Os Três Tipos de Tesouro

Transcrição

Os Três Tipos de Tesouro
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Os Três Tipos de Tesouro
Suplemento digital da revista Terceira Civilização
MATÉRIA DE ESTUDO — BUDISMO NA VIDA DIÁRIA E REUNIÃO DE PALESTRA
Escrito de Nitiren Daishonin
“Os Três Tipos de Tesouro”
(The Writings of Nichiren Daishonin, v. 1, p. 848-852.)
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A explanação deste escrito a ser utilizada nas atividades do BVD e Reunião de Palestra dos meses
de janeiro a abril de 2012 foi publicada na revista Terceira Civilização, edições nos 519, de outubro
de 2011; 520, de novembro de 2011; e 521, de dezembro de 2011.
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Notas:
1. Refere-se a Toki Jonin, um dos
principais discípulos de Nitiren
Daishonin. Ele morava na Província de Shimosa (parte da atual
Província de Tiba) e serviu como
criado do lorde de Tiba, o policial
da região.
2. Rei de Magadha, na Índia, que viveu na época do Buda Sakyamuni.
Incitado por Devadatta, ele usurpou o trono, matando seu pai. Mais
tarde, porém, Ajatashatru lamentou profundamente sua conduta.
Atormentado pela culpa, irromperam feridas virulentas em seu corpo e ele recebeu a predição de que
morreria. Seu médico e ministro
Jivaka persuadiu-o a se arrepender
de sua má conduta e a buscar os
ensinos do Buda. Ajatashatru fez
isso, superou a doença e se tornou
um devoto do Buda.
3. Jivaka: Médico habilidoso que
viveu em Magadha, Índia, na época de Sakyamuni. Como médico da
corte, Jivaka serviu a Bimbisara, rei
de Magadha, e seu filho Ajatashatru.
4. Ashvaghosha [s.d.]: Estudioso
e poeta mahayana que viveu no
século 2 em Shravasti, na Índia. Ele
criticou o budismo no início, mas
depois foi convertido por Parshva e
conduziu muitas pessoas aos ensinos do Buda por meio de sua habilidade na música e na literatura.
Ashvaghosha é conhecido como o
décimo segundo dentre os vinte e
quatro sucessores de Sakyamuni.
5. Maitreya: Fundador da escola
da Somente-Consciência, que teria
sido mestre de Asanga e deve ter
vivido por volta de 270–350 (350–
430, de acordo com outra fonte).
6. O rei dos demônios, que habita o
mais alto, ou o sexto céu do mundo
do desejo. Também chamado de
Aquele que Desfruta Livremente
as Coisas Conjuradas pelos Outros, esse rei usa livremente os
frutos dos esforços das pessoas
para o próprio prazer. Servido por
inúmeros subalternos, ele obstrui a
prática budista e se deleita em roubar a energia vital de outros seres.
O Rei Demônio é a personificação
da tendência negativa de forçar os
outros a satisfazer suas vontades a
qualquer custo.
2
R
ecebi vários artigos trazidos por seu mensageiro, incluindo um traje acolchoado branco, um cordão de moedas e [a carta de Toki].1 Os caquis, as
peras e as algas frescas e secas são particularmente bem-vindos.
Lamento a doença de seu lorde. Embora ele não tenha fé no Sutra de Lótus, o senhor é membro do clã dele e é graças à consideração dessa pessoa que o senhor pode
fazer oferecimentos ao Sutra. Assim, estes [oferecimentos ao Sutra] podem se tornar
orações exclusivamente para a recuperação de seu lorde. Pense numa pequena árvore
que fica debaixo de uma grande ou na grama que fica à beira de um grande rio. Embora
não recebam a chuva nem a água do rio diretamente, ainda assim vicejam, compartilhando o orvalho da grande árvore ou a umidade do rio. O mesmo acontece com o
relacionamento entre o senhor e seu lorde. Para dar outro exemplo, o rei Ajatashatru2
era inimigo do Buda. Mas como Jivaka,3 ministro da corte do rei, acreditava no Buda e
fazia contínuos oferecimentos a ele, consta que os benefícios decorrentes de suas ações
retornaram para Ajatashatru.
O Budismo ensina [a importante doutrina] que, quando a natureza de Buda se
manifesta no interior, surge a proteção exterior. Este é um de seus princípios fundamentais. O Sutra de Lótus diz: “Eu tenho profunda reverência por você”. O Sutra do
Nirvana declara: “Todos os seres vivos possuem igualmente a natureza de Buda”. “O
Despertar da Fé no Mahayana”, do Bodhisattva Ashvaghosha,4 afirma: “Como a Lei
verdadeira e definitiva permeia invariavelmente a vida da pessoa e exerce sua influência, as ilusões se extinguem instantaneamente e o corpo do Dharma se manifesta”. O
“Tratado sobre os Estágios da Prática de Ioga”, do Bodhisattva Maitreya,5 contém uma
declaração semelhante. O que está oculto se transforma em virtude manifesta.
O demônio celestial6 [ou seja, o Rei Demônio do Sexto Céu] sabia sobre isso [esse
princípio] desde antes, e, portanto, possuiu seus colegas [os servidores do lorde Ema],
levando-os a inventar essa mentira absurda [de que o senhor perturbou o Debate de
Kuwagayatsu] a fim de impedirem-no de fazer oferecimentos ao Sutra de Lótus. Contudo, uma vez que sua fé é profunda, as dez filhas-demônio7 devem ter vindo em seu
auxílio e causado a doença de seu lorde. Ele [lorde Ema] não o considera seu inimigo,
mas, desde que agiu contra o senhor, dando crédito às falsas acusações de seus colegas,
acabou ficando gravemente doente, e a doença persiste.
[O monge] Ryuzo-bo,8 com quem essas pessoas contam como seu pilar de força, já
foi derrubado, e aqueles que falaram mal do senhor contraíram a mesma doença que
seu lorde. Como Ryokan [patrono de Ryuzo-bo] é culpado de uma ofensa muito pior, é
provável que ele sofra ou cause um grave acidente. Certamente, ele não escapará ileso.
Da forma como as coisas estão agora, sinto que o senhor está em perigo. É certeza
que seus inimigos cometerão atentado contra a sua vida. No gamão, se duas pedras
da mesma cor são colocadas lado a lado, elas não podem ser atingidas por uma pedra
adversária. A carroça, enquanto tiver duas rodas, não se desequilibra pelo caminho. Da
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mesma maneira, se dois homens caminham juntos, um inimigo hesitará em atacá-los.
Portanto, não importa que falhas perceba em seus irmãos mais novos, não permita que
eles o deixem sozinho nem por um momento.
Seu rosto apresenta sinais claros de um temperamento esquentado. Mas o senhor
deve saber que os deuses celestiais não protegerão uma pessoa que se irrita facilmente, por mais importante que ela pense que seja. Mesmo que atinja o estado de Buda,
se o senhor for morto, seus inimigos ficariam contentes, mas nós sentiríamos apenas
sofrimento. Isso seria de fato lamentável. Enquanto seus inimigos conspiram contra o
senhor, a confiança do seu lorde no senhor é ainda maior. Portanto, embora eles estejam
aparentemente calmos, não há dúvida de que o coração deles queima de ódio. Assim,
em circunstâncias normais, comporte-se moderadamente na presença deles. Preste
maior respeito aos outros partidários do clã. Por enquanto, evite dirigir-se ao lorde,
mesmo que ele o chame, quando os descendentes do clã Hojo o estiverem visitando.
Caso aconteça o pior ao seu lorde, seus inimigos ficarão sem liderança e se dispersarão. Entretanto, eles não prestam atenção a isso. Além disso, essas pessoas, ao ver que o
senhor trabalha com mais frequência sentirão o coração inflamar de inveja.
Se os filhos do clã Hojo ou as esposas daqueles que estão no comando perguntarem
sobre a doença de seu lorde, não importa quem seja a pessoa, ajoelhe-se, mantenha
as mãos numa posição apropriada e responda: “A doença dele está totalmente além
de minha modesta habilidade de cura. Mas, não importando quantas vezes eu tenha
recusado, ele insiste para que eu o trate. Como estou a serviço dele, não posso deixar de
fazer conforme ele diz”. Deixe os cabelos despenteados e não vista os trajes bem engomados da corte nem brilhantes robes acolchoados e tampouco outras roupas coloridas.
Seja paciente e continue agindo dessa forma, por enquanto.
Provavelmente, o senhor está bem ciente disso. Porém, deixe-me citar a previsão do
Buda sobre como serão os Últimos Dias: “Será uma época turva em que até os sábios
terão dificuldades para viver. Eles serão como pedras num grande incêndio, que durante certo tempo parecem suportar o calor, mas acabam carbonizadas e se desintegram,
tornando-se cinzas. Os sábios vão defender as Cinco Virtudes Constantes,9 mas encontrarão dificuldades em praticá-las”. Assim diz o ditado: “Não permaneça no assento de
honra por muito tempo”.
Muitas pessoas tentaram incriminá-lo com falsas acusações. No entanto, o senhor
escapou das intrigas e saiu vitorioso. Se perder a compostura agora e cair na armadilha
delas, o senhor será como um barqueiro que rema com toda a força e no fim desembarca antes de atingir a margem, ou como uma pessoa a quem ninguém serve chá quente
no final da refeição.
Enquanto estiver na residência de seu lorde, se permanecer no aposento atribuído
ao senhor, nada acontecerá. Entretanto, no caminho para o trabalho ao alvorecer ou ao
retornar para casa quando estiver escurecendo, é certo que seus inimigos estarão espe-
7. Dez filhas-demônio: Dez divindades protetoras femininas que
aparecem no Sutra de Lótus como
as “filhas dos demônios rakshasa”
ou as “dez filhas rakshasa”. No 26o
capítulo do Sutra, “Dharani”, elas
fazem o juramento de salvaguardar
e proteger os praticantes do Sutra,
dizendo que aplicarão punições
em qualquer um que lhes cause
problemas.
8. Ryuzo-bo [s.d.]: Monge da
escola Tendai que foi expulso do
templo Enryaku, no Monte Hiei,
sede da escola Tendai, e mais tarde foi para Kamakura, onde teve
como patrono Ryokan, do templo
Gokuraku, sacerdote da escola
Preceitos-Verdadeira Palavra.
9. Cinco Virtudes Constantes: são
a benevolência, a retidão, o decoro,
a sabedoria e a boa-fé. Foram formuladas pelo confucionismo como
princípios a serem adotados por
todos os homens.
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10. Egara: Local de Kamakura, onde,
como se afirma, estava o centro administrativo do governo Kamakura.
11. Minamoto no Yoshitsune (1159–
1189): Meio-irmão de Minamoto
no Yoritomo, fundador do governo
Kamakura. Em 1180, quando Yoritomo organizou um exército contra o
clã rival Taira ou Heike, Yoshitsune
juntou-se a ele, derrotando mais tarde o exército Taira. Após a batalha,
Yoshi­tsune caiu no descontentamento do seu meio-irmão e refugiou-se
no norte do Japão, sendo finalmente
morto por uma poderosa família daquele distrito.
12. Shigueyoshi: Taguti Shigueyoshi
era o chefe de uma poderosa família
em Awa, província do sul do Japão.
Ele informou Yoshitsune das condições internas do exército Taira, e
também os pontos vulneráveis da
sua posição. Com isso, contribuiu
para a queda do clã Taira.
13. Minamoto no Yoritomo (1147–
1199): Foi o fundador do governo
Kamakura. Ele organizou um exército
contra o clã Taira em 1180. Em 1185,
terminada a batalha final em Dannoura, derrotou completamente o clã
rival e estabeleceu o primeiro governo
samurai em Kamakura.
14. Osada: Osada Tadamune, um
samurai da Província Owari, no centro do Japão. Em 1159, Minamoto no
Yoshitomo, pai de Yoritomo, lutou
contra o exército de Taira e foi derrotado. Na retirada, refugiou-se na
residência de Osada Tadamune. Sob
ordens de Taira, Osada conduziu
Yoshitomo ao banho, e assassinou-o. Mais tarde, quando Yoritomo organizou o exército, Tadamune e seu
filho, Kaguemune, foram para o lado
de Yoritomo. Entretanto, após a ruína
do clã Taira, ambos foram mortos sob
ordens de Yoritomo.
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rando pelo senhor. Além disso, tenha muito cuidado tanto dentro como ao redor de
sua casa na iminência de alguém estar escondido atrás das portas, dentro do santuário
familiar, sob o piso ou no espaço acima do teto. Agora, seus inimigos serão ainda mais
astutos em suas tramoias do que antes. No fim, ninguém será mais confiável em caso
de emergência do que os vigias noturnos de Egara,10 em Kamakura. Por mais desagradável que seja, o senhor deve se associar a eles de forma amigável.
Yoshitsune11 achava impossível derrotar o Heike, até conseguir trazer Shigueyoshi12
para o seu lado e, depois, vencer o clã rival. O shogun [Minamoto no Yoritomo]13 tentou vingar-se de Osada14 pela morte do seu pai, mas foi capaz de decapitar o assassino
enquanto não conquistou o Heike. Por esse motivo, tenha especial consideração pelos
quatro vigias noturnos que tiveram suas residências, adquiridas com risco de perder a
vida, confiscadas pelo lorde por causa da fé no Sutra de Lótus, e ainda mais por serem
devotos de Nitiren. Seja atencioso com as pessoas que creem em Nitiren e no Sutra de
Lótus, não importando o que elas possam ter feito no passado. Além disso, se os vigias
noturnos frequentarem sua casa, seus inimigos ficarão com medo de atacá-lo durante
a noite. É diferente no caso de eles tentarem vingar a morte de seus pais; sem dúvida,
eles não desejam que a tramoia venha à tona. Para aqueles como o senhor, que devem
evitar ser observados pelos outros, certamente não existam pessoas mais confiáveis que
aqueles quatro. Mantenha sempre relações amigáveis com eles. Já que o senhor se irrita
facilmente por natureza, talvez não aceite meu conselho. Nesse caso, estará além do
poder de minhas orações salvá-lo.
Ryuzo-bo e seu irmão mais velho conspiraram contra o senhor. Entretanto, os deuses celestiais encontraram meios para que a situação se desenvolvesse exatamente
como o senhor desejou. Então, como é que o senhor se atreveria a ir contra a vontade
dos deuses celestiais? Mesmo que o senhor tenha acumulado mil ou dez mil tesouros,
para que lhe serviriam se seu lorde o abandonasse? Ele está o considerando como se
fosse o próprio pai. E confia inteiramente no senhor, como a água se ajusta ao seu recipiente, um novilho segue sua mãe, ou um idoso se apoia em sua bengala. Não seria
isso o Sutra de Lótus vindo em seu auxílio? Como deverão estar invejosos os seus colegas! Apresse-se em falar com esses quatro homens e mantenha Nitiren informado. Eu
realizarei fervorosas orações aos deuses celestiais pedindo por sua proteção. Eu já lhes
informei quão intensamente o senhor lamenta o falecimento do seu pai e da sua mãe.
Certamente o Buda Sakyamuni estenderá favores especiais aos seus falecidos pais.
Sempre me lembro do momento, ainda hoje inesquecível, quando eu estava prestes
a ser decapitado em Tatsunokuti e o senhor me acompanhou, segurando as rédeas
do meu cavalo e derramando lágrimas de tristeza. Não esquecerei disso, seja em que
existência for. Se o senhor caísse no inferno por alguma ofensa grave, não importando
quão o Buda Sakyamuni me pedisse para me tornar Buda, eu recusaria. Eu preferiria ir
para o inferno com o senhor.
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Se o senhor e eu, Nitiren, entrarmos juntos no inferno, certamente encontraremos
o Buda Sakyamuni e o Sutra de Lótus. Isso é como a lua que ilumina a escuridão, ou a
água fria despejada na água quente para resfriá-la, ou o fogo derretendo o gelo, ou o Sol
dissipando a escuridão.
Mas se o senhor, mesmo que ligeiramente, deixar de seguir meu conselho, não me
culpe pelo que lhe acontecer. Conforme o senhor disse, a epidemia, que ora se propaga,
atingirá as pessoas de posição social elevada por volta da virada do ano. Talvez este seja
um plano das dez filhas-demônios. Por ora, mantenha-se calmo e observe como as coisas vão se desenvolver. Não lamente aos outros sobre quão difícil é para o senhor viver
neste mundo. Agir assim é uma atitude totalmente imprópria para um homem digno.
Se um homem se comporta desta maneira [infeliz], depois que morre, sua esposa, dominada pela tristeza por ter perdido o marido, contará às outras pessoas sobre as coisas
vergonhosas que ele fez, embora ela não tenha nenhuma intenção de fazê-lo. De modo
algum isso será culpa dela. É apenas o resultado do comportamento repreensível dele.
É muito raro nascer como ser humano. O número de pessoas dotadas de vida humana é tão pequeno quanto a quantidade de terra que se pode colocar sobre uma unha. Viver como ser humano é difícil — tão difícil quanto o orvalho permanecer sobre a grama.
É melhor viver um único dia com honra que viver 120 anos e morrer na desgraça.
Conduza sua vida de forma que todas as pessoas de Kamakura o elogiarão e dirão que
Nakatsukasa Saburo Saemon-no-jo (Shijo Kingo) é diligente em servir a seu lorde, ao
budismo e à sociedade.
O tesouro do corpo é mais valioso que aquele guardado no cofre; e o tesouro acumulado no coração é muito mais valioso que o tesouro do corpo. A partir do momento em
que o senhor ler esta carta, esforce-se para acumular o tesouro do coração.
Gostaria de lhe relatar um incidente que é habitualmente mantido em segredo.
Na história do Japão, dois imperadores foram assassinados. Um deles foi o imperador
Sushun. Era o filho do imperador Kinmei e tio do príncipe Shotoku. Certo dia, durante
o seu reinado como 33o imperador, chamou o príncipe Shotoku15 e ordenou-lhe: “Dizem que o senhor é um homem de sabedoria insuperável. Aplique-me a fisiognomonia
[a arte de conhecer o caráter das pessoas pelos traços fisionômicos]”. O príncipe negou
por três vezes, mas o imperador insistiu para que Shotoku obedecesse à ordem real. Por
fim, não podendo mais recusar, o príncipe fez respeitosamente a profecia fisiognomônica de Sushun, e disse-lhe: “Majestade, o senhor tem o presságio do assassinato em
sua face”.
Seu rosto mudou de cor e ele esbravejou: “Que evidência o senhor tem para tal afirmação?” O príncipe respondeu: “Vejo veias vermelhas em seus olhos. Isso indica que
o senhor estará sujeito a inimizades”. Então, o imperador perguntou-lhe: “Que posso
fazer para escapar deste fato?” O príncipe disse: “É difícil evitar. Contudo, existe um
guardião chamado de as Cinco Virtudes Constantes. Enquanto mantiver esse grande
15. Príncipe Shotoku (574–622):
Empreendeu várias reformas, como
regente da imperatriz Suiko. Devotava-se ao budismo e se dedicava à
sua prosperidade. Ele reverenciava os
sutras de Lótus, o Shoman e o Yuima,
escrevendo comentários sobre eles.
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16. Seis Paramitas: seis práticas
dos bodhisattvas do budismo
Mahayana. Paramita significa partir
desta praia da desilusão e chegar
à outra, praia da iluminação. Os
Seis Paramitas são oferecimentos, a observância aos preceitos,
perseverança, assiduidade, meditação e a obtenção da sabedoria.
17. Dos Analectos, de Confúcio.
18. Tan, duque de Chou: Irmão
mais novo do imperador Wu,
fundador da dinastia Chou (c.
1100–256 a.E.C.). Depois de ajudar
seu irmão na tarefa de derrubar a
dinastia Yin (Shang) e fundar um
novo governo, ele continuou intimamente envolvido nos assuntos
do governo. Quando o imperador
Wu morreu e seu filho Ch’eng, que
ainda era criança, subiu ao trono, o
duque de Chou atuou como regente do jovem príncipe. Ele tem sido
reverenciado ao longo dos séculos
por confucionistas como um modelo de governo correto e íntegro.
19. Esse episódio é mencionado em Registros do Historiador.
Tan, o duque de Chou, ficava tão
ansioso para encontrar pessoas capazes; e, para não esquecer
ninguém, ele recebia visitantes
até mesmo enquanto estava lavando o cabelo ou no decurso de
uma refeição. Daishonin cita esse
exemplo para explicar a importância de ser cauteloso e atencioso.
20. Fukyo: Bodhisattva descrito no
20o capítulo do Sutra de Lótus, intitulado “Bodhisattva Jamais Desprezar”. Esse bodhisattva — que
foi Sakyamuni em uma existência
anterior — fazia uma reverência
perante todos que encontrava. No
entanto, ele era atacado por pessoas arrogantes, que batiam nele
com varas e bastões e lhe atiravam
pedras. O Sutra explica que sua
prática de respeitar a natureza de
Buda dos outros tornou-se a causa
para ele atingir o estado de Buda.
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guerreiro ao seu lado, o senhor estará livre de qualquer atentado contra a sua vida.
Nas escrituras budistas, esse guardião é conhecido como “Perseverança”, um dos Seis
Paramitas.16
Por algum tempo, o imperador Sushun observou rigorosamente a prática da perseverança. Entretanto, por sua natureza irascível, um dia ele violou o preceito quando
um dos seus súditos o presenteou com um javali. Ele puxou a espada e enterrou-a num
dos olhos do animal, e depois no outro, dizendo: “Um dia faremos isto com alguém
a quem eu odeio!” O príncipe Shotoku presenciou a cena. “Que coisa deplorável o
senhor fez!”, disse ele ao imperador. “Sem dúvida, o senhor atrairá o ódio das outras
pessoas, majestade. As palavras que o senhor pronunciou serão a espada que atravessará o seu dono”. O príncipe ordenou então que trouxessem um tesouro para ser dividido
entre os que ouviram as palavras do imperador, na esperança tácita de que o assunto
seria mantido entre eles. No entanto, um deles informou o episódio ao ministro Soga-no-Umako. Umako, imaginando que fosse a ele a quem Sushun odiava, mandou que
Atai Goma, o filho de Azumanoaya-no-Atai Iwai, matasse o imperador.
Essa história nos lembra que mesmo aquele que está no trono deve evitar o ato de
dar expressão desenfreada aos seus pensamentos. Confúcio apegava-se à sua crença
nos “nove pensamentos para uma palavra”,17 afirmando que ele pensava nove vezes
antes de falar. Tan, o duque de Chou,18 era tão atencioso em receber seus visitantes,
que ficou conhecido por ter interrompido seu banho por três vezes num dia, e sua refeição três vezes em outro, a fim de não deixá-los esperando.19 Considere esses exemplos
cuidadosamente para o senhor não ter motivo para me censurar mais tarde. O que
chamamos budismo encontra-se nesse comportamento.
A essência de todos os ensinamentos de Sakyamuni é o Sutra de Lótus, e a chave da
prática do Sutra de Lótus está no capítulo “Bodhisattva Jamais Desprezar” [Fukyo20].
O que significa o profundo respeito que o Bodhisattva Jamais Desprezar demonstrava
pelas pessoas? O propósito do advento do Buda Sakyamuni, o lorde dos ensinamentos,
neste mundo encontra-se em seu comportamento como ser humano. O sábio deve ser
chamado humano, e os tolos são denominados animais.
Em 11 de setembro de 1277.
Nitiren

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