Influência dos fatores ambientais na obesidade infantil
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Influência dos fatores ambientais na obesidade infantil
Silvia Cercal Bender INFLUÊNCIA DOS FATORES AMBIENTAIS NA OBESIDADE INFANTIL Santa Maria, RS 2006 Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 1 Silvia Cercal Bender INFLUÊNCIA DOS FATORES AMBIENTAIS NA OBESIDADE INFANTIL Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Nutrição - Área de Ciências da Saúde, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para obtenção do grau de Nutricionista – Bacharel em Nutrição. Orientadora: Vanessa Ramos Kirsten Santa Maria, RS 2006 Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 2 Silvia Cercal Bender INFLUÊNCIA DOS FATORES AMBIENTAIS NA OBESIDADE INFANTIL Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Nutrição – Área de Ciências da Saúde, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para obtenção do grau de Nutricionista – Bacharel em Nutrição. ________________________________________ Vanessa Ramos Kirsten – Orientadora (Unifra) ________________________________________ Cristina Machado Bragança de Moraes (Unifra) ________________________________________ Thiago Durand Mussoi (Unifra) Aprovado em ........ de ................................ de ............ Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a colaboração e gentileza da direção, professoras e funcionários das escolas participantes, Sant’Anna, João Belém (Santa Maria, RS) e Nossa Senhora do Horto (Dom Pedrito, RS). Ao auxílio da nutricionista Irene Düvelius Barros. A minha amiga Luciana Albiero, pela força e confiança na realização deste estudo. A disponibilidade e atenção do professor Valduíno Estefanel. À minha orientadora, Vanessa Ramos Kirsten, pelo entusiasmo e incentivo durante toda a realização do trabalho. As minhas colegas e amigas, Camila, Thaís, Francine, Liara e ao sempre amigo Lucas, pelos anos de convivência e experiências compartilhadas. As minhas amigas Fernanda e Daniele, pela amizade, carinho e paciência. Aos meus pais e meu avô, Luis Fermino Bender, por tudo o que sempre fizeram por mim. Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 4 RESUMO A obesidade infantil tornou-se um problema de saúde pública e apresenta caráter multifatorial. O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares e a influência dos fatores ambientais no processo da obesidade infantil. Trata-se de um estudo do tipo Transversal, com crianças de 7 a 10 anos, estudantes de escola pública e particular. Para determinação do estado nutricional foi utilizado o IMC para idade e sexo, marcados nos gráficos de crescimento desenvolvidos pelo NCHS em colaboração com o CDC (2000). Os valores de corte usados foram os recomendados pela OMS, percentis ≥ 85 e ≥95 para sobrepeso e obesidade, respectivamente. Houve uma prevalência de 17% de sobrepeso e 17% de obesidade entre os dois tipos de escolas. Na pública, sobrepeso/obesidade somam 26% e na particular 39%. Quando analisados os fatores ambientais, foi encontrada diferença estatística significante entre estado nutricional dos escolares e tipo de moradia (casa ou apartamento) (p= 0,043), prática de atividade física na escola (p= 0,005), uso diário de computador (p= 0,003), número de irmãos que a criança possui (p= 0,010) e estado nutricional (p= 0,03) e escolaridade das mães (p= 0,02). Não houve diferença estatística entre nível sócio econômico e estado nutricional dos escolares (p= 0,841). Muitos dos fatores de risco apresentados na literatura foram encontrados no presente trabalho, mas estes resultados não podem ser tratados isoladamente, são necessários estudos mais completos sobre o tema, com amostra maior para que as conclusões sejam mais precisas. Palavras- chave: Obesidade infantil. Fatores ambientais. Escolares. ABSTRACT Child obesity has become a public health problem issue, presenting a multifactor profile. The aim of this study was to verify the over weight and obesity prevalence in scholars and the environmental factors influence to child obesity process. It is a Transversal kind study, enrolling 7 to 10 year-old children, students both at public and private schools. The Body Mass Index (BMI) to age and gender was applied to determine the nutritional status, scored on growing graphics developed by the NCHS in association with the CDC (2000). The used cut values were recommended by the World Health Organization (WHO), ≥ 85 e ≥95 percentiles to overweight and obesity, respectively. There was a prevalence of 17% overweight and 17% obesity within both public and private schools. In the public, overweight/obesity sum up 26%, and in the private 39%. A relevant statistic difference was found between the scholars nutritional status and the household kind (house or apartment) (p= 0,043), physical activity at school (p= 0,005), computer daily usage (p= 0,003), number of siblings (p= 0,010), nutritional status (p= 0,03) and mother’s school degree. There was no statistic difference between socio-economic level and the scholar’ nutritional status (p= 0,841). Several risk factors presented in the literature were found in this work. However, the results cannot be treated separately; intensified studies are required on the subject, presenting a larger sample so the conclusion can be more accurate. Key-words: Child Obesity. Environmental factors. Scholars. Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 07 2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................... 08 3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 12 3.1 Análise estatística............................................................................................................. 13 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................... 14 4.1 Problemáticas do estudo................................................................................................... 25 5 CONCLUSÕES .................................................................................................................. 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 27 APÊNDICE A- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.............................................. 30 APÊNDICE B- Questionário.................................................................................................. 31 ANEXO A- Termo de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Unifra...................... 32 ANEXO B- Termo de autorização da Escola Nossa Senhora do Horto................................. 34 ANEXO C- Termo de autorização da Escola João Belém..................................................... 35 ANEXO D- Termo de autorização do Colégio Sant’Anna..................................................... 36 Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 6 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Média de peso, altura e IMC dos escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006...................................................................................................................................................................... 14 Tabela 2- Freqüência dos gêneros dos escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006................................ 14 Tabela 3- Estado nutricional dos escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006........................................ 15 Tabela 4- Estado nutricional de acordo com o tipo de escola, pública e particular, de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006.................................................................................................................................................. 16 Tabela 5- Renda familiar mensal dos escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006...................................................................................................................................................................... 16 Tabela 6- Prática de atividade física semanal entre os escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006...................................................................................................................................................................... 17 Tabela 7- Tempo gasto pelos escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006, com aparelhos eletrônicos............................................................................................................................................................. 18 Tabela 8- Comparação do tipo de transporte utilizado para ir à escola entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006................................................................................... 19 Tabela 9- Comparação do tipo de moradia entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006.................................................................................................................................................. 19 Tabela 10- Comparação da prática de atividade física na escola entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006................................................................................... 20 Tabela 11- Comparação da prática de atividade física fora da escola entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006................................................................................... 20 Tabela 12- Comparação do uso diário de microcomputador entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006................................................................................................................. 21 Tabela 13- Comparação do hábito de assistir TV entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006...................................................................................................................................... 22 Tabela 14- Comparação do número de irmãos entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006......................................................................................................................................... 23 Tabela 15- Comparação da renda familiar mensal entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006...................................................................................................................................... 23 Tabela 16- Comparação do estado nutricional das mães dos escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006........................................................................................................................... 24 Tabela 17- Comparação da escolaridade das mães entre os escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006........................................................................................................................... 25 Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 7 1 INTRODUÇÃO A obesidade infantil tornou-se um problema de saúde pública e preocupa cada vez mais os órgãos responsáveis pela saúde devido ao crescimento rápido de sua prevalência em muitos países. Pesquisas recentes mostram que existem 30% de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade no Brasil, e esses números continuam aumentando. Sabe-se que a gênese da obesidade é influenciada por vários fatores (genéticos, fisiológicos, metabólicos), mas existe uma grande relação entre obesidade e fatores ambientais. Apenas o consumo de alimentos com alto valor energético, ricos em lipídios e carboidratos simples, provavelmente não é suficiente para explicar o crescente aumento das taxas de sobrepeso e obesidade no mundo. A redução da prática de exercício entre as crianças parece ter papel fundamental no processo de ganho de peso. Atualmente os aparelhos eletrônicos (televisão, computador e videogame) fazem parte da rotina das crianças, fator que leva a concepções erradas sobre uma alimentação adequada, já que a maioria dos comerciais de televisão mostra alimentos extremamente calóricos e com pouco valor nutritivo. Além disso, levam a diminuição da atividade física e conseqüentemente aumentam as chances da criança tornar-se obesa. Embora as doenças associadas à obesidade ocorram mais freqüentemente em adultos, já é possível observar as conseqüências dessa patologia na infância, como hiperlipidemia, intolerância á glicose, hipertensão arterial, apné ia do sono, complicações ortopédicas entre outras. O presente estudo teve como objetivo verificar a influência dos fatores ambientais na obesidade infantil, além de verificar a prevalência de obesidade em crianças de escola pública e privada, o perfil demográfico e sócio-econômico da família dos escolares, o tempo gasto pelos escolares com aparelhos eletrônicos e a prática de atividade física em escolares com sobrepeso e obesidade. Visando, a partir destes dados, a criação de ações educativas integradas envolvendo principalmente as famílias para prevenir o surgimento desta patologia e reduzir a incidência de suas complicações na vida adulta. Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 8 2 REFERENCIAL TEÓRICO O crescimento da obesidade tornou-se um problema de saúde pública alarmante, não só em adultos, mas também em crianças. Estudos recentes apontam uma previsão de 90% de indivíduos com excesso de peso na população americana em 2035, caso não haja intervenção, e na população infantil os números aumentam cada vez mais (FISBERG, 2005). Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostraram que no ano 2000, 155 milhões de crianças apresentavam excesso de peso, sendo 30 a 45 milhões de obesas em todo o mundo (LUCAS, 2005). A obesidade infantil já é um grave problema de saúde pública também nos países em desenvolvimento. No Brasil, entre 1975 e 1997, verificou-se uma tendência de aumento na prevalência de sobrepeso em crianças e adolescentes com idades de 6 a 18 anos de 4,1% para 13,9% (GUIMARÃES et al., 2006). Em algumas cidades brasileiras o sobrepeso e a obesidade já atingem 30% ou mais de crianças e adolescentes, e a Pesquisa Nacional de Avaliação de Nutrição e Saúde (NHANES) mais recente documentou uma prevalência de sobrepeso em 11% das crianças de 6 a 11 anos. (OLIVEIRA; FISBERG, 2003; NHANES, 1999 apud LUCAS, 2005). Para a definição de obesidade e sobrepeso em crianças e adolescentes, alguns autores afirmam que ainda não existem consensos na literatura, por isso a escolha do método deve ser muito bem avaliada (MELLO; LUFT; MEYER, 2004; COSTA; CINTRA; FISBERG, 2006). As medidas antropométricas são opções de fácil realização, não invasivas, rápidas e baratas (SILVA et al., 2003; SILVA; BALABAN; MOTTA, 2005). Os métodos mais comumente utilizados para definir sobrepeso e obesidade em crianças leva m em consideração o IMC e a idade, pois o IMC muda ao longo da infância, e são marcados em percentis, nos gráficos de crescimento (ROBERT, 2003; LUCAS, 2005). A OMS recomenda classificar sobrepeso e obesidade como IMC igual ou superior aos percentis 85 e 95 para a idade e sexo, respectivamente (WHO, 1995 apud OLIVEIRA et al., 2003). A idade escolar (7 a 10 anos) precede o estirão pubertário, por esse motivo é possível que ocorra nesta fase o fenômeno chamado rebote de adiposidade, onde as crianças apresentam maior velocidade de ganho de peso como forma de guardar energia para o período de intenso crescimento que está por vir. Sendo assim, se o pré-púbere apresentar sobrepeso deve-se investigar se há fatores de risco para obesidade (hábitos alimentares, pais obesos, sedentarismo, fatores emocionais) ou se apenas se trata de um fenômeno biológico (VITOLO, 2003). Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 9 Há alguns anos atrás, a gênese da obesidade era conhecida basicamente pelos fatores genéticos, fisiológicos e metabólicos, no entanto, o número crescente de obesos está tornando o fator ambiental um importante desencadeador dessa condição, principalmente entre crianças (OLIVEIRA; FISBERG, 2003; MELLO; LUFT; MEYER, 2004; FLORES; CARRIÓN; BARQUERA, 2005). Fatores de risco para o desenvolvimento da obesidade infantil Um dos fatores de risco mais importantes para a criança tornar-se obesa ou com sobrepeso é a presença de obesidade nos pais, e a chance dela se tornar obesa na vida adulta é de 80% quando pai e mãe são obesos, 50% quando apenas um deles é obeso e 9% quando os pais não apresentam obesidade (VIUNISKI, 1999; VITOLO, 2003; FISBERG, 2005). Estudos apontam maior relação entre IMC da mãe e obesidade nos filhos, quanto mais alto for o IMC materno maior será a chance de a criança apresentar excesso de peso. Isto se deve tanto a fatores genéticos como ambientais (FLORES; CARRIÓN; BARQUERA, 2005; GUIMARÃES et al., 2006). A obesidade infantil tem maior prevalência em população residente na área urbana, que estuda em escola privada e cujas mães possuem alto grau de escolaridade. O fator sócioeconômico também apresenta influência sobre o excesso de peso, pois as crianças com maior poder aquisitivo têm acesso mais fácil aos alimentos ricos em gorduras e açúcares simples, fast-foods e também aos avanços tecnológicos (KAIN; VIO; ALBALA, 2003; SILVA et al., 2003; OLIVEIRA; FISBERG, 2003; MELLO; LUFT; MEYER, 2004; FLORES; CARRIÓN; BARQUERA, 2005; SILVA; BALABAN; MOTTA, 2005; FISBERG, 2005; COSTA; CINTRA; FISBERG, 2006; GUIMARÃES et al., 2006). Outro fator de risco observado é o número de irmãos, pois as brincadeiras e atividades físicas são mais freqüentes em famílias com maior número de crianças (GUIMARÃES et al., 2006). A população infantil com excesso de peso ou obesidade não é responsável pelo estilo de vida adotado pela sua família, depende do ambiente em que vive. O tipo de alimentação e desenvolvimento do hábito de praticar atividade física são aspectos influenciados pelos pais (VIUNISKI, 1999; OLIVEIRA et al., 2003). O baixo consumo de frutas, hortaliças e leite, a omissão do café da manhã e o consumo cada vez maior de salgadinhos e bolachas recheadas têm relação com o excesso de peso, juntamente com a redução dos níveis de atividade física (TRICHES; GIUGLIANI, 2005; GUIMARÃES et al., 2006). Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 10 Fator ambiental A genética que leva ao desenvolvimento da obesidade precisa de um ambiente propício para manifestar-se, e os fatores ambientais podem desencadear esse processo em indivíduos predispostos a apresentar excesso de peso (VITOLO, 2003; FLORES; CARRIÓN; BARQUERA, 2005). Comodidades como elevadores, escadas rolantes, transportes motorizados e o uso prolongado de aparelhos eletrônicos (televisão, videogame e computador) facilitam a vida das pessoas, mas levam à inatividade, fator importante relacionado à obesidade (OLIVEIRA et al., 2003; ROBERT, 2003; MELLO; LUFT; MEYER, 2004; OLIVEIRA, 2006). O hábito de assistir televisão, além de promover o sedentarismo, pode exercer influência negativa sobre a alimentação infantil, pois as crianças são bombardeadas por uma série de propagandas mostrando em sua maioria alimentos com alto teor de gorduras e açúcares (VIUNISKI, 1999; ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI, 2002; MELLO; LUFT; MEYER, 2004). Estudos demonstram que a influência de obesidade é de 10% em crianças que assistem menos de 1 hora de televisão por dia, enquanto que se o hábito de ver TV persistir por 3,4,5 ou mais horas por dia a prevalência aumenta para 25%, 27% e 35% respectivamente (MELLO; LUFT; MEYER, 2004). Os pais precisam estimular seus filhos a manterem-se ativos, sem desprezar ocasiões onde a atividade física pode ser realizada, como passeios de bicicleta, skate, patins, caminhadas levando o animal de estimação para passear, prática de jardinagem e brincadeiras ao ar livre (ROBERT, 2003; MELLO; LUFT; MEYER, 2004). Confirmando estas informações sobre a prática de atividade física, estudos sugerem que a obesidade infantil está mais relacionada ao sedentarismo do que à alimentação e atualmente as crianças gastam menos 600 Kcal diárias, em média, comparando com 50 anos atrás (ALVES, 2003; OLIVEIRA, 2006). A prática regular de exercícios ajuda a combater a obesidade, melhora a composição corporal aumentando a massa óssea e conseqüentemente prevenindo a osteoporose, contribui para a diminuição das crises de asma e torna as crianças mais saudáveis (ALVES, 2003; MATSUDO; PASCHOAL; AMANCIO, 2003 apud MELLO; LUFT; MEYER, 2004). Conseqüências da obesidade As conseqüências da obesidade têm início ainda na infância, como a formação das placas ateroscleróticas que causam problemas cardiovasculares, e atualmente 60% das Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 11 crianças com excesso de peso apresentam dislipidemia e hipertensão arterial, fatores ligados à esta patologia (ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI, 2002; LUCAS, 2005; FISBERG, 2005). Entre as complicações freqüentes e que podem ser notadas em curto prazo estão os problemas ortopédicos e respiratórios, surgimento de diabetes mellitus e os transtornos psicossociais, como baixa auto-estima, dificuldade de relacionamentos e isolamento social (VIUNISKI, 1999; SILVA et al., 2003; ROBERT, 2003; SILVA; BALABAN; MOTTA, 2005). A obesidade é a doença de maior morbidade no paciente adulto e quando surge na infância e adolescência tem maior chance de manutenção desta condição na vida adulta, dificultando o seu controle (SILVA et al., 2003; FISBERG, 2005). Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 12 3 MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo caracterizou-se como sendo do tipo Transversal, onde “causa” e “efeito” são detectados simultaneamente, e somente a análise dos dados permite identificar os grupos de interesse, os “expostos” e “não expostos”, de modo a investigar a associação entre exposição e doença (PEREIRA, 2002). Foi realizado com escolares de ambos os sexos, com idade entre 7 e 10 anos, de uma escola particular e uma pública na cidade de Santa Maria, RS, e uma particular no município de Dom Pedrito, RS. Para classificá- los, foram caracterizados expostos escolares que apresentam sobrepeso e obesidade (percentis maiores ou iguais a 85 e 95 para a idade e sexo, respectivamente, segundo recomendação da OMS), e como não expostos crianças eutróficas (percentil entre 15 e 85) (VITOLO, 2003; OLIVEIRA et al., 2003; SOAR et al., 2004; LUCAS, 2005; RONQUE et al., 2005; SILVA; BALABAN; MOTTA, 2005; COSTA; CINTRA; FISBERG, 2006). Foram excluídos do estudo alunos ausentes no dia da pesquisa, questionários incompletos e alunos cujos pais não aceitaram assinar o termo de consentimento livre e esclarecido, conforme Resolução 196/96 (APÊNDICE A). Foram convidadas ao todo 6 escolas particulares, destas apenas 2 aceitaram participar do estudo, uma de Santa Maria, RS, e a outra de Dom Pedrito, RS, e 3 escolas públicas da cidade de Santa Maria, das quais apenas uma aceitou participar. Para a avaliação do estado nutricional, os escolares foram pesados com o mínimo de roupa possível e descalços, em balança tipo plataforma com capacidade de 130 Kg e precisão de 1 Kg. A altura foi aferida com fita métrica inextensível, em posição ereta afixada na parede sem rodapés, com auxílio do esquadro de madeira. A coleta das medidas antropométricas foi realizada na própria escola. Os fatores ambientais foram obtidos através de um questionário (APÊNDICE B) constituído de perguntas relativas ao perfil sócio-econômico e demográfico da família dos escolares, tempo em que os escolares costumam gastar assistindo TV, jogando videogame, utilizando o computador e praticando atividade física. O peso e altura dos pais dos escolares também constavam no questionário, sendo que estes valores foram relatados por eles, e para classificá- los de acordo com o IMC foi utilizada a recomendação da OMS (1997). Os alunos foram orientados a levar o questionário para casa e responder com o auxílio dos pais. O estudo foi desenvolvido nos meses de setembro e outubro de 2006 e só teve início após aprovação do Comitê de Ética do Centro Universitário Franciscano (nº 115.2006.2) e autorização da direção das escolas. Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 13 3.1 Análise estatística Os dados foram analisados em software estatístico SPSS versão 14.0, através de estatística descritiva (média e desvio padrão) e testes de associação. Para comparação das médias dos tipos de escola (pública e privada) foi aplicado o teste t. Para as variáveis categóricas foi aplicado o teste Mann-Whitney. Foi aplicado o teste Qui- quadrado (X2 ) para estudar a associação entre o meio de transporte usado e o tipo de escola. O nível de significância utilizado foi de p< 0,05 e IC 95%. Quando analisadas associações de variáveis entre os estados nutricionais foram excluídas as crianças com diagnóstico nutricional de risco de baixo peso (percent il< 15). Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 14 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A amostra do presente estudo foi composta por 208 crianças, 110 do sexo feminino e 98 do masculino. Destas, 79 são estudantes de escola pública e 129 de particular. Participam deste estudo as crianças com idade entre 7 e 10 anos, sendo que a média foi de 8,5 ± 0,9 anos. Foi realizado teste t para verificar diferença entre as médias dos dois tipos de escola para o peso, altura e IMC, sendo que não houve diferença estatística significante para estas variáveis (p=0,994), (p=0,598), (p=0,764) respectivamente. A média de peso entre os escolares estudados foi de 32 ± 7,5 Kg. A média de altura foi de 1,33 ± 0,07 m e o IMC teve valor médio de 18 ± 3,05 Kg/m2 (Tabela 1). Tabela 1. Média de peso, altura e IMC dos escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. (n)* (208) (208) (208) Peso Altura IMC x ± DP* 32 ± 7,5 1,33 ± 0,07 18 ± 3,05 * n= tamanho da amostra x= média DP= desvio padrão Em relação ao gênero, a amostra apresentou maior prevalência do sexo feminino (53%) em relação ao masculino (47%), conforme tabela 2. Tabela 2. Freqüência dos gêneros dos escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Feminino Masculino Total (n) (110) (98) 208 % 53 47 100 Quando analisados de acordo com o estado nutricional, sobrepeso/obesidade são encontrados em 34% dos escolares participantes desta pesquisa, independente do sexo e tipo de escola (pública ou particular) (Tabela 3). Num estudo de Costa, Cintra e Fisberg (2006), com metodologia bastante semelhante a nossa, com 10.822 crianças de escola pública e privada entre 7 e 10 anos, utilizando os percentis do IMC/idade propostos pelo CDC (2000), também foi encontrada prevalência de 34% em relação a sobrepeso/obesidade. Silva, Balaban Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 15 e Motta (2005), identificaram 21,1% de sobrepeso e obesidade nas 511 crianças em idade escolar de Recife-PE, utilizando os mesmos critérios do presente estudo para diagnóstico nutricional. Assis et al. (2006), que avaliaram o estado nutricional das crianças entre 7 a 9 anos de Florianópolis-SC, de acordo com as referências utilizadas na França (sobrepeso caracterizado como IMC > percentil 97), encontraram prevalência de 19,9% de sobrepeso nesses escolares. Tabela 3. Estado nutricional dos escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Risco de baixo peso Eutrofia Sobrepeso Obesidade Total (n) (10) (127) (36) (35) 208 % 5 61 17 17 100 O presente estudo mostra que a prevalência de sobrepeso e obesidade é maior na escola privada (39%) que na escola púb lica (26%) (p= 0,04), conforme tabela 4. Estes resultados também foram observados por Costa, Cintra e Fisberg (2006). O mesmo fato foi observado no estudo de Leão et al (2003), onde foram avaliadas crianças de 5 a 10 anos através do IMC para idade e sexo de acordo com a recomendação de Hilmes (1994) utilizando as tabelas de Anjos (1998). Ronque et al. (2005), em estudo com escolares entre 7 a 10 anos de ensino privado, encontraram prevalência de sobrepeso/obesidade de 33% neste tipo de escola. Soar et al. (2004), realizaram estudo com crianças de escola pública entre 7 e 9 anos de idade, utilizando o IMC conforme sexo e idade para o diagnóstico nutricional. Os resultados encontrados mostraram elevada prevalência de sobrepeso/obesidade (24,6%) nestes escolares, em comparação com outras pesquisas realizadas. No presente estudo a prevalência de sobrepeso/obesidade observada foi um pouco maior na escola pública (26%), em relação ao estudo descrito anteriormente. Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 16 Tabela 4. Estado Nutricional de acordo com o tipo de escola, pública e particular, de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Estado nutricional Risco baixo peso Eutrofia Sobrepeso Obesidade Total p= 0,04 Escola Pública (n) % Escola Particular (n) % (07) (51) (09) (12) 79 9 65 11 15 100 (03) (76) (27) (23) 129 2 59 21 18 100 A maioria dos escolares (31%) possui renda familiar mensal entre 3 e 6 salários mínimos, a renda de até 3 salários é observada em 29% das famílias, dados encontrados na tabela 5. Dos 208 questionários, 15 não informaram a renda mensal, o que corresponde a uma perda de 7%, prejudicando a análise desta variável. Tabela 5. Renda familiar mensal dos escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Renda Até 3 salários mínimos 3 a 6 salários mínimos 6 a 9 salários mínimos Mais de 9 salários mínimos Não informou Total (n) 60 64 34 35 15 208 % 29 31 16 17 7 100 Como apresentado na tabela 6, 77,9% dos escolares de escola pública e privada praticam 1 hora de atividade física na escola por semana. Fora da escola o número de horas de exercício diminui consideravelmente, pois 51% dos estudantes não pratica nenhuma atividade física. Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 17 Tabela 6. Prática de atividade física semanal entre os escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Na escola Não pratica 1h/semana 2h/ semana 3h/ semana Total Fora da escola Não pratica 1h/ semana 2h/ semana 3h/ semana Mais de 3h/ semana Total (n) % (10) (162) (25) (11) 208 4,8 77,9 12 5,3 100 (107) (12) (53) (01) (35) 208 51 6 25,5 0,5 17 100 Quando analisado o tempo gasto com aparelhos eletrônicos pelos escolares, o presente estudo mostrou que a televisão é o aparelho eletrônico mais utilizado na rotina das crianças, onde apenas 2% não tem acesso e mais da metade (52%) assiste 3 horas ou mais por dia. Quanto ao uso de computador, 42% dos escolares utiliza 1 hora diariamente. O videogame não é utilizado por 52% das crianças (Tabela 7). Assis et al. (2006), comparando os hábitos de escolares franceses e brasileiros, relataram que as crianças brasileiras possuem mais tempo livre que as francesas, pois na França a escola é freqüentada em turno integral. Com mais tempo livre as crianças possuem chances elevadas de ocupar o tempo utilizando aparelhos eletrônicos e conseqüentemente deixam de praticar exercícios físicos. Estudos demonstram que a influência de obesidade é de 10% em crianças que assistem menos de 1 hora de televisão por dia, enquanto que se o hábito de ver TV persistir por 3,4,5 ou mais horas por dia a prevalência aumenta para 25%, 27% e 35% respectivamente (MELLO; LUFT; MEYER, 2004). Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 18 Tabela 7. Tempo gasto pelos escolares de Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006, com aparelhos eletrônicos. Computador Não utiliza 1h/ dia 2h/ dia 3h/ dia Mais de 3h/ dia Total Videogame Não utiliza 1h/ dia 2h/ dia Mais de 3h/ dia Total Televisão Não utiliza 1h/ dia 2h/ dia 3h/ dia Mais de 3h/ dia Total (n) % (82) (88) (24) (06) (08) 208 39 42 12 3 4 100 (115) (66) (22) (05) 208 55 32 11 2 100 (03) (38) (59) (46) (62) 208 2 18 28 22 30 100 Não houve diferença estatística significante no meio de transporte utilizado para ir à escola entre as crianças eutróficas e sobrepeso/obesas (p=0,14). Mas através destes resultados pode-se perceber que apenas 36,6% dos escolares com excesso de peso vão para a escola caminhando, já entre os eutróficos estes números aumentam para 46,5% (Tabela 8). Moraes et al. (2006), em estudo realizado com crianças no México, relataram que 54,3% e 64,8% dos escolares com sobrepeso e obesidade, respectivamente, não costumavam ir à escola caminhando. Assis et al. (2006), comparando o tipo de transporte entre crianças francesas e brasileiras, de Florianópolis-SC, mostraram que grande parte das crianças na França vai para escola caminhando ou de bicicleta, pois as escolas são localizadas perto da residência dos escolares, já em Florianópolis a distância entre a moradia e escola é maior. Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 19 Tabela 8. Comparação do tipo de transporte utilizado para ir à escola entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Transporte Carro Caminhando Total p= 0,14 Eutróficos (n) % (67) 52,8% (59) 46,5% 126 100 Sobrepeso/obesos (n) % (45) 63,4% (26) 36,6% 71 100 O presente estudo mostrou diferença estatística entre o tipo de moradia e o estado nutricional dos escolares (p= 0,043). As crianças sobrepeso/obesas (38%) moram mais em apartamento que as eutróficas, e 75,6% das eutróficas moram em casas (Tabela 9). O fato das crianças com excesso de peso morarem mais em apartamentos pode dificultar o acesso as brincadeiras ao ar livre, favorecendo o sedentarismo e conseqüentemente diminuindo as oportunidades de gasto energético. Não foi encontrada na literatura influência do tipo de moradia sobre o estado nutricional das crianças. Tabela 9. Comparação do tipo de moradia entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Moradia Casa Apartamento Total p= 0,043 Eutróficos (n) % (96) 75,6% (31) 24,4% 127 100 Sobrepeso/obesos (n) % (44) 62% (27) 38% 71 100 De acordo com os resultados obtidos neste estudo, os escolares sobrepeso/obesos praticam mais horas de atividade física por semana na escola que os eutróficos e este dado obteve significância estatística (p= 0,005). A tabela 10 mostra que 28,2% das crianças com excesso de peso pratica 2 ou 3 horas de atividade física por semana, sendo que a maioria das eutróficas (81,9%) pratica 1 hora de exercícios por semana. Uma provável hipótese para este resultado é o fato da condição do excesso de peso já estabelecida exigir mais cuidados levando a criança a ser estimulada pelos profissionais de educação física. Outra hipótese se dá pelo fato da criança sentir-se incomodada com o seu estado nutricional, e com isso pratica mais exercícios a fim de perder peso. Na literatura, quando analisada a prática de atividade Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 20 física entre as crianças, não há diferença entre o local que esta prática é feita, se dentro ou fora da escola, ou seja, é analisada de forma geral. Tabela 10. Comparação da prática de atividade físic a na escola entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Não faz 1h/ semana 2h/ semana 3h/ semana Total p= 0,005 Eutróficos (n) % (07) 5,5% (104) 81,9% (13) 10,2% (03) 2,4% 127 100 Sobrepeso/Obesos (n) % (02) 2,8% (49) 69% (12) 16,9% (08) 11,3% 71 100 Embora não tenha havido diferença estatística significante na prática de atividade física fora da escola e o estado nutricional das crianças (p= 0,19), como apresentado na tabela 11, mostra-se uma tendência dos obesos praticarem menos exercícios que os eutróficos. Segundo Assis et al. (2006), o aumento da freqüência de obesidade está relacionado a mudanças no estilo de vida, principalmente o decréscimo de atividade física e hábitos alimentares inadequados. Moraes et al. (2006), mostraram, em relação à prática de atividade física fora da escola, que as crianças com sobrepeso/obesidade praticavam menos de 1 hora por semana, sendo que nas eutróficas essa prática era de aproximadamente 2 horas. No presente estudo 56% dos escolares com excesso de peso não se exercita fora do horário escolar. Tabela 11. Comparação da prática de atividade física fora da escola entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Não faz Até 3h/ semana Mais de 3h/ semana Total p= 0,199 Eutróficos (n) % (60) 47,2% (44) 34,7% (23) 18,1% 127 100 Sobrepeso/Obesos (n) % (40) 56% (21) 30% (10) 14% 71 100 Os aparelhos eletrônicos (televisão, computador e videogame) representam um fator de risco para o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade em crianças, segundo o estudo de Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 21 Oliveira et al. (2003) e Kain, Vio e Albala (2003). Resultados do presente estudo mostram que escolares sobrepeso/obesos utilizam mais computador que os eutróficos (64,8% utiliza até 2h/ dia), resultado que mostrou significância estatística (p= 0,003) conforme tabela 12. O computador, assim como a TV, leva a inatividade física e favorece o surgimento da obesidade, principalmente se utilizado por muitas horas ao dia. O uso do computador por tempo inferior a 7 horas por semana corresponde a uma das metas propostas por Dietz e Robinson (2005) para promover a perda de peso e controlar a obesidade. Tabela 12. Comparação do uso diário de microcomputador entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Não usa Até 2h/ dia 3h ou mais/dia Total p= 0,003 Eutróficos (n) % (60) 47% (61) 48% (06) 5% 127 100 Sobrepeso/obesos (n) % (17) 24% (46) 64,8% (08) 11,2% 71 100 Não houve diferença estatística em relação ao hábito de assistir TV entre crianças eutróficas e sobrepeso/obesas (p= 0,13). Em nosso estudo, a maioria das crianças eutróficas (56%) assiste TV por 3h ou mais por dia, enquanto as sobrepeso/obesas somam 45,1% neste mesmo período de tempo (Tabela 13). Podemos observar também que a televisão representa o aparelho eletrônico mais usado, pois entre as eutróficas todas possuem e assistem diariamente. Dentre os 3 aparelhos eletrônicos (TV, computador e videogame) a TV possui custo inferior ao computador, por isso fica mais fácil de adquirir, e outro fator que contribui para esta presença constante da TV na rotina dos escolares é o fato deste aparelho ser utilizado por toda a família, diferente do videogame, que na maioria das vezes é utilizado apenas pelas crianças. A televisão é considerada indispensável para a maioria das pessoas, e está presente desde a residência mais humilde até as mais luxuosa. Outros estudos que abordam a influência dos fatores ambientais no desenvolvimento da obesidade infantil mostram que o hábito de assistir TV por muitas horas está associado com o aumento dos níveis de obesidade (ASSIS et al., 2006). O estudo de Almeida, Nascimento e Quaioti (2002), mostrou que os alimentos veiculados na televisão possuem alto teor de gordura e/ou açúcar e sal, podendo estar contribuindo para mudanças nos hábitos alimentares das crianças e conseqüentemente aumentando o problema da obesidade na população. Ribeiro, Taddei e Colugnatti (2003), Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 22 fizeram um estudo com crianças de escola pública em São Paulo, com idades entre 7 e 10 anos, no qual mostrou que o hábito de assistir TV por 4h/dia ou mais estava associado ao aumento da prevalência de obesidade, assim como Moraes et al (2006), que observaram o hábito de comer ou estudar diante da TV presente em 81,3% das crianças com excesso de peso. Strauss e Knight (1999), relataram que indivíduos que são estimulados em casa por parte dos pais assistem significantemente menos horas de TV por dia, dado que reforça o papel fundamental da família no comportamento da criança e a importância de programas de educação que envolvam os pais visando a diminuição dos índices de obesidade. Para Dietz e Robinson (2005), mudanças no comportamento das crianças, como limite de tempo para assistir TV e não realizar as refeições na frente da mesma, produzem perdas de 5 a 20% do excesso de peso, num período de 3 a 6 meses. Tabela 13. Comparação do hábito de assistir TV entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Não usa Até 2h/ dia 3h ou mais/ dia Total p= 0,133 Eutróficos (n) % (0) 0% (56) 44% (71) 56% 127 100 Sobrepeso/obesos (n) % (03) 4,2% (36) 50,7% (32) 45,1% 71 100 Foi encontrada diferença estatística significante em relação ao número de irmãos que a criança possui e seu estado nutricional (p= 0,01) conforme tabela 14. A maioria dos escolares sobrepeso/obesos possui apenas 1 irmão (47,9%) ou não tem irmão (32,4%). Guimarães et al. (2006), encontraram maior prevalência de sobrepeso em escolares que possuíam apenas 1 irmão, o que foi analisado também por Oliveira et al. (2003). O baixo número de irmãos representa um fator de risco para o desenvolvimento da obesidade, pois quanto maior o número de crianças na família mais freqüentes serão as brincadeiras, segundo estes autores. Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 23 Tabela 14. Comparação do número de irmãos entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Não tem 1 irmão 2 irmãos 3 irmãos Mais de 3 irmãos Total p= 0,01 Eutróficos (n) % (29) 23% (53) 42% (22) 17% (11) 9% (12) 9% 127 100 Sobrepeso/obesos (n) % (23) 32,4% (34) 47,9% (11) 15,5% (03) 4,2% (0) 0% 71 100 Não houve diferença estatística significante em relação à renda e estado nutricional (p= 0,84), o fato de 15 questionários estarem incompletos na informação da renda familiar mensal pode ter prejudicado a análise desta variável, como foi comentado anteriormente na tabela 5. O que pode-se observar neste estudo é que a maioria das crianças sobrepeso/obesas (33,3%) apresenta renda familiar mensal entre 3 e 6 salários mínimos, média de R$ 1.575,00/ mês (Tabela 15). Os estudos de Leão et al. (2003), Ronque et al. (2005) e Silva, Balaban e Motta (2005), encontraram associação entre obesidade e alto nível sócio econômico nos países em desenvolvimento. O mesmo fato foi observado no estudo de Oliveira et al. (2003), e Engstrom e Anjos (1996). No estudo de Guimarães et al. (2006), realizado com crianças de 6 a 11 anos de Cuiabá, MT, o sobrepeso foi maior em escolares com renda familiar per capita maior que 3 salários mínimos. Tabela 15. Comparação da renda familiar mensal entre escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Até 3 salário mínimos 3 a 6 salários mínimos 6 a 9 salários mínimos Mais de 9 salários mínimos Total p= 0,84 Eutróficos (n) % (37) 31,9% (36) 31% (21) 18,1% (22) 19% 116 100 Sobrepeso/obesos (n) % (22) 31,9% (23) 33,3% (12) 17,4% (12) 17,4% 69 100 A relação entre estado nutricional das mães e dos escolares obteve significância estatística (p= 0,03), mostrando que 41% das mães das crianças sobrepeso/obesas também apresentam sobrepeso/obesidade, dado encontrado em apenas 27,2% das mães de crianças Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 24 eutróficas (Tabela 16). Na literatura existem estudos que apontam o alto IMC da mãe como fator de risco para a criança desenvolver obesidade. Engstrom e Anjos (1996), evidenciaram que o risco de uma criança ter sobrepeso foi de 3,19 vezes maior se a mãe também apresentasse essa condição. No estudo de Flores, Carrión e Barquera (2005), realizado no México com crianças em idade escolar, pôde-se concluir que o sobrepeso e obesidade maternos foram fatores de risco na população estudada, resultado encontrado também por Strauss e Knight (1999). No estudo de Guimarães et al. (2006) e Ribeiro, Taddei e Colugnatti (2003), o índice de sobrepeso em crianças foi maior naquelas cujos pais apresentaram IMC≥ 30. Moraes et al. (2006), mostraram que 53,1% dos escolares com sobrepeso e 58,3% dos obesos eram filhos de pais com sobrepeso. Neste estudo, o alto IMC do pai não mostrou diferença estatística significante entre os estados nutricionais (p= 0,58), mas a chance da criança se tornar obesa na vida adulta é de 80% quando pai e mãe são obesos, segundo Viuniski (1999), Vitolo (2003) e Fisberg (2005). Tabela 16. Comparação do estado nutricional das mães dos escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. Magreza Eutrofia Sobrepeso/obesidade Total p= 0,03 Eutróficos (n) % (01) 0,8% (90) 72% (34) 27,2% 125 100 Sobrepeso/obesos (n) % (0) 0% (41) 59% (28) 41% 69 100 A maioria das mães de crianças sobrepeso/obesas (62%) possui maior nível de escolaridade quando comparadas com as mães de crianças eutróficas (44,2%) (Tabela 17), o resultado encontrado neste estudo teve significância estatística (p=0,02) e também é relatado por outros autores. O estudo de Guimarães et al. (2006), com crianças entre 6 e 11 anos, encontrou associação entre sobrepeso e alto nível de escolaridade da mãe, assim como Ribeiro, Taddei e Colugnatti (2003). No estudo realizado por Oliveira et al. (2003), com crianças de 5 a 9 anos estudantes de ensino público e privado, o alto nível de escolaridade dos pais foi considerado fator de risco para o surgimento de sobrepeso e obesidade. Em estudo realizado com crianças menores de 10 anos nas 5 regiões do Brasil (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste), os resultados mostraram que a prevalência de sobrepeso, segundo a escolaridade materna, foi menor nas mães com nenhuma ou pouca escolaridade, crescendo Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 25 conforme o aumento da escolaridade (ENGSTROM; ANJOS, 1996). Moraes et al. (2006), indicaram que o risco para desenvolvimento da obesidade na criança aumentava 1,07 vezes para cada ano de escolaridade materna. O estudo de Neves et al. (2006), encontrou associação estatisticamente significante entre obesidade da criança e escolaridade materna menor que 4 anos. Tabela 17. Comparação da escolaridade das mães entre os escolares eutróficos e sobrepeso/obesos. Santa Maria e Dom Pedrito, RS, 2006. 1º grau 2º grau 3º grau Total p= 0,02 Eutróficas (n) % (16) 12,5% (55) 43,3% (56) 44,2% 127 100 Sobrepeso/obesas (n) % (06) 8,4% (21) 29,6% (44) 62% 71 100 4.1 Problemáticas do estudo Uma das principais problemáticas do trabalho, em que não podemos afirmar que os resultados são conclusivos, foi a distribuição de questionários de auto-preenchimento. Estes representam um viés de estudo, pois os entrevistados podem alterar os fatos verdadeiros e/ou não entender os questionamentos. Devido à baixa aceitabilidade das escolas de Santa Maria em colaborar com o estudo, houve a necessidade de buscar uma escola em outra cidade, o que dificultou o cálculo amostral e a inferência para a população. Os hábitos alimentares das crianças não foram abordados neste estudo, por este motivo não se pode concluir que os fatores ambientais são fatores de risco decisivos para o desenvolvimento da obesidade. Para tanto, é necessário que seja feito um estudo mais abrangente e longitudinal, que aborde os fatores ambientais juntamente com o conhecimento da alimentação, e que também leve em consideração outros dados, como peso ao nascer e amamentação. Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 26 5 CONCLUSÕES A partir dos resultados deste estudo, conclui-se para a amostra que: - A prevalência de sobrepeso e obesidade foi de 34% entre os estudantes de escola pública e privada de ambos os sexos. - Quando analisadas separadamente, a escola privada apresenta maior prevalência de sobrepeso e obesidade que a escola pública; - Não houve diferença estatística significante entre o nível sócio-econômico de escolares eutróficos e com sobrepeso/obesidade; - A maioria dos estudantes com sobrepeso/obesidade mora em apartamento; - A televisão foi o aparelho eletrônico mais prevalente em ambos grupos (eutróficos e sobrepeso/obesos), porém não apresentou diferença estatística. Já o uso de microcomputador obteve diferença estatística significante, mostrando que os escolares sobrepeso/obesos utilizam mais horas por dia este tipo de aparelho eletrônico que os eutróficos; - Os escolares que apresentam sobrepeso/obesidade praticam mais horas de atividade física na escola e os eutróficos apresentam uma tendência de praticar mais exercícios físicos fora da escola, porém este dado não teve significância estatística. Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Sebastião de Souza; NASCIMENTO, Paula Carolina B. D; QUAIOTI, Teresa Cristina Bolzan. Quantidade e qualidade de produtos alimentícios anunciados na televisão brasileira. Revista de Saúde Pública, v. 36, n.3, p. 353-355, 2002. ALVES, João Guilherme Bezerra. Atividade física em crianças: promovendo a saúde do adulto. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, v. 3, n.1, p. 5-6, jan./mar.2003. ASSIS, Maria Alice Altenburg et al. 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Justifica-se a realização deste estudo devido ao aumento crescente dos índices de obesidade em crianças nos últimos anos, tornando essa condição um grave problema de saúde pública em todo o mundo. O sedentarismo, induzido pelo uso prolongado de aparelhos eletrônicos, e a influência da televisão na alimentação das crianças são fatores que podem estar contribuindo para o surto de obesidade. II) Procedimentos a serem realizados: Para a realização deste estudo, será utilizado um questionário com questões sobre fatores ambientais (uso de aparelhos eletrônicos, prática de exercícios físicos…) dos escolares, o qual será entregue às crianças no horário de aula. Os questionários são auto-aplicativos, ou seja, você e seu filho (a) poderão responder sozinhos, sem a intervenção da autora do estudo. As crianças serão pesadas e medidas na escola para verificação do estado nutricional, e isto não envolverá riscos e nem constrangimentos frente aos colegas. III) Garantia de respostas a qualquer pergunta e liberdade de abandonar a pesquisa: Os participantes têm o direito de abandonar este estudo, caso se sintam prejudicados ou arrependidos por terem concordado em colaborar com o mesmo. A qualquer momento você e seu filho (a) terão liberdade de solicitar novas informações e/ou modificar decisões se assim desejarem. Esta pesquisa terá total sigilo quanto a dados , de nome ou qualquer outro dado, que venha a comprometer o (a) estudante envolvido (a). IV) Ressalto que você e seu filho(a) têm total direito de escolha entre participar ou abandonar o estudo, sem nenhum prejuízo para si. V)Ressalto ainda que a concordância em participar deste estudo não envolve riscos para a saúde e bem estar seu e de seu filho (a). Eu,____________________________________ fui informada(o) dos objetivos do estudo descrito anteriormente, de maneira clara e detalhada. Recebi informações a respeito dos procedimentos que serão realizados com meu filho(a) e esclareci minhas dúvidas. Sei que em qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar minha decisão, se assim eu desejar. A acadêmica Silvia Cercal Bender certificou-se de que todos os dados do estudo referentes a mim serão confidenciais, e que terei total liberdade para retirar meu consentimento de participação caso eu julgue necessário, devido à estas informações. Caso surjam dúvidas sobre este estudo, posso chamar a acadêmica Silvia Cercal Bender no telefone 55-81133997 para qualquer esclarecimento sobre meus direitos como participante, ou se penso que fui prejudicada (o) com a minha participação posso chamar a Orientadora deste estudo, Vanessa Ramos Kirsten, pelo telefone 55-99939431. Declaro que recebi cópia do presente termo de consentimento. ______________________________ Assinatura dos pais ou responsáveis ______________________________ Nome do(a) aluno(a) participante ______________________________ Assinatura da pesquisadora. Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 31 APÊNDICE B- Questionário Idade: Cor: Série: ( ) Branca Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino ( ) Parda ( ) Mulata ( )Negra Data de nascimento:___/___/___ Peso ao nascer:________ Comprimento ao nascer:_______ Foi amamentado? ( ) Sim ( ) Não Por quanto tempo aleitamento materno exclusivo? ( ) até 1 mês ( ) até 3 meses ( ) de 3 a 6 meses ( ) mais que 6 meses Com que idade foi oferecida a alimentação complementar (sucos, papinhas...)?___________ Tipo de moradia: ( ) Casa ( ) Apartamento Como a criança vai para a escola? ( ) Carro ( ) Caminhando Escadas? ( ) Sim ( ) Ônibus ( ) Não ( ) Bicicleta ( )Outro................................ Realiza aula de atividade física na escola? ( ) Sim ( ) Não Quantas horas por semana? ( ) 1h ( ) 2h ( ) mais de 3h Pratica alguma atividade física fora da escola? ( ) Sim ( ) Não Qual?______________ Quantas horas por semana? ( ) 1h ( ) 2h ( ) de 3 a 5h ( ) mais que 5h Tem acesso a: ( ) Computador Quantas horas por dia utiliza? ( ) 1h ( ) 2h ( ) 3h ( ) mais de 3 horas ( ) Videogame Quantas horas por dia utiliza? ( ) 1h ( ) 2h ( ) 3h ( ) mais de 3 horas ( )Televisão Quantas horas por dia utiliza? ( ) 1h ( ) 2h ( ) 3h ( ) mais de 3 horas Possui irmãos? ( ) Sim Renda familiar: ( ) Não Quantos?_______ ( ) até 3 salários mínimos ( ) de 3 a 6 salários mínimos ( ) de 6 a 9 salários mínimos ( ) mais de 9 salários mínimos Peso do pai:_______ Peso da mãe:_______ Altura do pai:_______ Altura da mãe:_______ Escolaridade do pai: Escolaridade da mãe: ( ) 1º grau incompleto ( ) 1º grau incompleto ( ) 1º grau completo ( ) 1º grau completo ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo ( ) 2º grau completo ( ) ensino superior incompleto ( ) ensino superior incompleto ( ) ensino superior completo ( ) ensino superior completo Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 32 Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 33 Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 34 Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 35 Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 36 Disponível no site Nutrição Ativa (www.nutricaoativa.com.br) 37
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