o desenvolvimento do pensamento evolutivo monocentrista versus

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o desenvolvimento do pensamento evolutivo monocentrista versus
O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO
EVOLUTIVO MONOCENTRISTA VERSUS
POLICENTRISTA
Leonardo de Castro Farah*
RESUMO:
Quando os primeiros anatomistas do século XIX começaram a estudar a
evolução humana, realizar medições nos crânios, obviamente, iniciava o nascimento do
que chamamos de filogenia humana (árvore genealógica humana), desta forma
começou-se a descobrir no campo, fósseis de hominídeos que aos poucos poderia fazer
parte da família humana, surgiam assim às primeiras formas de filogenia monocentrista,
isto é, as espécies humanas descobertas (Homo erectus, neandertal e Homo sapiens),
estavam conectados, isto quer dizer que o ponto final evolutivo era o Homo sapiens,
desta forma, esta visão monocentrista (em que a nossa espécie teve uma origem central,
única ou singular) perpassou no século XIX até o início do século XIX, mas ao
descobrir novos fósseis de hominídeos na China (o Homem de Pequim), Indonésia
(Homo Solo), África (Homem rodesiano), começou a nascer o modelo policentrista (isto
quer dizer que a origem humana moderna se originou do Homo ergaster-erectus,
simultaneamente nos quatro continentes: Austrália, Mongólia-China, África, Europa),
este modelo desenvolvido na década de 40 do século XX, por Weidenreich foi reforçado
e enriquecido para explicar o que chamamos hoje em dia de Teoria Multirregional,
desenvolvido na década de 80 por Alan Thorne (1939-2012) e Milford Wolpoff, da
Universidade de Michigan que tem como objetivo sugerir como, onde, quando se deu o
aparecimento da espécie humana moderna na Terra. O que vamos explicar neste texto
seria como se deu o desenvolvimento tanto do pensamento evolutivo monocentrista,
como o pensamento policentrista.
Palavra - chave: policentrismo, monocentrismo, teoria multirregional.
*Professor de História do Ensino Médio e Fundamental em Nova Viçosa-BA. Graduado
em História pela UNI-BH e Especialista em Educação em Sociologia pela FINON Faculdade Noroeste de Minas Gerais.
E-mail: [email protected]
01
INTRODUÇÃO: O PENSAMENTO MONOCENTRISTA (1859-2012)
A disciplina que estuda a evolução humana, sua origem, bipedalismo,
sentimento introspectivos, seria a paleoantropologia, nascida no início do século XX,
final do século XIX, seu foco de pesquisa, o objeto de estudo seria os hominídeos
(criaturas antropomorfas que estariam na linhagem da espécie humana), os primeiros
paleoantropólogos eram médicos, podemos citar alguns: Hermann Schaaffhausen
(1816-1893), Ernst Haeckel (1834-1919) e Rudolf Virchow (1821-1902), no início da
paleoantropologia os estudos arqueológicos nas cavernas e nos sítios arqueológicos não
eram realizados por estes senhores, mas as descobertas e os resultados preliminares dos
fósseis de hominídeos encontrados eram estudados por estes doutores, desta forma, seria
natural que houvesse algum tipo de pensamento evolutivo linear e ou regional.
No último texto que publicamos (mudanças no modelo evolutivo humano
sugerido por C. Loring Brace), argumentamos que o estudo da evolução humana, surgia
após a publicação do livro de Charles Darwin: As origens das espécies por meio da
seleção natural de 1859 e A descendência do Homem e seleção em relação ao sexo, de
1871, deram início ao estudo da paleoantropologia. O médico e naturalista alemão,
doutor Haeckel (1834-1919), propôs uma evolução linear e gradual que ligasse um
hipotético (Pithecanthropus alalus – homem maço sem fala), ao neandertal (descoberto
em 1856) que por sua vez daria origem única ao Homo sapiens (descoberto em 1868,
com o nome Cro-Magnon com este tipo de visão evolucionista nascia à teoria
monocentrista), quer dizer que é antigo e muito antigo, o pensamento da origem única
do ser humano moderno, pois ele é o ponto central da evolução humana, pois esta visão
em que o homem moderno se encontra no centro evolutivo por ser um pouco
equivocada, tanto o monocentrismo como o policentrismo são conceitos que tentam
explicar como, onde e quando surgiu o homem moderno, mas estes modelos foram
abandonados (nossa conclusão irá explicar isto melhor), podemos afirmar que os
homens anteriores aos modernos, tinham uma forma de pensar inteiramente nova para
sua época, e não devem ser considerados como fracasso evolutivo, pelo contrário,
seriam frutos de uma evolução adaptativa e cada espécie possuía uma estratégia de
sobrevivência.
Voltando ao tema, tentando provar a existência do Pithecanthropus alalus outro
médico, mas holandês, Eugene Dubois (1858-1940), conseguiu descobrir em 1891, na
Indonésia, restos de um fêmur e uma calota craniana, que achou ser de um mesmo
indivíduo, pois estava na mesma camada geológica, que encontrou o fêmur. Mas tarde,
em 1898, Dubois, levou consigo seus achados e apresentou formalmente à academia,
chamando de Pithecanthropus erectus (nomenclatura dada em homenagem a Haeckel),
essa nova descoberta animou o antropólogo alemão Gustav Schwalbe (1844-1916),
propondo um esquema regional, linear e gradual da evolução humana em seu livro:
Zeitschrift für Morfologie und Anthropologie (1899):
FIGURA 1
Homo sapiens
Homo primigenius (neandertal)
Pitecanthropus
Fonte: Wolpoff, M e Caspari. Race and Human Evolution: New York, 1997. P 115.
02
Obviamente, Haeckel e Schwalbe aprovaram o Pithecanthropus de Dubois, mas
alguns membros da comunidade científica internacional não ficaram satisfeitos e
criticou a descoberta em Java (Indonésia), os membros da comunidade da época
estavam acostumados em perfis anatômicos similares aos Neandertais, e ao Cro–Magnon,
assim, repudiaram a sugestão de Dubois que afirmava os fósseis deviam ser
pertencentes a um só indivíduo. Rudolf Virchow sugeriu que a calota craniana
pertencesse a um gibão, enquanto o fêmur era muito parecido com um fêmur humano.
“Um dos peritos que examinaram (H. erectus) foi o antropólogo e anatomista
alemão R. Virchow, que imediatamente concluiu que suas peculiaridades eram
devidas às deformidades patológicas e não indicavam primitivismo, como
alguns especialistas menos famosos (A. Keith) tinham sugerido” (Howell, F.C.
1969. P 12).
De qualquer modo foi até bom isto ter acontecido, por que novos estudantes de
graduação numa segunda geração de anatomistas desejavam verificar por conta própria
se as afirmações de Dubois seriam verdadeiras e vemos que no início do século XX,
ocorreu uma explosão de achados similares ao descoberto por Dubois. Surgia então à
figura de Von Koenilgswald (1902-1982), que inicia sua escavação em Sangiran
(Indonésia) e Davidson Black (1884-1934), que escavou a região próxima a Pequim,
China. Black era zoólogo e Von Koenilgswald era anatomista e também geólogo, e
poderia provar geologicamente, a estratigrafia da região que escavara (Dubois não
conseguia dar informações detalhadas da geologia do local – Trinil que havia
descoberto o seu fóssil, com Von Koenilgswald, teria então de começar do zero e
desenterrar camada após camada, encontrar um fóssil-guia e para assim, descobrir
fósseis de hominídeos nas camadas). Como dissemos anteriormente, os primeiros
paleoantropólogos eram médicos, não tinham formação acadêmica em geologia,
arqueologia e outras ciências afins, dificultando uma ampliação do panorama préhistórico, desta maneira, os achados de Pithecanthropus erectus aumentou tanto na China
(Homem de Pequim de 1923-27) como na Indonésia (Homem Soloensis), mais tarde na
África foi descoberto em 1921, na atual Zâmbia, o Homo rhodesiensis ou rodesiano (que
na verdade faz parte da espécie do Homo heidelberguensis) e nos anos 50, o Atlanthropus
mauritancius (uma mandíbula descoberta em 1954) e o Telanthopus, esses fósseis foram
descobertos na Argélia e Tanzânia, que podem ser agrupados ao Homo erectus.
Devido um aumento no número de Pithecanthropus descobertos na Ásia e na
África, fez que os anatomistas da segunda geração achassem melhor somá-lo ao gênero
Homo, portanto, sendo chamado de Homo erectus. No início do século XX, surgiu na
África do Sul para o cenário internacional, o Bebê de Taung, ou Australopithecus
africanus, que era milhares de anos, anterior aos espécimes descobertos na Ásia e na
Europa, entre os anos de 1925-1957, inúmeros fósseis de Australopithecus africanus e
Australopithecus robustus foram descobertos em inúmeros sítios arqueológicos na África
do Sul: Makapangast, Sterkfontein, Kromoraai, Drimolen, Swartkrans e Taung
(Scientific American, Ed. Especial. nº2). O Australopithecus africanus foi considerado o
ancestral do Homo erectus, desta forma, o monocentrismo proposto por Haeckel, no
longínquo século XIX, vigorava nos anos 60. Foi mais ou menos nesta época, que
surgia a filogenia humana mais monocentrista possível, proposta por Le Gros Clack e
Charles Loring Brace.
03
FIGURA 2
Pré–mousterian man
100,000 - 200,000
Homo erectus
Early Mousterian man
200,000 - 500,000
Australopithecus
500,000 - 1750,000
50,000 - 100,000
Homo neanderthalensis
Modern European
about 50,000
Fonte: Le Gross Clark, W. 2th ed. 1964. P 176 - 177.
O Dr. Le Gros Clark (1895-1971) era o primeiro anatomista, com formação em
primatologia (estudo de primatas: chimpanzés, gorilas e orangotango), em sua árvore
genealógica, Clark deixa claro que o neandertal era uma espécie diferente da linhagem
humana, deixando com um ramo lateral, algo que Marcelim Boule (1861-1942) fez em
1912, ao declarar que o Homo erectus e o neandertal seguissem por um caminho e os
homens modernos por outro caminho evolutivo. Diferentemente de Boule, Clark
considera o Homo erectus um ser integrante da nossa árvore genealógica.
Brace já pensa diferente de Clark, que coloca o neandertal como nosso devido
ancestral, assim, ele propunha uma simplificação da evolução humana em estágios
culturais próprios entre as espécies humanas, começando com os Australopithecus,
depois pelo Homo erectus que originou o neandertal e que finalmente originou-se o Homo
sapiens, para Brace a evolução estava sendo linear e gradual e, portanto, cada indivíduo
citado estava no seu próprio estágio de evolução, sem haver interação entre as espécies
num mesmo espaço-tempo.
“Há outra ramificação dentro da teoria evolucionista a que se denominou
princípio da seleção competitiva. Afirma este jamais poderem dois organismos
ocupar o mesmo nicho ecológico. Por um lado, tal assertiva é a constatação do
óbvio, embora, como em tantos outros casos, o óbvio não se evidencia enquanto
não é declarado. Eis a questão: não somente é a cultura um nicho ecológico
singular no qual se espera encontrar uma única espécie, mas desde que se
tenha constatado a existência exclusiva de uma única tradição cultural nos
primórdios do Pleistoceno” (Brace, 1979: 74).
Mas alguns antropólogos nos anos 70 começaram a haver uma remodelagem da
visão monocentrista com ênfase no surgimento dos seres humanos modernos
(Chokoutein, Boskop e Cro-Magnon) o ancestral direto dos modernos seria dado através
do neandertal, (talvez por influência de Brace ou de outros paleoantropólogos), desta
forma, nossa espécie se espalhou pelo resto do mundo, propondo uma árvore
genealógica a partir do Homo erectus ou Pitecantropo. Observe na figura abaixo proposta
por Aguirre no final dos anos 70, que o Homem Solo e o Rodesiano são considerados,
beco sem saída evolutivo, atualmente, esta árvore genealógica mesmo sendo
monocentrista, pode ser considerada polêmica, pois o Homem Solo faz parte da espécie
do Homo erectus (Pitecantropo) e o Rodesiano, do Homo heidelberguensis africano.
04
FIGURA 3
Fonte: Aguirre, Emiliano. A Origem do Homem. Rio de Janeiro, Savat, 1979. P 100.
Justamente nos anos 70, Richard Leakey descobriu na África um crânio e deu o
nome de Homo ergaster (trabalhador), sendo, portanto, o ancestral do Homo erectus, por
sorte, em 1984, Leakey e seus colaboradores descobriram um esqueleto 100% completo,
de um Homo ergaster, criança de uns 11 anos de idade, “Menino de Turkana” ou
“Garoto de Nariokotome” (KNM WT 15.000), desta forma, desde os anos 80 e 90, a
filogenia humana monocentrista modificou-se e afastou-se do modelo proposto por
Aguirre, no final dos anos 70.
Nos anos 80, a paleoantropologia recebeu ajuda dos dados genéticos, para saber
onde, quando e como surgiu o homem moderno, portanto, Luigi Luca Cavalli-Sforza,
especializado em genética da população, e seus seguidores, começaram a coletar
amostras genéticas das populações mais antigas do mundo estando em vários
continentes, de qualquer modo, os dados dos genenticistas explodiram em 11 de janeiro
de 1988, na capa da revista Newsweek (In Search of Adam and Eve), neste caso os
geneticistas responsáveis pelo estudo genético das populações humanas são: Rebecca L.
Cann e Allan C. Wilson. A conclusão do estudo foi que o ser humano moderno surgiu
em algum local na África a uns 200 mil anos, ou seja, muito recentemente (Newsweek
N°111. 11 Jan 1988: 46-52). Já na década de 40, o paleoantropólogo William W.
Howells (1908-2005), da Universidade de Havard e neto do grande crítico literário
William D. Howells (1837-1920) havia proposto uma hipótese não muito levada a sério
naquele tempo, mas que é utilizado amplamente, pelos paleoantropólogos, que era
chamado na época de “Modelo Arca de Noé”, que argumentava que as populações
modernas, surgiram recentemente num determinado local e substituiu as populações
humanas arcaicas (Homo erectus e neandertais) (Scientific American Brasil. N° 2. P 49).
Graças à biologia molecular e os achados do Homo ergaster na África, temos assim,
temos uma árvore genealógica monocentrista mais simples abaixo.
05
FIGURA 4
Fonte: Scientific American Brasil. N °2. Novembro de 2003. São Paulo: Duetto, P 47
Nos anos 90, a Teoria “Arca de Noé” foi readaptada e remodelada (com ajuda de
dados genéticos propostos por Wilson e Cann além de dados fósseis). Com base nos
dados acima, Chris Stringer do Museu Britânico de História Natural, de Londres,
Inglaterra, propôs o modelo em 1994, que atualmente é chamado de modelo para Fora
da África (Ou of Africa) ou Origem Única, sugere que os humanos modernos evoluíram
do Homo heidelberguensis, na África a uns 200 mil anos (os esqueletos do Cro-Magnon e
do Homo ergaster ou “Menino de Turkana” são em média de 1,8m isto quer dizer que eles
teriam evoluído num local quente para seu corpo dissipar calor, enquanto os neandertais
clássicos tinham em média 1,65m o motivo disso era adaptação ao frio glacial, pois
eram menores para conservar calor). Após surgirem no mundo (Omo Kibish, Herto, J.
Irhoud), os modernos migraram a uns 70-60 mil anos para fora da África, substituindo
linha mais antiga de evolução, esta substituição se completou por volta de uns 10 mil
anos, segundo Stringer e seus colaboradores propõem que esta substituição foi realizada
sem mescla ou mestiçagem entre humanos modernos e arcaicos. Mas o próprio Stringer
atualmente, parece aceitar que houve uma mestiçagem entre as espécies humanas
arcaicas e modernas, devido à descoberta de híbridos, em Portugal (Lagar-Velho),
Denisova (Rússia, Sibéria) e o outro na Romênia (Peştera cu Oase), além de dados
genéticos extraídos de fósseis neandertais comprovarem que humanos modernos atuais
possuem de 1% a 4% de seu material genético.
Mas Stringer continua firme, afirmando que os modernos poderiam ter acasalado
com os arcaicos e vice-versa, mas que no final os homens modernos substituíram-nos na
Terra, devido uma característica humana peculiar, a linguagem articulada com sintaxe e
seu comportamento moderno, poderia ter ajudado os primeiros modernos a desbravar o
mundo em sua volta. Deste modo, Stringer propõe uma nova filogenia do Homo com o
sapiens no topo.
06
FIGURA 5
Fonte: Stringer, C. Lone Survivor. New York, Henry Holt, 2012. P 271
Neste modelo acima proposto por Stringer nos diz três coisas, a 1ª que o homem
moderno surgiu na África e substituiu as espécies arcaicas. 2ª houve na Eurásia uma
mestiçagem entre espécies modernas com antigas (neandertal e denisoviano) e a 3ª é que
as espécies humanas arcaicas (Homo erectus, floresiensis, antecessor, neandertal,
denisoviano e heidelberguesis) os seriam um ramo lateral, este tipo de pensamento no que
diz respeito ao neandertal seguindo o pensamento de Boule e retificando o modelo
traçado por Le Gros Clark (que também foi do Museu Britânico de História Natural)
que argumentava que os neandertais seriam um desvio evolutivo. Segundo Indiana
Jones, nem sempre onde está marcado o X, o tesouro está enterrado, isto quer dizer que
vemos as teorias nascerem e morrerem na história da paleoantropologia, por exemplo,
nos anos 60 Charles Loring Brace criou a “Hipótese da Espécie Única” que afirmava
que cada espécie da linhagem humana estava no seu plano cultural e temporal próprio,
não havia duas ou mais espécies humanas habitando o globo, num mesmo tempo e
local, mas na década de 70 tudo veio por água abaixo, quando o Homo habilis e Homo
rudolfensis foram descobertos na mesma idade geológica que os Australopithecus boisei.
Outro exemplo recente pode ser o de Richard Klein, um grande
paleoantropólogo, autor de diversos livros sobre o tema, entre eles: O Despertar da
Cultura (a qual nós possuímos) e The Human Career: Human Biological and
Cultural Origins, que afirma que o comportamento humano moderno surgiu no mundo
a uns 50 mil anos (muito recentemente), tese defendida desde os anos 70, porém, na
década de 90, evidências arqueológicas mais uma vez parece provar que o
comportamento moderno surgiu a uns 100 mil anos na África do Sul (Foz do Rio
Klases, Diepkloof e Bomblos) e talvez no futuro, pode-se achar mais evidências de
comportamento humano moderno ainda mais antigo que 100 mil anos. Apesar de não
compartilhar das idéias destes senhores, o que quero dizer com isto é que tanto Klein
como Brace, são referências no campo da paleoantropologia, seus argumentos não são
de maneira nenhuma um disparate, forçado ou embaraçoso, são na verdade grandiosos;
rebuscados e educativos.
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ORIGENS DO PENSAMENTO POLICENTRISTA (1945-1997):
Diferentemente, do modelo monocentrista, o modelo policentrista ou candelabro,
surgiu na década de 40 (para ser preciso foi em 1945), um modelo proposto pelo
paleoantropólogo, Franz Weidenreich (1873-1948), médico e anatomista alemão
trabalhou junto com Black e Von Koenilgswald, na Ásia, o Dr. Weidenreich estudou o
crânio de Zhoukoudian (Homem de Pequim) e percebeu que poderia haver: “parallel
evolution going through a series of stages in all regions of the Old World ¹” (Wollpoff;
Caspari, 1997: 175). O modelo de candelabro foi montado ao ter sido minuciosamente
estudado por Weidenreich.
FIGURA 6
Modelo proposto por Weidenreich, em 1945.
Fonte: Wolpoff, M e Caspari. Race and Human Evolution. New York, 1997. P 201.
Neste modelo policentrista, notamos o Giganopithecus blaki (um macaco ligado a
subfamília dos ponginae que faz parte o gorila) iniciar-se como uma linha evolutiva que
se liga ao meganthopus (uma mandíbula descoberta na Indonésia duas vezes maior que
uma mandíbula de um gorila, talvez nem faça parte do gênero Homo atualmente), mas
de acordo com sua escala, os australianos aborígenes estariam ligados ao Homo soloensis
e ao Homo erectus, enquanto os chineses atuais estariam ligados ao Sinantropus
pekinensis, os africanos estariam ligados ao homem rodesiano e finalmente os euroasiáticos estariam ligados a fósseis de Israel (Skull e Tabun).
¹evolução paralela passando por uma série de etapas em todas as regiões do Velho Mundo.
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Weidenreich sucedeu Davidson Black como chefe do Laboratório de Pesquisa
Cenozóica em Zhoukoudian, China, (na verdade foi Weidenreich, que propôs a
mudança de Pithecanthropus erectus para Homo erectus). De acordo com seu esquema de
1945, Weidenreich, concluiu que as “raças” humanas evoluíram de forma independente
no Velho Mundo do Homo erectus ao Homo sapiens, e, ao mesmo tempo, havendo fluxo
genético entre as diversas populações (isto quer dizer que houve um cruzamento entre
as espécies e subespécies arcaicas entre si até surgir as modernas).
No modelo de 1945, proposto por Weidenreich, notamos também há os pontos
de interrogação, devido à limitada e a falta de mais dados entre os fósseis conhecidos no
Velho Mundo, naquela época, podemos até supor que Weidenreich poderia ser
considerado o pai fundador do modelo multirregional, proposto na década de 80 (para
ser preciso em 1984), por Milford Wolpoff, da Universidade de Michigan e Alan
Thorne (1939-2012), que construíram com novas evidências os pontos faltantes (pontos
de interrogação), deste modo, os dois pesquisadores enriqueceram as pesquisas de
Weidenreich. Mesmo havendo uma limitada evidência de fósseis humanos das espécies
arcaicas africanas, européias, asiáticas e australianas mesmo assim, concluiu que havia
uma continuidade regional nos seres asiáticos arcaicos, com os seres asiáticos recentes
ou modernos, e em 1959, William Howells criou o modelo de candelabro, visto abaixo
(Wolpoff; Caspari, 1997. P 170-176).
FIGURA 7
Modelo de Candelabro proposto Weidenreich escrito por Howells em 1959.
Fonte: Aguirre, Emiliano. A Origem do Homem. Rio de Janeiro, Savat, 1979. P 101.
09
Mas o que é continuidade regional? Para o Dr. Wolpoff nossa origem está na
migração dos Homo ergaster que houve á 2,0 milhões de anos, para fora da África em
direção a Europa e Ásia, e seus fósseis mostram, que ocorreu uma continuidade de
características crânio-facial de seres arcaicos em direção a modernidade, estes seres
poderiam ter mesclado entre si e através de migrações, que constantemente, saíam e
voltavam pra África e gerava o aparecimento de novas espécies e a confirmação que o
Velho Mundo era considerado o local da origem humana moderna.
Há características anatômicas peculiares, em fósseis de Homo erectus de 1,8
milhões de anos com as populações atuais da Austrália e Ásia. Desta forma, estes
fósseis estavam evoluindo em nós lentamente, linearmente e gradualmente, e este
modelo proposto inicialmente, por Weidenreich afirma que nossa espécie surgiu na
África, Europa e Ásia simultaneamente. A teoria de Weidenreich, fala da origem das
“raças” humanas, algo que atualmente qualquer biólogo que conheço refutaria o seu
conceito e sua epistemologia, pois “raça” não é ciência, vamos deixar claro que
defendemos o conceito de etnias humanas ou espécie humana, e não “raça”, portanto,
quando nos lembramos de “raça” enxergamos noções de preconceito racial e até
lembramo-nos do nazismo ou Apartheid sul-africano e da fraternidade sulista norteamericana: a Ku Klux Klan, mas entre 1939-1945 (quando aconteceu a 2ª Guerra
Mundial), foi neste período de tempo, que o Dr. Weidenreich, começou a construir seu
modelo de candelabro e de continuidade regional, por esta razão, vemos que sua
pesquisa seria importante não só para explicar a origem dos antepassados do homem
moderno, mas também explicar as nossas origens.
“Weidenreich theory had the interesting effect of placing the origin of
races and racial differences for back in time. These were not recent
evolutionary developments, his work implied, but deeply rooted, long
standing distinctions ²” (Wolpoff; Caspari, 1997. P 205).
A proposta do candelabro fez sucesso nos anos 50 e 60 a partir daí caiu no
esquecimento, pela maior parte dos paleoantropólogos, mas na década de 80, Milford
Wolpoff, iniciou uma investigação dos seres arcaicos descobertos entre as décadas de
60, 70 e 80, viajando para os locais onde ocorreram (Europa, Ásia e África) e estudando
as características crânio-facial dos arcaicos, assim, tanto Milford e Thorne chegaram à
mesma conclusão que o Dr. Weidenreich, demonstrando que toda esta investigação
havia características em Homo erectus da Australásia (Indonésia e Austrália), que:
“apresentavam uma sequência anatômica durante o Pleistoceno que não foi interrompida em
momento algum” (Scientific American, Edição Especial, N°2. 2003. P 51). As
características crânio-facial dos habitantes de Java (Indonésia) do Pleistoceno aparecem
presentes nos atuais moradores da região, prova de uma continuidade regional.
²a teoria de Weidenreich teve o efeito interessante de colocar a origem das raças e diferenças
raciais para voltar no tempo. Estes não foram os recentes desenvolvimentos evolucionários, seu
trabalho implícita, mas profundamente enraizadas, distinções de longa prazo.
10
FIGURA 8
A Atual Teoria Multirregional proposta por Wolpoff e Thorne
Fonte: Scientific American Brasil. Edição Especial N°2, novembro de 2003. P 54.
CONCLUSÃO:
O modelo monocentrista e policentrista por não ser muito utilizado e cair no
esquecimento desde o final da década de 70, mas ainda está presente na filogenia
humana, por exemplo, atualmente a maioria dos computadores utilizado no nosso dia-adia é o sistema operacional Windows, mas por baixo deste sistema, está o DOS, criado
anos 70 (que ninguém, exceto o hacker utiliza-o, é este sistema que faz seu computador,
e seus programas funcionarem). O que está por detrás ou debaixo do Modelo
Multirregional é o antigo modelo policentrista, de candelabro montado inicialmente,
por Weidenreich, na década de 40; e enquanto o modelo monocentrista? Nos anos 70
este modelo foi criado para explicar as origens do homem moderno, sendo substituído
pelo Modelo Out of Africa, que explicaria a origem do Homo, na Terra, mas o padrão é o
mesmo, o que modificou foram os argumentos (novos dados arqueológicos, juntamente
com a genética do DNA mitocondrial).
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Por que não podemos dizer que o Modelo Out of Africa seja monocentrista? Até
podemos, por que sua estrutura e conceito continuam as mesmas (o desejo de saber
como, quando e onde surgiram os homens modernos), o que mudou foi o formato em
que estão às espécies humanas estariam configuradas, compare a figura 3 com a figura
4, não vemos muita diferença, o que modificou foi o alinhamento das espécies humanas.
Portanto, vemos que os modelos atuais de explicação das origens do homem moderno
encontram por trás ou debaixo os velhos modelos da primeira metade do século XX.
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Production for Learning Channel. VHS. 1999.
2 – Discovery Channel: The last Neanderthal? Director: Lwarence Simanowitz.
Editor: Sabrina Burnard. Producer: Willian Woodllard. An Inca Production for Channel
Four in assossiation with Discovery communications Inc. VHS. 1996.
3 – Discovery Channel: Dawn of Man-Episódio 05: êxodo. Series Consultant: Leslie
E. Aiello. Editor: John Parker. Producer director: Charlie Smith. Director: Jeff Morgam.
Executive Producer: John Linch. Series Producer: BBC and Learning Channel.VHS.
2000.
4 – Discovery Channel: Humanos–Quem somos nós? A Origem da mente humana.
A Cinenova Productions in Assossiation with Discovery Channel and Doesar. Director:
Christopher Rowley. Producer: Jane Armostrong. Editor: John Whitcher. Toronto,
Canadá. VHS. 1999.
OBS: o leitor pode acessar o www.youtube.com para dar o download destes
documentários citados, a maioria está com áudio em inglês e legendas em inglês.
INTERNET
http://www.virginia.edu/woodson/courses/aas102%20%28spring%2001%29/articles/tie
rney.html (Newsweek de 1988 - 26/01/2014-15h50min).
REVISTA
TATTERSALL, Ian. Partindo da África, de novo? Scientific American Brasil. N °2.
Novembro de 2003. São Paulo: Duetto, P 40-47
WOLPOFF, M e THORNE, Alan. A Evolução multirregional dos humanos.
Scientific American Brasil. N °2. Novembro de 2003. São Paulo: Duetto, P 48-55.

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