911 produtos e substâncias medicinais
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911 produtos e substâncias medicinais
Contém os registros de 522 doenças e incômodos; 911 produtos e substâncias medicinais; 73 definições técnicas e 3.130 receitas e informações de curas © 1994 by Waldomiro Bariani Ortencio 2ª edição, 1997 3ª edição, 2012 Revista e ampliada Capa Thiago Sarandy Diagramação Rogério Fernandes Guimarães Finalização Cláudia Gomes Revisão Autor e Izabel Signoreli ISBN: 978-85-409-0006-6 077m Ortencio, Waldomiro Bariani Medicina popular do Centro-Oeste / Waldomiro Bariani Ortencio. 3. ed. rev. atual. – Brasília : Thesaurus, 2012. 540 p. 1. Medicina popular, Brasil, Centro-Oeste. I. Título CDU 615.89 (817) CDD 615.882 © Todos os direitos em língua portuguesa no Brasil, reservados ao Autor de acordo com a lei. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou informação computadorizada, sem permissão por escrito do Autor. THESAURUS EDITORA DE BRASÍLIA - SIG – Quadra 8 – Lote 2356 – CEP 70610-480 Tel. 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E-mail: editor@ thesaurus.com.br • www.thesaurus.com.br - Composto e impresso no Brasil / Printed in Brazil. “Já sabemos o que piora, só falta descobrir o que melhora.” Celso Costa Ferreira “O pesquisador é um ajuntador de lenha para os especialistas fazerem fogueira.” Gelmires Reis (Patriarca do sertão goiano) “Enfrente um batalhão pela frente e fuja de um vento pelas costas.” Claudimira Rosa (Sertaneja mineira) SUMÁRIO À GUIZA DE PREFÁCIO – A magia da medicina popular....... 11 INTRODUÇÃO................................................................................. 13 MÉDICOS EUROPEUS NA PROVÍNCIA DE GOIÁS............... 19 DEFINIÇÕES: TÉCNICAS, COLHEITAS E PREPARO DAS PLANTAS MEDICINAIS......................................................... 33 ARTIGOS CRÔNICAS DEPOIMENTOS ENTREVISTAS REPORTAGENS.................................................................................. 239 CRÔNICAS • ANEDOTÁRIO..................................................... 461 BENZEÇÕES....................................................................................... 467 FILOSOFIA POPULAR..................................................................... 473 GLOSSÁRIO....................................................................................... 487 INFORMANTES................................................................................. 507 PRODUTOS E SUBSTÂNCIAS MEDICINAIS............................ 511 RECEITUÁRIO................................................................................... 523 ARTIGOS • CRÔNICAS • DEPOIMENTOS............................... 531 ENTREVISTAS • REPORTAGENS.................................................. 531 BIBLIOGRAFIA................................................................................... 537 Revistas...................................................................................... 539 Jornais........................................................................................ 539 À GUIZA DE PREFÁCIO A magia da medicina popular Entrevista do escritor Bariani Ortencio à repórter Marluce Zacariotti À base de ervas e até extratos animais, os remédios caseiros ainda são buscados como terapia milagrosa (ORTENCIO, 1996). O que não mata, engorda, reza o ditado que pode ser perfeitamente encaixado na teoria da medicina popular. Os efeitos colaterais da maioria dos remédios alopáticos e os altos preços dos medicamentos contribuem para um retorno ao uso da flora e fauna, folhas, raízes, sementes, grãos, seivas e exóticos extratos animais tipo banha de galinha, chocalho de cascavel e moela de ema. Essas e outras dicas do folclore estão no livro Medicina Popular do CentroOeste, do escritor Bariani Ortencio, cuja segunda edição está sendo lançada pela Editora Thesaurus. De acordo com ele, o progresso é o maior inimigo das tradições populares. Por isso ele escreveu uma trilogia sobre os conhecimentos populares do Centro-Oeste. Em 1967, saiu o primeiro volume de Cozinha Goiana, com receituário. O Dicionário do Brasil Central foi publicado em 1983 e em 1990 chegou às bancas a primeira edição do Medicina Popular. Com esses três livros, Bariani assegura às gerações futuras o contato com sua sabedoria do povo de sua região. Embora o progresso avance e vá destruindo a fé nas benzedeiras, curandeiros e raizeiros, no interior, o sertanejo não abre mão de suas crenças na natureza. A assistência à saúde é escassa no interior e mesmo nas cidades maiores o sistema médico-hospitalar pede socorro. Esse é outro motivo que leva as pessoas a recorrerem à velha receita da avó, “que se não fizer bem, mal não fará”. Alternativa – Chazinhos, garrafadas, simpatias e benzeções produzem, conforme o escritor, efeitos positivos psicológicos. “Pelo menos o doente não fica à mingua”. O curandeiro trata das doenças, o raizeiro extrai e vende os pro11 BARIANI ORTENCIO dutos e o rezador destaca-se de um e do outro pelo poder curativo de suas rezas graças à crença religiosa do paciente, explica. O livro de Bariani trata de mais de 500 “macacoas”, incômodos; de 800 estudos sobre os produtos da natureza e dá mais de três mil receitas. Nessa segunda edição 1994, o autor destaca as dez melhores receitas, as que estão mais na moda. A insulina vegetal, por exemplo, está em evidência. É uma trepadeira que baixa a taxa de glicose do sangue. A cola-nota ou maria mole ou gota mágica é uma planta usada com o remédio alternativo para o câncer, leucemia e alergias. Uma recente descoberta, comenta Bariani, é a postemeira também conhecida como funcionário público por suas flores abrirem às oito horas e fecharem ao meio dia. Ela é tiro e queda para doenças da pele, infecções e alergias. Crença – O escritor lembra que a maioria das doenças está na cabeça das pessoas. Portanto, assegura, essa é uma medicina de fé, de crença. Aliás, a fé e a coragem andam de mãos dadas com o povo. “As plantas têm poder curativo mesmo, mas a confiança que se deposita nesse remédio alternativo tem uma carga muito importante”, enfatiza. Seja como for, misticismo ou realidade, a medicina popular tem sua força. Como diz o ditado, de médico e louco todo mundo tem um pouco. Vale ressaltar que o problema da medicação caseira fica por conta da posologia. Bariani observa que a dosagem é muito incerta e isso pode ser um fator de risco. “Se a medicina se dedicasse mais a estudar as plantas teria na própria natureza respostas para muitas de suas perguntas e poderia, inclusive, resolver esse impasse da dosagem”, sugere o autor do livro. Para ele, a doença e a cura estão na natureza. E um bocado de misticismo não faz mal também. Apegar-se a amuletos, patuás e simpatias cura, no mínimo, o espírito. E esse é um bom começo para combater a doença, filosofa. (O Popular, 15 de abril de 1996). 12 INTRODUÇÃO O progresso é o maior inimigo das tradições, do Folclore. Os usos e os costumes tradicionais vão desaparecendo com a modernidade. Por isto, em 1953, me propus a registrar tudo, na medida do possível, escrevendo uma trilogia dos conhecimentos populares do Centro-Oeste. Entre 1953 e 1994 foram 41 anos! Em 1967 saiu o primeiro volume - Cozinha Goiana - Estudo e Receituário, pela Brasilart Editora (Rio), com mais duas edições: Editora Oriente (Goiânia-1980) e Editora Eldorado (Brasília-1990). Cozinha Goiana 4ª edição 2000, 5ª edição - 2004; 6ª edição - 2008 e 7ª edição - 2011- Editora Kelps. Em 1983 foi publicado, pela Editora Ática (São Paulo), o Dicionário do Brasil Central - Subsídios à Filologia - 2ª edição 2009, que conquistou o Prêmio Maior Realização Cultural de 1983, pela APCA-Associação Paulista de Críticos de Arte. Agora, depois de mais de 40 anos de pesquisas, com este Medicina Popular do Centro-Oeste 1ª edição - 1994 e 2ª 1997 - Thesaurus Editora. Na Cozinha Goiana pesquisei sobre como os goianos se alimentaram e se alimentam, com os seus usos e costumes. Demonstrei que a nossa cozinha é originária de três fontes: a indígena (dos índios que aqui os bandeirantes encontraram), a africana (quando os negros escravos chegaram para a mineração do ouro) e, posteriormente, a cozinha européia (exercida pelas mulheres portuguesas, dos senhores das minas). No Dicionário do Brasil Central, a linguagem, os topônimos dos municípios, usos e costumes do povo, o seu folclore... Neste Medicina Popular do Centro-Oeste retrato como o povo do Brasil-Central vinha e vem cuidando de suas doenças e incômodos (macacoas e perrenguices), mormente os interioranos e os sertanejos, dividindo e desmembrando a medicina alternativa em várias outras denominações, sinônimos e até seitas: popular, caseira, doméstica, rústica, empírica, folclórica, natural, botânica, mágica, religiosa, vegetal, mística... A mais complicada é a mágica, exercida pelos exorcismos, simpatias, usos de amuletos e talismãs, os patuás contendo os bentinhos e os breves. Necessária se faz, aqui, uma explicação, que muita gente 13 BARIANI ORTENCIO confunde sobre amuletos, talismãs e patuás. O amuleto é para evitar os males, as doenças, os perigos e o azar. O talismã é para dar sorte. Os mais comuns dos amuletos são a figa e o patuá. A figa representa o ato sexual (o polegar entre o indicador e o médio); o patuá, que vai dependurado ao pescoço da pessoa, por um cordão, é, também, o invólucro (saquinho) que contém ou o breve ou o bentinho. O breve é um patuá contendo uma pequena oração (breve, como o nome indica); o bentinho contém uma relíquia, uma medalhinha ou pequena estampa do santo do devoto e é benzido pelo padre. Há os excessos, o fanatismo, e muitos colocam no patuá uma oração forte, braba, longa (de São Cipriano, por exemplo), e mesmo fragmentos de objetos sagrados (de preferência, furtados) ou minerais, que os defendem dos grandes males, principalmente a morte por arma branca ou de fogo, acreditando-se o corpo invulnerável (só não tem efeito atravessando um rio a pé, a cavalo, ou em canoa: dentro d'água o patuá não faz efeito). O talismã, como dissemos, é para dar sorte. Muita gente se afeiçoa a um objeto ou animal e carrega-o consigo. É muito comum os chaveiros feitos com pé de coelho (talismã) e os mascotes dos clubes de futebol representados por uma criança uniformizada ou um animal, carneiro ou cachorro, que adentra o gramado acompanhado da equipe. A dificuldade do estudo das medicinas mágica e religiosa é que as benzedeiras não revelam as suas rezas. Frente ao pesquisador elas ficam desconfiadas e desconversam. Também, com o êxodo rural, há um corte da tradição dos benzedores, curandeiros e rezadores, porque os filhos, aculturando-se na cidade não se interessam em aprender, têm vergonha de ter pais benzedores, e a tra dição exige que se ensine aos filhos ou parentes mais próximos para que os ofí cios sejam válidos. Não sabem esses jovens quão importantes são essas pessoas no meio rural, por falta de médicos, farmacêuticos, remédios e demais recursos. O que seria dos sertanejos se não fossem as parteiras, os curandeiros, os benzedores, rezadores, os raizeiros, os embromadores e os místicos!... O curandeiro trata das doenças, o raizeiro extrai e vende os produtos curativos e o rezador destaca-se de um e de outro pelo poder de suas rezas (orações) e, mais, pela crença religiosa dos pacientes. Há rezadores com práticas mágicas, capazes de curar uma bicheira de animal à distância e também pelo rastro. Devido às distâncias dos centros, ou melhor, da rua, como dizem, o povo sertanejo se apega aos re médios caseiros, as tais meizinhas, rezas, simpatias, benzeções... Os chás de várias ervas são “santos milagreiros”, os “santos milagres” os “santos remédios” do povo interiorano. Tais remédios produzem efeitos positivos psicológicos, e o doente, em todos os casos, não fica à míngua; certo ou errado, está sendo assistido. Se os médicos não aprovam o uso das plantas, pelo menos, não as combatem, a não ser pelo uso indevido. Muitos otorrinos recomendam, para a amigdalite, gargarejos de sementes de sucupira trituradas com biotônico. Se uma erva medicinal, cuidadosamente dosada, não fizer bem, mal também não faz. Há algum tempo atrás se acreditava que toda planta de sabor amargo era medicinal. 14 MEDICINA POPULAR DO CENTRO-OESTE O cuidado com os remédios das plantas exige: saber qual a parte que deve ser usada, qual a quantidade e como usá-la. Precisa haver esterilização, técnica de secagem que evita as bactérias e outros agentes prejudiciais à saúde do usuário. Há germes que resistem até a ebulição (100 graus), por isso não basta apenas ferver certas ervas. Esses germes seriam eliminados numa secagem adequada. A colheita da planta também tem a sua época certa (Ver TécnicasDefinições-Colheitas-Preparos). Têm grande influência na vida das pessoas, os elementos da natureza, como a água, o sol, o ar, o exercício físico e a alimentação exata. Sabe-se que 90% das doenças estão, psicologicamente, na cabeça do “doente” e a fé, a crença religiosa, calcada nas rezas e simpatias, no misticismo, principalmente superstições, fazem a maioria das curas. No objetivo de perpetuar a vida, combatendo as doenças, o homem associa a sabedoria à ignorância, o lógico com o ilógico, o real com o irreal. A medicina alopática não cura quebranto, espinhela-caída, estupor, cobreiro, mas o benzedor ignorante, analfabeto, com rezas ininteligíveis, “cura”, como num passo de mágica, bastando um raminho de arruda ou de guiné para a gesticulação das orações. Quando a reza não cura devido os pecados, esgotados os recursos, fica “nas mãos de Deus”, “Deus sabe o que faz”, “agora, só Deus pra dar jeito”. A minha sogra, Dona Beté, mãe de 14 filhos, fazia chupetas de “trouxinhas” de pano com uma pedra de açúcar mascavo dentro. A lavagem intestinal, que ela executava, era um clister bem empírico: papo e tripa de galinha, talo de mamona murchado no fogo para introduzir sem ferir. O veículo, uma salmoura morna. Hoje não se aceitam tratamentos médicos rudimentares, pois conhecemse os progressos da Medicina e dos remédios. Antigamente usavam-se os recursos que dispunham e entregavam-se confiantes. Mas, mesmo assim a fé com remédios alopatas decaiu muito: “– Como vai o afilhado? E a comadre, melhorou? – Mariana sarou com banho de ervas. Desacorcei com remédio de farmácia” – Basileu Toledo Franca – Vale do Rio Claro, pg.101. Os resguardos eram assim: 40 dias com vestimenta pesada e canja de gali nha (uma galinha por dia), pirão de farinha de mandioca. Era como uma en ferma, a parturiente. Não comia frutas, não lavava a cabeça; no final, um banho de corpo inteiro, porém, com água bem esperta. Mas... logo após o parto caía na serviçama doméstica, coisa até pesada, como destrinchar capado e ajudar na roça, isso também na gravidez, pois, se não fosse assim, como ficaria o lar, que a mulher interiorana, principalmente a roceira, “ganha” 3 filhos a cada 2 anos? E a maior parte dos roceiros se casa para ter uma mulher que lhe dê uma penca de filhos, fazer todo o serviço da casa, além de costurar e, como disse, ajudar na roça. Os mistérios do Universo cabem à Física; os mistérios da matéria, cabem à Química, e os mistérios da vida estão por conta da Biologia. Mãos à obra, 15 BARIANI ORTENCIO senhores cientistas, que a vida não pode esperar. O câncer e a AIDS são irreversí veis, estão matando! O que se sabe sobre o vírus da gripe, a doença mais co mum, principalmente entre o povo mal alimentado? O homem usa a natureza para combater as suas doenças há mais de 40.000 anos antes de Cristo. Primeiro foram os egípcios, depois os romanos. Só os assírios conheciam as virtudes de 250 delas. Aqui no Brasil tudo começou com os indígenas e os jesuítas. Os antigos, desde o século passado, se valeram do famoso Formulário do Dr. Pedro Napoleão CHERNOVIZ (Ver Artigos-Crônicas-Depoimentos-Entrevistas-Reportagens). A evolução da ciência é nova, vem de umas décadas para cá. Com essa evolução a medicina popular decaiu, mor mente com a descoberta dos antibióticos, principalmente, a penicilina. Com a alta dos preços dos produtos alopáticos e das consultas médicas, e muito também pela ineficiência de grande parte desses remédios, com efeitos colaterais e uma infinidade de similares, a medicina popular voltou a todo o vapor. E proliferam o uso da flora e fauna, as folhas, as raízes, as cascas (entrecascas), grãos, seivas, sumos, essências, frutos, sementes, resinas, flores, caules e a contribuição animal com os mais exóticos meios: moela de ema, sebo de carneiro, sebo de boi, fígado de urubu, chocalho de cascavel e até excrementos, como bosta de coelho e de cachorro; banhas de galinha, de capivara, de tartaruga, de sucuri, de arraia, de jibóia... Há poucas plantações de ervas medicinais, por aqui. A quase totalidade é extraída dos campos, cerrados, florestas nativas e matos naturais. Os remédios eram e ainda são procurados no mato. Hoje a utilização de remédios caseiros virou modismo em todas as classes sociais e até culturais. A classe científica acabou se interessando também e várias universidades, pelos seus departamentos científicos, estão estudando as plantas medicinais. No Centro-Oeste, a cada 10 metros que se caminha nos campos e nos cerrados, encontra-se, pelo menos, uma planta medicinal conhecida e utilizada pelo povo. Há necessidade urgente do estudo dessas plantas, para definir a do sagem, que é um grande perigo para a saúde, o modo de como são utilizadas como remédios. O Brasil possui 90% das plantas medicinais do Planeta. E elas são 90 milhões! Certos medicamentos fazem mais mal do que bem devido as dosagens ignoradas por falta de estudo científico. Na ânsia da cura, com as receitas e remédios caros, o homem apela para as alternativas de quaisquer espécies. É um vale-tudo e, portanto, perigoso. Há épocas que os meios de divulgação propagam um remédio milagroso e o povo ataca firme, consumindo-o a torto-e-direito, como foram os casos do ipê-roxo, do confrei, do alho, do limão, do nabo, do cloreto de magnésio e, agora, da cola-nota (anunciando curas até de “olho-furado”), e da insulina vegetal, para diabetes, para citar apenas os que mais se propagaram. Sempre houve remédios que serviram para todos os males, verdadeiros curingas da farmacopéia oral popular. As mulheres sertanejas são mais entendidas do que os homens em 16 MEDICINA POPULAR DO CENTRO-OESTE remédios caseiros (a mulher é que permanece em casa e enfrenta todos os problemas). Interessante que os raizeiros e curandeiros, para se garantirem, afirmam que curaram muitos médicos. As bebidas alcoólicas, principalmente a cachaça e o vinho branco, entram nas composições das tisanas (meizinhas, remédios caseiros), como anestesia e coragem, o espírito que levanta o moral do doente, mormente nos ofendidos por cobra (não se diz mordido e sim ofendido ou picado). A fé e a coragem andam de mãos dadas com o povo. O doente desrecursado que não tem fé nem coragem, dança. Anestesiado ou exaltado pela cachaça, tudo bem. Há os santos próprios invocados para cada espécie de mal: qualquer doença dos olhos, reza-se para Santa Luzia; para dor de dentes, Santa Polonha (Apolônia); São Valentim, para epilepsia; para parto difícil, Santa Margarida; fe ridas e lepra, São Lázaro; contra engasgo, São Brás; para veneno de cobra, São Bento; para acalmar temporal brabo, reza-se para Santa Bárbara e São Jerônimo... Seja como for, misticismo, sincretismo ou realidade, tudo está dentro da natureza: a doença e a cura. É só pesquisar cientificamente. A bibliografia registrada, tendo muitas informações que não são da região, foi elaborada por comparações das aplicações de diversas plantas ou outras utilizações do Centro-Oeste com vários Estados da Federação. Muitos informantes são de fora, mas que aqui residem há muitos anos, pois o Brasil Central tornou-se cosmopolita, depois dos adventos de Goiânia, na década de 1930, e Brasília, na década de 1950, e por isso, com várias influências dos Estados circunvizinhos, que para o Centro-Oeste se afluíram. São bastante semelhantes, e até iguais, várias receitas e modos de usos, daqui, com as do Nordeste brasileiro, Minas Gerais e interior de São Paulo. Com o progresso das comunicações o Brasil se interligou e os fenômenos deixaram de ser regionais. Goiânia, julho de 2011. Waldomiro BARIANI ORTENCIO 17 MÉDICOS EUROPEUS NA PROVÍNCIA DE GOIÁS Lena Castello Branco Ferreira de Freitas A o iniciar-se o século XIX, havia aproximadamente 50.000 habitantes em Goiás. Viajantes, naturalistas, soldados, padres e burocratas governamentais deixaram relatos sobre o cotidiano e sobre as condições nosológicas dessa população dispersa pelos campos, ou frouxamente reunida em alguns poucos núcleos urbanos. Ao norte, as febres eram mortíferas, ao longo dos grandes rios – Araguaia e Tocantins – e seus afluentes. Ao sul, onde predominamos planaltos e as altas superfícies cristalinas, os níveis de salubridade pareciam melhores. Em todo o continente goiano, contudo, proliferavam os mosquitos, os animais peçonhentos e as doenças: a malária, o cholera morbus, a gripe, o sarampo, a sífiles, o bócio, a lepra e a varíola. Entre os escravos, eram particularmente virulentas a sarna, a bouba, a elefantíase e a filariose(1). Como enfrentavam tais males os moradores da região? Que tipo de cuidados era possível dispor, a centenas de léguas do litoral onde se concentravam os poucos núcleos urbanos razoavelmente aparelhados, do ponto de vista médico-hospitalar? Como chegavam ao sertão mais remoto as novidades da ciência e os novos procedimentos que revolucionaram a medicina, ao longo do século XIX? Barbeiros, curiosos, parteiras, raizeiros e feiticeiros supriam a ausência de cirurgiões, de boticários, de físicos e médicos regularmente formados. Goiás não teve, sequer, uma Santa Casa de Misericórdia, instituição que tão relevantes serviços prestou à comunidade lusófona. Desconhece-se qual o número de médicos formalmente habilitados que atuaram no vasto continente goiano, no período colonial. À época da Independência e nos anos imediatamente subsequentes, a situação era de penúria, pois nem mesmo havia um único cirurgião no Hospital Militar, que deveria atender à Tropa de Linha sediada na Província e prestar alguma assistência aos civis, sobretudo quando da ameaça de epidemias. Ao findar o ano de 1824, a situação parecia melhorar pois, em 20 de dezembro, ofício do Presidente da Província, dirigido a sua Majestade, o Impera19 BARIANI ORTENCIO dor, refere que, por decreto de abril do mesmo ano, “foi restituído ao lugar de Físico-Mor das tropas desta província o Dr. Gabriel André Marie de Plõesquellec, com o ordenado de 180$000”. Para o fim de providências de ordem administrativa, indaga se ao físico em questão caberia graduação militar – e, em caso afirmativo, qual seria essa graduação, ou seja, qual a patente militar que lhe deveria ser atribuída(2). Não foi possível conhecer a solução dada às questões propostas. Informando, todavia, requerimento do próprio físico-Mor, o Presidente da Província dirigiu ofício ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Guerra(3), em que transcreve argumentação expendido por Plöesquellee: em toda província de Goyaz “não há mais que hum médico (ele próprio?) e hum cirurgião muito idozo, e nem aonde se possam habitar algumas pessoas para curarem de medicina e cirurgia acontece perecer muita gente por falta de um tal socorro”... argumenta que, “homens capazes de soccorrer a humanidade”, os enfermos não cairiam “nas mãos de Empíricos (ignorantes) que nada mais fazem do que concorrerem para a morte dos enfermos que sendo tratados por pessoas inteligentes, podem ser restituídos ao estado de perfeita saúde”. Desejando ser útil à província, propõe-se “a dar lições de medicina e cirurgia aquelles que a isso se quizerem applicar”, pede que lhe seja concedida permissão para assim proceder, “attentas as rozoens acima expostas”. O requerimento foi encaminhado à Augusta presença de S.M. o Imperador, mas não se encontrou a resposta dada ao mesmo. Pouco tempo depois, alegando que prestava serviços gratuitos à população pobre, volta o Dr. Gabriel André Marie de Plöesquellee a escrever aos seus superiores, pleiteando aumento de ordenado para 600$000, a exemplo do que fora concedido ao Físico de Minas Gerais. No intervalo entre os muitos pleitos que redigia e encaminhava, Plöesquelle, que se auto proclamava “doutor formado em medicina e cirurgia na Universidade de Paris e Físico-mor das tropas por S.M. o Imperador”, foi incumbido pelo Presidente da Província, Caetano Maria Lopes Gama, de elaborar novo Regulamento do Hospital Militar. No mesmo ano de 1825, deu por cumprida essa tarefa. Desejoso de contribuir para melhora das condições de assistência médico-sanitária, acreditava o médico francês que a melhor maneira de fazê-lo seria através da formação de pessoal habilitado. Assim é que, ainda em 1825, dirigiu ele mais um requerimento ao Imperador(4), começando por lastimar que o despreparo das parteiras do interior faça com que “um numero incalculável de creaturas (mulheres em trabalho de parto) morram ao darem à luz, “levando ao tumulo seus filhos, victimas innocentes da mais crassa ignorância...” Com base em sua formação européia, assinala, com absoluta convicção, que é desconhecida no interior “a Arte de Partejar”. Lamenta que tal fato seja agravado “pela reluctancia que tem as mulheres de chamar Parteiros, reluctancia devido talvez a um 20 MEDICINA POPULAR DO CENTRO-OESTE certo pudor filho da educação (que recebem)... “E conclui que, em consequência, as parturientes “desprezam os socorros dos Professores (aqueles que professam a arte de partejar) para se sujeitarem a qualquer mulher, seja ou não Parteira”. A despeito de sua condição profissional de Físico-Mor das Tropas – ou seja, médico militar orgulha-se o Dr. Plöesquellee de sua “reputação de hábil parteiro”. Diz, contudo, que, enquanto residiu em Goiás, foi chamado a exercer sua especialidade somente três vezes, “em ultimo extremo e em partos contra a natureza, sendo-lhe precizo usar de ferros”, mas que se sente recompensado por ter salvo mães e filhos. Informa, ainda, que está elaborando “um Tractado simples e resumido sobre as manobras dos partos”, do qual também constam “os socorros que reclama uma mulher novamente (recentemente) parida e sua cria”. Propõe-se “remediar da melhor maneira possível” tão calamitosa situação, que “tanto mais atraza o augmento da população do vasto Brasil”. Para tal fim, sugere a criação de uma Aula de Partos, na qual – por especial favorecimento do Imperador – iria o missivista ensinar o seu Tractado, em qualquer província para a qual fosse designado, pois que “com o socorro de uma machina própria para executar as manobras nelle (no Tractado) explicadas” qualquer mulher “se tornará hábil parteira”, no prazo de um ano. Na sequência, diz o Físico-Mor das Tropas que há três anos vive no interior do país, sendo que há mais de um ano veio para Goiás, onde, por não se adaptar ao clima, adoeceu e jamais voltou a gozar de boa saúde. Solicita que, de imediato, seja-lhe concedida “uma licença de oito meses para chegar à Corte (...) a fim de dar à luz referido Tractado e dirigir o desenho das estampas...” – ou seja, supervisionar os desenhos que iriam ilustrar o texto, “indispensáveis para a instrucção das discípulas”. Finaliza a longa exposição lembrando que precisa continuar a receber seu soldo para poder subsistir, e pleiteia uma ajuda de custo no valor de 200$000, para enfrentar as despesas de viagem até a Corte(5). Enquanto aguardava na capital goiana resposta aos pedidos feitos, Plöesquellee foi convocado pelos governantes locais, em regime de urgência, para seguir “imediatamente para a extremidade do termo desta Cidade (...) afim de conhecer, por inspeção ocular” se os escravos que se aproximavam da capital, conduzidos por certo comerciante, “estão com effeito affectados de bexigas, como geralmente tem constado (o que) produz com razão, grandes sustos e terror”. Como equipamento que possibilitasse o cumprimento dessa missão, deveria o Intendente dos Armazéns da Fazenda Pública fornecer “ao dito Físico uma cavalgadura, e besta malleira (bagageira) ou dinheiro para o aluguel (da besta)...”(6). O comboio de escravos vinha de Meia Ponte, que funcionava como entreposto comercial na encruzilhada das estradas provenientes do litoral. Quaisquer boatos de aproximação de bexigosos soava como alerta para as autoridades provinciais, que tratavam de estabelecer um cordão sanitário que impedisse a propagação da doença. Os arquivos goianos silenciam, a partir de então, 21 BARIANI ORTENCIO sobre o Dr. Gabriel André Marie de Plöesquellee que, provavelmente, voltou para o Rio de Janeiro, pois fica claro, nas correspondências que enviou, seu desejo de retornar à Corte. O primeiro hospital civil da província de Goiás foi criado por Carta Imperial de 25 de janeiro de 1825, ano em que foi também instituído o primeiro nosocômio de São Paulo – ambos com o nome de Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara. Era dirigido por uma Junta, constituída por cidadãos leigos de ilibada reputação – dentre os quais o próprio Presidente da Província – e destinava-se a atender indigentes, mas também socorria militares (que pagavam o tratamento) e escravos, cujas despesas eram cobradas de seus senhores. Para que o estabelecimento entrasse em funcionamento, fez-se necessário que em uma subscrição popular viabilizasse, dois anos mais tarde, a compra de uma casa à margem do rio Vermelho, “pela quantia de dois contos de réis que se acha paga pelas esmolas dos devotos concorrentes...”(7). Ao hospital destinavamse modestas verbas públicas, nem sempre disponíveis para as despesas mais prementes. Documentos atestam a penúria da instituição – o que está claro, por exemplo, no requerimento encaminhado pela Junta do Hospital de Caridade ao Imperador: “V.M.I. haja de fazer a esmola do resto dos Remédios, Móveis e Utencilios (sic) que ficarão no antigo (desativado) hospital Militar (...) atendendo a ser para hum estabelecimento tão pio que V.M.I. Protege...” (8). Não obstante, a Faszenda Nacional – seguindo os passos da voraz Fazenda Real portuguesa, ao tempo da Colônia – além de não liberar os recursos que eram devidos ao Hospital de Caridade, cobrava-lhe impostos, pelo que escreveu o Presidente da Junta ao Imperador: “...humildemente imploro de VMI a graça de perdoar o dito pagamento da Siza (...) e se digne mandar que a Junta da Fazenda (...) faça effectiva entrega ao dito Hospital das quantias de um por cento determinados no (...) alvará de V.M.I. em beneficio dos infelizes destituídos de meios e que na sua mizeria reclamão os socorros da sociedade” (9). Algum tempo depois, foi autorizada a criação de uma loteria, cuja renda se destinava ao Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara, com o que melhorou a situação desse nosocômio. Solucionados, na medida do possível, os problemas de instalação e de recursos, continuavam, porém, O Hospital e respectiva botica sem profissional habilitado que os fizesse funcionar. Finalmente, no começo de 1828, Floriano 22 MEDICINA POPULAR DO CENTRO-OESTE José Moreira foi nomeado Cirurgião-Mor da Província de Goiás. Proveniente de Mato Grosso, ali prestou serviços como Boticário do Hospital Militar e do Publico (...) e como Cirurgião dos Enfermos da Santa Casa de Misericória(10). Foi curta a permanência desse facultativo em Goiás, ao que parece devido a problemas relativos à remuneração, pois era a primeira vez que chegava à Província um Cirurgião-Mor e a Junta da Fazenda Nacional não sabia quanto deveria pagarlhe(11). O interessado alegava que, como boticário, tinha em Mato Grosso “o ordenado de 480$000 por ensinar dois rapazes a pharmacia”; no novo posto, pretendia receber 600$000, quantia que lhe era necessária “pois della depende a subsistência do suplicante”. Na dúvida, resolveu a Junta atender à pretensão do Cirurgião-Mor, mas exigiu que um fiador garantisse a eventual devolução do que lhe fosse pago a mais, caso ficasse resolvido na Corte ser o ordenado inferior a 600$000. O termo de fiança foi assinado pelo Coronel Felipe Antônio Cardoso, Comandante Interino das Armas(12), certamente interessado em solucionar o impasse criado com a falta de assistência médica aos seus comandados. Com efeito, com as modificações feitas nas forças militares de Goiás alguns anos depois da Independência, vários cargos foram suprimidos e, entre eles, o de cirurgião militar. No mesmo documento e juntamente com a exigência de fiança, discute-se o dia a partir do qual o Cirurgião-Mor deveria ser remunerado: se 17 de maio, data de sua nomeação pelo Imperador; ou 17 de julho, quando chegou à capital goiana considerando-se o tempo despendido na viagem “racional com a extensão (sic) do caminho”. A Junta optou pela primeira das datas, “segurando-se contudo (...) debaixo da mesma fiança, athé decisão de S.M.I.”(13) Os documentos não informam até quando o Cirurgião-Mor Floriano José Moreira permaneceu em Goiás. Sabe-se, porém, que em novembro de 1829, o Presidente da Província apresentou ao Imperador – através da Repartição do império – “a necessidade em que estava a Botica do Hospital” para que fosse nomeado “boticário hábil, pago pelos cofres Nacionaes, visto o dito estabelecimneto não ter meios de o fazer”(14). O Avizo de 13 de novembro de 1829 autorizou ao Presidente da Província a “arbitrar e mandar pagar a gratificação que julgasse conveniente” a quem estivesse apto a “dezempenhar os deveres de semelhante profissão...”(15). Ao levar tais fatos ao conhecimento do Conselho do Governo, informou o Presidente da Província que, como único candidato, aparecera “um Inglez de nome Henry Yates, que manifestou conhecimentos em cirurgia e Pharmacia”, apresentando documentos que indicavam ter sido ele, por algum tempo, “empregado na Armada Nacional”. Em consequência, o Presidente, “tendo previamente feito aquelles exames, que estavão ao seu alcance (...) lançou mão delle e o nomeou para a referida Botica (do Hospital) para observar sua conducta, e préstimo, e (dias depois) o nomeou Boticário do mencionado Hospital...”, com ordenado de 23 BARIANI ORTENCIO 12$000 mensais ou seja, 144$000 anuais – muito menos do que se pagaria a um nacional. Continuando o relato, lembra o Presidente que “a Lei Orçamento proíbe a continuação de Empregados Extrangeiros que venção dinheiros da Nação”, pelo que despedira o Inglez. Vinha, porém, consultar o Conselho sobre como agir diante da situação que se apresentava: de um lado, “ a proibição que a Lei declara”; de outro, “a falta absoluta” de cirurgião ou boticário na capital, assim como no Hospital. Conspicuamente, o conselho “conformou-se muito com a opinião de sua Excelência – isto é, aprovou as atitudes tomadas pelo Presidente – “apezar de reconhecer o estado a que fica reduzida a Saúde Publica desta cidade, cujos habitantes já tem experimentado alguns alívios com os socorros prestados pelo dito Inglez...” Para maior esclarecimento, foi lida a Lei do Orçamento para 1831 – 1832, feito o que “adiou-se a matéria; para rezolver com madureza” (16). Na reunião seguinte, o Comandante Interino das Armas e membro do Conselho, Coronel Felipe Antônio Cardoso, leu oficio em que é relatado o “abandono em que estavão os Enfermos Militares recolhidos ao Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara, sem haver quem lhes aplique remédios, depois que foi suspensa a gratificação concedida ao Cirurgião Inglez (...) com o qual havião experimentado muitas melhoras e alívios em suas enfermidades...”(17). Mesmo diante da carência absoluta de socorros médicos, o Conselho entendeu que nada poderia resolver, tendo em vista a “proibição expressa de se empregarem Extrangeiros no serviço do Império...” O clamor dos pacientes militares e seu comandante, todavia, fez com que “atendendo à falta que o dito Inglez fazia ao Hospital e aos habitantes da cidade”. O Presidente do Conselho decidisse mandar chamar “o dito Cirurgião (...) afim de engajar por meio de algum partido de pessoas particulares, e da Junta do Hospital, que amanhã convocaria”(18). Ou seja: buscava-se contornar o problema por meio de alguma modalidade não oficial de contratação. Em reuniões havidas em 19 e 21 de abril de 1831, o Conselho do Governo tomou ciência através de oficio da Câmara Municipal – de que o Presidente da Província, Brigadeiro Miguel Lino de Moraes, no cumprimento do disposto em lei datada do ano anterior, destinara a verba de 140$000 “para a propagação da vaccina nas Povoações deste Município”. Na mesma oportunidade, comunicou o Presidente que fizera vacinar oito pessoas de sua família, “para experimentar a vigorosidade do puz (vacinico) e extrair-se por inoculação quanto fosse precizo à propagação”(19). Declarando ser a variola “um mal contagioso” e lembrando que “a Saúde Pública lhe está confiada”, tinham resolvido os oficiais da Câmara determinar que o Presidente da Província “fizesse retirar para fora da Cidade na distancia de 3 legoas as pessoas vaccinadas, até ficarem livres de qualquer contagio que possa porvir (sic) da vaccina”. E, em atitude de franca hostilidade, deliberaram dar parte dos fatos a Sua Majestade, o Imperador. O Conselho do Governo, ao ter 24 MEDICINA POPULAR DO CENTRO-OESTE ciência desses fatos, resolveu que se comunicasse oficialmente ao Presidente da Província as decisões da Câmara. Poucos dias depois, volta a reunir-se a Conselho(20), ocasião em que é lido o ofício a ser encaminhado. No texto enviado, em tom menos aguerrido, diz-se não ser conveniente proceder à vacinação, dada a absoluta falta de médico em toda a Província, motivo pelo qual não seria possível “por em prática a Lei de 15.12.1830”, que determinava fosse feita a vacinação. No mesmo documento, além de afirmar-se que a atitude da Câmara não significava insubordinação, é lembrado que a vacina inocula nos familiares do Presidente “não pegou”, em decorrência de “o puz (estar) sem vigor, ou que a operação foi mal feita, por ser praticada por pessoa curiosa (não habilitada)”. A falta de médico, cirurgião e boticário somente seria remediada dois meses depois, quando chegou à Província o Avizo da Secretaria di Império, aprovando a nomeação do Inglez Henry Yates para o boticário do Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara, “emquanto não houver algum nacional que tenha capacidade para execer aquelle Lugar...”(21). Em diferentes momentos, providencias foram lembradas ou sugeridas, objetivando suprir a carência de profissionais habilitados para cuidar da saúde da população goiana. Assim é que, na instalação do Conselho Geral da Província, em 1831, o Cônego Luiz Bartolomeu Marques, Vice-Presidente da Província, lembrou ser necessária a “manutenção de um Boticario Chimico, à custa da Fazenda Nacional, com rezidencia na caza do hospital de Caridade”, para fazer “preparações para a Botica” e ensinar “Chimica e Pharmacia a quem se interessar aprender”(22). Dois meses depois, o mesmo Conselho resolveu criar uma Aula de Farmacia no Hospital de Caridade, a ser ministrada pelo Boticario que manipula remédios – seria ele Yates? – o qual ficaria obrigado a ensinar Química e Farmácia, mediante ordenado de 400$000 pagos pela Fazenda Pública(23). Na mesma oportunidade, seria criada também uma Aula de Medicina e Cirurgia, no arraial de Cavalcanti, no norte da Província(24). Convém lembrar que referidas Aulas não se equiparavam a cursos regulares de medicina ou de farmácia, mas tão somente treinavam os interessados para exames em que se avaliavam as habilidades dos candidatos; estes, uma vez aprovados, obtinham permissão para praticar sua arte como licenciados, nos lugares onde não existissem profissionais formados. A atuação de Yates como boticário do Hospital São Pedro de Alcântara, é referida, en passant, em Relatório do Presidente da Província: “A Saúde publica em toda a Província está confiada a Providencia, e a não ser o clima tão saudável, em ermo se terião tornada as suas Povoações. Hum só Professor (que professa ou pratica) de medicina não se encontra em toda a província, e apenas se acha nesta capital 25 BARIANI ORTENCIO hum Estrangeiro, que mostra Ter conhecimentos de Chimica, e Pharmacia, ao qual, attenta a necessidade, está confiado o curativo dos doentes recolhidos no Hospital de Caridade, em virtude do Avizo da Secretaria de estado dos Negocios do Império (...) com a obrigação também de dar lições de Pharmacia e Chimica...”(25). A despeito da diminuição das atividades mineratórias, resultante do esgotamento dos veios auríferos, aventureiros continuavam a fluir para Goiás, na ilusão do enriquecimento fácil. Assim é que, durante o governo do Brigadeiro Miguel Lino de Moraes (1827-1831) chegaram a Villa Boa alguns italianos interessados na exploração de minérios, para o que fundaram a Sociedade dos Seis Amigos. Convictos de que seria possível encontrar ouro, se empregassem métodos mais científicos do que os mineiros da região, durante cinco anos os permanecendo em Villa Boa um dos sócios: Vicente Moretti Foggia, nascido em Mântua, capital da Lombardia, carbonário fugitivo da policia piemontosa. Vicente Moretti Foggia viveu sua infância e adolescência em meio à efervescência política que deu origem aos Carbonari, sociedade secreta que tinha por fim libertar a Itália de qualquer dominação estrangeira e lutar pela sua unificação. Em 1821, quando contava 18 anos de idade e fazia o curso de Medicina, juntamente com outros colegas, pegou em armas em uma revolta carbonária que eclodiu no Piemonte. O movimento foi dominado, com o auxilio de forças austríacas – e os revoltosos tiveram que exilar-se, fugindo para o sul da França. Dois anos depois, quando tudo parecia serenado, o jovem mantovano retomou seus estudos médicos; não se sabe por que, viu-se ele forçado a novamente emigrar(26). Depois de ter perambulado por vários países europeus, Moretti-Foggia encontrou-se com um conterrâneo que se radicara no Brasil e que se encontrava na França, em viagem de negócios. Resolveu seguir-lhe o exemplo e, em outubro de 1830, tomou um navio com destino ao Rio de Janeiro, onde se juntou a outros fugitivos, desejosos de enriquecer com a mineração do ouro, “sonho de todo aventureiro europeu que embarcava para as Américas”, na expressão de Bretas(27). Interessados, possivelmente, em aumentar a distância que os separava da Itália, os jovens amigos partiram para a longínqua capital da província de Goiás, onde chegaram em fevereiro de 1831. enquanto procuravam ouro, sem lograr êxito, sobreviveram graças a Moretti-Foggia, que começou a exercer a medicina, para garantir sua própria subsistência e a de seus colegas. Em 1836, foi ele nomeado Boticário do Hospital de Caridade são Pedro de Alcântara, sucedendo o inglês Henry Yates que, devido ao alcoolismo, não poderia continuar a exercer essa função(28). Três anos depois, persistindo a absoluta falta de médicos em Goiás, foi encarregado do curativo dos doentes do Hospital e dos presos da cadeia. 26 MEDICINA POPULAR DO CENTRO-OESTE Moretti-Foggia radicou-se definitivamente em Villa Boa: casou-se com uma viúva, da sociedade local, com quem teve vários filhos, dos quais alguns descendentes ainda trazem seu sobrenome. Entre 1836 e 1894 – quando faleceu – dedicou-se integralmente à medicina e ao Lyceu de Goyaz. Documentos originários da Itália comprovam que ele exerceu a profissão de farmacêutico em sua terra, mas não se sabe ao certo se chegou a concluir o curso de medicina. A despeito disso, em 1839, foi designado pelo Ministro do Exército cirurgião-ajudante da Companhia de Montanha, sediada em Goiás; alguns anos depois, Sua Majestade Imperial nomeou-o Cirurgião-Mor do corpo de saúde do Exercito, cargo muito cobiçado pelos médicos. Em 1842, recebeu do Imperador carta de naturalização, passando a gozar de “todos os direitos, honras e prerrogativas que pela Constituição do Império eram autorgados aos cidadãos brasileiros naturalizados”(29). Esse italiano que chegou ao Brasil como fugitivo, tornou-se o mais desprendido e dedicado dos médicos: não cobrava por consultas particulares; quem o desejasse, dava-lhe algum dinheiro. Foi notável sua contribuição ao Lyceu de Goyaz, desde a fundação, quando esteve ao lado do seu criador, o Presidente Joaquim Ignácio, futuro Barão de Ramalho. Nomeado professor de Aritmética e Geometria, era chamado para substituir qualquer dos lentes da casa, em seus impedimentos e faltas – o que fazia sem temor, dada a cultura geral que o distinguia. Foi também secretário do Lyceu e, não raramente, exerceu a diretoria desse estabelecimento de ensino secundário(30). Como boticário e cirurgião, protagonizou momentos de heroísmo, por ocasião da catastrófica enchente do rio Vermelho, que inundou ruas e casa da cidade de Goiás, inclusive o Hospital de Caridade. Nas palavras do Presidente da Província: Este Edifício (o prédio do Hospital de Caridade) soffreo muito com a espantosa inundação do Rio Vermelho (...) Muitas drogas da Botica forão levadas pelo Rio, assim como os Livros, papeis, etc felizmente poderão salvar-se os doentes...”(31). Quando as águas ameaçavam chegar às enfermarias, Moretti-Foggia carregou nos braços os pacientes, levando-os para sua casa, onde os distribuiu por todas as dependências, até que fosse possível levá-los de volta aos leitos hospitalares. Em quase todos os relatórios apresentados pelo Presidente da Província à Assembléia Legislativa de Goiás, depois de 1836, encontram-se referências a Vicente Moretti-Foggia, ora como cirurgião e boticário, ora como mineralogista chamado a opinar sobre a eficácia de fontes termais existentes na região. Assim é que, por solicitação do Ministro e Secretário dos Negócios do Império, foi ele designado “para averiguação e exame das agoas Thermaes” – de Caldas de Santa 27 BARIANI ORTENCIO Cruz – com vistas a verificar se as pessoas que se diziam curadas “herão com effeito infectadas de lepra, morféa, ou simplesmente de alguma outra enfermidade cutânea”. Sobre a trabalho por ele realizado, diz o Presidente da Província: Tendo desempenhado digna a habilmente a Comissão (...) trouxe trez garrafas de agoas thermicas (...) Vou mandar imprimir o interesante Relatório de Foggia, pelo qual se conhece que a morféa He curável com os banhos destas agoas(32). Para enfrentar “o flagello das bexigas”, o Presidente D. Jozé de Assiz Mascarenhas (1839-1845) obteve do Governo Imperial “laminas de puz vaccinico” e resolveu fazer “algumas experiências ajudado por Moretti Foggia (que incansável zelo se presta sempre ao serviço e ao bem da humanidade), mas nossas tentativas não produzirão effeito...”(33). O Presidente não informa, porém, quais as experiências feitas, mas insiste em que, a despeito do fracasso, “não desanimou”. É possível que as tentativas se reportassem à propagação da vacinação antivariólica, que então se fazia por inoculação de puz vaccinico, recebido pelo Instituto Vaccinico do Rio de Janeiro. A maior dificuldade para o êxito da imunização pretendida consistia no fato de que, dada a distância da província de Goiás em relação à Corte, o material se tornava improfícuo ao longo das muitas semanas de viagem. De algum modo, o Presidente da Província e Moretti-Foggia talvez tenham tentado solucionar esse problema. Quase duas décadas depois, Moretti-Foggia – “1º cirurgião reformado (...) que há muitos annos presta bons serviços à humanidade soffredora” – foi nomeado comissário vacinador da Província, mas “o fluido” continuava a chegar a Goiás “de ordinário fraco ou deteriorado”(34). Dois anos mais tarde, “o serviço de vaccinação ainda está longe da dezejavel regularidadee, não obstante o zelo que nelle se empenha o comissário vaccinador provincial, Vicente Moretti-Foggia”. Muito pouco se podia fazer, contudo, diante da repugnancia (à vacinação) que geralmente mostra a população(...) falta de pessoas habilitadas (...) deterioração e inefficacia que aqui chega o puz vaccinico remetido da Corte...”(35). Como terrível flagello das bexigas continuasse a ameaçar, o Presidente da Província Augusto Pereira França (1865-1867), determinou que fossem organizadas “instruções medicas” sobre o tratamento da varíola, a serem distribuídas à população. Esse trabalho foi realizado pelo incansável Vicente Moretti-Foggia – já então sexagenário juntamente com o médico Dr. Thomaz Cardozo de Almeida(36). Quando já estava radicado em Goiás há muitos anos, um ofício do Ministro da Justiça ao Presidente da Província – enviado a requerimento do Ministro dos Negócios Estrangeiros – indaga “se existe nessa Província ou nella falleceo Vicente Moretti-Foggia...” Diante da resposta afirmativa, atendendo a um pedido 28 MEDICINA POPULAR DO CENTRO-OESTE da Legação Imperial em Londres, onde eram tratados os assuntos pertinentes aos reinos da Itália – pois o Brasil não mantinha relações diplomáticas com os mesmos – aquela autoridade remeteu uma série de perguntas que foram respondidas por Foggia na delegacia de policia, lavrando-se o competente termo. As questões diziam respeito a fatos e pessoas envolvidas com a revolta carbonária em que se envolvera o então jovem estudante de medicina, quase trinta anos antes(37). Os arquivos goianos não guardaram cópia das declarações prestadas, em 1852. De qualquer modo, se viesse a ser formulado pedido de extradição pelo governo italiano, estaria a salvo Vicente Moretti-Foggia, que há dez anos se tornara cidadão brasileiro. Dos documentos consultados nos arquivos goianos, emergem as personalidades distintas dos três médicos europeus que, entre 1825 e 1894, atuaram na Província de Goiás. Sobre o francês, Gabriel André Marie de Plöesquellee e sobre o inglês Henry Yates, as informações são fragmentárias. Estariam eles entre os muitos europeus que se alistaram como mercenários, nas tropas comandadas por D. Pedro I, para dar combate aos portugueses nas lutas da Independência, e que se deixaram ficar no jovem Império? Plöesquellee foi designado oficialmente para servir em Goiás, pois integrava os quadros do Exército Brasileiro. De Yates, que pertenceu à Armada, pode-se especular se teria servido sob as ordens de Cochrane. Não é possível saber, contudo, o que o terá levado a Goiás – mas o único atrativo dessa remota província, aos olhos estrangeiros, ainda se resumia à busca do ouro e da fortuna rápida. Plöesqueelle revela-se consciente da superioridade da civilização francesa. A partícula de em seu nome, sugere origem familiar aristocrática. Tudo indica que era homem inquieto, dotado de senso crítico e intolerante em relação a conhecimentos e práticas que não fossem os de sua pátria, a parir dos quais encarava a realidade que cercava. Como profissional consciente de seus deveres e da superioridade de sua formação acadêmica européia, a despeito de problemas de saúde que o reduziram a um “estado morbífico”, sua passagem pela remota província tem a força de uma lufada de vento, sacudindo o marasmo e o conformismo. Ao lado de insistentes reivindicações funcionais e salariais, reelaborou o Regulamento do Hospital Militar – que seria depois criticado pelos burocratas da Junta da Real Fazenda, para quem esse documento teria “suscitado conflictos de competencia entre os funcionários”(38); propôs a criação de uma aula de Medicina e Cirurgia e de uma Aula de Partos – da quais seria o professor – e denunciou as mortes de recém-nascidos e suas mães, como fruto da ignorância e do preconceito. Além de correr perigo de vida no diagnóstico empírico de bexigosos, ainda teve tempos para escrever um Tractado sobre a Arte de Partejar – “conformando-se ao methodo que se segue no hospital da maternidade de Paris”. Sobre Yates, os dados são mais escassos. Seu perfil sugere o aventureiro dado ao alcoolismo, o homem andejo, ainda educado, à procura do exótico. Parece desprendido em relação a dinheiro, aceitando remuneração ínfima para 29 BARIANI ORTENCIO o exercício das funções de boticário e cirurgião. Guardava talvez algum traço peculiar na indumentária, ou na linguagem, ou no relacionamento com os nativos, pois continuou um estranho para os goianos, a despeito de reconhecida sua habilidade para aliviar os sofrimentos: para as autoridades locais, ele será sempre o Inglez. No sistema fortemente centralizado do Império, os fatos que inicialmente impediriam e finalmente permitiram sua contração evidenciam as dificuldades de natureza administrativa que se interpunham a providencias que requeriam autonomia de julgamento e de decisão. O peso da burocracia está claramente expresso nos embaraços criados pela Junta da Fazenda Nacional, mesmo quando a situação enfrentada pela sociedade local é de absoluta falta de recursos médicos. Como ser humano e com profissional, Vicente Moretti-Foggia personificou os protótipos do médico humanitário, do professor querido e do italiano extrovertido. Era popular entre ricos e pobres, com quem mantinha laços de amizade, indistintamente. Na mesa de refeições de sua casa, havia sempre comida farta e vinho abundante, franqueados aos muitos amigos que com ele compartilhavam sua generosidade e cordialidade. Quando morreu, aos 91 anos de idade, estava paupérrimo. Ao se sepultamento, compareceu toda a população da cidade de Goiás, dos mais humildes aos mais importantes. Uma subscrição popular recolheu 569$000 para fazer face às despesas com o féretro do “benfeitor dos goianos”, como Foggia seria cognominado pelo historiador Americano do Brasil. Pagas as contas, o dinheiro remanescente deveria destinar-se a erigirlhe um monumento, que nunca chegou a ser feito. A rua principal da idade de Goiás – a antiga rua Direita – passou a denominar-se Moretti-Foggia, homenagem dos vilaboenses à memória do mantovano carbonário que se convertera em médico abnegado, cujo modesto túmulo pode ser visto no cemitério São Miguel , ao lado direito de quem entra(39). Para concluir, uma palavra sobre as dificuldades encontradas para vacinar os habitantes de Goiás contra a varíola. Ainda que médicos e autoridades estivessem conscientes de que essa pratica representava proteção eficaz contra o flagello das bexigas e desejassem aplicá-la a toda a população, não era a resistência por esta oferecida que se configurava como o maior obstáculo a ser vencido. A precária preservação das propriedades imunológicas do puz vaccinico somava-se às dificuldades de transporte que tornavam inexequível ou inócua a vacinação. Imbuídas, talvez, de certa consciência modernizadora em relação às medidas de prevenção contra as temidas epidemias de varíola, as autoridades – sempre criticadas pelo que seria sua incompetência e insensibilidade – não se mostravam tão indiferentes ao problema e, algo do século XIX, buscaram viabilizar a propagação da vaccina. Mas essa é outra história. 30 MEDICINA POPULAR DO CENTRO-OESTE NOTAS 1. KARASH, Mary. História das doenças e dos cuidados médicos na Capitania de Goiás. In Freitas, Lena Castello Branco Ferreira de. (Organizadora) Saúde e doenças em Goiás. A medicina possível. Goiânia, CEGRAF/UFG, 1999, p.20-42. 2. Livro de Ofícios/Representações. 1824/1825. Oficio n.14 de 30.12.1824. Fls.14. Arquivo Histórico do Estado de Goiás. Goiânia(doravante AHG). 3. Livro de Registro de Documentos. Governo Lopes Gama – 1825. Fls. 68. Arquivo do Museu das Bandeiras (doravante AMB). Cidade de Goiás. Apud Bueno, Jerônimo Carvalho. História da Medicina em Goiás. Goiânia, s/ed., 1979, p.23 4. Documentos Avulsos. 1825. Oficio n. 22 dirigido à Secretaria de Estado de Negócios do Império (s.d.). Fls.111-113 (cod. 50). AHG. 5. Idem. 6. Em 27.10.1825. AMB. Apud Bueno, J. Op. Cit., p. 26. 7. Conta dada a S.M.I. apresentando documentos e informações sobre objetos do Hospital de Caridade. 29.08.1827. AMB. Apud Bueno, J. Op. Cit., p.27. 8. Requerimento da Junta do Hospital de Caridade a S.M.I. Dezembro de 1827 (dia ilegível). AMB. Apud Bueno, J.op.cit., p.30. 9. Conta dada... cit. Idem, ibidem. 10. Oficio do Secretário de Negócios do Império ao Presidente da Província de Goiás, em 21.05.1828. AMB. Idem, p.31-32. 11.Oficio encaminhado pela Junta da Fazenda Nacional em Goiás a S.M.I., em 29.20.1828. AMB. Idem, p.33-34. 12. Termo de Fiança que presta Floriano José Moreira para repor uns dinheiros até decisão do Thesouro Publico. 29.10.1828. AMB. Idem, p. 32-33. 13. Oficio encaminhado pelo Conselho do Governo da Província de Goyaz a S.M.I., 29.10.1828. AMB. Idem, p. 33-34. 14. Ata da sessão do Conselho do Governo da Província de Goiás, 26.02.1831. In Matutina Meiapontense n. 195. Meya Ponte; 28.06.1831, p.1. 15. Idem. 16.Idem. 17.Ata da sessão do Conselho do Governo da Província de Goiás, 05.03.1831. In. Matutina Meiapontense n. 203. Meya Ponte, 16.07.1831, p.1. 18.Idem. 19.Ata da sessão do Conselho do Governo da Província de Goiás, 19 a 21.04.1831. In. Matutina Meiapontense, 18.08.1831, p. 2 . A sessão estendeu-se por 3 dias consecutivos e notabilizou-se pela atitude de rebeldia dos conselheiros e dos vereadores da Câmara Municipal contra ato do Presidente da Província, Brigadeiro Miguel Lino de Moraes. A ata da sessão somente foi publicada cinco dias depois de o Presidente deixar o cargo, em 13.08.1831. 20.Ata da sessão da Câmara Municipal da cidade de Goiás, em 26.04.1831. In Matutina Meiapontense n 213. Meya Ponte, 09.08.1831, p.2. A ata consigna posição conciliatória do Conselho ao reportar ao primeiro mandatário de Goiás as decisões da Câmara Municipal e foi publicada antes da saída do Presidente da Província. 21.Artigos de Officio: do Presidente da Província ao escrivão Deputado da Junta da Fazenda Nacional, em 29.07.1831. In Matutina Meiapontense n 230,. Meya Ponte, 17.09.1831, p. 2. 22.Falla que na instalação do Conselho Geral desta Província dirigio o Exmo. Vice-Presidente o Sr. Conego Luiz Bartolomeu Marquez no 1º de dezembro de 1831. In Matutina Meiapontense n.275. Meya Ponte, 31.12.1831, p.2. 31 BARIANI ORTENCIO 23.Artigos de Officio: Conselho Geral da Província de Goiás, em 31.01.1832. In Matutina Meiapontense n. 334. Meya Ponte, 10.05.1832. p.1. 24.Idem, ibidem. 25.Relatório que à Assembléia Provincial de Goyaz apresenta em sessão ordinária... 26.BRETAS, Genesco Ferreira. História da Instrução Pública em Goiás. Coleção Documentos Goianos n. 21. Goiânia, CEGRAF/UFG, 1991, p.358-362. 27.Idem. 28. SALLES, Gilka Vasconcelos Ferreira de. Saúde e doenças em Goiás (1826-1930). In FREITAS, L.C.B.F. Op. Cit., p.86. 29.BRETAS, G.F. Op.cit., 362. 30.Idem, p.361. 31.Relatório que à Assembléia Provincial de Goyaz apresenta em sessão ordinária de 1839 o Exmo. Sr. Presidente da mesma Província D. Joze de Assis Mascarenhas. In Memórias cit., p. 149. 32.Idem, ibidem. 33.Idem, 1840, p.175. 34.Relatório que o Exmo. Sr. Vice-Presidente Dr. João Bonifacio Gomes de Siqueira apresentou no acto de passar-lhe a administração da Província o Ex-Presidente Exmo. Sr. Dr. Antonio Augusto Pereira da Cunha 1º de agosto de 1857. In. Memórias... cit.,7, p.89. 35.Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Goyaz na Sessão Ordinária de 1859, pelo Exmo. Presidente Dr. Francisco Januário da Gama Cerqueira. In Memórias... cit., 7, p.231. 36.Relatório com que o Exmo. Sr. Dr. Augusto Pereira França, Presidente da Província de Goyaz passou a administração da mesma ao Exmo. Sr. Vice-Presidente Desembargador. João Bonifácio Gomes de Siqueira. Em 19.04.1867. In Memórias... cit., 10,p.133. 37.BRETAS, G. Op. Cit., p. 359-360. 38.Carta a Sua Magestade (sic) sobre a representação do Escrivão Deputado da Junta da Fazenda Nacional pedindo esclarecimento sobre o excesso de dinheiro dado ao Hospital. Em 10.10.1827. AMB. Apud Bueno, J. Op.cit., p.29-31. 39.BRETAS, G. Op. Cit., p.362. 32 DEFINIÇÕES: TÉCNICAS, COLHEITAS E P R E PA R O DAS PLANTAS MEDICINAIS PLANTAS MEDICINAIS Especialistas em plantas medicinais de todo o país vão pedir ao Governo Federal a regulamentação da produção, propaganda e comercialização dos produtos de plantas medicinais. O objetivo é garantir a qualidade desses produtos. A decisão foi tomada on tem, durante o seminário “Legislação para Plantas Medicinais e Medicamentos Fisioterápicos”, realizado na Fundação Osvaldo Cruz. O Popular-Goiânia, 03.03.94-Rio (Agência Brasil-ABR) EXPLICAÇÃO As técnicas aqui relatadas, de coletas, colheitas, secagens e preparos, são de labo ratórios, institutos e raizeiros comerciantes. Porém, as centenas de informantes, com os quais pesquisamos, não compram nas bancas de raizeiros os produtos secos, eles mesmos colhem as ervas no campo e fazem os seus remédios, que são chamados de teriagas, tisanas, meizinhas, sem técnica alguma, inclusive não secam as plantas que utilizam, porque acreditam que, estando verdes, contém toda a capacidade curativa, sendo a seiva nas plantas verdes a principal força. A BESUNTAR - Lambuzar, untar demasiadamente. BOCA A BOCA - Sopro, insuflações sucessivas de ar na boca do paciente. BOCHECHAR - Agitar um líquido na boca por contrações sucessivas das bochechas. ABLUÇÕES - Abluções são banhos, que podem ser também asseios com toalha molhada ou algodão embebido em álcool, ou aplicado apenas em partes do corpo. ÁGUA ESPERTA - Água com a temperatura entre morna e quente. AMADURECIMENTO - Amadurecimento de um tumor é chegar ao ponto de vazar, vir a furo. ASPIRAÇÃO - Inspiração, atrair o ar aos pulmões, pelas narinas. ASSOCIAÇÃO - Mistura de vários produtos. C CALDA - Líquido grosso resultante da fervura de água e açúcar, conjuntamente. Xarope. A calda é muito usada em doces de compotas. CATAPLASMA - Papa, ou espécie de angu, feita com produtos medicinais, que entre dois panos, se aplica na parte dolorida ou inflamada. Uso externo. A principal composição do cata plasma é a farinha de mandioca. O tecido preferido é a flanela. Socam-se as plantas até formar uma papa que se adiciona ao emplastro. Os cataplasmas têm efeitos sobre inchações, nevralgias, pancadas, reumatismo, gota, furúnculos e dores em geral. CHÁ - Chá é palavra que vem do chinês e não é apenas a fervura de folhas medicinais com água. É, de fato, a combinação erva-água, mas pode ser também sem fervura. De várias ma B BANHAS - É generalizado entre o povo o uso de banhas para tratamentos. As principais banhas são a de porco, de galinha, de capivara, de cascavel, de sucuri, de tatu, de jibóia, de arraia... BANHOS - Os banhos são feitos, geralmente, de plantas em cozimento com as folhas, ramas, cascas e raízes. BATER - Triturar, principalmente no liquidificador. 37