reas de wilderness para a conservao da vida selvagem em Portugal
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reas de wilderness para a conservao da vida selvagem em Portugal
Áreas de wilderness para a conservação da vida selvagem em Portugal Continental CRUZ, Ana Luísa1; NEVES, Nuno2; ARAÚJO, Miguel3 Resumo Este Projecto tem como principal objectivo desenvolver uma metodologia de modelação espacial para a cartografia do conceito de wilderness adaptado às paisagens Portuguesas. Foi desenvolvida uma aplicação em Visual Basic (VB) para ambiente ArcGis, com a metodologia do modelo pericial de modelação espacial para a cartografia da distribuição do valor de wilderness, indicativo do grau de presença e intervenção humana no território. Compara-se os resultados obtidos com a localização das actuais áreas protegidas, esta nova abordagem baseada no gradiente de wilderness, pretende melhorar os processos de selecção de áreas para conservação da vida selvagem. Pretende-se ainda, simular possíveis padrões de evolução de pressão humana sobre as paisagens, de modo a identificar áreas com vocação futura para o estabelecimento de áreas wilderness. PALAVRAS-CHAVE: Modelação Geográfica, Conservação da Vida Selvagem, Sistemas Periciais. INTRODUÇÃO Este artigo centra-se no desenvolvimento de uma aplicação de sistemas de informação geográfica visando a realização de processos de análise espacial para a definição de áreas wilderness em Portugal continental. É aplicado e desenvolvido o conceito de wilderness, como áreas com aptidão para a vida selvagem e conservação da biodiversidade. As paisagens Portuguesas, caracterizadas pela sua longa história de humanização, estão actualmente sujeitas a uma clara tendência para o despovoamento e consequente abandono das actividades agrícolas. Desta forma, afigura-se oportuno, em contextos de ordenamento do território, promover uma nova filosofia de revalorização de áreas com baixo valor económico mas com elevada aptidão para a conservação, transformando-as em áreas protegidas, em que a intervenção humana seja mínima e se acentuem os processos naturais como os principais responsáveis pela dinâmica da paisagem. O conceito de Wilderness tem evoluído, desde o conceito original (US Wilderness Act, 1964) que define áreas de wilderness, como grandes áreas, que mantêm as suas características naturais intactas, livres de habitações permanentes e com o mínimo de influência humana, até uma perspectiva mais actual visando interesses na conservação e protecção de espécies selvagens. O significado de wilderness traduz áreas localizadas em zonas onde as ameaças aos seus ecossistemas são reduzidas, garantindo assim, uma elevada probabilidade de persistência das espécies existentes, propícias para a manutenção e propagação da vida selvagem. Inerente ao próprio conceito de wilderness, dificilmente se conseguirá identificar limites rígidos para as áreas consideradas como wilderness, mas é possível obter um gradiente espacial indicativo do valor de wilderness. Uma avaliação qualitativa de wilderness apesar de por si só não ser suficiente para a determinação da localização de uma área a proteger, contribui como um importante indicador para a rápida identificação de um gradiente de valores relativos à influência das actividades humanas e ao estado de degradação e alteração dos habitats. O conhecimento de um gradiente de wilderness vem complementar o tradicional método de selecção de áreas para conservação, baseado na protecção dos habitats naturais e dos habitats de espécies da flora e da fauna considerados ameaçados (Aplet et al., 2000). Pretende-se assim, desenvolver um novo método de redefinição de áreas para a conservação, baseada numa rede alargada de áreas wilderness conjuntamente com as actuais áreas protegidas METODOLOGIA A qualidade de wilderness deriva directamente do conceito de wilderness, e pode ser definida pela ausência de impactes derivados da actividade da sociedade moderna e pela distância a qualquer tipo de presença humana. Estes critérios variam continuamente sobre a paisagem, desde as cidades e zonas altamente industrializadas até a áreas completamente selvagens (Mackey et al, 1998). A Austrália iniciou em 1986, o projecto "National Wilderness Inventory - NWI", com o objectivo identificar o valor de wilderness para todo o território Australiano, baseado numa metodologia de modelação espacial em SIG. O NWI baseia-se no conceito de wilderness como um contínuo no território desde o seu valor máximo que corresponde às zonas mais naturais e remotas até às áreas onde predomina o artificial e urbano. O NWI surgiu da preocupação de inventariar a perda de qualidade de áreas consideradas selvagens e da necessidade de informação sobre o tipo de perturbação que pressiona os habitats (Lesslie e Taylor, 1995). Em Inglaterra, estudos indicam que apesar de já não existirem áreas verdadeiramente selvagens, no sentido de grandes zonas virgens sem qualquer tipo de influência humana ao longo da história, é possível identificar um continuo espacial desde zonas mais urbanizadas até áreas mais remotas e inalteradas. A cartografia do continuo de wilderness permite identificar as zonas mais inacessíveis e intactas e compará-las com a actual localização das áreas protegidas (Carver, 2000). Apesar da percepção sobre o significado de áreas de wilderness variar com a experiência de cada indivíduo, é possível identificar um conjunto de características que contribuem para definir o valor global de wilderness, nomeadamente; o grau de isolamento, a acessibilidade, a composição natural do ecossistema, o grau de alteração provocado pelas estruturas humanas e o nível de poluição (Aplet, et al, 1999, 2000). Neste projecto, foi desenvolvida uma metodologia para a modelação espacial das ameaças provenientes da actividade humana, com o objectivo de seleccionar áreas para conservação da vida selvagem. O valor de wilderness é inversamente proporcional à soma das ameaças. As variáveis cartográficas consideradas representativas para a modelação das ameaças aos ecossistemas foram agrupadas em 3 grandes temas; - - Presença humana, que pretende quantificar a perturbação ambiental como consequência directa da dispersão dos indivíduos na paisagem; Poluição do habitat, que pretende quantificar a perturbação ambiental proveniente das actividades humanas, englobaando as fontes poluentes lineares e pontuais; Presença Humana MAX MIN Poluição do Habitat MAX MIN Ocupação do Solo - Ocupação do solo, que pretende quantificar a artificialidade da paisagem, no sentido de traduzir a distância entre a actual classe de ocupação e a potencial, caso não houvesse qualquer tipo de intervenção humana. Artificial WILDERNESS MIN O gradiente de valores de wilderness resulta da aplicação de uma função aos valores estimados das ameaças, Figura 1. Natural MAX Figura 1 - Principais indicadores espaciais do conceito de wilderness Na identificação de áreas para conservação, a consulta a peritos tem sido realizada para colmatar as falhas de informação. Por vezes, torna-se necessário combinar a informação existente com o conhecimento subjectivo dos peritos (Bojórquez-Tapia et al 2003). A metodologia apresentada na Figura 2, tem como principal objectivo o desenvolvimento de um sistema pericial para a modelação geográfica das perturbações ambientais provenientes da presença e das actividades humanas. População Residente Deslocação a Pé tendo como origem as habitações Presença Humana Estradas e Est. da CP Deslocação a Pé tendo como origem as estradas e as estações Est. Estação Rede Viária e Ferroviária Distância da Perturbação Ambiental das Fontes Poluentes Lineares Ferrovia Dupla Poluição Habitat Estrada Regional Fontes Poluentes Pontuais Distância da Perturbação Ambiental das Fontes Poluentes Pontuais Celulose Central Térmica COS Espaço Urbano Ocupação do Solo Classificação de acordo com a artificialidade da Ocupação do Rios/Estuários Figura 2 – Esquema da metodologia Com a informação de base estruturada e o modelo espacial desenvolvido, facilmente se pode prever os efeitos no valor de wilderness perante a instalação de uma nova infra-estrutura ou alteração da ocupação do solo (Lesslie e Taylor, 1995). Informação de Base É fundamental salientar, que os resultados da modelação geográfica dependem directamente da quantidade e da qualidade da informação de base utilizada no sistema. Presença Humana A quantificação da perturbação dos habitats devido à presença humana, tem como objectivo contabilizar a intensidade e a distância da perturbação no ambiente envolvente, como consequência directa da efectiva presença de indivíduos. O estudo teve em consideração duas vertentes; Deslocação a pé, tendo como origem as habitações; pretende traduzir o afastamento dos indivíduos relativamente às suas residências. Deslocação a pé, proveniente das vias de comunicação; refere-se à mobilidade dos indivíduos dentro da paisagem, tendo como origem as estradas e/ou as estações de comboios. Para a representação cartográfica ao Lugar do Nº de Indivíduos Residentes do Censos de 2001, foi necessário recorrer a uma base de dados com a Toponímia de Portugal, desenvolvida entre 1999 e 2002 pelo já extinto CNIG (Centro Nacional de Informação Geográfica), actualmente herança do IGP (Instituto Geográfico Português). O cruzamento de informação entre as duas tabelas, tabela com os dados do Censos 2001 (Sub_TTR) e tabela com a Toponímia georeferenciada (Topo_CNIG), realizou-se através da selecção dos registos de ambas as tabelas onde os campos referentes ao nome dos Lugares eram iguais dentro da mesma Freguesia, partindo do pressuposto de que não existem Lugares com o mesmo Nome dentro de cada Freguesia, Figura 3. Figura 3 – Tabelas que permitiram a georeferenciação dos Lugares Após a correcção e uniformização da escrita dos nomes dos Lugares em ambas as tabelas, obteve-se uma tabela com os campos; Nome, código do Lugar, nº de indivíduos residentes em 2001, e as coordenadas X e Y para a representação cartográfica. Esta a tabela, com 20 640 registos, engloba 92% dos residentes do Continente em 2001. Nº Residentes em 2001 Esta informação tabular foi importada para o Software de Sistema de Informação Geográfica “ArcGis”. A partir dos valores constantes na informação tabular foi elaborado um mapa, representando gradativamente o nº de indivíduos residentes por Lugar, recenseados pelo Censos de 2001, Figura 4. Figura 4 – Nº de indivíduos residentes por Lugar, em 2001 Neste estudo, na quantificação dos indivíduos provenientes da rede viária e das estações dos comboios, foram excluídas as auto-estradas, os IP, os IC e as linhas de comboios, com base no pressuposto de que era impossível a saída dos indivíduos do seu meio de transporte neste tipo de vias. A informação de base provém do mapa da rede rodoviária e ferroviária cedido pelo IGP, Figura 10. Poluição do Habitat O estudo da poluição ambiental realizou-se segundo duas vertentes, consoante o tipo fontes poluentes; Fontes poluentes pontuais. Fontes poluentes lineares. As fontes poluentes lineares incluem toda a rede rodoviária e ferroviária, obtida como já se referiu, com base na informação cartográfica cedida pelo IGP, Figura 10. Os dados sobre as fontes poluentes pontuais do Continente foram obtidos no Instituo da Água – INAG, através da consulta aos Planos de Bacia – PBH. As fontes poluentes pontuais foram classificadas em trinta e seis tipos, e divididas em cinco grandes temas: Indústria química, Figura 5; Indústria de produtos metálicos, Figura 6; Indústria alimentar, Figura 7; Depósito de resíduos, Figura 8; Descargas domésticas, Figura 9. Fontes Poluentes Figura 5 – Indústria Química Fontes Poluentes Figura 6 – Indústria Produtos Metálicos Fontes Poluentes Figura 7 – Indústria Produtos Alimentares Fontes Poluentes Fontes Poluentes Figura 8 – Depósito de Resíduos Figura 9 – Descargas Domésticas Rede viária e ferroviária Figura 10 – Rede Viária e Ferroviária Ocupação do Solo A informação sobre a ocupação do solo do Continente foi baseada na Carta de Ocupação do Solo – COS, produzida pelo CNIG. Devido à complexidade da nomenclatura da COS, com mais de 100 classes, simplificou-se a legenda original da COS com base num critério de simplificação à 1ª letra, sendo agrupados os polígonos adjacentes cujas classes iniciavam com a mesma letra, surgindo um novo polígono com o atributo igual ao tipo de ocupação predominante, ver Quadro I. Quadro I - Exemplo de simplificação da nomenclatura da COS Legenda simplificada V – Vinha Depois de aplicado este procedimento de simplificação a todas as cartas COS (mais de 600), obteve-se um mosaico com informação em formato vectorial de todo o Continente. Este ficheiro, foi convertido para formato raster com uma resolução de 1 ha, ou seja, com um pixel de 100m*100m, o que origina uma matriz de 5776 linhas por 2814 colunas, Figura 11. Legenda original VV1 Vinha VA1 Vinha + Pomar VO1 Vinha + Olival VC1 Vinha+ Cultura anual Classes de ocupação do solo Figura 11 – Classes de Uso do Solo Toda a informação cartográfica, em formato vectorial, foi convertida para o formato raster com uma resolução de um pixel de 1 ha (100m*100m), de acordo com a metodologia desenvolvida neste estudo. Sistema Pericial para a Modelação Espacial do Valor de Wilderness Os modelos periciais de decisão múltipla, baseados em aplicações de sistemas de informação geográfica têm sido utilizados com sucesso na delimitação de áreas para conservação (Bojórquez-Tapia et al 2003). Neste projecto, o desenvolvimento de um modelo de avaliação de wilderness é de seguida descrito nas suas componentes fundamentais. Foi desenvolvida uma aplicação em Visual Basic (VB) para ambiente ArcGis, com a metodologia do modelo pericial de modelação espacial para a cartografia da distribuição do valor de wilderness, Figuras 12. A interface da aplicação Wilderness (versão 2.0) apresenta-se na forma de cartões, que permitem ao utilizador, de um modo simples e interactivo, introduzir os valores de todas as variáveis espaciais. O valor de wilderness para cada pixel é calculado com base na modelação das ameaças. Permite ainda, obter um relatório com um resumo do modelo espacial, incluindo todos os valores atribuídos bem como o respectivo mapa de Wilderness. O cartão inicial pretende caracterizar o perfil do utilizador, correspondendo os restantes cartões aos três grandes temas em que estão agrupadas as ameaças; presença humana, poluição do ambiente, e ocupação do solo. O último cartão permite ao perito atribuir pesos a cada um dos cinco mapas que contribuem directamente para a construção do mapa final com o gradiente do valor de Wilderness. Esta aplicação recorre a vários processos de análise espacial, para o cálculo da intensidade e da magnitude das ameaças, Quadro II: O processos de Reclassificação, que alteram o valor de cada pixel de acordo com o valor da intensidade da ameaça atribuído pelo perito, que o classifica de 1 a 20. A propagação do impacte na paisagem é calculada através da ferramenta de análise espacial “Neighborhood Statistics”, que com base nos valores da intensidade das ameaças, proveniente das reclassificações, e na amplitude dos impactes, de acordo com os valores das distâncias da propagação das ameaças, considerados pelo perito, calcula os valores de dispersão da ameaça no território. Quadro II - Principais Processos de Análise Espacial da aplicação VB desenvolvida Reclassificação (1 a 20) - Presença Humana Reclassificar as estradas e as estações dos comboios, de acordo com a sua contribuição de pessoas para o meio envolvente - Reclassificar as vias de acordo com o grau de perturbação ambiental. Reclassificar as fontes poluentes pontuais de acordo com o grau de perturbação ambiental. Poluição do Habitat - Ocupação do Solo Reclassificar as classes de ocupação do solo de acordo com o seu grau de artificialidade. - - - “Neighborhood Statistics” Atribuir o valor da distância, que considera que um individuo está disposto a percorrer a pé, desde a sua habitação até ao destino, sem recorrer a um meio de transporte Atribuir o valor da distância, que considera que um indivíduo penetrara a pé no território, desde a estrada ou estação da CP até ao destino Atribuir o valor da distância da influência da perturbação ambiental das fontes poluentes lineares. Atribuir o valor da distância da perturbação ambiental em relação à localização das fontes poluentes pontuais. Perfil do utilizador Presença Humana Fontes Poluentes Lineares Fontes Poluentes Pontuais Ocupação do Solo Pesos, Mapa Wilderness, e Relatório Figura 12 – Interface da aplicação desenvolvida em VB (Wilderness, versão 2..0) A integração de modelos periciais multi-critério com técnicas de modelação espacial, possibilita aos peritos, de um modo articulado e interactivo, avaliar o valor e a amplitude da perturbação ambiental derivada da presença humana e em consequência das suas actividades. Este método garante transparência no processo de decisão, através da apresentação dos resultados da modelação espacial associados aos critérios e aos pesos atribuídos pelos peritos. RESULTADOS Com este projecto, efectuou-se uma representação cartográfica do conceito de wilderness. É fundamental salientar o valor relativo dos resultados, uma vez que os modelos cartográficos obtidos pela aplicação traduzem os conceitos teóricos de cada perito, como tal, apresentam uma grande variabilidade. Com base numa análise estatística dos resultados dos modelos periciais, num total de 50, foi elaborada uma cartografia com a distribuição do valor de wilderness para Portugal Continental, que se considera indicativo do grau de presença humana no território e de perturbação da paisagem. As Figuras 13-17, apresentam as médias e os respectivos desvios padrão dos valores atribuídos pelos peritos para cada variável espacial, representam ainda os respectivos mapas resultantes da aplicação Wilderness (versão 2..0). Média D.Padrão D._Hab 836 1044 EN 15 5 EM 13 4 Presença Humana ER CP_D CP_S 12 12 10 5 6 5 CP_R 8 5 Figura 13 - Dispersão dos indivíduos provenientes das habitações. Média D. Padrão Fontes Poluentes Lineares (Classificação de 1 a 20 de acordo com o grau de perturbação ambiental) CP_D CP_S CP_R Aut. IP IC EN EM ER Dist._FP_Lineares 14 11 9 18 17 16 14 10 10 648 5 4 4 3 3 3 3 4 5 745 Figura 14 - Intensidade e amplitude da perturbação ambiental proveniente da rede Viária e Ferroviária. Fontes Poluentes Pontuais Classificação de 1 a 20 de acordo com o grau de perturbação ambiental Média D.Pad. Borrac. 17 3 Celul. 18 3 Ceram. 14 4 Média D.Padrão Adega 10 5 Aquacultura 10 5 Média D.Padrão Aterro 12 5 Compost. 10 5 Indústria Química Curtum. Gráfica 18 13 2 5 Indústria Alimentar Bebidas Cons.Alim. 11 12 4 4 Ciment. 18 3 Azeite 14 4 Res.Const. 13 4 Depósito de Resíduos Res.Ind. Exp.Min. 16 16 3 4 Madei. 11 5 Leite 12 4 Lixeira 19 1 P.Energ. 13 5 Matadouro 15 4 Lix.Encer. 14 4 Quím. 15 4 Rocha 13 4 Panificação 9 4 Pedreira 16 3 Têxt.eis 15 3 Pecuária 16 4 Sucata 16 3 D._Vias 685 896 Média D. Padrão Indústria Produtos Metálicos Maquinaria Metalurgia Prod. Met. 14 16 15 4 3 3 Descargas Domésticas Directa FSC Média 19 15 D.Padrão 2 3 Oficinas 14 3 ETAR 10 4 Fontes Poluentes Pontuais Dist_FP_Pontuais Média 1688 D.Padrão 1770 Figura 15 - Intensidade e amplitude da perturbação ambiental proveniente das fontes poluentes pontuais. Classes De Uso do Solo (classificada com valores de 1 a 20 de acordo com a sua artificialidade) Média D.Pad.rão Urb. 19 1 Infraest. 18 2 Média D.Pad.rão Vinha 9 4 Pomar 9 4 Média D.Pad.rão Azinh. 4 3 Cast.B. 3 3 Média D.Pad.rão Pinh.B. 6 4 Pinh.M. 5 3 Verd.Art.. 16 4 Oliv. 7 4 Lixeira 19 2 Arbust. 5 3 Cast.M. 4 3 Carv. 3 3 O.Res. 6 4 Mato 4 3 Praia 3 3 C.Anuais 9 4 Prado 5 3 Sobr. 4 3 Eucal. 12 5 O.Folh. 6 4 Z.Hum.. 3 2 Figura 16 – Classificação das classes de uso do solo de acordo com a sua artificialidade. Rios 4 3 Média D. Padrão Pesos Atribuídos (1 a 5) Presença Humana Poluição do Habitat Acesso Hab. Ac. Red. Viária F.P. Lin. F.P. Pont. 3 4 4 4 1 1 1 1 Ocup. Solo COS 4 1 Figura 17 - Gradiente do valor de wilderness, resultante da soma ponderada das cinco variáveis cartográficas. A figura 18, representa o mapa que resulta da aplicação de um buffer de de 1km aos pixeis com o valor máximo de wilderness, representados pela cor verde escura. A atribuição de 1km como valor da distância do corredor de protecção, deriva do facto de corresponder a um valor superior ao considerado pelos peritos, como a distância que os indivíduos estão dispostos a percorrer a pé no território (média igual a 836m). Figura 18 - Áreas correspondentes a valores de wilderness elevados. Pretende-se que estas áreas, Figura 18, traduzam locais onde as ameaças devido às actividades humanas sejam mínimas, correspondendo a zonas propícias para a manutenção e propagação da vida selvagem em Portugal Continental. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Através de uma comparação crítica dos resultados obtidos com as actuais áreas protegidas, pretende-se melhorar os processos de selecção de áreas para conservação da vida selvagem, utilizando a cartografia de wilderness. Em Portugal, a conservação da natureza é geralmente baseada na protecção de espécies alvo, implicando uma gestão activa de modo a eliminar ou a diminuir as perturbações para garantir a manutenção e/ou recuperação dos seus habitats. Rede Natura 2000 A Rede Natura 2000 resulta da implementação de duas Directivas comunitárias distintas, a Directiva Aves (79/409/CEE) e a Directiva Habitats (92/43/CEE). São estas Directivas que vão estabelecer as bases para a protecção e conservação da fauna selvagem e dos habitats da Europa. A Directiva Comunitária (79/409/CEE), mais conhecida por Directiva Aves, pretende que cada um dos Estados Membros tome as medidas necessárias para garantir a protecção das populações selvagens das várias espécies de aves existentes no seu território e que estão contidas no Anexo I. Cada Estado Membro da União Europeia deverá classificar como Zonas de Protecção Especial (ZPE) as extensões e os habitats do seu território que se revelem de maior importância para essas espécies. A Directiva Habitats (92/43/CEE) tem como principal objectivo contribuir para assegurar a Biodiversidade através da conservação dos habitats naturais (Anexo I), assim como da conservação de espécies da flora e da fauna selvagens (Anexo II) considerados ameaçados. Cada Estado Membro deverá designar Zonas Especiais de Conservação (ZEC) que serão posteriormente também integradas na Rede Natura 2000. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. Peneda/Gerês Rios Minho e Coura Rio Lima Serra de Arga Côrno do Bico Litoral Norte Valongo Barrinha de Esmoriz Alvão/Marão Montemuro Rio Paiva Serras da Freita e Arada Montesinho/Nogueira Rios Sabor e Maçãs Sítio Romeu Sítio Morais Sítio Samil Sítio Minas Sto. Adrião Douro Int./V. Águeda ZPE Vale Do Côa ZPE Ria de Aveiro Rio Vouga Sítio Dunas de Mira Paúl de Arzila ZPE Paul da Madriz 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. ZPE Paul do Taipal Serra da Lousã Sítio Complexo do Açor Sítio Cambarinho Sítio Carregal do Sal Serra da Estrela Sítio Gardunha Serra da Malcata Tejo Int., Erges e Pônsul Sítio Sicó/Alvaiázere Sítio Azabuxo/Leiria S. Aire e Candeeiros ZPE Paul do Boquilobo Arq. da Berlenga Sítio Peniche/S. Cruz Serra de Montejunto Sintra/Cascais Estuário do Tejo ZPE Lagoa Pequena Fernão F./L. Albuf. Arrábida/Espichel Sítio S. Mamede ZPE Campo Maior Sítio Nisa/Lage Prata Sítio Cabeção 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. Sítio Caia R. Guad./Juromenha Sítio Monfurado Sítio Cabrela Estuário do Sado ZPE Açude da Murta Sítio Comporta/Galé ZPE Lagoa S. André ZPE Lagoa Sancha Costa Sudoeste Sítio Alvito/Cuba Vale do Guadiana ZPE Castro Verde Mourão/Barrancos Sítio Monchique Sítio Caldeirão Sítio Barrocal Ria de Alvor Sítio Arade/Odel. ZPE Leixão Gaivota Sítio Rib. Quarteira Sítio Cerro da Cabeça Ria Formosa/C. Marim Figura 19 - Rede Natura 2000, (fonte: http://www.icn.pt, 2004). Rede Nacional de Áreas Protegidas De acordo com o DL que estabeleceu a Rede Nacional de Áreas Protegidas, devem ser classificadas como áreas protegidas as áreas em que a fauna, a flora a paisagem, os ecossistemas ou outras ocorrências naturais apresentem, pela sua raridade, valor ecológico ou paisagístico, importância científica, cultural e social, que exija medidas específicas de conservação e gestão, em ordem a promover a gestão racional dos recursos naturais, a valorização do património natural e regulamentando as intervenções artificiais susceptíveis de as degradar (Decreto-Lei n.º 19/93). 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. Peneda-Gerês Montesinho Douro Internacional Alvão Serra da Estrela Serras de Aire e Candeeiros Serra de S. Mamede Sintra-Cascais Arrábida SW Alentejano e Costa Vicentina Vale do Guadiana Tejo Internacional Ria Formosa Dunas de S. Jacinto Paul de Arzila Serra da Malcata Berlengas Paul de Boquilobo Estuário do Tejo Estuário do Sado Sapal Castro Marim e Vila Real St. António Lagoas de St. André e de Sancha Litoral de Esposende Serra do Açor Arriba Fóssil Costa da Caparica Figura 20 - Rede Nacional de Áreas Protegidas, (fonte: http://www.icn.pt, 2004). Segundo (Noss, 2000), surge um novo movimento de redefinição de áreas para a conservação, baseada numa rede alargada de áreas de wilderness conjuntamente com as actuais áreas protegidas Com base no conceito original de áreas de wilderness (US Wilderness Act, 1964), definido como grandes zonas, com áreas superiores a 2000 hectares, foram retiradas todas as áreas inferiores a este valor e realizou-se uma comparação com a localização da Rede Natura 2000 conjuntamente com a Rede Nacional de Áreas Protegidas, Figura 21. A figura 21 apresenta; a verde as áreas protegidas (APs), a azul as áreas de wilderness que se encontram dentro das APs, a laranja as áreas wilderness localizadas fora das APs. Com esta Figura pretende-se comparar dois métodos distintos de selecção de áreas para conservação: A abordagem de áreas de wilderness desenvolvida neste projecto, em que a selecção de áreas para conservação de espécies selvagens é baseada no estudo das ameaças. A abordagem baseada na protecção dos habitats de espécies alvo, utilizada na delimitação das actuais APs. Para estes resultados, verifica-se que cerca de metade das áreas de wilderness não estão englobadas pelas APs, o que indica a existência de áreas com elevado potencial para a manutenção e propagação da vida selvagem que actualmente se encontram desprotegidas. Este facto observa-se principalmente no interior e Norte do País, Figura 21. Figura 21 – Comparação entre as áreas de wilderness propostas e a localização das actuais áreas protegidas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Valor de wilderness estima um gradiente de wilderness através de modelação espacial com base em variáveis espaciais representativas dos critérios de definem a qualidade de wilderness, tais como, população residente, localização de infraestruturas, valor ecológico e qualidade ambiental. O valor de wilderness é um indicador do grau de perturbação e de degradação da paisagem. Através da monitorização do valor de wilderness no tempo, obtemos uma indicação da recuperação do ecossistema (Mackey et al, 1998). Como desenvolvimentos futuros, pretende-se aplicar a variável temporal de modo a simular possíveis padrões de evolução de pressão humana sobre as paisagens, com o objectivo de identificar áreas com vocação futura para o estabelecimento de áreas wilderness. De salientar, que os resultados obtidos com esta metodologia não são rígidos nem estáticos, resultando de um sistema pericial dinâmico, em que o utilizador/perito pode simular diversas perspectivas de avaliação, podendo assim, equacionar diversos cenários e, inerentemente efectuar uma avaliação prospectiva sobre os seus próprios conceitos iniciais. A estrutura do sistema e da aplicação desenvolvida permite a realização de diversos tipos de simulação traduzindo não apenas variações de avaliação pericial mas igualmente a avaliação de transformações territoriais, constituindo assim um precioso instrumento de apoio a processos de planeamento e ordenamento do território. AGRADECIMENTOS Agradecemos à FCT pelo financiamento deste projecto através da Bolsa de Doutoramento 8752/2002. REFERÊNCIAS 1. Aplet, G., J. Thomson, and M. Wilbert. 2000. Indicators of wilderness: using attributes of the land to assess the context of wilderness. Proceedings of USDA Forest Service RMRS. 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Vol. 15:1. pag. 52-54. _________________________________________________________________________________________________ 1 Instituto Geográfico Português e-mail [email protected] Universidade de Évora e-mail [email protected] 2 University of Oxford e-mail [email protected] 3