Amor Esponsal - Edições Shalom

Transcrição

Amor Esponsal - Edições Shalom
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5ª edição
Maria Emmir O. Nogueira
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Coordenação Geral
Filipe Cabral
Coordenação Editorial
Carolina Fernandes
Revisão
Amanda dos Reis Cividini Maria
Lidijane Pinheiro do Nascimento
Monique Linhares
Theresa Emígdio de Castro
Diagramação
Everton Sousa de Paula Pessoa
William Alves dos Santos
Capa
Leonardo Biondo
Imagem da Capa
Femme en marche, de Père Teilhard de Chardin
Edições Shalom
Estrada de Aquiraz - Lagoa do Junco
CEP: 61.700-000 – Aquiraz/CE | Tel.: (85) 3308.7465
www.edicoesshalom.com.br n [email protected]
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mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema
ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.
ISBN: 978-85-7784-044-1
© EDIÇÕES SHALOM, Aquiraz, Brasil, 2012. (5ª edição)
Amor Esponsal: chama viva que inflama e purifica o
coração, capacitando-o a aderir, incondicionalmente e com
vigor, à bem-aventurada vontade do Pai.
Moysés Azevedo Filho
Carta à Comunidade 2005 À Mari, que, por amor à vocação,
insistiu, rezou e acreditou.
Introdução
Escrever sobre o Escrito Amor Esponsal foi um desafio adiado
muitas vezes, por anos seguidos. Em primeiro lugar, pela óbvia
incapacidade de tocar no mais precioso núcleo de nossa vocação,
no seu cerne. Em segundo lugar, porque era preciso encontrar o
tempo certo, o tempo de Deus, e nós aguardávamos o seu sinal.
Ele veio de modo inesperado: através de uma aguda visão de minha
infidelidade e incapacidade de vivê-lo, uma verdadeira e dolorosa
crise provocada pelo Espírito da Verdade, que nos faz enxergar
o quanto não vivemos nossa vocação, nosso chamado, o quanto
não correspondemos ao amor do Esposo por nós.
Segundo o próprio Escrito, o reconhecimento de nossas
faltas é o primeiro passo em direção ao amor esponsal. Resolvi,
então, mergulhar de cabeça nesta aventura, na certeza de que
outros virão e estudarão o texto com maior base de estudo e
pesquisa. O objetivo, aqui, aliás, não é fazer estudos teológicos
ou de espiritualidade sobre o texto, mas ajudar cada um de nós
a compreendê-lo melhor, saber do que o fundador está falando
para poder segui-lo como discípulo neste que é o ponto mais
importante de nossa vocação.
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Concluí o estudo “oracional” com algumas certezas:
 A Encíclica Deus Caritas Est é um sinal de Deus de que
é tempo de estudarmos melhor o Escrito Amor Esponsal e
fornece-nos chaves preciosas para este estudo.
Se fosse escrito em outra época, este Escrito poderia
muito bem entitular-se “de como amar a Deus e ao irmão
segundo o carisma Shalom”.
 Ainda nos falta um longo caminho de oração e estudo para
apreendermos o que nos quis dizer o fundador.
 É realmente, unicamente através do Espírito Santo, que
este amor pode ser vivido por nós.
É importante ressaltar que esta é a minha forma pessoal e
oracional de ler e entender o Escrito, como alguém que esteve
próximo ao fundador na época em que foi escrito e nos anos
seguintes. Se Deus quiser, muitos outros ainda escreverão sobre
este assunto a partir de vários outros ângulos e visões, o que será
grande enriquecimento para todos.
Assim, mais que como mestra (o que, certamente, seria
presunção), é como uma mãe sentada no chão arrodeada
por seus filhos, que quero escrever: partilhando vivências,
contando histórias, dando exemplos, desencavando lembranças.
Para entender o Escrito
Creio necessitarmos de alguns dados históricos importantes
para entendermos melhor este Escrito:
 Quando ele foi feito, estávamos em meio a uma crise de
identidade. Não havia espiritualidade firmada em nosso
meio, exceto a da RCC, e fazia-se necessária uma definição
de espiritualidade, uma vez que as pessoas esmoreciam no
louvor, na oração, na unidade com o fundador.
 Nosso fundador tinha, na época, 25 anos, o que me enche
de perplexidade e louvor a Deus cada vez que leio o texto.
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


Tamanha sabedoria e profundidade não podem vir da
imaginação ou experiência de um jovem de 25 anos, cujas
áreas de estudo haviam sido geologia e fisioterapia. Tudo
isso, e mais a intensidade e profundidade do texto, e a
maneira como ele faz vibrar nosso coração, testemunha:
de fato, este é o texto-cerne de nossa vocação, de fato,
nele fala a voz de Deus, de fato, nossa vocação vem de
Deus.
Temos em mãos uma profecia em todos os sentidos. No
sentido histórico, na perspectiva da vida espiritual e consagrada, o texto é uma seta que aponta e corre, ligeira, para
pelo menos vinte e cinco anos adiante na história da Igreja
do mundo inteiro. Hoje constata-se com facilidade que
a Nova Evangelização, tão sonhada pelos últimos papas,
será posta em prática por uma geração de apaixonados por
Jesus. Uma geração de almas esposas que dá a vida para
fazer amado seu Esposo!
Nosso principal Escrito, entretanto, não é um escrito linear.
Não tem propósitos didáticos, mas é uma “explosão” do
coração do fundador e, como tinha de ser, no nosso caso,
um coração jovem, apaixonado, ousado, cheio de parresia.
Isso fará sua leitura menos fácil, mas certamente mais
fascinante. Não estaremos seguindo os caminhos de uma
cabeça presunçosa e imaginativa, mas as aventuras de um
modesto coração perdido de amor.
A linguagem deixa entrever um homem de Deus profundamente humilde, mas em tudo intenso. Intenso
em sua paixão, em seus adjetivos, em suas explicações,
em sua forma de arrumar o texto. Queria ensinar aos
seus discípulos, sim, mas queria fazê-lo pela via do
amor que deixa transparecer na intensidade de sua
expressão.
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Quando a lembrança ensina
Coube a mim o privilégio imenso de “datilografar” este e
os outros Escritos e as Regras1. Humildemente, o Moysés dizia:
“Você vai datilografando e vai marcando aquilo que achar que
poderá ser modificado. Depois, agente conversa sobre cada coisa”.
Digamos que em cada dez observações, ele acolhia 1/25. “Que
tal dividir este parágrafo? Tem dois assuntos diferentes”, disse eu,
por exemplo, sobre o parágrafo 4. “Não... quero isso tudo junto,
para entenderem que o nosso chamado é consumir nossas vidas
através do amor integral e por Ele”. Eram dois aspectos do parágrafo
imenso e, no bom português, ficaria melhor se fosse dividido. No
entanto, eu logo entenderia que o português é uma coisa, regido
por regras claras, feitas pela lógica humana ao longo de séculos e
que o “moysesês” é outra coisa, regido por regras lançadas com a
fundação da comunidade, que é melhor respeitar para não se arriscar
a mudar o sentido impresso pelo coração de Deus e do fundador.
Hoje, ao estudar a hermenêutica dos fundadores, tomo
conhecimento de como cada palavra, cada expressão, cada neologismo é precioso para o conhecimento do “espírito do fundador”.
Dou, então, graças a Deus por, em todas as vezes exceto uma, ter
deixado de lado os purismos da língua em favor das inspirações
da linguagem do fundador, que revela seu espírito. Louvo a Deus,
também, por estar viva para contar a história.
A transcrição do texto
Em vistas de uma nova publicação dos Escritos, e para facilitar nosso trabalho, o Escrito será editado a seguir com uma
numeração só sua.
Deus nos socorra em nossa fraqueza e nos ajude a tocar com
todo respeito e entender melhor o precioso cerne de nossa vocação.
1
As “Regras” da Comunidade. Hoje documento histórico, substituídas pelos Estatutos e Escritos
da Comunidade Católica Shalom.
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Amor Esponsal
1. Gostaria, se isto fosse possível, de transpor para este papel o que
se passa neste momento em meu interior acerca do Amor Esponsal. Sei
que somente o Espírito Santo, o Inflamador das Almas, pode realizar
este amor em nós. Por isto, antes de abordarmos o assunto, peçamos que
o Espírito aja em cada coração que deseje compreender este chamado.
2. “O Amor não é amado!”. Era este o brado de Francisco de Assis
que chegou a nossos corações e os tocou. Ao procurarmos corresponder,
encontramos o caminho e a verdade expressos por Santa Teresa D’Ávila
quando diz “Só Deus basta”.
3. Inspirados por estas verdades expressas pelos santos baluartes
de nossa vocação (Francisco de Assis e Teresa D’Ávila) nossos corações
se abriram ao Espírito Santo que começou a trabalhar em nossas almas
e levá-las ao cerne de nossa vocação: o Amor Esponsal a Nosso Senhor
Jesus Cristo.
4. Não poderá jamais existir a verdadeira Paz nas almas dos
homens e no mundo se esta Paz não estiver embasada em um amor
incondicional a Jesus Cristo, pois aí nasce o Shalom de Deus. Aí está
também aquilo a que fomos chamados: a entregar, consumir nossas vidas
neste amor. No amor que busca cada vez mais o esquecimento de si, de
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sua própria vontade, de seus próprios interesses, de sua própria vida e
que, cada vez mais inflamado de amor pelo Amado, busca somente a
Ele, a vontade Dele, os interesses Dele, a vida Dele, a obra Dele.
5. Em seu infinito amor o Pai quis escolher almas esposas para Seu
Divino Filho e para isto não escolheu as melhores, as mais belas, mas,
a fim de manifestar a sua glória e seu poder, resolveu escolher as mais
pecadoras, as mais fracas, os vasos de argila, para aí realizar Sua grande
obra. Toda a glória pertence, assim, Àquele que nelas tudo realizou.
6. Chamados que fomos a termos nossas almas escolhidas para
serem esposas do Senhor, precisamos reconhecer que somos os menores,
os mais fracos, os mais pecadores, miseráveis, até, e que nenhum mérito
possuímos por nós próprios. Nosso lugar é o da Pecadora e o de Maria
de Betânia - aos pés Daquele que tanto nos amou e escolheu, movido
unicamente por sua imensa Misericórdia.
7. Não é difícil percebermos esta realidade. Basta olharmos de
onde o Senhor nos tirou quando tocou nossas almas e nos chamou para
segui-Lo e reconhecermos em nosso dia a dia a nossa total incapacidade
de, por nós próprios, sermos fiéis à Sua voz.
8. Como esta realidade contrasta com Seu amor eterno e paciente
por cada um de nós, com sua misericórdia estendendo-se ao longo de
nossas vidas, com Seu amor e Sua escolha irrevogável pelos nossos
corações! Que fazer, ó Senhor, a não ser amar-Te perdidamente!
Entregarmo-nos a Ti com toda a nossa fraqueza e, apesar dela, nos
consumirmos de amor por Ti e sermos servos de Teu Reino?
9. Nosso coração só pode ter gratidão ao Senhor, gratidão eterna e
unir todo o nosso ser para corresponder a este Amor Perfeito com que Ele
nos ama! E só há uma maneira de corresponder: amando, consumindose de amor por Aquele que tanto nos amou!
10. Nosso amor, porém, é imperfeito. Como responder a este
sublime chamado? Somente clamando ao Espírito de Amor para que
inflame nossas almas e nos impulsione a este Amor Infinito. Ao nosso
clamor este Espírito virá e impulsionará nossas almas, nossas orações,
nossos corações.
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11. Um coração inflamado por este amor tudo realiza, a tudo
se dispõe. Inflamados por este imenso amor os santos caminharam, os
mártires entregaram suas vidas e também nós desejamos prosseguir.
Nosso alvo é a santidade, não por presunção, mas por vocação, pois
todos os homens a isto são chamados. Queremos ser santos não por
nossos méritos, mas confiando inteiramente na graça de Deus. Queremos ser santos não para nós próprios, mas para Deus. Queremos
ser santos porque sabemos que a santidade é a veste nupcial que nos
permitirá entrar para celebrarmos nossas bodas com o Cordeiro. Ansiamos pela santidade e faremos de tudo instrumento para este fim,
porque sabemos que Aquele que nos ama e que é amado por nossos
corações anseia por isto muito mais que nós! O Amor Esponsal é meio
e fim para a santidade.
12. Neste caminho de Amor Esponsal e santidade, o Senhor nos
dá um modelo: Francisco de Assis. Como o Senhor deu a Francisco um
coração amante e despojado assim também Ele no-lo quer dar. Por
outro lado, o Senhor nos dá um caminho a seguir: o de Santa Teresa
D’Ávila. O caminho de oração, de intimidade com o seu Senhor, de
união íntima com o Amado é caminho também para nossas almas.
13. Por serem modelo e caminho, estes dois santos, de uma maneira particular, se tornam padroeiros de nossa vocação, colunas em
nosso caminho, intercessores no céu, modelos a quem nossos corações
devem imitar.
14. Na Comunidade, a espiritualidade do Amor Esponsal será
fomentada pelo estudo da vida e dos escritos de São Francisco de Assis
e Santa Teresa D’Ávila, buscando através deles vivenciar, dentro de
nossa vocação, o amor que ardia em seus corações.
15. Junto a eles está a Rainha da Paz, como Maria se intitula
nas aparições de Medjugorje, na Iugoslávia. Antes mesmo de conhecer
o conteúdo de sua mensagem nestas aparições, Deus já colocava em
meu coração que a Rainha da Paz tinha muito a nos falar. Foi grata
a surpresa de ver enunciado em sua mensagem o muito que Deus já
colocara em nossa vocação. Apeguemo-nos profunda e verdadeiramente
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Àquela que é a Esposa do Espírito Santo e imploremos sua intercessão
para que Ele gere em nossos corações o Amor Esponsal a seu Filho Jesus.
16. Na Obra Shalom, o Amor Esponsal não se acha caracterizado
somente pela vocação celibatária. Não! Todos são chamados a possuí-lo, todos são almas esposas de Jesus. Todos devem buscar ser as virgens
prudentes que esperam o momento das Núpcias, mantendo acesa a chama do amor em suas lâmpadas. Leigos, sacerdotes, celibatários, jovens,
crianças, homens, mulheres, casados, todos são, no Shalom, chamados a
assim amarem a nosso Rei e Senhor e, cada vez mais inflamados por este
amor, na sede pela oração (união com o Amado) e no serviço (fazendo a
vontade do Amado), a deixarem o Espírito impulsionar sua vocação e
suas vidas. O sinal do Amor Esponsal é possuir um coração inflamado de
amor por Jesus Cristo e sempre desejar mais, pois quando se ama assim,
sempre se considera pouco e sempre se anseia amar mais, mais, mais...
17. A vida de união íntima com Jesus através da oração é a fonte
para o desabrochar e o amadurecimento deste Amor Esponsal. Não pode
haver Amor Esponsal sem que diariamente procuremos nos encontrar
com o Amado e ganharmos bom tempo em Sua companhia, em adoração, louvor e escuta. A oração pessoal é a ocasião em que o Senhor vem
edificar esta obra de amor em nós. A contemplação do Amado é o jardim
que o Espírito Santo encontra para semear e colher estas rosas de amor.
Por isto, repito, todos os que possuem a vocação Shalom devem estar
conscientes que é uma vocação fundamentada na oração, que este Amor
Esponsal deve inflamar as almas e que a fonte deste amor se encontra
no caminho da oração, no pleno sentido da palavra: pessoal, diária,
contemplativa, parada com Deus, aos moldes de Santa Teresa D’Ávila.
18. O Reconhecimento de nossas faltas e o arrependimento são
fontes de alimento deste amor, pois quanto mais percebemos o quanto
não merecemos o amor de Deus, mais nosso coração se inflama de gratidão Àquele que misericordiosamente nos ama tanto.
19. Louvor e a adoração são as formas mais plenas de, na oração, transbordar este Amor Esponsal a Jesus, pois a gratidão é a única
linguagem que estas almas sabem falar.
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20. Ser amantes da Santíssima Vontade do Pai e ter toda a
diligência para descobri-la e cumpri-la é a forma mais plena de, na
vida, transbordar este amor, obedecendo fielmente à voz do Amado.
Descobriremos esta Vontade tanto mais claramente quanto mais desenvolvermos nossa escuta ao Senhor. Digo escuta no sentido pleno da
palavra: escuta de Deus em nossa oração, em Sua Palavra, nas moções
do Espírito, no silêncio interior onde se ouve a voz de Deus.
21. A voz do Amado é reconhecida pela alma que O busca, que tem
intimidade com Ele na oração. Sem uma verdadeira, fiel e autêntica
vida de oração diária é impossível reconhecermos a voz Daquele que
muitas coisas nos quer falar e corremos o risco de, surdos à Sua voz,
chamar às nossas paixões, à nossa carne, aos nossos planos pessoais e à
nossa vontade própria, de voz de Deus.
22. Esta é uma armadilha sutil que o inimigo das almas usa para
afastá-las do caminho da salvação. A única maneira de lutarmos contra
tudo isto é não procurando mais ver as coisas como “homem natural”
(ICor 2,13-16) mas como o “homem espiritual” as vê, e só poderemos
ter esta visão mergulhando na contemplação, em intimidade com o
Amado. Através desta intimidade poderemos conhecer, ouvir, discernir
e amar esta Santa Vontade. Sermos amantes da vontade de Deus todos
os momentos de nosso dia e de nossa vida é descobrir e beber da fonte
da Paz e da Felicidade.
23. Outra maneira que o Senhor nos convida a amá-Lo é tudo
fazendo por amor a Ele: nossos trabalhos, nossas atitudes, tudo por Ele.
24. É anseio do Coração do Amado que nos dediquemos a dar
provas de amor uns para com os outros. O amor ao irmão é uma
maneira concreta de mostrarmos o quanto amamos o nosso Amado,
amando aquele a quem tanto Ele ama e por quem Ele deu a sua
própria vida. Como não dar a vida por aqueles por quem o Amado
a deu? É vontade do Senhor que transbordemos este amor sobre
aqueles que Ele ama. O Senhor quer de nós para com eles o perdão,
mansidão, paciência, generosidade, bondade, alegria, dedicação,
amor, serviço. O Senhor deseja que demos aquilo que Ele nos dá e
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isto não nos empobrecerá, mas, pelo contrário, nos enriquecerá aos
olhos Daquele que nos ama.
25. Devemos enxergar nos irmãos excelente oportunidade de
darmos provas de amor a nosso Rei. Aceitando as suas ofensas, ouvindo
os seus queixumes, amando os que não são amados, perdoando os que
são difíceis de perdoar, vivendo o Seu Amor, de maneira especial com
os que mais necessitam Dele, estaremos vivendo nossa vocação que é
Vocação de amor, por amor e para o Amor.
26. O caminho do Amor Esponsal é ainda o desapego. É necessário
desapegarmo-nos de tudo, de nós mesmos, das pessoas, das coisas, de
nosso futuro, de nossas ideias, de busca de poder, de busca de satisfação,
para nos apegarmos somente a Deus, pois tudo passa e somente Ele
permanece. Enquanto possuirmos uma só coisa ou pessoa, o Amor de
Deus não será pleno em nós; não poderemos voar em Seu amor, pois a
posse pesa e nos impede de alçar o livre voo dos filhos de Deus.
27. O louvor, a adoração, a busca e fidelidade à Santíssima Vontade de Deus, o amor ao irmão e o desapego, eis o que Deus anseia de
nós, eis ao que Ele nos chama, a nossa vocação. Conceda-nos o Senhor
a infinita graça de vivê-la.
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PARTE I
A EXPERIÊNCIA
FUNDAMENTAL
CAPÍTULO I
Conversa em família
C
omo me falta o tempo para este tipo de pesquisa,
terei de confiar-me em minha memória para
recontar a história do Amor Esponsal entre nós.
Quando o Moysés apresentou os Escritos aos que caminhavam com ele, alguns logo perceberam não ser aquele o seu chamado e, em sua liberdade e retidão de consciência, afastaram-se
da comunidade que se formava.
Para os que permaneceram, o termo novo – “Amor Esponsal” – logo foi incorporado às músicas, às orações pessoais e
comunitárias, ao vocabulário de cada dia, às formações pessoais e
comunitárias. Queria saber se alguém era Shalom? Era só verificar o “termômetro do amor esponsal”. O comentário era: “Já viu
fulano? É Shalom demais, não é? Ave Maria! O amor esponsal
dele é impressionante! Já “viu ele” rezando? Dá gosto de ver! É
um apaixonamento... só ele e Jesus!” Estava decretado aquele ali
era “Shalom para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”.
Naturalmente, o termo não foi absorvido em toda a sua profundidade desde o início. Para ser bem franca, acho que teremos
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Escrito Amor Esponsal
ainda uma longa caminhada para compreendê-lo em sua plenitude.
No começo, os rapazes tinham um pouco de dificuldade, pois não
lhes soava bem ser “esposa” de Jesus, ainda que fosse “alma esposa”.
É que o primeiro conceito absorvido foi muito ligado ao Cântico dos Cânticos, segundo a espiritualidade católica tradicional,
ainda com um cunho um pouco romântico, no sentido conjugal.
Isso era representado e cantado em dança e música, em prosa e
poesia e era visível a inadaptação dos rapazes ao novo conceito. O
único que não parecia ter problema nenhum era o Moysés, o que
era facilmente explicável pelo fato de ele ter recebido de Deus o
conceito original, fundante, profético.
Depois desta época, fomos absorvendo um pouco mais
do que era este amor esponsal que Deus nos havia dado. Veio
o inesquecível tempo da radicalidade evangélica, acompanhada
de Francisco, da forte influência da oração de Teresa, do amor
esponsal e o amor ao não-amável. Era como se Deus permitisse
que pegássemos este ou aquele trecho, em preparação do dia em
que pudéssemos entender o Amor Esponsal como um todo.
Sei que este dia ainda não chegou, mas juntos, através deste
livro, poderemos “dar uma mãozinha”.
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