Evidência de práticas de manipulação de resultados na transição
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Evidência de práticas de manipulação de resultados na transição
UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA. PORTO FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO MESTRADO MESTRADO EM GESTÃO Modalidade de Trabalho Trabalho Final de Mestrado Tema Evidência de práticas de manipulação de resultados na transição para o SNC Nome Aluno Ânia Sofia Oliveira Martins Data Outubro de 2013 Orientação Profª Drª Luísa Anacoreta Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Trabalho Final de Mestrado submetido no cumprimento parcial dos requisitos para o grau de Mestre em Gestão da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa ABSTRACT Evidence of Earning management Practices in the Transition to SNC The purpose of this dissertation is to examine the existence of management earnings and verify their application in the companies covered by the normative transition of POC to SNC (Portuguese GAAP). A sample of 19 companies was built, including two industries, textiles and construction, which are distinctive. The study encompassed a three-year period, ranging from 2009, the year before the normative transition, 2010, the transition year, and 2011, the year after. The normative transition is a recent process in Portugal. Therefore, more studies are required since it seems relevant to know the effects that normative transition exerted on the information of firms that now follow the SNC. The present study draws on the existing literature, which stems from the normative introduction of IFRS in 2005, since it seemed comparable to the SNC. The research method draws on Fernandes (2009) study, which aims at verifying earnings management practices via discretionary accruals on financial reports of companies encompassed by the IFRS in 2005. Results revealed that the transition originated opportunistic behaviour through earning management. However, the effects were not visible until one year after the transition took place. Such results may be explained in two ways. One is that the judicious behaviour of managers and accountants. Another is the lack of knowledge and inexperience regarding the new normative during the transition year. But the study also revealed that both the industry and the auditing corporation are irrelevant to the level of earning management practices. Palavras-chave: Earning management; discretionary accruals; SNC; big bath accounting; income smoothing. I RESUMO O objetivo deste trabalho é estudar a manipulação de resultados associadas à transição normativa do POC para o SNC. O estudo usou uma amostra de 19 empresas representantes do setores Têxtil e da Construção, setores estes que apresentam especificidades distintas. O estudo incidiu em três anos, o ano da transição normativa (2010) e os anos imediatamente anterior (2009) e posterior (2011). A transição normativa que Portugal assistiu é um processo recente que carece de algum estudo. Parece. Por isso, relevante conhecer os efeitos eventualmente ocasionados pela transição normativa na informação financeira das empresas agora abrangidas, pelo SNC. O presente trabalho assentou na literatura que decorre da introdução normativa das IFRS em 2005, por se tratar do normativo que apresenta mais semelhanças ao SNC. O método de investigação utilizado baseia-se num estudo levado de Fernandes (2009) que tem como intuito verificar a aplicação de manipulações de resultados via os accruals discricionários nas demonstrações financeiras das empresas abrangidas pela adoção das IFRS em 2005. Os resultados obtidos demonstram que, de facto, a transição normativa contabilística a que Portugal assistiu suscitou comportamentos oportunistas através da prática de manipulação de resultados. Todavia, os efeitos não foram visíveis senão no ano Pós-SNC. Os resultados obtidos podem ser explicados quer pelo comportamento prudente por parte dos gestores e/ou contabilistas, quer pela falta de conhecimento e inexperiência do normativo no ano da sua introdução. Os resultados deste trabalho evidenciam, igualmente, que o setor de atividade e o tipo de empresa que presta serviço de auditoria às contas das empresas não tem impacto no nível de manipulação de resultados. Palavras-chave: Manipulação de resultados; accruals discricionários; SNC; big bath accounting; income smoothing. II AGRADECIMENTOS À minha família, António, Natália e Isa, pelo apoio e encorajamento ao longo da elaboração desta dissertação. À minha orientadora, Luísa Anacoreta, e co-orientador, Ricardo Ribeiro, pelo tempo dedicado e pelos ensinamentos que me foram transmitidos. Aos meus colegas de trabalho pela compreensão e ajuda no desenvolvimento deste trabalho. Àqueles que contribuíram para que esta dissertação fosse concluída e que deram forças para fazer mais e melhor independentemente das dificuldades. Ânia Martins III ÍNDICE ABSTRACT .................................................................................................................................... I RESUMO........................................................................................................................................II Índice de Gráficos ......................................................................................................................... V Índice de Tabelas ........................................................................................................................... V INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 1 1. 2. 3. 4. Contextualização e formulação do problema ........................................................................1 Motivação .........................................................................................................................................3 Objetivos do estudo e estrutura ................................................................................................4 Metodologia .....................................................................................................................................5 CAPITULO I – REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................... 8 1.1 1.2 A manipulação de resultados ...................................................................................................8 Incentivos à manipulação de resultados ........................................................................... 27 CAPÍTULO II – O CASO PORTUGUÊS E A INFLUÊNCIA DO DIREITO ROMANO ........................................................................................................................................................29 2.1 Contexto português .................................................................................................................... 29 2.2 Caracterização e origem do SNC.............................................................................................. 30 2.3 Introdução normativa das IFRS .............................................................................................. 33 CAPíTULO III – ESTUDO EMPÍRICO ................................................................................42 3.1 3.2 3.3 Metodologia de investigação ................................................................................................. 43 Definição e caracterização da amostra .............................................................................. 46 Aplicação do Modified Jones Model ...................................................................................... 50 CONCLUSÃO .............................................................................................................................58 BIBLIOGRAFIA .........................................................................................................................61 APÊNDICES ................................................................................................................................66 Apêndice 1 - A perspectiva de Stolowy e Breton, (2003) ......................................................... 66 Apêndice 2 - Caracterização das empresas que constituem a amostra ............................... 67 GLOSSÁRIO ...............................................................................................................................70 Numero total de palavras: 14.171 IV Índice de Gráficos GRÁFICO 1 - EVOLUÇÃO DA MEDIANA DAS VARIÁVEIS DA AMOSTRA 49 Índice de Tabelas TABELA 1HIPÓTESES FORMULADAS Nº1 .................................................................................................................................... 45 TABELA 2HIPÓTESES FORMULADAS Nº2 .................................................................................................................................... 46 TABELA 3HIPÓTESES FORMULADAS Nº3 .................................................................................................................................... 46 TABELA 4DADS ESTATÍSTICOS DAS VARIÁVEIS ....................................................................................................................... 48 TABELA 5RESULTADOS ESTATÍSTICOS MODIFIED JONES MODEL .......................................................................................... 50 TABELA 6DADOS ESTATÍSTICOS DA VARIÁVEL |DA/Anl| ...................................................................................................... 50 TABELA 7DADOS ESTATÍSTICOS DAS VARIÁVEIS |DA/An-l| ................................................................................................. 51 TABELA 8TESTES E HIPÓTESES .................................................................................................................................................... 53 TABELA 9RESULTADOS DA ESTIMAÇÃO .................................................................................................................................... 54 V INTRODUÇÃO 1. Contextualização e formulação do problema Com o objetivo de aproximar as diretivas e regulamentos contabilísticos nacionais às da União Europeia (UE), foi aprovado em 13 de Julho de 2009 o novo normativo contabilístico, o Sistema de Normalização Contabilística (SNC), que veio substituir o Plano Oficial de Contas (POC) (Decreto-Lei 158/2009). A transição para o novo sistema ocorreu no ano de 2010 e significou para as empresas um período de grande mudança contabilística. Esta mudança visou permitir a comparabilidade das demonstrações financeiras numa perspetiva europeia e, desse modo, aproximar as normas locais às normas internacionais. O facto de várias empresas do tecido empresarial português estarem abrangidas por esta mudança normativa fundamenta a importância do estudo das suas eventuais implicações no comportamento das empresas. O estudo em apreço tem como principal objetivo verificar que implicações esta mudança normativa exerceu ao nível da manipulação da informação financeira nas empresas abrangidas pela transição. Seria de esperar que esta transição normativa reduzisse o nível de manipulação de resultados. No entanto, alguns estudos levados a cabo, por exemplo, por Wash et al. (1991) e Deshow et al. (2011), sugerem que, ao contrário, esta transição pode ter suscitado comportamentos oportunistas. Desta forma, apesar do que foi explicado pelos especialistas do objetivo definido para a transição normativa, é expectável que os resultados sigam a linha de pensamento dos resultados verificados nos estudos abordados neste trabalho. A informação financeira de uma empresa constitui uma fonte importante para a tomada de decisão dos seus stakeholders. Por essa razão, numa altura em que as práticas de manipulação de resultados são tão comuns, parece crucial que se preserve a veracidade da informação 1 financeira. Porém, existem incentivos à manipulação de resultados, que variam consoante o tecido empresarial e fiscal de um país, bem como a própria situação financeira da empresa. Desta forma, uma empresa poderá ter incentivos para aumentar o seu resultado ou para o reduzir. Em Portugal, o Direito Romano, que está na origem do direito português, explica a confusão entre o sistema contabilístico e fiscal. O resultado é a existência de dois tipos de incentivos, o incentivo fiscal e o incentivo de qualidade informativa. O primeiro tem uma relação negativa com o resultado e está relacionado com o imposto sobre rendimento. Já o segundo mantém uma relação positiva com o resultado e está relacionado com o nível de financiamento. Desta forma, se uma empresa se encontra “saudável”, ou seja, em boa condição financeira, procurará reduzir a carga fiscal, adotando uma postura de prudência. Mas se a situação não for “saudável”, então necessitará de recorrer ao crédito bancário e, por isso, procurará aumentar os resultados (Rodrigues, 2011). Vários autores, como Cai et al. (2012), Dechow et al. (2011), Walsh et al. (1991) e Fernandes (2009), estabeleceram uma relação entre a manipulação de resultados e a ocorrência de uma transição normativa, construindo modelos capazes de avaliar o nível de relação existente. A transição normativa que mais se aproxima do SNC ocorreu em 2005 com a obrigatoriedade da adoção das International Financial Reporting Standards (IFRS) para todas as empresas abrangidas pelos Estados-Membros da UE que apresentem demonstrações financeiras consolidadas (Regulamento 1606/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho, 2002). Este contexto de mudança poderá ter despoletado práticas de manipulação de resultados por parte da gestão. Neste contexto, o presente estudo examina as práticas de manipulação existentes e os modelos desenvolvidos para a sua deteção. As práticas que este trabalho investigou foram o big bath accounting, o income smoothing e a gestão de resultados. Como será possível verificar nos capítulos I e II deste trabalho de investigação, a prática de gestão de resultados 2 constitui o empolamento ou redução de resultados; o big bath accounting é definido como a redução dos resultados de uma empresa quando esta já apresenta resultados baixos com o objetivo de facilitar a geração de lucros nos anos subsequentes (Jordan e Clark, 2002); e o income smoothing é definido como a redução da oscilação do resultado (Stolowy e Breton 2003). 2. Motivação A motivação para este estudo deriva da experiência profissional que se insere neste tema e da sua pertinência na realidade económica atual. A manipulação de resultados é um tema cada vez mais debatido no mercado financeiro, principalmente devido à grande preocupação que suscita entre os stakeholders. Desta forma, tratando-se de um tema atual e enquadrado num mundo globalizado, não deixará de atrair o interesse do leitor. Ademais, a transição normativa do POC para SNC, verificada em Portugal, é um tema recente e que, por isso, carece de algum estudo. Neste sentido, parece importante aprofundar o conhecimento sobre os efeitos que a transição possa ter exercido sobre a informação financeira das empresas agora abrangidas pelo SNC. Tratando-se de um conhecimento que interessará particularmente às partes diretamente afetadas pela transição normativa, não deixará de o ser igualmente para quem se interessar pelas questões da contabilidade (essencialmente para as partes afetadas por esta transição normativa, proceder ao estudo dos efeitos que possa ter causado na informação financeira das empresas abrangidas, agora, pelo SNC). O estudo desta problemática está ainda em desenvolvimento em Portugal. Por tal motivo, o presente trabalho recorreu a modelos que adotaram as IFRS, por se tratar do normativo mais aproximado do SNC. 3 3. Objetivos do estudo e estrutura O objetivo do presente trabalho é, principalmente, verificar se a transição normativa do POC para o SNC suscitou comportamentos de manipulação contabilística. Para além deste objetivo principal, existe outro, de âmbito mais específico e que é a verificação da recorrência das práticas de manipulação de resultados através dos accruals. A literatura sugere que é esta, com efeito, a via mais utilizada para a adoção desta prática. Tal foi evidenciado em estudos levados a cabo por Dechow et al. (2011) e Walsh et al.(1991). Assim, efetuou-se uma revisão dos modelos produzidos no âmbito dos estudos sobre a implicação que a introdução obrigatória das IFRS em 2005 teve na manipulação dos resultados. Esta ligação às IFRS devese à semelhança que existe entre o SNC e as normas contabilísticas internacionais. O cumprimento do objetivo passou pela realização de um estudo empírico para verificar a adoção das práticas de manipulação de resultados no período analisado, isto é, o período anterior e posterior à transição normativa contabilística em Portugal. Assim, esta dissertação propõe-se responder à seguinte questão de investigação: Até que ponto a transição normativa do POC para o SNC despoletou um aumento do nível de manipulação de resultados? Esta questão principal servirá igualmente de pretexto para responder às duas questão que seguem: O nível de manipulação de resultados é influenciado pelo setor de atividade? O nível de manipulação de resultados é influenciado pelo tipo de empresa que procede à auditoria às contas? 4 Desta feita, o Capítulo I, apresenta o Estado da Arte e aborda as perspetivas e conceitos mais relevantes enunciados a partir do estudo sobre a manipulação de resultados O capítulo subdivide-se em dois subcapítulos. O primeiro desenvolve-se em torno de uma definição construtiva da manipulação de resultados, assim como das técnicas existentes como meio de manipular os resultados e passam em revista os estudos desenvolvidos para a verificação da utilização das técnicas de manipulação de resultados em momentos de transição. O segundo subcapítulo aborda os incentivos existentes à manipulação de resultados. No Capítulo II é feita uma abordagem ao caso português e são apresentados vários modelos desenvolvidos por diferentes autores. Este Capítulo subdivide-se em dois subcapítulos, sendo no primeiro feita uma contextualização do caso português e no segundo descrito o novo normativo contabilístico (SNC). Neste segundo subcapítulo descreve-se a introdução normativa das IFRS, ao mesmo tempo. O Capítulo III apresenta o estudo empírico realizado com base nos modelos apresentados ao longo deste trabalho, assim como a apresentação e discussão dos resultados. Finalmente, nas Conclusões apresenta-se e discutem-se os resultados mais relevantes da problemática e do trabalho empírico desta dissertação. 4. Metodologia Este estudo teve início com a revisão de literatura. As leituras efetuadas evidenciaram as noções de big bath accounting, income smoothing e gestão de resultados dada a sua centralidade na problemática em apreço. A consulta bibliográfica privilegiou os artigos mais citados nesta temática e por isso, tidos como os mais importantes. As leituras proporcionaram, por um lado, o conhecimento geral com o tema e, por outro lado, a contextualização da transição normativa do POC para o SNC ocorrida em 2010 em Portugal. Este trabalho teve como corolário o desenvolvimento de um modelo inspirado noutro concebido por Fernandes (2009) e que foi essencial para responder à questão principal desta dissertação. 5 Para a realização do estudo empírico foi selecionada apenas uma variável independente cujo efeito sobre a manipulação dos resultados no período de 2009 a 2011 foi analisado e discutido. Esta variável independente consistiu nos accruals. O estudo envolveu uma amostra de dezanove empresas, construída a partir da informação financeira publicada na base de dados Sabi. Procedeu-se a uma análise comparativa destas empresas, durante os períodos mencionados, para medir o nível de manipulação de resultados. Os critérios utilizados para a seleção da amostra foram os seguintes: 1) o volume de faturação, por se considerar que quanto maior o volume de faturação maior a facilidade em aceder à informação financeira da empresa; 2) empresas abrangidas pelo SNC, uma vez que o objetivo deste estudo consiste em avaliar o impacto da transição; e 3) não serem empresas cotadas. Todavia, foram consideradas as contas individuais de empresas cotadas, por se encontrarem abrangidas pelo SNC. 5. Conclusão O caso prático desenvolvido no capítulo III foi de encontro aos resultados verificados nos estudos abordados ao longo do trabalho no que respeita às implicações da introdução obrigatória normativa das IFRS em 2005. Desta forma, foi-nos possível concluir acerca das implicações que a transição do POC para o SNC teve em Portugal. Os resultados obtidos mostram que, de facto, existe manipulação de resultados na transição do POC para o SNC, no entanto, apenas é visível no ano posterior á transição. Esta conclusão é suportada por duas razões, sendo estas o comportamento prudente dos gestores/ contabilistas, na medida em que as demonstrações financeiras seriam alvo de comparação no ano da transição normativa; e a falta de experiência com o SNC no ano da sua transição para proceder a práticas de manipulação de resultado. 6 Também em jeito de conclusão verificou-se que os dois setores de atividade que foram alvo de estudo apresentam os mesmos níveis de manipulação e que o nível de manipulação não difere se uma empresa for sujeita a auditoria por parte de uma Big 4. Considera-se que este estudo mostrou a relevância que a transição normativa contabilística teve no comportamento das empresas e, por isso, proporcionará a abertura a outros estudos que possam ser desenvolvidos no âmbito deste tema. 7 CAPITULO I – REVISÃO DA LITERATURA 1.1 A manipulação de resultados A literatura apresenta diversas definições conceptuais da manipulação dos resultados. Esta diversidade impôs uma seleção de autores de acordo com a sua relevância na área. Assim, as principais definições são as seguintes: a) Schipper (1989, p.92) define manipulação de resultados como “a intervenção no processo de elaboração da informação financeira e contabilística, com o claro propósito de obter algum benefício próprio” (Schipper, 1989, p.92); b) Para Watts e Zimmerman (1978) a manipulação contabilística consiste no desenho de transações destinado a minimizar os custos políticos e os custos de capital e a maximizar o bónus dos gestores, que assim beneficiam do sistema de compensação da empresa; c) Na visão de Healy e Wahlen (1999) a manipulação contabilística verifica-se quando os gestores usam o seu próprio julgamento na elaboração dos relatórios financeiros e da estruturação de transações com o intuito de transmitirem aos stakeholders uma ideia errada do desempenho da empresa. Ou, mesmo, para influenciarem o resultado de contratos que dependam da informação contabilística. Assim sendo, de acordo com esta última definição, quando o sistema de incentivos dos gestores de uma empresa está diretamente relacionada com o desempenho da empresa, haverá um incentivo para a manipulação dos resultados (Xie et al., 2003). 8 É de notar que em nenhuma destas definições a manipulação de resultados é considerada fraude, desde que aconteça dentro dos limites legais e normas contabilísticas. Segundo Muldorf e Comiskey (2002), fraude existe quando há uma intenção pré-determinada para distorcer a imagem da empresa de uma forma materialmente relevante. Moreira (2006) defende que existe uma distinção entre a manipulação legítima e a manipulação ilegítima, sendo que entende por ilegítima aquela manipulação fraudulenta que se encontra fora dos parâmetros das normas contabilísticas. Desta forma, a manipulação não implica, obrigatoriamente fraude, pois os gestores podem manipular os resultados sob a observância das normas contabilísticas. Nesta perspectiva, a manipulação legítima subdivide-se em oportunista e a informacional. A manipulação oportunista ocorre quando os gestores pretendem iludir os investidores passando uma informação que não é verdadeira. A manipulação informacional ocorre quando os gestores passam a informação da sua previsão privada quanto aos futuros cash flows da empresa (Moreira e Barroso, 2011). No entanto, como Moreira (2006) sustenta, estes dois tipos de manipulação não são sempre fáceis de classificar, já que o seu efeito é global. O presente trabalho de investigação adotou a definição dada de Schipper (1989) e a de Healy e Wahlen (1999). Assim, podemos entender por manipulação como a intenção do contabilista de transmitir uma informação errada aos stakeholders com o propósito de atender aos seus benefícios próprios. Estas perspectivas sugerem que a manipulação dos resultados origina um problema de agência (Xie et al., 2003). De acordo com a Teoria da Agência, fala-se numa relação de agência quando o principal contrata o agente para desempenhar funções na empresa, conferindo-lhe autoridade para tomar decisões. Neste caso, o grande desafio é motivar o agente para que ele seja tão produtivo como se fosse ele o proprietário (Anthony & 9 Govindarajan, 2000). Deste modo, surge um problema de agência quando o agente toma decisões com o objetivo de maximizar a sua utilidade pessoal e não a utilidade do principal (Jensen & Smith, 2000). 1.1.1 Tipos de manipulação Na literatura o termo manipulação confunde-se, frequentemente, com fraude, o que solicita a clarificação das noções de manipulação de resultados e de fraude. No dizer de Stolowy e Breton (2003) a manipulação de resultados só será considerada fraude quando estiver fora da lei e das normas contabilísticas. Nesta perspectiva a manipulação de resultados tem como objetivo alterar duas bases: o resultado por ação e o rácio de dívida e/ou de capital próprio. Segundo os autores, o resultado por ação pode ser modificado de duas formas. A primeira consiste na alteração do resultado líquido com a remoção ou a adição de gastos ou de proveitos. A segunda forma de manipular o resultado por ação denomina-se de “manipulação classificatória” e consiste na apresentação de um item anteriormente ou posteriormente ao lucro utilizado para o cálculo do resultado por ação. O rácio de dívida e/ou de capital próprio pode ser manipulado, também, de duas formas, a inflação artificial do lucro ou a omissão de financiamentos. Estes autores fazem a distinção entre manipulação de resultados e contabilidade criativa, considerando que a contabilidade criativa tem como intenção apresentar o que os investidores desejam ver. As práticas de manipulação de resultados que Stolowy e Breton (2003) consideram são: Gestão de resultados Big bath accounting Income smoothing 10 O que difere a prática de gestão de resultados das restantes, é o facto de provocar tanto o empolamento do resultado como a sua redução, no próprio ano. Por income smoothing designa-se uma prática que é levada a cabo para reduzir a volatilidade dos resultados financeiros de uma empresa (Beidleman, 1973). O segundo conceito, big bath accounting, constitui uma prática que tem como objetivo a redução dos resultados atuais para assegurar melhores resultados no futuro (Penman, 2010). O apêndice 1 subsume a visão de Stolowy e Breton (2003). Como se vê no apêndice 1, a manipulação de resultados exercida dentro dos limites da lei distingue-se daquela que é praticada fora dos limites da lei. A manipulação de resultados exercida fora dos limites da lei é denominada de fraude. A manipulação de resultados exercida dentro dos limites da lei pode ser executada através do rácio débito/capital ou através dos earnings per share. Ao longo deste trabalho serão abordados os métodos da gestão de resultados, do income smoothing e do big bath accounting. A distinção que Stolowy e Breton, (2003) fazem entre estas técnicas, parte do modo como cada uma delas influencia o EPS. Assim, a gestão de resultados provoca o empolamento ou a redução no nível de EPS; a prática de income smoothing tem impacto na variação do EPS já que contribui para a sua estabilização e, finalmente o big bath accounting reduz o nível de EPS. 1.1.1.2 Gestão de resultados No que respeita à Gestão de Resultados, Stolowy e Breton (2003) referem que a manipulação de resultados acontece quando o lucro difere do nível de cash flow pelo total do valor dos 11 accruals. Neste contexto, a intenção de manipulação do lucro concretiza-se através dos accruals. Os autores distinguem entre os accruals não discricionários e os discricionários. São estes últimos que os autores associam à manipulação. Porém, é difícil separar os accruals não discricionários dos accruals discricionários. Isto é, não é fácil determinar quais os accruals que se encontram realmente afetos à atividade da empresa. Por esse motivo, a utilização desta variável na gestão de resultados de algumas empresas foi testada, como será possível observar no capítulo II. O que difere esta prática das demais, agora em apreço, é o facto de a gestão de resultados provocar tanto o empolamento do resultado como a sua redução, no próprio ano. A prática da gestão de resultados não exclui as demais, pelo que se pode associar a qualquer uma das que serão escrutinadas neste trabalho. Por exemplo, no ponto 2.4.4 será possível verificar que a utilização da gestão de resultados prepara a utilização do income smoothing (Fernandes, 2009). Sendo assim, é possível concluir que a gestão de resultados antecede, por norma, a utilização de outra prática de manipulação de resultados. 1.1.1.2.1 Estudos empíricos sobre gestão de resultados Consideramos que os estudos de Pourciau (1992) e Fernandes (2009) representam um grande contributo para o desenvolvimento do estudo deste mesmo trabalho porque abordam os efeitos que os momentos de transição podem ter na manipulação de resultados. Desta forma, apresentamos os estudos empíricos desenvolvidos por estes dois autores. 12 Pourciau (1992) O estudo de Pourciau (1992) teve como objetivo o escrutínio da provável relação entre a mudança de executivos não rotineira e a manipulação de resultados. No decurso do estudo, Pourciau (1992) realizou um teste para comparar os anos T-1; T e T+1 e, assim, avaliar a existência de manipulação de resultados no âmbito dos accruals, cash flows, write-offs e ganhos. O estudo envolveu uma amostra de 73 resignações de executivos ocorridas entre 1985 e 1988. Para cada caso a autora realizou uma análise comparativa no que respeita às variáveis acima mencionadas. Assim, as hipóteses definidas pela autora foram as seguintes: H1: Os rendimentos são positivos no ano anterior ao ano da mudança de executivo (T1); H2: Os accruals aumentam o resultado no ano anterior ao ano mudança de executivo (T-1); H3: Os rendimentos são negativos no ano da mudança de executivo (T); H4: Os accruals reduzem o resultado no ano da mudança de executivo (T); H5: Os rendimentos são positivos no ano a seguir ao ano de mudança de executivo (T+1); H6: Os accruals aumentam o resultado no ano a seguir ao ano da mudança de executivo (T+1); H7: Itens especiais e write-offs discricionários são negativos no ano da mudança de executivo (T). O estudo de Pourciau (1992) permitiu concluir que, do ponto de vista da posição dos executivos substitutos, verificou-se uma redução nos accruals e write-offs no ano T e um 13 aumento dos ganhos no ano T+1. Para a autora, esta relação seria explicada pela intenção, manifestada pelo novo executivo, de reduzir os resultados no ano da sua entrada. Esta operação permitir-lhe-ia empolar o resultado nos anos subsequentes ao mesmo tempo que poderia imputar os resultados menos bons do ano T à gestão anterior. O estudo não proporcionou quaisquer conclusões sobre a posição do executivo que abandona a gerência ou administração. As práticas de manipulação envolvem períodos de tempo razoavelmente longos. Sendo assim, a autora considerou que a ausência de resultados expressivos sobre a posição dos executivos que abandonam a gestão, ficou a dever-se à insuficiência de tempo (Pourciau, 1992). Fernandes (2009) O estudo de Fernandes (2009) compreendeu uma amostra de empresas cotadas na bolsa de valores de Lisboa e Madrid entre 2002 e 2006. O objetivo do estudo era avaliar o nível de gestão de resultados destas empresas com a entrada em vigor das IFRS. Na amostra incluíam 34 empresas portuguesas. Para o autor, os accruals são um meio altamente provável para as empresas recorrerem a técnicas de manipulação. Isto porque, apesar de ser a variável que melhor evidencia os cash-flows futuros, é também a variável mais facilmente manipulada pelos gestores que exercem o controlo sobre a gestão de fundo de maneio. Um dos modelos utilizados neste estudo estimou os accruals discricionários na amostra, utilizando os accruals como variável. O autor partiu do pressuposto de que, quanto maior o nível dos accruals discricionários1, maior a intensidade da prática de gestão de resultados. A elaboração do 1 Os accruals discricionários (DA) são os accruals que incitam a aplicação de técnicas de manipulação de resultados por parte de uma empresa e, portanto, não resultam da atividade real da empresa (Fernandes, 2009). 14 modelo envolveu a realização do teste t2, de comparação entre a média, mediana e desvio padrão. Fernandes (2009) procedeu a um teste de normalidade e verificou que a amostra definida não segue uma distribuição normal. No entanto, procedeu à aplicação do teste t pelo facto de ter mais de 30 observações, o que garante segurança estatística. Desta forma, o autor começou por desenvolver um modelo para determinar os accruals totais: Em que: = Variação dos passivos correntes; = Variação do ativo corrente. Após estimar os accruals totais, o autor procedeu ao cálculo dos accruals não discricionários através do modelo Modified Jones Model, tendo primeiramente determinado os coeficientes (1; 2 e 3). Desta forma, a equação aplicada por Fernandes (2009) foi: Em que: = Vendas no ano t menos as vendas no ano t-1; = Contas a receber líquidas no ano t; = Ativo Tangível no ano t. 2 O teste t caracteriza-se por ser um teste estatístico utilizado para proceder à comparação de significância individual em que existe uma hipótese nula e outra alternativa. 15 O Modified Jones Model é um modelo desenvolvido por Dechow et al., (1995) e, como a designação indica, constitui uma modificação do Jones Model. Esta alteração ficou a dever-se a limitações do modelo original, o Jones Model, nomeadamente o facto de assentar no pressuposto de que a gestão de resultados não é feita com recurso às vendas e, por isso, que os accruals discricionários não afetam a variação ocorrida nas vendas. No Modified Jones Model, são calculados os accruals totais, assumindo-se que os accruals não discricionários são variáveis e que a manipulação ocorre sobre os recebimentos via vendas a crédito, pelo que são consideradas as contas a receber líquidas do ano (Dechow et al., 1995). Os parâmetros α1, α2 e α3 (regressão) foram definidos pelo autor por considerar que as variáveis devem ter em conta o setor de atividade de cada empresa. Uma vez determinados os coeficientes, obtêm-se os accruals não discricionários através da fórmula que segue: Em que: = Coeficiente estimado Para determinar os accruals discricionários o autor aplicou a fórmula: Os accruals discricionários devem ser aferidos, não pelo valor absoluto, mas sim pelo módulo, já que assumem, necessariamente valor positivos e negativos. Para avaliar o impacto da variável accruals na entrada em vigor das IFRS, o autor definiu as duas hipóteses seguintes, que permitem comparar os anos anteriores à transição (2002 a 2004) com os anos posteriores à transição (2005 a 2006): 16 H0: Valor da variável DA no período Pré-IFRS é igual à média da mesma variável no período Pós-IFRS; H1: O valor da variável DA no período Pré-IFRS é menor que a média da mesma variável no período Pós-IFRS. A formulação da H0 explica-se porque, segundo o autor, o facto de a hipótese da introdução das IFRS refletir-se no nível da manipulação financeira não se confirmar, não justifica a sua rejeição. A verificação desta hipótese significaria que a alteração do normativo contabilístico não afetou esta variável. O estudo revelou que, ao analisar os resultados como um todo, a alteração do normativo contabilístico não originou níveis significativamente diferentes de manipulação de resultados via accruals. Isto porque a média do nível de accruals discricionários do período pré-IFRS não varia muito relativamente à média do período pósIFRS. No entanto, ao analisar individualmente cada setor de atividade a conclusão difere, indicando que os setores de “petróleo e energia” e de “tecnologia e comunicações” apresentam um aumento no nível da manipulação de resultados. Os estudos empíricos apresentados neste subcapítulo servirão de base à construção do estudo prático que será desenvolvido no capítulo III. 1.1.1.2 Big Bath Accounting A prática de big bath accounting consiste em baixar os resultados de uma empresa quando esta já apresenta resultados baixos. O objetivo é facilitar a geração de lucros nos anos 17 subsequentes (Jordan e Clark, 2002). O raciocínio em que este procedimento assenta sustenta que, se os resultados da empresa já forem baixos, a gestão será punida pelo mercado, independentemente da extensão da perda. Por esse motivo, as empresas aproveitam para “limpar ativos”, antecipando as depreciações, provisões e imparidades que seriam reconhecidas no futuro. Pourciau (1992) examinou a aplicação do método de big bath accounting em contextos de mudança inesperada de executivos. Em geral, o novo executivo opta por uma estratégia de decrescimento do resultado no primeiro ano, para garantir melhores resultados futuros. Pode, assim, responsabilizar o anterior executivo pelos maus resultados do ano corrente. O big bath accounting é utilizado numa primeira fase, visando manter os resultados elevados constantes no futuro. Por outras palavras, o recurso ao big bath accounting antecede a aplicação do método de income smoothing (Van der Poll, 2004). Isto quer dizer que o método de big bath accounting implica que os executivos incorporem despesas futuras no período corrente através de uma “limpeza” ao balanço (Van der Poll, 2004). As principais vias deste tipo de manipulação são os lançamentos não automáticos, o que se pode concretizar de diversas formas: 1) Via depreciações e amortizações. Uma empresa pode alterar a vida útil de um bem e, até mudar o método de depreciação; 2) Através de despesas não recorrentes de valores imateriais que carecem, normalmente, menor atenção por parte dos analistas; 3) Por recurso a abates. Esta prática pode ser utilizada, por exemplo, reduzindo, os abates de um ano para o outro, de forma a criar uma base financeira vantajosa que leve a bons rácios de retorno no ano seguinte (Heidhues e Patel, 2009); 18 4) Via diferimentos, transferindo custos para períodos subsequentes (Moreira 2006); 5) Pelo recurso a acréscimos. Os analistas devem estar atentos a esta operação, verificando os cálculos e suportes das estimativas registadas pelas empresas, sendo esta uma área muito sensível; 6) Através das imparidades. É quase impossível comparar períodos contabilísticos uma vez que todos os efeitos se encontram no balanço. Isto é, não é fácil verificar qual o período contabilístico que está em causa (Heidhues e Patel, 2009). Nesta dissertação, a abordagem do big bath accouting inspirou-se nas definições e técnicas apresentadas por Stolowy e Breton (2003) e autores referenciados no apêndice 1, nomeadamente, Dye (1988), Walsh et al. (1991) e Pourciau (1992). Pourciau (1992) levou a cabo um estudo que analisou o efeito que a mudança do executivo de uma empresa pode ter na manipulação dos resultados. Nesse estudo o autor distingue entre mudanças rotineiras de executivos e mudanças não rotineiras. As primeiras designam a existência de um processo organizado pela empresa para o turnover3 do executivo. Já as mudanças não rotineiras acontecem quando o executivo se reforma. O ponto 2.4.4. detalha o método que o autor utilizou neste estudo. Por seu turno, Dye (1988) desenvolveu um modelo que apresenta duas fontes de manipulação de resultados pelos acionistas. Uma é interna porque o seu objetivo é “minimizar o custo esperado de conseguir um gerente, ou administrador, que adote ações preferenciais aos acionistas” (Dye, 1988 p.225). A fonte externa visa “influenciar a perspectiva que os investidores têm sobre o valor da empresa” (Dye, 1988 p.225). Trata-se de 3 O termo turnover neste caso específico é enquadrado no âmbito empregador. Ocorre quando uma entidade empregadora verifica a saída e entrada de colaboradores. 19 um modelo que o presente trabalho não considerou, uma vez que se dirige a empresas cotadas em bolsa e que, por isso, transcendem os objetivos do estudo. No caso de Walsh et al. (1991) a maioria das práticas de big bath accounting ocorrem via write-offs4 e o seu efeito é mais ao nível psicológico do que propriamente financeiro. Isto porque, sendo as circunstâncias da empresa más, haverá menor tolerância da administração, ou gerência, para piorar a situação da empresa. Esta técnica de manipulação de resultados é utilizada como um estratagema administrativo em que a oportunidade para a sua aplicação depende do nível de recetividade do mercado. Este tem de ser suficientemente forte para absorver as más notícias e se o mercado estiver em depressão, a aceitação de más notícias será ainda mais fácil. 1.1.1.2.1 Estudos empíricos sobre big bath accounting Jordan e Clark (2002) realizaram um estudo para verificar a adoção do big bath accounting no reconhecimento do Goodwill5 com a nova requisição do SFAS Nº1426 no ano de 2002. Os autores constataram que a obrigatoriedade dos testes de imparidade ao Goodwill, numa base anual, acabava por promover o incentivo à aplicação do big bath accounting na medida em 4 Alienação ou perda total do valor do ativo (CMVM). 5 “O trespasse (goodwill) adquirido numa concentração de atividades empresariais representa um pagamento feito pelo adquirente em antecipação de benefícios económicos futuras de ativos que não sejam capazes de ser individualmente identificados e separadamente reconhecidos. Os benefícios económicos futuros podem resultar de sinergias entre os ativos identificáveis adquiridos ou de ativos que, individualmente, não se qualificam par reconhecimento nas demonstrações financeiras mas pelos quais o adquirente está preparado para fazer um pagamento na concentração de atividades empresariais”(NCRF 6). 6 O normativo SFAS (Statement of Financial Accounting Standards) nº142 veio substituir o APB (Accounting Principles Board) nº17 no ano de 2002. Este novo normativo veio alterar o tratamento contabilístico dos ativos intangíveis e do goodwill, passando estes a serem revistos anualmente para testes de imparidade (FASB, 2001). 20 que, “iniciando o write down7 nesse ano é reportado como uma mudança nos princípios contabilísticos e, por isso, não afeta os resultados operacionais” (Jordan e Clark, 2002 p.68) do ano corrente. Isto porque nos anos posteriores à implementação desta norma, os writedowns deveriam ser considerados como gasto operacional. O estudo, realizado entre 2001 e 2002, consistiu numa análise comparativa que abrangeu 100 empresas, 80 das quais tinham reportado goodwill nas suas demonstrações financeiras. Os autores concluíram que no ano de 2001 não houve diferenças significativas no que respeita às empresas que reportaram imparidade no goodwill, comparativamente às empresas que não o fizeram. Já no ano de 2002 verificou-se que 31% das empresas com imparidade no goodwill apresentaram resultados negativos e apenas 7,8% das empresas que não apresentaram imparidade no goodwill tiveram resultados negativos. Estes resultados permitiram concluir que os gestores aproveitaram a adoção desta norma para levar a cabo as práticas de big bath accounting. Jordan e Clark (2002) também examinaram a depreciação do ativo como meio de manipulação dos resultados através do método do big bath accounting e verificaram que esta prática é mais frequente em empresas que, apesar de serem as maiores da sua indústria, apresentam uma alavancagem8 elevada e resultados piores. Stolowy e Breton (2003) consideram que os accruals são usados como estratégia para reduzir os resultados. O método de big bath accounting pode ser aplicado quando há certezas de que o mercado não reagirá negativamente, caso os resultados caiam 10% acima do esperado. Isso significa que, se por exemplo, os resultados caírem 30% e a receção do mercado não for muito diferente da 7 8 Redução do valor de um ativo pelo facto de estar valorizado em relação ao valor de mercado (CMVM). A alavancagem financeira é uma forma de alcançar maiores resultados com a ajuda externa, normalmente com o recurso ao crédito. 21 reação perante uma queda de 20%, haverá um incentivo para maximizar a queda (Van der Poll, 2004). Elliot e Shaw (1988) consideram que o big bath accounting ocorre quando os write-off excedem o total de 1% do valor do ativo da empresa. 1.1.1.3 Income smoothing Segundo Stolowy e Breton (2003), o income smoothing pode ser natural, uma vez que pode ser causado por acontecimentos de ordem económica. Mas pode ser igualmente “desenhado”, isto é, quando a sua causa decorre de uma decisão intencional da administração. O objetivo deste método é produzir um fluxo crescente no lucro, reduzindo, assim, a sua volatilidade na empresa. Assim, a utilização deste método de manipulação do resultado constitui uma forma de contornar a insegurança que a volatilidade do lucro, enquanto medida de risco, suscita nos investidores. Desta forma, as empresas preferem, de uma forma geral, reportar um crescimento estável dos lucros em lugar de aumentos e reduções dramáticas (Stolowy e Breton 2003). O método de income smoothing é frequentemente utilizado para cumprir o orçamento definido pela gestão e, também, quando o bónus da administração depende dos resultados (Van der Poll, 2004). Existe evidência de que esta técnica é utilizada com recurso aos acréscimos nos bancos e seguradoras (Amat e Gowthorpe, 2004). Este método é facilmente utilizado sem suscitar a atenção dos stakeholders e é o mais usado pelas empresas. No entanto, como refere Van der Poll (2004), a sua utilização recorrente, como ferramenta estratégica, pode prejudicar os stakeholders. As razões mais comuns para uma empresa recorrer a este método de manipulação do resultado são: 1) convencer os credores de que os resultados apresentam pouca volatilidade e 22 por isso o risco é menor; 2) promover um maior relacionamento com os colaboradores e investidores; 3) promover procura externa; 4) permitir uma maior alocação de subsídios governamentais e 5) diminuir a carga fiscal (Van der Poll, 2004). Muldorf e Comiskey (2002) realizaram um inquérito sobre o dano causado aos stakeholders com a utilização deste método. Concluíram que, num total de 187 inquéritos, 121 respostas indicam que este método pode prejudicar os investidores. A análise destas práticas terá em consideração as definições e técnicas apresentadas por alguns autores referidos no apêndice 1, sendo estes Ronen et al. (1975) e Eckel (1981). 1.1.1.3.1 Estudos empíricos sobre income smoothing Ronen et al. (1975) distinguiram os três tipos de práticas de income smoothing que seguem pela forma da sua aplicação: - Smoothing através a ocorrência ou reconhecimento de um evento; - Smoothing através da alocação do tempo; - Smoothing classificatório. O primeiro, smoothing através a ocorrência ou reconhecimento de um evento, consiste em mudar o tempo do reconhecimento de um determinado evento. Por exemplo, mudar o período contabilístico em que é entrega uma mercadoria. O segundo, smoothing através da alocação do tempo, prende-se com a determinação do número de períodos futuros a serem afetados pela prática de income smoothing. Um exemplo é a depreciação ou amortização dos bens. O smoothing classificatório existe quando são afetadas outras variáveis de resultado que constem na demonstração de resultados, que não o resultado líquido. Neste caso, a afetação será na classificação dos itens como operacionais ou extraordinários. Ronen et al. (1975) 23 consideram que, quando os itens ou eventos se encontram na barreira entre operacionais ou extraordinários,9 os gestores classificam-nos como extraordinário ao nível da contabilização, embora este possa ser na realidade operacional, de forma a poder ter benefícios fiscais, na medida em que beneficia de ativos ou passivos por impostos diferidos10. Os write-down de inventário, diferimento de custos com I&D e provisão de perdas são alguns exemplos onde este tipo de income smoothing pode ser utilizado. Ronen et al. (1975) estudaram uma amostra de 62 empresas, integradas nas indústrias de papel, química, borracha e aviação, com o objetivo de testar a prática de smoothing classificatório. O estudo prático consistiu em verificar a correlação existente entre os itens extraordinários e os itens operacionais. Quando esta correlação é positiva, existe a presença de smoothing classificatório. O resultado deste estudo mostrou que 57, das 62 empresas, apresentaram uma correlação positiva. Isto quer dizer que cerca de 92% das empresas analisadas recorreram à prática de smoothing classificatório (Ronen et al., 1975). Para Eckel (1981), o income smoothing pode ser intencional e natural. O income smoothing natural está relacionado com o próprio processo de geração de resultado e não com a intervenção de uma terceira parte. Já o income smoothing intencional, que se subdivide em smoothing artificial e smoothing real, ocorre quando existe uma ação por parte da gestão para controlar os eventos económicos. Eckel (1981) considera que o smoothing artificial se 9 Itens/ eventos extraordinários são eventos/itens que não estão relacionados com a atividade operacional da empresa. “Uma entidade não deve apresentar itens de rendimento e de gasto como itens extraordinários, quer na face da demonstração dos resultados quer no anexo” com a transição para o SNC. Assim, passam a estar incluídos noutras contas apresentadas na Demonstração de Resultados (NCRF nº1). 10 Passivo por imposto diferido “é uma dívida por um imposto que haverá de ser efetivamente liquidado mais tarde, quando o valor contabilístico de um elemento do ativo for maior que a respetiva base tributável ou quando o valor contabilístico de um elemento do passivo for inferior à sua base tributável. Por sua vez, ter-se-à um ativo por imposto diferido nas situações inversas” (Directriz Contabilística n.º 28, p. 7). 24 distingue do real na medida em que o primeiro consiste em transferir custos ou proveitos entre os períodos e o segundo consiste na afetação de transações ou eventos económicos atuais que afetam os cash flows. O estudo efetuado por Eckel incluiu uma amostra de 62 empresas, durante o período compreendido entre 1951 e 1970. Para a elaboração do estudo apenas considerou o smoothing artificial, em detrimento dos outros tipos de smoothing, pelo facto de ser um ato intencional. O objetivo do estudo consistiu em verificar a existência da prática de income smoothing artificial nas empreses que compunham a amostra tendo utilizado para o efeito o modelo desenvolvido por Imhoff (1977). Trata-se de um modelo que verifica a variação das vendas e do resultado num determinado período de tempo. Assim, quanto menor for a relação entre as variações destas duas variáveis maior é o nível de income smoothing (Imhoff, 1977). Do estudo levado a cabo por Eckel (1981) verificou-se que apenas 3% da amostra apresentou uma relação distante entre a variação das vendas e a variação do resultado, o que demonstra a utilização de técnicas de smoothing artificial. O resultado obtido pelo teste conduzido por Eckel (1981) levou o autor a concluir que nas empresas estudadas “a gestão não alisa publicamente o seu resultado” ou foram mesmo incapazes de provocar esse alisamento (Eckel, 1981 p.37). Eckel (1981) comparou o seu estudo com o de Barnea et al. (1976) e que consistiu na mesma amostra e no mesmo período, mas recorrendo à metodologia de Gordon. A metodologia de Gordon consiste em analisar a prática do income smoothing numa empresa com recurso à entrevista ou questionário dirigido diretamente à gestão, ao contacto de partes secundárias, externas à empresa e à análise da informação da empresa disponível. Este último método é o mais frequente na utilização desta metodologia e consiste em analisar a que se deve a redução da variação do resultado da empresa, verificando quais os meios utilizados. 25 No caso de esta variação se dever a uma variável potencial de smoothing utilizada pela empresa tratar-se-á de uma prática de income smoothing. Contrariamente ao estudo levado a cabo por Eckel, as conclusões do estudo de Barnea et al. (1976) indicam que entre 50% a 95% das empresas integradas no estudo recorreram à prática de income smoothing. De notar que as percentagens variam como função da medida do resultado. Cai et al. (2012) desenvolveu um estudo que visou verificar a existência de manipulações financeiras no período pós-adoção das IFRS e num momento anterior à adoção, a partir de um conjunto de fatores. A amostra consistiu em 128.292 empresas de 31 países, tendo como referência o período fiscal do ano 2000 ao ano 2009. Os autores definiram quatro hipóteses que foram posteriormente testadas: “H1 – A manipulação de resultados está negativamente associada à adoção das IFRS e tem uma maior convergência das normas locais para a IFRS; H2 – A manipulação de resultados está negativamente associada ao enforcement legal; H3 – Quanto mais forte o enforcement legal maior será a influência da adoção das IFRS e a convergência das normas locais com IFRS na redução da manipulação de resultados; H4 – Para os países que adotaram IFRS, a redução da manipulação de resultados é maior para aqueles países que tinham normas locais menos convergentes com as IFRS anteriormente à adoção das IFRS.” A manipulação de resultados foi usada como variável dependente. A variação dos accruals e a magnitude foram as medidas utilizadas para verificar as formas de manipular a informação financeira. A variação dos accruals mede o grau de earnings smoothing, enquanto a magnitude dos accruals mede o critério dos gestores nos resultados reportados. No tocante às 26 hipóteses 1 e 2, o estudo concluiu que a manipulação de resultados era menor nos países em que existia uma maior semelhança entre as normas locais e as IFRS, sendo maior nos países em que existiam divergências. O teste da hipótese 3 mostrou que o enforcement legal forte reduziu a manipulação de resultados. Os autores não encontraram suporte significativo para a hipótese 4 (Cai et al., 2012). As conclusões retiradas deste estudo indicam que a adoção das IFRS melhorou a qualidade da informação financeira das empresas que apresentavam normas contabilísticas mais divergentes das IFRS (Cai et al., 2012). 1.2 Incentivos à manipulação de resultados O contexto de mercado também é importante para a manipulação de resultados. Assim, quando o mercado é eficiente 11 há uma menor propensão para a manipulação de resultados (Stolowy e Breton, 2003). Como referem Chenheiter e Melumad (2002), o grau de manipulação de resultados é afetado tanto pelo resultado como pelo nível de desempenho operacional de uma empresa. Desta forma, quando uma empresa apresenta maus resultados, terá grandes incentivos para os piorar e aumentar, desse modo, a probabilidade de ganhos nos períodos subsequentes. Da mesma forma, Chenheiter e Melumad (2002) afirmam que quanto mais pobre for o desempenho operacional de uma empresa, mais ela tenderá a adotar uma estratégia de redução de resultados (Chenheiter e Melumad 2002). Os mesmos autores verificaram que uma empresa que se depare com notícias que afetem negativamente o seu resultado, terá tendência para maximizar as perdas a reportar (big bath accounting). Ao contrário, uma empresa cujas perspectivas não sejam suficientemente más estará inclinada para empolar os seus resultados (smooth earnings). 11 Um mercado eficiente é aquele mercado onde a informação circula rapidamente e é corretamente interpretada (Fama, 1970). 27 De acordo com Stolowy e Breton (2003), a manipulação de resultados visa a minimização dos custos políticos bem como dos custos de capital e, ainda, a maximização do interesse dos gestores. O primeiro objetivo pode ser alcançado através da minimização do resultado fiscal. No caso da minimização dos custos de capital, os incentivos são diversos Por exemplo: 1) a satisfação dos investidores com o pagamento de dividendos; 2) comparação de custos face à concorrência; 3) a ocorrência de takeovers12 ou tornar-se atrativa para este tipo de processos e, 4) cumprir os orçamentos. Finalmente, a maximização dos interesses dos gestores pode concretizar-se no contexto da maximização das compensações ou num caso de turnover do CEO. Em Portugal, a recente transição do POC para o SNC, despoletou maior incentivo para a manipulação dos resultados, devido às alterações introduzidas nas normas contabilísticas. De uma maneira geral, o incentivo à manipulação de resultados varia de acordo com o contexto económico e legal do país bem como com a própria posição e necessidade da empresa no sentido de financiamento ou de posicionamento no mercado. Assim, para o mesmo período contabilístico podem existir vários incentivos. O próximo capítulo aborda o contexto português, bem como a influência da tradição do Direito Romano. 12 Takeover ocorre quando uma empresa é adquirida por outra. 28 CAPÍTULO II – O CASO PORTUGUÊS E A INFLUÊNCIA DO DIREITO ROMANO 2.1 Contexto português No contexto português a tendência para os conflitos de agência é reduzida devido à estrutura do tecido empresarial. Como já foi referido, o sistema jurídico português assenta no Direito Romano. Deste modo, as características distintivas do contexto português são as seguintes: a) Possui um contexto legal que cria dependência entre a contabilidade e a fiscalidade; b) Apresenta um contexto económico onde o mercado de capitais ainda se encontra pouco desenvolvido; c) Tem na banca o meio principal de financiamento o que faz com que os incentivos à manipulação sejam diferentes dos de outros países (Moreira, 2006). Para além das características do tecido empresarial português é de referir que este é composto por pequenas empresas e micro empresas (IAPMEI, 2008). Esta estrutura do tecido empresarial favorece a confusão entre as noções de gestão e propriedade. Esta confusão entre gestão e propriedade, associada à estrutura societária familiar, muito dependente, por isso, do financiamento proporcionado pela banca (Moreira, 2010), acresce às normas contabilísticas nacionais, que propiciam as práticas de manipulação de resultados descritas anteriormente. Assim, as demonstrações financeiras são, em muitos casos, dirigidas à administração fiscal e por isso, a contabilidade é efetuada em função dos critérios fiscais e não de gestão. Esta ligação entre a contabilidade e a fiscalidade tem colocado entraves ao desenvolvimento da contabilidade em Portugal (Rodrigues, 2011). Uma tal dependência entre a contabilidade e fiscalidade gera práticas de “contabilidade criativa”, ou seja, manipulações dos resultados destinados a evitar penalizações fiscais ou para incentivar a banca à concessão 29 de créditos (Moreira, 2010). A contabilidade criativa pode ser colocada em prática, precisamente, para atingir os dois objetivos evidenciados neste mesmo parágrafo. Todavia, existem em Portugal dois tipos de incentivos à manipulação de resultados, o incentivo fiscal e o incentivo de qualidade informativa. O incentivo fiscal tem como objetivo minimizar o imposto sobre o rendimento, propiciando, assim, a redução dos resultados reportados. Por outro lado, o incentivo de qualidade informativa, está relacionado com a necessidade de financiamento. Sendo a banca o meio de financiamento mais frequente em Portugal, as empresas tendem a reportar resultados positivos para, através da análise de risco, acederem ao crédito pretendido. A aprovação da concessão de crédito depende da existência de resultados financeiros positivos. Por tal motivo, Moreira (2006) considera que existe um incentivo para o empolamento dos resultados. A manipulação dos resultados nestes dois contextos está na origem da deterioração da qualidade da informação financeira que é disponibilizada à Administração Fiscal e as instituições financeiras. Desta forma, se uma empresa apresentar resultados positivos, procurará reduzir a carga fiscal, adotando uma postura de prudência. Por outro lado, se a empresa se encontrar mal necessitará recorrer ao crédito bancário podendo, por isso, falsear os resultados (Rodrigues, 2011). A especificidade do caso português não deixará de exercer influência no processo de transição do POC para o SNC. 2.2 Caracterização e origem do SNC O surgimento do SNC está intrinsecamente ligado às divergências existentes entre o tecido empresarial dos vários países da Europa. Assim, este sistema foi criado para dissipar essas divergências nas práticas contabilísticas referentes aos vários países da Europa, permitindo, 30 assim, a comparabilidade da informação financeira (Guerreiro 2006). Em Portugal a alteração normativa com a transição do POC para o SNC foi aprovada pelo Decreto-Lei nº158/2009 de 13 de Julho e implementada em 2010. O Decreto-Lei mencionado considera que o POC tornou-se “insuficiente para as entidades com maiores exigências qualitativas de relato financeiro, para além de carecer de revisão técnica no que concerne, nomeadamente, a aspectos conceptuais, critérios de reconhecimento e mensuração, conceito de resultados, bem como em relação aos modelos das demonstrações financeiras individuais e consolidadas” (Decreto-Lei nº158/2009 de 13 de Julho). 2.2.1 Implicações da mudança normativa A alteração normativa implicou a adoção das Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF), o núcleo central do SNC. Assim, fica claro que tais normas, “...foram adaptadas a partir das normas internacionais de contabilidade adotadas pela UE, cada uma delas constituindo um instrumento de normalização onde, de modo desenvolvido, se prescrevem os vários tratamentos técnicos a adotar em matéria de reconhecimento, de mensuração, de apresentação e de divulgação das realidades económicas e financeiras das entidades” (Decreto-Lei 158/2009). As principais alterações que este novo sistema provocou no normativo foram, para além da maior quantidade de informação obrigatória a incluir no anexo ao balanço (Fernandes, 2009): a) Tratamento contabilístico do Goodwill; b) Desaparecimento das contas de custos e proveitos extraordinários; c) Introdução do conceito de justo valor; d) Tratamento contabilístico de alguns ativos intangíveis, que passam a ter de ser considerados despesas do exercício; 31 No que respeita ao tratamento contabilístico do Goodwill verificou-se que, com a transição, o goodwill passou a ser alvo de testes de imparidade. Desta forma, nos anos posteriores à aquisição do goodwill o seu valor deve ser avaliado e tem de ser reconhecido o gasto e/ou ganho proveniente da sua avaliação (Fernandes, 2009). Quanto ao desaparecimento das contas de custos e proveitos extraordinários, com a transição são apenas espelhados nas demonstrações de resultados os custos e proveitos diretamente relacionados com a atividade da empresa. Todos os demais são visíveis na rubrica de “outros gastos e perdas” e/ou “outros rendimentos e ganhos”. Esta alteração no normativo pode originar manipulações ao nível dos custos e/ou proveitos via accruals. Isto porque perde visibilidade nas demonstrações financeiras, por deixarem-se estar discriminados (Fernandes, 2009). Com a introdução do conceito de justo valor13 os ativos passam a estar contabilizados ao valor do mercado. É igualmente necessária a sua reavaliação anual e o seu reconhecimento em capital próprio (Fernandes, 2009). A aplicação do justo valor implica o uso de julgamento profissional, o que aumenta a subjetividade da informação financeira (Heidhues e Patel, 2009). Este conceito tem sido questionado e, por exemplo, Ball (2006) considera que: 1. O mercado pode não ser suficientemente líquido e eficiente para permitir a definição deste valor; 2. A definição do valor de mercado pode ser imperfeita em alturas de crise económica; 3. As imperfeições podem ainda ocorrer quando o valor de determinados ativos não está disponível no mercado, o que dá liberdade às empresas para a sua definição. 13 “Justo valor é a quantia pela qual um ativo pode ser trocado entre partes conhecedoras numa transação em que não existe relacionamento entre elas” (NCRF 7). 32 A questão do justo valor também é aplicável nas contas que envolvem estimativas, como é o caso dos accruals, que é a variável estudada nesta dissertação. Assim, “como consequência das incertezas inerentes às atividades empresariais, muitos itens nas demonstrações financeiras não podem ser mensurados com precisão, podendo apenas ser estimados. A estimativa envolve juízos de valor baseados na última informação disponível” (NCRF 4). Esta situação pode gerar manipulações de resultado, podendo a informação utilizada para a estimativa não ser a mais adequada mais sim a mais vantajosa para a empresa. Finalmente, o facto de no tratamento contabilístico de alguns ativos intangíveis os passar a considerar como despesas do exercício, elimina a amortização (Fernandes, 2009). Assim, e como se poderá verificar a seguir, determinadas empresas aproveitaram esta transição normativa para “limpar o balanço” e, assim, assegurar incrementos futuros. Para tal recorrem a práticas de big bath accounting. Estas empresas, uma vez que refletem diretamente no capital próprio o efeito da transição do POC para o SNC, reduzem o ativo no balanço. Essa operação permitiu-lhes incluir nesse efeito de transição, perdas que iriam ser consideradas no futuro e que, desta forma, já não terão de ser registadas. Ora o objetivo desta dissertação é, precisamente, verificar se esta transição teve impacto na veracidade da informação financeira das empresas aderentes. 2.3 Introdução normativa das IFRS O regulamento 1606/2002 de 19 de Julho obrigou os grupos de empresas cotadas, pertencentes à União Europeia, a relatar a sua informação financeira de acordo com a IAS/IFRS (Rodrigues, 2011). Esta medida visou tornar comparáveis as demonstrações 33 financeiras no seio da União Europeia. A abordagem da literatura relativa à introdução normativa das IFRS justifica-se pela semelhança existente entre o SNC e as normas internacionais abrangidas pelas IFRS. Assim, a aplicação do SNC serviu, especificamente, para aproximar as normas locais às normas internacionais. Existe um conjunto apreciável de trabalhos os quais procuraram avaliar as implicações da introdução das IFRS, em 2005, na informação financeira das empresas. As diversas perspectivas assim desenvolvidas são relevantes para o esclarecimento das questões que estão na origem da presente dissertação. 2.3.1 Enforcement Na transição para IAS/IFRS o CERS14 recomendou que fossem divulgados os impactos quantitativos da transição. O CERS é um organismo tem como objetivo principal coordenar as atividades de enforcement. Isto é, o mecanismo que “consiste na verificação da informação financeira do cumprimento das normas de relato estabelecidas e na tomada de medidas apropriadas se forem detectadas infrações a essas normas” (Guerreiro, 2009; p.19). Existem vários níveis de enforcement em Portugal, tais como o auto-enforcement, as auditorias legais às demonstrações financeiras, a aprovação das demonstrações financeiras e o sistema institucional de supervisão. Em 2006 foi aprovada a diretiva 2006/43/CE pela União Europeia de forma a ser possível regular a atividade de auditoria através do controlo de qualidade do serviço (diretiva 2006/43/CE, de 17 de Maio de 2006). 14 Commitee of European Securities Regulators – organismo pertencente à CMVM que tem como objetivo prestar serviços de assessoria à Comissão Europeia em assuntos de mercado de capitais (Guerreiro, 2009). 34 2.3.3 Países de direito romano na transição normativa O efeito das manipulações de resultados na transição para as IAS/IFRS variou de país para país, dependendo do tipo de mercado de capitais, das normas contabilísticas, das características das auditorias e do mercado regulador (Cai et al., 2012). Como se disse anteriormente, a influência do Direito Romano no ordenamento jurídico português influi nas implicações destas transições das normas contabilísticas. A sociedade alemã, cujo sistema jurídico se inspira também no Direito Romano, poderá servir de termo de comparação, no que diz respeito às implicações da adoção das IFRS. Neste sentido, Heidhues e Patel (2009), consideram que na Alemanha, se exigiu o julgamento profissional nas IAS/IFRS com frequência excessiva. Tal julgamento depende de fatores diversos, uns nacionais e culturais, que se refletem numa tradição contabilística própria, outros relativos a objetivos pessoais dos gestores a que acrescem fatores específicos da própria empresa. Assim, e ao contrário do que se poderia antecipar, Heidhues e Patel (2009) concluíram que as previsões do IASB estavam erradas e, por efeito desses fatores, a comparabilidade da informação financeira diminuiu. A exigência do julgamento profissional e até a própria interpretação da informação financeira, depende das normas contabilísticas, as quais variam de acordo com fatores legais e fiscais. No caso alemão, a existência de dependência entre o reporte financeiro e o imposto, o que reflete a matriz do Direito Romano na contabilidade, limita o julgamento profissional. Portanto, a abordagem de justo valor, tal como o IASB indica, implica o uso de julgamento profissional e isso torna frequente a subjetividade da informação financeira (Heidhues e Patel, 2009). Para além desta vertente nacional e cultural que influencia o julgamento profissional em cada país, existe também um risco relativo decorrente dos interesses pessoais dos próprios 35 contabilistas. Trata-se de um risco que se relaciona com o contexto e a experiência profissional dos contabilistas. Os profissionais habituam-se a trabalhar num determinado sistema e, apesar das mudanças, tendem a decidir tendo em conta, neste caso específico, as questões fiscais. Esta circunstância acentua a importância de solidificar a estrutura de enforcement. Tandeloo e Vanstraelen (2005) analisaram o impacto da introdução normativa IFRS no nível de manipulação de resultados de empresas alemãs que efetuaram a transição voluntariamente, antes de 2005. Para o efeito aplicaram o Jones Model, modelo que será detalhado mais adiante. O estudo de Tandeloo e Vanstraelen (2005) concluiu que as empresas que adotaram as normas IFRS voluntariamente apresentaram níveis de gestão de resultados superiores às que mantiveram as German GAAP15. Todavia, quando os auditores pertencem a uma das Big 416, as principais empresas de auditoria, os níveis de earnings management diminuem de forma significativa. Dadas as semelhanças entre os sistemas contabilísticos alemão e português, estes trabalhos ajudam a perspectivar Portugal no contexto de diferenciação entre o sistema contabilístico nacional e IAS/IFRS. Ademais, as características das IAS/IFRS podem conduzir, segundo Heidhues e Patel (2009) a práticas de earnings management. De notar que o facto de a introdução das IFRS no mercado alemão ter ocorrido num contexto voluntário pode enviesar este estudo quando comparamos com a introdução obrigatória do SNC no mercado português. 15 GAAP (Generally Accepted Accounting Principles) correspondem às normas contabilísticas locais que respeitam a jurisdição de cada país (FASAB). 16 As quatro maiores empresas de auditoria: Deloitte, PricewaterhouseCoopers, KPMG e Ernst & Young. 36 2.3.3 Evidência do impacto das IFRS na gestão de resultados Parece relevante verificar o impacto que as IFRS tiveram na gestão de resultados das empresas na medida em que, tal como já foi referido, a transição normativa para SNC visou aproximar as normas contabilísticas às IFRS. Perante esta semelhança, é razoável inferir que o impacto que a transição para o SNC teve na gestão de resultados se assemelha ao impacto evidenciado nas IFRS. Com efeito, Guerreiro (2006) realizou um estudo sobre a introdução normativa das IFRS durante o mês de Dezembro de 2004, envolvendo 56 empresas cotadas na Euronext Lisboa. Verificou que a maioria das empresas não tinha procedido à divulgação quantitativa da transição. O nível de divulgação depende, assim, da dimensão da empresa, do nível de internacionalização e do tipo de empresa que presta o serviço de auditoria. De acordo com Stolowy e Breton (2003), as auditorias têm como objetivo satisfazer o cliente, mas também evitar o risco excessivo pelas terceiras partes exteriores à empresa. Esta circunstância ressalta a importância da qualidade dos serviços de auditoria. Mas o oportunismo é outra consequência possível da transição para IFRS, tal como o estudo realizado por Callão e Jarne (2010) em empresas cotadas em onze mercados europeus evidencia. A este respeito, são diversos os estudos realizados e que procuram objetivar as relações entre variáveis de enforcement e a manipulação de resultados. No estudo conduzido por Cai et al. (2012), com o objetivo de verificar a influência da adoção das IFRS e do nível de enforcement na manipulação de resultados, foram consideradas quatro variáveis de enforcement definidas por Soderstrom e Sun (2007): 1) estrutura de propriedade; 2) desenvolvimento do mercado financeiro; 3) estrutura de capitais e 4) sistema fiscal. Relativamente à estrutura de propriedade, La Porta et al. (1988) consideram que, quanto mais 37 concentrada for a propriedade e maior a proteção do investidor e menor a tendência para a manipulação dos resultados. Já o desenvolvimento do mercado financeiro está relacionado com o interesse dos participantes do mercado. Porém, a procura de informação parece incentivar a qualidade do reporte financeiro (Cai et al., 2012). Também a estrutura de capitais pode afetar o nível de manipulação de resultados. Se, por exemplo, existirem bónus ou stock options atribuídos aos gestores, estes incentivos podem encorajar o empolamento dos resultados contabilísticos através dos accruals. Já no caso de empresas que apresentem uma dívida elevada, os níveis de manipulação tenderão a ser baixos, dada a capacidade fiscalizadora dos credores. Finalmente, quanto ao sistema fiscal, Cai et al. (2012) verificaram que nos países em que é grande a dependência entre os sistemas fiscal e contabilístico, haverá propensão para o incentivo de métodos contabilísticos conservadores, para manter os resultados a um nível baixo e, assim, reduzir o valor do imposto a pagar. Para testarem estas variáveis, Cai et al. (2012) construíram uma amostra de países composta por três clusters. O primeiro incluía a Austrália, Nova Zelândia, Finlândia, Suécia, Áustria, Suíça, Dinamarca, Holanda, Noruega, Reino Unido, Hong Kong, Singapura, Japão, Irlanda, Malásia, Bélgica e Alemanha; O cluster 2 compreendia a Espanha, Portugal, Grécia, França, Itália e Coreia; finalmente, o cluster 3 incluía a Índia, Indonésia, Tailândia, Paquistão, Filipinas e África do Sul. Cai et al. (2012) constataram que foi no cluster 3 que a manipulação de resultados atingiu o nível mais elevado. Ao contrário, o cluster 1 apresentou o nível de enforcement legal mais elevado e, assim, os níveis de manipulação de resultados foram os menos elevados. Considerando as semelhanças das normas contabilísticas locais com as IFRS, é de notar que a maioria dos países com maior semelhança entre as normas contabilísticas locais e as IFRS (Singapura, África do Sul e Reino Unido) integram no cluster 38 1 e grande parte dos países com maiores divergências (Espanha, Finlândia e Portugal) encontram-se no cluster 2. Os resultados deste trabalho estão em linha com o estudo de Tandeloo e Vanstraele (2005), já mencionado anteriormente e que mostrou como, na Alemanha, a adoção voluntária das IFRS provocou um aumento dos níveis de manipulação no que respeita aos accruals. Jeanjean e Stolowy (2008) examinaram os níveis de manipulação de resultados no período anterior e posterior à adoção das IAS/IFRS, em três países, a Austrália, o Reino Unido e França. Deste estudo, concluíram que os níveis de manipulação de resultados aumentaram em França com a transição e não se reduziram nos outros. Os três países foram selecionados por possuírem semelhanças, já que são países de direito comum e com as normas contabilísticas locais semelhantes às IFRS (Austrália e Reino Unido). O estudo revelou ainda que na transição para IAS/IFRS, as empresas tiveram de apresentar a reconciliação intercalar de resultados da transição das normas nacionais para IAS/IFRS. Esta publicação foi obrigatória, de acordo com a IAS 34. Capkun et al. (2010) estudaram 1635 empresas em nove países onde a adoção antecipada das IAS/IFRS não foi permitida. Os autores quiseram verificar a tendência para manipular os resultados na reconciliação intercalar. Concluíram que as empresas com resultados positivos no período anterior à transição tendem a apresentar uma reconciliação negativa. Ao invés, as empresas com resultados negativos no período anterior à transição parecem tender para a apresentação de uma reconciliação positiva. O estudo sugere que, o facto de as empresas com resultados positivos tenderem para a apresentação de uma reconciliação negativa, deve-se ao interesse que os gestores terão em “alisar” os resultados futuros. Na origem deste 39 comportamento estará a maior imprevisibilidade do futuro, devido à mudança contabilística e, nesse contexto, o alisamento de resultados proporcionar alguma segurança. Com efeito, o trabalho de Graham et al. (2005) já sugeria que 96,9% dos CFO’s preferiam ter resultados constantes (earnings smoothing) e não um ganho acidentado. No caso das empresas com resultados negativos, será a reação negativa do mercado que parece encorajar a apresentação de uma reconciliação positiva. O reporte de resultados positivos na reconciliação pode ainda relacionar-se com os bónus dependentes dos resultados de que os gestores por vezes beneficiam. Nestes casos, os gestores poderão ver na transição uma oportunidade para recolocar os resultados das empresas em níveis aceitáveis. Graham et al. (2005) consideram que as empresas com resultados muito negativos não tendem a praticar o big bath accounting no caso da reconciliação. Isto porque, se houvesse interesse em fazê-lo, seria no período anterior à transição e com as normas contabilísticas locais. Concluíram, no entanto, não ter sido possível determinar com clareza se existe um incentivo maior para empolar o aumento dos resultados no futuro ou para apresentar uma reconciliação com resultados positivos e, assim, evitar uma reação negativa do mercado. Este estudo (Graham et al., 2005) sugere ainda que as empresas que apresentam um resultado positivo na reconciliação terão mais dificuldade em atingir as expectativas criadas para os resultados futuros. Já as empresas que apresentarem resultados negativos terão facilidade para responder às expectativas criadas. Assim, verificámos, ao longo dos capítulos I e II, que a evidência até agora reportada pela literatura, no que respeita à relação existente entre a manipulação de resultados e a ocorrência de transições normativas, é ambivalente. Estas práticas de manipulação verificaram-se em 40 Portugal e noutros países, aquando da obrigatoriedade da adoção das International Financial Reporting Standards (IFRS) para todas as empresas abrangidas pelos Estados-Membros da UE que apresentem demonstrações financeiras consolidadas (Regulamento 1606/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho, 2002). Sendo esta a transição normativa que mais se aproxima do SNC, é razoável esperar resultados aproximados. Assim, o próximo capítulo apresenta a reflexão metodológica relativa ao trabalho de investigação que visa, como se disse, examinar as práticas de manipulação existentes e os modelos desenvolvidos para a sua deteção. 41 CAPÍTULO III – ESTUDO EMPÍRICO O estudo empírico realizado no âmbito deste trabalho visa responder à seguinte questão de investigação; Até que ponto a transição normativa do POC para o SNC despoletou um aumento do nível de manipulação de resultados? Esta questão principal servirá igualmente de pretexto para responder às duas questão que seguem: O nível de manipulação de resultados é influenciado pelo setor de atividade? O nível de manipulação de resultados é influenciado pelo tipo de empresa que procede à auditoria às contas? O estudo envolveu uma amostra de empresas nacionais e teve como objetivo verificar se o período de transição contabilística foi utilizado para manipular os resultados. A revisão de literatura corroborou a expectativa de uma diminuição dos níveis de manipulação de resultados com a transição normativa obrigatória do SNC. Todavia, e considerando a ambivalência de alguns resultados dos trabalhos realizados sobre a entrada em vigor das IFRS, o aumento do nível de manipulação de resultados também não poderá ser descartado. 42 3.1 Metodologia de investigação Este subcapítulo apresenta a metodologia seguida para o desenvolvimento do estudo. Como acontece com qualquer trabalho que envolva investigação, os métodos de investigação são uma componente essencial e, simultaneamente, problemática. Essencial porque os métodos de investigação têm de ser adequados ao objeto de estudo e às questões para as quais se procuram as repostas. Neste caso, tratando-se de uma problemática relativamente circunscrita e especializada, a opção foi a de seguir de perto o desenho da pesquisa dos trabalhos de Pourciau (1992) e Fernandes (2009). Nesses trabalhos, os seus autores definem uma variável que associam à manipulação entre períodos de trabsição diferentes. Essa variável, o accrual duscricionário, foi aqui retomada para proceder ao estudo empírico. Os períodos em análise refletem os definidos por Pourciau (1992). Assim, foram considerados três períodos distintos para a análise: 1) o ano da transição contabilística (T); 2) o ano imediatamente anterior (T-1) e, finalmente, 3) o ano seguinte (T+1), ou seja, os anos de 2009, 2010 e 2011. Não obstante, os objetivos específicos do presente trabalho não compreendem as questões relacionadas com mudanças de executivos nas empresa, mas vai ao encontro do objetivo estabelecido no estudo de Fernandes (2009). O trabalho de Fernandes (2009), baseado na utilização do Modified Jones Model, constitui uma referência importante, ainda que a sua aplicação neste trabalho se tenha circunscrito às normas contabilísticas do SNC e não das IFRS. A aplicação deste modelo orientou-se para a avaliação do nível de manipulação de resultados das empresas englobadas na amostra, com recurso à prática de gestão de resultados, na sequência da transição para o SNC. 43 Seguindo o modelo de Fernandes (2009), o primeiro passo do estudo consiste na determinação dos accruals totais de forma a ser possível proceder à decomposição destes em accruals discricionários (DA) e accruals não discricionários (NDA). Desta forma, foi utilizada a seguinte equação para determinar os accruals totais (TA): Após a determinação dos accruals totais procede-se à estimação, pelo Método dos Mínimos Quadrados, do Modified Jones Model, seguindo a equação seguinte: = Perturbação aleatória17 A primeira parte desta equação captura o NDA e a perturbação aleatória captura o DA. Estimando-se os coeficientes é possível obter os NDA através da equação seguinte: Em que: = Accrual não discricionário estimado 17 A perturbação aleatória corresponde ao valor que não explica a variável explicada no modelo verdadeiro onde os coeficientes ainda não são estimados. 44 Os alfas estimados representados nesta fórmula correspondem às estimativas de mínimos quadrados. Uma vez que os TA representam a soma dos NDA e os DA, obtemos os DA a partir da seguinte equação: Em que: = Accrual total estimado Como já foi referido, este estudo visa avaliar a existência ou não de manipulação na amostra considerada. Desta forma, o sinal dos accruals é indiferente. Por isso irá analisar-se o valor absoluto dos DA. As hipóteses que orientam o estudo empírico constituem adaptações formuladas por Fernandes (2009), como se pode verificar pela Tabela 1: Tabela 1 Hipóteses formuladas nº1 H0: O nível de manipulação de resultados no período Pré-SNC é idêntico ao dos períodos SNC e Pós-SNC; H1: O nível de manipulação de resultados no período Pré-SNC é diferente dos períodos SNC e Pós-SNC. Irá avaliar-se o nível de manipulação de resultados ainda com o POC em vigor (2009), no ano da própria transição (2010) e no ano posterior à transição normativa (2011). 45 Para além desta hipótese formulada procedemos à formulação de mais duas hipóteses. Estas visam encontrar respostas para as questões secundárias deste trabalho, como se pode verificar pela Tabela 2: Tabela 2 Hipóteses formuladas nº2 H0: O nível de manipulação de resultados é independente do setor de atividade; H1: O nível de manipulação de resultados depende do setor de atividade. Tabela 3 Hipóteses formuladas nº3 H0: O nível de manipulação de resultados é independente do tipo de empresa que procede à auditoria às contas; H1: O nível de manipulação de resultados depende do tipo de empresa que procede à auditoria às contas. 3.2 Definição e caracterização da amostra Como este trabalho de pesquisa envolveu a análise da prática de manipulação de resultados na transição do POC para SNC, a amostra incluiu empresas que se encontram abrangidas pelo novo sistema contabilístico (SNC), portanto, empresas não cotadas em bolsa. Tratando-se de um critério incontornável, adicionou-se outro, este secundário, o volume de negócios. Isto por se considerar que o acesso à informação financeira de uma empresa é tanto mais completo, quanto maior o volume de negócios. Esta variável também contribui para medir o peso 46 económico da empresa no país. Para aceder a informação sobre o volume de negócios recorreu-se à base de dados SABI (Sistema de Análise de Balanços Ibéricos) que apresenta informação financeira de empresas de Portugal e Espanha, a partir da qual foram selecionadas as 19 empresas18, sendo 13 abarcadas pelo setor da Construção Civil e 6 pelo setor Têxtil. A escolha dos setores de atividade da Construção Civil e Têxtil para a constituição da amostra, para servir uma resposta à segunda questão formulada neste trabalho, está relacionada com o peso que estes têm no mercado português. Os trabalhos de investigação discutidos no Capítulo II revelaram que a evidência reportada até agora apresenta uma conclusão ambivalente quanto à relação existente entre momentos de transição e a manipulação de resultados. Porém, esses estudos abrangeram empresas cotadas em bolsa. Ora, a amostra que serve de base ao estudo empírico desenvolvido para esta dissertação não inclui empresas cotadas em bolsa. A Tabela 4, em baixo, apresenta o sumário das estatísticas referentes às variáveis que estruturaram a construção da amostra que está na base da realização deste estudo empírico: 18 A constituição da amostra encontra-se no apêndice 2. 47 Tabela 4 Dados Estatísticos das variáveis que constituem a amostra Estatísticas Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo Accrual Total (TA) -29.671 -1.915 138.039 -633.911 546.905 221.559 40.712 389.705 5.245 1.863.958 -5.730 -1.250 56.574 -5.730 209.618 100.276 15.163 187.007 4.128 794.648 28.007 5.673 54.410 12 250.828 -0,56 -0,06 0,99 -3,67 0,41 -0,56 -0,50 0,72 -2,35 1,66 0,13 0,12 0,11 0,00 0,46 Ativo ano anterior (A n-1) Variação das vendas (varREV) Contas a receber líquidas (REC) Ativo Fixo Tangível (PPE) % Accrual Total sobre ativo ano anterior (TA/An-1) % Diferença entre variação vendas e contas a receber líquidas sobre o ativo ano anterior ((varREV- REC)/An-1) % Ativo Fixo Tangível sobre ativo ano anterior (PPE/An-1) Pela Tabela nº 4 verificamos que a empresa mediana apresenta accruals no valor de -1.915; um ativo do ano anterior de 40.712 €; uma variação entre as vendas do ano acorrente e o ano anterior de -1.250 €; contas a receber líquidas do ano corrente de 15.163 € e um ativo tangível no ano anterior ao ano corrente de 5.673 €. O accrual total pode assumir valores negativos no caso de o DA ou o NDA assumirem valores também negativos de uma forma que o valor negativo compensa o positivo (tendo em conta que o TA constitui a soma do DA e NDA). Assim, se o accrual total assumir valor negativo significa que o resultado da empresa está a diminuir. Ao contrario, se o accrual total for positivo, isso quer dizer que o resultado da empresa está a aumentar através do DA. 48 3.2.1 Análise Preliminar O Gráfico 1 mostra o comportamento do das variáveis que constituem a amostra ao longo dos três anos, ou seja, do accrual total sobre o ativo do ano anterior; da diferença entre a variação das vendas e as contas a receber líquidas sobre o ativo do ano anterior; e o ativo fixo tangível sobre o ativo do ano anterior. Gráfico 1 Evolução da mediana das variáveis que constituem a amostra 0,50 % Accrual Total sobre ativo n-1 Mediana 0,00 -0,50 % Diferença entre variação vendas e contas a receber sobre ativo n-1 -1,00 -1,50 -2,00 2009 % Ativo Fixo Tangível sobre ativo n-1 2010 Ano 2011 Através deste gráfico podemos verificar que a variação do accrual total sobre o ativo do ano anterior (TA/ An-1) não é totalmente explicada pelo comportamento das outras duas variáveis, que constituem o accrual não discricionário sobre o ativo do ano anterior (NDA/ A n-1). Desta forma, o gráfico sugere que o DA desempenha um papel na explicação do TA. 49 3.3 Aplicação do Modified Jones Model A Tabela 5 apresenta os resultados da estimação por mínimos quadrados do Modified Jones Model. Através da sua análise verificamos que, para a regressão do accrual total sobre ativo do ano anterior (TA/ An-1), apenas a variável que representa a diferença entre a variação das vendas e as contas a receber líquidas é, para um nível de significância de 1%, significativamente relevante. Desta forma, podemos concluir que, globalmente, as variáveis são importantes. O R2 sugere que as variáveis explicam 34% da variação do TA. A restante variação é atribuída ao DA. Tabela 5 Resultados da Estimação por Mínimos Quadrados do Modified Jones Model Variáveis -4.486 1/ Ativo n-1 (2.477) % Diferença entre variação de vendas e contas a receber sobre o ativo n-1 0,7*** (0,1524) 1,36 % Ativo Fixo Tangível sobre ativo n-1 (1,0095) R² Teste significância global 0,34 8,942*** Variável explicada: Accruals Totais (TA/A n-1). Resultados calculados com base em 57 observações. A regressão inclui uma constante. Valores em parêntesis correspondem ao erro-padrão robusto. ***Valores significativos a 1% Tabela 6 Dados Estatísticos da variável |DA/An-1| Estatísticas |DA/A n1| Média Mediana 0,59 0,48 50 Desvio Padrão 0,58 Mínimo 0,01 Máximo 2,81 No que respeita à variável do módulo dos accruals discricionários sobre o ativo do ano anterior, a empresa mediana apresenta um nível de DA de 48% do total do ativo do ano anterior (cf. Tabela 6). 3.3.1 Análise preliminar do |DA/An-1| As Tabelas 6 e 7 apresentam as principais estatísticas referentes aos resultados da regressão do módulo do accrual discricionário sobre o ativo do ano anterior e da variável explicada (|DA/Aa-1|): Tabela 7 Dados Estatísticos das variáveis do |DA/A n-1| Estatísticas Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo Setor Construção Civil 0,56 0,40 0,60 0,01 2,81 Têxtil 0,67 0,63 0,56 0,09 2,58 2009 0,35 0,34 0,27 0,02 0,93 2010 0,43 0,48 0,28 0,04 1,23 2011 0,99 0,74 0,80 0,01 2,81 Big 4 0,52 0,48 0,42 0,01 1,61 Outras 0,62 0,48 0,63 0,02 2,81 Ano Auditoria Através da tabela verificamos que a empresa mediana apresenta um nível de accrual discricionário de 40% do ativo total do ano anterior no setor da Construção Civil e 63% no setor Têxtil. A empresa mediana apresenta um nível de accrual discricionários para os anos de 2009, 2010 e 2011, respetivamente, de 34%; 48% e 74% do ativo total do ano anterior. No 51 que respeita ao tipo de empresa que presta serviço de auditoria, a empresa mediana apresenta um nível de accrual discricionário de 48%, seja esta uma empresa integrante da lista das Big 4 ou não. Desta forma, os resultados sugerem que a empresa mediana no setor Têxtil manipula percentualmente mais do que no setor da Construção Civil, e que a empresa mediana do ano de 2011 manipula mais do que as empresas medianas dos restantes anos em análise. No que respeita às auditorias, os resultados mostram que não existem diferença percentual entre a empresa mediana auditada por uma Big 4 e a empresa mediana auditada por outras empresas de auditoria. 3.3.2 Análise dos resultados obtidos Tal como referido anteriormente, o objetivo do estudo empírico contempla três testes que procuram responder às questões secundárias formuladas no início deste trabalho. Desta forma, a Tabela 8 apresenta os testes desenvolvidos para as hipóteses formuladas no subcapítulo 3.1: 52 Tabela 8 Testes e hipóteses formuladas Teste Descrição Hipóteses formuladas H0: O nível de manipulação do setor da Teste nº1 Avaliação dos níveis de Construção Civil é idêntico ao setor Têxtil; manipulação nos dois setores H1: O nível de manipulação de resultados é de atividade diferente entre os setores da Construção Civil e Têxtil. Avaliação dos níveis de Teste nº2 manipulação nos três anos de análise (2009; 2010 e 2011) H0: O nível de manipulação no período Pré-SNC é idêntico ao dos períodos SNC e Pós-SNC; H1: O nível de manipulação no período Pré-SNC é diferente dos períodos SNC e Pós-SNC. H0: O nível de manipulação de resultados das Avaliação dos níveis de Teste nº3 manipulações de acordo com a empresa que presta serviço de auditoria empresas auditadas por uma Big 4 é idêntico ao das empresas auditadas por outras; H1: O nível de manipulação de resultados nas empresas auditadas por uma Big 4 é diferente do das empresas auditadas por outras empresas de auditoria. A equação a estimar para dar respostas às hipóteses formuladas é: Em que: = variável dummy do setor que compara o setor da Construção Civil ao setor Têxtil; = variável dummy do ano de 2010 que compara o ano de 2010 ao ano 2009 (ano servido de base); 53 = variável dummy do ano de 2011 que compara o ano de 2011 ao ano 2009 (ano servido de base); = variável dummy das Big 4 que compara as empresas auditadas por uma Big 4 e por outras. Para medir o nível de manipulação de resultados foi selecionada a variável accruals discricionários (DA). Tal como acontece com o estudo de Fernandes (2009), o sinal que os accruals assumem é indiferente, sendo apenas importante a existência, ou não, de manipulação de resultados. Tabela 9 Resultados de estimação por Mínimos Quadrados da Equação Explicativa do valor absoluto dos accruals discricionários sobre ativo do ano anterior (|DA/ An-1|) Variáveis Setor -0,10 (0,139) Comparativo 2009/2010 0,08 (0,873) Comparativo 2009/2011 0,63** (0,188) Auditoria -0,08 (0,132) R² Teste significância global 0,25 4,398*** Variável explicada: Valor absoluto dos Accruals Discricionários (DA/A n-1). Resultados calculados com base em 57 observações. As variáveis são dummy. A regressão inclui uma constante. Valores em parêntesis correspondem ao erro-padrão robusto. ***Valores significativos a 1% **Valores significativos a 5% 54 Para a realização dos testes de hipótese recorremos ao teste t. O teste t é um teste paramétrico e o seu pressuposto é um teste de significância individual às dummies da regressão final. Este teste exige que a perturbação aleatória apresente uma distribuição normal. Para inferir sobre o tipo de distribuição seguida pela amostra procedemos ao teste de normalidade e concluímos que esta não segue uma distribuição normal. No entanto, uma vez que se trata de uma amostra adequada usaremos os padrões usados para uma distribuição normal para testar as hipóteses formuladas. (Greene, 2012). O objetivo do primeiro teste foi concluir sobre a diferença nos níveis de manipulação de resultados nos dois setores analisados, setor da Construção Civil e setor Têxtil. Para o segundo teste o que se visou foi avaliar os níveis de manipulação de resultados entre os anos de 2009 e 2010 e os anos de 2009 e 2011. No terceiro teste o que se pretendeu foi verificar a existência de diferenças no que respeita ao nível de manipulação de resultados de acordo com a empresa que procede à auditoria às contas da empresa incluída na amostra. Os resultados sugerem que, para um nível de significância de 5%, não se rejeita H0 do Teste 1, inferindo-se que o nível de manipulação de resultados é idêntico no setor de atividade da Construção Civil e no setor Têxtil. A H0 do Teste 2 é rejeitada apenas quando comparamos o ano base (2009) com o ano de 2011. Desta forma, infere-se, pela evidência de diferenças no nível de manipulação de resultados nos anos Pós-SNC e Pré-SNC, que o nível de manipulação é mair no ano Pós-SNC. Contrariamente, se compararmos o ano de 2009 com o ano de 2010, a H0 não é rejeitada e, portanto, o nível de manipulação de resultados é idêntico nos dois anos. Verificando que o 55 nível de manipulação é maior no ano Pós-SNC do que no Pré-SNC, foi possível concluir que o resultado obtido indica que a transição normativa despoletou práticas de manipulação de resultados apenas no ano após a introdução do SNC. O que pode justificar este resultado é: O comportamento cauteloso dos gestores e/ou contabilistas. Uma vez que 2010 se tratou de um ano de transição onde as demonstrações financeiras seriam alvo de comparação, os gestores ou contabilistas podem ter assumido uma atitude cautelosa. Assim se explicaria que as práticas de manipulação de resultados só fossem evidentes no ano posterior à transição normativa; O conhecimento do novo normativo por parte dos gestores e/ou contabilistas. Dada a prematuridade do SNC no ano da sua introdução (2010), os contabilistas e/ou gestores necessitaram de tempo para conhecer o novo normativo. Desse modo, a partir do ano subsequente à transição, estariam mais experientes para recorrer às práticas de manipulação de resultados. Finalmente, conclui-se que a H0 do Teste 3 não é rejeitada. Assim, o tipo de empresa que procede à auditoria das contas das empresas não parece ter impacto significativo no nível de manipulação das empresas com a transição normativa. As conclusões obtidas ao longo da literatura foram divergentes, tendo mostrado que a introdução das IFRS não desencadearam práticas de manipulação de resultados e, por outro lado, que levou a este tipo de comportamentos. Os resultados deste estudo mostraram que, de facto, a transição normativa do POC para o SNC esteve associada a práticas de manipulação nos resultados, o que, não obstante, apenas se verificaria no ano de 2011. Esta conclusão pode 56 ser interpretada , como se referiu, quer pelo comportamento cauteloso dos gestores e/ou contabilistas, quer pelo conhecimento mais aprofundado do normativo, adquirido posteriormente à sua introdução. 57 CONCLUSÃO A transição normativa do POC para o SNC constitui um tema atual que ainda está suficientemente estudado, particularmente ao nível da manipulação de resultados. Por essa razão, e dados os paralelismos relativos à problemática, este estudo recorrei à literatura que discute e apresenta os trabalhos referentes à introdução normativa das IFRS. Neste caso, a discussão tem sido fecunda. Não obstante, a evidência proveniente dos estudos desenvolvidos no âmbito da manipulação de resultados, na sequencia da introdução das IFRS, é ambivalente. Se por um lado alguns estudos encontraram evidência de práticas de manipulação de resultados na sequencia da introdução do normativo das IFRS, outros, evidenciaram a ausência de alterações no nível da manipulação de resultados. O presente trabalho analisou o impacto da transição normativa sobre o nível de manipulação de resultados em empresas abrangidas por este normativo. Foram estudadas 19 empresas que seguem o SNC como normativo contabilístico para a apresentação das suas demonstrações financeiras. Assim, o objetivo do caso prático desenvolvido foi a verificação do nível de manipulação de resultados através do recurso ao Modified Jones Model. Para tanto assumiu-se que este nível é medido através dos accruals discricionários. A análise efetuada centrou-se no nível de desta variável e, por isso, procedeu-se à regressão dos accruals discricionários em módulo. O trabalho prático procurou-se responder às questões de investigação que incidiram sobre o eventual aumento de manipulação de resultados por recurso a práticas de manipulação de resultados em virtude da transição normativa. As práticas de manipulação consideradas no presente trabalho foram o big bath accounting, income smoothing e gestão de resultados. O estudo revelou que a transição normativa provocou, de facto, um aumento no nível de manipulação de resultados, mas que esse efeito foi apenas visível no ano de 2011. 58 A primeira questão de investigação suscitou duas questões adicionais a que se procurou responder. Tais questões dizem respeito, uma, ao nível do impacto da manipulação sobre o setor de atividade e outra, ao impacto que a empresa que procede à auditoria às contas tem sobre o nível de manipulação de resultados. O trabalho prático revelou que, entre os dois setores de atividade, não existe diferença ao nível da manipulação de (setor da Construção Civil e setor Têxtil); do mesmo modo, a empresa auditora parece não estar associada ao nível de impacto da manipulação dos resultados, mesmo quando a auditora é uma Big 4. Tais resultados podem ser interpretados de duas formas. Uma, será relacionando-os com o comportamento cauteloso dos gestores e/ou contabilistas das empresas e outra, com o conhecimento do normativo. No primeiro caso, o comportamento cauteloso dos gestores e/ou contabilistas pode explicar o resultado obtido na medida em que, como 2010 foi um ano de transição, durante o qual onde as demonstrações financeiras seriam alvo de comparação, os gestores e/ou contabilistas podem ter assumido uma atitude mais cuidadosa. Por esse motivo, as práticas de manipulação de resultados foram evidentes apenas no ano posterior à transição normativa. No que concerne ao conhecimento do novo normativo por parte dos gestores e/ou contabilistas, a questão prende-se com o tempo. Por outras palavras, sendo o SNC um novo normativo, os gestores e/ou contabilistas necessitariam de tempo para conhecerem detalhadamente o normativo. Portanto, no ano subseqüente teriam o conhecimento e a experiência necessários para aplicar práticas de manipulação de resultados. Esta circunstância não deixaria de explicar por que motivo as práticas de manipulação não foram evidentes senão no período Pós-SNC. Ainda assim, os resultados do presente trabalho não deixam de apresentar algumas limitações, nomeadamente, a dimensão da amostra e o período considerado. Isto é, um maior número de empresas bem como um número de anos mais alargado, teriam proporcionado resultados mais 59 seguros e mais representativos. Não obstante, este estudo demonstrou que a influência da transição normativa contabilística no comportamento dos gestores e/ou contabilistas das empresas portuguesas é relevante. Tratando-se de uma primeira tentativa, abre o caminho para mais trabalhos que possam ajudar a conhecer e explicar melhor estes processos. 60 BIBLIOGRAFIA 1. Amat, O.; Gowthorpe, C. 2004. Creative Accounting: Nature, Incidence and Ethical Issues. Working Paper Nº 749., Faculty of Economic and Business Science, Universitat Pompeu Fabra 2. Anthony, R. N. & Govindarajan, V. 2000. Management Control Systems, 10th Edition. New York, NY: MacGraw-Hill InternationalEdition. 3. Armândio Carvalho.2013. Disponível em www.armandiocarvalho.pt (2013/09/14; 17H 14M) 4. Ball, R. 2006, "international financial Reporting standards (IFRS): pros and cons for investors". Accounting & business research, vol 36, pp5-27 5. Barnea, A., J. Ronen; S. Saddan.1976. “Classificatory Smoothing of Income with Extraordinary Items”. 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Disponível em www.zagope.pt (2013/09/14; 17H 03M) 65 APÊNDICES Apêndice 1 - A perspectiva de Stolowy e Breton, (2003) Manipulação de resultados Fora dos limites da lei e das normas contabilísticas Fraude Dentro dos limites da lei e das normas contabilísticas Risco estrutural: rácio débito/ capital Ganhos por ação (EPS) Contabilidade criativa (Window dressing) Gestão de resultados EPS rácio debito/capital poucas investigações empíricas reais Tweedie and Whittington (1990) Naser (1993) Breton and Taffler (1995) Pierce-Brown and Steele (1999) Gestão de resultados Income smoothing Big bath accounting Nivel de EPS Variação de EPS Redução do EPS atual para aumentar o EOS do futuro Muitas investigações empíricas Muitas investigações empíricas Poucas investigações empíricas Sem investigação empírica ou opinião profissional Griffiths (1986, 1995) Smith (1992) Schilit (1992) Stolowy (2000) Schipper (1989) Jones (1991) DeAngelo et al. (1994) Healy and wahlen (1999) 66 Copeland (1968) Imhoff (1977, 1981) Eckel (1981) Ronen and Sadan (1981) Albrecht and Richardson (1990) Dye (1988) Walsh et al. (1991) Pourciau (1992) Apêndice 2 - Caracterização das empresas que constituem a amostra Empresa Setor de Empresa auditada Descrição atividade Explotugal – Obras e Construção Civil por Big 4 “É uma sociedade com larga experiência no campo da construção em tudo o que se Construções, LDA relaciona com a área de movimentos de terras e construção em geral” (www.explotugal.pt). Polopiqué – Comércio e Têxtil Dedica-se ao comércio na área dos textêis- Industria de Confeções, S.A lar. Dorel Portugal – Artigos para Têxtil inclusive na área têxtil. Bébé, LDA Zagope – Construções e Dedica-se à produção de artigos para bebé, Construção Civil “É uma empresa especializada em Obras Públicas que pertence ao Grupo brasileiro Engenharia, S.A. Andrade Gutierrez, conglomerados um privados dos maiores da América Latina, com atividades nos setores de Engenharia e Construção, Concessões, Telecomunicações, Energia e Serviços de Saúde” (www.zagope.pt). “Com Oliveiras, S.A Construção Civil um plano integrado de desenvolvimento, que visa a criação de sinergias concertadas entre as suas áreas de negócios e com empresas parceiras no setor das obras públicas e construção, a Oliveiras S.A. segue uma política estratégica que lhe permite apresentar vantagens competitivas, qualidade e valor acrescentado para as pessoas e comunidades” (www.oliveiras.pt). Neopul – Sociedade de Estudos e Construções, S.A. Construção Civil A Neopul - Sociedade de Estudos e Construções, S.A. integra o grupo Somague e “é uma empresa de Engenharia e Construção que atua nos domínios das infraestruturas ferroviárias e hidráulicas” 67 Sim (www.somague.pt). Sistavac, S.A Construção Civil “É uma empresa com cariz vincadamente tecnológico e está vocacionada para a conceção/construção instalações integrada mecânicas, de hidráulicas, eléctricas e gestão técnica centralizada” (www.sistavac.pt). Filasa – Fiação de Armando da Construção Civil Dedica-se à produção de fio têxtil. Fabricam fios à medida das necessidades Silva Antunes, S.A. dos clientes, associando um serviço personalizado (www.filasa.pt). Cordex – Companhia Têxtil sisal (www.cordexpro.cordex.com). Industrial Têxtil, S.A. Trecar – Tecidos e Dedica-se à produção de cordas e fios de Têxtil Fornecem “ uma gama específica de soluções de fabrico próprio tecidos para Revestimentos, S.A. bancos e acentos de automóveis., em várias cores e materiais, para veículos automóveis” (www.trecar.pai.pt). Mota-Engil – Engenharia e Construção Civil “Com uma posição consolidada no ranking dos Construção, S.A. 30 maiores grupos económicos europeus de construção, a Mota-Engil afirma de forma crescente a sua posição no mercado internacional. Presente em 20 países repartidos por 3 pólos geográficos – Europa, África e América Latina – o Grupo revela em cada região os mesmos standards de qualidade, capacidade de execução e rigor que o tornou líder destacado em Portugal e referência a nível europeu” (www.mota-engil.com). Continental – Indústria Têxtil Têxtil industrial. do Ave, S.A. MundoTêxtil – Industrias Fabricação de têxteis para uso técnico e Têxtil “Fundada em 1975, é atualmente a maior empresa produtora de felpos da Europa” Têxteis, S.A. (www.mundotextil.pt). Empresa de Construções Amândio Carvalho, S.A. Construção Civil “Desde a sua fundação, em 1960, que a construção de obras públicas constitui o core business da Amândio Carvalho, S.A.. No seu curriculum, a empresa conta com milhares de km de construção de estradas e auto-estradas em Portugal e no estrangeiro” 68 Sim (www.armandiocarvalho.pt). Somague - Ediçor, Engenharia, Construção Civil “A Somague - Ediçor, Engenharia, S.A., é Sim uma empresa que atua na área das obras S.A públicas e construção civil no mercado açoriano. Esta empresa é participada a 100% pela Somague que, deste modo, reforça a sua aposta neste importante mercado. (www.somague.pt). EPOS – Empresa Portuguesa Construção Civil construções subterrâneas” (www.epos.pt). De Obras Subterrâneas, S.A MSF - Engenharia, S.A. “É empresa portuguesa líder em grandes Construção Civil “A MSF é uma empresa com grande credibilidade firmada no setor da construção civil e das obras públicas” (www.msf.pt). Opway - Engenharia, S.A. Construção Civil “A OPWAY Engenharia S.A é uma das principais empresas a atuar no setor da construção em Portugal, tendo contribuído para a realização de obras e infra-estruturas marcantes para desenvolvimento o do progresso nosso e país” (www.opway.pt). Sociedade De Construções Soares Da Costa, S.A. Construção Civil “A Soares da Costa Construção detém a titularidade das participações nas várias empresas dedicadas à atividade nuclear do Grupo: a execução de empreitadas gerais de construção e engenharia civil, em Portugal e no estrangeiro” (www.soaresdacosta.pt). 69 Sim GLOSSÁRIO CERS - Commitee of European Securities Regulators CFO – Chief Financial Officer DA – Accruals discricionários EPS – Earnings per share GAAP – Generally Accepted Accounting Principles IAS – International Accounting Standards IASB – International Accounting Standards Board IFRS – International Financial Reporting Standards NCRF – Normas de Contabilidade e Relato Financeiro NDA – Accruals não discricionários POC – Plano Oficial de Contas SNC – Sistema de Normalização Contabilística TA – Accruals totais UE – União Europeia 70