2010 – FAERJ/SEBRAE – Diagnóstico da cadeia
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2010 – FAERJ/SEBRAE – Diagnóstico da cadeia
DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - 2010 CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FAERJ / SEBRAE Rio de Janeiro 2010 instituições executoras FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E PESCA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Rodolfo Tavares - Presidente SEBRAE-RJ - SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Rodolfo Tavares - Presidente do Conselho Deliberativo Sérgio Malta - Superintendente Evandro Peçanha - Diretor César Vasquez - Diretor INSTITUiçÕES parceiraS SENAR-RIO Maria Cristina Teixeira de Carvalho Tavares - Superintendente REDETEC - Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro Paulo Alcantara Gomes - Presidente do Conselho Diretor Armando Augusto Clemente - Secretário Executivo Paula Gonzaga - Gerente Geral Tereza Trinckquel - Resp. por Projeto MPEs UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Instituto de Zootecnia Prof. Dr. Nelson Jorge Moraes Matos - Coordenador Técnico OUTROS AUTORES Profª Dra. Elisa Cristina Modesto - UFRRJ Prof. Dr. Luiz Carlos de Oliveira Lima - UFRRJ Dr. Moacyr Fiorillo Bogado - FAERJ Prof. Dr. Pedro Paulo de Oliveira e Silva - UFRRJ Profª Dra. Rosana Colatino Soares Reis - UFRRJ COLABORADORES Curt Pinto Cortes, Fernando Silveira Ferolla, Jorge Luiz Teixeira Palmeira, Marcos Alexandre da Silva, Matheus Resende Oliveira, Mathias Mintelowsky, Plínio Leite Neto, Sandy dos Santos Lima e Tiago Sertã Passos AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Agropecuária Alambari e Rancho Seridó DIAGRAMAÇÃO, IMPRESSÃO e acabamento Editora Populis Ltda. (21) 2573-5511 Programação visual Raquel Sacramento REVISÃO Alexandre Rodrigues Alves CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ D526 Diagnóstico da cadeia produtiva da pecuária de corte do Estado do Rio de Janeiro: relatório de pesquisa / [elaboração Nelson Jorge Moraes Matos]. - Rio de Janeiro: FAERJ: SEBRAE-RJ, 2010. il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-87533-11-1 1. Pecuária - Rio de Janeiro (Estado). 2. Bovino de corte - Rio de Janeiro (Estado). 3. Bovino de corte - Aspectos econômicos - Rio de Janeiro (Estado). I. Matos, Nelson Jorge Moraes. II. Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado do Rio de Janeiro. III. SEBRAE/RJ. 10-5847. 11.11.10 CDD: 338.176213098153 CDU: 338.439.4:637.5’62(815.3) 23.11.10 022769 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SUMÁRIO 1 Introdução ......................................................................................................................... 07 2 Panorama da pecuária de corte no mundo ................................................................................... 09 2.1 - Rebanho mundial ........................................................................................................... 09 2.2 - Principais países produtores de carne bovina .......................................................................... 10 2.3 - Principais países exportadores de carne bovina ....................................................................... 15 3 Panorama da pecuária de corte no Brasil ..................................................................................... 17 3.1 - Histórico ..................................................................................................................... 17 3.2 - Distribuição geográfica da pecuária de corte no Brasil ............................................................... 17 4 Aspectos econômicos da pecuária de corte brasileira ...................................................................... 21 4.1 - Balança comercial da carne brasileira .................................................................................. 21 4.2 - Mercados de carne Halal .................................................................................................. 26 4.3 - Mercado de carne Kosher .................................................................................................. 28 4.4 - Importações ................................................................................................................. 28 4.5 - Perspectivas ................................................................................................................ 28 4.6 - Ciclo da pecuária bovina de corte no Brasil ............................................................................ 29 4.7 - Principais índices da pecuária de corte brasileira ..................................................................... 31 4.7.1 - Taxa de abate .......................................................................................................... 31 4.7.2 - Consumo per capita de carne bovina .............................................................................. 32 4.7.3 - Custo de produção .................................................................................................... 33 5 Sistemas de Produção ............................................................................................................ 35 5.1 - Fases do sistema de criação .............................................................................................. 35 5.2 - Sistemas de acasalamento ................................................................................................ 37 5.3 - Grupamentos raciais criados no Brasil ................................................................................... 37 6 Boas práticas na bovinocultura de corte ...................................................................................... 39 6.1 - Manejo sanitário ............................................................................................................ 39 6.2 - Manejo nutricional ......................................................................................................... 40 6.3 - Índices zootécnicos ......................................................................................................... 42 6.4 - Cadeia produtiva da carne bovina no Brasil ............................................................................ 48 7 O setor de abate e processamento no Brasil ................................................................................. 51 7.1 - Histórico ..................................................................................................................... 51 8 Inspeção sanitária da cadeia da carne bovina no Brasil .................................................................... 57 9 Evolução e distribuição espacial do abate no Brasil ........................................................................ 63 10 Pesos e rendimentos médios da carcaça e dos subprodutos de bovinos .................................................. 65 10.1 - Padronização dos cortes da carne bovina ............................................................................... 67 10.2 - Subdivisão da meia carcaça em grandes peças e cortes .............................................................. 68 11 Rastreabilidade .................................................................................................................... 75 12 Universo da pesquisa e técnicas utilizadas .................................................................................... 77 13 Diagnóstico da bovinocultura de corte no Estado do Rio de Janeiro ...................................................... 79 14 Perfil do Produtor ................................................................................................................. 89 15 Administração da empresa rural ................................................................................................ 97 16 Assistência técnica e capacitação tecnológica .............................................................................. 103 17 Participação em instituições representativas dos produtores ............................................................ 107 18 Índices de manejo e tecnológico .............................................................................................. 111 19 Avaliação do pesquisador ....................................................................................................... 133 20 Abate e Processamento ......................................................................................................... 135 21 Considerações sobre a atividade de abate de bovinos ....................................................................... 143 21.1 - Concentração do setor .................................................................................................... 144 22 Propostas para o desenvolvimento da pecuária de corte no Estado do Rio de Janeiro ................................ 149 23 Legislação ......................................................................................................................... 151 24 Glossário .......................................................................................................................... 153 25 Bibliografia consultada .......................................................................................................... 157 3 4 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Apresentação Este é o primeiro Diagnóstico da Bovinocultura de Corte do Estado do Rio de Janeiro. Devemos o feito ao apoio do Conselho Deliberativo do Sebrae-RJ e ao Sistema Faerj/Senar-Rio, a Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, bem como aos técnicos e colaboradores destas instituições. Aqui, pesquisadores, produtores rurais, técnicos e estudiosos, terão à disposição um conjunto de informações da atividade, vista do mundo para o estado. A bovinocultura é o ramo mais importante do agronegócio fluminense e, portanto, deverá continuar a merecer grande atenção no planejamento estratégico do setor para os próximos anos. Dedicamos o Diagnóstico ao maior líder rural da história do Brasil: Antônio Ernesto de Salvo (1933/2007) - lá da “currutela de Curvelo”, encravada nas montanhas das Minas Gerais, que tanto amou. Presidente eterno da CNA-Brasil, exemplo de ética, competência e sabedoria, valorizou todos os líderes rurais e colocou nossa entidade maior na dianteira do progresso das últimas décadas. Sem a sua heróica esposa D. Jane e seus filhos, ele não teria conseguido manter suas outras duas paixões, o guzerá e a CNA. Vamos continuar lutando por nossos ideais. É o mínimo que devemos ao Produtor Rural Fluminense. Rodolfo Tavares Presidente 5 6 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 1 Introdução De acordo com dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, no mundo, o agronegócio representa a geração de US$ 6,5 trilhões por ano. No Brasil, a participação do agronegócio representa 26% do PIB, com valores próximos a R$ 350 bilhões. A bovinocultura de corte representa a maior fatia do agronegócio brasileiro, gerando faturamento de mais de R$ 50 bilhões/ano e oferecendo cerca de 7,5 milhões de empregos. Com o valor do comércio global de carne bovina estimado em US$ 33 bilhões e com o crescimento das exportações brasileiras, as possibilidades abertas em mercados usualmente não atendidos pelo Brasil mostram-se apropriadas à realização de estudos mais amplos e ao levantamento das informações disponíveis sobre a cadeia de carne bovina no Brasil e sua inserção no mercado mundial (MAPA, 2006). Este estudo tem por objetivo realizar, utilizando linguagem de fácil compreensão ao público leigo, um diagnóstico da cadeia produtiva da pecuária de corte no Estado do Rio de Janeiro, identificando as características principais da cadeia produtiva da bovinocultura de corte no Estado e as limitações e barreiras observadas no setor, estimular a mobilização dos agentes da cadeia com visão de futuro, aumentar a competitividade e apresentar informações que possam subsidiar tomadas de decisões quanto ao desenvolvimento de políticas públicas em nível federal, estadual e municipal. 7 8 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 2 Panorama da Pecuária de Corte no Mundo 2.1 Rebanho Mundial A taxa de crescimento do rebanho bovino mundial nos últimos cinco anos foi da ordem de 4,2%. De acordo com estudos divulgados pela FAO (Food and Agriculture Organization) em 2008, 69,7% deste rebanho estão concentrados em quatro países e na União Européia: na Índia, com aproximadamente 282 milhões de cabeças, Brasil, com o segundo maior rebanho mundial, com Tabela 1 aproximadamente 190 milhões de cabeças, seguidos por China, com 140 milhões, EUA com 96,9 milhões, e União Européia, com 87,8 milhões de cabeças. Dentre os maiores produtores, somente o Brasil e a China aumentaram os seus rebanhos neste período. A Tabela 1 apresenta a distribuição dos rebanhos bovinos no mundo no período de 2004 a 2008. Evolução do rebanho bovino no mundo de 2004 a 2008. Fonte: FAO, 2009. 9 2.2 Principais países produtores de carne bovína A produção mundial de carne bovina no período de 2004 a 2008 apresentou crescimento da ordem de 6,6%, passando de uma produção de 56.888 milhões de toneladas de equivalente carcaça em 2004 para uma produção de 60.906 milhões de toneladas de equivalente carcaça em 2008. Destacam-se como maiores produtores os Estados Unidos da América do Norte, com Tabela 2 A Tabela 2 apresenta a evolução da produção de carne de bovinos no mundo no período de 2004 a 2008. Produção mundial de carne bovina (em mil toneladas equivalente carcaça). Equivalente carcaça = venda de carne com osso (carcaça). Fonte: CNA, 2008. 10 produção de 12,17 milhões de equivalente carcaça, seguido do Brasil, com 9,2 milhões de toneladas de equivalente carcaça, União Européia e China com 8,12 e 7,30 milhões de equivalentes carcaças, respectivamente. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A demanda mundial por carnes no mundo crescerá graças ao aumento da população, urbanização e aumento da renda per capita. Segundo um relatório divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas), a taxa média de crescimento da população mundial é estimada em 1,1% ao ano. A população mundial chegará a mais de 9,2 bilhões de habitantes em 2050. De acordo com a pesquisa, o mundo terá um aumento de 2,5 bilhões de habitantes nos próximos 40 anos, passando dos 6,7 bilhões a 9,2 bilhões em 2050. Segundo o informe, esse aumento será absorvido, em sua maioria, pelos países em desenvolvimento. Sozinhos, esses países devem passar de 5,4 bilhões de habitantes em 2009 para Figura 1 7,9 bilhões de habitantes em 2050. Em contraste com o crescimento nos países em desenvolvimento, a população das regiões desenvolvidas deve sofrer poucas alterações no período estudado, com uma média de 1,2 bilhão de habitantes. Para o Brasil, é estimada uma taxa de crescimento na ordem de 1% ao ano. Em 2010, a população urbana mundial, estimada em 3,3 bilhões de pessoas, ultrapassará a população rural, indicando que haverá mais pessoas vivendo em cidades e menos no campo. As Figuras 1 e 2 representam as projeções realizadas pela ONU acerca da taxa de crescimento e evolução da população rural e urbana no mundo no período de 2005 a 2050. Estimativa de crescimento populacional no período de 2005 a 2050. Fonte: Souza, 2009. 11 Figura 2 Projeção da população rural e urbana no mundo. Fonte: ONU, In: ABIEC, 2008. O consumo de carne tenderá a aumentar onde isso mais ocorrer. Dessa maneira, pode-se esperar crescimento de consumo em países emergentes, em crescimento e com aumento do percentual da população que vive nas cidades. Figura 3 Projeção da taxa de crescimento da renda per capita. *Renda per capita - Valor em dólar que cada habitante receberia caso o PIB (Produto Interno Bruto**), fosse dividido igualmente por toda a população. **Produto Interno Bruto - indicador econômico que representa a soma dos valores de todos os bens produzidos por um país em determinado período. Fonte: FAO, 2006, In: ABIEC, 2008 . 12 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO As projeções apontam para o crescimento da renda per capita principalmente nos países em desenvolvimento, o que certamente influenciará no consumo de carne. Relatório do USDA (2005) apresenta estimativas de crescimento do PIB das principais regiões para o período 2006-2014; neste período os países em desenvolvimento terão crescimento econômico de 5,1% ao ano. A Figura 4 apresenta uma estimativa do consumo per capita de carne de bovino em diferentes regiões. Figura 4 O país que melhor representa as mudanças causadas por essas grandes tendências é a China, que consome hoje 24% de toda carne (suínos, aves e bovina) produzidas no mundo; é o país onde o consumo mais vai aumentar em volume absoluto até 2015. O consumo de carne bovina no mundo registrou aumento, no período de 2000 a 2008, de 1,7% ao ano, passando de um consumo de 53 mil toneladas de equivalente carcaça para aproximadamente 60 mil toneladas. O crescimento observado foi Projeção do consumo per capita de carnes em diferentes regiões. Fonte: FAO, 2006, In: ABIEC, 2008. 13 fortemente influenciado pelo aumento de consumo nos países em desenvolvimento: 3,1% ao ano, contra 0,5% ao ano observado nos países desenvolvidos. No ano de 2008, os principais mercados consumidores de carne bovina foram os EUA, com a absorção de 22% da produção mundial, a União Européia, com 14%, seguidos da China e Brasil, com 13 e 12% respectivamente. Estes países foram responsáveis pelo consumo de 61% da carne produzida. A Figura 5 apresenta, em valores percentuais, os principais países consumidores de carne bovina em 2008. Figura 5 Consumo mundial de carne bovina em 2008. Fonte: OLIVEIRA, 2009. 14 Estudos publicados pela FAO, em 2009, com projeção da produção de carne bovina até 2050 apresentados na Figura 4 mostram que os países em desenvolvimento deverão produzir cerca de 70% da produção mundial. O aumento da demanda interna, a limitação de oferta, custo de produção maior do que outros países exportadores, redução no rebanho levarão principalmente a União Européia, a Rússia e os Estados Unidos da América do Norte a aumentar suas importações de carne bovina nos próximos anos. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Figura 6 Produção mundial de carne de acordo com o estágio de desenvolvimento. Fonte: FAO, 2009. Os dois grandes aumentos da produção de carne bovina para os próximos 10 anos devem vir da China e do Brasil. Contudo, a produção chinesa será quase toda voltada para o mercado interno. 2.3 Principais países exportadores de carne bovina No mundo, a comercialização de carne bovina é realizada em atendimento aos mercados do Pacífico e aos do Atlântico. No mercado do Pacífico, os principais produtores são Austrália, com 18% das exportações mundiais, Nova Zelândia, com 7% e Estados Unidos, com 11%, e os grandes importadores são o Japão e a Coreia do Sul. Os Estados Unidos, além de serem grandes produtores, sempre foram grandes importadores, principalmente da carne proveniente do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia. No lado do Atlântico, dos países do MERCOSUL, o Brasil é o maior exportador mundial, respondendo por 24% da produção mundial; Argentina, Uruguai e Brasil são os principais fornecedores da Comunidade Europeia. (IICA: MAPA/SPA, 2007). Na Figura 7 são apresentados os valores percentuais da quantidade exportada pelos principais países produtores de carne bovina. 15 Figura 7 Principais países exportadores de carne bovina em 2009 (valores em percentagem da quantidade). Fonte: Adaptado de Minerva Alimentos, 2009. 16 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 3 Panorama da Pecuária de Corte no Brasil 3.1 Histórico A pecuária foi trazida para o Brasil pelos portugueses no século XVI, através da introdução de gado crioulo da Península Ibérica. Esta introdução foi realizada onde hoje se localiza o Estado da Bahia. Já no século XVII, outros animais teriam chegado à capitania de São Vicente. Posteriormente, no início do século XX, foram importados animais zebuínos da Índia, principalmente da raça nelore, que, por suas características adaptativas ao clima tropical, dominaram o setor de pecuária de corte do país. Ainda no século XX, após as duas grandes guerras mundiais, muitos programas de incentivos, inclusive financeiros, foram criados para levar o gado zebuíno e a braquiária, numa expansão que se deu nas regiões Norte e Centro-Oeste do país, denominadas zonas de expansão da fronteira agropecuária. A bovinocultura nacional possui relevância socioeconômica para o Brasil. Além de movimentar a indústria e a distribuição de uma gama variada de insumos que utiliza no segmento produtivo, a cadeia da pecuária bovina, incluindo produção, abate, transformação, transporte e comercialização de produtos e subprodutos fornecidos pela exploração do rebanho, movimenta um grande número de agentes e de estruturas, da fazenda à indústria e ao comércio, gerando renda e criando empregos em seus diversos segmentos (CORRÊA, 2000, in PORTA GRÜNDLING, et al. 2009). 3.2 Distribuição geográfica da pecuária de corte no Brasil O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo. Estimados, em 2009, em 207 milhões de cabeças, as características do rebanho são de aproximadamente 75% para corte, 20% leiteiro e o restante com dupla aptidão. A criação de gado de corte, desde o período colonial brasileiro, tem ocupado áreas da chamada fronteira agrícola, onde pouca ou nenhuma tecnologia é adotada. Assim, criou-se a ideia de que gado de corte deve ser criado de forma extensiva e sem nenhum investimento em equipamentos e insumos. Em termos de localização geográfica, conforme apresentado na Figura 8, a produção pecuária encontra-se distribuída por todas as regiões, com predominância para o Centro-Oeste, com 34,8% do rebanho, seguido da região Norte, com 20%, da região Sudeste, com 18,8%, da região Sul, com 13,4%, e da região Nordeste, com13%. 17 Figura 8 Distribuição da pecuária de corte por região no Brasil. Fonte: IBGE, 2009. A bovinocultura de corte se distribui em todos os estados da federação. Nos últimos anos, na região Norte o destaque é para expansão da pecuária de corte nos estados do Pará, com 18,1 milhões de cabeças, e o estado de Rondônia, com 11,3 milhões, que representam 71% do rebanho da região. 18 Na região Sul, 87,8% do rebanho se localizam no Estado do Rio Grande do Sul, com 14,2 milhões de cabeças, e no Estado do Paraná, com 10,2 milhões de cabeças. Na região Nordeste, nos últimos anos ocorreu uma estabilização no rebanho, e a Bahia é o estado que apresenta o maior rebanho da região, com 10,5 milhões de cabeças, seguido do Maranhão, com 6,4 milhões, concentrando nestes dois estados 62,6% do rebanho da região. Na região Centro-Oeste, o rebanho do Distrito Federal é de 100.000 cabeças. Os demais estados destacam-se por concentrar o maior rebanho de bovinos do País: Mato Grosso, com 26,7 milhões de cabeças, seguido do Mato Grosso do Sul, com 24,5 milhões de cabeças, que é o segundo estado com maior concentração nacional de bovinos, e Goiás cujo rebanho ocupa a quarta colocação nacional, com um rebanho de 20,7 milhões de cabeças. Na região Sudeste, 89,5% do rebanho se concentram nos Estados de Minas Gerais e São Paulo com 21,4 milhões de cabeças e 13,4 milhões de cabeças, respectivamente. Na Tabela 3 pode ser observado, com dados atualizados, como se comportam os números dos rebanhos por estado, ou seja, a importância de cada estado na atividade pecuária nacional. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Tabela 3 Distribuição do rebanho bovino por região e unidade da federação (em milhões de cabeças). Fonte: IBGE, 2007. Com base no levantamento sistemático e contínuo dos preços das terras brasileiras, empreendido pelo Instituto FNP (IFNP), de março de 2002 a fevereiro de 2008 a valorização média das terras no Brasil chegou a 131%, valores muito acima da inflação do período (53,16%). As áreas apontadas com maior crescimento em investimento na pecuária de corte estão localizadas em regiões onde o custo da terra comparado com outras regiões é relativamente mais barato. O aumento da atividade pecuária nessas regiões pode ser interpretado como efeito indireto da expulsão da atividade em outras regiões. De acordo com dados publicados pelo IBGE, em 2008, no Brasil são ocupados com pastagens e campos naturais aproximadamente 172 milhões de ha, equivalentes a 20,2% do território. O mesmo estudo mostra ainda que existe para ser utilizada em atividades agropecuárias área equivalente a 106 milhões de ha, equivalentes a 12,5%. A Figura 9 apresenta uma estimativa das áreas ocupadas no Brasil com diferentes atividades e disponíveis para uso na agropecuária, de acordo com dados do IBGE e MAPA. 19 Figura 9 Distribuição territorial e utilização das terras no Brasil. Fonte: CNA, 2009. De acordo com dados publicados pelo IBGE, em 2009, a maior parte do rebanho brasileiro (38,74%) situa-se em áreas entre 100 e 1.000 ha, categoria em que se encontram apenas 9,35% dos estabelecimentos nacionais. Em seguida, destacam-se áreas maiores de 1.000 ha, que englobam 27,19% do rebanho nacional, distribuídos em apenas 0,94% dos estabelecimentos. 20 Em áreas entre 10 e 100 ha, dispõem-se 24% do rebanho, sendo 34,06% dos estabelecimentos responsáveis por esse rebanho. Por último, estão os estabelecimentos com menos de 10 ha, que representam somente 8,25% do rebanho e 43,96% dos estabelecimentos. Dessa forma, verifica-se que, apesar de a maior parte dos estabelecimentos encontrarse em áreas com menos de 100 ha, a maior parte do rebanho bovino encontra-se em poucas e maiores propriedades. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 4 Aspectos Econômicos da Pecuária de Corte Brasileira 4.1 Balança Comercial da Carne Brasileira O principal mercado da indústria de carne bovina é o interno, que absorve cerca de 80% da produção nacional. A participação do Brasil na comercialização de carne bovina no mercado mundial não é um fenômeno de curto prazo; desde 2005, o Brasil ocupa a posição de maior exportador de carne bovina do mundo. Vários são os fatores que contribuíram para o aumento das exportações brasileiras; dentre eles se destacam o baixo custo de produção no Brasil, comparado a outros países exportadores, aumento das exportações para países tradicionalmente compradores de carne dos Estados Unidos, postura mais agressiva na conquista a novos mercados Figura 10 em razão das restrições à carne dos países concorrentes em função da doença da Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) também conhecida como doença da vaca louca. Em 2009, o Brasil produziu em torno de 9,18 milhões de toneladas de equivalente carcaça de carne bovina, das quais aproximadamente 80% foram destinados ao mercado doméstico e 20% à exportação, com 75% do volume nas formas in natura, 13,5% na forma industrializada, 6% de miúdos, 5% de tripas e 0,2% salgadas. A Figura 10 apresenta as percentagens referentes à exportação de diferentes tipos de cortes realizada pelo Brasil em 2009. Participação dos tipos de corte nas exportações de carne bovina em 2009. Fonte: ABIEC, 2010. 21 Embora o Brasil seja o primeiro em volume exportado, 75% do volume exportado é de carne fresca ou congelada, com menor valor agregado. A Tabela 4 apresenta o preço médio em dólares de comercialização da carne bovina brasileira em 2009, de acordo com o processamento. Tabela 4 Preço médio de comercialização de acordo com o processamento em 2009. Fonte: Adaptado de ABIEC, 2010. A exportação de carne bovina brasileira é realizada de maneira pulverizada para mais de 150 países. No ano de 2009, as exportações de carnes e derivados alcançaram volume de aproximadamente 1,25 milhão de toneladas, correspondendo a valores na ordem de US$ 4,12 bilhões. As Tabelas 5 e 6 apresentam os 22 dados de volume em quilograma e valores em dólares das exportações de carne e derivados para diferentes regiões do mundo e os diferentes tipos de carnes e derivados exportados pelo Brasil em 2009, em que 68% do volume exportado foi na forma de carne congelada e desossada. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Tabela 5 Destinos das exportações de carnes e derivados (janeiro/2009 a dezembro/2009). Fonte: ABRAFRIGO, 2010. Para a América do Sul, as exportações foram da ordem de 4,2% do volume total exportado, sendo 76% deste volume absorvido pela Venezuela. O volume comercializado para a América do Norte foi da ordem de 3,8%, sendo que 92% do volume comercializado naquele continente foram direcionados aos EUA na modalidade de carne industrializada. O continente africano foi responsável pela aquisição de 15% do volume total exportado de carnes e derivados, onde a Argélia foi o destaque, com importações em volume equivalente a 57% do total enviados àquele continente. Na Europa Ocidental, as exportações equivaleram a 11,6% do total, volume pulverizado por vários países. Para os países do Leste Europeu, o volume exportado foi equivalente a 27,4% do volume total, sendo 97,8% deste volume comercializados com a Rússia, que permanece como maior comprador de carne in natura do Brasil. 23 Para a Oceania, o Brasil exporta um volume muito pequeno, 0,1% do total, pulverizado pelos países daquele continente. Para o continente asiático, o volume das exportações de carnes e derivados foi de 36,9%, com 45% Tabela 6 Exportação brasileira de carnes e derivados de bovinos (janeiro/2009 a dezembro/2009). Fonte: ABRAFRIGO, 2010. 24 deste volume comercializados no leste da Ásia com Hong Kong; no Oriente Médio, os maiores volumes exportados foram para o Irã, com 7,1%, e o Egito com 6,5%. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO As Figuras 11, 12 e 13 apresentam um panorama, em 2009, dos principais países importadores, de carne bovina in natura, industrializada e de miúdos, tripas e salgados exportados pelo Brasil. Os países que compõem a União Européia, quando considerados conjuntamente, representam o maior destino das exportações brasileiras de carne bovina. Vale ainda destacar o papel da Rússia, do Egito e de Hong Kong nas importações do produto brasileiro. Esses destinos têm aumentado sistematicamente o consumo do produto nacional. Figura 11 Importadores de carne industrializada do Brasil em 2009. Fonte: ABIEC, 2010. Figura 12 Principais importadores de carne in natura fresca ou congelada do Brasil em 2009. Fonte: ABIEC, 2010. 25 Figura 13 Principais importadores de miúdos, tripas frescas e salgadas do Brasil, em 2009. Fonte: ABIEC, 2010. 4.2 Mercado de Carne Halal De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), esse mercado é composto, potencialmente, por cerca de 1,5 bilhão de muçulmanos que existem no mundo. O crescimento das importações de carne brasileira pelo Egito, Irã, Argélia e Indonésia, atesta esse potencial. A Figura 14 apresenta a localização geográfica dos principais países importadores de carne Halal e potenciais mercados formados por países onde mais de 50% da população é muçulmana. Figura 14 Segundo o Alcorão, livro sagrado da religião islâmica, o alimento é considerado Halal (permitido para consumo) quando obtido de acordo com os preceitos e as normas ditadas 26 pelo Alcorão Sagrado e pela Jurisprudência Islâmica. Esses alimentos não podem conter ingredientes proibidos, tampouco parte deles. De acordo com as exigências das embaixadas dos países islâmicos, o abate Halal deve ser realizado em separado do não-Halal, sendo executado por um mulçumano mentalmente sadio, conhecedor dos fundamentos do abate de animais no Islã. As normas básicas a serem seguidas para o abate Halal, de acordo com a ABIEC, são: • Serão abatidos somente animais saudáveis, aprovados pelas autoridades sanitárias e que estejam em perfeitas condições físicas; DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO • A frase “Em nome de Alá, o mais bondoso, o mais misericordioso” deve ser dita antes do abate; • Os equipamentos e utensílios utilizados devem ser próprios para o abate Halal. A faca utilizada deve ser bem afiada, para permitir uma sangria única que minimize o sofrimento do animal; • O corte deve atingir a traquéia, o esôfago, artérias e a veia jugular, para que todo o sangue do animal seja escoado e o animal morra sem sofrimento; • Inspetores mulçumanos acompanharão todo o abate, uma vez que eles são os responsáveis pela verificação dos procedimentos determinados pela Sharia. Figura 14 É importante ressaltar que o abate e processamento Halal vislumbra produzir produtos seguros e que tragam benefícios à saúde de quem os consome. Portanto, higiene e sanidade são requisitos imprescindíveis para os operadores e suas vestimentas, equipamentos e utensílios empregados no processo, evitando assim as contaminações por substâncias não-Halal. Por esta razão, todo o preparo, processamento, acondicionamento, armazenamento e transporte devem ser exclusivos para os produtos Halal, que obrigatoriamente são certificados e rotulados conforme a lei da Sharia. Principais países importadores de carne Halal e potenciais mercados. Fonte: MORATA, 2008. 27 O rótulo deve conter o nome do produto, número do SIF, nome e endereço do fabricante, do importador e do distribuidor, marca de fábrica, ingredientes, código numérico identificador de data, carimbo ou etiqueta para identificação Halal e país de origem. importado ao longo dos últimos anos tem sido inexpressivos; em 2009 os valores foram de 1% em relação às exportações brasileiras. No caso de produtos de carne primária, também devem constar a data do abate, da fabricação e do processamento. De acordo com Projeções do Agronegócio - Brasil - 2008/09 a 2018/19, realizadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, haverá expressiva mudança de posição do Brasil no mercado mundial. A relação entre exportações brasileiras e o comércio mundial mostra que, em 2018/19, as exportações de carne bovina brasileira representarão 60,6% do comércio mundial de carne bovina. Apesar de o Brasil apresentar nos próximos anos forte potencial de aumento das exportações, o mercado interno terá forte fator de crescimento do consumo de alimentos provocado pelo crescimento populacional e do aumento de renda. 4.3 Mercado de Carne Kosher É a definição dada aos alimentos preparados de acordo com as Leis Judaicas de alimentação. A Torá exige que bovinos sejam abatidos de acordo com essas leis, num ritual chamado Shechita. Apenas uma pessoa treinada, denominada Shochet, é apta a realizar esse ritual. Antes do Shechita é realizada uma oração especial chamada Beracha. O objetivo desse ritual é fazer a degola do animal ainda vivo e assim provocar uma morte instantânea, sem dor. É utilizada uma faca especial bem afiada. O corte deve atingir a traquéia, o esôfago e as principais veias e artérias do pescoço. Deve haver intensa sangria do animal. Em 2009, esse mercado representou vendas do Brasil para o Estado de Israel no valor de 91,3 milhões de dólares (ABIEC, 2010). 4.4 Importações As importações brasileiras totais de carne bovina e outros animais vêm se reduzindo acentuadamente a cada ano. As principais importações são oriundas do Uruguai, Paraguai e Argentina, mas o volume total 28 4.5 Perspectivas Este cenário aponta para outra expectativa importante para o setor, que será a contínua evolução do modelo produtivo e do uso intenso de novas tecnologias. Nos rebanhos comerciais o desempenho econômico das propriedades, ou seja, maior produção carne/ha/ano está diretamente relacionado com medidas a serem tomadas dentro da porteira, como aumento da capacidade de suporte das pastagens, aumento do peso a desmama e o ganho de peso no período das águas e da seca, aumento da eficiência reprodutiva, intensificação do controle sanitário, em particular da febre aftosa e adoção da rastreabilidade no rebanho. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 4.6 Ciclo da pecuária bovina de corte no Brasil A pecuária de corte no Brasil possui um ciclo econômico com duração entre três e cinco anos, também referenciado como ciclo do boi, que se inicia com um período de abundância de matrizes, alta produção de bezerros e, como consequência, alta produção de carne. Com o aumento na oferta de bezerros, o preço deste diminui e passa a ser mais lógico economicamente abater a matriz do que produzir mais bezerros. Com o aumento no abate de vacas, a quantidade de bezerros diminui e seu preço aumenta, voltando a ser mais viável a retenção de fêmeas para refazer os rebanhos. Figura 15 O último ciclo da pecuária de corte brasileira teve seu início em 2003, quando a baixa rentabilidade do setor levou os pecuaristas a aumentar o abate de matrizes. De acordo com o comportamento do preço da arroba e a oferta de boi gordo ao mercado, é estimado que esse ciclo tenha se encerrado no final do ano de 2007. Especialistas no mercado estimam que a reversão desse ciclo seja mais visível a partir de 2010, com o aumento de boi gordo ao mercado. As Figuras 15, 16 e 17 apresentam as variações anuais dos abates de boi e vacas de 1998 a 2008, a evolução na produção de bezerros no mesmo período e a variação no preço da arroba do boi durante o período de 2006 a 2009, de acordo com Minerva Alimentos, 2009. Variações anuais dos abates de bois e vacas. Fonte: Minerva Alimentos, 2009. 29 Figura 16 Evolução da produção de bezerros. Fonte: Minerva Alimentos, 2009. Figura 17 Variação no preço da arroba dos bovinos. Fonte: Minerva Alimentos, 2009. 30 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 4.7 Principais índices da pecuária de corte brasileira 4.7.1 - Taxa de abate Por definição, é um valor em percentual que representa número de animais abatidos por ano em relação ao número total de animais no rebanho. A taxa de abate brasileira é baixa, em razão da idade tardia dos animais em condições de abate, quando comparada com os demais países produtores e exportadores de carne. Essa variação nas taxas é uma consequência da diferença do nível tecnológico na criação de bovinos para corte adotado nos diferentes países. A Tabela 7 apresenta a taxa de abate de alguns países produtores e exportadores de carne. Tabela 7 Taxa de abate de bovinos em 2009 em países exportadores de carne bovina. Fonte: ABIEC, 2010. 31 4.7.2 - Consumo per capita de carne bovina A Argentina e o Uruguai são os países que apresentam maior consumo per capita de carne bovina, com valores de 70 e 53 kg/habitante/ano, respectivamente. O consumo no Canadá e na Austrália tem permanecido estável nos últimos anos, com valores médios de 45 kg/habitante/ano. No mercado brasileiro, o consumo ficou em 37,4 quilos no ano de 2009. A Figura 18 apresenta o comportamento do consumo de carne bovina por habitante no período de 2003 a 2009. Figura 18 Consumo per capita de carne bovina. Fonte: ABIEC, 2010. 32 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 4.7.3 - Custo de produção Entende-se por custo de produção a soma dos valores de todos os recursos (insumos) e operações (serviços) utilizados no processo produtivo de uma atividade agrícola (COELHO et al, 2008). Como medida para aumentar a margem de lucro na pecuária, pode-se contar com o aumento na produtividade ou redução dos custos. Para ambos os casos é preciso que se tenha o valor de quanto custa produzir o quilo de carne na propriedade e, com base nesse dado, através de simulações e comparações, definir Figura 19 estratégias que nos próximos anos venham aumentar a rentabilidade da sua atividade (COELHO et al, 2008). A Figura 19 apresenta os principais componentes que representam o custo para a produção do boi gordo no Brasil. Na média nacional, os custos com mão de obra representam 22% dos custos de produção. Os custos da alimentação, incluindo os preços do sal mineral e pastagens, representam 41% do custo total de produção. Custo de produção do boi gordo (insumos do boi gordo). Fonte: CEPEA, 2010. 33 A Tabela 8 apresenta uma síntese dos custos de produção dos principais países exportadores de carne; Austrália e EUA apresentam custos de produção de 80 a 90% maiores em relação aos obtidos no Brasil. Isto se deve principalmente aos elevados custos da alimentação, naqueles países, onde predominam dietas ricas em grãos. Tabela 8 Custo de produção de carne bovina em diferentes países produtores. Fonte: Vários autores. 34 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 5 No Brasil, os sistemas de produção podem ser classificados como: Pecuária extensiva: é caracterizada pela criação dos bovinos exclusivamente a pasto de gramíneas nativas, principalmente dos gêneros Brachiaria e Panicum, sem suplementação alimentar; em geral, apenas é fornecido periodicamente sal mineral. Nas propriedades que adotam este sistema, os animais ocupam grandes áreas e são poucos eficientes, tanto produtiva, quanto economicamente, com taxa de desfrute muito baixa. Este sistema é o que predomina na maioria dos estados brasileiros. Sistema semi-intensivo: é praticado em propriedades de menor extensão de terra. Este sistema exige a formação de pastagens de forrageiras melhoradas, suplementação mineral constante no cocho, escrituração zootécnica, separação do rebanho de acordo com o sexo, idade e finalidade, adoção de medidas sanitárias adequadas, alimentação suplementar durante o período de estacionalidade da produção de forragens. Este sistema têm sido adotado pela maioria dos produtores que trabalham com melhoramento genético e têm como atividade a produção de matrizes e reprodutores. Contudo, este sistema também é adotado em propriedades que têm como objetivo a produção de animais precoces para o abate. Sistema de Produção Sistema intensivo ou confinamento: é o sistema onde os animais destinados ao abate são criados durante um período de 90 a 120 dias em lotes, em piquetes ou currais com área restrita recebendo nesse local os alimentos e água. No Brasil, essa prática é realizada durante o período da seca, período da entressafra de animais para o abate. De acordo, com Associação Nacional dos Confinadores (ASSOCON), a quantidade de animais confinados em 2009 foi semelhante à de 2008, estimada em 2,7 milhões de cabeças, com destaque para os Estados de Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Minas Gerais. 5.1 Fases do sistema de criação A pecuária de corte no Brasil é caracterizada por três fases: Cria: é marcada pela propriedade que produz animais até a desmama; nestas propriedades, após a desmama, que ocorre de seis a sete meses, os animais são comercializados. O objetivo maior de quem se dedica à cria de bovinos deve ser investir recursos financeiros suficientes para aplicar tecnologias que garantam o desmame de um bezerro pesado e saudável, de cada vaca do rebanho por ano. 35 Recria: esta fase é caracterizada por propriedades que adquirem animais desmamados e permanecem com eles criados a pasto com ou sem suplementação até que alcancem o peso próximo a 12 arrobas, quando são comercializados. Terminação ou engorda: são que têm como atividade a animais com peso próximo a que a pasto ou confinados são Figura 20 No Brasil, a distribuição das propriedades de acordo com a fase do sistema de exploração adotado é mostrada na Figura 20; 24% das propriedades realizam a fase de cria, 21% cria e recria e 18% o ciclo completo (cria, recria e engorda). Estrutura de produção de acordo com a fase de exploração. Fonte: CORREA, 2009. 36 propriedades aquisição de 12 arrobas e mantidos até que alcancem peso próximo a 16 arrobas. A terminação de bovinos no Brasil é realizada quase que exclusivamente a pasto, sendo que 95% dos animais destinados ao abate anualmente são terminados desta forma. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 5.2 Sistemas de acasalamento (zebu) e originárias da Europa, do gênero Bos taurus (taurinos) e seus cruzamentos. Os principais sistemas de acasalamento são: a monta a campo, a monta controlada ou dirigida e a inseminação artificial. Raças zebuíno-originárias na Índia O sistema de acasalamento mais empregado na pecuária de corte extensiva é a monta em campo. Nesse regime de acasalamento, os touros permanecem junto ao rebanho de fêmeas na relação de um touro para 25 vacas. Na monta controlada, o touro é mantido separado das vacas; quando uma fêmea é detectada em cio ela é trazida para junto do touro, onde permanece até a cobrição. Com relação à inseminação artificial, de acordo com dados da Embrapa (Centro Nacional de Pecuária de Gado de CorteCNPGC) somente de 3% a 5% do rebanho bovino de corte utilizam a inseminação artificial. Uma das grandes limitações à sua expansão, está relacionada com o sistema extensivo de exploração da pecuária de corte brasileira. 5.3 Grupamentos raciais criados no Brasil As raças bovinas de interesse para produção de carne, no Brasil, podem ser classificadas do seguinte modo: raças Europeias da subespécie Bos taurus taurus e raças indianas da subespécie Bos taurus indicus. O rebanho de corte brasileiro tem como predominância a utilização de raças originárias da Índia, do gênero Bos indicus Representam cerca de 80% dos bovinos criados, têm como característica a rusticidade, destacando-se a adaptação ao calor, umidade e radiação solar dos trópicos, às grandes variações na disponibilidade de alimentos e alta resistência à endo e ectoparasitas. Dentre as representantes deste grupo destacam-se as raças, Nelore, Gir, Guzerá e Sindi. As raças formadas no Brasil são a Indubrasil resultantes do cruzamento entre raças Guzerá e Nelore, e a Tabapuã, como resultado da fusão de animais Mocho nacional com Guzerá e Nelore. Nos EUA, a raça Brahmam, foi formada a partir do cruzamento de animais das raças Gir, Nelore e Guzerá. Raças taurinas São raças de origem do continente europeu, podendo, de acordo com a origem ser subdividas em dois ramos: Taurinos europeus britânicos de Origem Insular Originárias das Ilhas Britânicas, sendo a finalidade principal dessas raças, por muitos séculos, produzir carne para o consumo humano. Estas raças foram selecionadas para velocidade de crescimento, precocidade sexual, fertilidade e qualidade de carne, resultando em raças de tamanho 37 intermediário. No Brasil, as mais criadas são: Aberdeen Angus, Red Angus e Hereford, Devon, Red Poll e Shortorn. as características de qualidade de carne, incluindo a maciez, estão mais próximas daquelas das raças Européias do que das raças indianas. Taurinos Europeus de Origem Continental Raças mais usadas no Brasil: As raças deste ramo foram selecionadas originalmente para tração na Europa Continental. Essa seleção com menor ênfase em outras características de produção provocou o aumento da massa muscular e do peso adulto. As raças continentais são conhecidas pelo elevado peso ao nascimento, grande potencial de crescimento (ganho de peso), alto rendimento de carcaça com menor porcentagem de gordura. As principais raças criadas no Brasil são: • De origem francesa: Limousin, Charolês e Blonde d’Aquitaine; • De origem suíça: Simental e PardoCapacitação da mão de obra Suíço; • De origem italiana: Marchigiana, Piemontês e Chianina. 3.4 Taurinos Tropicais – Adaptados As raças taurinas adaptadas também evoluíram em regiões tropicais. Comparadas com as Europeias, raças desse grupamento têm maior resistência para calor e carrapatos e ambiente com restrição alimentar. Devido à sua maior rusticidade e características de adaptação, as raças adaptadas têm um potencial de crescimento mais baixo e menores exigências de alimento e de manutenção que outras raças taurinas. Para todas as raças taurinas adaptadas, 38 1. Bonsmara e Senepol. 2. Bonsmara - Africander + Hereford + Shorthorn 3. Senepol - N’Dama + Red Poll Raças sintéticas São formadas por duas ou mais raças com grau de sangue fixado, visando manter bons níveis de heterose e adaptabilidade. Exemplos de raças sintéticas no Brasil são: Canchim, Simbrasil, Stabilizer, Beefmaster e Montana. Nos EUA, Brangus, Braford e Santa Gertrudes. No Brasil, o cruzamento entre indivíduos de raças diferentes é uma ferramenta utilizada para combinar o elevado potencial de produção da raça de clima temperado (origem europeia) com a adaptação da raça tropical (origem indiana). O cruzamento entre raças em rebanhos comerciais (ou heterozigose) busca gerar heterose, ou vigor híbrido, para um grupo de características comercialmente importantes, permitindo que a produtividade dos cruzados exceda a produtividade de ambas as raçasbase. Vários programas com esta finalidade são desenvolvidos no Brasil. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 6 Boas Práticas na Bovinocultura de Corte 6.1 Manejo sanitário O manejo sanitário é um conjunto de atividades regularmente planejadas e direcionadas para a prevenção e manutenção da saúde dos rebanhos. Consiste em vacinações, desverminação e controle de ectoparasitas. As ações de prevenção podem ser classificadas em dois níveis: controle e erradicação, de acordo com o objetivo em questão. O controle visa reduzir a frequência de ocorrência de uma doença já presente na população, enquanto que a erradicação busca eliminar totalmente a doença. O estudo de programas de saúde animal para a prevenção de enfermidades em sistemas de produção de gado de corte em nossas condições diz respeito às vacinações e vermifugações que compõem o calendário sanitário, para evitar o aparecimento de doenças que possam comprometer os resultados dos trabalhos, assim como o combate aos vermes, bernes, moscas, carrapatos e outros tantos que causam inúmeros prejuízos que, muitas vezes, não são contabilizados e, como consequência, baixam os índices de produtividade. No Brasil, existem vários tipos de vacinas para uso em bovinos de corte, sendo algumas contra enfermidades causadas por vírus, bactérias e protozoários. As vacinações devem ser encaradas como parte de um programa de manejo sanitário e devem ser planejadas para o atendimento das necessidades específicas do rebanho. Existem vacinas recomendadas para uso rotineiro e as utilizadas em condições específicas. As vacinas de uso rotineiro são aquelas programadas para controlar as doenças existentes na região onde os animais estão sendo criados. Por outro lado, as utilizadas em condições específicas são aquelas necessárias somente quando for detectada a possibilidade de ocorrência das doenças no local de criação. São adotadas as seguintes vacinações e medidas profiláticas de rotina: • Febre aftosa: é feita em todo o rebanho; aplica-se a vacina oleosa, conforme o calendário do órgão de defesa sanitária estadual. • Brucelose: aplica-se a vacina (dose única) nas fêmeas por ocasião da desmama. Deve-se fazer teste de soroaglutinação em todos os animais em idade reprodutiva uma vez ao ano. 39 • Carbúnculo sintomático e gangrena gasosa: aplica-se a vacina polivalente de seis em seis meses da desmama aos dois anos de idade. • Botulismo: proceder a vacinações quando ocorrer surto da doença. Aplicase a vacina, anualmente, em todos os animais com idade acima de um ano. • Raiva bovina: vacinar todo o rebanho, nas regiões endêmicas, uma vez por ano. Nas regiões livres, somente quando determinado pelas secretarias de agricultura. • Leptospirose: vacinar os animais de 4 a 6 meses de idade, com reforço quatro semanas após. Vacinação em todo o rebanho semestralmente. • Tuberculose: fazer o teste de tuberculinização, seguindo orientação do PNCEBT (Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose). • Desverminação: Controlar os vermes gastrintestinais, com produtos específicos e na dose recomendada pelo fabricante, do desmame até os dois anos e meio de vida, aplicando vermífugos nos meses de maio, julho e setembro. As vacas prenhes devem ser dosificadas em julho ou agosto e os animais em terminação, antes de entrar na pastagem vedada para engorda ou no confinamento. • Controle de ectoparasitos: é adotado o controle estratégico da mosca-doschifres. O berne e o carrapato devem ser controlados quando o nível de infestação exigir. Um aspecto importante para o melhor posicionamento da carne bovina no mercado 40 internacional é a questão sanitária, ainda não plenamente equacionada. A erradicação da febre aftosa é um grande desafio para o Brasil. Dados atualizados pelo MAPA mostram que 90% do rebanho brasileiro encontram-se em áreas livre de febre aftosa. 6.2 Manejo nutricional O clima tropical, com elevada quantidade de iluminação solar e pluviosidade, é ideal para a produtividade vegetal; por isso o Brasil é abundante em pastagens naturais e possui características ideais para pastagens cultivadas. Estas características climáticas proporcionam o desenvolvimento da pecuária brasileira baseada na criação extensiva, isto é, o gado é criado solto em pastagens, alimentando-se apenas de capim, com suplementação de sal mineral. A base de qualquer sistema de produção começa pela eficiente exploração das pastagens. Do nascimento até a terminação, a dieta predominante é a forragem, sendo esta responsável por grande parte do ganho de peso obtido até o abate. A terminação de bovinos no Brasil é realizada quase que exclusivamente a pasto, sendo que 85% dos animais destinados ao abate anualmente são terminados desta forma. O problema da sazonalidade da produção forrageira é conhecido e intensificado pelo fato das forrageiras tropicais, mesmo no período das chuvas, não serem capazes de produzir, por muito tempo, alimento com qualidade que possibilite o atendimento das exigências para crescimento dos animais, em especial aqueles de alto potencial genético. Assim, as gramíneas mais cultivadas, apesar DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO de produzirem grande quantidade de material forrageiro durante o período das águas, apresentam um período muito curto no qual a forragem por elas produzida possui qualidade capaz de possibilitar desempenhos compatíveis com a necessidade requerida para manter sistemas competitivos de alta produção. Uma estratégia adequada de suplementação seria maximizar o uso de forragem através da otimização de sua digestão, mas o suplemento não deverá suprir os nutrientes além dos requisitos animais. Tradicionalmente, suplementos alimentares são fornecidos para animais a pasto durante os meses de inverno e períodos de dormência da planta no verão, quando a qualidade da forragem é baixa. Sob estas condições, a maioria do suplemento é usada para mantença e, frequentemente, proteína é o nutriente mais limitante. Os animais em pastejo na época seca não sofrem somente de carência de proteína, mas também de carência de energia. Apesar de ser de vital importância, a energia é considerada um nutriente de natureza secundária, dandose maior ênfase à correção das deficiências proteicas das pastagens. O fornecimento de suplementação de energia apenas não poderia por si só, eliminar tanto as deficiências energéticas como as proteicas, por não atender completamente esta última. Por outro lado, tanto a deficiência em energia como em proteína podem ser eliminadas apenas pela correção na deficiência proteica. Desta forma, a suplementação de energia poderia ocorrer indiretamente através do fornecimento de proteína. Assim, nos períodos de estacionalidade de produção de forragem, período da seca, ou criações onde os animais são mantidos em pastagens de baixo valor nutricional, o fornecimento de sal proteinado se constitui em uma alternativa de manejo nutricional para suprir a deficiência de proteína para o gado criado de maneira extensiva. Enquanto o fato de se fundamentar em pastagens resulta, por um lado, em vantagem comparativa por viabilizar custos de produção relativamente baixos, por outro, a utilização exclusiva dessa fonte de alimentação tem, neste momento, em que as competitividades por preço e por qualidade de produto impõem mudanças no setor, por apresentar-se bioeconomicamente inviável em muitas situações. Isso é agravado, principalmente, pela forma como essas pastagens são manejadas. Nos sistemas que utilizam a suplementação com mistura de concentrados na seca (semiconfinamento), há necessidade de vedar áreas de pastagem para utilização. Nos sistemas mais intensificados, a recria e/ou a terminação podem ocorrer em pastos com diferentes graus de correção e fertilização dos solos. A correção e a adubação das pastagens aumentam a produção e a qualidade da forragem disponível para os bovinos. Dessa maneira, é possível aumentar a taxa de lotação e o ganho diário de peso vivo, resultando em maiores produções por unidade de área. Aqueles que fazem uso do confinamento de bovinos como técnica para reduzir a idade de abate liberam áreas de pastagens para outras categorias de animais e reduzem a taxa de lotação das pastagens nos períodos críticos (seca), obtendo, dessa maneira, melhor taxa 41 de abate, carcaças mais pesadas, com mais qualidade de acabamento na entressafra e maior produção de carne por unidade de área. O atendimento dessa demanda ampla de melhoria de eficiência será alcançado pelos sistemas de produção de gado de corte de diversas maneiras, dentre elas o desenvolvimento de sistemas especializados nas diferentes fases até a produção de carne, passando pelo uso de animais de alto potencial genético em sistemas, envolvendo pastagens adubadas com pastejo rotacionado, suplementação alimentar em pasto e confinamento. 6.3 Índices zootécnicos É uma ferramenta que permite verificar o desempenho produtivo e reprodutivo do rebanho, permitindo ao produtor a avaliação econômica do negócio. Esses índices refletem em forma numérica o desempenho dos diversos parâmetros da exploração pecuária. Para tanto, há necessidade de que os produtores realizem a marcação individual dos animais, datas e pesos ao nascimento e a desmama, ocorrência de mortes e abortos, diagnóstico de gestação e o registro das principais ocorrências e práticas de manejo utilizadas na propriedade. Os índices zootécnicos podem ser divididos em índices reprodutivos e índices produtivos. Índices reprodutivos A maioria das características reprodutivas é influenciada mais pelo meio ambiente, 42 destacando-se a alimentação, do que pela herança genética. A infertilidade ou a subfertilidade das matrizes afeta diretamente a eficiência reprodutiva do rebanho. A seguir serão apresentados os parâmetros zootécnicos reprodutivos de importância para a pecuária de corte. Índice de natalidade É a forma de medir o resultado das fêmeas em cobertura; pode ser calculado pela seguinte fórmula: % Índice de natalidade = Nº de bezerros nascidos x 100 Nº de fêmeas em cobertura Eficiência reprodutiva É o parâmetro mais importante na reprodução. Representa o total de animais desmamados em relação às vacas expostas em reprodução dentro de determinado ano. A eficiência reprodutiva do rebanho pode ser calculada através da seguinte fórmula: % Eficiência reprodutiva = Nº de bezerros desmamadosx100 Nº de fêmeas em cobertura Na Tabela 9 são apresentados os resultados de uma simulação com diferentes taxas de natalidade para a produção de 100 crias por ano. De acordo com os dados, à medida que ocorre a redução nos valores natalidade, há necessidade do aumento do número de matrizes para produzir a mesma quantidade de bezerros. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Tabela 9 Efeito da eficiência reprodutiva na estrutura do rebanho. Fonte: Adaptado de EL-MEMARI NETO, 2008. Período de serviço: Período de tempo em dias compreendido entre um parto e a primeira cobertura fértil posterior a esse parto, de uma mesma matriz. Idade a primeira cria: Idade na qual a novilha pariu pela primeira vez. Para efeito ilustrativo, a Tabela 10 apresenta uma simulação com idades ao primeiro parto Tabela 10 de dois a quatro anos, mantido o número de matrizes e a taxa de descarte anual. Observase, pelos dados da tabela, que, à medida que a idade ao primeiro parto aumenta, há necessidade de maior número de novilhas na fase de recria para substituição, aumentando desta maneira o custo de produção da propriedade. Efeito da idade da primeira cria na estrutura do rebanho. 43 Intervalo entre partos (IEP): Período compreendido entre dois partos consecutivos de uma vaca. Na Tabela 11 são apresentados os resultados da simulação do efeito de diferentes intervalos entre partos sobre o número de crias produzidas em um rebanho estabilizado com 100 matrizes. Nota-se que, à medida que aumenta o intervalo entre partos, há uma redução do número de crias produzidas. Tabela 11 Efeito do intervalo entre partos na produtividade de rebanhos considerando 100 matrizes por ano de produção. Índices produtivos São índices que afetam a estrutura do rebanho; dentre eles os mais importantes são: Mortalidades A mortalidade traduz a relação entre o número de mortes e o total do rebanho. Destaca-se que, devido à suscetibilidade a agentes patogênicos e predadores, deve-se avaliar a mortalidade separadamente para bezerros, animais jovens (desmame há 24 meses) e animais adultos (acima de 24 meses). Mortalidade em bezerros Mede a percentagem de mortes de animais do nascimento a desmama. % Mortalidade em bezerros = Nº de bezerros mortos até o desmame x 100 Nº de bezerros nascidos 44 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Mortalidade em animais jovens e adultos: Mede a percentagem de mortes de animais dentro da categoria: % Mortalidade dentro da categoria = Nº de animais da categoria mortos x 100 Nº de animais da categoria Taxa de vendas: Mede a percentagem de animais vendidos dentro do período determinado (ano agrícola ou civil): Taxa de vendas = Animais vendidos x 100 Total de rebanho (inicial) Taxa de desfrute: Este índice representa a produção do rebanho dentro do período avaliado. Taxa de desfrute = Nº de animais abatidos x 100 Nº de animais do rebanho 45 Dentre os fatores que contribuem para o baixo desfrute da bovinocultura de corte no Brasil, destaca-se a idade elevada de acasalamento das novilhas. Essa idade está associada com a fase de recria, que envolve o desenvolvimento do animal da desmama ao início do processo produtivo, ou seja, o estágio em que este atinge o peso ideal para manifestar a puberdade. A puberdade e, consequentemente, a idade ao primeiro parto são reflexo direto da taxa de crescimento, que é determinada pelo consumo de alimentos. As novilhas que concebem cedo na estação de monta desmamam bezerros maiores e têm maior produtividade durante a vida. A Tabela 12 apresenta os valores da taxa de desfrute média observada nos EUA, com 37%, Austrália, com 32%, Argentina, com 26% e Brasil com 22%. Os valores baixos da pecuária brasileira são quando comparados com os demais países, como consequência da idade tardia com que os animais são abatidos, em razão do sistema extensivo de criação predominante no Brasil. Tabela 12 Taxa de desfrute em países exportadores de carne. Lotação média anual Mede a carga animal que a fazenda mantém por unidade de área em hectare durante o ano. Deve ser avaliada em Unidade Animal (UA). *Uma UA equivale a um animal com 450 kg de peso vivo Lotação média UA/ha = rebanho médio área de pastagem No Brasil, com a característica de criação extensiva, a lotação média encontra-se próxima a 0,8 UA/ha. 46 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Produção de carne/ha: Mede a produção em kg de carcaça por unidade de área. Produção de carne/ha = estoque final – estoque inicial – compras + vendas área de pastagem A Tabela 13 apresenta os indicadores zootécnicos que caracterizam a média brasileira observada na maioria das propriedades que adotam o sistema extensivo de criação, em propriedades que utilizam média tecnologia, caracterizado pelo fornecimento de suplementação alimentar e melhoria das pastagens e os índices possíveis de serem obtidos em propriedades que utilizam nível alto de tecnologia observado no sistema intensivo de criação. Tabela 13 Índices zootécnicos médios do rebanho brasileiro e estimativa com uso mais intensivo de tecnologia. Fonte: Adaptado de Anualpec, 2006. 47 6.4 Cadeia produtiva da carne bovina no Brasil A cadeia produtiva da pecuária de corte no Brasil compreende um conjunto de agentes interativos, que são os fornecedores de insumos, os sistemas produtivos, as indústrias de transformação, a distribuição e comercialização e os consumidores finais. A cadeia produtiva da pecuária de corte apresenta características particulares que envolvem um reduzido nível de integração dos agentes, o que leva a uma deficiência na elaboração de estratégias entre os agentes da cadeia. Esta desorganização tem interferido no seu desempenho e faz com que normalmente as transações sejam orientadas pelo preço. Ela é composta por uma série de elos que podem ser agrupados, segundo a atividade que executam, em: 1 - Produção, distribuição e comercialização de insumos; 2 - Produção de animais para abate (pecuarista); 3 - Abate, processamento de carnes e subprodutos (frigoríficos); 4 - Transporte de animais, carcaças e de carne; 5 - Armazenamento e comercialização; 6 - Consumidor final. O principal elo da cadeia é a produção de animais para abate, que é caracterizada por apresentar produtores capitalizados que adotam conceitos tecnológicos avançados de produção animal, produzindo animais de 48 qualidade superior, e pequenos produtores que não dispõem de recursos para a implantação de melhorias na propriedade, como melhoramento genético, manejo sanitário adequado, técnicas de manejo nutricional durante o período de seca, entre outras que levam a colocar no mercado animais muitas vezes fora dos padrões de qualidade. Na outra ponta, o país dispõe de um parque industrial com frigoríficos modernos e bem equipados que atendem à legislação internacional. Contudo, ainda há uma parcela significativa de abates realizados sem fiscalização pelo serviço de inspeção sanitária. A literatura apresenta números que apontam que de 45 até 60% da carne consumida no mercado interno sejam originários de abate clandestino, que, além da sonegação de taxas e impostos, expõe a população aos riscos de doenças, muitas delas graves, como a neurocisticercose, toxoplasmose e tuberculose. A competitividade da cadeia da carne bovina depende crucialmente do estabelecimento de uma nova forma de coordenação, onde as tradicionais relações de mercado sejam substituídas ou, no mínimo, complementadas por relações cooperativas, que garantam a rastreabilidade dos produtos e assegurem seu fornecimento nas quantidades e qualidades requeridas pelos consumidores. A Figura 21 apresenta uma configuração da inter-relação dos diferentes segmentos que compõem a cadeia produtiva da bovinocultura de corte no Brasil. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Figura 21 Cadeia produtiva da bovinocultura de corte. 49 50 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 7 O Setor de Abate e Processamento no Brasil 7.1 Histórico O setor de abate no Brasil passou por verdadeira revolução durante o século XX. A indústria frigorífica, que no início do século apenas fabricava charque, atualmente exporta carnes in natura e processada para vários países do mundo, estando tecnologicamente tão avançada quanto às indústrias instaladas nos países desenvolvidos. O setor de abate iniciou suas atividades no Brasil no começo do século XX, com a entrada de grandes grupos econômicos multinacionais, os quais exerceram a liderança no mercado nacional até meados da década de 1970. A partir desse período, o entusiasmo exportador estimulou as empresas nacionais à modernização e à expansão da capacidade instalada. A indústria frigorífica nacional teve seu início com a produção de carnes congeladas e enlatadas, por meio de investimentos de origens norte-americana e inglesa. Esses investidores queriam tornar o País a base fornecedora de produtos de origem animal para o mundo, atendendo à grande demanda do mercado internacional durante e após a Primeira Guerra Mundial. A vinda dos frigoríficos estrangeiros para o Brasil, com o objetivo de exportar, impunha a necessidade de atender às exigências sanitárias internacionais. Desse modo, em 27 de janeiro de 1915, por meio do Decreto n. 11.460, entrou em operação o Serviço de Inspeção Federal (SIF). Com a nova legislação, predominaram os objetivos de produção voltados ao exterior, em detrimento dos objetivos voltados ao mercado interno. Assim, o país, que até 1914 não lograva penetrar no mercado externo, a partir de 1915 consegue exportar quantidades substanciais tanto de carne, quanto de banha. Em 1920, esses dois produtos igualam-se, praticamente, em valor ao açúcar, principal produto na pauta das exportações brasileiras desde os primeiros anos do século XX. O desenvolvimento dos processos de conservação a frio e o transporte marítimo refrigerado impulsionaram o mercado internacional de carnes congeladas e processadas. As grandes unidades industriais de abate passaram a incluir todas as fases do processo produtivo, desde o abate até o congelamento e enlatamento das carnes, com produção diversificada destinada principalmente à exportação. Os maiores grupos produtores de carne voltados à exportação de carnes congeladas e enlatadas do Brasil estavam sob o controle de quatro grupos internacionais. 51 A multinacional norte-americana pioneira a se instalar no Brasil foi a Wilson & Co., cujas operações iniciaram-se em 1914. Em seguida, instalou-se a Swift & Co., em 1917, localizando sua planta industrial na cidade de Rio Grande (RS), enquanto a Armour & Co. optou por instalar-se em Santana do Livramento (RS). Além disso, esses grupos multinacionais trouxeram dos seus países de origem o know-how, a tecnologia e as políticas de higiene e controle de carnes. Desse modo, os anos 1920 se caracterizaram como um período de predomínio de capitais de origem externa, com plantas industriais com elevada capacidade produtiva, produção de carnes bovinas congeladas e processadas com equipamentos de nível tecnológico semelhante aos de uso internacional e produção voltada para a exportação. Brasil, o segmento da indústria voltado para o abastecimento de carne fresca no mercado local teve sua produção consideravelmente ampliada. Ocorreram, então, alterações na indústria frigorífica, com o crescimento dos frigoríficos de médio porte, dotados de tecnologia de refrigeração e equipamentos mais eficientes para o abate, demonstrando uma diferenciação tecnológica, se comparados aos antigos matadouros. Os grandes frigoríficos instalados no país conviviam com a grande quantidade de pequenos matadouros que abasteciam principalmente os mercados locais com carne fresca e alguns produtos de salsicharia e charque. Esses matadouros não eram importantes no processo competitivo, o qual se concentrava entre os grandes frigoríficos exportadores, que adotaram como estratégia a expansão da capacidade produtiva. Os anos 70 se caracterizam pela expansão do mercado interno, decorrente da aceleração do processo de urbanização e do desenvolvimento da infraestrutura de transportes rodoviários, que criaram as condições para a formação de mercados regionais e de um mercado nacional integrado. Essas condições viabilizaram plantas industriais maiores voltadas ao atendimento do mercado interno, com processo produtivo integrado, produção mais diversificada e com produtos de maior valor agregado. Na década de 30, verificou-se no país a expansão do rebanho nacional e a acomodação do setor de abate e processamento. Os maiores grupos dedicaram-se à exportação, principalmente com o início da Segunda Guerra Mundial, e os frigoríficos menores, de capital nacional, abasteciam o mercado interno. Durante os anos 40 e 50 do século passado, devido ao processo de urbanização ocorrido no 52 Na década de 60, o setor industrial de carnes voltado para o mercado interno desenvolveuse, passando a conviver com os já existentes frigoríficos exportadores e os matadouros de pequeno porte. Esses estabelecimentos produziam, além de carnes frescas, refrigeradas e congeladas, embutidos e, posteriormente, enlatados. A década de 70 foi marcada também por profundas transformações que tiveram impactos significativos no setor de abate, como o início da migração dos pecuaristas para o Centro-Oeste, em busca de terras mais baratas, bem como diversas medidas emitidas pelo governo visando assegurar o abastecimento interno da carne bovina, que DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO se encontrava desequilibrado. Desse modo, foi permitida apenas a exportação de carnes industrializadas, devido ao seu maior valor agregado. No final dos anos 70 e início dos anos 80, começam a surgir novas empresas, com capacidades menores e instalação em locais diferentes do habitual, isto é, Estado de São Paulo e região Sul do Brasil. À medida que o Centro-Oeste se desenvolveu e começou a ganhar força como produtor de animais, as empresas frigoríficas se deslocaram e se instalaram nessa região, passando a concorrer principalmente com as unidades paulistas pela compra das matérias-primas e venda de carnes. A elevada capacidade ociosa e os altos custos de transporte da matéria-prima resultaram no fechamento de inúmeros frigoríficos, principalmente entre a segunda metade da década de 80 e o início da década de 90. Entretanto, mesmo com o fechamento dos grandes frigoríficos líderes da década de 80, o setor continua evoluindo em termos logísticos, tecnológicos e estrutura empresarial. Os frigoríficos médios e grandes assumiram, de maneira geral, nova estrutura empresarial, incorporando setores laterais, como couro e sabão, além de se especializarem no fornecimento de cortes especiais e produtos industrializados. No final da década de 80, grandes grupos nacionais do segmento de carnes brancas e oleaginosas entram para o segmento de carne bovina. Desse modo, o perfil da indústria frigorífica vai se alterando na medida em que os frigoríficos de carne bovina iam sendo adquiridos pelos grandes grupos de segmento de aves e suínos, concentrando cada vez mais a indústria da carne e aproximando as plantas industriais de abate da produção da matéria-prima. Entretanto, o surgimento desses grandes grupos, que atuavam em diversas cadeias de alimentos, e a crise da economia brasileira levaram muitos empresários a não ter a real percepção da situação da sua indústria. Nessa época, os grupos do segmento de bovino que se destacavam eram Bordon, Kaiowa e Anglo. O grupo Kaiowa teve sua falência decretada durante a década de 90; o grupo Anglo foi vendido em 1993, determinando o fim do capital estrangeiro no país, e as unidades do grupo Bordon foram repassadas para o grupo Bertin no segundo semestre de 2000. Assim, prevalecem atualmente no Brasil frigoríficos cuja origem do capital é nacional. O abate de bovinos é realizado para obtenção de carnes e derivados destinados ao consumo humano. Contudo, como consequência das operações de abate, originam-se vários subprodutos e resíduos que devem sofrer processamentos específicos em atendimento às leis e normas sanitárias e ambientais vigentes. De acordo com a abrangência dos processos, as unidades podem ser divididas em: Abatedouros São unidades industriais que realizam abate, produzindo carcaças e vísceras comestíveis. Em algumas unidades são realizadas desossa e realizam os chamados cortes de açougue. Estas unidades não industrializam a carne. 53 Frigoríficos São unidades industriais que podem ser divididas em dois tipos: os que abatem os animais e realizam todas as atividades dos abatedouros e industrializam a carne e os que não abatem animais e compram produtos de abatedouros e outros frigoríficos para industrializar. Graxaria São unidades onde ocorre o processamento dos subprodutos e resíduos dos abatedouros, frigoríficos e açougues. Esta unidade pode funcionar anexa aos abatedouros e Tabela 14 Volume de abate de bovinos. Fonte: JBS, 2010. 54 frigoríficos ou como uma unidade de negócio independente. A Figura 22 apresenta o fluxograma de abate de bovinos. Mais da metade do mercado mundial de carne bovina, que movimenta 7 milhões de toneladas por ano entre exportações e importações, está nas mãos de empresas brasileiras. A Tabela 14 apresenta o volume médio de abate de bovinos efetuados pelos maiores grupos de frigoríficos brasileiros em 2005. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Figura 22 Fluxograma de abate de bovinos. 55 56 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 8 Inspeção sanitária da cadeia da carne bovina no Brasil Em 03/12/1971 foi criada a Lei de Federalização da Inspeção (Lei nº 5.760), que estabeleceu que todos os frigoríficos paulatinamente passariam a ter fiscalização federal. Assim, os serviços de inspeção federal foram estendidos aos estabelecimentos voltados ao comércio municipal e interestadual, de forma mais rigorosa e estruturada, fiscalizando os aspectos higiênicos e sanitários do processo de produção da carne bovina. Consequentemente, muitos estabelecimen- Tabela 15 tos, por não atenderem às novas exigências, tiveram encerradas suas atividades. No entanto, no final da década de 80, por meio da Lei nº. 7.889, de 23/11/1989, reverte-se a obrigatoriedade da inspeção federal em todos os níveis de comercialização (municipal, estadual e federal), de modo que o sistema de inspeção sanitária para carnes no Brasil passou a contemplar três diferentes níveis da administração pública, de acordo com o tipo de comércio realizado (Tabela 15). Sistemas de inspeção de carnes no Brasil. Fonte: Adaptado de Azevedo, 2001. 57 O abate e o processamento em frigoríficos com SIF devem ser acompanhados permanentemente por um fiscal sanitário federal, sob pena de a produção ser paralisada. O selo do SIF passou a ser uma referência de qualidade para o consumidor brasileiro. No Sistema de Inspeção Estadual, ao contrário do que ocorre com o SIF, não há necessidade da presença permanente de um fiscal externo ao frigorífico na linha de abate. Em alguns casos, os funcionários que fazem a inspeção pertencem aos próprios quadros dos frigoríficos. Os serviços prestados pelos SIM são ainda mais heterogêneos em qualidade do que aqueles Tabela 16 58 Plantas por estado e município. prestados pelos SIE. Na maioria das vezes, o SIM se limita a exercer algum controle nos chamados abatedouros municipais. No Brasil existem 1,6 mil frigoríficos com algum tipo de inspeção (municipal, estadual ou federal). Entretanto, apenas 18 respondem por aproximadamente 98% das exportações. Estima-se que os cinco maiores frigoríficos são responsáveis por 65% das exportações de carne bovina brasileira, sendo que os dois maiores têm cerca de 40% de participação nesse mercado. Desse modo, evidencia-se elevado grau de concentração no setor de abate voltado à exportação. A Tabela 16 apresenta a relação dos frigoríficos com Sistema de Inspeção Federal por estado e município. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 59 60 Fonte: ABIEC, 2010. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO No mercado interno, embora açougues e pequenos varejistas ainda sejam capazes de competir localmente, eles tendem a ser substituídos por grandes cadeias de supermercados, onde 70% da carne bovina é comercializada. A Figura 23 apresenta a participação dos diferentes segmentos na comercialização de carne bovina no Brasil. Figura 23 Participação dos diferentes segmentos na comercialização de carne bovina no Brasil. Fonte: ABRAFIGRO, 2009. Nos supermercados, a carne bovina responde por 67% da comercialização de carnes realizada nos açougues, como visto na Figura 24. 61 Figura 24 Participação nos açougues dos supermercados na comercialização de carnes bovinas. Fonte: ABRAFIGRO, 2009. 62 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 9 Evolução e distribuição espacial de abate no Brasil As estatísticas oficiais do abate de bovinos são uma subestimativa da realidade do setor de abate e processamento, uma vez que não são contabilizadas as operações realizadas clandestinamente. Entretanto, essas estatísticas permitem um mapeamento da concentração geográfica da capacidade instalada de abate. Em 2007, foram abatidas cerca de 30,5 milhões de cabeças no País. Evidencia-se que, desde 1997, a região Centro-Oeste apresenta relativamente maior capacidade de abate, obtendo certa vantagem, em 2007, em relação às demais regiões. A região Norte, em 2007, se aproxima da capacidade de abate verificada na região Sudeste. Assim como os últimos anos foram marcados pelo avanço da pecuária de corte para as regiões Centro-Oeste e Norte do País, as indústrias de abate seguiram tendência similar. Enquanto no Brasil o setor de abate cresceu 14,3% no período de 1995 a 2006, nas regiões Centro-Oeste e Norte esse crescimento foi, respectivamente, de 46,9% e 138,5%, no mesmo período. Os respectivos crescimentos para os estados do Nordeste, Sul e Sudeste foram 22,2%,16,5% e -15,2% respectivamente. Ademais, além de a inserção no mercado externo propiciar maior concentração do setor de abate, as exigências desse mercado também promovem melhorias na gestão, produção e qualidade, contribuindo com o aumento na organização e formalidade dos frigoríficos, pois somente as unidades industriais mais eficientes tendem a se manter no mercado, em virtude de sua adequação às exigências internacionais. À medida que a influência dos consumidores cresce, os produtos cárneos têm se tornado mais diversificados, a fim de atender às preferências do consumidor. Atualmente, os consumidores “puxam” os produtos da cadeia de fornecimento com base em suas necessidades específicas e preferências. Essa mudança de um modelo “empurrão” para um modelo “puxão” já é uma tendência, sobretudo nos países desenvolvidos, e está moldando a estrutura e a gestão das cadeias de suprimentos de carne. No mercado externo, a maior parte da carne brasileira é vendida pelos traders, responsáveis pela distribuição, ou pelos importadores credenciados. A venda direta aos supermercados, restaurantes ou outros canais de distribuição também ocorre, mas em menor grau. Consequentemente, se a indústria da carne bovina brasileira atende aos consumidores externos, pode ser classificada como um modelo no qual os consumidores ditam as ações que devem ser tomadas pela cadeia de produção, estabelecendo, assim, quais tipos de carne bovina desejam e a qual preço. Por outro lado, à medida que 63 os consumidores domésticos tornam-se mais exigentes, a indústria da carne bovina tende a convergir para o modelo adotado para o mercado externo. Assim, à medida que os problemas de ordem logística e sanitários vão sendo resolvidos, a cadeia agroindustrial da carne bovina brasileira tornar-se-á ainda mais competitiva. Diante da demanda externa pela carne bovina brasileira e do potencial de crescimento do setor, levando em conta as vantagens inerentes à pecuária de corte 64 nacional, o setor industrial de carnes investe visando melhorar o processo produtivo e o atendimento das exigências ambientais e sanitárias dos mercados externos. Entretanto, o setor de abate no Brasil apresenta uma situação bastante diversificada em termos de estrutura das indústrias, de localização geográfica e de nível tecnológico Desse modo, existe uma dicotomia no setor: de um lado, indústrias modernas utilizando tecnologia de ponta; de outro, abatedouros clandestinos sem fiscalização. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 10 Pesos e rendimentos médios da carcaça e dos subprodutos de bovinos Em virtude da eficiência das operações de beneficiamento e devido à redução do preço da carne em relação ao custo original do boi em pé, os lucros dos frigoríficos passaram a residir na recuperação e utilização racional dos subprodutos, com uma infinidade de aplicações que movimentam outras cadeias agroindustriais. Assim, com objetivo ilustrativo, serão apresentados nas Tabelas 17 e 18 os pesos e rendimentos médios da carcaça e dos subprodutos de bovinos. Tabela 17 Pesos e rendimentos médios da carcaça e dos subprodutos de bovinos Fonte: Adaptado de Ledic et al., 2000. Tabela 18 Pesos e rendimentos médios da carcaça e dos subprodutos de bovinos. Fonte: Adaptado de Ledic et al., 2000. Na Tabela 19 são apresentados para efeitos ilustrativos os rendimentos médios das partes da carcaça e cortes de açougue de bovinos. 65 Tabela 19 Rendimentos médios das partes da carcaça e cortes de açougue. Fonte: Adaptado de Ledic et al., 2000. 66 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 10.1 Padronização dos cortes da carne bovina As exigências dos consumidores têm influenciado o desenvolvimento de alguns tipos de cortes de carne, causando revisões nos conceitos de carcaças, com o objetivo de fornecer uma extensa seleção de peças para açougue, variando em peso, preço e qualidade. De acordo com a Portaria nº 5, de 8 de novembro de 1988, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, os cortes da carne bovina são classificados como: Carcaça: Entende-se por carcaça o bovino abatido, sangrado, esfolado, eviscerado, desprovido de cabeça, patas, rabada, glândula mamária (na fêmea), verga, exceto suas raízes, e testículos (no macho). Após a sua divisão em meias carcaças, retiram-se ainda os rins, gorduras perirrenal e inguinal, “feridade-sangria”, medula espinhal, diafragma e seus pilares. A cabeça é separada da carcaça entre o osso occipital e a primeira vértebra cervical (atlas). As patas dianteiras são seccionadas à altura da articulação carpometacarpiana e as traseiras na tarsometatarsiana. Meia carcaça: Resulta do corte longitudinal da carcaça, abrangendo a sínfise isquiopubiana, a coluna vertebral e externa. VISTA LATERAL INTERNA VISTA DORSAL VISTA LATERAL EXTERNA 67 Quartos: Resulta da subdivisão da meiacarcaça em traseiro e dianteiro, por separação entre a quinta e a sexta costelas. A incisão deverá ser feita a igual distância das referidas costelas, alcançando as regiões esternal (peito) e da coluna vertebral, à altura do quinto espaço intervertebral. O quarto dianteiro corresponde à porção anterior (cranial) da meia carcaça e o quarto traseiro à posterior (caudal). 10.2 Subdivisão da meia carcaça em grandes peças e cortes I. Quarto dianteiro Resulta da subdivisão da meia carcaça, após a retirada do quarto traseiro. O quarto dianteiro é subdividido em grandes peças, que são: a paleta e o dianteiro-sem-paleta. A paleta é subdividida nos cortes: pá e músculo dianteiro: Pá: é o corte constituído de massas musculares e bases ósseas correspondentes obtidas da paleta por separação do músculo do dianteiro. A pá pode ser subdividida em outros cortes, que são: raquete, peixinho e coração da paleta. Raquete: é o corte constituído de massas musculares e bases ósseas correspondentes obtidas da paleta por separação do músculo dianteiro. Pode ainda ser chamado de marucha (espanhol), paleron (francês) ou blade clod (inglês). 68 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Peixinho: também conhecido como coió, lagartinho-da-pá, lombinho e tatuzinho-da-paleta. É o corte constituído da massa muscular situada na porção anterior da espinha da escápula (fossa supraespinhosa). Pode ainda ser chamado de chingolo (espanhol), jumeau (francês) ou chuck tender (inglês). Coração da paleta: também conhecido como centro da paleta, coração da paleta, pá, cruz machado, carne de sete, posta gorda e posta de paleta. Pode ainda ser chamado de corazón de paleta (espanhol), boule de macreuse (francês) ou shoulder clod (inglês). Músculo do dianteiro: é o corte constituído das massas musculares que envolvem o rádio e a ulna, compreendido entre o coração da paleta e o carpo. O dianteiro sem paleta é dividido em: Pescoço: é o corte constituído das massas musculares compreendidas entre o acém e a face anterior do atlas. Continuação do peito, tem formação muscular semelhante ao mesmo. Também chamado de cogote (espanhol), collier (francês) ou neck (inglês). Acém: também conhecido como agulha, lombo de agulha, alcatrinha, lombo de acém, lombinho de acém e tirante. Pode, ainda, ser chamado de aguja (espanhol), basses côtes (francês) ou chuck (inglês). Costela do dianteiro: também conhecido como ripa de costela e assado. É a parte superior da caixa torácica do bovino, tendo ossos maiores e mais largos, e carne um pouco mais seca do que a costela ponta de agulha ou costela minga. Pode ainda ser chamado de asado ou asado de tira (espanhol), plat-de-côtes (francês) ou short ribs (inglês). 69 Peito: também conhecido como granito, podendo ainda ser chamado de pecho (espanhol), poitrine (francês) ou brisket (inglês). Cupim: é também chamado de giba ou mamilo. II. Quarto traseiro Resulta da subdivisão da meia carcaça, após a retirada do quarto dianteiro, sendo também conhecido como traseiro comum. Traseiro-serrote: é obtido do quarto traseiro após a retirada da ponta-de-agulha. O traseiro-serrote é subdividido em grandes peças, tais como: lombo, alcatra e coxão. Lombo: é a grande peça, constituída das massas musculares e bases ósseas correspondentes, obtida do traseiro-serrote, após a retirada da alcatra e do coxão. O lombo é subdividido nos cortes contrafilé, capa-de-filé e filé mignon. Contrafilé: também conhecido como lombo, lombo desossado, filé curto, filé de lombo e filé. É chamado de contrafilé, pois na carcaça do bovino esse corte situa-se “contra” o filé mignon, ou seja, estão apenas separados pelas vértebras lombares. Pode ainda ser chamado de bife angosto ou bife de chorizo (espanhol), faux-filet (francês) ou striploin (inglês). 70 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Filé-de-costela: também denominado entrecote e charneira. Filé-de-lombo: é o corte constituído das massas musculares compreendidas entre o filé de costela e a alcatra. Capa-de-filé: é o corte constituído das massas musculares sobrepostas ao filé-de-costela. Filémignon: também conhecido como filé, pode ainda ser chamado de lomo (espanhol), filet (francês) ou tenderloin (inglês). Variantes do lombo/bisteca: este é um corte especial de lombo, feito através de secções transversais do músculo com osso sem o filé mignon. É chamado de côte ou côte de boeuf em francês. Variantes do lombo/tibone: é um corte especial de lombo, feito através de secções transversais do músculo com osso. O tibone tem parte final do contrafilé de um lado do osso e a parte central do filé mignon do outro. Também conhecido como T-Bone. Alcatra: também chamada de alcatra-grossa, coice e alcatre. Em francês é chamada de rumsteck e em inglês, rump. 71 Coxão: também chamado de coxão completo e toco. Coxão-mole: também conhecido como chã de dentro, chã, coxão de dentro, polpa e polpão. Pode ainda ser chamado de nalga de adentro (espanhol), tranche (francês) ou topside (inglês). Coxão-duro: também conhecido como coxão de fora, chandanca, posta vermelha, perniquim, lagarto plano, lagarto chato, lagarto vermelho, chã de fora e lagarto atravessado. Pode ainda ser chamado de cuadrada (espanhol), gîte a la noix (francês) ou flat (inglês). Lagarto: também conhecido como lagarto redondo, lagarto paulista, lagarto branco, posta branca, paulista e tatu. Pode ainda ser chamado de peceto (espanhol), rond de gîte (francês) ou eye of round (inglês). Patinho: também conhecido como bochecha, caturnil, cabeça de lombo e bola. Pode ainda ser chamado de bola de lomo (espanhol), rond de tranche ou noix (francês), noce na Itália, dió na Hungria ou knuckle (inglês). Músculo-mole: também conhecido como músculo traseiro. Pode ser chamado de tortuguita (espanhol), mouvant (francês) ou heel (inglês). Músculo-duro: também conhecido como músculo de segunda, músculo da perna e canela. Quando cortado com osso, é chamado de ossobuco. Pode ainda ser chamado de osobuco (espanhol), gîte (francês) ou shank (inglês). 72 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Ponta-de-agulha: também conhecida como capa do bife, é a parte inferior da caixa torácica do bovino, tendo, portanto, ossos mais finos e bastante cartilagem entremeada com gordura. Conhecida como tapa de bife (espanhol), flanchet (francês) ou cuberoll cover (inglês). Costela-do-traseiro: é o corte constituído das oito últimas costelas e massas musculares correspondentes anteriores ao vazio e resultante da divisão da ponta-de-agulha. Vazio ou aba-de-filé: é o corte constituído das massas musculares posteriores à costela-do-traseiro e resultante da divisão da ponta-de-agulha. Bife-do-vazio: é um corte do vazio, é chamado de bife de vacio (espanhol), bavette de flanchet (francês) e flank steak (inglês). Fralda: é o corte constituído dá massa muscular obtida do vazio, localizada posteriormente à costela-do-traseiro e na parte lateral (flanco) da cavidade abdominal. Diafragma: é também chamada de fraldinha e entranha-fina. Fonte: http://extranet.agricultura.gov.br/sislegisconsulta/servlet/VisualizarAnexo em 02-03-2010. 73 74 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 11 O Programa Brasileiro de Rastreabilidade Bovina e Bubalina (SISBOV) é um conjunto de leis e instruções normativas publicadas pelo governo federal que estabelece normas para a produção de carne bovina com garantia de origem e qualidade, de adesão voluntária, permanecendo a obrigatoriedade de adesão para as propriedades que comercializam com mercados que exijam a rastreabilidade. Em 14/07/2006, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou a Instrução Normativa n° 17, que regulamenta o Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (SISBOV), ou novo SISBOV. De acordo com as novas regras, todos os bovinos e bubalinos dos estabelecimentos rurais aprovados no SISBOV serão, obrigatoriamente, identificados individualmente e cadastrados na base Tabela 20 Rastreabilidade nacional de dados, com o registro de todos os insumos utilizados na propriedade durante o processo produtivo. Em 2009, o Brasil tinha 733 propriedades habilitadas a produzir gado para atender á exportação. Destaque para os Estados de Minas Gerais, com 337 propriedades, Goiás, com 146, Rio Grande do Sul, com 60, São Paulo, com 33, Paraná, com 18, Espírito Santo, com 17 e Mato Grosso do Sul, com duas propriedades habilitadas. Em 2010, o Estado do Rio de Janeiro não tem nenhuma propriedade registrada na Coordenação de Sistemas de Rastreabilidade – CSR - MAPA. A Tabela 20 apresenta as tendências mundiais de identificação e exigência da rastreabilidade bovina em países importadores e exportadores de carne bovina. Comparação das tendências mundiais de identificação e rastreabilidade bovina. Fonte: Adaptado ABIEC, 2010. 75 76 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 12 Universo da pesquisa e técnicas utilizadas O processo de amostragem foi constituído de fases como mostrado a seguir: 1ª Fase: Os valores absolutos do número de propriedades de gado de corte do Estado do Rio de Janeiro foram subdivididos e segundo as diferentes regiões administrativas por seus municípios, considerando três estratos quanto ao número de cabeças de gado de corte: até 250 cabeças; de 251 a 500; acima de 501 cabeças. Esses valores foram tabulados a fim de estabelecer a amostra para a aplicação dos 200 questionários. 2ª Fase: Tabulação do número de propriedades de gado de corte, considerando as três estratos para todos os municípios que têm criação de gado de corte. 3ª Fase: Uma segunda tabela foi elaborada a fim de acumular os valores totais de cada município, formando intervalos. 4ª Fase: O número de amostras para cada intervalo foi determinado com base na tabela de números aleatórios para 200 formulários em um total de 41.559 propriedades. 5ª Fase: O número de amostra em cada intervalo foi individualmente sorteado entre os três estratos, os quais foram distribuídos aleatoriamente (sorteio), excluindo-se os estratos com valor zero. 6º Fase: Foi estabelecido o número de questionários por estrato de criadores a serem aplicados por município dentro das respectivas regiões administrativas. 7º Fase: A distribuição da amostragem por região foi a seguinte: região Norte Fluminense, 29; Noroeste, 36; Serrana, 22; Baixadas Litorâneas, 34; Médio Paraíba, 28; Centro-Sul Fluminense, 15; Metropolitana, 30 e Costa Verde, 6 questionários. 77 78 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 13 Diagnóstico da bovinocultura de corte no Estado do Rio de Janeiro O Estado do Rio de Janeiro, tem 43.766,6km² , distribuídos por 92 municípios agrupados em oito regiões, conforme apresentado na Figura 25. Figura 25 Participação percentual das regiões de governo na área total do estado. Fonte: Adaptado de Fundação CIDE, 2008. Seu território é constituído de terras altas (planaltos) e baixas (baixadas) que dispõem de aproximadamente 2.600.000 hectares utilizados na agropecuária, dos quais um milhão e seiscentos mil hectares são de pastagens naturais ou cultivadas que são utilizadas por atividade pecuária, conforme apresentado na Figura 26 a seguir. 79 Figura 26 Percentual da área dos estabelecimentos agropecuários, por utilização das terras em 2006. Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE - Censo Agropecuário, 2006. A participação do Estado do Rio de Janeiro no rebanho brasileiro é de cerca de 1% do total, em torno de 2,1 milhões de cabeças distribuídos por todas as oito regiões administrativas (IBGE, 2009). Tabela 21 Distribuição regional do rebanho bovino no Estado do Rio de Janeiro. Notas: 1 - Os municípios sem informação para pelo menos um efetivo de rebanho não aparecem nas listas. 2 - Efetivos dos rebanhos em 31/12/2009. Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal, 2009. 80 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Dentre as regiões, a Norte Fluminense é a que apresenta o maior número de bovinos do estado, com 31,24% do rebanho total, seguido da região Noroeste, com 23,37%, da região do Médio Paraíba, com 12,60%, região das Baixadas Litorâneas, com 10,90%, região Serrana, com 10,71%, região Centro - Sul Fluminense, com 6,30%, região Metropolitana, com 3,26% e região da Costa Verde, com 1,62%. A Figura 27 apresenta a participação estadual, a participação regional, o número de rebanho e a distribuição do rebanho nos municípios que compõem a Região Norte do Estado. Figura 27 Região Norte Fluminense. Fonte: SEAPPA-RJ - Defesa Sanitária Animal, 2010. 81 A Região Norte Fluminense é a que apresenta o maior rebanho bovino do estado, com 557.281 cabeças de bovinos. O município de Campos dos Goytacazes é o que apresenta o maior rebanho da região e do estado, com 192 mil cabeças, seguido de Macaé,com 91 mil cabeças. Nesta região, os demais municípios, com exceção, Carapebus, com rebanho bovino estimado em 22 mil cabeças, apresentam rebanhos com mais de 25 mil cabeças. A Figura 28 apresenta a participação estadual, a participação regional, o número de rebanho e a distribuição do rebanho nos municípios que compõem a Região Noroeste do Estado. Figura 28 Região Noroeste Fluminense. Fonte: SEAPPA-RJ - Defesa Sanitária Animal, 2010. 82 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A região Noroeste é a que apresenta o segundo maior rebanho de bovinos do estado, com 470.998 cabeças. Nesta região, o município de Itaperuna é o que concentra o maior número de cabeças de bovinos, com 16,5% do rebanho da região. A Figura 29 apresenta a participação estadual, a participação regional, o número de rebanho e a distribuição do rebanho nos municípios que compõem a região do Médio Paraíba. Figura 29 Região do Médio Paraíba. Fonte: SEAPPA-RJ - Defesa Sanitária Animal, 2010. 83 Terceiro maior rebanho bovino do estado é a região do Médio Paraíba, com 274.672 bovinos. O município de Valença tem o maior rebanho da região, com aproximadamente 64 mil cabeças, representando 23% do rebanho regional. Nesta região, destacam-se, também, os rebanhos dos municípios de Barra Mansa, Rio Claro, Piraí, Resende e Barra do Piraí. A Figura 30 apresenta a participação estadual, a participação regional, o número de rebanho e a distribuição do rebanho nos municípios que compõem a Região das Baixadas Litorâneas. Figura 30 Região das Baixadas Litorâneas. Fonte: SEAPPA-RJ - Defesa Sanitária Animal, 2010. 84 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nesta região, o município de Silva Jardim, com cerca de 52.324 cabeças, Araruama, com 41.738 cabeças, Cachoeira de Macacu, com 30.072, e Casimiro de Abreu, com 27.031 cabeças, representam a localização de cerca de 60% do rebanho regional. A Figura 31 apresenta a participação estadual, a participação regional, o número de rebanho e a distribuição do rebanho nos municípios que compõem a região Serrana. Figura 31 Região Serrana. Fonte: SEAPPA-RJ - Defesa Sanitária Animal, 2010. 85 Na região Serrana, os maiores rebanhos se encontram nos municípios de Cantagalo, com 16,27%, Santa Maria Madalena, 12,35% , e São Sebastião do Alto, com 12,04%. A Figura 32 apresenta a participação estadual, a participação regional, o número de rebanho e a distribuição do rebanho nos municípios que compõem a região Centro-Sul. Figura 32 Região Centro - Sul Fluminense. Fonte: SEAPPA-RJ - Defesa Sanitária Animal, 2010. Nesta região, os destaques são para os rebanhos encontrados nos municípios de Vassouras, Paraíba do Sul e Sapucaia. 86 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A Figura 33 apresenta a participação estadual, participação regional, número de rebanho e distribuição do rebanho nos municípios que compõe a região Metropolitana. Figura 33 Região Metropolitana. Fonte: SEAPPA-RJ - Defesa Sanitária Animal, 2010. Nesta região, o maior rebanho é encontrado no município de Itaboraí, com aproximadamente 27 mil cabeças. 87 A Figura 34 apresenta a participação estadual, a participação regional, o número de rebanho e a distribuição do rebanho nos municípios que compõem a região Costa Verde. Figura 34 Região da Costa Verde. Fonte: SEAPPA-RJ - Defesa Sanitária Animal, 2010. Nesta região, no município de Itaguaí são encontrados aproximadamente 46% do rebanho bovino. 88 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 14 Perfil do Produtor O nível de escolaridade dos produtores das diferentes regiões administrativas é apresentado na tabela 22. Tabela 22 Nível de escolaridade dos criadores nas diferentes regiões. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os dados da pesquisa evidenciam que, na média do estado, 33,4% dos criadores têm formação em nível superior, 27,8% têm o segundo grau completo, 21,5% apresentam o primeiro grau completo e 9% o primeiro grau incompleto. A Tabela 23 apresenta a frequência referente à maneira pela qual o produtor iniciou suas atividades na pecuária de corte. Tabela 23 Frequência de produtores em relação ao início das atividades como pecuarista de corte (%). Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 89 Os dados da pesquisa mostram que, nas propriedades com rebanhos acima de 501 cabeças, os produtores tiveram acesso à sua propriedade de terra através de herança familiar, correspondendo neste caso a 83,3% dos rebanhos pesquisados. Por outro lado, as aquisições de propriedades foram maiores onde são encontrados rebanhos menores que 500 cabeças. A Tabela 24 apresenta a frequência (%) do tempo médio em dias de permanência do pecuarista na propriedade. Tabela 24 Tempo de permanência média na fazenda (dias/mês), em percentual. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com a pesquisa, 34,9% dos criadores permanecem nas propriedades de 26 a 30 dias no mês, principalmente em propriedades com rebanhos menores que 250 cabeças, que representam 45,4% deste segmento. A Tabela 25 apresenta a frequência em relação à composição da renda dos produtores. Tabela 25 Composição da renda do produtor. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 90 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Os dados da pesquisa mostram que 78% dos produtores possuem renda externa à fazenda. A Tabela 26 apresenta a frequência das atividades que compõem as fontes de renda externa dos produtores. Tabela 26 Fonte de renda externa dos produtores. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os dados levantados pela pesquisa de campo, 52,4% dos produtores têm como origem da sua renda externa o desenvolvimento de negócios próprios (comércio, indústrias etc.). A Tabela 27 apresenta a frequência das principais opções de investimento dos produtores com recursos não orçamentários. Tabela 27 Principais opções de investimento dos produtores com recursos não orçamentários. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 91 De acordo com a pesquisa, em todos os extratos pesquisados a tendência observada foi a de que os criadores aplicariam os recursos ‘extraorçamentários’ em melhorias nas propriedades (62,9%) e como segunda opção a compra de animais (23,2%). Estas observações indicam o comprometimento dos produtores com a atividade desenvolvida. A Tabela 28 identifica a responsabilidade pela gestão da propriedade de acordo com os diferentes níveis de criadores. Tabela 28 Administração da produção de gado de corte da propriedade. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os dados da pesquisa, 44,8% das propriedades pesquisadas no estado são administradas pelo proprietário e pelo administrador contratado. Contudo, nas propriedades com menores rebanhos a tendência observada foi de uma participação maior na gestão da propriedade apenas do proprietário. A Figura 35 apresenta a frequência de participação da esposa do proprietário nas atividades de gestão da fazenda. 92 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Figura 35 Participação das esposas na gestão da propriedade. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os dados, 69,9% das esposas não participam nas atividades de gestão das fazendas. Esta tendência foi observada nos diferentes extratos pesquisados e nas diferentes regiões administrativas. A Figura 36 apresenta a frequência de participação dos criadores em parcerias dentro e fora da propriedade. Figura 36 Frequência (%) dos entrevistados que participam de parcerias. 93 Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os resultados mostraram que nos diferentes extratos a tendência observada foi pela não realização de parcerias. A Tabela 29 apresenta a frequência de propriedades que recolhem Imposto Territorial Rural (ITR). Tabela 29 Frequência de propriedades que recolhem Imposto Territorial Rural (ITR). Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os resultados mostraram que a grande maioria das propriedades paga o ITR. Entretanto, no extrato de criadores de até 250 cabeças foi observado que não há registro de 18,9% das propriedades na Receita Federal. Estas propriedades estão localizadas nas regiões administrativas Sul Fluminense, Baixadas Litorâneas e Metropolitana. A Tabela 30 apresenta a frequência de propriedades nas diferentes regiões administrativas que dispõem de áreas florestadas para reserva legal. Tabela 30 Frequência de propriedades com áreas florestadas para reserva legal. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 94 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Os resultados mostraram que 76,4% acreditam possuir áreas florestadas a serem destinadas para reserva legal. Entretanto, foi observado que 20,5% das propriedades não apresentam áreas destinadas para reserva legal. Estas propriedades estão localizadas em todas as regiões administrativas. 95 96 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 15 Administração da empresa rural A Tabela 31 apresenta a frequência dos principais índices zootécnicos realizados nas propriedades. Tabela 31 Escrituração zootécnica realizada nos extratos de produção pesquisados. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os resultados da pesquisa, menos de 30% dos criadores das diferentes regiões e nos diferentes extratos realizam escrituração zootécnica. Esta falta de hábito do produtor em gerar relatórios que comprovam o desempenho dos animais, auxiliando, portanto, na escolha dos melhores animais do rebanho, pode comprometer a eficiência produtiva e reprodutiva das propriedades. A Tabela 32 apresenta a frequência do tipo de mão de obra utilizada em propriedades das diferentes regiões administrativas do estado. 97 Tabela 32 Frequência do tipo de mão de obra utilizada em propriedades das diferentes regiões administrativas do estado. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os resultados mostraram que nas propriedades há o predomínio de mão de obra terceirizada em relação à mão de obra familiar. Em todas as regiões, foi identificado que a mão de obra contratada permanente é com registro em carteira profissional. A Tabela 33 indica o resultado da avaliação da qualidade da mão de obra contratada nas propriedades. Tabela 33 Avaliação da mão de obra contratada nas propriedades. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De maneira geral, os resultados indicam que a mão de obra contratada foi considerada boa em todas as regiões. Entretanto, nas propriedades com até 250 cabeças a pesquisa indicou a predominância de avaliação regular. Embora a pesquisa não tenha identificado as razões, é possível que este resultado seja consequência dos níveis educacional e salarial dos contratados deste extrato de rebanho. 98 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A Tabela 34 apresenta a frequência de participação familiar em programas de capacitação. Tabela 34 Participação familiar em programas de capacitação, em percentual. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os resultados mostraram que 12,8% dos produtores participaram de programas de capacitação. Esta baixa frequência foi uniforme nos extratos pesquisados. A Tabela 35 apresenta a frequência de participação da mão de obra contratada em programas de capacitação. Tabela 35 Participação da mão de obra contratada em programas de capacitação. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os resultados mostraram uma frequência média de 20,9% na participação em programas de qualificação por parte dos colaboradores. Nas propriedades com rebanhos acima de 500 cabeças, a frequência observada foi de 37,4%, evidenciando uma possível preocupação dos grandes proprietários na qualificação da mão de obra contratada. 99 A Tabela 36 apresenta a frequência de participação das entidades que promovem mais frequentemente programas de capacitação, segundo estratos de produção. Tabela 36 Instituições que promoveram programas de capacitação. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. A pesquisa mostrou que, dentre as opções, o SENAR foi à entidade que mais promoveu programas de capacitação para 46,4% dos entrevistados. Contudo, na análise individual por região administrativa, foi observado que nas regiões Metropolitana e Costa Verde há necessidade de uma maior ação das entidades na realização de programas de capacitação para os produtores e colaboradores. A Tabela 37 apresenta a frequência das avaliações das entidades que promoveram mais frequentemente programas de capacitação, segundo estratos de produção. 100 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Tabela 37 Avaliação das entidades que promovem programa de capacitação de acordo com o estrato de produção. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Na avaliação dos produtores, o SENAR, dentre as entidades, foi a mais bem avaliada pelos produtores consultados, tendo obtido na avaliação muito boa e boa 61,6% de média nos diferentes estratos conforme dados da Tabela 37. 101 102 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 16 Assistência Técnica e Capacitação Tecnológica A Figura 37 apresenta a frequência da origem de recebimento de assistência técnica de acordo com os estratos estudados. Figura 37 Frequência da origem de recebimento de assistência técnica de acordo com os estratos estudados. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os dados, 68,6% das propriedades pesquisadas recebem assistência técnica, sendo 31,4% particular, 28,9% pública e 14,1% de outras entidades. A Tabela 40 apresenta a frequência de recebimento de assistência técnica de acordo com os estratos estudados. 103 Tabela 38 Frequência no recebimento de assistência técnica durante o ano (dias). Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com o resultado da pesquisa, em todos os estratos estudados, 44,6% das propriedades receberam visita técnica mais de cinco vezes durante o ano. A Figura 34 apresenta a frequência de recebimento de informação acerca de assuntos ligados à pecuária de corte pelo produtor das diferentes regiões administrativas. Figura 34 104 Fontes de informações em assuntos ligados à pecuária de corte. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Os programas de rádio e televisão com 30,8% e jornais e revistas com 31,4% foram os meios de comunicação que mais se destacaram no fornecimento de informações acerca de assuntos ligados à pecuária de corte aos produtores dos diferentes estratos pesquisados. Os dados também evidenciaram que os produtores, independentemente dos estratos, já utilizam a internet como meio de comunicação. A avaliação realizada pelos produtores em relação à qualidade das informações recebidas é apresentada na Tabela 39. Tabela 39 Avaliação da produtores. qualidade das informações técnicas recebidas pelos Fonte: Pesquisa de campo, 2010. As informações técnicas recebidas dos diferentes meios de comunicação foram consideradas muito boas por 64,2% dos produtores pesquisados e regulares por 27,1%. As frequências observadas nos diferentes estratos pesquisados quanto ao grau de necessidade de informações técnicas são apresentadas na Tabela 40. Tabela 40 Frequência das necessidades acerca de informações identificadas pelos produtores. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 105 Dentre as opções oferecidas aos produtores, informações relacionadas às áreas de manejo nutricional e manejo reprodutivo foram identificadas por 30,8% e 21,1%, respectivamente, como sendo as áreas do conhecimento que os produtores mais necessitam de informações. Contudo, a pesquisa revelou, também, que no estrato acima de 501 cabeças foi identificada por 20,5% dos produtores entrevistados a necessidade de informações na área de planejamento da propriedade agropecuária. 106 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 17 Participação em instituições representativas dos produtores A Tabela 41 apresenta a frequência de participação dos produtores em instituições representativas dos produtores. Tabela 41 Participação dos produtores em instituições representativas. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os dados da pesquisa identificaram que 65,6% dos produtores participam das instituições representativas. As frequências referentes à identificação das instituições às quais os produtores são vinculados e o grau de envolvimento são apresentados nas Tabelas 42 e 43. Tabela 42 Participação dos produtores em instituições representativas. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 107 Tabela 43 Participação dos produtores em instituições representativas. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os dados da pesquisa evidenciaram que a maioria dos produtores (64,6%) está vinculada aos sindicatos rurais (FAERJ). No entanto, a pesquisa revela, também, que 64,7%, dos produtores pesquisados nos diferentes estratos afirmaram que são pouco participativos nas atividades desenvolvidas pelas instituições representativas. A Tabela 44 apresenta a frequência da opinião dos produtores entrevistados em relação à qualidade dos serviços prestados pelas instituições que os representam. Tabela 44 Frequência da opinião dos produtores em relação aos serviços prestados pelas instituições representativas. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 108 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A pesquisa de campo mostrou que, no estrato de criadores com até 250 cabeças, 25,5% dos produtores classificam os serviços prestados pela FAERJ como muito bons, como bons os valores observados foram de 37,4%, e para 13,5% dos produtores os serviços foram considerados como regulares. 37,5%, bons para 31,2% e regulares para 26% dos produtores entrevistados. Os serviços prestados pelas associações de criadores foram avaliados com muito bons por 10,5%, e bons por 24,1% e regulares para 26,0% dos criadores. Para as associações de produtores, os serviços são classificados como bons para 27,4% dos produtores e como regulares para 25,9%. Para as associações de criadores, os valores observados foram de 19,9% como bons e 39,0% como regulares. Os serviços prestados pelas cooperativas foram avaliados como muito bons por 4,1% dos entrevistados, bons para 34,8% dos criadores e regulares para 29,9% dos produtores. Para os produtores classificados no estrato acima de 501 cabeças, a avaliação dos serviços prestados pela FAERJ foi considerada como muito boa por 50,6% e boa por 21,2% dos produtores entrevistados. Os serviços prestados pelas cooperativas foram considerados por 15,2% dos criadores como bons e para 24,9% dos produtores como regulares. Um fato que chama a atenção na análise das respostas é o número elevado de produtores que não sabiam ou não se propuseram a emitir sua opinião a respeito do assunto. Para os produtores do estrato de 251 a 500 cabeças, 43,8%, 23,8% e 6,9% dos entrevistados consideraram os serviços prestados pela FAERJ como muito bons, bons e regulares, respectivamente. As associações de produtores tiveram seus serviços avaliados como muito bons por Nas associações de produtores os serviços foram avaliados como muito bons por 4,1%, bons por 29,1% e regulares por 14,6% dos produtores entrevistados. As associações de criadores tiveram seus serviços avaliados com muito bons por 6,0%, bons para 34,8% e regulares por 16,1% dos produtores. Os serviços prestados pelas cooperativas foram considerados como muito bons por 4,1% dos produtores, bons por 11,6% e como regulares por 30,5% dos entrevistados. 109 110 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 18 Índice de manejo e tecnológico A Tabela 45 mostra as principais atividades desenvolvidas nas propriedades pesquisadas. Tabela 45 Principais atividades desenvolvidas nas propriedades. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Em 75% das propriedades avaliadas a principal atividade desenvolvida é a criação de gado de corte. Nos diferentes segmentos, 19,6% exploram a produção de leite, 2,7% as atividades agrícolas e 2,8% outras atividades. A Tabela 46 apresenta as principais fases da criação desenvolvidas nas propriedades pesquisadas. Tabela 46 Principais fases da criação desenvolvidas nas propriedades. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 111 Os dados da pesquisa evidenciaram que 28,6%, dos produtores desenvolvem as três fases de criação. As fases de recria e engorda são desenvolvidas por 17,7% das propriedades. As fases de cria e recria são realizadas por 17,3% dos entrevistados. A fase de cria é desenvolvida por 16,5% dos produtores. A fase de engorda, por 16,2%, e somente 3,6% dos produtores realizam a fase de recria. A Tabela 47 apresenta o local de aquisição de animais pelos produtores que realizam em suas propriedades as fases de recria e engorda. Tabela 47 Local de aquisição de animais pelos produtores que realizam as fases de recria e engorda. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os resultados, 80,8% dos animais são adquiridos de produtores da própria região onde estão localizadas as propriedades e 16,1% nas diferentes regiões do estado. A Tabela 48 apresenta o sistema de criação adotado pelas diferentes propriedades nos diferentes estratos de criação. Tabela 48 Sistema de criação nos diferentes estratos de produção. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 112 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Em todos os estratos pesquisados os resultados mostraram que, em 70,6% das propriedades, os animais são criados a pasto e suplementados apenas com sal mineral. Em 15,7% das criações, além do sal mineral, os produtores fornecem aos animais outros suplementos, e em 13,1% das propriedades os animais são criados apenas a pasto. Os resultados permitem inferir que o sistema de criação predominante é o extensivo a base de pasto e que um número expressivo de produtores, 39,4%, não mineralizam seus animais, o que pode comprometer os desempenhos produtivos e reprodutivos dos animais. As Tabelas 49 e 50 e 51 apresentam as frequências em relação à procedência dos animais nos estratos pesquisados. Tabela 49 Procedência dos animais para criadores com até 250 cabeças. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com o resultado da pesquisa de campo, para este estrato de produção os animais para reposição e terminação são adquiridos de pequenos produtores. Os touros para reprodução têm sua aquisição realizada preferencialmente nos médios produtores. 113 Tabela 50 Procedência dos animais para criadores com até 500 cabeças. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Para criadores com até 500 cabeças, a aquisição de animais de reposição são adquiridos de pequenos e médios produtores. As matrizes e touros são comprados de grandes produtores. Tabela 51 Procedência dos animais para criadores acima de 501 cabeças. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Neste estrato os produtores adquirem os animais para reposição em maior percentual dos pequenos e médios criadores. Os produtores que realizam a fase de engorda adquirem os bois de grandes produtores. 114 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A Tabela 52 apresenta a frequência de fornecimento de suplementação de acordo com os estratos de criadores pesquisados. Tabela 52 Fornecimento de suplementação alimentar de acordo com estrato pesquisado. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. A prática do fornecimento de sal proteinado é adotada por 40,1% dos criadores pesquisados nos diferentes estratos. O fornecimento de ureia, concentrado, sal proteinado e ureia é realizado por menos de 7% dos produtores. A pesquisa mostra, também, que 43,1% dos produtores não fornecem nenhuma suplementação adicional ao rebanho. A Tabela 53 apresenta as frequências das razões apresentadas pelos produtores para o fornecimento de suplementação alimentar. Tabela 53 Razões apresentadas pelos produtores para o fornecimento de suplementação alimentar. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 115 Os dados da pesquisa de campo revelam que 39,7% dos entrevistados fornecem suplementação alimentar aos animais com o objetivo de evitar perda de peso. Para 35,4% dos produtores, a razão para fornecimento do suplemento é a melhora do desempenho reprodutivo, e 24,9% dos entrevistados apontam que o fornecimento da suplementação tem como objetivo aumentar o ganho de peso. A Tabela 54 apresenta a frequência do tipo de pastagem predominante nas propriedades. Tabela 54 Tipos de pastagens predominantes nos diferentes estratos pesquisados. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os resultados, 82,8% das pastagens são formadas e 17,2% das áreas de pastos são constituídas de pastagens naturais. As forrageiras predominantes nas propriedades pesquisadas são apresentadas na Tabela 55. Tabela 55 Forrageiras predominantes nas pastagens de acordo com o estrato de produção. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 116 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Segundo dados da Tabela 56, as forrageiras do gênero Brachiaria são as que predominam nos diferentes estratos. Neste estudo, foi constatada em várias propriedades, além dos citados anteriormente, a presença dos capins colonião (Panicum máximum), pangola (Digitária decumbens) e jaraguá (Hiparrhenia rufa). O sistema de pastejo adotado pelas diferentes propriedades nos estratos selecionados são apresentados na Tabela 56. Tabela 56 Sistema de pastejo adotado Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os resultados, 59,5% das propriedades estudadas adotam o sistema rotacionado de pastejo, evidenciando a preocupação do produtor em melhorar a eficiência de pastejo em suas áreas. Contudo, um número significativo de produtores, 40,5% dos entrevistados, adota como sistema o pastejo contínuo. A Tabela 57 apresenta a frequência da utilização de forrageiras de corte pelas propriedades nos estratos estudados. Tabela 57 Utilização de forrageiras de corte. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 117 Os dados da pesquisa evidenciam que a baixa intensidade de uso de forrageiras para corte (79,9% das observações) ocorre como consequência do sistema extensivo de criação adotada pelos criadores de bovinos para corte. O uso de forrageiras para corte é adotado nas propriedades que, além da produção de bovinos e corte exploram, também, a produção de leite. A Tabela 58 apresenta a frequência em relação à presença de pragas nas pastagens. Tabela 58 Presença de pragas nas pastagens. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os resultados, 63,7% dos produtores pesquisados informaram que na sua propriedade há infestação de pragas nas pastagens. A principal praga das pastagens identificada pela pesquisa foi a de cigarrinhas, que são insetos que infestam as pastagens comprometendo sua produção e qualidade. Contudo, foi também citada pelos produtores a infestação das pastagens por lagartas, que é considerada uma praga ocasional. A Tabela 59 apresenta a frequência das respostas dos produtores quando questionados a respeito da(s) ação(ões) que são realizadas na propriedade em relação ao excesso de forragem durante a estação chuvosa. Tabela 59 Estratégias adotadas pelos produtores durante a estação das águas. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 118 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Os resultados obtidos mostram que 65,4% dos produtores pesquisados não adotam nenhuma ação especifica durante o período de excesso de produção de forragens. Para 17,4% a adoção da prática de diferimento de pastagens ou vedação das pastagens tem sido uma alternativa para a oferta de forragem durante o período da seca e 13,5% adotam a prática de comprar gado ou alugar o pasto excedente. As Tabelas 60 e 61 apresentam os valores médios das frequências de respostas dos produtores a respeito do conhecimento da capacidade de suporte das pastagens de sua propriedade, as estratégias adotadas na taxa de lotação das pastagens e fatores considerados por ocasião da tomada de decisão sobre a taxa de lotação a ser adotada na propriedade. Tabela 60 Conhecimento da capacidade de suporte e estratégias de lotação das pastagens. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Tabela 61 Fatores considerados na tomada decisão sobre a taxa de lotação das pastagens. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 119 De acordo com os resultados, 74,2% dos produtores afirmam conhecer a taxa de suporte das pastagens de sua propriedade e 56,6% usam com estratégia de lotação a colocação de animais na capacidade de suporte estabelecida para as pastagens. Para 81,5% dos produtores, o principal fator a ser levado em consideração no estabelecimento da taxa de lotação das pastagens é o estado das pastagens por ocasião da tomada de decisão. A Tabela 62 apresenta as atividades realizadas pelos produtores na recuperação das áreas de pastagens das propriedades nos diferentes estratos. Tabela 62 Operações utilizadas em processo de recuperação das pastagens. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Nos diferentes estratos estudados, os produtores têm como prática a aplicação de calcário e semeadura após a aplicação de fertilizantes. No entanto, 50,1% dos produtores com até 250 cabeças utilizam como prática somente o preparo do solo; a mesma estratégia é utilizada por 39,2% dos criadores com até 500 cabeças e por 35,8% dos produtores acima de 501 cabeças. A Tabela 63 apresenta a frequência de máquinas e equipamentos disponível nas propriedades pesquisadas. Tabela 63 Frequência de máquinas e equipamentos nas propriedades. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 120 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nas propriedades pesquisadas 70,7% têm tratores, 45% dispõem de roçadeiras, 50,9% possuem grade e 58,5%, arado. A Tabela 64 apresenta a composição racial dos rebanhos das propriedades pesquisadas nos diferentes estratos. Tabela 64 Composição racial dos rebanhos nos diferentes estratos. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os resultados, nos diferentes estratos pesquisados a maior frequência tanto para animais machos como fêmeas são de mestiços azebuados com predominância de sangue nelore, denominados anelorados. O segundo grupamento racial predominante nas propriedades é de animais da raça Nelore com 29,5% e 31% para machos e fêmeas. Os mestiços leiteiros se destacam como terceiro grupamento, com cerca de 20% e 13,5%; esta observação se deve ao fato de algumas propriedades pesquisadas desenvolverem a exploração de leite em conjunto com a produção de animais para corte com aproveitamento dos descartes da exploração leiteira. Nesta pesquisa, destacamos o crescimento de propriedades, nos três estratos pesquisados, que têm como principal grupamento racial a raça Brahman. A Tabela 65 apresenta a frequência da opinião dos produtores em relação à evolução do rebanho nos diferentes estratos estudados. 121 Tabela 65 Evolução do rebanho. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os dados levantados na pesquisa mostram que em 44,7% das propriedades avaliadas os rebanhos foram considerados estabilizados. No entanto, a pesquisa mostrou que em 42% das propriedades o rebanho tem aumentado. Esse aumento no rebanho pode ser creditado a melhorias no manejo adotado, o que tem proporcionado aos produtores a aquisição de animais. A Tabela 66 mostra a frequência das respostas dos produtores dos estratos selecionados sobre se estariam dispostos a aumentar o rebanho no caso de aumento das vendas ou do preço dos animais e como este aumento poderia ser feito. Tabela 66 Frequência das respostas em relação ao aumento do rebanho. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os resultados, 76,4% afirmam que estariam dispostos a aumentar o rebanho, como consequência do aumento nas vendas. Para implementar o aumento do rebanho, de acordo com 44,5% dos entrevistados, há necessidade de aquisição de novas áreas, principalmente nas propriedades com rebanhos acima de 501 cabeças, em que 72,8% dos produtores entrevistados manifestaram esta opção. 122 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Esta tendência mostra que as propriedades com maiores rebanhos evidenciam que o produtor deste estrato pesquisado opta pela compra de terra ao invés de melhorar os índices de sua propriedade. Nos demais estratos pesquisados, a tendência observada foi de que o aumento do rebanho pode ser feito dentro da própria propriedade, contudo com recuperação das pastagens degradadas. A Tabela 67 apresenta os valores em percentuais correspondentes às respostas dos produtores acerca do conhecimento e aplicação da prática de cruzamento industrial. Tabela 67 Conhecimento e aplicação do cruzamento industrial. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. O método do cruzamento industrial é conhecido por 73,5% dos produtores entrevistados; 28,1% afirmam que realizam esta técnica em suas propriedades, com maior frequência nos produtores com rebanhos com mais de 501 cabeças. Para 78,2% dos produtores entrevistados a aplicação desta técnica agrega maior valor à produção de bovinos de corte. A Tabela 68 apresenta os valores em percentuais correspondentes às frequências de respostas dos produtores acerca do conhecimento da existência de confinamento em sua região e à frequência de respostas positivas em relação à concordância em participar de parcerias com frigoríficos. Tabela 68 Frequências das respostas dos produtores acerca da existência de confinamento e possibilidade de parcerias com frigoríficos. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 123 Cerca de 25% dos pecuaristas entrevistados conhecem a existência de propriedades, em suas regiões, que praticam a técnica de confinamento de bovinos; 63,9% afirmam que aceitam participar de parcerias com frigoríficos no estabelecimento de confinamentos. A Tabela 69 apresenta a frequência de respostas dos produtores em relação à prática de castração nas propriedades. Tabela 69 Produtores que realizam a prática da castração e idade média de realização. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Em 77,7% das propriedades é realizada a prática da castração dos machos criados para a produção de carne. A média da idade em que são realizadas as castrações variou de 2 anos, com 50,5% das frequências, e 1,5 ano com 46,5% das propriedades avaliadas. A Tabela 70 apresenta a frequência de resposta dos produtores em relação à aplicação de deságio no valor da arroba do boi não castrado, bem como os valores médios do percentual aplicado de deságio. Tabela 70 Deságio no valor do boi não castrado. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 124 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Para 99,4% dos produtores entrevistados é cobrado deságio no preço da arroba de bovinos não castrados. Os valores médios de deságio nas diferentes regiões estudadas variaram de 5% para 65,9% dos entrevistados, 8% para 4,2% dos criadores e 10% de desconto para 26,4% dos produtores. A Tabela 71 apresenta os valores em percentuais correspondentes às frequências de respostas dos produtores acerca do conhecimento do sistema de controle individual de animais, (rastreabilidade) e sua opinião em relação às dificuldades de aplicação da técnica em sua região. Tabela 71 Rastreabilidade, conhecimento e dificuldades na aplicação. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. A rastreabilidade como ferramenta de controle individual dos animais é de conhecimento de 67,5% dos produtores entrevistados. Para o segmento com produtores com mais de 501 cabeças a técnica é conhecida por 89,2% dos entrevistados. A pesquisa evidenciou que 92,9% dos proprietários têm dificuldades para a implantação desta técnica. A Tabela 72 identifica a opinião dos produtores, de acordo com os diferentes estratos pesquisados em relação aos motivos que dificultam a implantação da rastreabilidade no rebanho. Tabela 72 Opinião dos produtores em relação aos motivos que dificultam a implantação da rastreabilidade. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 125 Dentre as razões apresentadas aos produtores, 78,7% atribuíram ao custo da implantação uma das razões para a não implantação. A falta de técnicos no assunto na região foi apontada por 93,4% dos produtores. Para 95,4% dos entrevistados, a falta de informação sobre o assunto também contribui para a não implantação da rastreabilidade e a falta de diferencial no preço do bovino rastreado no Estado do Rio de Janeiro é indicada por 95,4% como a razão para a não aplicação desta técnica nos rebanhos. A Tabela 73 apresenta os valores médios das frequências de respostas dos produtores acerca da variação para menos no preço do boi em relação a outras regiões do país e no estado. Tabela 73 Variação do preço do boi em diferentes regiões do país e do estado. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Para 92,4% dos produtores entrevistados, os preços da arroba do boi praticados no Rio de Janeiro são inferiores aos praticados em outras regiões do País. Por outro lado, somente 16,4% apontaram diferenças regionais nos preços praticados no Estado do Rio de Janeiro. A Tabela 74 apresenta os resultados obtidos referentes aos sistemas de acasalamento adotados nas propriedades pesquisadas. Tabela 74 Sistemas de acasalamento adotados nas propriedades. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 126 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Nos estratos pesquisados o sistema de acasalamento predominante é o de monta natural não controlada, observada em 49,2% das propriedades. A adoção da monta natural controlada foi observada em 38,6% das criações; quanto aos demais sistemas, a frequência é abaixo de 10%. A Tabela 75 expressa a preferência do produtor para a aquisição de insumos para sua propriedade. Tabela 75 Aquisição dos insumos. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. As casas de produtos agropecuários foram o local onde 30,8% dos produtores adquiriram seus insumos. Entretanto, as compras de insumos nas cooperativas foram realizadas por 28% dos produtores, já a aquisição diretamente dos representantes atendeu a 8,9% criadores. As Tabelas 76 e 77 apresentam a frequência de respostas da relação entre pecuaristas e fornecedores e os principais fatores que limitaram a aquisição de insumos. Tabela 76 Relação entre pecuaristas e fornecedores. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 127 Tabela 77 Fatores que limitaram a aquisição de insumos. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. As relações entre pecuaristas e fornecedores foram consideradas muito boas por 47% dos criadores nas diferentes regiões pesquisadas. Para 44,1%, são consideradas como regulares e excelentes para 8,8% dos entrevistados. Os principais fatores apontados que limitaram a aquisição de insumos foram os preços dos produtos, para 46,6% dos produtores, as condições de pagamento com 39,6% das respostas, 11,8% e 2,1% para prazo de entrega e estocagem, respectivamente. As Tabelas 78, 79 e 80 apresentam os resultados referentes aos agentes mais importantes na comercialização da produção apontados pelos proprietários dos estratos de produção selecionados. Tabela 78 Principais agentes que atuaram na comercialização da produção no estrato com até 250 cabeças. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 128 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Neste segmento de produtores o agente que se destacou na aquisição da produção foram os açougues, com 39,1%. Foi identificado pela pesquisa que este agente predominou na comercialização de vacas e novilhas nas regiões Serrana, Baixadas Litorâneas, Norte e Noroeste Fluminense. Os marchantes ou atravessadores representaram 32,2% da comercialização de produtos; este agente foi identificado como o principal comprador de bois e o segundo na aquisição de novilhas. Os frigoríficos foram os responsáveis pela comercialização de 28,8% da produção, ocupando a segunda colocação na aquisição de bovinos. Tabela 79 Agentes que atuaram na comercialização da produção no estrato com até 500 cabeças. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Neste estrato de produtor, o principal agente de comercialização dos produtos foram os frigoríficos, com valores médios de 47,5%, sendo o principal comprador de vacas com 47,9%, novilhas com 50,3% do volume comercializado e bois com 44,2% do total. Neste segmento as comercializações realizadas pelos açougues representaram um volume de 35,9%, e pelos marchantes o volume observado foi de 16,5%. Tabela 80 Principais agentes que atuaram na comercialização da produção no estrato acima de 501 cabeças. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 129 Neste segmento os frigoríficos foram os responsáveis pela aquisição de praticamente a metade do volume comercializado pelos produtores, com valores correspondentes a 49,4%, seguido dos marchantes, com 25,7%. O açougue, neste segmento de produtor, teve sua atuação mais destacada na aquisição de vacas e novilhas. Para os três segmentos a forma de pagamento predominante foi a prazo. Foram apontados, também, pelos produtores como os três principais fatores que mais influenciaram a venda dos animais: o preço do boi gordo, a relação de troca ou reposição (boi vendido versus bezerro adquirido) e a necessidade de fluxo de caixa. As Tabelas 81 e 82 apresentam as frequências das avaliações realizadas pelos produtores referentes às relações com os agentes compradores de seus produtos e o percentual de inadimplência dos agentes. Tabela 81 Avaliação dos agentes compradores pelos produtores. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Tabela 82 Percentual de inadimplência dos agentes compradores. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 130 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO As relações entre pecuarista e compradores dos animais foram consideradas como excelentes por 10,7% dos produtores, muito boas por 58,4% e regulares para 29,2% dos entrevistados. Quanto aos níveis de inadimplência, os açougueiros, com 55%, são os agentes que mais foram citados pelos produtores, seguidos dos atravessadores ou marchantes com 27,3% e os frigoríficos com 17,7%. No entanto, estes dois agentes de comercialização atuaram fortemente na comercialização da produção. A Tabela 83 apresenta os valores percentuais das respostas negativas dos produtores em relação à disponibilidade de crédito. Tabela 83 Frequência de respostas negativas em relação à disponibilidade de crédito. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os resultados, 85,8% dos produtores declararam que não há disponibilidade de créditos para a atividade de pecuária de corte. Dentre os principais problemas relacionados ao crédito rural para a bovinocultura de corte foram citados: a burocracia enfrentada pelos pecuaristas na obtenção dos recursos, dificuldades na prorrogação das dívidas quando o setor passa por dificuldade de liquidez e recursos disponibilizados não suficientes. 131 132 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 19 Avaliação do pesquisador Nesta seção, o pesquisador de campo assinalou na planilha o grau de confiança das respostas que obteve junto ao pesquisado. Considerou aspectos como a empatia que foi estabelecida com o respondente, contradições identificadas ao longo da entrevista, tempo e atenção que o mesmo disponibilizou, entre outros. Tabela 84 Avaliação dos entrevistados. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com os relatórios apresentados pelos pesquisadores de campo, 47,2% dos entrevistados foram avaliados como muito bons, 39,8% como bons e 12,9% como regulares. 133 134 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 20 Abate e processamento De acordo com dados fornecidos pela Secretaria de Estado de Agricultura no Rio de Janeiro, são cadastrados no Serviço de Inspeção Estadual os seguintes frigoríficos (Tabela 85): Tabela 85 Relação e localização dos frigoríficos com registro no serviço de inspeção estadual. Fonte: Secretaria de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, 2010. De acordo com a Tabela 85, as regiões do Médio Paraíba e Norte Fluminense, com quatro frigoríficos cada, são as que concentram mais da metade dos estabelecimentos, seguidos da região Centro-Sul com dois estabelecimentos e Noroeste e Serrana com um frigorífico cada. 135 Esta concentração de estabelecimentos de abate de bovinos em algumas regiões foi motivo de críticas dos produtores das regiões Metropolitana, Baixadas Litorâneas e Costa Verde, que têm dificuldades para negociar seus animais diretamente com os frigoríficos em razão das distâncias. Para apresentação do diagnóstico do setor de abate e processamento, foi realizada uma pesquisa consultiva a todos os estabelecimentos, cujos resultados serão apresentados a seguir. De acordo com as informações coletadas nas entrevistas, todos os frigoríficos do estado têm na sua constituição 100% de capital social nacional. A Tabela 86 apresenta as atividades das empresas em relação a espécies abatidas nas regiões administrativas do Estado do Rio de Janeiro. Tabela 86 Atividades dos frigoríficos em relação a espécies abatidas. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo com o levantamento de campo, 10 estabelecimentos abatem somente bovídeos, o que representa 77% dos estabelecimentos do estado; dois abatem bovinos e suínos e um abate bovinos e avestruzes. A Tabela 87 apresenta a distribuição dos estabelecimentos quanto à planta da empresa. Tabela 87 Distribuição dos estabelecimentos quanto à planta da empresa. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 136 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Dos estabelecimentos que apenas abatem e resfriam, três deles têm suas operações 100% voltadas para atendimento a terceiros; os demais têm suas atividades direcionadas para abate de animais próprios e de terceiros. Daqueles estabelecimentos que abatem, resfriam e desossam, um tem suas atividades totalmente voltadas para atendimento próprio; os demais, além de atendimento a sua demanda, atendem a terceiros. Nos estabelecimentos com o setor de graxaria, os principais subprodutos são sebo e farinha de carne e ossos. O sebo é o subproduto mais importante para dois estabelecimentos, enquanto a farinha de carne e ossos é o principal subproduto para um deles. Três graxarias autônomas inspecionadas pelo SIF, uma na Baixada Fluminense, outra na região Serrana e uma terceira na região Norte Fluminense, realizam o processamento de resíduos oriundos dos abatedouros que não possuem graxaria ativada e os ossos e sebos recolhidos de açougues e supermercados. A Tabela 88 apresenta a capacidade instalada para atendimento à produção dos estabelecimentos pesquisados. Tabela 88 Distribuição da capacidade instalada das empresas. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os dados revelam que aproximadamente 47% dos frigoríficos apresentam a capacidade instalada para abate de pouco mais de 100 animais por dia, aproximadamente 13% dos estabelecimentos apresentam capacidade de abate para até 5.000 cabeças/mês e 40% capacidade de abate acima de 5.000 cabeças/mês. As três plantas com capacidade acima de 10.000 cabeças/mês foram construídas na década de 70 durante a campanha de federalização, que pretendia que todo produto de origem animal processado no Brasil ocorresse em plantas com Serviço de Inspeção Federal (SIF). A Tabela 89 apresenta o quadro de colaboradores das empresas pesquisadas. 137 Tabela 89 Número de colaboradores das empresas. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Em 10 empresas, o número de colaboradores é superior a 40 e em quatro empresas o número de funcionários variou de 11 a 40 funcionários. Em todos os estabelecimentos, 100% dos funcionários têm carteira assinada. Na avaliação de desempenho da mão de obra contratada, 46,2% consideraram como boa, 38,5% como regular e 7,7% como excelente e o mesmo percentual considerou a mão de obra ruim. Apenas três frigoríficos proporcionaram aos colaboradores algum programa de capacitação, e em dois este treinamento contribui para melhorar a qualidade da mão de obra. A Tabela 90 apresenta a frequência da forma de aquisição pelos frigoríficos. Tabela 90 Forma de aquisição dos animais vivos. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os resultados confirmam que no mercado de boi a prevalência é pela aquisição a prazo. Contudo, nas transações realizadas à vista é realizado um desconto entre 2 a 3%. O sexo, a raça do animal e a idade, por ordem de influência, foram os fatores apontados como sendo os que mais afetam a composição do preço final do animal. De acordo com a oferta, tanto machos como fêmeas são adquiridos na balança e no gancho. 138 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A Tabela 91 apresenta o valor percentual da procedência dos animais (machos e fêmeas) adquiridos pelos frigoríficos para abate e processamento. Tabela 91 Frequência dos locais de procedência dos animais adquiridos para abate e processamento. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Os resultados da pesquisa demonstraram que as aquisições dos animais para abate são feitas com maior frequência nos produtores localizados na região onde estão situadas as empresas e são realizadas por compradores dos próprios frigoríficos em maior escala e por terceiros. Aproximadamente 70% dos frigoríficos pesquisados não adotam programas que tenham como objetivo a melhoria da qualidade do animal abatido, bem como programas para melhoria da carne que sai da linha de produção. De acordo com as informações fornecidas pelas empresas, 77% dos produtos são direcionados ao mercado regional e 23% ao local. Os principais compradores são supermercados e atacadistas, que representam aproximadamente 70% da comercialização, e em menor escala os açougues e empresas voltadas para o ramo de cozinha industrial. Em todos os segmentos, de acordo com os dados da pesquisa, 80% das vendas são realizadas a prazo. A Tabela 92 apresenta informações referentes ao pagamento do couro aos pecuaristas, as etapas de processamento do couro realizadas pelos frigoríficos dentro de suas instalações e a sua comercialização. 139 Tabela 92 Remuneração, processamento e venda do couro. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. De acordo as informações coletadas, 73% dos frigoríficos remuneram indiretamente o couro do gado abatido. Em 87% dos frigoríficos o couro é salgado antes da sua comercialização com os curtumes e intermediários. A Tabela 93 apresenta a opinião dos dirigentes dos frigoríficos sobre o efeito do abate clandestino de bovinos nos negócios da empresa. Tabela 93 Influência dos abates clandestinos nos negócios dos frigoríficos. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. 140 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO De acordo com os frigoríficos, a prática do abate clandestino afeta seus negócios diretamente na redução da oferta de animais e na composição do preço. De acordo com dados fornecidos pela Secretaria de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, já foram identificados 79 locais em todo o estado onde são realizados abates clandestinos. Recentes ações de repressão ao abate clandestino efetuados pelo Batalhão Florestal têm produzido uma corrida aos estabelecimentos oficiais na busca da legalização do abate. Ainda é cedo para concluir se este tipo de ação, como seria desejado, terá continuidade. A Tabela 94 apresenta os resultados referentes à gestão de qualidade e tecnologia da informação adotada pelas empresas. Tabela 94 Gestão de qualidade e tecnologia da informação adotada pelas empresas. Fonte: Pesquisa de campo, 2010. Para 80% das empresas, não há acesso a crédito bancário, o que tem provocado dificuldades na expansão e modernização das instalações, principalmente das câmaras frias e na renovação da frota de caminhões frigorificados. Quanto à participação em instituição que representa os frigoríficos, 85% das empresas entrevistadas afirmaram que participam, e destas, 62% participam da AMAFERJ. 141 142 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 21 Considerações sobre a atividade de abate de bovinos A atividade de abate de bovinos, na maior parte do tempo, tem como principal forma de remuneração a venda do couro, a que se somam outros subprodutos, tais como farinha de carne, sebo etc., não sendo raros os momentos em que o couro represente mais de 80% da remuneração de uma planta de abate. Tratando o couro como uma commodity cuja composição do preço independe do mercado local, e com variações extremas, como as que ocorreram nos últimos 2 anos, em que o preço de couro oscilou de R$ 3,00 a R$ 0,30 por kg., a taxa de abate (TA), aparece como complementação da remuneração do serviço de matança. A TA, dependendo principalmente do valor do couro, ora é cobrada, ora não. Em momentos de pique de preço do couro, o prestador de serviço, chega até mesmo a pagar ao cliente (marchante) pelo serviço prestado. É natural que a variação nos preços dos subprodutos principais - couro, sebo e farinha de carne - interfira no preço do boi pago ao produtor e no da carne cobrado do consumidor, ainda que não explícitos nas negociações. Estas constantes variações geram uma relação conflituosa entre as partes que atuam no processo, expondo-as a um alto risco, numa atividade que atua com margens bastante estreitas sob uma base muito elevada. Qualquer tropeço gera prejuízos de difícil reposição. É importante reconhecer tratar-se de uma cadeia extremamente enxuta, em que o preço pago ao produtor chega ao consumidor final com uma variação incrivelmente pequena. Tomemos por base o preço praticado hoje (maio de 2010) no RJ, de R$ 75,00/@ de boi pago ao produtor (@=15 kg de carcaça). Ao chegar ao açougue, essa carcaça é desossada com perda de 27% (sebo e ossos), resultando em 11 kg de carne. Dividindo-se o preço pago ao produtor pelo produto obtido chegamos ao valor de R$ 6,85/kg de carne. Hoje existem promoções em que a carne de segunda (dianteiro) é ofertada a R$ 5,99 o kg. A carne de primeira, excetuando cortes especiais, poderá ser adquirida entre oito e dez reais o quilo. A diferença de 20 a 30% entre os preços pagos ao produtor e o cobrado do consumidor tem que remunerar toda a cadeia, cobrindo os custos, os riscos e as remunerações das partes, de um produto perecível que tem que ser comercializado resfriado. Isto só acontece somando-se a esta margem os valores obtidos nos subprodutos gerados pela cadeia – “do boi só perde o berro” – que se inicia na fazenda, passa pela indústria chegando até a ponta do varejo, que podem distar mais de dois mil quilômetros um do outro. “Do boi só se perde o berro” Como já dissemos, todos os elos da cadeia trabalham com margens reduzidas, envolvendo valores altos, o que os torna 143 vulneráveis e, em parte, explica o grande número de tropeços no ramo. 21.1Concentração do setor O surgimento de um mega grupo nacional, com aquisições e incorporações internacionais, estendendo suas atividades a outros ramos da economia, que vai da liderança de consórcio de engenharia de construção de hidroelétricas a privatização de rodovias, tendo como parceiro o BNDES, tem causado apreensão nos produtores. Pecuarista de estados grandes produtores têm assistido a um espetacular estreitamento de opções para comercializar sua produção. As atividades dos grandes frigoríficos têm se verticalizado, sendo hoje os grandes confinadores do país. As consequências deste processo só serão digeridas com o tempo. Junte-se a isso a recentíssima revolução que a cadeia da carne vem observando no setor intermediário, o dos frigoríficos, já citada, e as peculiaridades do mercado fluminense, para tecer um quadro de causas multifatoriais que compõem a realidade de mercado da pecuária fluminense e que vão além das possibilidades de investigação deste trabalho. Durante o trabalho de campo de levantamento dos estabelecimentos de abate, procuramos respostas ao grande questionamento dos pecuaristas fluminenses: Porque o nosso boi, que era o mais caro do Brasil, passou a ter a cotação equivalente aos mais baratos, se temos o segundo maior mercado consumidor do país? 144 Na insuficiência de respostas conclusivas, fomos buscar opiniões em outros agentes da cadeia, entrevistando distribuidores e donos de supermercados do RJ que adquirem carne de outros estados e, sem pretender ter esgotado o assunto, apresentamos algumas informações que, de forma qualitativa, acrescentam algumas pistas para a compreensão do fenômeno. A definitiva compreensão do mesmo necessitaria aprofundada pesquisa de mercado, com coleta de dados de difícil acesso que conseguissem abordar aspectos quantitativos, o que excede as possibilidades deste diagnóstico. A seguir apresento alguns aspectos levantados. A cotação do boi vivo x Qualidade do boi As cotações do boi em pé apresentadas por vários informativos apresentam, de um modo geral, valores mais próximos do topo que da média, o que acentua a diferença. O boi comercializado no RJ, na média inferior ao que foi cotado em outro estado, aparece valendo menos, arrastando a cotação daqueles de qualidade que produzimos. A logística O avanço da logística, apesar da notória precariedade das nossas rodovias, permite que carretas frigorificadas, transportando 28 toneladas de carcaças bovinas resfriadas, a um custo de R$ 4,00/km (acrescentando a cada 1.000 km R$ 0,14/kg de carcaça), transportem animais abatidos no MT, PA, TO etc. cheguem ao nosso mercado, que desta forma deixa de ser “nosso”. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Aquisição de animais vivos X Aquisição de carcaças O RJ já possuiu, num passado não muito distante, uma importante estrutura de abate, com plantas que conseguiam abater algo em torno de 95% do consumo estadual. A carne fria, como era chamada a carne que vinha de outros estados, não representava mais que 5% do mercado fluminense. O boi vinha de outros estados para ser abatido no RJ e distribuído nos açougues da capital e da Baixada, enquanto os do interior se abasteciam com o rebanho local, notadamente com o descarte do gado de leite. Os machos de melhor conformação obtinham melhores preços e eram garimpados para serem enviados aos matadouros que abasteciam a capital. A substituição do abate local pela “carne fria”, oriunda dos outros estados, determinou o fechamento de todas as plantas de abate do Grande Rio, tais como: Gramacho, Santa Cruz, São João de Meriti e Magé, entre outras, e levou outras grandes plantas, como o Uirapuru, de Volta Redonda (Sul do Estado), o Fricampos, de Campos (Norte Fluminense), e o Cantelmo, de Cantagalo (Serrana) a operar em escala menor que o projetado, comprometendo a viabilidade de suas plantas. A opinião de diversos agentes da cadeia é de que hoje 95% da carne bovina consumida no estado venha de fora. A concentração do varejo ou a morte dos açougues Conforme Caio Prado Junior referiu-se aos engenhos independentes que resistiam ao processo de concentração das usinas de cana de açúcar, “resíduos anacrônicos perpetuados pela inércia”, o mesmo poderíamos dizer dos açougues que restaram. Resíduos anacrônicos perpetuados inercia. Caio Prado Junior pela A comercialização da carne bovina sofreu profundas transformações nas últimas três décadas. A concentração do varejo, observada inicialmente nos grandes centros urbanos, se aprofunda territorialmente, chegando às cidades médias, estruturalmente fundindo lojas em grupos para comprar em conjunto, criando uma nova forma de interferência no jogo da procura e da oferta. A antiga e conhecida forma de abuso de poder econômico, em que poucos produtores detentores de grande parte da produção se organizam em cartéis para estabelecer preços abusivos, o conhecido oligopólio, dá lugar ao mercado oligopsônico, nova forma, também abusiva, em que poucos compradores conseguem determinar os preços, subjugando os muitos produtores que passam a não dispor de outras alternativas de comercialização. A bolsa de mercadorias e a informação instantânea As aquisições de boi vivo no RJ se definem após o conhecimento dos preços da Bolsa de Mercadorias do Mercado São Sebastião ou através dos vários informativos da rede. Ainda que o comprador não se abasteça na Bolsa, ele sabe que a concorrência ou fará na Bolsa ou diretamente com outros 145 corretores de frigoríficos de outros estados, e só aí sairá às compras, já tendo balizado o que irá pagar. Não comprar carne do RJ em nada afetará seu negócio, uma vez que este possui massa crítica para comprar no atacado carne de qualquer lugar que lhe é ofertada. Já o mesmo não acontece com o pecuarista fluminense, que acabará tendo que vender por aqui mesmo. A mágica da multiplicação da carne A aquisição pode ser com osso (meia carcaça, dianteiro, traseiro ou costela), geralmente de bois não castrados com baixa cobertura de tecido adiposo na carcaça (acabamento), poderá também ser de cortes embalados, de machos ou de fêmeas. A prática de se injetar os cortes, recentemente proibida na cadeia do frango, chega a incorporar até 20% de umidade ao corte, com produtos que nem sempre podem ser detectados pelas análises atuais. Evidentemente que isto concorre para diminuir a competitividade de quem não assumir esta prática. Indagando aos empresários pesquisados a razão de não investir na desossa como forma de agregação de valor ao produto processado, uma das alegações seria a impossibilidade de concorrer com a carne injetada. Baixar o preço no mercado do vizinho ou o descarrego Ainda que em linhas gerais a concentração do varejo tenha ocorrido em todo o Brasil, o tamanho do nosso mercado, o segundo maior do país, e a importância que este representa para os demais estados produtores o tornam 146 de certa forma único, com aspectos peculiares capazes de influir na comercialização da carne nacional e consequentemente na produção dos estados exportadores. Plantas exportadoras dos principais estados produtores conseguem preços diferenciados em cortes especiais, obtidos de animais com padrão de acabamento, peso de carcaça e idade bem definidos, tendo no mercado fluminense a principal opção de escoamento de tudo o que não consegue ser exportado, ou por não atender o padrão exigido ou por qualquer contratempo comercial. A colocação dessa carne no mercado paulista deterioraria o seu principal mercado nacional; a preferência é, se necessário, contaminar o mercado do RJ. Segundo atacadistas esta seria a principal razão para a carne ser sistematicamente mais barata no RJ que em SP. Alcatra e maminha sem picanha Outro aspecto que nos diferencia do mercado paulista, é a prática de os frigoríficos colocarem no RJ a alcatra com a maminha sem a picanha. De um lado, facilita ao exportador apurar o máximo neste corte (picanha), escoando o restante (alcatra e maminha) para o fluminense; de outro, permite às redes de supermercado fazer constantes promoções de carne de primeira, já que conseguem adquirir estes cortes por preços menores. Qualidade do processamento Também foi detectado existir, independente da qualidade do animal abatido, notada DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO diferença no melhor processamento das carcaças oriundas dos grandes frigoríficos de outros estados, se comparadas com as locais. Ações como a toilette, lavagem da carcaça e sobretudo a qualidade do frio foram as causas apontadas. Tributação Recentemente, a antiga reivindicação do setor, abraçada por sua representação sindical, a FAERJ, e acolhida no Governo do Estado no âmbito da Secretaria de Agricultura, conseguiu a promulgação da Lei nº 5.703, de 26/04/10, que isenta de ICMS toda a cadeia das carnes no RJ. Art. 4º Fica alterado o artigo 6º da Lei nº 4.177, de 2003, que passa a ter a seguinte redação: Artº 6º Fica isenta do ICMS a operação de saída interna, realizada por produtor rural, pecuarista, abate de animais em geral ou de processamento de carnes, bovina, suina, caprina, ovina, avícola, pescado ou outros aquícolas, de produção nacional, estabelecido no Estado do Rio de Janeiro, de animais vivos ou abatidos, inteiros ou em corte, em estado natural, resfriado, congelado, temperado ou processado. § 1º A isenção a que se refere o caput deste artigo aplica-se, também, às saídas das mercadorias ali mencionadas realizadas por varejistas e distribuidores atacadistas estabelecidos no Estado do Rio de Janeiro. A repercussão do efeito tributário desta lei, certamente favorável à cadeia da carne fluminense, não poderá ser avaliada até o fechamento deste diagnóstico, mas deverá ser o divisor de águas na competitividade da pecuária de corte do RJ. A exemplo do que assistimos com o leite, deixa de haver vantagem em adquirir carne de outros estados, simplesmente para recolher créditos de ICMS, que muitas vezes sequer foram gerados nos estados de origem. Já há registro de pequenos distribuidores do RJ que representam frigoríficos capixabas tomando preço em estabelecimentos da região Norte, e já se faz sentir a inversão de fluxo de boi vivo na divisa dos estados. O abate na região Norte, no primeiro mês de vigência da lei já acusa esta mudança. Outra mudança tributária que vem crescendo a cada dia é que cada vez mais o varejo de porte médio vem optando pelo sistema tributário de Lucro Real, em que a comprovação de despesa diminui o valor tributado. Com isso o setor se vê obrigado a trabalhar, cada vez mais, dentro da formalidade; a prática informal de aquisição de mercadoria sem nota fiscal (NF), ou mesmo com NF “por baixo”, dá lugar à “nota cheia”. A obrigação da nota fiscal eletrônica já existe para o setor desde janeiro de 2009. Importante registrar-se a considerável melhora no padrão dos rebanhos fluminenses especializados. Somos importadores de carne, mas somos também exportadores de genética, com a presença de reprodutores geneticamente superiores. Conclusão As plantas existentes no RJ possuem capacidade nominal para abater todo o rebanho do estado. Ao observar a distribuição geográfica das mesmas, encontramos 147 concentração de plantas em determinados municípios, como Campos, Itaperuna e Três Rios, e um enorme vazio na região que vai da Baixadas Litorâneas, passando pela Metropolitana até a Costa Verde. A inexistência de abatedouro inspecionado nessas regiões dificulta o combate ao abate clandestino. Quanto ao estado de funcionamento das plantas existentes, na sua maioria construídas há mais de 20 anos, muito se tem a fazer para melhorá-las. Foi uma constante no levantamento de campo as referências positivas ao Serviço de Inspeção Estadual, sendo atribuída à ação propositiva dele, as significativas melhoras efetuadas pelos empresários nos últimos anos, mediante compromissos firmados com este Serviço. Ainda há um longo caminho a ser percorrido para que se atinja um nível de excelência desejado. Melhoria e aumento das câmaras frias, modernização da frota de distribuição, dentre outros, foram os pontos mais citados como aqueles que merecem investimento. Uma questão recorrente, que de alguma forma atinge todas as plantas, é a relação conflituosa com os órgãos de fiscalização e normatização ambiental. As queixas vão desde a ausência de respostas a pedidos de licenças protocoladas há muitos anos, passando pela indefinição das atribuições de competências, a imprecisão das medidas exigidas etc. A definitiva solução do problema, dado o vultoso custo que a solução demandará, merece ser considerada pelo governo como um problema que vai além da 148 exclusiva responsabilidade dos empresários, transbordando para a sociedade, pela importância que o serviço de abate inspecionado representa na preservação do meio ambiente, no fechamento da atividade econômica pecuária de corte e, sobretudo, pelo fundamental aspecto de que esta é responsável, qual seja, a segurança alimentar. A grande complexidade e o enorme montante que envolve a cadeia de processamento e comercialização de carne afastam qualquer pretensão de soluções simples que possam alterá-la. Porém, a ação polititica dos agentes foi capaz de sensibilizar os governos e conseguir a desoneração do setor tanto em âmbito federal (PIS e COFINS) como no estadual, a já citada isenção do ICMS, em flagrante beneficio para a sociedade. Outras ações poderão ser deflagradas. Ações propositivas para o setor de abate e comercialização Convocação de uma conferência do setor, onde todos os elos envolvidos, setor público, produtores, empresários do abate, da distribuição, varejistas, debatam ações como: • Solução definitiva para o passivo ambiental da atividade, definindo o que fazer, como fazer e as fontes de recursos. • Articulação dos pecuaristas que produzem gado com padrão de excelência, na busca de obtenção de escala para um abate diferenciado. • Erradicação do abate clandestino. • Fomento à instalação de plantas no vazio detectado. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 22 Propostas para o desenvolvimento da pecuária de corte no Estado do Rio de Janeiro Propostas para o desenvolvimento da Pecuária de Corte no Estado do Rio de Janeiro Os resultados do primeiro diagnóstico da bovinocultura de corte do Estado do Rio de Janeiro, evidenciaram que existem pontos críticos na cadeia da carne bovina que precisam ser superados e minimizados. Assim, sugere-se que este diagnóstico seja avaliado como uma ferramenta ampla de pesquisa a ser utilizada no desenvolvimento de ações e de políticas específicas para a bovinocultura de corte do estado. A análise dos resultados permite-nos sugerir a adoção das seguintes ações que permitirão ao Estado do Rio de Janeiro ter uma pecuária de corte de mercado com produtividade e qualidade dos produtos assegurados: • Implantação da Câmara Setorial da Pecuária de Corte, que é extremamente importante para a organização da cadeia produtiva; • Melhorar a produtividade do rebanho com redução de custos de produção; • Estimular o criador de gado de corte a participar do Programa de Rastreabilidade do Rebanho (SISBOV), ferramenta importante e necessária para viabilizar a exportação de carne; • Promover treinamento e capacitação em temas ligados à bovinocultura de corte para produtores, técnicos do sistema público e privado; • Aumentar o investimento no controle da qualidade da carne bovina, com fiscalização e padronização de produtos comercializados; • Criar um programa estadual de profissionalização e desenvolvimento de recursos humanos, voltados para lideranças, produtores, trabalhadores envolvidos na pecuária bovina; • Realização de seminários e workshops envolvendo todos os elos da cadeia produtiva; • Reforçar a sanidade do rebanho, aumentando o investimento no controle de doenças; • Estabelecer incentivos fiscais voltados para a pecuária de corte; • Criação de uma linha de crédito especial para os pecuaristas de corte; • Incentivar a adoção da escrituração zootécnica nas propriedades; • Estabelecer sistema de premiação pela produção de carne de qualidade com ampla divulgação no Estado; 149 150 • Implementar campanhas publicitárias visando o aumento do consumo da carne bovina produzida no Estado; • Incentivar a adoção do sistema de manejo intensivo e rotacionado de pastagens e a suplementação a pasto no período de escassez de forragens; • Incentivar a implantação de projetos para produção de carne com qualidade assegurada, ou seja, em que todos as fases da produção são certificadas, agregando desta maneira valor e levando ao mercado fluminense carne de melhor qualidade; • Implementar programas de incentivo à recuperação das pastagens com a utilização de corretivos e fertilizantes de maneira correta; • Estimular a utilização do cruzamento industrial com a escolha das raças mais apropriadas, objetivando o melhor aproveitamento da heterose ou vigor híbrido; • Implementar programas de assistência técnica para os produtores; • Incentivar a realização de seminários para discutir questões ambientais e o bem-estar animal. DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 23 Tabela 95 Legislação Legislação. 151 Fonte: ABIEC, 2010. 152 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 24 Glossário Aftosa – enfermidade causada pelo aflovírus que pode ser transmitida de um animal para outro pelo leite, carne e saliva. A doença também é transmissível para animais pela água, ar e objetos e locais sujos. Caracteriza-se pelo aparecimento de aftas na boca e na gengiva e feridas nas patas e mamas. O animal doente também fica febril, com dificuldade para pastar, perde peso e produz menos leite. As espécies mais atacadas são bovinos, suínos, caprinos e ovinos. Agronegócio – relações comerciais efetuadas com produtos agrícolas através de atividades de compra e venda. Animal inteiro – termo utilizado para identificar machos não castrados de uma espécie, portando todos os órgãos do aparelho reprodutor. Arroba – antiga unidade de medida de peso equivalente a 32 arráteis, ou seja, 14,689 kg. No Brasil é utilizada como medida de peso de produtos agropecuários e equivale a 15 kg. Barreira sanitária – mecanismo legal utilizado por autoridades governamentais de um país ou região que impede ou restringe a circulação de organismos vivos, parte deles ou seus derivados. Este mecanismo tem por objetivo evitar ou prevenir riscos de contaminação e disseminação de pragas e doenças ou a introdução de espécies que possam ameaçar a saúde de seres humanos, animais e vegetais que vivam nesses locais ou ainda comprometer o equilíbrio ecológico. Normalmente este termo é usado no caso de animais e seus derivados, enquanto o termo barreira fitossanitária é usado para vegetais e seus derivados. O termo genérico mais usado é barreira de biossegurança. Barrigada – vísceras de animais abatidos; conjunto de filhotes nascidos de um parto do animal. Bebedouro – implemento ou local utilizado para fornecimento de água aos animais. Bezerro ou terneiro – bovino jovem entre o nascimento e o desmame, geralmente até sete meses de idade. Para algumas espécies esse período vai até 12 meses. Boi – macho castrado das espécies taurinas ou zebuínas com idade acima de 30 meses, geralmente destinado ao abate, serviço no campo ou como meio de transporte. Boi de pé – bovino de corte ainda vivo no pasto ou galpão de confinamento. Bovinocultura – atividade pecuária destinada à criação de gado bovino. Divida em bovinocultura de corte, para produção de carnes e peles, e bovinocultura de leite. Brete – local de contenção ou imobilização de animais com objetivo de alguma prática de manejo como selação e aplicação de vacinas e medicamentos. Brinco – objeto pendente fixado no lóbulo da orelha de animais com a finalidade de identificá-lo. Bubalino – relativo a búfalo. Cadeia produtiva – conjunto formado por todas as ações e agentes interligados entre si (elos) que estão relacionados com a produção e distribuição de um bem ou serviço, desde a produção da matéria-prima até a comercialização do produto final. Câmara fria ou câmara frigorífica – compartimento de temperatura mantida artificialmente baixa, para armazenamento e conservação de gêneros perecíveis. Capacidade de suporte – a máxima taxa de lotação que proporciona determinado nível de desempenho animal, dentro de um sistema de pastejo, e que pode ser aplicada por determinado período de tempo sem causar a deterioração do sistema. Carcaça – parte comestível da carne bovina, ainda com osso, obtida após os procedimentos de abate. Carne – qualquer tecido animal utilizado para alimentação, seja in natura ou processado. CIF – o CIF (Cost Insurance Freight) - Custo, seguro e frete - o fornecedor se responsabiliza pelo frete, cabendo a este fornecer uma guia para que o comprador possa resgatar o produto perante o courrier. Este custo consta no orçamento do fornecedor. No CIF, toda a logística, desembaraços etc. ficam a encargo do fornecedor, que apenas deve fornecer a guia de retirada para o cliente, a fim de que este possa retirar a encomenda junto ao courrier em questão. Cobertura – cópula ou coito entre animais em que, ocorrendo no período de fertilidade da fêmea, acontece a fecundação; também chamado de monta. Cocho – equipamento muito utilizado para fornecer alimento a animais, podendo ser de vários tipos, dependendo do animal que será alimentado e do alimento que será oferecido. Confinamento – sistema de produção intensivo utilizado para criação de aves, bovinos, suínos, ovinos, caprinos e outras espécies, no qual os animais são criados em galpões fechados e alimentados com ração e/ou material volumoso no cocho. Congelamento – técnica que consiste em submeter alimentos, organismos vivos ou parte de organismos vivos a temperatura muito baixa em congelador a fim de conservá-lo em bom estado até sua utilização; método de conservação de alimentos que utiliza temperaturas mais baixas que a refrigeração e, por isso, inibe o crescimento microbiano e retarda praticamente todo o processo metabólico. 153 Controle de pragas – conjunto de ações tomadas com o objetivo de manter em níveis satisfatórios ou erradicar por razões de sanidade as pragas que atacam culturas vegetais ou a criação de animais. Conversão alimentar – medida de eficiência do processo de ganho de peso (crescimento, engorda), em termos de quilograma de matéria seca de alimentos ingeridos por quilograma de ganho de peso. Conversão de tonelada líquida para tonelada equivalente carcaça Carne industrializada: O total processado deve ser multiplicado pelo fator 2,5. Carne in natura: • Carnes com osso: deve ser multiplicada pelo fator 1. • Carnes desossadas: deve ser multiplicada pelo fator “1,4706”. • Total equivalente carcaça = Carne desossada + Carne com osso. Cota Hilton – A cota Hilton é constituída de cortes especiais do quarto traseiro de novilhos precoces, e seu preço no mercado internacional corresponde de três a quatro vezes o preço da carne comum. A cota anual, de 34.000ton, é fixa, e a ela somente têm acesso os países credenciados. Eventualmente, pode ser suplementada por uma cota variável, que pode ser atendida por outros fornecedores, devidamente credenciados, inclusive pelo Brasil. Essas cotas possuem uma taxa de importação de 20% ad valorem. A cota brasileira é de 5 mil toneladas anuais. Couro – pele de animais curtida, imputrescível e utilizada como matéria-prima para diversos usos e finalidades. Couro cru – couro sem tratamento, não curtido. Creep feeding – suplementação com concentrado, em cocho privativo, para os bezerros durante a fase de amamentação. Creep grazing – utilização de uma área de pasto de acesso exclusivo pelos bezerros, enquanto estão na fase de amamentação. Criadouro – área delimitada, preparada e dotada de instalações capazes de possibilitar a reprodução, cria e recria de espécies da fauna silvestre. Cruzamento rotacionado: sistema de cruzamento em que as fêmeas cruzadas de reposição são produzidas no próprio sistema de produção. Cruzamento terminal (cruzamento industrial): sistema de cruzamento em que todos os animais cruzados produzidos são comercializados para abate. Cruzamento: sistema de acasalamento entre animais de raças ou grupos genéticos diferentes. Curral – instalação ou local fechado, geralmente coberto, onde se aloja e reúne o gado para uma série de operações de manejo como apartação, marcação, pesagem, castração, inseminação, medicação, vacinação e embarque. Deve ser construído de forma a permitir que essas operações sejam feitas de maneira tranquila e segura e com o mínimo de esforço e estresse para os animais e o tratador. Desinfecção – atividades que visam à eliminação ou ao controle de agentes patógenos que possam causar infecções em seres vivos. Desmamar – fazer perder o costume de mamar; apartar do leite; desleitar. Desossar – atividade que consiste na retirada dos ossos de partes específicas de animais abatidos ou de carcaças inteiras. Disponibilidade de forragens - Porção da massa de forragem, expressa como massa por unidade de área, que está acessível aos animais para consumo. Disseminação – ato ou efeito de espalhar, difundir ou propagar em um meio uma doença ou praga através de um veículo que pode ser vegetal, animal ou um meio físico. Divisa – traço ou linha divisória entre estados; limite entre duas unidades da Federação. O termo também é utilizado para designar a marca feita no gado a ferro quente para identificar propriedade. Doença – denominação genérica dada a qualquer desvio do estado normal de saúde causada por um patógeno em animais ou vegetais e que se manifesta por meio do funcionamento anormal de células e tecidos através de um conjunto de sinais e/ou sintomas que têm uma só causa. Ectoparasitos – parasitos externos. Endoparasitos – parasitos internos. Entressafra – período das secas (outono e inverno) no ano. Equivalente carcaça – Tem como referência a venda de carne com osso. (carcaça) Equivalente desossa – Se considerarmos a margem de comercialização dos frigoríficos que vendem os cortes de carne sem osso, mais derivados e subprodutos, a diferença entre o preço recebido pelo pecuarista e o apurado pela indústria é bem maior. Erradicação – eliminação de animais, plantas ou outros organismos considerados patógenos em uma área ou região. FAERJ - Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado do Rio de Janeiro. FOB (Free On Board) – o fornecedor se responsabiliza (contratualmente) pela mercadoria até a hora em que ela é entregue, na data e hora, ao courrier escolhido pelo comprador. Este preço não faz parte do orçamento do fornecedor, deverá ser calculado pelo comprador de acordo com o serviço de frete que escolheu. No FOB, todos os custos e desembaraços legais da carga são de responsabilidade do fornecedor, que cessa assim que o mesmo entregue a 154 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO mercadoria à empresa de courrier contratado pelo comprador, na hora e local combinados, em contrato. Veja, se o fornecedor perder o prazo de entrega ao courrier, este prejuízo não é de responsabilidade do comprador. O custo FOB não consta em orçamentos de fornecimento da mercadoria; este custo deve ser calculado à parte, pelo cliente. Forrageira – qualquer espécie de vegetação, natural ou plantada, que cobre uma área e é utilizada para alimentação de animais, seja ela formada por espécies de gramíneas, leguminosas ou plantas produtoras de grãos. Frigorífico – denominação dada aos estabelecimentos destinados ao abate de gado, à desossa das carcaças e à conservação do bom estado dos cortes de carne em câmaras frias; câmara fria. Gado – denominação genérica dada aos animais domésticos que formam rebanhos e são explorados economicamente. GATT – A Cota GATT é também uma cota de carne especial, estabelecida pelo GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), destinada à União Européia. Inclui outros cortes do quarto traseiro de qualidade não tão alta quanto os da cota Hilton, e é menos valorizada do que aquela. Heterose (vigor híbrido) – superioridade dos animais da primeira geração de cruzamento em relação à média das raças paternas. Imunidade – resistência que um organismo vivo apresenta às pragas e doenças, geralmente adquiridas após o estabelecimento de uma infecção causada por microorganismo infeccioso ou após a inoculação de vacinas. Indivíduo – exemplar representante de uma determinada espécie; ao seu conjunto denomina-se população. Infecção – ataque agressivo a um ser vivo por agente patogênico. É o princípio ou origem de uma enfermidade ou doença. Infestação – ataque violento por um organismo de forma ampla e mais ou menos uniforme sobre uma área ou indivíduo. Mal da vaca louca – cientificamente denominada Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE), é uma doença que atinge principalmente o gado bovino, mas já há registro de ocorrência em outras espécies como gato doméstico, pumas, avestruzes, leopardos e antílopes. É uma doença de difícil diagnóstico, de longo período de incubação e que não tem tratamento. É contraída pela ingestão de alimento contaminado. Caracteriza-se por infecção generalizada do cérebro decorrente da multiplicação de infecções em outras partes do organismo causada por uma partícula protéica infecciosa denominada príon, que faz com que o animal perca o controle dos movimentos e apresente hipersensibilidade ao toque e ao som. Nas ovelhas a doença é chamada scrapie. É inexistente no Brasil e não tem nenhuma semelhança ou ligação com a aftosa. Manejo de animais – são operações e técnicas utilizadas no trato de animais que se evidenciam no tipo e na forma de fornecimento de alimentação, na movimentação, nos tratamentos preventivos e terapêuticos de doenças, nas instalações para permanência ou repousos, dentre outros. Market share - (termo mais comum no Brasil) pela tradução literal do inglês, “quota de mercado”. Medida protecionista – procedimento adotado pelos governos com o objetivo de favorecer a produção interna frente à concorrência com outros países. As principais medidas protecionistas são as barreiras tarifárias e as não tarifárias. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – pasta do governo brasileiro responsável pela gestão política das áreas de agricultura, pecuária e abastecimento. Monitoramento – acompanhamento, avaliação e controle das condições ou de fenômenos, naturais ou artificiais, com o objetivo de obter dados quantitativos e qualitativos que possibilitem maior conhecimento sobre eles, identificando assim possíveis riscos ou oportunidades que possam ser controlados ou aproveitados para minimizar eventos indesejáveis. NDT (nutrientes digestíveis totais) – medida do valor energético de determinado alimento ou dieta, geralmente utilizada para definir a qualidade dos alimentos e adequá-los às exigências dos animais. Nova raça – raça formada por meio de cruzamento entre animais de duas ou mais raças já existentes e reconhecida pelos órgãos oficiais do país de origem. Novilho ou garrote – macho dos bovinos com idade entre um e três anos. Novilho precoce – macho dos bovinos com idade entre dois anos e dois anos e meio e que por meio de técnicas de melhoramento genético, de manejo e de alimentação apresenta desenvolvimento de carcaça e pesos adequados para abate. Nas espécies taurinas o animal geralmente está pronto para o abate em até 24 meses; nas zebuínas, em até 30 meses. Oferta de forragem – relação entre a quantidade de forragem por unidade de área e o número de unidades animais. Pastagem – vegetação própria para alimentação do gado, podendo ser natural ou plantada com espécies perenes ou de ciclo anual. Pastejo rotacionado – condução dos animais de forma a pastejar a forrageira por um a três dias, deixando a forrageira recuperar suas raízes e folhas num período de 20 a 36 dias, conforme a forrageira e seu vigor de desenvolvimento. Pasto – área ao ar livre, normalmente cercada, podendo ser plana ou acidentada, natural ou plantada, na qual existe uma cobertura vegetal formada geralmente por espécies de gramíneas e/ou leguminosas que servem de alimento ao gado. Pecuária – atividade agrícola que tem por finalidade a criação de gado. Pedilúvio – tanque raso que contém água ou substâncias terapêuticas e/ou curativas, geralmente construído na entrada ou na saída dos currais e salas de ordenha com o objetivo de efetuar a higiene e/ou tratamento dos cascos dos animais; 155 pode ser usado em aeroportos, estradas e outros locais em caso de doenças provocadas por agentes patógenos que podem ser carregados nos pés e patas de animais; o tanque utilizado para a desinfecção de veículos recebe o nome de rodolúvio. PIB (produto interno bruto) – expressão do total dos bens e serviços finais produzidos dentro do território econômico da nação, independentemente de quais sejam os proprietários dos recursos empregados. Piquete – subdivisão do pasto normalmente por cerca destinada ao pastoreio ou separação de animais que necessitam tratamentos ou cuidados especiais. Plantel – conjunto de animais que formam um rebanho. Política agrícola – conjunto de ações do governo destinado a influir nas decisões dos agentes responsáveis por atividades agrícolas, visando à consecução de determinados objetivos como produção, comercialização e armazenagem de produtos agrícolas através de mecanismos como fornecimento de infraestrutura, créditos, mecanismos fiscais, armazenagem etc. Probabilidade – medida baseada na relação entre o número de casos favoráveis e o número total dos casos possíveis. Número positivo e menor que a unidade, que se associa a um evento aleatório, e que se mede pela frequência relativa da sua ocorrência numa longa sucessão de eventos. Produtividade – relação entre a quantidade ou valor produzido e a quantidade ou valor dos insumos aplicados à produção; eficiência produtiva. Profilaxia – parte da medicina que trata das medidas preventivas contra as enfermidades. Emprego dos meios para evitar as doenças. Programa sanitário – conjunto de medidas para prevenir e controlar as principais doenças dos animais. Propagação – multiplicação dos seres vivos por meio de reprodução sexuada ou assexuada; proliferação. Raça exótica – raça de bovinos originária de outro país. Rastreabilidade – é a possibilidade de registrar, através de um conjunto de instrumentos, o caminho percorrido por um indivíduo (animal ou vegetal) ou produto processado desde sua origem até sua colocação para o consumo final. Rebanho – conjunto de animais. Rês – qualquer quadrúpede utilizado na alimentação humana. SEAPPA-RJ – Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro. Segurança e qualidade dos alimentos – atributos referentes à inocuidade dos alimentos e seu valor nutritivo; garantir a segurança e qualidade dos alimentos é atribuição da Vigilância Sanitária. Seleção – escolha dos pais da próxima geração. Semiconfinamento – método de engorda de bovinos, em área de pastagens, com suplementação de mistura de concentrados. SIE – Serviço de Inspeção Estadual. SIF – serviço de Inspeção Federal. SIM – Serviço de Inspeção Municipal. SISBOV – O SISBOV é o serviço de rastreabilidade da cadeia produtiva de bovinos e bubalinos. É o conjunto de ações, medidas e procedimentos adotados para caracterizar a origem, o estado sanitário, a produção e a produtividade da pecuária nacional e a segurança dos alimentos provenientes dessa exploração econômica. Seu objetivo é identificar, registrar e monitorar, individualmente, todos os bovinos e bubalinos nascidos no Brasil ou importados. Os procedimentos adotados nesse sentido devem ser previamente aprovados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Tatuagem – marca ou sinal feita geralmente a fogo na pele de um animal com a finalidade de identificá-lo. Tratamento preventivo – conjunto de medidas adotadas antes do aparecimento ou constatação de uma doença, praga ou deficiência que tem por objetivo impedir que um organismo seja atacado por seus agentes causadores. Úbere – órgão formado pelo conjunto de glândula mamária, quartos mamários, tetas e pele das fêmeas. Unidade animal (UA) - equivalente ao peso de um animal com 450 kg. Vacina – substância de origem microbiana (micróbios mortos ou de virulência abrandada) que se ministra a um indivíduo com fim preventivo, curativo ou paliativo. Qualquer espécie de vírus atenuado que, introduzido no organismo, determina certas reações e a formação de anticorpos capazes de tornar esse organismo imune ao germe utilizado. Virose – enfermidade causada por vírus. Vírus – agente infeccioso microscópico que não tem capacidade metabólica autônoma e apenas se reproduz no interior de células vivas. Assim como outros organismos, pode multiplicar-se com continuidade genética e é passível de mutação, podendo apresentar formas diversas. Zebu – grupo de raças de bovinos de origem indiana, cuja principal característica é apresentar giba ou cupim. Também é afetado pela aftosa. Zoonose – doença transmitida dos animais para o homem. 156 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 25 Bibliografia ABIEC, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes. Decretos, Portarias, Instruções Normativas, de Serviços e Resoluções. Disponível em http://www.abiec.com. br/6_legislacao.asp, Acesso em 10 nov. 2009. ABIEC, Exportações de carne bovina por país importador. Disponível em: http://www.abiec. com.br/index.asp. Acesso em 22 dez. 2009. 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