Perguntas chave no - Sociedade Portuguesa Oncologia
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Perguntas chave no - Sociedade Portuguesa Oncologia
FÁTIMA CARDOSO COORDINADORA: Perguntas chave no CANCRO DA MAMA Perguntas chave no CANCRO DA MAMA CO O RD ENA D O RA : FÁTIMA CARDOSO PERMANYER PORTUGAL www.permanyer.com Perguntas chave no CANCRO DA MAMA COORDENADORA: C OORDENADOR: F ÁT I M A C A R D O S O PERMANYER PORTUGAL www.permanyer.com © 2015 Permanyer Portugal Av. Duque d’Ávila, 92, 6.º Dtº - 1050-084 Lisboa Tel.: 21 315 60 81 Fax: 21 330 42 96 ISBN da colecção: XXXXXXXXX ISBN: XXXXXXXXX Dep. Legal: XXXXXXXXX Ref.: 1979AP141 www.permanyer.com Contacto em Portugal: [email protected] Impresso em papel totalmente livre de cloro Impressão: CPP Este papel cumpre os requisitos de ANSI/NISO Z39-48-1992 (R 1997) (Papel Estável) Reservados todos os direitos Sem prévio consentimento da editora, não poderá reproduzir-se, nem armazenar-se num suporte recuperável ou transmissível, nenhuma parte desta publicação, seja de forma electrónica, mecânica, fotocopiada, gravada ou por qualquer outro método. Todos os comentários e opiniões publicados são da responsabilidade exclusiva dos seus autores. Suporte válido Comunicado ao Departament de Salut (Gran Vía) de la Generalitat de Catalunya: n.º Autores Ana Catarina Pinto Oncologista Médica Unidade de Mama Centro Clínico Champalimaud Lisboa Saudade André Patologista Responsável do Laboratório de Citologia &Serviço de Anatomia Patológica Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, EPE Lisboa Elizabeth Charlotte Moser Radioterapeuta Unidade de Mama e Departamento de Radioterapia Centro Clínico Champalimaud Lisboa Helena Gervásio Oncologista Médica Directora de Serviço de Oncologia Médica Instituto Português Oncologia Francisco Gentil EPE Coimbra Arlindo Rebelo Ferreira Helena Pereira Berta Sousa Joana M. Ribeiro Catarina Pulido José Carlos Marques Cristina Silva Loewenthal José Luis Passos Coelho Radioterapêuta Departamento de Radioterapia, Instituto Português Oncologia Francisco Gentil, EPE Porto Oncologista Médico Serviço de Oncologia Médica Hospital de Santa Maria – CHLN Lisboa Oncologista Médica Unidade de Mama Centro Clínico Champalimaud Lisboa Oncologista Médica Serviço de Oncologia Médica Hospital de Santa Maria – CHLN Lisboa Especialista em Medicina Nuclear Departamento de Medicina Nuclear Hospital da Luz Lisboa David Pinto Cirurgião de Mama Unidade de Mama Centro Clínico Champalimaud Lisboa Oncologista Médica Unidade de Mama Centro Clínico Champalimaud Lisboa Radiologista Serviço de Radiologia Instituto Português Oncologia Francisco Gentil, EPE Lisboa Oncologista Médico Director Serviço de Oncologia Médica Hospital da Luz e Hospital Beatriz Ângelo Lisboa Luís Costa 100 perguntas chave no Cancro da Mama Oncologista Médico Director Serviço de Oncologia Médica Hospital de Santa Maria – CHLN Lisboa III Autores Luzia Travado Pedro Gouveia Maria João Cardoso Sofia Braga Cirurgião de Mama Unidade de Mama Centro Clínico Champalimaud Lisboa Psicóloga Clínica Directora Serviço de Psico-Oncologia Centro Clínico Champalimaud Lisboa Cirugiã de Mama Responsável Cirurgia de Mama Unidade de Mama, Centro Clínico Champalimaud Lisboa Noémia Afonso Oncologista Médica Responsável pelo Serviço de Oncologia José de Mello Saúde Lisboa Oncologista Médica Serviço de Oncologia Médica e Clínica de Mama Instituto Português Oncologia Francisco Gentil, EPE Porto IV Susana Pedro Enfermeira Especialista em Oncologia Enfermeira Chefe da Unidade de Mama Centro Clínico Champalimaud Lisboa 100 perguntas chave no Cancro da Mama Índice Prefácio VII F. Cardoso Capítulo 1 Caracterização e classificação de subtipos de cancro da mama 1 S. André Capítulo 2 Papel das técnicas de imagem ao longo do espetro do cancro da mama 7 C.S. Loewenthal e J.C. Marques Capítulo 3 Tratamento cirúrgico do cancro da mama 15 D. Pinto, P. Gouveia e M.J. Cardoso Capítulo 4 Impacto da radioterapia no tratamento do cancro da mama precoce e metastático 21 E.C. Moser e H. Pereira Capítulo 5 Tratamento sistémico do cancro da mama HER2 positivo 29 J.M. Ribeiro, A.C. Pinto e B. Sousa Capítulo 6 Cancro da mama triplo negativo 35 S. Braga e J.L. Passos Coelho Capítulo 7 Tratamento sistémico do cancro da mama luminal/HER2 negativo 43 N. Afonso Capítulo 8 O osso como alvo no tratamento do cancro da mama 49 A.R. Ferreira, C. Pulido e L. Costa Capítulo 9 Survivorship no cancro da mama precoce e avançado 57 H. Gervásio, A.C. Pinto e E.C. Moser Capítulo 10 Papel crucial da psico-oncologia e da enfermagem oncológica 65 S. Pedro e L. Travado 100 perguntas chave no Cancro da Mama V Abreviaturas 3DRT radioterapia 3D 4DRT radioterapia 4D 5-FU 5-fluorouracilo ARA antagonistas dos recetores da angiotensina ACOSOGAmerican College of Surgeons Oncology Group ACS American Cancer Society ACSM American College of Sports Medicine AJCC American Joint Committe on Cancer AMRO Agentes modificadores da remodelação óssea APBI irradiação parcial da mama ARNm ARN mensageiro ASCO American Society of Clinical Oncology ASTRO American Society for Radiation Oncology ATLAS Adjuvant Tamoxifen Long Against Shorter ATP trifosfato de adenosina aTTom adjuvant Tamoxifen To offer more AZ ácido zoledrónico BI-RADS Breast Imaging-Reporting and Data System BP bifosfonatos BPN péptido natriurético tipo B B1 basal tipo 1 B2 basal tipo 2 CAP College of American Pathologists CBT terapia cognitivo-comportamental CK citoqueratinas CMTN carcinoma da mama triplo negativo CTNeobcCollaborative Trials in Neoadjuvant Breast Cancer DBT Digital Breast Tomossynthesis DCIS carcinoma ductal in situ DMO densidade mineral óssea EBCTG Early Breast Cancer Trialists Collaborative Group EE eventos esqueléticos EGFR recetor para o fator de crescimento epidérmico EPIC European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition ESMO European Society of Medical Oncology EUA Estados Unidos da América EV endovenoso FDA Food and Drug Administration FEVE fração de ejeção ventricular esquerda FHS Folicular Stimulating Hormone FIRST Fractional Flow Reserve and Intravascular Ultrasound Relationship Study FPPS farnesil pirofosfato sintase GnRH hormona libertadora de gonadotrofina GPA Graded prognostic Assessment GS gânglio sentinela G1 grau 1 G2 grau 2 G3 grau 3 HIC hipertensão intracraniana HR hazard-ratio IA inibidores da aromatase IARC International Breast Cancer Working Group IBC carcinoma inflamatório da mama IECA inibidores da enzima conversora da angiotensina IGF-1 insulin-like growth factor-1 IGRT radioterapia de imagem guiada IHC4 imunocitoquímica de quatro biomarcadores IHQ imunohistoquímica IK índice de Karnowsky IM imunomodulador IMRT radioterapia de intensidade modulada VI IORT LABC LAR LCIS LMA LOE M MBC MBSTS MDACC MS NF NCI NCCN NCCS NGS NICE NQF NTX NYHA OAR OMS PARP pCR PET PI3K PFS PS QT RA RANKL RE RH RL RM RNA ROM RP RPg RS RT SC SG SIB SISH SLD SNC SNP SOFT SOE TC TCH T-DM1 TE TEXT TFG TN TTP UICC V-MAT WBI WBRT radioterapia intraoperatória carcinoma localmente avançado da mama luminal recetor de androgénio carcinoma lobular in situ leucemias mieloides agudas lesão ocupando espaço mesenquimatoso cancro metástico da mama Malmo Breast Tomosynthesis Screening Trial MD Anderson Cancer Center mesenquimatoso com células estaminais neutropenia febril National Cancer Institute National Comprehensive Cancer Network National Coalition for Cancer Survivorship Next Generation Sequencing The National Institute for Health and Care Excellence National Quality Forum telopéptido N-terminal do colagénio tipo I New York Heart Association orgãos de risco Organização Mundial de Saúde poli adenina ribose polimerase resposta patológica completa tomografia por emissão de positrões fosfatidilinositol 3-quinase sobrevivência livre de progressão performance status quimioterapia recetor de androgénio recetor ativador do fator nuclear kappa recetor de estrogénio recetores hormonais recidiva local ressonância magnética ácido ribonucleico range of motion recetores de progesterona RH progesterona recurrence score radioterapia subcutâneo sobrevivência global Boost integrado técnica de hibridação in situ sobrevivência livre de doença sistema nervoso central single nucleotide polymorphisms Supression of Ovarian Functon Trial sem outra especificação tomografia computorizada docetaxel-carboplatina-trastuzumab trastuzumab entamsina terapêutica endócrina Tamoxifen and Exemestane trial taxa de filtração glomerular triplo negativo tempo para progressão Union for Internacional Cancer Control volumetric modulated arc therapy irradiação total da mama irradiação cerebral total 100 perguntas chave no Cancro da Mama Prefácio O tratamento do cancro da mama está em constante evolução. Novos conhecimentos nas áreas da biologia tumoral, biomarcardores, novos tratamentos, bem como qualidade de vida e survivorship são publicados anualmente. A multidisciplinaridade e o trabalho em equipa têm um papel central e indispensável, sem os quais nenhum doente com cancro da mama poderá ser adequadamente e eficazmente tratado. As recomendações internacionais, baseadas na evidência existente, são outros dos pilares da oncologia atual, devendo ser implementadas no tratamento diário dos doentes oncológicos com doença precoce e avançada. Simultaneamente, os conhecimentos adquiridos através de ensaios clínicos realizados em populações de doentes têm necessariamente de ser adaptados a cada doente individualmente, de acordo com vários fatores, não só biológicos mas também físicos (por ex: comorbilidades, idade biológica, performace status), psicológicos, socioeconómicos e, de grande importância, as suas preferências. Só assim atingiremos, num futuro próximo, a grande ambição de proporcionar uma medicina verdadeiramente personalizada. Nem sempre é fácil ao clínico manter-se atualizado, adquirindo e consolidando toda a nova informação. Este livro pretende facilitar essa tarefa, resumindo de forma prática e objetiva, as principais questões que se levantam durante a abordagem diagnóstica e terapêutica do cancro da mama. Agradecemos a todos os autores terem aceitado este desafio, procurando responder de forma clara e instrutiva às perguntas colocadas, percorrendo todo o percurso de um doente com cancro da mama, desde a biologia e diagnóstico, tratamento locorregional e sistémico da doença precoce e avançada, até aos papéis essenciais do apoio psicológico e de enfermagem especializada. Esperamos que este livro possa surpreender e agradar, tornado-se uma ferramenta útil e interessante de apoio à prática clínica de todos os profissionais envolvidos no cuidado de doentes com cancro da mama. Boa leitura! Fátima Cardoso Directora da Unidade de Mama Centro Clínico Champalimaud Lisboa, Portugal 100 perguntas chave no Cancro da Mama VII Capítulo 1 Caracterização e classificação de subtipos de cancro da mama S. André EM QUE SE BASEIA A NOVA CLASSIFICAÇÃO DE SUBTIPOS DE CANCRO INVASIVO DA MAMA? O que habitualmente é designado por cancro da mama, refere-se a uma neoplasia epitelial maligna, o cancro da mama, com capacidade de disseminação/ metastização, cuja incidência aumenta com a idade e cujo prognóstico é melhor se detetado em estádios iniciais. É o cancro mais comum em mulheres (23% de todos os cancros na mulher), sendo que, em todo o mundo, todos os anos, mais de 1,3 milhões de mulheres são diagnosticadas com cancro da mama1. O cancro da mama masculino representa 1% de todos os cancros da mama e 1% dos cancros no homem, sendo de 13.000 os casos estimados por ano, em todo o mundo1. Devido à heterogeneidade clínica e morfológica do cancro da mama, o conhecimento das características moleculares implicadas na iniciação e na progressão desta neoplasia é atualmente uma ferramenta indispensável para os avanços na terapêutica e consequente aumento da sobrevivência. Assim, a nova classificação de subtipos de cancro da mama é baseada em características moleculares. QUAIS SÃO OS PARÂMETROS ANÁTOMO-PATOLÓGICOS CLÁSSICOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS CANCROS DA MAMA? O cancro da mama é tradicionalmente classificado pelo exame anátomo-patológico segundo o estádio/sistema TMN (American Joint Committe on Cancer [AJCC]/ Union for Internacional Cancer Control [UICC])2, segundo o tipo histológico (classificação da Organização Mundial de Saúde [OMS])1 e segundo o grau histológico (sistema de Elston & Ellis)1. A classificação molecular é, atualmente, entendida não como substituta da classificação anátomo-patológica, mas como complementar. O estadiamento do cancro da mama é efetuado através do sistema TNM, que engloba a maior dimensão do tumor primário (T), a ausência ou presença de metástases nos gânglios linfáticos regionais (N) e a ausência ou presença de disseminação metastática à distância (M)1. O tipo histológico mais frequente é o carcinoma invasivo sem outra especificação ou não de tipo especial (NOS – not otherwise specified), que compreende entre 40 a 75% dos casos de cancro invasivo nas séries publicadas (OMS 2012) (Fig. 1). Engloba um grupo de neoplasias clínica e morfologicamente heterogéneo e cujo prognóstico depende de múltiplas variáveis. O segundo tipo histológico mais frequente em mulheres é o carcinoma lobular invasivo (5-15%), cujo prognóstico global não varia muito do cancro invasivo sem outra especificação. Existem tipos histológicos mais raros que, pela baixa frequência carecem de estudos randomizados, mas que se consideram como exemplos de tipos histológicos de bom prognóstico como o carcinoma mucinoso puro, o carcinoma tubular, o carcinoma cribriforme invasivo e o carcinoma adenoide cístico2. Não existem subtipos histológicos considerados unanimemente como fator independente de pior prognóstico. Embora o subtipo micropapilar invasivo esteja frequentemente associado à presença de invasões linfovasculares e de metástases ganglionares, o padrão micropapilar não é considerado fator prognóstico independente de pior prognóstico1. O grau histológico (sistema de Elston & Ellis) utiliza uma contagem/score baseada na soma dos valores de três características histológicas: formação de ductos (valor 1: > 75% do tumor; valor 2: entre 10 e 75%; valor 3: < 10%), pleomorfismo nuclear (valor 1: núcleos pequenos, regulares, uniformes; valor 2: aumento moderado de tamanho e forma dos núcleos; valor 3: variação marcada do tamanho e forma dos núcleos) e número de mitoses (p. ex. com diâmetro de 0,44): valor 1: entre 0 e 5; valor 2: entre 6 e 10 e valor 3: > 11). 100 perguntas chave no Cancro da Mama 1 S. André Figura 1. Cancro invasivo da mama, sem outra especificação. Assim, os cancros invasivos classificam-se em grau 1 (G1) ou bem diferenciado (valor 3-5); grau 2 (G2) ou moderadamente diferenciado (valor 6-7); grau 3 (G3) ou pouco diferenciado (valor 8-9)2. QUAL A UTILIDADE DA CLASSIFICAÇÃO EM «SUBTIPOS INTRÍNSECOS»? A classificação molecular do cancro da mama permitiu estabelecer subtipos que representam entidades biológicas distintas baseadas no padrão de expressão genómica (estudo do DNA). A análise de genes que variam mais entre tumores do que entre repetidas amostras do mesmo tumor («genes intrínsecos») revelou a existência de pelo menos cinco subtipos moleculares de cancro da mama (luminal A, luminal B, «enriquecido em HER2», de células basais e «idêntico a mama normal»). Em 2009, foi publicado um teste prognóstico, que utilizava um conjunto de 50 genes (PAM50) e que permitiu alguma uniformização relativamente a publicações anteriores e classificar os cancros invasivos da mama nos «subtipos intrínsecos» luminal A, luminal B, «enriquecido em ERBB2» e «de células basais», com impacto prognóstico e utilidade no planeamento terapêutico dos cancros da mama precoces e com informação preditiva relativamente à eficácia da quimioterapia (QT)2. No consenso internacional de St. Gallen em 2015, foi considerada para orientação terapêutica, a classificação em subgrupos de cancro da mama descrita no quadro 13. OS TESTES DE EXPRESSÃO GENÓMICA TÊM VALOR PROGNÓSTICO E PREDITIVO? Existem também vários testes de expressão genómica/«assinaturas genómicas» disponíveis comercialmente 2 para previsão de resposta à terapêutica e avaliação do prognóstico. Como «assinaturas de primeira geração» mais utilizadas exemplificamos o Oncotype DX® e o Mammaprint. O Oncotype DX® é reconhecido pela American Society of Clinical Oncology (ASCO) e pela NCCN, avalia 21 genes (16 genes relacionados com o cancro e 5 genes de referência) e fornece um resultado entre 0 e 100 que correlaciona a probabilidade de recidiva da doença em 10 anos - Recurrence Score® (RS) e a probabilidade do benefício de adicionar QT à terapêutica hormonal. Utiliza-se em cancros recetores de estrogénio (RE) positivos e avalia-se em tecido fixado em formol e embebido em parafina. O resultado refere-se à probabilidade de recidiva sem tratamento e à probabilidade de resposta à QT (fator prognóstico e preditivo), sendo ainda discutível a probabilidade de resposta à QT por haver a hipótese desta relação depender apenas da proliferação tumoral e ser devida ao fato dos tumores com maior proliferação tumoral responderem habitualmente melhor à QT. Assim, ao contrário das mulheres com RS alto, as mulheres com RS baixo teriam menor risco de recidiva e menor benefício da QT. Com base neste teste pode recomendar-se apenas terapêutica hormonal em RS baixos, evitando os efeitos secundários e os custos económicos da QT. O MammaPrint avalia 70 genes em tecido congelado e em parafina, é aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) e validado por evidência de nível II. Para ser elegível para este teste, o cancro deve ter as seguintes características: estádio I ou II, menos de 5 cm, RE positivo ou RE negativo, pN0 ou pN1a (até três gânglios). O resultado é dado como alto risco e baixo risco, referindo-se à probabilidade de recidiva sem tratamento e à probabilidade de resposta à QT (fator prognóstico e preditivo)4. As «assinaturas de primeira geração» relacionam-se sobretudo com a proliferação tumoral e com as recidivas precoces (< 5 anos). Recentemente, foram desenvolvidos novos testes designados como «assinaturas de segunda geração», que incluiem o EndoPredict®, o Breast Cancer Index® e o PAM50® e têm a possibilidade de ser preditivas tanto de recidivas precoces como de recidivas tardias (> 5 anos). QUAIS SÃO OS FATORES PREDITIVOS E PROGNÓSTICOS DO CANCRO DA MAMA QUE PODEMOS AVALIAR POR IMUNOHISTOQUÍMICA? Existem inúmeros fatores avaliáveis por imunohistoquímica que são considerados na literatura com valor preditivo e prognóstico. No entanto, apenas a expressão dos recetores de estrogénios (RE), dos recetores de progesterona (RP), a sobre-expressão do oncogene ERBB2/HER2 complementada pela pesquisa da amplificação e a expressão da proteína Ki-67 são avaliados 100 perguntas chave no Cancro da Mama Caracterização e classificação de subtipos de cancro da mama Quadro 1. Classificação do cancro da mama em subgrupos para orientação terapêutica Grupos Notas Triplo negativo RE, RP e ERBB2 negativo RE e RP negativos & ERBB2 positivo ASCO/CAP guidelines RE e RP positivos & ERBB2 positivo ASCO/CAP guidelines RE e RP positivos & ERBB2 negativo – doença luminal como um espetro RE e/ou RP positivo ≥ 1%* Recetores altos, proliferação baixa, carga tumoral baixa (luminal A-like) «Assinatura genómica» com «prognóstico favorável» se avaliável. RE/RP altos e Ki-67 baixo†. Envolvimento ganglionar baixo ou ausente (N 0-3), T pequeno (T1 T2) Intermédio «Assinatura genómica» com «prognóstico intermédio» se avaliável. Incerteza do grau de risco e da resposta à terapêutica endócrina e à QT Recetores baixos, proliferação alta, carga tumoral alta (luminal B-like) «Assinatura genómica» com «prognóstico desfavorável» se avaliável. RE/RP baixos e Ki-67 alto‡. Envolvimento ganglionar extenso, G3, maior dimensão (T3) *Valores de RE entre 1 e 9% são considerados equívocos. †Nem todas as «assinaturas genómicas» têm score intermédio. ‡Os valores de Ki-67 devem ser interpretadas segundo a média do laboratório de referência: por exemplo, se um laboratório tem uma média do valor de Ki-67 em cancros RH positivos de 20%, valores de 30% ou acima devem ser considerados altos; valores de 10% ou menos devem ser considerados baixos. Adaptado das orientações de St. Gallen3. por rotina aquando do diagnóstico histológico em todos os casos de cancros invasivos e são considerados os principais fatores preditivos e prognósticos do cancro da mama2 (Fig. 2). A avaliação imunohistoquímica dos RE e de RP é feita por estimativa da percentagem de núcleos marcados. Uma percentagem de células neoplásicas positivas para os RE e para os RP > 1% considera-se como indicadora de resposta à terapêutica hormonal, segundo as orientações publicadas em 2010 pela ASCO e a College of American Pathologists (CAP)5. No entanto, este ponto de vista foi contestado em relação aos RE num estudo publicado em 2013 em que se comparam os «subtipos intrínsecos» avaliados por imunohistoquímica e avaliados por estudo genómico (subtipo molecular). Este estudo conclui que os tumores com baixa percentagem de células positivas têm características mais idênticas aos tumores RE negativos do que aos tumores RE positivos, dado que 88% destes tumores eram ERBB2/HER2 positivos ou de tipo basal e que apenas os tumores com positividade ≥ 10% se classificavam como subtipo luminal A6. No entanto, as recomendações internacionais consideram positivos os RE > 1%. Um estudo comparativo entre a avaliação dos RE por imunohistoquímica e pelo Oncotype DX® concluiu que devido à maior sensibilidade da técnica de imunohistoquímica e as vantagens adicionais como a preservação da morfologia e menor custo e maior rapidez de execução, a avaliação dos recetores hormonais por imunohistoquímica é preferível à avaliação por qRT-PCR7. COMO SE AVALIA O ERBB2/HER2 NO CANCRO DA MAMA? A avaliação da expressão do ERBB2/HER2 é efetuada segundo uma contagem definida pela intensidade de marcação e tipo marcação (completa ou incompleta) da membrana citoplasmática. O resultado pode ser negativo (ausência completa de marcação ou marcação incompleta, fraca e ≤ 10% das células), 1+ (marcação incompleta e fraca > 10% das células), 2+ (marcação circunferencial incompleta e/ou fraca/moderada > 10% das células ou marcação completa, circunferencial e intensa ≤ 10% das células) e 3+ (marcação completa, circunferencial e intensa > 10% das células). Os casos avaliados como negativos e como 1+ são interpretados como ausência de sobre-expressão desta proteína e os casos com marcação 3+ como sobre-expressão inequívoca. Em todos os casos com marcação 2+ é efetuado o estudo por técnica de hibridação in situ (SISH ou FISH ou CISH). Na avaliação da amplificação do ERBB2/HER2 por SISH é calculada a razão do número de cópias do gene em relação com o número de cópias do cromossoma 17 (contagem de 20 células adjacentes). De acordo com as recomendações da ASCO/CAP de 20138, a razão entre o número de cópias do ERBB2/HER2 e o número de cópias do cromossoma 17 deve ser ≥ 2, ou se polissomia do cromossoma 17, a média do número de cópias do ERBB2/HER2 isoladamente tem de ser ≥ 6 para que a neoplasia seja considerada positiva (amplificação do gene ERBB2/HER2). Considera-se o 100 perguntas chave no Cancro da Mama 3 S. André RE RP ERBB2 Ki67 Figura 2. Cancro da mama recetores de estrogénios positivo em 100% das células neoplásicas, recetores de progesterona negativo, ERBB2/HER2 positivo 3+ e Ki-67 positivo em 30% das células neoplásicas. tumor como negativo se o ratio for < 2 ou a média do número de sinais do ERBB2/HER2 for < 4. Um resultado equívoco define-se com uma razão < 2 com número médio de cópias de HER2 ≥ 4 e < 6. A AVALIAÇÃO DO KI-67 POR IMUNOHISTOQUÍMICA ESTÁ PADRONIZADA? A expressão da proteína Ki-67, avaliada pela percentagem de núcleos marcados por imunohistoquímica, destina-se a estimar a fração de células em proliferação. O Ki-67 está associado com vários parâmetros histopatológicos, nomeadamente com o grau e, em alguns estudos tem valor prognóstico independente. No entanto, a falta de padronização, sobretudo no método de leitura, faz com que a sua avaliação tenha pouca reprodutibilidade interlaboratorial, o que limita a sua aplicação quer em investigação quer na prática clínica. Enquanto se aguarda o estabelecimento de 4 regras que permitam a uniformização de procedimentos é aconselhável seguir as recomendações do International Breast Cancer Working Group (IARC) para o Ki-679. As guidelines de St. Gallen 20153 recomendam o estabelecimento do cut-off segundo a média do laboratório de referência bem como a implementação de programas de controlo de qualidade e a experiência do patologista. OMICS – QUAL O SIGNIFICADO? O neologismo do sufixo «omics» integra áreas de estudo da biologia como a genómica, a transcriptómica, a epigenómica, a proteómica e a metabolómica. Estas áreas dedicam-se, respetivamente, ao estudo do genoma (conjunto de genes comuns das células do tumor), do transcriptoma (parte do genoma que se expressa numa célula numa etapa específica do seu desenvolvimento), do epigenoma (conjunto de fatores com atividade reguladora do genoma), do proteoma (conjunto 100 perguntas chave no Cancro da Mama Caracterização e classificação de subtipos de cancro da mama de proteínas codificadas por um genoma que interatuam para dar a uma célula o seu carácter individual num determinado momento) e do metaboloma (conjunto de metabólitos produzidos e/ou modificados em uma célula e que correspondem aos produtos finais dos processos celulares) e têm como objetivo caracterizar e quantificar moléculas/biomarcadores que se traduzam em estruturas e funções. Biomarcador é uma característica passível de avaliação objetiva como indicador de processos biológicos normais, patogénicos ou de resposta terapêutica. A genómica estuda a organização molecular do ADN. Depois de completar o sequenciamento do genoma de organismos, a investigação está atualmente focada na determinação das funções de genes. A transcriptómica concentra-se na recolha de moléculas de ARN transcritas a partir do genoma, nomeadamente o perfil de ARN mensageiro (ARNm) de expressão. Numa única célula humana, cerca de metade de todos os genes podem ser expressos, e um total de entre 25.000 e cerca de 30.000 genes são expressos no corpo humano. Estimou-se que o número total de transcritos destes genes em diferentes tipos de células é 134.135. Enquanto alguns genes são expressos apenas como 0,3 cópias por célula, outros têm até 9.417 transcritos. Epigenómica significa o estudo dos elementos epigenéticos, ou seja, o estudo dos fatores que influenciam a maneira como os genes se exprimem. A proteómica utiliza tecnologia variada, como a espetrometria de massa, eficaz na separação e análise de proteínas, se possível em larga escala, com o objetivo de caracterizar o conjunto de proteínas codificadas por um genoma expressas numa célula, tecido ou organismo, numa determinada situação e num determinado tempo. A proteómica funcional tem como objetivo geral um catálogo de todos os genes e da sua função. A metabolómica visa identificar e quantificar o conjunto de metabólitos produzidos e/ou modificados numa célula, fluido biológico, tecido ou organismo, sendo estas substâncias consideradas os produtos finais dos processos celulares. Pode ser usada para avaliar as mudanças metabólicas que acompanham o crescimento tumoral, redução de apoptose e aumento na proliferação. Adicionalmente, a caracterização da resposta do perfil metabólico do doente aos agentes quimioterápicos poderá no futuro conduzir a estratégias mais efetivas e personalizadas para conter o crescimento do tumor. Pela visão conjunta de todas estas áreas da biologia avaliadas por diferentes metodologias que integram a imunohistoquímica, a expressão de genes, a SISH e os sequenciadores da nova geração, podemos construir uma visão global que seja útil para a terapêutica das neoplasias baseada no processo tumoral e não apenas no tipo de tumor. A incorporação da tecnologia «omics» para o estudo das neoplasias, incluindo o cancro da mama, tem modificado significativamente a abordagem biológica, tanto pela validação de biomarcadores diagnósticos e prognósticos já existentes, como pelo facto de investigar de novos mecanismos, novos biomarcadores e novos alvos terapêuticos10. NOVAS TECNOLOGIAS – QUAL O PAPEL DO DEEP GENE SEQUENCING? A sequenciação é o processo de determinar a ordem de nucleotídeos de uma molécula de DNA ou RNA, ou de aminoácidos de uma proteína. A sequenciação resulta numa representação linear simbólica conhecida como sequência, a qual sucintamente resume a estrutura da molécula sequenciada. As novas tecnologias de sequenciação, denominadas de tecnologias de sequenciação de nova geração (Next Generation Sequencing [NGS]), começaram a ser comercializadas em 2005, estão a evoluir rapidamente e estão a revolucionar a compreensão das neoplasias, nomeadamente do cancro da mama. Enquanto um sequenciador de eletroforese processa, no máximo, 96 fragmentos de DNA de cada vez, os sequenciadores de nova geração podem ler até bilhões de fragmentos ao mesmo tempo. Com o uso dos sequenciadores de nova geração como o deep gene sequencing, que fazem a sequenciação da mesma região várias vezes, é possível a caracterização da totalidade do genoma, do transcriptoma e do epigenoma. A sequenciação do transcriptoma, também conhecido como RNA-Seq, fornece tanto a sequência como as frequências de moléculas de RNA que estão presentes em qualquer momento num tipo específico de célula, tecido ou órgão. Contar o número de mRNAs que são codificados por genes individuais proporciona um indicador de codificação de proteínas. A sequenciação repetida da mesma região (deep gene sequencing), é necessária para identificar mutações tumorais difíceis de identificar devido a fatores como a contaminação por células normais e a heterogeneidade tumoral. Um tumor que contém 50% de tecido normal exige o dobro «da profundidade da sequenciação» para detetar as mutações do tumor com a mesma confiança que uma amostra de tumor 100% puro e quantos mais clones presentes mais «profunda» é a sequenciação necessária para representar cada tipo clonal adequadamente ou para detetar os clones representativos de 1% do tumor original, pois estes têm potencial para se tornarem o clone predominante nas recidivas resistentes à terapêutica. Para acompanhar o progresso da biologia molecular é fundamental o desenvolvimento de novas ferramentas de bioinformática e métodos estatísticos para a análise computorizada dos dados obtidos. A existência crescente de bases de dados computorizados dá resposta ao aumento de experiências levadas a cabo pela sequenciação. 100 perguntas chave no Cancro da Mama 5 S. André QUAL A IMPORTÂNCIA DA SEQUENCIAÇÃO NA EVOLUÇÃO DA TERAPÊUTICA DO CANCRO DA MAMA? O conhecimento cada vez mais profundo da genética tumoral obtido pela sequenciação de neoplasias é um fator importante no desenvolvimento e implementação da terapêutica personalizada. O uso adequado de terapêuticas seletivas depende do perfil mutacional dos tumores, sendo crítica a determinação do perfil genómico na compreensão da resposta e na avaliação da sensibilidade e da resistência a essas terapêuticas e assim monitorizar as opções terapêuticas nas recidivas. No cancro da mama, a terapêutica alvo com o trastuzumab nos tumores com sobre-expressão e/ou amplificação do HER2 induz frequentemente resistência à terapêutica, cujos mecanismos não são completamente conhecidos. Por isso, os estudos que comparam o perfil mutacional das recidivas no decorrer da terapêutica com o perfil mutacional do tumor original, podem contribuir para esse conhecimento e consequente melhoria da orientação terapêutica. Por estudos efetuados por meio da sequenciação profunda do genoma, pode ser observada alteração dos genes mutados mais comuns no cancro da mama depois de apenas uma dose de QT pré-operatória. A compreensão destes resultados poderá em breve fornecer aos médicos melhor capacidade de determinar quem irá beneficiar com determinada terapêutica e quem irá desenvolver resistência e assim personalizar medicamentos em acordo com as respostas do tumor. Usando a capacidade do deep gene sequencing, podemos também obter dados importantes para a compreensão da resposta a danos no ADN induzidos por radiação ionizante, identificar alterações genéticas somáticas de um tumor primário de mama e de um respetivo gânglio linfático metastizado e comparar o perfil genómico dos tumores primários e das recidivas11. A aplicação prática das técnicas de sequenciação é ainda limitada pois a grande maioria das alterações 6 encontradas não são passíveis de intervenção específica. Espera-se que, no futuro, a evolução do conhecimento da biologia do cancro de mama possa ter um maior impacto clínico para benefício dos doentes. BIBLIOGRAFIA 1.Lakhani SR, Ellis IO, Schnitt SJ, Tan PH, van de Vijver MJ. WHO classification of tumours of the breast. 4th ed. Lyon. IARC Press. 2012. 2.American Joint Committee on Cancer. AJCC Cancer Staging Manual. 7th ed. New York. Springer. 2010. 3.Coates AS, Winer EP, Goldhirsch A, et al. Tailoring therapiesimproving the management of early breast cancer: St Gallen International Expert Consensus on the Primary Therapy of Early Breast Cancer 2015. Annals of Oncology. 2015. 4.Taherian-Fard A, Srihari S, Ragan MA. Breast cancer classification: linking molecular mechanisms to disease prognosis. Brief Bioinform. 2014. 5. Hammond ME, Hayes DF, Wolff AC, Mangu PB, Temin S. 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Na Europa, a maioria dos programas de rastreio com mamografia são dirigidos aos grupos etários dos 50 aos 70 anos, nos quais a incidência é mais alta e a relação custo-benefício é superior. Estes programas de rastreio demonstraram benefício na redução da mortalidade pela doença, superior a 20%, superando potenciais inconvenientes, tais como o risco de sobrediagnóstico. Estima-se que cada mulher submetida a rastreio terá 1% de hipótese de ter um sobrediagnóstico1. A eficácia de qualquer programa de rastreio é dependente da sua metodologia e de um rigoroso programa de controlo de qualidade em todas as etapas. A qualidade de imagem e sua reprodutibilidade são essenciais, sendo por isso que a maioria dos programas de rastreio transitou, ou está em processo de transição, para mamografia totalmente digital, contribuindo para o aumento da taxa de deteção de 5/1.000 para 6/1.000. Outros inconvenientes do rastreio populacional estão associados à taxa de chamada para aferição (recall rate) que na Europa é, inferior a 5% e aos cancros perdidos ou não identificados nos padrões mamários mais densos. Estes inconvenientes podem ser minimizados com a introdução de novas tecnologias como a tomossíntese (Digital Breast Tomosynthesis [DBT]), embora com um aumento do custo na fase inicial do programa de rastreio. Nos grupos de alto risco, como as portadoras de mutação BRCA1 ou 2, por se tratarem de mulheres em grupos etários mais jovens, com padrões mais densos, com maior radiossensibilidade e cujos tumores assumem características morfológicas que podem mimetizar lesões benignas, a técnica de eleição para a deteção precoce é a ressonância magnética (RM), uma vez que é independente da densidade mamária e não utiliza radiação ionizante. As recomendações incluem a realização anual de RM e de mamografia a partir dos 25-30 anos e por um prazo que pode ir até aos 70-75 anos, de acordo com a recente revisão dos critérios de The National Institute for Health and Care Excellence (NICE)², que servem de suporte às orientações da clínica de risco familiar na instituição a que pertencemos. QUAIS OS MEIOS DISPONÍVEIS PARA O DIAGNÓSTICO DO CANCRO DA MAMA E A SUA CONFIRMAÇÃO? Perante uma alteração duvidosa ou suspeita identificada na mamografia, o primeiro exame para confirmar a presença dessa alteração e que pode fornecer informação adicional que aumente a especificidade é a ecografia. A ecografia é uma técnica complementar da mamografia e a primeira escolha em jovens e nas sintomáticas, que permite confirmar ou excluir a presença de uma alteração suspeita pela mamografia e orientar a realização de um procedimento de intervenção, como uma biópsia para diagnóstico histológico. A maioria dos procedimentos de intervenção mamária é orientada por ecografia, desde que a lesão seja bem identificada por esta técnica e consistem na realização de uma microbiópsia ou core biópsia, habitualmente com agulha 14 gauge, com recurso a uma pistola automática ou semiautomática, de modo a obter amostra de tecido para diagnóstico histológico. Quando a lesão é melhor identificada por mamografia, como em microcalcificações, o procedimento 100 perguntas chave no Cancro da Mama 7 C.S. Loewenthal, J.C. Marques deve ser orientado por estereotaxia e a biópsia deve ser assistida por vácuo, com agulhas de maior calibre (7 a 11 gauge), de modo a obter uma amostra mais significativa com elevada taxa de concordância com a cirurgia e reduzindo o número de cirurgias por patologia benigna3. Nos casos em que a lesão é apenas observada na RM, a biópsia deve ser orientada por esta técnica e também assistida por vácuo. As técnicas de intervenção percutânea permitem confirmar a benignidade de uma lesão e, assim, reduzir a ansiedade e as indicações para cirurgia. Por outro lado, permitem confirmar a malignidade de uma lesão suspeita, possibilitando o planeamento terapêutico adequado e atempado. Informação detalhada deve ser fornecida ao patologista, incluindo a categoria Breast Imaging-Reporting and Data System (BI-RADS) da lesão4 e o resultado histológico deve ser correlacionado com as características imagiológicas da lesão, de modo a produzir as recomendações finais. QUAL O VALOR DAS NOVAS TECNOLOGIAS COMO A TOMOSSÍNTESE? A tomossíntese (DBT) representa um avanço tecnológico da mamografia digital que permite obter, em vez de uma única imagem 2D, múltiplos planos de 1 mm de espessura da mama, com a informação recolhida pelo movimento em arco da ampola de Rx do equipamento de mamografia e durante o qual são realizadas várias exposições de baixa energia, contribuindo para uma imagem 3D. A amplitude do arco e o número de exposições variam segundo as marcas. O primeiro equipamento aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) foi em 2011. Os ensaios clínicos realizados e publicados recentemente indicam que a DBT tem grande impacto em rastreio com aumento da taxa de deteção de 6/1.000 para 8/1.000 e 40% dos novos cancros são invasivos5. Por outro lado, diminui a taxa de chamada à aferição (recall rate) com impacto na diminuição dos inconvenientes do rastreio. Os resultados preliminares do Malmo Breast Tomosynthesis Screening Trial (MBSTS), apresentados em 2014, revelam um aumento de 43% na taxa de deteção6. Atualmente, já é possível obter uma imagem 2D sintetizada a partir da informação da tomossíntese, sem radiação, muito sobreponível à imagem 2D convencional, aprovada pela FDA em 2013 para uso clínico, permitindo reduzir a dose de radiação da tomossíntese para valores inferiores aos da mamografia digital 2D. 8 A B Figura 1. A: mamografia (2D) e B: tomossíntese (3D). Padrão denso com uma lesão espiculada quase impercetível na imagem 2D e perfeitamente identificada na imagem 3D, correspondendo a um carcinoma invasivo G1. O aumento da taxa de deteção e a redução dos falsos positivos fazem da tomossíntese a tecnologia do futuro na deteção precoce do cancro da mama (Fig. 1). O custo da sua implementação em rastreio constitui uma limitação, sobretudo na fase inicial, dado que a longo prazo pode verificar-se uma redução importante de custos em virtude da redução das taxas de aferição e do aumento da eficiência do rastreio. Em ambiente de diagnóstico, a tomossíntese constitui uma alternativa às incidências adicionais, contribuindo para reduzir o seu número e, consequentemente, a dose de radiação. Em cerca de 12% das situações poderá eliminar a necessidade de ecografia, que é o exame que consome mais tempo7. COMO REALIZAR O ESTADIAMENTO LOCORREGIONAL DO CANCRO DA MAMA RECENTEMENTE DIAGNOSTICADO? Após o diagnóstico de um cancro de mama é importante proceder ao estadiamento axilar e ao estudo de extensão, despiste de multifocalidade, multicentricidade e bilateralidade. No estadiamento axilar a ecografia é a técnica de eleição, tendo por objetivo identificar gânglios potencialmente metastáticos, com base nas características morfológicas como espessamento cortical > 3 mm, assimétrico ou excêntrico, apagamento 100 perguntas chave no Cancro da Mama Papel das técnicas de imagem ao longo do espetro do cancro da mama A B Figura 2. A: mamografia e B: RM. Padrão mamário denso com um carcinoma invasivo G2 e componente in situ extenso associado. do hilo adiposo ou fluxo doppler transcapsular. Em qualquer destas situações a biópsia é associada à ecografia e quando é confirmada metástase axilar é evitada a biópsia do gânglio sentinela (GS), sendo encaminhada para linfadenectomia axilar e podendo evitar um segundo tempo operatório. Com a aplicação dos critérios do Z0011, assumiu maior relevância diferenciar, com ecografia e RM, axilas N1 de axilas N2/N38 e privilegiar a citologia ou biópsia do gânglio quando se identificam dois ou mais gânglios suspeitos, de modo a proporcionar a mesma conduta às pacientes com um só gânglio positivo, quer seja identificado pelo estudo inicial, quer com a biópsia do GS. A RM é a técnica mais sensível no estudo de extensão e na deteção de doença adicional e de bilateralidade (Fig. 2). Existe alguma controvérsia sobre o impacto da RM no estadiamento, mas a maioria dos trabalhos concordam que a RM identifica entre 12 a 38%9,10 de lesões adicionais e 4% de carcinomas contralaterais. As lesões adicionais detetadas que podem modificar a terapêutica devem ser sempre confirmadas, e num estudo prospetivo e multicêntrico de Maio 201410, para Gonzalez, et al. a RM modifica a terapêutica em 18% e reduz a taxa de reintervenções de 15% para 5%. O seu uso deve no entanto ser criterioso, com indicações precisas, para evitar o aumento do número de mastectomias desnecessárias. A discrepância de resultados entre os diferentes estudos sobre o impacto da RM é em grande medida resultante da heterogeneidade das amostras, de equipamentos de ressonância não adequados para mama, ausência de standardização da técnica, e interpretação por radiologistas com pouca experiência em radiologia mamária e designadamente em ressonância. Algumas das recentes metanálises publicadas11 selecionam estudos que refletem as discrepâncias acima referidas e as suas enormes limitações, de entre os quais se destaca o COMICE trial12, estudo no qual, cada um dos centros que participou não terá realizado mais de três ou quatro ressonâncias/ano, confirmando as enormes limitações do estudo. A RM fornece ainda informação importante sobre as cadeias ganglionares, nomeadamente mamária interna e axilar, e sobre extensão à pele e parede torácica. O valor da RM no estadiamento inicial é particularmente importante em padrões mamários heterogeneamente densos, mulheres com menos de 40 anos, no carcinoma lobular invasivo, nos carcinomas in situ especialmente se de alto grau, na doença de Paget, na suspeita de multifocalidade e no tumor oculto. Apesar da qualidade da informação fornecida pela RM no planeamento terapêutico, o facto dos estudos disponíveis não demonstrarem o seu impacto na melhoria da sobrevida e na redução da recidiva local, fazem com que a RM ainda não seja considerado um procedimento standard no estadiamento locorregional do cancro da mama recentemente diagnosticado, sendo necessários mais estudos. COMO É QUE AS TÉCNICAS DE IMAGEM PODEM SER ÚTEIS AO ESTADIAMENTO? Após o diagnóstico de cancro da mama, o despiste de doença metastática antes do tratamento primário reúne alguma controvérsia. A avaliação inicial deve incluir a história clínica, exame físico e bioquímica13. Se é uma lesão em estádio inicial, sem suspeita de metastização, não são necessários outros exames pré-operatórios de estadiamento. Se, pelo contrário, é uma doença mais avançada, com indicação para terapêutica neoadjuvante, é aconselhável o estadiamento com realização de tomografia computorizada (TC) tóraco-abdomino-pélvico e cintigrafia óssea. Nos tumores iniciais, o resultado patológico final, isto é, pós-cirúrgico, sobre o tamanho do tumor e estado ganglionar, podem condicionar as decisões sobre estadiamento. Nos estádios I e II não é necessário o uso por rotina do Rx tórax, cintigrafia óssea ou ecografia abdominal. Os falsos positivos superam amplamente os verdadeiros positivos e atrasam o início do tratamento. No estádio III há uma probabilidade elevada de doença metastática, estando indicado o estadiamento com cintigrafia óssea e TC tóraco-abdomino-pélvico. Em tumores de alto risco, como no carcinoma inflamatório e nos localmente avançados inoperáveis, pode haver benefício num estadiamento pré-operatório mais agressivo, incluindo tomografia por emissão de positrões – TC (PET-TC). 100 perguntas chave no Cancro da Mama 9 C.S. Loewenthal, J.C. Marques QUE TIPO DE SEGUIMENTO DEVE SER REALIZADO NA MAMA TRATADA? Os avanços do tratamento do cancro da mama resultam num número crescente de sobreviventes que são submetidas a seguimento para a deteção de recidiva. A magnitude desta população requer uma monitorização eficiente, estabelecida em função do risco de recidiva, do conhecimento dos métodos de deteção e dos potenciais benefícios e riscos da identificação precoce da recidiva14. Não está provado que a deteção precoce de recidiva tenha impacto na sobrevida, a não ser no caso da recidiva local ipsilateral ou em caso de novo primário contralateral. O objetivo da deteção da recidiva, por exemplo sistémica, é o de permitir iniciar um tratamento que melhore a sobrevida e mantenha uma elevada qualidade de vida. O risco pode e deve ser estratificado em função do risco do tumor, baseado nas suas características biológicas e moleculares, da paciente e da própria mama. O risco de recidiva é maior nos subtipos moleculares triplo negativo e nos HER2, nos de alto grau nuclear, com índice mitótico elevado, com mais de quatro gânglios axilares atingidos, nas mulheres jovens com < 40 anos, antecedentes de radioterapia (RT), risco genético e nos padrões mamários densos com menor sensibilidade mamográfica. O risco de recidiva é maior nos primeiros cinco anos, com o pico do 1.º para o 2.º ano, e a partir do 5.º ano começa a decrescer gradualmente até aos 10-12 anos. Esse risco nos primeiros anos é maior nos grupos acima identificados. Até recentemente a metodologia de seguimento era igual para todos os casos, consistindo no exame clínico regular e na realização de mamografia, a primeira aos 6-12 meses após a RT, seguida por controlos anuais. É sabido que a maioria das recidivas são clínicas, mesmo no caso da recidiva local, exceto em caso de microcalcificações, nas quais a mamografia permite a sua identificação numa fase subclínica. A RM deve ser considerada não só nos casos de suscetibilidade genética ou antecedentes de RT torácica, mas também nos casos em que a mamografia apresente menor sensibilidade, como na mama densa e em alguns casos de mama reconstruída. A tendência atual na definição do protocolo de seguimento é para proceder como no diagnóstico e no tratamento, isto é, personalizando em função do risco individual, sendo mais intensivo em determinados grupos de risco e num determinado período de tempo, especialmente no respeitante à deteção da recidiva local ou do novo primário contralateral. 10 Além do exame clínico e da mamografia, algumas vezes da RM, não há evidência de benefício na realização no seguimento de Rx tórax, ecografias, cintigrafia óssea, da TC ou da PET, não sendo por isso recomendadas por rotina. Mesmo as provas de função hepática, fosfátase alcalina ou marcadores tumorais não são recomendados, exceto quando surge sintomatologia ou alteração no exame físico e, nesses casos, os exames são orientados para o órgão ou sistema em causa. Estas recomendações baseiam-se, no entanto, em estudos antigos e poderão não ser as mais adequadas numa época em que o tratamento da doença metastática limitada tem evoluído de forma importante. Nas pacientes a realizarem inibidores da aromatase, sendo suscetíveis de apresentarem redução da massa óssea, a densitometria deve ser realizada com periodicidade bianual. O seguimento das pacientes com tamoxifeno deve incluir o exame ginecológico anual. É também importante o seguimento e tratamento dos efeitos secundários a curto, médio e longo prazo das diferentes terapêuticas a que o doente for sujeito. QUAL O PAPEL DA MEDICINA NUCLEAR NO CANCRO DA MAMA? A medicina nuclear é uma especialidade médica com uma vertente de diagnóstico por imagem e outra vertente, também importante, que consiste em várias terapêuticas realizadas com substâncias radioativas. Esta especialidade permite estudar praticamente todos os orgãos do corpo humano utilizando moléculas marcadas com uma substância radioativa, ou isótopo, ou simplesmente o próprio isótopo, dependendo do tipo de exame que se pretende realizar15. As substâncias utilizadas entram nos processos fisiológicos dos orgãos em estudo, não alterando esses processos fisiológicos, não exercendo atividade farmacológica no organismo e sendo responsáveis por uma dose de radiação, geralmente baixa, e sempre dentro dos limites considerados seguros para diagnóstico. Os aparelhos utilizados para obter imagens em medicina nuclear são de dois tipos: nos estudos de medicina nuclear convencional são utilizadas as câmaras gama e nos estudos de PET são utilizados os tomógrafos de PET. Tanto as câmaras gama como os tomógrafos de PET podem ter acoplado um sistema de TC, que permite obter numa única aquisição imagens anatómicas e imagens funcionais16. São raras as reações alérgicas aos produtos utilizados em medicina nuclear, devido à quantidade muito reduzida de produto que é administrado ao doente, 100 perguntas chave no Cancro da Mama Papel das técnicas de imagem ao longo do espetro do cancro da mama não constituindo habitualmente problema, mesmo em doentes com antecedentes alérgicos. A maioria dos exames realizados em medicina nuclear consiste na administração de apenas algumas gotas de radiofármaco, por via endovenosa, numa veia previamente canalizada, sendo frequente e desejável a colocação de um cateter para evitar extravasamento do produto. Esse produto administrado vai então localizar-se ou participar na função fisiológica do corpo humano para a qual foi desenhado, sem interferir com as normais funções fisiológicas. Seguidamente, e depois de fornecer as informações pretendidas, é excretado por via urinária e/ou por via intestinal. Os aparelhos utilizados em medicina nuclear são na realidade aparelhos detetores de radiações, não emitindo eles mesmos qualquer tipo de radiação. O doente deitado no equipamento estará então a emitir um tipo de radiação, a radiação gama, detetada pelo equipamento, e convertida numa imagem, a imagem nuclear. QUAL O PAPEL DA CINTIGRAFIA ÓSSEA E DA LINFOCINTIGRAFIA PARA DETEÇÃO DE GÂNGLIO SENTINELA? A cintigrafia óssea permite obter de forma rápida, indolor e conveniente, uma imagem de corpo inteiro do esqueleto (Fig. 3). Não exige qualquer tipo de preparação por parte do doente, sendo administradas algumas gotas de radiofármaco numa veia, geralmente de um antebraço. O produto administrado distribui-se então por todo o esqueleto, permitindo realizar imagens de corpo inteiro após cerca de duas horas17. Este estudo não fornece informação anatómica muito detalhada, como outros exames de radiologia dirigidos a zonas anatómicas mais limitadas, mas é altamente sensível para detetar eventuais lesões ósseas, particularmente as lesões com importante componente osteoblástico. É habitualmente realizada a cintigrafia óssea aquando do estadiamento inicial, para se obter uma avaliação basal do esqueleto, podendo vir a ser repetido de acordo com as necessidades clínicas, nomeadamente em suspeitas de recidiva ou progressão por aumento de marcadores tumorais ou pela presença de dores ósseas suspeitas. A linfocintigrafia para deteção de GS é realizada mais frequentemente no dia da cirurgia, nas horas imediatamente antes, podendo também ser realizada no dia anterior, se se tratar de uma cirurgia matinal precoce, aumentando ligeiramente a atividade administrada do radiofármaco. Realiza-se em doentes sem evidência de doença axilar e o objetivo é a identificação do GS, i.e., o Figura 3. Cintigrafia óssea normal. primeiro gânglio de drenagem da zona onde se localiza a lesão mamária. A remoção do GS durante a cirurgia, vai permitir determinar histologicamente se se encontra invadido, adaptando-se a cirurgia de acordo com a situação encontrada. Esta técnica permite que seja removido apenas um gânglio ou um pequeno número de gânglios, o que evita cirurgias mais extensas e complicações subsequentes como linfedema do membro superior. Permite ainda adequar melhor a terapêutica complementar a realizar após a cirurgia, para atuar em conformidade com a agressividade do tumor. Para se realizar este estudo, é necessário injetar uma pequena quantidade de radiofármaco na mama, sendo mais frequente optar-se pela injeção subareolar no quadrante da lesão, havendo também a hipótese de injeção intratumoral ou peritumoral, sendo frequentemente necessário controlo ecográfico nestas situações. O radiofármaco, captado pelo sistema linfático mamário, identifica então o GS, mais frequentemente presente na axila, mas podendo também aparecer gânglios intramamários ou na cadeia mamária interna. A 100 perguntas chave no Cancro da Mama 11 C.S. Loewenthal, J.C. Marques Figura 4. PET-TC sem alterações relevantes. injeção profunda, mais próxima do tumor, ou a localização da lesão nos quadrantes internos aumenta a probabilidade de se observar drenagem para a cadeia mamária interna. Caso este estudo seja realizado no dia antes da cirurgia, não é necessária qualquer preparação. Se for realizado poucas horas antes da cirurgia, no próprio dia, a doente deverá ter atenção às indicações de jejum dadas para a cirurgia, sendo que o próprio exame não exige jejum ou outra preparação. O QUE É UMA ARNE E QUAIS AS SUAS INDICAÇÕES? ARNE é a angiografia de radionúclidos em equilíbrio que permite obter com uma pequena dose de radiação, uma avaliação da função cardíaca, nomeadamente a avaliação de eventuais defeitos segmentares ou globais da contractilidade e a fração de ejeção do ventrículo esquerdo. A importância deste estudo em patologia mamária advém da necessidade de avaliar a função cardíaca antes e durante quimioterapia (QT) cardiotóxica e terapêutica anti-HER2. Exige a administração de dois produtos, um dos quais radioativo, sendo marcados os eritrócitos do doente. A duração total do exame é de cerca de uma hora e não exige preparação. QUAL O PAPEL DA PET OU PET-TC? A PET (Fig. 4) é uma técnica que na maior parte dos aparelhos combina um estudo do metabolismo de corpo inteiro e um estudo de TC. Podem ser utilizados vários tipos de radiofármacos; contudo, no contexto de patologia mamária, o 12 radiofármaco mais utilizado é a fluorodesoxiglicose marcada com flúor-18 (18F-FDG); trata-se de um análogo da glicose, que é avidamente captado por inúmeros tipos de células neoplásicas, o que permite detetar de forma muito sensível pequenos focos tumorais18. Ao longo da doença, pode ser necessário realizar este estudo, quer no estadiamento inicial de alguns tipos de tumores (por ex. carcinoma inflamatório, outros tumores agressivos ou localmente avançados), quer em fases mais tardias, nomeadamente quando existe suspeita de recidiva ou para avaliação da eficácia de terapêuticas realizadas. É necessário realizar jejum de pelo menos quatro horas e os doentes diabéticos devem idealmente apresentar glicemia inferior a 160 mg/dl. Não deverão ser realizados esforços físicos importantes no dia antes do exame. A duração do exame é variável devido às condicionantes do produto, que é entregue especificamente para os doentes que realizam no próprio dia, e também pela semi-vida do flúor-18, de 110 minutos. BIBLIOGRAFIA 1. The Independent UK Panel on Breast Cancer Screening IBSR. The Benefits and Harms of Breast Cancer Screening: An Independent Review. A report jointly commissioned by Cancer Research UK and the Department of Health (England). October 2012. 2. NCCN Guidelines Version 2.2014 Hereditary Breast and/or Ovarian Cancer Syndrome - HBOC Syndrome Management Nacional Comprehensive Cancer Network. 3.Park HL, Kim LS. The Current Role of Vacuum Assisted Breast Biopsy System in Breast Disease. J Breast Cancer. 2011 March; 14(1):1-7. 4.ACR BI-RADS Atlas 5th Edition. 5. Skaane P, Bandos AI, Gullien R, et al. Comparison of Digital Mammography alone and Digital Mammography plus Tomosynthesis in a population-based screening program. 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A eficácia e segurança oncológica da cirurgia conservadora da mama com radioterapia adjuvante está claramente documentada na literatura com evidência de nível 1, através de metanálises de estudos prospetivos randomizados com resultados de sobrevida global (SG) e sobrevida livre de doença (SLP), estatisticamente sobreponíveis aos conseguidos com a mastectomia. A tendência atual da cirurgia do cancro da mama é conseguir o melhor controlo local com o mínimo de morbilidade. A maioria das doentes, atualmente, apresenta tumores pequenos ou lesões infra-clínicas diagnosticadas nos programas de rastreio, apresentando condições para cirurgia conservadora. A tumorectomia (a exérese do tumor com uma margem de tecido saudável) deve ser feita em bloco, desde a fáscia peitoral até ao tecido subdérmico, admitindo como margem lateral livre a ausência de tumor a contactar a margem, depois de pintada com tinta pelo patologista (no ink on tumor). A evidência científica revela ausência de benefício na obtenção de margens maiores1. A cirurgia conservadora está indicada sempre que a doente apresente condições para a realização de radioterapia adjuvante e quando a relação entre o volume de tumor/volume da mama permite a tumorectomia com margens livres e um resultado estético aceitável. O recurso a técnicas oncoplásticas, com procedimentos usados em cirurgia plástica que rearranjam a nova forma da mama após exérese, permite encontrar soluções para a realização de cirurgia conservadora em doentes com uma elevada razão volume tumor/mama e que, sem estas técnicas, teriam contraindicação relativa para esta cirurgia. Da mesma forma o tratamento sistémico neoadjuvante pode permitir, ao diminuir o volume do tumor primário, uma cirurgia conservadora, em situações em que primariamente esta seria impossível. A mastectomia deve ser realizada quando existe impedimento à realização de radioterapia adjuvante, por decisão da própria doente após esclarecimento adequado, nos carcinomas multicêntricos (situados em localizações distantes e que não permitem a retirada em bloco de todas as lesões), nos carcinomas inflamatórios, em microcalcificações malignas diagnosticadas por biópsia com distribuição extensa na mama e na existência persistente de margens com tumor após várias tentativas, em cirurgias consecutivas de conservação da mama. O QUE É A CIRURGIA ONCOPLÁSTICA? O sucesso da cirurgia conservadora no tratamento do cancro da mama implica a remoção do tumor com margens livres. Para obter margens livres, podem ser necessárias resseções mais extensas, o que poderá influenciar negativamente o resultado estético ou mesmo produzir deformidades na mama. A cirurgia oncoplástica da mama emergiu, por isso, como uma solução para alargar as indicações da cirurgia conservadora sem comprometer o resultado estético da mama, possibilitando, dessa forma, uma diminuição do número de mastectomias realizadas2. A cirurgia oncoplástica pode dividir-se em três níveis, tendo em consideração o volume a excisar e a complexidade da técnica de remodelação da mama restante. Para tumorectomias inferiores a 20% do volume da mama (nível I), o descolamento da pele da glândula permite uma fácil remodelação da mama – tumorectomia simples. Para resseções maiores, entre 20 a 50% do volume da mama (nível II), é necessário uma técnica de mamoplastia, adaptada ou não a cada quadrante. Pode ainda considerar-se um terceiro nível (nível III), sempre que se proceda a uma tumorectomia e seja necessário fazer uma reposição de volume com tecidos autólogos, através de retalhos miocutâneos pediculados ou livres. 100 perguntas chave no Cancro da Mama 15 D. Pinto, et al. Quadro 1. Opções de cirurgia conservadora de acordo com o volume mamário Tamanho da mama Volume de resseção Procedimento Pequena ou médio (copa A ou B) Resseção pequena Localização favorável (externa) ou tumor pequeno Cirurgia conservadora com reconstrução defeito com retalhos locais Localização desfavorável (central, inferior e superointerna) ou tumor grande Ptose evidente (grau III ou IV) Mamoplastia de redução terapêutica Sem ptose ou ligeira (grau I ou II) Reposição de volume com Miniflap (GD* ou TDAP†) Grande ou doente obesa (Copa C ou D) Resseção grande ou com pele associada Reposição de volume com Miniflap (GD* ou TDAP†) Resseção pequena (< 20%) Cirurgia conservadora com reconstrução defeito com retalhos locais Resseção média (20 a 30%) Cirurgia conservadora com reconstrução defeito com retalhos locais Resseção grande (> 30%) Mamoplastia de redução terapêutica Mamoplastia de redução terapêutica Reposição de volume com Miniflap (GD*ou TDAP†) – habitualmente com simetrização da mama contralateral *GD: Retalho de músculo grande dorsal chamado habitualmente de Miniflap, pois o músculo com ou sem pele associada, não é utilizado em toda a extensão pois apenas vai ocupar o espaço de uma resseção parcial. †TDAP: Retalho baseado em perfurantes cutâneas da artéria toracodorsal. Adaptado de Nahabedian3. Na avaliação pré-operatória, identificam-se quatro elementos que podem ser usados para a seleção de doentes e para a determinação do procedimento cirúrgico mais adequado: o volume a excisar e o volume da mama, a localização do tumor e a densidade glandular (Quadro 1). Após avaliados estes quatro itens, o cirurgião pode propor e discutir o procedimento cirúrgico mais adequado ao perfil da doente. A doente deve ser informada sobre o risco de eventuais margens positivas e da possibilidade de reintervenção. Este pressuposto é válido para qualquer tipo de cirurgia conservadora, ainda que menos frequente em cirurgias oncoplásticas onde as margens obtidas, habitualmente são maiores. COMO PROCEDER SE AS MARGENS FOREM POSITIVAS APÓS CIRURGIA CONSERVADORA DA MAMA? As margens positivas na peça cirúrgica (células malignas nas margens pintadas com tinta) após cirurgia conservadora da mama, aumentam a taxa de recidiva local. Quando o resultado da cirurgia conservadora é 16 uma resseção incompleta com margens positivas, pode ser proposta nova intervenção cirúrgica, que pode ser uma nova tentativa de cirurgia conservadora ou, no caso da doente não aceitar ou não haver condições locais, uma mastectomia. Uma nova tentativa de cirurgia conservadora pode ser proposta com alargamento da margem ou das margens envolvidas, associado ou não a cirurgia oncoplástica, e desde que o volume mamário remanescente o permita. Nestes casos, a doente deverá estar informada sobre a possibilidade de uma terceira cirurgia, caso não se obtenha uma resseção completa. Se a opção for a mastectomia, a possibilidade de reconstrução mamária imediata deve ser sempre considerada. COMO RECONSTRUIR A MAMA APÓS MASTECTOMIA? Após a realização de uma mastectomia, e sempre que possível, deverá ser considerada a possibilidade de reconstrução mamária. O objetivo da reconstrução mamária é 100 perguntas chave no Cancro da Mama Tratamento cirúrgico do cancro da mama o de atingir simetria relativamente à mama contralateral. A reconstrução pode ser imediata ou diferida. As vantagens da reconstrução mamária imediata incluem melhores resultados estéticos, com a preservação máxima do envelope cutâneo e do sulco infra-mamário, numa única intervenção cirúrgica e num só período de hospitalização. A reconstrução mamária implica a substituição do volume mamário e eventualmente do envelope cutâneo. As opções cirúrgicas para a reconstrução mamária, imediata ou diferida, incluem o uso de próteses mamárias (incluem-se aqui os expansores e as próteses mamárias definitivas), a utilização de tecidos autólogos (retalhos miocutâneos pediculados e a utilização de retalhos livres com tecidos abdominais inferiores ou outros) e a utilização de técnicas mistas, contemplando tecidos autólogos com próteses mamárias4. Deve-se ter especial atenção às indicações para radioterapia após cirurgia ablativa seguida de cirurgia reconstrutiva. Nestes casos, a reconstrução com próteses mamárias não deverá ser a preferida, devido ao risco elevado de contratura capsular precoce e consequentemente um pior resultado estético a médio-longo prazo. Os antecedentes da doente tais como os hábitos tabágicos, diabetes, obesidade ou outra doença crónica deverão ser considerados na avaliação do risco de eventuais complicações cirúrgicas. A opção por cada um dos procedimentos cirúrgicos descritos deverá procurar incluir a própria no processo de decisão, com o objetivo de reconstruir os atributos físicos da doente de acordo com as suas expectativas. QUANDO FAZER BIÓPSIA DE GÂNGLIO SENTINELA? A presença de doença nos gânglios axilares continua a ser um fator de prognóstico importante nas doentes com cancro da mama, com uma relação direta entre o número de gânglios metastáticos e mau prognóstico. A biópsia de gânglio sentinela (GS) é o procedimento standard nas doentes com axila negativa no diagnóstico após realização de ecografia axilar. A axila é considerada positiva apenas após biópsia de gânglio axilar suspeito e confirmação histológica de malignidade. O objetivo deste procedimento é obter informação acerca do envolvimento patológico axilar, com elevada sensibilidade e uma baixa taxa de falsos negativos, permitindo evitar a elevada morbilidade associada ao esvaziamento axilar, com a mesma acuidade diagnóstica e prognóstica5. Como contraindicações para a realização de biópsia de GS mantém-se o cancro da mama localmente avançado não operável na altura do diagnóstico, dada a elevada carga tumoral presente nestas situações com o consequente decréscimo na sensibilidade técnica do procedimento. Nos casos de tumores T3, multifocais/ multicêntricos, após cirurgia conservadora ou biópsia prévia de GS, e após terapêutica sistémica neoadjuvante, é ainda possível a realização de biópsia de GS com boa sensibilidade. Nos casos de axila positiva ao diagnóstico, confirmada por biópsia, está contraindicada a biópsia do GS como procedimento de estadiamento axilar, mesmo nos casos de resposta imagiológica completa após quimioterapia neoadjuvante, devendo realizar-se nestas situações o esvaziamento axilar. PODE EVITAR-SE O ESVAZIAMENTO AXILAR NO CASO DE GLÂNGLIO SENTINELA POSITIVO? O ensaio clínico Z0011 do American College of Surgeons Oncology Group veio demonstrar que as doentes tratadas com cirurgia conservadora e biópsia de GS, mesmo que apresentassem até dois gânglios positivos, não teriam benefício na realização de esvaziamento axilar, desde que realizassem radioterapia adjuvante da mama, pois essa radioterapia iria sempre englobar o nível inferior da axila. Desta forma, as guidelines publicadas pela American Society of Clinical Oncology (ASCO)6 em 2014 recomendam a não realização de esvaziamento axilar nas doentes com micro ou macrometástases em um ou dois gânglios axilares (na maioria dos casos), desde que esteja planeada radioterapia adjuvante. A aplicação desta orientação deve ter em conta o perfil das doentes mais representadas neste estudo, que foram doentes em idade pós-menopáusica, com tumores inferiores a 5 cm, pelo menos um GS negativo, apesar dos um ou dois com macrometástases, sem invasão linfovascular ou ausência de grau III no exame histológico da biópsia e com radioterapia e hormonoterapia adjuvante planeada. Outro estudo relevante com resultados publicados em 2014, o ensaio AMAROS, demonstrou que nas doentes com tumores inferiores a 5 cm e com GS positivo, a radioterapia da axila permite um controlo local com resultados semelhantes ao esvaziamento axilar mas com morbilidade inferior. QUANDO COMEÇAR O TRATAMENTO POR TERAPÊUTICA NEOADJUVANTE? A indicação para tratamento neoadjuvante deve ser tomada na presença de doença localmente avançada, para tornar operável um tumor inoperável ao diagnóstico, e para reduzir o tamanho de um tumor operável ao diagnóstico mas que, após redução de 100 perguntas chave no Cancro da Mama 17 D. Pinto, et al. volume, poderá ser feita a resseção com um melhor resultado estético7. Recentemente, na presença de tumores com uma biologia agressiva, como tumores triplos negativos, HER2 positivos e tumores com elevado índice proliferativo mesmo que hormonossensíveis, o tratamento sistémico neoadjuvante é cada vez mais indicado de modo a permitir a monitorização in vivo da resposta à terapêutica e melhor informação prognóstica, no caso de resposta patológica completa. Nas mulheres pós-menopáusicas com tumores hormonossensíveis sem evidente benefício com quimioterapia, a hormonoterapia neoadjuvante pode ser também uma opção permitindo também aqui obter posteriormente melhores resultados com a realização de uma cirurgia com uma resseção mais limitada. O QUE MUDA NA ABORDAGEM CIRÚRGICA APÓS TERAPÊUTICA NEOADJUVANTE? A terapêutica neoadjuvante permite, em muitos casos a redução de volume da doença e consequentemente um menor volume de tecido excisado para controlo local, permitindo a realização de cirurgia conservadora em muitas doentes primariamente propostas para mastectomia, com taxas de recorrência locorregional sobreponíveis quando se compara a cirurgia conservadora antes ou depois da quimioterapia8. Antes da realização de quimioterapia neoadjuvante deve ser feita a avaliação imagiológica da lesão por ressonância magnética e a marcação do tumor, de modo a poder identificar o leito tumoral no caso de resposta patológica completa à terapêutica. Após quimioterapia, e antes da cirurgia deve repetir-se a ressonância magnética e avaliar a resposta tumoral. No caso da resposta ser completa e não se identificar captação anómala de contraste, deve ser feita a excisão do leito tumoral tendo como objetivo a excisão do esqueleto tumoral e confirmar a resposta patológica completa, sem evidência da necessidade de retirar o volume inicialmente identificado. Quando a resposta à terapêutica é parcial, a excisão é dirigida à área com captação anómala de contraste identificada na ressonância mamária, com a intenção de excisar com margens livres de tumor a doença residual. Relativamente ao estadiamento axilar, este deve ser feito após o tratamento sistémico primário no caso de uma axila clinicamente negativa ao diagnóstico, com recurso à biópsia de GS. Perante uma axila positiva ao diagnóstico, deve ser sempre feito o esvaziamento axilar após o tratamento neoadjuvante, mesmo quando perante uma resposta clínica completa, dado que a biópsia de GS apresenta, nesta situação, uma taxa de falsos negativos muito elevada. 18 QUAL O PAPEL DA CIRURGIA NO TRATAMENTO DO CANCRO DA MAMA LOCALMENTE AVANÇADO OU METASTÁTICO? No cancro da mama localmente avançado a cirurgia está sempre indicada após a terapêutica sistémica primária ou neoadjuvante9. Após tratamento sistémico neoadjuvante, com ou sem radioterapia, a maioria das doentes serão propostas para cirurgia, se esta for exequível. Nestes casos, a mastectomia com esvaziamento axilar será a proposta mais frequente, embora em alguns casos seja possível propor cirurgia conservadora. Se o diagnóstico inicial for o de carcinoma inflamatório, as recomendações de tratamento sistémico mantêm-se, embora a proposta cirúrgica contemple apenas a mastectomia com esvaziamento axilar, ainda que tenha ocorrido boa resposta clínica ao tratamento neoadjuvante Nestes casos, a reconstrução mamária imediata é desaconselhada devido ao risco de recidiva local na pele na zona da mastectomia devido à infiltração da derme por células malignas. Quando o diagnóstico inicial tem a classificação de estádio IV, ou seja cancro da mama com metástases à distância na altura do diagnóstico, a evidência científica é insuficiente para recomendar, de rotina, a abordagem cirúrgica do tumor primário. Contudo, a cirurgia poderá ser considerada em alguns casos, sobretudo se daí advier uma melhoria da qualidade de vida para a doente, ou ainda no caso de doença metastática sem progressão (habitualmente doença óssea controlada com tratamento hormonal e terapia moduladora do osso). Outro aspeto que poderá ser tido em conta quando a cirurgia é discutida, será a probabilidade de evitar complicações futuras da parede torácica decorrentes do desenvolvimento e crescimento do tumor. De acrescentar que a cirurgia deverá ter como objetivo a obtenção de margens livres com abordagem axilar ipsilateral adequada, de acordo com o estadiamento axilar. Todas as decisões envolvendo tratamento de cancro da mama só devem ser tomadas em sede de grupo multidisciplinar. A GENÉTICA DO CANCRO DA MAMA E A CIRURGIA DE REDUÇÃO DO RISCO. O QUE CONSIDERAR? O aconselhamento e as opções a considerar em indivíduos considerados de alto risco para o cancro da mama, pela história familiar ou com mutação genética conhecida, devem ser consideradas no âmbito de uma equipa multidisciplinar e em centros especializados10. A mastectomia profilática é a principal opção 100 perguntas chave no Cancro da Mama Tratamento cirúrgico do cancro da mama de redução de risco para estas doentes. Existem outras opções a considerar, mas apenas a cirurgia da mama será aqui abordada. Quando uma mulher pretende discutir uma eventual proposta cirúrgica de redução de risco, esta deve carecer de um intervalo de tempo entre a consulta inicial e a segunda consulta. Este período é importante para que a mulher possa refletir e discutir a opção cirúrgica com os seus familiares e amigos. Na consulta de cirurgia, devem ser descritas de forma sumária as opções cirúrgicas, incluindo uma descrição das eventuais complicações de cada uma das propostas e resultados estéticos. A mulher deve ser informada que a opção de preservar ou não o complexo areolo-mamilar pode aumentar o risco de complicações. Deverá também ser esclarecida que, independentemente da opção cirúrgica, o risco de desenvolver cancro da mama fica muitíssimo diminuído mas não se reduz a zero. As mulheres portadoras de mutação, deverão ainda ser esclarecidas que o risco de desenvolver cancro da mama diminui com a idade. Às mulheres que optem pela cirurgia de redução de risco para o cancro da mama deverá ser proposta consulta de avaliação psicológica. As opções de reconstrução mamária são as mesmas já descritas anteriormente. BIBLIOGRAFIA 1. Houssami N, Morrow M. Margins in breast conservation: a clinician’s perspective and what the literature tells us. J Surg Oncol. 2014;110(1):2-7. 2. Clough KB, Kaufman GJ, Nos C, Buccimazza I, Sarfati IM. Improving breast cancer surgery: a classification and quadrant per quadrant atlas for oncoplastic surgery. Ann Surg Oncol. 2010;17(5):1375-91. 3.Nahabedian MY. Oncoplastic Surgery of the Breast. First ed. Washington DC. Elsevier. 2009. 4. Baildam A, Bishop H, Boland G, , et al. Oncoplastic breast surgery - a guide to good practice. Eur J Surg Oncol. 2007;33:1:1-23. 5.Krag DN, Anderson SJ, Julian TB, et al. Technical outcomes of sentinel-lymph-node resection and conventional axillary-lymphnode dissection in patients with clinically node-negative breast cancer: results from the NSABP B-32 randomised phase III trial. Lancet Oncol. 2007;8(10):881-8. 6. Lyman GH, Temin S, Edge SB, et al. Sentinel lymph node biopsy for patients with early-stage breast cancer: American Society of Clinical Oncology clinical practice guideline update. J Clin Oncol. 2014;32(13):1365-83. 7. Deo SV, Bhutani M, Shukla NK, Raina V, Rath GK, Purkayasth J. Randomized trial comparing neo-adjuvant versus adjuvant chemotherapy in operable locally advanced breast cancer (T4b N0-2 M0). J Surg Oncol. 2003;84(4): 192-7. 8. Mittendorf EA, Buchholz TA, Tucker SL,et al. Impact of chemotherapy sequencing on local-regional failure risk in breast cancer patients undergoing breast-conserving therapy. Ann Surg. 2013;257(2):173-9. 9.Cardoso F, Costa A, Norton L, et al. ESO-ESMO 2nd international consensus guidelines for advanced breast cancer (ABC2). Breast. 2014;23(5):489-502. 10.Pruthi S, Heisey R, Bevers T. Personalized assessment and management of women at risk for breast cancer in North America. Women’s health. 2015;11(2):213-24. 100 perguntas chave no Cancro da Mama 19 Capítulo 4 Impacto da radioterapia no tratamento do cancro da mama precoce e metastático E.C. Moser e H. Pereira RADIOTERAPIA NO CANCRO DA MAMA PRECOCE A radioterapia (RT) foi considerada até 1997, data de publicação dos resultados dos protocolos randomizados British Columbia e Danish Group, nada mais do que uma terapêutica locorregional no tratamento do cancro da mama, associada a elevadas taxas de toxicidade cardiovascular1, diluindo-se o ganho terapêutico antineoplásico num significativo aumento das taxas de mortalidade iatrogénica [19-21% nos doentes tratados antes de 1993 com um hazard ratio (HR): 1,19 a 1,21]. A modernização dos equipamentos de tratamento médico (aceleradores lineares) e das técnicas de obtenção de imagem [tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM), tomografia por emissão de positrões (PET)] vieram permitir uma definição mais precisa dos alvos a tratar e dos órgãos de risco (OAR) limitantes de dose . Planeamentos e dosimetrias tridimensionais progressivamente mais sofisticadas [radioterapia de intensidade modulada (IMRT), radioterapia de imagem guiada (IGRT), radioterapia 4D (4DRT), volumetric modulated arc therapy (V-MAT), etc.] associadas a um apertado controlo de qualidade, aumentaram de forma significativa o ratio tóxico/terapêutico da RT, transformando-a numa importante arma no controlo locorregional da doença, com tradução num aumento significativo quer da sobrevida livre de doença, quer da sobrevida global (SG), permitindo para além disso, obter excelentes resultados cosméticos. Quais as indicações para radioterapia adjuvante nos estádios iniciais póscirurgia conservadora no carcinoma ductal in situ/cancro invasor? Todas as doentes portadoras de cancro in situ da mama [exceto lesões puras de carcinoma lobular in situ (LCIS), padrão clássico] ou cancro invasor da mama submetidas a cirurgia conservadora, devem realizar RT pós-operatória [1A level of evidence (LOE)]. A RT após cirurgia conservadora para o DCIS reduz o risco de recorrência local em cerca de 50%. Esta recidiva local (RL) pode ocorrer em cerca de 50% dos casos sob a forma de DCIS e nos restantes 50%, sob a forma de doença invasora, com consequente aumento da taxa de mortalidade7,24. Vários índices de prognóstico (por ex.: Van Nuys Prognostic Índex) e nomogramas de decisão (por ex.: Memorial Sloan-Kettering e «DCIS Score»–21Gene Oncotype DX Recurrence Score subset) tentaram definir subgrupos de doentes onde a omissão da RT apresentasse um risco aceitável de recorrência local, sugerindo que lesões de DCIS com < 1 cm, grau baixo ou intermédio, recetores hormonais (RH) positivo e margens cirúrgicas adequadas, poderiam ser submetidas apenas a cirurgia, desde que esclarecidas dos riscos/benefícios das diferentes opções terapêuticas7. No cancro invasor da mama, estádios iniciais, o benefício da RT pós-cirurgia conservadora foi estudado em numerosos protocolos clínicos, comparando vigilância com RT adjuvante2-16. Em todos foi patente uma redução significativa da taxa de recorrência local (cerca de 7075%) nos doentes submetidas a RT adjuvante, com consequente redução da taxa de mortalidade [por ex.: redução da taxa de mortalidade de 5,4% na metanálise do Early Breast Câncer Trialists Collaborative Group – (EBCTCB)]1,19. Não foi até à data possível, definir com segurança, subgrupos de doentes de baixo risco de RL, nos quais seja possível omitir a realização de RT pós-cirurgia conservadora. No BASO II Trial, em doentes altamente selecionadas (idade > 70 anos, T < 2 cm, N0, grau I, RH positivo e margens livres) com tumores de subtipos histológicos favoráveis, tratadas com cirurgia conservadora e não submetidas a terapêutica adjuvante, a RL foi ainda assim significativa, apresentando valores de RL mais baixos nos grupos de doentes submetidas a RT (0,7% per annum) ou Tamoxifeno (0,8% per annum), quando comparadas com as submetidas unicamente a 100 perguntas chave no Cancro da Mama 21 E.C. Moser, H. Pereira cirurgia (1,9% per annum). Os resultados mais favoráveis foram obtidos com a associação das duas terapêuticas adjuvantes (0% per annum)9. O protocolo PRIME II tentou identificar subgrupos de doentes onde a omissão de RT fosse possível (idade > 65 anos, N0, RH positivo, T < 3 cm, margens livres > 1 mm e terapêutica hormonal). No entanto, verificou que baixos níveis de estrogénios, invasão linfovascular e grau III estavam associados a maior risco de RL. Será necessário irradiar toda a mama? Com a introdução dos programas de rastreio de base populacional, implementados na maioria dos países ocidentais, a incidência do cancro da mama sofreu um aumento significativo. O aumento do diagnóstico de cancro da mama em estádios iniciais, permitiu disponibilizar a um número crescente de doentes, cirurgia oncoplástica de preservação da mama, com resultados cosméticos excelentes, obrigando a disponibilizar tratamentos de RT a um universo crescente de mulheres. No entanto, pelo custo e complexidade da instalação de modernos centros de RT, capazes de realizar tratamentos de qualidade e em tempo útil, associados a custos sociais elevados (tempos de tratamento longos associados a deslocações das doentes e cuidadores para centros longe dos locais de residência) começaram a emergir esquemas de hipofracionamento e irradiação parcial da mama (APBI). De acordo com estudos realizados por Holland, o maior risco de recorrência local ocorre próximo do leito tumoral. Em grupos de doentes bem selecionadas, a realização de APBI mostrou taxas de RL próximas dos resultados apresentados pelos tratamentos convencionais. Baseado neste princípio, diversas técnicas de APBI são utilizadas tais como RT intersticial-braquiterapia, aplicação intraoperatória de fotões ou eletrões ao leito tumoral, bem como RT externa parcial. Será assim importante definir fatores de prognóstico relacionados com as características do tumor (imunohistoquímicos, histológicos) e do indivíduo (genéticos e constitucionais) que permitam estratificar as doentes em grupos de risco de recidiva locorregional, e definir para quais é seguro omitir tratamento pós-operatório sistémico e/ou RT. A administração de dose adicional ao leito tumoral (boost), após irradiação de toda a mama, melhora o controlo local em todas as faixas etárias, mas de forma mais significativa nas idades mais jovens (17-18), não demonstrando no entanto qualquer benefício em termos de sobrevivência (1A LOE). Em mulheres idosas com tumores pequenos e fatores de bom prognóstico (histológicos e imunohistoquímicos), o benefício absoluto do boost é menor, podendo ser ponderada a sua omissão. 22 Quais as indicações da radioterapia adjuvante pós-cirurgia radical, nos estádios iniciais do cancro invasor da mama? Nas doentes submetidas a mastectomia total a RT adjuvante reduz a taxa de RL nas seguintes situações: tumores grandes (T3 ≥ 5 cm), invasão da pele ou músculo, margens cirúrgicas escassas (< 1 mm) ou positivas, envolvimento ganglionar (indicação formal: sempre que quatro ou mais gânglios envolvidos, conglomerados ganglionares ou invasão extracapsular) bem como outros fatores de prognóstico desfavoráveis. Deve ser considerada a realização de RT sempre que existam um a três gânglios metastizados (IA LOE) (20 e DEGRO practical guidelines: Radiotherapy of breast cancer III-radiotherapy of the lymphatic pathways. Primary breast cancer: 2015 ESMO Clinical Practice Guidelines for diagnosis, treatment and follow-up). Contudo, quando não se observe metastização ganglionar, a realização de RT adjuvante deve ser avaliada individualmente, em função de outros fatores de prognóstico presentes (perfil imunohistoquímico desfavorável – RH negativos, HER2 positivo, índice proliferativo elevado, idade jovem, subgrupos histológicos desfavoráveis, multifocalidade, permeação linfovascular), ponderando sempre o beneficio do tratamento versus o risco de recorrência locorregional e toxicidade (2B LOE)8,19,21,22. Em doentes submetidas a terapêutica neoadjuvante portadoras de cancro localmente avançado da mama (LABC) ou cancro inflamatório da mama (IBC), com resposta significativa ou completa, a decisão de RT adjuvante deverá ser sempre em função do estadiamento clínico inicial23. Quando irradiar áreas de drenagem ganglionar? Sempre que esvaziamento axilar insuficiente (< 8 ou 10 gânglios isolados), ou uma relação desfavorável entre número de gânglios isolados/número de gânglios metastizados, a irradiação das áreas de drenagem ganglionar deve ser considerada. A irradiação das áreas de drenagem ganglionar está indicada sempre que presentes 3 ou mais gânglios axilares metastizados, ou na presença de conglomerados ganglionares, gânglios > 2,5 cm ou ECE (extensão extracapsular) (1A LOE). Em doentes submetidas a esvaziamento axilar suficiente, com 1 a 3 gânglios metastizados, sem rotura de cápsula e sem presença de conglomerados ganglionares, ponderar irradiação axilar do nível III e região supraclavicular. Considerar a irradiação da cadeia mamária interna em tumores localizados aos quadrantes internos ou centrais e axila positiva. 100 perguntas chave no Cancro da Mama Impacto da radioterapia no tratamento do cancro da mama precoce e metastático Figura 1. Omissão de dose à axila, em planos: VMAT, IMRT e decúbito ventral. Após biópsia de gânglio sentinela (GS), na qual foram diagnosticadas micrometástases, a decisão de irradiação nodal deverá ser tomada em função de outros fatores de risco de recidiva locorregional (idade, perfil imunohistoquímico, características histológicas do tumor como por ex.: grau de diferenciação, subtipos histológicos e tamanho). É possível reduzir o número de frações? Em modelos radiobiólogicos, o cancro da mama apresenta grande sensibilidade para fracionamentos superiores a 2 Gy, com um ratio alfa/beta (a/b) de cerca de 4 Gy, em contraste com o ratio muito mais elevado presente noutros tipos de tumor (por ex.: carcinomas espinocelulares ginecológicos ou da cabeça e pescoço com um ratio alfa/beta (a/b) de cerca de 10 Gy). Este princípio tem vindo a ser explorado na irradiação total da mama (WBI), APBI e radioterapia intraoperatória (IORT), bem como, em técnicas de boost integrado (SIB)25. Quatro estudos randomizados (Start A, Start B, Owen, Whelan) compararam esquemas de fracionamento convencional com esquemas de hiprofracionamento de WBI em termos de iso-efetividade. Alguns doentes foram tratadas com quimioterapia (QT) (pequena amostra com uso de taxanos) e hipofracionamento. Os estudos não revelaram aumento estatisticamente significativo da RL e os resultados cosméticos foram sobreponíveis, a longo prazo, em mulheres elegíveis, com mamas de tamanho pequeno ou médio, idades superiores a 50 anos e gânglios negativos26-28. O impacto dos esquemas de hipofracionamento na cardiotoxicidade não estão ainda totalmente avaliados, especialmente em doentes com longa esperança média de vida, e submetidas a terapêuticas sistémicas cardiotóxicas, já que o período de latência necessário para o seu aparecimento ronda os 15 anos (a maioria dos resultados tem um seguimento de 10 anos)29-31. Nos estudos AMAROS e ACOSOG Z-11, doentes submetidas a cirurgia conservadora e biópsia de GS com axila positiva com ou sem esvaziamento axilar e RT adjuvante, apresentam taxas de RL semelhantes e aceitáveis5,9. Não podemos esquecer que estes doentes foram tratadas antes de 2004, com técnicas de RT (tangenciais) atualmente em desuso, as quais, por defeito, irradiavam a axila com doses consideráveis. Desde 2004 que os planeamentos de RT, baseados em técnicas sofisticadas de 3DRT, 4DRT, V-MAT e IMRT, são altamente conformacionados, irradiando apenas a glândula mamária, administrando doses subterapêuticas à axila32, devendo por isso ser planeada irradiação das áreas de drenagem ganglionar através de campos bem definidos de tratamento, nos casos de axila positiva – irradiação nodal (2B LOE)18-21 (Fig. 1). RADIOTERAPIA E CANCRO METASTÁTICO DA MAMA Papel da radioterapia no cancro metastático da mama? O cancro metastático da mama (MBC) é uma doença heterogénea com uma variabilidade de apresentações, desde a metástase solitária (oligo-metástase), à metastização difusa com envolvimento multi-órgão. Embora a disseminação metastática seja a principal causa de morte em doentes portadoras de neoplasias malignas33,34, a mortalidade por MBC tem diminuído cerca de 1-2% ao ano35,36, com melhoria sustentada da SG33-38,42. Esta melhoria de prognóstico, deve-se não só, à emergência de novos e mais eficazes fármacos e esquemas de terapêutica sistémica39, bem como a um diagnóstico mais precoce da doença metastática40,41. Cerca de 50-60% dos doentes portadoras de MBC irão necessitar, ao longo da sua vida, de RT com intuito paliativo, para alívio efetivo de sintomas, contribuindo de forma significativa para uma melhoria de qualidade de vida42. A abordagem multidisciplinar dos doentes portadoras de MBC é obrigatória, especialmente nos doentes «oligo-metastizadas», já que podem beneficiar de uma maior agressividade terapêutica, não apenas 100 perguntas chave no Cancro da Mama 23 E.C. Moser, H. Pereira Figura 2. Rádio-quimioterapia de sensibilização, pré e pós-tratamento. sistémica, mas também local, com intervenções cirúrgicas e/ou de RT «curativas», podendo atingir remissões completas e sobrevidas aumentadas. Esta população em estádio IV «potencialmente curável», representa cerca de 1-10% dos doentes com diagnóstico «de novo» de MBC43-48. Em caso de doença locorregional resistente, a RT associada à QT de radiossensibilização pode apresentar taxas de controlo local significativas49,50 (Fig. 2). Quais as indicações para radioterapia no tratamento das metástases? A metastização óssea é um evento comum, ocorre em cerca de 80% dos casos, manifestando-se sobre a forma de dor de intensidade variável, hipercalcemia ou fratura patológica. O tratamento multidisciplinar com terapêutica sistémica (HT/QT/…), agentes moduladores do osso (bifosfonatos, denosumab), radiofármacos (Strontium89, Samarium153), cirurgia ou RT, pode representar uma importante abordagem terapêutica no controlo da dor, fratura e sintomas neurológicos51. A compressão medular representa uma emergência em oncologia que pode condicionar danos neurológicos importantes, sensitivos e/ou motores, incontinência de esfíncteres ou morte. A cirurgia descompressiva (laminectomia, vertebroplastia,…) está indicada em doentes com carga tumoral limitada, bom performance status (PS) e esperança de vida alargada, não eliminando no entanto, a necessidade de RT pós operatória. Em doentes com défices neurológicos (paresias/plégias) instalados e mais de 48 horas de evolução, sem resposta à corticoterapia, não é previsível benefício terapêutico com a realização de RT52. Cerca de 2-12% das doentes com cancro da mama são portadores de metástases hepáticas e em 20-50% metástases pulmonares53,54. A terapêutica sistémica representa o tratamento primário de eleição, com 24 obtenção de respostas parciais ou completas, mais ou menos sustentadas e consequente aumento da sobrevida média55. Em doentes bem selecionadas, oligo-metastizadas, o tratamento local agressivo das metástases pulmonares ou hepáticas pode induzir respostas completas e sobrevidas prolongadas, com impacto na SG56. A ablação da doença metastática pós terapêutica sistémica pode ser obtida com exérese cirúrgica ou radiocirurgia. Quais as indicações para radioterapia no tratamento recidiva cutânea locorregional? O local de falência locorregional mais frequente ocorre ao nível da parede torácica e região supraclavicular57. Sempre que possível, a excisão completa da recidiva cutânea deve ser tentada, seguida de RT pós-exérese, independentemente da abordagem terapêutica sistémica. Em doentes previamente submetidas a RT local, a re-irradiação deve ser ponderada após avaliação individualizada, em função da análise radiobiológica, presença de toxicidade prévia e intervalo intertratamentos. A sobrevida aos 10 anos pode atingir 50%58. Que protocolos e doses utilizar? Mais de 100 esquemas de fracionamento de RT diferentes são usados a nível mundial59. Cerca de 30 protocolos prospetivos randomizados foram realizados e completados nas últimas três décadas. Poucas áreas estão tão bem estudadas, comparando regimes de fração única com regimes multifrações. Quatro regimes de fracionamento são equivalentes no tratamento das metástases ósseas sintomáticas: 30 Gy em 10 frações, 24 Gy em 6 frações, 20 Gy em 5 frações, 8 Gy em fração única. Estes esquemas são equivalentes em termos de alívio sintomático, precocidade e tempo médio 100 perguntas chave no Cancro da Mama Impacto da radioterapia no tratamento do cancro da mama precoce e metastático Quadro 1. Nomograma de decisão Memorial Sloan-Kattering Ensaio, ano Dose de randomização/número de frações Taxa de resposta SF (%) Taxa de resposta MF (%) Taxa de Resposta re-tratamento completa SF/MF (%) SF (%) Resposta completa MF (%) Bone pain trial working party, 1999 8 Gy/1 vs. 20 Gy/5 274/351 (78) 257/330 (78) 23/10 57 58 Dutch bone metastasis study 1999 & 2004 8 Gy/1 vs. 24 Gy/6 395/556 (71) 396/543 (73) 24/6 37 33 Hartsell, et al., 2005 8 Gy/1 vs. 30 Gy/10 187/455 (41) 188/433 (42) 18/9 15 18 SF: single fraction; MF: multi-fraction. de duração de resposta (Quadro 1). O uso de qualquer um destes quatro esquemas de fracionamento é considerado pelo National Quality Forum (NQF), como medida de qualidade60. Esquemas de fração única apresentam várias vantagens, não só em termos de comodidade e conveniência para doentes e cuidadores, como também menor toxicidade induzida pela RT61. Regimes multifração com doses totais mais elevadas, da ordem de 20-30 Gy, devem ser consideradas sempre que exista componente extraósseo de tecidos moles, lesões osteolíticas com risco ou presença de fratura62. De forma consistente, quase todas as séries demonstram que regimes de fração única estão associados a maior necessidade de retratamento da mesma área, quando comparadas com esquemas multifração, respetivamente 20% vs. 8%, em especial nas doentes com esperança média de vida alargada52,62. Qual o papel da radioterapia no contexto oligo-metastático? O conceito de doença oligo-metastática foi pela primeira vez definido em 1995, referindo-se a um estádio em que a doença se disseminou para outros órgãos que não o seu local de origem (por ex.: fígado, pulmão, cérebro, ossos ou glândula adrenal, etc.), mas ainda não se encontra extensamente disseminada63. Neste grupo de doentes, em estádio IV «potencialmente curáveis», equacionou-se a hipótese de que a erradicação de toda a doença conhecida poderia resultar em sobrevidas alargadas ou mesmo cura, em subgrupos bem selecionados de doentes64. É no entanto controverso, com baixos níveis de evidência, se este benefício de sobrevida alargada, se deve unicamente a tratamentos mais agressivos e radicais, ou se pelo contrário, se deve a uma escolha mais seletiva de doentes com melhor PS e/ou tumores de menor perfil de agressividade65. São necessários protocolos randomizados de investigação. A ablação da doença metastática pode ser obtida com exérese cirúrgica ou radiocirurgia, uma técnica de RT emergente, que utiliza esquemas de hipofracionamento extremo, administrando com grande precisão elevadas doses por fração altamente conformacionadas a pequenos volumes tumorais, com taxas de controlo local elevadas. Embora seja uma técnica segura, existem riscos assumidos de toxicidade e mortalidade, embora com baixa incidência66,67 (Fig. 3). A metastização cerebral, meníngea e medular são uma importante causa de morbilidade e mortalidade, ocorrendo em cerca de 15-25% das doentes com cancro de mama (podendo atingir mais de 50% nos tumores triplo negativos ou HER2 positivo)68. A incidência destes eventos tem aumentado, devido não só a SG mais alargadas das doentes portadoras de cancro da mama, como também em consequência de métodos de deteção diagnóstica mais sofisticados e sensíveis (por ex.: RM). Quando não tratada, a doença metastática do sistema nervoso central (SNC) origina dor intensa e défices neurológicos significativos69. Deve ser iniciado tratamento tão urgente quanto possível, já que este quadro clínico pode causar convulsões e/ou evoluir para a morte por hipertensão intracraniana (HIC) e herniação das amígdalas cerebelosas. Elevadas taxas de mortalidade e morbilidade são expectáveis. A finalidade do tratamento é o alívio da dor, a recuperação dos défices neurológicos bem como a melhoria da qualidade de vida. Em função das características do doente e do tumor [idade, PS, sobrevida livre de doença (SLD), extensão da doença metastática extra-craniana, controlo do tumor primário, localização, número e tamanho das lesões metastáticas do SNC] as 100 perguntas chave no Cancro da Mama 25 E.C. Moser, H. Pereira Figura 3. Exemplo de tratamentos radiocirúrgicos, em contexto paliativo. Quadro 2. GPA específico de diagnóstico41-43 Factores de prognóstico significativos Cancro da Mama KPS RE/RP/HER2 Idade Critérios de score GPA 0 0.5 1.0 1.5 < 60 60 70-80 90-100 RE/RP + HER2– RE/RP – HER2+ Triplo negativo ≥ 70 2.0 Triplo positivo < 70 ECM: metástases extra-cerebrais; RE: receptor de estrogénios; GPA: graded prognostic assessment; HER2: human epidermal growth factor receptor 2; KPS: Performance Status segundo Karnofsky; RP: receptor de progesterona. opções de tratamento podem ir desde medidas de conforto (por ex.: corticoterapia), irradiação cerebral total (WBRT) ou, em doentes bem selecionadas, neurocirurgia ou radiocirurgia70,72. Isolada, ou em associação com cirurgia, a RT é altamente eficaz, inibindo a progressão tumoral e induzindo resposta sintomática precoce52. Em doentes com Índice de Karnowsky (IK) inferior a 70%, ou cortico-resistentes, a realização de RT não apresenta ganho terapêutico no controlo de sinais ou sintomas, ou na mortalidade. Crucial é adaptar o tratamento, com um balanço custo/benefício equilibrado, de forma multidisciplinar e individualizada, tendo sempre em conta as necessidades do doente, sem obstinação terapêutica. Vários índices prognósticos tem sido utilizados para estratificar estas doentes e tentar facilitar decisões 26 terapêuticas, em função de alguns fatores de prognóstico que permitam prever respostas e comparar resultados (Quadro 2). Graded Prognostic Assessment (GPA)71-73 é um novo índice de prognóstico específico, baseado em fatores de prognóstico apenas aplicáveis a doentes portadoras de cancro da mama. Doentes oligo-metastizadas (menos de 5 metástases cerebrais), com bons índices de prognóstico, ou seja, um GPA score de 4.0, beneficiam de uma abordagem terapêutica mais agressiva, com debulking cirúrgico complementado com RT, permitindo assim obter melhores resultados do que com terapêuticas isoladas (cirurgia ou RT). Em doentes com metastização cerebral múltipla, irressecável, a WBRT aumenta a sobrevida média de um mês (só com corticoterapia) para 3-6 meses68-75. 100 perguntas chave no Cancro da Mama Impacto da radioterapia no tratamento do cancro da mama precoce e metastático BIBLIOGRAFIA 1.Early Breast Cancer Trialists Collaborative Group (EBCTCG): Effects of radiotherapy and of differences in the extent of surgery for early breast cancer on local recurrence and 15-year survival: an overview of the randomised trials. Lancet. 2005; 366:2087-106. 2.Fisher B, Bryant J, Dignam JJ, et al. Tamoxifeno, radiation therapy or both for prevention of ipsilateral breast tumor recurrence after lumpectomy in women with invasive breast cancer of one centimetre or less. J Clin Oncol. 2002;20:41-4149. 3. Liljegren G, Holmberg I, Bergh J, et al. 10-year results after sector ressection with or without postoperative radiotherapy for stage I breast cancer: A randomised trial. 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Os grandes ensaios clínicos neste contexto mostraram um aumento da sobrevivência livre de doença (SLD) e a maioria também mostrou aumento da sobrevivência global (SG)1,2. Uma metanálise da Cochrane com um período de follow-up de 18 a 65 meses e que incluiu 11.991 doentes (dados coletados até Fevereiro de 2010), obteve um hazard ratio (HR) combinado para a SLD de 0,60 (IC 95%: 0,50-0,71; p < 0,00001) e um HR combinado para a SG de 0,66 (IC 95%: 0,57-0,77; p < 0,00001)1. Esta importante magnitude de eficácia foi confirmada em 2012, aquando dos resultados finais do estudo HERA3, e da atualização dos resultados conjuntos dos estudos americanos NSABP B-31 e NCCTG N98314. Por outro lado, o estudo HERA mostrou que não há benefício na administração de trastuzumab durante dois anos versus a administração durante um ano em contexto neoadjuvante, quer em termos de eficácia terapêutica, quer em termos de segurança cardíaca (a taxa de eventos cardíacos adversos assintomáticos/minimamente sintomáticos aumenta de 4,1 para 7,2%, com o prolongamento do anticorpo até dois anos)3, embora sem grande aumento da toxicidade cardíaca grave. O ensaio clínico francês PHARE5 foi um estudo de não-inferioridade, comparando 6 a 12 meses de terapêutica. Com um follow-up de 3,5 meses, o estudo foi negativo, ou seja, foi incapaz de provar que seis meses de trastuzumab era não-inferior a 12 meses5. Até ao presente, um ano de terapêutica com trastuzumab adjuvante mantém-se como o gold stardard terapêutico. Os resultados do estudo APHINITY (NCT01358877), um estudo duplamente cego e randomizado de fase III, que testa trastuzumab e pertuzumab (duplo bloqueio) com quimioterapia (QT), contra o gold standard, em contexto adjuvante, são aguardados com expectativa, embora vá ser difícil superar o já grande benefício obtido com o trastuzumab em monoterapia. QUAL O REGIME DE QUIMIOTERAPIA IDEAL PARA ADICIONAR AO TRASTUZUMAB? A maioria dos estudos de trastuzumab em contexto adjuvante utilizou regimes de QT que incluíram antraciclinas com ou sem taxanos. O estudo BCIRG 0066 avaliou a eficácia da associação docetaxel-carboplatina-trastuzumab (TCH), que não foi superior ao standard com antraciclinas e taxanos; não sendo um estudo de não inferioridade não permite concluir que os dois esquemas tenham igual eficácia (SG de 92% para o braço contendo antraciclinas e trastuzumab e de 91% para o braço TCH)6. Desta forma este regime de QT só deverá ser considerado em caso de doentes com possível contraindicação ou risco de cardiotoxicidade aumentada às antraciclinas, como por exemplo, idosos, com valores limítrofes de fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE) e hipertensos2. OS PEQUENOS TUMORES (T1A,BN0M0), DEVEM OU NÃO SER TRATADOS COM TRASTUZUMAB? E OS TUMORES HER2 POSITIVO/RH POSITIVO? Os tumores com menos de 1 cm (T1a,bN0M0) estão pouco representados nos grandes estudos adjuvantes2,7, contudo parecem beneficiar da administração do trastuzumab, como é sugerido em análises de subgrupo de um desses grandes ensaios (BCIRG 006)6, em séries retrospetivas de várias instituições de referência na área do cancro8,9 ou ainda em bases de dados 100 perguntas chave no Cancro da Mama 29 J.M. Ribeiro, et al. nacionais de países10. Contudo, os resultados de duas grandes coortes recentemente publicados11,12, revelam que o risco de metástases à distância para estas mulheres é tão baixo que elas talvez possam prescindir de tratamento com QT e trastuzumab. No entanto, a recomendação para tratar tumores T1b (> 0,5 e ≤ 1 cm) com axila negativa com QT e trastuzumab adjuvantes mantém-se nas linhas de orientação da ESMO13 e de St. Gallen 201314. Faltam dados prospetivos para responder em definitivo a esta questão e o tratamento dos pequenos tumores HER2 positivos deverá ser discutido entre o médico e o doente caso a caso2,7. Os tumores de subtipo intrínseco «luminal B-like HER2 positivo», ou seja HER2 positivo/RH positivo, devem incluir no seu regime terapêutico fármacos citotóxicos (antraciclinas + taxanos), trastuzumab e hormonoterapia. Em situações em que a QT esteja contraindicada, nomeadamente devido a comorbilidades, os peritos recomendam a administração de trastuzumab com hormonoterapia14. É também possível a utilização de esquema de QT adjuvante com paclitaxel semanal (12 sessões) associado a trastuzumab nos casos de tumores pequenos (< 1 cm), ou tumores até 3 cm com risco associado de cardiotoxicidade com antraciclinas baseado num estudo de braço único de Tolaney, et al. de publicação recente15. QUAL A MELHOR VIA PARA A ADMINISTRAÇÃO DE TRASTUZUMAB - ENDOVENOSA OU SUBCUTÂNEA? O estudo de fase III HannaH conduziu à aprovação da formulação subcutânea do trastuzumab, na dose fixa de 600 mg, a qual contém hialuronidase recombinante (que hidrolisa de forma transitória a matriz subcutânea) para evitar barreiras de absorção do produto16. Este estudo neoadjuvante incluiu 596 doentes com tumores da mama operáveis e HER2 positivos e randomizou-as para trastuzumab endovenoso (8 mg/kg dose de carga seguida de 6 mg/kg de 3/3 semanas) ou dose única e fixa de 600 mg de trastuzumab subcutâneo de 3/3 semanas (sem necessidade de dose de carga)16. O estudo foi desenhado para testar a hipótese de não-inferioridade da formulação subcutânea face à formulação endovenosa, tendo como dois co-objetivos primários a eficácia (comparada em termos de percentagens de resposta patológica completa) e parâmetros farmacocinéticos16. O estudo foi positivo sendo de sublinhar que o número de efeitos adversos graves foi comparável em ambos os braços. Os resultados atualizados deste estudo são tranquilizadores e revelam que em indivíduos com peso corporal elevado (≥79 kg) a exposição ao fármaco é semelhante em ambas as for- 30 mulações, enquanto em indivíduos de peso mais baixo (< 59 kg), a formulação subcutânea resultou em maior exposição ao fármaco17. Por outro lado, foram levados a cabo outros estudos em paralelo para avaliar a preferência e satisfação dos profissionais de saúde e dos doentes face aos diferentes dispositivos e vias de administração. O estudo PrefHer confirmou a clara preferência dos doentes pela via subcutânea (independentemente de ser através de seringa ou dispositivo específico criado para o efeito, administrado pelo próprio ou por outrem), não tendo havido novos dados relativamente à segurança18. O trastuzumab subcutâneo surge, assim, como a opção preferida excetuando, talvez, os doentes de baixo peso, além de ser também economicamente mais favorável18. QUAL O OBJETIVO DA TERAPÊUTICA NEOADJUVANTE E OS NOVOS STANDARDS DE TRATAMENTO NO CANCRO DA MAMA HER2 POSITIVO ? O principal objetivo da terapêutica neoadjuvante é reduzir as dimensões do tumor primário permitindo cirurgia em tumores inicialmente inoperáveis ou cirurgia conservadora em doentes com tumores inicialmente operáveis. Assim sendo as indicações são estádio IIA, IIB, IIIA, sobretudo em tumores cuja biologia seja indiciadora da necessidade de QT (HER2 positivo e tumores triplo negativos). No cancro da mama HER2 positivo vários estudos de fase II avaliaram o papel do trastuzumab em combinação com diferentes regimes de QT demonstrando de forma consistente a sua atividade antitumoral com taxas de pCR que variaram entre 12 a 76%19,20. Vários estudos de fase III confirmaram posteriormente que a adição de trastuzumab determina um aumento significativo nas taxas de pCR em doentes com cancro da mama operável21 ou localmente avançado/inflamatório22. Em ambos os estudos o trastuzumab foi adicionado a um regime de QT contendo antraciclinas e taxanos. A avaliação da terapêutica dupla anti-HER2 também foi realizada em contexto neoadjuvante. Os estudos clínicos Neo-ALTTO, CHER-LOB, TBCRC006 e NSABP-B41 avaliaram lapatinib e trastuzumab enquanto os estudos NeoSphere e TRYPHAENA avaliaram a combinação de pertuzumab e trastuzumab. De uma forma geral todos estes estudos demonstraram que a terapêutica anti-HER2 dupla permite um aumento das taxas de pCR e pode ser combinada de forma segura com QT. Com base em toda a evidência previamente descrita o esquema neoadjuvante standard na Europa consiste num regime de QT sequencial contendo antraciclinas 100 perguntas chave no Cancro da Mama Tratamento sistémico do cancro da mama HER2 positivo e taxanos com terâpeutica anti-HER2 (trastuzumab) incorporada concomitantemente na altura em que se inicia o taxano. O tratamento de QT deve ser realizado inteiramente no período pré-operatório, sendo a terapêutica anti-HER2 com trastuzumab continuada após a cirurgia até se completar um ano ou 18 administrações. Nos EUA a Food and Drug Administration (FDA) concedeu uma aprovação condicional para o esquema de tratamento duplo anti-HER2 com trastuzumab e pertuzumab em doentes com tumores superiores a 20 mm ou com N1 baseado principalmente nos resultados estudo NeoSphere. Os elementos adicionais que suportam esta decisão são o benefício substancial em termos de sobrevivência demonstrado em contexto metastático no estudo CLEOPATRA. No entanto o estudo NeoSphere inclui apenas 417 doentes e o valor da pCR como indicador preditivo de melhor sobrevivência é controverso. QUAL A CORRELAÇÃO DE RESPOSTA À TERAPÊUTICA NEOADJUVANTE ANTI-HER2 COM SOBREVIVÊNCIA E COMO É QUE ESTA PODE INFORMAR O PROGNÓSTICO E AS DECISÕES TERAPÊUTICAS PÓS-CIRURGIA? A utilização de pCR como um endpoint de outcomes a longo prazo tem sido extensivamente discutido no tratamento neoadjuvante do cancro da mama. Nos subtipos biológicos mais agressivos (cancro da mama triplo negativo e HER2 positivo/RH negativo a pooled análise do Collaborative Trials in Neoadjuvant Breast Cancer (CTNeobc) demonstrou o valor prognóstico de pCR23. Nesta análise a obtenção de pCR esteve associada a uma redução do risco de morte de 92% nos doentes com cancro da mama HER2 positivo/RH negativo e de 71% nas doentes com HER2 positivo/RH positivo. No estudo NOAH, que comparou trastuzumab e QT versus QT, em doentes com cancro da mama localmente avançado/inflamatório da mama HER2 positivo a adição de trastuzumab determinou um benefício absoluto na pCR de 20%22. Adicionalmente com cinco anos de follow-up foi documentado uma redução do risco de recorrência e de morte de 36 e 34% respetivamente24. Importa referir que uma discordância entre melhoria de pCR em contexto neoadjuvante com terapêutica dupla anti-HER2 e outcomes a longo prazo em contexto adjuvante foram reportados. No estudo NeoALTTO a adição de lapatinib a trastuzumab e paclitaxel resultou numa melhoria das taxas de pCR (51,3 vs. 29,5%)25 sendo que em contexto adjuvante no Adjuvant Lapatinib And/Or Trastuzumab Treatment Optimisation study (ALTTO) com um follow-up médio de 4,5 anos não se objetivou uma melhoria significativa da DFS com a mesma combinação de lapatinib e trastuzumab comparada com trastuzumab apenas HR: 0.84 (97.5% IC, 0.70-1.02; p = 0.048)26. Enquanto o valor prognóstico da pCR está bem estabelecido, o seu valor preditivo e sobretudo o valor de uma alteração na percentagem de pCR entre dois tratamentos relativamente a outcomes de longo prazo, não está provado, e estes outcomes a longo prazo são ainda indispensáveis para avaliar um novo tratamento ou combinação de tratamentos. Neste momento estão a decorrer vários estudos, adjuvantes e neoadjuvantes, testando o duplo bloqueio e o T-DM127. QUAL O TRATAMENTO DE 1.A LINHA DO CANCRO DA MAMA AVANÇADO RH NEGATIVO HER2 POSITIVO? PERTUZUMAB, TRASTUZUMAB + DOCETAXEL OU OUTRAS OPÇÕES? O cancro da mama avançado continua a ser uma doença incurável, em que os objetivos de tratamento são o aumento da sobrevivência mas também da qualidade de vida associada28. O cancro da mama HER2 positivo esteve tradicionalmente associado a mau prognóstico, mas o desenvolvimento das terapêuticas anti-HER2 vieram alterar a história natural desta doença. Um estudo retrospetivo29 do MD Anderson Cancer Center (MDACC) comparou a SG em três grupos de doentes com doença metastática de novo (n = 2.091): doença HER2 positivo tratada com trastuzumab em 1.a linha, doença HER2 positivo sem tratamento com trastuzumab e doença sem sobre-expressão do recetor HER2 (HER2 negativa). A taxa de sobrevivência a um ano foi superior no grupo de doentes HER2 positivo com tratamento com trastuzumab (86,6%), seguida de doença HER2 negativa (75,1%) e finalmente doença HER2 positivo sem tratamento (70,2%). Para além disso, novos agentes anti-HER2 têm sido recentemente incorporados na clínica, aumentando as opções de tratamento deste subtipo de cancro da mama que muito provavelmente terão impacto na sobrevivência destas doentes. Os vários agentes anti-HER atuais são o trastuzumab (anticorpo monoclonal contra o domínio IV do componente extra-celular da proteína HER2), lapatinib (inibidor tirosina quínase do EGFR e HER2), pertuzumab (anticorpo monoclonal contra o domínio II da proteína HER2) e T-DM1 (anticorpo com propriedades do trastuzumab conjugado com a QT emtansina). O tratamento de 1.a linha da doença HER2 positivo deve ser um regime de associação de QT a trastuzumab, a não ser que haja contraindicação como por exemplo disfunção cardíaca grave28,30. Vários estudos randomizados, a maior parte deles de 1.a linha, mostraram aumento da sobrevivência livre de progressão 100 perguntas chave no Cancro da Mama 31 J.M. Ribeiro, et al. (SLP), do tempo para progressão (TTP) e da SG com a combinação de vários tipos de QT a trastuzumab versus QT isoladamente. Recentemente o pertuzumab foi também aprovado para tratamento de 1.a linha baseado nos resultados do estudo CLEOPATRA. Este foi um estudo randomizado, fase III que incluiu 808 doentes e em que a associação de pertuzumab, trastuzumab e docetaxel comparada com docetaxel e trastuzumab, apresentou aumento do SLP em cerca de 6,3 meses (HR: 0.69 ; IC 95%: 0,56-0,84 e da SG em 15,7 meses (HR: 0,68; IC 95%: 0,56-0,84)31,32. De notar que só cerca de 10% dos doentes em cada braço do estudo realizaram tratamento prévio com trastuzumab, sendo a maioria da população não exposta a terapêutica anti-HER2 muito diferente da grande maioria da população de carcinoma da mama avançada HER2 positivo em Portugal. Desta forma apenas se pode considerar este esquema como preferencial para uma população de 1.a linha trastuzumab-naive. A média de ciclos de docetaxel realizada foi de oito, sendo mantida a associação de trastuzumab e pertuzumab até progressão da doença. O regime de combinação com pertuzumab esteve associado a um aumento das seguintes toxicidades (cerca de 2 a 5% de percentagem superior): diarreia, mucosite, neutropenia febril, rash, pele seca, cefaleias e prurido. Em termos de toxicidade grau III foi também superior no grupo de pertuzumab a neutropenia (49 vs. 46,2%) e a diarreia (9,3 vs. 5,1%), sendo contudo as mortes provocadas por neutropenia febril/infeção, similares nos dois grupos (1,5 vs. 1,7%). De notar que a disfunção ventricular esquerda de qualquer grau foi mais frequente no grupo controle comparado com o grupo de pertuzumab (7,4 vs. 6,1%). Para doentes previamente expostos a trastuzumab existem várias opções de tratamento como capecitabina ou vinorelbina associados a trastuzumab, taxano associado a trastuzumab, para além de docetaxel + trastuzumab e pertuzumab. A associação de vinorelbina a trastuzumab mostrou eficácia igual ou superior à associação de taxano (paclitaxel, docetaxel) a trastuzumab e com melhor perfil de toxicidade33,34. QUAL O TRATAMENTO RECOMENDADO SE DOENÇA COM RECETORES HORMONAIS POSITIVOS (RH POSITIVO)? Em doentes muito selecionados com doença RH positivo pode estar indicado tratamento de 1.a linha com hormonoterapia combinado a agente anti-HER2. Há três estudos randomizados que comparam esta associação a hormonoterapia isoladamente (letrozol/ anastrazol combinado com trastuzumab; letrozol 32 combinado com lapatinib). Em todos foi demonstrado um aumento do SLP, mas sem aumento da SG35-37. Não há nenhum estudo a comparar esta estratégia de tratamento com a combinação de QT a agente anti-HER2. Para além disso, uma vez que cerca de 50% dos tumores HER2 positivo, são também RH positivo, este grupo de doentes está bem representado nos estudos QT já previamente discutidos, onde se regista um aumento da SG. Por essa razão só deve ser utilizada esta opção de tratamento nos casos de doença indolente ou seja, longo intervalo livre até recidiva/ progressão e doença pouco sintomática (sem crise visceral). Também poderá ser considerado nos doentes com comorbilidades severas que contra-indique a quimioterapia. QUAL O TRATAMENTO DE 2.A LINHA INDICADO NA DOENÇA HER2 POSITIVO QUE PROGRIDE APÓS COMBINAÇÃO COM AGENTE ANTI-HER2? O tratamento de 2.a linha preferencial nas doentes cujos tumores progridem a regime de combinação com agente anti-HER2 é o T-DM1. O estudo fase III EMILIA que incluiu 991 doentes comparou T-DM1 a capecitabina e lapatinib em 2.a ou mais linhas de tratamento. O T-DM1 demonstrou aumento da SG em cerca de cinco meses (30,9 vs. 25,1 meses [HR: 0,68; IC 95%: 0,55-0,85]), aumento do SLP e da taxa de resposta. A incidência de trombocitopenia e aumento das transaminases foi maior com o T-DM1, enquanto a incidência de diarreia, náuseas, vómitos e eritrodisestia palmo-plantar foi superior com lapatinib e capecitabina38. O lapatinib também revelou ser inferior a trastuzumab nos estudos MA.31 e no CEREBEL. O primeiro compara a associação de taxanos (paclitaxel ou docetaxel) a lapatinib ou trastuzumab em 1.a linha de tratamento (n = 636)39 e o SLP foi de 8,8 vs. 11,4 meses, respetivamente. O estudo CEREBEL40, foi desenhado para avaliar a incidência de doença cerebral como primeira recidiva com dois regimes de tratamento: capecitabina + trastuzumab versus capecitabina + lapatinib, em 1.a linha. Este estudo foi terminado pelo número baixo de eventos de recidiva cerebral, mas o SLP, que era endpoint secundário, foi mais baixo no braço do lapatinib comparado com trastuzumab (8 vs. 6,6 meses [HR: 1,30; IC 95%: 1,04-1,64]). Em resumo, a evidência de vários estudos é que a supressão da via HER2 deve ser mantida aquando da progressão a tratamento de 1.a linha com combinação a agente anti-HER2. O tratamento de eleição é o T-DM1, sendo alternativas a manutenção do trastuzumab associado a esquema diferente de QT ou hormonoterapia no caso de doença HER2 positivo/RH positivo. 100 perguntas chave no Cancro da Mama Tratamento sistémico do cancro da mama HER2 positivo QUAL O TRATAMENTO INDICADO NA PROGRESSÃO A MAIS DO QUE DUAS LINHAS DE TRATAMENTO COM TERAPÊUTICA DE COMBINAÇÃO A AGENTE ANTI-HER2? O estudo Th3resa41, um estudo fase III, comparou T-DM1 a tratamento selecionado pelo médico, em doentes com cancro da mama HER2 positivo a progredir a dois ou mais regimes anti-HER2, incluindo trastuzumab e lapatinib. T-DM1 esteve associado a aumento do SLP (6,6 vs. 3,3 meses [HR: 0,52; IC: 0,42-0,66]), sendo que os dados da SG, embora favoreçam o T-DM1 ainda são precoces (HR: 0,55; IC 95%: 0,360,82). A incidência de efeitos adversos grau III foi também inferior com o T-DM1 (neutropenia 2 vs. 16%; diarreia 1 vs. 4%; neutropenia febril inferior a 1 vs. 4%), sendo apenas pior a trombocitopenia (2 vs. 5%). Tanto o estudo Th3resa como o EMILIA mostram que o T-DM1 pode ser utilizado após progressão a uma, ou mais linhas de tratamento, e indiretamente, que a supressão da via HER2 deve ser continuamente mantida. Assim se um doente não recebeu T-DM1 em 2.a linha, este fármaco é uma opção. Se este tratamento já foi realizado, então um regime de tratamento de combinação de QT (capecitabina, vinorelbina, outras) com trastuzumab é recomendado. Outras opções incluem capecitabina e lapatinib, lapatinib e trastuzumab, ou hormonoterapia com trastuzumab. A combinação de trastuzumab e lapatinib mostrou superioridade ao lapatinib em monoterapia em doentes multi-tratados (em média quatro regimes de tratamento) e em progressão a tratamento com trastuzumab, com aumento do SLP e da SG (10% aos 6 meses e 15% aos 12 meses )42. Há estudos de fase II a revelar atividade na combinação de trastuzumab e pertuzumab em doentes multi-tratados43,44, mas será necessária evidência adicional para ser incorporado na clínica. Combinações de pertuzumab + trastuzumab para além de 1.a linha, ainda se encontram em estudos clínicos e não podem ser considerados como standard of care. BIBLIOGRAFIA 1. Moja L, Tagliabue L, Balduzzi S, et al. Trastuzumab containing regimens for early breast cancer. Cochrane Database Syst Rev. 2012;4:CD006243. 2. Pinto AC, Ades F, de Azambuja E, Piccart-Gebhart M. Trastuzumab for patients with HER2 positive breast cancer: Delivery, duration and combination therapies. Breast. 2013;22S2:S152-5. 3. 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Inicialmente estimava-se que o CMTN representava cerca de 20% da totalidade dos cancros da mama, mas nos últimos 15 anos, com o aperfeiçoamento das técnicas de IHQ e redefinição do conceito de negatividade para os recetores hormonais (< 1% de células positivas por IHQ), estima-se que a prevalência seja de cerca de 10% dos cancros da mama. No entanto, em algumas populações específicas podem ser mais frequentes (ver pergunta 3). Este subtipo de cancro da mama é importante por ser biologicamente mais agressivo e não ter um alvo terapêutico identificado. Cerca de 70% dos cancros da mama expressam RE e/ou RP (cancro da mama recetor hormonal positivo (RH+)] sendo sensíveis à terapêutica antiestrogénica. Por outro lado, os cancros da mama com sobre-expressão de HER2, refletindo o aumento do número de cópias do respetivo oncogene, representam cerca de 15% dos cancros da mama e são sensíveis ao bloqueio deste recetor na sua porção extracelular por anticorpos monoclonais ou na sua porção intracelular por inibidores da tirosina cinase. Pelo contrário, os CMTN são definidos pelas moléculas que não expressam, nomeadamente não têm nenhuma proteína específica que funcione como alvo terapêutico. Assim, para as doentes com CMTN, não há hoje nenhuma terapêutica dirigida. As doentes são tratadas, nos estádios iniciais, com uma combinação de cirurgia, quimioterapia (QT) citotóxica e radioterapia (RT), e na doença metastatizada, com QT. Parece-nos improvável que venha a existir uma proteína ou gene classificador, por haver já demasiada evidência de heterogeneidade entre os CMTN. Em geral, estas doentes têm pior prognóstico, ou por terem um tumor intrinsecamente menos sensível aos tratamentos ou porque não beneficiam de uma terapêutica dirigida a um alvo específico. QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS DO CANCRO DA MAMA TRIPLO NEGATIVO? Os CMTN ocorrem nos extremos etários: em doentes jovens, por um lado e em doentes mais idosos, por outro. Numa série californiana de base populacional as doentes com CMTN constituíram 14% da amostra. O CMTN foi significativamente mais comum em doentes com idade inferior a 40 anos e em doentes de ascendência africana. Nesta série as mulheres de raça negra tiveram uma sobrevivência de 14% aos 5 anos, a pior sobrevivência dos grupos analisados nesse estudo1. Em Portugal, onde há uma grande comunidade de doentes africanas ou portuguesas de ascendência africana, bem como noutros países com o mesmo padrão epidemiológico, em países africanos ou nos Estados Unidos da América (EUA), sobretudo nos estados do sul, há uma maior frequência de CMTN, em doentes de raça negra. Estas doentes de raça negra com CMTN são em geral jovens e têm um cancro da mama de pior prognóstico2. Numa série de cerca de 500 doentes com cancro da mama da Nigéria e do Senegal o CMTN tem uma frequência de 30%, a idade média de diagnóstico foi 45 anos e 83% dos tumores eram de alto grau. Os autores desse artigo chamam à atenção de que é urgente investigar a epidemiologia e a biologia destes tumores agressivos3. A obesidade parece ser mais frequente nas doentes com o diagnóstico de CMTN. Numa série norte americana4, 50% de mulheres com CMTN eram obesas, enquanto que a prevalência de obesidade em doentes com cancro da mama não triplo 100 perguntas chave no Cancro da Mama 35 S. Braga, J.L. Passos Coelho negativo (TN) era de 36%. Outros estudos reportaram que o risco de uma doente com cancro da mama ser obesa era maior em CMTN (OR: 1,97;IC 95%: 1,033,24)5. Este fenómeno pode ser devido ao papel do insulin-like growth factor-1 (IGF-1) que é uma hormona anabólica. Os cancros da mama têm recetores do IGF-1 e a sua abundância é mais frequente no CMTN6. Os indivíduos obesos têm doseamentos séricos mais elevados de IGF-1 que os indivíduos não obesos7. Assim o recetor do IGF-1 funcionaria em alguns casos de CMTN como o RE no subtipo de cancro da mama luminal. QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS MOLECULARES CANCRO DA MAMA TRIPLO NEGATIVO? Do ponto de vista da classificação histológica, os CMTN são normalmente classificados como «cancros da mama sem outra especificação (SOE)», mas podem também ser classificados como carcinoma metaplásico, medular, apócrino ou adenoide quístico. Esta subclassificação histológica contém informação prognóstica, uma vez que os três últimos subtipos têm melhor prognóstico. Contudo, muitos dos carcinomas metaplásicos, medulares, apócrinos e adenoides quísticos não são CMTN. No que respeita ao carcinoma apócrino, a frequente expressão do recetor de androgénio (RA) tem justificado o estudo de fármacos anti-androgénicos no tratamento de doentes com este subtipo histológico. No fim do século passado, utilizando a técnica de diagnóstico molecular conhecida como microarrays, para estudar o perfil de expressão de DNA tumoral, foi possível classificar os cancros da mama em diferentes subgrupos moleculares – cancros da mama com expressão de RE, cancro da mama com expressão/amplificação de HER2 e cancro da mama sem expressão de RE ou HER2. O maior subgrupo de cancro da mama, com expressão de RE, foi ainda subdividido em cancro da mama com expressão elevada de RE, co-expressão de RP, correspondendo a tumores bem diferenciados e com baixo índice proliferativo, apelidado de cancro da mama Luminal A e um subgrupo menor de cancro da mama com expressão de RE menos intensa, expressão rara de RP, menor diferenciação e índice proliferativo mais elevado, apelidado cancro da mama Luminal B. O terceiro grupo é caracterizado pela expressão de HER2, podendo haver ou não expressão associada de RE, apelidado cancro da mama HER2 positivo. O quarto grupo foi apelidado de cancro da mama basal porque parecia ter um perfil de expressão de proteínas semelhante às células da camada basal dos ductos da glândula mamária. Quando anos depois, foi feita correlação entre esta classificação 36 molecular com variáveis clínicas com implicações prognósticas e a classificação histológica tradicional, constatou-se haver alguma sobreposição, mas não equivalência, entre o cancro da mama basal, identificado nos estudos com microarrays e o CMTN, classificado por IHQ. A segregação do CMTN num subtipo com pior prognóstico é também uma consequência do melhor prognóstico do cancro da mama HER2 positivo, com a utilização de tratamento farmacológico específico anti-HER2, sobretudo desde o início da administração adjuvante de trastuzumab em 2005. Com o intuito de refinar a classificação molecular tem-se tentado definir pela positiva o CMTN. Várias publicações avaliaram a expressão nestes tumores de citoqueratinas (CK) basais, CK5 e CK6. Demonstrou-se que CMTN com expressão de CK basais têm pior prognóstico que os CMTN sem expressão de CK basais. A limitação desta classificação é não identificar potenciais alvos terapêuticos no CMTN, ao contrário dos restantes três subgrupos moleculares. O recetor para o fator de crescimento epidérmico [(epidermal growth factor receptor (EGFR)] foi estudado como potencial alvo terapêutico em CMTN, segregando com o subgrupo que expressa CK5 e CK6, os tumores triplos negativos basais. Infelizmente, os ensaios clínicos realizados com anticorpos monoclonais8 ou inibidores de tirosina cinase anti-EGFR9 não documentaram benefício clínico relevante. O IGF-1 é uma proteína anabólica. A sobre-expressão do recetor do IGF-1 tem sido estudada no cancro da mama, onde funciona como um oncogene semelhante ao HER2. Doentes com síndrome metabólico, caracterizado por obesidade, hipertensão, hiperglicemia, hipertrigliceridémia, e hipercolestrolémia, têm níveis mais elevados de IGF-1 sérico. Um artigo que reanalisou os dados de Lehmann e colaboradores mostrou que a expressão do recetor do IGF-1 é comum em CMTN em doentes de ascendência africana10. Outro marcador histológico de CMTN é a infiltração do tumor por linfócitos. Contudo, este fenómeno não é exclusivo dos tumores TN, ocorrendo também em tumores que expressam RE e é importante em tumores HER2 positivo. Tal como nos outros subtipos, a infiltração do tumor por linfócitos correlaciona-se com melhor prognóstico nos CMTN11 Na prática clínica, há doentes cujo cancro da mama tem expressão de RE na altura do diagnóstico mas que, ao longo do curso da doença recorrente, perdem a expressão deste recetor e passam a ser CMTN. Seria importante perceber qual a diferença da biologia dos CMTN que assim se apresentam desde o diagnóstico inicial e os cancros da mama que perdem a expressão inicial de recetores hormonais. É também frequente ocorrerem tumores com expressão residual de RE abaixo dos 10%. Pensamos que estes tumores TN são 100 perguntas chave no Cancro da Mama Cancro da mama triplo negativo efetivamente diferentes dos tumores TN propriamente ditos, que nunca expressaram RE12. Uma interpretação para o desenvolvimento de CMTN é de que estes tumores derivam das células primordiais da glândula mamária, ou stem cells, células indiferenciadas e pluripotentes. Este modelo é semelhante ao da ontogénese das leucemias mieloides agudas (LMA) em que se conseguiu estabelecer uma ligação entre cada subtipo de LMA e uma célula hematopoiética normal de origem, num continuum de crescente diferenciação e progressiva perda de capacidade de multiplicação. Neste modelo, os CMTN derivariam das stem cells e assim se explicaria a sua indiferenciação, quimiorresistência, resistência à apoptose e elevada capacidade replicativa. Os cancros da mama que ocorrem em portadoras de mutações germinais no gene BRCA1 são TN em 50% dos casos13. Pelo contrário, a frequência de CMTN em doentes portadoras de mutações germinais no gene BRCA2 é semelhante às doentes com cancro da mama esporádico. Estes tumores que ocorrem em doentes com mutações germinativas nos genes BRCA têm melhor prognóstico. Os genes BRCA1 e BRCA2 são genes de reparação de DNA, o que torna os carcinomas que surgem nas mulheres com esta alteração germinal, quimiossensíveis. O DNA tumoral, quando lesado pelos fármacos antineoplásicos não tem a capacidade de reparação que tem nas doentes sem esta alteração genética. Assim, estes tumores TN BRCA1 ou BRCA2 mutados têm um genótipo BRCA –/–, resultante de uma primeira mutação germinal e de uma segunda mutação somática adquirida14. Há ainda CMTN que têm os genes BRCA1 ou BRCA2 inativos devido a metilação do promotor. Estes tumores têm alterações na reparação do DNA, sem terem os genes BRCA1 ou BRCA2 mutados, apresentando características semelhantes às mutações dos BRCA, referida como BRCAness. A metilação do promotor e a mutação dos referidos genes são fenómenos mutuamente exclusivos15. Em 2011, foi proposta uma nova classificação dos CMTN10. Neste estudo foi avaliado o perfil de expressão genómica de quase seis centenas de CMTN. Foram identificados seis subtipos com características epidemiológicas, clínicas e alvos terapêuticos próprios: basal 1 e basal 2, imune, mesenquimatoso, stem cell-like e com expressão de recetor de androgéneo. Esta classificação já foi validada de forma prospetiva noutra coorte de doentes16 e vai ser integrada no desenho de ensaios clínicos. A aplicação clínica desta classificação genómica será limitada enquanto não for possível simplificar uma classificação baseada no estudo de 28.000 genes numa caracterização que se baseie na expressão de um número reduzido de genes que permita a sua utilização generalizada e com um custo aceitável. O QUE TROUXE DE NOVO A SEQUENCIAÇÃO? Sequenciação para inferência causal A tecnologia de sequenciação permite estudar integralmente todo o genoma das células, neste caso de tumores. A caracterização detalhada do genoma pode vir a permitir, pelo estudo das alterações no genoma, inferir causalidade. Pode também permitir identificar alvos terapêuticos ao identificar vias de sinalização alteradas, potencialmente sensíveis à manipulação farmacológica. Contudo, este processo pode não ser tão simples, porque o nosso genoma tem três biliões de pares de bases e, após o insulto primordial, pode ter capacidade de adaptação ao dano levando ao aparecimento de alterações secundárias ao insulto causal. São exemplos deste fenómeno, a marca do tabaco no genoma, com a passagem de citosinas para adeninas, nos tumores do pulmão dos fumadores e a marca dos raios ultravioletas no genoma, com a passagem de citosinas a timidinas, presente nos melanomas em pele exposta ao sol. No cancro da mama, não é provável que a inferência causal venha a ser tão clara, até porque a fisiopatologia dos diferentes subtipos de cancro da mama parece ser diversa. São múltiplos os fatores contribuintes como a história ginecológica da doente, incluindo paridade, amamentação e medicação com estrogénios, a obesidade, o exercício físico, a exposição a radiações, a história familiar, para além de outros possíveis fatores ambientais ou até infeciosos. Dificilmente haverá relação de causa-efeito no cancro da mama como se demonstrou nos carcinomas do pulmão em fumadores e nos melanomas em pele exposta a radiação UV. Quanto a marcas causais no genoma de CMTN há duas observações relevantes17: 1.A marca da deficiência de reparação homóloga, pouco frequente, que está presente em doentes com mutações germinativas nos genes BRCA1 ou BRCA2 e nos tumores em que estes genes foram inativados por metilação do promotor. 2.Ao contrário da teoria da carcinogénese lenta, estabelecida ao longo de décadas, que intuitivamente, pensaríamos ser a mais frequente nos cancros da mama, antes parece ocorrer na carcinogénese mamária um evento repentino. De facto, nos CMTN o tumor primário já apresenta muitas das alterações do genoma presentes posteriormente na metástase. Há focos específicos (hotspot”) no genoma de hipermutação somática, trágicos, repentinos, chamados de locais de kataegis (tempestade, em grego). Pensa-se que a kataegis surge após uma quebra na cadeia dupla do DNA ou 100 perguntas chave no Cancro da Mama 37 S. Braga, J.L. Passos Coelho após exposição de DNA em mono-cadeia, uma catástrofe para a célula. A razão da quebra na dupla hélice não é conhecida, mas a kataegis é frequente no genoma dos CMTN. Na reparação deste fenómeno da quebra da dupla cadeia, citosinas são substituídas por timidinas ou guaninas, ou seja há desanimação das citosinas. Sequenciação para estudar a evolução mutacional Outro contributo da tecnologia de sequenciação é permitir estudar a evolução mutacional dos tumores, pela colheita e análise de material biológico desde o diagnóstico e em vários momentos posteriores na história natural da doença. Um caso ilustrativo foi reportado por Ding, et al.18, uma jovem de raça negra com carcinoma inflamatório TN, resistente à QT neoadjuvante, com metastização cerebral oito meses mais tarde, rapidamente fatal. Foram colhidas amostras para sequenciação do DNA germinal extraído de linfócitos do sangue periférico, do DNA do tumor primário, da metástase cerebral e da linha celular estabelecida a partir da biópsia inicial obtida a antes de iniciar a QT neoadjuvante. Foram identificadas oito dezenas de alterações no genoma em quatro tipos de genes: – Genes com nexo causal, como o p53. – Genes que também se encontraram mutados em genomas de outros carcinomas. – Genes que pertencem a vias de transdução de sinal (dos quais se conhece e função) mas que nunca tinham sido detetados mutados em carcinoma. – Genes sem qualquer ligação prévia a cancro. No genoma da metástase cerebral não foram identificadas todas as alterações presentes no genoma do tumor primário da mama, sugerindo que a metástase tem origem numa zona particular do tumor primário ou provém dum clone deste tumor primário que desapareceu durante a evolução mutacional a que esta lesão está exposta. Sugere também que o tumor primário já tem todas as alterações genéticas que lhe conferem vantagem seletiva, pouco evoluindo no processo de metastização. Contrasta também com a teoria de que a QT, quando não leva à morte celular, contribui para gerar mais mutações que tornam os tumores mais resistentes à QT19. Assim o CMTN parece ter já traçado o seu destino no genoma muito instável do tumor primário, pelo menos em casos em que a recaída é precoce. Numa série de 104 CMTN foi feita a sequenciação por quatro métodos diferentes: sequenciação de todo o genoma, sequenciação do exoma, sequenciação de ácido ribonucleico (RNA) e estudo de single nucleotide polymorphisms (SNP) tendo sido identificadas 2.500 38 alterações somáticas20. As duas conclusões mais importantes do estudo foram: i. Somente 36% das mutações no DNA estão presentes no RNAm; ii. não há genes preponderantes para a ocorrência de mutações, que estão distribuídas por todo o genoma. A alteração genómica mais frequente no CMTN é a mutação do p53, o guardião do genoma. Pensa-se ser uma alteração secundária pois «desliga» a apoptose em células com o genoma alterado permitindo-lhes não morrer. Esta alteração ocorreu em 62% dos CMTN. Outros genes com mutações frequentes são PIK3CA, Rb1 e o PTEN. Ocorrem também mutações frequentes em proteínas do citoesqueleto, envolvidas na motilidade celular. Os dados de SNP mostram que a instabilidade cromossómica está disseminada por todo o genoma. Por último, demonstrou que o CMTN basal tem um genoma mais complexo e instável que o CMTN não basal20. Em conclusão, os dados de sequenciação mostram que o genoma dos CMTN tem inúmeras alterações que já estão presentes na lesão inicial e que conferem à população de células tumorais a capacidade de invadir e metastatizar. Por outro lado, os estudos de sequenciação revelam que o subtipo basal de CMTN é diferente e possivelmente mais agressivo que o subtipo não basal de CMTN. QUAL É A HISTÓRIA NATURAL DO CANCRO DA MAMA TRIPLO NEGATIVO? A história natural do CMTN é muito variável, confirmando a sua natureza heterogénea. Mulheres jovens, frequentemente de raça negra, têm com maior frequência tumores menos quimiossensíveis, com um intervalo livre de doença curto entre o diagnóstico e tratamento inicial e o aparecimento de metastização visceral e uma sobrevivência curta. Por outro lado, 50% das doentes com CMTN obtêm resposta patológica completa [pathologic complete response (pCR)] após administração de QT neoadjuvante, e se recaem, fazem-no tardiamente, com um perfil de recaída óssea e ganglionar mais semelhante ao cancro da mama com expressão de recetores estrogénios (cancro da mama RH+). Em comparação com o maior subgrupo de cancro da mama RH+, os CMTN têm maior probabilidade de metastização visceral e do sistema nervoso e menor probabilidade de metastização ganglionar axilar e óssea. Numa série polaca - a Polónia é um país com elevada prevalência de mutações BRCA1 por ter população relevante judia Ashkenazhi -o órgão inicial de metastização do CMTN foi em 15% dos casos o sistema nervoso central (SNC), em 14% o pulmão, em 11% o osso e em 8% o fígado21. 100 perguntas chave no Cancro da Mama Cancro da mama triplo negativo Resultados interessantes foram reportados por Jin, et al., que demonstraram em modelos celulares e animais que a restrição calórica pode reduzir a capacidade metastática do CMTN, apontando para a intervenção nutricional, com combate ao excesso de ingestão calórica, como potencial tratamento do CMTN22. QUAL A TERAPÊUTICA E ABORDAGEM SISTÉMICA MAIS ADEQUADA? As antraciclinas e os taxanos são os pilares da QT do cancro da mama, incluindo do CMTN. Contudo, em alguns estudos, a administração de sais de platino demonstrou uma atividade clínica importante. No ensaio alemão GeparSixto de tratamento neoadjuvante, a incorporação de sais de platino, em associação com antraciclinas e taxanos, aumentou a probabilidade de pCR23. Este ensaio incluiu doentes com CMTN ou HER2 positivo com estádio II ou III. Todas as doentes foram tratadas durante 18 semanas com paclitaxel (80 mg/m2 semanal) e doxorrubicina lipossómica não peguilada (20 mg/m2 semanal). As doentes com CMTN receberam ainda bevacizumab (15 mg/kg cada 3 semanas) e as doentes com carcinomas HER2 positivo trastuzumab e lapatinib. Foram aleatorizadas para tratamento concomitante (ou não) com carboplatina. O objetivo primário do estudo era a percentagem pCR, definida como ypT0N0. No grupo tratado com carboplatina 84 de 158 doentes tiveram pCR, enquanto apenas 58 de 157 doentes tiveram pCR no regime sem carboplatina. Assim a percentagem de pCR aumentou de 37% para 53% (p = 0,005) com a inclusão de carboplatina no regime terapêutico23. Apesar de resultados promissores, são ainda necessários mais estudos com suficiente poder estatístico para avaliar qual a melhor combinação de QT nos tumores triplo negativo em contexto neoadjuvante. As recomendações recentes dos Consensus de St. Gallen24 só contemplam a sua utilização em tumores com mutação dos graus BRCA1 / 224. Contudo, no contexto de tratamento adjuvante, não há documentação de benefício clínico da inclusão de sais de platino, em termos de prolongamento da sobrevivência livre de recorrência ou de sobrevivência global (SG). Em doença metastática, no estudo internacional BALI, no qual 20% das doentes incluídas eram portuguesas, a atividade anti-tumoral de monoterapia com cisplatino (na dose de 75mg/m2 cada 3 semanas) foi reduzida, com apenas 10% de respostas objetivas8. Estes resultados contrastam com os reportados num estudo polaco que serviu como prova do conceito25. Neste estudo, 25 doentes com CMTN com mutação BRCA receberam tratamento neoadjuvante com cisplatino (75mg/m2 x 4 ciclos cada 3 semanas); a taxa de pCR foi de 80%. Neste estudo foram incluídas doentes judias Ashkenazi portadoras de mutação germinativa do gene BRCA1, frequentes na população polaca, com tumores com maior sensibilidade aos sais de platino. A administração de QT neoadjuvante em doentes com CMTN tem duas características importantes. Primeiro, a obtenção de pCR identifica doentes com melhor prognóstico, com baixa probabilidade de recidiva. Pelo contrário a não obtenção de pCR (doença residual na peça cirúrgica) identifica doentes com probabilidade de recaída e morte superior à das doentes com outros subtipos de cancro da mama que também não obtém pCR15. Este aparente contrassenso - a maior probabilidade de obtenção de pCR com QT neoadjuvante, documentando sensibilidade à QT mas também a insensibilidade à QT com sobrevivência inferior em mulheres com doença residual após administração de QT neoadjuvante - é referido como o paradoxo do CMTN26. O contexto neoadjuvante é assim um interessante laboratório de investigação para realização de ensaios clínicos. Nas últimas décadas do século passado foi testada a administração de QT de alta dose, implicando suporte hematopoiético autólogo, no tratamento de doentes com cancro da mama. Em doentes não selecionadas por subtipo biológico, não se demonstrou vantagem de sobrevivência e esta estratégia foi definitivamente abandonada27,28. No entanto, a administração de QT em doses convencionais mas com maior densidade de dose (dose-dense), com administração quinzenal em vez de 3 em 3 semanas, é uma estratégia mais promissora, sobretudo em CMTN29,30. HÁ FÁRMACOS INOVADORES EM CANCRO DA MAMA TRIPLO NEGATIVO E QUAIS AS SUAS TOXICIDADES? Dado que os CMTN podem ter mutações germinativas dos genes BRCA1 e 2, ou alterações somáticas deste gene (BRCAness), fármacos inibidores de outra enzima importante na correção de lesões do DNA, o enzima poli adenina ribose polimerase(PARP),foram testados no tratamento de CMTN15. A inibição das enzimas PARP em tumores com mutação noutra via de reparação de DNA chama-se letalidade sintética. Este fenómeno de letalidade sintética foi descoberto em bactérias e usado por Lee Hartwell para testar novos compostos antineoplásicos em leveduras. A letalidade sintética descreve uma condição celular em que duas (ou mais) mutações não alélicas e não essenciais, que não são letais individualmente, se tornam fatais quando presentes na mesma célula simultaneamente31. Num ensaio clínico de monoterapia com olaparib demonstrou-se que a atividade clínica (obtenção de resposta objetiva) era limitada a CMTN em portadores de mutação BRCA1 ou 232). Este fármaco está atualmente a ser estudado como componente do tratamento 100 perguntas chave no Cancro da Mama 39 S. Braga, J.L. Passos Coelho adjuvante do cancro da mama em doentes com mutações BRCA (estudo Olympia). Embora habitualmente bem tolerados, as toxicidade mais frequentes dos inibidores da PARP são fadiga, náusea, vómitos, anemia e elevação da creatinina (sem insuficiência renal clínica). Num ensaio de fase III de olaparib em carcinoma do ovário, outro tumor associado a mutações germinativas dos genes BRCA1 e 2 ou alterações somáticas deste gene, 35% das doentes tiveram toxicidades de grau III e IV (classificação NCI)33. Outros fármacos promissores no tratamento do cancro da mama são os inibidores das ciclinas, enzimas determinantes na progressão no ciclo celular. Dados promissores em CMTN mostram que estas células tumorais sobre-expressam o oncogene c-myc e tornam-se dependentes de survivina (BIRC5), um inibidor da apoptose que é degradado na ausência de atividade CDK1. Usando inibidores desta ciclina, este inibidor da apoptose não seria degradado e continuaria a ser possível ativar a apoptose em células com c-myc ativado, dependentes de survivina. A sobre-expressão de c-myc é mais frequente nas células dos CMTN que nas células dos cancro da mama não-TN e esta sobre-expressão correlaciona-se com pior prognóstico. Experiências com linhas celulares de CMTN demonstram não ser suficiente inibir a ciclina (CDK1), mas também necessário aumentar a atividade de uma molécula facilitadora da apoptose (BCL2L11), para provocar a morte celular, outro exemplo de letalidade sintética34 . No entanto, os ensaios clínicos com palbociclib, inibidor da ciclina, têm mostrado resultados mais promissores em cancro da mama RH+ quando administrado em associação com terapêutica endócrina35. COMO TRATAR A RECIDIVA? Sempre que possível, desde que exequível com baixo risco de morbilidade, deve ser realizada biópsia de uma das metástases ou lesões recorrentes se houver recidiva tumoral. Raramente, os CMTN passam a expressar recetores hormonais ou HER2, resultado que pode resultar de um erro técnico ao diagnóstico; pelo contrário, cerca de 20% das doentes com cancro da mama RH+ com baixa intensidade de expressão deixarão de os expressar, passando a apresentar um fenótipo TN. Nas doentes com CMTN o futuro será classificar a doença de acordo com a classificação de Lehmann, et al.10. Os 6 subtipos de CMTN desta classificação são mutuamente exclusivos nos estudos genómicos. Três subgrupos têm melhor prognóstico: (1) CMTN com sobre-expressão do recetor de androgénio, chamado Luminal Recetor de Androgénio (LAR), (2) CMTN com infiltrado inflamatório, chamado subtipo Imunomodulador (IM) e (3) CMTN de subtipo basal tipo 1 (B1), onde se incluem os CMTN em doentes com mutações 40 nos genes BRCA. Os restantes três subtipos têm pior prognóstico: (4) CMTN de subtipo basal tipo 2 (B2), (5) CMTN de tipo mesenquimatoso (M) e, por fim, (6) CMTN mesenquimatoso com células estaminais (MS). Estão em curso ensaios clínicos com fármacos dirigidos às alterações moleculares que têm sido encontradas de forma reprodutível nos vários subgrupos moleculares de CMTN. Fármacos antiangiogénicos e inibidores da via do EGFR estão a ser de novo estudados nos dois subtipos mesenquimatosos de CMTN. Os inibidores da PARP continuam a ser testados nas doentes com CMTN com mutação germinativa dos genes BRCA1 ou BRCA2. Nos CMTN do subtipo imunomodulador o bloqueio da supressão imunológica pela inibição da via do PD1-PDL1 tem tido resultados interessantes36. No subtipo LAR, o foco é no estudo de antiandrogénios. Nos últimos anos, com a identificação de mutações ativadoras no gene PIK3CA como as mutações mais frequentes em cancro da mama, tem havido interesse em desenvolver inibidores da via celular PI3K-PTEN-AKT. Embora as mutações do gene PIK3CA sejam mais frequentes no cancro da mama com RH+, estas também são frequentes no subtipo LAR de CMTN, estando em curso um ensaio clínico com ipatasertib, inibidor da AKT, em CMTN37. No futuro, a seleção do tratamento do CMTN poderá passar pela subtipagem molecular com estudos de RNA tumoral de modo a identificar o melhor plano terapêutico. As doentes com CMTN metastatizado têm por vezes mutações tumorais passíveis de intervenção farmacológica a testar no contexto de ensaios clínicos, sendo esta provavelmente a melhor opção terapêutica. Na ausência de ensaios clínicos e de subtipagem molecular, o CMTN metastatizado é tratado com fármacos antineoplásicos não usados no tratamento neoadjuvante, especialmente se a recaída for precoce, isto é nos dois primeiros anos. Se a doente não recebeu QT neoadjuvante, o que é raro hoje em dia, pode ser tratada com antraciclinas, taxanos ou sais de platino, não sendo claro que haja uma sequência preferível. Em quarta linha há outras alternativas, todas com menor probabilidade de resposta e de prolongamento da sobrevivência: antimetabolitos como o 5FU/capecitabina ou a gemcitabina, alcaloides da vinca ou eribulina, para nomear alguns. Pensamos que num futuro muito próximo poderemos subtipar molecularmente todas as doentes com CMTN metastizado através da sequenciação do DNA tumoral, extraído do tumor primário, das metástases, de células tumorais circulantes e de DNA tumoral circulante. Todos estamos empenhados na participação e na elaboração deste tipo de estudos que irão permitir tratar estas doentes numa fase mais precoce com «drogas alvo»em vez de, ou em associação com, QT 100 perguntas chave no Cancro da Mama Cancro da mama triplo negativo clássica cuja probabilidade de controlo duradouro da doença metastática, quando utilizada isoladamente, é dececionante. A SOBREVIVÊNCIA DE DOENTES COM CANCRO DA MAMA TRIPLO NEGATIVO É DIFERENTE DA DOS RESTANTES SUBTIPOS DE CANCRO DA MAMA? As curvas de sobrevivência dos três subgrupos de cancro da mama são diferentes, tendo o CMTN o pior prognóstico38. Classicamente, as doentes com cancro da mama RH+ tinham sobrevivência superior às doentes com cancro da mama HER2 positivo e com CMTN. Contudo, graças aos avanços terapêuticos disponíveis desde 2005 para o tratamento das doentes com cancro da mama HER2 positivo, quer pela administração de trastuzumab adjuvante quer pelos vários fármacos disponíveis no tratamento da doença metastática, o prognóstico deste subtipo de cancro da mama é atualmente sobreponível ao cancro da mama RH+ com mais de 90% das doentes sem evidência de doença três anos após o diagnóstico39. Também o perfil de recaída é diferente entre os três subtipos de cancro da mama. Embora o risco de recaída seja mais elevado nos primeiros cinco anos após o diagnóstico em todas as doentes com cancro da mama, este risco é inicialmente mais elevado mas tem uma redução muito mais rápida nas doentes com CMTN e HER2 positivo, sendo menos frequentes as recaídas para além dos três anos após o diagnóstico. Pelo contrário, no cancro da mama RH+, embora o risco de recidiva também seja maior nos primeiros cinco anos após o diagnóstico, a redução do risco de recaída é mais gradual ao longo do tempo pelo que mais de metade das recaídas ocorrem mais de cinco anos após o diagnóstico. UMA PERGUNTA QUE FICA POR RESPONDER De entre o grupo heterogéneo de doentes com CMTN, há um subgrupo de doentes com curso clínico muito agressivo. São habitualmente jovens, muitas vezes de raça negra, com tumores localmente avançados, inflamatórios ou metastatizados à data do diagnóstico. Estas doenças são resistentes à terapêutica neoadjuvante, apesar de serem tratadas com os fármacos mais ativos atualmente disponíveis ou então recaem precocemente sob forma de doença visceral e com curta sobrevivência. Uma doente com estas características forneceu material biológico para o estudo de sequenciação tumoral publicado por Ding e colaboradores18. Este estudo revelou que as mutações detetadas no DNA tumoral das metástases já estão presentes no tumor primário, sendo escassa a evolução clonal durante a história natural da doença, em contraste com o cancro da mama com RH+40. Este perfil clínico-epidemiológico poderá ter uma base molecular subjacente, um marcador diagnóstico que possamos descobrir e um mecanismo celular que possamos estudar e um dia bloquear farmacologicamente. O desafio para os investigadores é identificar estas características moleculares dos CMTN. No nosso país, por termos mais frequentemente doentes com este fenótipo do que nos restantes países europeus, devíamo-nos empenhar na procura da resposta a esta pergunta. BIBLIOGRAFIA 1.Boyle P. Triple-negative breast cancer: epidemiological considerations and recommendations. Ann Oncol. 2012; Suppl6: vi7-12. 2. Carey L, PerouC, Livasy CA, et al. Race, breast cancer subtypes, and survival in the Carolina Breast Cancer Study. 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A expressão genómica do cancro da mama permitiu a identificação de diferentes subtipos moleculares – luminal A, luminal B/HER2 negativo, luminal B/HER2 positivo, HER2 positivo e basal-like – distintos na evolução clínica e na resposta a tratamentos sistémicos. Assim, o cancro da mama luminal, classicamente definido pela expressão de recetores hormonais (RH), engloba dois tipos distintos do ponto de vista molecular: luminal A e luminal B. O cancro da mama luminal A caracteriza-se pela elevada expressão de RH de estrogénio (RE) e de progesterona (RPg), baixa expressão de genes associados à proliferação celular e ausência de expressão HER2. Por outro lado, tumores luminal B podem apresentar menor expressão de RE e/ ou RPg associada a maior expressão de genes associados à proliferação celular e ao ciclo celular. Cerca de 20% dos cancros da mama luminal B exprimem HER2 e constituem um subtipo distinto – luminal B/HER2 positivo. Na prática clínica, na impossibilidade de identificação precisa do subtipo molecular, utilizando estudos genómicos como o PAM50, MammaPrint ou outros, utiliza-se como «substituto» a avaliação por imunocitoquímica de 4 biomarcadores (IHC4): RE, RPg, HER2, e Ki67. A distinção de tumores luminal A-like e luminal B-like baseia-se no índice proliferativo avaliado pelo Ki67 com um cut-off de 14-20%, isto é, baixo índice proliferativo para valores inferiores a 14%, a que correspondem os tumores luminal A e alto índice proliferativo (≥ 20%) nos tumores luminal B. A importância do RPg na distinção entre os dois subtipos de cancro da mama foi confirmada, pela associação a pior prognóstico à expressão de RPg < 20%. O cancro da mama luminal A-like, associado ao melhor prognóstico, é definido pela expressão de RE, Ki67 < 14% e RPg ≥ 20%1. A expressão de RPg contribui para caracterizar o grupo com Ki67 intermédio, entre 14 e 19%, em luminal A-like (RPg ≥ 20%) ou luminal B-like (RPg < 20%)2. A distinção entre cancro da mama luminal A e luminal B é importante. Apesar de partilharem a expressão de RE, marcador de sensibilidade à terapêutica endócrina, apresentam evoluções clínicas e prognósticos distintos, o que obriga a uma adequação do tratamento. Os estudos genómicos, como a avaliação de 21 genes pelo OncotypeDX ou de 70 genes pelo MammaPrint, permitem a discriminação dos cancros da mama tipo luminal, relativamente ao risco de recorrência: a maioria dos tumores luminal A são classificados como de «baixo risco genómico», enquanto que os tumores luminal B são mais frequentemente classificados como de «alto risco». Na prática, o cancro da mama luminal B apresenta maior risco de recorrência nos primeiros cinco anos após o diagnóstico comparativamente ao cancro da mama luminal A, com menor número de recidivas e mais tardias. HÁ INDICAÇÃO PARA QUIMIOTERAPIA ADJUVANTE NO CANCRO DA MAMA LUMINAL/HER2 NEGATIVO? O cancro da mama luminal caracteriza-se pela sensibilidade à terapêutica endócrina (TE), que está preconizada sempre que haja «positividade» para RH definida por: expressão de RE e/ou RPg ≥ 1%. Mesmo o cancro da mama luminal B, com menor expressão de RH e maior índice proliferativo, apresenta benefício com tratamento adjuvante com agente hormonal. O benefício da quimioterapia (QT) adjuvante na diminuição da recorrência e na melhoria da sobrevivência global (SG), foi evidente para o cancro da mama, independentemente do subgrupo, na Oxford Worldwide Overview of early breast cancer trials, conduzido pelo Early Breast Cancer Trialists Collaborative Group (EBCTG). No entanto, especificamente para os tumores luminais, foi acumulada evidência de que um subgrupo 100 perguntas chave no Cancro da Mama 43 N. Afonso de doentes não apresenta benefício adicional com a QT comparativamente à TE isolada. A controvérsia reside em identificar as doentes, com cancro da mama luminal/HER2 negativo, que poderão beneficiar ou não de QT adjuvante, com base em características que condicionam o risco de recorrência. O recurso a algoritmos de decisão, como o Adjuvant! Online permite estimar o risco de recorrência aos 10 anos, a SG e o benefício absoluto da TE e da QT, sendo útil na decisão terapêutica com base nas características individuais da doente. No entanto, este algoritmo tem limitações: baseia-se em dados históricos, com assimetrias no tratamento e não considera a expressão HER2. Especificamente no cancro da mama luminal/HER2 negativo e sem envolvimento ganglionar (N0) a avaliação genómica, entre outras, pelo Oncotype DX ou pelo MammaPrint, permite identificar doentes de «alto risco de recorrência» que têm maior probabilidade de beneficiar com QT adjuvante. A avaliação genómica em tumores luminal/ HER2 negativo que apresentam envolvimento ganglionar limitado (um a três gânglios) e a sua aplicação na decisão terapêutica é ainda controversa, e está a ser avaliada no estudo MINDACT para o MammaPrint e no RxPONDER para o Oncotype Dx. A indicação para QT no subtipo luminal A é muito questionável. Efetivamente, o benefício absoluto da QT nestes tumores, com forte expressão de RE e baixo índice proliferativo, pode ser insuficiente para justificar este tratamento, dado o excelente prognóstico associado aos casos tratados apenas com TE e tendo em consideração o aumento de toxicidade pela QT. A maioria dos estudos aponta para que a sensibilidade à QT esteja mais relacionada com o fenótipo do tumor do que com fatores anatómicos. Concretamente, são os tumores luminal A os que apresentam menor taxa de resposta patológica completa com QT neoadjuvante e menor benefício com a associação de taxano ao esquema à base de antraciclina. Apesar da controvérsia, um subgrupo de doentes com cancro da mama luminal A-like continua a ser considerado, na prática clínica, como tendo indicação para QT adjuvante, pela presença de fatores associados a mau prognóstico. Especificamente, tumores luminal A com metastização em 4 ou mais gânglios axilares. Menos controverso é o tratamento com QT do cancro da mama luminal B/ HER2 negativo. Este subgrupo apresenta, comparativamente aos tumores luminal A, maior sensibilidade à QT e maior risco de recorrência após TE isolada. O benefício da QT é ainda superior se se associarem fatores de mau prognóstico: maior dimensão tumoral, metastização ganglionar, invasão linfovascular, grau G3 de diferenciação. Em todos os tumores que apresentam expressão de RH, a decisão de tratamento com QT deve considerar, para além do benefício da associação à TE, os riscos associados ao acréscimo de toxicidade, 44 tendo em conta a idade e comorbilidades da doente, assim como as suas preferências. QUAL O TIPO E DURAÇÃO DA QUIMIOTERAPIA NO CANCRO DA MAMA LUMINAL/HER2 NEGATIVO? Nas doentes com cancro da mama luminal/HER2 negativo com indicação para QT, o esquema e a duração deste tratamento é ainda alvo de discussão. Nos casos que apresentam metastização ganglionar axilar com envolvimento de quatro ou mais gânglios, a decisão de associar QT, com duração de pelo menos seis ciclos, com esquema que inclui antraciclina e taxano (como 5-FU, epirrubicina, ciclofosfamida (FEC) – docetaxel ou adriamicina, ciclofosfamida (AC) – paclitaxel), é mais consensual. Mesmo nestes casos, o benefício da associação de taxano é inferior ao de outros subtipos de cancro da mama. No entanto, o risco aumentado de cardiotoxicidade cumulativa pelo aumento do número de ciclos de QT com esquema à base de antraciclina pode, por si só, justificar a associação de taxano, de forma sequencial de forma a reduzir o número de ciclos de antraciclina e manter a QT num total de seis ciclos. Mais controverso é o tratamento de tumores sem metastização ganglionar ou com menos de quatro gânglios metastizados Para tumores de tipo luminal B, especialmente os que se associam a menor diferenciação celular (G3) e mais elevado índice proliferativo na avaliação por Ki67, mesmo na ausência de metastização ganglionar, a associação de taxano e o aumento do número de ciclos de QT (pelo menos seis) é considerada preferencial. No grupo de doentes tipo luminal A associados a fator de mau prognóstico, nomeadamente invasão ganglionar de três ou menos gânglios, a possibilidade de tratamento com quatro ciclos de QT com esquema AC ou docetaxel, ciclofosfamida (TC) é uma possibilidade. Especificamente, no subgrupo N0 e com expressão de RH, a diferença de benefício entre AC e TC não foi significativa, pelo que a escolha entre um ou outro tratamento poderá ser definida pelo perfil de toxicidade, tendo em conta características particulares da doente. COMO ESCOLHER A TERAPÊUTICA ENDÓCRINA ADJUVANTE NO CANCRO DA MAMA LUMINAL/HER2 NEGATIVO NA DOENTE PRÉ-MENOPÁUSICA? Todas as doentes com cancro da mama luminal são candidatas a TE adjuvante. A escolha do fármaco depende do estado hormonal da doente – pré ou pós-menopausa. Nas doentes pré-menopáusicas o tamoxifeno tem sido o fármaco de eleição, uma vez que os, mais recentes, inibidores da aromatase (IA) não impedem 100 perguntas chave no Cancro da Mama Tratamento sistémico do cancro da mama luminal/HER2 negativo a ação dos estrogénios produzidos pelos ovários. Recentemente, a publicação da avaliação conjunta dos estudos Tamoxifen and Exemestane Trial (TEXT) e Supression of Ovarian Functon Trial (SOFT)4 demonstrou o beneficio da associação de exemestano à supressão ovárica comparativamente à associação tamoxifeno e supressão ovárica, em doentes pré-menopáusicas. O tratamento com exemestano e supressão ovárica permitiu reduzir o risco de recorrência em 28%, com sobrevivência livre de doença aos cinco anos de 92,8% comparativamente a 88,8% no grupo tratado com tamoxifeno e supressão ovárica. Não se verificou deterioração na qualidade de vida das doentes tratadas com o IA e análogo LHRH apesar de maior sintomatologia. Atualmente, esta é uma opção para estas doentes, particularmente se estão associados fatores de maior risco de recorrência (maior dimensão, invasão ganglionar axilar, G3). Uma posterior publicação do estudo SOFT5 não confirmou o benefício da associação da supressão ovárica ao tamoxifeno comparativamente ao tamoxifeno isolado, exceto nas doentes de mais alto risco, que realizaram QT e que se mantiveram pré-menopáusicas. Neste grupo a associação de análogo LHRH ao tamoxifeno teve impacto na sobrevivência livre de doença. Para avaliar o impacto destas diferentes TEs na SG é necessário aguardar por um mais longo follow-up destas doentes. A associação do análogo LHRH deve ter em conta a toxicidade associada. Para um grupo de doentes pré-menopáusicas, de «baixo risco» (tumores pequenos, bem diferenciados, sem envolvimento ganglionar e de baixo índice proliferativo), o tamoxifeno isolado poderá ser a melhor opção. Pelo contrário, em doentes de alto risco, especificamente as candidatas a QT adjuvante, deve ser considerada, com a doente, a associação de supressão ovárica, com análogo LHRH a manter durante cinco anos. A escolha entre exemestano e tamoxifeno deve ter em conta, para além da recente evidência do potencial superior beneficio do IA, o perfil de toxicidade de cada fármaco, as características e preferências da doente. COMO ESCOLHER A TERAPÊUTICA ENDÓCRINA ADJUVANTE NO CANCRO DA MAMA LUMINAL/HER2 NEGATIVO NA DOENTE PÓS-MENOPÁUSICA? Nas doentes pós-menopáusicas o benefício de incluir um IA durante a TE adjuvante está claramente estabelecido. As características particulares da doente que condicionam maior risco de toxicidade de um ou outro fármaco podem justificar a opção de iniciar o tratamento por tamoxifeno ou por IA. Destaca-se da toxicidade ao tamoxifeno o aumento do risco de intercorrências de tipo vascular (tromboembólicas) e o aumento de neoplasias do endométrio, enquanto que os IAs aumentam o risco de perda de massa óssea/osteoporose. A introdução de IA sequencialmente, após 2-3 anos de tratamento inicial com tamoxifeno, permite um equilíbrio entre os efeitos laterais dos dois fármacos e demonstrou aumento da eficácia do tratamento comparativamente aos cinco anos de tamoxifeno. Outra alternativa, baseada no estudo BIG 1-98, é alterar esta sequência e iniciar a terapêutica com IA (especificamente letrozol) e após 2-3 anos de tratamento alterar para tamoxifeno até completar os cinco anos de tratamento. Esta alteração da sequência baseia-se no facto de se esperar maior probabilidade de recorrência nos primeiros anos após o diagnóstico pelo que seria de utilizar o fármaco considerado mais eficaz no início do tratamento. A opção por manter IA durante todo o período de tratamento de cinco anos fica reservada para as doentes consideradas de «elevado risco» (doentes com cancro da mama localmente avançado/inflamatório ao diagnóstico, com metastização ganglionar extensa, muito elevado índice proliferativo). Apesar da evidência de benefício na sobrevivência livre de doença (SLD) com IA, este benefício apenas foi ligeiramente evidente ao nível da SG nos tumores com metastização ganglionar. Desta forma, qualquer uma das estratégias de inclusão de IA é aceitável. Nenhum dos IAs – anastrozol, letrozol ou exemestano –, apresentou maior benefício comparativamente aos restantes. Em doentes pós-menopáusicas com cancro da mama luminal/HER2 negativo de «baixo risco» a possibilidade de tratamento com tamoxifeno é também uma possibilidade, à semelhança das doentes pré-menopáusicas. QUAL A DURAÇÃO ÓTIMA DA TERAPÊUTICA ENDÓCRINA ADJUVANTE 5 OU 10 ANOS? Está claramente estabelecido o benefício, com redução significativa da mortalidade por cancro da mama, da TE adjuvante durante cinco anos. O estudo M-17 avaliou a possibilidade de manter o tratamento durante 10 anos, especificamente tamoxifeno durante cinco anos e IA (letrozol) nos cinco anos seguintes. O beneficio da extensão da TE na SLP e na SG foi aparente no subgrupo com maior risco de recorrência, especificamente nas doentes que apresentavam metastização ganglionar axilar. Nas doentes que, sendo pré-menopáusicas ao diagnóstico, se encontravam em pós-menopausa após os cinco anos de tratamento com tamoxifeno, o benefício era aparente também nos casos sem envolvimento ganglionar axilar. Mais recentemente foram apresentados os resultados do estudo Adjuvant Tamoxifen Long Against Shorter (ATLAS)6 e adjuvant Tamoxifen To offer more (aTTom)6 que incluíram 100 perguntas chave no Cancro da Mama 45 N. Afonso em conjunto mais de 12.000 doentes e avaliaram a extensão do tratamento com tamoxifeno durante 10 anos. O benefício, na SLD e na SG, era evidente 15 anos após o diagnóstico e era aparente para todos os subgrupos de doentes. De momento não é possível discriminar quais os doentes que irão beneficiar desta extensão da TE, poupando os restantes a um prolongamento do tempo de tratamento com aumento do risco de toxicidade sem impacto no prognóstico. No subgrupo de doentes que iniciam tratamento com IA não há, de momento, evidência de benefício nem de segurança para manter o tratamento para além dos cinco anos. A possibilidade de manter o IA durante cinco anos após 2-3 anos de tamoxifeno, prolongando a terapêutica endócrina para 7-8 anos foi considerada na última atualização das guidelines da American Society of Clinical Oncology (ASCO) e tem por base a evidência de benefício em prolongar o tratamento hormonal para além dos cinco anos e a segurança e benefício de manter o IA durante um período máximo de cinco anos. Actualmente, a opção em prolongar a TE para além dos 5 cinco anos deve ser individualizada, tendo em conta o risco de recorrência previsível após os cinco anos de TE e a potencial toxicidade decorrente do fármaco utilizado em extensão: IA (nomeadamente perda de massa óssea, alterações hormonais e perturbações cognitivas) ou tamoxifeno (aumento do risco de fenómenos tromboembólicos e de carcinoma do endométrio). TRATAMENTO DO CANCRO DA MAMA METASTÁTICO LUMINAL/HER2 NEGATIVO Que opções terapêuticas no cancro da mama luminal/HER2 negativo metastático? A metastização do carcinoma luminal/HER2 negativo é mais frequente para o osso mas pode envolver órgãos viscerais. A biópsia de uma das lesões suspeitas é útil para confirmar a origem metastática, particularmente quando ocorre tardiamente, o que é frequente neste tipo de cancro da mama. Por outro lado, permite a repetição da pesquisa na metástase de biomarcadores por imunocitoquímica, especificamente RH e HER2. Pode ocorrer a negativação de RH, o que é mais frequente para o RPg, e que sugere resistência à TE apesar da heterogeneidade tumoral explicar a existência de diferentes clones tumorais. A alteração do fenótipo para HER2 positivo é menos frequente mas pode associar-se a maior agressividade tumoral, e justifica a associação de terapêutica anti-HER2. Nas doentes que apresentam estas alterações de fenótipo na metástase, a opção de primeiro tratamento paliativo é a QT 46 associada a tratamento anti-HER2. Também para as doentes que apresentam envolvimento visceral extenso e/ou sintomático, geralmente designado por «crise visceral», em que se pretende um rápido controlo da doença, a QT deve ser a primeira opção. No entanto, na grande maioria das doentes, a opção para tratamento paliativo de 1.ª linha é a TE, dada a eficácia neste tipo de tumores, hormonossensíveis, associada à boa tolerância comparativamente à QT. A escolha do fármaco depende do tratamento realizado em tratamento adjuvante e do tempo desde a sua suspensão, caso já esteja concluído, e ainda do estado hormonal da doente. Na doente em pós-menopausa a 1.ª opção é o IA não-esteroide (anastrozol ou letrozol). No entanto, dado o cada vez maior número de doentes a realizar IA não-esteroide em contexto adjuvante, esta não é opção para as doentes a quem é diagnosticada metastização durante o tratamento com este fármaco ou no 1.º ano após a sua suspensão. Neste grupo, outros fármacos, como o IA esteroide (exemestano), o fulvestrant ou o tamoxifeno, devem ser considerados. Nas doentes pré-menopáusicas também o tratamento prévio deve ser considerado na decisão para escolha de 1.ª linha paliativa. A 1.ª opção poderá ser o tamoxifeno ou IA associado a análogo LHRH. Neste grupo de doentes a opção por ooforectomia poderá ser considerada, dada a necessidade de manter o estado pós-menopausa para instituir terapêuticas hormonais posteriores. A apresentação recente dos resultados do estudo de fase II Fulvestrant fIRst-line Study comparing endocrine Treatments (FIRST)7 sugerem a superioridade da terapêutica endócrina com fulvestrant comparativamente ao IA não-esteroide (anastrozol) em 1.a linha de TE, com melhoria significativa da sobrevivência livre de progressão (SLP) e da SG7. A confirmarem-se esses resultados num estudo de fase III poderá justificar-se a revisão da 1.ª opção de tratamento paliativo em doentes hormonossensíveis. QUAL A MELHOR SEQUÊNCIA PARA A TERAPÊUTICA ENDÓCRINA NO CANCRO DA MAMA LUMINAL/ HER2 NEGATIVO METASTÁTICO? Após ocorrer progressão de doença sob TE de 1.ª linha a possibilidade de alterar o tratamento para outro agente hormonal é uma opção legítima, mas deve ter em conta fatores semelhantes aos considerados na escolha da 1.ª linha de tratamento, tais como a presença de «crise visceral» e o tempo desde o início da TE e a progressão da doença8. A percepção clínica de resistência à TE pode justificar a alteração do tratamento para QT. Mais frequentemente recomendada é a manipulação da TE. Embora não esteja estabelecida a melhor sequência de tratamento, a frequente 100 perguntas chave no Cancro da Mama Tratamento sistémico do cancro da mama luminal/HER2 negativo utilização de IA não-esteroide em 1.ª linha condiciona a escolha de IA esteroide ou fulvestrant em 2.ª linha, e o outro fármaco numa futura progressão. Não se tendo verificado superioridade de um destes tratamentos relativamente ao outro, não é possível estabelecer uma sequência baseada na maior eficácia. O tamoxifeno e o acetato de megestrol são também opções a considerar numa TE posterior. O número de linhas de TE permitidas previamente à alteração do tratamento para QT também não está definido. Apesar de algumas guidelines3 sugerirem a realização de três linhas de TE antes da alteração para QT, recomenda-se a reavaliação da situação clínica em cada ponto de progressão da doença para decisão individualizada. A combinação de duas terapêuticas endócrinas – especificamente fulvestrant e anastrozol – revelou resultados dispares em dois estudos, pelo que, de momento, não é recomendada, sendo preferível a utilização sequencial dos vários fármacos disponíveis. A associação de exemestano ao everolimus após progressão sob anastrozol/letrozol revelou-se superior ao exemestano em monoterapia relativamente à SLP e já está estabelecida na prática clínica. COMO DEFINIR A RESISTÊNCIA À TERAPÊUTICA ENDÓCRINA NO CANCRO DA MAMA LUMINAL/HER2 NEGATIVO? Apesar da expressão de RH no cancro da mama, algumas doentes não apresentam resposta à TE e as restantes, após um período de resposta, mais ou menos longo, acabam por desenvolver resistência ao tratamento. Em termos práticos, define-se resistência primária ou intrínseca como a que ocorre no 1.º ou, dependendo da definição, até aos 2 anos, de TE adjuvante ou no 1.º ano após suspensão do tratamento ou nos primeiros seis meses de TE paliativa, e resistência secundária ou adquirida a que surge após estes períodos. A perda de expressão de RH na metástase (mais frequentemente a perda do RPg) e vários mecanismos moleculares têm sido envolvidos na resistência à TE entre os quais: a concomitância de sobre-expressão HER2, EGFR, IGFR, mutações do RE, e activação da via PI3K/AKT/mTOR. Esta última particularmente importante por ter levado ao desenvolvimento de terapêuticas dirigidas a alvos que permitem reverter a resistência à TE, nomeadamente através da inibição mTOR. A resistência a uma TE específica não impede que haja resposta a um tratamento endócrino subsequente com um novo fármaco, embora esta tenha tendência para ser menos expressiva e/ou duradoira. Este facto justificou a investigação dos mecanismos de resistência à TE, e paralelamente, ao desenvolvimento de fármacos que restaurassem a sensibilidade à TE ou potenciassem a sua eficácia. QUE NOVOS FÁRMACOS NA PRÁTICA CLÍNICA PARA DOENTES COM CANCRO DA MAMA LUMINAL/HER2 NEGATIVO? Recentemente foram introduzidos na prática clínica fármacos inibidores da via mTor com o objetivo de «restaurar» a sensibilidade à TE. O estudo Horizon falhou em demonstrar aumento do benefício com a associação do inibidor mTOR, temsirolimus, ao letrozol em 1.ª linha de tratamento paliativo. Posteriormente, dois estudos com outro inibidor mTOR, everolimus, – o TAMRAD, estudo de fase II em associação com o tamoxifeno, e o BOLERO-29, estudo de fase III em associação com o exemestano, ambos após progressão de doença sob TE prévia com IA não-esteroide (anastrozol ou letrozol) – demonstraram benefício da associação ao everolimus em termos de SLP. O estudo TAMRAD evidenciou também vantagem estatisticamente significativa na SG para a terapêutica combinada. A diferença entre os resultados em 1.ª linha e em linhas posteriores em doentes resistentes a TE prévia, poderá dever-se à utilização, nos estudos, de diferentes fármacos inibidores do mTOR. Outra possibilidade é a inibição mTOR só ser benéfica para doentes que já apresentem resistência a TE prévia. Aguardam-se os resultados do estudo BOLERO-4 que avalia a associação do letrozol ao everolimus em 1.ª linha paliativa. Com base nos resultados do estudo BOLERO-2 o everolimus foi introduzido na prática clínica em associação ao exemestano, em doentes que apresentam progressão de doença após tratamento com anastrozol ou letrozol. Esta associação leva a um aumento da toxicidade comparativamente à TE isolada, destacando-se, pela gravidade: pneumonite, estomatite, alterações metabólicas (hiperglicemia e dislipidemia). Desta forma, a opção pela associação de everolimus ao exemestano, deve ter em conta, não apenas o aumento do benefício, mas também o potencial incremento de toxicidade. Um outro fármaco utilizado em associação à TE introduzido recentemente na prática clínica é o palbociclib que leva à inibição CDK4/6, citoquinas envolvidas na proliferação e sobrevivência celular. A associação em 1.ª linha com letrozol, avaliada no estudo de fase II – PALOMA1/ TRIO 1810 – demonstrou aumento da SLP de forma estatisticamente significativa o que levou à aprovação condicionada pela Food and Drug Administration (FDA) e pela European Medicines Agency (EMA), aguardando-se a confirmação dos resultados pelo estudo de fase III na mesma população. Recentemente na ASCO 2015, o estudo PALOMA3, no cancro da mama resistente à TE, mostrou um aumento significativo da SLP (de 3,8 para 9,2 meses) com melhoria de qualidade de vida com a associação fulvestrant/palbociclib comparativamente ao fulvestrant em monoterapia e é, assim, uma 100 perguntas chave no Cancro da Mama 47 N. Afonso nova opção de tratamento para estes doentes11. O palbociclib está associado a toxicidade como: alterações hematológicas e astenia. A associação destes fármacos a outras TE, em várias linhas de tratamento paliativo e em contexto adjuvante, está a ser avaliada em vários ensaios clínicos. BIBLIOGRAFIA 1.Prat A Cheang MC, Martín M, et al. Prognostic significance of progesterone receptor-positive tumor cells within immunohistochemically defined luminal A breast cancer. J Clin Oncol. 2013;31(2):203-9. 2. Maisonneuve P, Disalvatore D, Rotmensz N, et al. Proposed new clinicopathological surrogate definitions of luminal A and luminal B (HER2-negative) intrinsic breast cancer subtypes. Breast Cancer Research. 2014;16:R65. 3.Burstein HJ, Temin S, Anderson H, et al. Adjuvant Endocrine Therapy for Women With Hormone Receptor–Positive Breast Cancer: American Society of Clinical Oncology Clinical Practice Guideline Focused Update. J Clin Oncol. 2014;32(21):225569. 4.Pagani O, Regan MM, Walley BA, et al. Adjuvant Exemestane with Ovarian Suppression in Premenopausal Breast Cancer. N Engl J Med. 2014;371(2):107-18. 48 5.Prudence A, Francis MD, Regan MM, et al. Adjuvant Ovarian Suppression in Premenopausal Breast Cancer. N Engl J Med. 2015;372:436-46. 6. Davies C, Pan H, Godwin J, et al. Long-term effects of continuing adjuvant tamoxifen to 10 years versus stopping at 5 years after diagnosis of oestrogen receptor-positive breast cancer: ATLAS, a randomised trial. Lancet. 2013;381:805-16. 7. Robertson JFR, Llombart-Cussac A, Feltl D, et al. Fulvestrant 500 mg versus anastrozole as first-line treatment for advanced breast cancer: Overall survival from the phase II “first” study. San Antonio Breast Cancer Symposium. San Antonio, Texas. December 9-13 2014;Abstract S6-04. 8.Cardoso F, Costa A, Norton L, et al. ESO-ESMO 2nd international consensus guidelines for advanced breast cancer (ABC2) Annals of Oncology. 2014;00:1-18. 9. André F, O’Regan R, Ozguroglu M, et al. Everolimus for women with trastuzumab-resistant, HER2-positive, advanced breast cancer (BOLERO-3): a randomised, double-blind, placebo-controlled phase 3 trial. May 2014;15:6:580-91. 10. Finn RS, Crown JP, Lang I, et al. The cyclin-dependent kinase 4/6 inhibitor palbociclib in combination with letrozole versus letrozole alone as first-line treatment of oestrogen receptor-positive, HER2-negative, advanced breast cancer (PALOMA-1/TRIO-18): a randomised phase 2 study. Lancet Oncol. 2015;16(1):25-35.. 11. Turner NC, Ro J, André F, et al. Palbociclib in Hormone-ReceptorPositive Advanced Breast Cancer. N Engl J Med. 2015 Jun 1. [Epub ahead of print] 100 perguntas chave no Cancro da Mama Capítulo 8 O osso como alvo no tratamento do cancro da mama A.R. Ferreira, C. Pulido e L. Costa QUAL O MECANISMO DE AÇÃO DOS AGENTES MODIFICADORES DA REMODELAÇÃO ÓSSEA? Os agentes modificadores da remodelação óssea (AMRO), isto é, os bifosfonatos (BP) e o denosumab, atuam mediante a inibição da atividade osteoclástica, desta forma reduzindo a reabsorção óssea e aumentando a mineralização da matriz (Fig. 1)1. Os BP são análogos sintéticos do pirofosfato, em que um átomo de carbono substitui o oxigénio central. As cadeias laterais do carbono central, R1 e R2, conferem aos BP a sua afinidade para a hidroxiapatite (o principal mineral ósseo) e a sua potência. Reconhecem-se duas classes de BP: –Não-nitrogenados (clodronato, etidronato e tiludronato) – são metabolizados pelos osteoclastos a compostos que substituem o pirofosfato da molécula de trifosfato de adenosina (ATP), competindo assim com o ATP no metabolismo energético do osteoclasto e desencadeando a sua apoptose; concomitantemente, comprometem a diferenciação e a maturação do osteoclasto. – Nitrogenados (alendronato, ibandronato, pamidronato, risendronato e zolendronato) – agem primariamente através da inibição da farnesil pirofosfato sintase (FPPS), enzima principal da via do mevalonato. A sua inibição interrompe a prenilação proteica, promovendo alterações citoesqueléticas nos osteoclastos e o seu destacamento do perímetro ósseo. Em modelos pré-clínicos, demonstrou-se que os BP também influenciam os macrófagos, as células T gama delta, os osteoblastos e as células tumorais, nomeadamente, podendo apresentar efeitos anti-tumorais e/ou anti-angiogénicos, embora esta permaneça uma área controversa2,3. Já o denosumab é um anticorpo monoclonal sintético e totalmente humano, com afinidade para o ligando do recetor ativador do fator nuclear kappa (RANKL)4. O RANKL é secretado pelos osteoblastos e ativa os precursores osteoclásticos e, consequentemente, a osteólise, promove a libertação de fatores de crescimento derivados do osso, como o insulin-like growth factor 1 (IGF-1) e o fator de crescimento transformador (TGF-b), e o aumento da calcemia (Fig. 1)5. Pensa-se que a expressão de RANKL no osso possa contribuir para o desenvolvimento de metástases ósseas por ligação ao recetor do RANK na superfície das células tumorais6,7. Quando o denosumab se liga ao RANKL, bloqueia a interação entre o RANKL e o RANK, prevenindo a formação de osteoclastos, levando à diminuição da absorção óssea e ao aumento da massa óssea. QUAIS AS INDICAÇÕES E QUANDO INICIAR OS AGENTES MODIFICADORES DA REMODELAÇÃO ÓSSEA PARA REDUÇÃO DO RISCO DE EVENTOS ÓSSEOS? Os AMRO devem ser iniciados em doentes com cancro da mama e evidência de metastização óssea. O início da terapia deve ser aquando da identificação da metastização óssea8. Para documentar metastização óssea, é evidência bastante a identificação de destruição óssea em cintigrafia óssea quando posteriormente confirmada radiograficamente, quer seja por tomografia computorizada (TC), ressonância magnética (RM) ou radiografia simples. Alterações em radiografia não são, assim, essenciais para início de terapêutica. Por outro lado, em doentes com alterações em cintigrafia que não apresentem tradução em radiografia, TC ou RM não é recomendado o início de AMRO fora do âmbito de ensaio clínico. 100 perguntas chave no Cancro da Mama 49 A.R. Ferreira, et al. (3) Mama Denosumab (2) (A) (1) (4) Osso Célula tumoral primária Célula tumoral metastática Osteoclasto RANK Osteoblasto RANKL Osteócito Bifosfonatos (A) Células tumorais expressam moléculas que facilitam intravasão, migração, invasão, angiogénese e adesão (por ex.: CXCR4; RANK; integrina avβ3; metaloproteinases; catepsina K) (1) Fatores de crescimento derivados das células tumorais estimulam a reabsorção óssea (PTHrP; TGF-β; IL-1,6,8,11; PGE2; EGF; TNF-α) (2) PTHrP estimula a produção de RANKL pelos osteoblastos (3) Fatores derivados do tumor interferem com a formação óssea (ET-1; PDGF; VEGF; DKKl; BMP; IGF) (4) Fatores de crescimento derivados da matriz óssea estimulam o crescimento das células tumorais (IGF; TGF-β; PDGF; BMP; CXCL12) Figura 1. Interação entre células tumorais e células do osso. Salientados os locais de ação dos BP e denosumab (imagem gentilmente cedida por Irina Alho, PhD). QUAL O PAPEL DOS AGENTES MODIFICADORES DA REMODELAÇÃO ÓSSEA NO CONTROLO DE SINTOMAS EM DOENTES COM DOENÇA ÓSSEA METASTÁTICA? Os AMRO são agentes eficazes na abordagem multimodal da dor óssea associada à metastização óssea. Os BP, quando comparados com placebo, demonstraram reduzir modestamente a dor secundária à metastização óssea, quando avaliada pela intensidade da dor óssea reportada e pela analgesia consumida9-11. Adicionalmente, em ensaio clínico com doentes que à inclusão não apresentavam dor ou apresentavam dor ligeira, verificou-se um atraso de quatro meses na progressão para dor moderada/grave com a utilização de denosumab quando comparado com ácido zoledrónico (AZ)12. Além do mais, uma proporção menor de doentes a receber denosumab reportou agravamento clinicamente significativo da dor. Finalmente, uma proporção maior de doentes sob denosumab reportaram melhorias na qualidade de vida, independentemente do nível basal de dor13. 50 Por este motivo, os AMRO devem ser considerados adjuvantes no tratamento padrão da dor, em associação a anti-inflamatórios não-esteroides, outros analgésicos não opioides e/ou opioides, corticosteroides, agentes adjuvantes, radiofármacos e/ou procedimentos de intervenção, radioterapia e cirurgia8. O denosumab poderá apresentar vantagens quando comparado com o AZ. QUAL É A DOSE, FREQUÊNCIA E A DURAÇÃO IDEAL DO TRATAMENTO COM AGENTES MODIFICADORES DA REMODELAÇÃO ÓSSEA EM METÁSTASES ÓSSEAS? Os principais ensaios com AMRO em doentes com metástases ósseas estabeleceram as seguintes posologias: – Ácido zoledrónico 4 mg IV (em pelo menos 15 min) a cada 3-4 semanas. – Denosumab 120 mg SC a cada 4 semanas. – Pamidronato 90 mg IV (em pelo menos 2 h) a cada 3-4 semanas. – Ibandronato 50 mg PO por dia. 100 perguntas chave no Cancro da Mama O osso como alvo no tratamento do cancro da mama No caso dos BP, o intervalo destas administrações tem sido questionado, dado por um lado a ação prolongada destes fármacos que se acumulam na matriz óssea, e por outro, o receio de efeitos adversos a longo prazo (como por ex.: osteonecrose da mandíbula) em doentes que apresentam sobrevivências crescentes. Uma estratégia alternativa de dosagem passa pela administração de AZ a cada 12 semanas após um ano de terapia com posologia convencional. A este respeito, o estudo ZOOM, com um acompanhamento mediano de aproximadamente um ano demonstrou a não-inferioridade do tratamento a cada 12 semanas quando comparado com tratamento a cada quatro semanas em doentes com cancro da mama já tratados com posologia convencional por aproximadamente um ano (taxa de morbilidade esquelética de 0,26 [IC 95%: 0,15-0,37] vs. 0,22 [IC 95%: 0,14-0,29] no grupo tratado a cada quatro semanas)14. Um segundo estudo (OPTIMIZE-2) testou esta mesma estratégia, demonstrando resultados semelhantes entre braços em termos de taxa de eventos esqueléticos (23,2 vs. 22% no grupo tratado a cada quatro semanas; p = 0,724) e taxa de morbilidade esquelética (0,50 vs. 0,46 no grupo tratado a cada quatro semanas; p = 0,854)15. Em relação à duração total do tratamento, a maioria dos estudos apresentaram acompanhamentos de dois a três anos. Porém, não há um fundamento claro para a suspensão destas terapias após determinado tempo de tratamento. A este respeito, normas de orientação clínica recentes da European Society of Medical Oncology (ESMO) e American Society of Clinical Oncology (ASCO) sugerem a manutenção da terapia até declínio substancial do estado geral do doente ou mesmo indefinidamente8,16. QUAIS OS TRATAMENTOS ADJUVANTES DO CANCRO DA MAMA QUE LEVAM A REDUÇÃO DA DENSIDADE MINERAL ÓSSEA? As terapias adjuvantes do cancro da mama interferem frequentemente na densidade mineral óssea (DMO), quer diretamente pelo uso de agentes anti-estrogénicos (inibidores da aromatase [IA], supressão/ ablação ovárica e tamoxifeno) quer pela falência ovárica após tratamento com quimioterapia. Adicionalmente, terapias de suporte, como corticoides, aumentam o risco de perda óssea. A perda mineral óssea está associada em determinadas circunstâncias ao aumento do risco de fratura e, portanto, morbi-mortalidade, perda de autonomia e custos em saúde. Mulheres pré-menopáusicas com falência ovárica pós quimioterapia adjuvante têm perdas rápidas e significativas da DMO, mais claras ao nível da coluna lombar: aos seis meses –4,0% (variando de –10,4 a –1,0) e 12 meses –3,7 (variando de –10,1 a –9,2)17. Nas mulheres pré-menopáusicas sem falência ovárica após quimioterapia não é aparente risco aumentado de perda óssea por si, porém o tratamento com tamoxifeno ou com agonistas da hormona libertadora da hormona luteinizante (LHRH) leva a perdas ósseas significativas18-20. No grupo específico de mulheres pós-menopáusicas, o estudo observacional Women’s Health Initiative demonstrou um aumento de 15% do risco de fraturas ósseas nas mulheres tratadas por cancro da mama19. A quimioterapia e o tratamento com IA aparentam estar associados a perdas ósseas significativas neste grupo, mas a terapia com tamoxifeno, na pós-menopausa, pode conduzir a aumento da DMO21-23. Outros fatores que agravam o risco de osteopénia/osteoporose são: idade avançada, sexo feminino, história de fratura patológica (por ex.: fratura ao nível do rádio distal, colo do fémur ou fratura de compressão), baixo índice de massa corporal (IMC), tabagismo e consumo de álcool. COMO PREVENIR A PERDA DE DENSIDADE MINERAL ÓSSEA ASSOCIADA À TERAPIA ADJUVANTE DE CANCRO DA MAMA? A perda da DMO pode ser combatida por medidas não farmacológicas, como exercício físico com carga, reforço dietético de cálcio e vitamina D, suspensão de hábitos tabágicos e moderação de consumo de álcool; mas também por medidas farmacológicas, como suplementação em cálcio e vitamina D (consumo alvo na dieta diária de 1.200 mg de cálcio elementar e 800 unidades internacionais de vitamina D) e tratamento com AMRO (BP ou denosumab)24. Porém nem todas as mulheres carecem de terapia farmacológica. Atualmente recomendam-se estratégias não farmacológicas e suplementação com cálcio e vitamina D para todas as mulheres sob risco acrescido de perda óssea associada ao tratamento do cancro8,24. Porém, estudos recentes fora da área oncológica têm questionado o papel da suplementação com cálcio em doentes que têm uma dieta equilibrada, dado eventuais riscos cardiovasculares acrescidos. Estratégias farmacológicas à base de BP ou denosumab devem ser reservadas para mulheres com: a) DMO avaliada por osteodensitometria como T-score ≤ –2,0 (coluna lombar, colo do fémur ou bacia), b) risco de fratura aos 10 anos (avaliado pelo score FRAX) do colo do fémur ≥ 3,0% ou outras fraturas osteoporóticas major ≥ 20%, ou c) associação de dois dos seguintes critérios: idade > 65 anos, T-score < –1,5, tabagismo, IMC < 24, história familiar de fratura da colo do fémur, história de fratura patológica após 50 anos e tratamento com 100 perguntas chave no Cancro da Mama 51 A.R. Ferreira, et al. corticoides por > 6 meses8,24. Além das regras anteriores, quando a doente se encontra sob tratamento com IA, todas aquelas com > 75 anos ou com T-score < −1,5 e pelo menos um fator de risco clínico ou T-score < −1,0 e dois ou mais fatores de risco clínico deverão receber terapia farmacológica25. As terapias farmacológicas devem ser reavaliadas aos três a cinco anos ou assim que o agressor seja suspenso. Os tratamentos recomendados são: – Ácido zoledrónico 4 mg IV a cada seis meses. –Alendronato 70 mg ou risedronato 35 mg oral semanal. – Ibandronato 150 mg oral mensal. – Denosumab 60 mg SC a cada seis meses. Após avaliação da DMO basal, está recomendada a realização de densitometria óssea a cada dois anos (ou um no caso de mudança major de fatores de risco). A eficácia dos agentes selecionados está sustentada em alguns estudos que discutimos de seguida. Nos estudos Z-FAST e ZO-FAST mulheres pós-menopáusicas a receber IA como terapia adjuvante foram aleatorizadas para receber AZ 4 mg a cada seis meses desde o início da terapia ou só aquando de fratura ou queda significativa da DMO durante o estudo26,27. Após cinco anos de acompanhamento, a variação média da DMO ao nível da coluna lombar foi significativamente positiva no grupo sob AZ desde o início (+8,9% de diferença de médias de DMO no estudo Z-FAST e variação de +4,3 vs. −5,4% no estudo ZO-FAST, ambas a favor de introdução precoce de AZ). O estudo Z-FAST testou ainda a frequência relativa de fraturas, não identificando diferenças significativas entre os grupos. Outros estudos testaram BP orais (ibandronato, risedronato e clodronato) em mulheres pós-menopáusicas sob hormonoterapia e com diferentes graus basais de DMO, tendo-se registado aumentos consistentes da DMO28-30. Também em doentes pós-menopáusicas sob hormonoterapia o tratamento com denosumab a cada seis meses daquelas com osteopénia trouxe um aumento da DMO da coluna lombar aos 12 e 24 meses de 5,5 e 7,6%, respetivamente. Em mulheres pré-menopáusicas o tratamento com AZ daquelas com falência ovárica pós quimioterapia adjuvante também trouxe melhoria da DMO (variação percentual média ao um ano +1,2 vs. –6,7%), porém não é claro o benefício em termos de fraturas31. Pelo contrário, o tratamento com risedronato independentemente do estado funcional ovárico não aparenta trazer benefícios na DMO32. QUAL O PAPEL DOS BIFOSFONATOS NO TRATAMENTO ADJUVANTE DE CANCRO DA MAMA? Estudos pré-clínicos apontam para uma atividade antitumoral dos BP. Alguns dos mecanismos propostos 52 passam quer por uma ação citotóxica direta nas células tumorais quer por uma ação indireta, nomeadamente anti-angiogénica ou por via da ativação do sistema imune33. Clinicamente, a evidência de atividade antitumoral é menos clara, e aparenta restringir-se a doentes com tumores hormonossensíveis num ambiente pobre em estrogénios (pós-menopausa ou sob supressão ovárica) e tratadas com AZ34. De facto, as normas de orientação clínica atualmente disponíveis não são consistentes face ao uso de BP integrando estratégias de tratamento adjuvante de cancro da mama3,16,24,35. Porém, consensos mais recentes adotam uma posição mais favorável35. Alguns dos estudos que testaram esta questão são discutidos de seguida. O estudo ABCSG-12 testou o uso adjuvante de AZ (4 mg a cada seis meses por três anos) em 1.803 mulheres pré-menopáusicas sob supressão ovárica associada a tamoxifeno ou anastrazol36,37. Na atualização mais recente deste estudo aproximadamente após oito anos de follow-up, o uso de AZ reduziu o risco de recidiva (hazard-ratio [HR]: 0,77; IC 95%: 0,60-0,99; p = 0,042) e mostrou uma tendência para reduzir o risco de morte (HR: 0,66; IC 95%: 0,43-1,02; p = 0,064). Este benefício foi mais claro em doentes com mais de 40 anos, onde quer o risco de recidiva quer de morte foi significativamente menor. Posteriormente, os estudos ZO-FAST e Z-FAST em mulheres pós-menopáusicas (discutidos acima) mostraram resultados discrepantes: enquanto no primeiro o grupo a receber AZ desde o início retirou benefício em termos de recidiva de doença, no segundo ambos os grupos apresentaram desempenhos semelhantes neste outcome26,27. O estudo AZURE aleatorizou 3.360 mulheres (independentemente do estado hormonal) para terapia adjuvante com ou sem AZ (cada 3 a 4 semanas por seis doses e posteriormente a cada 3 a 6 meses até completar 5 anos)38. Neste estudo, após aproximadamente cinco anos de acompanhamento, só mulheres pós-menopáusicas tardias (> 5 anos após menopausa) retiraram benefício do tratamento: redução de 25% do risco de doença invasiva ou morte (HR ajustado: 0,75; IC 95% 0,59-0,96; p = 0,02) e de 26% do risco de morte (HR ajustado: 0,74; IC 95%: 0,55-0,98; p = 0,04). De salientar ainda, o estudo NSABP B-34, que testou o papel de outro BP (clodronato). Neste estudo, que incluiu 3.323 mulheres, após um acompanhamento de aproximadamente 7,5 anos, só aquelas com mais de 50 anos retiram benefício em termos de recidiva (óssea e não óssea), sem um claro benefício em termos de sobrevivência. Finalmente, uma metanálise recente condensou dados ao nível do doente de 18.766 pacientes (mais de 50% pós-menopáusicas) que participaram em vários ensaios comparando tratamento com ou sem BP (ensaios controlados por placebo ou abertos)34. Um benefício significativo de 18% em termos 100 perguntas chave no Cancro da Mama O osso como alvo no tratamento do cancro da mama de sobrevivência global (SG), 18% em termos de recidiva à distância e de 28% em termos de recidiva óssea foi identificado exclusivamente no subgrupo de mulheres pós-menopáusicas. QUAL O MODIFICADOR DA REMODELAÇÃO ÓSSEA MAIS EFICAZ? Quer os BP quer o denosumab são agentes eficazes na redução de eventos esqueléticos (EE), definidos como fratura patológica, síndrome de compressão medular, ou descontrolo sintomático com necessidade de radioterapia ou cirurgia sobre o osso. A eficácia dos BP foi sumarizada numa metanálise por Wong e colegas39. Quando comparados com o placebo, os BP reduziram significativamente o risco de EE em 15% (rate-ratio [RR]: 0,85; IC 95%: 0,77-0,94). Em todos os ensaios incluídos, a redução média de EE foi de 28% (14-48%), associada a aumentos significativos no tempo médio até EE, melhoria da dor óssea e melhoria da qualidade de vida, sem diferença na SG. Ainda assim, ensaios clínicos aleatorizados mostraram consistentemente que o denosumab é mais efetivo que os BP na redução dos EE39,40. Nomeadamente, Stopeck, et al.41, demonstraram num ensaio clínico aleatorizado e duplamente cego comparando denosumab 120 mg subcutâneo (n = 1.026) com AZ 4 mg IV (n = 10.120) em doentes com cancro da mama avançado, ambos a cada quatro semanas, que o denosumab foi superior a atrasar o primeiro evento esquelético (HR: 0,82; IC 95%: 0,71-0,95; p = 0,01). A redução dos marcadores de remodelação óssea foi também superior no braço tratado com denosumab. A SG, taxa de eventos adversos e eventos adversos graves não diferiu nos dois braços. Estes resultados foram confirmados numa metanálise de 2012 que demonstrou que o tratamento com denosumab se relacionou com uma maior redução do risco de EE (RR: 0,78; IC 95%: 0,72-0,85), uma maior redução da taxa de EE e atraso dos EE, bem como um prolongamento do tempo até desenvolvimento de dor óssea em doentes sem dor à entrada no estudo12. A SG foi equivalente com denosumab ou AZ. De mencionar ainda o ibandronato. Este agente quando comparado com o AZ num ensaio clínico aleatorizado com 1.404 doentes não demonstrou não inferioridade na redução do risco global de EE (RR de EE 1,148; IC 95%: 0,967-1,362), mas apenas resultados equivalentes no adiamento do primeiro evento e proporção de doentes com pelo menos um evento42. No entanto, a conveniência decorrente da sua disponibilidade em formulação oral mantém-no como uma alternativa a considerar em doentes com dificuldades de deslocamento ao hospital43. Na prática, as questões de custo e reembolso dos fármacos podem também influenciar a escolha do tratamento, uma vez que o denosumab é significativamente mais dispendioso que o AZ, particularmente considerando a formulação genérica do último. Por outro lado, o denosumab é administrado por via subcutânea e a generalidade do BP por via IV, podendo por isso o denosumab ser mais atrativo, particularmente, para doentes que não estão a realizar outra terapêutica IV. Em contrapartida, a possível administração do AZ a cada 12 semanas após um ano de terapia convencional pode ser mais conveniente (ver discussão abaixo). A opção deve levar ainda em consideração as comorbilidades, fatores de risco para complicações e preferências do doente. Embora haja um corpo de evidência relevante a comparar diferentes AMRO, a preferência relativa no seu uso permanece em aberto. De facto, as normas de orientação clínica mais recentes da ASCO afirmam que a evidência existente atualmente é insuficiente para recomendar um AMRO em detrimento do outro no tratamento da neoplasia da mama com metastização óssea16. Também a ESMO recomenda com um nível de evidência IA a utilização indistinta de BP ou denosumab no tratamento da neoplasia da mama com doença óssea metastática, na medida em que todos os AMRO atrasam as complicações, aliviam os sintomas e melhoram a qualidade de vida, embora reconhecendo que o denosumab é mais eficaz que o AZ na prevenção da morbilidade esquelética dos tumores sólidos (nível de evidência IB)8. QUAIS AS PREOCUPAÇÕES DE SEGURANÇA MAIS IMPORTANTES ANTES DO TRATAMENTO COM AGENTES MODIFICADORES DA REMODELAÇÃO ÓSSEA? As preocupações de segurança mais importantes no tratamento com AMRO prendem-se com os efeitos adversos que mais frequentemente lhes são associados, nomeadamente a lesão renal, os distúrbios hidroeletrolíticos e a osteonecrose da mandíbula. Os BP apresentam eliminação renal, tanto por filtração glomerular como por secreção tubular proximal. O seu uso IV está associado a nefrotoxicidade, especificamente proteinúria nefrótica e insuficiência renal44,45. Lesão renal pré-existente, desidratação grave e uso concomitante de diuréticos e outros nefrotóxicos aumentam o risco de lesão renal. É fundamental, portanto, o ajuste posológico dos BP à taxa de filtração glomerular (TFG) (Quadro 1). A função renal deve ser subsequentemente vigiada. Os BP devem ser suspensos quando se verificar elevação da creatininémia de pelo menos 0,5 mg/dl 100 perguntas chave no Cancro da Mama 53 A.R. Ferreira, et al. acima de um valor basal normal ou pelo menos 1 mg/dl acima de um valor basal já anómalo. O seu reinício deverá ser feito apenas quando a creatininémia retornar a 10% acima do valor basal. Não existe evidência a suportar uma abordagem particular quando a creatininémia não retorna ao valor basal, no entanto, é razoável substituir o BP por denosumab, por não possuir nefrotoxicidade. Já o denosumab é eliminado predominantemente pelo sistema reticuloendotelial, pelo que não existe indicação para monitorização da função renal ou redução da dose durante o tratamento com este agente. No entanto, não foi formalmente estudado em doentes com insuficiência renal grave, exceto num pequeno ensaio com 55 doentes e disfunção renal variável, incluindo 17 doentes com uma taxa de filtração glomerular inferior a 30 ml/min ou necessitando de hemodiálise, que receberam 60 mg de denosumab subcutâneo46; os efeitos adversos renais foram comparáveis àqueles observados nos braços de controlo de ensaios prévios com BP, sem toxicidade renal adicional associada47. A osteonecrose da mandíbula associada aos AMRO é uma forma de necrose avascular relativamente incomum mas potencialmente grave48. Deve ser considerada em doentes sem história de radioterapia sobre a mandíbula ou metastização neste território, que se apresentem com osso exposto ou acessível por fístula extraoral na região maxilofacial a qual persista por mais de oito semanas. O risco é inferior a 2% em doentes tratados com AMRO, sendo ligeiramente mais alto com o denosumab (1,9 vs. 1,3% com AZ nos três ensaios principais; esta diferença não foi estatisticamente significativa)40. O risco aumenta com a duração do tratamento. Considerando a sua elevada morbilidade e dificuldade de tratamento, as normas de orientação clínica de referência enfatizam a prevenção. Todos os doentes com indicação para tratamento com AMRO deverão ter8: – Avaliação estomatológica completa e tratamentos profiláticos, como extração preventiva de dentes irrecuperáveis e otimização da saúde periodontal, antes do início da terapêutica; – Monitorização estomatológica e do estado de higiene oral durante o tratamento pelo oncologista assistente; – Evicção máxima de procedimentos dentários invasivos, incluindo extração de dentes e colocação de implantes dentários. Contudo, outros procedimentos menos invasivos, como a limpeza dentária, a reparação de cáries ou a colocação de coroas, podem ser realizados. Se uma extração dentária ou outro procedimento invasivo for essencial, o tratamento com AMRO deve ser suspenso por pelo menos 8 a 12 semanas, se possível, e reiniciado 54 apenas após observação da completa cicatrização da mucosa. A inibição da atividade osteoclástica pode resultar ainda em hipocalcemia e hipofosfatémia. Este risco é especialmente mais alto em doentes com paratiroidectomia prévia, deficiência de vitamina D, hipoparatireoidismo hipomagnesémico ou insuficiência renal49,50. O risco de hipocalcemia associado ao denosumab é superior àquele associado aos BP por ser um inibidor mais potente da reabsorção óssea15. Todos os doentes sob tratamento com AMRO devem ter avaliação basal da calcemia e vitamina D. Quando detetados níveis baixos devem realizar correção prévia ao início do tratamento com AMRO. A suplementação diária com cálcio (1.000 mg, incluindo dieta e suplementação) e vitamina D (800-1.200 UI) é indicada, exceto naqueles doentes com hipercalcémia e litíase renal. A dose de reposição farmacológica deve ser personalizada de acordo com os níveis basais, dieta, neoplasia subjacente (e risco de hipercalcémia respetivo) e função renal. Recomenda-se monitorização periódica da calcemia, por exemplo trimestralmente, bem como da magnesémia e da fosfatémia a cada quatro meses. Em doentes sintomáticos e naqueles com insuficiência renal é necessária monitorização mais frequente, eventualmente mensal. Mais recentemente verificou-se uma associação entre fraturas femorais atípicas, subtrocantéricas e diafisárias proximais, sem traumatismo associado ou na sequência de traumatismo minor, primariamente em mulheres pós-menopáusicas, e tratamento prolongado com BP ou denosumab51. As fraturas foram atribuídas à excessiva supressão da remodelação óssea, resultando em fragilidade esquelética. Outros efeitos adversos associados ao tratamento com BP incluem síndrome gripal ou reação de fase aguda40, conjuntivite, esclerite e inflamação orbitária, carecendo estes últimos de avaliação oftalmológica pronta e suspensão definitiva do BP envolvido52. QUAL O PAPEL DOS MARCADORES DE REMODELAÇÃO ÓSSEO NA AVALIAÇÃO DO PROGNÓSTICO DE DOENTES COM DOENÇA ÓSSEA METASTÁTICA? Na atualidade, as normas de orientação clínica da ESMO e ASCO não suportam o uso de marcadores de remodelação óssea fora de estudos clínicos8,16. Porém, os marcadores de remodelação óssea foram testados como preditores de eventos esqueléticos, progressão de doença óssea e morte53. Os marcadores mais estudados neste contexto são o telopéptido N-terminal do colagénio tipo I (NTX) urinário (marcador de degradação óssea) e a fosfatase alcalina (FA) óssea sérica (marcador de formação óssea). Um estudo testou estes dois marcadores em doentes com metastização óssea num 100 perguntas chave no Cancro da Mama O osso como alvo no tratamento do cancro da mama Quadro 1. Ajuste posológico do AZ à função renal TFG (ml/min) Posologia recomendada (mg) > 60 4 50-60 3,5 40-49 3,3 30-39 3 < 30 Não recomendado coorte de doentes com diferentes tipos de tumores primários, incluindo também cancro da mama54. Após um acompanhamento mediano de 17 meses, os pacientes com NTX elevado (≥ 50 nmol por mmol de creatinina) ao início do estudo (pré-terapia com AZ ou pamidronato) apresentaram um risco duas a quatro vezes superior de EE e progressão de doença óssea, tal como um risco dois a quatro vezes superior de morte durante o estudo em comparação com os pacientes com níveis normais de NTX. De um modo semelhante, os doentes com cancro da mama e valores elevados de FA (≥ 146 U/l) também apresentaram uma associação com desfechos de doença desfavoráveis. Os marcadores de remodelação óssea também foram testados como indicadores para a correta titulação dos BP. O estudo BISMARK testou a não-inferioridade do tratamento com BP (AZ) em frequência convencional quando comparado com estratégia de tratamento em função do controlo do controlo do NTX urinário55. Embora o estudo não tenha atingido o alvo de recrutamento (limitando assim o seu poder), o braço com administrações em função do controlo do NTX não demonstrou ser não-inferior, apresentando de facto uma maior frequência de EE (38 vs. 32%). BIBLIOGRAFIA 1.Fleisch H. Bisphosphonates: mechanisms of action. Endocr Rev. 1998;19:80-100. doi: 10.1210/edrv.19.1.0325. 2.Winter MC, Holen I, Coleman RE. Exploring the anti-tumour activity of bisphosphonates in early breast cancer. Cancer Treat Rev 2008;34:453-75. doi: 10.1016/j.ctrv.2008.02.004. 3.Gnant M, Dubsky P, Fitzal F, et al. Maintaining bone density in patients undergoing treatment for breast cancer: is there an adjuvant benefit? Clin Breast Cancer. 2009;9 Suppl 1:S18–S27. doi: 10.3816/CBC.2009.s.002. 4.Brown JE, Coleman RE. Denosumab in patients with cancer –a surgical strike against the osteoclast. Nat Rev Clin Oncol. 2012;9:110–8. doi: 10.1038/nrclinonc.2011.197. 5. Jones DH, Nakashima T, Sanchez OH, et al. 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Pinto e E.C. Moser QUAIS OS PRINCIPAIS PROBLEMAS DOS SOBREVIVENTES DE CANCRO DA MAMA PRECOCE? Segundo a International Agency of Research for Cancer (IARC), em 2012 a incidência de cancro da mama em todo o mundo foi de 1,38 milhões, enquanto que a prevalência se cifrou em cerca de 6 milhões1. Após a conclusão do tratamento inicial, mais de 60% dos doentes serão sobreviventes de longo prazo2, o que pela definição do National Coalition for Cancer Survivorship (NCCS) e do National Cancer Institute (NCI), significa qualquer pessoa com o diagnóstico de cancro que vive cinco ou mais anos após o diagnóstico sem evidência de doença. No entanto, estes ganhos na sobrevivência não são isentos de toxicidade, dado o risco de desenvolvimento efeitos tardios dos tratamentos nomeadamente: neoplasias secundárias, aumento da morbimortalidade por doenças cardiovasculares ou ósseas, sequelas físicas tais como neuropatia periférica e linfedema, bem como alterações psicológicas como a angústia psicossocial que tem impacto no trabalho e nas relações sociais. Adicionalmente, esta população está em risco de recorrência do cancro da mama (que é mais comum nos primeiros cinco anos, mas pode ocorrer até décadas após o tratamento)3,4. Por outro lado, os sobreviventes de cancro são um grupo muito heterogéneo nas características sociodemográficas bem como nas comorbilidades pré-existentes, estádio ao diagnóstico, características biológicas do cancro da mama e modalidades de tratamento que vão desde cirurgia isolada ou em combinação com radioterapia a quimioterapia (QT), terapia hormonal, e/ ou terapêuticas-alvo. Como tal, os problemas, riscos e necessidades de cuidados nos sobreviventes de cancro são complexos e variáveis, contribuindo para o desafio que são os cuidados de qualidade para essa população crescente. A prevenção da ocorrência da recidiva ou de um segundo tumor e até mesmo de outras doenças crónicas, cardíacas, diabetes e obesidade, pode ser, pelo menos parcialmente, conseguida através da alteração do estilo de vida. O aumento significativo do tratamento adjuvante sistémico no cancro da mama está associado ao aparecimento de ganho no peso, de infertilidade e de menopausa precoce. Com efeito, muitas são as questões dos sobreviventes de cancro da mama relativamente ao plano de cuidados a seguir após o diagnóstico e tratamentos. Poderão prosseguir os seus hábitos de vida pregressos? Quais os medos e quais as alterações ao plano de vida que deverão fazer? Seguidamente abordaremos de forma sumária as atualizações científicas sobre a menopausa precoce e o exercício físico/peso em sobreviventes de cancro da mama. QUAL O IMPACTO DA MENOPAUSA PRECOCE E COMO TRATAR? Menopausa é o termo usado para designar o momento da última menstruação, após 12 meses de ausência do período menstrual devido à falência da atividade endócrina dos ovários, nomeadamente a incapacidade de produção de estrogénios. Denomina-se menopausa precoce se ocorrer antes dos 40 anos. A menopausa pode ser fisiológica/natural resultante do envelhecimento de cada mulher ou iatrogénica/ artificial resultante de terapêutica cirúrgica (ooforectomia), medicamentosa (citostática) ou por radiações (radioterapia). Enfatizando a menopausa iatrogénica ou gonadotoxicidade os ovários das mulheres na pré-menopausa submetidas a QT têm tipicamente uma ligeira diminuição do número de folículos primordiais e uma maior diminuição no número de folículos em maturação com graus variáveis de falência ovárica, explicando o porquê de algumas mulheres 100 perguntas chave no Cancro da Mama 57 H. Gervásio, et al. desenvolverem um esgotamento folicular completo com falência ovárica permanente durante a QT, enquanto outras podem sofrer de amenorreia durante o tratamento, mas com posterior recuperação da função ovárica, ciclos menstruais, e da fertilidade, meses ou anos após a interrupção da QT. Analiticamente, a menopausa, pode classificar-se de acordo com o doseamento hormonal sérico, avaliando a hormona folicular stimulating hormone (FHS) > 40 mUl/ml e o estradiol < 20-30 pg/ml. Existem fatores de risco para a menopausa precoce, como a idade, o regime de QT usado ou uso subsequente de terapêuticas hormonais, bem como os fatores genéticos individuais. Salientando o fator de risco «idade», o risco de amenorreia é acrescido em mulheres com mais de 40 anos de idade no início do tratamento e além disso, a falência ovárica é menos frequentemente reversível em mulheres mais velhas6. Relativamente aos esquemas de QT mais frequentemente associados a amenorreia são os que contêm ciclofosfamida e doxorrubicina, sendo também influenciada por doses mais elevadas, maior duração, bem como a utilização de esquemas com vários citostáticos7-9. O impacto da menopausa precoce na mulher traduz-se em sintomas mais exuberantes e infertilidade. De sublinhar que amenorreia não é sinónimo de ausência de função ovárica e não deve ser considerado como falência definitiva dos ovários. Por outro lado, o contrário também não se aplica, isto é, o retorno dos ciclos menstruais não é um bom marcador da função normal do ovário. Assim que, as mulheres que pretendam preservar a fertilidade durante e após a QT deverão comunicar e conversar com o seu médico previamente ao início dos tratamentos de QT podendo após estes testar a reserva ovárica disponível10. Relativamente à prevenção e tratamento da menopausa precoce, as terapêuticas hormonais de substituição devem ser consideradas caso a caso, devido ao aumento do risco de recidiva. A toxicidade ovárica quimio-induzida poderá ser reduzida através da administração de análogos da hormona libertadora de gonadotrofina (GnRH) durante a QT, que inibem a função ovárica conferindo alguma protecção11. Contudo, a medicina preventiva apoiada na educação para uma dieta alimentar adequada, pobre em gorduras, na suplementação de cálcio (1.000 a 1.200 g/d) e de vitamina D (700 a 800 UI/d), a não ingestão de bebidas alcoólicas em excesso, a abolição do tabagismo, e o exercício físico regular são medidas de carácter geral que poderão minimizar os riscos dessa carência hormonal e, melhorar os índices de qualidade de vida das mulheres pós-menopáusicas. 58 QUAL O PAPEL DO CONTROLO DO PESO E DA DIETA NAS MULHERES COM CANCRO DE MAMA? A alteração do estilo de vida pode ser uma forma eficaz de melhorar a saúde física e mental nos sobreviventes de cancro da mama. Alguns estudos observacionais sugerem que o exercício, a dieta, a prevenção da obesidade e a redução do consumo de álcool estão associados a uma diminuição do risco de recorrência do cancro da mama em sobreviventes de cancro, podendo ter impacto na sobrevivência12,13. A obesidade está associada a risco aumentado de desenvolver determinados cancros, mais especificamente da mama, fundamentalmente após a menopausa, e endométrio, devido ao aumento de produção de estrogénios, pelo tecido adiposo. Os obesos produzem níveis elevados de insulina e insulin-like growth factor-1 (IGF-1), considerado atualmente como promotor para estes cancros. As células gordas produzem hormonas, que podem estimular ou inibir o crescimento celular e podem ter efeitos diretos ou indiretos em fatores que regulam o crescimento tumoral, incluindo a via mTOR e AMP-activated protein Kinase. Por outro lado, a obesidade, o sedentarismo e a má qualidade alimentar estão cada vez mais ligados à diminuição da sobrevivência global (SG) associada ao cancro em indivíduos sobreviventes14. Estudos têm demonstrado que um plano de cuidados nos sobreviventes de cancro que inclua orientações para o controlo do peso e uma dieta equilibrada podem melhorar a qualidade de vida e minimizar os efeitos colaterais associados aos tratamentos nestes doentes. Apesar de os resultados serem preliminares, estes sugerem que a mudança de estilo de vida também pode ter impacto no prognóstico em indivíduos com cancro em estádios iniciais12. Os estudos existentes que avaliam o impacto da dieta nas doenças crónicas têm contribuído para o entendimento do papel da dieta na fisiopatologia dessas doenças extrapolando-se alguns resultados para o cancro. O impacto dos padrões alimentares no prognóstico de doentes com cancro também tem sido amplamente estudado, e em particular no cancro da mama, nomeadamente com a redução da ingestão de gordura, a ingestão de fruta e vegetais versus uma dieta rica em «comidas pré-fabricadas» e carnes vermelhas. Apesar dos dados não serem consistentes, poderá existir relação entre a dieta e o risco de recorrência do cancro e morte em indivíduos com diagnóstico de cancro da mama em estádios iniciais. No entanto, atualmente, indicações formais e uniformes de alteração da dieta não são ainda passíveis de prescrever. 100 perguntas chave no Cancro da Mama Survivorship no cancro da mama precoce e avançado QUAL O IMPACTO DO EXERCÍCIO FÍSICO NA QUALIDADE DE VIDA DOS DOENTES COM CANCRO DE MAMA? No cancro da mama, vários estudos observacionais mostram que as mulheres que praticam actividade física moderada após o diagnóstico têm resultados significativamente melhores em comparação com as mulheres menos ativas, apesar de não existir um estudo robusto que analise o impacto da atividade física nos resultados do cancro da mama. De qualquer modo, o exercício melhora a forma física aeróbica, força, qualidade de vida, ansiedade, depressão, fadiga, imagem corporal, tamanho do corpo, e da composição corporal em sobreviventes de cancro da mama13,14. O aumento de peso pode ocorrer durante a QT e aparentemente poderá relacionar-se com a perda de tecido muscular, o que pode contribuir para uma redução da capacidade funcional e uma redução do metabolismo durante a QT adjuvante15. Apesar de não haver um padrão na prescrição de exercícios, uma equipa de reabilitação experiente pode prescrever um programa de exercícios para otimizar a saúde de cada doente, individualmente. A American Cancer Society (ACS) e a American College of Sports Medicine (ACSM) sugerem cerca de 30 minutos de exercício físico moderado em cinco ou mais dias da semana16. Sublinha-se, em particular o risco de linfedema do membro superior que constitui uma perturbação ou obstrução na circulação linfática e que pode ocorrer como complicação de cirurgia no cancro da mama (mastectomia com esvaziamento ganglionar axilar). Nestes casos os receios e dúvidas relativamente ao exercício físico e retoma das atividades laborais são comuns a todas as mulheres. Mais uma vez reforçamos que deverá haver acompanhamento médico e de uma equipa de fisiatria, mas eis algumas sugestões de autocuidados: evitar lesões cutâneas, quando possível o braço deve ser elevado acima do nível do coração, efetuar um programa domiciliário de exercícios como os exercícios range of motion (ROM) ou exercícios de mobilidade articular, exercícios e técnicas para melhorar a drenagem venosa, não esquecendo a importância da drenagem gravitacional, os exercícios de resistência estática e mudanças de posição devem ser incorporados nas atividades diárias, incluindo posicionamento para dormir. Em suma e de acordo a ACS e a ACSM as recomendações para o estilo de vida de sobreviventes de cancro incluem: – Dieta: adotar dieta saudável com consumo de pelo menos cinco elementos de fruta e vegetais por dia, limitando o consumo de comidas pré-fabricadas e carnes vermelhas; evitando consumo excessivo de álcool (não mais do que uma bebida alcoólica por dia). –Exercício físico: adoção de estilo de vida fisicamente ativa, com 30 minutos de exercício físico moderado a vigoroso em cinco ou mais dias da semana. – Peso: manter peso saudável e iniciar programa de perda de peso em caso de excesso de peso ou obesidade16,18. QUE TIPO DE TOXICIDADE CARDÍACA É QUE OS DIVERSOS AGENTES USADOS NO TRATAMENTO DO CANCRO DA MAMA CAUSAM? E COMO SE TRATA? Em termos de toxicidade cardíaca é importante distinguir dois tipos fisiopatológicos de disfunção cardíaca, a saber, a lesão tipo I – com morte miocitária, dependente da dose cumulativa administrada, sendo por isso irreversível, e a lesão tipo II – em que há disfunção dos miócitos mas não se documenta morte celular e que é essencialmente reversível. A cardiotoxicidade pode manifestar-se sob a forma de insuficiência cardíaca congestiva, diminuição da fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE), perturbações da condução cardíaca, hipertensão e isquemia miocárdica. A toxicidade induzida pelas antraciclinas é classificada de acordo com o momento do surgimento: aguda (incidência < 1%, ocorrendo pouco depois da infusão, traduzindo-se habitualmente como arritmias), sub-aguda (incidência 1,6-2,1%, geralmente surge no 1.º ano pós-quimioterapia, mais comummente nos primeiros três meses) e tardia (incidência 1,6-5%, geralmente > 12 meses do fim do tratamento)19,20. As duas últimas formas geralmente apresentam-se como cardiomiopatia dilatada e a sintomatologia pode surgir 10-20 anos após a terapêutica, dependendo da reserva cardíaca e de mecanismos compensatórios. O risco aumenta com a dose cumulativa de antraciclina, tendo os estudos revelado falência cardíaca na ordem dos 3-5% com 400 mg/m2 e 7-26% com 550 mg/m2. Estratégias para reduzir esta toxicidade incluem o uso da epirrubicina ou da doxorrubicina peguilada, ambas menos cardiotóxicas que a doxorrubicina clássica. O 5-fluorouracilo (5-FU) está mais implicado em perturbações do ritmo cardíaco, podendo conduzir a angina de peito/enfarte do miocárdio ou até a morte cardíaca súbita em 1,2-4,3% dos doentes20. O mecanismo envolvido parece ser a vasoconstrição e os regimes infusionais bem como a capecitabina (uma pró-droga do 5-FU) mostraram ser mais cardiotóxicos que a administração em bólus20. 100 perguntas chave no Cancro da Mama 59 H. Gervásio, et al. A cardiotoxicidade dos taxanos não é clinicamente muito significativa, geralmente traduzindo-se por arritmias, como por exemplo a bradicardia sinusal assintomática (incidência de 30% com o paclitaxel)20. A ciclofosfamida pode originar disfunção ventricular esquerda em cerca de 7-28% dos doentes19. Também foram descritos miopericardite e derrame pericárdico. Os efeitos estão também relacionados com a dose cumulativa de agente alquilante. A toxicidade do anticorpo monoclonal anti-recetor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2) trastuzumab manifesta-se por queda assintomática na FEVE ou insuficiência cardíaca (sintomática)19,20. Globalmente a incidência de eventos cardíacos graves (insuficiência cardíaca classes III ou IV da New York Heart Association [NYHA]) nos grandes ensaios adjuvantes com seguimentos longos mostrou ser muito reduzida (entre 0-3,9%)20,21. Em contexto neodjuvante os números são semelhantes, enquanto nos doentes metastáticos são um pouco superiores (doentes politratados e que geralmente receberam antraciclinas previamente)20. Devido à reduzida toxicidade e frequente reversibilidade da sintomatologia e da FEVE o trastuzumab é considerado bastante seguro. O pertuzumab é outro anticorpo monoclonal utilizado, cujo maior estudo realizado até ao momento, CLEOPATRA (trastuzumab + docetaxel + pertuzumab/ placebo), em contexto metastático, revelou que o pertuzumab não acrescenta cardiotoxicidade quando usado em combinação com o trastuzumab22. A combinação de trastuzumab e pertuzumab em contexto neodjuvante, juntamente com citostáticos, mostrou-se igualmente segura em termos de cardiotoxicidade23. Relativamente ao trastuzumab entamsina (T-DM1), os eventos cardíacos observados em ensaios clínicos fases II (sem casos de insuficiência cardíaca e praticamente sem casos de descida da FEVE)20 e no ensaio de fase III EMILIA três doentes de ambos os braços (T-DM1 vs. capecitabina + lapatinib) apresentaram queda da FEVE do valor basal para menos de 40%. Apenas um doente apresentou disfunção ventricular esquerda grau III no braço do T-DM1 contra nenhum no outro braço24. A pequena molécula inibidora do recetor da tirosina cinase HER1/HER2 lapatinib apresenta valores de toxicidade cardíacas inferiores à dos anticorpos monoclonais, tendo uma análise conjunta de cerca de 5.000 doentes com cancro da mama metastático incluídos em 49 ensaios clínicos diferentes com a molécula (em monoterapia ou combinada com citostáticos ou hormonoterapia) revelado uma taxa de eventos cardíacos assintomáticos de somente 1,4% e apenas 7 casos de insuficiência cardíaca graus III ou IV reportados20. 60 O perfil de toxicidade dos agentes hormonais é mais favorável que o dos citostáticos e das terapêuticas-alvo, sendo os eventos cardíacos desta terapêutica sobretudo de tipo isquémico20. A evidência é escassa20. Um estudo comparativo entre exemestano e tamoxifeno, revelou uma taxa de disfunção cardíaca de 4,9 versus 3,7%, respetivamente em cada grupo. Nesse mesmo estudo, alterações disrítmicas foram mais frequentes também no grupo do inibidor da aromatase do que com o tamoxifeno (7 vs. 2,7%)25. Há menor incidência de doença coronária com tamoxifeno face aos inibidores da aromatase, contudo, os fenómenos trombóticos são mais expressivos com o primeiro20. Para diagnóstico da cardiotoxicidade recorre-se geralmente a uma de duas modalidades para a determinação da FEVE: ecocardiograma ou cintigrafia cardíaca, que são rotineiramente realizadas antes do início das terapêuticas. Relativamente à vigilância durante e após os tratamentos, não existem à data linhas de orientação únicas para adultos19, havendo no entanto indicação para avaliações seriadas sob trastuzumab19, existindo algoritmos estabelecidos de interrupção e tratamento cardiológico perante descidas na FEVE19. Em termos de biomarcadores de lesão cardíaca, o doseamento das troponinas parece identificar lesão precocemente19. O doseamento do péptido natriurético tipo B (BNP) mostrou-me mais útil na aferição de insuficiência cardíaca19. O tratamento inclui agentes das classes dos inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) e antagonistas dos recetores da angiotensina (ARA), bem como os bloqueadores β (nomeadamente o carvedilol)19. Orientações sobre a prevenção, diagnóstico, abordagem terapêutica e seguimento podem ser consultadas em pormenor nas publicações da Escola Europeia de Cardiologia e da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO)19,26. QUAL O IMPACTO DOS TRATAMENTOS NA SAÚDE SEXUAL? A função e a satisfação sexuais podem ser afetadas no decurso do percurso oncológico (diagnóstico, fase de tratamento ativo, período de vigilância) e causar grande sofrimento intra ou interpessoal27. As mulheres com cancro da mama seguem a tendência da população não-oncológica nas queixas/áreas problemáticas (dificuldades a nível do desejo/excitação e do orgasmo), contudo apresentam valores mais elevados de transtorno de dor génito-pélvica/penetração (antigamente denominadas dispareunia e vaginismo), na ordem dos 35-38%28. A literatura é vasta e controversa relativamente ao tipo de procedimento cirúrgico (cirurgia conservadora e mastectomia) e ao seu impacto corporal e no 100 perguntas chave no Cancro da Mama Survivorship no cancro da mama precoce e avançado funcionamento sexual28,29. Resumidamente, poder-se-á dizer que as mulheres consideram possuir melhor imagem corporal na cirurgia menos extensa, mas que o fator preponderante na satisfação sexual relativamente ao corpo cirúrgico é o facto de a mulher poder ter escolhido o tipo de cirurgia a efetuar28. Os efeitos adversos da QT neste tipo de sintomatologia podem ser temporários ou permanentes dependendo dos agentes envolvidos, do esquema, dose e duração do tratamento. Além da amenorreia induzida pela QT e da falência ovárica, com depleção dos estrogénios circulantes, há também variações de peso, alopecia e alterações ungueais, que contribuem para uma auto-imagem alterada e humor alterados, por vezes levando a mais isolamento social e também a decréscimo das interações sexuais28. O hipoestrogenismo, decorrente da QT e/ou da hormonoterapia, conduz frequentemente a queda da libido e secura e atrofia vaginais que dificultam a resposta sexual e condicionam dificuldades na penetração vaginal28. Importa ressalvar que, nos doentes em situação relacional, a qualidade dessa mesma relação é um fator primordial e concordante do funcionamento sexual, de maior peso que as alterações físicas enquanto determinante da saúde sexual29. Mais investigação e soluções são prementes nesta área30. O QUE É O «ONCO‐BRAIN»? O «cérebro oncológico» (antigamente denominado «cérebro da quimioterapia» ou «nevoeiro da quimioterapia»), é a designação cunhada para abarcar as alterações cognitivas consequência do cancro e dos tratamentos utilizados para o combater. A maioria dos estudos prospetivos de avaliação neuropsicológica em cancro da mama mostra que cerca de 20-60% dos doentes sofrem declínio nas capacidades cognitivas após QT31. Essas alterações refletem-se estruturalmente a nível da matéria branca cerebral sobretudo na aprendizagem, memória, velocidade de processamento de informação e funções executivas32. Os estudos revelam que cerca de ¼ dos doentes sente esses efeitos de forma persistente ao longo do tempo (até 20 anos pós-tratamento). Pouco se sabe atualmente acerca da etiologia e dos fatores de risco (poderá estar relacionado com o hospedeiro, com os tratamentos ou com citoquinas libertadas pelo próprio tumor), mas há evidência de relação dose-resposta, ou seja, esquemas de maior intensidade de dose provocam mais perturbações neurocognitivas31,32. Foram aventadas hipóteses de associação com polimorfismos genéticos (apolipoproteína E e catecol O-metiltransferase), mas os resultados não foram convincentes33. O estradiol é uma hormona importante na neuroplasticidade cerebral e na performance cognitiva33. As terapias endócrinas (moduladores seletivos dos recetores de estrogénio (RE), inibidores da aromatase) também afetam áreas da cognição e comportamento, sendo as doentes mais idosas particularmente sensíveis a estes efeitos16. Os inibidores da aromatase parecem ter um efeito menos negativo que agentes como o tamoxifeno ou fulvestrant34. Quanto aos novos agentes como, por exemplo, o BKM120 e os pan-inibidores da fosfatidilinositol 3-quinase (PI3K), já foram identificadas perturbações de humor e depressão, que requerem estudos mais aprofundados35. O tratamento farmacológico neste domínio é limitado, mas o metilfenidato e o modafinil têm-se mostrado promissores36. Vários programas de treino neuropsicológico e comportamental estão a ser avaliados e mostraram algumas melhorias37. QUAIS SÃO OS TUMORES SECUNDÁRIOS MAIS FREQUENTES NOS DOENTES COM CANCRO DE MAMA, PORQUE SURGEM E QUEM ESTÁ EM RISCO? Os doentes oncológicos possuem um risco superior ao da população geral para desenvolver segundos tumores malignos (novos tumores primários que podem surgir noutras localizações ou inclusive no mesmo local do tumor primário prévio) que se estima em cerca de 15-20%38. Os sobreviventes de cancro estão em risco de desenvolver tumores subsequentes, motivado pelos efeitos adversos das várias modalidades terapêuticas utilizadas e/ou pela presença de fatores de risco ou fatores etiológicos comuns para múltiplos tumores (incluindo predisposição genética)38,39. Isto é particularmente verdadeiro no caso dos doentes com cancro de mama, que são o grupo mais numeroso de sobreviventes, talvez motivado pelo grande sucesso terapêutico com sobrevivências longas e maior disponibilidade temporal para desenvolver novos cancros38,39. O grande estudo European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC), que recrutou mais de 350.000 mulheres e em que 10.045 desenvolveram cancro da mama ao longo de 10 anos de seguimento, estimou esse risco em 30%38. Entre os fatores de risco para cancro da mama subsequente o EPIC ressaltou como predisponentes idade mais jovem aquando do tumor primário, índice de massa corporal (IMC) elevado, e consumo tabágico ativo, enquanto uma relação inversa foi encontrada entre nível de escolaridade, status pós-menopáusico e gravidez de termo prévia38. O consumo de álcool, número de gravidezes 100 perguntas chave no Cancro da Mama 61 H. Gervásio, et al. e uso de terapia hormonal de substituição não se mostraram associados ao risco de tumores subsequentes38. As mulheres com tumores pT3 e maiores apresentam um risco bastante mais elevado de desenvolver qualquer segundo cancro, exceto cancro da mama (razão de incidência HR: 10,99; IC 95%: 7,12-16,96)38. À semelhança de outros estudos, o EPIC apontou como segundos cancros frequentes os tumores do endométrio, colorretais, do esófago, pulmão, tiróide e melanoma38,40,41. Foi encontrada uma relação inversa entre ingestão de fibra e esses cancros subsequentes38. Uma metanálise recente cifra o risco das sobreviventes de um cancro da mama face à população geral para tumores malignos futuros entre 17-23%, consoante o modelo estatístico usado39. Este risco é sobretudo mais elevado em mulheres com tumores recetores hormonais (RH) negativos e com história familiar de cancro da mama39. Este estudo também confirma o achado de que quando o tumor primário ocorre numa mulher pós-menopáusica o risco de tumores subsequentes é menor do que nas mulheres pré-menopáusicas e ainda que as primeiras sofrem principalmente de tumores endometriais (o que poderá dever-se a vários fatores – uso de tamoxifeno como tratamento, obesidade, ou ainda fatores de risco ambientais ou genéticos)38,39. Contudo, vários destes estudos apresentam limitações e a nível comparativo existe uma grande heterogeneidade entre eles (diferente idade das mulheres envolvidas, diferente estadiamento tumoral, recrutamento de sujeitos de épocas em que as modalidades terapêuticas para o cancro da mama eram diferentes)38-40. QUAIS OS PROBLEMAS DE SURVIVORSHIP MAIS FREQUENTES NOS DOENTES COM CANCRO DA MAMA AVANÇADO? As necessidades de doentes a viver com cancro de mama metastático são exigentes, às vezes prolongando-se por muitos anos, tendo também impacto nos cuidadores desses mesmos doentes afetados – que são, frequentemente, os cônjuges ou familiares próximos – e devem merecer atenção não só em termos de cuidados paliativos e apoio, mas também em relação a preocupações de «sobrevivência». Por vezes os doentes sentem-se isolados (pela ansiedade a reações familiares e sociais) e a psicoterapia e grupos de apoio para doentes metastáticos podem ser muito eficazes, ajudando estas pessoas a nível da motivação para continuar tratamentos e dando-lhes exemplos de como ultrapassar determinados obstáculos. Uma abordagem multidisciplinar deverá iniciar-se precocemente na história da doença e deverá incluir 62 não só os aspetos médicos, mas também os domínios funcional, social, psicológico e espiritual42-46. É importante definir claramente o contexto da doença com os doentes e familiares, abordando o conceito de incerteza e adequando a estratégia de tratamento de acordo com as prioridades individuais e o status de doença47. As necessidades psicossociais dos doentes jovens e idosos também devem ser reconhecidas e apoiadas na sua especificidade, ou seja, a nível de segurança social, flexibilidade de emprego, reabilitação, imagem do corpo (incluindo sexualidade), cuidados domiciliários e cuidados infantis. COMO ABORDAR OS PROBLEMAS DE SURVIVORSHIP NA POPULAÇÃO COM CANCRO DA MAMA AVANÇADO? Enquadrando o cancro da mama metastático como uma doença crónica, a escolha da terapêutica de controlo da doença deve ser feita selecionando aquela que permite obter a maior duração de resposta possível com o mínimo de efeitos laterais. O tratamento hormonal deve ser favorecido (sempre que possível) face à QT e a monoterapia sequencial aos regimes multidroga, sendo o que vem claramente indicado nas linhas de orientação para esta população de doentes43. A poliquimioterapia deve ser reservada para doentes com rápida progressão clínica, metástases viscerais potencialmente fatais, ou que precise de rápido controlo sintomático e/ou da doença. Os tratamentos locorregionais, como a cirurgia ou radioterapia, podem prolongar os intervalos livre de progressão em vários momentos da doença. Além disso podem ser utilizados para controlar sintomas álgicos, de compromisso neurológico e sintomas compressivos vários. A discussão multidisciplinar ao diagnóstico e repetidamente nos momentos de avaliação de resposta é essencial face à complexidade desta doença, aos múltiplos fatores que devem ser tidos em conta, à falta de evidências de alto nível para diversas situações clínicas e à existência de novas técnicas altamente especializadas disponíveis para controlo de locais metastáticos específicos – todas fortes razões para o tratamento destes doentes por uma equipa multidisciplinar especializada, ao invés do tratamento por um oncologista isolado independentemente da sua habilidade ou experiência42,43,48. Apesar do aumento da sobrevivência dos doentes com cancro de mama a que temos assistido nos últimos anos, um forte compromisso de todas as partes envolvidas (academia, indústria farmacêutica, fontes de financiamento independentes, grupos de defesa) para o desenvolvimento de ensaios clínicos bem projetados e de alta qualidade, continua a ser de importância crítica. Muitas perguntas estão ainda sem resposta, 100 perguntas chave no Cancro da Mama Survivorship no cancro da mama precoce e avançado relacionadas com as estratégias de tratamento, uso otimizado de drogas e tratamento individualizado (baseado em marcadores preditivos e eventualmente novas tecnologias visando melhor caracterização do tumor individual). É necessário ainda não descurar estudos de tolerabilidade e qualidade de vida, não levando a cabo somente ensaios clínicos com objetivos de eficácia, mas também avaliando a sobrevivência livre de progressão. A discussão multidisciplinar e implementação das orientações cuidadosamente desenvolvidas na abordagem do doente, melhorará substancialmente os resultados de muitos doentes a longo prazo42,43,48. BIBLIOGRAFIA 1. Ferlay J, Soerjomataram I, Ervik M, et al. GLOBOCAN 2012 v1.0. Cancer Incidence and Mortality Worldwide: IARC CancerBase No. 11 [Internet]. Lyon, France: International Agency for Research on Cancer. 2013. 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O confronto com esta nova realidade e com os tratamentos necessários para tratar a doença envolve uma série de desafios e alterações consideráveis na vida da pessoa que afetam sobretudo as dimensões física (por ex., dores, fadiga, insónia) psicológica (por ex., medo, tristeza, preocupações, problemas de auto-imagem), familiar e social (por ex., papéis, tarefas, dependência), espiritual e existencial (por ex., confronto com mortalidade), profissional e financeira, que interferem frequentemente com o seu bem-estar e qualidade de vida, levando a que muitos pacientes desenvolvam sintomas de sofrimento psíquico2,3. O distress, traduzido para português por «sofrimento psicológico», foi definido como «uma experiência emocional desagradável multifatorial de natureza psicológica (cognitiva, comportamental, emocional) social e/ou espiritual que pode interferir com a capacidade de lidar com o cancro, com os seus sintomas físicos e tratamento. O sofrimento psicológico estende-se ao longo de um continuum, variando de sentimentos normais comuns de vulnerabilidade, tristeza e medos para alterações emocionais que podem tornar-se incapacitantes tais como depressão, ansiedade, pânico, isolamento social e crise espiritual»4. Embora muitos doentes consigam adaptar-se à experiência da doença e ao fim de algum tempo alguns até encontrem um sentido construtivo para a mesma, dando à sua vida novos significados mais positivos (i.e., o crescimento pessoal pós-traumático)5, o facto é que para a maioria dos doentes, a experiência inicial da doença e dos seus tratamentos é assustadora e dramática e pode ter consequências devastadoras para o seu equilíbrio psicológico e qualidade de vida6. Este sofrimento psicológico excessivo associado à doença, também designado de morbilidade psicológica, é considerado nefasto e patológico e como tal é importante que seja identificado precocemente7 para ser incluído no plano de tratamento do doente, através de acompanhamento psico-oncológico especializado8. COMO SE AVALIA O SOFRIMENTO PSICOLÓGICO ASSOCIADO AO CANCRO? Existem vários questionários para avaliar as alterações emocionais, nomeadamente a ansiedade e a depressão. No entanto, o termo distress ou sofrimento psicológico foi cunhado pela National Comprehensive Cancer Network (NCCN) para desestigmatizar o sofrimento psicológico observado nos doentes oncológicos e assim distinguir e afastar este tipo de sofrimento das nosologias e diagnósticos psicopatológicos da saúde mental. Assim, para melhor identificar o sofrimento psicológico dos doentes oncológicos associado à doença e aos seus tratamentos, a NCCN desenvolveu em 1997 um instrumento específico denominado termómetro do sofrimento psicológico, que é revisto regularmente4. Este instrumento de auto-avaliação consiste numa simples folha com duas partes: (i) uma escala analógica visual simples de 0 a 10 pontos, que se apresenta como um termómetro, semelhante ao da avaliação da dor, em que é pedido aos doentes para indicar «qual o seu grau de sofrimento psicológico na última semana» de 0 = ausência de sofrimento, a 10 = sofrimento psicológico máximo; (ii) uma lista associada de situações e sintomas para os quais os doentes são convidados a «indicar quais destas situações constituíram um problema para si na última semana», assinalando com um «sim» ou um «não». Esta lista contém 35 itens que incluem problemas de ordem 100 perguntas chave no Cancro da Mama 65 S. Pedro, L. Travado prática (por ex., cuidar dos filhos, tarefas domésticas), problemas familiares (por ex., cônjuge/companheiro), problemas emocionais (por ex., depressão, medos), preocupações espirituais/religiosas, e problemas físicos (por ex., fadiga, dores, memória, alterações de sono). Este instrumento é simples e pode ser usado em qualquer lugar na clínica (por ex., sala de espera), é fácil de entender e preencher e permite uma triagem do sofrimento psicológico e necessidades psicossociais para uma melhor integração destas dimensões no tratamento dos doentes. Este instrumento está validado em vários países9, incluindo em Portugal, tendo sido identificado o valor de significado clínico acima de 410, a partir do qual os doentes devem ser referenciados ao serviço de psico-oncologia. É recomendado que o sofrimento psicológico seja considerado como o sexto sinal vital (a seguir à pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatural e dor) em oncologia, para que possa ser avaliado regularmente e identificado nos pacientes oncológicos7,11. QUAL A PREVALÊNCIA DO SOFRIMENTO PSICOLÓGICO EM DOENTES COM CANCRO E QUAIS AS SUAS CONSEQUÊNCIAS? Os níveis de sofrimento psicológico excessivo ou morbilidade psicológica em doentes com cancro têm sido avaliados em vários países. Num estudo emblemático no qual foram avaliados 4.496 pacientes com cancro, a taxa média de prevalência de sofrimento psicológico foi de 35,1%, variando entre 43,4% em doentes com cancro do pulmão e 29,6% no cancro ginecológico, sendo de 32,8% para doentes com cancro de mama12. Contudo o sofrimento psicológico aumenta quando a doença entra em fase de progressão subindo para 42% em doentes com cancro da mama avançado13. O Estudo Sul-Europeu de Psico-Oncologia realizado em Portugal, Itália e Espanha, identificou que cerca de um terço dos doentes oncológicos tinham níveis clinicamente significativos de ansiedade (33,08%) e cerca de um quarto de depressão (24,81%)14. Em Portugal num estudo realizado com 110 mulheres tratadas a cancro da mama, com uma média de idade de 58,1 anos (±10,8 DP), verificaram-se percentagens relativamente semelhantes embora um pouco mais elevadas quer para a ansiedade (39,1%) quer para a depressão (29,1%)15. A morbilidade psicológica tem importantes consequências negativas para os doentes, afetando a sua qualidade de vida e os resultados clínicos do tratamento. Tem sido relatado em vários estudos que diminui a adesão ao 66 tratamento16,17, reduz a eficácia da quimioterapia18, reduz o tempo de sobrevivência19, aumenta as queixas físicas e diminui a capacidade funcional20, aumenta o tempo de internamento21, e o risco de suicídio22. As variáveis psicossociais desempenham um papel independente no tratamento do cancro, que podem facilitar ou interferir com os resultados clínicos desejáveis. Por este motivo para se otimizar os resultados dos tratamentos oncológicos é importante integrar as necessidades psicossociais dos doentes, e incluí-las no plano de tratamento. É isso que preconizam as recomendações europeias e internacionais para a qualidade dos cuidados oncológicos2,23-26. COMO SE PODE REDUZIR O SOFRIMENTO PSICOLÓGICO ASSOCIADO AO CANCRO E MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA DOS DOENTES? Hoje em dia há um amplo repertório de intervenções psico-oncológicas desenvolvidas e validadas para reduzir as alterações emocionais e as necessidades psicossociais associadas ao cancro e aos seus tratamentos, incluindo o sofrimento psicológico, ansiedade, depressão, problemas de adaptação e qualidade de vida, e outros. As intervenções mais utilizadas são: (i) as intervenções psico-educacionais, de tipo didático, em formato individual ou grupal, que visam ajudar o doente a conhecer e compreender o processo da doença, dar-lhe recursos sobre como lidar com a doença, navegar pelo sistema de saúde e utilizar os recursos disponíveis, contribuindo para reduzir a incerteza e aumentando o bem-estar psicológico27,28; (ii) a psicoterapia individual, que é dirigida à redução das emoções negativas e à melhoria da auto-eficácia e auto-estima, aumentando o bem-estar emocional e funcional29; (iii) a terapia cognitivo-comportamental (CBT), que tem como alvo os pensamentos disfuncionais, as emoções e comportamentos que contribuem para os sintomas, é muito eficaz na redução da depressão e ansiedade30, e inclui o treino de relaxamento31; (iiii) as intervenções de terapia grupal beneficiam do apoio dos pares na redução do isolamento e da estigmatização social, focam-se na comunicação, na esperança e significado da vida, e são bastante utilizadas em fase avançada de doença (por ex., Terapia expressiva de apoio32,33, terapia cognitivo-existencial34, psicoterapia centrada no significado35). Estas intervenções foram sujeitas a ensaios clínicos randomizados, que comprovaram a sua eficácia, e as metanálises estabeleceram altos níveis de evidência científica (I e II) e indicações específicas para o uso das diversas intervenções36,37, constituindo hoje em dia modelos de prática clínica baseada na evidência em psico-oncologia. 100 perguntas chave no Cancro da Mama Papel crucial da psico-oncologia e da enfermagem oncológica A par do evidente benefício das intervenções psico-oncológicas elas têm também provado o seu custo-efetividade38,39. Em resumo, as intervenções psico-oncológicas provaram o seu valor científico e utilidade na prevenção e redução da morbilidade psicológica associada ao cancro, facilitando a adaptação dos doentes à sua doença e tratamentos e otimizando os seus resultados clínicos e qualidade de vida, contribuindo para uma reabilitação psicossocial do doente oncológico, reduzindo não só o impacto pessoal mas também o social e económico. Por este motivo a sua integração nos cuidados oncológicos de rotina faz parte dos requisitos internacionais de acreditação das Unidades de Mama40. QUAL A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO NA EQUIPA MULTIDISCIPLINAR DE UMA UNIDADE DE MAMA? Em países como a Inglaterra, Estados Unidos da América (EUA) ou Austrália, ao contrário do que acontece em Portugal e em outros países europeus, existem Breast care nurses, enfermeiros dedicados e especializados no cuidado a doentes com cancro da mama. Esta realidade levou o grupo de cancro da mama do parlamento europeu e a European Society of Breast Cancer Specialists (EUSOMA) a constatarem a necessidade de serem criadas recomendações para o curriculum de pós-graduação de enfermeiros dedicados ao cancro da mama na Europa. Assim, a The European Oncology Nursing Society (EONS) construiu o curriculum, definiu o papel e os diferentes níveis de especialização dos enfermeiros e considera que o treino de enfermeiros de cancro da mama deve ser obrigatório nos países europeus41. O Breast care nurse dedica-se exclusivamente a pessoas afetadas com cancro da mama e «é conhecedor da condição física e psicossocial das pessoas com cancro da mama, em relação ao diagnóstico, tratamento, follow-up e através da trajetória de doença, para avaliar, encaminhar e intervir adequadamente; fornecer educação e informação às pessoas afetadas por cancro da mama e aos seus familiares e agir como parte integrante da equipa multidisciplinar, assumindo um papel preponderante na coordenação dos cuidados»41. Existe evidência científica que a intervenção de um breast care nurse tem benefício na diminuição dos níveis de distress, ansiedade e depressão dos doentes com cancro da mama assim como no aumento do seu bem estar físico e social41, na qualidade de cuidados e consequentemente na qualidade de vida dos doentes. O breast care nurse, ou na ausência deste, o enfermeiro especialista em oncologia, deve assumir o papel de patient navigator constituindo um elemento facilitador que ajuda o doente a «navegar» através do complexo sistema de saúde, auxiliando no processo de decisão ativa e informada, fornecendo apoio e informação sobre a doença e a gestão dos tratamentos, aumentando a qualidade dos cuidados prestados42. É IMPORTANTE QUE A CONSULTA DE ENFERMAGEM ESTEJA IMPLEMENTADA NAS UNIDADES DE MAMA? Para se prestarem cuidados de qualidade a um doente oncológico é fundamental que lhes seja dispensado tempo e atenção43. A consulta de enfermagem é definida como uma intervenção que visa a realização de uma avaliação global da situação do doente, a instituição de um plano de enfermagem, com o objetivo de o ajudar a atingir a máxima capacidade de autocuidado44. Esta permite ao enfermeiro reunir as condições necessárias para acolher o doente e a família, escutar, avaliar problemas a nível físico, psicossocial e espiritual e implementar um plano de cuidados personalizados, priorizando os problemas que o doente considera mais importantes, para que sejam efetuadas tentativas de resolução dos mesmos 45,46. Algumas pessoas têm questões a nível de sexualidade47, fertilidade48, espiritualidade49 ou outras, e podem sentir-se constrangidas em abordá-las. O enfermeiro precisa de ter competências comunicacionais que lhe permita discutir estes temas e ir ao encontro das verdadeiras necessidades do doente e da família, adequando e personalizando o aconselhamento. A consulta de enfermagem é também um momento privilegiado para discutir com o doente os tratamentos propostos, capacitando-o para o autocuidado e promovendo a adesão à terapêutica50. O ENFERMEIRO EXERCE UM PAPEL TRANSVERSAL DESDE O DIAGNÓSTICO ATÉ AO FINAL DE VIDA? Sim, o cancro da mama tem um profundo impacto na vida dos doentes e das suas famílias51 e o enfermeiro está presente ao longo de todo o processo de doença ajudando na adaptação à doença, fornecendo informação e apoio emocional, controlando sintomas, cuidando desde o diagnóstico até ao final de vida. O alvo de cuidados é não só o doente, mas também a sua família. Esta constitui a principal fonte de apoio para o doente52, mas também ela necessita de ser cuidada53 e deve ser incluída precocemente no plano de cuidados de enfermagem. Pessoas a quem foi diagnosticado cancro da mama devem ser atendidas em Unidades de Mama 100 perguntas chave no Cancro da Mama 67 S. Pedro, L. Travado especializadas, por uma equipa multidisciplinar com conhecimentos e competências adequadas para darem resposta às inquietações e medos associados a esta doença e dispensarem cuidados e tratamento de qualidade54. O breast care nurse/enfermeiro especialista em oncologia é parte integrante desta equipa, a sua intervenção inicia-se no momento do diagnóstico e representa uma importante fonte de apoio e de informação para o doente55, constituindo um elo de ligação entre o doente e a equipa multidisciplinar. O seu papel é o de acolher o doente e a sua família, centrar os cuidados nos seus problemas e necessidades, mostrar disponibilidade para escutar, informar sobre a doença e os tratamentos e fornecer apoio emocional, apoiando-se numa comunicação eficaz baseada na empatia e escuta ativa, na exploração dos problemas e na validação dos seus sentimentos e emoções. Os doentes necessitam de ter um elemento de referência dentro da equipa de saúde a quem possam aceder com facilidade, colocarem questões e terem a garantia que na presença de novos sintomas, complicações ou toxicidades é feita uma correta avaliação, aconselhamento ou referenciação para o médico assistente, psicólogo, dietista, assistente social, fisioterapeuta ou outro elemento da equipa multidisciplinar. QUAL O PAPEL DO ENFERMEIRO DURANTE O TRATAMENTO LOCORREGIONAL NO CANCRO DA MAMA PRECOCE? A cirurgia é o tratamento de eleição do cancro da mama e as intervenções de enfermagem nos períodos pré e pós-cirúrgico visam promover a adaptação do doente, nivelando as suas expectativas em relação à cirurgia e à recuperação56. Na consulta o enfermeiro informa o doente e família sobre as recomendações pré-cirúrgicas e os procedimentos peri e pós-operatórios. Ao antecipar o que é expectável que aconteça durante estes períodos o enfermeiro ajuda o doente compreender todo o processo e permite que este se prepare para a cirurgia, em internamento ou em ambulatório. Este esclarecimento promove a colocação de dúvidas, incentiva a expressão de preocupações e a partir da exploração dos problemas identificados permite ao enfermeiro construir um plano de intervenção, em parceria com o doente e a sua família. Durante a consulta são abordadas questões como a necessidade de jejum e a interrupção da medicação anti-agregante e dá-se resposta a questões práticas, tais como, qual o vestuário mais adequado, o método de administração da anestesia, o tempo previsto de cirurgia, a possibilidade de acordar com drenos, soro ou oxigénio, de sentir dor/desconforto e/ou náusea, quanto tempo depois retomará a ingestão de 68 alimentos, como são prestados os cuidados de higiene, qual a previsão para o primeiro levante, o horário das visitas e a previsão de dias de internamento. É ainda no período pré-operatório que se começa a planear a alta hospitalar fornecendo orientações para o doente se autocuidar no domicílio, agendando a próxima consulta médica e de enfermagem, ensinando quais os sinais de complicações precoces a que deve estar atento. Esta informação é reforçada com a entrega de recomendações pré e pós-cirúrgicas escritas. Após a alta o enfermeiro dá continuidade às intervenções realizadas em internamento, avalia a ferida cirúrgica, despista sinais de complicações (infeção, hematoma, deiscência da sutura, seroma, linfedema) e avalia o impacto que a cirurgia teve no bem-estar e auto-imagem do doente. O pós-operatório é também o momento para o enfermeiro abordar os tratamentos futuros, dando espaço para o doente questionar, falar das suas expectativas, receios e esperanças. A radioterapia complementa a cirurgia conservadora e nalguns casos a mastectomia e também não é isenta de toxicidades precoces e tardias, como a radiodermite57, a fadiga58, a toxicidade cardíaca e pulmonar. O doente é avaliado e cuidado pelo enfermeiro antes58, durante e após o período de radioterapia58, sendo esclarecido sobre o procedimento e os cuidados a ter. É fundamental que sejam abordados assuntos como a higiene da pele, a hidratação adequada, a proteção solar, a cessação tabágica, e as estratégias mais indicadas para controlar a fadiga59. Como em qualquer fase do processo de doença, o fornecimento de informação e o apoio emocional são essenciais para ajudar o doente a encontrar o seu equilíbrio e bem-estar. COMO É QUE O ENFERMEIRO APOIA O DOENTE E FAMÍLIA DURANTE O TRATAMENTO SISTÉMICO NO CANCRO DA MAMA PRECOCE? Após o choque do diagnóstico, o doente tem pela frente o desafio do tratamento sistémico, em adjuvante ou neoadjuvante, com quimioterapia e/ou hormonoterapia. Em qualquer dos casos o doente necessita de informação que o ajude na tomada de decisão esclarecida60 e promotora da adesão ao tratamento. A quimioterapia é o tratamento mais assustador para o doente com cancro da mama que frequentemente o relaciona com doenças mais agressivas e de pior prognóstico e que está associada a sofrimento físico e emocional. Os esquemas de quimioterapia, no tratamento do cancro da mama precoce, incluem habitualmente um esquema sequencial de antraciclinas e taxanos. Enquanto as primeiras são conhecidas pelo 100 perguntas chave no Cancro da Mama Papel crucial da psico-oncologia e da enfermagem oncológica seu elevado potencial emetizante quando associadas à ciclofosfamida61, os segundos têm como efeitos secundários esperados a neuropatia periférica62, as dores osteoarticulares, as mialgias e a onicólise. Efeitos secundários comuns aos dois esquemas são o risco de neutropenia febril63, a possibilidade ocorrência de alopecia, mucosite, ou fadiga. Na consulta de enfermagem, o enfermeiro informa sobre o esquema terapêutico proposto, discute com o doente os cuidados a ter relativamente à alimentação, hidratação, higiene, anticonceção, gestão dos efeitos secundários e à toma de medicação no domicílio. A utilização de um plano educacional estruturado tem um efeito positivo no controlo de sintomas associados à quimioterapia64, aumenta as atividades de autocuidado e reduz a ansiedade dos doentes65. Relativamente ao tratamento hormonal, a principal questão que se coloca é a adesão ao tratamento, visto tratar-se de uma terapêutica mantida durante vários anos e com efeitos secundários que podem condicionar o bem-estar e a qualidade de vida dos doentes, tais como os afrontamentos, alteração da função sexual66, alterações do sono e/ou do humor, artralgias e fadiga. O fornecimento de informação sobre o mecanismo de ação e os potenciais efeitos secundários promovem a autonomia e previnem a rutura na adesão ao tratamento67. O momento de realização da consulta de enfermagem de preparação para tratamento, não deve ser rígido pois enquanto alguns doentes estão recetivos para esta, após a consulta médica, em que é discutido o plano de tratamento, outros precisam de mais tempo para gerir a informação que receberam. O enfermeiro tem um papel crucial no fornecimento de informação sobre o tratamento, no aconselhamento de estratégias para lidar os efeitos secundários e na promoção do bem-estar físico, emocional e social. Após a fase de tratamentos adjuvantes o doente com cancro da mama precoce entra num período de follow-up e, ao contrário do que seria expectável, a diminuição do contacto com a equipa de saúde, o maior espaçamento nas consultas e nos exames podem ser causadores de distress nos primeiros meses após término dos tratamentos68. A incerteza no futuro e o medo da recidiva69 podem ser avassaladores e é necessário que continuem a ter um elemento de referência dentro da equipa a quem possam recorrer. QUAL É O PAPEL DO ENFERMEIRO NO APOIO À PESSOA COM DOENÇA AVANÇADA E EM FINAL DE VIDA? A recidiva é o maior medo dos doentes com cancro e quando esta é confirmada o choque provocado pela má notícia suplanta em muito o impacto do diagnóstico inicial. No caso dos doentes em que a doença recidiva ou que já foi diagnosticada em estádio IV a intervenção de enfermagem é extremamente complexa e deve ser planeada, avaliada e reavaliada sistematicamente. A suspeita/confirmação de doença metastática pode surgir durante o exame físico, os exames de rotina ou quando o doente refere sintomas persistentes, tais como, dor, sintomas respiratórios, digestivos ou neurológicos. O cancro da mama metastático é incurável mas tratável e pode ser controlado por períodos maiores ou menores de tempo pois o tratamento paliativo além do controlo sintomático pode atrasar temporariamente a evolução da doença. Estes doentes podem viver por bastante tempo com boa qualidade de vida contudo podem manifestar tristeza, desesperança e apreensão relativa à doença e existe um subgrupo que apresenta ansiedade ou depressão70. Pela forte possibilidade dos doentes experienciarem sofrimento psicológico ao longo do seu processo de doença é imprescindível que este seja avaliado desde o momento do diagnóstico e em alturas chave como a fase de tratamento ativo, aquando da progressão da doença e em fim de vida. O papel do enfermeiro é não só avaliar mas fornecer suporte emocional e referenciar à psico-oncologia, se o doente concordar, quando o sofrimento psicológico for clinicamente significativo. A articulação com a equipa de cuidados paliativos, numa fase inicial da doença avançada, é também essencial, sendo promotora da continuidade de cuidados e da satisfação dos doentes. Estes visam sobretudo o controlo sintomático e a promoção da qualidade de vida do doente. É fundamental que este saiba que a equipa não o abandonará e que tudo fará para que mantenha o máximo de qualidade de vida durante o tempo que lhe restar. Promover a comunicação entre o doente e família é essencial, a capacidade de cada elemento da família expressar preocupações e emoções permite que questões fundamentais sejam abordadas, fortalecendo laços entre os elementos da família e permitindo que os diferentes elementos possam apoiar e receber apoio. Cuidar de um doente com cancro da mama avançado implica um esforço multidisciplinar, olhar para a pessoa de forma holística, identificar o que é uma fonte de sofrimento e procurar dar uma resposta integral às suas necessidades físicas, psicossociais e espirituais. O papel do enfermeiro é coordenar os cuidados prestados, estar presente, acompanhar, cuidar, contribuir para o controlo sintomático e apoiar emocionalmente o doente e família em qualquer contexto de cuidados, seja no internamento ou no domicílio, contribuindo para o máximo de qualidade de vida possível e para uma morte digna e tranquila. 100 perguntas chave no Cancro da Mama 69 S. Pedro, L. Travado BIBLIOGRAFIA 1. Kornblith A. Psychosocial adaptation of cancer survivors. In Holland, J.C. (Ed.), Psycho-oncology. New York: Oxford University Press. 1998;223-41. 2.Adler NE, Page AEK. Institute of Medicine (IOM). Cancer care for the whole patient: meeting psychosocial health needs. Page, eds. Washington, DC: The National Academies Press. 2008 3.Grassi L, Travado L. The role of psychosocial oncology in cancer care. In Coleman, MP, Alexe D, Albreht T, McKee M. (Eds.), Responding to the challenge of cancer in Europe. 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