Alterações Renais
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Alterações Renais
Alterações renais na Anemia Falciforme Dra. Teresa Cristina Nobrega NEFROLOGISTA HEMORIO O dano nos órgãos é um processo evolutivo E embora o curso da doença seja pontuado por episódios de dor, o .dano nos órgãos é freqüentemente silencioso durante sua progressão, até atingir um estado avançado. Como funciona o rim Mantém nosso organismo em equilíbrio: Filtra o sangue e retira o excesso de líquidos e substâncias que não precisam ficar dentro do nosso corpo, como uréia, creatinina e acido úrico... Devolve ao sangue substâncias de que nosso sangue precisa, como cálcio, proteína e sódio... Produz hormônios que vão ter ação sobre a produção de sangue, formação dos ossos, etc. Primer of Kidney Disease Fourth Edition Estrutura Glomerular LESÃO ENDOTELIAL GLOMERULAR = LESÃO ENDOTELIAL SISTÊMICA O QUE É Nefropatia da Anemia Falciforme? Anormalidades estruturais e funcionais renais encontradas na anemia falciforme Favorecida pela baixa concentração de O2 e o meio hipertônico da medula renal Doença falciforme HISTÓRICO África 7000 anos Cruz Jobim – Rio de Janeiro 1835 Lebby – EUA 1846 Accioli – Bahia 1908 Herrick 1910 - forma anormal de eritrócitos - aumento de volume urinário - inabilidade para concentrar a urina Ingram - 1956 substituição β 6 Glu →Val Ácido glutâmico (Hb A) Valina (Hb S) Favorece a polimerização Hb S agregadas que formam polímeros Morfologia do eritrócito forma afoiçada Obstrução microvascular Isquemia Fibrose medular intersticial Perda de vasa recta Necrose papila Hipertrofia glomerular Proteinúria Hipostenúria Hematúria GESF IRC Poliúria, desidratação Saborio SaborioeeScheinam, Scheinam,1999 1999 Fisiopatologia Grupo de Idade Isquemia micro -ambiente micro-ambiente INFÂNCIA Destruição de Vasa Recta Defeito no mecanismo medular de contra corrente Alteração reabsorção do Na Hipostenúria Wong e cols., 1996 Fisiopatologia Grupo de Idade ADOLESCÊNCIA Aumento de prostaglandinas vasodilatadoras Aumento de fluxo sangüíneo renal Aumento da taxa de filtração glomerular Wong e cols., 1996 Fisiopatologia Grupo de Idade ADULTO Glomeruloesclerose mediada hiperfiltra ção hiperfiltração Diminuição de taxa filtração glomerular Progressiva isquemia e fibrose Insuficiência Renal Crônica Wong e cols., 1996 Primeira e Segunda década: Noctúria, enurese, hipostenúria Aumento na secreção de creatinina e de ácido úrico Defeito na excreção de K Proteinúria Bacteriúria Hematúria Terceira e Quarta década: Necrose de papila Nefrite intersticial Sindrome nefrótica ( GNMP, GESF) Hipertensão IRC Insuficiência Renal Prevalência de 4,2 % (Powars e cols., 1991) a 18% (Thomas e cols., 1982) Bakir, 1987- 22 pacientes com glomerulopatia : 68% com IRC (follow-up - 39 meses), 50% mortalidade Powars e cols., 1991 –725 pacientes – (36) 4,2% IRC precedido por: o proteinúria (68 %) o síndrome nefrótica (40%) o hipertensão arterial (36%) o sobrevida de 27 anos com IRC e 51 anos sem IRC IRC- Classificação GLOMERULOPATIA NA ANEMIA FALCIFORME: CURSO CLINICO E ASPECTOS DE HISTOPATOLOGIA RENAL. T.C.O. Nóbrega 1. 2; M.L.F. Veras ,1 L. Rioja 2. 1HEMORIO. 2 Hospital Servidores do Estado. Rio de Janeiro – RJ. Descrever as características clinicas iniciais, evolutivas e histológicas de pacientes com anemia falciforme submetidos à biopsia renal (BR) 7M: 3F. Média de idade de 31,8 anos Idade de inicio de proteinúria: 32,5 ± 13,3 anos 50% com hipertensão arterial. creatinina de 1,0 ± 0, 5 e clearance de 84,6 ± 35ml/min, proteinúria de 3615 ± 4135,4 (13900-800) mg/24h HT de 22 ± 4,9%, potássio de 5,3± 0,7 . Follow-up de 4,9 ± 2,1(2-8) anos. Seis pacientes estão vivos Quatro pacientes (40%) iniciaram HD em média 30 meses após biópsia. Três pacientes apresentaram diminuição importante de proteinúria após uso de IECA Observou-se uma piora acentuada de HT associada a aumento significativo de proteinúria antecedendo a IRC terminal Três transplantaram, um evoluiu para rejeição crônica em um ano. Dos quatro (40%) pacientes que foram a óbito, dois estavam em hemodiálise (HD). Transplante Renal na Anemia Falciforme Paciente 1 2 3 4 Genótipo HbSS HbSS HbSS HbSS Sexo Masculino Masculino Masculino Masculino Idade no Tx 24 26 23 40 Data do Tx. Abril de 1995 Maio de 1998 Novembro de 2000 Fevereiro de 2002 Doador DVR (irmão) Cadáver DVR (tio) DVR (irmão) Inicio de d.renal 21 (anos) 15 17 34 Biópsia renal não sim sim sim Tempo em HD 25 meses 95 meses 24 meses 27 meses Rejeição Aguda Um episódio Um episódio Dois episódios Um episódio Sobrevida do Enxerto 12 anos, mantém função renal. 28 meses (até óbito 12 meses – 09/2000) (rejeição crônica-11/01) 5 anos, mantém função renal. Hematócrito pré/pós TX 19-15%. 25-29% em 13/06/95. 18%. 38% em 6/98. 16%. 31.2%. 19%. 29% em 4/02. Freqüência de crises álgicas Aumento de crises álgicas severas, acompanhadas de piora da anemia, necessita de transfusões freqüentes. Após primeiro mês, concomitante a melhora da anemia crises álgicas intensas, com resposta apenas à sangria e Apresentava pré HD e TX crises álgicas importantes que se mantiveram após Transplante com menor necessidade transfusional. Interna 2 meses pós TX com crise álgica intensa, que piora com transfusão, só melhorando com transfusão de troca. MARTIN SOLO - Albuminúria Albumina 1/3 das proteínas na urina Proteína 10 a 15 kg filtradas 30 a 130 mg/dia excretadas Excreção de albumina urinária 1 a 22 mg/dia VIBERTI, 1982 “microalbuminúria” excreção urinária de albumina subclínica superior a 30µ µg/min Diabetes tipo1 : reversível Aumento da sobrevida → ↑ incidência de vasculopatia em órgãos vitais Proteinúria precede e está associada a rápido declínio da função renal Microalbuminúria – indicador de injúria glomerular que precede glomeruloesclerose em outras glomerulopatias o Powars, 1991; o Pham 2000 o Terai e cols.,1987; o Mogensen, 1987 ; o Shihabi e cols., 1991; o Viberti e cols., 1992; o Osterby, 1995 Tabela I-Prevalência de microalbuminúria (MAU) Estudos N Idade/Anos MAU % Aoki e Saad,1990 41 14 a 47 40 Faulkner e cols., 1995 7 21 a 40 28 Foucan e cols., 1995 48 13 a 51 40 Dharnidharka e cols.,1998 Sesso e cols., 1998 102 2 a 18 26 66 2 a 20 30 McBurney e cols., 2002 Nobrega e cols., 2002 142 51 15 a 30 15 a30 19 28 HbF% 18 p=0,01 16 14 12 10 8 6 4 2 0 c/MAU s/MAU Níveis de hemoglobina fetal em relação aos dois Grupos AU 8 p=0,03 7 6 5 4 3 2 1 0 c/MAU s/MAU Níveis séricos do ácido úrico (AU) nos grupos Conclusões Avaliar se os bloqueadores de enzima de conversão revertem a microalbuminúria retardando ou prevenindo a progressão para insuficiência renal crônica Associar drogas que possam aumentar níveis de hemoglobina fetal e avaliar sua influência na microalbuminúria e retardar a progressão para IRC Considerações Novas terapias tem sido oferecidas ao paciente com doença falciforme. Terapias estas com potencial para prevenir ou minimizar as complicações que possam prejudicar a qualidade de vida. Um screening dos orgãos podem detectar uma injuria inicial e permitir uma intervenção corretiva . Avanços na terapia clínica: Antibióticos profiláticos Aferese Hydroxyurea, Inibidores da enzima conversora da angiotensina para prevenir proteinúria que precede a doença renal crônica (ocorre em 5% dos pacientes) Uso de eritropoetina- quando ocorre piora da anemia Protocolo para detecção de microalbuminúria em pacientes com doença falciforme no HEMORIO: Seleção de pacientes:Todos os pacientes acima de 3 anos de idade com doença falciforme atendidos no ambulatório do HEMORIO Solicitação do exame:Durante atendimento ambulatorial solicitar dosagem de albuminúria na primeira amostra de urina da manhã .Critérios de Exclusão: Pacientes com hipertensão, proteinúria prévia, com alteração de escórias nitrogenadas, gestantes e diabéticos. Informar ao paciente: No dia do exame se apresentar hematúria, episódio de dor ou febre deverá remarcar o exame, pois esses sintomas podem interferir no resultado do mesmo • Microalbuminúria > 30mg/l • NÃO • SIM • Encaminhar ao nefrologista • Repetir exame anualmente • Confirmação: Dosar albuminúria em amostra de urina overnight (noturna 12h) ou 24h em 3 separadas ocasiões em intervalos de 1 mês • Uso de captopril ou enalapril Uso de IECA: Literatura Efeito da IECA (benazepril) na progressão da IRC. Maschio G, Alberti D, Janin G, Locatelli F, Mann JFE, Motolese M, Ponticelli C, Ritz E, Zuchelli. N Engl Med 1996 Mar Enalapril reduces the albuminúria of patients with sickle cell disease. Aoki RY, Saad STO. Am J Med 1995 May Avaliação da resposta ao uso da IECA na nefropatia da anemia falciforme Falk RJ, Scheinman J, Phillips G. Orringer E, Johnson A, Jennette JC. N Engl J Med 1992 Estudo randomizado do captopril para microalbuminúria em pacientes com anemia falciforme Foucan L, Bourhis V, Bangou J, Mérault L, Etienne-Julan M, Salmi RL. Am J Med 1998;104:339-42. Seguimento na Nefrologia: .Uso de captopril – dose inicial de 6,25 mg 2 x /dia por um mês; 12,5 mg 2x /dia por dois a 3 meses e após aumentar para 3 x/dia por seis meses podendo chegar a 25mg 2 a 3xdia (máximo de 1mg/kg/dia) ou enalapril na dose de 5mg/dia. Controle de pressão arterial: uma semana após inicio da medicação e posteriormente em todas as consultas. Após iniciar tratamento MA no primeiro mês, terceiro e depois a cada seis meses, também com monitoração de escórias e eletrólitos, principalmente controle de níveis de K, pois poderá ocorrer hipercalemia. Eritropoetina - Função renal Nos pacientes com insuficiência renal crônica de outra etiologia não há um nível absoluto de falência renal para o desenvolvimento da anemia. Em geral está presente quando a taxa de filtração glomerular diminui para 35 - 40 ml/min. Nos nossos doentes a anemia ocorre previamente pela hemólise e a mensuração da função renal encontra-se prejudicada pela diminuição de massa muscular e aumento da secreção tubular de creatinina, Pode ocorrer uma significante diminuição de função renal antes de ser detectado clinicamente pelo clearance de creatinna. Eritropoetina –Doença Falciforme O aumento da anemia, causada por uma eritropoiese ineficaz, com baixos níveis de EPO, pode ocorrer até 54 meses antes da azotemia, e é um preditor de insuficiência renal na anemia falciforme. O dano renal na AF difere de outras insuficiências renais por envolver defeito de concentração e progressivo dano vascular, particularmente na medula, com anormalidades estruturais do glomérulo e túbulos O dano tecidual tubular que ocorre na AF pode comprometer a síntese de EPO por destruição do sensor de O2 renal nem sempre compatível ao grau de insuficiência renal. Sherwood et cols. Blood January,1986 Dosagem de eritropoetina:Indicações (1) anemia grave ou persistente - HB < 6,0 em três dosagens no período de 3 meses, (2) anemia sintomática, transfusão dependente, ou ambos, (3) queda do hematócrito basal (queda de 20% do HT ou Hg basal em 3 dosagens no período de 6 meses), (4) necessidade de demonstrar um baixo nível de EPO para seguimento terapêutica com EPO Anemia secundaria a nível baixo de EPO em pacientes com função renal normal seria causada por falta de liberação de EPO endógena por mecanismo desconhecido, recomendam dosagem de EPO em evolução anemia não explicada Kallab AM,Dabaghian G,Terjanian T Revista: Mt Sinai J Med Nov 1997 Uso de Eritropoetina inicial: 50 a 150 IU/kg três vezes por semana subcutânea, de preferência para maior eficiência, podendo ser aumentada até atingir 300 IU/kg, doses maiores podem indicar resistência a EPO Dose Principais efeitos adversos: hipertensão, risco de trombose e hipercalemia. Literatura Uso de Eritropoetina/Hydrea Erythropoietin in anemia of renal failure in sickle cell disease. Roger SD,Macdougall IC,Thuraisingham RC,Raine AE . N Engl J Med 1991 Oct Combination erythropoietin-hydroxyurea therapy in sickle cell disease: experience from the National Institutes of Health and a literature review. Little JA,McGowan VR,Kato GJ,Partovi KS,Feld JJ,Maric I,Martyr S,Taylor JG 6th,Machado RF,Heller T,Castro O,Gladwin MT . Haematologica 2006 Aug Increased erythropoietin level induced by hydroxyurea treatment of sickle cell patients. Papassotiriou I,Voskaridou E,Stamoulakatou A,Loukopoulos D Revista: Hematol J 2000 Uso de Hydrea – Enalapril and hydroxyurea therapy for children with sickle nephropathy. Autores: Fitzhugh CD,Wigfall DR,Ware RE Revista: Pediatr Blood Cancer 2005 Dec – Enalapril reduz a proteinúria em pacientes adultos com doença falciforme, mas um potencial beneficio de hidroxiureia ainda deve ser testado e comprovado USO DE CAPTOPRIL E HYDROXIURÉIA EM PACIENTES DE ANEMIA FALCIFORME COM PROTEINÚRIA: RELATO DE 2 CASOS CASO1 : homem, 35 anos Inicio captopril: setembro de 2000 Inicio de hydroxiuréia: dezembro de 2003 DATA Set. 2000 Dez. 2000 Abril 2001 Dez. 2003 Abril 2004 Hg Fetal% HT % 3.7 21 22.6 20.8 20.6 20 25.3 Clearance ml/min 110 97 91 80 80 Proteinuria mg/24 6.8 5.2 1.7 1.0 0.470 CASO 2 : criança, 15 anos Inicio captopril: fevereiro de 2003 Inicio de hydroxiuréia: abril de 2003 Data Fev.2003 Hb fetal % HT % 3.8 Abril 2003 19.6 Clearance Proteinuri a ml/min mg/24h 80 2.5 18.0 Set. 2003 14.3 20.6 Abril 2004 20.7 22.8 Set. 2004 16.1 20.4 1.8 73 0.320 0.550 70 0.231 A descrição destes dois casos sugere: uma diminuição dos níveis de proteinúria após administração de captopril uma possível associação da hydroxiuréia pode proporcionar uma melhor redução da proteinúria. Maiores estudos randomizados são necessários, para estabelecermos uma melhor resposta com o uso associado destas drogas, para confirmar esta hipótese. Prevalence, prevention, and treatment of microalbuminuria and proteinuria in children with sickle cell disease McKie KT, Hanevold CD, Hernandez C, Walter JL, Ortiz L, McKie KM MICROALBUMINURIA NORMALIZOU EM 44% DE PACIENTES TRATADOS COM HIDROXIUREIA E EM 56 % DOS PACIENTES TRATADOS COM IECA Dados preliminares sugerem que tanto hydroxiuréia e terapia com IECA pode ser benéfico Hipercalemia pode limitar o uso J Pediatric Hematol Oncol Mar 2007 Resumo Hematology 2005 The American Society of Hematology An Evidence-Based Approach to the Treatment of Adults with Sickle Cell Disease Richard Lottenberg and Kathryn L. Hassell A IRA ocorre em 30% dos casos de AF A doença renal pode ser manifestada por microalbuminúria, proteinúria, hipertensão, piora da anemia e sindrome nefrótica Microalbuminúria pode ser uma manifestação precoce de doença glomerular IECA deves ser administrado em casos de proteinúria e em casos mais precoces com microalbuminúria Uso de Eritropoetina em casos de piora da anemia Hydrea a ser melhor testada nestes pacientes, inclusive com reajusrte de doses em casos de IRC Uso de antiinflamatórios devem ser melhor monitorados, evitando seu uso por tempo prolongado e em função renal já comprometida. Obrigado [email protected] [email protected]