se!der!que!números,!figuras

Transcrição

se!der!que!números,!figuras
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Wenn!nicht!mehr!Zahlen!und!Figuren!
Sind!Schlüssel!aller!Kreaturen!
Wenn!die!so!singen,!oder!küssen,!
Mehr!als!die!Tiefgelehrten!wissen,!
Wenn!sich!die!Welt!ins!freye!Leben!
Und!in!die!Welt!wird!zurück!begeben,!
Wenn!dann!sich!wieder!Licht!und!Schatten!
Zu!ächter!Klarheit!wieder!gatten,!
Und!man!in!Mährchen!und!Gedichten!
Erkennt!die!wahren!Weltgeschichten,!
Dann!fliegt!vor!Einem!geheimen!Wort!
Das!ganze!verkehrte!Wesen!fort.!
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Novalis!
Georg!Friedrich!Philipp!Freiherr!von!Hardenberg!!
aus!dem!Jahr!1800.!
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Quando!se!der!que!números,!figuras,!
não!forem!mais!a!chave!das!criaturas;!
quando!aqueles!que!beijam<se,!que!cantam,!!
souberem!mais!que!os!sábios!que!os!imantam;!
quando!o!mundo!se!abrir!livrado!à!vida,!
da!terra!escura!alçar<se!nu!de!lida;!
!quando!um!só!se!tornarem!luz!e!sombras,!!
um!mais!puro!clarão!virá!de!escombros;!
fábulas!e!poesias!nos!serão!
vera!história!do!mundo,!vinho,!pão;!
tudo!de!errado!e!obscuro!fugirá!
de!uma!palavra!oculta!apenas,!lá.!
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Alvaro!A.!Antunes!
no!ano!de!2012!
Я!вас!любил:!любовь!ещё,!быть!может,!
Ja!vas!ljubil:!ljubov'!eshhjo,!byt'!mozhet,!
В!душе!моей!угасла!не!совсем;!
V!dushe!moej!ugasla!ne!sovsem;!
Но!пусть!она!вас!больше!не!тревожит;!
No!pust'!ona!vas!bol'she!ne!trevozhit;!
Я!не!хочу!печалить!вас!ничем.!
Ja!ne!hochu!pechalit'!vas!nichem.!
Я!вас!любил!безмолвно,!безнадежно,!
Ja!vas!ljubil!bezmolvno,!beznadezhno,!
То!робостью,!то!ревностью!томим;!
To!robost'ju,!to!revnost'ju!tomim;!
Я!вас!любил!так!искренно,!так!нежно,!
Ja!vas!ljubil!tak!iskrenno,!tak!nezhno,!
Как!дай!вам!Бог!любимой!быть!другим.!
Kak!daj!vam!Bog!ljubimoj!byt'!drugim.!
!
!
1829,!Александр!Сергеевич!Пушкин!
Aleksandr!Sergeevich!Pushkin!
!
te!amei,!ainda!amo,!eu!sei;!
a!alma!não!esquece;!mas!não!quero!
te!acossar,!ditar<te!lei;!
descansa,!te!acalma;!sincero!
te!amei;!calado,!despido!de!esperança,!
tímido!no!início,!ciumento!do!meu!vício,!
te!amei,!terno!de!verdade!mansa;!
que!quem!ames!seja!assim:!sim!que!não!cansa.!
!
Alvaro!A.!Antunes,!2012!
!
Middle<Aged!
A!Study!In!An!Emotion!
by!Ezra!Pound!
1912!
!
Tis!but!a!vague,!invarious!delight.!
As!gold!that!rains!about!some!buried!king.!
!
As!the!fine!flakes,!
When!tourists!frolicking!
Stamp!on!his!roof!or!in!the!glazing!light!
Try!photographs,!wolf!down!their!ale!and!cakes!
And!start!to!inspect!some!further!pyramid;!
!
As!the!fine!dust,!in!the!hid!cell!beneath!
Their!transitory!step!and!merriment,!
Drifts!through!the!air,!and!the!sarcophagus!
Gains!yet!another!crust!
Of!useless!riches!for!the!occupant,!
So!I,!the!fires!that!lit!once!dreams!
Now!over!and!spent,!
Lie!dead!within!four!walls!
And!so!now!love!
Rains!down!and!so!enriches!some!stiff!case,!
And!strews!a!mind!with!precious!metaphors,!
!
And!so!the!space!
Of!my!still!consciousness!
Is!full!of!gilded!snow,!
!
The!which,!no!cat!has!eyes!enough!
To!see!the!brightness!of. !
De!Meia<Idade!
Um!Estudo!De!Uma!Emoção!
!
!
!
“É!só!um!prazer!pedestre,!mero,!vago.!
como!ouro!que!pingasse!em!rei!ruído.!
!
Bem!como!os!finos!flocos,!!
de!frívolos!turistas!!
pisando!o!seu!telhado,!disparando!
na!vítrea!luz,!a!foto!fátua,!pressa,!!
fome,!frango,!cerveja!
!e!a!próxima!pirâmide;!
!
como,!na!cela!oculta,!o!parco!pó,!!
sob!o!passar!fugaz!de!pés,!sorrir!que!
levita!e!pousa,!no!sarcófago!
mais!uma!crosta!jaz,!
vitrais!cingindo!o!seco!olhar!de!um!cego.!
Assim!de!mim,!as!chamas!que!arderam!um!dia!sonhos!
frígidas!folhas,!mortas!
na!prensa!das!paredes!
e!assim,!o!amor!agora!
respinga!de!e!adorna!uma!urna!rígida,!
asperge!a!mente!com!metáforas!preciosas,!
!
e!assim!o!espaço!do!
que!silente!meu!consciente!abraça!
se!encharca!de!um!douror!de!neve,!
!
cujo,!gato!algum!de!cílio!sujo!
tem!olho!mago!para,!seu!fulgor,!filar.”!!
Alvaro!A.!Antunes,!2012!
Alvaro A. Antunes
C. Valerius Catullus, Carmina
1
Cui dono lepidum nouum libellum
arida modo pumice expolitum?
Corneli, tibi: namque tu solebas
meas esse aliquid putare nugas
iam tum, cum ausus es unus Italorum
omne aeuum tribus explicare cartis
doctis, Iuppiter, et laboriosis.
quare habe tibi quidquid hoc libelli
qualecumque; quod, patrona virgo
plus uno maneat perenne saeclo.
Pra quem dar este livrello, belo, pura
manha da nova idade, que a pedra-pomes
polissedou? te dou, Cornélio, que os ares
meus, minhas tolices, toleraste -- tu que,
pioneiro entre nós, ousaste toda era e
todo povo numa história só contar:
três tomos (árduos!) do sabor do saber.
toma o meu livrello, valha o que valer;
virgem que me conduz, concede que dure,
que a luz do sol de outro século o macule.
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Alvaro A. Antunes
2
Passer, deliciae meae puellae,
quicum ludere, quem in sinu tenere,
cui primum digitum dare adpetenti
et acris solet incitare morsus,
cum desiderio meo nitenti
carum nescio quid libet iocari
(et solaciolum sui doloris,
credo, ut tum gravis adquiescat ardor),
tecum ludere sicut ipsa possem
et tristis animi levare curas!
Pardal, delícia amor do meu amor,
no peitinho, apertado, brinca, pica
a ponta do dedinho -- toma? ai! -provocando a mordida que queria;
o desejo brilhando-me no olho
ela sabe tecer, torcer, turvar
como um consolo dela, bela, má,
sei lá se, teso, um peso há que calar:
se eu pudesse brincar assim contigo
e ensolarar de sim minh'alma escura.
2b
...
Tam gratum est mihi quam ferunt puellae
pernici aureolum fuisse malum,
quod zonam solvit diu ligatam.
...
me descobrir feliz como a menina
quando a maçã dourada desatou seu
cinto de virgem há tanto trançado.
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Alvaro A. Antunes
3
Lugete, o Veneres Cupidinesque
et quantum est hominum venustiorum!
passer mortuus est meae puellae,
passer, deliciae meae puellae,
quem plus illa oculis suis amabat;
nam mellitus erat, suamque norat
ipsa tam bene quam puella matrem,
nec sese a gremio illius movebat,
sed circumsiliens modo huc modo illuc
ad solam dominam usque pipiabat.
qui nunc it per iter tenebricosum
illuc unde negant redire quemquam.
at vobis male sit, malae tenebrae
Orci, quae omnia bella devoratis;
tam bellum mihi passerem abstulistis.
o factum male! o miselle passer!
tua nunc opera meae puellae
flendo turgiduli rubent ocelli.
Que venham prantos, de Vênus e Cupidos,
de você, você, de quem venera o belo: o
pardal morreu que era só do meu amor,
pardal, delícia amor do meu amor,
que ela mais que a luz dos olhos seus queria -que era doce, mais que o mel, e que a seguia
com o passo de menina atrás da mãe.
no colo quietinho, quentinho, calado;
pulando, voando, pra cá e pra lá;
e só pra ela (ama me ama) ele pia:
agora, sozinho, a estrada escura o traga,
de onde, dizem, ninguém retornará.
malditas escuridões do Orco, porcas
que devorais nosso bálsamo de belo:
meu pardal sem par, tão belo, rapinastes.
que maldade! tão pequeno um passarinho!
agora -- o que fizestes... -- o meu amor -olhinhos inchados, vermelhos de lágrima.
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Alvaro A. Antunes
4
Phasellus ille, quem videtis, hospites,
ait fuisse navium celerrimus,
neque ullius natantis impetum trabis
nequisse praeterire, sive palmulis
opus foret volare sive linteo.
et hoc negat minacis Hadriatici
negare litus insulasve Cycladas
Rhodumque nobilem horridamque Thraciam
Propontida trucemve Ponticum sinum,
ubi iste post phasellus antea fuit
comata silva: nam Cytorio in iugo
loquente saepe sibilum edidit coma.
Amastri Pontica et Cytore buxifer,
tibi haec fuisse et esse cognitissima
ait phasellus; ultima ex origine
tuo stetisse dicit in cacumine,
tuo imbuisse palmulas in aequore,
et inde tot per impotentia freta
erum tulisse, laeva sive dextera
vocaret aura, sive utrumque Iuppiter
simul secundus incidisset in pedem;
neque ulla vota litoralibus diis
sibi esse facta, cum veniret a mari
novissimo hunc ad usque limpidum lacum.
sed haec prius fuere: nunc recondita
senet quiete seque dedicat tibi,
gemelle Castor et gemelle Castoris.
O barco, amigo meu, que vês, dormindo, ali
diz que foi, uma vez, a mais veloz das naves,
e que nenhuma quilha-gume, lenha alguma,
que não sobrepujasse: no rasgar dos remos
ou no linho retenso das velas, voava.
ninguém nega: o cruel Adriático, as mínimas
Cíclades, não o negam, ou Rodes a nobre,
nem na Trácia a Propôntida horrenda o nega,
as estranhas entranhas do Ponto assassino,
onde ele, ali, que é hoje um barco um dia foi
a floresta frondosa que encima o Citoro,
ele às folhas falando, seda a ciciar.
Pôntica Amástris, Citoro sé de carvalhos,
meu barco diz que disso sabes muito bem,
que no momento exato em que se viu brotar
teu cume o viu, crescer, intumescer em troncos,
tuas águas tocar, molhar seu remo virgem.
de lá, por mar e atormentado mar, seu amo
trouxe, por vento destro e por sinistro, Júpiter
na popa, um golpe, engravidando ambas as velas.
não implorou a deus do mar nenhum ao vir por
mares sem marca a este casto, claro lago.
mas tudo isso já passou. agora, amado,
descansa em calma, envelhece, leve e pesado,
e decidiu se dar em oferenda a ti,
gêmeo Castor, e a ti, que és gêmeo de Castor.
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Alvaro A. Antunes
5
Vivamus mea Lesbia, atque amemus,
rumoresque senum seueriorum
omnes unius aestimemus assis.
soles occidere et redire possunt:
nobis cum semel occidit breuis lux,
nox est perpetua una dormienda.
da mi basia mille, deinde centum,
dein mille altera, dein secunda centum,
deinde usque altera mille, deinde centum.
dein, cum milia multa fecerimus,
conturbabimus illa, ne sciamus,
aut ne quis malus inuidere possit,
cum tantum sciat esse basiorum.
Vamos viver, minha Lésbia, e amar:
que a voz das graves, velhas gralhas valha
menos pra nós que o tostão mais furado.
os sóis podem morrer e renascer:
se morre a nossa breve leve luz
só nos resta dormir a noite eterna.
dá-me mil beijos, e mais cem, me dá,
e mais mil, e outros cem, me dá, me dá,
e outros mil e mais cem, anda, me dá.
vamos fazer de tais mil tal tumulto
vamos perder a conta de tal vulto
que inveja e mau olhado nunca contem
quantos, quão longo, quão louco é o nosso beijar.
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Alvaro A. Antunes
6
Flavi, delicias tuas Catullo,
ni sint illepidae atque inelegantes,
uelles dicere nec tacere posses.
uerum nescio quid febriculosi
scorti diligis: hoc pudet fateri.
nam te non uiduas iacere noctes
nequiquam tacitum cubile clamat
sertis ac Syrio fragrans oliuo,
puluinusque peraeque et hic et ille
attritus, tremulique quassa lecti
argutatio inambulatioque.
nam non stupra ualet nihil tacere.
cur? non tam latera ecfututa pandas,
ni tu quid facias ineptiarum.
quare, quidquid habes boni malique,
dic nobis. uolo te ac tuos amores
ad caelum lepido uocare uersu.
Flávio, se ela não fosse sem graça e grossa,
dessa delícia tua ao teu Catulo
não calarias, quererias contar.
Que tipo de puta com tifo contigo
se esgarça não sei: a vergonha te engasga.
Mas se a língua anda lerda, a cama proclama,
fragrante de flor e de ungüentos da Síria,
que, pra você, noites solteiras não mais,
(travesseiro marcado, olha esse, e o outro,
de um lado, de outro, manchado, encharcado)
ainda tremendo, rangendo, ela ralha:
toalha não há que cubra essa bandalha.
e pra quê? as ancas mancas trombeteiam:
que peça, tropeça, vexame a vexame.
anda, vá lá, me conta, o mau e o bem bom,
solta o verbo, que a leveza do meu verso
a ti e ao teu amor ao céu alçará.
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Alvaro A. Antunes
7
Quaeris, quot mihi basiationes
tuae, Lesbia, sint satis superque.
quam magnus numerus Libyssae harenae
lasarpiciferis iacet Cyrenis
oraclum Iouis inter aestuosi
et Batti ueteris sacrum sepulcrum;
aut quam sidera multa, cum tacet nox,
furtiuos hominum uident amores:
tam te basia multa basiare
uesano satis et super Catullo est,
quae nec pernumerare curiosi
possint nec mala fascinare lingua.
Quer saber quantos beijos teus me bastam,
Lésbia, e quantos são mais do que demais?
são quantos grãos de areia líbia o vento
por entre os sílfios de Cirene arrasta,
do oráculo de Júpiter ardendo,
ao sacro túmulo do velho rei;
quantas estrelas, quando a noite cala,
velam o medo mudo amor dos homens;
tantos beijos beijar sacia o insano
Catulo e quase são mais que demais:
confundindo o contar do intrometido,
minguando a língua má de quem mandinga.
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Miser Catulle, desinas ineptire,
et quod uides perisse perditum ducas.
fulsere quondam candidi tibi soles,
cum uentitabas quo puella ducebat
amata nobis quantum amabitur nulla.
ibi illa multa cum iocosa fiebant,
quae tu uolebas nec puella nolebat,
fulsere uere candidi tibi soles.
nunc iam illa non uult: tu quoque impotens, noli
nec quae fugit sectare, nec miser uiue,
sed obstinata mente perfer, obdura.
uale puella, iam Catullus obdurat,
nec te requiret nec rogabit inuitam.
at tu dolebis, cum rogaberis nulla.
scelesta, uae te, quae tibi manet uita?
quis nunc te adibit? cui uideberis bella?
quem nunc amabis? cuius esse diceris?
quem basiabis? cui labella mordebis
at tu, Catulle, destinatus obdura.
Pobre Catulo, chega de loucura, chega.
acabou-se. o que era doce se perdeu.
os sóis que te banharam de ouro nunca mais,
do teu tempo de escravo a menina feliz
amada por nós como outra jamais o será;
e era tanto o que rias, e tanto o querias,
e que nunca fazia a menina infeliz.
os sóis que te banharam, de ouro sei que foram.
mas ela nao quer mais: impotente que sejas
não imita quem foge, não fuja, não minta,
a cabeça clara, dura, cala, resiste,
vai, menina, vai, porque o Catulo resiste,
não vai te pedir, não vai te mandar, não vai,
e quando ninguém mais te quiser, vai sofrer.
maldita, que migalha de vida te resta?
quem vem te ver? e pra que, pra quem, te enfeitar?
quem vais amar? e quem vais chamar de teu dono?
quem vais beijar? que lábio terás pra morder?
mas tu, Catulo, pedra pura, tu resistes.
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