ESTUDO BÍBLICO

Transcrição

ESTUDO BÍBLICO
A Felicidade Segundo as Escrituras
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ESTUDO BÍBLICO
Texto: Sl 1.
Tema: A Felicidade Segundo as Escrituras.
Introdução
A pós-modernidade tem sido caracterizada por uma série de valores e
posturas bem acentuados. Entre eles, pode-se constatar que o homem da
segunda metade do século XX em diante é um ser que procura encontrar o
sentido da vida naquilo que possa trazer o máximo de felicidade e bem estar
pessoais.
A ordem é ser feliz, custe o que custar. As experiências que geram
prazer e êxtases são celebradas como boas em si mesmas, pois provocam a
preciosa sensação de plenitude. Se o que leva o indivíduo a sensações
agradáveis ou intensas é considerado ilícito pela sociedade, não importa; o
importante é sentir-se bem e encontrar a “sua” felicidade, esteja ela onde
estiver.
O contrário também é verdadeiro. Tudo quanto possa gerar sofrimento,
desconforto e mal estar devem ser, a todo custo, evitados. As vicissitudes da
existência são encaradas como intromissões indesejáveis. Não há nenhum
bem ou proveito nelas. Nada se pode aprender delas.
Pode-se perceber que a busca da felicidade é uma meta tão forte que,
até mesmo responsabilidades são rechaçadas. Se as mesmas não produzem
alguma recompensa imediata, não vale à pena tê-las. Por isso, o que mais se
vê é fuga de realidades. Se o meu trabalho tem algum problema, não quero
resolver a dificuldade, pois não quero me desgastar e ser infeliz. O melhor é ir
para outro emprego. Se o casamento encontrou algum desgaste ou dificuldade,
o melhor é separar é procurar outra pessoa. A felicidade está sempre lá fora,
em outro lugar.
Desenvolvimento
E a Bíblia, o que tem a dizer sobre a felicidade? O que é a felicidade
segundo as Escrituras? Ela a promete neste mundo? Ela é um alvo a ser
alcançado? Em que consiste a felicidade? Cristianismo e felicidade são ideias
complementares?
Essas e outras perguntas são necessárias e se tentará respondê-las
neste estudo. De fato, como cristãos, toda a nossa cosmovisão, todos os
nossos valores, todos os nossos sentimentos e todas as nossas ações devem
estar alicerçados na infalível Palavra de Deus. Ela é nossa regra de fé e
prática. Por isso, devemos, com súplicas diante do Senhor, buscar o
entendimento correto a esse e a todos os demais temas.
Do ponto de vista da mera presença do termo pode-se constatar que a
Bíblia fala sobre a felicidade. A palavra é encontrada 7 vezes nas Escrituras na
versão portuguesa “Revista e Atualizada” (Gn 30.13; Dt 24.5; Et 8.16; Jó 9.25;
30.15; 36.11; Ec 2.1). O vocábulo “feliz” é encontrado 34 vezes, sendo 29 no
Antigo Testamento e 5 em o Novo. A palavra “bem-aventurado”, a preferida da
A Felicidade Segundo as Escrituras
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Bíblia, aparece 73 vezes, sendo 26 em o Antigo e 47 em o Novo Testamento.
Os evangelhos são os livros nos quais mais se encontra essa palavra. Isto se
explica por causa dos ensinos de Jesus sobre o tema.1
A presença em si dos termos e vocábulos não é tão significativa. A
interpretação e o valor que as Escrituras dão – ou deixam de dar – é o que
realmente importa. E, sem dúvida, as Escrituras têm muito a falar sobre esse
assunto.
O texto que serve de base para nossa lição fala sobre felicidade. O
saltério começa apontando o verdadeiro princípio de felicidade ao associá-la à
vida piedosa na presença de Deus.
A intenção do texto bíblico não é falar de felicidade perfeita ou plena
neste “aqui e agora”. Segundo a Bíblia de Genebra, em sua nota de rodapé,
“bem-aventurado é uma palavra mais enfática do que ‘feliz’; ser alguém ‘bemaventurado’ é desfrutar do favor e da graça especiais de Deus.” 2 A chave
interpretativa está aqui. Ser feliz não significa alcançar o céu na Terra nem
tampouco ser imune às vicissitudes da existência. A felicidade reside no fato
de, independente de quaisquer circunstâncias, estar debaixo da graça de Deus.
O salmo 1 não se encontra na porta de entrada do hinário de Israel por
acaso. A ideia é mostrar que a verdadeira vida, alegria e felicidade são
encontrados em Deus, em seu favor e graça. Adiante neste estudo falaremos
mais sobre esse tópico.
É possível ser feliz neste mundo e encontrar alegrias circunstanciais. A
Bíblia não nega tal possibilidade, assim como não nega alegrias mundanas. No
entanto, não é possível encontrar o paraíso da felicidade neste mundo. Um
lugar no qual resida a plena felicidade não existe neste mundo! Nem tampouco,
é correto associar a verdadeira felicidade (que só se encontram no favor e na
graça de Deus) com a felicidade que qualquer pessoa pode usufruir a partir das
realidades existenciais.
A felicidade é a alegria intensa podem ser encontradas em pequenas
coisas. Carlos drummond de Andrade escreveu: “há duas épocas na vida,
infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons.” Ou seja,
em coisas simples e corriqueiras, segundo o poeta, é possível encontrar um
pedaço de felicidade, ainda que essa não seja eterna e espiritual.
A Bíblia não fala somente de alegrias eternas e divinas, devemos
entender isso. Por exemplo, há o mandamento do recém casado não ir para a
guerra a fim de, por um espaço de um ano, “promover a felicidade da mulher
que tomou” (Dt 24.5). Salomão viu que a vida deve ser vivida com alegria, gozo
e satisfação (Ec 11.9-10). Óbvio, porém, que toda felicidade que não estiver de
acordo com a vontade de Deus será julgada e cobrada (Ec 11.9c). O rei de
Israel também reconheceu que a alegria, o gozo e a felicidade terrenos são
passageiros (Ec 2.1). Não há na felicidade terrena o peso da eternidade.
Em suma, existe alegrias neste tempo que não são necessariamente
pecaminosas e muitas delas Deus dispôs a todos os homens. Entretanto, a
verdadeira e eterna alegria só podem ser alcançadas na presença do Senhor.
Abaixo, exporemos um pouco daquilo que entendemos ser ensinamento
bíblico sobre a felicidade. Veremos o que não é felicidade segundo as
1
Dados levantados a partir de pesquisa feita na Concordância Bíblica da Sociedade Bíblica do Brasil
baseada na versão Revista e Atualizada.
2
BÍBLIA DE GENEBRA, p. 615.
A Felicidade Segundo as Escrituras
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Escrituras e logo em seguida, veremos o que ela é segundo as mesmas
Escrituras.
1) A verdadeira felicidade segundo a Bíblia não está fundamentalmente
baseada em posses, bens ou riquezas.
Em 2010 o instituto Gallup fez uma pesquisa em 155 países
encomendada pela Forbes e constatou que o país mais feliz do mundo é a
Dinamarca. O Brasil é o 12º país, estando à frente da nação mais rica, os
Estados Unidos da América, que ocupa a 14ª posição. A Alemanha e França
que são a 4ª e 5ª nações de maiores PIBs do mundo ocupam a 33ª e 44ª
posições respectivamente no ranking das mais felizes do mundo. A China, que
tem o 2º maior PIB do planeta, ocupa a 125ª posição e o Japão, 2ª maior
economia, ocupa a 81ª posição no ranking dos países mais felizes do mundo. 3
Embora, como a pesquisa mostrou, o grau de satisfação dos habitantes
de um país esteja também associada às riquezas produzidas por ele, a
felicidade não se mede única e exclusivamente pelo dinheiro, pois se assim
fosse, os países mais ricos seriam os mais felizes, fato que não ocorre.
Em resumo, o que a pesquisa mostrou é que o dinheiro traz algum
senso de felicidade até ao ponto de satisfazer as necessidades básicas do
indivíduo, mas a felicidade não aumenta na medida em que se aumenta a
riqueza. Aqueles que possuem 5 milhões de reais não são cinco vezes mais
felizes do que aqueles que possuem 1 milhão, por exemplo.
Nas Escrituras, o dinheiro não é a raiz da felicidade. Pelo contrário: “o
amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1 Tm 6.10). Na verdade, se o
dinheiro for senhor e dono da vida do indivíduo, haverá infelicidade em vez de
felicidade. E é por essa razão que as Escrituras ensinam que não devemos
colocar nosso coração nas riquezas, ainda que elas aumentem e multipliquem
(Sl 62.10).
Pelo senso comum da sociedade, dinheiro e felicidade são quase
sinônimos. Dificilmente se encontrará alguém que não associe felicidade ao
dinheiro. Mas por quê as pessoas os associam? Porque com o dinheiro, se
pode comprar, consumir e ter tudo quanto se deseja. E em nossa sociedade
capitalista, poder de compra tornou-se sinônimo de felicidade. O dinheiro é a
via pela qual se pode ter o “respeito”, a bajulação e a inveja do outro. Se se
tem dinheiro, a pessoa é alguém; se não se tem, o indivíduo é um “joãoninguém”. Por isso, felicidade e dinheiro, na mentalidade da grande maioria das
pessoas, são iguais.
É interessante notar que muitas vezes as “pedras clamam” e profetizam
mais do que a igreja. Homens não religiosos entenderam que o dinheiro, em si,
não é a fonte eterna e perene da felicidade. Arthur Schopenhauer, por
exemplo, disse que “a nossa felicidade depende mais do que temos nas
nossas cabeças, do que nos nossos bolsos.” E Bertrand Russell vai mais
adiante ao afirmar que “não possuir algumas das coisas que desejamos é parte
indispensável da felicidade.”
3
Esses dados são de 2010 e podem ser melhor analisados no site:
http://www.forbes.com/2010/07/14/world-happiest-countries-lifestyle-realestate-gallup-table.html
A Felicidade Segundo as Escrituras
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Infelizmente, onde deveríamos esperar um discurso e ensino
fundamentado nos preceitos da Palavra de Deus, ouvimos algo totalmente
diferente. Assim é que nas igrejas adeptas da Teologia da Prosperidade a raiz
fundamental da felicidade é o dinheiro. Muitos crentes acreditam nisso. Muitos
associam sua fé, bem estar, sentimento de satisfação e “plenitude” ao fato de
ter ou não dinheiro. Agindo e pensando assim, além de andarem na contramão
das Escrituras, estão perdendo a graça de valorizar o que realmente tem valor.
2) A felicidade segundo a Bíblia não está baseada em posição social ou
ocupação profissional de destaque.
Outro parâmetro de felicidade segundo as concepções da sociedade
secular sem Cristo é a posição social. A felicidade está em algum status social;
em outras palavras, ela é encontrada nas ocupações ou tarefas mais
valorizadas pelos grupamentos humanos.
E não basta ter uma boa profissão. É necessário ter projeção. Alguns
pensam: “feliz é o jogador de futebol: ganha muito dinheiro, tem a admiração
de milhões, tem prestígio, tem reconhecimento. Isso sim é felicidade.” Ou
então: “feliz é a modelo. Feliz é o artista. Feliz é a celebridade.” Em resumo, a
ideia é: “serei feliz quando me tornar uma pessoa importante, de projeção,
reconhecida, admirada e invejada por todos! Serei feliz quando me notarem.”
Felicidade, status e projeção social tornaram-se similares para muitos na
sociedade dos nossos dias.
Em pesquisa recente realizada pela Universidade de Chicago, com 27
mil americanos de todos os setores de trabalho constatou-se que
“as carreiras que
abrigam
os
profissionais
mais
felizes
não
oferecem salários milionários ou passaporte garantido para as camadas mais
altas da sociedade. Mas elas oferecem algo que dinheiro nenhum compra:
orgulho e coerência no que se faz. ”4 Segundo esse mesmo texto, a ajuda ao
próximo e a paixão pelo que se faz é “a principal fórmula para a satisfação no
trabalho.”5
Enganam-se aqueles que pensam que o status social restringi-se
apenas ao estrelato da fama e do poder econômico, político ou cultural.
Igualmente estão enganados aqueles que pensam que ela não se encontra nas
esferas religiosas.
O indivíduo projeta sua felicidade na ocupação de algum cargo ou
função de prestígio. Talvez essa seja uma das explicações de encontrarmos no
seio da Igreja Protestante tantos que não mais aceitam serem chamados
simplesmente de pastores, mas querem ser reconhecidos como bispos, bispas
(o correto seria episcopisa) apóstolos e até mesmo Paipóstolo. 6
Alguns irmãos e irmãs também se iludem quando deixam de enxergar
sua função no corpo de Cristo e passam a dar mais importância aos cargos e
títulos que recebem. Biblicamente falando, mais importante do que ter o título
4
Informações encontradas no site da Revista Exame: http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/as-10carreiras-que-trazem-mais-felicidade-profissional
5
Idem.
6
Título atribuído ao Brasileiro René Terra Nova cujo significado seria algo como pai dos apóstolos.
A Felicidade Segundo as Escrituras
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de diácono, presbítero e pastor é exercer as funções com o fim de glorificar a
Deus abençoar o povo do Senhor.
Precisamos não apenas cantar, mas viver a música “Tua Graça me
Basta” de Luiz Arcanjo e Davi Sacer. Nela, se diz: “eu não preciso ser
reconhecido por ninguém; a minha glória e fazer com que conheçam a ti. E que
diminua eu, para que tu cresças, Senhor, mais e mais...”
A felicidade não está no fato de eu ser visto e reconhecido por aqueles
que me cercam, mas ser visto e reconhecido por Aquele que sonda e conhece
os nossos corações (ver Mc 12.41-44). A felicidade está na ato de servir, não
no ato de ser admirado ou ovacionado pelas pessoas.
Segundo as Escrituras, a única “posição social” que vale à pena é
aquela proporcionada pelo bom nome. Provérbios ensina que “mais vale o bom
nome do que as muitas riquezas e o ser estimado é melhor do que o ouro e a
prata” (Pv 22.1). É pelo caráter, não pela importância da posição que se ocupa
que se pode ter prestígio. O bom nome está alicerçado na vida justa, correta,
integra que o indivíduo leva diante de Deus e dos homens.
3) A felicidade segundo a Bíblia não está ancorada nas circunstâncias
favoráveis.
Este é um dos pontos mais difíceis, tanto de se refletir quanto de se
viver. Por um lado, segundo as Escrituras, a felicidade não depende das
circunstâncias. Na verdade, apesar das circunstâncias, ela pode ser
experimentada.
Obviamente não se está dizendo aqui que as circunstâncias não tragam
dores e sofrimentos ou alegrias e satisfação. Não se nega que as mesmas
possam influenciar a vida de um cristão. Não somos imunes a elas. Não
estamos acima e além das circunstâncias. Somos pessoas de carne e osso
que podem ser profundamente afetadas pelo meio e pelas circunstâncias
favoráveis e desfavoráveis da vida.
Na verdade, tantas e tantas vezes o filho de Deus move-se pelas
circunstâncias e não pela fé. Ele está feliz se, circunstancialmente, tem
dinheiro, saúde e outros bens. Ele se sente infeliz se sonhos e projetos
naufragam, se está doente ou se passa por alguma crise. É óbvio que ser
afetado pelas circunstâncias é normal – e até mesmo esperado! Provérbios,
por exemplo, diz que a “esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o
desejo cumprido é árvore de vida” (Pv 13.12).
Por outro lado, o ideal de Deus não é esse. O Senhor espera que
vivamos pela fé nele e não movidos pelos ventos das circunstâncias. Sofrer e
se alegrar com elas é perfeitamente normal. Viver presos ou acorrentados às
circunstâncias, não.
Sofreremos ou nos alegraremos com as circunstâncias, mas
diferentemente daqueles que não conhecem a Deus, nossa felicidade não pode
estar alicerçada nelas. As circunstâncias são tremendamente variáveis. Elas
oscilam e para sempre oscilarão neste mundo. Os ventos da vida mudam
constantemente, ora soprando favoráveis, ora desfavoráveis. Isso é a vida (Ec
11.8). Por isso, não ponha sua felicidade nas circunstâncias.
A Felicidade Segundo as Escrituras
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Apesar das circunstâncias, das dores, dos sofrimentos, dos reveses, das
lutas, das ingratidões, dos dissabores e até mesmo da tragédia, aquele(a) que
se encontrou com Cristo pode e deve cantar com H. G. Spafford 7:
Se paz a mais doce me deres gozar,
Se dor a mais forte sofrer,
Oh! Seja o que for, tu me fazes saber
Que feliz com Jesus sempre sou!
Nossa felicidade não está nas circunstâncias, mas em Cristo Jesus.
Embora elas nos afetem, não são a base fundamental da felicidade. Esse é o
segredo! O apóstolo Paulo viveu nesta mesma perspectiva de fé. Ele aprendeu
a viver em Cristo, não confiado nas circunstâncias.
•
Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais,
renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis
antes, mas vos faltava oportunidade. Digo isto, não por causa da
pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer
situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo
e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura
como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso
naquele que me fortalece – Fp 4.10-13.
4) A felicidade segundo a Bíblia está frequentemente associada à
santidade de vida.
Segundo o livro de Salmos feliz é a pessoa que não se compromete com
um estilo de vida pecaminoso. Para o salmista o homem feliz, em suma, é
aquele que não vive na prática de pecados. Ele não anda no conselho do
ímpio, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos
escarnecedores (Sl 1.1).
Santidade e felicidade, segundo as Escrituras, andam de mãos dadas. A
Bíblia associa o ser feliz ao fato de ser um santo homem/mulher de Deus. O
contrário também é verdadeiro. Isaías, o profeta, repete em seu livro que para
os perversos, ou seja, para os homens que não têm compromisso com Deus e
sim com o pecado, não há paz (Is 48.22; 57.21).
O conceito hebraico de paz é mais amplo do que o nosso. Shalom para
o judeu implica em paz de alma, paz com Deus, bem estar e, em certa medida,
felicidade. O ímpio, portanto, não tem paz. Embora possa ter bens e dinheiro e,
ainda que goze de certa tranqüilidade circunstancial, não é, de fato e de
verdade, feliz.
7
Horatio Gates Spafford foi um bem sucedido advogado cristão norte-americano que investiu muito dos
seus ganhos em imóveis. No chamado grande incêndio de Chicago, no dia 08 de outubro de 1871, perdeu
quase todo o seu patrimônio. Dois anos depois desta grande tragédia ele e sua família resolveram
descansar na Inglaterra, perto do amigo D. L. Moody, que estaria lá pregando no outono do ano de 1873.
A esposa e quatro filhas foram adiante de Spafford, que precisa cuidar de alguns negócios pendentes. Na
viagem, houve um acidente marítimo e ele perdeu todas as filhas, sobrevivendo apenas a mulher. Contase que durante sua viagem à Inglaterra escreveu os versos deste famoso hino.
A Felicidade Segundo as Escrituras
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O homem/mulher sem Deus, embora não tenha paz, pode usufruir de
prazeres e alegrias mundanas. Pode experimentar grandes gozos. A ideia é:
felicidade não se mede pelos êxtases ou prazeres que um individuo possa ter,
mas pela shalom de Deus em sua alma.
O Senhor Jesus disse que os limpos de coração, ou seja, os santos, são
bem-aventurados (Mt 5.8). Eles são felizes porque a santidade na qual vivem
tanto lhes traz a bênção da paz com Deus agora, como a plenitude dela na
eternidade. Não somente ele é feliz, mas a sua descendência também o será.
É isso que Provérbios ensina (Pv 20.7).
Vale lembrar que o termo “santo” implica em separação do mundo para
Deus. O indivíduo, embora vivendo no mundo, não pertence a ele, não se
mistura a ele, não usufrui das suas benesses e prazeres pecaminosos. Os
valores, compromissos, aspirações e ambições são diferentes.
Está claro nas Escrituras que a razão de todo sofrimento, dor e males
encontra-se no pecado. Ele gera males sem conta para a existência humana. E
o resultado final de uma vida pecaminosa é a plena infelicidade, pois seu maior
salário é a morte (Rm 6.23), não apenas física, mas espiritual.
Basta olharmos ao nosso redor e vermos que muitos homens e
mulheres que mergulham na promiscuidade, nas drogas, no alcoolismo e em
tantos outros pecados não têm paz, não têm felicidade, não têm equilíbrio.
Podem ter êxtases e alegrias mundanas. Podem experimentar sensações
poderosas e prazeres indescritíveis, todavia não são felizes. Tais pessoas
encontram-se completamente perdidas em seu hedonismo. Podem nadar em
dinheiro e prazeres, mas não conseguem navegar no mar da felicidade.
Quantos morrem em plena juventude. Alguns, como cantores e cantoras
de “sucesso”, partem para a eternidade de um modo deprimente. 8 Não se nega
que os mesmos experimentaram grandes prazeres e êxtases. Não se nega que
até mesmo riram à exaustão. Mas, pelas Escrituras, nega-se que foram felizes
de verdade.
5) A felicidade segundo a Bíblia está associada ao compromisso com a
Palavra do Senhor.
Aqui neste mundo, a plena felicidade não é possível. Todavia, dias
felizes, abençoados e sem maiores dores de cabeça podem ser reais na vida
daqueles que pautam sua existência pela palavra de Deus.
Deve-se frisar, mais uma vez, que isso não significa que intempéries,
vicissitudes e até mesmo tragédias deixam de bater à porta da existência de
um homem ou mulher de Deus. Salomão nos lembra que a vida de qualquer
pessoa será alcançada por “dias maus” – e ainda acrescenta que esses dias
serão muitos! (Ec 11.8).
8
A lista é grandiosa. Apenas para citar alguns dos mais famosos: Jimi Hendrix, aos 27 anos, morreu
sufocado em seu próprio vômito. Janis Joplin, aos 27 anos, de overdose de heroína. Jim Morrison,
também de overdose de heroína. Elvis Presley, ataque cardíaco provocado, provavelmente, por abuso de
medicamentos. Bon Scott, vocalista do AC/DC sufocado com o próprio vomito devido ao coma alcoólico.
John Bonham, baterista do Led Zeppelin, coma alcoólico provocado por alta ingestão de vodka. Raul
Seixas, pancreatite aguda provocada pelo abuso de bebidas alcoólicas. Kurt Cobain, suicídio com arma de
fogo. Amy winehouse fez uso de drogas pesadas, incluindo crack, mas morreu por ingestão excessiva de
álcool, depois de ter ficado três semanas em abstinência.
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Assim, feita essa ressalva, é inegável que a Palavra de Deus é fonte de
alegria e felicidade. O próprio salmista nos diz isso no Sl 1.2. Bem-aventurado
é aquele(a) que não somente se desvia do mal e do pecado; é também o que
tem o seu prazer na Lei do Senhor e nessa Lei medita de dia e de noite. Essa é
a grande mensagem do Salmo 119 que é um salmo todo ele dedidcado à
Palavra de Deus. Os versículos 1 e 2 falam clara e abertamente que quem
anda na Lei do Senhor e guarda os preceitos desta Lei é bem-aventurado.
Outros textos e escritores caminham na mesma direção do escritor do
Salmo primeiro. Por exemplo, o autor de Provérbios diz que feliz é quem
guarda a Lei (Pv 29.18). Também fala que quem teme ao Senhor é feliz (Pv
28.14; Sl 128.1). Lembremo-nos que quem teme a Deus, necessariamente,
guarda a Sua Palavra. No mesmo livro de Provérbios diz-se que a sabedoria,
sinônimo da palavra de Deus, é fonte de felicidade (Pv 3.18; 8.32, 34).
Devemos entender que a Palavra de Deus não é a palavra dos homens.
Assim como os caminhos e pensamentos do Senhor, não são os caminhos e
pensamentos dos homens (Is 55.8-9), a felicidade segundo as Escrituras é
diferente da felicidade segundo nossa sociedade e época. Mas se o indivíduo
resolve confiar no Senhor e em sua palavra, será realmente feliz (Pv 16.20; Sl
84.12).
A felicidade de acordo com a palavra de Deus é, não somente diferente
da felicidade segundo o mundo; ela é quase sempre radicalmente oposta. Veja
alguns exemplos dessa diferença:
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Felicidade consiste em doar, não em receber (At 20.35).
Felicidade está em se compadecer dos pobres e necessitados (Sl 41.12; Pv. 14.21).
A Felicidade está em saber guardar a sua língua e não falar
desnecessariamente (1 Pe 3.10).
Felicidade está em se perseverar nos caminhos do Senhor, apesar das
oposições (Tg 5.11).
Pode-se ser feliz mesmo quando perseguido, injuriado e maltratado por
causa do nome de Jesus (Mt 5.10-12 ver At 5.40-41).
A felicidade encontra-se com aqueles que amam a santidade em Cristo
Jesus, não naqueles que amam os prazeres do pecado (Mt 5.8).
Felicidade é ter fome e sede de justiça; é fazer o que é certo, não o que
é errado (Mt 5.6).
Felicidade é ser misericordioso, compassivo com os mais fracos e
débeis (Mt 5.7).
Felicidade suprema é morrer no Senhor (Ap 14.13).
A proposta de Deus é: “quer ser feliz? Ouça e viva de acordo com a
minha palavra, não de acordo com o seu pensamento ou o pensamento deste
mundo tenebroso.”
6) A felicidade segundo a Bíblia está relacionada à presença de Deus.
Do ponto de vista bíblico, a felicidade não deve ser buscada ou
perseguida. A felicidade é fruto do andar com Deus, em seu temor e
obediência. Ela é conseqüência, nunca finalidade ou objetivo último da vida. A
A Felicidade Segundo as Escrituras
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verdadeira felicidade nos atinge em conseqüência da alma ter se encontrado
com o Senhor e Salvador Jesus Cristo.
A Bíblia nos ensina que a alegria e a felicidade encontram-se na
presença de Deus. Saber viver em Deus e depender dele consiste toda a
felicidade dos cristãos. Infelizmente, nem sempre os servos(as) de Deus
conseguem viver nessa dimensão.
Quando a alma se encontra com o Senhor, ela se encontra com fonte de
toda felicidade. E ainda que nos seja impossível experimentá-la plenamente
enquanto vivermos neste mundo, o cristão a usufrui hoje e a usufruirá
completamente na eternidade.
O salmista compreendeu que a felicidade, chamada por ele de plenitude
de alegria está na presença de Deus (Sl 16.11). Não apenas a felicidade, mas
o filho(a) de Deus experimentará “delícias perpetuamente” na presença do
Senhor.
Em nosso hinário há uma expressão de fé que coloca a razão da
felicidade em se estar na presença de Deus. O hino 102 “O Céu Com Cristo”,
em sua terceira estrofe e coro diz:
Bem pouco importa eu habitar
Em alto monte, à beira-mar
Em casa ou gruta, boa ou ruim,
É céu ali, com Cristo em mim.
Oh! Aleluia! Sim é Céu.
É céu fruir perdão aqui!
Na terra ou mar, por onde for,
Com o Senhor é céu ali.
No salmo 84.11 o salmista diz que um dia nos átrios do Senhor “vale
mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas
tendas da perversidade.” Na presença de Deus encontra-se a verdadeira
felicidade.
Agostinho, em seu livro “Confissões”, entendeu que a felicidade está em
Deus: “Fizeste-nos para ti, Senhor; e inquieto está o nosso coração enquanto
não descansa em ti.” O coração inquieto é um coração sem paz, sem sossego
e, essencialmente, sem felicidade. Encontramo-la quando nos encontramos
com o Senhor.
Essa felicidade superior, e ao mesmo tempo interior, fundamenta-se na
relação do ser humano com o Todo-Poderoso. Embora, como dissemos acima,
existam pedaços de felicidade que Deus disponibilizou, em sua graça comum,
a todos os seres humanos, a verdadeira e eterna só pode ser experimentada
pelo ser humano que está em Cristo Jesus.
Como dissemos acima, ela pode ser experimentada mesmo nos grandes
vendavais da vida. Não é fácil. Também não implica a negação da dor e do
sofrimento. Mas ela pode ser experimentada apesar de toda adversidade. Isso
é o que Habacuque, o profeta, nos ensina. Observe no texto abaixo que,
apesar das circunstâncias calamitosas, ele se alegra e exulta no Senhor, ou
seja, em sua presença.
A Felicidade Segundo as Escrituras 10
•
Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da
oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas
sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu
me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação. O SENHOR
Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me
faz andar altaneiramente. Ao mestre de canto. Para instrumentos de
cordas – Hb 3.17-19
Conclusão
O povo de Deus é feliz. Não o é na perspectiva mundana. Nem
tampouco esse mesmo povo feliz está imune às dores e sofrimentos ou a
momentos de tristezas e dissabores.
Sua maior alegria não se encontra nas bênçãos materiais que possa
alcançar da parte de Deus. Embora elas naturalmente sejam fonte de alegria e
nos sejam dadas constantemente pelo Senhor, elas não podem ser a razão
maior de nossa felicidade.
Para o povo de Deus ela não se encontra em status, reconhecimento
mundano, cargos ou funções que o indivíduo exerça. Ela não está
fundamentalmente associada às circunstâncias favoráveis. A felicidade do
filho(a) de Deus reside no Senhor.
Podemos ver uma ilustração deste fato no retorno dos apóstolos da
viagem missionária que empreenderam. Eles estavam radiantes pelo fato de
coisas extraordinárias terem acontecido. Foram bem-sucedidos expulsando
demônios e curando enfermos. Jesus, porém lhes diz que eles deveriam se
alegrar não porque realizaram essas obras, mas porque os seus nomes
estavam escritos no livro da vida (Lc 10.17-20). Eles pertenciam a Deus!
Nós não precisamos buscar ou procurar a felicidade aqui, ali ou acolá.
Precisamos apenas nos aproximar do Todo-Poderoso e da sua Palavra, pois é
na presença de Deus, andando no temor do Senhor, que a desfrutaremos
como conseqüência, não como finalidade da vida.
Nós já somos felizes em Jesus Cristo e se não experimentamos essa
felicidade é porque há algo errado. Talvez tenhamos uma noção de felicidade
equivocada. Ou quem sabe não estamos vivendo de acordo com os
ensinamentos das Escrituras e sim do mundo. O fato é que ser cristão é não ter
algum grau de felicidade em Cristo, apesar de qualquer luta que se tenha, é
algo estranho à Bíblia.
O Cristão, o mesmo que foi lavado e remido no sangue do Cordeiro, é
feliz. O poema “Da Felicidade” de Mário Quintana ilustra o que dissemos. Veja:
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
Não precisamos procurar a felicidade nem fora nem além de Jesus, pois,
do contrário, à semelhança do avozinho, faremos papel de bobos.

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