lições do `the daily show with jon stewart`

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lições do `the daily show with jon stewart`
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Por Mário Rui Cardoso > [email protected]
www.ajr.org/Article.asp?id=4329
LIÇÕES DO ‘THE DAILY SHOW
WITH JON STEWART’
Um interessante artigo na American
Journalism Review lança a discussão
sobre se os jornalistas terão algo a aprender
com o popular programa de comédia The Daily
Show With Jon Stewart.
“Se está cansado de telejornais fora de
moda, se já não suporta a propaganda de
assessores e relações públicas com que o
bombardeiam, 24 horas por dia, nos canais de
notícias, não perca The Daily Show With Jon
Stewart, meia hora nocturna de notícias livres
do fardo da objectividade, da integridade
jornalística ou mesmo do rigor ”. Tirando uns
momentos de diversão, à partida um
profissional da informação pouco poderá
esperar de um programa que se apresenta
desta forma. Mas será mesmo assim?
Rachel Smolkin, editora da American
Journalism Review, ouviu várias opiniões sobre
o assunto. E se vários académicos sustentam
que os jornalistas, antes de mais, devem
comprometer-se com a verdade e não se
abandonarem a soluções humorísticas para
conseguirem audiências, outros há que
entendem que o problema não está em os
jornalistas serem engraçados, mas sim
honestos. Ou seja, os jornalistas terão ficado
demasiadamente espartilhados pelas exigências
de equilíbrio, objectividade e rigor, que, em
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muitos casos, os impedem de ser mais
assertivos e acutilantes.
Martin Kaplan, professor da Annenberg
School for Communication, na Universidade da
Califórnia do Sul, coloca assim a questão do
equilíbrio, no jornalismo que se pratica hoje em
dia: “em vez de lermos uma história em que se
diz que o preto é preto, o que lemos é: ‘alguns
dizem que é preto, outros dizem que é branco’.
E assim é com tudo, como se todas as partes
tivessem idênticas aspirações de rigor. É aí que
reside o apelo do Daily Show”, diz Kaplan. “As
ditas notícias falsas [do programa]
ridicularizam essa ideia de equilíbrio. Não há
problema em ter um detector de tretas e dizer
que as pessoas são demagogas ou mentirosas
quando o merecem. Por isso, muitos
espectadores acham que o programa é útil e
uma pedrada no charco, para além de
hilariante”.
Dito de outra forma, livres das imposições
do jornalismo convencional, Jon Stewart e os
seus cinco correspondentes com “zero em
credibilidade”, como eles próprios dizem,
conseguem, muitas vezes, ser mais incisivos e
chegar mais próximo da verdade, por entre o
nevoeiro das notícias, do que jornalistas
profissionais forçados a manter uma postura
séria e obrigados, pela regra do equilíbrio, a
transmitirem propaganda.
Brooks Jackson, responsável pelo projecto
FactCheck.org, do Annenberg Public Policy
Center, na Universidade da Pennsylvania,
confessa-se “surpreendido com a capacidade
de Stewart e de todas as pessoas que trabalham
com ele para rastrearem o vasto universo da
televisão por cabo e de lá retirarem os agentes
políticos no seu pior. E a verdade é que,
enquanto a generalidade dos apresentadores
de notícias estão com um ar sério a pôr
políticos no ar a dizerem as coisas mais
absurdas, Stewart fá-lo pondo aquele ar de
gozo que diz tudo sobre tais idiotices”.
Será, então, o programa de Jon Stewart um
produto jornalístico? Estudos citados no artigo
de Rachel Smolkin demonstram que muitos
americanos, sobretudo jovens, vêem o Daily
Show não só para se divertirem para mas
também para se informarem. Mais: segundo
um inquérito do Pew Research Center
(disponível em http://peoplepress.org/reports/display.php3?ReportID=319),
54% dos espectadores regulares do programa
encontram-se no nível mais alto de
familiaridade com os assuntos nacionais e
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internacionais, contra apenas 35%,
considerando-se o total de inquiridos. Os
estudos indicam, igualmente, que, para os seus
espectadores, o Daily Show contém matéria
substantiva, então apenas humorística.
Corolário da credibilidade que, apesar de tudo,
o programa merece, a Associação de Críticos de
Televisão decidiu dar-lhe o prémio de
jornalismo, em 2004. Na linha do Daily Show,
alguns programas de informação na televisão
americana têm vindo, entretanto, a incorporar
soluções diferentes dos formatos tradicionais.
Não defendendo que os media tradicionais
abandonem por completo os ideais de
equilíbrio, rigor e objectividade e se
transformem todos em Daily Shows virados
para recuperação dos públicos que têm vindo a
perder, os peritos que contestam a sacrossanta
objectividade no artigo da American
Journalism Review propõem soluções híbridas,
que aproveitem o potencial, existente em todas
as redacções, de pessoas espertas, capazes e
com vontade de escrever de outra maneira.
Hub Brown, professor de jornalismo na
Universidade de Siracusa, conta, no artigo de
Smolkin, que a princípio também desconfiou
do Daily Show, mas depois converteu-se,
quando, nos primeiros dias da guerra do
Iraque, percebeu que a maior parte dos meios
convencionais alinhavam com a propaganda da
Administração americana, e só Jon Stewart a
questionava. “Parem com essa submissão quase
canina. Parem de ter tanto medo de tudo. É
preciso muito mais coragem. Até há jornalistas
que se evidenciam e progridem exactamente
pela sua coragem”, exalta Hub Brown, dando o
exemplo de Lara Logan, da CBS, autora de
reportagens polémicas no Iraque.
com destaque e com o título: “Flagra de
cibernauta: pessoa pula de prédio em chamas”.
Apenas 28 minutos depois, um outro cibernauta
avisou que a fotografia era uma fotomontagem e
o UOL teve de retirá-la, com um pedido de
desculpas. A força da imagem era tal que o
portal optou por nela confiar cegamente, sem a
sujeitar a qualquer verificação.
O caso mereceu um puxão de orelhas da
provedora do UOL, Tereza Rangel, que, de
resto, recebeu inúmeros protestos pela forma,
quase vampiresca, como o portal incentivou o
envio de fotografias (ver
http://ombudsmandouol.blog.uol.com.br/index.h
tml#2007_07-18_16_13_59-124290566-0).
Não faltou, também, quem aproveitasse o
episódio para assinar a sentença de morte do
jornalismo participativo. Mas, como nota Ana
Maria Brambilla, editora assistente de conteúdo
colaborativo da Editora Abril, em
www.jornalistasdaweb.com.br/index.php?pag=
displayConteudo&idConteudoTipo=2&idConte
udo=2121, “é bom lembrar que aquela imagem
não foi parar à homepage do UOL pelas mãos
de um internauta, mas de um jornalista”. O que
aconteceu foi que alguém que devia ser
profissional não fez bem o seu trabalho. De
modo que, se este caso serve para provar
alguma coisa, é a importância de haver
profissionais no jornalismo participativo. Ana
Maria Brambilla dá dicas para verificação de
conteúdos enviados por cidadãos em
http://anabrambilla.com/blog/archives/311.
http://vocemanda.fotoblog.uol.com.br
PERIGOS DO JORNALISMO
PARTICIPATIVO
No dia da tragédia com o avião da TAM,
no aeroporto de Congonhas, em Julho
último, o portal UOL pediu a quem tivesse
tirado fotografias do acidente que as enviasse,
para eventual publicação no foto-blogue Você
Manda. As respostas, como se imagina,
chegaram às centenas e, entre as fotografias,
uma mostrava alguém preparando-se para se
atirar de um edifício em chamas. Foi publicada,
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www.cyberjournalist.net/news/000117.php
COMO CONTAR HISTÓRIAS
‘ONLINE’
Jonathan Dube, vice-presidente da
Online News Association, publica, na
CyberJournalist, uma espécie de estado da arte
do jornalismo na Net. Desde os clássicos textos
acompanhados de fotografias, vídeos e “links”
aos grafismos interactivos, passando pela
utilização de “slideshows”, registos áudio,
animações ou debates em directo moderados
por jornalistas (Hillary Clinton e Barak Obama,
candidatos à nomeação democrata para as
presidenciais americanas de 2008,
participaram, recentemente, no primeiro
debate na Web, numa iniciativa YouTube/CNN
em que as perguntas eram colocadas por
cibernautas através de pequenos “clips” de
vídeo), o artigo de Dube documenta a imensa
variedade de recursos que são hoje utilizados
pelos “sites” informativos e que proporcionam
aos utilizadores modelos de consumo da
informação por norma mais versáteis do que
nos media tradicionais. O guia de Dube
oferece inúmeros exemplos práticos de
diferentes soluções de comunicação “online”.
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www.nowpublic.com
EXPOENTES DO
JORNALISMO PARTICIPATIVO
Projectos de jornalismo participativo
começam a atrair investimentos
significativos. O canadiano NowPublic
encaixou, em Julho, cerca de 8 milhões de
euros provenientes de um grupo de
investidores. Os responsáveis do “site”
declararam a intenção de canalizar o dinheiro
para a ampliação de uma rede que já é
alimentada por mais de 100 mil cidadãos que,
a partir de 140 países, contribuem com textos,
“links” e fotografias. Em Fevereiro, o
NowPublic já tinha anunciado uma parceria
com a Associated Press para a colocação de
reportagens de cidadãos no fio de telexes da
agência.
“O modelo de jornalismo participativo do
NowPublic está a ser abraçado pelos media
convencionais”, regozija-se Leonard Brody, um
dos fundadores do serviço. “Durante o furacão
Katrina, tínhamos mais repórteres na zona do
que o número de jornalistas que existem na
maior parte dos meios de comunicação”,
acrescenta. Com efeito, esta ampla presença no
terreno tem permitido ao NowPublic fazer
“breaking news” em vários acontecimentos
importantes. Os seus responsáveis garantem,
de resto, que já recusaram duas ofertas de
aquisição por parte de grandes grupos de
media.
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www.pulitzer.org
LEIA OS PULITZERS
Um “site” que referencia todos os
premiados com o Pulitzer, desde 1917. A
partir de 1995, é possível ler, na íntegra, os
trabalhos distinguidos. JJ
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Portimão homenageia
profissionais da
Comunicação Social
A Câmara Municipal de Portimão promoveu em
Junho passado, pelo segundo ano consecutivo, uma
sessão de Homenagem a Profissionais da
Comunicação Social, com ligação ou não ao Algarve –
“um simples gesto de constatação e reconhecimento
de uma terra tolerante e aberta à integração e
diversidade, com história na luta pela liberdade de
expressão”, nas palavras do respectivo presidente,
Manuel da Luz. A homenagem – que nasceu da ideia
de um particular, D. Maria Olímpia Simões, a que a
autarquia soube dar a devida concretização –
contemplou Carlos Ventura Martins, Arménio Aleluia
Martins, José Marques e, a título póstumo, Ruy do
Sacramento, Manuel Beça Múrias e Carlos Gil. O ano
passado, os premiados tinham sido Adulcino Silva e
Fernando Corrêa dos Santos. Trata-se de uma
iniciativa pouco comum entre nós, singela mas de
grande significado, que merecia ser seguida por
outras autarquias. JJ
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