Pé na Estrada - Caminhantes da Estrada Real
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Pé na Estrada - Caminhantes da Estrada Real
Pé na Estrada Notícias das Caminhantes da Estrada Real DEPOIMENTO DE QUEM TRILHOU ESTE CAMINHO A chegada à Paraty. por Fátima de Oliveira, Repórter e Caminhante O ano era 2003. O número de mulheres, 23. O ano é 2008 e o número de mulheres é 80. Que números cabalísticos são esses? Que anos são esses e que mulheres são essas? O ano de 2003 foi o da partida para o sonho, na primeira viagem à Estrada Real e o de 2008 a chegada ao sonho, na última viagem da série. Virão outras? Certamente, pois não há como conter 70 mulheres desejosas de caminharem, de modificarem os caminhos por onde passam, catando lixo como se fosse tesouro, guardando flores como se fossem durar toda vida, admirando paisagens, conversando com as pessoas, influenciando em suas vidas. Essas mesmas mulheres saíram, no dia 16 de maio, com destino a Guaratinguetá, onde pararam a caminhada no ano passado. A chegada no dia 17 deu um dia de folga, mesmo assim algumas caminhantes decidiram retornar à Aparecida do Norte, onde estiveram em 2007, em viagem oficial, tanto que hoje a imagem da padroeira do Brasil circula a casa de todas elas num rito de fé e união. De Aparecida do Norte retornaram à Guaratinguetá para mais uma visita à casa de Frei Galvão, feito santo e da fé de muitas caminhantes. Pé na Estrada Notícias das Caminhantes da Estrada Real De Guaratinguetá a Cunha, próximo destino, são 40 quilômetros de estrada, mas como é de praxe, caminhantes não caminham em asfalto, por uma série de razões. Mesmo assim a caminhada foi de 24 quilômetros, num dia pesado para muitas, especialmente as novatas. As "velhas de guerra" têm mais costume aos caminhos tortuosos, mesmo assim ninguém fez feio. Ganharam a estrada, juntou-a á liberdade e à alegria e atingiram o objetivo. No caminho, porque ninguém é de ferro, teve uma parada para que as caminhantes se hidratassem com frutas e sucos diversos. A chegada em Cunha deu-se ao final da tarde de domingo e o almoço com banda e tudo, previsto para as 13 horas só aconteceu mesmo às 17 horas, com apenas um cavaquinho e um tambor tristes contratados por Oscar, o dono do restaurante que acabou pescando uma de nossas caminhantes e a coisa pode acabar em casamento. A segunda-feira foi livre para as compras, especialmente da rica e criativa cerâmica da cidade de Cunha. São cinco horas da manhã, hora de sair da cama quente e enfrentar a madrugada fria, pois o que espera a mulherada são 21 quilômetros, sendo sete deles de subidas íngremes. Haja coragem e disposição. A noite de Cunha recebe a equipe de volta(veio de ônibus), para a tradicional Pé na Estrada Notícias das Caminhantes da Estrada Real fogueira onde as caminhantes depositam peças diversas num ritual que teve início na primeira viagem. Quarta-feira é outro dia de acordar ás cinco da manhã. Nessa época do ano as madrugadas são frias e as tardes quentes. Cada qual a seu modo sai empacotada. Pelo caminho vai deixando peças de roupas com a equipe de apoio. O sonho de chegar à Paraty está tão próximo que algumas veteranas choram, pois é difícil conter a alegria, o temor de algum impedimento, algumas dificuldades de saúde que não lhes deixasse ver o mar de Paraty caminhando. A descida da Serra da Bocaina tem apenas 12 quilômetros e de descida. Isso é "nadica de nada", dizem algumas, para as caminhantes que descem fazendo algazarra e cantando os hinos feitos em homenagem a elas e à cidade de Paraty, por Wander Safe. "Chegamos, chegamos, chegamos". Esse foi o grito geral da moçada, trajando camisa de gala e com o coração aos pulos. A emoção foi imensa, afinal a trilha do ouro, o mesmo caminho feito por escravos, reis, estrangeiros e bandoleiros era a reta final. A chegada ao marco zero fechou primeira etapa da viagem e quem sabe uma etapa da vida. Pé na Estrada Notícias das Caminhantes da Estrada Real A mesma vida que nos abre outros caminhos, outros sonhos, outras andanças.