106. a introdução na farmacopeia europeia de - HCTE
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106. a introdução na farmacopeia europeia de - HCTE
Scientiarum Historia II – Encontro Luso-Brasileiro de História das Ciências – UFRJ / HCTE & Universidade de Aveiro A introdução na farmacopeia europeia de algumas plantas medicinais brasileiras descritas por José de Anchieta no século XVI. Fernando J. Luna, Centro de Ciência e Tecnologia, Universidade Estadual do Norte Fluminense, Av. Alberto Lamego, 2000, Campos dos Goytacazes- RJ, 28013-600, [email protected] Palavras Chave: etnobotânica, disseminação da ciência, farmacêutica, índios Introdução Usando como fonte duas cartas de José de Anchieta, escritas no século XVI, em que descreve algumas plantas medicinais usadas na terapêutica dos ameríndios, traçamos o caminho que percorreu o conhecimento etnofarmacológico de três plantas medicinais brasileiras até sua introdução na farmacopeia europeia. Nessa época, os europeus conheciam não mais que 600 plantas medicinais por meio dos escritos da Grécia e Roma antigas, acrescidos da contribuição dos médicos árabes. Entretanto desde o primeiro século da colonização a flora e a fauna brasileiras foram descritas em relatos de viajantes europeus, que tiraram proveito da medicina praticada pelos índios, incorporando ao seu cabedal de conhecimento médico os componentes oriundos da flora americana.1 Resultados e Discussão Índios brasileiros se valiam da ipecacuanha, palavra que significa ‘cipó que faz vomitar’, para combater a disenteria e como emético, ou seja, para induzir o vômito, uso assinalado na carta de S. Vicente por Anchieta, que não deixou de notar “uma certa raiz, abundante nos campos, [...] raspa-se e bebe-se misturada com água; esta, se bem que provoque o vômito com bastante violência, todavia bebe-se sem perigo de vida”.2 Nativo das Américas, o milho era usado como alimento e como remédio pelos índios, como explicou Anchieta: em vez de beberem vinho, primeiros missionários serviam-se “de milho cozido em água, a que se ajunta mel, de que há abundância; é assim que sempre bebemos as tisanas ou remédios”.2 Anchieta descreveu com precisão a copaíba na Carta de São Vicente, ainda que abstendo-se de nomeá-la, não por falta de um nome indígena para a planta, posto que autores coevos já se referiam a uma planta chamada ‘cupaigba’, com a mesma descrição. Tabela 1. Algumas plantas citadas por José de Anchieta nas cartas de São Vicente (1560) e de Piratininga (1554) e quando entraram na literatura médica europeia. planta milho copaíba ipecacuanha efeito febrífugo, purgante cicatrizante emético nome científico Zea mais L. Copaifera langsdorfii Desf. Psychotria ipecacuanha primeira menção na Europa 1563 1580 1625 Como mostra a Tabela 1, já a partir de 1563 aparecerem menções às plantas descritas por Anchieta, entre outros viajantes no continente americano, em livros publicados na Europa, por autores como os espanhóis Andrés de Laguna (1499-1559) e Nicolas Monardes (1512-1588), por exemplo.3 Conclusões Existem evidências históricas para sustentar que a terapêutica indígena era avançada em relação à medicina praticada pelos europeus que tomavam de assalto as Américas a partir do século XVI. É preciso aprofundar as pesquisas históricas para esclarecer o caminho que seguiu os saberes dos povos americanos até a Europa a fim de valorizar a contribuição ameríndia para a construção do conhecimento no alvorecer da Revolução Científica. Referências e Notas 1 Cañizares-Esguerra, J., Nature, empire and nation, Stanford: University Press, 2006, p. 8. Anchieta, J. de; Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões do Padre Joseph de Anchieta, São Paulo: Civilização Brasileira, 1933. 3 Luna, F. J., Linhares, M. P. e Hygino C., Scientarum Historia: 1º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – UFRJ / HCTE – 22 e 23 de setembro de 2008. 2 2º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – 28 a 30 de outubro de 2009