Aula III – Classificação do Sistema Nervoso segundo Critérios

Transcrição

Aula III – Classificação do Sistema Nervoso segundo Critérios
Aula III – Classificação do Sistema Nervoso segundo Critérios Funcionais
(Transcrição da aula – vídeo)
Hoje vamos estudar uma nova forma de classificação do Sistema Nervoso.
Seguiremos os princípios que nortearam a classificação segundo critérios funcionais.
Segundo essa classificação o sistema nervoso que, como vocês já sabem, é um
contínuum, ele vai ser abordado principalmente considerando os seus aspectos
periféricos.
Mas, para que possamos controlar... para podermos accionar esses neurónios que
estão no Sistema Nervoso Periférico, precisamos de um interface no Sistema Nervoso
Central. Então, por isso, nós vamos estudar uma divisão, considerando principalmente
os componentes eferentes duma parte do sistema nervoso, chamada Sistema Nervoso
Somático e a outra chamada Sistema Nervoso Visceral.
O Sistema Nervoso, do ponto de vista funcional, então, pode ser dividido em
Sistema Nervoso Somático, ou da vida de relação (é o sistema nervoso que permite a
nossa interface com o meio ambiente) e também o Sistema Nervoso Visceral, ou da
vida vegetativa (aquele que vai promover a digestão dos alimentos, a nossa homeostase
e também os mecanismos comportamentais de luta e fuga).
O Sistema Nervoso Visceral, assim como o Sistema Nervoso Somático, tem um
componente aferente e um componente eferente.
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Contudo, enquanto no SNS o componente aferente ele é fundamental para a
actividade eferente e o arco reflexo já está muito bem descrito, no caso do SNV esse
componente aferente, em princípio, se difunde ao longo do neuro-eixo, buscando um
contacto sináptico com os núcleos supra-espinhais que controlam e gerenciam todo o
funcionamento do Sistema Nervoso Autónomo. Seriam, por exemplo, os núcleos
hipotalâmicos, que estariam então responsáveis pela organização da activação do
Sistema Nervoso Autónomo.
Considerando esse ponto de vista, alguns autores praticamente consideram
como SNA apenas o componente eferente do Sistema Nervoso Visceral. Dessa
forma, o Sistema Nervoso Autónomo, ou Sistema Nervoso Neurovegetativo, é
compreendido pelo componente eferente do Sistema Nervoso Visceral e é dividido em
Sistema Nervoso Simpático e Sistema Nervoso Parassimpático.
Quais seriam as diferenças entre o Sistema Nervoso Somático e o Sistema
Nervoso eferente Visceral (chamado Sistema Nervoso Autónomo)?
Considerando o Sistema Nervoso eferente Somático, os impulsos eferentes
terminam em músculo estriado esquelético. É um sistema nervoso voluntário. A via
eferente é formada apenas por um neurónio motor. Melhor seria dizermos que essa
via eferente é "representada" apenas por um neurónio motor.
Esse neurónio motor está localizado no colo (corno) anterior da medula
espinhal ou em núcleos motores de nervos cranianos. Os somas neurais, os corpos
celulares efectores, localizam-se, então, dentro do SNC. Esses neurónios efectores são
aqueles que farão a interface com o músculo estriado esquelético e situam-se no SNC,
no neuro-eixo. A junção neuro-muscular, nesse sistema nervoso eferente somático, é
feita através de terminações em placa motora.
Considerando o Sistema eferente Visceral, os impulsos eferentes terminam em
músculo liso, músculo estriado cardíaco e em glândulas. Ele é involuntário. Nós não
podemos, em princípio, controlar o Sistema Nervoso Autónomo a nosso bel-prazer. Por
exemplo, quando ingerimos um bolo alimentar não podemos saber a que ponto do tubo
digestivo ele se encontra durante o processo digestivo, nem quais glândulas, se
duodenais ou estomacais, estão sendo activadas e estimuladas no mecanismo de
secreção. Também não sabemos qual é a nossa frequência cardíaca, se não palparmos o
nosso pulso arterial. Então isso são provas de que nós não podemos controlar o Sistema
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Nervoso Autónomo, muito embora haja relatos de pessoas que podem, atingindo níveis
de concentração superiores, controlar os batimentos cardíacos. Mas isso não é o comum
e nós não sabemos os mecanismos neurais usados por essas pessoas. Em princípio,
então, o sistema eferente visceral é involuntário.
Sim, a via eferente no Sistema eferente Visceral é formada por dois
neurónios motores ou melhor, "representada" por dois neurónios motores, um que se
situa dentro do neuro-eixo e outro fora do neuro-eixo. Os corpos neurais efectores
localizam-se fora do neuro-eixo. Agora estamo-nos referindo àqueles neurónios que vão
fazer a interface imediata com o músculo liso, músculo estriado cardíaco ou com as
glândulas.
Bom! Esses neurónios estão fora do neuro-eixo, embora essa via efectora seja
formada por dois neurónios motores, um pré-ganglionar e um ganglionar ou pósganglionar. A junção neuro-muscular do sistema eferente visceral é do tipo "en
passant", ou "de passagem". O axónio atravessa por entre os espaços glandulares, por
entre as mil células cardíacas, as mil células musculares lisas e vão liberar os
neurotransmissores ao longo de sua passagem, por isso uma neurotransmissão "en
passant", diferente da neurotransmissão em placa motora, que seria terminal, através da
sola de um dispositivo histológico de contacto entre a membrana pré e pós sináptica,
para que então seja feita a neurotransmissão.
Como seria a organização geral do Sistema Nervoso Autónomo? O que
contém, neuroanatomicamente, o SNA que tanto o caracteriza e individualiza?
É exactamente a presença desses dois neurónios motores, diferente do SNS
que tem UM neurónio motor, ou ... é a sua unidade funcional representada por um
neurónio motor.
Então, a organização geral do SNA é caracterizada pela presença de neurónios
pré-ganglionares e pós-ganglionares que nós podemos também chamar de ganglionares.
Estes são os elementos fundamentais da organização da parte periférica do SNA.
Onde se localizam, agora, os neurónios pré-ganglionares e pósganglionares?
Os corpos neuroneais pré-ganglionares localizam-se ou na medula espinhal
ou no tronco encefálico. Considerando, por exemplo, o sistema nervoso simpático,
situam-se na medula espinhal, nos segmentos medulares de T1 a L2. Considerando o
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sistema nervoso parassimpático, situam-se, esses neurónios, pré-ganglionares, em
segmentos medulares de S2 a S4 (S2, S3 e S4, são níveis sacrais da medula espinhal)
e também em alguns núcleos autonómicos localizados no tronco encefálico, núcleos
ligados aos movimentos cranianos (como o nervo facial, o glossofaríngeo, como o
nervo vago, que são alguns nervos com funções autonómicas).
Os corpos de neurónios pós-ganglionares estão localizados fora do SNC, nos
chamados "gânglios autonómicos", que são gânglios motores, gânglios motores
autonómicos. Onde se localizam esses gânglios? Quais são esses gânglios?
Esses gânglios autonómicos são representados pela cadeia pré-vertebral, pelas
cadeias paravertebrais direita e esquerda e também por gânglios (microgânglios)
intramurais, ou seja, localizados dentro da parede de vísceras (dentro do útero, dentro
da bexiga, dentro do tubo digestivo, etc.). Esses gânglios também podem-se situar
próximo às vísceras. Nesse caso eu estou-me referindo a vísceras localizadas no
interior da caixa craniana, dentro da cabeça. Bom, na verdade são vísceras ligadas a
alguns órgãos que podem ser manipulados, como o globo ocular, como glândulas
salivares, glândulas lacrimais... Então, são órgãos que podem..., são estruturas que
podem ser controladas pelo SNA. Neste caso o gânglio não vai ser intramural, não está
na parede dessas vísceras (vai estar localizado nas proximidades...). Então, neste caso,
estes gânglios são parassimpáticos.
Quais seriam então as diferenças entre Sistema Nervoso Simpático e
Parassimpático?
Vejamos as diferenças anatómicas entre Sistema Nervoso Simpático e Sistema
Nervoso Parassimpático.
Considerando a posição dos neurónios pré-ganglionares:
- No Sistema Nervoso Simpático, eles situam-se entre T1 e L2, portanto na
medula espinhal, nos cornos intermédios laterais da medula espinhal que estão presentes
de T1 a L2. Isto no caso do simpático...
- E no caso do Sistema Nervoso Parassimpático? A localização é cranial, agora
em núcleos autonómicos ligados a alguns nervos cranianos, por exemplo o núcleo de
Edinger-Westphal (ligado ao nervo óculo-motor), núcleo lacrimal (ligado ao
glossofaríngeo), núcleo salivatório superior (ligado ao nervo intermédio, componente
do facial), núcleo salivatório inferior (ligado ao glossofaríngeo), núcleo dorsal do nervo
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vago (ligado ao nervo vago). Possuem também, esses neurónios pré-ganglionares,
considerando o parassimpático, uma localização na medula espinhal, região sacral de S2
a S4, nos chamados cornos intermédios laterais que, nesses sítios... ele é engolfado pelo
abaulamento do corno anterior, do corno ventral da medula espinhal. Então nós não
conseguimos individualizar muito bem, a olho nu, só à microscopia óptica.
Considerando a diferença anatómica quanto à posição dos neurónios pósganglionares:
- No caso do Sistema Nervoso Simpático, esses neurónios situam-se em
cadeias, ou seja, gânglios unidos por ramos interganglionares, situados muito próximos
da coluna vertebral. Então, cadeias paravertebrais que se situam à frente dos grandes
vasos, portanto à frente da coluna vertebral, unidos por ramos interganglionares,
formando então a cadeia pré-vertebral. É essa a localização dos neurónios pósganglionares do Sistema Nervoso Simpático.
- Considerando o Sistema Nervoso Parassimpático, esses neurónios pósganglionares vão formar gânglios autonómicos situados próximos ou no interior das
vísceras.
Diferenças anatómicas quanto ao tamanho das fibras pré e pós-ganglionares:
Agora, considerando a localização do neurónio pré-ganglionar no neuro-eixo e a
localização dos neurónios pós-ganglionares no sistema nervoso periférico autonómico,
nós vamos ter um cumprimento maior ou menor da fibra pré e pós-ganglionar, que vai
fazer o contacto entre esses neurónios (pré e pós-ganglionar) e o contacto entre o
neurónio pós-ganglionar e a estrutura efectora.
Bom! Considerando isto, o Simpático possui fibras pré-ganglionares menores
do que as pós-ganglionares; o Sistema Nervoso Parassimpático possui as fibras préganglionares maiores do que as fibras pós-ganglionares.
Diferenças ultra-estruturais ou seja, aquelas características observáveis sob
microscopia electrónica:
Considerando o Sistema Nervoso Simpático, as vesículas presentes no terminal
pré-sináptico são granulares e pequenas e no Parassimpático elas são agranulares. Essa
característica deve-se à molécula do neurotransmissor. No Sistema Nervoso Simpático
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esses neurotransmissores são electrodensos e no Sistema Nervoso Parassimpático
electrotransparentes.
Algumas diferenças farmacológicas entre o Sistema Nervoso Simpático e
Parassimpático:
Considerando a neurotransmissão, o Sistema Nervoso Simpático tem como
transmissor a noradrenalina e o Sistema Nervoso Parassimpático a acetilcolina.
NB: As fibras pré-ganglionares são colinérgicas em ambos os sistemas. As
fibras que vão secretar ou liberar o neurotransmissor entre o neurónio pré-ganglionar e o
neurónio pós-ganglionar então, no caso do sistema tanto simpático quanto
parassimpático, vão liberar acetilcolina. O receptor, neste caso, é o receptor nicotínico.
Considerando as fibras pós-ganglionares no Sistema Nervoso Parassimpático,
o neurotransmissor vai ser a acetilcolina e o receptor é muscarínico. No caso do sistema
nervoso adrenérgico, sistema eferente autonómico (simpático), usa nos neurónios pósganglionares a noradrenalina, evidentemente, e receptores alfa1, alfa2, beta1 e beta2,
noradrenérgicos.
Considerando as glândulas sudoríferas, nesse caso a neurotransmissão
adrenérgica é colinérgica, ela é uma excepção.
Considerando também a anatomia, existe uma excepção bastante significativa: o
neurónio pré-ganglionar que vai inervar a glândula, a medula da supra-renal não faz
interface no neurónio ganglionar ou pós-ganglionar. Ele vai directamente à glândula
e vai então estimular a liberação na corrente sanguínea de neuro-hormonos,
noradrenalina e principalmente adrenalina (80% de adrenalina, 20% de noradrenalina).
Então, esses neurotransmissores vão funcionar como neuro-hormonos e vão permitir
uma activação mais abrangente do Sistema Nervoso Autónomo Simpático.
Considerando agora a via efectora final do Sistema eferente Somático, nós temos
também nas placas motoras a liberação do neurotransmissor acetilcolina e, neste caso,
o receptor também é nicotínico.
Na próxima aula nós vamos abordar estruturas anatómicas do Sistema Nervoso
Periférico e vamos dar o enfoque à localização do neurónio pré e pós-ganglionar do
Sistema Nervoso Visceral, eferente visceral (SNA).
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(Transcrição do vídeo apresentado pelo Prof. Coimbra, na aula III, realizada por
Celso Oliveira).
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