu
instrumento musical, uma lira de “sete cordas”. Era Orfeu!
Aproximei-me em companhia de Apolo, apresentei-me a Orfeu como
mais um interessado em apreender com o iluminado mestre, o que devo fazer
para alcançar a “VERDADE” suprema.
- De onde vindes? Perguntou-me.
Respondi-lhe:
- Do meio das trevas.
Novamente inquiriu-me:
- Como pudeste sair?
Constrangido mas com altivez, respondi-lhe:
- Meditando sobre minha pessoa e estudando a natureza.
- Que pretendes encontrar nessa caminhada, solitário e desprotegido?
- Encontrar a “Luz da Verdade”!
Afetuosamente agasalhou-me em seus braços num amplexo fraterno,
com um largo sorriso nos lábios, exclamou: “sede bem vindo ao reino da
música e da poesia!”
Alegrei-me com a amistosa recepção, correspondi a saudação e
enlevado com as notas musicais que ainda ecoavam no éter, arrumadas de tal
forma ao se desprenderem da Lira de “sete cordas”, davam-me a impressão
que se multiplicavam harmoniosamente numa perfeita progressão geométrica
de sons, maravilhando o meu espírito.
Orfeu perguntou ao seu pai “Apolo”, qual a hora mais propícia para
encetarmos a nossa viagem através do zodíaco acompanhando a eclíptica
solar.
Apolo respondeu: - Quando se fizer meia-noite sobre a terra.
- Por quê? Interrogou Orfeu.
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- Porque então o Sol estará para nós em seu pleno meio-dia.
Pois que o Sol brilha para nós em toda a sua claridade aproveitemo-nos
disso para avançar no caminho da “Luz”.
-Disse Orfeu: “ Ele fala a verdade”.
Confesso que não estava entendendo o sentido do diálogo que trocavam
entre si, pai e filho, mas calei-me e aguardei o que se prenunciava como uma
viagem através da eclíptica solar, em busca do significado da ”verdade”, que
tanto ansiava.
Aboletei-me no “Carro do Sol”, a convite de Apolo, enfim, teria a
oportunidade de desvendar o mistério.
Antes de partirmos, peço-vos que dispenseis toda a sua atenção e
escute a revelação dos sectários de Orfeu: “Sete astros errantes circulam pelos
caminhos do céu e com eles é tecida a eternidade: a Lua que brilha durante a
noite; o lúgubre Saturno; o doce Sol; a deusa Pafos, protetora dos casamentos;
o corajoso Marte; o fecundo Hermes e Zeus.
Receberam eles, em partilha a raça humana e há em nós a Lua, Zeus,
Marte, Venus, Saturno, o Sol e Hermes. Ainda somos envolvidos pelo fluido
cósmico, gerador das lágrimas, do riso, da cólera, da geração, do sono e o
desejo.
Com certeza, esses gênios estelares compreenderão a sua odisséia e o
armarão com os cuidados necessários para o bom êxito da sua missão.
- Partamos!
Exclamou Apolo.
Nossa primeira parada foi junto à vaidosa Lua.
Deu-me ela, o desejo de viver.
- Chegamos a Marte.
O Astro vermelho presenteou-me com o instinto da luta, e recomendoume usá-lo somente na defesa da “Justiça e da Verdade”.
- Mercúrio, sempre galante e vaidoso, presenteou-me com o prazer da
riqueza recomendando-me, utilizá-la somente para amenizar o
sofrimento do semelhante.
- Paramos defronte o ambicioso Júpiter, e este colocou a ambição em
meu coração, com a recomendação para ser usada somente visando o
bem estar da coletividade.
- Seguimos na direção de um belíssimo astro, cuja cor verde-esmeralda,
cintilava graciosamente, como se fossem olhos femininos, lançando
flechas de amor do deus Eros, o garoto galanteador, enlaçando
corações amorosos.
Era o planeta Venus.
- Presenteou-me com o amor da mulher.
- Saturno, inoculou-me com a inclinação ao repouso, afirmando que o
corpo, após uma longa jornada, necessita de repouso, assim como a
mente e o espírito.
Apolo tomando a palavra, asseverou, está para concluímos o nosso
périplo zodiacal, falta-nos, apenas, visitarmos o “Sol Astro Rei“.
- Vos achais, disse-me, armado dos principais pendores que inspiram as
ações dos homens. Vossa sorte para encontrar objeto que é razão da vossa
procura “LUZ DA VERDADE” dependerá do uso que delas fizerdes.
Agora já conheceis o significado e a profundidade das boas e das más
ações, entre vossas obras de luz e de trevas, de vida e de morte.
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Anotai tudo que lhe foi ensinado, para que no fim da sua vida, as
más ações não obscureçam e nem apaguem o brilho do bem que fizerdes.
Ainda tomado pela vertigem de tantos ensinamentos que me foram
presenteados na viagem inesquecível através a eclíptica solar, saltei do carro
solar e despedi-me do condutor e seu acompanhante, expressando todo o meu
contentamento, não só pela vigem de instrução, como ressaltei a fidalguia com
que fui distinguido durante o périplo zodiacal.
* * *
- Mas a dúvida crucial martelava o meu espírito, teria eu aprendido o caminho
para chegar até a “Verdade” que tanto me seduzia, teria eu aprendido o
significado das sábias palavras que me foram confiadas pelos “sete” apóstolos
Zodiacais?
- Teria eu adquirido a consciência da plena responsabilidade que me
aguardava perante a humanidade e a minha própria consciência, ao conhecer
em toda a sua extensão a “VERDADE” pura e límpida, refletida na superfície
tranqüila do lago da fraternidade. Nas oficinas os obreiros da cantaria
porventura, continuarão a manejar seus maços e cinzéis para lapidar as
imperfeições dos blocos informes da “pedra bruta”, para refletir a“Luz”
inigualável do Grande Geômetra edificador do Universo.
Ao pé do monte Parnaso onde fui deixado e embevecido com os
ensinamentos recebidos, sinto não precisar percorrer a outros próceres do
pensamento humano para descobrir o que seja o VERDADE.
Agora a conheço!
“DEUS EXISTE!”
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