o lírio nascido na montanha

Transcrição

o lírio nascido na montanha
Postulação do Instituto Cavanis
O LÍRIO NASCIDO NA MONTANHA
Pe. Basilio Martinelli dos Padres Cavanis
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CONGREGAÇÃO DAS ESCOLAS DE CARIDADE
INSTITUTO CAVANIS
Um homem que se fez como criança
O título do primeiro capítulo desta breve memória não alude ao truque de um mágico qualquer ou
de um charlatão daqueles; que tempos atrás, visitavam as nossas praças e quem sabe quantas vezes,
nosso pequeno Basílio tinha ouvido falar sobre esses, depois das vésperas dos dias de festa, no
sagrado da Igrejinha de Santa Ermete em Calceranica, ali a dois passos da porta de sua casa.
Alude ao invés, a um homem que, em um caminho de compromisso e constância ao percorrer a
estrada da santidade, no final da vida se vê como uma criança, com a chave do Reino dos Céus em
seu bolso. E entrou, quase sem bater na porta, porque sabia que para receber-lo com ansiedade atrás
da porta tinha um Pai bondoso que desde sempre o esperava.
P. Basílio Matinelli: é ele o protagonista desta pequena, grande história, que muitas vezes se veste
de uma simplicidade desconcertante, porque é rica de virtudes que apenas se pode intuir e das quais
não se consegue em totalidade desvelar a profundidade e a dimensão espiritual.
Espontaneamente então nos vem, unificar o inteiro percurso da sua vida a paisagem serena e ao
mesmo tempo austera do seu pequeno burgo natal. Por um lado sorridente para o lago, com as suas
praias que parecem se estender quase para um repouso ao longo desejado, e para o outro lado forte e
simples, característica particular das pessoas que moram nas montanhas. Como a coroa dos Alpes
trentinos, que parecem comprimi-lo, nas auroras estivas e nos poentes incandescentes outonais, em
um abraço destruidor.
Neste lugar abençoado no dia 27 de dezembro de 1877 o pequeno Basílio pela primeira vez viu a
luz, na vigília da festa dos Santos Inocentes. O dia de seu nascimento parece quase um prenúncio da
sua longa vida, toda dedicada às crianças e aos jovens no campo educativo.
Para acolher o neonato: a alegria do papai Giambattista e o sorriso da mamãe Carolina,
profundamente piedosa e rica de amor suave e ao mesmo tampo forte, quase viril, qualidade que
explicam o caráter sólido do futuro religioso, sacerdote e educador da juventude.
No mesmo dia do seu nascimento recebeu o batismo e se encontra com os Dons do Pai Celeste, ao
qual dedicará toda a sua vida, propagando o seu Amor e Bondade infinita.
Uma nova flor assim apareceu no jardim da Igreja de Deus, flor bela e perfumada, como a rosa que
os vizinhos da casa Martinelli viram desabrochar no minúsculo jardim da mamãe Carolina, em
pleno inverno, próprio no dia 27 de Dezembro.
Os anos de espera
Os primeiros anos da sua vida foram transcorridos em um clima de serenidade e simplicidade.
O pequeno Basílio é o segundo de cinco filhos, não se distingue nele dotes particulares, senão um
caráter tímido e um pouco talvez introvertido e reflexivo.
Pouco a pouco, como vai crescendo, vai também aprendendo a descobrir e amar cada vez mais as
belezas dos lugares de sua infância.
É revelado por alguns flashes de sua memória e, sobretudo se entende pelo nó que subiu a goela, no
dia em que teve que se despedir da família e a tudo aquilo que contribuiu para fazer feliz a sua
infância: para seguir a voz de Deus que o chamava e lhe tinha escolhido para contemplar bem
outras maravilhas.
A Voz de Deus! Foi instruído particularmente por duas pessoas: em primeiro lugar pela mãe, a qual
de fé forte e genuína soube imprimir profundamente na alma do filho bases para uma fé autêntica
que por toda a sua vida acompanhou o seu caminho.
De Dom Daniele, sacerdote e tiú paterno, ainda muito cedo recebeu a intuição dos sinais da graça
Divina, que a cada paço preparava sua alma para um grande projeto de Deus, que o destinava a
tornar-se religiosos na Congregação das Escolas de Caridade, do Instituto Cavanis em Veneza.
Uma atraente lenda, ambientada nas infinitas ilhas do oceano pacífico, narra que: nas manhãs
límpidas de primavera, quando a inteira natureza parece esperar pacientemente o nascer do sol, das
profundidades marinhas sobem em superfície as conchas de pérolas que abrem suas concavidades,
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aguardando a chegada do primeiro raio de sol e o capturam. Assim se fecham e se submergem por
longos anos, durante os quais aquele raio de sol, roubado do céu, lentamente se condensa
inicialmente em um coágulo de matéria que depois solidifica, transformando-se em uma
maravilhosa pérola, destinada a alegrar um dia os olhos e o coração dos homens.
Uma simples lenda, mas que pode ser apresentada como simbolismo daquela aventura maravilhosa
que é o caminho de santidade de P. Basílio.
Também ele depois de receber o batismo, o primeiro raio de luz da Graça de Deus, se abismou no
silêncio e na paz da sua família natural, por dezesseis anos, e depois ainda por longos anos na
família religiosa Cavanis em Veneza, onde pela ação do Espírito foi preparado e refinado para o
serviço do Reino no Campo da educação dos jovens que logo reconheceram em sua presença a
presença de um bom Padre (pai) e de um guia espiritual seguro.
Em caminho
1888: O jovem Basílio Martinelli Chega a Veneza, levando em sua pobre bagagem o necessário
para sua nova vida e em seu coração os sonhos e esperanças dos seus dezesseis anos, com o desejo
de doar-se inteiramente ao Senhor e para sempre.
O distanciamento dos lugares de sua infância, mas, sobretudo da sua querida mãe, não foram
certamente sem dor e sofrimento, como ele mesmo descreveu em suas anotações, esse
distanciamento custou para ele lágrimas silenciosas.
Também nele o adeus aos montes, montanhas, nascentes de água como descrevia o famoso escritor
italiano Manzzoni, ficou profundamente marcado em seu caráter sensível e delicado, sem cancelar,
mesmo que minimamente, a sua vontade decidida de perseverar na doação total de si mesmo ao
Senhor.
O impacto com o novo ambiente foi certamente duro. Dificuldade de novas relações com as
pessoas; dificuldades ligadas ao nível de preparação escolar, pois ele vinha do Trentino, que era
uma região, naquela época fora da Itália, governada pelo império Austríaco com leis muito
diferentes no campo da instrução escolástica. E ainda a dificuldade de pronúncia por um defeito
espontâneo, que com o tempo conseguira corrigir-se, mesmo se não totalmente, mas com a
tenacidade de um típico morador de montanha.
Muitas vezes, passeando no pátio interno do instituto voltavam em sua mente saudosos
pensamentos de suas queridas montanhas, onde o Criador estampou com grande generosidade a
marca de sua beleza infinita!
E quantas vezes, observando o céu, olhando para além dos tetos dos palácios venezianos, nas noites
quentes no final da primavera, voltava se com o pensamento, cheio de saudades, do céu de suas
montanhas, tão límpido e cheio de milhares de estrelas, que sua mãe já lhe tinha ensinado desde
pequeno a reconhecê-las.
Nas noites, lhe chegava pelo ar salgado do Canal da Guidecca, a voz dos gondoleiros e dos
descarregadores do porto. E ele, não podia não pensar, na suave brisa que soprava do seu lago,
exalando o perfume das ervas dos campos brevemente podados e as vozes das crianças que jogavam
nos espaços dos velhos maciços de pedra.
E o nó na goela se formava novamente nele, como no dia da partida de sua terra.
Mas nada podia distanciá-lo do seu firme propósito em seguir o Senhor: “Serei sacerdote e Padre
(pai) Cavanis custe o que custar!”
Passo a passo rumo a meta
Em pouco tempo Basílio conseguiu sentir se inserido no novo ambiente veneziano, mas em
particular na nova comunidade que o acolhia.
As memórias do passado permaneceram no mais profundo de sua alma e foram assumindo uma cor
mais desbotada; a doce lembrança da piedade e fé dos seus pais, os quais Basílio reconhece como
promotores de sua vocação.
Agora suas aspirações e as suas expectativas são totalmente direcionadas ao alcance dos ideais aos
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quais se sente chamado: o sacerdócio e o apostolado em meio aos jovens. E o clima que respira no
ambiente religioso em qual vive o ajuda em seu caminho marcado por diversas etapas, em cada uma
delas vê e reconhece a mão providencial de Deus e um sinal do seu amor misericordioso: o
Noviciado, a primeira Profissão, a sua Consagração definitiva em 7 de junho de 1896 que o ligou
para sempre a Congregação que agora ama e reconhece como sua segunda família.
Mas o seu maior sonho, o mais longamente esperado se realizou no dia da sua Ordenação
Sacerdotal em 1897. Foi consagrado sacerdote pelo patriarca de Veneza o Cardeal Giuseppe Sarto,
que seis anos mais tarde foi eleito Papa com o nome Pio Xº.
Nos planos de Deus nada é por acaso: o camponês de um pequeno país da região de Veneza,
“Riese”, será proclamado santo poucos anos depois de sua morte. As suas mãos de consagrado
transmitiram o Espírito do seu sacerdócio ao pequeno camponês de Calcerânica, que assim receberá
a chama ardente de apostolo para ser entregue, no momento certo a outros jovens chamados por
Deus a Vida Consagrada.
E também ele, assim Deus querendo será elevado, e esperamos que logo, a honra dos altares. O
Sacerdócio significa para Basílio o início de um novo caminho, pelo qual um desejo sempre mais
ardente lhe queimará no coração: ser santo, para tornar-se instrumento válido nas mãos do Senhor
pela salvação, sobretudo dos jovens. E nesta profunda inspiração fez estrada, com um desejo
sempre mais ardente de se oferecer como vítima para conversão dos pecadores e pela salvação de
tantas almas distantes de Deus.
Horizontes abertos
Com a ordenação sacerdotal se abriu para Basílio um imenso campo de apostolado, e para isso
preparou por longo tempo o seu coração, e ele mergulhou nesta missão com a consciência de que “o
cansar-se para Deus é sinal de amor, mas é também sinal de uma fé viva”. (dos pensamentos)
E assim: fé e amor em seu ser resplendem com uma luz intensa, que ele buscou sempre cultivar,
mas especialmente desde quando Deus infundiu em seu coração o vivo desejo de fazer-se santo
através do dom total de si mesmo a Ele, para que os jovens e crianças crescessem em sua
companhia e na sua amizade e o conhecessem mediante o ministério da escola e aquele da
reconciliação, que constituíram os dois fundamentos de todo o seu apostolado.
Mas como P. Basílio se aproximava da alma dos jovens? Ele sabia ser um simples instrumento nas
mãos de Deus. E acreditava mesmo, porque era humilde, se considerava inadequado para realizar o
bem em um campo tão delicado como esse, a educação (a formação do coração dos jovens). Mas
também era consciente que Aquele que lhe havia confiado essa vocação, chamando-o ao ministério
sacerdotal, lhe daria também os meios necessários para desempenhar como um servidor bom e fiel.
Quando ainda era criança, cada vez que parava para contemplar a beleza das flores variadas dos
campos, era tomado de surpresa e maravilha: agora se aproxima das almas com o desejo de
descobrir em cada uma delas a marca profunda do rosto de Deus, mesmo quando essa é deturpada
do pecado.
Pois dizia ele: “cada alma é um pequeno mundo, com as suas lutas vitoriosas e com as suas percas”,
é necessário aproximar-se delas com “trepidação com cuidado”. E assim ele fazia como se estivesse
caminhando nas pontas dos pés, respeitoso pelo Dom de Deus que está em cada um, pois “devemos
ver o lado bom de cada pessoa e amar-la”. Somente “assim se poderá ser re-amado, criando desta
maneira os pressupostos necessário para fazer um pouco de bem”. (dos Pensamentos2)
Sacerdote e educador
O sacerdote é pronto; a sua formação espiritual e a sua correspondência aos dons de Deus não
conheceram descanso. Deixou-se educar pelos seus formadores com a docilidade com qual a massa
para o pão se deixa crescer e se transformar com a força do fermento e das mãos robustas do
padeiro.
Quantas vezes quando pequeno viu sua mãe preparar o pão cotidiano com energia e com amor, e
tinha assistido com surpresa a lenta transformação de um pouco de farinha no alimento saboroso e
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perfumado que alegrava a pobre, mas digna mesa de sua família.
Agora era ele destinado por Deus a distribuir o pão da fé e da ciência aos pequenos que lhes seriam
confiados, para que não acontecesse “que pedissem do pão e não encontrassem quem lhes poderia
dividir”.
Para responder ao projeto de Deus que o queria educador, também preparado das ciências humanas,
P. Basílio encara com coragem os estudos universitários e se inscreve no ano de 1898 na faculdade
de Letras “Clássicas” na cidade de Pádua e no ano de 1902 conseguiu a láurea, que lhe permitirá
ensinar Latim e Grego nos ginásios do Instituto Cavanis.
Agora como forte soldado, está equipado com o necessário para combater a boa batalha do Reino.
A ótima preparação em sua disciplina escolar o fez crescer na estima dos seus colegas no ensino e
dos superiores, mas, sobretudo na estima dos seus alunos. Mais do que um professor preparado os
alunos encontram um verdadeiro pai, para orientá-los com segurança, e sustento nos momentos
difíceis que cada jovem encontra nos anos de sua formação e preparação para a vida. E quanto a ser
Pai, antes que professor, ele se preocupa, segundo o espírito dos fundadores P. Antônio e P. Marcos
Cavanis e como eles, por toda a sua vida, com humildade a toda prova, busca ser para os alunos
como um mestre de ciência e virtude.
Sesenta e cinco anos de fidelidade
Sessenta e cinco anos de apostolado na fidelidade ao Chamado de Deus, no serviço aos jovens.
Aqui se apresenta a pergunta: “Mas o que P. Basílio fez de extraordinário em sua vida, para ser
considerado santo e digno de ser elevado ao altar dos santos?” se poderia responder que a santidade
não consiste em fazer coisas grandes, mas no fazer bem cada uma das pequenas coisas cotidianas.
E quanto a isso P. Basílio foi e permanecerá como mestre incomparável para todos, grandes ou
pequenos. Com uma constante perseverança, jamais vacilante ou mudada por acontecimentos
alegres ou tristes, buscou sempre agradar ao Senhor, que o desejou suo sacerdote e educador da
juventude.
Permanecer fiel em todos os compromissos da própria vida por um pouco de tempo pode ser
possível para qualquer um; mas permanecer por 365 dias no ano e ao longo de 65 anos
ininterruptos, sem jamais conhecer um dia triste ou tedioso, como afirmou ele mesmo em suas
memórias, isto é possível somente para aqueles que atingiram um alto nível de perfeição e um
grande amor por Deus.
Esta é a extraordinária vida de P. Basílio, mas para falar a verdade, o seu caminho está repleto de
acontecimentos extraordinários para serem recontados. Para percebê-los, como já se acenei antes,
sua vida precisa ser relida com um olhar muito atento, sem superficialidades, removendo, como se
poderia dizer da terra, escavando o que ela esconde, da mesma forma como fazia ele quando com
sua mãe andava a colher batatas nos campos: a inchada escavava o sulco delicadamente para não
arruinar as batatas e suas pequenas mãos se afundavam no terreno macio para descobrir e revelá-las
com alegria a luz.
Nesta longa vida aparentemente sem relevo, P. Basílio assumiu encargos muito delicados, como
aquele de mestre de noviços e dos religiosos, o encargo de diretor espiritual e confessor.
Nestes empenhos aprendeu a conhecer melhor as almas, também em suas feridas mais escondidas,
acurando de tal maneira sua sensibilidade para as necessidades dos irmãos, crescendo pouco a
pouco no amor para os pecadores, pelos quais aceitou tornar-se vítima junto de Deus: “Gostaria de
ser vitima (sacrificado) pelos pecadores, especialmente se fossem almas consagradas”. (dos
pensamentos).
Deus certamente aceitou esse seu desejo.
Quem conheceu de perto P. Basílio sabe o quanto sofreu e quanto ofereceu em sua vida pela
salvação dos pecadores.
O poeta da escola
P. Basílio mesmo conhecendo bem as regras da métrica, jamais fez composições em rima. E mesmo
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assim, não acredito ser errado defini-lo poeta da escola. Toda a sua vida foi como um Hino a
Escola.
A fidelidade em preparar-se, a regularidade nos ensinamentos, a distribuição do tempo nas lições, a
explicação simples, o conhecimento profundo dos argumentos apresentados fizeram dele um
modelo de didática vivente. Saía-se do Ginásio do P. Basílio com a mochila cheia de livros velhos
e um pouco destruídos pelo uso, mas cheios de noções precisas e de habilidade escolástica, que
serviam para todo o ginásio, as quais se podiam recorrer com segurança em caso de necessidade.
Mas a escola para P. Basílio não era meta em si mesma: com ele a escola se tornava academia de fé
e vida.
Ele sabia bem que “uma plantinha quando bem cuidada, cresce reta e vigorosa”; por isso jamais
faltava no início de suas lições uma máxima, de um bom pensamento para iluminar todo o dia dos
alunos.
Quantas vezes em sua cidadezinha ele tinha assistido à chegada improvisa de um temporal,
particularmente violento as margens do lago; depois rapidamente uma brecha de luz e o céu voltava
como antes. Como ele dizia sorrindo: “Assim é o efeito de uma boa palavra nos jovens é como um
raio de sol entre as nuvens”. (dos pensamentos)
O esquema de suas aulas era rígido, salvo algumas exceções. Depois de um bom pensamento seguia
com as interrogações de dois ou quatro alunos, que deviam provar terem assimilado a lição anterior,
enquanto se corrigiam alguns exercícios que tinham sidos dados para casa.
Se ele percebia que algum aluno não tinha ainda aprendido a lição, ele tornava novamente a
explicá-la, antes de continuar com a seqüência da matéria: assim o sábio professor se fazia pequeno
e humilde com aqueles que tinham maior dificuldade de aprendizado.
Porém ele exigia que cada um se empenhasse em seu estudo pessoal. E problema para aqueles que
tentavam esconder com truques ou com mentiras a falta de empenho nos estudos! Não aceitava a
falsidade e também sabia reprovar com palavras fortes; porém buscava fazer essas correções de
maneira privada para incentivar esse a ser um “bom filho”, porque sabia que “é necessário sempre
perdoar aos jovens, pois falam e pensam com muita superficialidade e somente depois quando
repensam suas ações se arrependem.”
Falando ainda de escola
Quem escreve essas breves páginas foi aluno de P. Basílio no Ginásio e testemunhou o seu método
de ensino e a paixão com a qual o exercitava.
Nada era improvisado, nada era esquecido no desenvolvimento do programa.
Momentos importantes eram especialmente aqueles das provas escritas. Não eram admitidas
conversas nem distrações. O único rumor que se ouvia durante a prova eram as penas que se
arranhavam sobre as folhas dos alunos.
Podia-se estar seguro que em cada frase tinham dois ou três pontos de maior dificuldade, sobre os
quais se podiam meditar longamente sem compreender muita coisa.
P. Basílio passava pelo corredor entre os bancos rezando, com o terço em suas mãos embaixo do
escapulário do habito religioso, com os olhos entreabertos, mas aos quais nada podia escapar. Não
existiam rumores de se passar bilhetinhos para os colegas. O único socorro era pedir a ele um
esclarecimento. Mas suas respostas eram mais ou menos assim: “Você disse suas orações nesta
manhã?” Ou mesmo “reze ao seu Anjo da Guarda!” E se permanecia ali, amarrado, em companhia
do Anjo da Guarda, que, porém permanecia mudo.
Não era necessário esperar muito tempo par obter o resultado das avaliações. Na aula do dia
seguinte, ou no máximo dois dias, ele trazia os cadernos, com as notas mais ou menos reveladas.
De fato, se o voto era negativo, permanecia na ultima linha do exercício uma recomendação sua,
bela e remarcada, pois deveria ser para o aluno uma ocasião de um pequeno ato de humildade. Se ao
invés o voto era bom, ao máximo se dava um sete, que era muito difícil encontrar, pois ele o
escrevia muito pequeno, quase imperceptível, na parte mais interna do caderno, para que fosse
menos visível; o sete, magricelo, que mais parecia um número -1-, tanto que se dizia em dialeto
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entre os alunos: “Go ciapà um rampin” (Eu ganhei um ganchinho).
Nós os alunos jamais sabíamos se estava doente, porque nunca faltou às aulas. Lembro que um dia
chegou à aula com uma faixa vermelha que lhe enfaixava a cabeça do queixo com um nó acima da
cabeça que mais pareciam duas longas orelhas de coelho. Ele tinha uma fortíssima dor de dente, que
não o impediu de dar a sua aula normalmente, certamente com um aspecto ridículo, mas o pior era a
grande dor de dente que sentia a qual era possível ler em seu rosto.
Mas nenhum de nós alunos vimos surpresa nisso, e nem mesmo passava pela cabeça de algum a
idéia de fazer deboche ou brincadeira.
Aquele era o P. Basílio e problema se alguém o tivesse tocado!
Com um pouco de átomos
P. Basílio não vivia no mundo dos sonhos, mas era fortemente ancorado com os pés em terra e nas
realidades cotidianas.
Mesmo que algum afirmou que às vezes durante sua oração entrava em êxtase, sabia pois retornar
no concreto de suas atividades, com a simplicidade de uma criança, que olha com surpresa as
belezas do criador, sem se distrair dos seus brinquedos familiares.
Ele como pessoa de boa cultura, se interessava de todos os progressos das ciências e via nas
descobertas dos estudiosos a realização dos comandos de Deus no segundo capítulo do Genesis:
“Dominai a terra” (Gn 1,28) e nas novas conquistas o prolongamento da obra do Criador.
Quando alguma coisa de algum interesse o tocava, ele compartilhava no início das lições, com um
bom pensamento para refletir durante o dia.
Eu me lembro que quando ele soube das primeiras tentativas em aplicar a energia atômica com
finalidade pacífica e civil, se apressou em nos informar rapidamente e, limitando com a mão
fechada e com um movimento de braço ao redor do mapa do mundo, saiu com uma frase que nos
deixou admirados e um pouco felizes: “ Um dia o homem com um punhado de átomos, aplicados
em um tem, poderá fazer o giro do mundo”.
Intuição ou olhar profético? Talvez um e outro.
Ele amava a pátria da qual se sentia cidadão com todo direito, ele que tinha passado sua infância e
adolescência como súdito de Francisco José (Francesco Giuseppe, rei da Áustria – 1830 a 1916),
quando o Trentino estava soto o domínio do Império Austríaco.
P. Basílio sentia como uma sua humilhação: os maus exemplos e os maus costumes que muitos
imigrantes italianos levavam para o exterior, mesmo sem negar suas qualidades de ótimos
organizadores e trabalhadores.
Sobre esse ponto um exemplo é muito ilustrativo. Um dia, antes de iniciar a aula, depois da leitura
de um pensamento, a reflexão se direcionou para os nossos imigrantes no exterior. Por um
momento, o rosto de P. Basílio se anuviou e profundamente se entristeceu; e nos disse uma frase
que nos fez conhecer uma realidade amarga, acompanhada do desconforto em constatar-la:
“Italianos ladrões e boca suja” e se referia ao triste uso habitual da blasfêmia. Ele era tão
entristecido como se tivesse levado uma paulada em sua cabeça.
No pátio
Quem conhece a obra educativa dos Padres Cavanis, sabe com quanta atenção e cuidado, os
Fundadores, P. Antônio e P. Marcos tinham investido para que os alunos das escolas tivessem a
disposição espaços amplos para seus jogos, com segurança ou melhor ainda, com a intuição
profundamente pedagógica, de que um jovem se revela na sua espontaneidade, em particular
durante os momentos de passatempo e de divertimento. Um aluno, conhecido exclusivamente no
âmbito escolar, ou mesmo somente durante as aulas, permanecerá para o educador sempre um meio
mistério.
Foi assim que desde a primeira fundação, os jovens que freqüentavam a escola Cavanis,
encontraram um amplo espaço para suas recreações: e isto em Veneza, cheia de espaços livres.
O exemplo dos fundadores se conservou nos Instituto e foi esculpido profundamente nos seus
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filhos, até ao ponto que algumas fundações foram abandonadas pela impossibilidade de unir a
atividade da escola a um ambiente para a recreação. Assim aconteceu com uma casa que foi aberta
na Sicilia, em Santo Stefano de Camastra.
Quando P. Basílio chegou definitivamente em Possagno no ano de 1946, onde permaneceu até sua
morte, no ano de 1962, encontrou um ambiente ideal onde pôde desempenhar em plenitude o seu
trabalho educativo: Escola severa, mas aberta, para uma justa dosagem de estudo e divertimento,
nos pátios arejados e amplos, nos quais ecoavam as vozes alegres dos jovens, com a precisão de um
cronômetro, os intervalos e as oras do trabalho escolástico e do estudo vespertino.
Os moradores da cidade não tinham necessidade de relógio, que naquele tempo eram raros e muitas
vezes fora da possibilidade econômica das pessoas comuns. Para regular-se com o tempo, bastava
prestar um pouco de atenção na vida do Colégio e a ora era logo intuída.
Naqueles pátios P. Basílio era sempre presente de maneira discreta e sorridente: Rosto tranqüilo,
comportamento composto, do alto de alguns degraus observava a tudo. Era feliz em acompanhar a
agitação dos jovens e das bolas de futebol; algumas vezes alguns o atingiam, mas não se importava,
porque fazia parte do ......jogo.
Tinha sempre uma boa palavra para aqueles que se aproximavam: "Bravo puteleto, sii bon. Atu dito
le preghiere stamatina?"….. “Muito bem meu filho, seja bom. Você disse suas orações nesta
manhã?”...
Com os olhos semi-abertos e protegidos pelas suas grandes sobrancelhas parecia não ver nada, mas
ao invés nada lhe escapava, igual nas aulas.
Muitas vezes seus lábios se moviam e se imaginava então que o seu espírito era voltado para o
Senhor.
Muitos anos se passaram e jamais aquele posto de “vigilância” permaneceu deserto, a não ser por
grande necessidade.
Quem precisava encontrar P. Basílio naquele momento só precisava entrar no pátio: ali o
encontrava.
Mesmo quando já estava cego, e não conseguia distinguir bem os jovens, não abandonava o pátio,
as recreações.
E a quem lhe dizia: “Padre, vai se sentar para descansar um pouco, pois você já não consegue mais
enxergar o que fazem os jovens” ele respondia severamente: “Mas eles me vêem”.
Como ficou abandonado o pátio depois do dia 16 de março de 1962!
Foi como se no jogo tivesse sido tirado por imprevisto o principal protagonista.
Eu acredito que agora do Céu P. Basílio peça muitas vezes ao Bom Deus a permissão de voltar para
o seu posto de observação, quando as crianças descem das aulas para seu intervalo de descanso,
para continuar a protegê-los com a sua presença bondosa e paterna.
Bendito o Colégio de Possagno, sobre a qual ainda paira o espírito do bom Padre!
Padre Basílio instrumento da misericórdia
Quem entra pela porta principal da Igreja dos Padres Cavanis em Possagno vê, logo à direita, o
confessionário de P. Basílio, muito simples, para não dizer pobre aos olhos dos homens, mas
certamente precioso diante de Deus, que se dignou fazer deste lugar instrumento privilegiado do seu
perdão para um infinidade de almas.
Se aquele móvel vermelho pudesse ter uma voz, certamente cantaria com o salmista um Hino de
louvor: “Eternamente cantarei a misericórdia do Senhor” (Sl 89(88),2) e cada penitente poderia
responder: “O meu coração se alegre na tua salvação e canta a Deus que me abençoou” (Sl
13(12)6b).
Era com essa expectativa que P. Basílio esperava e acolhia as almas com o seu sorriso aberto, com
um comportamento que indicava sincero afeto e parecia dizer: “Venha, não tenha medo”.
Não impunha a sua pessoa, mas mostrava ternura, por isso nem mesmo as crianças se sentiam
amedrontadas e se colocavam ajoelhadas diante dele com a confiança de um filho que se lança nos
braços do seu papai.
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P. Basílio auscultava as confissões com os olhos semi-fechados e parecia que quase lesse nas almas.
Poucas perguntas e um conselho simples: “Sejamos humildes e amemos o Senhor, que nos quer
bem” ...
Geralmente entendia as necessidades dos penitentes a sabia dizer uma palavra oportuna que curava
e dava a paz.
Mais privilegiados eram aqueles que podiam subir até o seu quarto para se confessarem. Depois da
absolvição o bom Padre gostava de trocar algumas palavras com o penitente, como fazia muitas
vezes com esse que vos escreve essa memória.
Eu me lembro que um dia, depois de terminada a confissão, nossa conversação teve como
argumento a Virgem Maria. A um certo ponto me disse, com voz tão baixa, quase imperceptível,
como se lhe fugisse o controle da sua normal reserva: “Uma vez eu também vi Nossa Senhora: era
tão linda!” Depois, quase arrependido de ter revelado um segredo que na sua humildade não
gostaria de render público, mudou rapidamente de discurso: Mas o leite já era derramado.
Ao seu tribunal (confessionário) não recorriam somente às crianças ou os bons cidadãos de
Possagno, mas muitas vezes eram sacerdotes, monsenhores e bispos, que buscavam a ele para pedir
o perdão de Deus e para terem iluminações e conselhos, dos quais a sua sabedoria, iluminada do
Espírito Santo, era sempre rica.
Ao que me lembro, as penitencias que aplicava jamais eram pesadas.
Isso faz entender que, como outros grandes Santos, ele fazia cargo dos pecados dos outros e pagava
pessoalmente a pena temporal.
Os “fioretti” (pequenos sacrifícios) de Padre Basílio
A vida de P. Basílio é cheia de episódios que permitem intuir que a sua alma era particularmente
querida por Deus.
Quantas pessoas e quantas vezes andavam a procurá-lo por causa de simples problemas de vida e
puderam experimentar a força da sua oração!
Quantas vezes resolveu as necessidades dos que se encontravam em dificuldade, liberando-os com
uma simples benção.
As bênçãos de P. Basílio permaneceram famosas.
Poderia recontar uma família de vivazes esquilos que tinham estabelecido o território de Possagno
como estável morada. Entre os ramos de um pequeno bosque de nozes, propriedade de Angelo
Perisello, não se limitavam a recorrerem aos ramos, como era natural, mas os aliviavam também
dos frutos que produziam.
E assim ao infeliz proprietário desesperado não restava outra alternativa, senão pedir a P. Basílio
uma especial benção, para ser liberado daqueles importunos hospedes.
O Padre, sempre pronto a ajudar quem estava necessitado, se vê a lutar contra uma dupla
necessidade: a primeira dizia respeito a quem lhe pedia o distanciamento dos inocentes
animaizinhos, e a segunda relacionava-se aos esquilos mesmos, sobre os quais deveria carregar a
mão com o seu “exorcismo”.
E como bom São Francisco moderno chegou a uma conclusão sábia: para os esquilos entregou os
ramos e folhas das árvores para suas caminhadas; as nozes, ao invés, para o bom camponês, com
sua surpresa, que daquele momento teve os frutos exclusivamente para si e para a sua família.
Num outro momento um proprietário de uma casa agrícola, sempre de Possagno, recorreu ao Padre
porque a sua casa e as vizinhas estavam infestadas de grossos ratos.
Com uma benção e não se viram mais nenhum dos ratos, nem dentro ou fora de casa.
Aonde foram terminar? Tem quem afirmou de vê-los vistos em grande número jogando no fundo do
vale, próximos a ponte de São Roque, felizes pela nova morada, longe dos olhos indiscretos e
desprezadores dos homens.
Algumas vezes a intervenção do bom Padre liberava de situações bem mais dramáticas.
Em Possagno, durante o verão, o Colégio era freqüentado por um pequeno grupo de alunos, que ali
vinham para prepararem-se às avaliações de recuperação no mês de setembro, antes que fosse
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iniciado o novo ano escolástico.
A quinta feira, salvo algumas raras exceções, era reservada para uma excursão na montanha.
Próprio em um daqueles dias: os alunos, acompanhados dos instrutores e do assistente para a
disciplina, foram passear sobre o Monte Grappa. No Colégio permaneceram somente alguns alunos
que, por vários motivos, não tiveram a mesma possibilidade de saírem com os outros.
Depois do almoço, enquanto jogavam os jovens do colégio, P. Basílio e alguns outros religiosos
conversavam, com os olhos atentos sobre as crianças, para que não se machucassem. Por um
momento P. Basílio se recolheu, como se fosse absorto, e disse: “Rezemos por aquele menino” e
não acrescentou mais nada, deixando aqueles com quem conversava perplexos ao ouvirem isso.
Ao entardecer, quando o grupo retornou da excursão, o assistente narrou ao Reitor da comunidade
que enquanto faziam passar os jovens um a um por um ponto difícil e perigoso da trilha das
“Meate”, um aluno que tinha escapado um pouco da vigilância, estava se precipitando em um
precipício. Foi salvo pela pronta reação do assistente que o segurou pelos cabelos.
O Reitor perguntou em que momento tinha ocorrido esse fato e se pôde constatar que correspondia
exatamente com a hora em que P. Basílio tinha dito “Rezemos por aquele menino”.
Um outro episódio semelhante precisa ser relembrado, relaciona-se AL tempo da Segunda Guerra
Mundial. O Superior Geral daquele tempo P. Aurélio Andreatta, tinha se retirado fora da cidade e
longe de Veneza para um compromisso urgente. Viajar naqueles tempos era sempre perigoso, seja
porque os meios de transporte eram raros e os trens sofriam constantemente atrasos, seja porque
sofriam perigo de bombardeamento, sobretudo ao longo das linhas ferroviárias.
Ao retornar o padre se encontrou em séria dificuldade foi obrigado a descer do veículo em meio a
uma estrada, sem saber o que poderia fazer para concluir a sua viagem.
No entanto em Veneza P. Basílio e os Confrades estavam à mesa. Também desta vez, por um
momento P. Basílio se recolheu absorto e convidou a rezar pelo Superior Geral, sem dar mais
explicações.
Quando à noite, P. Aurélio reentrou no Instituto, recontou que: em um certo momento de sua
viagem de retorno se encontrava só, quase sem esperança de encontrar ajuda. Ao improviso, porém
apareceu um carro, naqueles tempos de guerra os caros eram muito raros. O motorista parou e
depois de dirigir ao padre algumas perguntas, o convidou a entrar no carro, permitindo-o assim sair
de uma situação difícil e concluir sua viagem facilmente.
Naturalmente os Confrades se informaram a que hora precisa tinha acontecido esse fato; e ainda
mais uma vez se pode constatar a correspondência exata com aquela a qual o Padre Basílio tinha
convidado a rezar. Como poderia saber? Mistérios que somente os santos sabem explicar.
Padre Basílio e o seu amor pelas vocações
Um dos grandes amores de P. Basílio foi aquele pelas vocações em geral e pelos chamados ao
Instituto Cavanis em particular.
Quem escreve estas páginas pode comprovar, tendo sido por muitos anos, assistente disciplinar no
pequeno seminário de Possagno, no mesmo período de tempo em que no Colégio Canova, que
ficava a dois passos da li, Padre Basílio exercia o seu ministério sacerdotal.
Os alunos do postulantado podiam assim visitá-lo livremente para as confissões.
Isso mesmo foi uma minha escolha como diretor espiritual. Aproximar-se à porta de sua “cela” não
era um problema: bastava bater na porta e se encontrava diante do bom Padre, que parecia aguardar
propriamente a você.
Uma breve confissão e depois um colóquio familiar, durante o qual muitas vezes, entre os vários
argumentos, não faltava um referimento à vida e aos problemas do seminário.
Quando ouvia boas notícias se alegrava e o seu rosto se iluminava com um sorriso de satisfação
sincera e profunda.
Eu me lembro que um dia, depois da confissão, ele me segurou para conversar um pouco. Em um
dado momento, e o fato me pareceu estranho, ele me fez pegar de sua pequena biblioteca pobre e
simples, que tinha em suas costas, um embrulho: era um daqueles lenços em uso naqueles tempos.
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Ele me fez abrir e encontrei dentro meia maçã. Disse-me: “Divide-a com os seus amigos”. Não me
lembro o que eu fiz: certamente não entendi totalmente a gentileza do pequeno gesto, testemunha do
amor que ele nutria pelos seminaristas, aos quais gostaria de fazer chegar, a seu modo, um sinal do
seu grande afeto.
Mas o seu interesse pelas vocações foi um ponto fixo durante toda a sua vida.
Na sua juventude em Veneza, foi diretor espiritual, confessor e mestre de noviços e tinha aprendido
a fazer suo os problemas e os mistérios que acompanham cada vocação ao Sacerdócio: gostaria
todos sacerdotes!
Quando era informado de algum bom jovem recomendava, a quem tinha a sua responsabilidade
educativa e de guia espiritual, de cuidá-lo. “Staghe drio, dizia, staghe drio” (acompanhai-o)
A frase era passada quase como um “dito” entre os jovens religiosos, que: se diz que uma vez
pensaram em fazer uma brincadeira inocente com o Padre, que sabia parar e fazer uma risadinha
sincera.
Foi assim que um dia um seminarista brincalhão, falando com o Padre, lhe dizia de ter encontrado
uma vocação que, porém dava algum problema. Naturalmente a resposta foi “Staghe drio!”
“Não se pode, Padre, não se pode”, respondeu o seminarista.
“Ma si, staghe drio! Como ele se chama?”
“Marco: porém é perigoso porque dá coice: é o asno da chácara “Le Rive” do Colégio.
Uma risadinha divertida do Padre e tudo foi esclarecido.
O amor de P. Basílio pelas vocações abraçava o inteiro arco da vida dos chamados. Se estivessem
doentes, os acompanhava com uma atenção quase materna.
Em Possagno tinha chegado, durante um ano escolar, o religioso Orfeo Mason, para recuperar-se de
uma forma de exaustão, acompanhado de uma falta de apetite. Com a impossibilidade de adequar-se
às refeições com o horário da comunidade, andava para o almoço e a janta, primeiro dos outros, mas
se encontrava sempre diante da mesa, pontualmente como um relógio, P. Basílio, que ainda mais
ficava em pé e em silêncio, diante da mesa. Somente às vezes dizia com voz baixa: “Tocia pan,
tocia pan” (banhe o pão na água para digerir-lo mais facilmente). E o recomendado cuidado do bom
Padre gradativamente levou-o a um melhoramento: Voltou o apetite e com o apetite a boa saúde.
Ao seu amor pelas vocações vão certamente ligadas a pronta atenção e a bondade a qual recebia as
confissões não somente dos seminaristas e dos religiosos, mas também aquelas dos sacerdotes, que
em bom número recorriam a ele, e dos confrades que consideravam a sua presença no Colégio
como um grande Dom do Senhor.
Compreendia-se bem que o seu coração ardia pelo desejo de ver todos santos e animados de zelo
vivo pelo Reino de Deus.
Ao mesmo amor pelas vocações uniram-se também as horas de Adoração Eucarística que fazia
semanalmente nas quintas-feiras, das 23 às 24 horas da noite.
O bom Deus certamente aceitou esse seu desejo, porque o chamou para si ao soar da última hora do
dia da sua morte, em 16 de março de 1962.
Padre Basílio e a Eucaristia
Padre Basílio foi um grande apaixonado pela Eucaristia.
Até aqui nada de extraordinário, porque todo sacerdote é consagrado para a Eucaristia e a Eucaristia
é para o Sacerdote.
Mas ele vivia esta realidade e quase a respirava no profundo da sua alma.
Quantas vezes era encontrado em adoração diante do Santíssimo Sacramento, com os olhos fixos no
sacrário, ajoelhado também quando, já ancião, sofria para caminhar e as articulações já não
correspondiam mais docilmente aos comandos da vontade.
Certamente não tinha mais necessidade de longo tempo de preparação para entrar em intima relação
com Jesus sacramentado.
Entendia-se bem que o seu espírito era sempre vivo diante do Senhor e que bastava somente elevar
o véu do seu coração, para se encontrar à presença do Hóspede Divino, que o atendia.
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Muitas vezes, próximo ao intervalo das aulas, qualquer criança abria timidamente a porta da igreja,
que dava para o pátio, onde se encontrava P. Basílio, por algum momento se unia a ele em oração e
depois saia para unir-se aos colegas de classe.
Mas o momento de maior intensidade de vida eucarística P. Basílio o saboreava de manhã, quando
celebrava a santa missa.
Nos últimos anos de sua existência, celebrava a missa de maneira privada sobre um altar na
sacristia, acompanhado de um Irmão Religioso da Congregação e por algum fiel.
Nada de extraordinário na sua celebração, mas se colhia no ar e se respirava uma atmosfera de
profunda espiritualidade, que nos envolvia e não nos permitia distanciar-se dela.
No momento da consagração as palavras se faziam ainda mais marcantes e a voz ligeiramente
tremia: se entendia que vivia no profundo mistério que celebrava. O seu espírito naquele momento
se fazia ainda mais contemplativo e quase distante do ambiente que o circundava.
No momento da comunhão o rosto se apresentava um pouco mais sério; recebia com os lábios
trêmulos as Sagradas Espécies e permanecia por um pouco de tempo absorto, certamente em
profunda adoração a aquele Deus que o tinha escolhido todo para si e sacerdote para sempre.
Alguns afirmavam de o terem visto elevar-se da terra durante a celebração.
Acredito, porém que a elevação do seu espírito acontecesse cotidianamente, dia a dia de maneira
mais profunda, pouco a pouco conforme o caminho de santidade lhe abria horizontes sempre mais
amplos e esplendidos.
Padre Basílio e Nossa Senhora
Quem conhecia P. Basílio e se aproximava para a confissão com ele, já sabia antecipadamente qual
seria a penitencia sacramental que iria receber: de três a sete “Aves Maria”, conforme a gravidade
da culpa confessada.
Não se podia considerar que fosse isso, sinal de falta de atenção, do bom Padre; ao invés era
indicação e garantia que no confessionário não se entrava jamais sozinho, mas sempre se
encontrava em companhia de Maria, à qual P. Basílio, confiava cada um dos seus penitentes.
Testemunha do seu grande amor por Maria era a coroa do Rosário, que sempre suas contas desfiava
e fazia escorrer embaixo do escapulário, especialmente nos momentos livres de empenhos
particulares: como se fosse uma antena sempre ativa e sintonizada para transmitir sinais do amor à
Virgem e para recebê-los para si e para as almas.
Também durante as tarefas em aula, passeando pelos corredores dos bancos, lhe fazia companhia o
rosário.
Os alunos como já disse acima, Já sabiam que, no momento das avaliações escritas, quando pediam
ajuda para resolver os passos difíceis de uma tradução, P. Basílio não dava explicação particular a
nenhum. Creio, porém que o suplicante não tenha jamais ficado com as mãos vazias, pois
certamente receberia uma “Ave Maria”, que lhe acompanharia durante o seu esforço de tradução e
certamente na vida.
Como já testemunhei no processo diocesano da causa de beatificação de P. Basílio, posso atestar
que ele não era somente devoto da Virgem Maria, mas que também essa sua devoção lhe reservou,
da parte de Maria, momentos de materna predileção e de amorosa presença.
A sua fidelidade às praticas comunitárias de piedade lhe possibilitava jamais faltar às novenas de
preparação as festas de Maria, as quais ele se dispunha com a alegria de um filho devoto, que se
alegrava em ver honrada a “Mamãe Bela”, como ele afetuosamente a chamava.
E quantas vezes, encontrando-se na Igrejinha do Instituto a rezar, tinha contemplado a bela e
Grande pintura que repousa na abside do altar! Essa representa a Virgem Maria que tem nos braços
o Menino Jesus e o apresenta a São José de Calasanz, Padroeiro principal do Instituto Cavanis. O
Santo, por sua vez, apresenta a Maria algumas crianças, confiando-os a Ela.
Parece-me condensado neste quadro a vida de P. Basílio: receber Jesus de Maria, para dar a Ele, por
meio da virgem, as almas dos pequenos e dos jovens que Deus lhe confiava.
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O ocaso sereno de uma vida jamais triste
Para o bom Padre se aproximava o momento do convite para subir ao Céu.
Devia sentir de maneira forte o chamado e a saudade profunda. O seu longo e fatigoso caminho na
vida era sempre sustentado daquela meta final.
Tinha a cada dia semeado a larga mão o bem e agora se preparava para recolher uma messe
abundante, com a alegria bíblica do agricultor que vê realizado o fruto das suas lutas.
“quem semeia entre lágrimas colherá com alegria, levando os seus feixes”. (Sl 126(125),5)
Quem sabe não teria visto, naqueles últimos tempos de sua vida, o seu pai colher no outono, com
alegria, os frutos de um ano de cansaços, enquanto ele criança se divertia com os seus amiguinhos
precipitavam-se entre os sacos rumorosos de milho, colhidos no pequeno quintal de casa.
Revia sua vida inteira como grande Dom de Deus, o qual se preparava para restituir-lo, multiplicado
ao cêntuplo.
“Feliz o homem a quem Javé não aponta nenhum delito”. (Sl 32,2)
Podemos afirmar que P. Basílio foi este homem.
Não acredito que tenha existido ou exista alguém capaz de afirmar de ter recebido dele algum tipo
de ofensa e de não ter tido a alegria do seu amor sincero.
No início dos noventa anos, em março de 1962, se sente mal. No dia 10 desse mesmo mês celebrou
pela ultima vez a Santa Missa.
Depois de uma semana inteira de sofrimentos ao leito que lhe concederam oferecer um extremo e
último tributo de dor pela conversão dos pecadores.
Mas mesmo naqueles instantes dolorosos não perde contato com a realidade da terra e se interessa
dos problemas dos irmãos que permanecem.
Mais uma vez nos servimos de testemunho um belíssimo “fioretto Francescano” (episódio
franciscano). Próprio naqueles dias o padeiro do Colégio tinha sofrido um acidente automobilístico
em Possagno, na curva da estrada próximo ao aqueduto da Casa del Sacro Cuore (do Sagrado
Coração), por fortuna, sem graves conseqüências. O Padre Franco Degan, agora já falecido, devoto
penitente de P. Basílio, se aproximou do seu leito de morte, quando ele já estava muito grave,
desejando dar-lhe o último adeus. Quando se aproximou ficou maravilhado: ele esperava encontrar
se diante de um homem consumido e fechado em seus problemas e sofrimentos, mas ao invés não!
Ele ouviu, de fato, o bom Padre dar lhe esse amoroso e zeloso conselho: “Ti sona nele curve”!
“Veja se você buzina nas curvas”!
Evidentemente, informado do acidente do padeiro, ele tinha querido dar ao Padre Franco uma ajuda
para as suas futuras viagens de carro.
No dia 16 de março os sofrimentos se agravam.
O médico que visita Padre se encontra diante de um corpo dilacerado de uma maneira inimaginável,
testemunho extremo de atrozes sofrimentos, suportados silenciosamente pela conversão dos
pecadores.
O doutro não consegue segurar o choro e vai se sentar ali próximo, para não desmaiar, enquanto o
soluço faz treme toda a sua pessoa.
Às 24 horas do dia 16 de março de 1962 P. Basílio concluí a sua viagem terrena e com a
simplicidade de uma criança bate na porta do Bom Deus, que lhe abre e o introduz na Pátria Beata,
em um abraço de um Amor infinito.
Aguardando na paz dos Santos
Logo depois da morte seu corpo veio sepultado na Capela dos padres, no cemitério de Possagno.
Em 1985 se abre o processo diocesano para a causa de beatificação e com a conclusão do mesmo, o
Padre veio exumado e transferido na Igrejinha do Colégio, onde tinha vivido seus momentos
espirituais mais intensos e onde tinha sido instrumento precioso da Misericórdia de Deus no
ministério da Reconciliação.
O lugar do seu repouso agora é meta de continua peregrinação dos fiéis, especialmente crianças e
jovens das nossas escolas, que jamais interromperam o colóquio de amor com quem lhes tinha
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amado e continua a amá-los e a protegê-los.
É edificante e comovente ler os pensamentos que os pequenos visitantes lhe escrevem, no livro
colocado ao lado da urna, que conserva os restos mortais de P. Basílio, que espera do Bom Deus um
sinal, para subir aos altares.
Amanhã, se eu ouvir chamar,
Lanço para o ar, a terra e a pedra
e me enterro no Céu,
No meio do Coração de Deus
Aleluia !”
Padre Mario Bebber
Levico – TN
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