CONTABILIDADE DAGESTAO AMBIENTAL - APEC
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CONTABILIDADE DAGESTAO AMBIENTAL - APEC
CONTABILIDADE DA GESTÃO AMBIENTAL NAS INDÚSTRIAS DE ARROZ NO EXTREMO SUL DO ESTADO DE SANTA CATARINA Cristina Keiko Yamaguchi - Universidade do Extremo Sul Catarinense. [email protected] Adriana Carvalho Pinto Vieira - Universidade do Extremo Sul Catarinense. [email protected] Melissa Watanabe - Universidade do Extremo Sul Catarinense. [email protected] Roseli Jenoveva Neto - Universidade do Extremo Sul Catarinense. [email protected] Katia Aurora Dala Libera Sorato - Universidade do Extremo Sul Catarinense. [email protected] Izabel Regina de Souza - Universidade do Extremo Sul Catarinense. [email protected] Gisele Lopes da Silveira - Universidade do Extremo Sul Catarinense. [email protected] Zeli Felisberto – Universidade do Extremo Sul Catarinense. [email protected] RESUMO Numa época em que as indústrias começam a se preocupar com a imagem negativa de poluidoras e passam a investir na redução dos impactos ambientais provocados por suas atividades e a se preocupar com as providências que precisariam tomar para chegar a essa redução. A contabilidade ambiental surge como uma ferramenta gerencial útil para conhecer esses impactos de maneira qualitativa e quantitativa, assim como os efeitos de suas decisões quanto à forma de geri-los. Entretanto, pouco se sabe como a contabilidade é utilizada para evidenciar os eventos ambientais. Diante dessas lacunas, objetivou com esta pesquisa verificar a viabilidade de aplicar a estrutura da contabilidade ambiental nas indústrias de arroz. Para realizar esta pesquisa, foi desenvolvido um estudo exploratório-descritivo. A análise dos resultados do estudo exploratório apontou que as organizações não costumam separar os fatos e os eventos contábeis ambientais das contas tradicionais e, em decorrência disso, há uma falta de clareza e de conhecimentos sobre a aplicabilidade da contabilidade ambiental. Palavras chave: Contabilidade ambiental. Gestão ambiental. Indústria de beneficiamento de arroz. INTRODUÇÃO Pesquisas acadêmicas destacaram a necessidade de a Contabilidade inserir a variável ambiental nas informações que fornece aos gestores. Ou seja, que providências a organização precisa tomar para minimizar os impactos provocados por suas atividades. Primeiramente é 1 necessário conhecê-las qualitativa e quantitativamente, assim como os efeitos de suas decisões quanto a forma de gerir esses impactos. Como a contabilidade ambiental tem como objetivo medir o resultado das atividades das organizações relacionadas com o meio ambiente seria o meio de investir em adequação à necessidade das organizações. A questão ambiental surgiu na literatura contábil com maior intensidade a partir da década de 1970. Porém, por várias razões, como culturais, falta de interesse, conhecimento ou normatização, como tem sido alegado, as organizações não divulgam a situação real de suas relações com o meio ambiente, ou divulgam o que lhes convém: somente o aspecto positivo de suas ações (CALIXTO, 2010). As dificuldades levantadas estão relacionadas aos aspectos de conhecimento da metodologia por parte dos contabilistas e dos gestores das organizações. O contabilista afirma que estes registros não são necessários nos sistemas de contabilidade convencionais e os gestores tem pouco conhecimento sobre o meio ambiente e os custos associados à condução das atividades de suas organizações. Estudiosos da área reconhecem que os contabilistas têm a capacidade de dar uma contribuição positiva para o debate ecológico, por meio da reforma da contabilidade e sistemas de informação e conhecer as externalidades ambientais e sociais. O autor afirma ainda que, a partir das informações geradas pela contabilidade, poderá aumentar a representação da capacidade do conhecimento, porém, a contabilidade precisa ser revista e reestruturada através de abordagens de conhecimento intensivo (CHOU et. AL, 2010; HERBOHN, 2005). A contabilidade sendo um ramo do conhecimento humano ainda não tem dado o destaque necessário e cabível ao tema meio ambiente como já ocorre em outras áreas. O conhecimento da área contábil encontra-se centralizado e inacessível para alguns membros da organização. A conversão do conhecimento ontológica do contador, a partir de interação de forma individual a disseminação para a organização, torna-se cada vez mais relevante para que a organização continue competitiva no mercado (PFITSCHER, 2004). Como as empresas brasileiras não são obrigadas por lei a divulgar objetivamente os seus gastos e investimentos ambientais dificulta a pesquisa e análise sobre o tema, além de não evidenciar a real situação patrimonial das entidades. Porém, há algumas iniciativas de grandes companhias brasileiras que divulgam informações ambientais, apesar de serem destacadas notas explicativas e analisadas no relatório da administração. Embora não sejam auditadas e nem padronizadas, considera-se um avanço quando comparado com décadas anteriores. 2 Entende-se que os eventos registrados e mensurados na contabilidade ambiental podem auxiliar os gestores das indústrias de beneficiamento de arroz no gerenciamento do meio ambiente, pois esta contabilidade pode ser considerada uma das principais ferramentas de gestão de negócios. 2 METODOLOGIA A preocupação com relação ao meio ambiente é global e nas indústrias de arroz não difere dos demais segmentos quando se preocupa com a imagem negativa de poluidoras. Para realizar esta pesquisa, foi desenvolvido um estudo exploratório-descritivo. Os procedimentos metodológicos realizados foram: revisão de literatura; aplicação de um questionário semiestruturado a 17 contadores e gestores de indústrias de arroz situadas na microrregião AMREC e AMESC de Criciúma (Santa Catarina, Brasil). A análise dos resultados do estudo exploratório apontou que as organizações não costumam separar os fatos e os eventos contábeis ambientais das contas tradicionais e, em decorrência disso, há uma falta de clareza e de conhecimentos sobre a aplicabilidade da contabilidade ambiental. Portanto, diante da necessidade de evidenciar as contas ambientais e divulgar que a indústria atua de forma transparente e responsável, a contabilidade ambiental pode ser vista como um meio que possibilita evidenciar a gestão ambiental da organização. 3 GESTÃO AMBIENTAL Com a descoberta de que os recursos naturais, quando mal utilizados, são esgotáveis e, portanto, finitos, outros valores passaram a fazer parte do objetivo da organização. A maximização do acionista ainda é um dos objetivos pretendidos, mas dificilmente será plenamente autêntica se outros objetivos não forem cumpridos. Entre esses, estão as chamadas responsabilidades sociais, que cada vez mais vão tomando conta do dia a dia da administração e dizem respeito à melhor qualidade de vida da comunidade. Os administradores passaram a preocupar-se não somente com a gestão do negócio, mas com as pessoas e com o meio em que elas interagem. Pesquisas estão sendo efetuadas para verificar o quão preocupados e preparados estão os administradores para evidenciar a responsabilidade ambiental das organizações. 3 No Tabela 1, demonstra o entendimento de alguns autores pesquisados, sobre o conceito de gestão ambiental. Tabela 1 - Entendimento e/ou conceitos de gestão ambiental Autores Entendimento e/ou conceito de gestão ambiental McCloskey e Maddock (1994) Richards (1997) Gladwin; Kennelly; Krause, 1995a, 1995b Antonius (1999) Tinoco; Kraemer (2004) Haden, Oyler e Humphreys (2009). Nishitani (2010) Pearson Education do Brasil, 2011 Corresponde à melhoria e ao planejamento da estrutura organizacional e de seus sistemas e atividades a fim de definir certo tipo de postura em relação à variável ambiental. Um conjunto de atividades que se destinam a desenvolver produtos, processos produtivos e estratégias que impeçam o surgimento de impactos ambientais como resultado das atividades da organização. Sustentabilidade vem a ser sinônimo de outras noções como responsabilidade social ou gestão ambiental e, principalmente, torna-se um termo que não oferece nenhuma ameaça às atitudes das organizações e da atividade desempenhada. Gestão ambiental pode ser conceituado como a integração de sistemas e programas organizacionais que permitem: - controle e redução dos impactos no meio ambiente, devido às operações ou produtos; desenvolvimento e uso de tecnologias apropriadas para minimizar ou eliminar resíduos industriais; monitoramente e avaliação dos processos e parâmetros ambientais; eliminação ou redução dos riscos ao meio ambiente e ao homem; utilização de tecnologias limpas, visando minimizar os gastos de energia e materiais e melhoria do relacionamento entre a comunidade e o governo. É o sistema que inclui a estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental. É o que a empresa faz para minimizar ou eliminar os efeitos negativos provocados no ambiente por suas atividades. É o processo de organização no nível da aplicação da inovação para alcançar sustentabilidade, redução de resíduos, responsabilidade social e vantagem competitiva através da aprendizagem contínua e do desenvolvimento, adotando-se metas e estratégias ambientais que estão totalmente integradas com os objetivos e as estratégias da organização. Clientes em diferentes países têm prioridades e ideias distintas com relação ao meio ambiente e à sua gestão e, portanto, é possível que as preferências e as pressões ambientais nos mercados de clientes ambientalmente conscientes sejam maiores, embora muitos estudos anteriores sugerem que os clientes estrangeiros estejam interessados em geral numa forma significativa de o grupo incentivar a adoção da ISO 14001. As organizações tentam preencher suas partes com a adoção da ISO 14001 como indicador do seu compromisso de gestão ambiental. É o braço da administração que reduz o impacto das atividades econômicas sobre a natureza. Fonte: dados da pesquisa Diversas organizações empresariais estão cada vez mais preocupadas em atingir e demonstrar um desempenho mais satisfatório em relação ao meio ambiente. Assim, a gestão ambiental tem-se configurado como uma das mais importantes atividades relacionadas em qualquer empreendimento. Em virtude do exposto, a contabilidade ambiental em uma organização pode ser uma ferramenta para evidenciar os eventos ambientais, com a alteração e a inclusão de contas ambientais no plano de contas financeiro existente. 4 4 CONTABILIDADE AMBIENTAL Sabe-se que o objeto da contabilidade é o patrimônio. Pode-se definir, então, como objeto de estudo da contabilidade ambiental as informações contábeis relativas ao meio ambiente, que é considerado patrimônio da humanidade. A contabilidade ambiental identifica os custos, as despesas e possíveis receitas ambientais correlacionados à atividade da organização, e demonstra todo o patrimônio ambiental desta, ou seja, o ativo e o passivo (MARTINS; BELLO; OLIVEIRA; 2010). Essa modalidade contábil utiliza-se de técnicas como escrituração, demonstração, auditoria e análise de balanço para a correta contabilização dos fatos e eventos ambientais, transformando os dados obtidos em informações que servirão para atender à sociedade no que diz respeito à preservação do meio ambiente e principalmente à própria organização para futuros investimentos. A contabilidade ambiental supre então a necessidade das organizações e da sociedade, pois demonstra monetariamente os processos de preservação ou de destruição das organizações em relação ao meio ambiente. Avaliando quantitativamente todas as ações desenvolvidas pelas organizações nesse processo, essa modalidade contábil pode dar suporte à contabilidade financeira e à contabilidade gerencial como ferramenta para a tomada de decisões internas. Nesse sentido, conforme algumas pesquisas acadêmicas, a contabilidade ambiental é o registro do patrimônio ambiental (bens, direitos e obrigações ambientais) de uma organização (BERGAMINI JÚNIOR, 1999). Para Calixto (2006), trata-se de uma ciência em constante evolução devido a mudanças no ambiente econômico, social e político. Ainda de acordo com este autor, a tomada de decisões na organização necessita de informações contábeis cada vez mais precisas, confiáveis e rápidas, por isso justifica-se a contabilidade ambiental. Para Ribeiro (2005), não é uma nova ciência, mas sim uma segmentação da tradicional já amplamente conhecida. Esse autor define como objetivos da contabilidade ambiental identificar, mensurar e esclarecer os eventos e as transações econômico-financeiras que estejam relacionados com a proteção, a preservação e a recuperação ambiental em um determinado período, visando à evidenciação da situação patrimonial de uma entidade. Teoricamente parece ser fácil o entendimento e a aplicação da contabilidade ambiental pelos gestores e contadores, mas na prática são encontradas várias dificuldades que impedem o uso dessa modalidade contábil. A principal delas é a segregação das informações de 5 natureza ambiental das demais informações gerais da organização, bem como a correta classificação e avaliação das contas e dos eventos ambientais. Na atualidade, conforme aponta Ribeiro (2005), a contabilidade ambiental não é obrigatória para as organizações e só existirá se elas quiserem transparência das informações ambientais para com a sociedade, demonstrando que têm preocupações e compromissos com a preservação do meio ambiente, diferentemente da contabilidade financeira (tradicional), em que as organizações têm a obrigação de ter seus demonstrativos contábeis divulgados, nem que seja somente para fins fiscais. Spitzer e Elwood (1995) corroboram essa afirmação dizendo que os custos ambientais podem ficar escondidos e que, quando classificados como despesas, esses custos podem ser facilmente esquecidos porque muitas organizações que os têm tratado como despesas não dão a eles a atenção apropriada no momento da tomada de decisão. A magnitude de tais custos pode ser difícil de determinar como um resultado pelo fato de terem sido associados às contas de despesas. A contabilidade ambiental só existirá se as organizações quiserem que ela exista, ou seja, depende se vão ou não adotar esse conceito. Por isso, Spitzer e Elwood (1995) afirmam que o objetivo da contabilidade ambiental é aumentar o volume de informação relevante do que é feito ambientalmente para aqueles que necessitam e que podem usar tais informações. O sucesso da contabilidade ambiental está sujeito a uma correta classificação de todos os eventos ambientais praticados na organização. A contabilidade assume, diante dessa contextualização, papel fundamental para oferecer informações ambientais como subsídio a todos os agentes envolvidos no processo, para auxiliar os administradores no que tange ao gerenciamento organizacional das relações com o meio ambiente, por ser considerada, uma das principais ferramentas de gestão de negócios. Até o momento, não foram identificados instrumentos adequados para definir os valores dos recursos naturais disponíveis em toda a dimensão do planeta. Do ponto de vista da contabilidade, o que se pode medir e fazer constar nas demonstrações contábeis são os eventos e as transações econômico-financeiras, que refletem a interação da organização com o meio ambiente. O aspecto cultural está diretamente relacionado com a falta de rigor da legislação ambiental e contábil no Brasil, o que contribui para o cenário de poucas mudanças práticas no comportamento das organizações (CALIXTO, 2006). De acordo com Calixto (2006): na pesquisa sobre o tema, concluiu-se que há pouco interesse de profissionais da área contábil em desenvolver estrutura conceitual e padrões para relatórios contábeis 6 não tradicionais. Todavia, a inclusão da disciplina Contabilidade Ambiental no currículo dos alunos de graduação será um passo positivo para assegurar o futuro do profissional contábil. Pfitsher et al. (2004) enfatizaram a necessidade de valorização da educação ambiental nas instituições de ensino de um modo geral, tendo em vista que esta atitude contribuirá como alicerce para uma gestão no mundo dos negócios de tal forma que possam apresentar um diferencial no trato com as questões ambientais. Uma importante preocupação das organizações diz respeito aos objetivos para os quais as informações são requeridas como também à sua utilização. A contabilidade como ciência apresenta condições, por sua forma sistemática de registro e controle, de contribuir de modo positivo no campo de proteção ambiental, com dados econômicos e financeiros resultantes das interações de entidades que exploram o meio ambiente. Apesar de a contabilidade ambiental ser considerada como importante para evidenciar as informações ambientais, vê-se que a aplicação prática dessa modalidade contábil não acontece. Estudos bibliográficos em artigos sobre o tema demonstram as diferentes pesquisas realizadas em diversos países do mundo e permitem avaliar a situação da contabilidade ambiental nesses países. A Tabela 2 apresenta o levantamento dos estudos sobre a contabilidade ambiental no mundo. Tabela 2 - Levantamento dos estudos sobre a contabilidade ambiental no mundo Autores Resultados da pesquisa Deegan (2003) Herbohn (2005) Burritt e Saka (2006) Gale (2006) Preparou um relatório dos resultados obtidos num estudo para explorar a introdução da contabilidade de gestão ambiental em quatro diferentes organizações na Austrália. Nesse documento, o autor afirma que a maioria dos gestores dentro das organizações têm pouco conhecimento sobre o meio ambiente e seus custos associados à condução das operações organizacionais (embora alguns contadores e gestores não acreditem ser este o caso), e essa falta de informação decorre, em grande parte, de deficiências nos sistemas de contabilidade. E muitas oportunidades de redução de custos estão sendo perdidas por causa da falta de informações sobre os custos ambientais. Em pesquisa realizada na Austrália, o autor observou a falta de técnicas adequadas de medição e mensuração dos eventos ambientais, e restrições de contabilização dos custos ambientais. Abordou que há pouca pesquisa sobre a aplicabilidade das técnicas de avaliação desenvolvidas recentemente pela legislação econômica ambiental. O artigo analisa uma experiência com os relatórios de avaliação técnica empreendida por um governo australiano no Departamento de Gestão das florestas públicas. A experiência acabou não sendo bemsucedida. No entanto, as experiências de implementação desse departamento, incluindo as reações de seus gestores e interessados, foram uma oportunidade para refletir criticamente sobre os resultados experimentais e aumentar o atual conhecimento empírico dos relatórios de responsabilidade social corporativa. Em seus estudos no Japão, os autores dizem que a contabilidade ambiental é uma ferramenta de gestão ambiental relativamente nova, projetada inicialmente para rastrear e controlar os custos ambientais e os fluxos físicos do ambiente. Em primeiro lugar, é considerado o recente desenvolvimento da contabilidade de gestão ambiental. Em segundo lugar, é examinada a mediação das ligações entre a contabilidade de gestão ambiental e a ecoeficiência. Recentes estudos de caso de contabilidade em gestão ambiental do Japão são utilizados como base para a análise. Conclui-se da análise que a medição das informações ambientais, vinculada à ecoeficiência, não é utilizada adequadamente e que as organizações não estão usufruindo dos benefícios que a contabilidade ambiental poderia oferecer. Na pesquisa efetuada na Austrália, o autor afirma que a maioria dos gestores têm pouco 7 Beer e Friend (2006) Cairns (2007) Bartelmus (2009) Catalisa (2010) conhecimento sobre os custos operacionais de suas organizações associados ao meio ambiente. A conclusão que se obteve, embora alguns contadores e gestores possam não acreditar, é a falta de informação, que é, em grande parte, devido às deficiências nos sistemas de contabilidade. Com isso, o autor confirma a constatação de que as contas ambientais não estão sendo corretamente identificadas e alocadas nem registradas. Com isso, as organizações deixam os eventos ambientais junto com outras contas gerais, perdendo a correta noção de valor dos eventos ambientais. Em sua pesquisa na África, os autores avaliaram os sistemas de contabilidade ambiental disponíveis atualmente no mercado mundial para personalizar um modelo de contabilidade ambiental adequado para a África do Sul. Os resultados de uma análise do ciclo de vida existente para um processo escolhido – a produção de cigarros – serão então utilizados para avaliar o modelo e principalmente para determinar o impacto dos custos externos nos custos de produção de uma organização. O estudo de caso revelou a importância da contabilidade para todos os custos ambientais, tanto internos como externos, em um modelo de contabilidade ambiental. Porém, como os custos do estudo de caso são subjetivos, é recomendável que novas pesquisas sejam realizadas para estruturar um quadro objetivo que possibilite avaliar e determinar os fatores de custos envolvidos no desenvolvimento de custos. Em sua pesquisa no Canadá, o autor observou que a contabilidade ambiental é um instrumento que, se utilizado com prudência, pode oferecer uma contribuição importante para a tomada de decisão social. Esse papel expande-se sobre essas ideias quando as organizações discutem a incorporação de recursos naturais intangíveis, custos e benefícios em contabilidade ambiental na organização, bem como o nível de técnicas de avaliação econômica, tais como a avaliação de minas e a contabilidade-padrão corporativa, que são as bases dessa extensão para avaliar a contabilidade e as decisões relativas ao meio ambiente. Afirma em sua pesquisa efetuada na Alemanha que os escritórios e as organizações internacionais estão relutantes em utilizar as suas capacidades de estatística para a contabilidade ambiental em virtude de desconfianças sobre as contas verdes, possivelmente por causa da adaptação junto aos indicadores econômicos convencionais. A inserção das contas na contabilidade ambiental pode prejudicar o uso já estabelecido nas contas nacionais. As dificuldades levantadas estão relacionadas aos aspectos de conhecimento da metodologia por parte dos contadores e dos gestores das organizações quando o contador afirma que esses registros não são necessários nos sistemas de contabilidade convencionais e que os gestores têm pouco conhecimento sobre o meio ambiente e os custos associados à condução das atividades de suas organizações. Fonte: dados da pesquisa Em suma, conforme apontam os pesquisadores que tratam sobre contabilidade ambiental, não existe um modelo ou formatação dessa modalidade contábil que possa ser aplicado com resultados sólidos e concretos. Há várias pesquisas e temas publicados sobre contabilidade ambiental, porém as divergências deixam os gestores e os contadores em estado de espera para verificar o que irá acontecer e assim direcionar alguma ação sobre o assunto. Há um desconhecimento metodológico por parte dos legisladores de como mensurar corretamente os valores de exaustão, prevenção e aplicação das contas ambientais junto à estrutura de contabilidade convencional. 5 BENEFICIAMENO DE ARROZ NA REGIÃO DO EXTREMO SUL DE SANTA CATARINA 8 A região do extremo sul catarinense caracteriza-se economicamente pela diversidade empresarial e organizacional. Dependente por mais de cinco décadas das atividades vinculadas à extração e beneficiamento do carvão mineral, os setores de cerâmica de revestimento, material de transporte, metal-mecânico, serviços do setor mecânico, plásticos, vestuário e químico (tintas, vernizes e solventes) são os impulsionadores do setor industrial e da economia regional. Além destes, se destacam na indústria a cerâmica vermelha, a produção calçadista e a agroindustrial; no setor primário, a rizicultura e a avicultura. E no setor terciário ou de serviços sobressaem organizações de educação superior; as pertencentes ao sistema financeiro e bancário; supermercados, sendo que diversos de projeção estadual têm sede na região; e todo o conjunto de demais organizações de variada natureza (GOULARTI-FILHO, 1995, 2003, 2007). A região do extremo sul catarinense que é dividido em duas microrregiões a AMESC (Associação dos Municípios do Extremo Sul de Santa Catarina) e a AMREC (Associação dos Municípios da Região Carbonífera). A primeira microrregião é composta por 13 municípios, com uma área total de 29.470 ha, sendo que deste total, 2.837 km² é considerado área rural (IBGE, 2010). A segunda região possui 11 municípios, com o total de 26.406 ha, destes 28,04% corresponde a zona rural. Na Tabela 3 observam-se os municípios integrantes da microrregião AMESC com seus municípios, número de habitantes, área total e área plantada com arroz respectivamente. As mesmas variáveis podem ser observadas na tabela 4 para a microrregião da AMERC. Tabela 3: Municípios pertencentes a AMESC com suas respectivas populações, Área Territorial, Área plantada com arroz e seu percentual no ano de 2010 Município / Dados Araranguá Balneário Arroio do Silva Balneário Gaivota Ermo Jacinto Machado Maracajá Meleiro Morro Grande Passo de Torres Praia Grande Santa Rosa do Sul São João do Sul Sombrio Timbé do Sul População (Habitantes) 61.310,00 9.586,00 8.234,00 2.050,00 10.609,00 6.404,00 7.000,00 2.890,00 6.627,00 7.267,00 8.054,00 7.002,00 26.613,00 5.308,00 Área Territorial (ha) 3.039 946 1.475 639 4.208 634 1.866 2.564 952 2.706 1.514 1.827 1.428 3.336 Área Plantada de Arroz (ha) 45 0 0 31 66 15 92 32 7 33 8 40 15 22 % de área plantada em relação a área total do município 1,48 0,00 0,00 4,85 1,58 2,37 4,93 1,23 0,68 1,22 0,53 2,19 1,05 0,64 9 Turvo TOTAL 11.854,00 2.337 90 3,85 180.808,00 29.470,33 494,8 1,68 Fonte: IBGE, 2010 Tabela 4: Municípios pertencentes a AMREC com suas respectivas populações, Área Territorial, Área plantada com arroz e seu percentual no ano de 2010 Município / Dados População (Habitantes) Cocal do Sul Criciúma Forquilhinha Içara Lauro Muller Morro da Fumaça Nova Veneza Orleans Siderópolis Treviso Urussanga TOTAL 15.159 192.308 22.548 58.833 14.367 16.126 13.309 21.393 12.998 3.527 20.223 390.791 Área Territorial (ha) 712 2.356 1.819 2.941 2.705 829 2.935 5.498 2.627 1.577 2.405 26.406 Área Plantada (Arroz com Casca) (ha) 1,70 2,90 98,00 23,50 0,05 3,26 77,50 0,08 0,98 0,10 0,48 209 % de área plantada em relação a área total do município 0,24 0,12 5,39 0,80 0,00 0,39 2,64 0,00 0,04 0,01 0,02 0,79 Fonte: IBGE, 2010 A Tabela 3 e 4 demonstra os municípios pertencentes a AMESC e AMREC e o cultivo do arroz na região e a inserção econômica. Verifica-se assim, que as atividades desenvolvidas são na maioria rural, trata-se de em sua maioria de uma agricultura familiar no qual cada membro da família colabora com as atividades realizadas no cultivo da terra. 5.1 BENEFICIAMENTO DE ARROZ Importante fonte de sustento e alimentação para as pessoas, o arroz está presente em todos os continentes, seja no cultivo, como na mesa do consumidor. No processo entre a plantação, o beneficiamento e o consumo do arroz, tal grão destaca-se no cenário econômico e social de diversas famílias. Além do Rio Grande do Sul o Estado de Santa Catarina merece destaque pelo alto índice de indústrias beneficiadoras de arroz, cuja capacidade industrial é de 1,35 milhões de toneladas, sendo que toda a sua produção é beneficiada e havendo assim, a necessidade de se importar arroz de outros Estados, principalmente o Rio Grande do Sul. Deste beneficiamento, 90% é direcionado ao arroz parboilizado e o restante em arroz branco. A maior parte destes produtos, cerca de 70% tem como destino os mercados paulistas e paranaenses e 10 principalmente o Nordeste brasileiro, além de parte ter como destino o Paraguai. (EMBRAPA, 2009) Santa Catarina sendo o segundo estado com maior produtividade de arroz irrigado da região Sul – e também do Brasil –, estando atrás apenas do Rio Grande do Sul. Em 2010, o estado catarinense produziu 1.041.587 toneladas de arroz (9,2% da produção nacional), em uma área de 150.473 km2 (5,4% da área de cultivo de arroz no Brasil). Além disso, cabe ressaltar que, de acordo com a CEPA e a EPAGRI, ao contrário do Rio Grande do Sul, onde há uma maior concentração de grandes produtores, 64% da produção de arroz de Santa Catarina é oriunda da agricultura familiar (CEPA, 2012). De acordo com a Bragantini e Vieira (2004), o beneficiamento do arroz tradicional, não parboilizado, se inicia com a separação da casca do resto do grão, para a obtenção do arroz branco para o consumo. E o processo de beneficiamento do arroz compreende as seguintes etapas: limpeza; descascamento; separação pela câmara de palha; separação de marinheiro; brunição; homogeneização e classificação: a) Limpeza Depois de ter passado pelo processo de pré-limpeza e secagem, o arroz em casca deve sofrer uma limpeza, para que sejam eliminadas as impurezas mais grossas que que porventura ainda estejam misturadas com ele, como talos da planta, palha do arroz, torrão de terra, pedras, pedaços de saco de juta, estopas, entre outros. b) Descascamento Nesta etapa do beneficiamento, o arroz é descascado por dois roletes de borracha que funcionam em direções opostas e com velocidades diferentes, retirando o grão de arroz do interior da casca. c) Separação pela câmara de palha A câmara de palha é uma máquina que separa, através de sistema pneumático, o arroz inteiro do arroz mal granado ou verde, da casca e de seus derivados. 11 Cabe ressaltar que, dentre os subprodutos do beneficiamento, a casca representa o maior volume, atingindo, em média, 22%. d) Separação de marinheiro Nesta fase utiliza-se uma máquina para separar o arroz descascado do arroz que deixou de ser descascado pela câmara de palha, também conhecido como marinheiro. e) Brunição Nesta etapa, o arroz já descascado, integral, é lixado por máquinas compostas por pedras abrasivas que retiram o farelo de arroz e separam o arroz branco. f) Homogeneização Complementando o processo de brunição do arroz, momento em que uma máquina retira o farelo de arroz que ainda permanece aderido ao grão. A máquina que realiza esta operação utiliza a pulverização de água e ar. g) Classificação Nesta etapa, o arroz passa por máquinas que separam os grãos inteiros, de valor comercial mais alto, dos ¾ e ½ grãos, que possuem valor comercial mais baixo, e dos demais subprodutos que serão utilizados pela indústria cervejeira e de ração animal. 6 ESTRUTURA DA CONTABILIDADE AMBIENTAL COMO MEIO DE DEMONSTRAR A GESTÃO AMBIENTAL A partir da nova estrutura do plano de contas e do balanço patrimonial, observa-se que a contabilidade poderia ser responsável pela comunicação entre a organização e a sociedade, e 12 também evidenciar nos demonstrativos contábeis as medidas adotadas e os resultados alcançados no processo de preservação do meio ambiente. A demonstração desses investimentos pode minimizar possíveis agressões ao meio ambiente, apresentando nos relatórios seus ativos e passivos ambientais. Na Figura 1, a contabilidade ambiental pode ser um meio de demonstrar a gestão ambiental a partir do momento em que evidencia as transações ambientais efetuadas na organização. Por isso, é importante desenvolver uma estrutura que permita incluir contas da contabilidade ambiental em contas nacionais. Figura 1: Estrutura da contabilidade tradicional e da contabilidade ambiental CONTABILIDADE TRADICIONAL BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO Ativo Financeiro Circulante Financeiro Estoques PERMANENTE Permanente Financeiro Imobilizado Financeiro PASSIVO Passivo Financeiro Circulante Financeiro PATRIMÔNIO LÍQUIDO Patrimônio Líquido Financeiro Capital Social Reservas de capital DRE Despesas Despesas financeiras Despesas operacionais Custos de produtos/serviços Receitas Receitas operacionais Receitas financeiras Receitas de prestação de serviço CONTABILIDADE AMBIENTAL DRE BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO Ativo Financeiro Circulante Financeiro Estoques Ativo ambiental Circulante ambiental Estoque Ambiental PERMANENTE Permanente Financeiro Imobilizado Financeiro Permanente Ambiental Imobilizado Ambiental Equipamento Ambiental Máquinas Ambientais Diferido Ambiental PASSIVO Passivo Financeiro Circulante Financeiro Passivo ambiental Financiamentos ambientais Empréstimos ambientais PATRIMÔNIO LÍQUIDO Patrimônio Líquido Financeiro Capital Social Reservas de capital Patrimônio Líquido ambiental Reservas p/ Preservação do Meio Ambiente Despesas Despesas financeiras Despesas operacionais Custos de produtos/serviços Despesa ambiental Despesa c/ núcleo gestão ambiental Despesa c/ preservação ambiental Despesa com RPPN Receitas Receitas operacionais Receitas financeiras Receitas de prestação de serviço Receita ambiental Receita de recuperações ambientais Balanço Patrimonial e DRE Fonte: elaborado pela autora Com a reclassificação das contas tradicionais e evidenciando as contas ambientais, a organização possui informações claras e transparentes da variável ambiental. 7 ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA DE CAMPO 13 A seguir os resultados e a interpretação da pesquisa exploratória, quando foi apresentado o modelo do balanço patrimonial ambiental aos entrevistados, para conhecer a viabilidade de aplicar a contabilidade ambiental pelas indústrias de arroz. No Quadro 3, apresenta a transcrição dos respondentes da entrevista, conforme a percepção dos entrevistados. A primeira indústria a ser entrevistada será identificada como Indústria 1, e assim sucessivamente até completar as 17 indústrias respondentes da entrevista. Quadro 3: Síntese dos resultados da entrevista Indústria A indústria, embora praticando a gestão ambiental, não utiliza a contabilidade ambiental para este fim. Por quê? 1 Não vê necessidade; não é obrigatório. Não vê necessidade; não é obrigatório. 2 Na sua visão, a contabilidade ambiental traria algum benefício para aumentar a competitividade da sua organização seja evidenciado no Balanço Patrimonial ou nas Notas Explicativas? Não Sim 3 Não há obrigatoriedade. Sim 4 5 Falta de conhecimento Não há obrigatoriedade. Não Sim 6 Não há obrigatoriedade e as empresa ainda não necessitam que seja separada. Porque há dificuldade na mensuração dos elementos de ativo e passivo ambiental. Porque há pouco investimento na área ambiental e acha não ser necessário separar. Sim Não vê necessidade por ser uma empresa de pequeno porte. Não há obrigatoriedade Não há obrigatoriedade Tendo o controle gerencial não vê necessidade implementar e também por não ser obrigatório. Não tem necessidade. Não aplica por questões de adequação. Sim, para mostrar que a empresa está comprometida (preocupada) com o meio ambiente. Não Não Não 7 8 9 10 11 12 13 14 Você acredita que o modelo de balanço patrimonial apresentado poderia ser aplicado na sua organização? Quais as dificuldades e facilidades para aplicá-lo? Sim, não vê dificuldades Aplicaria. Facilidade: melhora da informação para gestão. Dificuldade: Adaptação do sistema. Aplicaria. Acha interessante para controle gerencial, não vê dificuldades. Sim. Não vê dificuldades. Aplicaria. Não vê dificuldades pois já tem controles só precisa criar as contas. Aplicaria. Não vê dificuldades. Sim Aplicaria. Dificuldades: mensurar o que é do ambiental. Dependeria do investimento feito na área. Poderia aplicar. Mas acha não ser necessário pelo pouco investimento na área ambiental e por não ser uma obrigação contábil. Aplicaria. A médio e a longo prazo. Não Sim Aplicaria. Não vê dificuldades. Aplicaria. Não vê dificuldades. Aplicaria. É necessário apenas tempo para implantação. Aplicaria. Não vê dificuldades. Aplicaria. Não tem dificuldades pelo fato de já terem os valores mensurados. 14 15 16 17 Não aplica devido o tamanho da organização não exigir controle rigoroso. Não há obrigatoriedade. Acredita que não implica. Aplicaria. Dificuldade: mensurar os valores. Sim Não utiliza. Até o momento não havíamos nos preocupado em medir estes valores separadamente para análise. Apenas são adotadas as práticas. Entendemos que a contabilidade não influenciaria na competitividade, pois estes números não são divulgados por sermos empresa de capital fechado. O que influencia são as atitudes ou o que realmente é feito e dai sim pode ser explorado. Acha interessante, consegue imaginar o imobilizado separado, mas vê dificuldade em separar o ativo. O modelo poderia ser aplicado. Não existem maiores dificuldades para isso, pois apenas criando novo centro de custos e algumas contas específicas, teríamos este modelo. Fonte: dados da pesquisa Descreve-se a seguir, a análise dos resultados da entrevista, conforme a percepção dos respondentes das dezessete indústrias de beneficiamento de arroz. Pergunta 1: A indústria, embora praticando a gestão ambiental, não utiliza a contabilidade ambiental para este fim. Por quê? Do total dos respondentes, 76,47% afirmam que não aplicam a contabilidade ambiental porque a legislação não o obriga a evidenciar os fatos e eventos ambientais e 23,53% em virtude da falta de conhecimento e dificuldade de mensuração. Pergunta 2: Na sua percepção, o Balanço Patrimonial da contabilidade ambiental traria algum benefício para aumentar a competitividade da sua indústria? Como resposta obteve-se 47,06 % das indústrias que acredita que a contabilidade ambiental poderia aumentar a competitividade da indústria, pois mostra que a indústria está comprometida com o meio ambiente contra os 47,06% que não acredita que aumentaria a competitividade da indústria e 5,88% afirma que dependeria do investimento feito na área. Pergunta 3: Você acredita que o modelo de balanço patrimonial apresentado poderia ser aplicado na sua indústria? Quais as dificuldades e facilidades para aplicá-lo? Dentre os respondentes, 100% afirmaram que o modelo de balanço patrimonial apresentado poderia ser aplicado na indústria. Não teriam grandes dificuldades, porque já existem controles dos gastos ambientais. Porém, seria necessário reestruturar e criar novas contas no plano de contas. 8 DISCUSSÃO 15 Os resultados apontam que as organizações não costumam separar os fatos e os eventos contábeis ambientais das contas tradicionais, fato constatado na revisão de literatura. Em decorrência disso, a pesquisa demonstra que há uma falta de clareza e de conhecimentos sobre a aplicação da contabilidade ambiental. Existem muitas dúvidas e pouco interesse em implementar essa modalidade contábil nas organizações quando afirmam que não existe a obrigatoriedade em aplicar a contabilidade ambiental nas organizações. Este resultado de pesquisa vai de encontro com as pesquisas de Bebbington & Gray (2001), quando afirma que a contabilidade ambiental muitas vezes não é cumprida devido à falta de aplicação prática dos problemas e resistência dos gestores. As informações e disponibilidade de dados contábeis necessitam de informações completas dos impactos ambientais, necessita de dados e estimativas adequadas e confiáveis da utilização não intencional da informação ambiental. As tensões entre os interesses do negócio e habituais constrangimentos de gestores e as agendas de sustentabilidade ambiental de pesquisadores tem levado à resistência por parte dos gestores em divulgar as informações ambientais na contabilidade da organização. 9 CONCLUSÃO A partir das investigações iniciais realizadas no âmbito desta pesquisa, destaca-se que a contabilidade nas organizações não poderia ficar limitada à escrituração e mensuração quantitativas de patrimônio. É importante que esse tema esteja presente em estudos científicos e em aplicações práticas nas organizações a fim de criar estruturas contábeis eficazes com informações ambientais úteis para a gestão organizacional. Considera-se ainda que os desafios associados à gestão ambiental, vindos das demandas da sociedade, têm exigido que as organizações sejam conscientes de sua obrigação no cuidado com o uso dos recursos naturais, de forma a assegurar que esses recursos estejam disponíveis para futuras gerações. Tais desafios ainda estabelecem a necessidade de as organizações atenderem aos requisitos da gestão ambiental e da participação ativa do profissional contábil em prol do desenvolvimento sustentável. Com o melhor gerenciamento das contas ambientais e a conscientização por parte das pessoas envolvidas na organização, o meio ambiente só tem a ganhar. É por meio de atitudes eficientes de eliminação de resíduos e emissões de partículas e gases que impactam o meio em que se vive que se consegue minimizar os impactos negativos sobre a utilização dos recursos naturais de forma responsável, contribuindo para um futuro sustentável. 16 Pode-se afirmar que o principal desafio para implantar processos de gestão ambiental é a necessidade de se buscarem métodos e maneiras capazes de medir e propor mudanças na atual contabilidade, inserindo-se contas ambientais para compor uma contabilidade que contemple os fatos e os eventos ambientais. Nessa direção, entende-se que a contabilidade ambiental possui potencial para auxiliar os gestores na tarefa de gerar informação ambiental. Basicamente, ela pode demonstrar os gastos com o controle ambiental e evidenciar de forma transparente e fidedigna, por meio de relatórios contábeis, a gestão ambiental da organização, podendo ser aplicada como instrumento de subsídio para o processo de planejamento e de tomada de decisão. As organizações necessitam de uma estrutura contábil para demonstrar que não agridem o meio ambiente, por meio de reconhecimento, divulgação e evidenciação das despesas com preservação e controle da proteção ambiental. Observa-se, no entanto, que várias organizações desconhecem os benefícios da utilização da contabilidade ambiental e que ainda há muito para se fazer e investigar nesse tema. Conclui-se, portanto, que é imprescindível a união entre organizações, contabilistas e universidades no intuito de aprofundar o entendimento sobre a importância da aplicação e da utilidade da contabilidade ambiental nas organizações. REFERÊNCIAS ANTONIUS, P.A.J. 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