Solidariedade no Antigo Testamento

Centro Universitário Adventista de São Paulo
Fundado em 1915 — www.unasp.edu.br
Missão: Educar no contexto dos valores bíblicos para um viver pleno e para a excelência no servirço a Deus
e à humanidade.
Visão:
Ser uma instituição educacional reconhecida pela excelência nos serviços prestados, pelos seus elevados
padrões éticos e pela qualidade pessoal e profissional de seus egressos.
Administração da Entidade
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Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão: Tânia Denise Kuntze
Pró-Reitora de Graduação: Sílvia Cristina de Oliveira Quadros
Pró-Reitor Administrativo: Élnio Álvares de Freitas
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Campus Eng. Coelho
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Diretor de Graduação: Afonso Ligório Cardoso
Campus São Paulo
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Campus Virtual
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Coordenador de Pós-Graduação: Roberto Pereyra Suarez
Coordenador de Graduação: Ozeas Caldas Moura
Faculdade Adventista de
Hortolândia
Diretor: Euler Pereira Bahia
Diretora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão: Tânia Denise Kuntze
Diretora de Graduação: Sílvia Cristina de Oliveira Quadros
Secretário Geral: Marcelo Franca Alves
Campus Hortolândia
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Diretor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão: Eli Andrade Rocha Prates
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Imprensa Universitária Adventista
Editor: Rodrigo Follis
Editor Associado: Felipe Carmo
Conselho Editorial: José Paulo Martini, Afonso Cardoso, Elizeu de Sousa, Francisca Costa, Adolfo Suárez,
Emilson dos Reis, Ozéas C. Moura, Betania Lopes, Martin Kuhn
A Unaspress está sediada no Unasp, campus Engenheiro Coelho, SP.
Tradução: Departamento de tradução da DSA
O evangelho em roupa de trabalho: princípios
para colocar o evangelho em prática.
Imprensa Universitária Adventista
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(19) 3858–9055
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Editoração: Rodrigo Follis, Felipe Carmo
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1ª edição - 2014
1.500 exemplares
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Todo o texto, incluindo as citações, foi
adaptado segundo o Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa, assinado em 1990,
em vigor desde janeiro de 2009.
Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
O Evangelho em roupa de trabalho: princípios para colocar o cristianismo em
prática / Günther Wallauer (org.). — 1. ed. — Engenheiro Coelho, SP : Unaspress
- Imprensa Universitária Adventista, 2014.
ISBN: 978-85-89504-96-6
1. Brasíl - Condições sociais 2. Crises 3. Cristianismo 4. Igreja e problemas sociais 5. Mudança social 6. Teologia social I. Wallauer, Günther.
14-03772
CDD-261
Índices para catálogo sistemático:
1. Teologia social 261
Editora associada:
Sumário
7
Apresentação
Günther M. Wallauer
TEOLOGIA
11
Solidariedade no Antigo Testamento
Elias Brasil de Souza
33
Por um reavivamento solidário
Reinaldo Siqueira
47
Lavando os pés do mundo
Tom Shepherd
59
As ações sociais e o Sábado
Alberto R. Timm
65
Quem deve servir a sociedade?
Wagner Kuhn
95
Beneficência social no Espírito de Profecia
Alberto Ronald Timm
IMPLICAÇÕES SOCIAIS
103
Justiça social para mulheres
May-Ellen Marian Colon
115
Cristianismo: a religião do outro
Thadeu de Jesus e Silva Filho
SERMÕES
123
As ações sociais no tempo do fim
Günther Marvim Wallauer
129
Por que Jesus veio à terra?
Jonathan Duffy
139
A identificação de Jesus com os pobres
Tom Shepherd
149
Um ministério para hoje
Erton Köhler
153
Alimentando com o pão da vida
Geoffrey Mbwana
159
Compaixão ou empatia?
Jonathan Duffy e Geoffrey Mbwana
163
Mais do que palavras
Geoffrey Mbwana
167
Somos tuas mãos
May-Ellen Marian Colon
Apresentação
O tema da solidariedade permeia a Bíblia do Gênesis ao Apocalipse. Logo de início, vemos no Pentateuco descrita claramente a preocupação de Deus com relação aos
pobres, além das orientações oferecidas ao povo escolhido com relação à justiça social.
No entanto, a maior expressão de solidariedade se manifesta na vida do Filho de
Deus que sempre se compadeceu dos pobres, oprimidos, enfermos, marginalizados, injustiçados, pecadores e todos os outros que vagavam “como ovelhas sem pastor”. Seus atos
de compaixão eram constantes; nada passava despercebido aos seus olhos; o sofrimento
humano falava-lhe profundamente ao coração, a ponto de tomar sobre si as dores de toda
a humanidade, derramando seu sangue na cruz e oferecendo a salvação.
Ele mesmo declara: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão
misericórdia” (Mt 5:7). Ellen G. White, no livro Beneficência Social, página 15, comenta:
“nunca houve tempo em que fosse maior a necessidade do exercício da misericórdia do
que hoje. Ao redor de todos nós estão os pobres, os sofredores, os aflitos, os tristes, os
que estão prestes a perecer.” Ela ainda complementa: “se os seres humanos cumprissem
o seu dever como fiéis mordomos dos bens de Deus, nenhum clamor haveria por pão,
nenhum sofredor em penúria, nenhum desagasalhado em necessidade. É a infidelidade
de homens que gera o estado de sofrimento em que está mergulhada a humanidade. Se
aqueles a quem Deus fez mordomos tão somente utilizassem os bens do seu Senhor no
propósito para que lhes foram entregues, este estado de sofrimento não existiria.”
Por isso, estamos colocando em suas mãos este livro com o propósito de fortalecer nossa visão do serviço comunitário e o nosso compromisso com as necessidades
do próximo. O livro foi idealizado com o intuito de prover embasamento teológico ao
ato de solidariedade, e surgiu como resultado do Simpósio Adventista de Solidariedade
“Toques de Esperança”, que ocorreu em maio de 2013 em Brasília, Brasil.
É nosso desejo que este livro contribua com a sua preparação e motivação para o
serviço solidário, tanto de forma individual quanto como igreja. Desejamos que nossos
membros estejam engajados nesse serviço até a aparição de Jesus nas nuvens, dizendo:
“Vinde, benditos de meu Pai […] Porque tive fome, e me destes de comer […] quando
fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25:34-40).
Günther M. Wallauer
Diretor ADRA / Coordenador ASA
Divisão Sul-Americana
Teologia
Capítulo
01
Solidariedade no
Antigo Testamento
Elias Brasil de Souza1
A solidariedade dirigida aos pobres, viúvas, órfãos e estrangeiros ou
forasteiros recebe considerável atenção nos textos bíblicos. Estima-se que
a Bíblia contenha mais de 600 referências às questões da justiça, misericórdia e consideração à carência do oprimido (FRETHEIM, 2008, p. 161).
Portanto, o tema em estudo não se encontra na “periferia” da revelação
de Deus; antes, permeia os vários corpora, livros, gêneros e divisões com
uma pletora de temas bíblicos.
Sem qualquer pretensão de esgotar o tema, este estudo tem por
objetivo prover uma visão panorâmica do conceito de solidariedade
no Antigo Testamento. Cinco seções principais organizam esta pesquisa. A primeira analisa os termos linguísticos usados para expressar o conceito de “solidariedade” e seu objeto, o “necessitado”. As três
Doutor em Teologia pela Andrews University e diretor associado do Insituto de
Pesquisas Bíblicas na Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
1
O evangelho em roupa de trabalho
seguintes compreendem, respectivamente, o conceito da solidariedade nos textos
legais, proféticos e poéticos (sabedoria). A quinta seção procura entender alguns
casos de solidariedade, ou da falta dela, conforme ilustrado em algumas seções narrativas. Finalmente, um resumo da pesquisa é apresentado nas considerações finais,
onde são extraídas algumas implicações teóricas e práticas.
Uma definição para “solidariedade” e “necessitado”
Termos bíblicos para “solidariedade”
12
O Antigo Testamento emprega algumas frases e termos específicos para transmitir a noção de solidariedade. Uma expressão importante aparece com as palavras “justiça (ṣĕdāqâ) e juízo (mišpāṭ)2, cuja abrangência semântica inclui a ideia de cuidado pelos
menos afortunados”. Essas duas palavras aparecem juntas na Bíblia, pela primeira vez,
no contexto do pacto de Deus com Abraão: “Porque eu o escolhi para que ordene a seus
filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a
justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito”
(Gn 18:19, itálicos acrescentados).
Neste contexto, os dois termos, associados às ideias de solidariedade e de ajuda aos menos afortunados, aparecem claramente nas passagens que se seguem como
exemplos: na conclusão do canto sobre a vinha, Isaías afirma: “Porque a vinha do
Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do
Senhor; este desejou que exercessem juízo [mišpāṭ], e eis aí quebrantamento da lei
[mišpāḥ]; justiça [ṣĕdāqâ], e eis aí clamor [ṣĕʿāqâ]” (Is 5:7). A mesma palavra emparelhada aparece em Amós 5:24 com uma aparente conotação similar: “Antes, corra
o juízo [mišpāṭ] como as águas; e a justiça [ṣĕdāqâ], como ribeiro perene.” Da mesma forma, Jeová fala por meio de Jeremias: “Assim diz o Senhor: Executai o direito
[mišpāṭ] e a justiça [ṣĕdāqâ] e livrai o oprimido das mãos do opressor; não oprimais
ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar” (Jr 22:3-4). Deste modo, parece que o “conceito de ‘justiça
e juízo’ está mais associado à misericórdia e à bondade”, “no contexto de melhorar a
situação do destituído” (WEINFELD, 1995, p. 7).
Em Miqueias, “juízo” aparece associado à “misericórdia” [ḥesed]: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça
[mišpāṭ], e ames a misericórdia [ḥesed], e andes humildemente com o teu Deus” (Mq
6:8). O termo “misericórdia” (ḥesed) também aparece em outros contextos onde a
atenção ao necessitado é evidente. Um outro termo é “compaixão” (răḥāmîm), que
ocorre em Zacarias: “Assim falara o Senhor dos Exércitos: Executai juízo [mišpāṭ]
verdadeiro, mostrai bondade [răḥāmîm] e misericórdia [ḥesed], cada um a seu irmão;
A seguinte discussão a respeito de “justiça” e “juízo” extrai seus principais conceitos de
Moshe Weinfeld (1995).
2