HydroTac®,
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HydroTac®,
20 I SUPLEMENTO MAIO.11 HydroTac®, a solução final para o processo cicatricial SAMPAIO R., AZEVEDO M., SIMÕES L. OBJECTIVO O presente artigo tem como objectivo avaliar as características do HydroTac®, enquanto promotor do processo cicatricial em feridas com pouco ou moderado exsudado que se encontrem na fase proliferativa do processo cicatricial. Serão também avaliadas as características do HydroTac® na perspectiva dos utilizadores. INTRODUÇÃO Desde 1962, com o trabalho publicado por GeorgeWinter que a maior parte das questões contemporâneas sobre a cicatrização têm servido de base para inúmeros trabalhos sobre evidência, prática e forma de as operacionalizar, no contexto do tratamento de feridas. Modelos de abordagem como por exemplo o conceito TIME (Schultz et al., 2003), têm sido utilizados e complementados ao longo dos últimos anos, por uma necessidade crescente de conseguir responder aos problemas inerentes ao processo cicatricial que tanto impacto têm nos doentes e nas estruturas que os recebem. Ainda assim e mesmo após o trabalho de Winter, algumas questões se levantam, por exemplo relativamente à comum utilização de gaze nos tratamentos (Jones, 2006). Uma miríade de artigos, difíceis de citar pela sua quantidade, referem a necessidade de eliminar tecido inviável, controlar a infecção e resposta inflamatória, gerir o exsudado mediante a sua quantidade e qualidade, bem como a promoção da epitelização. Estes artigos enfatizam os problemas que podem ocorrer caso algum destes tópicos seja descurado. A utilização de apósitos semi oclusivos aparentam trazer vantagens para a cicatrização no que respeita à gestão do exsudado. A utilização destes apósitos, que mantêm o ambiente húmido é importante para a proliferação de tecidos e migração epidérmica, retendo o exsudado, prevenindo a desidratação dos tecidos potenciando a migração de agentes pró inflamatórios para a ferida (Falanga, 1988, Thomas, 1997). No entanto, é necessário distinguir o exsudado produzido pelas feridas agudas e crónicas. Enquanto que benéfico nas feridas agudas, fazendo parte do processo normal de cicatrização, promovendo a proliferação e a migração celular, bem como o aporte nutricional para o metabolismo celular e também como adjuvante para o processo autolítico fisiológico, nas feridas crónicas o exsudado tem um efeito negativo. Nas feridas crónicas, este exsudado pode levar à degradação da matriz extracelular e à inibição de factores de crescimento responsáveis por vários processos, por exemplo a proliferação e migração celular (Schultz et al., 2003). O papel que os apósitos têm que desempenhar será o de garantir que o leito da ferida está suficientemente húmido para que a cicatrização aconteça, mas que não leve aos problemas normalmente decorrentes do seu excesso, tais como a maceração da pele perilesional. Estes deverão ser escolhidos tendo em consideração uma série de factores como os apresentados na tabela 1 (Dowsett, 2008). METODOLOGIA Para este estudo observacional, foram seleccionados 16 participantes durante Agosto e Setembro de 2010, observados em contexto de cuida- dos de saúde primários e prática privada, mediante conveniência. Os critérios de inclusão eram apenas relativos ao estádio da ferida no processo cicatricial, sendo obrigatória a ausência de tecido necrótico, estando a lesão em fase proliferativa. A presença de infecção era também critério de exclusão. Foi obtido consentimento dos participantes para a análise dos dados referentes ao tratamento. As variáveis em estudo, para além dos dados demográficos foram as seguintes: • Etiologia da lesão • Tipo de tecido presente • Dor • Facilidade de aplicação • Facilidade de remoção • Estado da pele perilesional •Avaliação do apósito pelos participantes Os dados das avaliações foram introduzidos e analisados recorrendo a uma plataforma denominada SurveyGizmo®, que permite a análise estatística descritiva dos dados. O APÓSITO EM ESTUDO: HYDROTAC® HydroTac® é um novo apósito, co- mercializado pela HARTMANN, composto por uma película semipermeável de poliuretano, uma espuma hidrocelular e uma camada capaz de fornecer humidade à lesão (tecnologia Aquaclear®). Dada a sua constituição tem como principais características: • Permeabilidade ao vapor • Retenção de humidade em feridas moderadamente exsudativas • Libertação de humidade em feridas pouco exsudativas • Auto-aderência inicial para mais fácil colocação do apósito • Não aderência ao leito da lesão no momento da substituição • Redução de dor • Respeito à pele perilesional A utilização do HydroTac® deve ser direccionada para feridas em fase proliferativa, em que se pretende a promoção do crescimento de tecido de granulação e migração epitelial. A utilização do HydroTac® em feridas infectadas não está de todo aconselhada, devido a não ser um apósito com características antimicrobianas. Apesar de poder ser utilizado em Tabela 1. Factores a considerar na escolha de um apósito para a gestão do exsudado • Absorve e retém o exsudado • Clinicamente eficaz • Previne o repasse excessivo e maceração • Boa relação custo eficácia • Reduz a dor • Não requer mudanças muito frequentes • Conformável e confortável • Fácil de aplicar e remover • Aceitação pelo doente • Disponível transversalmente nos cuidados de saúde Adaptado de: DOWSETT, C. (2008) Exudate management: a patient-centred approach. J Wound Care, 17, 249-52. SUPLEMENTO I MAIO.11 21 Gráfico 3 - Tipo de tecido no inicio e final do tratamento Grafico 1 - Distribuíção por etiologia Gráfico 2 - Diminuição da dor antes e depois da colocação do HydroTac® feridas com alguma percentagem de tecido inviável, a utilização de HydroTac® deve ser ponderada uma vez que existem alternativas mais eficazes para a sua remoção como por exemplo TenderWet 24 active® (necroses secas ou fibrina) ou PermaFoam® (fibrina). RESULTADOS Características dos doentes: Sete (43,8%) homens e nove (56,3%) mulheres foram tratados, apresentando em média uma idade de 59,5 anos (com idade mínima de 28 e máxima de 78). Estes doentes foram incluídos por apresentarem lesões cujas indicações de tratamento tópico correspondiam às características do HydroTac®. Não foram tidos em consideração os tratamentos que teriam sido prestados anteriormente, uma vez que não eram relevantes para a questão em estudo. Durante o período de estudo não foram registadas desistências do tratamento ou eventos adversos. Dos doentes tratados salientam-se 6 diferentes etiologias para as lesões conforme apresentado no gráfico 1. No que respeita à avaliação da dor, notou-se uma diminuição após a aplicação do HydroTac®, conforme gráfico 2. Inicialmente foi reportado um nível de dor médio em todos os casos de 4,75 antes da aplicação do apósito, sendo reduzido para 2,31 imediatamente após a sua colocação. Avaliaram-se as características da lesão antes do inicio do tratamento e no final do tratamento, cujos resultados estão presentes no gráfico 3. Notou-se uma evolução favorável das lesões, existindo uma diminuição do tecido de granulação, dando lugar a novo tecido epitelial. A opinião relativamente ao HydroTac® emitida pelos profissionais e doentes é visível nos gráficos 4 e 5. Em todas as dimensões, HydroTac® foi avaliado como sendo muito bom ou bom. Os doentes avaliaram também o apósito, na grande maioria como sendo muito bom ou bom, com apenas um a mencionar que o apósito era aceitável quanto à facilidade de remoção. DISCUSSÃO Este estudo observacional, mostrou que HydroTac® suportou o tratamento, promovendo a epitelização na fase final do processo cicatricial. Uma vez que se tra- Gráfico 4 - Opinião HydroTac® (Profissionais) Gráfico 5 - Opinião HydroTac® (Doentes) ta de um estudo não randomizado, não comparativo de cariz observacional ele apenas nos fornece informação sobre a performance do apósito e sua tolerabilidade. Apesar de não ser suficiente para provar inquestionavelmente a eficácia de HydroTac® ele mostra-nos o que podemos esperar deste apósito quando utilizado tendo em consideração a função que lhe é atribuída. Os resultados obtidos são consistentes com os resultados de outros estudos mais alargados (Kaspar, 2010). Sabemos por inúmeros estudos publicados que o ambiente húmido contro- lado encoraja a granulação e epitelização. HydroTac® segue na mesma linha de resultados precisamente por apresentar reunidas as condições para garantir que exista uma regulação de humidade no leito da lesão. Simultaneamente observou-se uma redução da dor aquando da colocação do apósito, corroborando a informação de que a utilização de apósitos com hidrogel diminuem a dor, especialmente durante a aplicação/mudança de apósitos (Ayello et al., 2004, King, 2003). Um dos problemas levantados com a utilização de hidrogel no tratamento 22 I SUPLEMENTO MAIO.11 Caso 1 - Paciente com 46 anos de idade, sem antecendentes significativos. Lesão provocada por traumatismo a 18 de Agosto sendo visível processo inflamatório com colecção de líquido purulento a dia 20 de Agosto. A 23 de Agosto, iniciou-se tratamento com HydroTac®, já com a ferida limpa, sem sinais inflamatórios e sem tecido inviável. Três dias após o inicio do tratamento observa-se uma redução da área da lesão, apresentando tecido epitelial na periferia. Doze dias depois a ferida estava praticamente encerrada, tendo sido esta a última visita do doente. Caso 2 - Paciente com 76 anos de idade, com antecedentes de hipertensão arterial e insuficiência venosa dos membros inferiores. Apresentou lesão a 29 de Agosto iniciando tratamento com HydroTac® simultaneamente com ligaduras de curta tracção PutterFlex®. No primeiro tratamento após o início do estudo a ferida apresentava exsudado moderado, conforme imagem. Utilizaram-se apenas 2 apósitos HydroTac®. Quatro dias após o início do tratamento, a ferida apresentava uma redução significativa no tamanho e presença generalizada de tecido epitelial. de feridas é o da possível maceração das margens da ferida, sendo especulado que tal poderá acontecer devido a um excesso de proteases, mesmo entrando a ferida numa fase de epitelização (Zoellner et al., 2007). Uma vez que HydroTac® possuíiuma espuma de poliuretano associada, qualquer exsudação excessiva será absorvida, diminuindo os problemas que poderiam advir, mantendo os benefícios da camada de hidrogel (Aquaclear®) na proliferação e migração celular. A facilidade de aplicação e fixação do HydroTac® foi salientada pelos utilizadores que referiram ser uma característica muito positiva no sentido em que ajuda no momento da realização do tratamento. Este estudo tem limitações que claramente necessitam de ser identificadas, nomeadamente o tamanho da amostragem, ainda relativamente pequeno para ser expressivo; a falta de critérios de inclusão/exclusão e também a não randomização da amostra. Inquestionavelmente um estudo controlado randomi- zado seria a forma de reduzir vieses podendo até ser estabelecida uma comparação entre as várias possibilidades de tratamento de feridas no estádio de proliferação/epitelização. CONCLUSÃO Este trabalho permitiu uma observação das características de HydroTac® num contexto de prática diária, praticamente inalterada pelas imposições de um estudo mais complexo. Pelos resultados obtidos e pelos estudos prévios HydroTac® revela-se mais uma vez como uma opção para o tratamento de feridas em fase de granulação/epitelização com quantidades baixas ou moderadas de exsudado. HydroTac® combina as características de controlo da dor, manutenção da humidade e promoção da epitelização com a facilidade de aplicação e conforto de utilização. Os resultados obtidos neste trabalho consolidam ainda mais os resultados do estudo efectuado com HydroTac® em 270 pacientes com ferida crónica (Kaspar, 2010). referências bibliográficas AYELLO, E. A., DOWSETT, C., SCHULTZ, G. S., SIBBALD, R. G., FALANGA, V., HARDING, K., ROMANELLI, M., STACEY, M., L, T. E. & VANSCHEIDT, W. (2004) TIME heals all wounds. Nursing, 34, 36-41; quiz, 41-2. DOWSETT, C. (2008) Exudate management: a patient-centred approach. J Wound Care,17, 249-52. FALANGA, V. (1988) Occlusive wound dressings. Why, when, which? Arch Dermatol, 124, 872-7. JONES,V. J. (2006) The use of gauze: will it ever change? Int Wound J, 3, 79-86. KASPAR, D. (2010) Estudo de Observação de 270 pacientes HydroTac induz o ambiente ideal para as fases de granulação e epitelização no processo cicatricial Heide- nheim, Paul Hartmann. KING, B. (2003) A review of research investigating pain and wound care. J Wound Care, 12, 219-23. SCHULTZ, G. S., SIBBALD, R. G., FALANGA, V., AYELLO, E. A., DOWSETT, C., HARDING, K., ROMANELLI, M., STACEY, M. C., TEOT, L. & VANSCHEIDT, W. (2003) Wound bed preparation: a systematic approach to wound management. Wound Repair Regen, 11 Suppl 1, S1-28. THOMAS, S. (1997) Assessment and management of wound exudate. J Wound Care, 6, 327-30. ZOELLNER, P., KAPP, H. & SMOLA, H. (2007) Clinical performance of a hydrogel dressing in chronic wounds: a prospective observational study. J Wound Care, 16, 133-6 Artigo não sujeito a peer-review