(IFFSC) - Resultados Resumidos

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(IFFSC) - Resultados Resumidos
O Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC) tem
como objetivo gerar uma sólida base de dados para fundamentar políticas
públicas que visem a efetiva proteção das florestas nativas mediante a adoção
de medidas de conservação, recuperação e utilização dos recursos florestais,
além de um planejamento territorial adequado.
O inventário foi realizado pela Universidade Regional de Blumenau
(FURB), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Empresa de
Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), com
recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina
(FAPESC) e do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) no período entre 2007 e
2011 e teve como objetivos específicos:
- Caracterizar a composição florística e estrutura dos
remanescentes florestais por meio de um inventário sistemático
e detalhado;
- Caracterizar a diversidade e estrutura genética de populações
de espécies ameaçadas empregando marcadores alozímicos;
- Realizar um levantamento socioambiental por meio de
entrevistas, focado nos usos tradicionais dos recursos florestais e
na percepção da população rural;
- Criar uma estrutura que permita a todas as pessoas o acesso às
informações obtidas através do uso da internet.
www.iff.sc.gov.br
© Alexander Christian Vibrans, Lucia Sevegnani, André L. de Gasper, Juarez J. V.
Müller, Maurício Sedrez dos Reis
Vibrans, A.C., Sevegnani, L., Lingner, D.V., Gasper, A.L. & Sabbagh, S. 2010.
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC): aspectos metodológicos
e operacionais. Pesquisa Florestal Brasileira 30 (64): 291-302.
Vibrans, A. C., Sevegnani, L., Uhlmann, A., Schorn, L. A., Sobral, M., DE Gasper,
A.L., Lingner, D.V., et al. 2011. Structure of mixed ombrophyllous forests with
Araucaria angustifolia (Araucariaceae) under external stress in Southern Brazil.
Revista de Biologia Tropical 59(3): 1371-1387.
Vibrans, A.C.; McRoberts, R.E.; Moser, P.; Nicoletti, A. 2013. Using satellite
image-based maps and ground inventory data to estimate the remaining Atlantic
forest in the Brazilian state of Santa Catarina. Remote Sensing of Environment
130: 87-95.
Diagramação: Nenno Silva
Resultados Resumidos
Impressão: Gráfica e Editora 3 de Maio Ltda
Distribuição: Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
Fone: (47) 3221-6040
Correio eletrônico: [email protected]
Internet: www.iff.sc.gov.br
Alexander C. Vibrans, Lucia Sevegnani,
André L. de Gasper, Juarez J. V. Müller,
Maurício Sedrez dos Reis
Ficha Catalográfica elaborada pela
Biblioteca Central da FURB
I62i
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina : resultados resumidos /
Alexander C. Vibrans ... [et al.]. - Blumenau : Universidade Regional de Blumenau, 2013.
37 p. : il.
ISBN 978-85-64138-20-9
Bibliografia: p. 36-37.
1. Florestas – Santa Catarina. 3. Mapeamento florestal. 4. Levantamento florestal.
I. Vibrans, Alexander Christian.
Blumenau 2013
CDD 634.9
37
Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
Introdução
O inventário florestal é o processo de obtenção de dados qualitativos e
quantitativos dos recursos florestais de um estado, região ou país. Estes dados
são necessários para a gestão adequada das florestas, seu manejo e conservação
e também para ajudar no planejamento regional e na tomada de decisões
estratégicas nos diversos níveis administrativos. A necessidade da realização
de um inventário florestal em Santa Catarina foi motivada pelas Resoluções
nº 278/2001 e nº 309/2002 do CONAMA, que vincularam autorizações para
corte e exploração de espécies ameaçadas de extinção, constantes da lista
oficial do IBAMA, em populações naturais no bioma Mata Atlântica, à
elaboração de “critérios técnicos, baseados em inventário florestal que garantam
a sustentabilidade da exploração e a conservação genética das populações”.
O objetivo do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina é conhecer a
quantidade e a qualidade das florestas que ainda existem no nosso estado, saber
qual é seu estado de conservação ou degradação, conhecer a distribuição e o
potencial das diversas espécies de árvores, inclusive a caracterização genética
das espécies raras e ameaçadas de extinção, para fundamentar políticas públicas
para o uso do solo e para a conservação dos recursos naturais. Compõem os
objetivos específicos do IFFSC:
•
a identificação e coleta de dados de todas as árvores, arbustos,
ervas e epífitas nas Unidades Amostrais que compõem o inventário
terrestre propriamente dito;
•
o levantamento da estrutura genética de populações de espécies
ameaçadas;
•
o levantamento da importância socioambiental e cultural dos
recursos florestais nativos.
•
a criação de sistemas que permitam a todas as pessoas o acesso
às informações através do uso da internet.
Nesse documento são apresentados, de forma resumida, os resultados até
o momento alcançados.
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
Cobertura florestal
Os levantamentos florísticos e estruturais do IFFSC foram realizados em
todo o território do estado mediante a implantação de 440 Unidades Amostrais
(UA) com área de 4.000m² cada uma, das quais 421 localizadas sistematicamente
em áreas de florestas na interseção de uma grade com distância de 10 x 10km
na Floresta Ombrófila Mista (FOM) e Densa (FOD) e de 5 x 5km na Floresta
Estacional Decidual (FED), além de 19 em unidades de conservação. Árvores
localizadas fora das florestas foram avaliadas por meio de 157 Unidades Amostrais
numa grade de 20 x 20km.
Mapa fitogeográfico de Santa Catarina (Klein 1978).
Unidades Amostrais (UA) implantadas pelo IFFSC por região fitoecológica.
UA nas Grades de
10 x 10km e 5 x 5km
UA Extras
Total
de UA
Floresta Estacional Decidual
78
1
79
Floresta Ombrófila Mista
143
12
155
Floresta Ombrófila Densa
197
5
202
3
1
4
421
19
440
Restinga
Total geral
2
3
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Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
Estimativa das variáveis dendrométricas para as árvores vivas em cada região fitoecológica de
Santa Catarina. FED = Floresta Estacional Decidual; FOM = Floresta Ombrófila Mista; FOD =
Floresta Ombrófila Densa.
Região fitoecológica
Variável
FED
FOM
FOD
DAP (cm)
19,55 ± 0,74
20,42 ± 0,60
18,13 ± 0,32
Altura do fuste (m)
4,97 ± 0,20
4,98 ± 0,21
5,57 ± 0,15
10,00 ± 0,46
9,08 ± 0,40
10,6 ± 0,22
422,37 ± 31,57
559,87 ± 42,39
629,44 ± 27,12
Área basal total (m².ha )
18,30 ± 1,58
24,76 ± 2,17
21,72 ± 1,13
Nº de espécies
38,37 ± 2,02
36,62 ± 1,86
59,12 ± 2,07
Volume do fuste c/ casca (m³.ha-1)
77,75 ± 10,11
97,13 ± 8,66
92,78 ± 7,60
Peso seco (Mg.ha )
125,66 ± 13,47
131,05 ± 10,71
127,00 ± 8,52
62,83 ± 6,73
65,53 ± 5,35
63,50 ± 4,26
Altura total (m)
Nº de indivíduos (ind.ha )
-1
-1
-1
Localização das 440 Unidades Amostrais implantadas pelo IFFSC.
Estoque de carbono (Mg.ha )
-1
Os resultados mostram que a cobertura florestal remanescente em Santa
Catarina é de aproximadamente 29%, considerando formações florestais com
mais de 10m de altura e 15 anos de idade. Estas são as florestas detectáveis pelos
sensores dos satélites Landsat e Spot, que geraram as imagens utilizadas. Na
Floresta Estacional Decidual (FED) do Oeste catarinense a cobertura florestal
soma aproximadamente 16%, nas florestas com pinheiros do Planalto (Floresta
Ombrófila Mista – FOM) 24% e na Floresta Ombrófila Densa (FOD), também
chamada Floresta Pluvial Atlântica, entre a Serra Geral, a Serra do Mar e a costa, os
remanescentes somam 40% (Vibrans et. al 2013). Além destas, vegetação pioneira
e formações florestais em estádio inicial de regeneração foram encontradas em
outros 3 a 4% do território catarinense.
Variáveis dendrométricas
Na tabela a seguir constam os valores das variáveis dendrométricas
estimadas a partir da amostragem realizada, com os respectivos intervalos de
confiança para um nível de probabilidade de 95%.
Composição e estrutura dos remanescentes
Foram registrados entre 2007 e 2011, durante os 4 anos de trabalho de
campo, 2.341 espécies de plantas vasculares, entre as quais 860 espécies arbóreas
e arbustivas, 560 epífitos, 270 lianas, 315 pteridófitas (samambaias), além de 707
ervas terrícolas. O IFFSC registrou 50% de todas as espécies citadas por Stehmann
et al. (2009) para a Floresta Ombrófila Mista brasileira, 33,9% das espécies citadas
para a Floresta Ombrófila Densa, bem como 69,7% das espécies citadas para a
Floresta Estacional Decidual1. No entanto, é alarmante a drástica redução da
biodiversidade de espécies arbóreas constatada através da comparação com os
levantamentos realizados há 50 anos pelos botânicos Raulino Reitz e Roberto
Miguel Klein, publicados na Flora Ilustrada Catarinense. Um quinto das espécies
arbóreas encontradas entre 1950 e 1970 por Reitz et al. (1979) não foi mais
observado em 2010. Estão entre elas, principalmente, as espécies naturalmente
raras, que sempre ocorreram em pequena quantidade e em poucos locais ou locais
muito restritos; com a redução da área florestal elas estão desaparecendo sob
Estes números estão sujeitos a mudanças na medida que plantas ainda não identificadas forem
analisadas pelos taxonomistas.
1
4
5
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nossos olhos e são ameaçadas de extinção. Além disso, 32% de todas as espécies
arbóreas/arbustivas foram encontradas com menos de 10 indivíduos no estado.
Esta perda de biodiversidade vegetal fica evidente quando observa-se
um por um os remanescentes florestais amostrados pelo IFFSC: na FOM foram
registrados em média apenas 36 espécies lenhosas por remanescente florestal, na
FED 38 e na FOD 58. No estrato da regeneração que representa, de certa forma,
o futuro da floresta, a situação encontrada é ainda mais preocupante: na FOM
foram observadas em média somente 14 espécies por remanescente florestal, na
FED 15 e na FOD 57 espécies regenerantes e de sub-bosque. Quando observase, quais são as espécies que ocorrem com maior número de indivíduos, com
os maiores diâmetros e de forma mais constante nas florestas e, desta forma,
dominam a vegetação, constata-se que entre as dez espécies dominantes na FOM
encontram-se oito espécies pioneiras e secundárias, na FOD sete destas categorias,
enquanto que na FED todas são tidas como pioneiras (três) e secundárias (sete);
isto quer dizer que há pouquíssimos indivíduos de espécies climácicas entre as
árvores dominantes nas florestas catarinenses. O mesmo quadro mostra também
a composição de espécies da regeneração nas três regiões fitoecológicas. Cabe
ainda ressaltar que Hovenia dulcis Thunb. (tripa-de-galinha ou uva-do-japão), uma
espécie exótica introduzida na década de 1970, ocupa a décima primeira posição
entre as espécies mais importantes na FED.
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
Espécies com maior Valor de Importância (VI) nos remanescentes da Floresta Ombrófila Densa
(FOD), em ordem decrescente de VI.
Nome científico
Nome popular
Categoria ecológica
1
Alchornea triplinervia
Tanheiro
Secundária
2
Alsophila setosa
Xaxim-setoso
Climácica
3
Hieronyma alchorneoides
Licurana
Secundária
4
Psychotria vellosiana
Caixeta
Secundária
5
Cyathea phalerata
Samambaiaçu
Climácica
6
Euterpe edulis
Palmiteiro
Climácica
7
Cabralea canjerana
Canjerana
Secundária
8
Syagrus romanzoffiana
Gerivá
Pioneira
9
Miconia cinnamomifolia
Jacatirão-açu
Secundária
Cafezeiro-do-mato
Secundária
10 Casearia sylvestris
Espécies com maior Valor de Importância (VI) nos remanescentes da Floresta Estacional
Decidual (FED), em ordem decrescente de VI.
Nome científico
Espécies com maior Valor de Importância (VI) nos remanescentes da Floresta Ombrófila Mista
(FOM), em ordem decrescente de VI.
Nome popular
Categoria ecológica
1
Ocotea puberula
Canela-sebo
Secundária
2
Nectandra megapotamica
Canela-fedorenta
Secundária
3
Luehea divaricata
Açoita-cavalo
Secundária
4
Nectandra lanceolata
Canela-amarela,
Secundária
Nome científico
Nome popular
Categoria ecológica
1
Dicksonia sellowiana
Xaxim-bugio
Climácica
2
Araucaria angustifolia
Pinheiro-brasileiro
Pioneira
Clethra scabra
5
Cupania vernalis
Camboatá-vermelho
Secundária
3
Carne-de-vaca
Pioneira/secundária
6
Machaerium stipitatum
Farinha-seca
Secundária
4
Matayba elaeagnoides
Camboatá-branco
Secundária
7
Syagrus romanzoffiana
Gerivá
Pioneira
5
Lithrea brasiliensis
Bugreiro
Secundária
8
Cedrela fissilis
Cedro
Secundária
6
Ocotea porosa
Imbuia
Climácica
9
Casearia sylvestris
Cafezeiro-do-mato
Secundária
7
Ocotea puberula
Canela-sebo
Secundária
10
Parapiptadenia rigida
Angico
Secundária
8
Prunus myrtifolia
Pessegueiro-do-mato
Secundária
9
Ocotea pulchella
Canela-lageana
Pioneira
Vassourão-preto
Pioneira
10 Vernonanthura discolor
6
Em decorrência de sua composição de espécies, menos de 5% das
florestas tem características de florestas maduras, enquanto mais de 95% dos
remanescentes florestais do estado são florestas secundárias, formadas por árvores
jovens de espécies pioneiras e secundárias, com troncos finos e altura de até 15
metros e baixo potencial de uso. Estas florestas têm menos da metade do estoque
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original de madeira e de biomassa e um número muito reduzido de espécies
arbóreas e arbustivas. As constantes intervenções humanas na floresta, como a
exploração indiscriminada de madeira, roçadas e, principalmente no planalto e no
oeste catarinense, o pastoreio de bovinos dentro da floresta, surtiram estes efeitos,
reforçados pelo intensivo uso agrícola nos entornos. Remanescentes pequenos são
muito suscetíveis às influências das atividades desenvolvidas nos entornos, como o
uso do fogo e de pesticidas, além de sofrer com a perda de umidade devido à maior
incidência de vento e sol. Estas formações ainda podem ser dominadas por lianas
que dificultam o seu desenvolvimento, o que ocorre com maior intensidade na
Floresta Estacional Decidual. Pesa, assim, o fato de 90% dos fragmentos florestais
de Santa Catarina terem área menor que 50 hectares. Os efeitos do pequeno
tamanho das áreas florestais e de seu uso inadequado resultam num significativo
empobrecimento da floresta e na simplificação de sua estrutura. Estes fatores, por
sua vez, prejudicam as suas funções protetoras do solo e dos mananciais, bem
como sua função de reservatório de carbono e guardião da biodiversidade.
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
A avaliação da biodiversidade de espécies de árvores, arbustos e epífitos
mostrou que esta é maior em áreas pertencentes a Unidades de Conservação, com
destaque para o Parque Nacional da Serra do Itajaí e o Parque Estadual da Serra
do Tabuleiro. Isto evidencia a importância de áreas protegidas na manutenção da
biodiversidade e da qualidade das florestas do estado.
populações estudadas, em decorrência do processo histórico de superexploração.
Em todos os casos, a divergência entre as populações foi elevada. A divergência
genética, para a maioria dos casos, foi maior dentro de microrregiões do que entre
microrregiões, refletindo os efeitos da fragmentação florestal existente. Os índices
obtidos mostram que a maioria das espécies avaliadas apresenta baixa diversidade
genética em muitas de suas populações, mesmo considerando fragmentos com
populações mais densas. A situação de fragmentação das florestas e redução
do tamanho populacional leva a uma perspectiva de perdas ainda maiores de
diversidade (índices de fixação de alelos elevados) para várias espécies. O
conjunto de resultados reforça as possibilidades de perda de adaptabilidade e
dinamismo populacional, o que traz como consequência, com o passar do tempo
(gerações), grande aumento no risco de extinção local. Os resultados obtidos até
o momento apontam para a necessidade de políticas públicas que favoreçam a
ampliação da conectividade entre fragmentos como principal fator de reversão
da situação de fragilidade em que se encontram as espécies e remanescentes
florestais. O emprego de algumas espécies, como a araucária e o palmiteiro,
por exemplo, para restauração e ampliação de fragmentos e mesmo para plantios
florestais pode favorecer estes processos. Os resultados indicam também que,
apesar das fragilidades, há populações e regiões com reservas de diversidade
potencial elevada, revelando maior adequação para produção de sementes ou
implantação de unidades de conservação.
Diversidade genética
Levantamento Sócioambiental (LSA)
A diversidade genética de 13 espécies foi avaliada empregando marcadores
alozímicos, visando fundamentar estratégias efetivas de conservação. Para tanto,
foram estudadas populações das seguintes espécies: a) FOD – canela-preta (Ocotea
catharinensis), canela-sassafrás (Ocotea odorifera), palmiteiro (Euterpe edulis),
olandim (Calophyllum brasiliensis) e butiá-da-praia (Butia catharinensis); b)
FOM - araucária (Araucaria angustifolia), xaxim (Dicksonia sellowiana), imbuia
(Ocotea porosa), butiá-da-serra (Butia eriospatha) e pinho-bravo (Podocarpus
lambertii); c) FED - cedro (Cedrela fissilis), grápia (Apuleia leiocarpa), cabreúva
(Myrocarpus frondosus) (Figura 3). A variação genética foi caracterizada a partir
das estimativas das frequências alélicas e dos principais índices de estrutura e
diversidade genética.
O Levantamento Socioambiental dos recursos florestais de Santa Catarina,
realizado no período de agosto a dezembro de 2010, buscou identificar as espécies
de plantas nativas mais utilizadas, seus usos atuais e potenciais e sua importância
para a população, do ponto de vista econômico, social e cultural. Com estas
informações é possível identificar as espécies que sofrem maior pressão pelo uso,
em quais regiões, além das percepções e valores que as pessoas atribuem
às nossas florestas. Com base neste conhecimento e combinando com outras
informações levantadas no inventário, como a avaliação da integridade genética
de espécies, a disponibilidade, a estrutura e a qualidade das matas remanescentes,
será possível estabelecer políticas mais adequadas para a gestão de nossas florestas
nativas, utilizando-se de estratégias apropriadas para o manejo, a conservação e a
proteção dos remanescentes florestais.
De uma maneira geral, os resultados indicam grande variação de
diversidade genética potencial em cada uma das espécies e, principalmente,
entre as populações das mesmas. Contudo, os índices de fixação foram, na sua
maioria, elevados, refletindo os efeitos da redução dos tamanhos populacionais nas
8
Para a pesquisa socioambiental sobre o uso dos recursos florestais nativos
foi aplicado um questionário junto a moradores do entorno de 123 Unidades
Amostrais, localizadas em 103 municípios, totalizando 777 entrevistas nas
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diferentes regiões do estado (Figura 3). A seleção desta amostra de parcelas foi
feita por um processo semelhante ao do Inventário Florestal Nacional – IFN, do
Ministério do Meio Ambiente, escolhendo-se os pontos na interseção de uma grade
20 x 20km em todo território catarinense, nos quais haviam cobertura florestal.
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
da família. As vendas de pinhão e de erva-mate foram indicadas como as principais
fontes de renda com produtos florestais nativos.
A grande maioria dos entrevistados (87,6%) possui áreas de floresta
sob sua responsabilidade, quase sempre proprietários das terras. As informações
ambientais são acessadas principalmente por intermédio da televisão e do rádio, e
a internet é o recurso menos utilizado pelos entrevistados.
A quase totalidade dos domicílios (99,4%) tem água encanada proveniente
principalmente de nascentes (69,6%). Poucos entrevistados declararam possuir
cisternas em suas propriedades e praticamente não é feito uso da energia solar para
aquecimento de água nos domicílios.
Usos dos recursos florestais nativos pelos moradores próximos às florestas
Pontos amostrais e número de questionários aplicados no Levantamento Socioambiental
(LSA) por mesorregião em Santa Catarina.
Caracterização dos entrevistados
Foram entrevistadas 777 pessoas, dentre proprietários de florestas nativas,
agricultores e outros moradores que vivem nas comunidades próximas e no entorno
dos 123 pontos amostrais selecionados. Os informantes foram 513 homens e 264
mulheres, com idades entre 15 e 91 anos, prevalecendo as faixas etárias acima
de 40 anos, com mais de 70% das pessoas. A maioria dos entrevistados (58,7%)
cursou somente o ensino primário, sendo que 30% deles não chegaram a finalizar
o ensino fundamental.
As famílias são compostas em média por 3,6 pessoas morando na
unidade familiar e a grande maioria delas possui renda mensal entre 500 e 2.000
reais, tendo em média 2,5 pessoas que recebem remuneração. Apenas 8,4% dos
entrevistados declararam gerar renda pela venda de recursos da floresta, sendo que
para 60% dessas pessoas esse recurso não chega a representar 10% da renda anual
10
A pesquisa contabilizou um total de 328 espécies da flora nativa
de Santa Catarina em uso pela população. Além deste conjunto de espécies,
foram mencionadas mais 15 plantas identificadas apenas em nível de gênero, 11
unicamente pela família e 25 apenas pelo nome popular. As espécies entificadas
pertencem a 96 famílias botânicas, com destaque para Fabaceae (37 espécies),
seguida de Myrtaceae (33 espécies) e Lauraceae (24 espécies). Do total de
espécies identificadas, 176 possuem uso madeireiro e 274 uso não madeireiro.
Apenas 22,6% das espécies foram citadas tanto para uso madeireiro quanto não
madeireiro.
Do total de entrevistados apenas 15% declararam não fazer uso nem
esporádico de plantas e produtos da flora nativa. Os que utilizam mencionaram em
média 4,3 espécies em uso e mais de 20% dos entrevistados apontaram o uso de
mais de dez espécies pela família.
Dentre as trinta espécies mais citadas, quinze foram para uso alimentício,
oito para uso medicinal e sete foram para uso madeireiro (para construção e/ou fins
energéticos). A araucária foi a espécie mais citada, lembrada por 27,7% das pessoas
entrevistas, com diversos usos: madeira, energia, medicinal e principalmente, pelo
uso alimentício do pinhão. Outras espécies também foram citadas como sendo
aproveitas para mais de uma finalidade, com destaque para a guabiroba, a pitanga,
o angico e o tarumã.
Considerando-se as diversas categorias de uso das espécies, destaca-se
o aproveitamento alimentício, com um total de 1.748 citações, o uso medicinal
pelo maior número de espécies diferentes mencionadas e o uso para energia com
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o maior percentual de entrevistados que declararam utilizar espécies nativas para
este fim (Fig. 2).
Das 87 espécies citadas para uso alimentício as mais frequentemente
utilizadas são a araucária pelo uso do pinhão por 26,6% dos entrevistados,
a guabiroba e a pitanga, com 24,5% e 21,2% das pessoas entrevistadas,
respectivamente, declarantes de fazerem uso de seus frutos.
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
Outra espécie bastante destacada como promissora foi a araucária, com
indicações para o plantio comercial visando a produção de madeira e também a
possibilidade de ampliação da cadeia produtiva do pinhão e de desenvolvimento
de produtos diferenciados utilizando a semente como matéria-prima.
Também como fonte de produção de madeira foi evidenciada o potencial
do cedro-rosa, da bracatinga, do louro-pardo e do jacatirão. Para estas espécies,
além da indicação do manejo em áreas naturais, foram realçados os potenciais
de plantios para produção de madeira serrada ou de uso múltiplo, no caso da
bracatinga. O plantio em consórcio foi bastante destacado.
O jerivá (ornamental), a goiaba-serrana (alimentícia), a erva-mate (uso
múltiplo) e a balieira (bioativa) complementam a lista das dez espécies da flora
nativa catarinense mais citada pelos seu potencial de uso futuro.
Conclusões do LSA
Número de citações, número de espécies nativas declaradas em uso pelos 777 entrevistados e
porcentagem de usuários de acordo com as categorias de uso.
Espécies indicadas como de uso potencial
Nas entrevistas com especialistas, buscou-se identificar as espécies com
maior potencial de uso futuro, segundo o conhecimento das pessoas entrevistadas
e as perspectivas que vislumbravam para as espécies citadas.
O palmiteiro foi citado como espécie promissora para melhor
aproveitamento econômico futuro por 24% dos especialistas entrevistados. Os
potenciais de aproveitamento mais lembrados foram o processamento da polpa
do fruto e, em menor grau, a produção do palmito, sendo fortemente indicada a
possibilidade de planto comercial da espécie.
12
Embora seja grande o número de espécies de plantas nativas em uso pela
população catarinense, o aproveitamento destes recursos está restrito a apenas uma
parcela da população rural e a poucos usos e fortemente associado ao consumo
doméstico das famílias. O uso mais frequente é o da lenha para cozimento dos
alimentos e aquecimento das residências rurais. O consumo alimentar de frutas
silvestres e o uso de plantas medicinais, embora sejam citadas muitas espécies em
uso, são de importância restrita e ocorrem de forma esporádica pela população
rural.
O aproveitamento econômico dos produtos florestais é bastante limitado.
São poucos os relatos de extração de madeira para comercialização, limitando-se
a algumas situações de venda de lenha e de carvão vegetal. Dentre os produtos
não madeireiros apenas as sementes de pinhão e as folhas da erva-mate são
comercializados regularmente e possuem expressão econômica e importância
social para as pessoas que coletam e extraem estes produtos das florestas.
Alguns fatores podem estar contribuindo para a perda de importância
socioeconômica dos recursos florestais nativos. Em primeiro lugar, a baixa
cobertura florestal de algumas regiões de Santa Catarina, restrita a poucos e
pequenos fragmentos, faz com que a capacidade de retirada de produtos seja
limitada, devido ao reduzido o estoque de recursos disponíveis.
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Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
O desmatamento, a perda de seus habitat naturais e a histórica sobreexploração de plantas como a araucária, o palmiteiro, o cedro-rosa, a imbuia e
a canela-preta são fontes de pressão elencadas pelos entrevistados que poderá
comprometer o futuro destas espécies.
RESULTADOS POR REGIÃO FITOECOLÓGICA
A ampliação das restrições legais ao consumo de produtos florestais
nativos, estabelecida ao longo do tempo, tem inibido sua retirada e, muitas vezes, os
proprietários destes recursos tem pouco conhecimento das possibilidades legais de
seu uso, o que tem restringido ainda mais eventuais iniciativas de aproveitamento.
Foram implantadas, medidas e analisadas 79 Unidades Amostrais (das
quais 78 pertencentes à grade de 5 x 5km) no período entre novembro de 2008
e junho de 2009. Os remanescentes florestais são menores e mais fragmentados
do que nas demais regiões fitoecológicas de Santa Catarina. Nenhuma floresta
madura foi amostrada, todos os fragmentos analisados encontram-se em sucessão
secundária, em estádio médio ou avançado; muitas vezes encontram-se isolados por
extensas áreas agrícolas ou pastoris; além disso foram constatadas frequentemente
ações degradadoras como pastoreio, exploração seletiva ou corte raso dentro da
floresta, impactando certamente muito mais profundamente os ecossistemas do
que é possível avaliar no momento. Os resultados apresentados referem-se às 78
Unidades Amostrais da grade sistemática.
Consequentemente, observa-se uma crescente perda de costume das
populações rurais de realizarem coleta e extração de produtos das florestas
nativas, com consequente erosão dos conhecimentos etnobotânicos e crescente
distanciamento dos agricultores em relação às florestas existentes em suas
propriedades.
As populações que vivem no entorno dos fragmentos florestais
reconhecem a importância das florestas no fornecimento de serviços ambientais e
são conscientes quanto à necessidade de preservar as funções básicas da cobertura
florestal. No entanto, para muitos agricultores o desejo de ampliar as atividades
agropecuárias pressiona os remanescentes florestais, considerados de pouca
utilidade econômica.
Os resultados e constatações desta pesquisa mostram a necessidade
urgente de que sejam formuladas políticas públicas mais apropriadas à conservação
da cobertura florestal nativa de Santa Catarina, que possibilitem revalorizar os
remanescentes florestais existentes, estabelecendo novas bases e formas mais
sustentáveis de relacionamento entre os proprietários rurais e suas florestas.
14
Floresta Estacional Decidual
Foram encontradas, em média e com um intervalo de confiança para uma
probabilidade de 95%, 460 ± 31,6 árvores.ha-1 com DAP > 10cm e área basal total
média de 18,3 ± 1,58m².ha-1.
Ao todo foram registradas 477 espécies de árvores, arbustos, ervas
terrícolas e epífitas, além de lianas, pertencentes a 104 famílias e 303 gêneros de
samambaias, angiospermas e gimnospermas (estas com apenas uma espécie). Este
elevado número de espécies (predominantemente florestais) corresponde a 69,7%
das listadas por Stehmann et al. (2009) para toda a Floresta Estacional Decidual do
bioma Mata Atlântica no Brasil.
Das 236 espécies arbóreas e arbustivas amostradas nas Unidades
Amostrais do IFFSC, 207 estavam presentes no estrato arbóreo, com DAP ≥ 10cm,
e 162 presentes no componente de regeneração (altura ≥ 1,5m e DAP <10cm),
destas muitas ocorrem em ambas as sinúsias. As dez espécies com maior valor
de importância para a FED são: Ocotea puberula, Nectandra megapotamica,
Luehea divaricata, Nectandra lanceolata, Cupania vernalis, Machaerium
stipitatum, Syagrus romanzoffiana, Cedrela fissilis, Parapiptadenia rigida e
Casearia sylvestris. Estas espécies são generalistas em termos de exigências de
sítio, todas com caráter pioneiro ou secundário inicial, beneficiadas pela abertura
de clareiras e comuns nas bordas de florestas. Portanto, fragmentos com pequena
área, explorados e com estradas em seu interior apresentam condições ideais
para o desenvolvimento destas espécies.
15
Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
O número de espécies por Unidade Amostral variou de 14 a 60 no estrato
arbóreo, com valor médio de 38 e apenas 19 unidades tiveram diversidade razoável
de espécies arbóreas, com 45 ou mais espécies. Considerando as regenerantes e
espécies de sub-bosque, a média é de apenas 15 espécies por Unidade Amostral,
variando de 4 a 32. É extremamente preocupante o fato de 13 UA (17% do total)
terem menos de dez espécies, e apenas duas Unidades Amostrais (2,5%!!) 30 ou
mais espécies neste estrato da floresta.
diminuindo assim o número de sinúsias presentes no remanescente florestal. Em
muitos casos constata-se ‘sucessão secundária regressiva’, descrita por Richards
(1996), isto é um permanente processo de degradação e empobrecimento da
vegetação, devido à ação constante de fatores de degradação, que impedem que
a vegetação avance e passe para estádios de sucessão mais complexos; ao invés
disto, ela permanece no seu estado degradado ou até regride para estádios cada vez
mais simplificados e degradados.
Cabe destacar que Apuleia leiocarpa (grápia) não se encontra entre
as espécies com maior valor de importância destas florestas. Isso se deve ao
intenso processo de sua exploração, seguida de redução drástica no tamanho e na
conectividade com outros remanescentes que afetaram intensamente esta espécie.
Sua regeneração natural está presente em poucos fragmentos, com apenas quatro
indivíduos em duas Unidades Amostrais.
A ação do gado sobre a floresta, presente em 36,3% dos fragmentos
estudados, é extremamente danosa. No Oeste, assim como no Planalto Catarinense
é hábito dos pecuaristas ampliarem as áreas de pastagens através da roçada do
sub-bosque das florestas, as quais no inverno servem como abrigo para o gado,
denominadas popularmente de ‘invernadas’. A busca de abrigo sob a floresta
evidencia também a falta de conjuntos de árvores permeando as pastagens e que
possam amenizar o calor e a radiação durante o dia e o frio e os ventos durante a
noite.
Nenhuma floresta madura (“primária”) foi amostrada, todos os 78
fragmentos analisados encontram-se em sucessão secundária, 48 em estádio
médio e 30 em estádio avançado de regeneração; muitas vezes, remanescentes
encontram-se isoladas por extensas áreas agrícolas ou pastoris; além disso,
fatores degradadores como pastoreio, exploração seletiva ou corte raso dentro da
floresta foram constatados frequentemente, impactando certamente muito mais
profundamente do que é possível avaliar no momento.
Os fatores externos aos remanescentes que têm modificado as condições
e os recursos na borda e no interior dos fragmentos são: o corte seletivo atual ou
histórico de espécies arbóreas, em 60% dos fragmentos, o pastejo pelo gado em
36%, a presença de estradas (41%), a roçada do sub-bosque (12%) e a presença de
espécies exóticas, principalmente de Hovenia dulcis, em 43%. O uso intensivo de
agrotóxicos e de fertilizantes na agricultura circundante dos pequenos fragmentos
florestais deve modificar ou destruir as teias de interações, comprometendo
os fluxos de matéria e energia nos ecossistemas naturais. Apenas 20 Unidades
Amostrais (25%) tinham na proximidade outro remanescente florestal nem sempre
com grande tamanho ou bem conservado.
Na maior parte dos fragmentos ocorre a combinação de dois ou mais
fatores de alteração (41,25%). A sinergia dos fatores degradadores afeta a estrutura
de tamanhos dos indivíduos que compõem o fragmento, causa redução no número
de espécies e provoca abertura e até mesmo a eliminação do dossel; causa
exclusão e redução das espécies exclusivas de sub-bosque (sinúsias dos micro
e nanofanerófitos - arbustos), dos caméfitos (ervas), favorecendo lianas (cipós
e trepadeiras) e espécies invasoras ou as anteriormente citadas especialistas em
áreas degradadas. A roçada do sub-bosque e o pastejo subtraem indivíduos jovens,
16
Outro grave fator de impacto sobre a vegetação e a flora é a roçada do subbosque das florestas e demais estádios sucessionais, ocasionando forte redução
do número de indivíduos e de espécies arbóreo-arbustivas e aumentando o de
lianas. Esse fator degradante, aliado ao pastejo, também resulta em rarefação e
simplificação da vegetação, presença somente de adultos, sub-bosque ausente, ou
seja, vegetação vazia de sua essência, induzindo sucessão ecológica regressiva.
A espécie Hovenia dulcis (uva-do-japão) foi encontrada com 337
indivíduos com DAP >10cm em 34 das 79 Unidades Amostrais (43%), mas apenas
em 4 UA na regeneração e num total de 10 indivíduos regenerantes. A espécie
compõe uma nova fisionomia da vegetação e provoca aumento da área basal
dos remanescentes. Ela, no entanto é espécie invasora, contaminante biológica e
tem forte interação com a fauna autóctone fornecendo néctar e pólen aos insetos
polinizadores e pseudofrutos apreciados pelos animais, o que favorece a sua
dispersão. Além desta foram encontradas apenas as espécies exóticas Persea
americana (presente em 2 UA), Morus nigra (1 UA) e Tipuana tipu (1 UA), além
das espécies herbáceas Cirsium vulgare, Elephantopus mollis, Leonurus japonicus,
Lilium regale, Pennisetum latifolium e Torilis arvensis.
A restrição do tamanho populacional de Apuleia leiocarpa, Cordia
trichotoma, Parapiptadenia rigida, Balfourodendron riedelianum, Diatenopteryx
sorbifolia, entre outras, demonstra, de modo contundente, o estado degradado da
vegetação e a ameaça às espécies. O corte seletivo efetuado pelos proprietários
rurais exige urgente política pública de incentivo aos proprietários que ainda
17
Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
possuem em suas propriedades remanescentes florestais biodiversos, contendo
espécies ameaçadas ou características desta fitofisionomia.
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
Número de populações avaliadas e índices médios de diversidade (com respectivos desvios
padrão entre populações) para três espécies estudadas no âmbito da Floresta Estacional Decidual
no estado de Santa Catarina.
Núm.
Pop. *
Locos
polimórficos
P (%)**
HeteroziAlelos Diverpor
sidade
gosidade
loco Genética Observada
Ho
A***
He
Índice
Fixação
F
Divergência
genética
FST
Apuleia
leiocarpa
9
75 (10)
2,44
(0,23)
0,325
(0,035)
0,255
(0,032)
0,218
(0,108)
0,064*
Cedrela
fissilis
9
82 (10)
2,63
(0,25)
0,241
(0,036)
0,190
(0,040)
0,215
(0,098)
0,035
Myrocarpus
frondosus
9
80 (6)
2,27
(0,22)
0,296
(0,050)
0,259
(0,061)
0,128
(0,148)
0,195*
Levantamento genético
Espécie
Foram amostradas três espécies, procurando-se contemplar ao menos três
populações por microrregião na área de ocorrência da espécie: Apuleia leiocarpa,
Cedrela fissilis e Myrocarpus frondosus. Os resultados indicaram comportamentos
com uma tendência semelhante em termos de alta perda de diversidade nas
populações (índice de fixação elevado). Estes resultados podem ser relacionados
aos processos históricos de uso como a superexploração, expansão das fronteiras
agrícolas com redução da área de cobertura florestal e fragmentação dos
remanescentes. Tais processos produzem redução dos tamanhos populacionais
e redução do fluxo gênico entre populações, produzindo isolamento e perda de
diversidade em nível local.
*Número de populações amostradas; **Porcentagem de locos polimórficos; ***Número médio
de alelos por loco
Em termos médios, as três espécies apresentam valores elevados para a
diversidade genética (0,325; 0,241; 0,296), o que demonstra o potencial destas
espécies em manter a variação genética a longo prazo. Entretanto as médias dos
valores para o índice de fixação foram também elevadas, além de variáveis entre as
populações. Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontra a maior
parte das populações das três espécies, mas também indicam que há populações
em situação favorável em termos de conservação. A divergência entre populações
foi também elevada apenas para a cabreúva, indicando existirem diferenças
importantes entre as populações do estado e, portanto, para esta espécie, uma
maior relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação.
Contudo, a situação de elevado grau de fragmentação em que se encontram os
remanescentes da FED, aliado ao grande número de hidroelétricas existentes ou
previstas, reforça a urgência de ações de conservação para a região.
Os resultados também permitem a indicação de áreas prioritárias para
conservação e/ou coleta de sementes para enriquecimento, restauração ou plantios
comerciais, bem como indicação de estratégias regionais de conservação.
Pontos amostrais do levantamento da diversidade genética de espécies ameaçadas na
Floresta Estacional Decidual.
18
19
Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
Floresta Ombrófila Mista
Ao todo foram inventariadas 155 Unidades Amostrais (UA) de 4.000m2
cada, para o estudo do componente arbóreo (DAP ≥ 10cm), das quais 143 na
grade de 10 x 10km. A regeneração (plantas com altura maior que 1,5m e DAP
< 10cm), foi avaliada em 148 UA, nas demais estava ausente. A partir deste
conjunto de informações foi possível evidenciar a composição das espécies, a
estrutura e o estado de conservação dessa floresta de Santa Catarina (Vibrans et
al. 2010). Os resultados apresentados referem-se às 143 Unidades Amostrais da
grade sistemática.
Foram encontradas, em média e com um intervalo de confiança para uma
probabilidade de 95%, 560 ± 42,4 árvores.ha-1 com DAP >10cm, somando área
basal média de 24,7 ± 2,2 m².ha-1.
Foram registradas 1.107 espécies de plantas vasculares, sendo 181
samambaias, três gimnospermas e 922 angiospermas, estas distribuídas em 138
famílias e 502 gêneros, representando 50% das espécies citadas por Stehmann et
al. (2009) para toda a Floresta Ombrófila Mista no Brasil.
A família com a maior riqueza específica foi Asteraceae (com 119
espécies), Myrtaceae (88), Fabaceae (58), Solanaceae (52), Melastomataceae (43),
Lauraceae (39), Orchidaceae (37), Rubiaceae (32), Polypodiaceae (29), Poaceae
(28), Piperaceae (23), Cyperaceae (23), Dryopteridaceae (21), Pteridaceae (21) e
Aspleniaceae (17). Neste conjunto quatro famílias são samambaias e as demais são
angiospermas. Entre as famílias restantes 39 apresentaram somente uma espécie e
outras 31 tiveram duas espécies registradas.
Os gêneros com maior número de espécies foram Solanum (com 31),
Baccharis (27), Eugenia (23), Ocotea (21), Myrcia (19), Leandra (18), Asplenium
(17), Myrceugenia (15), Peperomia (15), Thelypteris (16), Miconia (12), Blechnum
(11) e Tibouchina (10). O grande número de espécies de Asteraceae e Solanaceae
chama atenção e pode ser explicado pelo estado de degradação dos remanescentes
da Floresta Ombrófila Mista, que beneficia espécies de caráter pioneiro e leva a
sua ampla e abundante distribuição em Santa Catarina.
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
O número de espécies arbóreas por Unidade Amostral variou de 8 a
57, com valor médio de 36 espécies no estrato arbóreo; 35 Unidades Amostrais
tiveram 45 ou mais espécies com diâmetro (DAP) maior ou igual a 10cm, valor
indicando uma boa diversidade do estrato arbóreo. No entanto, 108 Unidades
Amostrais tiveram número de espécies inferiores a 45, representando florestas
degradadas e empobrecidas de espécies mais exigentes em relação à qualidade
do sítio e estado de conservação da vegetação. Na regeneração o quadro é mais
preocupante ainda: em média foram encontradas apenas 14 espécies regenerantes
ou de sub-bosque; em seis Unidades Amostrais (4%) não foi encontrada nenhuma
regeneração; 47 Unidades Amostrais (33%) mostraram uma a nove espécies e
apenas sete remanescentes (5%) apresentaram 30 ou mais espécies na regeneração.
Entre as espécies do componente arbóreo, 64% (237 espécies) foram
encontradas também entre os regenerantes, mas muitas foram encontradas em
apenas um destes componentes, sendo exclusivas do arbóreo 111 espécies e
do das regenerantes e do sub-bosque 84 espécies. O grande número de espécies
do componente arbóreo não encontrado no componente das regenerantes é
preocupante, pois estas espécies estariam sem indivíduos jovens na comunidade
estudada, colocando em risco a sucessão da floresta.
Ficaram evidentes durante a execução do levantamento o pequeno
tamanho dos fragmentos de floresta, a grande distância entre os remanescentes
florestais bem conservados e o consequente isolamento desses pela agricultura,
povoamentos de Pinus e Eucalyptus e pastagens.
Pouquíssimos remanescentes de floresta madura foram amostrados, todos
os fragmentos analisados encontram-se em sucessão secundária; muitas vezes,
remanescentes encontram-se isoladas por extensas áreas agrícolas ou pastoris. Os
fragmentos amostrados localizados em altitudes abaixo de 1.200 m encontram-se ou
em estádio médio (64 remanescentes) ou avançado (59) de regeneração, todos com
alterações provocadas pelas ações humanas. Dos remanescentes situados acima de
1.200m de altitude, sete encontram-se em estádio médio (alterado) de regeneração,
doze em estádio avançado (alterado), enquanto apenas um remanescente foi
encontrado coberto por vegetação primária com poucas perturbações.
Reitz et al. (1979) citam 198 espécies arbóreas para o planalto catarinense,
destas, 157 foram amostradas pelo inventário no componente arbóreo-arbustivo,
enquanto outras 41 não foram encontradas pelo IFFSC. Constam da Lista das
Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção (MMA 2008) apenas
Araucaria angustifolia, Ocotea odorifera e O. porosa, além de Dicksonia
sellowiana.
Pode-se afirmar que todos os remanescentes florestais estudados
apresentaram alterações na sua estrutura de tamanhos e composição florística e
possivelmente também faunística, ocasionada pelas ações antrópicas diretas ou
indiretas. As ações antrópicas são intensivas e extensivas, variando apenas em
intensidade de local para local, nas suas características e história, mas com certeza
impactando muito mais profundamente os ecossistemas do que pode ser avaliado
através do inventário florestal.
20
21
Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
Os remanescentes estudados, apesar de estarem inseridos na Floresta
Ombrófila Mista, ou seja, sob um clima que favorece a ocorrência de florestas,
apresentam-se, muitas vezes, como ‘florestas vazias’ ampliando o sentido dado
para essa expressão, apresentado por Redford (1992) e Fernandez (2005) quando
esses se referiram à falta de fauna. No presente caso, consistem de ecossistemas
simplificados e desestruturados também em relação à flora e à estrutura da
vegetação.
Os fatores externos que modificam as condições e os recursos na
borda e no interior dos fragmentos são: a agricultura, a pecuária e as plantações
florestais, especialmente Pinus e Eucalyptus. Entre as espécies beneficiadas
pelas alterações antrópicas encontram-se: Araucaria angustifolia (pinheiro-doparaná), Lithrea brasiliensis (bugreiro), a Mimosa scabrella (bracatinga), os Ilex
spp. (erva-mate, congonha e caúnas), Sebastiania commersoniana (branquilho),
Drimys brasiliensis (casca-d’anta), Casearia decandra (guaçatonga), Sapium
glandulosum (leiteiro), Campomanesia xanthocarpa (guabiroba), Nectandra
megapotamica (canela-fedida), Ocotea puberula (canela-guaica), Clethra scabra
(carne-de-vaca), Vernonanthura discolor (vassourão-preto), Prunus myrtifolia
(pessegueiro-do-mato), Styrax leprosus, Piptocarpha angustifolia (vassourãobranco), Zanthoxylum rhoifolium (mamica-de-cadela) e os taquarais (Merostachys
spp.) e carás (Chusquea spp.).
Espécies exóticas, eventualmente beneficiadas pela abertura do dossel
dos remanescentes e por cultivos na vizinhança, foram encontradas apenas
esporadicamente e aparentam não representar uma ameaça à diversidade e estrutura
dos remanescentes da FOM. Foram encontradas Hovenia dulcis, observada em 8
UA (5,6%, com poucos indivíduos na regeneração), Pinus spp. (presente em 5 UA,
sem regeneração), Morus nigra (1 UA) e Eriobotrya japonica, (1 UA), além das
espécies herbáceas Calyptocarpus biaristatus, Cirsium vulgare, Condylocarpon
isthmicum, Crocosmia crocosmiiflora, Digitaria fuscescens, Elephantopus mollis,
Eragrostis pilosa, Eulophia alta, Foeniculum vulgare, Galinsoga parviflora,
Holcus lanatus, Lactuca serriola, Lactuca virosa, Leonurus japonicus, Lonicera
japonica, Paulownia tomentosa, Peltastes peltatus, Physalis peruviana, Potentilla
indica, Prunella vulgaris, Raphanus sativus, Tipuana tipu, Ulex europaeus e
Xanthium strumarium.
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
dos remanescentes, foi encontrado o manejo de Ilex paraguariensis, atividade
silvicultural importante do ponto de vista econômico e cultural. A intensidade
do manejo da espécie é variável e merece orientação técnica para sua melhor
condução, visando produtividade e conservação.
Na maior parte dos fragmentos ocorre a combinação de dois ou mais
fatores de alteração. A sinergia dos fatores degradadores afeta a estrutura de
tamanhos dos indivíduos que compõem o fragmento, causa redução no número
de espécies, provoca abertura e até mesmo a eliminação do dossel, exclusão
e redução das espécies exclusivas de sub-bosque (incluídas ervas, cipós e
trepadeiras), favorecimento da entrada de espécies invasoras ou especialistas em
áreas degradadas e ambientes abertos. A roçada do sub-bosque e o pastejo subtraem
indivíduos jovens, diminuem o número de sinúsias presentes no remanescente
florestal, comprometendo sua manutenção; em muitos casos constata-se sucessão
secundária regressiva (Richards 1996), devido à ação permanente dos fatores de
degradação citados.
Ressalta-se aqui a necessidade de serem resguardados e mantidos os
sistemas tradicionais de uso da terra, como caívas e faxinais, que têm contribuído
historicamente com manutenção de cobertura florestal e com a valorização
dos remanescentes florestais em pequenas propriedades rurais relacionadas à
agricultura familiar.
Pelo estado geral dos fragmentos florestais, seu isolamento, seus fatores
de degradação persistentes e por sua estrutura alterada, pode-se afirmar que a
Floresta Ombrófila Mista no Planalto de Santa Catarina encontra-se ameaçada.
O mesmo se verifica nas manchas florestais que permeiam os campos naturais
(Estepe Ombrófila), necessitando fortes medidas de conservação e rigor no manejo
dos estádios sucessionais. A substituição da floresta ou seus estádios sucessionais
por plantações de Pinus e Eucalyptus, por agricultura e por pastagens deve ser
impedida com a intensificação da fiscalização, aliadas às medidas de incentivo
financeiro aos proprietários que conservam as florestas.
Das espécies ameaçadas de extinção
No interior dos fragmentos, registrou-se a roçada de sub-bosque em 23,8%
dos remanescentes, o corte seletivo em 76,9% e o pastejo em 65,0%, entre outras
ações. Estas ações são frequentes e extensivas, variando em intensidade de local
para local, impactando, certamente, muito mais profundamente os ecossistemas
do que pode ser avaliado através do presente inventário da vegetação. Em 12%
O xaxim-mono (Dicksonia sellowiana), espécie na lista das ameaçadas
de extinção (MMA 2008), foi encontrado em 94 dos 147 remanescentes avaliados
e em cerca de metade deles com alta densidade, sempre associado às áreas com
solo úmido e com maiores altitudes. Em 34,4% das Unidades Amostrais essa
espécie aparece entre aquelas com maior índice de valor de importância, índice
obtido através da soma de densidade, frequência e dominância relativas. O xaxim,
22
23
Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
em geral, ocorre de forma agrupada formando densos aglomerados, muitas vezes
associado com Weinmannia paullinifolia (gramimunha), mas dificultando o
desenvolvimento de outras espécies. Devido aos altos valores de área basal
dos indivíduos e seus brotamentos D. sellowiana provocou elevados valores da
área basal nas Unidades Amostrais. Casos de exploração dessa espécie foram
observados em algumas Unidades Amostrais.
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
em situação de menor fragilidade. A espécie mostrou também poucos locos
polimórficos indicando fixação de alelos de baixa frequência. A divergência entre
populações foi também intermediária, indicando existirem diferenças importantes
entre as populações ao longo do estado e, portanto, a relevância de se considerar
várias populações em ações para a conservação.
Araucaria angustifolia foi encontrada nos remanescentes amostrados
com indivíduos jovens, com baixos diâmetros e alturas, não sendo mais a espécie
dominante e emergente descrita por Klein (1960). Constatou-se pequena e esparsa
regeneração natural de Ocotea porosa e de Araucaria angustifolia, em muitos dos
fragmentos, especialmente motivada pela roçada de sub-bosque e mesmo pelo
corte intencional por parte dos proprietários, que percebem essas espécies como
problema.
A baixa ocorrência de plantas jovens dessas espécies no planalto de Santa
Catarina é severa e tem impactos profundos sobre a sua conservação. Ela exige,
de forma urgente, uma política pública de incentivo aos proprietários que possuem
em suas propriedades espécies ameaçadas, em áreas que extrapolem as áreas de
preservação permanentes e de reserva legal de cada propriedade.
Levantamento genético
Foram amostradas cinco espécies, procurando-se contemplar ao menos
três populações por microrregião na área de ocorrência da espécie: Araucaria
angustifolia, Dicksonia sellowiana, Ocotea porosa, Podocarpus lambertii e
Butia eriospatha. Os resultados indicaram comportamentos com uma tendência
semelhante em termos de alta perda de diversidade nas populações (índice de
fixação elevado). Estes resultados podem ser relacionados aos processos históricos
de uso como a superexploração, expansão das fronteiras agrícolas com redução
da área de cobertura florestal e fragmentação dos remanescentes. Tais processos
produzem redução dos tamanhos populacionais e redução do fluxo gênico entre
populações, produzindo isolamento e perda de diversidade em nível local.
Pontos amostrais do levantamento da diversidade genética de espécies ameaçadas na
Floresta Ombrófila Mista.
Araucária (Araucaria angustifolia): Em termos gerais, a espécie apresenta valores
intermediários para a diversidade genética (0,124), entretanto a média dos valores
para o índice de fixação foi bastante elevada para espécie dióica, além de bastante
variável entre as populações. Estes resultados refletem a fragilidade em que se
encontram a maior parte das populações, mas também indicam que há populações
Xaxim (Dicksonia sellowiana): Para esta espécie foram encontradas valores
intermediários para a diversidade genética (0,144), entretanto a média dos valores
para o índice de fixação foi elevada, além de bastante variável entre as populações.
Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontram muitas populações
da espécie, mas também indicam que há populações em situação favorável em
termos de conservação. A divergência entre populações foi extremamente elevada,
indicando existirem diferenças importantes entre as populações ao longo do estado.
Esta divergência pode ser explicada, em parte, pela especificidade de ambiente
ocupado pela espécie, que pode restringir o seu fluxo gênico. O xaxim apresenta
crescimento lento e está muito associado às áreas ciliares, este aspecto demonstra
a importância destas áreas para o estabelecimento de ações de conservação para a
espécie.
24
25
Os resultados também permitem a indicação de áreas prioritárias para
conservação e/ou coleta de sementes para enriquecimento, restauração ou plantios
comerciais, bem como indicação de estratégias regionais de conservação.
Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
Imbuia (Ocotea porosa): A espécie mostra valores elevados para a diversidade
genética (0,271), o que demonstra o potencial da espécie em manter a variação
genética a longo prazo. Entretanto a média dos valores para o índice de fixação foi
bastante elevada, além de variável entre as populações. Estes resultados refletem
a fragilidade em que se encontram a maior parte das populações, mas também
indicam que há populações em situação favorável em termos de conservação. A
divergência entre populações foi também elevada, indicando existirem diferenças
importantes entre as populações do estado e, portanto a relevância de se considerar
várias populações em ações para a conservação.
Pinho-bravo (Podocarpus lambertii): Esta espécie tem uma reduzida diversidade
genética (0,078), a menor encontrada entre as espécies estudadas. Além disso,
apresenta valores médios elevados para o índice de fixação. A espécie mostrou
também poucos locos polimórficos indicando fixação de alelos de baixa frequência.
Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontram a maior parte
das populações. A divergência entre populações foi elevada, indicando existirem
diferenças importantes entre as populações do estado e, portanto a relevância de se
considerar várias populações em ações para a conservação. A espécie necessita de
ações urgentes de conservação, inclusive ex-situ.
Número de populações avaliadas e índices médios de diversidade (com respectivos desvios
padrão entre populações) para cinco espécies estudadas no âmbito da Floresta Ombrófila Mista
no estado de Santa Catarina.
Alelos
por
loco A***
Diversidade
Genética
He
Heterozigosidade
observada
Ho
Índice
Fixação
F
Divergência
genética
FST
Espécie
Núm.
Pop. *
Locos
polimórficos
P (%)**
Araucaria
angustifolia
31
45 (10)
1,77
(0,15)
0,124
(0,026)
0,094
(0,023)
0,243
(0,129)
0,129*
0,144
(0,049)
0,117
(0,058)
0,185
(0,185)
0,439*
Dicksonia
sellowiana
30
65 (14)
2,09
(0,28)
Ocotea
porosa
13
76 (8)
2,25
(0,19)
0,271
(0,045)
0,221
(0,058)
0,188
(0,158)
0,191*
Podocarpus
lambertii
12
48 (8)
1,79
(0,15)
0,078
(0,021)
0,049
(0,022)
0,372
(0,216)
0,216*
Butia
eriospatha
14
37 (13)
1,53
(0,20)
0,111
(0,044)
0,102
(0,040)
0,083
(0,132)
0,363*
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
Butiá (Butia eriospatha): A espécie mostra valores intermediários e variáveis
para a diversidade genética (0,111), além de um valor reduzido para a média do
índice de fixação; contudo, este último foi bastante variável entre as populações. A
espécie mostrou também poucos locos polimórficos indicando fixação de alelos de
baixa frequência. A divergência entre populações foi elevada, indicando existirem
diferenças importantes entre as populações ao longo do estado. Em grande parte
estes resultados podem ser explicados pela forma como as populações estão
estruturadas, formando agrupamentos, mas relativamente isolados. Além disso, a
espécie está sob forte pressão de uso (ornamental) e suas populações praticamente
não apresentam indivíduos jovens, devido a presença de gado. Estes resultados
refletem a fragilidade em que se encontram a maior parte das populações da espécie
e a relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação.
Floresta Ombrófila Densa
O inventário compreendeu o levantamento da vegetação em 202 Unidades
Amostrais de 4.000m2 cada, das quais 197 unidades pertencentes à grade de 10 x 10km.
Em um total de 33 Unidades Amostrais, com área circular de 0,5 ha, tendo raio
de 80m, foi avaliada a presença de epífitos vasculares, incluindo a escalada de no
mínimo oito grandes árvores para o levantamento das espécies com preferência
pelos ambientes de copa. A partir deste conjunto de informações foi possível
evidenciar a composição das espécies, a estrutura e o estado de conservação de
florestas de Santa Catarina. Os resultados apresentados referem-se às 197 Unidades
Amostrais da grade sistemática.
Foram encontradas, em média e com um intervalo de confiança para uma
probabilidade de 95%, 629 ± 27,1 árvores ha-1 com DAP >10cm e a área basal
total média foi de 21,72 ± 1,13m2 ha-1.
Ao todo foram registradas 1.900 espécies de árvores, arbustos, ervas
terrícolas e epífitas, além de lianas, pertencentes a 175 famílias e 714 gêneros
de samambaias, angiospermas e gimnospermas (estas com três espécies). Este
elevado número de espécies (predominantemente florestais) corresponde a 34%
das listadas por Stehmann et al. (2009) para toda a Floresta Ombrófila Densa do
bioma Mata Atlântica no Brasil, destacando Santa Catarina como um hotspot da
biodiversidade.
*Número de populações amostradas; **Porcentagem de locos polimórficos; ***Número médio
de alelos por loco
As dez espécies com maior valor de importância (composto pelo número
de indivíduos amostrados, seus diâmetros e frequência) no componente arbóreo e
arbustivo foram: Alchornea triplinervia (tanheiro), Alsophila setosa (samambaiaaçu), Hieronyma alchorneoides (licurana), Psychotria vellosiana (caxeta), Euterpe
26
27
Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
edulis (palmiteiro) e Cyathea phalerata (samambaia-açu ou xaxim), Cabralea
canjerana (canjerana), Tapirira guianensis (cupiuva), Miconia cinnamomifolia
(jacatirão-açu) e Syagrus romazoffiana (gerivá). As florestas têm abundância
de espécies características de áreas perturbadas pela exploração seletiva ou
resultantes do processo de regeneração, formando conjuntos empobrecidos nos
quais faltam, ou são escassas, as árvores mais exigentes em condições ambientais
características de florestas conservadas, como as Lauraceae (canelas) e Myrtaceae
(guamirins). Alsophila setosa (samambaia-açu) e Cyathea phalerata (samambaiaaçu) são espécies seletivas higrófitas, com preferência por solos úmidos em encostas
de morros ou margens de cursos d’água, em florestas primárias e secundárias
(Klein 1979; Fernandes 1997). Estas espécies, não consideradas importantes
economicamente, podem ter permanecido nas florestas quando estas foram
submetidas ao processo de exploração madeireira desde o início da colonização e,
especialmente, na segunda metade do século XX.
Das 577 espécies arbóreas-arbustivas encontradas, metade foi encontrada
com menos de 10 indivíduos nos 71,29 hectares amostrados; com até dois indivíduos
foram registradas 136 espécies e destas 53 sem indivíduos na regeneração; 91
espécies foram registradas com apenas um indivíduo e destas 41 sem indivíduos
no estrato da regeneração. Conclui-se que estas espécies são muito raras nesta
fitofisionomia, partindo de Martins (1993), que considera rara a espécie com
ocorrência registrada de até um indivíduo por hectare. Baseado nisso, pode-se
perguntar quão raras são estas 91 espécies que ocorrem com um indivíduo a cada
71 hectares, ou as 136 que ocorrem com dois indivíduos em toda a área amostral,
ou as mais de 290 que apresentam menos de 10 espécimes nesta área.
Dentro do grupo das espécies raras há aquelas que, no processo de
evolução da vegetação, resultaram em padrões de baixa densidade e frequência
(como algumas das espécies de Myrtaceae e Lauraceae), e outras que são raras
na vertente atlântica, mas comuns no planalto (Araucaria angustifolia) e oeste
(Holocalyx balansae) de Santa Catarina. As espécies raras são muito vulneráveis
aos eventos de fragmentação ou de supressão das florestas para implantação de
outras atividades e/ou empreendimentos, como agricultura, pecuária, hidrelétricas
e silvicultura de espécies exóticas, uma vez que a retirada da vegetação pode
representar a eliminação dos poucos indivíduos existentes. Considerando apenas
as espécies de Myrtaceae e Lauraceae citadas para Santa Catarina (Forzza et al.
2010), um total de 49 espécies não foram registradas no IFFSC, sendo este mais
um indicativo dos impactos da ação antrópica sobre as florestas do estado.
Destacam-se também as espécies que anteriormente ocorriam em baixa
densidade nas florestas bem conservadas e que, agora, devido à degradação dos
28
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
fragmentos ou à elevada frequência de áreas em regeneração pós-corte raso, são
observadas em grande quantidade, como Hieronyma alchorneoides (licurana),
Miconia cinnamomifolia (jacatirão-açu), Casearia sylvestris (cafezeiro-do-mato)
e Cedrela fissilis (cedro).
De modo oposto, espécies que eram abundantes no passado (Veloso &
Klein 1968 a, b) agora ocorrem em número reduzido: Euterpe edulis (palmiteiro),
Ocotea catharinensis (canela-preta), Sloanea guianensis (laranjeira-do-mato),
entre outras.
Em relação a Euterpe edulis (palmiteiro), os dados levantados pelo IFFSC
nas UAs indicam que sua densidade é extremamente baixa e preocupante, pois
representa uma média de 39,6 (±62,6) indivíduos por hectare no componente
arbóreo e arbustivo, justamente na região da floresta onde sua densidade deveria
atingir valores elevados. Na regeneração, a situação encontrada é ainda pior:
apenas 618,1 (± 641,1) indivíduos por hectare, sendo esperada a presença de
10.000 (!) indivíduos para garantir a perpetuação desta espécie (Reis et al. 1996;
Reis et al. 2000). Vestígios de cortes recentes estavam presentes em 18,8% das áreas
amostradas pelo IFFSC. Os valores registrados estão diretamente relacionados
à exploração histórica e atual desta espécie nos remanescentes florestais, sem a
adoção de técnicas de manejo. Considerando o processo de regeneração natural
da vegetação após distúrbios, sabe-se que o palmiteiro se desenvolve bem em
florestas secundárias, portanto as florestas nos estádios médio e avançado na
vertente litorânea do estado poderiam abrigar centenas de milhares de plantas de
Euterpe edulis.
Quanto aos estádios sucessionais das florestas avaliadas, 93 dos
remanescentes amostrados foram caracterizados como florestas secundárias
sendo 97 delas em estádio médio, 93 em estádio avançado e apenas sete foram
caracterizadas como florestas maduras (primárias). Foram encontrados fortes
argumentos para justificar uma revisão da Resolução CONAMA 04/94 (CONAMA
1994), relativa à definição dos estádios sucessionais, para que se adeque à realidade
atual da Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina Estes dados refletem o
quão recente é a cobertura florestal da vertente atlântica de Santa Catarina. A
floresta presente hoje é secundária em estádio médio a avançado, com simplificação
da estrutura e do conjunto de espécies. Esta floresta é o resultado dos ciclos
econômicos ocorridos na região durante os últimos 200 anos, mas também da
aplicação mais recente de medidas legais que reduziam drasticamente a exploração
das florestas pertencentes ao bioma Mata Atlântica (Decreto Federal 750/1993
e Lei 11.428/2006). Além das normas legais deve ser citada a diversificação da
29
Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
matriz energética industrial e doméstica, anteriormente baseada na lenha, que
contribuiu para o surgimento das florestas secundárias hoje encontradas.
Outro aspecto bastante preocupante é o valor médio da área basal encontrado
nos remanescentes florestais, que é em média de apenas 21,75m2.ha-1 (variando
entre os extremos de 12,74 e 55,28, com coeficiente de variação de 29,8%), que
corresponde a menos da metade dos valores esperados para florestas maduras e bem
conservadas.
Os índices de diversidade de Shannon variaram (entre as UA) de
2,01 a 4,2, com mediana de 3,40. O número de espécies do componente arbóreo e
arbustivo por fragmento avaliado variou entre 26 e 96, podendo-se considerar
que, em média, os fragmentos florestais avaliados apresentaram 59 espécies.
Considerando-se apenas a regeneração, o número de espécies variou de 2 a 115,
sendo a média por fragmento de 57 espécies. Os valores obtidos indicam uma
floresta em plena regeneração.
Os fatores de degradação constatados nos remanescentes estudados
foram: corte seletivo em 78,2%, abertura de estradas em 45,7%, corte raso em pelo
menos parte da Unidade Amostral em 22,8%, exploração de E. edulis (palmiteiro)
em 18,8%. Deve-se considerar que no interior de um mesmo fragmento, na maior
parte das vezes, dois ou três fatores de perturbação estão atuando ao mesmo
tempo e, suas sinergias alteram as condições microclimáticas e biológicas da
área, influenciando o processo sucessional da floresta. Estas alterações podem
beneficiar as espécies pioneiras e secundárias iniciais e médias, em detrimento
das mais exigentes (secundárias tardias ou climácicas) quanto às condições
ecológicas, além de facilitar a invasão biológica. As florestas também servem
como locais de pastejo para o gado, mas com menor frequência (16,8%) do que
no interior da Floresta Ombrófila Mista no planalto (Vibrans et al. 2011). Este
fato pode estar relacionado com as condições climáticas menos estressantes no
inverno, na vertente litorânea. Em geral, nos locais com pastagens, os agricultores
e pecuaristas evitam deixar remanescentes florestais e, quando isso ocorre, as
florestas situam-se ao longo das margens dos cursos d’água. O pastejo e pisoteio
do gado dentro da floresta desencadeia perturbações que, aos poucos, podem fazer
desaparecer a floresta, pois os indivíduos jovens das espécies presentes no dossel
são pisoteados, mortos ou danificados pelo gado ou pelos humanos.
O conjunto de fatores de degradação também facilita a entrada de espécies
exóticas, algumas potencialmente invasoras, muitas vezes oriundas dos cultivos
próximos ou ainda advindas de áreas degradadas, fato constatado em muitos
remanescentes. Hovenia dulcis foi observada em 22 UA e é a única das exóticas
30
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
encontrada frequentemente (em 11% dos fragmentos avaliados). As demais
espécies ocorrem apenas esporadicamente e com pouquíssimos representantes
na regeneração, como Eucalyptus spp. (presente em 6 UA), Pinus spp. (8 UA),
Magnolia champaca (2 UA), Persea americana (1 UA), Coffea arabica (6 UA,
apenas na regeneração), Morus nigra (3 UA) e Eriobotrya japonica (4 UA).
Entre as espécies herbáceas as exóticas mais frequentemente encontradas foram:
Bidens pilosa (picão), Cirsium vulgare (cardo), Coix lacryma- jobi (capim-rosário),
Hedychium coronarium (lirio-do-brejo), Lonicera caprifolia (madressilva),
Crocosmia crocosmiiflora (tritônica), Eulophia alta (orquídea), Brugmansia
suaveolens (trombeteira), Oeceoclades maculata (orquídea), Passiflora jilekii
(maracujá-de-cobra).
Das espécies ameaçadas de extinção
Das espécies ameaçadas de extinção (Brasil 2008), Euterpe edulis, Ocotea
catharinensis, Ocotea nectandrifolia e Ocotea odorifera foram encontradas, sendo
Euterpe edulis com 1.510 indivíduos em 197 Unidades Amostrais do componente
arbóreo e arbustivo e 2.845 indivíduos no da regeneração; O. catharinensis
(411/297), O. nectandrifolia (117/13), O. odorifera (299/171), Cinnamomum
hatschbachii (17/1), Brosimum glaziovii (74/22), Myrceugenia foveolata (0/4),
Siparuna guianensis (1/1) e Symplocos corymboclados (11/2). Das demais espécies
constantes da lista das ameaçadas, Baccharis sagittalis, Trichocline catharinensis,
Aechmea calyculata, Anthurium luschnathianum, Costus spicatus e Heliconia
farinosa não há dados quantitativos levantados pelo IFFSC, apenas os registros
de coleta.
Dos Epífitos vasculares
O esforço de coleta dos epífitos vasculares no interior da Floresta Ombrófila
Densa resultou na identificação de 491, tornando-se esta certamente a maior lista
de espécies de epífitos vasculares registrada em apenas um estudo no Brasil. A
riqueza de espécies de epífitos não está distribuída de maneira uniforme no estado;
as áreas com maior número de espécies estão concentradas na porção norte, nas
bacias dos rios Cubatão (Norte), Itapocú e Itajaí, indicando a região como um
hotspot para epífitos vasculares em Santa Catarina. De modo geral, pode-se
afirmar que existe um gradiente de diminuição de espécies de norte para sul do
estado, o que ratifica o padrão de distribuição de bromeliáceas já consagrado por
Reitz (1983).
31
Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
Levantamento Genético
Foram amostradas cinco espécies, procurando-se contemplar ao
menos três populações por microrregião na área de ocorrência da espécie:
Euterpe edulis, Ocotea catharinensis, Ocotea odorifera, Butia catharinensis e
Calophyllum brasiliensis. Os resultados indicaram comportamentos com uma
tendência semelhante em termos de alta perda de diversidade nas populações
(índice de fixação elevado).
Estes resultados podem ser relacionados aos processos históricos de uso como a superexploração, expansão das fronteiras
agrícolas com redução da área
de cobertura florestal e fragmentação dos remanescentes. Tais
processos produzem redução
dos tamanhos populacionais e
redução do fluxo gênico entre
populações, produzindo isolamento e perda de diversidade
em nível local. Os resultados
também permitem a indicação
de áreas prioritárias para conservação e/ou coleta de sementes para enriquecimento, restauração ou plantios comerciais,
bem como indicação de estratégias regionais de conservação.
Pontos amostrais do levantamento da diversidade
genética de espécies ameaçadas na Floresta Ombrófila
Densa.
32
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
Número de populações avaliadas e índices médios de diversidade (com respectivos desvios
padrão entre populações) para cinco espécies estudadas no âmbito da Floresta Ombrófila Densa
no estado de Santa Catarina.
Espécie
Locos
Núm.
poliPop.
mórficos
*
P (%)**
Alelos
por
loco A***
Diversidade
Genética
He
Heterozigosidade
Observada
Ho
Índice
Fixação
F
Divergência
genética
FST
Euterpe edulis
20
62 (06)
2,18
(0,11)
0,236
(0,026)
0,205
(0,036)
0,130
(0,107)
0,113*
Ocotea
catharinensis
17
61 (8)
1,80
(0,14)
0,196
(0,035)
0,159
(0,032)
0,190
(0,128)
0,133*
Ocotea
odorifera
9
66 (016)
1,92
(0,23)
0,163
(0,042)
0,139
(0,05)
0,153
(0,145)
0,089*
Butia
catharinensis
9
76 (9)
2,20
(0,22)
0,211
(0,029)
0,184
(0,036)
0,127
(0,080)
0,076*
Calophyllum brasiliensis
9
44 (9)
1,65
(0,12)
0,135
(0,023)
0,100
(0,22)
0,259
(0,093)
0,140*
*Número de populações amostradas; **Porcentagem de locos polimórficos; ***Número médio
de alelos por loco
Palmiteiro (Euterpe edulis): A espécie apresenta valores elevados para a
diversidade genética (0,236), o que demonstra o potencial da espécie em manter
a variação genética a longo prazo. A média dos valores para o índice de fixação
foi intermediária, mas variável entre as populações. Estes resultados refletem
que parte das populações apresenta fragilidades, mas também indicam que há
populações em situação favorável em termos de conservação. A divergência entre
populações foi intermediária, indicando existirem diferenças entre as populações
ao longo do estado e, portanto a relevância de se considerar várias populações em
ações para a conservação. A espécie apresenta um grande potencial para ações de
conservação pelo uso.
Canela-preta (Ocotea catharinensis): Em termos médios, a espécie mostra
valores elevados para a diversidade genética (0,196), o que demonstra o potencial
da espécie em manter a variação genética a longo prazo. Entretanto a média dos
valores para o índice de fixação foi elevada, além de variável entre as populações.
Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontra a maior parte das
populações, mas também indicam que há populações em situação favorável em
termos de conservação. A divergência entre populações foi também intermediária,
33
Alexander C. Vibrans Lucia Sevegnani André L. de Gasper Juarez J. V. Müller Maurício Sedrez dos Reis
indicando existirem diferenças importantes entre as populações ao longo do
estado e, portanto a relevância de se considerar várias populações em ações para
a conservação.
Canela-sassafrás (Ocotea odorifera): Esta espécie apresenta valores elevados
para a diversidade genética (0,163), entretanto a média dos valores para o índice
de fixação foi bastante elevada, além de bastante variável entre as populações.
Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontram a maior parte
das populações, mas também indicam que há populações em situação de menor
fragilidade. A divergência entre populações foi também intermediária, indicando
existirem diferenças importantes entre as populações do estado e, portanto, a
relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação.
Butiá (Butia catharinensis): Para esta espécie foram encontrados valores elevados
para a diversidade genética (0,211), o que demonstra o potencial da espécie em
manter a variação genética a longo prazo. A média dos valores para o índice
de fixação foi intermediária, mas variável entre as populações. Estes resultados
refletem que parte das populações apresenta fragilidades, mas também indicam
que há populações em situação favorável em termos de conservação. A divergência
entre populações foi também intermediária, indicando existirem diferenças entre
as populações do estado e, portanto a relevância de se considerar várias populações
em ações para a conservação. A espécie ocorre em ambiente de restinga, o que
representa atualmente uma grande ameaça (pressão imobiliária). A possibilidade
de múltiplos usos pode auxiliar por meio de ações de conservação pelo uso.
Olandim (Calophyllum brasiliensis): A espécie apresenta valores intermediários
para a diversidade genética (0,135), entretanto a média dos valores para o índice
de fixação foi elevada, além de bastante variável entre as populações. A espécie
mostrou também poucos locos polimórficos indicando fixação de alelos de baixa
frequência. Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontram muitas
populações da espécie, mas também indicam que há populações em situação
favorável em termos de conservação. A divergência entre populações foi elevada,
indicando existirem diferenças importantes entre as populações do estado.
A espécie ocorre em ambientes de planícies quaternárias no estado, ambientes
atualmente sobre alta pressão para desmatamento, o que representa uma grande
ameaça para a mesma.
34
Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
Referências
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